Vinte Um

Arquivo : março 2015

O povo de Utah tem um novo inimigo: Enes Kanter
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Giancarlo Giampietro

Gobert, aquele que herdou a vaga do "ex-jogador"

Gobert, aquele que herdou a vaga do “ex-jogador”

Existem aqueles caras que não falam nada, para desespero dos jornalistas. Você repete a pergunta de diversas formas, para ver se tira algo, e não sai. Mas também há aqueles que são os mais procurados por terem a matraca solta. Não importa se choveu ou fez sol, se teve derrota ou vitória, vão tagarelar.

E tem o Enes Kanter, que está numa classe só sua desde o sábado, quando retornou a Salt Lake City pela primeira vez como jogador de OKC e cuspiu marimbondos ao falar sobre sua ex-equipe.

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O pivô turco disse basicamente que só quando chegou ao Thunder que foi perceber o que era um time, um clube de NBA de verdade, embora não quisesse especificar quais os detalhes que o levaram a essa conclusão. O que importava é que, pela primeira vez, ele afirma que estava curtindo a liga americana. “Acho que a diferença provavelmente é que eu gosto de jogar aqui. É a coisa mais importante. Eu não gostei de jogar basquete antes em minha carreira de NBA. É a primeira vez que gosto de jogar basquete para meu time, meus torcedores, companheiros, treinadores, todos. Essa é a primeira vez. Não era uma frustração de um ou dois jogos. Mas, sim, uma frustração de três anos e meio.”

As declarações foram dadas em pleno ginásio do Utah Jazz, no treino leve da manhã, de aquecimento para a partida. Você pode imaginar o que aconteceu horas mais tarde…

(…)

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Acho que a expressão facial de Gordon Hayward e Trevor Booker diz tudo, né?

Sem a galera. As vaias constantes e a barulheira geral de uma fervorosa torcida, que que abraça sua jovem equipe – numa das raras cidades em que a franquia de NBA é a principal atração esportiva, no alto das montanhas, com uma religião predominante diferente do restante do país, entre outros fatores que sugerem um “isolamento”.

Vejam, por exemplo, o que o narrador das transmissões oficiais do Utah, David Locke, teve a dizer: “Numa nota oficial, sempre fui um fã de Enes. Conheço todos os seus defeitos, mas os aceitei e esperei que melhorasse. Mas ele se expôs tanto dessa vez que agora está sozinho, por conta. Nós o protegemos e cuidamos dele nos últimos anos e continuaríamos fazendo isso, mas agora ele está por conta”. Em tempo: Locke pode proteger alguns interesses do clube devido ao seu cargo, mas é um jornalista sensato, que não evita cobranças públicas e análises mais duras em tempos difíceis.

É justamente contra esse tipo de comunidade que você não quer ficar. Kanter deu de ombros e comprou a briga – resta saber se com plena consciência do que estava fazendo, ou se simplesmente sem se dar conta do péssimo timing para abrir o coração. Lembrete: sem Kevin Durant e Serge Ibaka, OKC e Russell Westbrook estão usando a reserva do tanque para garantir a oitava colocação da conferência.

Pois, naquela noite quente em Salt Lake City, tudo do que eles menos precisavam era uma cidade inteira querendo sangue. Sobrou cotovelo e empurrão para tudo que é lado na vitória do time da casa.

Westbrook e seus parceiros começaram o jogo em ritmo frenético, dando suporte ao turco. Do segundo período em diante, porém, intensidade dos enervados anfitriões prevaleceu. O Utah venceu o jogo por 94 a 89, mesmo que tenha acertado sofríveis 38,1% de seus arremessos e errado 23 de 29 chutes de três pontos. Por outro lado, forçaram 23 turnovers (contra apenas 11 cometidos) e cometeram 29 faltas. Foi um jogo feio, brigado, do jeito que desejavam, ao que parece.

Kanter somou um double-double, com 18 pontos e 11 rebotes, em 34 minutos, acertando 7 de seus 13 arremessos e deu dois tocos ainda – mas cometendo quatro desperdícios de posse de bola.

Pergunte, então, ao Trevor Booker, seu antigo reserva, o que ele tinha a dizer a respeito… “Ele conseguiu os números dele e também a derrota. Como sempre”, disse o ala-pivô.

Pow!

Essa foi a resposta mais ferina da noite – depois da vitória, claro. Mas tem muito mais. Gordon Hayward admitiu: “Ele nos deixou putos, honestamente. Queríamos essa vitória de qualquer maneira”. O mais engraçado foi que o novo astro da franquia se recusou a se referir ao turco pelo nome. “Todos nós ouvimos o que o ex-jogador falou.”

Rancor é pouco. “Virou muito pessoal para nós. Tentamos nos afastar desse tipo de coisa, mas dessa vez nos sentimos desrespeitados”, afirmou Trey Burke. “A quadra sempre fala melhor do que qualquer palavra”, disse Rudy Gobert, justamente o maior beneficiado pela saída de Kanter. Aliás, a ascensão do pirulão francês combinada com a troca de Kanter transformou a equipe em quadra. Esse fator, na verdade, é o que pega mais mal nas declarações de Kanter.

Westbrook, o técnico Scott Brooks, o ala Anthony Morrow e todos em OKC estão vendo de perto o potencial do pivô turco no garrafão, como cestinha e reboteiro. Ex-dirigente do Phoenix Suns, analista do ESPN.com, Amin Elhassan conta um pouco mais a respeito, dando bons argumentos que ajudam a entender o discurso do atleta. Em Utah, Kanter nunca pôde ser uma referência ofensiva no jogo interior, como seu pacote técnico pede. Primeiro, estava no banco de Millsap e Jefferson. Depois, a dupla com Favors, por incapacidade, ou não, de Tyrone Corbin, não teve uma química. Com Snyder no comando, sua principal função era espaçar a quadra – uma tarefa que, conforme notado agora, não lhe caiu bem, nem lhe apeteceu.

Acontece que o basquete não se resume a isso, a esses números básicos. Eles possam influenciar os rumos de uma partida ou de uma temporada? Sim, claro. Mas não podem ser tomados como única razão para investimento ou aclamação para um jogador – ainda mais um atleta que tem dificuldade para gravar e entender jogadas de ataque, em seu quarto ano como profissional.

O Thunder vai ter de fazer as contas certinhas ao final do campeonato para saber o quanto vale o turco, colocando na mesa suas contribuições estatísticas mais óbvias, e aquilo que ele subtrai nos meandros do jogo. Snyder, o gerente geral Dennis Lindsey e o vice-presidente Kevin O’Connor certamente estão contentes em ter passado esse dilema do mercado de agentes livres para a frente.

O que Enes Kanter fazia no ataque não compensava o que tirava na defesa. Com Gobert, foi o inverso

O que Enes Kanter fazia no ataque não compensava o que tirava na defesa. Com Gobert, foi o inverso

Desde que a rotação do treinador passou a ter Gobert como titular efetivo, enquanto seu ex-jogador conhecia um time de verdade, o Jazz se transformou na melhor defesa da NBA. Sério. E bem acima do Golden State Warriors, o segundo colocado. Sofrem apenas 93,3 pontos por 100 posses de bola. Sabe qual era a situação até a troca? Tinham a quarta pior defesa, com 106,1 pontos. Sem ele, perderam em eficiência ofensiva, mas nada que atrapalhasse a melhora do outro lado da quadra. Os reflexos você vem em quadra: desde a troca, a equipe venceu 13 de 20 partidas – aproveitamento de 65% que lhe colocaria nos playoffs.

Isso pode ter muito mais a ver com a mera promoção de Gobert e suas habilidades assustadoras, claro. Mas qualquer torcedor mais sério da equipe também vai testemunhar o quanto o pivô turco pode ser desatento e/ou lento para brecar um adversário. Derrick Favors tinha de se desdobrar para cobri-lo. São dois pontos indissociáveis. Até porque o Thunder piora sensivelmente na defesa quando com o jogador. Quando ele está em quadra, o time leva 110,8 pontos por 100 posses de bola. Sem ele, cai para 103,8. Tirando suas contribuições positivas no ataque, o saldo ainda é negativo.

Isto é: mesmo um Kanter empolgado, feliz da vida ainda não é um produto refinado ou decisivo – e nem pode ser considerado “um dos jogadores mais dominantes” de sua geração, como já bradou o seu agente. Se formos considerar apenas os atletas nascidos em 1992 e se trocarmos “mais dominantes” por “um dos melhores”, pode ser que, eventualmente, ele tenha razão. Agora, se formos expandir o conceito de geração para um ou mais anos e pensarmos na turma de 1991 e 1993 também, aí a coisa fica mais difícil, não importando o filtro (se mais dominante, ou dos melhores). Temos Anthony Davis, Andre Drummond, Kyrie Irving, Kawhi Leonard, Nikola Mirotic, Bradley Beal, entre outros. Competições de base da Fiba? Já faz tempo e nem tem como comparar com o que se produz na vida adulta.

De todo modo, não importa. Kanter não precisa ser um jogador de elite para dar suas entrevistas. Jornalistas e, na verdade, a NBA como um todo precisa de gente assim, que fale o que pense, o que sinta, em vez de adotar o discurso treinado de sempre. Serve para mostrar como as coisas são de fato.

Ainda mais fora dos Estados Unidos, nota-se uma idolatria desmedida aos caras e ao universo da liga, sendo que, nos bastidores, são várias e várias as histórias de problemas, desavenças, intrigas. Algo totalmente normal, já que estamos falando de um ambiente extremamente concorrido, competitivo.

Com o que o turco precisa tomar cuidado é apenas o fator de “quando” e “onde” falar. Em Salt Lake City, virou inimigo público.


Euroligado: Fenerbahçe, o time do momento; Huertas reserva
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Giancarlo Giampietro

CSKA, de Milos, ainda está no páreo, mas Fener é o time da vez

CSKA, de Milos, ainda está no páreo, mas Fener é o time da vez

Entre viagens para o All-Star Game da NBA e o Jogo das Estrelas do NBB, a pausa tradicional para as Copas europeias e o atropelo geral de agenda, estava devendo um resumo sobre o que se passa pela Euroliga, o maior campeonato de basquete do mundo, como gosta de dizer o chapa Decimar Leite, narrador do Sports+. “Porque a NBA é outra coisa, outro esporte, não conta”, diz. É isso aí.Então, aqui, correndo atrás do tempo perdido, vamos com um panorama da competição, em vez de apenas se apegar ao que aconteceu durante a semana.

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É favorito, mesmo?
Sim, os favoritos em geral já encaminharam suas vagas para a fase de quartas de final, a duas rodadas do desfecho do Top 16. Mas isso não quer dizer que a segunda fase tenha sido moleza para eles. E quem são esses clubes, para retomar? As duas superpotências espanholas, Real Madrid e Barcelona, além de CSKA Moscou, Fenerbahçe e o Olympiakos. Eles estão todos garantidos nos mata-matas. Restam, então, três lotes para serem adquiridos. Dois estão no Grupo E, disputados basicamente por Panathinaikos, o atual campeão Maccabi Tel Aviv e o Alba Berlin – o Zalgiris Kaunas até tem chances, mas é mais fácil encher a Cantareira até a boca do que eles se classificarem. Pelo Grupo F, o da Morte, sobrou um, que está entre Anadolu Efes, Laboral Kutxa e Olimpia Milano.

(O quê?)

(Palpites?)

Nada como uma aposta conservadora, né? Panathinaikos, Maccabi e Anadolu devem avançar, a despeito de suas irregularidades.  (Vamos tirar a limpo isso depois.)

Alba tenta desbancar camisas pesadas pelo Grupo E

Alba tenta desbancar camisas pesadas pelo Grupo E

Seria até bacana ver o Alba Berlin criar um fato novo derrubar o clube grego ou o israelense – juntos, esses caras somam 12 troféus, seis para cada. O lado bom aqui é dar mais uma força para o basquete alemão que, gradualmente, vem subindo a ladeira. Os alemães dependem apenas deles, aliás, já que vai enfrentar nas próximas duas rodadas justamente seus dois concorrentes diretos. Se vencer ambos, pode gerar uma situação de empate tríplice. Para os gregos, basta uma vitória em casa, na próxima rodada, contra os alemães. Caso isso aconteça e o Maccabi derrotar o vexatório Galatasaray, aí o Alba está eliminado.

Do outro lado, o Anadolu, de certa forma um candidato ao título no início da campanha, tem a chance de encerrar a reação do Olimpia Milano em um confronto na próxima sexta-feira, em casa. Além do mais, se vencer os italianos e o Fenerbahçe bater o Laboral Kutxa, aí já terá a vaga no papo. Agora, se perder em Istambul, pode se meter numa enrascada, já que que tem seu rival Fener pela frente na última rodada.

E o Fener é o time do momento…

Goudelock: média de 16,8 pontos na temporada

Goudelock: média de 16,8 pontos na temporada

Vocês se lembram do oba-oba para o CSKA Moscou, certo? Quando os caras venceram os primeiros 15 jogos da temporada? De lá para cá eles ainda ganharam um Andrei Kirilenko de presente, além do retorno de seu parceiro de seleção russa, Viktor Khryapa – ambos com a mobilidade bastante comprometida, diga-se. Mas o timaço de Dimitris Itoudis, enfim, perdeu. Duas vezes. E acabou destronado pelo clube turco na liderança. Ambos têm a mesma campanha, mas a equipe de Zeljko Obradovic, o padrinho do Itoudis, leva a melhor no saldo de pontos do duelo.

O Fenerbahçe está no meio de uma sequência de nove triunfos – a segunda maior da competição nesta temporada, atrás apenas do CSKA. O detalhe mais interessante é que, desses nove triunfos consecutivos, cinco foram como visitantes. De má notícias para o irado Obradovic nesse meio-tempo, apenas duas. Eles perderam a final da Copa da Turquia para o Anadolu. Além disso, o armador Ricky Hickman sofreu uma ruptura no tendão de Aquiles nesta quintas, em vitória sobre o Unicaja Málaga. Sendo um atual campeão, poderia ajudar o time nos playoffs. De todo modo, para a sua função, Andrew Goudelock está lá para assimilar os minutos. São atletas diferentes – Hickman busca muito mais a infiltração, enquanto Goudelock é um excepcional arremessador –, mas paciência.

A equipe turca tem um elenco poderoso, isso não é novidade. A diferença é que o treinador octacampeão continental conseguiu enfim uma química respeitável em quadra, usando toda a versatilidade do plantel. Eles podem correr a partir de uma defesa forte, com pivôs bem mais ágeis que o que se encontra por aí – seja com as bandejinhas comportadas de Nemanja Bjelica ou com as trovoadas de Jan Vesely. Mas também têm aquele pivô tipo guarda-roupa que desce a lenha num jogo mais truncado, com Semih Erden e Oguz Savas. A movimentação de bola melhorou com a chegada do grego Nikos Zizis.

Mas pode ficar de olho no Real

Relaxa, Sérgio, tem quem brigue pelo rebote para você

Relaxa, Sérgio, tem quem brigue pelo rebote para você

A mudança de Nikola Mirotic para Andrés Nocioni e Gustavo Ayón leva tempo para assimilar, claro. Conforme os torcedores do Chicago Bulls estão vendo e admirando, o montenegrino de passaporte espanhol tem um pacote raro de velocidade, agilidade para alguém de seu tamanho (2,08 m). Com ele em quadra, ao lado de Rudy Fernández, Sérgio Llull e Sérgio Rodríguez, o Real tinha o arranque de um time de NBA. Corria pela Euroliga sem que ninguém lhe pudesse acompanhar.

Nocioni e Ayón são evidentemente grandes jogadores, mas moldados de outra forma. Hoje, são homens voltados para o jogo de meia quadra, que dão ao clube merengue mais presença física no garrafão e na defesa em geral. Literalmente, o time ganhou corpo e vem sendo eficiente dessa maneira também, abrindo um saldo de 181 pontos em 12 partidas do Top 16 (média de 15,01). As duas derrotas sofridas até o momento vieram contra o Maccabi em Tel Aviv, por apenas quatro pontos, e uma surra contra o Panathinaikos, em Atenas (85 a 69), no jogo do ano para o limitado, segundo seus padrões, elenco grego.

Lembrando: o Final Four deste ano será realizado na capital espanhola. Seria um fiasco tremendo que os caras de Pablo Laso não chegassem lá. A julgar pelo que Anadolu, Baskonia e Milano vêm produzindo nesta fase, se o Real confirmar a condição de cabeça-de-chave número um do Grupo E, não deverá ter problemas para passar pelas quartas e encontrar sua torcida na busca por seu primeiro título continental desde… 1995!

Ainda na Espanha, Huertas vira reserva
Enquanto Juan Carlos Navarro, Brad Oleson e Alejandro Abrines frenquentavam a enfermaria, Marcelinho Huertas teve a incumbência de carregar o Barça em quadra. E jogou tudo o que podia. Quando retornou a cavalaria, o que aconteceu? O armador foi premiado com um lugarzinho no banco. O clube catalão vinha numa trilha de altos e baixos, e Xavier Pascual decidiu promover o jovem Tomas Satoransky ao quinteto inicial, provavelmente de olho em ganho no setor defensivo.Com 2,01 m de altura e agilidade, o tcheco supostamente casa melhor ao lado de Juan Carlos Navarro.

O 'gigante' Satoransky. Gigante, para um armador

O ‘gigante’ Satoransky. Gigante, para um armador

A promoção, que aconteceu durante a Copa do Rei, não foi  pura formalidade: Satoranksy vem acumulando mais minutos desde a 17ª semana de competição, com 25 minutos em média – restando algo em torno de 15 para o brasileiro. Contratado nesta temporada, o jogador respondeu, com média de 11,5 pontos e 5,0 assistências. Mais relevante para a equipe é o fato de que foram seis vitórias seguidas.

Ainda assim, em entrevista para a Radio Catalunya, Huertas revelou estar com negociações abertas para renovar seu contrato com o Barça – o vínculo atual expira ao final da temporada. Se realmente assinar, a perspectiva de uma passada pela NBA se reduz drasticamente. Na mesma entrevista, o brasileiro afirmou que deixou o time titular na Copa do Rei devido a dores no pé. Mas que agora estaria se sentindo muito bem. Para constar, o jornal ABC noticiou após a derrota para o Real que o armador e o treinador teriam discutido no vestiário. Pascual ficou pê da vida com a reportagem e a desmentiu de modo veemente.

A jogada da temporada
Essa, sim, aconteceu na semana passada – por sorte em jogo que transmiti ao lado do Decimar no Sports+. O Fener recebia o Málaga. No desfecho de um primeiro tempo surpreendentemente equilibrado, o garoto Bogdan Bogdanovic recebeu a bola na reposição do fundo da quadra, e…


Lucas Bebê dá as caras na D-League. Como foi a experiência?
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Giancarlo Giampietro

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Depois de passar nove dias com o Fort Wayne Mad Ants, nos confins da D-League, Lucas Bebê foi chamado de volta pelo Toronto Raptors nesta quinta-feira. O problema é que o brasileiro retorna ao Canadá com um problema muscular na perna direita, sofrido em duelo com o Bakersfield Jam em seu último compromisso durante a semana. Segundo sua assessoria, o pivô deve passar por um exame detalhado ainda nesta sexta, para saber qual a gravidade da contusão (ou lesão, dependendo do que a ressonância mostrar).

Certamente não era a notícia que o gerente geral Masai Ujiri queria ouvir, esperando apenas que não seja nada muito grave. De qualquer forma, a primeira passabem do brasileiro pela liga de desenvolvimento da NBA foi muito mais produtiva do que as duas de seu compatriota, Bruno Caboclo, que, depois de uma estreia produtiva, mal viu a cor da bola por lá, dando trabalho fora de quadra.

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Oficialmente, foram quatro jogos para Bebê, com médias de 8,3 pontos, 10,0 rebotes, 2,0 tocos, em 20,1 minutos, com 42,9% no aproveitamento dos arremessos de quadra e 50% nos lances livres. O mais correto, no entanto, é falar em apenas três partidas, uma vez que foi na quarta que ele sentiu uma fisgada na coxa, com apenas dois minutos de ação. Se formos excluir essa, aí as médias sobem para 11,0 pontos, 13,0 rebotes, 2,6 tocos, em 25,6 minutos. Um belo rendimento, ainda que tenha sido pouco eficiente no sistema ofensivo.

Antes de soltar fogos pela vizinhança, porém, é bom lembrar que os números da D-League tendem a ser extremamente inflados, devido ao ritmo acelerado das partidas. A coisa pode descambar para uma pelada facilmente, com uma chuva de arremessos. Se chovem bolas para a cesta, rebote não vai faltar, vai? É preciso dar um desconto a qualquer análise superficial estatística aqui, pois foi exatamente este tipo de basquete que predominou durante as três aparições de Lucas por lá, mesmo que ele não tenha enfrentado os malucos do Reno Bighorns. Para quem não sabe, a liga disponibiliza o VT de todos os seus jogos no YouTube, na íntegra, além de transmiti-los ao vivo.

Em Toronto, pouquíssimos minutos

Em Toronto, pouquíssimos minutos

É isto: depois de um looooooooooongo inverno, podemos avaliar como anda o pivô, que só havia feito seis partidas pelos Raptors na temporada, entrando invariavelmente com os duelos decididos, em clima de garbage time – um cenário que, francamente, anula qualquer possibilidade de avaliação mais séria sobre um jogador. Antes de avançar com o pivô, é importante ressaltar alguns pontos, para que fique bem claro o que representa sua experiência com as Formigas Malucas:

1) O Toronto não está penalizando um jogador ao enviá-lo para a D-League. Faz parte do plano de desenvolvimento.

2) A queda de rendimento do time canadense neste ano só dificulta as coisas. Acabaram as sacoladas, diminuíram as chances de aproveitamento. Em um momento difícil, o técnico Dwane Casey não vai, mesmo, chamar os calouros brasileiros. No entendimento da comissão técnica, não estão nada preparados para enfrentar uma situação dessas. Então a D-League acaba sendo a melhor via para eles mostrarem serviço. Uma pena que Bruno a tenha desperdiçado, por ora.

3) Na D-League, basicamente todo atleta cedido pela NBA encontra um ambiente meio que, ou totalmente hostil. A posição deles é invejada, é o sonho de todos os jogadores que estão ali, abrindo mão de melhores propostas da Europa para ganhar muito pouco – os salários variam de US$ 13 mil a US$ 25,5 mil… por temporada. Confiam que, estando literalmente mais próximos da grande liga, terão mais facilidade de convencer scouts e dirigentes a contratá-los.

4) No caso do Fort Wayne Mad Ants, a complicação ainda é maior: estamos falando do único clube da liga que não tem afiliação exclusiva, abrindo suas portas para 13 equipes da NBA. Isso bagunça o coreto. E outra: o clube não deve satisfações a nenhuma outra entidade. Toca seu projeto, e obrigado. No caso, entram em quadra para vencer e vencer – como se jogassem uma W(in)-League, ao contrário da maioria de seus concorrentes. Então, ok: se vocês querem mandar a molecada, não há problema. Mas ele serão usados nos nossos termos. É o que discurso que vem de lá.

Precisa decorar os quatro tópicos acima antes de se empolgar ou chiar diante do que a duplinha faz nas viagens entre Fort Wayne, no estado de Indiana, e Toronto.  Não obstante, também termos de levar em conta outros dois fatores para diferenciar Bebê e Caboclo, para que não se compare a produção de quadra dos dois brasileiros. (Quer dizer, nem tem muito o que comparar, já que o ala de 19 anos nem bem jogou. Mas isso vale para uma eventual terceira chamada.)

Lucas pode ser um novato na NBA, mas já é profissional há um bom tempo, e encarando competição de alto nível na liga espanhola – o campeonato nacional mais forte da Europa. Também é três anos mais velho. Além disso, sendo um pivô de 2,13 m de altura, o carioca não é dos tipos mais fáceis que se encontra por aí, né? Alto, ágil, comprido. Um biótipo que se encaixa em qualquer elenco, ainda mais num time como o Mad Ants que tem carência no jogo interno. No perímetro, Caboclo enfrenta concorrência mais volumosa e, também, apetitosa.

Aliás, nada melhor do que falar sobre apetite. O ponto mais positivo que percebi nas atuações de Bebê foi sua disposição em quadra. Não teve bico, nem nada. Quando acionado pelo técnico Connor Henry, o pivô mostrou muita energia em quadra. Não chega a ser uma novidade para quem o acompanha desde os tempos de Liga ACB, mas é bom conferir que ele segue correndo a quadra tanto na transição defensiva como na ofensiva, pedindo sempre a bola, ou brigando por ela:

Quando estava no banco, manteve uma atitude positiva cumprimentando um por um de seus novos companheiros na apresentação, em lances livres errados, levantando-se para aplaudir cestas de três etc. Na sua estreia, contra o Delaware 87ers, filial do Philadelphia 76ers (waka-waka-waka), chegou até mesmo a invadir a quadra após uma falta dura do pivô Drew Gordon em cima do ala CJ Fair. Queria tirar satisfações, falando bastante. Foi retirado na manha pelo assistente Jaren Jackson, aquele ex-Spurs.

Os sprints são importantíssimos para um pivô em ação na D-League. Pois, para seguir nas metáforas alimentícias, a turma do perímetro tende a ser um pouco fominha. Ainda mais quando você tem o imortal Jordan Crawford – sim, ele, mesmo, de volta da China – como seu companheiro. Os grandalhões podem ter dificuldade para receber a bola – então é melhor acelerar mesmo no contra-ataque com a esperança de que alguma boa alma enxergue seu empenho e o recompense. No caso de um pirulão de 2,13 m, mais 50 centímetros de afro, descendo a ladeira? Difícil não notar. Diversos pontos do brasileiro saíram nesse tipo de jogada:


Só assim, mesmo. No jogo em que se machucou, contei sete posses de bola para o Mad Ants. Sabe em quantas ele recebeu ao menos um mísero passe? Somente em duas, sendo que, na segunda, foi apenas na reposição lateral, estando o armador da vez bem marcado. Curiosamente, na primeira vez em que foi devidamente envolvido no ataque, ele mostrou uma de suas habilidades mais subestimadas: o passe a partir do poste alto. Está certo que o defensor deu uma boa viajada, mas aí vai uma assistência para Trey McKinney-Jones, que esteve no Brasil com o Miami Heat, durante a pré-temporada:

Até porque, fora o saco sem fundo que é Crawford e alguns outros atletas ansiosos para o arremesso, como Xavier Thames e Fair, em situações de meia quadra há todo o desentrosamento de Lucas com os demais atletas. O cara mal tem tempo de treinar, chegando da metrópole canadense e já precisa jogar, com muita responsabilidade: impressionar seus chefes de verdade e, ao mesmo tempo, justificar o carimbo de NBA diante de gente cheia de desconfiança no vestiário. Por isso, por vezes, apenas vagava de um lado para o outro, indo e voltando. Em algumas ocasiões, nem bem havia chegado ao garrafão, e um tiro de três já havia sido tentado.

Nesse contexto, contei apenas uma bola – uma! – em que o pivô foi municiado no ataque de costas para a cesta. E não deu para saber o que ele faria nessa ocasião, já que sofreu a falta de imediato. Ou seja: não dá para saber se os treinos com os técnicos do Raptors resultaram em evolução no seu arsenal ofensivo. Sem jogadas desenhadas especificamente para ele, o carioca usou os rebotes ofensivos e algumas poucas combinações bem-sucedidas de pick-and-roll para encestar. A jogada pode parecer simples, mas requer química e um armador disposto e/ou capaz de enxergar a quadra – não foi o caso de Gary Talton, infelizmente; posso ter dado azar, mas peguei três jogos bem fracos do cara.

Ainda assim, sua capacidade no corte para a cesta sem a bola segue valiosa. Em duas passadas, Bebê consegue chegar ao aro. Isso chama a atenção da defesa. Se não vier o passe, pode acabar abrindo a quadra para um chute de três, chamando a ajuda lá dentro. Se a defesa se desequilibrar, ele ainda tem grandes chances de coletar o rebote ofensivo, devido a sua envergadura e agilidade e também a sua capacidade de saltar seguidas vezes.

Esses atributos são obviamente o carro-chefe do brasileiro. Habilidades naturais que precisam ser mais e mais refinadas em Toronto. Em compensação, o atleta ainda segue com dificuldade para absorver o contato físico no garrafão ou debaixo da tabela. Os duelos com o Iowa Energy mostraram isso, com Jarnell Stokes, do Memphis Grizzlies, e o já rodado Willie Reed levando a melhor no corpo a corpo com o brasileiro – em duas partidas, os dois somaram 80 pontos e 66 rebotes abusando de todos que encontravam pela frente. Do outro lado, a fragilidade também atrapalhou na hora de finalizar em meio ao tráfego, com contato (como vemos acima). Isso também ajuda a explicar aproveitamento bem baixo nos chutes de quadra, especialmente para alguém da sua estatura. Na NBA, as coisas ficam ainda mais difíceis.

Devido a essa desvantagem em termos de força, é meio que imperativo que Lucas se posicione bem no garrafão na hora de marcar individualmente ou de lutar pelos rebotes. Se não tem a base muito forte para aguentar o tranco de gente mais parruda, deve fazer a defesa pela frente, para cortar a linha de passe, aproveitando-se até mesmo de sua envergadura. O problema é que, justamente por ser longo toda a vida, o pivô acredita que pode bloquear todo e qualquer arremesso num raio de cinco ou mais metros. Por isso, tende a caçar os jogadores que estejam com a bola. Mesmo que chegue no tempo certo, se falhar em atingir a bola, vai deixar um rival livre logo atrás.

Agora, é aqui que lembramos que Bebê mal jogou neste ano. Então não dá para saber exatamente o quanto essas recorrentes questões seriam (ou estão sendo) corrigidas e desapareceriam com mais tempo de quadra, com mais rodagem. Pois é inevitável que ele entre em quadra sedento pela bola, propenso a cometer um ou outro deslize tático. Nesse sentido, atrapalha bastante o fato de o Raptors não ter o seu próprio time na D-League, podendo conduzir esse processo de modo muito mais cuidadoso e acelerado.

Da sua parte, de todo modo, o pivô precisa se manter concentrado, com objetivos a longo prazo, evitando as distrações que o mundo em torno da NBA pode oferecer. O mesmo vale para Caboclo. Chegando aos 23 anos, Lucas ainda é um jogador jovem, mas que já deixou de ser o caçula da turma há tempos e ainda tem muito o que trabalhar para virar um jogador de ponta. O potencial é indiscutível e está aí para ser realizado, para que os números vultuosos não precisem de asterisco nenhum no futuro.


O Fantástico Mundo de Ron Artest: Itália!!!
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Giancarlo Giampietro

Antes da criação do Vinte Um, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers. E bancaria como? A começar pela leitura do site HoopsHype, obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo diário absurdo de informações, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo.

A saga de LeBron James na volta a Cleveland, os quilos de especulações em torno de Kevin Love e o racismo de Don Sterling foram certamente as líderes em manchetes nos últimos meses desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo. Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores.

Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

* * *

Um sonho realizado na Itália

Um sonho realizado na Itália

Primeiro saiu no Twitter:

Depois, você acessa o site do clube italiano e dá de cara com a seguinte manchete:

UNA STELLA PER L’ACQUA VITASNELLA: METTA WORLD PEACE ARRIVA A CANTU’.
(Uma Estrela para o Patrocinador do Time: A Paz Mundial Metta chega a Cantu!)

Bomba!

Para quem estiver boiando, ou andando meio desligado, e, por algum acaso, perdeu a notícia da semana, é o seguinte: Ron Artest, vulgo #mettaworldpeace, vulgo #pandasfriend, vai agora jogar na Itália. Ele assinou, como vemos acima, com o Cantù, da primeira divisão do país, até o final da temporada. O acordo foi anunciado com tons messiânicos pelo clube .

É muita empolgação – e totalmente justificado, claro. A ponto de avisarem grupos midiáticos do porte CNN, BBC e ESPN. Senti falta da menção a um certo pontífice que vive somente a pouco mais de 600 km da cidade – se bem que ele já anda muito envolvido com o San Lorenzo na Libertadores. Ah, e me desculpem, mas não tem como disfarçar a mágoa aqui: copiar o @gianblog21 nem pensar?! Quem no mundo dedica toda uma seção de blog a Ronald Williams Artest Jr.? Talvez mais umas 375 pessoas, mas isso não vem ao caso.

De todo modo, acho que só esqueceram do VinteUm quando se deixaram levar pela emoção, pela adrenalina dos fatos. Só pode. Afinal, não é todo dia que você tem a oportunidade de trazer para o seu time alguém que já adotou três nomes diferentes durante sua carreira, protegeu pandas na China e encampou a luta pela paz mundial (anos depois de quase ter levado o Indiana Pacers para o buraco, ao escalar as arquibancadas do Palace of Auburn Hills, esmagando e esmurrando torcedores pelo caminho).  O mesmo cara que onseguiu se posicionar no meio do caminho entre Kobe e Howard em Los Angeles. Fora isso, bem menos importante, mas só para constar: também já foi campeão e o melhor defensor da NBA.

Se você assina com uma figura dessas, como poderia reagir de modo sereno e profissional? Quando você evoca a presença do antigo Ron Artest para o seu mundo, está assinando um compromisso de que, enquanto o vínculo durar, não há mais espaço para a Normalidade em seu cotidiano. Eles querem viver num mundo onírico e mágico. Que mal tem nisso? Em seu comunicado oficial, a agremiação anuncia que esta negociação foi o “golpe do século”.  : )

Agora, em meio a tanta euforia, a presidenta do clube Anna Cremascoli expõe metas mais concretas e imediatas, dizendo que a contratação de Ron Metta Panda’s Artest World Peace Friend pode ser o empurrão final para levar seu time aos playoffs da Lega Basket. O Cantù divide hoje a oitava colocação com Pistoia e Cremona, todos com 10 vitórias. A diferença é que seus dois concorrentes têm uma derrota a mais – a liga italiana não classifica os times por aproveitamento, mas, sim, por pontos conquistados a cada triunfo. A presidenta, porém, também não se aguenta. Para ela, o norte-americano vai proporcionar “|uma onda de entusiasmo no mundo do basquete italiano e não só no canturino”. A Itália não será mais a mesma.

Ron-Ron vai usar o número 37. Por quê? Para homenagear Michael Jackson, dãr. Afinal, este é o número de semanas consecutivas que Thriller, o maior clássico do popstar, ficou no topo das paradas. Na pequena cidade localizada na região da Lombardia, vai ter a companhia de quatro compatriotas: o pivô Eric Williams, que já está na Europa desde 2006, o ala DeQuan Jones, ex-Orlando Magic, o ala-armador James Feldeine (que joga no mundo Fiba pela República Dominicana) e o armador Darius Johnson-Odom, seu ex-companheiro de Lakers. “Estou contente, óbvio”, diz o ex-Laker. “Falei com ele no telefone, e o senti muito empolgado para esta nova aventura. Estou certo de que dará uma grande contribuição. Afinal, falamos de um campeão absoluto.”

O grande astro messiânico vai se apresentar nesta quinta-feira. O que ele disse a Johnson-Odom fica entre eles. Ao público, Artest já se mostra animado com todas as possibilidades de trocadilhos com o nome de sua nova equipe:

Sabemos que Ron-Ron manda ver no Rap. Que é uma estrela com carisma para carregar um filme nas costas, só Hollywood não enxergou ainda. Que ele sabe fazer as coisas melhor, dãr. Agora… Fora todas essas habilidades que não têm preço, talvez o torcedor canturino esteja interessado se o cara dá conta de jogar bola, depois de uma breve passagem pela China, onde ganhou mais de US$ 1,4 milhão na China para defender o Sichuan Blue Wales.

Ele entregou 19,0 pontos, 6,0 rebotes, 1,1 assistência e 2,2 roubadas, em 28,5 minutos. Não dá para se empolgar muito com esses números, não, ok? Saibam que Errick McCollum, irmão de CJ, do Blazers, foi o cestinha da temporada com média de… 39,6 pontos. Andray Blatche, o filipino, foi o principal reboteiro, com 14,6 por partida. Dominique Jones liderou em assistências, com 8,4, tendo também anotado 36,8 pontos. Michael Beasley se despediu do país com 28,6 pontos, 10,4 rebotes e 5,2 assistências. Deu para entender, né? São todas estatísticas de videogame. O dado mais interessante era saber exatamente quantos pandinhas o Ron-Ron ajudou a salvar por lá. Isso, sim, é legado.

Até porque há um problema aqui: mesmo na frágil liga chinesa, Artest não conseguiu pontuar com eficiência, terminando sua temporada com 41,5% nos arremessos e 32% nos chutes de três. O ala simplesmente não tem mais velocidade e estabilidade para partir com a bola do perímetro para a cesta, com problemas já crônicos no joelho esquerdo. Sua aventura com as Baleias Azuis durou apenas 15 partidas, até ser afastado para fazer tratamento. Um desfecho bem diferente para quem imaginava que iria refinar seu jogo, usando muitas posses de bola, com a expectativa de descolar um novo emprego na NBA, antes dos playoffs. Sua vaga acabou ocupada pelo pivô Daniel Orton, aquele ex-Orlando e OKC, que não consegue parar em nenhum lugar. O time terminou na antepenúltima posição da temporada regular, com 8 triunfos e 30 reveses.

A Itália pode não ter mais o campeonato forte dos tempos de Oscar e Marcel, mas seu nível de competitividade nem se compara ao da CBA. De modo que, com toda a empolgação de seu departamento de marketing e diretoria, talvez para o Cantú seja melhor utilizá-lo como um ala-pivô. Artest tem força, boas mãos e experiência para aguentar o tranco num garrafão europeu consistentemente. Mas, ora, isso não é hora para avisos, conselhos, advertências. O Cantú está vivendo um sonho. Que seus torcedores curtam de montão o contato com nosso anti-herói favorito. Ele está chegando:


Toda a indecisão na hora de escolher o MVP da NBA
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Giancarlo Giampietro

James-Harden-Steph-Curry

Para alguns times, restam dez jogos na temporada. A essa altura do campeonato, já era para a discussão ter acabado. Já era para termos a resposta clara. Mas, não: nessa reta final, é bem provável que sua opinião vá mudar a cada rodada. Simplesmente não dá para saber quem vai ser eleito o MVP da temporada 2014-15 da NBA. Todos os principais candidatos têm ótimos argumentos a seu favor. Os ‘senãos’ são poucos. Você pode tentar uma análise mais fria, por números. Você pode apelar ao sentimentalismo. E tudo seguirá embaralhado. As diferentes linhas de raciocínio geralmente giram em torno de tópicos como o melhor jogador no melhor time, aquele jogador que seria mais insubstituível, o melhor nas estatísticas, a melhor narrativa (sim, não deveria ter muito a ver, mas sempre influencia) e uma ou outra fagulha a mais. Pensando nisso, vamos tentar entender o que está na mesa nessa disputa, avaliando os cinco principais candidatos. Quer dizer, aqueles que supostamente formariam esse quinteto:

Stephen Curry
Com seu talento o arremesso e controle de bola, Curry impulsiona o ataque mais poderoso da NBA. Suas bombas de três pontos talvez sejam o lance mais celebrado da liga hoje. Todo mundo ama Curry e o Warriors – e deveriam, mesmo. O que tem para desgostar aqui? Seu  jogo realmente é extremamente vistoso e eficiente. O cara chuta oito bolas de longa distância por partida e converte 42% delas, muitas geradas em jogadas individuais – algo ridículo. A partir do momento em que cruza a metade da quadra, vira uma ameaça que aterroriza as defesas. De um ano para cá, também vem mudando defende bem melhor do que lhe dão crédito. Seus números? Temos: 23,3 pontos e 7,9 assistências, mais 4,3 rebotes e 2,1 roubos de bola. E quer saber do que mais? Ele só joga 32 minutos por partida, o que deveria fortalecer sua candidatura em relação a estatísticas. Porém, esse acaba se tornando o principal ponto para quem quiser optar por outro nome. Curry é o melhor jogador no melhor time da liga – um time tão bom que massacra os oponentes em três períodos e pode poupar seu astro no quarto final. Mas é justo atingir o armador pela força do time? Digo, se ele sai, e Klay Thompson ainda pode fazer 37 pontos num quarto, por que penalizá-lo? Pode-se argumentar tranquilamente que o Golden State seria uma excelente equipe com Kyrie Irving ou John Wall em seu lugar. Mas o pacote único de habilidades do filho do Dell e irmão do Seth é o que leva o clube a outro patamar, certo? Ou errado? Essa é a pergunta-chave. Pela popularidade – mas não só por isso –, parece o favorito.

James Harden
Se formos levar em conta tudo o que Curry tem de excitante em quadra, Harden parece gravitar no outro espectro. Do ponto de vista de eficiência, da “jogada certa” – tanto para os caras da velha escola, como para a turma analítica –, o Sr. Barba é aquele que mais cobra lances livres na NBA. Para conseguir isso sendo um ala-armador de 1,95 m de altura, só dá para dizer que o cara tem um talento especial. Funciona bem demais. Só não faz ninguém levantar da cadeira. Quem é o doido que via gritar no ginásio, ou na frente da TV algo na linha de: “Isso! Harden conseguiu cavar mais uma falta! Vamos aos lances livres!”? Isso depõe contra o astro do Rockets na votação, embora não devesse. Pontos são pontos, não importando se vêm num torpedo de três pontos a dois passos do meio da quadra, ou em uma cravada aparentemente impossível de completar. O que ele tem (muito) ao seu favor, por outro lado, é a lesão de Dwight Howard. O fato de Houston estar na luta pela segunda posição dessa brutal Conferência Oeste mesmo com o pivô se aproximando da marca de 40 jogos de afastamento. Seja quem estiver ao seu lado, Harden não pára, embora apanhe bastante, liderando a liga em minutos e lances livres cobrados. O estilo de jogo praticado pelo time e pelo jogador requer força física e mental. Nesse sistema, Harden o barbudo é insubstituível. Alvo de chacota na temporada passada, ele agora segue adiante.

Anthony Davis
Já mencionei isso aqui e ali, mas não custa reforçar: o estimado Monocelha está cumprindo a temporada com um dos maiores índices de eficiência da história. Acima de qualquer campanha de Jordan. De Lebron. Shaq, Malone, Magic e Bird também. O que não quer dizer que ele seja melhor que esses caras. Mas, mesmo para os mais descrentes em relação aos números, não é possível que esse dado não chame a atenção que seus 31,4 pontos de PER só não superem os 31,8 de Wilt Chamberlain em 1963, numa época em que o legendário pivô era a maior aberração atlética do planeta. São 24,6 pontos, 10,4 rebotes, 2,9 tocos, 2,0 assistências, 1,4 roubo de bola e 54,6% nos arremessos de quadra e 82,8% nos lances livres. Afe. Quer mais números? Tudo dissecado aqui. E a produção do ala-pivô não é inócua. Apesar dos desfalques, o Pelicans ainda segue na briga para ir aos playoffs. Muito por conta do que a jovem estrela anda fazendo no decorrer das partidas, mas especialmente nos momentos decisivos dos jogos, segundo instigante levantamento do analista Tom Haberstroh, do ESPN.com, com base em dados clutch do promissor site Inpredictable.com. Aos 21 anos, o garoto já foi o atleta mais decisivo do campeonato, galera. Então veja bem: não  é apenas um caso de coletar dados. O que pega é que, por mais que seja uma estrela emergente, a impressão que se tem é a de que poucos o admiram como ele merece, pelo fato de seu time aparecer pouco na TV. Fora isso, Davis desfalcou o Pelicans por 14 jogos na temporada, com um acúmulo preocupante de leves contusões ou graves lesões.

Russell Westbrook
Tantos triple-doubles. A sobrevivência sem o atual MVP. A exposição constante na TV – e em todos os clipes de seus lances totalmente amalucados, seus ataques assustadores ao aro no YouTube, nas redes sociais. Todo o som e a a fúria, saca? E, neste ano, sem Durant ao seu lado, Wess não tem nem mesmo de responder ao questionamento habitual – e muitas vezes justo – de que seria um fominha desmiolado, inconsequente e matador de aves raras. Agora, veam só como o mundo dá voltas, como é bonito o ciclo da vida: é melhor que ele esfomeie!  Ou você gostaria que ele passasse para Dion Waiters e Andre Roberson toda hora? Uma bolinha para Enes Kanter no garrafão, outra para Anthony Morrow na zona morta, alguma ponte para Steven Adams, e estão todos quites. As pessoas pontuam, ele consegue assistências e acumula seus recordes. O senão aqui é o fato de ele ter perdido um mês de temporada, devido a uma fratura na mão totalmente estraga-prazer. Além disso, nos poucos jogos que Durant jogou, OKC conseguiu seu melhor rendimento: 66,6% (18-9). Sem ele, o número cai para 51,% (22-21), abaixo de Suns e Pelicans. Teríamos um time ocupando a décima posição do Oeste hoje. E, se Anthony Davis não pode ser o MVP fora dos playoffs, logo, Westbrook…

LeBron James
Aqui, temos o cara que se enquadra na categoria de “Melhor Jogador de Sua Era”. Ainda. Mas é o mesmo cara tirou meses de férias (extraoficiais) até realmente parar por duas semanas para botar a cabeça e o corpo em dia. Desde que voltou, o Cavs decolou na direção da equipe que todos imaginamos que iria se tornar. Um detalhe, porém: também não podemos nos esquecer que a chegada de Timo!!!, JR e Shumpert deu uma bela ajuda nessa arrancada também. De qualquer forma, LeBron realmente retornou rejuvenescido, empolgado e, caraca, até mesmo elogiando seu técnico. Que coisa! Só acho um tanto curioso que ele seja elogiado por isso. Pensando em dois fatores: 1) como se ele não tivesse responsabilidade alguma antes da pausa, ainda mais depois de escrever uma carta em revista nacional sobre o quanto estava amando retornar para a quadra; 2) se estamos elogiando LBJ pelo que ele está fazendo agora, isso quer dizer que o que estava acontecendo antes não era tão bom, né? Tentando não ser tão cruel, dá para ponderar que, após quatro finais seguidas e com toda a emoção de voltar para a casa, que seria mais que natural que o craque abaixasse a guarda por um tempo. OK, é isso, mesmo, é algo que tem de ser levado em conta. Curry e Harden, por outro lado, não têm nada a ver com isso. Em termos de consistência, não parece certo que estivessem abaixo do capitão do Cavs em qualquer lista. Ainda assim, o cara se chama LeBron James, com fama de rei.

Menções honrosas para… LaMarcus Aldridge, que não deveria nem mesmo estar em quadra devido a uma lesão de ligamento na mão esquerda – problema, aliás, agravado no domingo – e lidera a liga em cestas de quadra, é o oitavo em médias de minutos, o sexto em pontos e o oitavo em rebotes pelo Blazers… Chris Paul, que manteve o Clippers vencendo durante o período de ausência de Blake Griffin e lidera a temporada em assistências… E Marc Gasol, que teve seus momentos de brilhantismo na primeira metade da temporada pelo Grizzlies.

PS: Harden seria o meu escolhido hoje, um tico acima de Curry pela carga maior que ele leva. Mas, sério, não dá para ter convicção disso.


Augusto derruba o Real, Splitter decola e mais: um giro com os brasileiros
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Giancarlo Giampietro

Os playoffs estão chegando, em todos os lugares — no Fantasy, aliás, o bicho já está pegando. Então vale gastar alguns minutos nesta segunda-feira para checar como andam os brasileiros espalhados por aí, levantando como têm sido seus últimos dias, de preparação para a hora que importa, mesmo:

– Começamos pela Espanha. Não só para quebrar a rotina, mas também pelo fato de a maior vitória ‘brasileira’ ter acontecido por lá. Augusto Lima, em sua temporada sensacional, liderou o modesto Murcia em um triunfo histórico sobre o Real Madrid, pela Liga ACB. Há 20 anos que seu clube não derrotava a potência merengue em casa. O pivô teve dificuldade para finalizar no garrafão (3/11 nos arremessos), mas não deixou a confiança esmorecer. Como de costume, batalhou pelas próprias sobras e terminou com um double-double de 13 pontos e 11 rebotes. Foram 5 na tábua ofensiva, buscando contato (6/7 nos lances livres).

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Ao menos neste ano vem sendo acompanhado por Magnano, que o elogiou recentemente, depois de ter sido ignorado na convocação passada. Até porque Augusto tem ao seu lado Raulzinho, que foi titular no domingo. Em 24 minutos, somou 7 pontos, 2 assistências e 2 rebotes. Durante a campanha, o jovem armador vem dividindo a condução da equipe com o veteraníssimo Carlos Cabezas, sendo observado pelo Utah Jazz.

Em termos de classificação, o resultado devolve a esperança ao Murcia de chegar aos playoffs. Mas não vai ser fácil. O time está na décima posição, com 11 vitórias e 13 derrotas, empatado com o Gran Canaria. O oitavo Zaragoza é o Zaragoza, com 14 e 11, respectivamente, também empatado com o Baskonia e o Valencia. Restam 9 rodadas na temporada.

De acordo qualquer forma, tem de comemorar, mesmo. Não só quebraram um tabu — chamado de “maldição” por lá –, como derrubaram o Real da liderança. O Málaga volta a se isolar na ponta. Mais: para se ter uma noção do quão difícil é derrotar o gigante espanhol, saibam que, de 2012 até esse domingo, os caras haviam ganhado 82 de 92 partidas pela temporada regular.  Aproveitamento de 89,1%. Só.

Augusto e Raul na rodinha animada

Augusto e Raul na rodinha animada

Ainda na Espanha, outro que está numa crescente é o armador Rafael Luz, titular na vitória do Obradoiro sobre o Fuenlabrada por 88 a 82, no sábado. O brasileiro marcou 9 pontos e deu 9 assistências em 29 minutos arredondados. Nos últimos quatro jogos, ele tem médias de 10,7 pontos, 5,2 assistências e 3,2 roubos de bola, números elevados para a a liga, ainda mais em 25 minutos.

– Ok, agora a NBA. A julgar pela desenvoltura com a qual se movimentou em quadra neste domingo, parece não haver incômodo algum na panturrilha de Tiago Splitter. O pivô fez uma grande partida contra o Atlanta Hawks, em surra dada pelo Spurs (114 a 95). O catarinense jogou por 27  minutos e terminou com 23 pontos e 8 rebotes, convertendo impressionantes10/14 chutes.

Não é segredo que o Spurs rende seu melhor basquete, há duas temporadas, com Splitter entre os titulares — ainda que um Boris Diaw com bom ritmo seja muito valioso contra times mais ágeis. Tim Duncan, mesmo, já disse ao VinteUm que prefere a formação de duas torres. Os números vão comprovando a tese novamente: desde que o ilustre cidadão de Blumenau recuperou o posto, o quinteto inicial do time texano vem esmagando a oposição.

Taí a dupla

Taí a dupla

Antes, porém, que vocês queiram descer o cacete no Coach Pop, favor considerar os seguintes fatores: 1) Splitter teve sua pré-temporada prejudicada pelas lesões; 2) Pop não ia desgastá-lo, ciente de sua importância; 3) Diaw ainda é um que está atrás da curva, e a equipe vai precisar dele mais para a frente; 4) Aron Baynes meio que jogou bem, mas não conte para ninguém; 5) mais importante de todos: demorou para o quinteto inteiro ficar em forma, na mesma época.

O Spurs, assim como Splitter torcia, está chegando. Se o jogo no Madison Square Garden foi uma desgraça, praguejado com veemência por Popovich, a verdade é que ultimamente os campeões têm dado muito mais sinais de grandeza. Mike Budenholzer viu de perto, num primeiro quarto arrasador: eles voltaram. O que é salutar. Quando o Spurs está em seu melhor nível, difícil encontrar jogo mais bonito e atordoante. A bola cruza a quadra com máxima velocidade, de mão em mão, para frente e para trás, até a defesa rival se despedaçar. E o legal foi ver Splitter totalmente envolvido nessa. Dos raros pivôs com quem a bola não morre. No defesa, as rotações são uma belezura. Green e Kawhi agridem no perímetro, os pivôs cobrem, e a intensidade é plena.

Está tudo enrolado na tabela, mas, mantendo esse ritmo, San Antonio vai ter mando de quadra na primeira rodada, independentemente de ficar com a quarta posição. Tivessem batido os Bockers, já registraram melhor aproveitamento hoje que Blazers e Clippers.

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

– O Toronto Raptors não está jogando tão bem assim, mas tem sua classificação para os mata-matas assegurada, vai. Ao time canadense, o que resta é tentar recuperar o basquete dos dois primeiros meses da temporada. Essa conjuntura não favorece os dois brasileiros do elenco – se o mando de quadra também estivesse garantido, as perspectivas de tempo de quadra aumentariam. De qualquer forma, neste domingo, depois de um looongo inverno e de problemas fora de quadra, pela primeira vez desde 4 de fevereiro, o técnico Dwane Casey colocou o ala em quadra. Foram apenas dois minutinhos contra o Knicks, uma baba.  Isso só foi possível pelo fato de Kyle Lowry estar afastado por lesão, abrindo uma vaga para Caboclo trocar o terno pelo uniforme.

Lucas Bebê não estava presente para ver. O carioca está cedido ao Fort Wayne Mad Ants, da D-League. Ao contrário do que aconteceu com o caçulinha brasileiro por lá, Lucas chegou para jogar – foram três partidas até agora, com médias de 11,0 pontos, 13,0 rebotes e 2,6 rebotes, em imporantes 25,7 minutos – para comparar, Bruno teve apenas 8,9 minutos em sete compromissos. Quer dizer: o pivô produziu bem. Mas não dá para se levar perdidamente pelos números da Liga de Desenvolvimento da NBA. Os jogos são acelerados, a bagunça costuma imperar. Tem de pegar os VTs no YouTube para avaliar com cuidado o que o pivô anda fazendo. O Mad Ants não é a franquia mais aberta da D-League aos jogadores de cima, mas segue como a melhor oportunidade para a dupla ser aproveitada.

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

– Leandrinho foi outro que ganhou espaço devido a uma lesão de um dos titulares. Klay Thompson está fora de ação pelo Warriors, e o ligeirinho tem sido mais acionado por Steve Kerr, dividindo os minutos do jovem astro com Andre Iguodala e Justin Holiday. O ala-armador recebeu 80 minutos em três jogos (26,6) e marcou 44 pontos (14,6). É um momento importante para mostrar serviço: uma hora Kerr vai ter de definir sua rotação para os playoffs, e ainda não está clara a ordem de chamada no banco. Andre Iguodala, Shaun Livingston e Marreese Speights vão para a quadra. É de se imaginar que David Lee também. Restaria uma vaga, pela qual duelam as habilidades ofensivas do brasileiro e as defensivas de Holiday, irmão do Jrue.

– Depois de um mês de fevereiro tenebroso, o Washington Wizards tenta se recuperar, mas vem de duas derrotas (Clippers e Kings, no domingo). Nenê volta a viver sua rotina de entra-e-sai do plantel de relacionados de Randy Wittman, devido aos constantes problemas físicos. O técnico precisa do pivô na briga por mando de quadra, mas a produção do paulista sofreu uma boa queda neste mês, tendo acertado apenas 42,9% de seus arremessos de quadra (na temporada, a média é de 51,5%; na carreira, 54,5%). É uma situação para se monitorar, ainda mais se a seleção brasileira tiver de jogar por uma vaga olímpica neste ano.


Steve Nash nunca mais: aposentadoria confirmada
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Giancarlo Giampietro

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Mais um termo gasto à exaustão no jornalismo esportivo? “Genial”. Não dá para banalizar uma palavra dessas, gente. Mas, para Steve Nash, cabe perfeitamente. Ou cabia: uma vez que, neste sábado, o armador confirmou que não vai ser mais um jogador de basquete.

Ele pode não ter ganhado um título, mas conduziu alguns dos times mais ofensivos (ou de “melhor ataque”, ou de “ataque mais eficiente”) da história da NBA. Seu Michael Jordan (aquele que barrou Malote/Stockton, Ewing, Barkley e Payton/Kemp no baile) acabou sendo, principalmente, Tim Duncan/Tony Parker – ainda que tenha perdido para Kobe/Gasol/Bynum/Mestre Zen/Artest (2010) e seu compadre Dirk Nowitzki também. Que mal tem nisso? Aqui, segue a recusa de julgar atletas por “vencedores” ou “perdedores”. Existe um vasto universo entre um e outro.

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Que ele tenha confirmado sua aposentadoria neste sábado sem poder entrar em quadra na temporada talvez seja mais doloroso que isso. Principalmente para alguém que gostava tanto de jogar e se empenhou tanto nos últimos 10 anos para tentar manter a forma, lidando com insistentes problemas nevrálgicos e/ou nas costas. O canadense usou e abusou da mágica equipe médica do Suns para isso. Tudo ruiu quando foi para o Lakers. Mas provavelmente a queda aconteceria de modo inevitável, pelo desgaste acumulado. A tal da idade.

No auge, em quatro temporadas, Nash teve aproveitamento de quadra superior a 50% nos arremessos, 40% de três e 90% nos lances livres. O invejável clube dos 50/40/90. Pensem nesses números e lembrem-se que o canadense estava com a bola – ao contrário de um Steve Kerr, que abria na linha perimetral à espera de um passe de Jordan, Pippen ou Kukoc. Talvez tenha sido o melhor arremessador da história da liga. Larry Bird, Jerry West, Nowitzki e Stephen Curry podem falar algo a respeito. É o tipo de coisa que não dá para cravar, mas Nash certamente está nessa discussão.

Ele viu esse passe: reparem em como está seu corpo. Não há equilíbrio algum, a passada foi encurtada e/ou esticada, mas ele fazia mesmo assim. Isso faz parte da capacidade atlética

Ele viu esse passe: reparem em como está seu corpo. Não há equilíbrio algum, a passada foi encurtada e/ou esticada, mas ele fazia mesmo assim. Isso faz parte da capacidade atlética

A capacidade para o chute andava lado a lado com sua habilidade atlética e visão de quadra e… Pera lá! Atlético?! Um cara que provavelmente nem conseguia enterrar? É, pois é. O nível de coordenação motora que o sujeito tinha vale mais que qualquer sprint. A impressão que sempre passou era a de que que seria o melhor levantador no vôlei,o melhor quarterback, o melhor armador no handebol e, quiçá, um camisa 10. É um talento atlético, sim — belo embora, incrivelmente, não seja dos mais visados, o que explica o fato de ele só ter recebido uma proposta de um College minimamente decente nos EUA: a modesta Santa Clara. Fazia o que queria com a bola, o que lhe propiciava realizar os passes “que ninguém via”.

Outro fator que não deve ser subestimado: o quanto Nash tornou aqueles que estavam ao seu redor melhores, craques ou não. Marion, Stoudemire, Tim Thomas, Raja Bell, James Jones, Dragic, Richardson e, claro, Leandrinho – um dos seus grandes amigos. Entre tantos outros. Inestimável contribuição, que faz qualquer dirigente parecer muito mais inteligente. Bryan Colangelo que o diga.

Essas características davam ao cara plena autonomia. Don Nelson e Mike D’Antoni entenderam e aceitaram isso sem problemas. (O que, aliás, é um baita mérito). Não é que seus times não tivessem jogadas cantadas ou “sistemas”. Claro que davam diretrizes. Mas a execução em quadra era muito mais livre do que em 95% dos casos que vemos por aí. Nash pegou a chave do busão e organizou tremendos passeios.

Era um jogador completo? No ataque, sim. Na defesa, sabia fechar espaços, mas tinha muita dificuldade em jogadas de mano-a-mano. Na hora do vamos ver, precisava ser “escondido”. Contra o Spurs, em vez de enfrentar um Tony Parker, por exemplo, ficava com Bruce Bowen na zona morta. Não acho que isso arranhe seu legado – sim, podemos falar de “legado” também. Seu Phoenix Suns revolucionou a liga, e até o algoz Gregg Popovich fala a respeito. Apontar falhas não serve para desmerecer aquilo que se faz bem. Poderíamos aceitar isso numa boa, não? (Russell Westbrook pensa que sim.) Na balança, Nash deu muito mais do que tirou.

Agora, o ex-armador vai se dedicar mais às filhas, ao cinema e ao cargo de gerente geral da seleção canadense. Tem em Curry um herdeiro quase natural — o armador do Warriors tem o drible e o chute e até marca bem mais hoje. Porém, não chega a ser tão intuitivo assim na hora de botar o time para jogar.

De qualquer forma, também tem um basquete genial. Aproveitem o rapaz, que Steve Nash nunca mais.

A foto que Nash escolheu para ilustrar sua carta de despedida

A foto que Nash escolheu para ilustrar sua carta de despedida

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Não é falsa modéstia, mas não esta postagem não faz jus ao jogador que foi Nash. Sua visão de quadra e instinto, a importância do Suns dos anos 00, a derrocada no Lakers eram todos temas que devem ser explorados com mais profundidade. Acontece que não houve tempo para preparar algo melhor – no futuro, dá para falar mais sobre esses tópicos e outros mais. Para esmiuçar a carreira do canadense, a imprensa norte-americana já nos deu grandes textos desde o momento em que ficou claro que ele não jogaria mais. Ao Marc Stein, repórter dos mais próximos ao astro, ele fala como anda sua vida hoje, como aceitou o fato de que não dá mais para jogar e sobre não se importar com qual seria o seu legado. Amin Elhassan conta como era trabalhar no time de um gênio, com detalhes saborosos. Ryan Wolstat, do Toronto Sun, escreve sobrseu impacto no Canadá e coleta números e tweets da NBA sobre ele. Bruce Arthur, do Toronto Star, nos demonstra como a carreira do armador foi uma aberração.

Talvez o melhor, mesmo, seja o próprio Nash contar o que fazia. Em vídeos como este:




Tal pai, tal filho? Segunda geração invade as quadras da NBA
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Giancarlo Giampietro

Não é um fenômeno recente. Digo, um fenômeno de agora. Mas é algo que vem ficando mais e mais recorrente. A cada temporada da NBA, temos a chance de revisitar alguns sobrenomes bastante familiares – ao menos para a minha geração, a dos trintões desse Brasil profundo. Acho que começou com o Patrick Ewing Jr., ou algo assim. Mas aí veio muito mais: Hardaway, Robinson, Rice… Até chegarmos a um STOCKTON no mês passado. É uma segunda geração cara-de-pau, que não viu problema algum em seguir os passos de seus pais famosos. “Encaramos isso como se você o nosso tempo agora”, afirma Tim Hardaway Jr., o ala do Knicks. “Eles já tiveram o deles.”

Vamos recuperar alguns desses nomes, então? Escrevo “alguns” pois me parece meio que impossível dar conta de todos os caras espalhados por aí. Se você se lembrar de mais um, favor entrar em contato com a secretaria, que anda ocupada, mas é atenciosa. Serviço de utilidade pública, gente. Por favor.

Para não virar uma bagunça, vamos dividi-los por categorias – incluindo alguns universitários que podem aumentar a legião nos próximos anos. Aqui, vamos agrupar os atletas cujos pais jogaram na liga pelo menos em alguma temporada dos anos 90, tá? Porque, acho, deixa a coisa mais legal, devido à maior chance de familiaridade com eles. Desta forma, que nos desculpem Kobe/Joe “Jellybean” Bryant, Kevin/Stan Love (o parente mais famoso do ala-pivô, na real, é o tio Mike Love, vocalista dos Beach Boys) e Joakim/Yannick Noah (do tênis, dãr):

>> Difícil de superar
A molecada vai ter de suar e melhorar muito para poder fazer cócegas no currículo paterno.

David/John Stockton

David e John fizeram nome por Gonzaga. Na NBA? Outra história

David e John fizeram nome por Gonzaga. Na NBA? Outra história

Se você é o filho do Pelé e quer jogar futebol de qualquer jeito, o cenário menos exigente talvez fosse virar goleiro, mesmo, como no caso de Edinho. Agora, se o seu pai se chama Stockton, você vai topar ser armador, mesmo? David, convenhamos, é um garoto determinado, para dizer o mínimo. Ainda assim, se formos pegar suas médias na universidade de Gonzaga, a mesma de John, temos modestos 4,8 pontos e 3,1 assistências em 20 minutos. No último ano, antes de se formar, somou 7,4 pontos e 4,2 assistências: nada de outro mundo. Então não há como negar também que o sobrenome deu uma boa ajuda na hora de o rapaz assinar um contrato de training camp com o Washington Wizards no ano passado. Dispensado, entrou na D-League, pela qual foi selecionado pelo Reno Bighorns, a franquia conveniada com o Sacramento Kings. Foi pelo time da capital californiana, com um contrato de 10 dias, se aproveitando da lesão de Darren Collison, que ele fez sua estreia, no dia 21 de fevereiro, ao receber sete minutinhos contra o Los Angeles Clippers. A primeira assistência – e, por ora, a única – de sua carreira foi para o israelense Omri Casspi, num tiro de três pontos no Staples Center. Agora, está de volta a Reno. Uma curiosidade? David, na verdade, não foi o primeiro descendente direto de Stockton a se associar a um clube da NBA. Seu filho mais velho, Michael, profissional na Alemanha, já havia defendido o Utah Jazz numa liga de verão em 2012.

O que o pai fez? Só é o líder no ranking histórico de assistências e roubos de bola da NBA, membro do Dream Team original, duas vezes campeão da Conferência Oeste e jogou a vida toda com shorts bem pequenos, mesmo num mundo pós-Iverson.
Quando o pai se aposentou? Em 2003, tendo vestido uma só camisa, a do Utah Jazz.
Por onde anda? Com muito custo, o Utah consegue tirá-lo de casa para alguma cerimônia. Só atende a ligações de Karl Malone e Jerry Sloan.

Tim Hardaway Jr./Sr.

Quando jogavaa, Hardaway Sr. peitou o Knicks. Agora vê o filho por lá

Quando jogavaa, Hardaway Sr. peitou o Knicks. Agora vê o filho por lá

Ala do Knicks, mas vai saber até quando. Eleito para a seleção da Big Ten quando defendeu a Universidade de Michigan, pela qual foi vice-campeão da NCAA em 2013. Foi selecionado na 24ª posição do Draft daquele ano. Em duas temporadas pelo Knicks, alternou bons e maus momentos. No geral, não tem o rendimento dos mais eficientes como cestinha, convertendo apenas 41,2% dos arremessos na carreira e 34,9% de três pontos, com menos de 2 lances livres por jogo. No geral, sua média é de 10,7 pontos por jogo, ou de 16,4 pontos por 36 minutos. Aos 22 anos, poderia ser visto como uma peça de futuro do clube nova-iorquino, mas a verdade é que já foi incluído como moeda de troca em diversas propostas de Phil Jackson, a última delas buscando Goran Dragic.

O que o pai fez? No auge, tinha um dos crossovers mais mortais da NBA, sendo integrante do aclamado trio Run TMC do Golden State Warriors. Em 1993, porém, sofreu uma grave lesão no joelho que lhe roubou a explosão e obrigou a se reinventar como um arremessador em Miami ao lado de Alonzo Mourning. Foi eleito cinco vezes para o All-Star Game e teve médias de 17,7 pontos e 8,2 assistências.
Quando o pai se aposentou? Em 2003, aos 36, como reserva do Indiana Pacers, e paciência.
Por onde anda? É assistente de Stan van Gundy em Detroit.

Glenn Robinson III/II

Glenn Robinson para tudo que é lado

Glenn Robinson para tudo que é lado

Uma dinastia de Glenn Alan Robinsons, vejam só! O terceiro da linhagem foi draftado Minnesota Timberwolves no ano passado, na 40ª posição. Acompanhou Hardaway Jr. (além de Trey Burke e Mitch McGary) em Michigan, mas esticou sua permanência por lá com a expectativa de que um ano a mais na NCAA serveria para aprimorar sua técnica. Não aconteceu: o ala ainda é tido como um superatleta, mas bastante limitado com a bola em mãos. Sob o comando de Flip Saunders, jogou 108 minutos em 25 partidas em sua primeira temporada, até ser dispensado para a contratação do pivô Justin Hamilton. Foi recolhido pelo Philadelphia 76ers. Tem 21 anos.

O que o pai fez? Foi o primeiro num Draft que tinha Jason Kidd e Grant Hill. Anotou mais de 20 pontos em média por oito temporadas – a média da carreira foi de 20,7. Duas vezes All-Star. Na sua saideira da liga, ainda descolou um título pelo Spurs. Ah, mas claro: ganhou e adotou o apelido de Cachorrão. Aí, sim.
Quando o pai se aposentou? Em 2005, jogando 8,7 minutos em média pelo Spurs nos playoffs.
Por onde anda? Está curtindo por aí. Ganhou mais de US$ 80 milhões em salário.

Glen Rice Jr./Sr.

Rice Jr. primeiro tem de voltar para a NBA

Rice Jr. primeiro tem de voltar para a NBA

Aqui, roubamos um pouco, já que o ala foi dispensado pelo Washington Wizards, perdendo a concorrência por minutos na rotação de Randy Wittman para o veterano Rasual Butler. A princípio, isso poderia parecer humilhante, mas Butler jogou bem o suficiente este campeonato para entendermos a decisão. Rice Jr. agora está de volta ao Rio Grande Valley Vipers, da D-League, aos 24 anos, em busca de uma nova chamada. Sua primeira passagem pela liga de desenvolvimento aconteceu em 2013, quando foi dispensado pela Universidade de Georgia Tech, de tanto que aprontava fora de quadra. Na capital americana, pelo que tudo indica, se comportou bem, mas não teve muitas chances para se provar. Em duas temporadas, ganhou apenas 152 minutos de Wittman, pouco mais de três partidas inteiras.

O que o pai fez? All-Star em três temporadas pelo Charlotte Hornets. Naqueles tempos, tinha um respeito considerável na liga, a ponto de ser incluído como peça principal num pacote de Pat Riley por Alonzo Mourning. Acertou 40% de seus arremessos de três e marcou mais de 18 mil pontos, com média de 18,3. Em 2000, ganhou um título pelo Lakers, sendo titular no timaço de Shaq e Kobe. MVP do All-Star Game de 1997.
Quando se aposentou? Em 2004, como reserva do Clippers.
Por onde anda? Rice reapareceu nos noticiários – políticos! – quando revelou que passou uma noite amorosa com a ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, quando universitários. Hoje, é dono da GForce Promotions, que aspira a ser uma liga de desenvolvimento do MMA nos EUA. Sério.

Austin/Doc Rivers

Técnico e jogador, pai e filho

Técnico e jogador, pai e filho

Austin já foi considerado o melhor prospecto de sua geração quando estava no High School. Passou um ano por Duke, trabalhando com o Coach K. Durante sua única temporada como universitário, porém, viu seu status e encanto diminuir com os scouts. Já em seu terceiro ano como profissional, talvez restem poucos que acreditem que ele possa virar ao menos um jogador decente para a NBA. A vida é dura: o rapaz tem apenas 22 anos. Sua passagem pelo Clippers, clube no qual se tornou o primeiro filho a jogar por seu pai treinador na liga, também não anima tanto.

O que o pai fez? Foi um ótimo armador, eleito All-Star em 1988, quando era um dos escudeiros de Dominique Wilkins pelo Atlanta Hawks, no auge. Ao todo, jogou os playoffs por 10 temporadas, sendo vice-campeão do Leste pelo Knicks em 1993 e vice-campeão do Oeste pelo Spurs em 1995.
Quando se aposentou? Em 1996, pelo Spurs, que tinha Bob Hill como técnico e um então anônimo Gregg Popovich como gerente geral.
Por onde anda? Sabemos bem.

Phil/Paul Pressey

Tamanhos diferentes, organizadores de jogo

Tamanhos diferentes, organizadores de jogo

Phil quem? Talvez só o torcedor do Boston Celtics mais fanático possa dissertar a respeito do armador que fez sucesso pela Universidade de Missouri entre 2010 e 2013, ganhando vários prêmios por lá. Se a fama por lá não foi o suficiente para lhe render uma posição no Draft, ao menos o ajudou para fechar contrato com o Boston Celtics. Danny Ainge o adora e confia que, aos 24 anos e em sua segunda temporada, ainda pode se desenvolver e se tornar uma boa opção de armador reserva. Tem velocidade e visão de quadra, mas o arremesso é falho – tem aproveitamento de apenas 32,8% em 115 partidas, com média de aproximadamente 14 minutos. Acontece que, baixinho por baixinho, acaba de chegar Isaiah Thomas, alguém muito mais qualificado, deixando o futuro de Pressey na Beantown bastante nebuloso.

O que o pai fez? Paul Pressey também teve uma carreira universitária de destaque, em Tulsa, a ponto de ser escolhido um All-American em 1982, quandol também seria selecionado pelo Milwaukee Bucks na 20ª posição do Draft. Jogou pelos Bucks por sete anos, com sucesso, participando de equipes que desafiavam gigantes como o Celtics e o Sixers nos playoffs, sob o comando de Don Nelson. O heterodoxo treinador, aliás, enxergou no ala de 1,96 m a habilidade necessária para torná-lo o condutor do time. Pressey se tornou, então, um dos primeiros “point forwards” da liga, ao estilo de Grant Hill e LeBron James – se é que não foi, de fato, o pioneiro da posição na NBA. Bastante atlético, também competiu em torneio de enterradas e foi eleito duas vezes para a seleção dos melhores defensores da liga.
Quando se aposentou? Em 1993, disputando 18 partidas pelo Golden State Warriors, novamente com Nelson, de quem já era assistente.
Por onde anda? Integra a comissão técnica de Byron Scott no Lakers.

>> Já viraram a referência
Quando os caras dos anos 80/90 passam a ser conhecidos como pais de fulano.

Stephen/Dell Curry

Três grandes arremessadores

Três grandes arremessadores

Aqui nem precisamos elaborar muito, né? Stephen deixou as lesões de tornozelo no passado e se fixou como uma das figuras mais populares da nova NBA. Para ele, não existe sequer um arremesso que pareça impossível de acertar. Além disso, tem um dos dribles mais vistosos e efetivos da liga e vem melhorando sensivelmente como defensor. Candidato a MVP da temporada. E chega.

O que o pai fez? Transferiu geneticamente sua habilidade de grande chutador para dois filhos – Stephen e Seth, hoje num contrato de 10 dias com o Phoenix Suns. Maior cestinha da franquia Hornets, Dell entrou na liga em 1986, escolhido em 15º pelo Utah Jazz, passou pelo Cleveland Cavaliers, mas fez seu nome, mesmo, em Charlotte, como um exímio arremessador de média para longa distância. Melhor sexto homem em 1994, era um verdadeiro especialista, tendo convertido mais de 40% de seus disparos de longa distância (foram 1.245 no total, número tímido para os padrões do filho pródigo, que já soma 1.121 na carreira, com aproveitamento de 43,6%).
Quando se aposentou? Aos 37, em 2002, ainda como uma peça importante no Toronto Raptors de Vince Carter.
Por onde anda? É comentarista de TV nas transmissões locais do Hornets.

Wesley/Wes Matthews

O pai foi bicampeão. Mas Wesley Jr. é mais relevante em seu tempo

O pai foi bicampeão. Mas Wesley Jr. é mais relevante em seu tempo

O ala do Blazers já falou muito a respeito da difícil relação que tem com o pai, de quem herdou o nome, mas com o qual não teve convívio algum durante toda sua infância e adolescência. Admite, inclusive, que esse distanciamento – ele e sua mãe foram, basicamente, abandonados pelo ex-jogador – o fez tornar a pessoa e o atleta que é hoje, um cara que deu um duro danado para se profissionalizar e, acima de tudo, virar um dos melhores em sua posição, com mais de US$ 30 milhões já ganhos em seis anos de carreira. Uma pena, porém, que, na melhor temporada recente do clube de Portland, o ala, excelente defensor e arremessador, tenha sofrido uma ruptura no tendão de Aquiles que encerrou sua campanha. Vai virar agente livre ao final do campeonato, numa das situações mais curiosas do mercado.

O que o pai fez? Foi selecionado pelo Washington Bullets na 14ª posição do Draft de 1980, mas não teve uma carreira produtiva, muito menos estável. O cara se tornou um andarilho, na verdade, passando por San Antonio, Chicago, Philadelphia, Atlanta e Los Angeles. Por sorte, quando estava na Califórnia, caiu nas graças de Magic Johnson e fez parte do elenco bicampeão em 1987-88. O Hawks, em uma segunda passagem em 1990, foi seu último time de NBA. Depois, jogou na Itália, nas Filipinas, em ligas menores americanas e afins. Até que…
Quando se aposentou? Em 1998, como jogador do… COC-Ribeirão Preto! Ele foi dispensado do clube paulista depois de trocar socos com o dominicano José Vargas, que teve passagem marcante por Franca, e de o time ter perdido a final do Paulista.
Por onde anda? Mora em Chicago. De vez em quando, comparece a jogos do filho, dá conselhos e tenta desenvolver a relação.

Al/Tito Horford

Os Horfords: bandeira dominicana na NBA

Os Horfords: bandeira dominicana na NBA

Também não precisa gastar muito tempo para falar sobre Al Horford, a principal peça da melhor equipe da Conferência Leste no momento. Multitalentoso, dedicado, excelente figura de vestiário, bicampeão universitário por Florida, mais de US$ 67 milhões em salário etc. etc. etc.

O que o pai fez? Foi o primeiro jogador dominicano a atuar na NBA. Tinha 2,16 m, gigante que só, e se formou pela Universidade de Miami. Pelo que consegui levantar de seu início de carreira, dá para dizer que não era dos atletas mais empenhados nos treinos. Ainda assim, pelo tamanho e pela habilidade, foi recrutado pelo Milwaukee Bucks na segunda rodada do Draft de 1988, em 39º. Ficou em Milwaukee por dois anos apenas, jogando com Paul Pressey. Em 1993, assinou um contrato de 10 dias com o Bullets. Na Europa, jogou na Itália e na França. Em suas andanças, também jogou no Brasil, no final da década de 90, defendendo Sírio e Suzano. Teve uma filha por aqui, Maíra Fernanda, hoje atleta do São José, da LBF.
Quando se aposentou? Em 2004, pelo San Carlos, da fraca liga dominicana.
Por onde anda? Vive nos Estados Unidos e acompanha mais um filho tentando a sorte no basquete: Jon Horford, ala que se transferiu da Universidade de Michigan para a da Florida e andou aprontando por lá.

Andrew/Mitchell Wiggins

Andrew, uma das maiores promessas da NBA. Pai tem história para contar

Andrew, uma das maiores promessas da NBA. Pai tem história para contar

Sim, ainda está muito cedo para julgar a carreira de Andrew, 20 anos e apenas 66 jogos disputados pelo Timberwolves, como um sucesso. Mas o fato é que, em termos de divulgação/hype/popularidade, o menino já superou o pai. Além do mais, sua primeira temporada na liga dá todos os indícios de que a badalação que recebeu desde os tempos de colegial em Toronto era justificada.

O que o pai fez? Mitchell foi selecionado pelo Indiana Pacers em 23º no Draft de 1983, mas jogou sua primeira temporada pelo Chicago Bulls. Um ala-armador talentoso, foi vice-campeão da NBA pelo Houston Rockets em 1986, derrotado ao lado de Hakeem Olajuwon e Ralph Sampson por um histórico Boston Celtics. Naquele mesmo ano, porém, seria flagrado num exame antidoping, por uso de cocaína. Foi suspenso por dois anos, e só voltou a jogar na liga em 1989, ainda pelo Rockets. Fez sua melhor temporada, com média de 15,5 pontos por jogo, aos 30, até ser novamente suspenso e dispensado. Ainda defendeu o Philadelphia 76ers em 1991-92, com 11 minutos em média em 49 partidas. De todo modo, conseguiu prolongar sua vida de atleta na Europa, ficando um bom tempo na Grécia. Foi mais um a passar pelas Filipinas e ainda defendeu o Limoges, time tradicional francês. Vice-campeão mundial em 1982 pela seleção norte-americana.
Quando se aposentou? Em 2003, jogando em ligas menores dos Estados Unidos.
Por onde anda? Mora no Canadá, casado com a medalhista olímpica Marita Payne-Wiggins.

>> Júri em aberto
Os mais jovens têm boas chances para assumirem o protagonismo em família.

Klay/Mychal Thompson

Mychal vê o filho o progredir a passos largos na NBA. Vai ficar para trás?

Mychal vê o filho o progredir a passos largos na NBA. Vai ficar para trás?

Talvez Klay já tenha invertido a dinâmica, com um status de astro emergente. Mas o fato é que seu pai teve uma carreira muito mais duradoura e expressiva que a de Mitchell Wiggins. Então o ala do Warriors, aquele dos 37 pontos em um só período, ainda fica nessa categoria. Por enquanto.

O que o pai fez? Nativo das Bahamas, Mychal foi o calouro número do Draft de 1978, como um ala-pivô muito forte, de envergadura considerável, saindo da Universidade de Minnesota. Dá para dizer que, nos primeiros anos de carreira, era muito mais badalado que o filho. Seguindo a trágica tradição de pivôs do Portland Trail Blazers, perdeu a segunda temporada pela franquia devido a uma fratura na perna. De qualquer maneira, quando retornou, fez sua melhor temporada em termos estatísticos, com médias de 20,8 pontos, 11,7 rebotes, 4,0 assistências e 1,4 toco, em 1981-82. O Blazers, no entanto, não conseguiu ir tão longe nos playoffs sob sua liderança, nem mesmo quando o grandalhão fez parceria com o jovem Clyde Drexler. Em 1986, foi trocado para o San Antonio Spurs. Um ano depois, seria repassado ao Los Angeles Lakers, numa típica transação que irritaria a NBA até hoje: daquelas em que o clube californiano claramente levava a melhor. Em Los Angeles, chegou para ser bicampeão logo nas duas primeiras campanhas, como um reserva de luxo para Kareem-Abdul Jabbar.
Quando se aposentou? Em 1991, após derrota do Lakers para o Bulls na final.
Por onde anda? Comentarista. Talvez seja a fonte mais consultada pelos jornalistas envolvidos na cobertura do Warriors – especialmente durante os meio que turbulentos dias em que seu filho era especulado como possível moeda de troca por Kevin Love. Mychal fala mais até que Dell Curry.

Ed/Terry Davis

Ed tem mais potencial. Mas vive momento incerto na carreira

Ed tem mais potencial. Mas vive momento incerto na carreira

Um dos maiores enigmas da temporada perdida do Los Angeles Lakers gira em torno dos minutos de Ed. Por que diabos Byron Scott não daria mais tempo de quadra para o pivô de 25 anos? Ainda mais depois da lesão do calouro Julius Randle. Para que gastar oportunidades com Carlos Boozer? E o Robert Sacre (um bom defensor no garrafão, admitamos, mas que não passará de um quinto homem de rotação num time minimamente competente)? Mesmo que não seja mais tão jovem assim, Davis claramente tem potencial a ser explorado. Ficou apenas 23,9 minutos em quadra neste campeonato e foi titular em 24 jogos, com médias de 8,3 pontos, 7,5 rebotes e 1,3 toco. Em uma projeção por 36 minutos, teria 12,5, 11,3 e 2,0, respectivamente. É a temporada mais eficiente de sua carreira, tendo já defendido o Toronto Raptors e o Memphis Grizzlies.

O que o pai fez? Terry não foi draftado ao sair da Universidade de Virginia Union, bem menos expressiva que a UNC – mas a mesma que revelou gente casca grossa como Charles Oakley e Ben Wallace. Com abordagem semelhante em quadra, conseguiu jogar na liga por 10 temporadas, vivendo seus melhores anos pelo Dallas Mavericks de 1991 a 93, beirando um double-double de média. Importante dizer, todavia, que o Mavs era um saco de pancadas nessa época. Desde então, foi basicamente relegado ao banco e nunca foi aos playoffs, seja pelo Washington Bullets ou pelo Denver Nuggets. Ed é um jogador superior, mas, em termos de longevidade, ainda não está garantido – sem encontrar um nicho de mercado, fechou um contrato baixo e de curta duração com o Lakers nesta temporada. Seu agente, Rob Pelinka, é o mesmo de Kobe Bryant.
Quando se aposentou? Em 2001, pelo Nuggets, aos 33.
Por onde anda?  Hm… Não tenho ideia.

Jerami/Harvey Grant

Jerami é mais alto e mais atlético que o pai

Jerami é mais alto e mais atlético que o pai

Jerami foi companheiro de Fabrício Melo em Syracuse e exultava potencial. Na defesa por zona comandada por Jim Boeheim, foi um terror para seus adversários, devido a sua envergadura e agilidade. Na hora de entrar no Draft, viu sua cotação despencar, porém. Supostamente por não ter uma “posição” definida, flutuando entre 3 e 4. O Philadelphia 76ers agradeceu, podendo acolhê-lo na 39ª colocação, oferecendo um contrato de quatro anos, baratíssimo. O ala perdeu as primeiras semanas devido a uma lesão no tornozelo, mas conseguiu seu espaço aos poucos. Aos 20 anos, seu talento é indiscutível, a ponto de o clube não se incomodar em ceder KJ McDaniels ao Houston Rockets. Pode ser dos raros casos que flerte com 2 tocos e roubos de bola por partida.

O que o pai fez? Harvey esteve sempre um degrau abaixo do irmão gêmeo, Horace. Aliás, estamos falando de um verdadeiro clã do basquete. Horace, vocês conhecem dos títulos com o Bulls e da parceria com Shaq em Orlando e Los Angeles, com direito a visita a Franca neste mês. E ainda vem por aí o Jerian Grant, irmão de Jerami que vem fazendo uma grande temporada pela Universidade de Notre Dame e muito provavelmente vai ser escolhido entre os 30 primeiros  do próximo recrutamento. Enfim, voltando a Harvey: ele entrou na liga um ano depois do irmão, em 1988, via Washington Bullets. Ficou na capital americana até 1993, tendo média superior a 18,0 pontos por jogo nos últimos três campeonatos por lá, com bom tiro de média distância e boa presença na tábua ofensiva. Foi mandado para Portland em troca de Kevin Duckworth. Depois, voltou a Washington em 1996, ao lado de Rod Strickland, em negociação envolvendo Rasheed Wallace.
Quando se aposentou? Em 1999, pelo Sixers. Ele chegou a ser trocado ainda com o Orlando Magic, mas nunca disputou um jogo pelo clube da Flórida.

>> Na fila

Dois Paytons em Oregon State

Dois Paytons em Oregon State

Prepare-se, aliás, que pode ter mais: na Universidade de Oregon State, há um armador em seu terceiro ano de estudos que, aos poucos, vem ganhando fama entre os scouts. Ele se chama Gary Payton II., que conseguiu no final de 2014 o primeiro triple-double (10 pontos, 10 assistências e 12 rebotes, fora as seis roubadas) de sua equipe desde… o seu pai, 27 anos atrás. Já podem chamá-lo de Luvinha, por favor. Pouco badalado no início do ano, o rapaz já começa a ser especulado como um possível candidato ao Draft deste ano. Seu pai faz de tudo para a NBA voltar a Seattle – e, enquanto não volta, também não pára de mandar mensagens para os ex-companheiros, em busca de um empreguinho na liga.

Na Universidade de Detroit, temos o ala Juwan Howard Jr., que, segundo consta, não desfruta de muito prestígio com os olheiros, não. Com 1,95 m, pelo menos dez centímetros mais baixo que o pai, joga mais no perímetro e tem média de 17,8 pontos nesta temporada, sua terceira, com aproveitamento de 42,3% nos arremessos de três pontos. O paizão se aposentou há pouco e hoje é assistente do Miami Heat.

Jogando por uma universidade bem mais tradicional, a de Winsconsin, o armador Traevon Jackson é filho do ala Jim Jackson, aquele nômade que defendeu 12 clubes entre 1992 e 2006 e já disputou o coração de Toni Braxton com Jason Kidd quando eram jovens apostas do Mavs. O Jackson filho está afastado das quadras no momento, se recuperando de uma fratura no pé direito – pode ser que nem jogue os mata-matas da NCAA, aliás. O sênior é comentarista de basquete universitário, da conferência Big Ten, ao lado de Kendall Gill e de seu xará Jimmy King, ex-Bad Boy.

A Universidade de Wyoming conta com os serviços de Larry Nance Jr. para fazer uma boa campanha no torneio da NCAA, enfrentando Northern Iowa na primeira rodada, em Seattle. O ala de 2,03 m de altura tem médias de 16,1 pontos, 7,2 rebotes e 2,5 assistências em seu último ano como atleta-estudante. Sonhando com o Draft da NBA, Nance já orgulha a família pelo simples fato de estar competindo em alto nível com sua idade. Aos 22, ele tem de combater no dia-a-dia a Doença de Crohn, que pode resultar, entre tantos efeitos colaterais, a perda de peso, fadiga, ou mesmo artrite. Larry Nance, o pai, jogou por 13 anos na liga, passando os primeiros seis anos e meio em Phoenix, até ser trocado pelo armador Kevin Johnson, mudando-se para Cleveland. Na Conferência Leste, foi vítima constante de Michael Jordan nos playoffs, acompanhado de Mark Price e Brad Daugherty. Foi eleito para três All-Stars, ganhou o torneio de enterradas de 1985 e teve médias de 17,1 pontos, 8,0 rebotes e 2,2 tocos, sendo um ala-pivô extremamente atlético.

*   *   *

Para fechar, então, uma boa musiquinha, né?

O quê? “Pais e Filhos”? Ah, vamos ser um tico mais originais, né? Vamos voltar aos anos 70 com o antigo Cat Stevens, hoje Yusuf Islam:


Por que você pode (quase) gostar da briga pelos playoffs no Leste?
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Giancarlo Giampietro

Enquanto a NBA mantém divisão Leste-Oeste, Pacers e Celtics têm chances

Enquanto a NBA mantém divisão Leste-Oeste, Pacers e Celtics têm chances

Não, esta não é uma tentativa de autoplágio, tá?

É que, desde o momento em que este polêeeemico (coff! coff!) artigo foi publicado, as coisas mudaram bastante. E a não-corrida pelas últimas vagas dos playoffs da Conferência Leste se tornou quase uma corrida de verdade, com a ascensão de alguns times que já estariam mortinhos da Silva no Oeste, mas que, no lado oriental dos EUA, sempre tiveram chances.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Um termo recorrente aqui vai ser o “quase”. Sim, quase dá para gostar do que está acontecendo por lá. Só não dá para curtir de verdade quando você se toca que, enquanto equipes que mais perdem do que ganham sonham com os mata-matas, no Oeste vamos ter pelo menos dois desses caras assistindo tudo de fora: Anthony Davis, Russell Westbrook, Kevin Durant, Serge Ibaka, Dirk Nowitzki, Rajon Rondo, Monta Ellis, ou Tyson Chandler. Isso para não falar de Mitch McGary, Perry Jones, o Terceiro, Luke Babbitt, Alex Ajinça, JJ Barea e do sargento Bernard James.

Muita sacanagem, gente.

Especialmente no caso do Monocelha, que ainda sustenta o maior índice de eficiência da história da liga.

De qualquer forma, aqui estamos. Com o Indiana Pacers, agora em sétimo, tendo uma das melhores campanhas do Leste desde o All-Star Game. Com o Boston Celtics curtindo a segunda maior sequência de vitórias em voga – cinco, atrás apenas das seis do Utah Jazz de Rudy Gobert. Esses dois times (quase) emergentes estão empatados com o Miami Heat, restando 16 partidas para ambos. O atual tetracampeão do Leste vive um sufoco danado para manter a oitava posição. Um pouquinho abaixo, em décimo, com apenas um triunfo a menos, o Charlotte Hornets também vai dizer que tem boas chances nessa. Jesus, até mesmo o Brooklyn Nets ainda acredita.

Assumindo desde já um risco aqui de considerar que o Milwaukee Bucks, mesmo sentindo falta dos chutes de fora de Brandon Knight, ‘está’ classificado. Restariam, então, duas vagas, mesmo. Vamos examinar, então, novamente os candidatos? Por que dá para (quase) gostar deles?

INDIANA PACERS (30-36)

Hill e Vogel: reflexos de uma cultura vencedora

Hill e Vogel: reflexos de uma cultura vencedora


– O que deu errado:
o quinteto vice-campeão do Leste do ano passado jamais poderia ser repetido, uma vez que Lance Stephenson se mandou para Charlotte. E aí o Paul George ainda fraturou a perna. Já era motivo para muita tristeza. Mas Frank Vogel mal podia imaginar que, por conta de mais e mais lesões, nem mesmo o trio George Hill-David West-Roy Hibbert ele poderia escalar por 20 jogos. Muita crueldade.

Como se viraram: Palmas para Frank Vogel, por favor. Mais palmas. Pode até levantar da cadeira. Que o que o técnico fez este ano é de fato admirável. O Pacers ainda marca muito. Desde 1º de fevereiro, tem a segunda defesa mais eficiente, atrás apenas de Utah. A coesão defensiva é e também um testamento da cultura estabelecida pelo treinador nos últimos anos, sempre com a orientação dos senadores Larry Bird e Donnie Walsh. Nunca, jamais subestimem a química, que amplifica o talento em quadra. A ironia é que, devido aos desfalques, Vogel se viu obrigado a buscar diversas soluções, ampliando sua rotação e preservando seus atletas (ninguém passa da casa dos 30 minutos em média). No ataque, Hill vem jogando o melhor basquete de sua carreira, enquanto Rodney Stuckey redescobriu o caminho da cesta, para compensar as diversas noites de aro amassado durante a campanha. Luis Scola também ressuscitou e segue aplicando seus truques para cima dos adversários, mantendo o alto nível no garrafão quando West sai. Viver de Solomon Hill e CJ Miles para pontuar seria impossível.

– Campanha na conferência: 22-18.

Últimos 10 jogos: 7-3.

O que vem por aí: 7 jogos em casa, 9 fora, e adversários com aproveitamento de 51,2% e 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

MIAMI HEAT (30-36)

erderam um tal LeBron James. De modo que a equipe voltaria a ser de Dwyane Wade. Mas as constantes lesões de Wade, mesmo quando ele era apenas o braço direito de LBJ seriam um problema. Foi o que aconteceu. O entra-e-sai do astro, que já perdeu 18 partidas, atrapalha demais, quebrando o ritmo da equipe. Ainda mais depois de Chris Bosh ter sido afastado por conta de uma embolia pulmonar e de Josh McRoberts mal ter feito sua estreia. Contar com jogadores desgastados como Luol Deng, Chris Andersen e Udonis Haslem na rotação também pesa numa reta final de temporada.

Como se viraram: encontraram Hassan Whiteside perdido por aí. E, claro, fecharam uma troca por Goran Dragic. Vai precisar de mais tempo para o esloveno sacar quais as características peculiares de seus companheiros, mas sua visão de jogo, agressividade e categoria compensam demais. Era isso, ou Norris Cole: escolham. Pat Riley deve ganhar todos os elogios devidos por essa negociação, mas também precisa ser louvado pela atenção que tem com sua filial da D-League, recrutando jogadores mais que úteis – e baratos – como Tyler Johnson e Henry (ex-Bill) Walker para encorpar o banco de Erik Spoelstra.

Últimos 10 jogos: 5-5.

– O que vem por aí: 8 jogos em casa, 8 fora, adversários com aproveitamento de 49,6% e só 2 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

BOSTON CELTICS (30-36)

Brad Stevens obviamente saberia como usar os talentos de Thomas

Brad Stevens obviamente saberia como usar os talentos de Thomas


– O que deu errado:
se Indiana e Miami sofreram com lesões, em Boston os desfalques foram “forçados” – pelas constantes trocas de Danny Ainge. Rajon Rondo e Jeff Green, enfim, foram negociados. Brandan Wright, Tayshaun Prince e Jameer Nelson mal chegaram e já foram repassados. Dos que estão fora hoje, só Jared Sullinger foi encaminhado para o departamento médico. Ao todo, Brad Stevens teve 22 jogadores em quadra (mais que quatro quintetos) e 11 titulares diferentes.

– Como se viraram: tal como Vogel, Stevens merece a ovação popular, por ter conseguido manter um senso de unidade e competitividade num elenco itinerante, no qual nenhum jogador parecida estar 100% garantido. Não só isso: soube desenvolver ou aproveitar melhor as diversas peças que recebeu, com um quê de Rick Carlisle nessa. Poderia até ser candidato a técnico do ano em um campeonato mais frágil, mas só vai ganhar, mesmo, menções honrosas em listas lideradas por Steve Kerr e Mike Budenholzer – para não falar de Terry Stotts, sempre subestimado. Está certo que as mudanças não foram sempre para o mal. Isaiah Thomas perdeu os últimos jogos, mas se encaixou perfeitamente num time carente por cestinhas, enquanto Tyler Zeller, contratado em julho, vai surpreendendo como referência na tábua ofensiva. Para não falar de Luigi Datome, o Gigi, já um herói popular em Boston e que mal via a quadra em Detroit.

Campanha na conferência: 18-21.

Últimos 10 jogos: 7-3

– O que vem por aí: 7 jogos em casa, 9 fora, adversários com aproveitamento de 49,8% e 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

CHARLOTTE HORNETS (29-36)

MKG: um dos maiores malas na defesa, né, Wess?

MKG: um dos maiores malas na defesa, né, Wess?

– Os problemas: para um time cheio de carências no ataque, a contratação de Lance Stephenson foi uma tremenda decepção. O ala-armador só contribuiu para uma coisa: deixar o vestiário conturbado. E aí que, para piorar, Al Jefferson perdeu dez partidas e em algumas de suas incursões estava claramente debilitado. Para completar, Kemba Walker passou por uma cirurgia no joelho. Ficava difícil pensar em fazer pontos. Do outro lado, Michael Kidd-Gilchrist fez muita falta por cerca de 20 jogos.

As soluções: Steve Clifford respirou fundo em um início de campanha horroroso e conseguiu colocar as coisas no trilho, contando com uma senhora ajuda da fragilidade de seus adversários. Quando a defesa encaixou – coincidentemente, com o retorno de MKG, um Tony Allen supersize –, Charlotte já não se preocupava mais com a frequência que a bola estava caindo. Até porque essa fase coincidiu com as melhores semanas de Kemba como profissional, até sua lesão acontecer. De qualquer forma, uma troca totalmente subestimada por Maurice Williams acabou se revelando salvadora. O armador veio do Minnesota para cumprir aquilo que faz melhor: esquentar a munheca aqui e ali oupor um curto período de tempo. Tudo de que o Hornets precisava.

Campanha na conferência: 22-17.

– Últimos 10 jogos: 6-4.

O que vem por aí: 7 jogos em casa, 10 fora, adversários com aproveitamento de 50% e 5 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

BROOKLYN NETS (27-38)

Um Thaddeus Young não é o bastane para Brooklyn

Um Thaddeus Young não é o bastane para Brooklyn

– O que deu errado: Um russo bilionário que já teve a ousadia de desafiar Vladmir Putin em uma eleição presidencial ordenou que o time vencesse, e vencesse o título logo de cara? Sim. Seu gerente geral, que já havia se atrapalhado todo com movimentos imediatistas em seu emprego anterior, abraçou a causa? Claro que sim. Para isso, ele torrou escolhas de Draft para contratar estrelas que obviamente já haviam passado de seu auge há um bom tempo? Hmm… SIM! O que será que deu errado, então? Nem sei. Sem contar as constantes trocas de técnico, um ginásio lindo, mas que não pode ser chamado de casa, mais lesões de Brook Lopez etc.

– As soluções: fora Thaddeus Young, a primeira vez na história em que o jogador que eles receberam ser a peça mais jovem numa troca (por Kevin Garnett)? Difícil de achar outra. Ok, talvez o fato de não terem se precipitado ao demitir Lionel Hollins. Nem mesmo o fato de estarem no Leste é tão relevante aqui…

– Campanha na conferência: 11-19.

– Últimos 10 jogos: 4-6.

– O que vem por aí: 11 jogos em casa, 6 fora, adversários com aproveitamento de 52,3%, 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

Se for pensar, Indiana vive o melhor momento, mas pode ser algo frugal, com uma tabela difícil pela frente. Miami simplesmente não pode pensar em perder Wade (e o cabeça-de-vento Whiteside) por dois ou três jogos, enquanto tem o calendário mais fácil entre esses. Boston está no meio do caminho entre eles e é o time que menos depende de um só atleta. Charlotte precisa resolver o que fazer com a dinâmica Kemba/Mo Williams agora, ao passo que vai jogar muito mais como visitante e tem seis jogos back-to-back, no final do campeonato. Já o Brooklyn nem tem um fator casa verdadeiro para se empolgar com as 11 partidas em seu ginásio. Tudo isso para dizer que não tenho ideia do que vai sair dessa disputa.

A única certeza é a de que o Detroit Pistons já está eliminado, podendo Stan Van Gundy se concentrar no que Reggie Jackson não consegue fazer em quadra. De resto, um palpite mais conservador poderia pender para os finalistas da conferência dos últimos dois anos, não? Se os playoffs já começaram para os cinco clubes acima, a experiência do que sobrou de seus núcleos poderia fazer a diferença. Mas eles obviamente estão numa posição tão frágil como a dos demais. De novo: são times que mais perderam do que venceram durante a campanha. Boa sorte apostando em qualquer um deles. Talvez o melhor fosse realmente virar os olhos para o Oeste e aproveitar os últimos jogos do ano para Wess ou Monocelha. Um deles infelizmente vai ficar no quase.


Bauru conquista 2ª taça internacional numa temporada já histórica
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Giancarlo Giampietro

Bauru, Liga das Américas 2015, Rio

O jovem Ricardo Fischer e o experiente Rafael Hettsheimeir repetiram a mesma frase nas entrevistas já celebratórias em quadra: “A gente montou um time para isso: ser campeão”.

Bem, com três decisões disputadas e três títulos na conta depois de uma vitória sobre o Pioneros, do México, pela final da Liga das Américas, parece não haver dúvidas quanto a isso.  Guerrinha tem, de fato, um elenco totalmente estrelado na mão, mas que, ainda assim, precisaria entrar em quadra e confirmar seu favoritismo. Sem problema: neste domingo, o time conquistou seu 28º triunfo consecutivo na temporada.

“Quando montamos esse time, nosso lema para a temporada era: ‘Cabeça nas nuvens, pés no chão’. Estamos conseguindo nossos objetivos, mas temos de continuar trabalhando muito, com humildade e sonhando alto”, afirmou ao SporTV o treinador, que conseguiu um feito inédito: unificar os títulos tanto da LDA e da Liga Sul-Americana, adicionando também o Campeonato Paulista. Estendeu, também, a hegemonia sem precedentes dos clubes brasileiros nas disputas continentais.

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A última vez que Bauru perdeu um jogo foi para Limeira, no dia 3 de dezembro, pelo NBB. De lá para cá, conseguiu 20 vitórias pela competição continental, que se somam aos resultados positivos em toda a sua campanha pela América, o último deles por 86 a 72, contra um adversário realmente encardido.

Não foi uma final fácil para o MVP Alex e o campeão Bauru

Não foi uma final fácil para o MVP Alex e o campeão Bauru

O placar final não conta nada sobre o que foi o confronto. Uma partida tensa, muito tensa – mas bem jogada, sem aquele teatro fora de quadra com o qual já nos acostumamos em quadras brasileiras, de reclamações exageradas. A decisão ao menos não foi atrapalhada por isso, até pela ajuda de uma arbitragem bastante sóbria, que não precisa ficar ensinando nada para ninguém. Foi uma pena, porém, o público diminuto num ginásio tão bonito como o Maracanãzinho.

Aqui, o drama ficava por conta mesmo da imprevisibilidade do confronto, do mistério de não saber o que ia dar de resultado – a vantagem era de apenas três pontos ao final de três quartos, para o time brasileiro, evidentemente mais talentoso, mas que teve bastante trabalho para assegurar o troféu. Poucos atletas adversários teriam lugar em sua rotação. Mas o esporte tem dessas coisas. Coletivamente, as coisas podem se equilibrar.

>> Ricardo Fischer aceita a pressão para liderar o Bauru
>> Hettsheimeir: “Não pensei duas vezes em fechar com o Bauru”

O Pioneros manteve as coisas parelhas novamente usando do expediente de faltas – foram 25 em 40 minutos, nove a mais que os bauruenses. Um estilo bastante físico que não abria muitos espaços – e, quando eles surgiram, era só descer a marreta para frear o lance. Não faz muito meu gosto, mas foi desse jeito que os caras alcançaram a decisão, derrubando o atual campeão Flamengo na semi. Num jogo duro como esse, os jogadores mais experimentados do Bauru foram fundamentais.

Hettsheimeir: 30 pontos em tiros de fora e trombadas na decisão

Hettsheimeir: 30 pontos em tiros de fora e trombadas na decisão

Alex levou o MVP com justiça, pelo conjunto da obra no Final Four, acumulando dessa vez 16 pontos, 8 assistências e 5 rebotes na final, com 6-14 nos arremessos, em 33 minutos. Mais importante que isso foi sua ainda impressionante capacidade para brecar os oponentes. O ala-armador marcou feito o garoto revelado pelo Ribeirão Preto. Prova que, para executar uma boa defesa individual, a força física pode até ajudar, mas o que conta, mesmo, é a vontade e a cabeça. Saber como se posicionar e incomodar.

Do outro lado da quadra, Rafael Hettsheimeir estava numa jornada de pura inspiração nos arremessos. Marcou 30 pontos em 38 minutos, convertendo 8-12 nos arremessos de quadra (5-8 de três pontos…) e 9-10 nos lances livres. Deu para ver que, quando o pivô pega confiança, a mecânica sai de modo bastante consistente, o arco é perfeito, e a bola cai de chuá. Ritmo, ritmo e ritmo. Não nos esqueçamos que, na temporada, até a final, o pivô havia convertido 36,3% pela Liga das Américas, enquanto, pelo NBB, tem matado 40,2%.

Na disputa pelos rebotes, completamente dominada pelos brasileiros (41 a 26, com 15 importantíssimos na tábua ofensiva), Rafael contou com uma ajuda inestimável de Murilo Becker, que conseguiu um duplo-duplo de 17 pontos e 11 rebotes em 29 minutos. O pivô pode ainda não ter recuperado sua mobilidade característica depois da última cirurgia, mas mas comprou a briga, respondendo ao jogo de contato de Justin Keenan & cia.

Murilo foi lá embaixo brigar

Murilo foi lá embaixo brigar

Se for fazer as contas, vamos ver que o trio foi responsável por 63 dos 86 pontos do Bauru, ou mais de 73%. Contra uma defesa forte e bem postada, o clube paulista não conseguiu tantos arremessos livres, terminando o jogo com 48% nos chutes em geral e 35% de longa distância – a dificuldade maior foi contra a marcação em zona, algo de certa forma surpreendente. Mas soube movimentar a bola mesmo assim, dando assistências em 24 de suas 30 cestas de quadra, um aproveitamento elevadíssimo. Ainda mais se for levar em conta que só cometeu dez turnovers – cinco deles com Ricardo Fischer, que vai ganhando os calos necessários para virar um grande armador.

Pensando em seleção, não vejo como chamar Larry Taylor neste ano e pensar em deixar o rapaz de lado. Vamos ver. Fischer terminou o jogo com oito pontos e nove assistências, algumas delas com passes bastante criativos, de muita visão. Na defesa, também fez um belo papel no quarto final. Já Larry  parece ter perdido muito de sua explosão, de seu arranque, tendo dificuldade para finalizar lá dentro (1-5 nos chutes de dois pontos), acompanhando sua já sabida deficiência nos tiros de fora (1-4).

Fischer e seus companheiros querem mais.  “A gente quer sempre mais, não pode ficar satisfeito para isso. O time foi montado para isso: chegar a todas as finais e ser campeão”, disse Fischer ao repórter Edgar Alencar, do SporTV.  “A gente montou um time para isso: ser campeão”, repetiu Hettsheimeir. “Agora é pensar no NBB e vamos tentar levantar esse também.”

A temporada vai avançando, e vai ficando cada vez mais difícil de pensar num desfecho diferente.