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Semifinalista, Lituânia usou até Frankenstein pra ser o país do basquete
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Giancarlo Giampietro

Valanciunas, o futuro do país do basquete

Valanciunas, o futuro do país do basquete

O basquete comemora: a Lituânia está na semifinal da Copa do Mundo, pela segunda edição consecutiva, depois de ter batido a Turquia por 73 a 61 nesta terça-feira, num jogo que estava enroscado por três períodos, mas foi resolvido pela maior versatilidade – e talento puro, mesmo – dos bálticos no quarto final, em Barcelona.

Não foi a apresentação mais encantadora do torneio, uma que fique para a história, as a modalidade comemora, sim. Não deixa de ser gratificante testemunhar o sucesso alcançado por uma nação de estimados 3 milhões de habitantes (praticamente a mesma de Salvador) e área total de 65,300 km2 (três vezes menor que o Paraná) e que, com esses números relativamente tímidos, constitui um autêntico país do basquete.

Uma seleção com currículo de fazer inveja a qualquer país que não se chame Estados Unidos. O mesmo Team USA que bateu a Eslovênia nesta e que vão enfrentar na semifinal de quinta-feira, um adversário ao qual devem muito de seu apego religioso pela modalidade.

Frank Lubin, de jogador de time hollywoodiano a ídolo nacional na Lituânia

Frank Lubin, de jogador de time hollywoodiano a ídolo nacional na Lituânia

Sim, eu sei: direta ou indiretamente, todo basqueteiro deve reportar aos Estados Unidos, por intermédio de James Naismith. Ainda que tenha nascido no Canadá, foi em Springfield, no Estado de Massachusetts, que ele inventou essa brincadeira de bola ao cesto. Para os lituanos, porém, um dos patriarcas de fato tem outro nome: Frank Lubin.

Nascido em Los Angeles, filho de lituanos, Lubin era um pivô de pouco mais de 2,00 m de altura, que se formou pela UCLA – instituição que, nos anos 60 e 70, contaria com os jovens célebres Lew Alcindor e Bill Walton, vocês sabem. Lubin não fez nome como o futuro Kareem Abdul-Jabbar, mas pôde celebrar como campeão olímpico pelos Estados Unidos em Berlim 1936, a primeira edição do torneio olímpico – por aquele que teria sido o primeiro Dream Team, recebendo sua medalha dourada de ninguém menos que o próprio Dr. Naismith.

Depois da famigerada competição disputada no quintal de Adolf Hitler, Lubin aceitou um convite para conhecer e trabalhar como treinador na Lituânia, aonde seria como Pranas Lubinas – o que é muito mais legal, claro. Ele ainda veria, em 1937, o selecionado báltico conquistar seu primeiro EuroBasket, em Riga, na Letônia. Como jogador e técnico, ajudou a conquistar o torneio continental seguinte, em 1939, sendo MVP de uma competição em seu time fazia as vezes de anfitrião. Ele morreu aos 89 anos, de volta à Califórnia, em 1999, dois anos depois de entrar no Hall da Fama de sua universidade.

A noiva do Boris Karloff. Quer dizer, do Frankenstein. Mas não do Frank Rubin, que fique claro

A noiva do Boris Karloff. Quer dizer, do Frankenstein. Mas não do Frank Rubin, que fique claro

Se isso já não fosse instigante o bastante, saibam que Lubinas também poderia ser identificado como Frankenstein Lubin pelos seus compatriotas norte-americanos, num trocadilho óbvio com seu nome natural, mas que que também envolvia o time e o técnico pelo qual jogava nos Estados Unidos. Acreditem: ele defendia uma equipe amadora bancada pela… Universal Pictures, um dos pilares hollywoodianos. O treinador Jack Pierce fazia seus bicos como maquiador do estúdio. Quer dizer, mais provável que o basquete fosse o bico, né? Mas vamos lá: um de seus trabalhos foi a produção “The Bride of Frankenstein”, estrelada por Boris Karloff, o verdadeiro e único Frankenstein dos cinemas – Robert De Niro que nos perdoe. Segundo esse texto fantástico de Luke Winn para a Sports Illustrated, Lubin vestia fantasia e partia em direção aos torcedores antes dos jogos, em muitas das ações promocionais que faziam para os filmes da Univesal.

Sem maquiagem ou roupas estranhas, Lubinas ser um astro, mesmo, na Lituânia, aonde passou a ser conhecido como o “Avô do Basquete”. De qualquer forma, outros americanos, entre eles Konstantinas Savickas (que nasceu em Punsk, mas emigrou para a América do Norte quando criança), também foram instrumentais para ensinar e, naturalmente, popularizar o basquete por lá. Savickas, por exemplo, foi o treinador da seleção nacional até pouco antes do Europeu de 37.

Na equipe campeã naquele ano e em 1939, os grandes nomes ainda eram descendentes diretos como Juozas Jurgela,  Vytautas Budriunas,  Feliksas Kriauciunas e Pranas Talzunas, boa parte da região de Chicago. Depois do primeiro título, a Lituânia ganhou o direito de sediar a edição seguinte. Para tanto, o governo autorizou a construção do Kauno Sporto Hal (o hall dos esportes de Kaunas), que, na verdade, recebia só jogos de basquete. Teria sido o primeiro, digamos, templo construído apenas para a prática do bola ao cesto, algo que viraria realmente um culto por lá.

A esperança de sediar mais uma vez o torneio em 1941 e de lutar pelo tricampeonato acabou da pior forma, com o estouro da Segunda Guerra Mundial. A Lituânia se viu disputada por russos e alemães no início dos anos 40 e acabou anexada novamente na composição da União Soviética. Lubinas conseguiu escapar com sua família saindo de um navio da Estônia. A reconstituição desses fatos ajuda a entender bem a paixão do país pelo basquete, não? Era como se a modalidade representasse o sonho de independência, prosperidade e glórias.

Um outro Time dos Sonhos, por diversas razões

Um outro Time dos Sonhos, por diversas razões

A ponto de o time de 1992, a primeira seleção lituana constituída após a corrosão do antigo império comunista, ganhar a aura de um conjunto secular, sob a liderança do gigantesco Arvydas Sabonis. É uma grande história que envolve grandes craques de basquete, orgulho nacional, redenção e até mesmo o Grateful Dead. Virou imperdível documentário, já abordado por estas bandas.

Desde então, o mundo do basquete se habituou a dividir o pódio com os lituanos. Eles foram semifinalistas simplesmente por cinco torneios olímpicos em sequência, levando o bronze de Barcelona 1992 a Sydney 2000 – em Atenas e Pequim, terminaram em quarto. Sem contar que o ouro soviético de 1988, sabemos todos, é, no mínimo, 85% lituano, com seus jogadores atuando por um país que, de unido, só tinha o nome – se não bastasse o talento inigualável de um Saboni, com algumas cirurgias a menos, ainda contavam com Kurtinaitis, Marciulionis e Chomicius. Na Europa, também ganharam duas pratas, incluindo a do último campeonato, mais um ouro em 2003 e um bronze em 2007. Curiosamente, em termos de Mundial, têm menos sucesso que os russos, com apenas um bronze na última edição, contra duas pratas conquistadas pelos rivais.

Como eles fazem isso? Basta paixão e dedicação?

Claro que não.

No texto de Luke Winn para a SI, o secretário geral (ou: generalinis sekretorius) da federação Mindaugas Balciunas enfatiza o trabalho de formação de seus professores. “A razão para que a Lituânia seja tão forte é nosso sistema de preparação dos treinadores”, afirma o dirigente que ajudou a criar em 2010 até mesmo um programa de mestrado para técnicos, em parceria com a Universidade de Worcester, na Inglaterra (!?) e a Academia Lituana de Edudação Física, pela qual se formou. “Desde então, ele têm persuadido membros da atual seleção, incluindo o ala Linas Kleiza, a se inscreverem nesse curso”, relata Winn. Os estudos podem ser feitos  à distância. Mas o fato é que, nas escolas do país, já são diversos os bacharéis ensinando a molecada.

Acho que isso ajuda a entender um pouco, né?

A atual seleção lituana não conta com ninguém do porte de seus grandes nomes dos anos 80, ou de um Sarunas Jasikevicius, que se despediu da equipe após Londres 2012 e se aposentou nesta temporada – hoje é assistente do Zalgiris. Mas há uma combinação interessante de veteranos como os gêmeos Lavrinovic, o ala Simas Jasaitis e o pivô Paulius Jankunas com uma nova geração liderada por Jonas Valanciunas, o xodó do Toronto Raptors, que, aos 22, é um dos cinco atletas de 25 anos para baixo do elenco. A tradição vai seguindo adiante, como não pode deixar de ser.

“Nós somos um país pequeno”, admite Sabonis. “E o basquete é o melhor caminho para mostrarmos ao mundo quem nós somos.”


Duelo com a Sérvia escancara buraco na base brasileira
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Giancarlo Giampietro

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Quando a bola subir na quarta-feira, pelas quartas de final da Copa do Mundo, não será a primeira vez que o armador Stefan Markovic e o pivô Miroslav Raduljica vão enfrentar o Brasil num mata-mata de torneio Fiba. Sete anos atrás, ainda adolescentes, no Mundial Sub-19 eles levaram a melhor contra em uma semifinal que acabou em vitória tranquila dos balcânicos, 89 a 74.

Para quem clicou imediatamente no link acima, já deu para ver os dois ficaram, respectivamente, 26 e 23 minutos, em quadra, contribuindo com 12 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. Números regulares. Mas vale o destaque, mesmo, estatístico daquele jogo é a quantidade de brasileiros presentes na seleção nacional que derrubou a Argentina no domingo passado: 0. Isso mesmo: ze-ro.

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

Quer dizer, se formos considerar o assistente técnico José Neto, temos ao menos um – ele era o treinador daquele time. Daquela geração era de 1988-89, dos quais foram pinçados os 12 representantes para aquela campanha (?) histórica, hoje todos eles com 25 e 26 anos,  nenhum jogador conseguiu se desenvolver a ponto de entrar na lista final de Rubén Magnano para competir por uma medalha na Espanha.

Quem chegou mais perto disso foi o ala-pivô Rafael Mineiro, que disputou o Campeonato Sul-Americano deste ano, como peça integral da rotação, com médias de 6,2 pontos e 4,8 rebotes. Da seleção B, Raulzinho e Rafael Hettsheimeir foram chamados para compor o grupo principal.

Embora não tenha conseguido dar o grande salto, o talentoso Mineiro é um caro caso de atleta que conseguiu alguma continuidade em sua carreira internacional desde o Mundial Sub-19. Desde, então, ao menos conseguiu jogar três Sul-Americanos, mais que o grande nome daquela categoria: Paulão Prestes. O pivô participou só de um Sul-Americano – ironicamente, em 2006, anterior ao torneio de base. Os problemas físicos de Paulão estão bem documentados, guiando uma trajetória de altos e baixos. Foi muito bem cotado na Espanha, acabou draftado pelo Minnesota Timberwolves (algo muito difícil e não pode se perder de perspectiva), mas se lesionou demais e teve problemas com a balança. Chegou a ser pré-convocado por Magnano em duas ocasiões e hoje é a grande aposta do Mogi, ao lado de Shamell.

De resto, temos o ala Betinho em São José, com média de 13,6 pontos, 2,0 assistências e 32,5% nos três pontos em sua carreira no NBB, o ala-pivô Rodrigo César no Uberlândia e o pivô Romário no Macaé. Outro que chega ao NBB agora é o armador Carlos Cobos, de dupla nacionalidade (Espanha e Brasil), criado na base do Unicaja Málaga ao lado de Paulão, e que também não conseguiu se firmar na Liga ACB. Ele acabou de acertar com o Franca de Lula Ferreira, que ao menos vai fazendo esse trabalho de prospeção, tentando recuperar alguns dos garotos espalhados por aí.

Contando: foram citados, então, seis atletas daquele time sub-19, 50%. O restante, para termos uma ideia, é até difícil de rastrear. Luiz Gomes, que hoje é um dos motores por trás do Mondo Basquete – um site bem bacana para você visitar –, fez esse trabalho hercúleo no ano passado, já constando uma geração verdadeiramente perdida.

Thomas Melazzo, fora do basquete

Thomas Melazzo, fora do basquete

Cauê Freias, autor da cesta da vitória contra a Austrália de Patty Mills nas quartas de final, e Bruno Ferreira, o Biro, estão no Caxias do Sul e devem disputar a Liga Ouro, Segunda Divisão do NBB. Houve quem tenha parado e largado o esporte: o ala Thomas Melazzo, que tinha um potencial absurdo, hoje é personal trainer, aparentemente vivendo em Salt Lake City, terra do Utah Jazz. Se alguém souber do paradeiro dos demais, por favor, caixa de comentários aberta abaixo.

Dia desses, no Twitter, o mesmo Luiz Gomes estava especulando a respeito, apontando algumas promessas  de então e hoje na elite. Muitos deles classificados para os mata-matas de uma Copa do Mundo, na elite. A Sérvia já escalou o ala-pivôs Marko Keselj e Milan Macvan na fase decisiva do Mundial de 2010, para se ter uma ideia. No time de hoje, tem Markovic e Raduljica e ainda conta com mais cinco jogadores que teriam idade para disputar aquele torneio, mas só ganhariam visibilidade mais tarde.

Já a França apresenta quatro nomes de seu time sub-19 que bateu o Brasil na disputa pelo bronze: o armador Antoine Diot, o ala Edwin Jackson, o pivô Kim Tillie e um certo Nicolas Batum. O pivô Alexis Ajinça certamente estaria na Copa do Mundo, não tivesse pedido dispensa. Até mesmo os Estados Unidos, com sua produção de talentos incomparável, tem um representante de 2007 aqui: Stephen Curry! Daquele elenco, destacam-se também nomes como DeAndre Jordan (Clippers), Patrick Beverley (Rockets) e Michael Beasley (Marte).

Entre os demais quadrifinalistas da Copa, para ser justo, é preciso dizer que a Espanha só tem um atleta daquela jornada: o ala Victor Claver. Lituânia e Turquia? Nenhum. A Eslovênia não havia se classificado.Mas também é preciso dizer uma coisa sobre os lituanos: sua atual seleção conta com cinco jogadores nascidos depois de 1988 (o ano-limite para inscrição naquele Mundial): Adas Juskevicius, Sarunas Vasiliauskas, Mindaugas Kuzminskas, Donatas Motiejunas e Jonas Valanciunas – os dois últimos simplesmente as maiores apostas dessa tradicional potência. Já os turcos têm três: o caçula Cedi Osman, de apenas 19, além de Furkan Aldemir (cujos direitos na NBA pertencem ao Sixers) e Baris Hersek.

Nessa categoria, de atletas de 26 anos ou mais jovens, também se enquadram os argentinos Facundo Campazzo, Nícolas Laprovíttola, Tayavek Gallizzi, Matías Bortolín e Marcos Delía. A Austrália contou com seis: Dante Exum (19), Brock Motum, Cameron Bairstow (23), Matthew Dellavedova, Ryan Broekhoff (24) e Chris Goulding (25, este convocado para aquele Mundial Sub-19). Já os Estados Unidos possuem apenas um jogador nascido antes de 88: Rudy Gay, e só.

No Brasil, com 22 anos, Raulzinho é a figura solitária. Rafael Luz acabou preterido no último corte, enquanto Augusto Lima dançou já no Sul-Americano. Uma decisão bastante sensata poupou Bruno Caboclo dessa. Já Lucas Bebê foi deixado na geladeira, depois da escapada do ano passado. Ao menos o filho do Raul vem sendo utilizado com regularidade por Rubén Magnano, contribuindo para valer hoje – e ao mesmo tempo ganhando uma experiência extremamente valiosa para o futuro. Agora, fora isso, a seleção que joga na Espanha, a mais velha do Mundial, é apenas para agora e agora.

Obviamente que a base do elenco de Magnano é fortíssima, não sobram vagas. Como acontece com a Espanha. Agora, na periferia do plantel, será que não dava para encaixar? Depois de uma vitória contra a Argentina, na iminência de um confronto com a Sérvia, pode ter gosto de chope aguado todas essas lembranças. Nesta semana, as preocupações dos envolvidos com o jogo ficam realmente direcionadas só para a quadra. Fora dela, porém, nos escritórios da CBB, o tema já deveria estar na mesa há tempos. Sem precisar que a figura até folclórica de Raduljica, nesta quarta-feira, servisse como recado.


O 7º dia da Copa do Mundo: Zebras de folga
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Giancarlo Giampietro

Uma, duas, três e quatro franquias da NBA representadas na foto. EUA também têm torcida na Espanha

Uma, duas, três e quatro franquias da NBA representadas na foto. EUA também têm torcida na Espanha

Ufa. Depois da maratona em sua primeira semana, neste sábado a tabela da Copa do Mundo pegou bem mais leve com esses pobres jornalistas. Quatro joguinhos, nada simultâneo, e a chance de apreciar melhor o que se passa em quadra. Embora, quem esteja tentando enganar? Aquela avalanche de jogos dos grupos era divertida pacas e nos deixa com abstinência. Difícil até digitar aqui, de tanto tremelique. Mas vamos lá: depois de alguns sustos na fase de grupos, não temos nada de surpresas por ora nas oitavas. Os grandes favoritos, Espanha e Estados Unidos, passaram com tranquilidade, para agora enfrentarem, respectivamente, Eslovênia e França nas quartas de final.

O jogo do dia: França 69 x 64 Croácia
Um segundo tempo redentor nos livrou daquele que poderia ter sido o primeiro duelo com menos de 100 pontos no placar. No caso, com os dois ataques somados! A primeira etapa, para se ter uma ideia, teve 48 pontos anotados. Um inacreditável: 23 a 22 a favor dos Bleus, que haviam anotado apenas 7 pontos no primeiro período – quantia igualada pelos balcânicos no segundo quarto. Uma tristeza que só, uma batalha do jogo feio. Na volta do intervalo, para alívio geral, os ataques desafogaram, permitindo que Ucrânia 64 x 58 Turquia ficasse com o justíssimo título de partida mais sonolenta do campeonato.

A vitória francesa ganha este espaço devido aos 20 minutos finais, na disputa mais equilibrada da jornada, e também pela quantidade de jogadores talentosos de ambos os lados. Dario Saric, Ante Tomic, Bojan Bogdanovic, Boris Diaw, Nicolas Batum e mais. Todos de NBA ou em grande parte em potência europeias. Entre eles, Bogdanovic foi quem se destacou, com 27 pontos em 35 minutos, exibindo todos os seus fundamentos que poderiam perfeitamente ilustrar um manual. No ataque, o croata é uma maquininha de cestas, e com um estilo mais classudo impossível.

Bogdanovic deixa pirulão Gobert para trás: rumo a Brooklyn o cestinha croata

Bogdanovic deixa pirulão Gobert para trás: rumo a Brooklyn o cestinha croata

Num tiro de três a 52 segundos do fim, o ala diminuiu uma vantagem francesa que chegou a ser de 11 pontos para apenas dois. No ataque seguinte, Antoine Diot errou um chute de fora na zona morta, e os croatas tinham a chance de virada. Foi aí que a apareceu a outra faceta do “hero ball”, com Bogdanovic se precipitando com uma bola de fora, de muito longe, restando mais de 10 segundos de posse no cronômetro. Nos lances livres, os adversários definiram o placar. Olho neste jogador na próxima temporada da NBA: vai jogar pelo Brooklyn Nets. É um dos principais cestinhas da Europa, mas é preciso ver como irá se a ajustar, já que está habituado a jogar com a bola em mãos, como referência primária (e secundária, hehe) de seus times. Um tanto fominha.

De resto, é de se lamentar o fogo que Batum tem com a bola em diversos momentos, abrindo mão das infiltrações para cômodos disparos de longe (0/6 para ele hoje nos três pontos, 5/7 de dois). Também fica a dúvida sobre como a Croácia demorou para abastecer Tomic no garrafão durante todo o campeonato. No quarto período, hoje ele foi o grande responsável pela reação de seu time, com 17 pontos em 25 minutos (7/10 nos arremessos). O pivô do Barcelona, mesmo assim, ficou no banco nos últimos três minuto.

Quem fez falta: as Filipinas… 🙁
O esforço da atlética seleção de Senegal contra a Espanha foi formidável, especialmente primeiro tempo, mas é difícil de fugir de um devaneio sobre como teria sido o confronto dos anfitriões com as Filipinas nestas oitavas de final. Antes que me acusem de pirado: não, os filipinos não venceriam, não causariam a maior surpresa da história. Mas pode ter certeza de que eles proporcionariam alguns instantes de pura diversão em quadra, deixando Pau Gasol atônito.

Blatche e as Filipinas já partiram, cada um para o seu lado

Blatche e as Filipinas já partiram, cada um para o seu lado

Um causo
Não chega a ser um dramalhão mexicano, mas Gustavo Ayón ainda está desempregado. A despeito de suas diversas qualidades, o pivô não tem contrato para a próxima temporada. Que vergonha, NBA. Neste sábado, contra os Estados Unidos, ele mostrou que tem bola. A melhor vitrine. Será o suficiente para levantar uma proposta? Vejamos. Só não foi suficiente para evitar uma derrota por 86 a 63.

Curry acertou 16 de seus últimos 25 arremessos de 3 pontos no Mundial. Melhor marcar o craque

Curry acertou 16 de seus últimos 25 arremessos de 3 pontos no Mundial. Melhor marcar o craque

Alguns números
35 –
Os “Splash Brothers” do Golden State Warriors anotaram juntos 35 pontos na vitória contra o México.  Stephen Curry foi o cestinha, com 20. Klay Thompson anotou 15. Juntos, eles mataram nove de 18 arremessos de longa distância.

33 – A vitória por 89 a 56 sobre Senegal, por 33 pontos, foi a mais larga da Espanha em um jogo de mata-mata de Mundiais, EuroBasket ou Olimpíadas.

18 – O cestinha da Eslovênia contra a República Dominicana foi um Dragic. Mas Zoran dessa vez. O ala-armador não permitiu que um jogo abaixo do esperado de seu irmão derrubasse a equipe, marcando 18 pontos com 8/15 nos arremessos. Goran ficou com 12 pontos e 6 assistências – mas também cometeu seis desperdícios de posse de bola. Curioso que o astro do Phoenix Suns tenha se atrapalhado contra uma equipe que não é muito conhecida por sua pressão defensiva. Duro agora é se preparar para um embate com os Estados Unidos.

11,1% – Os irmãos Gasol não deixaram Gorgui Dieng se despedir da Copa da melhor maneira. Uma das sensações do campeonato, o pivô senegalês terminou as oitavas de final com 6 pontos, 7 rebotes e 2 assistências, acertando apenas 1 de 9 chutes de quadra (aproveitamento de 11,1%). No geral, ele teve médias de 16 pontos, 10,7 rebotes, 2 assistências e 1,5 bloqueio.

4 x 5 – Para Ricky Rubio, que preencheu a tabela estatística hoje, com pelo menos cinco incidências em quatro categorias diferentes: 7 pontos, 5 rebotes, 6 assistências e 5 roubos de bola em apenas 20 minutos. O armador já não tem a mesma badalação dos tempos de adolescente, mas ainda é um jogador bastante singular quando em forma.

Andray Blatche: acabou a contagem
Vocês sabem, né? O pivô mais filipino da Copa liderou a primeira fase em total de arremessos de quadra. Foi bom enquanto durou. Agora ele já está de volta aos Estados Unidos. Destino: Miami. Para assinar com o Heat, ou simplesmente por que vive lá? A Internet não responde com clareza. Consta apenas que ele não será reaproveitado pelo Brooklyn Nets.

O que Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Treinou com seus amigos gregos e estudou o comportamento dos alas da Sérvia. Simples assim.

Tuitando:

O técnico Vincent Collet vem sendo cobrando por muita gente neste torneio sobre os parcos minutos que o ala-armador Evan Fournier, agora do Orlando Magic, vem recebendo no torneio. Contra a Croácia, ele saiu do banco para anotar 13 pontos em apenas 16 minutos, sendo fundamental na reação francesa no segundo período. Mas o treinador não fica muito impressionado, não, depois de ver o jovem atleta arrriscar uma bola de fora precipitada contra marcação por zona. “Ele não conhece o jogo de basquete, pelo menos não o bastante”, disse. Ouch.

Fair play, a gente se vê por aqui. Depois de seus pivôs anularem Gorgui Dieng, o armador entra em contato com seu companheiro de Minnesota Timberwolves com algumas palavras de incentivo.

É com esse espírito que a torcida espanhola vai para as quartas de final.


Mas nem todo mundo é só sorrisos no basquete espanhol. Para vocês verem que não é só jornalista brasileiro quem chateia. ; )


Ayón se despede em alta do Mundial, mas sem contrato
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Giancarlo Giampietro

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Gustavo Ayón já fez tanto pela seleção mexicana nos últimos anos, levando o time a uma sequência histórica de façanhas, que, num jogo perdido, não era mal algum que seus companheiros jogassem em sua função por 40 minutos neste sábado.

Na abertura das oitavas de final da Copa do Mundo, todo mundo sabia que os Estados Unidos iriam atropelar o México (86 a 63, nem foi tão feio assim). Mas a partida do mata-mata tinha um valor especial para o craque do time, o pivô camisa 8 que, inexplicavelmente, está desempregado no momento. De modo que 25 pontos, 8 rebotes e 11/19 nos arremessos não faz mal nenhum, mesmo que numa sacolada. Ele se despede do Mundial com médias de 17,6 pontos e 7,6 rebotes.

Ayón foi explorado ao máximo. Trombou com uma infinidade de pivôs americanos em 36min53s de partida, aproveitando ao máximo a oportunidade de mostrar serviço. Nos minutos finais, estava visivelmente exausto, tendo de segurar Andre Drummond e Mason Plumlee correndo que nem malucos. Coitado. Mas foi por uma boa causa.

Ayón x Monocelha no Mundial

Ayón x Monocelha no Mundial

Ele não é o único protagonista do Mundial nessa situação – temos Aron Baynes na Austrália e Miroslav Raduljica na Sérvia, por exemplo. Mas, pelo que vimos hoje no embate com os norte-americanos, é de se perguntar como é possível que alguém com os talentos de Ayón tenha sido menosprezado desta maneira. Até o momento, seus agentes asseguram que não receberam sequer uma proposta oficial da NBA, depois de seu cliente concluir um contrato de três temporadas.

Segundo o extremamente confiável Marc Stein, do ESPN.com, o San Antonio Spurs passou a manifestar interesse no jogador, mas ainda tem como prioridade a renovação com Baynes. O ídolo mexicano seria, então, um plano B – estar na lisa de atletas monitorados por Gregg Popovich e RC Buford é, de qualquer modo, um bom sinal para qualquer empresário. A mídia mexicana fala em negociações com o Real Madrid, para o qual foi oferecido. O Baskonia também teria sido sondado.

É muito estranho. Ayón não pode ser confundido com um craque, alguém que mudaria o destino de uma franquia da NBA a partir do momento em que assinasse. Mas é, por outro lado, um pivô bastante versátil, pau-pra-toda-obra.

No ataque, é capaz de pontuar com eficiência próximo da cesta, com o jovem Anthony Davis pôde atestar neste duelo, sendo fintado em diversas ocasiões em mano-a-mano. Com um jogo de pés bastante criativo, girando para os dois lados com facilidade, conseguiu se desvencilhar da interminável envergadura do Monocelha. Veja os australianos entrando na dança:

Na liga americana, embora não tenha um bom chute de média distância (seu lance livre, por exemplo, é um horror – média de 50% na carreira), ele pode ser bastante útil de outra forma no poste alto: tem visão de jogo e roda a bola com precisão (2,8 assistências por 36 minutos, para um pivô). Reparem como ele está sempre com a bola erguida, os braços alertas para fazer o passe – isto é, não basta inteligência, tem de ter fundamento também. Aqui:

Do outro lado, tem capacidade atlética para segurar a onda na disputa dos rebotes e também está disposto a trombar, bater e fazer o necessário para proteger a cesta. Numa projeção de 36 minutos, tem médias de 1,6 roubo de bola e 1,2 bloqueio, além de 9,4 rebotes e 10,2 pontos.

De novo: são habilidades em que ele está acima da média, mas não quer dizer que ele seria dominante: a concorrência na liga é grande, independentemente da posição. Vejam o caso de Francisco Garcia. Esquenta-banco em Houston, cestinha de 20 pontos pelos dominicanos nesta Copa. Ninguém pediria que Ayón arrebentasse. Mas é meio triste ver um jogador talentoso dele vagar pela liga.

Vagar, mesmo: foi contratado em 2011 pelo New Orleans, de modo até emergencial, já no meio da temporada. Ele havia se estabelecido como um dos melhores pivôs da Liga ACB, na dianteira de diversas tabelas estatísticas, incluindo a de eficiência – o que é sempre um bom sinal, considerando que Tiago Splitter, Marc Gasol e Luis Scola estiveram por lá nas temporadas anteriores.

Para quem chegou de última hora, se ajustando, Ayón mandou bem nos ex-Hornets-hoje-Pelicans. Quando o time se interessou por Ryan Anderson, porém, no mercado de agentes livres, foi despachado para Orlando num sign-and-trade. O clube solicitou o mexicano, mas não o usou muito. O elenco estava em processo de reconstrução após a saída de Dwight Howard e tinha pivôs “próprios”, mais jovens para desenvolver. Não demorou muito para repassar o atleta, então, para o Milwaukee, que vivia fase de transição semelhante (aliás, como sempre). No lugar errado, na hora errada, ou seja.

Agente livre em 2013, fora do radar, o pivô não conseguiu dar o salto pelo qual todo estrangeiro espera ao migrar para NBA: receber um senhor aumento na hora de fechar o segundo contrato. Teve de se contentar com um salário mínimo para preencher a rotação de pivôs do Atlanta Hawks, pelo qual quebrou um galho quando Al Horford se lesionou, mas não tão foi aproveitado. O técnico Mike Budenholzer priorizava o arremesso de fora, mesmo para seus grandalhões, e o macedônio Pero Antic ganhou espaço.

Aqui estamos, então. A central de negociações da liga americana está em clima de fim de feira, na real, e Ayón, sem clube. Ao menos ele pôde bater uma bolinha neste sábado contra seus (ex-)adversários de NBA e mandar um último recado.

*  *  *
Independentemente do clube com o qual assinar, Ayón seguirá um orgulho mexicano:


O 2º dia da Copa do Mundo: coisas estranhas acontecem
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só: 12 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, pela rodada. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a situação dos grupos e os todos os resultados. Sobre a vitória brasileira sobre o Irã, clique aqui.

Neste domingo, o Mundial flertou um pouco mais com acontecimentos estranhos. Enquanto o Brasil treinava contra o Irã, Senegal derrotava Porto Rico, para conquistar sua primeira. Por 20 minutos, nossos irmãos angolanos davam uma canseira na Lituânia, até que arrefeceram no segundo tempo. E a Turquia… Bem, a Turquia nos deu o…

O jogo da rodada: EUA tomam um beliscão
Ao final do primeiro tempo, com os turcos vencendo por 35 a 30, ficava aquela sensação no ar: será que vai acontecer isso, mesmo? Será que o Team USA pode realmente perder logo na segunda rodada da Copa, para a Turquia, mesmo? A equipe de Ergin Ataman conseguiu amarrar o jogo nos 20 minutos iniciais, dominando os rebotes, desacelerando as ações em quadra e movimentando bastante a bola. Na defesa, salpicou uma zoninha aqui e ali, que confundia os impacientes norte-americanos.

Na volta do intervalo, porém, veio o atropelo: 63 a 37 para os rapazes de Coach K, que voltaram do vestiário babando de raiva. Pressionado, o treinador, aliás, manteve seu quinteto inicial por muito mais tempo – segurando no banco, por exemplo, um Derrick Rose pior que nulo.  Houve um lance no início do terceiro período em que três atletas ao mesmo tempo fizeram falta em Asik. Era ianque caindo de um lado para o outro no tablado, num esforço que derrubou o ataque adversário. Os desarmes e contestações resultaram em contragolpes e desafogo. James Harden também assumiu o controle do ataque, na sua melhor forma: quando joga de modo agressivo, mas seguro ao mesmo tempo (14 pontos + 7 assistências). É habilidoso demais no drible, e ninguém do outro lado estava preparado para brecá-lo. Kenneth Faried e Anthony Davis passaram a dominar o garrafão. Os dois ágeis pivôs terminaram com 41 pontos, enterrando tudo e qualquer coisa por cima dos grandalhões mais pesados da Turquia.  Com todos correndo de modo alucinado, saía uma atrás da outra:

A surpresa: Senegal vence

Maurice Ndour sobe para a bandeja: 8 pontos

Maurice Ndour sobe para a bandeja: 8 pontos

Bom, para vocês terem uma ideia do tamanho da surpresa neste recinto, tinha os porto-riquenhos como candidatos a azarões nesta Copa do Mundo. Sabe-tudo, né? A lição que fica: nunca aposte suas fichas  em Porto Rico. A segunda: nem leve muito a sério o que está sendo escrito aqui. Óbvio.

Depois de levarem marretada da Argentina na primeira rodada, José Juan Barea e Carlos Arroyo foram praticamente eliminados logo no segundo dia com uma derrota por 82 a 75. Não assisti. Seria meio difícil entender como uma seleção com dois armadores tão talentosos poderia perder para uma equipe que basicamente não tem armação. Mas aí já encontramos uma causa: os 11 minutos de jogo para Arroyo. O veterano, que fez uma temporada excepcional na Europa e estava, enfim, se entendo bem com Barea em quadra, sofreu uma grave torção de tornozelo, indo parar no hospital. Pode ser que nem jogue mais no torneio.

Além disso, os senegaleses oprimiram os caribenhos atleticamente. Ganharam a disputa nos rebotes (38 a 33), cobraram mais lances livres (27 a 17) e permitiram um acerto de apenas 43,8% nos arremessos de dois. Sem muito o que fazer perto da cesta, Porto Rico desandou a disparar de três, como culturalmente gostam: 29 chutes de fora, contra 42 no perímetro interno. Em sua estreia em competições Fiba, Gorgui Dieng segue impressionante: 18 pontos, 13 rebotes, 2 tocos e 2 assistências em 34 minutos.

Essa foi apenas a terceira vitória de Senegal nos Mundiais, a primeira contra um time de fora da Ásia e a primeira também numa partida que não seja pelo “torneio de consolação” – nos tempos em que se disputava o 15º lutar etc. Antes, o país havia batido a China por 89 a 79 em 1978 e superado a Coreia do Sul por 75 a 72 em 1998.

Deve ser legal!

Um causo
“Contra os argentinos beligerantes muito pior pior passou Dario Saric, que está bem conservado Nocionija (11 pontos), mas depois de uma de cotovelo de Argentina perdeu seis dentes, na verdade, implante, então ele procurou a mudança. Eventualmente Dario e tal de volta no jogo para estar nessa linha que selou essa grande vitória. Solução protética temporária para o problema Saric estarão disponíveis o mais tardar amanhã por um dentista local, mas sem ele é que ele será capaz de jogar.” Calma, ninguém saiu bebendo por estas bandas aqui na sede das Organizações 21, na Vila Bugrão paulistana. O parágrafo acima foi redigido pelo Sr. Tradutor Google, com base em relato do diário Vecernji , da Croácia. Se a gente juntar os fragmentos, dá para entender que o jovem Dario Saric teve a infelicidade de se deparar com o cotovelo de Andrés Nocioni num dos primeiros jogos do dia. Perdeu seis (SEIS!) dentes nesse… Acidente. Na verdade, os dentes perdidos já eram de um implante. Então, para ele, ficou elas por elas, de modo que voltou para a quadra e contribuiu na segunda vitória croata em duas rodadas: 90 a 85. Depois, foi ao dentista. Mas deve jogar nesta segunda, sem problema.

Dario Saric ao fundo, bem distante do cotovelo de Nocioni

Dario Saric ao fundo, bem distante do cotovelo de Nocioni

 (Outro causo
Pelo Grupo A, em duelo de rivais diretos pela vaga, a França se meteu em mais um jogo duro, a segunda pedreira em duas rodadas, mas saiu com a vitória sobre a Sérvia: 74 a 73. Um pontinho, convertido pelo pivô Joffrey Lauvergne em lance livre no último segundo. Até aí, normal. Não foi a primeira vez, nem a última em que um jogo de basquete é definido desta maneira. Acontece que, em papo com jornalistas sérvios– ele era jogador do Partizan Belgrado –, fez uma confissão: “Tenho de ser honesto com você, não sofri falta no final da partida”, segundo relato do popular tabloide Večernje Novosti. Será? O pivô Miroslav Raduljica já havia cantado a bola: “Perguntem ao Joffrey, ou para os árbitros. Não seria objetivo se tivesse de dizer algo”. Já o técnico sérvio Aleksandar Djordjevic mal se continha: “Estou irritado, e acho que com razão. Tudo o que foi duvidoso foi marcado contra nós”.)  

Alguns números
30 – A Argentina perdeu para a Croácia, mas não olhem para Luis Scola para tentar entender o que se passou. O pivô argentino marcou 30 pontos na derrota – a sexta vez que chegou a essa marca em um jogo de Mundial. Esse é para a história.  

26 – Na segunda rodada, Goran Dragic repetiu os 26 minutos da estreia. De novo: Phoenix Suns e Eslovênia chegaram a um acordo para limitar a utilização do genial armador. É algo que pode virar tendência para os próximos torneios, dependendo da sensibilidade e empenho na diplomacia de ambas as partes. Contra o México, o astro, que somou 18 pontos e 6 assistências, e nem precisou de mais, graças ao desempenho de seu irmão caçula…  

0 – Estávamos esperando por um grande jogo de Zoran Dragic nesta temporada de seleções, e ele finalmente saiu neste domingo. E foi um estrondo: o ala-armador marcou 22 pontos em 22 minutos num jogo tranquilo contra o México. Mas o destaque, mesmo, fica para sua linha de arremessos: 4/4 nos arremessos de dois pontos, 4/4 nos de três pontos e 2/2 nos lances livres. Sim, ele não perdeu nenhum arremesso na jornada.

Goran Dragic, em raro momento de aperto contra o México: 89 a 68

Goran Dragic, em raro momento de aperto contra o México: 89 a 68

 Andray Blatche: contagem de arremessos
42! – Depois de tentar 24 chutes na estreia contra a Croácia, o pivô mais filipino do Mundial maneirou em nova derrota, agora contra a Grécia: 18 chutes de quadra (6/15 de dois pontos e 0/3 de longa distância). Ele terminou com 21 pontos e 14 rebotes em 33 minutos, enquanto nenhum de seus companheiros tentou mais que sete chutes.  

O que Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Não foi muito, não. Foram três pontos, todos em lances livres, em apenas 14 minutos. Em arremessos de quadra, foram 0/3 de longa distância, e só. Curva de aprendizado ainda pela frente para o adolescente grego.

No Twitter:

A Finlândia tomou um vareio contra os Estados Unidos na véspera, mas reagiu prontamente contra a Ucrânia. Para que acabar com a festa? Neste domingão, a farra foi a de sempre, como o armador Petteri Koponen nos mostra. Não importando o que acontecer daqui para a frente, os #Susijengi já levaram para casa o Troféu Joinha de Simpatia.

Miroslav Raduljica, um autêntico bisnagão sérvio,  judia do aro em Granada.


Libertem a fera, quer dizer, o Manimal! O jogador mais pilhado do Mundial – e olha que Anderson Varejão está em ótima forma…

O Team USA posou para a foto oficial no primeiro jogo de agasalho. Não pode. Tiveram de repetir hoje, com uma animação que só.


Brasil e Espanha respiram aliviados em Mundial de desfalques
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Giancarlo Giampietro

Magnano está treinando todos aqueles com que esperava contar. Raridade

Magnano está treinando todos aqueles com que esperava contar. Raridade

O Brasil tem um time rodado, o elenco mais experiente de todos os 24 inscritos na Copa do Mundo de basquete. Com o mesmo grupo, trocando Caio Torres por Rafael Hettsheimeir, terminaram as Olimpíadas de Londres 2012 com o quinto lugar.

São dois pontos importantes para justificar qualquer otimismo que o Basqueteiro da Silva possa sentir em relação ao torneio que começa neste sábado.

Mas saiba que há mais um elemento importante a ser considerado: entre as seleções que afirmam publicamente que jogam por uma medalha neste Mundial, apenas o Brasil e a anfitriã Espanha vão levar para quadra o que no jargão da imprensa esportiva se chama de “força máxima”.

Rubén Magnano, que tanto chiou no ano passado ao final de uma vexatória Copa América, tem agora ao seu dispor a lista que julga ideal. Justamente num campeonato em que seus principais concorrentes estão seriamente avariados.

Se é para falar em desfalque, a lista começa obrigatoriamente com os Estados Unidos da América. O Coach K teve de montar sua lista final sem LeBron James, Kevin Durant, Carmelo Anthony, Russell Westbrook, Paul George… (respirem fundo, que ainda tem mais)… Kevin Love, Blake Griffin e LaMarcus Alridge. Isso para não falar de Michael Jordan, Wilt Chamberlain, Mugsy Bogues, John Isner e os Harlem Globe Trotters. Ainda assim, são candidatos ao ouro, claro – mas sem amedrontar tanto os donos da casa.

A França, campeã europeia, não vai contar com os pontos, assistências e, principalmente, liderança de Tony Parker, seu Macho Alfa. Se já não fosse duro o bastante, ainda perderam seus dois melhores pivôs: Joakim Noah e Alexis Ajinça, duas baixas seriíssimas para sua defesa, além do fogoso e criativo ala-armador Nando De Colo. Resulta que a dupla Boris Diaw e Nicolas Batum vai ter de mostrar do que é feita. Acostumados a vida toda a escoltar Parker – e outras estrelas como Roy, Lillard, Nash, LaMarcus, Duncan, Stoudemire etc. em suas carreiras –, os dois agora têm de canalizar todo o seu talento como referências primárias. Era para os Bleus estarem no topo da pirâmide dos favoritos, mas eles acabam rebaixados ao segundo escalão.

Mesmo nível em que aparece a Lituânia não tinha o estourado ala-pivô Linas Kleiza, cestinha que, quando em forma, pode ajudar qualquer time do mundo. Mas ainda poderia conviver com isso, já que há pivôs de sobra por lá. O problema sério foi ter perdido, de última hora, seu armador Mantas Kalnietis, que deslocou o ombro no último teste da seleção. O cara não é cerebral, não está nem entre os 20 melhores do mundo em sua posição, mas calha de ser o único do país com tarimba para liderar um time desses, a despeito de seus arroubos de loucura aqui e ali. Basicamente: era o jogador que os lituanos não podiam perder.

Šarūnas Vasiliauskas tem as cartas lituanas em mãos: foi o único armador que sobrou no elenco

Šarūnas Vasiliauskas tem as cartas lituanas em mãos: foi o único armador que sobrou no elenco

Na Argentina, a lamentação fica por conta da ausência de Manu Ginóbili, primeiro, e de Carlos Delfino, em segundo. Manu tentou de tudo para se alistar, mas o Spurs disse não, preocupado com a recuperação de uma fratura por estresse na perna. Delfino nem jogou a temporada depois de passar por uma cirurgia no pé direito. Os dois eram basicamente as únicas opções seguras de pontuação no perímetro para Julio Llamas, que agora se vê com um elenco desbalanceado – Scola, Nocioni e Herrmann jogam basicamente na mesma posição hoje em dia.

Já está bom?

Nada, tem muito mais.

Lorbek poideria dar uma baita ajuda para Goran The Dragon não fosse o joelho estourado

Lorbek poideria dar uma baita ajuda para Goran The Dragon não fosse o joelho estourado

A Eslovênia poderia ter um baita time, mas, por motivos diversos, seja de disputas de ego ou lesões, vai com uma equipe remendada para o Mundial. Enquanto Goran Dragic estiver inteiro, eles terão chances. Mas o fato é que sua cotação nas casas de apostas seria mais elevada se o pivô Erazem Lorbek (que não fez uma boa temporada pelo Barcelona, mas ainda é um craque) tivesse pedido dispensa e se Dragic, Beno Udrih e Sasha Vujacic levantassem a bandeira de paz. Boki Nachbar ainda poderia ajudar, caso não tivesse se despedido da seleção.

Por falar em despedidas e seleções balcânicas, bem que o veterano e ainda produtivo Zoran Planinic poderia dar uma forcinha para sua Croácia. Ainda na região, a Sérvia não vai poder contar com o jovem armador Nemanja Nedovic, lesionado, e com o ala Vladimir Micov, que brigou com o técnico. São coadjuvantes, mas estariam entre os 12 num cenário perfeito.

Se a Grécia ttivesse Vassilis Spanoulis entre seus convocados, também teria subido alguns postos na lista de candidatos ao pódio, mesmo que Dimitris Diamantidis siga aposentado de competições Fiba. Kostas Koufos e Sofoklis Schortsanitis também deixariam o garrafão helênico muito mais pesado, com o perdão do trocadilho. A arquirrival Turquia não é confiável, mas se tornaria mais forte com Ersan Ilyasova formando uma bela linha de frente com Preldzic e Asik. Hedo Turkoglu? Nem levaria, mas fica o registro.

Mesmo meu candidato preferido a azarão do Mundial, Porto Rico, tem seus problemas. Há quem julgue que o gigante PJ Ramos não faça falta – é certamente o caso do técnico Paco Olmos, que se recusou a chamá-lo –, mas não há como relevar a baixa do ala John Holland. Americano de ascendência porto-riquenha, ele não tem muito cartaz neste mundão Fiba, mas se tornou um personagem fundamental para o time devido a sua capacidade atlética, apetite pelos rebotes e defesa. “Grande coisa”, poderia responder o técnico Orlando Antígua, da República Dominicana. “Nós perdemos o Al Horford. O Al Horford, meu craque!!!”

Al Horford poderia fazer toda a diferença para os dominicanos

Al Horford poderia fazer toda a diferença para os dominicanos

Do outro lado do planeta, a Austrália ficou sem seus dois principais jogadores: o armador Patty Mills, o explosivo reserva do San Antonio Spurs e também o cestinha das últimas Olimpíadas, operado, e o pivô Andrew Bogut, do Golden State Warriors, que já não tem mais saúde para praticar basquete nas férias.

Se você somar todos os nomes em negrito, vai ver que são mais de 20 jogadores fundamentais fora de combate, além de todas as ausências norte-americanas. Isso tira um pouco do brilho do torneio, mas abre caminho para quem chega inteiro. Mesmo assim, ninguém vai ser insano de dizer ficou “moleza” para Huertas, Splitter, Nenê & Cia. Mas que as chances aumentaram e estão aí, não há dúvida.


A nova geração no Mundial: fique de olho
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Giancarlo Giampietro

Garotada do MundialA vontade era chamá-los de caçulinhas. É um termo que agrada muito  ao blog. Mas a verdade é que a faixa etária dos dez jogadores listados abaixo varia de 17 para 24 anos. Estão em diferentes estágios de desenvolvimento, então vamos de “nova geração”, mesmo, algo mais abrangente. Independentemente da idade, o papel de cada um deles sem suas seleções também varia bastante. Alguns são protagonistas. Outros só devem receber uma boa quantidade de minutos quando o jogo estiver definido – contra ou a favor. Vamos lá, então:

Anthony Davis (EUA): 21 anos e cinco meses
É até injusto, né? O Monocelha joga tanto, que não deveria estar nem aqui, abrindo a relação. Fatos são fatos, porém. Ele completou apenas sua segunda temporada na NBA. E foi uma campanha daquelas: 20,8 pontos, 10 rebotes e 2,8 tocos, 51,9% nos arremessos e um jogo em expansão contínua, como vemos neste gráfico de arremessos:

Lembrando: amarelo é a média da liga. Verde, acima.

Lembrando: amarelo é a média da liga. Verde, acima.

Davis tem matado os chutes de média distância com mais frequência. Esses percentuais só tendem a subir, ainda mais quando tiver ao seu lado um time consistente (Jrue Holiday, Ryan Anderson e Eric Gordon penaram todos com lesões). Basicamente, na NBA a sensação é a de que o ala-pivô está destinado a ser o próximo soberano da liga, chegando logo mais para a disputa com LeBron e Durant. Por ora, com tantos desfalques na seleção americana, o garoto tem a chance de dar um grande salto agora já, assim como o cestinha de OKC fez em 2010. Suas responsabilidades aumentaram, e todos creem que ele está pronto para assumi-las – não há pivô lá fora que consiga competir com ele atleticamente. Quando você o vê em ação, entende rapidamente o apelo: muito ágil, inteligente e explosivo para alguém de seu tamanho e envergadura. Faz estragos no pick and roll e também se sente bem confortável com a bola em mãos, driblando em direção ao aro. Deve ser daqueles atletas de tirar o sono quando observado ao vivo. Que o público na Espanha desfrute.

Dario Saric (Croácia): 20 anos e quatro meses
O prodígio croata está há tanto tempo nas relações de prospectos europeus, que soa também já como um veterano. Em 2011, ele venceu o Nike International Junior Tournament ao lado de Mario Hezonja e foi eleito o MVP da competição. Aí pronto: virou parada obrigatória para qualquer scout. Estamos falando de um rapaz de 2,08 m de altura que enxerga a quadra como um armador. Um jogador verdadeiramente único, difícil de se comparar. Claro que, vindo da Croácia, todo mundo já foi citando logo “Toni Kukoc”, mas não sei se é por aí, não. Ao mesmo tempo em que chamou a atenção em quadra, nos bastidores Saric se viu envolto por uma série de situações desagradáveis – e um tanto nebulosas. Assinou com o Bilbao, seu time não o liberou, ficou na geladeira, acabou se transferindo para o KK Cibona, também de Zagreb, brigou com o pai, trocou de agentes… Uma epopeia. De qualquer forma, seu talento é tamanho que, independentemente da confusão ao seu redor, na quadra ele acalmava quaisquer dúvidas. Seu progresso está todo documentado pelo obrigatório DraftExpress.

No final da temporada, o croata liderou seu modesto clube a um inédito título na Liga Adriática, com um desempenho espetacular na fase decisiva (veja abaixo na produção formidável de Mike Schmitz, do DX). Foi o MVP do torneio.  Depois, acertou sua transferência para o Anadolu Efes, clube turco que promete bastante na próxima Euroliga, e enfim se decidiu a respeito do Draft da NBA, sendo selecionado pelo Philadelphia 76ers em 12º. Mesmo que não vá fazer a transição para a liga americana agora, atendendo aos anseios do pai, que pede mais tempo na Europa, para ganhar cancha e se desenvolver, ainda mais sob a orientação do legendário Dusan Ivkovic. Chega ao Mundial já como protagonista numa equipe que conta com astros europeus como Bojan Bogdanovic e Ante Tomic. O mesmo ainda não pode ser dito sobre o ala Mario Hezonja, um cestinha muito habilidoso, mas de pouca rodagem na elite.

Bogdan Bogdanovic (Sérvia): 22 anos e dez dias
O ala-armador, que desbancou esse tal de Giancarlo Giampietro como capitão do time da aliteração nominal, é outro que acabou de se transferir para os milionários clubes da Turquia depois de se destacar nos bálcãs e antes de ser escolhido no Draft da NBA (Phoenix Suns, em 27º). Eleito o melhor jogador jovem da última Euroliga pelo Partizan Belgrado, ele vai jogar pelo apelão Fenerbahçe após o Mundial, substituindo seu xará Bojan Bogdanovic (o croata, acima citado, que migrou para o Brooklyn Nets). Antes de sair do Partizan, deixou sua marca nas finais do campeonato sérvio: com 30,8 pontos, 4,8 rebotes e 4,2 assistências, liderou mais uma vitória contra o arquirrival Estrela Vermelha para conquistar seu quarto título nacional, também o 12º seguido do clube. Deve estar pouco idolatrado por lá…

De coadjuvante na base a estrela em ascensão no profissional, Bogdan-Bogdan é um jogador que evoluiu muito nos últimos dois anos, tendo a liberdade para errar e aprender com a camisa do Partizan, clube que compete na Euroliga, mas sem grana para grandes contratações, dependendo muito do desenvolvimento de atletas mais jovens. No ataque, hoje ele faz um pouco de tudo: ameaça nos tiros de três pontos, parte de modo explosivo para as infiltrações e consegue criar para os companheiros, cometendo alguns turnovers no meio do caminho, é verdade. No clube, era o dono da bola. Agora, na seleção, como um dos mais jovens, precisamos ver como será a integração com um casca-grossa como Milos Teodosic e o quanto ele vai deferir para os pivôs mais experimentados.

– Giannis Antetokounmpo (Grécia): 19 anos e oito meses
O “Greek Freak” preferido de Milwaukee e já de toda a NBA, na real. A história do ala é tão rica, tão fascinante, que não merece ser descrita em quatro ou cinco linhas – ainda mais pelos paralelos com Bruno Caboclo, no que se refere a sua chegada aos Estados Unidos. Vamos explorar do modo devido após o Mundial, antes de a temporada 2014-14 começar. O que dá para dizer é que, há um ano e meio, Giannis estava jogando na segunda divisão grega e estreando pela equipe nacional sub-20. Hoje, é impossível deixá-lo de fora do time adulto, mesmo que ele esteja longe de ser um produto acabado. Não esperem que ele domine a competição – em sua seleção, a prioridade, por enquanto, é de veteranos como Calathes, Printezis, Bourousis e Papanikolau. Não deve chegar nem a 10 pontos ou 25 minutos por jogo. Mas fique atento aos seus flashes de exuberância atlética durante as apresentações helênicas e sua fluidez com a bola, que impressiona Jason Kidd. Na NBA, vocês sabem, né? Depois do que fez em sua primeira temporada, considerando quão inexperiente é, há gente de respeito que crava: vai ser uma superestrela.

Dante Exum (Austrália): 19 anos e um mês
Com todos esses jogadores, é preciso calma. Especialmente com Exum. Estamos falando de outro menino bastante badalado desde muito cedo. O pessoal baba ao falar deste menino e sua velocidade e desenvoltura com a bola. Ele foi o quinto selecionado no último Draft da NBA. Se é tão bom assim, então por que cargas d’água ele fica no banco da seleção australiana, ainda mais sem Patty Mills? Porque os Boomers não têm pressa nenhuma com seu jovem armador, por mais que velocidade seja o forte do atleta. Ainda vai chegar o momento dele. Por enquanto, em seu primeiro campeonato adulto oficial, sua missão é entrar no decorrer da partida e tentar dar mais agressividade ao ataque de um time que terá uma formação inicial bastante pesada, centrada nos pivôs Aaron Baynes e David Andersen, com Matthew Dellavedova, sólido calouro do Cavs, organizando as coisas. Não dá para esperar que ele faça isso aqui (Mundial Sub-19 de 2013):

–  Joffrey Lauvergne (França): 22 anos e 11 meses
   Rudy Gobert (França): 22 anos e dois meses
Gobert nem seria convocado não fossem os diversos desfalques da seleção francesa no garrafão, como Joakim Noah e Alexis Ajinça. Lauvergne seria reserva, se tanto. Ian Manhinmi e Florient Pietrus devem ganhar seus minutos ao lado de Boris Diaw, mas é de se esperar que, com o decorrer da competição, os mais jovens ganhem espaço, por um estilo de jogo que se encaixa melhor com seus companheiros – e também porque já são melhores que os veteranos. Cá estão os dois pivôs com a obrigação de proteger a cesta dos Bleus, que entram no Mundial como os atuais campeões europeus. Quer saber? Os adversários que não os menosprezem.

Draftado e tido em alta conta pelo Denver Nuggets, Lauvergne foi companheiro de Bogdan-Bogdan no Partizan e liderou a Euroliga em rebotes (8,6 por jogo), além de ter marcado 11,1 pontos por jogo em sua segunda campanha pelo torneio continental. Sua presença em quadra é realmente entusiasmante, aprontando um alvoroço diante das tábuas ofensiva e defensiva. Tem um ótimo senso de colocação além de energia e mobilidade – bons complementos para Diaw. Neste ano, vai jogar pelo Kimkhi Moscou, fora da Euroliga. Já Gobert jogou bem menos na temporada passada, esquentando o banco em Utah, mas, a julgar pelo que fez na Summer League de Vegas e nos amistosos, parece pronto para se fixar tanto na rotação de sua seleção como na do Jazz. O pirulão não precisa pontuar muito. Na defesa, é um substituto ideal para Ajinça devido a sua envergadura e habilidade nos tocos. Veja o tamanho do cara:

Cedi Osman (Turquia): 19 anos e quatro meses
Existem armadores altos e existe Osman, de 2,03 m de altura e grande aposta de uma nova safra de jogadores turcos que tem tudo para dar um trabalho danado no próximo ciclo olímpico – junto com os canadenses. Vindo de sua primeira temporada de Euroliga, o adolescente acabou de conquistar o ouro e o prêmio de melhor jogador do Eurobasket Sub-20 deste ano, na Grécia. Brilhou quando valia mais, na reta final do torneio, com 63 pontos, 16 rebotes, 9 assistências e 68,9% nas últimas três partidas (é o canhotinho camisa 8 no vídeo abaixo, um compacto da final). Os jogadores mais experientes da Turquia, Arslan, Tunçeri, Ermis e Guler, são tão inconsistentes, erráticos que não será de se assustar se Osman ganhar tempo de quadra. Ainda mais tendo lado do ala Emir Preldzic, um autêntico point forward, nos moldes de Saric, que será seu companheiro no Anadolu Efes. Tendo os Estados Unidos em seu grupo, vai ser avaliado de perto pela NBA.

Sviatoslav Mykhailiuk (Ucrânia): 17 anos e dois meses
Não custava nada: por mais jovem que Mykhailiuk fosse, não é que Mike Fratello tivesse tanto talento assim ao seu dispor para nem menos convocar a sensação do país para treinar com o time principal. É um gesto recorrente, que Magnano já havia feito por aqui com Raulzinho, por exemplo. Não prometia nada. Pelo contrário: dizia que era muito difícil que o ala-armador, magrelo toda vida, conseguisse uma vaga no grupo do Mundial. Semanas depois, como já adiantamos neste apanhado geral aqui, o moleque vai para o torneio como seu atleta mais jovem. Esse, sim, um caçulinha. Um precoce que já compete na primeira divisão em seu país e chamou a atenção no Nike Hoop Summit deste ano, aos 16, mesmo sendo bem mais jovem que a concorrência. Capacidade atlética acima da média, um arsenal já impressionante de movimentos no ataque, boa leitura de jogo e personalidade a ponto de ser fominha por vezes. Um potencial tremendo, mas que não deve jogar muito nas próximas semanas, não. Ainda é muito frágil fisicamente. Detalhe: já está comprometido em defender a universidade de Kansas na próxima temporada. O técnico Bill Self não conseguiu esconder a (desagradável) surpresa que teve ao ver o adolescente ser convocado. “Estou feliz por ele. Mas fico um pouco preocupado que ele vai chegar atrasado, que é o que vai acontecer. E, sem querer colocar muita pressão nele, eu estava esperando que ele realmente estivesse pronto para ser um grande contribuidor para nós no meio de novembro. Agora pode ser que leve um tempo a mais para ele”, disse. Viram só quanto ele está feliz pelo garoto?

Gorgui Dieng (Senegal): 24 anos e sete meses
Eu sei, eu sei: duas dúzias de vida, no basquete de hoje, pode parecer mais as contas de um veterano do que de um noviço. E o curioso é que “Gorgui”, na língua nativa de Dieng, significa “O Velho”. Mas o pivô do Minnesota Timberwolves é mais um daqueles que começou a jogar tarde, ainda mais num nível minimamente competitivo. Ele chegou aos Estados Unidos apenas em 2009, para jogar pela Huntington Prep School, que já trabalhou com Andrew Wiggins e Carlos Arroyo. Ganhou evidência e acertou com Rick Pitino para jogar (e estudar) por Louisville. Progrediu bastante em três anos com os Cardinals e foi campeão universitário em 2013, fazendo a cobertura de uma defesa sufocante com Russ Smith e Peyton Siva. Na NBA, como calouro, levou alguns meses para ele se aclimatar. Quando Nikola Pekovic sofreu mais uma lesão, passou a ser mais utilizado e estourou a boca do balão, com médias de 11,9 pontos e 10,7 rebotes em nove jogos em abril. Em março, já havia tido jogos de 22+21 e 15+15 e 11+17. É uma presença bastante ativa e intimidadora perto da cesta. No ataque, produz bem no high post, como um passador natural e bom chute de média distância, ainda que tenha sido aproveitado muito mais dentro do garrafão – a flutuação ficava por conta daquele tal de Kevin Love. Ele agora vai fazer sua estreia em competições Fiba por Senegal.


EUA definem time com a Espanha na mira
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Giancarlo Giampietro

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

LaMarcus Aldridge, Blake Griffin e Kevin Love disseram não, obrigado. LeBron e Carmelo, que também quebram um galho por lá, assim como Kevin Durant, também pularam fora. Mas quem disse que o Coach K não conseguiria montar um Team USA grande – ou gigante – para a Copa do Mundo de basquete na Espanha?

Na calada da noite, madrugada de sexta para sábado já no horário de Brasília (sacanagem!!!), o gerentão Jerry Colangelo e o técnico Mike Krzyzewski anunciaram os cortes finais – Damian Lillard, Kyle Korver, Gordon Hayward e Chandler Parsons – para definir seu elenco de 12 atletas. Com muitas surpresas, sendo o estoque de grandalhões a maior delas.

Da turma meio que exclusiva de garrafão, eles terão: Anthony Davis, Kenneth Faried (titulares), Mason Plumlee, DeMarcus Cousins e Andre Drummond. São cinco pivôs, mais o Rudy Gay que pode fazer o papel de strecht 4 pontualmente, dependendo do time que estiver do outro lado. Uma linha de frente abarrotada, , principalmente quando comparamos esta escalação com a de outras temporada. Vejam só:

– 2010: Tyson Chandler, Odom, Love (+ Gay, Granger e Durant)

-2012: Tyson Chandler, Davis, Love (+ LeBron, Carmelo e Durant)

Temos aí a mesma composição: três pivôs mais três “híbridos”, que seguravam as pontas de quando em quando para marcar lá embaixo – ainda que, no sistema promovido pelo Coach K, esse conceito de posições fosse bastante dissipado. Além do mais, caras como Odom, Love e Davis fazem muito mais em quadra do que simplesmente proteger o aro e rebotear. Você pega esses duas listas e vê um esbanjo de versatilidade. No sexteto de 2014, não é bem assim.

Claro que DeMarcus Cousins tem uma habilidade fora do comum para alguém do seu porte. Kenneth Faried é consideravelmente dinâmico e vem expandindo seu raio de ação. Mason Plumlee, que ganhou sua vaga feito um autêntico azarão nos coletivos dos “aspirantes” contra o time principal, também é um excelente passador. Mas não dá para comparar.

Então o que acontece?

Isso se chama respeito. Pela Espanha, basicamente.

Ninguém da USA Basketball vai admitir em público, até para não soar prepotente e não encher de confiança os donos da casa. Mas os americanos entram na competição com um único objetivo: alcançar a final e levar mais ouro para casa. Creem piamente que os irmãos Gasol e o contratado Serge Ibaka estarão do outro lado. Um trio de arromba, que, num jogo travado, físico (e, quiçá, com arbitragem caseira?), pode te carregar de faltas. Daí a mudança de curso.

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

“Não consigo reforçar o quanto foi impressionante a dedicação e o comprometimento de cada um dos finalistas”, disse Colangelo. “Desde que assumi a gerência do programa em 2005, esse foi sem dúvida o processo de seleção mais difícil pelo qual passamos. Gostaria de deixar claro que isso não tem a ver apenas com talento. Cada um desses jogadores é incrivelmente talentoso e cada um oferece habilidades únicas. No fim, o que pesou foi a formação da melhor equipe possível, selecionando os caras que sentimos que se encaixariam da melhor forma com o estilo que temos em mente para esta equipe.”

No programa que restaurou a hegemonia ianque no basquete mundial,  a explosão, a velocidade, a capacidade atlética como um todo foram elementos fundamentais em suas seleções Claro, desde que esses atletas também fossem multifundamentados. Ajuda poder contar com Westbrooks, LeBrons, Georges e tudo o mais, né? Aberrações do ponto de vista físico, mas igualmente fenomenais com a bola.

Sem esses caras do primeiro escalão, o Coach K tinha ao seu dispor a ala, digamos, branca que sobrou – Chandler Parsons e Gordon Hayward, que supostamente poderiam quebrar o galho como jogadores híbridos (simplesmente “forwards”). Após Durant pedir dispensa, não demorou, no entanto, para que a federação recorresse a Rudy Gay, um campeão mundial em 2010, mas que nem havia sido convocado para o novo ciclo olímpico que se inicia. Já era uma pista a respeito dos alas de Dallas Mavericks e Utah Jazz.

Já Kyle Korver era visto como o sniper do elenco. Aquele que seria utilizado para derrubar as defesas por zona mais coordenadas, com seu arremesso perfeito – sim, ele também tem um QI acima da média, se mexe como poucos fora da bola, ajuda na coesão defensiva e tem bom passe, mas seu chamariz, em meio a tamanha concorrência, é o chute de três. Num time que já conta com Stephen Curry, Kyrie Irving, James Harden e Klay Thompson, porém, sua especialidade pôde ser sacrificada.  Os recursos atléticos e técnicos de DeMar DeRozan se tornaram mais atraentes.

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

O corte inesperado, mesmo, pensando na primeira lista divulgada, foi o de Damian Lillard. Não só por ser um senhor (e destemido) arremessador, mas principalmente por todas as dúvidas que ainda vão rondar Derrick Rose por um bom tempo. O armador jogou contra o Brasil no domingo e, segundo consta, sentiu dores no corpo inteiro, e, não, apenas nos joelhos operados. Tantas dores que, na quarta-feira, não foi para a quadra para enfrentar a República Dominicana, pulando também os treinos no meio do caminho. Num Mundial com uma sequência desgastante de jogos, como fica essa equação? Não seria prudente levar Lillard? Talvez o simples fato de que Colangelo e Krzyzewski tenham pensado que não seja a melhor notícia que o torcedor do Bulls poderia receber.

Agora, numa Conferência Oeste que já é brutal, os adversários do Portland Trail Blazers que se cuidem, porque Lillard vai ter ainda mais um bom motivo para incendiar cada ginásio que visitar na próxima temporada. John Wall ganhou companhia.

Mas ainda tem chão para os Irmãos Gasol e Ibaka pensarem no quão enfezado Lillard vai estar em quadra. Antes, eles vão acompanhar com curiosidade como os Estados Unidos vão trabalhar com tantos pivôs.


Diante de armadilha americana, foi Raulzinho quem escapou
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

(Obs: post atualizado domingo de manhã, com as estatísticas)

Lembramos o Mundial de 2010, em que o jogo foi decidido na última bola. Teve também o amistoso antes de Londres 2012, também no pau. Então o placar de 95 a 78 para os Estados Unidos, no quinto amistoso do Brasil rumo ao Mundial masculino, não pode ser visto como um bom sinal, algo que Splitter, mesmo, deixou claro em entrevista ao SporTV. Não dá, mesmo, para ser encarado como algo auspicioso, como um “grande teste”, e tal. Tem sempre de se tomar cuidado com a versão oficialesca da coisa.

Mas também não é o fim do mundo. Por 20 ou 25 minutos, a seleção jogou de modo competitivo. Melhor: nesses momentos, tinha em quadra o armador Raulzinho, justamente o personagem mais criticado nesta fase de preparação.

Neste sábado, foi um dos melhores em quadra (6 pontos e 4 assistências em 14 minutos). A diferença básica: o jovem atleta dessa vez usou a velocidade adequada, arrancando nos momentos certos. Teve calma com a bola, em vez de jogar com a quinta engatada o tempo todo. Isso, a despeito do convite da defesa americana para a correria e o caos, quase sempre pressionando muito a bola.

(A lição: não vale julgar um atleta por quatro ou cinco partidas. Posto isso, o corte de Rafael Luz ainda me parece inexplicável, por diversos motivos, que valem um texto particular. Só fica uma pergunta, porém: precisava definir o grupo de 12 atletas de modo tão rápido? Você economiza em passagem e hospedagem, mas talvez tire a chance de um jovem atleta provar ainda mais que merece uma vaga nos amistosos seguintes. Desde que,  claro, Magnano esteja aberto a novos nomes em sua lista e não tivesse o grupo fechado em sua cabeça desde fevereiro. De 2012, no caso…)

Agora, voltando a esse papo de pressão na bola. É um dos pontos centrais de estratégia da defesa norte-americana nesta retomada da hegemonia mundial – e algo que vai ser intensificado nesta equipe atual, visto que o garrafão está ainda mais enfraquecido. O tipo de armadilha com que Huertas, Larry, Alex e Leandrinho não souberam lidar (juntos, Huertas, Garcia e Barbosa cometeram 12 dos 21 turnovers brasileiros).

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Nesse sentido, foi um desempenho bastante atípico para o armador titular da seleção e do Barcelona, cometendo muitos turnovers, cedendo muitos contra-ataques. Na metade final do primeiro período, em especial, foi um horror, ele teve dificuldade extrema para até mesmo cruzar a linha central. Algo que fugiu bem ao padrão do que havia apresentado contra os Estados Unidos nas exibições anteriores sob a orientação de Magnano, conquistando muitos fãs na imprensa de lá.

Larry, talvez empolgado demais por estar jogando em casa (ou não), não conseguiu ler o que se passava ao seu redor em quadra. Bateu para a cesta e não se cansou de levar tocos (1-4 nos arremessos de quadra, apenas 3 pontos em 12 minutos, nenhuma assistência). Ele já não está mais habituado a jogar contra seus compatriotas, a encarar esse tipo de capacidade atlética que um Anthony Davis ou um Mason Plumlee apresentam. Não há nada errado em “bater para a cesta”, mas, para alguém veterano, que teria de estar pronto, tinindo para encarar a elite mundial, bem que uma finta aqui e ali poderiam ser usadas, né? Digo: Magnano comprou a ideia de sua naturalização, o trata como pesa intocável em seu time desde 2012. Supostamente, então, é um cara para resolver, custando a outros atletas de futuro uma vaga no time. Então a cobrança também fica alta em relação a sua produção, independentemente da nacionalidade. Vamos ver. Também não vai enfrentar americanos em todos os jogos daqui para a frente.

Quem não se intimidou com os caras foi Rafael Hettsheimeir, que teve uma noite praticamente perfeita nos chutes de fora (3-4 nos tiros de três pontos, sendo que o único erro veio numa bola no estouro do cronômetro de posse; terminou o jogo com 13 pontos em 12 minutos e 5-6 no aproveitamento de quadra). Encarnou o “strecht 4” da moda na NBA – para não dizer “strecht 5” e deve ter impressionado os scouts presentes. Lembrando que o pivô, hoje fechado com o Bauru, já chegou a abrir negociações com Dallas Mavericks e outros clubes de lá há alguns anos. Mas também precisamos ter prudência aqui: se não é certo afundar Raulzinho por causa de três ou quatro partidas, não é para jogar o pivô lá para o alto por causa de uma jornada.

Hettsheimeir tem realmente trabalhado neste chute de média para longa distância. Ganhou licença para chutar, por parte de Magnano. Mas notem que em sua carreira, mesmo nas temporadas recentes, os percentuais não são tão elevados assim. Ok, ele matou 40% na última Euroliga, pelo Unicaja Málaga, marca excelente. Mas foram apenas 24 disparos no total, em 17 partidas, uma amostra bastante reduzida. Na Liga ACB, em 45 chutes, o rendimento caiu para 31,1%. No ano anterior pelo Real, 28,1%. Em 2011-2012, pelo Zaragoza, caíram 33,9%. Claro que tudo depende do contexto: quem dividia a quadra com ele, qual tipo de arremesso era gerado (contestado ou não?), os defensores etc. E outra: se os arremessos começarem a cair sem parar, as defesas vão se ajustar. E, para alguém do seu tamanho, não dá para esperar que vá colocar a bola no chão e invadir o garrafão. Enfim: é uma arma interessante para o tabuleiro de Magnano, mas precisamos entender qual o seu devido valor e a devida eficiência para saber quando usá-la na hora-hora-do-vamo-vê.

*  *  *

Marcelinho Machado e Guilherme Giovannoni tiveram tempo de quadra bastante reduzido no amistoso. Giovannoni retorna de lesão no tornozelo, registre-se. Seus minutos estarão vinculados aos de Hettsheimeir, desconfio. Se o pivô estiver convertendo as bolas de longa distância em alta frequência, seu papel no time fica seriamente ameaçado. Contra os EUA, de todo modo, a velocidade da concorrência acaba sendo um fator inibidor para os mais veteranos da equipe. Estiveram juntos no final do primeiro tempo, para executar uma defesa. Não entendi muito bem. Então fica aqui mais um ponto para se checar no giro europeu de amistosos.

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Sobre os atletas dos Estados Unidos, nenhuma novidade. Mas não deixa de ser interessante vê-los em ação contra os brasileiros, para reforçar algumas impressões, de ambos os lados. Alguns comentários rápidos sobre mais alguns dos personagens em quadra:

James Harden: nem mesmo um defensor aplicado e enfezado como Alex consegue ler seus movimentos para prever o lado do corte. No um contra o um, driblando a bola de maneira marota, o Sr. Barba tem um ritmo todo dele e cava lances livres sem parar. Candidato a cestinha do Team USA no Mundial.

Anthony Davis: se o público espanhol foi privado de ver Kevin Durant em ação ao vivo, que se deleitem com a capacidade atlética do Monocelha. Anthony Davis tem o corpo perfeito para o basquete. A confiança cada vez mais alta, subindo junto com seus fundamentos. Jogador mais importante do time.

Stephen Curry: queimou a redinha no início do primeiro período, depois foi preservado pelo Coach K. No Mundial, é de se imaginar que vá ser muito mais utilizado. Hoje o show estava reservado para Derrick Rose, reencontrando a ansiosa e apaixonada torcida de Chicago.

– Por falar em Derrick Rose… Em espasmos, você vê que o arranque e a impulsão ainda estão lá. Excelente notícia – para o basquete. Tal como aconteceu com Larry, deu para notar a pilha que o rapaz também estava, sem contar a ferrugem de alguém que disputou apenas dez partidas desde 2012.

Mason Plumlee: atlético e inteligente, uma combinação que te leva longe. Mostrou porque ultrapassou Boogie Cousins e Andre Drummond na rotação do Coach K.

Rudy Gay: no cenário dos sonhos de Krzyzewski, ele teria Durant, LeBron e Melo. No plano B, só Durant. Na falta de tudo isso, teve de apelar a Rudy Gay, que fez 28 anos neste domingo. E aí que o treinador dos Estados Unidos gostaria muito que o ala acertasse ao menos 35% de seus chutes de três pontos.  O jogador do Sacramento Kings teria tudo para se encaixar no time, não fosse sua deficiência nos arremessos. Duro é que isso aconteça. Na defesa, ele acaba compensando com agilidade, impulsão e envergadura. Mas o ataque sofre.

– Por isso, esperem uma boa dose de Kenneth Faried no Team USA. Um homem não é apelidado de Manimal gratuitamente. O motorzinho do Denver Nuggets pode não acertar nenhum chute atrás da linha de lance livre ou fora do garrafão, mas compensa o espaçamento criando e achando buracos com sua movimentação incessante. Energia nunca é demais. Além do mais, o ala-pivô ainda pode pontuar som seus semi-ganchos (tipo os do Splitter) e chutes em flutuação, que evoluíram muito na última temporada.

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De resto, ainda parece que o Coach K precisa fuçar um tanto em sua rotação. Klay Thompson e Chandler Parsons deixaram a pegada cair. Damian Lillard nem viu a quadra (vai de dupla e tripla armação o tempo todo, ou não?)’ precisa ver se Cousins vai ter  alguma chance quando o joelho estiver inteiro. Se Korver vai jogar mais em algum teste futuro. E tal. Obviamente não são problemas de arrancar os cabelos. Mas são ajustes necessários para o único objetivo que lhes interessa: o ouro. “Nada além do ouro é aceitável”, como disse o Monocelha na saída de quadra para a repórter Karin Duarte, do SporTV.


Jogadores americanos descendentes causam impacto e ajudam a explicar surpresas no continente
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Giancarlo Giampietro

Holland x Feldeine

John Holland e James Feldeine: duas novidades norte-americanas no Caribe

Os Estados Unidos nem jogaram a Copa América de basquete neste ano, mas o talento de seus jogadores ainda deu o jeito de fazer a diferença. Do campeão México à surpreendente Jamaica, passando até mesmo pelo Brasil com Larry Taylor, muitas das seleções que disputaram o torneio continental contaram com uma ajudinha da mão-de-obra dos atuais bicampeões olímpicos. O grau de sucesso variou de time para time, mas a presença deles foi impactante de um modo geral, para atestar, ainda que por vias tortas, a influência do país no esporte.

Aí você pode pensar: “Dãr. Quanta novidade, hein?”

Bem, acreditem. Antes de Jerry Colangelo, Coach K, LeBron & Cia. conseguirem restaurar um certo grau de normalidade para as competições masculinas da Fiba, essa aura, essa influência estava sendo esculhambada em praça pública. Voltemos.

Muito se falou sobre o Pan de 1987 nestes últimos dias de Oscar Schmidt no Hall da Fama, então esta vocês já sabem responder direitinho no vestibular: que, no basquete masculino, o Brasil foi o primeiro time a vencer os Estados Unidos na casa dos caras, em Indianápolis. Que os norte-americanos perderam para a União Soviética nas Olimpíadas de 1988 também vem por esteira, e que esses acontecimentos somados a uma boa dose de interesses econômicos dos dois lados, Fiba e NBA, levaram ao ingresso do Dream Team em Barcelona 1992, e o resto foi história.

Uma história que, se for pensar bem, não durou taaaaaaaaaanto assim, não. Em Sydney 2000, lá estavam os EUA penando contra a Lituânia na semifinal, a um chute de três pontos de Sarunas Jasikevicius de ver o império ruir.

Não tardou muito, mesmo: no Mundial de 2002, de novo no solo sagrado amaldiçoado de Indianápolis, veio o maior vexame da história (para eles): derrotas para Argentina na segunda fase, Iugoslávia nas quartas e, como se não bastasse, Espanha na disputa pelo sexto lugar. Os jogadores utilizados nesta? Andre Miller, Baron Davis, Jay Williams, Reggie Miller, Michael Finley, Paul Pierce, Shawn Marion, Raef LaFrentz, Elton Brand, Jermaine O’Neal, Antonio Davis e Ben Wallace. Um timaço em qualquer circunstância. Todos All-Stars ou futuros All-Stars, ultramilionários, estrelas de seus times, alguns que seriam campeões mais adiante. Mas nem todos eram maduros o suficiente para a empreitada e, além disso, não eram necessariamente os maiorais da liga na época (nada de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal, por exemplo).

Conclusão da época? Nós, ianques, não podemos mais nos dar ao luxo de não levar o que temos de melhor.

Dois anos depois, Atenas 2004, Jogos em que a seleção norte-americana sofreu mais uma humilhação daquelas com a derrota para Porto Rico na primeira fase e a assinatura da caderneta de freguesia para a Argentina, nas semifinais. Ao menos bateram os lituanos novamente e ganharam o bronze. Quem estava lá? Allen Iverson, Stephon Marbury, Dwyane Wade, LeBron James, Carmelo Anthony, Richard Jefferson, Shawn Marion, Lamar Odom, Amar’e Stoudemire, Carlos Boozer, Emeka Okafor e Tim Duncan. Reparem: grandessíssimos nomes, mas uma combinação de talentos que não faz o menor sentido, com nenhum chutador de primeira linha – e lembrem-se que Wade, Melo e LeBron eram apenas novatos na liga e saíram da capital grega odiando Larry Brown. Além do mais, com Iverson e Marbury, era como se eles tivessem a versão deluxe de Arroyo e Ayuso, sobrando tiros pra tudo que é lado.

Conclusão? No, we can’t. Não dava para jogar sem ter os melhores em quadra – e sem passar o mínimo possível de espírito de equipe.

Aí que o resto se fez de história também, com a reformulação completa da confederação. Antes disso, os fiascos seguidos botaram em dúvida o tipo de basquete praticado por lá. E até mesmo a qualidade do “jogador americano X” foi questionada. O orgulho todo foi embrulhado num jornal velho e atirado na lata de lixo. Compreensível a reação e exagerada da mesma forma.

Ainda numa digressão, temos o caso de uma campanha na qual eles não levaram o ouro, mas em que o talento abundante no país ficou em evidência. Antes da “derrocada” em Indianápolis, vale quebrar a linearidade e voltar quatro anos no tempo para edição 1998 do Mundial, também em Atenas. Abalada pela instauração do primeiro lo(u)caute na NBA, USA Basketball teve de se virar com um catadão de universitários, jogadores que na época estariam na D-League, caso ela existisse, ou de alguns veteranos em atividade na Europa. Destaque para o pivô Brad Miller, que remaria bastante e viraria um dos melhores de sua posição na grande liga, e o ala Trajan Langdon, um ídolo para os torcedores do CSKA Moscou. Treinados por Rudy Tomjanovich, com a assistência de Del Harris, esses atletas foram valentes o suficiente para conquistar o bronze, somando 7 vitórias (incluindo um placar de 83 a 59 contra o Brasil…) e 2 derrotas (Lituânia e, na semi, contra a Rússia, por um total de quatro pontos) – leia aqui o relato comovido da federação deles.

Jimmy King, um dos quase-anônimos do bronze

O ala Jimmy King, companheiro de Webber, Rose e Howard no histórico time dos “Fab Five” da univesidade de Michigan, foi um dos que conquistou o bronze no Mundial da Grécia em 1998

Nesse campeonato, os Estados Unidos foram obrigados a se alimentar com a rebarba, jogadores que não teriam a menor chance de entrar num elenco final de 12 atletas caso estivessem todos os de ponta disponíveis, mas ainda assim deram um jeito de brigar por um lugar ao pódio, lutando contra cachorros grandes. Com o tanto de jogadores que o país produz, algo semelhante apenas ao que o Brasil faz no futebol, não é impossível formar uma equipe competitiva.

Ao mesmo tempo, sem muita margem de erro, podem ficar em quarto num torneio continental como na Copa América de 2005, atrás de Brasil, Argentina e Venezuela, algo impensável para sua grife, ou, só com jogadores da D-League, ficar com um bronze no Pan de Guadalajara 2011, com um elenco que contou com três atletas hoje inscritos na NBA (Greg Stiemsma, Donald Sloan e Lance Thomas).

Tudo depende de preparação, seriedade, química e – por que não? – um pouco de sorte. De qualquer forma, passando por essas diferentes equipes citadas, algo fica muito claro: não é qualquer grupo que vai sair triunfante de uma competição oficial, independentemente de quem estiver jogando. Isso Paul Pierce e Tim Duncan poderão confirmar. Mas também não dá para negar o talento disponível.

E é a partir dessa fonte inesgotável de talento que o cenário da Copa América, hoje, se vê drasticamente alterado. Foram diversos os jogadores nascidos nos Estados Unidos inscritos no torneio disputado em Caracas, espalhados por vários elencos, como o ala Donta Smith, que se naturalizou venezuelano a menos de dez dias do torneio. Mas nem todos são descaradamente mercenários como o jogador ex-Atlanta Hawks: muitos entregam já em seus sobrenomes a ascendência latino-americana. A diferença é que, depois de passarem pelo High School, se formarem, ou não, nas universidades de lá, se beneficiando de toda a estrutura de seu país, na hora de jogar por uma seleção, eles simplesmente não teriam espaço se não na de seus familiares – como Scott Machado.

No México, temos, por exemplo, o pivô Lorenzo Mata, nascido na Califórnia, formado na UCLA. Combativo, disposto a trombar e fazer o serviço sujo, também um bom passador, inteligente, ele se apresentou como um sólido companheiro de garrafão para o astro Gustavo Ayón no México. Os inéditos campeões continentais também contaram com mais dois californianos em sua rotação, com papel importante: Jovan Harris, cestinha na final contra Porto Rico, com 23 pontos, e Orlando Méndez, além do baixinho catimbeiro que é o tal do Paul Stoll, esse natural do estado de Michigan.

O marrentinho Stoll

Paul Stoll, o tampinha e marrento armador reserva do México, direto de Michigan

Mais uma equipe a ser surpreendida pelos mexicanos, Porto Rico não teria muito do que reclamar, não, já que Renaldo Balkman, um dos melhores do torneio, veio de Nova York. Assim como John Holland, encontrou um ótimo ala para complementar seus armadores talentosos. Ele é um nova-iorquino de 24 anos, muito atlético, aguerrido na defesa, que vem evoluindo consideravelmente nas últimas duas temporadas. Neste campeonato, eles ganharam a companhia de outro conterrâneo, Ramon Clemente, ala-pivô estreante, da mesma forma que o ala Ricky Chaney, de Los Angeles. (E tenham em mente que Carmelo Anthony também seria uma possibilidade não fosse tão badalado e cobiçado desde a adolescência, de modo que a USA Basketball não o deixaria escapar de modo algum.)

O mesmo aconteceu na República Dominicana, com outro jogador de ponta: o ala-armador James Feldeine, de Nova York e uma ótima opção para pontuação a partir do perímetro, com suas infiltrações que desafogam a pressão pra cima dos, aí, sim, dominicanos naturais como Francisco Garcia e Jack Martínez. Outros nova-iorquinos: Edgar Sosa, Ricardo Greer e até mesmo o Ronald Ramon, de Limeira. Já o promissor Karl Towns Jr., de 17 aninhos, é de Nova Jersey.

E a Jamaica? Bem, Samardo Samuels nasceu realmente na ilha, vindo de Trelawny. De resto, temos cinco americanos e até um canadense, o jovem armador Dylan Howell, que saiu de Toronto. (Outro “gringo” que pode reforçar a seleção é o gigante Roy Hibbert, do Indiana Pacers, que já defendeu a equipe num torneio regional, mas se arrependeu e nutria esperanças de que pudesse ser liberado para defender os Estados Unidos de volta – sendo que já havia jogado pelo Team USA no Pan do Rio de Janeiro… –, até que seu pedido estapafúrdio foi recusado pela Fiba. Tá vendo? Acha que a federação vai dizer “sim” pra tudo?!)

Mas deu para sacar, né?

Os jogadores “importados” não chegam a ser Os Craques de suas seleções, mas se tornaram peças complementares importantes para a formação de sólidas e competitivas bases. Se fosse para subtrair todos esses caras, provavelmente nenhum dos três países teria beliscado a vaga – ou, no mínimo, teriam sofrido muito mais para assegurar a vaga. O “se” não entra em quadra, no entanto.

A única condição que se espera é que esses reforços tenham realmente alguma relação direta com os países que adotaram, algo que vá além de uma eventual valorização econômica pela vitrine que é disputar um torneio internacional de seleções.

Bem diferente do que vem acontecendo na Europa… Mas esta história fica para amanhã.