Vinte Um

Arquivo : Tyrone

Com resultados e rusgas, Paco García e Mogi ameçam Bauru
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Giancarlo Giampietro

Só sorrisos no media day. Humor azedou em duas partidas

Só sorrisos no media day

Na cerimônia de lançamento do NBB 7 no clube Paulistano, o clima era de empolgação geral. Numa reunião com tantas personalidades e reencontros, era difícil que se escapasse, mesmo, do otimismo. Afinal, era um campeonato que estava para começar. Apenas o princípio de temporada, com planos e visões para serem testados. No caso de Paco García e seu Mogi, o sorriso era dos mais animados

Afinal, o espanhol estava no comando de um clube que foi uma das grandes surpresas da temporada passada, fazendo seu melhor campeonato nacional no formato recente, ao avançar nos mata-matas para desafiar o poderoso Flamengo nas semifinais. Sua maior conquista foi ter trazido de volta aos ginásios o torcedor da cidade. “O grande objetivo de todos nós é assentar as coisas boas que fizemos e conseguimos no ano passado. Sempre falo que não é tão difícil de chegar, mas, sim, de se manter nesse nível. Isso se faz assentando toda a nossa administração, a evolução que conseguimos como clube. A partir daí, é melhorar. E não melhorar apenas a classificação, mas também a estrutura em quadra”, afirmou ao VinteUm, na ocasião.

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Apenas duas semanas depois, porém, o treinador se via numa situação delicada,  tendo de contornar a insatisfação de parte seu elenco, um descontentamento que veio a público, às portas de um quadrangular duríssimo pela Liga Sul-Americana. Quer dizer: contornar não faz muito o estilo do espanhol. Ele prefere bater de frente, ir direto ao ponto, doa a quem doer. Um estilo que vem empurrando o clube na direção certa desde que assumiu o cargo em outubro de 2012, mesmo que tenha pisado em muitos calos e irritado muita gente no caminho. Enquanto ele ainda é o chefe, todavia, o Mogi vai acumulando resultados expressivos, com direito agora a uma impressionante vitória sobre o Bauru, fora de casa, para roubar o mando de quadra dos favoritos ao título do NBB, pela fase semifinal.

Mais sorrisos após a primeira vitória sobre Bauru, após 6 derrotas no duelo

Mais sorrisos após a primeira vitória sobre Bauru, após 6 derrotas no duelo

Trocas necessárias
O Mogi foi a grande surpresa do NBB 6, ao se colocar no grupo dos quatro melhores do campeonato, eliminando Pinheiros e Limeira em sequência, depois de terminar a classificação geral apenas em 12º. Uma arrancada que fez a diferença para o fortalecimento do projeto. O público abraçou a causa, e o investimento recebeu um bom aumento para o atual campeonato, com um patrocínio sólido. Com dinheiro, Paco promoveu uma reformulação no elenco. Saíram jogadores de extenso tempo de quadra nos playoffs, como os alas Marcus Toledo, Ted Simões, Jeff Agba e Sidão, mas chegaram outros nomes “importantes”, como o espanhol gosta de dizer.

Entre os reforços, os destaques foram o ala Shamell e o pivô Paulão, de fato atletas mais renomados no cenário brasileiro, se comparados com os atletas que colocaram a equipe na quarta posição geral do NBB. Mas o técnico também mostrava entusiasmo com o jovem pivô Gerson do Espírito Santo, de 23 anos, e do ala Tyrone Curmell, ex-Palmeiras – duas apostas que se provaram certeiras. Na sua concepção, o time saía mais forte dessa troca, para se mostrar competitivo em outro patamar. Desde que, claro, aceitando os preceitos estabelecidos. “Acho que melhoramos já em termos de qualidade individual, com contratações de jogadores que já mostraram na liga sua importância, mas sabem que têm de trabalhar não somente para eles, mas também para toda a equipe”, afirmou. “A verdade é que o padrão do time tem de vir com uma mesma ideia: que a equipe fique acima de qualquer individualidade. Chegaram muitos atletas novos, e eles têm de aceitar nossa filosofia.”

Veterano Shamell: aposta de melhor individualidade dentro de um coletivo?

Veterano Shamell: aposta de melhor individualidade dentro de um coletivo

Independentemente do nome dos jogadores, uma coisa não muda no trabalho de Mogi em quadra: é o treinador quem vai dar as cartas, com uma abordagem detalhista, incisiva, bastante exigente no dia a dia de treinos. Nos bastidores, fontes distintas indicaram ao blog um desgaste na relação entre o comandante e alguns de seus atletas mais experientes influenciou na troca de jogadores para esta temporada, independentemente do aumento do orçamento. Alguns atletas simplesmente não queriam pensar em renovação. As cobranças são incisivas, incessantes e podem incomodar (ou assustar) os atletas que não estejam tão acostumados com esse comportamento.

“No começo, foi um pouquinho difícil”, admite Shamell, durante o final de semana do Jogos das Estrelas em Franca, ao VinteUm. “Ele é uma pessoa que leva o trabalho bem a sério. E tem um tipo de cobrança diferente. Quando cheguei,  eu não o conhecia, ele não me conhecia. Mas agora está tranquilo, a comunicação sai natural, e esse tem de ser o principal ponto, como em qualquer empresa. Entendo o que ele espera de mim para ajudar a equipe.  Você toma bronca e, depois, conversa o que tiver de conversar.”

Já com dez anos de residência no Brasil, divididos em duas passagens, Shamell é uma fonte muito interessante para abordar um tema que me intriga e que vai muito além das quatro linhas. A tese: o brasileiro não está tão acostumado assim a lidar com críticas, observações diretas, preferindo mais um rodeio, comentários que primeiro tateiam, para depois se expor o objetivo da conversa. Longe demais? Ou isso teria a ver com o desconforto que o estilo do treinador espanhol pode causar? “A reação inicial do brasileiro é de achar que o cara está te atacando, faltando com o respeito (quando se faz a crítica”, diz o americano. “É normal também. Há coisas que deixa você mal, bravo. Mas tem técnico que é assim, faz o que acha, e ponto. Há jogadores que aceitam, outros que não.”

Segundo Alemão, o clima é ruim só do lado do técnico

Mogi comemora lá no início da temporada, ainda com Alemão no elenco

Mas e o que pensa o jogador nacional a respeito? “Não sei se o brasileiro não está acostumado. Acho que poderia ser mais natural receber uma cobrança. Tem hora que você fica louco e pode extravasar, não tem problema, sem perder a educação. No nervosismo do jogo, é normal esse embate. O jogador talvez tenha de achar isso mais natural e, não, ficar tão incomodado”, diz o armador Gustavinho ao VinteUm, em conversa antes do início dos playoffs.

Gustavo é um dos remanescentes da campanha do ano passado e alguém que fala abertamente sobre a influência positiva do treinador em sua carreira e na equipe como um tudo. “Meu jogo melhorou muito com ele, principalmente na defesa. Tenho ajudado muito mais, estou mais bem colocado. Acabo me identificando com ele, por pregar esse início do jogo pela defesa”, explica.”Ele é um cara durão, uma filosofia do basquete europeu, onde se tem de respeitar as regras. Isso pode acabar incomodando outras pessoas. Tem de se adaptar a isso. Ao meu ver, é o diferencial, foi o que levou nossa equipe longe no ano passado. “

A crise
A temporada do Mogi, até aqui, pode ser considerada um sucesso. No Campeonato Paulista, sofrendo com algumas lesões e desentrosamento natural, o time caiu nas quartas de final, contra o Paulistano. Na próxima competição, veio um vice-campeonato inédito de Liga Sul-Americana, com derrota para o poderoso Bauru, e 21 vitórias pela temporada regular do NBB – sete a mais do que na sexta edição, com um aproveitamento muito superior, subindo de 43,7% para 70%, com o triunfos consecutivos. Nos mata-matas, depois de penarem contra Macaé, agora reencontram os bauruenses prontos para uma revanche, jogando de igual para a igual. Venceram o primeiro jogo fora (81 a 73) e tiveram o placar favorável no segundo até que Ricardo Fischer converteu um arremesso de longa distância a três segundos do fim (84 a 81).

O time apresentou um plano de jogo que deu certo. Desacelerou o ritmo da partida, para diminuir o volume do adversário, gastando o relógio com trocas de passe pacientes, acreditando no poder de definição de suas peças, com Shamell especificamente em uma jornada inspirada, anotando 16 de seus 27 pontos no quarto. As posses de bola bem trabalhadas também geraram maior equilíbrio defensivo, contendo, no Jogo 1, a artilharia perimetral do cabeça-de-chave número um. “Ele é muito detalhista”, diz Gustavinho. “Exige padrão defensivo, posicionamento. No ataque, um basquete mais solidário, com pelo menos três passes. Se não sai ninguém livre, aí é a hora de buscar uma definição em algum lance individual como do Shamell ou do Filipin.”

Ginásio Hugo Ramos cheio, um ganho para Mogi

Ginásio Hugo Ramos cheio, um ganho para Mogi

Essa visão de jogo se concretizou nas duas primeiras partidas da semi, mas não dá para dizer que tenha sido irrevogável durante toda a jornada. Especialmente no início do NBB. Após uma vitória sobre Uberlândia e uma derrota contra o Minas, a equipe foi cheia de dúvidas para as quartas de final da Liga Sul-Americana, envolvendo Bauru, Brasília e o Comunikt, do Equador, jogando como anfitriã. García havia jogado lenha na fogueira com críticas pesadas ao elenco, em público – um tipo de atitude também bastante citada para justificar o descontentamento de atletas com o treinador, que seriam eles que perdiam, enquanto todos ganhavam.

Na primeira rodada, sua equipe venceu o Uberlândia por 90 a 80. Se o placar parece bom, esqueça. Os anfitriões chegaram a abrir 20 pontos no terceiro quarto, relaxaram e acabaram permitindo que os mineiros fizessem 35 pontos na parcial final. O que despertou a ira do técnico. Disse que era inadmissível. “Fico preocupado por que parece faltar ambição. Se você está ganhando por 20 pontos, tem de buscar ganhar por 30, e não relaxar. Não quero um time medíocre, quero um time com ambição”, disse ainda no ginásio, aos repórteres do Globo Esporte.com, da região de Mogi e Suzano. Era apenas a estreia. Na segunda rodada, para piorar, derrota por 61 a 60 para o Minas, novamente em casa. “Se não aceitam jogar como equipe e fazer sacrifício em quadra, fica difícil. O basquete não é um jogo de nomes, é um jogo de homens. O time não jogou nada. Eu passei vergonha pelo jogo que fez meu time”, disparou. Ficou tenso o negócio.

Alemão abriu fogo contra seu técnico

Alemão abriu fogo contra o técnico

O pivô Daniel Alemão, que também havia sido peça valiosa durante o NBB 6, não aguentou. “O clima não está nada agradável por parte dele (o técnico) e das coisas que faz. Infelizmente ele tem esse jeito e somos ainda obrigados a acatar essa ideia. A gente está focado em trabalhar e melhorar a nossa parte, a parte dos jogadores, para tentar resolver entre a gente dentro da quadra. Somos nós que jogamos, então somos nós que ganhamos e perdemos”, disse à TV Diário.

Bem, o veterano não teve pudor algum, né? Bota “infelizmente” nisso. Do seu lado, Paulão procurou contemporizar. “Entre os jogadores, o clima é o melhor possível. O técnico tem a forma de trabalhar, e como jogador a gente tem que pelo menos entender o que ele está pedindo. Temos que jogar e fazer o que ele pedir, já que ele é o comandante do time”, diss à TV Diário.

Contra-ataque
Ao tomar nota das declarações do pivô, Paco não fez questão alguma de botar panos quentes no assunto e só fez a previsão do tempo piorar. “O clima não está muito bom porque o técnico fala quando as derrotas vêm. Eu falo claramente, e gostaria que todo mundo ao meu redor falasse claro também. Não acredito que um atleta possa não ter 100% de vontade e 100% de intensidade. Sei como eu estou, mas não sei como estão os atletas, pois isso é uma coisa de cada um.”

Durante a crise, o espanhol usou seu blog para prosseguir no ataque. Disse que não sabia mais o que esperar de sua equipe em quadra, tendo a exibição contra o Minas em mente. “Falta de intensidade, defesa nula (apesar do placar reduzido, não nos equivoquemos), muito lentos no ataque, caminhando sobre o piso e, além disso, entregando a partida quando a tínhamos em mãos, com quatro pontos acima e quatro lances livres errados, bola perdida e duas faltas tão absurdas como desnecessárias, tudo em apenas 40 segundos”, escreveu. “A atitude de alguns jogadores me preocupa, e muito. As desculpas e mais desculpas apontando sempre o mesmo: o treinador. Quase ninguém reconhece seus próprios erros, e assim é difícil progredir.”

No final, o time conseguiu se classificar para a semifinal, eliminando o Brasília. Ufa. De volta ao NBB, enfrentou um período de instabilidade, com seis vitórias e quatro derrotas nos próximos dez jogos. Em 2015, embalou, sofrendo apenas mais três derrotas até os playoffs. Alemão foi dispensado no início de dezembro.  “Foi um desgaste das duas partes, uma pena, mas a relação estava muito desgastado. O Alemão um grande jogador e faz falta até hoje”, afirma Gustavinho.

Diário de bordo
Paco trabalhou no basquete espanhol por mais de dez anos como assistente de técnicos renomados, entre eles o falecido Manel Comás, apelidado de Xerife, um dos técnicos mais vitoriosos da Liga ACB – e que chegou a ser cotado como técnico da seleção brasileira em 2007, antes do acerto com Moncho Monsalve. Em 1995-96, começou a carreira como treinador principal, nas divisões menores espanhola. Em 1998, pelo Breogán, conseguiu aquele que talvez seja seu maior feito: subir à primeira divisão com o título da hoje LEB Oro, um campeonato muito difícil. Trabalhou também com o Valladolid e o Lleida na elite. Em 2011, deixou o país para dirigir a seleção da República Centro-Africana.

Um dos trechos cândidos e ácidos do blog de Paco, sobre sua demissão cogitada (25/01)

Um dos muitos trechos cândidos e ácidos do blog de Paco, sobre sua demissão cogitada. “Não sei o tempo que me resta em Mogi…” Texto publicado em 25/01. Algo raro de ver/ler por estas bandas desde o afastamento de Paulo Murilo

Foi a serviço do país africano, que não tem muita tradição no mundo Fiba, mas revela bons jogadores como o ala Romain Sato, que o espanhol começou a abastecer seu blog. “Era uma boa forma de manter o contato com os amigos e com a família. De contar o que estava fazendo, o que estava acontecendo.  Quando retornei da África, parei. E foi muita gente me ligando, me mandando mensagens dizendo: ‘Cara, tem de continuar’. Quando cheguei ao Brasil em 2012, esse interesse me motivou a retomá-lo. Falamos de tudo um pouco”, diz.

De tudo mesmo: só em 2015 já são 43 posts publicados, com análises de partidas, elogios e críticas a adversários, protestos contra a liga e lembrando sempre todos os percalços que a equipe enfrentou durante a temporada, em especial suas lesões. Foi para os playoffs num astral bem melhor que o de novembro, quando encerrou aquele mesmo post de ataque e defesa contra críticos sem pisar no freio,  para ficar numa metáfora que dialoga com seu texto: “É uma fase exigente, como eu quero ser.  É evidente que, como já escrevi em mais ocasiões, às vezes tenho a sensação de caminhar em uma velocidade distinta de meus jogadores e do meu próprio clube”, afirmou. “O que conseguimos na temporada passada não pode ser repetido com boas palavras, mas apenas com exigência, trabalho e feitos. É nisso que estamos. Até que possa, até que me deixem.”

Esse tempo difícil ficou para trás, mas, como diz Gustavinho, não significa que tudo tenha ficado tranquilo desde então. Esse é um termo que não faz parte da linha de conduta do treinador. “Mas não foi depois disso que as coisas normalizaram. Continuam (assim). Eu já briguei várias vezes com ele e brigo até hoje. Mas a gente se respeita. O Paco gosta de falar que aperta o treinamento, que não deixa ganhar duas, três seguidas e se acomodar. Está sempre cobrando, querendo sempre mais, querendo melhorar, o que às vezes pode até deixar todo mundo nervoso, achando que não é possível. Mas é o jeito dele, e você percebe que o time se acostuma”, afirma o jogador. “Com a vitória.”

 


Os quatro melhores nas semis do NBB, após muito sufoco
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Giancarlo Giampietro

Hettsheimeir teve médias de 19,2 pontos e 9,2 rebotes contra Franca. Fundamental para a vitória

Hettsheimeir teve médias de 19,2 pontos e 9,2 rebotes contra Franca. Fundamental para a vitória

Essa coisa de fazer previsão, dar palpite… Sei bem que diverte a galera, mas só expõe jornalistas ao ridículo, né?

Vamos lembrar o título: “Após suversão no início, NBB abre quartas com favoritos claros”.

Se fosse para levar em conta o que se passou durante a temporada regular da sétima edição do campeonato, na minha cabeça não havia como acontecer surpresas nas quartas de final, mesmo ciente de que a mera vitória numa série poderia encher de confiança aqueles que desafiariam Bauru, Limeira, Flamengo e Mogi. No final das contas, passaram todos, mas não sem uma boa dose de drama. “Claros”, né?

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Só Limeira conseguiu avançar sem apelar ao Jogo 5 em seus domínios, batendo Brasília em quatro partidas, com direito a dois triunfos na capital federal. Valeu para o time se colocar entre os quatro melhores pela primeira vez, fazendo uso de um elenco de muito mais velocidade e flexibilidade que os candangos, correndo em círculos ao redor da vítima. Suas três vitórias tiveram vantagem de dígito duplo, com saldo de 41 pontos no geral.

A série entre Flamengo e São José também em teoria apresentava ampla superioridade para os atuais bicampeões. Se os deuses do basquete permitirem, dá até para dizer que foi um placar de 3 a 2 enganoso ou injusto – mesmo que isso contrarie a máxima de que, num playoff, não importa se o placar é por 30 ou por 0,3 pontos, tendo o mesmo peso. Descontando as vitórias e derrotas flamenguistas, foram 64 pontos de saldo em cinco jogos (média de 12,8).

O Flamengo sobrou em três jogos. Mas cedeu dois para São José

O Flamengo sobrou em três jogos. Mas cedeu dois para São José

Ainda assim, faltou consistência ao time de José Neto, especialmente no ataque, para fazer valer sua superioridade. Nas duas derrotas, acertou apenas 12 de 51 arremessos de três pontos (23,5% de aproveitamento, um pesadelo). Um ponto em comum nos tropeços também foi a dominância de Caio Torres, em grande fase, com médias de  16,5 pontos, 9,0 rebotes, 6,5 lances livres batidos e 60% nos arremessos de quadra, em 28,5 minutos.

O desequilíbrio parou por aí, todavia. O Mogi ficou muito perto da eliminação diante do Macaé, que valeria como uma tremenda coincidência, já que o clube fluminense tentava reprisar a trajetória de seu oponente, que alcançou a semifinal do NBB 6 como o 12º colocado no geral após a fase de classificação. No Jogo 5, com o ginásio Hugo Ramos, os visitantes entraram no quarto período vencendo por 64 a 61. Faltavam dez minutos para confirmar a zebra, mas sua defesa permitiu 30 pontos na parcial final. Curiosamente, foi uma dinâmica bem parecida com a da primeira partida do confronto, com jogo empatado em 55 após três quartos, com o Macaé liderando desde as primeiras posses de bola.

Mais: Mogi ficou em desvantagem por 2 a 1, passou sufoco, mas contou com a energia de Tyrone Curnell para a virada, com 21 pontos e 9,5 rebotes nas últimas duas partidas. Paulão Prestes também foi muito mais efetivo para mudar a história, com 31 pontos nos Jogos 4 e 5, depois de ter somado apenas 18 nos três primeiros. Shamell marcou 21,4 pontos, mas acertou apenas 33% dos chutes de fora, forçando a barra (11/33). Guilherme Filipin derrapou no duelo decisivo, com 1/6 nos chutes de fora, mas teve rendimento de 48,1% no geral (13/27).

Mogi, de Gerson e Filipin, sofreu um bocado para evitar mais um 12º colocado na semi

Mogi, de Gerson e Filipin, sofreu um bocado para evitar mais um 12º colocado na semi

A grande surpresa, no entanto, ficou reservada para Bauru x Franca. O campeão paulista e das Américas chegou para o duelo com uma sequência de 33 vitórias seguidas, seja pela liga nacional como pelo torneio continental. Na abertura da série, ainda deram uma surra de 27 pontos, vencendo por 82 a 55. Caminhariam para a varrida? Nada disso.

O confronto ficou muito mais interessante no momento em que o time de Lula Ferreira, que sofrera para eliminar o Palmeiras pelas oitavas, roubou o mando de quadra bauruense ao vencer o Jogo 2 por 74 a 71. Era o final de uma sequência de 26 vitórias de seu oponente pelo NBB. Comedido, como sempre, Lula não quis saber muito de comemorar o resultado, mas, em sua entrevista pós-jogo, admitiu a maior preocupação no confronto tático com seu ex-assistente da seleção brasileira: “Quando eles acertam 13 cestas para três pontos é quase impossível de vencê-los. A vitória é maravilhosa”, disse.

Na ocasião, o oponente converteu, sim, 13 chutes de longe, em 34 tentativas, com 38,2%. Um bom rendimento, mas insuficiente para garantir o triunfo. A partir daí, porém, essa artilharia seria limitada a 8 conversões em cada jogo e o aproveitamento, respectivamente, de 33,3%, 29,6% e 30,8% – na temporada, tinham 39,7% de média, propiciando volume de 35,2 pontos a partir da linha perimetral. Se era essa a preocupação de Lula, a defesa funcionou muito bem, obrigado. Veja os números do sistema ofensivo de Guerrinha na série:

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Nas três vitórias, o menor volume de arremessos de três, com ataque mais distribuído entre chutes para dois e/ou lances livres, para compensar o fraco rendimento no perímetro – especialmente comparando com os índices da temporada. Mas mesmo mais próximo da cesta eles tiveram mais dificuldade que o normal

O problema é que, nos Jogos 3 e 5, Bauru conseguiu compensar o baixo rendimento nos tiros exteriores com um volume elevado no jogo interno, batendo 50 lances livres no total para somar 37 pontos na linha (74%). De qualquer forma, a marcação francana foi bem na série, limitando um ataque de tinha média superior a 90 pontos por jogo no campeonato, até então, a 75,0 na série.

Para o próximo confronto, Paco Garcia deve estudar em detalhes o que aconteceu nos últimos quatro jogos – e a defesa de Lula Ferreira como um tudo. Afinal, das míseras sete derrotas que o líder sofreu durante toda a temporada – quando estava com força máxima, isto é, após a Copa do Mundo –, quatro aconteceram nesse clássico paulista (duas agora e outras duas pelas semifinais do Paulista). Sim, desde que Alex, Larry e Hetthsheimeir se apresentaram, o restante do país só bateu a equipe em três ocasiões, e uma dessas vitórias carrega um senhor asterisco: a de Brasília, pela primeira rodada do campeonato nacional, com a equipe paulista de ressaca pela conquista do estadual. Os demais reveses ficam na conta de Limeira: um pela decisão do estadual e outro pelo NBB também. E só. O retrospecto geral, computando também os compromissos internacionais? São 57 vitórias em 65 partidas.

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Por que desde 13 de setembro? Que foi quando o trio da seleção brasileira estreou na temporada, em duelo com Rio Claro, pelos playoffs do Paulista. O completo também merece outro asterisco: o time perdeu o ala-pivô Jefferson William, figura de importância altíssima no sistema ofensivo, durante a campanha

Se isso não significava favoritismo desmedido, então nossos valores estão invertidos. Goste-se ou não do basquete praticado pela equipe de Guerrinha, não haveria como renegar um retrospecto desses, certo? É o que pregaria, ainda hoje, o jornalista desvairado aos sete mares. Mas Franca nos mostrou que há, sim, como contestar a tese.

O que vem por aí?
Para Mogi, é isto: ou o time defende, ou está fora. Não vai ser num tiroteio contra Bauru que eles vão levar a melhor, como os quatro confrontos entre os clubes na temporada mostram. Foram quatro vitórias para a equipe de Guerrinha, sendo duas pelo NBB e duas pela Liga Sul-Americana, inclusive a final continental. No último duelo, Bauru foi testado para valer, é verdade, perdendo o primeiro tempo. Ainda assim, deslanchou no segundo tempo e saiu vencedor, com uma jornada incrível do veterano Alex, que marcou 31 pontos, com 7/10 nos arremessos de longa distância. Veja os números preocupantes dos líderes da fase de classificação do NBB nesses jogos:

Bauru teve média de 39 disparos de três pontos contra a defesa de Mogi, acertando mais de 40% deles. Quando atacou com chutes de dois, também foi muito eficiente

Refazendo: ou o time defende de maneira muito mais eficiente, ou está fora. Bauru teve média de 39 disparos de três pontos contra a defesa de Mogi (algo assustador e desproporcional), acertando mais de 40% deles. Quando atacou com chutes de dois, também foi muito eficiente. Resultado: saldo de 19,0 pontos em média no duelo. Do outro lado, a equipe de Paco vai precisar movimentar a bola e saber dosar o jogo interno com os arremessos de Shamell e Filipin. Os dois alas precisam atacar em movimento, em vez de tentativas isoladas de mano a mano – especialmente quando Alex for o marcador. Encontrar um modo de envolver Tyrone também ajudaria: assim como Paulão, o ala-pivô teve desempenho praticamente nulo nos embates. O favoritismo ainda pende para um lado.

Limeira x Flamengo tem tudo para ser um confronto eletrizante, com dois elencos vastos, versáteis e explosivos frente a frente. Nezinho x Laprovíttola, David Jackson x Marquinhos, Hayes (que fez grande série contra Brasília e agora enfrente seu ex-time) x Olivinha, Fiorotto x Meyinsse, Ramon x Benite, Deryk x Gegê, Teichmann x Herrmann, Dalla x Marcelinho, Mineiro x Felício… Afe, todos embates promissores,  muito instigantes. É uma série que valeria melhor-de-sete, sem dúvida, para a qual não servem muito os números da classificação geral, uma vez que Nezinho não esteve presente na segunda partida, na qual estavam todos já com posição definida na tabela. O mando de quadra pode fazer diferença? Nas quartas, de nada adiantou. A maior rodagem e o sucesso recente flamenguista seriam uma vantagem? Na Liga das Américas, não adiantou. Palpite? Dessa vez passo.


Vitória sobre Mogi: mais uma prova de como será duro derrubar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Não tem como baixar a guarda: mesmo que um ou outro direto tenha passado em meio ao combate, quem estiver do outro lado vai precisar assimilar o golpe com rapidez. Vai ter de, literalmente, manter a cabeça no lugar, e a cuca pensando naquilo que mais importa em sua estratégia. Não dá para esquecer o que foi combinado na sala de vídeo.

Do contrário, se você decidir partir para o confronto franco, a troca de sopapos no muque, mesmo, a tendência é que o esquadrão do Bauru o leve a nocaute. Foi o que o Mogi das Cruzes percebeu nesta quarta-feira, no Panela de Pressão, na reta final da temporada regular do NBB. Por 24 minutos, o time de Paco García estava plenamente ciente do que fazer em quadra. Quando o cronômetro apontava 6min19s para o fim, os visitantes tinham vantagem de seis pontos (47 a 41). A partir daí, perderam as estribeiras, permitindo uma chuva de bolas de três pontos. Tentaram reagir na mesma moeda muitas vezes. E um jogo que se desenhava bastante equilibrado foi terminar com o placar de 97 a 75.

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Isto é: nos últimos 16 minutos de partida, deu 56 a 34 para os líderes do campeonato nacional, que alcançaram agora a marca de 24 triunfos consecutivos apenas pela competição – igualando recorde do Flamengo na campanha 2008-2009. Se você for por nessa conta as vitórias para a conquista da Liga das Américas, aí chegará a 32 rodadas de invencibilidade. Algo realmente especial, que faz a confiança subir a um nível estratosférico já.

Nesse embate com Mogi, o terceiro quarto terminaria em 65 a 54. Já uma vantagem considerável, mas não impossível de se tirar. O problema foi como aconteceu a virada bauruense. Daquela marca de 6min19s até o estouro da buzina, foram seis bolas de três convertidas pelo time da casa. Sabe quantas haviam caído nessa mesma parcial até então? Nenhuma.

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Pior: quem foi o cara que fez o maior estrago nesse momento de reviravolta? O veterano Alex. O ala-armador que, convenhamos, nunca foi notório por seu aproveitamento nos tiros exteriores – a média de sua trajetória pelo NBB neste fundamento é de apenas 32,8%. Acontece que, num ataque bem espaçado como o da equipe paulista, com múltiplas armas ofensivas, o Brabo nunca teve tanta facilidade assim para arremessar, tendo, disparado, o melhor aproveitamento da carreira, com elevadíssimos 46,2%. Então, no scout de qualquer oponente, se faz necessária a observação de que ele precisa ser vigiado de perto. Nesta terça, acertou absurdos 7-10, igualando sua melhor marca individual.

No caso específico do Mogi, porém, não dá para espernear muito sobre uma desatenção defensiva em relação a Alex. Duas das quatro bolas que ele converteu nesse terceiro quarto foram de trás da linha da NBA, a partir do drible, com uma confiança desmedida. Os chutes caíram que nem uma bomba psicológica para cima dos forasteiros, que errariam três arremessos de longa distância e nove de quadra no geral, além de cometer um turnover. As coisas descambaram.

No quarto período, foi a vez de Rafael Hettsheimeir queimar a redinha com as conversões do perímetro. E aqui, sim, o sistema defensivo adversário falhou bastante. O pivô é outro que está embalado no fundamento e acabou tendo muita liberdade para chutar de longe – seja com Paulão em quadra (conforme o esperado, neste caso), ou com uma dupla mais ágil como Gerson e Tyrone. Estava tão tranquilo lá fora que chegou a arriscar impensáveis 14 bolas, matando seis delas.

Quer dizer, juntos, os companheiros de seleção garantiram ao Bauru 39 pontos na linha perimetral. Baixou o santo para a dupla, é verdade. Não será todo dia assim. Mas aí Guerrinha pode dizer que, no seu time, sempre vai ter um podendo desembestar, na mais pura verdade. No total, foram 31 pontos para Alex e 28 para Rafael.

Agora: este foi o terceiro duelo entre os dois clubes na temporada, contando aí também a final da Liga Sul-Americana. Coincidentemente, nas três partidas Bauru tentou 38 bolas de fora. Um volume exagerado, mas que também não enfrentou resistência dos oponentes, tendo convertido 50 no geral, com um rendimento de mais de 16 por partida e 43,8%. Então já estamos falando mais de acaso. Se voltarem a se cruzar no mata-mata do NBB, Garcia vai ter de rever sua cobertura e/ou fixá-la na cabeça de seus atletas. Foi mais uma sacolada daquelas.

Potencial para o Mogi não falta, pensando numa eventual semifinal contra um rival que já garantiu a condição de cabeça-de-chave número nos mata-matas. O espanhol tem ao seu dispor um elenco que, em teoria, pode funcionar tão bem num jogo acelerado, com uma formação mais atlética e dinâmica – explorando  Tyrone ao lado de Gerson, mantendo o vigor físico ainda assim –, como num ritmo mais cadenciado, compondo uma linha de frente pesada, talvez com Tyrone, Gerson e Paulão juntos. Essa versatilidade pode ser mais explorada nos playoffs, no jogo de gato-e-rato, ainda que não tenha surtido efeito nesses primeiros três embates. Também não será todo dia que Shamell vai ficar limitado a 9 pontos, com 4/12 nos arremessos. Guilherme Filipin, com 23 pontos em 21 minutos, foi quem assumiu o papel de cestinha. Foi o único a pontuar em dois dígitos, o que é muito pouco, mas não necessariamente algo essencial para se remediar.

Pois não será num tiroteio, num jogo de ataques livres, que a equipe conseguiria fazer frente ao Bauru. Essa é uma mensagem, aliás, que fica mais e mais clara para os concorrentes a meros dias do início dos mata-matas. Ainda mais numa série melhor-de-três: invariavelmente, você vai ficar grogue após ataques fulminantes bauruenses. Vai acontecer, não tem muito jeito. Resta saber apenas qual o seu nível de resistência.


Bauru e Mogi agendam final de modo bem diferente
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Giancarlo Giampietro

Enquanto o Mogi sofreu (e comemorou) muito em sua semifinal...

Enquanto o Mogi sofreu (e comemorou) muito em sua semifinal…

A final da Liga Sul-Americana é toda brasileira, depois que Mogi das Cruzes e os anfitriões de Bauru venceram nesta terça-feira suas semifinais. Pois a classificação de ambos não poderia ter acontecido do modo mais diferente possível.

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Equanto o time de Mogi precisou de uma prorrogação num jogo extremamente tenso contra o Boca Juniors (87 a 85), daqueles do oficial “sofreu-mas-venceu”, com direito a 16 trocas de liderança e sete empates, a equipe da casa deu uma surra incontestável nos uruguaios do Malvin no jogo de fundo: 103 a 57.

Esta será a terceira final brasileira na Liga Sul-Americana, depois de Uberlândia x Ajax em 2005 e Brasília x Flamengo, em 2010, com títulos para  os mineiros e os brasilienses. A diferença dos placares e do desenvolvimento das partidas confirma, sim, o Bauru como o grande favorito ao título na quinta-feira.

Mas cada jogo é uma história, né?

(De modo que nem vale analisar o que se passou no último duelo entre ambos, pela segunda fase da competição, uma vez que ambos os treinadores usaram rotações muito mais relaxadas.)

O que Mogi precisa fazer de diferente em relação ao que apresentou nesta semifinal), e urgentemente, é melhorar sua defesa exterior, que foi um horror no segundo tempo (especialmente no quarto período) contra os argentinos. Se repetirem a dose diante dos bauruenses, a coisa vai ficar bem feia. De modo que, a despeito de todo o sufoco passado, não só a vitória dá um pouco mais de confiança para o time de Paco Garcia, como também serviu como um treino para o que vem por aí.

O Bauru de Alex sobrou em quadra, num massacre

O Bauru de Alex sobrou em quadra…

O Boca se sentiu confortável pacas no interior paulista e, vejam só, tal como o Bauru vem fazendo em toda a temporada, arremessou mais de três pontos do que de dois: 35 x 30. Nos tiros de longa distância, converteu 37%, o que não chega a impressionar tanto assim, olhando friamente. Mas os adversários conseguiram uma reação na parcial final justamente com um festival de chutes de fora, quando passaram a jogar em tempo integral com cinco homens abertos. O pivô Pedro Calderón, velho conhecido do basquete brasileiro, inclusive ex-jogador de Mogi, estava entre eles, matando duas em quatro tentativas, a caminho de um double-double surpreendente de 18 pontos e 12 rebotes.

Do lado mogiano, Shamell foi o, hã, herói do dia, do jeito que ele gosta, anotando 29 pontos, “chamando a responsabilidade”, mas também alienando muitos de seus companheiros no processo (10-23 nos arremessos em 39 minutos). Por outro lado, diga-se, muitos de seus parceiros também o procuravam desesperadamente nos momentos decisivos – e ele teve duas chances de matar o jogo no tempo regular, mas falhou em tiros forçados. Já Tyrone Curnell estava novamente por todos os lados, com 16 pontos, 15 rebotes e 3 assistências.

Quer dizer, sozinhos, os americanos foram responsáveis por mais de 50% dos pontos da equipe, contra um rival que não tinha nenhum estrangeiro. Mas, se for para deixar o patriotismo assumir o controle aqui, vale destacar também a atuação do pivô Gerson, com seus 11 pontos e 8 rebotes em 25 minutos, com um impacto na partida que vai além das estatísticas. Muito, mas muito, muito, muito mais ágil que Paulão, ajudou mais nas coberturas defensivas e também foi uma arma muito mais eficiente no ataque com seus deslocamentos de pick-and-roll, ferindo a defesa argentina perto da cesta. Olho nesse jovem pivô, formado pela Universidade de Colorado State. Prometo mais a respeito dele daqui para a frente.

Com sua velocidade e capacidade atlética, estava mais capacitado para lidar com um time mais baixo. De qualquer forma, a despeito das broncas pesadas do espanhol no banco de reservas, sua equipe não conseguiu se ajustar nos minutos finais e falhava demais na contestação dos arremessos longos. Faltou coordenação, comunicação, perna e tudo o mais que você poderia pedir. O desarranjo era tanto que, mesmo quando os oponentes erravam, conseguiam coletar rebotes ofensivos, se aproveitando do mal posicionamento defensivo.

Se o mesmo acontecer contra Bauru, não terão chances na decisão. A equipe de Guerrinha está jogando em casa e tem jogadores/arremessadores melhores, ainda que contra o Malvin tenha terminado com aproveitamento praticamente idêntico (13-34, para 38%). Com uma parcial de 28 a 12 no segundo período, os anfitriões tinham quase o dobro de vantagem (59 a 30) e a partida resolvida, num massacre. Normal que no segundo tempo tenham relaxado e desacelerado. Um luxo de que Mogi adoraria ter desfrutado nesta terça.

 


Tyrone para todo lado, e Mogi elimina campeão Brasília
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Giancarlo Giampietro

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rahttps://vinteum.blogosfera.uol.com.br/wp-admin/post.php?post=7819&action=edit#chão no parque...

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rachão no parque…

É comum aqui no blog convidar o leitor para respirar um pouco antes de se eleger o destaque de uma partida, já que a tradição nacional é correr sempre em direção ao cestinha. Na vitória do Mogi sobre o Brasília, por 92 a 70, nesta quarta-feira, para definir a classificação da equipe da casa e também do Bauru à fase final da Liga Sul-Americana, porém, isso certamente não foi necessário.

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Para quem viu o jogo, não há como apontar outra figura que não o norte-americano Tyrone Curnell, um ala-pivô que botou fogo na partida, para deixar a torcida mogiana ainda mais empolgada. É aquilo: eles animam os jogadores, mas os atletas também podem fazer sua parte neste ciclo e fazer as coisas pegarem fogo de vez.

Ao ataque, mais uma vez

Ao ataque, mais uma vez

Foi Tyrone para todo lado. Ele fez tudo o que era esportivamente possível para isso, como suas estatísticas comprovam. Mais do que os 19 pontos (mesma quantia de Filipin, quatro abaixo de Shamell), o que impressiona são os sete roubos de bola, os cinco rebotes e as cinco assistências. Foram 33 minutos de pura energia para o nova-iorquino.

Diante de um Brasília sem pernas, com rotação novamente enxuta devido aos problemas físicos, foi quase injusto o quanto o camisa 88, ex-queridinho da torcida do Palmeiras, correu e incomodou demais seus adversários. Nas suas recuperações, chegou a desarmá-los em embate frontal, mano a mano, mesmo, atacando o drible de um Guilherme Giovannoni ou de um Darington Hobson com voracidade, impulsionando o o jogo em transição. Em outras ocasiões, ele saía em disparada para evitar o contragolpe.

Na imprensa americana, eles costumam usar um termo bem legal para definir esse tipo de comportamento: “motor”. Quando o atleta se empenha tanto em quadra, tem o motor potente. Nesta quarta, Tyrone jogou com um V8 bem barulhento, arrancando com tudo mesmo em meia quadra, para apanhar rebotes ofensivos e forçar muitas faltas (nove lances livres no total foram batidos).

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rachão no parque...

No NBB, correria de Tyrone agora é de Mogi

O que não quer dizer também que ele seja o melhor dos carros, um Mustang em quadra. Tanta dedicação serve também para compensar a falta de refinamento em seu jogo. A mão esquerda é praticamente inexistente. O arremesso de longa distância tem mecânica estranha e não é dos mais confiáveis, ainda que ele esteja trabalhando em cima disso. Entre suas primeira e segunda temporadas pelo Palmeiras, subiu de 58,1% nos lances livres para 79,4% e de 27,2% nos arremessos de três para 36,9%. Em duas rodadas pelo Mogi no NBB7, tem respectivamente 80% e 50% – mas é muito cedo ainda para constatar um novo e significativo salto desses. No Paulista, por exemplo, em 14 partidas, teve 73,7% e 37,5%.

Para ficar em números do estadual, porém, o que mais chama a atenção são os 6 rebotes por jogo e as 2,14 roubadas. Que seguem, vá lá, o padrão de sua carreira no NBB: 5 e 1,5, respectivamente. Esses são dados que reforçam o estilo do americano, uma pegada que vai conquistar sua nova torcida claramente.

Essa entrega e sua capacidade atlética propiciam ao técnico Paco García também uma bem-vinda versatilidade. “Gosto muito assim”, disse ao VinteUm, durante a cerimônia de apresentação do campeonato nacional. “No ano passado, já construímos o time desta forma. Com exceção do Gustavinho, que é um armador-armador, e do Paulão, que é um cinco-cinco, o resto são todos jogadores polivalentes. O Filipin, o Tyrone, o Alemão, o Gerson e outros… São jogadores que nos dão muitas opções. Se você quer um time grande e forte, pode jogar com atletas de mais de 2,00 m. Se quer um time pequeno e rápido, dá para jogar com o Tyrone como 4. Pois cada jogo é um jogo, e você tem de se adaptar à situação. Se vai pedir mais pressão, mais posse e acho que o nosso time  pode ser forte desse jeito.”

O interessante é que, com Tyrone em quadra, num time mais baixo ou alto, o espanhol sabe que aceleração não vai faltar.

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Shamell: e o joelho não era o que mais doía

Shamell: e o joelho não era o que mais doía

O cestinha do Mogi, de todo modo, também mereceria uma atenção especial pelo que aconteceu em quadra também além de seus 23 pontos. O veterano ex-Pinheiros deu um susto danado na torcida quando caiu em quadra com seu pé esquerdo em cima de um adversário, virando a perna num ângulo preocupante. Ficou estendido sobre o tablado por um tempinho, recebeu atendimento e saiu mancando. A equipe médica detectou uma hiperextensão no joelho, mas nada grave. Quando voltou do vestiário, o ala subiu, então, numa bicicleta, para se manter quente. Voltou a jogar no quarto período.

Já seria o suficiente para render manchetes. Aí que, ao final da partida, em entrevista ao SporTV, Shamell se mostrava bastante emocionado. Mas não tinha nada a ver com a questão médica que havia acabado de superar. Ele revelou que, na noite anterior, havia perdido seu sogro, falecido. “Fiquei com meus filhos chorando a noite toda. Mas nessas horas tem de vir para cá, jogar”, disse. No fim, o jogo era para extravasar. Com a vaga assegurada.

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Mais cedo, o Bauru venceu o Comunikt, do Equador, por 110 a 83. Foi uma partida relativamente equilibrada até o início do terceiro período, quando a equipe paulista desgarrou, assim como havia acontecido na véspera, fazendo 27 a 10. A equipe de Guerrinha apostou novamente num volume altíssimo nos arremessos de longa distância, com 37 de 69 tentativas. Novamente mais do que a metade do total (53,6%). O aproveitamento foi de 54% no geral, com 20 cestas.

O pivô Rafael Hettsheimeir marcou 34 pontos em 32 minutos, na sua melhor atuação desde que retornou da Espanha, com 13-19 (68%) nos arremessos de quadra, sendo que, nas bolas de dois pontos foi praticamente impecável, com 10-12. Todos os cinco titulares anotaram um mínimo de 12 pontos. Outro dado: para as 38 cestas de quadra bauruenses, ocorreram 31 assistências – 13 na conta de Ricardo Fischer.


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