Vinte Um

Arquivo : março 2015

A final não é brasileira, mas o Bauru ainda é o favorito
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Giancarlo Giampietro

Alex, perto de mais um título continental

Alex, perto de mais um título continental

Não há como negar: o Bauru vai entrar em quadra neste domingo como o grande favorito ao título da Liga das Américas, no Rio de Janeiro. Tem grandes chances, sim, de estender a sequência de títulos do Brasil no torneio continental para três. Afinal, o time de Guerrinha já soma 15 vitórias consecutivas em partidas internacionais nesta temporada, somando aqui aquelas que fez para ganhar a Liga Sul-Americana. E não só isso. O clube paulista vem simplesmente arrasando os concorrentes que enfrenta pelo caminho, com uma margem de pontos superior a 27 pontos em média, tendo batido o Peñarol de Mar del Plata por 88 a 61, de modo incontestável.

Agora, uma coisa é o jogo falado, outra é o jogado, como diria qualquer um neste sábado, após o Pioneros de Quintana Roo, do México, ter derrubado o Flamengo e impedido uma decisão 100% nacional. Para frustrar o Maracanãzinho e a organização do Final Four da LDA como um todo, os caras batalharam, por vezes literalmente, contra o Flamengo, vencendo por 81 a 80. Já aprontaram uma, agora vão tentar outra.

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Sim, por mais que a mesma equipe mexicana tenha vencido o torneio em 2012 e tenha chegado ao Rio de Janeiro com cinco triunfos e apenas uma derrota, foi uma surpresa o resultado da segunda partida do dia. No papel, o elenco rubro-negro é muito mais qualificado. Acontece que os visitantes não permitiram que esse talento fizesse a diferença, jogando um basquete muito combativo, físico para desestabilizar um ataque geralmente potente.

Não teve bicampeonato para Neto e o Flamengo

Não teve bicampeonato para Neto e o Flamengo

Foram 25 faltas cometidas, com direito a dois jogadores excluídos. Um estilo que gera, obviamente, muitos lances livres – e o Flamengo, como um todo, falhou nos tiros de um ponto, (19-28, 68%). Mas as falhas na linha não foram a única razão isso para explicar o resultado. A defesa agressiva  também forçou 17 turnovers, cinco deles pelas mãos de Nícolas Laprovíttola. Marquinhos foi o único jogador de perímetro brasileiro que conseguiu enfrentar esses caras e prevalecer, com uma grande atuação (27 pontos, 8-10 nos lances livres, 8-13 nos arremessos, em 41 minutos).

Com ou sem porrete, os mexicanos defenderam muito bem o jogo exterior de seu adversário, limitando o time da casa a míseras 6 bolas de três pontos em 28 tentativas, para um aproveitamento de 21%. Isso, na real, não chega a ser uma novidade, uma vez que, no duelo entre ambos no dia 25 de janeiro, o Fla já havia acertado apenas 10 em 32 (31%). Junte os dois, e temos 16-60. Fica difícil de vencer assim, e aí faltou procurar outros – e melhores – caminhos para explorar Jerome Meyinsse, muito mais explosivo que seus oponentes, debaixo do aro. O pivô acertou sete de oito tentativas de cesta, mas também cometeu cinco desperdícios de posse de bola, somando 16 pontos em 39 minutos. Cristiano Felício ficou apenas cinco minutos em quadra e também poderia ter ajudado.

Na defesa, o que matou foi a dificuldade em marcar o pivô Justin Keenan, pesadão, mas com bom arremesso, se desmarcando em jogadas de pick and roll ou pick and pop para matar tiros de média para longa distância ou descolar faltas (25 pontos, 8-15 de quadra e 7-9 nos lances livres). A comissão técnica do Bauru certamente tomou nota disso, que o grandalhão tem de ser respeitado e contestado, até porque o armador Brody Manjarres não finaliza tão bem assim quando mais perto da cesta.

Ao ver estes números, Manuel Cintrón, ex-treinador de Porto Rico que diz ter ficado dois anos em fase de “reciclagem”, poderia se sentir até mais confortável ao caminhar para o embate com o Bauru na decisão. Afinal, sabemos bem que o clube paulista investe bastante nos chutes de longa distância também. Acontece que seu poderio ofensivo é tão grande que, mesmo numa jornada em que essas bolas não caem (8-36, 22% contra o Peñarol), os bauruenses podem chegar a 80 pontos.

Murilo, diferente de Jefferson, mas igualmente perigoso. Novas possibilidades no ataque

Murilo, diferente de Jefferson, mas igualmente perigoso. Novas possibilidades no ataque

Jefferson William faz falta no espaçamento de quadra, mas a dupla Murilo-Hettsheimeir oferece um jogo interior muito interessante para Guerrinha e um problema para qualquer oponente (somaram 34 pontos, 12 rebotes e 13-23 nos arremessos, com Rafael novamente exagerando na dose de três, errando sete de nove disparos). Outra: não é segredo que o eterno Alex adora uma partida de muito contato físico, batendo para dentro, desafiando gente muito maior. Na semifinal, fez um pouco de tudo, com 18 pontos, 6 assistências e 7 rebotes, 4-10 nos arremessos e 8-9 nos lances livres, em 31 minutos. Sua intensidade será importantíssima neste domingo.

Bauru e Pioneros também já se enfrentaram pela Liga das Américas, 22 de fevereiro. A equipe brasileira venceu por 92 a 79. Os 13 pontos, porém, foram abertos apenas no quarto final, com uma parcial de 28 a 15. Naquela ocasião, curiosamente, Manjarres anotou 17 pontos, mas foi o intempestivo Romel Beck Castro o cestinha, com 28 pontos e 6-10 nos tiros de fora – o restante do time ficou em 3-14. Do outro lado, os campeões paulistas mataram 13-35 e mais de 50% nos arremessos gerais. Ricardo Fischer jogou demais, com 19 pontos, 8 assistências e 6 rebotes (8-11), mas pode esperar algumas bordoadas neste domingo. A ver se essa dinâmica vai se repetir.

Antes de o torneio começar, Cintrón resumiu bem o estado de espírito de seu time: “Não temos nada a perder. Não havíamos traçado esta meta, de chegar ao Final Four, e a conseguimos. Vamos jogar como se fora um partido a mais e com a tranquilidade de saber que o trabalho deu resultados”. Resultado por resultado, o Bauru tem um retrospecto recente muito mais relevante. Agora resta confirmar isso em quadra.


Os 57 pontos de Irving. Ou: “Que jogo!”, estrelando Uncle Drew
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Giancarlo Giampietro

LeBron curtindo o novo 'parça'

LeBron curtindo o novo ‘parça’

Não tenho certeza, mas pode ser que a frase “What a game!” tenha virado um dos tópicos mais comentados na noite desta quinta-feira, madrugada de sexta aqui no Brasil. Um palpite, depois de abrir o Twitter agora de manhã e ver muita gente da NBA embasbacada com os 57 pontos de Kyrie Irving numa vitória incrível de seu Cleveland Cavaliers contra o Spurs, em San Antonio, com direito a prorrogação forçada no estouro do cronômetro, prorrogação e virada.

Foi, sim, daquelas partidas que podem ser consideradas, vá lá, “épicas”. Taí um termo que, ao lado de “mito”, se fosse extirpado do dicionário, causaria sérios problemas ao jornalismo esportivo brasileiro. De tão banal ficou seu uso, acaba perdendo o significado, né? Entre as acepções, temos: “Qualificativo das grandes composições em que o poeta canta uma ação heroica”.

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Irving pode até ter cantarolado alguma coisa no vestiário, enquanto se banhava, mas a gente definitivamente não precisa se apegar ao pé da letra nesse caso. O armador/cestinha do Cavs realizou uma grande composição, mesmo, no Texas. E, sim, foi também uma ação heroica, estabelecendo o recorde de pontos da temporada. Detalhe: a marca anterior também havia sido dele, com 55 contra Portland Trail Blazers, em Cleveland, no dia 28 de janeiro. Naquela noite, porém, LeBron não estava em quadra. Os dois vão se entendendo mais e mais.

A exibição do jogador nascido em Melbourne, Austrália, tem tudo a ver com o desfecho eletrizante do confronto, com o armador anotando 27 pontos no quarto período. O que levou a rapaziada da liga a uma reação em cadeia:

Perceberam o elemento em comum, né? Que jogo!   O CJ Miles, que mal havia acabado de celebrar a vitória do Indiana Pacers também na prorrogação contra o Milwaukee Bucks, foi quem saiu da linha:  

Uncle Drew. O basqueteiro mais ligadão já sabe do que estamos falando. Para aqueles que ficaram boiando, porém, é a personagem que a Pepsi inventou em torno de Irving para… Vender refrigerantes, claro . Não sei bem o que leva uma coisa à outra, mas a ideia foi disfarçar o jogador de velhinho e levá-lo a uma quadra de rua em algum lugar dos confins da América. A galera nem dá bola para o grisalho na hora de formar os times, ele começa a partida enferrujada, até que, de supetão, passa a dominar a parada. Era o Tio Drew mandando ver. Quantas latinhas eles venderam nessa, não tem a conta para checar. Mas o marqueteiro foi bem, não há como negar, e teve até mesmo sequência para a propaganda, com a participação de Kevin Love, vejam só.

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Dito tudo isso, assim como fizemos com Klay Thompson e seus 37 pontos em apenas um quarto, vamos examinar a atuação (na vida real) de Irving em números:

57 – OK, os 57 pontos são um novo recorde pessoal para Kyrie Irving, a franquia e a temporada. Os 55 que ele havia feito contra o Blazers era o máximo que tinha até o momento. Para os Cavs, os 56 pontos de LeBron contra o Toronto Raptors, em 2005, ficaram para trás. Além disso, foi o máximo de pontos que alguém conseguiu numa quadra de NBA desde os 63 de LeBron, pelo Miami, contra o Charlotte Bobcats em março de 2014. E não pára por aí: uma defesa comandada por Gregg Popovich jamais havia permitido tal contagem. Ainda igualou o recorde de pontos feito contra o Spurs (Purvis Short, pelo Warriors, em 1983-84).

55 – Desde a década de 90,  somente outros dois jogadores conseguiram superar a marca de 55 pontos em ao menos duas ocasiões na mesma temporada: Michael Jordan (1993) e Kobe Bryant (2006 e 2007). Essa estatística é um cortesia de Ben Golliver, da Sports Illustrated. Desde a temporada 2009-10, só Irving e Kevin Durant passaram dos 50 pontos em dois jogos

Chute contestado? Pfff...

Chute contestado? Pfff…

30 – Segundo dado levantado pelo veteraníssimo jornalista Mike Monroe, setorista do Spurs há décadas, 30 dos 32 arremessos que Irving tentou em San Antonio foram contestados por ao menos um defensor. (PS: como se chega a esse número? Graças ao sistema SportVU, aquele que está instalado em todas as arenas da liga e grava para, depois, digamos, digitalizar e aglomerar todas as ações que se passam em uma partida.)

22 – A idade do garoto. Ele vai completar 23 no dia 22 de março. Só LeBron e o legendário Ricky Barry conseguiram múltiplos jogos de 50 pontos com antes de soprar 23 velinhas.

13 – Os Cavs agora venceram 13 dos últimos 14 jogos contra equipes da Conferência Oeste, vindo de duas vitórias seguidas no Texas, o que não é mole para ninguém. A única derrota? Aconteceu justamente no mesmo estado, contra o Houston Rockets, na prorrogação. Kyrie Irving não jogou aquela.

10 – Numa noite como essa, ninguém nem liga para o fato de que Irving converteu 10 de seus 10 lances livres. É natural se concentrar nas 7 de 7 na linha de três pontos.

9 – O armador marcou nove pontos apenas no minuto final do tempo regulamentar, para garantir a prorrogação. Em cinco minutos, então, ele fez mais 11 – batendo o Spurs, sozinho, por 20 a 17 durante essa sequência. Sua média na temporada é de 22 pontos. A da carreira, 21.

2 – Esta foi apenas a segunda vez na história em que o Spurs acertou pelo menos 56% de seus arremessos de quadra na era Tim Duncan/Gregg Popovich e o jogo não terminou com um triunfo para a dupla. Irving derrubou então um… Mito. “Se vai precisar de uma atuação dessas para nos derrotar, então estamos em um ótimo lugar. Foi uma performance grandiosa”, disse Tony Parker.

*    *    *

De todas as aspas que saíram após o jogo, a que mais me chamou a atenção foi esta aqui de Irving: “Se meu cotovelo estiver apontado para o aro, sinto que o arremesso tem uma grande chance de entrar. Aprendi isso com o Kobe”. Ele estava se referindo ao seu chute milagroso para prorrogar o jogo. Demais, né? Resta saber se houve algum dia em que o Tio Kobe puxou o moleque de canto para passar esse macete, ou se isso vem de estudo de vídeo. Provavelmente é a primeira opção, o que ajuda a desmistificar a imagem de arrogante/pária em torno do astro do Lakers e, ao mesmo tempo, mostra a moral que Irving já tinha na liga, para que ele seja um dos Escolhidos do craque, recebendo conselhos. Aposto que Dwight Howard nunca ouviu algo parecido.

*   *   *

Mike Miller saiu do vestiário dos Cavs balançando o par de tênis calçado por Irving em quadra. Estavam autografados. Sabe o nome disso? Química.

*    *    *

O que impressiona mais? O grau de dificuldade de alguns de seus arremessos. Ele sobe desequilibrado, pressionado, e não importa: a bola produz um som lindo quando estoura a redinha:

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Enquanto isso, em Miami…


Sumido dos ginásios, de mudança, Magnano reaparece em entrevista. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

A LDB se encerrou nesta terça-feira, em Fortaleza, com o Basquete Cearense sendo campeão, e nada. Ainda pelo mesmo campeonato, foram realizados, na semana passada, dois quadrangulares em São Paulo, e ninguém viu também. Durante transmissões do NBB e da Liga das Américas, nenhuma câmera conseguiu registrar sua presença também.

Rubén Magnano, o treinador da seleção brasileira, está sumido dos ginásios e também andava desaparecido do noticiário. Ao menos agora reaparece para quebrar o silêncio em entrevista para o site da CBB, para explicar o que anda fazendo até chegar o momento de bolar duas convocações para uma Copa América/Pré-Olímpico e o Pan de Toronto.

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Segundo a assessoria da confederação, Magnano compareceu a alguns jogos em São Paulo, sim, no ano passado e tem acompanhado tudo de casa pela TV e também por um programa que lhe permite assistir a todas ligas – muito provavelmente o Synergy. “Felizmente hoje temos à disposição na internet praticamente todos os jogos da Liga de Desenvolvimento e da Liga Nacional. Temos na CBB um programa que nos permite estar muito perto dos nossos jogadores nas ligas pelo mundo”, disse o treinador.

OK, isso é ótimo. Mas, ao mesmo tempo, não passa de dever da profissão, né? E mais: acredito que 10 a cada 10 scouts/técnicos/dirigentes vão dizer que nada substitui a experiência de ver uma partida in loco. Daí o estranhamento por esse chá de sumiço. Até porque Magnano, sabemos, é um junkie de basquete. “Não sei qual o contrato dele com a CBB, mas acho que é um cara que acrescentaria um técnico desse nível assistir ao nosso All-Star Game. Valorizaria o evento”, disse Guerrinha, comandante do Bauru e ex-assistente da seleção, ao VinteUm.

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Muita gente foi ao Pedrocão para ver o Jogo das Estrelas

Detalhe: ao site da CBB, Magnano afirma que vai viajar aos Estados Unidos em abril para falar com a legião nacional da NBA. Esse é um assunto interessante que vale uma abordagem mais detalhada mais adiante. Só fica o registro: a liga americana vai se encerrar em maio para a maioria dos brasileiros que lá estão. Vale a pena mesmo conversar eles de modo antecipado, sem saber o que vai acontecer adiante? Enfim, sigamos em frente. E por que a distinção? Por que a turma em atividade nos Estados Unidos (e Toronto) precisa de um bate-papo, e quem está no interior paulista ou Brasil afora não? Já se sabe absolutamente tudo sobre quem está em quadras nacionais? O que eles estejam sentindo não importa?

“Aqui está a maioria dos jogadores que vai trabalhar com ele, para trocar uma ideia”, afirma Guerrinha. “Também sinto falta dos assistentes dele. É muito importante essa troca. Pois também haveria o diálogo com os treinadores, para saber sobre o que está acontecendo, perguntar sobre o Ricardo, o que estou achando do Alex etc. Ninguém fala nada, ninguém conversa nada.”

Ex-treinador principal da seleção, hoje em Franca, Lula Ferreira foi um pouco mais diplomático quando questionado sobre o assunto: “Para poder emitir uma opinião, eu teria de saber o motivo de ele não ter vindo (ao Jogo das Estrelas). Claro que, analisando teoricamente, você espera que num evento desses ou em jogos do NBB, por ser uma pessoa de peso que pode ajudar no crescimento, como tem ajudado. Mas eu não posso julgar sem saber o motivo. Seria leviano da minha parte”.

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

Do seu lado, a CBB dá a entender que esse período de distanciamento em específico tem a ver com a mudança do argentino para o Rio de Janeiro. Em sua entrevista, o técnico afirma que estava em seu país natal até dias atrás. “Eu vim na semana passada da Argentina, cheguei em São Paulo, peguei o carro e vim para o Rio”, afirmou. Aliás, o presidente da CBB, Carlos Nunes, disse à colega Karla Torralba, aqui do UOL Esporte, que essa mesma mudança seria um entrave para a participação do treinador nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Em julho, no caso – meio longinho, não? Ao site da confederação, Magnano dá uma resposta mais plausível, claro. “Hoje, infelizmente, não tenho como falar onde vou estar, dizer o que vai acontecer com a comissão técnica. A possibilidade é grande de eu não ir ao Pan porque bate com as datas de treinos para o Pré-Olímpico. Mas não posso afirmar porque depois posso ter de desdizer. Essa situação de não ter resposta pode mudar muito nossa maneira de encarar cada torneio. Minha ideia é levar a melhor equipe em cada um. No momento que um torneio bate com a preparação de outro você precisa montar times diferente.”

Para quem não está por dentro, vale o esclarecimento: a CBB ainda nem sabe direito como planejar a vida de suas seleções masculinas para esta temporada, uma vez que a Fiba faz um interessantíssimo jogo duro com a confederação. E aí: vai ter vaga olímpica direta, ou não? A lógica diz que sim: se até a Grã-Bretanha ganhou, por que o Brasil, quinto em Londres 2012, não levaria? O problema, meus amigos, é que há claramente coisas pendentes no bastidor, ainda mais depois que o time de Magnano dependeu de um favor/convite/venda por parte da entidade internacional para evitar um vexame de apenas assistir ao Mundial da Espanha. Aí, sim, da TV, mesmo.

Essa pendenga, porém, não influencia, ou não deveria influenciar no afastamento de Magnano dos ginásios brasileiro. Nem mesmo a mudança, creio. Sabemos que essa história de empacotar as coisas torra a paciência, com todos os detalhes e os cuidados a serem tomados. A correria. Ainda mais quando você está saindo de uma cidade para a outra, e organizando as coisas de um país diferente. Porém, é de se perguntar o quanto demorou tal trâmite. Questão de meses?

Outro ponto que merece o debate: por mais que a confederação esteja sediada no Rio de Janeiro, não seria mais produtivo que o técnico permanecesse em São Paulo, cidade que tem três clubes do NBB e está muito mais próxima de outras tantas no interior do estado? “Quando vim para o Brasil decidi ficar em São Paulo porque era mais conveniente”, diz Magnano.

Agora, ao que parece, a conveniência mudou de lado. “Foi uma decisão (a de mudar-se pessoal combinada com a CBB, focada basicamente em nossas necessidades futuras. Hoje é necessário estar mais perto da CBB e do COB. Tenho um calendário de palestras com o COB muito interessante.”

Palestras com o COB? Epa. Não custa lembrar que é o comitê olímpico nacional que paga o salário do argentino. E não paga pouco. Quer dizer… Há uma gama de interesses aqui a serem atendidos. Como se fosse uma dívida, mesmo. Mas tudo bem: dependendo da agenda do argentino, sobra mais que o tempo necessário para acompanhar a temporada nacional, que já entrou em sua fase decisiva.

Na hora de falar está se passando em quadra, Magnano foi bastante genérico em suas respostas. Da turma da NBA: “Infelizmente o Anderson Varejão se machucou. Havia feito uma Copa do Mundo muito boa. Nenê está jogando em um nível bom. Tiago Splitter voltou bem. Leandrinho não começou bem, mas já melhorou muito”. Do que temos na Europa, registrou que “Augusto Lima está fazendo uma grande Liga ACB na Espanha eRaulzinho e Rafael Luz também” – Augusto já era um dos melhores pivôs da Espanha na temporada passada, diga-se. “E o Marcelinho Huertas é o armador do Barcelona. A equipe está com altos e baixos, mas ele continua sendo o armador de uma grande equipe”, completou, sem dizer que o brasileiro, no momento, perdeu o posto de titular para o jovem tcheco Tomas Satoransky.

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, certo?

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, lesionado, certo?

Sobre a garotada da LDB ou os mais jovens em geral, o argentino se entusiasmou mais um pouco em sua explanação:” Temos muitos jovens fazendo bons trabalhos. O Davi (Rossetto), do Basquete Cearense, é o garoto que mais evoluiu. É um exemplo para muitos jovens que, com trabalho, você consegue chegar ou ficar perto das suas metas. (Henrique), Coelho, do Minas. Gostei muito do que está fazendo nos últimos 50 dias o Cristiano Felício. Melhorou muito. Também tem o Lucas Mariano, Leo Meindl, Ricardo Fischer. O Sualison (Tavares, também do Basquete Cearense) também vem bem. E não podemos esquecer do Bruno Caboclo. Um jogador de futuro na Seleção. Pena que não está jogando tudo que eu gostaria por conta dos poucos minutos em quadra”.

Na hora de abordar os veteranos em atividade no NBB, foi mais evasivo. Disse que “Marquinhos está fazendo um trabalho interessante”. Até aí é o mesmo que dissermos que o Corinthians do Tite “tem defendido bem”. Qual a novidade? O mais preocupante, contudo, foi mencionar logo depois que “Marcelinho Machado “segue como um grande arremessador de três”. Sim, o cara é o bicampeão do torneio de chutes de longa distância, por sinal.

Mas… hã… Estaria o treinador pensando seriamente em mais uma convocação para o veterano ala, hoje reserva flamenguista? De novo: nada contra o camisa 4 num âmbito pessoal, mas levá-lo para mais um torneio não seria uma perda de tempo valioso no desenvolvimento de novas opções, dois anos depois de o veterano ter anunciado que se aposentaria da seleção (só para ser convencido a retornar na temporada passada, depois de ganhar o prêmio de MVP do Final Four da Liga das Américas)?

Para ser justo, Magnano talvez esteja apenas citando um fato corriqueiro para dizer que tem acompanhado as coisas. Ou pode dar a entender também de que as coisas não mudaram tanto assim de um ano para o outro. E, se for essa última alternativa, aí acho que temos um problema. Afinal, a tabela do NBB mostra algumas boas surpresas na parte de cima, assim como o Jogo das Estrelas também já ofereceu alguns nomes um pouco diferentes dos habituais. Nada disso valeria uma citação?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia ver mais de perto?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia vê-lo mais de perto?

De qualquer forma, há mais uma possibilidade que pode atenuar um eventual julgamento precipitado: o argentino obviamente não nasceu ontem e provavelmente não entregaria nenhuma bomba em uma entrevista ao veículo oficial da entidade, assim tão cedo, em março, para não interferir no desempenho de um alvo, digamos, alternativo. Aquela coisa de não mexer na cabeça de jogador e também para não alertar os adversários. Ainda mais se o Brasil tiver de jogar por uma vaga olímpica.

Felício, Fischer, Meindl e Mariano, convenhamos, não são mais segredo para ninguém, nem mesmo para o treinador que já os havia chamado para compor elenco de grupo em jornadas anteriores. Assim como Caboclo, já com seleo NBA. A menção a Coelho e a Davi, por outro lado, é algo que já anima um pouco mais. Não só pelo fato de o os armadores estarem fazendo uma ótima temporada, mas por serem caras que ainda não foram incluídos em nenhuma lista de seleção até aqui – se merecem, ou não, uma vaga, essa é outra discussão, que valeria outro texto, mais trocentas palavras. Os dois seriam de fato novidades e uma prova de que, mesmo distante, o argentino estaria antenado.

Precisa estar, mesmo: num piscar de olhos, a temporada dos clubes vai estar encerrada, e será o momento de anunciar as convocações. Fazer uma lista podendo chamar a cavalaria da NBA é algo relativamente fácil. Quando os caras não se apresentam, porém, pode dar num vexame como o da Copa América de 2013 – formando uma equipe sem equilíbrio nenhum e da qual, de modo absurdo, Magnano procurou se distanciar, lavando as mãos, acusando falta de talento.

Com seu currículo e salário elevado, esperava-se muito mais. Ao menos foi o que o VinteUm cobrou insistentemente na época, sem cair nessa de que só dá para montar uma boa seleção com Splitter & Cia. Isso tudo, claro, pode ser debatido tranquilamente. A ausência do argentino dos ginásios e principais eventos já é outra história. Com o Final Four da Liga das Américas programado para o fim de semana, se apresenta uma chance para retomar o contato com o basquete nacional. E olha que está fácil: os jogos serão disputados no Rio de Janeiro.


Ricardo Fischer aceita a pressão de mudar e liderar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Fischer, bem na foto

Fischer, bem na foto

Tem vezes que, fora a festa e a congratulação de jogadores, dirigentes, técnicos e fã – o que já é muita coisa –, um Jogo das Estrelas qualquer não serve para coisas mais práticas de quadra. Digo: não define muita coisa do ponto de vista esportivo, do que acontece na temporada regular de verdade.

Em Franca, no último fim de semana, porém, o prêmio de MVP da partida entre brasileiros e estrangeiros entregue a Ricardo Fischer teve um valor realmente simbólico e para além do troféu. Serviu para confirmar a ascensão de um jovem armador que vem cumprindo seu papel de modo mais que satisfatório comandando um time dominado por veteranos que, desde o momento que foi formado, jogaria por uma e só razão: títulos.

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Aos 23 anos, Fischer se assume em quadra como líder. Mesmo que, quando olhe ao redor, veja basicamente jogadores muito mais experientes, com longa rodagem em jogos internacionais, por clubes e a seleção brasileira. Para ele, não tem problema. É sua a missão, a responsabilidade de encaixar tantas peças talentosas – e valiosas –, na tentativa de, no próximo final de semana, conquistar o terceiro troféu em três campeonatos. A Liga dos Américas, no caso, para tentar se tornar o terceiro campeão continental em três anos consecutivos.

O Bauru enfrenta no sábado, no Maracanãzinho, o Peñarol de Mar del Plata, da Argentina, enquanto o anfitrião Flamengo encara o Pioneros de Quintana Roo, do México, pelas semifinais (confira a tabela e preços de ingressos). Neste duelo, o clube paulista vai ter de se testar novamente sem o ala-pivô Jefferson William, afastado do restante da temporada devido a uma ruptura no tendão de Aquiles. Um desfalque que muda alguns planos, é verdade, mas que não tira do time de Guerrinha o favoritismo, por conta de tudo o que eles fizeram até aqui: além de liderarem o NBB, com 23 vitórias em 25 jogos, já ganharam o Campeonato Paulista e a Liga Sul-Americana.

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

“Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando”, disse Fischer ao VinteUm. “Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.”

Para ajudar a equipe a chegar a este patamar, o armador precisou ajustar algumas coisas em seu jogo: menos pontos, mais passes. O tipo de sacrifício, aliás, que foi pedido para todos os jogadores de um elenco estrelado. “Preciso fazer mais que eles joguem, e está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo.”

Veja a entrevista realizada durante o final de semana do Jogo das Estrelas em Franca, antes de Fischer entrar em quadra para ganhar o prêmio de MVP e superar não apenas os estrangeiros do NBB como as vaias do torcedor fanático local, perseguindo um bauruense. Isto é: o armador ainda é jovem, mas já construiu um nome, uma reputação. Veja, então, o que ele tem a dizer:

21: O Bauru faz uma grande temporada, conquistando tudo o que conquistou, mas agora parte para a fase mais difícil, decidindo a Liga das Américas e lutando pelo título do NBB. Justo agora, o time teve seu primeiro grande desfalque, com a lesão de Jefferson William? Qual o impacto dessa lesão?
Ricardo Fischer:
O impacto foi grande. Se pegasse o vídeo do jogo depois do que aconteceu, estávamos abatidos. Além de ser um grande jogador, é um amigo nosso, que a gente sabe que, numa fase final do NBB, chegando aos playoffs, e também com o Final Four do NBB, acabou se machucando. É muito ruim. Para nós, vai mudar um pouco de característica. Provavelmente o Rafael vai jogar de 4, com o Murilo de 5, por ter um pouco disso. Mas a gente perde um pouco.

É a velocidade, não?
Sim, a velocidade a gente perde. Além disso, ele desafoga um pouco até como lateral. Mas ganhamos em outras coisas, como no jogo interno, principalmente com o Murilo e o Rafael jogando de costas. O Alex também provavelmente vai ter de fazer o pivô em alguma parte dos jogos. Agora vamos nos ajustando. Montaram um time para isso, para não sofrer com jogador fora. Acho que vamos estar bem.

Jefferson é baixa para o Bauru

Jefferson é baixa para o Bauru

E o Wesley Sena (pivô de 18 anos que compõe o elenco)? Ainda está muito cedo?
O Wesley… Assim, está treinando bastante com a gente, entrando nos jogos. Claro que no Final Four a gente não pode esperar muito dele. Mas na sequência, nessa fase final do NBB para os playoffs, acho que pode ajudar, sim Com certeza vai ganhar mais minutos.

Você é um armador jovem, em termos de idade, ainda que já venha acumulando boa experiência nos últimos anos. Quando você recebe as notícias de tantas contratações, de veteranos de Seleção… Então como faz para ser o líder desses caras em quadra? É uma curiosidade que sempre tenho, sobre como funciona essa dinâmica.
É engraçado, mesmo. Eu já era um líder antes de eles chegarem, e neste ano continuou. É estranho. Fui capitão, levantei o troféu da Liga Sul-Americana e, você vê, sendo um dos caçulas do time. Eles me respeitam muito. Acho que o armador tem de falar muito dentro da quadra, mesmo, e eles me escutam. Principalmente por ser o armador, com outra visão. Isso é fenomenal. Ao lado de tantas estrelas, que jogaram as Olimpíadas, Mundiais, têm vários títulos, poder ser um dos líderes, é muito bom.

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Por outro lado, imagino que, vez ou outra, no vestiário, eles podem pegar no seu pé também, né? De falar para o ‘moleque’ maneirar…
É… (Risos). Tem vezes que eles soltam o: “Calma aí”. Mas isso tudo que aconteceu foi bem natural, nada forçado. Todo mundo respeita. Pode até vir o Wesley, que é o mais novo do time, e a gente vai escutar e conversar.

E o que você ganha com esses veteranos ao seu lado? Um cara como o Alex. O que ele mais oferece no dia a dia de treinos, fora o nome, o respeito que pede dos adversários?
Cara, costumo dizer que o Alex é um monstro, mesmo. Como pessoa e como jogador ele teve um impacto gigantesco. Um cara que já ganhou tudo, já competiu em tudo, e nesses dias fez 35 anos, mas parece que tem uns 20 ainda, pelo vigor físico dele, pela vontade que tem de ganhar. Já podia ser alguém acomodado, jogando na dele, mas quer ganhar a qualquer custo. A gente aprende muito com isso, com sua experiência e também com as histórias que conta.

Na virada de uma temporada para a outra, você já via pistas, dicas de que um grande time estava sendo formado? Ou tudo isso te pegou de surpresa?
Por ser um armador, conversava muito com os diretores. E eles tinham essa ideia de trazer esses grandes reforços. Confesso que a surpresa foi o Robert Day e o Jefferson. Tínhamos já o Faber no time, que estava fechado, mas teve um problema pessoal e saiu. O Day foi uma novidade sensacional. Hoje temos um banco com Larry, Gui e outros caras que poderiam ser titulares em qualquer time. São caras que se completam, foi um time bem montado.

Quando soube queria todos esses jogadores como companheiro, as coisas mudaram para você na preparação para a temporada?
Muda bastante, porque no ano passado tinha mais protagonismo, tinha de buscar mais a cesta e ao mesmo tempo fazer o time jogar. Não preciso mais ir tanto para a cesta, agressivo como no ano passado. Preciso fazer mais que eles joguem. Acho que está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo. Entendo qual a mudança que precisava ter. Para este ano, também trabalhei muito fisicamente.

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Esse tipo de sacrifício é o que seria pedido para cada jogador, mesmo, com tantas contratações. Isso foi conversado com vocês antes de a temporada começar?
Foi tudo muito natural, mesmo, e acho que por isso que nosso time está tão bem. Todos os jogadores sabem que, para ganhar, precisariam abrir mão de algumas coisas. Todos entenderam isso, e não temos vaidade nenhuma, mesmo, por mais que algumas pessoas até nem acreditem. Se vou sair para o Larry entrar, estou dando o lugar para um grande jogador. Todos se respeitam, isso é a chave.

O favoritismo incomoda? A partir do momento que Bauru juntou este elenco, o nível de expectativa ficou altíssimo. Aí o time ganha o Paulista, ganha a Sul-Americana e lidera o NBB. Ao mesmo tempo, enquanto vai cumprindo com isso, cada resultado positivo, imagino, só faz crescer do outro lado, não?
Vem mais pressão. E isso vem, mesmo, desde o momento em que começamos a treinar. Todo mundo querendo saber como vai ser esse time, se vai ganhar. Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando. Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.

Sobre o estilo da equipe, de buscar muito o chute de três pontos. Sabemos que esse é um ponto discutido no basquete brasileiro há muito tempo. Talvez nem tanto o volume, mas a seleção de arremessos. De qualquer forma, lá fora, há uma tendência que isso cresça, mesmo. Para o Bauru, era esse o plano desde o início?
Acho que foi pensado, mas também teve o encaixe natural. Tem jogo em que chutamos 40 bolas, mas com um aproveitamento bom. A característica dos jogadores é essa. A gente não pode tirar. O que a gente conversa bastante é que, depois de estudar o jogo, vemos que alguns arremessos estão sendo forçados. Então a gente pode jogar mais interno, mas é uma característica que não dá para perder. O Rafael, por exemplo, é um jogador 5, que joga muito bem de costas, mas é um cara que faz corta-luz e pode abrir para o arremesso. O Alex pode jogar dentro e aberto também. Temos muitas armas. A gente procura trabalhar para liberar o arremessador, deixá-lo livre para matar.

Para fechar, queria perguntar como você está se sentindo na sua curva de aprendizado. No que pensa em melhorar daqui para a frente.
Tenho mais três anos de contrato, mas com cláusula para que eventualmente possa sair para a Europa ou para a NBA. Só no Brasil que não. O aprendizado foi esse de saber abrir mão do meu jogo ofensivo em prol da equipe. E fisicamente, mesmo. Na Seleção, acabei me machucando no Sul-Americano. E me foquei este ano no físico. Se voltar para a Seleção, para o Pan de Toronto, quero estar bem. É um trabalho em cima de resistência e força. Não sou um cara alto para a armação, então preciso ser veloz e forte. São coisas que eu percebi que precisava trabalhar, e neste ano já melhorei muito, mas ainda tem muito mais para ganhar, com um trabalho específico, com uma nutricionista e um preparador físico em Bauru, que trabalham sozinhos comigo.

E os planos para o futuro? Pensa em jogar na Europa, fora do país?
Penso, sim, em ir para a Europa. Ir para uma Espanha, jogar a Euroliga, acho que é o sonho de qualquer um. Mas estou feliz em Bauru, tenho esses três anos de contrato, assim como o resto do time. Então não precisa criar expectativas. O que tiver de acontecer, vai acontecer.


Ligas esperam que Jogo das Estrelas seja um prenúncio de nova fase
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Giancarlo Giampietro

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Não dá para se perder em otimismo. Afinal, é na mesma Franca que recebeu o Jogo das Estrelas da LNB e da LBF neste final de semana que o clube local, um patrimônio do basquete brasileiro, não tem conseguido pagar na íntegra o salário prometido a todos os seus atletas, devido a um deslize de gestão. Do tipo com o qual já nos acostumamos e sobre o qual a companheira de UOL Esporte, Karla Torralba, conta mais aqui.

Diante de uma situação dessas, é normal que o raciocínio siga nesta direção: caceta, se isso acontece em Franca, imagine em outras cidades? Então tem de ter muita calma, mesmo, para não se deixar levar (totalmente) pela bela festa como a que ambas as ligas promoveram entre quinta-feira e sábado.

Vamos lá:

– O ginásio Pedrocão ficou cheio nos dois dias oficiais de evento, e com público pagante. Neste sábado, quase não cabia ninguém mais.

– Jogadoras e jogadores reunidos, de modo único, raro, mas que bem que poderia virar o padrão daqui para a frente.

– A quadra e a arquibancada todas envelopadas com as cores de um patrocinador master forte, mas que entrou de cabeça num negócio repentino – tudo foi acertado em coisa de um mês. Outras três marcas foram adicionadas

– Ídolos do passado homenageados.

– Encontro dos treinadores para uma incipiente associação (agora vai?).

– Dois jogos surpreendentemente competitivos, ou quase.

– Os primeiros passos dados com a consultoria da NBA, com impacto n desenho da quadra, bem bonito, telão, placas de LED e outras atrações paralelas em meio aos eventos de quadra.

– E, claro, o Jay Jay aprontando. Dá-lhe, Jay Jay.

São todos ingredientes aparentemente básicos, mas que, em conjunto, num caldeirão que só, ficam muito mais saborosos. Ainda mais se formos lembrar que, se formos nos lembrar, nove anos atrás, na mesma Franca, um hexagonal do campeonato nacional vigente foi terminar apenas no tapetão. Foi quando a modalidade chegou ao fundo do poço, com relações institucionais diversas rachadas.

“Às vezes a gente precisa passar por uma situação adversa, para que as pessoas envolvidas no processo ajam decisivamente. Foi o que os clubes fizeram. Estávamos numa situação delicadíssima, com campeonatos que não terminavam e campeonatos paralelos, e precisamos tomar a consciência de que todos queríamos a mesma coisa, mas cada um caminhando por um lado. Buscamos depois essa unidade, criando uma liga, e o que queríamos era isso: ter o direito de organizar um campeonato com a nossa cabeça”, disse Cássio Roque, presidente da LNB, ao VinteUm

Testemunhar um evento tão bem organizado como este Jogo das Estrelas 2015 poderia parecer, em 2006, coisa de outro mundo. Quer dizer: de outro país. Essa disparidade sublinha o trabalho de alguns dirigentes realmente entusiastas do basquete, que içaram a modalidade, mesmo que o apoio financeiro de entidades privadas – ou de qualquer entidade – não tenha sido dos mais vultuosos durante essa caminhada.

Agora, na sétima edição do NBB, a liga masculina consegue olhar para a frente de modo otimista, entendendo que estão apenas no começo. “Sem dúvida, acho que isso foi apenas uma pequena amostra do que pode ser feito. A parceria com a NBA foi assinada apenas recentemente. Com o know-how que eles têm para criar entretenimento, espetáculo, acho que temos muito a ganhar. Não só na questão de crescimento técnico, melhoria das equipes, mas para transformar o basquete no produto. Vimos aqui em França a aceitação que esse produto tem. Mas precisamos expandir isso para o Brasil todo”, afirmou Cássio Roque.

Esse ambiente permite que um jogador como Alex, que estava em quadra naquele famigerado hexagonal, encare os percalços enfrentados por Franca neste ano como um “fato isolado”. “Vemos Franca nessa situação, com o pessoal correndo atrás de investidor, mas também vemos Bauru com um grande crescimento, com um patrocinador que entrou no ano passado, gostou, injetou financeiramente e viu que pode ter resultado. A maioria dos clubes está se reforçando. A cada ano que passa, o campeonato está sendo melhor, com jogadores importantes vindo para o Brasil, engrandecendo nosso basquete”, diz o ala Alex, envolvido naqueles jogos do famigerado hexagonal que não terminou.

Da parte da liga feminina, a realização do evento em conjunto lhe rende mais exposição e mais um empurrão na direção certa. “Nunca imaginava (que poderia acontecer essa parceria”, disse a armadora Adrianinha. “Quando ouvi rumores sobre isso, fiquei torcendo muito para que desse certo. O masculino acaba recebendo mais atenção do que a gente, e quem sabe essa exposição não sirva para que se reconheça nosso valor.”

“A gente está num momento em que tudo que for mais é melhor. É um momento de somar, mesmo. Tivemos muita divulgação, um bom patrocinador, um evento maravilhoso”, afirmou a pivô Clarissa, que espera apenas que essa dobradinha vire um padrão no basquete brasileiro. “Sim, creio nisso. É uma organização comprometida com isso. São reuniões, conversas de gente comprometida em levar o basquete para a frente. Temos de trabalhar juntos para isso.”Sim, é preciso de muito trabalho, mesmo, e para a LBF, não há como negar, se pede ainda mais. De qualquer forma, os tempos sombrios foram há tão pouco tempo, que não dá para ninguém se acomodar. Que se siga esse curso para que episódios como o de Franca se tornem, de fato, algo isolado – e um jogo festivo como esse mais corriqueiro.


Chegada de ‘times de camisa’ é uma das ideias da NBA para o Brasil
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Giancarlo Giampietro

Palmeiras e Flamengo são duas grandes camisas brasileiras no NBB

Palmeiras e Flamengo são duas grandes camisas brasileiras no NBB

O diretor do escritório da NBA no Brasil, Arnon de Mello, sentou com uma bola leva de jornalistas neste sábado, em Franca, durante o fim de semana de Jogo das Estrelas, para falar sobre o princípio de parceria entre a liga americana e a LNB. Durante o agradável bate-papo, deu para se pescar aqui e ali algumas das ideias do executivo, de fala informal, mas sem rodeios, para o basquete brasileiro, com iniciativas que já estão em curso e outras que, por ora, são apenas planos.

Vamos colocar aqui alguns desses tópicos abordados, a começar por aquele que mais me chamou a atenção, até por ter sido um comentário espontâneo de Arnon – sem que ninguém lhe perguntasse, como ele próprio fez questão de ressaltar. O dirigente entende que um “caminho a ser seguido” em quadras nacionais seria o do retorno, ou maior envolvimento dos maiores clubes do país, os times de camisa (leia-se: de futebol) com o basquete, seguindo os passos de Flamengo e Palmeiras, dois dos integrantes do NBB.

Mais:

– A ideia é levar mais clubes brasileiros para os Estados Unidos, sim, durante a pré-temporada da NBA, mas esse time não necessariamente precisa ser o campeão continental, ou nacional. Não haverá vínculo entre uma conquista e a ida para lá, embora o natural é que esses nomes coincidam com certa frequência. Por quê? Pois precisam mandar um time que seja no mínimo competitivo, tal como o Flamengo do ano passado. Fla, no caso, também campeão das Américas. O foco, garante, dessas expedições é a parte esportiva, ainda que um time como o rubro-negro possa ajudar a encher a arena do Orlando Magic. O clube da Flórida lucrou com a presença constante dos brasileiros por lá, mas essa foi uma situação específica. Ter a marca “Flamengo” em quadra não fez a menor diferença em Phoenix e Memphis.

– A NBA assume as operações comerciais da liga, como sabemos. É uma carga de trabalho que se soma a suas próprias atividades no país. Desta forma, Arnon afirma que não há como sua equipe se envolver especificamente com os negócios respectivos de cada clube. A influência vai acontecer no campo mais operacional da liga, nos ginásios. O que pode acontecer, no futuro, é uma orientação geral estética, tanto para uniformes “retalhados” em patrocínio, como num trabalho visual mais voltado para os logos e mascotes dos times (algo bastante necessário, aliás). De qualquer forma, algumas agremiações nacionais, com mais iniciativa, já o procuraram em busca de oportunidades de intercâmbio ou estágio lá fora, para conhecer as operações das franquias americanas. Deve rolar.

Horance Grant, em sua segunda visita ao Brasil como embaixador da NBA

Horance Grant, em sua segunda visita ao Brasil como embaixador da NBA

A atuação dos funcionários da NBA no marketing do Jogos das Estrelas deste ano foi mínima, pelo adiantado da hora. Quando oficializaram a pareceria em dezembro, as ligas imaginavam que a atuação do novo gestor comercial seria maior já neste evento. Mas não deu tempo, até por ser também no meio da temporada por lá – há dificuldade para retirada de uma das equipes de cheerleaders das franquias, das mascotes etc., isso para não falar da obtenção de vistos. “Quatro ou cinco” pessoas do estafe norte-americano estiveram em Franca para dar consultoria e apoio e também para entender como se faz por aqui. Não colocaram a mão na massa. Isso muito provavelmente vai mudar para a próxima edição.

E quando e onde vai ser o próximo Jogo das Estrelas? Arnon afirmou que pretendem definir tudo até maio. De modo que teriam muito mais tempo de preparação, podendo aí buscar mais mercados, especialmente aqueles que ainda não tenham recebido a festa. Franca foi uma escolha segura neste ano, pela óbvia tradição basqueteira da cidade, inclusive com público pagante.

– Mais previsões de anúncios? Entre abril e maio o escritório brasileiro da NBA vai saber se o país receberá, pelo terceiro ano consecutivo, um jogo de pré-temporada por aqui. Sempre no Rio de Janeiro, na Arena HSBC, única que tem condições de receber uma partida dessas. Mas aqui também há um fator importante para ser considerado: existe uma vertente dentro da liga americana que pede encarecidamente um calendário mais enxuto de pré-temporada. Menos jogos? Menos chances de uma viagem para os trópicos.

– A parceria com a Globo/SporTV era obviamente uma das grandes metas do escritório brasileiro da NBA. Mesmo. Arnon contou que, ao fechar o acordo, recebeu diversos elogios internos. Entre eles, do diretor do escritório da China, que diz ouvir um zum-zum-zum em torno dessa história desde 1996. A entrada do SporTV é vista como estratégica na ampliação do mercado do basquete/NBA por aqui, confiando na cativação de novos clientes – podendo “esbarrar” com a turma do futebol e despertar o interesse deles –, em vez de se limitar aos já aficionados pelo basquete. Com até 13 partidas na grade semanal de TV, a liga até mesmo teria extrapolado suas metas. “Não há mais para onde crescer (nesse campo”, disse. Vendas de pacotes League Pass (com um acréscimo anual de 50% em assinantes).

– Ao que parece, o México é o próximo grande alvo da NBA, para o estabelecimento de mais um contrato nos moldes daquela assinado com a LNB – com a diferença que, com nossos hermanos do Norte, o projeto começaria praticamente do zero, já que não há uma liga representativa estabelecida por lá. Tendo isso em vista, a parceria NBA/LNB vale como um modelo para uma expansão significativa da marca americana pelo mundo. Índia e África do Sul foram outros países mencionados. Para constar: quando abre novas negociações com possíveis patrocinadores globais, o NBB já é incluído em eventuais pacotes de divulgação.


Na capital do basquete, duas ligas unidas
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Giancarlo Giampietro

Todo mundo junto em quadra

Todo mundo junto em quadra

Mais que qualquer enterrada ou arremesso do meio da quadra convertido – e, veja, bem, não há naaaada de errado com eles –, o fato mais positivo do fim de semana de Jogo das Estrelas do basquete brasileiro, em Franca, precede o evento em si: a mera união entre as duas ligas nacionais, a LNB e a LBF.

Alguém já deve ter dito por aí que as ideias mais proveitosas geralmente são as mais simples, né? Não é preciso inventar a roda todo dia. Aproximar as meninas dos rapazes poderia parecer meio óbvio, mas era algo que não havia sido feito antes. Até porque não se trata de uma  logística tão fácil. Requer um calendário coincidente, viabilização comercial, bufunfa etc. Mas que bom que eles tenham conseguido, e parabéns para quem teve a ideia.

A união das ligas obviamente contribuiu para que um dos maiores bancos brasileiros, o Bradesco, que já ajuda a CBB a pagar as suas contas, assumisse a condição de patrocinador master do evento, numa movimento bastante instigante. O Pedrocão foi envelopado com suas cores. A ver se o investimento pode realmente se expandir pela modalidade – e se, mais relevante, vai durar mais que um ciclo olímpico no qual o país é a sede do grande evento.

A parceria com a NBA também já rendeu mais três patrocinadores para a festa, registre-se – sem contar aqueles que já tinham vínculo com os dois campeonatos brasileiros. Essas marcas estavam expostas em telas de LED ao redor da quadra, em vez daquelas estruturas metálicas de sempre. A liga americana também enviou a Franca o ex-pivô Horace Grant, tetracampeão, para ser um dos jurados do concurso de enterradas. É de se esperar mais ações nessa linha. Aos poucos, esse acordo, vigente há menos de cinco meses, vai propiciando frutos.

*   *   *

Nesta sexta-feira, foi bacana levar para a quadra ídolos do passado de Franca – Fausto Gianecchini, Chuí, Edu Mineiro, Paulão e Robertão. Assim como levar Hélio Rubens como jurado, para aclamação popular. Em termos de apelo com a galera, porém, parece que Helinho ganharia eleição para presidente na cidade.

*   *   *

Nos eventos, quem roubou a cena no Pedrocão foi o ala Maxwell, do Brasília. O jogador de 23 anos era o único, hã, baixinho (1,97 m de altura) no torneio de enterradas, concorrendo com três pivôs: Gerson, do Mogi, Mims, de Uberlândia, e o carismático André Coimbra, figurão aparentemente com status cult na capital brasileira do basquete. Coimbra venceu a disputa após cinco enterradas – mas dá para dizer que tenha sido uma decisão caseira do corpo de jurados. Normal, pelo clima do ginásio.

No torneio de três pontos, Marcelinho Machado mandou ver, a despeito das vaias que ouviu – os demais homenageados foram Ricardo Fischer, Robert Day e, claro, Nezinho. Acho que a torcida deu uma exagerada nessa. O veterano tem ainda mecânica muito rápida, além da facilidade para entrar em ritmo. E dá para dizer que ele curte uma plateia hostil.

*   *   *

Jay Jay é claramente um  prospecto de NBA enquanto mascote. Ele bem que poderia ter assumido a vaga aberta no Philadelphia 76ers nesta temporada – se fosse Sam Hinkie, teria até mesmo gastado uma escolha de segunda rodada no Draft por ele. Jay Jay é profissa.


Chegou a tempestade Westbrook junto com a bonança
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Giancarlo Giampietro

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Quando OKC anunciou, antes do início da temporada, que Kevin Durant ficaria afastado por algumas semanas devido a uma fratura no pé, a meteorologia detectou, talvez de maneira preventiva, a iminência de uma Tempestade Westbrook que estaria por vir. Era uma previsão do tempo ambígua, tal como acontece hoje em dia em São Paulo e outros cantos do país: em tempos de seca, uma chuvarada trovejante não se equivale necessariamente a má notícia, embora possa causar sempre os estragos paralelos.

Pensando em Westbrook, com Durant enfrentando uma série de percalços após a cirurgia pela qual passou, era de se esperar muitos, mas muitos arremessos, mesmo, para o bem ou para o mal. O Thunder iria depender demais do explosivo jogador. Só restava saber o resultado disso. Ele se perderia nessa situação, com fome de bola, alienando os companheiros, chutando até antes da linha central da quadra, ou ficaria ainda mais confortável como o dono da bola, carregando o time em pontos e como força criativa.

Ao conseguir seu quarto triple-double consecutivo em suada vitória sobre o Sixers por 123 a 118, com prorrogação, acho que já nem precisa mais cair nessa discussão, né? O armador-ala-craque-não-importa-a-definição vive a melhor fase de sua carreira, na hora que a equipe mais precisa, para proteger a oitava colocação na Conferência Oeste.

Quatro triple-doubles seguidos? Isso não acontece desde 1989, quando Michael Jordan causava geral. Até mesmo Sua Alteza do Ar tem de se impressionar com o que Westbrook produziu nesta quarta-feira: 49 pontos, 10 assistências e 16 rebotes, em 42. Muito provavelmente a melhor atuação da temporada, concorrendo com os 52 pontos em 33 minutos de Klay Thompson. “É, definitivamente, uma bênção. Mas o mais importante é que estamos vencendo”, disse.

O curioso? Na ficha estatística da partida, vemos que, com o camisa #0 em quadra, seu time perdeu por 12 pontos. É o tal do +/-, o saldo de pontos. Um número frio que, isolado, obviamente não diz nem 50% do que foi a partida. Talvez só aponte problemas defensivos, visto que o segundanista Isaiah Canaan, recém-saído de Houston, marcou 31 pontos e deu 6 assistências. Mas problemas defensivos gerais, e, não, só de um jogador. Até porque, numa liga que usa e abusa do jogo com bloqueios, os pivôs e os homens que são obrigados a rodar vindo do lado contrário são tão ou mais importantes que o defensor primário em cima da bola.

Além do mais, para alguém com tamanho volume ofensivo, toda a ajuda possível se faz necessária do outro lado da quadra. Por exemplo: nas campanhas de título do Miami Heat, LeBron assumia responsabilidades para marcar os destaques adversários, sim. Mas só nos minutos mais importantes de jogos parelhos. Até lá, tinha um Shane Battier para quebrar um galho danado. (Obviamente, Westbrook, desatento e arrojado demais, nunca foi um defensor tão qualificado como LeBron.)

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Sam Hinkie, gerente geral do Sixers apegado a diversas contas, certamente teria mais observações para fazer a respeito desse saldo de pontos negativo. Claro que a torcida devota de Oklahoma City não está nem aí para isso. Estão curtindo demais as exibições de um de seus queridinhos. Um momento bacana nesse triunfo foi quando, na linha de lance livre, Wess ouviu gritos de “MVP” estrondosos. Básico. O legal é que, no banco, ainda tentando entender exatamente o que acontece em seu pé direito, lá estava Kevin Durant fazendo gestos com os braços pedindo para que a algazarra fosse maior. Por ele, o prêmio de jogador mais valioso nem precisa sair da cidade.

Aqui do meu canto, ainda fico entre Stephen Curry e James Harden, mais regulares durante a temporada (perderam pouquíssimos jogos tanto em termos de resultado como de lesão) e igualmente exuberantes. Agora, por tudo o que vem fazendo recentemente, o superatleta de OKC ao menos aparece acima de LeBron James, também mais ou menos pelo mesmo critério: jogou seis partidas a menos, mas, quando esteve em quadra, arrebentou, enquanto o astro do Cavs tirou uns bons dois meses de folga antes de entrar em duas semanas sabáticas revigorantes. Quem vota ao seu favor vai alegar que ele tem médias de 27,0 pontos, 8,2 assistências e 7,0 rebotes, números maiores que os dos três concorrentes aqui citados.

Pois é, na coluna de cestinhas da liga, Westbrook superou seu ex-companheiro Harden, assumindo a primeira posição. É coisa de um décimo – 27,0 x 26,9 –, mas superou. Por mais que não fale dessas coisas, ou melhor, por mais que não fale muito sobre quase nada, deve estar feliz da vida. Tendo Durant ao seu lado, dificilmente assumiria o topo dessa lista, mesmo que tivesse potencial absurdo para tanto:

E aí? Você ainda fica embasbacado com esse tipo de lance, ou já está acostumado com as jogadas dessa aberração?

(…)

Sim, ficamos todos boquiabertos. Ainda mais quando lembramos que o fenomenal atleta já passou por três cirurgias no joelho nos últimos dois anos. Não faz o menor sentido que alguém, 100%, possa executar um lance deles com tanta velocidade e força. Quanto mais alguém que passou por uma sala de cirurgia tantas vezes em tempos recentes. Que o diga, infelizmente, Derrick Rose.

westbrook-mask-philly-triple-doubleWestbrook ainda tem um arranque devastador, que lhe propicia, por exemplo, a cobrança de 20 lances livres em 42 minutos – contra 14 de seus companheiros. Dá para ter uma ideia do nível de atividade necessário para, sendo armador, cobrar 20 num jogo? Só um cara feroz desta forma, mesmo. Na temporada, ele bate 9,2 em média, maior marca de sua carreira.Essa produção elevada na linha se mantém numa projeção por minutos. O número alto de lances livres o ajuda a atingir também seu melhor índice de eficiência, e de longe, mesmo que esteja falhando nos arremessos de longa distância. Com 27% de acerto nos tiros de fora, é saudável, então, que tenha dado uma maneirada em suas tentativas, comparando especialmente com o que havia feito nas duas temporadas passadas.

É isso.

A tempestade veio, mesmo. Mas já acompanhada pela bonança.

*    *    *

O triple-double de Westbrook ganhou as manchetes na rodada desta quarta, mas não foi um fato isolado. De vez em quando, o universo parece conspirar por uma noite de anomalias estatísticas que só fazem confundir a cabeça. Vamos lá:

– Na vitória dramática sobre o Utah Jazz, com uma cesta de Tyler Zeller no finalzinho, o Boston Celtics cometeu apenas 3 turnovers. Três! Vale com um recorde da franquia. Antes de matar o jogo, Zeller havia sido um dos vilões da noite. Ele, Avery Bradley e Isaiah Thomas desperdiçaram a bola uma vez cada. Lamentável, não é coisa que se faça.

– Num jogo em que acertou apenas 1 de 13 arremessos de quadra, errando inclusive todos seus chutes de três pontos, Damian Lillard encontrou um jeito diferente para contribuir em vitória do Blazers sobre o Clippers na prorrogação: pegou 18 rebotes (17 defensivos). Ele é o primeiro jogador de 1,90 m, ou menos, a conseguir essa marca desde Fat Lever, um dinâmico ex-armador do Denver Nuggets, em 1990. Em sua carreira, o All-Star de Portland tem média de 3,7 rebotes. Na temporada, vem com 4,6.

– Se o assunto é rebote, não tem como fugir dos 25 que Hassan Whiteside coletou contra o Lakers. Sozinho, a revelação do Miami Heat igualou o desempenho de quatro adversários Carlos Boozer, Robert Sacre, Ed Davis e Jordan Hill nesse fundamento. Foi o terceiro jogo nesta temporada em que o sujeito, que tem Líbano e segunda divisão da China em seu currículo, passou da casa de 20 rebotes no ano. Impressionante. Por outro lado, se for pensar, é algo que vem acontecendo até que bastante vezes neste ano, não? O Data21 foi, então, pesquisar: em 19 jogos a marca de 20 rebotes foi superada, sendo que DeAndre Jordan é o líder aqui, com cinco jogos absurdos desses. Contra o Mavs, no mês passado, ele teve 27 rebotes em 39 minutos.

Agora, não dá para falar de Jordan nesta quinta de manhã sem mencionar seu lapso mental no jogo contra o Blazers. Justamente ao se posicionar bem para aproveitar uma rebarba ofensiva, o pivô teria a chance de efetuar um tapinha para buscar a vitória no tempo regular. Não fez e dominou a bola, causando um surto cômico de Chris Paul:

– O ala Jason Richardson marcou 29 pontos na derrota do Sixers para o Thunder. Nos tempos de cestinha do Golden State Warriors das vacas magras, ou municiado por Steve Nash, pelo Phoenix Suns de 2010, isso até que era normal. Porém, depois de ficar dois anos parados, tendo passado por duas cirurgias graves, tem de comemorar. “Pensei que nem voltaria a jogar basquete mais”, disse Richardson, que não ultrapassava a marca de 25 pontos desde o dia 11 de fevereiro de 2012, pelo Orlando, contra o Milwaukee Bucks.

– O tempo de afastamento de Anthony Davis das quadras foi bem mais curto. Ele perdeu cinco jogos seguidos devido a uma contusão no ombro. Retornou de forma providencial contra o Detroit, da dupla Andre Drummond e Greg Monroe. Caras pesados, né? Que, juntos, acumularam 26 pontos, 33 rebotes e 6 tocos. Bela produção. Acontece que Davis, sozinho, teve 39 pontos, 13 rebotes e 8 tocos. Se ele aguentar fisicamente o tranco, meu amigo, prepare-se: a Era Monocelha só está começando.


Pinheiros x Bauru: pela LDB, um jogo para ser gravado
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Giancarlo Giampietro

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Pode não ter tido prorrogação, ou cesta de três para completar uma virada milagrosa no final, nem nada disso. Também não vi nem 85% das partidas do campeonato como um tudo. Mas me sinto confortável em escrever que é improvável demais que a edição atual da LDB, a liga de desenvolvimento nacional, tenha visto um jogo melhor, de nível superior ao de Pinheiros 83 x 73 Bauru, nesta segunda-feira, em São Paulo.

Tivemos um jogo bastante centrado, mas longe de ser supercontrolado. Houve correria, mas uma correria bem organizada, com os atletas executando com segurança. Em situações de meia quadra, a bola girou de um lado para o outro e foram poucos os chutes forçados, daqueles de tapar o olho. Ao todo, foram apenas 15 desperdícios de bola no terceiro jogo do dia. Se for para comparar, no jogo que fechou a noite, o caos imperou em quadra muitas vezes, e chegamos a 34. E esse nem foi o recorde do dia, que coube a Sport e Limeira, com 35, enquanto Brasília x Basquete Cearense teve 23 – dos quais apenas 8 ficaram na conta da equipe de Fortaleza, diga-se, que chegou ao 24º triunfo consecutivo, com 12 pontos, 8 assistências e 7 rebotes de Davi Rossetto, seu líder.

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Não há como não elogiar o trabalho dos dois técnicos nessa partida especificamente: César Guidetti pelo time da casa e Hudson Previdelo pelo Bauru. Afinal, a presença de jogadores de muito potencial em quadra obviamente não serve como garantia de um grande jogo por estas bandas – quanto mais em partidas de garotos. Os dois elencos estavam recheados de bons valores, mas ainda muito jovens, que precisam de uma condução. Nesta segunda, no “Ginásio Azul” do ECP, foi o que aconteceu, sem momentos de destempero, showzinho, nem mesmo num quarto período tenso, em que os visitantes encostaram no placar perigosamente. Apenas dois caras bem tranquilos concentrados em seus times – não adianta ficar berrando numa LDB.

cesar-guidetti-hudson-previdelo-ldb.jpgAuxiliar de Marcel de Souza no time de cima, César assumiu a equipe Sub-23 na reta final da LDB e não teve nem uma semana de treinos com a molecada. O posto foi aberto devido à saída de Brenno Blassioli, que dirigiu a equipe nas três primeiras etapas da temporada regular e se mudou para a Turquia, acompanhando a esposa Sheilla, estrela do vôlei nacional – na quarta etapa, Zé Luiz, o José Luiz Marcondes, figura importante da base, havia sido o comandante. Importante ressaltar que não estamos falando de modo algum de um técnico novato – César tem vasta experiência nas categorias de base, desde os tempos de Santo André, com clubes ou seleções.

Do outro lado, Hudson, mandou para quadra um quinteto titular para a quadra desfalcado de duas peças importantíssimas em sua campanha: o armador Carioca e o pivô Wesley Sena. A duplinha foi convocada para o jogo do adulto, pelo NBB, contra a Liga Sorocabana, em mais uma vitória arrasadora dos rapazes de Guerrinha. Se o nome deste duelo foi o ala Gui Deodato, que explodiu para 35 pontos numa jornada memorável, vale notar que o trator chamado Carioca saiu de quadra com 12 pontos em apenas seis minutos de ação – sendo que oito deles foram nos lances livres. Wesley jogou por 13 minutos e anotou 4 pontos, mas não apanhou sequer um rebote. Com a lesão de Jefferson William, afastado da temporada por conta de uma infeliz ruptura no tendão de Aquiles, o jovem pivô deve ganhar mais chances. Vamos ver como reage. Os dois desfalques, inclusive, foram mencionados por Guidetti num breve papo depois da partida.

Hudson, por sua vez, não hesitou em falar sobre a estrutura de que o Bauru dispõe – e está desenvolvendo – hoje. Vale uma visita, na certa. Sabemos também que o Pinheiros aposta bastante na formação de base. De modo que não parece coincidência que tenhamos visto um grande duelo entre suas equipes. Durante a temporada, não dá para dizer que esse tenha sido o padrão de ambas, é verdade. Mas, se mantiverem o curso atual nos bastidores, a tendência é que isso possa se replicar mais e mais.

Georginho assumiu a responsabilidade nos minutos finais

Georginho assumiu a responsabilidade nos minutos finais

Em meio a essa organização que deveria servir de exemplo, os lances bonitos por parte dos protagonistas, os atletas, ganharam ainda mais valor – não surgiram a partir de jogadas quebradas e sem defesa recomposta. Um contexto propício para que o talento pudesse entrar em prática. E talento de fato não faltava em quadra. São todos garotos que merecem todo o carinho possível nessa fase importantíssima de desenvolvimento.

Do lado pinheirense, temos Georginho, próximo alvo imediato da NBA no Brasil, atraindo já mais de um terço dos clubes da liga; Lucas Dias, 19 pontos, talvez o cestinha com maior potencial desta nova geração, com um arsenal em constante evolução (ainda falta matar mais bolas em flutuação), cada vez mais propenso a fazer o passe extra e também muito mais ativo na defesa e no ataque aos rebotes; Humberto, que ainda depende muito de sua confiança, de seu conforto em quadra – quando as coisas vão bem, saia da frente; Duval, com sua força física e energia descomunais. Vamos ficar de olho também no caçulinha Cauê, que, na verdade, de “inho” não tem nada – aos 16 anos, entrou na partida apenas no quarto período e ajudou a fechar o garrafão e frear o ataque do Bauru. Sua presença física congestionou a defesa e ajudou a limitar o ataque interior bauruense, que, desta forma, não conseguiu explorar o fato de haver carregado os adversários de faltas.

Biloca, 20 anos, um ala bastante rápido, com belo potencial para defender e atacar o aro

Biloca, 20 anos, um ala bastante rápido, com belo potencial para defender e atacar o aro

O time do interior contou com a estreia de Guilherme Santos, um dos destaques do último Basketball without Borders, camp promovido pela NBA e pela Fiba, em Nova York durante o All-Star Weekend. Ganhando bons minutos, já que Carioca estava longe dali, o novíssimo armador (em diversos sentidos, já que está fazendo a transição para a posição precisamente neste momento) teve pouco de convívio com os companheiros e não foi tão bem no ataque. Mas isso não o impediu de agredir na defesa, pressionando quem quer que estivesse com a bola, incluindo Georginho e Humberto – mais altos e mais velhos. Hoje essa é a principal virtude do garoto de 17 anos. Quem carregou o ataque da equipe foi o ala Gabriel de Oliveira, com 22 pontos. Já é um atleta de 22 anos, de basquete bastante agressivo, buscando as infiltrações – e fugindo um pouco da propensão bauruense para o tiro de fora, somando nove lances livres. Outro que chamou atenção foi o ala Biloca, que tem muita velocidade nos pés e boa capacidade atlética.

Georginho acabou sendo o nome da partida, com um desempenho decisivo muito mais relevante que seus 19 pontos e 12 rebotes. Cheio de confiança, o armador matou 7 pontos nos minutos finais do quarto período, todos eles em arremessos a partir do drible, o que não é um dos pontos mais fortes de seu jogo. Sinal de que vai ganhando confiança e transferindo o trabalho dos treinos para a prática.  Um desfecho apropriado para uma grande duelo, algo que esperamos ver mais e mais por aqui.


Davi Rossetto: longe da vitrine, o amadurecimento e 100% na LDB
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Giancarlo Giampietro

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Quando se viu obrigado a deixar uma vitrine como o Pinheiros para embarcar em um projeto novo como o do Basquete Cearense, muitos poderiam ter olhado para o armador Davi Rossetto e apontado uma baita retrocesso. Ainda mais para um jogador com passagem pelas seleções brasileiras de base e tal.

Pois a mudança não poderia ter encaminhado o jovem paulistano em melhor direção. Longe da casa dos pais pela primeira vez, ele admite que, em Fortaleza, teve um ganho de maturidade que influenciou diretamente na estabilização de sua carreira. “Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra”, diz ao VinteUm.

Agora, de pouco adiantaria esse crescimento fora de quadra se, aos 22 anos, ainda não lhe fosse dada a oportunidade de bater bola com regularidade em jogos oficiais. O que, claramente, é fato raro no NBB 7. Atletas de 23 anos ou menos, ainda em formação, dificilmente veem a luz dos ginásios.

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O clube cearense, nesta edição, se tornou uma das exceções. Só não dá para saber o quanto isso tem a ver com a perda de seu principal patrocinador na virada de temporada, pedindo mão-de-obra mais barata, ou o se o uso mais frequente das revelações já fazia realmente parte do plano de ação.

“Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa”, afirma o armador.

Mais minutos para passar a bola

Mais minutos para passar a bola

Se for para falar do rendimento atual, não há como negar que, com garotos e menos medalhões, o time caiu de modo significativo na tabela. Hoje, ainda tenta entrar na zona de classificação para os playoffs, disputando a 12ª posição com o Macaé, com sete vitórias em 25 jogos (aproveitamento de 28%). Na sexta edição, terminara a temporada regular em nono, com 46,9%. De qualquer forma, as dores enfrentadas nesta temporada podem render frutos mais adiante. Na Liga de Desenvolvimento deste ano, esse núcleo jovem vem arrebentando. Foram 23 vitórias em 23 jogos, para um inédito aproveitamento de 100%. Espanto geral? Não para Davi e seus companheiros: “Vou ser bem sincero: não surpreende”, diz.

Um ponto precisa ser ponderado, é verdade: a média de idade do Basquete Cearense da LDB é bem mais elevada, por exemplo, que a do vice-líder Pinheiros, que venceu 20 partidas. Dos dez jogadores mais utilizados, apenas dois estão abaixo dos 20 anos: o armador Alberto e o pivô Leal. O Pinheiros tem apenas três atletas acima dos 20 em sua rotação regular, estando o trio entre os quatro que menos minutos recebem nesse grupo.

Essa diferença de idade faz diferença, não há como negar. Ainda mais quando se vê a equipe de Fortaleza ao vivo, praticando estilo físico de basquete, marcando com muita pegada para sustentar a melhor defesa do campeonato. Os rapazes sofrem em média apenas 56,0 pontos por rodada.

Victor de Gusmão, Erick Camilo e Davi: base 'experiente' na LDB

Victor Gusmão, Erick Camilo e Davi: base ‘experiente’ na LDB

Agora, isso não é o suficiente para explicar as 23 vitórias consecutivas, né? O técnico Espiga também conta com um entrosamento de sua base, com uma química excelente, sabendo administrar bem os minutos de todos. E tem em Davi um grande assistente na hora de botar o plano em prática.

O armador já vinha fazendo uma boa temporada divisão principal do basquete nacional, em prova clara de sua evolução. De jogador que recebia apenas 8 minutos em média há duas temporadas do NBB, fica em quadra por aproximadamente 32 minutos nesta edição. Melhor: ele vem correspondendo, com 13,1 pontos, 4,7 assistências e 1,2 roubo de bola, todas as melhores marcas de sua carreira.

Na LDB, soma 12,5 pontos, 4,3 assistências, 5,6 rebotes e 1,3 roubo – curiosamente, em menos minutos (27,1). Mas sua influência vai muito além dos números. O que mais chama a atenção em seu jogo: a agressividade na defesa – tem muita velocidade no deslocamento lateral, com excelente preparo físico, colando nos adversários. Ele é a cara do time.

Além disso, consegue controlar o ritmo da equipe no ataque de modo simples e eficiente, característica indispensável para qualquer armador, servindo ao já experiente pivô Erick Camilo, ex-São José e Paulistano, do explosivo ala-armador Victor Gusmão, entre outros. Com esse conjunto e um rendimento impecável até o momento, o Basquete Cearense entra como favorito na segunda fase da LDB, que começa nesta segunda-feira, no Pinheiros, com os oito melhores clubes da competição divididos em dois quadrangulares. Confira a tabela.

Curtindo essa campanha especial, mas sabendo que, sendo jovem, não tem nada garantido pela frente, ainda mais num basquete brasileiro que já maltratou muitas de suas promessas, Davi falou ao blog, esbanjando maturidade:

21: Surpreende chegar ao final da primeira fase de maneira invicta?
Davi Rossetto:
Vou ser bem sincero: não surpreende. No ano passado, a gente teve uma campanha muito boa para um time que tinha acabado de se formar. Treinamos três meses e perdemos quatro ou cinco jogos na fase de classificação. Com a reestruturação do projeto, sabíamos que a ‘minutagem’ no adulto mudaria, saindo um pouco de coadjuvante para protagonista ia ajudar e render frutos aqui. Óbvio que, até por a temporada ser longa, sendo um campeonato com semanas de jogos consecutivos, talvez não esperasse que fosse invicto, mas acreditávamos que poderíamos fazer uma boa campanha e terminar esta fase na primeira posição. Era para isso que a gente vinha trabalhando, então não chega a ser muito surpreendente.

Basquete 100% Cearense

Basquete 100% Cearense

Sobre os minutos no adulto, queria abordar justamente isso com você, que tem o privilégio de desfrutar de um bom tempo de quadra no NBB, algo muito raro no Brasil.
É verdade. O Bial tem como característica gostar de revelar jogadores, dar oportunidade. Nosso time sub-22 é muito aguerrido e enfrenta desafios. Aí acho que a gente acabou conquistando-o. Nesse momento de reestruturação do projeto, com o patrocinador master saindo, a gente soube aproveitar bem o momento. Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa.

Quando você foi para o clube cearense, já tinha em seu horizonte esses minutos a mais? Era algo que vislumbrava?
Claro, a minha ideia quando saí do Pinheiros era ter mais tempo. Era nisso que pensava. Mas, por incompetência minha, não produzi na minha primeira temporada e tive média de apenas cinco minutos. Aos poucos, fui entendendo melhor a minha função, trabalhando mais forte, com mais seriedade. Na segunda, tive 20 minutos e agora já estou próximo de 34. Sei que não é uma coisa habitual, ficar 34 minutos em média, mas é uma coisa que vou levar para a minha carreira inteira. Eu tinha aprimorado várias partes do meu jogo, mas talvez não soubesse bem a hora de usar isso. E essa minutagem maior, atuar com jogadores experientes te traz isso. Tem sido muito importante para minha evolução e maturidade.

Davi Rossetto, Basquete CearenseComo é seu dia-a-dia de treinos?
A gente não tem separação do sub-22 com o adulto. O treino é o mesmo, tudo junto. Normalmente temos um período de treino físico, de academia, e depois um treinamento na quadra. De tarde, vamos para mais um trabalho técnico e tático. Basicamente isso: o trabalho na academia e dois treinamentos em quadra.

Existem exercícios específicos de fundamento para vocês?
Bastante. Separamos os alas e armadores dos pivôs, com a comissão técnica passando para nós esses exercícios para nos aprimorarmos, que vão transferir muito para nós. Tem vezes que é uma sessão extra, com aqueles que tenham jogado menos, ou para aquele jogador que tenha uma deficiência mais específica. Mas, em geral, é o treino que fazemos pela manhã, depois do treinamento físico. De tarde, com o grupo inteiro, nos concentramos mais em questões estratégicas.

Sabemos que no Brasil a transição da base para o profissional pode ser um momento delicado, com vários jogadores tomando rumos diferentes. Como foi esse período para você? Chegou a pensar em parar, ou estava sempre seguro de que era o basquete que queria?
Quando fiz 18 anos, prestei vestibular e comecei a cursar minha faculdade, na EFES, Escola de Educação Física e Esporte da USP. Entrei em 2010, que foi um ano que peguei bastante seleção. Viajei muito, tem concentração, e não consegui ter continuidade nos estudos, até porque a faculdade era integral. Ali tive a dimensão de que não, que era o basquete que queria, que iria até o final. Se não estivesse com a cabeça tão voltada para o basquete, desistiria, sim. Não faria uma coisa meia boca. Não tentaria levar um ou outro nas coxas, como o pessoal fala. Para onde fosse voltar minha atenção, seria 100%. Escolhi o basquete e até hoje não me arrependi mais. Sou jovem, claro, e não descarto que possa me arrepender (risos).

Bom, vai caminhando bem, mesmo. Está satisfeito com a decisão. Embora satisfeito provavelmente não seja a melhor palavra…
Estou feliz. Satisfeito acho que a gente nunca pode sentir. Tem aquela frase de que o animal satisfeito acaba dormindo. O dia em que estiver satisfeito, vou dormir, e alguém vai me passar. Estou feliz e acredito que estou no caminho certo.

Davi Rossetto, CBB, base, Mundial, Sub-19Da sua geração da seleção, qual o panorama agora?
Bom, o Lucas Bebê está na NBA, o Raulzinho foi draftado. Tem o Vezaro, agora em Bauru, que acabou torcendo o joelho. O Felício no Flamengo. Eu e o Taddei aqui. O Gabriel Aguirre está nos Estados Unidos. Leo Meindl em Franca, Bruno no Minas… A geração continua e acho muito promissora ainda. Ficamos em nono no Mundial e pretendíamos mais. Acreditávamos em mais.

Tivemos o exemplo da geração do Mundial Sub-19 de 2007, que tinha o Paulão como um dos destaques, que teve um desfecho bem diferente, com muita gente parando cedo. Daquela para a sua, se passaram cinco, seis anos. Para você, a sobrevivência da sua turma se deve a uma qualidade individual das peças ou a mudanças promovidas no ambiente dos clubes brasileiros?
Acredito que o basquete brasileiro, com a criação da liga de desenvolvimento, dá mais oportunidades para que o jogador tenha uma sequência, tenha mais tempo para fazer a transição. Da nossa geração, por mais que estejam todos jogando, confesso que vejo muitos ainda nessa fase de transição. O Bebê, mesmo, está na NBA, mas ainda está nessa condição. Aquela geração de 2007… Não vou dizer que eram menos talentosos, não. Era uma boa geração, mas que, quando chegou aos 19 anos, ou era profissional, ou tinha de ir para um time mais fraco, uma liga mais fraco, e corriam o risco de desmotivar cedo e parar. Agora temos mais quadra, mais visibilidade e podemos adquirir mais maturidade, e não só no basquete. O que é importante, porque a cabeça de um cara de 19 anos não é nada parecida com a daquele que tem 22. Com 22, você passa mais segurança para quem pode contratá-lo. E a LNB foi fantástica na criação dessa liga. O NBB mais forte também colabora muito para isso, claro. Para que não fiquemos na dependência de uma só geração de jogadores para a seleção e permite que essa troca de faixas seja mais constante.

Se formos comparar você, hoje, ainda muito jovem, mas com maiores responsabilidades no NBB com o garoto que saiu da base do Pinheiros, o crescimento maior é nessa maturidade ou no aspecto técnico? Ou não dá para separar uma coisa da outra?
Na verdade não dá para separar. Um tem influência direta sobre o outro. Mas vou dizer que o que mais me ajudou para mim foi o amadurecimento, mesmo. Mais do que treinar, treinar, treinar, ou jogar, jogar, jogar. Foi refletir, pensar com uma outra cabeça. Sair da casa dos meus pais pela primeira vez, para me deparar com outras situações. Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra. Por isso não dá para separar. Mas, se tiver de destacar, falo do amadurecimento fora de quadra.

Para fechar: o Pinheiros, sabemos, virou uma vitrine não só para o basquete nacional como internacional. Teve o caso do Bruno Caboclo no ano passado, e agora os olheiros de fora estão vindo ver o Georginho, o Lucas. No seu caso, você acabou tendo de sair desse clube. Para muitos, poderia soar como um grande retrocesso. Esse tipo de coisa passava pela sua cabeça? Pois, agora, parece não ter nenhum remorso por essa decisão.
Olha, não sei nem se vai ficar bem eu falar isso, mas o Bruno Caboclo é um menino que hoje está na NBA, mas nem jogava no Pinheiros. Para mim, sempre tive claro que não iria para a NBA. Sabia que, se não tivesse a minutagem, não teria como. Para esses meninos, vejo um potencial fantástico e um trabalho de desenvolvimento muito bem feito. Mas eles não jogam. Tem dias que o Lucas não entra. O Georginho também, estando para ir para a NBA. Na minha reflexão, para ter uma carreira internacional, a ideia era ganhar minutos. No Basquete Cearense, via e vejo tudo o que precisava. O estafe estava comprometido em me fazer melhorar. Teve o desafio de mudar de cidade, algo que me exigia coragem, mas que deveria fazer. Quando converso com o pessoal lá, nunca ouvi que tenha feito uma burrada. Só me parabenizam. Passados três anos, foi o melhor para mim. Cada caso é um caso, mas, no meu, eu tinha de jogar. E veio o Basquete Cearense. Hoje eu me confundo… Olha, parece até o Bial falando (risos). Mas hoje me confundo com o Basquete Cearense. Vejo esses meninos do meu time, penso em defendê-los. Parei de pensar só no Davi e comecei a gostar de defender uma causa, o nosso projeto.