Vinte Um

Arquivo : Sergio Rodriguez

Seleção se recupera ao bater a Espanha. Nem céu, nem inferno
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Giancarlo Giampietro

Huertas foi para a galera, após tapinha salvador de Marquinhos

Huertas foi para a galera, após tapinha salvador de Marquinhos

Dois jogos, duas partidas dramáticas. A seleção brasileira vai nos assegurando que aquele script de que o Grupo B do torneio olímpico seria teste para cardíaaaaaaaco, Galvão. Depois do bumba-meu-boi que foi a estreia e a derrota contra a Lituânia, agora foi necessário um tapinha de Marquinhos para chegar ao primeiro triunfo, contra a Espanha. Por aí vamos até a quinta e última rodada, galera. Não tem jeito.

Mas… Espere um pouco, só. Estamos falando de Lituânia e Espanha, certo? Um aproveitamento de 50% nessas duas partidas, tendo a chance de sair com duas vitórias e duas derrotas, parece bastante razoável. Se for para a pagar aquele primeiro tempo desastroso de domingo, temos um time extremamente competitivo, que limitou os dois finalistas do último EuroBasket a parciais de, pela ordem: 12, 12, 13, 18, 14 e 20 pontos. Nada mal: a defesa está funcionando, de um modo geral.

O que não quer dizer que está tudo perfeito. Assim como a derrota para a Lituânia não era o fim do mundo, a vitória dramática sobre a Espanha, decidida realmente por múltiplos detalhes na penúltima posse de bola, não significa que o Brasil está prontinho da Silva para ir ao pódio. Tem muito chão pela frente. Magnano disse que o time estava ferido, mas não morto após o primeiro tempo estarrecedor da estreia. E certamente vai dar um jeito de passar a mensagem ao seu grupo de que ninguém ali é medalhista olímpico ainda por ter batido uma Espanha muito mais vulnerável que poderíamos supor. Uma chave dura dessas não permite extremismos, montanha russa.

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Levando isso em conta, algumas coisas para ruminarmos antes da terceira rodada, contra a Croácia, na quinta-feira:

– A questão Hettsheimeir: se as redes sociais servem como termômetro, dá para notar uma insatisfação com o desempenho de Rafael Hettsheimeir até o momento. Compreensível: é muito pouco provável que o próprio pivô esteja contente com o que (não) vem produzindo. já que, em duas partidas e 17 minutos de ação, ele conseguiu acertar apenas um arremesso de quadra em quatro tentativas, mal teve chance de disparar de longa distância – apenas uma bola de três que saiu de suas mãos. Também só pegou um rebote e cometeu seis faltas. É um rendimento fraco, que fica ainda mais alarmante quando vemos que, somados os duelos com Lituânia e Espanha, a seleção teve um saldo de -20 pontos quando ele esteve em quadra, com direito a -12 contra os Espanhóis.

É preciso entender o que está por trás desses números temerosos, porém. Hettsheimeir se desenvolveu em um jogador de características únicas desde que saiu do Zaragoza, da Espanha. Adicionou o arremesso de fora ao seu repertório, mas isso não faz dele necessariamente o ala-pivô aberto ideal, tão em voga hoje. No ataque, se tiver espaço para ativar sua mecânica, é certo que ele pode cumprir esse papel. O problema está do outro lado, na defesa. Não dá para colocar o pivô de Bauru para perseguir caras como Nikola Mirotic e Victor Claver no perímetro, ou mesmo um cara menos leve como Paulius Jankunas. Hettsheimeir não tem mobilidade lateral, nem cacoete para isso – e não só isso: a questão da falta de rapidez para completar as rotações também, se a bola girar bastante. Devido ao seu porte físico, ele teria mais chances de encarar pivôs mais pesados próximos da cesta. Acontece que, para esse papel, Magnano conta com Nenê e, como vemos, Felício, aparentemente oficializado como o reserva imediato de Maybyner Hilário.

A amostra é pequena, mas acho que já deu para perceber que Rafael não pode jogar com esses dois, devido a essa questão defensiva. Seu parceiro ideal seria Augusto Lima, que pode perseguir atletas mais ágeis na marcação e atacar a tábua ofensiva com voracidade. Não custa lembrar que a dupla funcionou muito bem na conquista do ouro pan-americano no ano passado. Ok, era apenas o Pan. Ainda assim, do ponto de vista de tática e química, a combinação funcionou. As habilidades dos dois casam muito bem, obrigado. Rafael até mesmo espaçava a quadra para o pick-and-roll com Augusto mergulhando fundo no garrafão. Enfim, feito o registro, se Magnano está convicto, mesmo, de que Nenê ou Felício precisam ficar em quadra por boa parte do tempo, aí os minutos de Hettsheimeir devem ficar bem limitados, mesmo, ainda mais depois da boa participação de Guilherme Giovannoni nesta terça.

Produtivo demais no NBB, questionado por muitos, o veterano ainda pode ser útil ao time nacional em situações específicas, devido ao seu arremesso exterior – que é mais testado que o de Rafael em jogos de alto nível pela seleção. Só precisaria se observar também quem é o oponente da vez. Com atletas mais leves como Mirotic e Claver do outro lado, ele não teria problema para jogar, mesmo. Não por acaso, seu saldo de pontos contra os espanhóis foi de +12, inversamente proporcional ao de Hettsheimeir.

Giovannoni pode ganhar espaço nessa

Giovannoni pode ganhar espaço nessa

– Um pouco de tudo: Nenê saiu de quadra com 6 pontos, 4 rebotes e apenas uma cesta de quadra em cinco tentativas em 21 minutos. O brasileiro que ainda se dignifique a criticar o são-carlense naquela linha oscar-schmidtiana de apátrida, desertor poderia se apegar a esta linha estatística paupérrima e esculhambá-lo. Não estaria mais equivocado. O pivô pode não ter a mesma explosão física de seu auge, mas ainda consegue fazer a diferença em um jogo de basquete com suas múltiplas facetas. Contra os espanhóis, ele terminou também com cinco assistências registradas, incluindo um lance incrível em que cruzou a quadra toda e deu um passe para enterrada de Marquinhos que seria complicado até mesmo para Huertas e Raul, freando em meio ao tráfego, sem perder a graça em seu movimento. É um cara especial, gente, que influencia uma partida de modo que nem sempre

Mas ele merece mais aplausos por mais um esforço defensivo que deve pegar muito bem com Magnano. Depois de algumas trombadas e hematomas pelo choque com Jonas Valanciunas pela estreia, o pivô se via obrigado a lidar com uma lenda viva como Pau Gasol. Pois o craque espanhol não foi nada eficiente nesta segunda rodada, mesmo que tenha chegado a um double-double de 13 pontos e 10 rebotes em 32 minutos. Quando Gasol não alcança a marca nem de 13 pontos, e a seleção espanhola ao mesmo tempo converteu apenas 5-19 arremessos de três, você tem uma vitória tática. Da sua parte, o pivô acertou apenas 4 de 11 tentativas de quadra e foi empurrado para fora do garrafão por Nenê, sem precisar de ajuda. Quando Felício era o responsável, algumas dobras providenciais foram realizadas para . Dessa vez, para completar, seu tiro de média distância não funcionou também.

Deve ser por isso que Magnano tem exigido demais de seu pivô titular.

Nenê, com o modo armador ligado

Nenê, com o modo armador ligado

– Augusto Lima é uma fera: quase que o primeiro double-double brasileiro no #Rio2016 veio com o famoso Gutão (9 pontos e 10 rebotes). Ou nem tão famoso assim. O pivô do Zalgiris Kaunas, cedido por empréstimo pelo Real Madrid, teve seus momentos de fama – digo em relação ao público menos ligado no basquete europeu, claro – no ano passado, durante a campanha brilhante rumo ao ouro do Pan de Toronto. Quando ele foi contratado pelo Real Madrid, isso também chama a atenção por razões óbvias merengues.

Agora, numa Olimpíada, acho que está claro para todo mundo que estamos falando de um grandalhão de elite. Não importa que o Real, com um elenco abarrotado, totalmente gastão e esnobe, não o tenha aproveitado tanto assim e que agora o empreste, preferindo contratar os americanos Othello Hunter e Anthony Randolph. Não importa que ele não esteja na NBA, que não tenha sido Draftado. Já temos três anos de evidências que sustentam que o carioca é um jogador de ponta para o basquete Fiba, no mínimo. Por isso, tendo um cara desses disponível e também o valioso Cristiano Felício na lista de espera, não era o caso de se assustar com o desfalque de última hora de Anderson Varejão. Você poderia até se sensibilizar pelo veterano, mas não era motivo para pânico. Até porque, em muitos sentidos, Augusto foi moldado à sua maneira, como um pivô extremamente veloz e ágil, além de atlético e raçudo. Não existe bola perdida para o cara. Contra os espanhóis, velhos conhecidos, apanhou quatro ofensivos em pouco menos de 28 anos. Na meia quadra, se mexe muito bem lateralmente e deve ganhar minutos seguros ao lado de Nenê e, ao que parece, Felício, para marcar jogadores mais velozes no perímetro. Mesmo que ele não ofereça arremesso ao time, se mexe tanto pelo ataque, que acaba ajudando a destravar as coisas. Já que Nenê hoje também age ainda melhor com a partir da cabeça do garrafão, a combinação com o jovem pivô fica melhor ainda.

Augusto, enérgico

Augusto, enérgico

– Foi de três? De qualquer forma, a seleção brasileira ainda não se acertou quando o assunto é o chute de longa distância. Nessas duas partidas, acertou apenas seis tiros de fora, com aproveitamento péssimo de 20,7%. Qualquer scout ou treinador vai tomar nota disso, e podem esperar mais e mais defesas por zona contra os donos da casa no futuro, tal como a Espanha fez nesta terça, com muito sucesso, no segundo período e no quarto. Vem daí a inclusão de Hettsheimeir e Giovannoni na lista final. O time, porém, não pode depender dos dois pivôs para tentar escancarar as defesas. A turma do perímetro precisa entrar em ação. Leandrinho errou todas as suas sete bolas até aqui. Alex também está zerado em três. Marquinhos matou apenas uma em seis. Benite, uma em duas. Raulzinho tem duas em cinco. Huertas acertou a sua, mas não é grande chutador. Com a pressão dos arremessos de três, a vida de Huertas e Raulzinho e seus parceiros grandalhões ficaria mais fácil para o pick-and-roll e outras tramas. Se há algum ponto positivo aqui, é o fato de que a seleção só tentou 29 arremessos em duas partidas, em vez de forçar a barra. Hoje em dia, isso é bem pouco.

– Gracias, professor: o técnico Sergio Scariolo que se prepare. Seu título mundial pela Espanha já tem dez anos de história, e, ao topar voltar ao comando da equipe, sabia que estaria sujeito a críticas. E elas vão chegar. Na derrota para a Croácia, insistiu com Victor Claver no perímetro mesmo que o cara tenha sido um completo desastre exercendo essa função em sua breve passagem pela NBA. Quando retornou ao Lokomotiv Kuban, da Rússia, nesta temporada, voltou a cativar os scouts jogando basicamente como um ala-pivô flexível, usando sua velocidade e leveza para atacar o aro. Contra os Brasileiros, esse equívoco foi corrigido, com o camisa 10 jogando da forma como mais gosta.

Dessa vez, o que merece questionamento são os minutos dedicados a Ricky Rubio. Se ele tem quatro armadores de qualidade excepcional em seu elenco, é para usá-los com liberdade e autonomia. Taí o José Calderón amargando a reserva, e paciência. Analisando a a derrota brasileira contra a Lituânia, estava evidente que uma das principais deficiências da equipe de Magnano seria a defesa no pick-and-roll, com Mantas Kalnietis fazendo estragos. Rubio pode ser excelente em diversos quesitos (passe e defesa, principalmente), mas todo mundo sabe que ele não representa ameaça nenhuma com a bola em mãos. Você pode pagar para ver seu arremesso o quanto quiser. Em 16 minutos, teve saldo negativo de 6 pontos. Ele tentou apenas três arremessos e converteu um e mais um lance livre, para somar 3 pontos. Não deu nenhuma assistência, porque o Brasil não se importava em lhe dar espaço e tirar a linha de passe. Marcelinho Huertas, então, ficou todo solto para ser uma força criativa para a seleção, com 11 pontos, 7 assistências e nenhum turnover, em 30 minutos.

Se tivesse mantido Sergio Rodríguez mais tempo, quiçá o desfecho fosse outro. O Señor Barba é muito mais agressivo que o titular da posição e causou problemas no segundo tempo, para ajudar na reação espanhola. Bateu para dentro, chacoalhou a defesa brasileira e somou 10 pontos e 5 assistências em 22 minutos, com 50% nos arremessos.  Também não é coincidência que tenha terminado com o melhor saldo entre os espanhóis, com +9 – ninguém nem chegou perto disso… Claver foi o segundo com +3.

Scariolo tem um elenco muito talentoso em mãos. Mas parece não ter o controle sobre essas peças. Uma dúvida que me intriga: por que o técnico simplesmente não usa o quinteto Rodríguez-Llull-Fernández-Mirotic-Reyes? Esses caras jogaram um tempão pelo Real Madrid, e essa base foi uma das mais vitoriosas do continente. Nos minutos que for descansar Scariolo, o técnico deveria simplesmente tentar transformar a seleção numa filial do Real, empregando seu ritmo de jogo mais acelerado. Não vem acontecendo.

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Dez previsões nada ousadas para o Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

Boogie Cousins, Team USA

Quando jornalista se mete a dar palpite, está arrumando confusão. Pode ser sobre um confronto Japão x Filipinas pelos Jogos Asiáticos Universitários. Você falou, escreveu, quis cravar? Imediatamente fica sob o risco de queimar a língua. Ou o dedão da mão direita.

A gente tem essa mania de se meter a sabichão, né? De querer se antecipar a quaisquer grupo de deuses que estejam vagando por aí e provar por A + B que sua lógica está infalível no momento. Dois, três dias depois? É bastante provável que vá dar tudo errado. Ainda mais num torneio olímpico cheio de equilíbrio.

Isso tudo não significa que esse tipo de exercício seja pura bobagem. Não estou aqui para pagar de mais sabichão ainda, esnobe, acima das vontades mudanas esportivas. É esporte só. Que, em diversos casos e eventos, obviamente ganha proporções gigantescas pela quantidade de dinheiro que move e por suas implicações político-culturais. Ainda assim, no final das contas, é só esporte. Que envolve paixão (por vezes em intensidade descabida), mas não deveria ser levado tão a sério. Então qual o problema de ficar palpitando? Tem um monte de gente por aí que anda emburrada pacas, querendo reclamar a toda hora. Mas há quem se divirta demais em comparar resultados e discutir depois, numa boa.

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Então o que este blogueiro vai fazer?

Dar alguns palpites, mas sem cravar resultados, para além do ouro olímpico para os Estados Unidos, que isso é coisa para bolão. Não tem nada muito ousado aqui, claro. Alguns dos itens abaixo têm o mesmo valor que dizer que a “Dinamarcá terá um bom goleiro” ou que “os quenianos vão dominar o pódio da maratona”. Coisa de bidu, mesmo. Podem bater:

O Rio 2016 será o Torneio de Boogie Cousins. Kevin Durant é mais jogador. Carmelo Anthony é outro cestinha perfeito para o mundo Fiba. Kyrie Irving vai ter mais oportunidades de arremesso. Mas podem se preparar para uma exibição, digamos, hulkiana do intempestivo DeMarcus. O pivô está enxuto como nunca, ganhando agilidade sem perder sua força física descomunal, prontinho para esmagar seus adversários, tal como o dito “Gigante Esmeralda” nos quadrinhos. Para quem tem desperdiçado alguns bons anos produtivos nos confins de Sacramento, jogar com o Team USA no Rio de Janeiro serve quase como uma experiência terapêutica. Quiçá, o contato com a elite da modalidade pela segunda competição internacional seguida também não motive Boogie a aceitar aquele procedimento básico que se chama amadurecimento. Com a cabeça no lugar, tem tudo para fazer paçoca da concorrência.

hulk-smash-esmaga

– O Grupo B vai ser um tiroteio. Sinceramente, qualquer pessoa pode se gabar aqui e dizer que tem certeza que a Espanha será a primeira colocada dessa chave, seguida por Lituânia, Brasil e Argentina. Tudo bem, pode ir em frente com essa. Mas a real é que ninguém, com o juízo em dia, sabe realmente qual será o desenrolar destas partidas. No meu entender, pelo menos, até a Nigéria tem chances, mesmo que correndo por fora. Isso sem nem levar em conta o que aconteceu nos amistosos. Vai ser uma disputa duríssima, com a seleção brasileira metida no meio. Haaaaaaaja coração. (Agora, pode muito bem que a Espanha não tome conhecimento de ninguém, vença todos e que a Nigéria apanhe – e, no final, restariam três vagas para quatro seleções. Ainda assim seria dramático.)

– Vamos ter um top 10 só com DeMar DeRozan. O ala do Raptors é outra figura de segundo escalão que pode aproveitar a experiência olímpica para expandir sua marca globalmente, como diria o agente de LeBron. Embora já eleito duas vezes para o All-Star Game, não dá para dizer que o jogador desfrute de tanto prestígio assim em todas as cidades da liga que não estejam em território canadense. Então lá vai essa maravilha atlética aproveitar os inúmeros contra-ataques em garbage time que a seleção norte-americana vai ter, para saltar em 720º, se desvencilhar de oito braços compridos chineses no ar e dar suas cravadas. Paul George, Kevin Durant, Jimmy Butler, Harrison Barnes e, principalmente, DeAndre Jordan podem ser todos ignorantes no ataque ao aro. Mas nenhum deles tem a plasticidade de DeRozan em seus movimentos. Ele será o Capitão Vine da Olimpíada, ganhando até de Usain Bolt.



– Nenê não será vaiado. O bom senso, afinal, ainda pode prevalecer. Quatro anos atrás, o pivô foi vaiado de modo deprimente pelo público presente na Arena HSBC, quando a NBA trouxe um amistoso de pré-temporada pela primeira vez ao Brasil. Maybyner Hilário agora retorna ao Rio de Janeiro com um papel importantíssimo pela seleção brasileira, liderando um garrafão 40% renovado após as baixas de Splitter e Varejão. Se for para buzinar no ouvido de alguém, é só procurar as figuras de Gerasime Bozikis e Carlos Nunes pelo ginásio. Eles certamente estarão presentes, em lugares privilegiados.

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– A Venezuela vai encrespar com França e/ou Sérvia. Eles têm talento para bater de frente com essas seleções europeias? Não. A França foi campeã europeia em 2013, bronze pela Copa do Mundo em 2015 e bronze novamente pelo EuroBasket do ano passado. A Sérvia chegou ao segundo lugar no Mundial. Mas este time aguerrido de Néstor “Che” García parece destinado a aprontar, a fazer mais do que se esperava deles. A classificação olímpica já foi uma façanha, deixando a badalada e numerosa geração canadense pelo caminho (o Canadá está para o mundo Fiba hoje assim como a Bélgica, para o futebol). Mas por que eles se contentariam com isso? Seus armadores são manhosos e o time passou a defender muito bem com Che. Pode ser que consigam cozinhar a partida contra equipes muito mais expressivas.

Venezuela, Nestor Garcia, Copa América, Fiba Américas

– É melhor não se meter em um jogo parelho com a Argentina. Por falar em jogo apertado, eu não gostaria de ter defender contra uma equipe que vá colocar em quadra Manu Ginóbili e Luis Scola ao mesmo tempo numa última posse de bola. É muito talento e respeito em quadra. Cojones e muito mais, claro. Aqui tem a máxima que a mídia americana costuma usar para a NBA, com a qual concordo: é muito provável que o time com os dois, três melhores jogadores em quadra saia vencedor de uma partida. Em 2016, talvez a dupla argentina já não consiga mais ser superior por 40 minutos. Mas, num ataque final, valendo o jogo, com tudo o que eles já experimentaram de sucesso em suas carreiras? Eu gelaria.

Nando De Colo vai fazer muita gente se perguntar por que diabos ele não quis nem negociar direito com as equipes da NBA. É, o francês está jogando muito. O cara tem os números de Euroliga para exibir por aí e também um jogo vistoso demais, que deve ser ainda mais bacana ao vivo. Ele joga em seu próprio ritmo. O mais legal: geralmente consegue chegar aonde quer para finalizar. É nisso que dá sua combinação de drible, altura e fome de bola.

Huertas, Rodríguez e Tedosic vão dar passes para confundir até mesmo seus companheiros. É a turma do sexto sentido. Mais três jogadores que não são os mais explosivos em quadra, mas têm tanta habilidade, coordenação e visão de quadra, que fazem o jogo ficar muito mais rápido e imprevisível. As defesas muitas vezes podem achar que os têm controlados, e aí de repente sai aquele passe (quase) sem olhar para o pivô livre debaixo da tabela. É bom que Augusto Lima, Felipe Reyes, Milan Macvan & Cia. estejam espertos. Posso dizer: é meu tipo de lance favorito.

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Matthew Dellavedova vai irritar alguém – ou muita gente, mesmo. Ele sempre arruma uma em quadra, não? Se acontece nos playoffs esvaziados da Conferência Leste, com o Cavs passando por cima de tudo mundo, por que não iria ocorrer em uma Olimpíada, com os ânimos muito mais esquentados? Pior: Delly tem uma baita cobertura. É só olhar o tamanho dos pivôs australianos para compreender uma eventual super-agressividade do armador. Com Andrew Bogut retornando, fazendo uso nada econômico das cotoveladas, é chance quase zero que os Boomers não se metam em pelo menos uma confusão em jogos pelo Grupo A.

– Alguém vai dizer que lance livre ganha jogo. Mas talvez não digam que um rebote, um toco, uma assistência e um arremesso contestado de média distância o façam.

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Guia olímpico 21: a Espanha de Gasol quer mais medalhas
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira, iniciamos uma série sobre as equipes do torneio masculino das Olimpíadas do #Rio2016:

O MVP histórico do último EuroBasket

O MVP histórico do último EuroBasket

O grupo
Em termos de desfalques, podemos considerar apenas um, mesmo, para a Espanha. Mas é dos grandes: Marc Gasol, que não se recuperou inteiramente de uma fratura no pé sofrida em fevereiro. Pudera: é o tipo de lesão que deu um trabalho danado para Kevin Durant, por exemplo. No caso de Marc, estamos falando de um cara de 2,16m de altura, pesadão, e de 31 anos. Todo cuidado é pouco. Agora, se for para perder um Gasol, com todo respeito ao astro, melhor que seja o atleta do Memphis Grizzlies, mesmo, em vez de seu irmão mais velho, que é simplesmente um dos 10, 20 maiores jogadores da história das competições Fiba.

De resto, Serbe Ibaka é outro nome constantemente discutido, mas sua ausência na lista final de Sergio Scariolo não se deve a veto do Orlando Magic, contusão, nem nada obscuro assim. Foi simplesmente uma opção do treinador por Nikola Mirotic, já que qualquer seleção só pode recrutar um naturalizado por vez. A base espanhola segue produzindo uma infinidade de jogadores talentosos, mas a federação local ainda acha por bem apelar a esse expediente. Então Scariolo foi de Mirotic, uma opção bastante razoável, e não pelo fato de ‘Niko’ já ter defendido o país em competições de base.

O montenegrino tem algumas vantagens, como o maior entrosamento com Gasol, depois de tê-lo acompanhado em Chicago nas últimas duas temporadas e a melhor relação com seus companheiros. Não se esqueçam que Ibaka saiu de Londres 2012 reclamando de seus minutos e oportunidades com a equipe. Devia pensar: “Já não basta o KD e o Wess dominarem a bola em OKC, agora também sou ignorado pela seleção que nem era para ser minha!? Hmpf, que chato”. Então para que procurar esse problema novamente, quando você tem uma alternativa de alto nível?

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Restam dois cortes ainda para Scariolo fazer. Imagino que sairão dois entre José Calderón, Pau Ribas, Alejandro Abrines e Fernando San Emeterio. Calderón ainda é um grande arremessador, tem as mãos seguras no ataque, mas encara disputa duríssima com os Sergios Rodríguez e Llull, protagonistas do time, além de Ricky Rubio, que tem muito mais impacto na defesa. Ribas e Abrines são concorrentes diretos – o certo seria botar Juan Carlos Navarro também nesse grupo, mas fica difícil de mexer com alguém dessa estatura. Abrines levaria vantagem pelo fato de ser um pilar para a eventual reconstrução da seleção, além de chutar demais e ser mais alto e atlético do que um aguerrido Ribas. San Emeterio sempre correu por fora nessa geração, e sua presença depende muito do estado físico de Rudy Fernández. Talvez fosse prudente incluí-lo na lista, por precaução.

Os dez que estariam garantidos: Rodríguez, Llull, Rubio, Navarro, Fernández, Victor Claver, Mirotic, Reyes, Gasol e Willy Hernangómez.

O jovem ala-pivô Juancho Hernangómez, irmão mais novo de Willy, poderia muito bem estar nessa discussão, mas foi selecionado pelo Denver Nuggets no último Draft e está naquele momento de sua carreira fica num suspense que só. Talvez pudesse enfrentar Claver e garantir uma vaga olímpica, mas tudo tem seu tempo. A gente vai ouvir muito sobre ele nos próximos anos.

Rodagem
Já se passaram dez anos da conquista do Mundial pela Espanha. Em dez anos, muita coisa deveria mudar.  Comparar o elenco atual com aquele celebrado no Japão, porém, faz a gente repensar essa tese. Não só Pau Gasol segue como um dos melhores jogadores do mundo, o que por si só impressiona bastante. Além do pivô, Scariolo pode contar com outros cinco atletas que o acompanharam naquela conquista histórica: Rodríguez, Calderón, Navarro, Fernández e Reyes. Considerando que o desfalque de Marc Gasol é apenas uma questão de azar, os espanhóis poderiam ter até  mais de 50% de sua equipe repetida. Podemos falar em falta de renovação, ou que esses atletas simplesmente deram um jeito de se manterem relevantes por tanto tempo. No caso de Rodríguez e Fernández, eles eram ainda bastante jovens naquela ocasião. Agora estão no auge. Temos aqui, então, um grupo bastante experiente e entrosado também.

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Muitos ainda estão por aí

Para acreditar
Recentemente contratado pelo Spurs, aos 36 anos, Pau Gasol ainda é um dos jogadores mais temidos do #Rio2016. Os franceses se recordam bem do que o pivô lhes aprontou pela semifinal do último EuroBasket, com uma exibição verdadeiramente seminal. Buscando vingança após a derrota em casa pela Copa do Mundo de 2014, o gigante fez um campeonato espetacular para ser eleito o MVP, sem que ninguém lhe conseguisse parar: teve médias de 25,6 pontos, 8,8 rebotes e 2,9 assistências, além de absurdos 56% nos arremessos de dois pontos, 67% de três e 81% nos lances livres. Recomendo ler em voz alta todos esses números pelo menos uma vez para ver se a cabeça os processa de maneira adequada.

Guia olímpico 21
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>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?

O legendário espanhol manteve o ritmo durante a extensa temporada da NBA e disputou 72 partidas pelo Bulls, com média de 31,2 minutos. O importante aqui é constatar sua durabilidade, ao contrário de campanhas passadas em que se apresentou ao time nacional com mobilidade limitada. Quando está solto em quadra, vira um pesadelo no basquete Fiba, pelo fato de a linha de três pontos ser mais curta. Você em de marcá-lo muito longe da cesta, e ele ainda tem fundamento e passada larga para bater grandalhões com o drible. Sem contar o inúmero repertório de giros, fintas, ganchos e arremessos de média para curta distância.

A ausência de seu irmão, nesse sentido, pode até ser benéfica. Pelo menos no ataque. Por mais que saiba perfeitamente jogar em high-low, como faz há anos com Zach Randolph em Memphis, Marc deixaria a quadra com menos espaço para Pau entrar em ação. A mesma atenção que os adversários vão prestar para contestar Mirotic não seria a mesma com o grandalhão. Além do mais, vindo do banco, a dupla Reyes-Hernangómez ainda pode dar conta do recado.

Mirotic muda as coisas o ataque para a Espanha

Mirotic muda as coisas o ataque para a Espanha

Para servir aos pivôs, a seleção espanhola também conta com o melhor conjunto de armadores das Olimpíadas, independentemente da presença de Calderón, ou não. Os Sergios dominaram o basquete espanhol e europeu, de certa forma, nos últimos três, quatro anos, fazendo dupla pelo Real Madrid. Ao lado de Rubio, podem formar um trio invejável, que dão muito manejo de bola, visão de jogo, intensidade e põem pressão defensiva. Se por acaso tivermos uma terceira final seguida entre Estados Unidos e Espanha, para os europeus sonharem com um ouro, esses baixinhos terão de se impor não só contra Kyrie Irving e Kyle Kowry, mas principalmente enfrentar o abafa dos norte-americanos, reduzir turnovers e tentar fazer um jogo controlado para que eventualmente Gasol faça a diferença.

Contra defesas menos agressivas, os armadores podem fazer a Espanha jogar muito bem em velocidade, característica que ajudaria muito Fernández e Mirotic, emulando o Real Madrid de Pablo Laso.

Questões
Marc Gasol vai fazer muita falta do ponto de vista da marcação. Ele pode ser lento, indo na contramão do que temos cada vez mais visto pelo basquete mundo afora, mas é um desses gigantes extremamente inteligentes que se fazem notar quando posicionados ao centro de uma defesa, fechando muito bem espaços e também contestando qualquer jogador que se aventure em jogar de costas para cesta sob sua observação. Ainda assim, para a Espanha ir longe, sem sustos, o último EuroBasket mostrou que Pau Gasol precisa estar em quadra por cerca de 30 minutos. Em 2016, creio realmente ser difícil unir os irmãos em quadra. Não é o pior dos mundos, então.

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Um ponto a ser lamentado é justamente essa dependência do pivô. Em tese, a seleção espanhola tem elenco para se virar também sem o astro. Mas os dois Sergios precisam jogar como se estivessem com a camisa do Real Madrid, dominando o jogo com seu imenso pacote de habilidades, coisa que não aconteceu no último europeu – e que foi ainda pior durante o Mundial em casa. É só dar uma espiada no aproveitamento de longa distância de ambos. Chutam com muito mais eficiência por seu clube do que pela seleção. Neste caso, a familiaridade com sistemas e companheiros não deveria ser uma desculpa: afinal, há momentos em que podem montar um quinteto todo merengue em quadra, acompanhados por Fernández, Reyes e… Mirotic (sim, ele é do Chicago hoje, mas jogou muito mais tempo com esses caras do que com Taj Gibson e Jimmy Butler). Para não falar de Willy Hernangómez, que só ficou com esse núcleo uma temporada e agora está indo para Nova York. Aliás, que Scariolo não use desse expediente mais vezes é algo um tanto curioso.

A última preocupação é a disputa nas duas tábuas. Gasol, Reyes e Hernangómez são ótimos reboteiros, mas o restante do quinteto tem tamanho diminuto, especialmente nas alas. Já não há mais esperanças de que Victor Claver possa se tornar esse lateral de grande estatura que o país procura há anos – tipo o Brasil, enquanto Lucas Dias e Bruno Caboclo não chegam lá. Equipes como França, Sérvia e Lituânia podem dar trabalho nesse sentido, com um perímetro de maior estatura.

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Copa Intercontinental: aquele árbitro, Hettsheimeir, Mineiro e o que mais?
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Giancarlo Giampietro

Passada a ressaca de segunda-feira após quatro dias seguidos de jornada dobrada e visita ao Ginásio do Ibirapuera, vamos lá fazer uso do caderninho de anotações e da repercussão que tem o torneio na Espanha.

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Reynaldo Mercedes está de novo no centro das atenções por sua conduta, digamos, pouco inspiradora numa quadra de basquete.

Serio Rodríguez e Real Madrid x Reynaldo Mercedes

O veterano árbitro dominicano tem algumas partidas conturbadas em seu currículo, a começar pela final do Mundial de 2002 entre Argentina e Iugoslávia. Foi um dos homens pinçados para apitar a Copa Intercontinental no final de semana. Foi ele que excluiu Sergio Rodríguez no jogo de domingo. A princípio, vendo o jogo das tribunas, parecia tudo normal, pelo showzinho que deu o armador espanhol:

A bomba que solta em quadra e os gestos de cesta em direção ao árbitro são passíveis, mesmo de falta técnica, e tudo isso veio num contexto em que o Real Madrid já reclamava muito e demonstrava surpreendente nervosismo em quadra. Quando o Real Madrid, porém, conseguiu fazer com que a Euroliga requisitasse à Fiba uma investigação sobre Mercedes, as coisas se tornaram mais sérias. Vejamos: eles haviam sido campeões, estavam prontos para deixar o torneio para trás e voltar para casa, e ainda estavam investidos nisso? Que pasó?

Bom, alguma alma iluminada — ou que estava esperando por um deslize do sujeito — fez o favor de resgatar alguns tweets de sua autoria de 2012, nos quais se assume torcedor do Barcelona (no futebol…) e se alegra com uma derrota do Real. Pode ser pura bobagem. Não há problema que um dominicano tenha uma queda pelo lado catalão da força. Mas… Considerando que os dois clubes são gigantes na modalidade em que ele milita, esperava-se mais bom senso por parte do figura, não? É o que a Euroliga acredita, julgando-o desqualificado para apitar um jogo de basquete. Mas não só era só isso. O jornalista Ricardo González, do diário As, noticia também que Mercedes teria provocado Rodríguez antes dos lances livres, ofendendo e desafiando-o a, pelo menos, converter os arremessos. Viria daí a resposta do “Chacho”.

Em entrevista ao portal elCaribe.com, o dominicano tenta se defender. “É uma situação complicada devido à envergadura da equipe que faz a reclamação, mas é certo dizer que são são reclamações fora de contexto e sem fundamento. Desde quando é pecado ser árbitro de basquete e simpatizar com uma equipe de futebol? Meu comentário foi de anos atrás e era direcionado ao futebol. Não tem nada a ver com o basquete, muito menos com minha atuação dentro da quadra. Tenho fé que a verdade e o raciocínio lógico sobre a situação virá à luz, e que as entidades responsáveis sobre o basquete no continente e no mundo não darão razão a tal protesto. Entendo que as reclamações são do basquete. Agora tenho de esperar pela análise”, afirmou.

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O protesto formal contra Mercedes só mostra o quão a sério o Real Madrid levou a Copa Intercontinental, a despeito de suas limitações de momento. No domingo dia 28, estavam erguendo o quinto troféu seguido em São Paulo. No dia 21, seis de seus atletas estavam disputando a final do EuroBasket. Não é fácil. Nesta terça, dando sequência às festividades, e tentando fraturar um troquinho, porque ninguém é de ferro, o clube também pôs à venda uma camiseta comemorativa pela “temporada perfeita” que teve, com 100% de aproveitamento em cinco competições.

Sergio Llull, por sua vez, está nas nuvens:  

No final das contas, além de ter sido um baita chamariz, emprestando seu prestígio e chamando a própria torcida para o ginásio no domingo para ajudar a encher o Ibirapuera, o Real Madrid talvez deixe como maior legado sua dedicação à Copa Intercontinental, que foi disputada pelo terceiro ano seguido. Uma camisa desse peso faz toda a diferença e, imagino, ajuda a consolidar a competição, mesmo que seu formato não seja dos melhores. Essa coisa de duas partidas na decisão não entra na minha cabeça, mas é fato também que há muitos empecilhos de calendário para fazer qualquer alteração significativa. Com a reforma que ambiciona a Fiba, aliás, desconfio que o torneio fique a perigo.

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Sobre o Real, a última, já apontando para o futuro. Que atende pelo nome de Luka Doncic. O garoto esloveno (que, é importante frisar, por enquanto recusa o assédio da federação espanhola para que siga os passos de Nikola Mirotic) foi a grata surpresa dessa decisão. Aos 16 anos, já se vê realmente inserido nos planos de Pablo Laso com o terceiro armador da rotação, atrás dos Sergios. Assume o papel que coube a Facundo Campazzo, que é oito anos mais velho, vejam só. A partir do momento em que Rodríguez foi mandado ao vestiário, o papel do garoto ganharia relevância, ainda mais com Rudy Fernández e Jeffery Taylor fora de combate. Pois o garoto segurou o rojão sem o menor problema, estando em quadra inclusive nos seus minutos decisivos. Primeiro, deu alguns instantes preciosos de respiro ao MVP Llull e, depois, assessorou o espanhol na armação. Com o corpo lânguido, de 1,98m e poucos músculos, também não fugiu do contato num jogo muito físico e aguentou o tranco na defesa com Leo Meindl, por exemplo.

Alex é 19 anos mais velho que Doncic

Alex é 19 anos mais velho que Doncic

Mas é com a bola nas mãos, mesmo que Doncic captura sua atenção. Avança com naturalidade com a bola, a despeito da altura fora do comum para a posição e do biótipo que ainda não lhe favorece contra adversários mais agressivos. De qualquer forma, lidou com tranquilidade com a primeira linha defensiva bauruense e conseguia ganhar terreno em progressão rumo ao garrafão para, aí, mostrar o que tem mais de especial, que é a visão de quadra. O garoto executou alguns passes dificílimos, cruzando a defesa, com velocidade e precisão (e sem olhar, claro). É aí que a altura o favorece, ao menos, podendo passar por cima da montueira de braços que está entre ele e seu alvo. Ao todo, ele jogou 23 minutos e não tentou nenhum arremesso de quadra, mas não se esquivou de infiltrações e descolou seis lances livres. Deu três assistências, cometeu dois turnovers e conseguiu três roubos de bola. Mas esses números não dizem absolutamente nada.

De novo: ele nasceu em 1999 e, quanto mais jogar em alto nível, mais esses instintos vão se aguçar. Tem um potencial tremendo como distribuidor e no corte para a cesta. O que ele precisa melhorar bastante é o arremesso, que não é pouco, convenhamos. A cada final de treino do Real, quando enfim a comissão técnica liberava o acesso de estranhos, era possível ver o garoto chutando, chutando, chutando, e está claro que sua mecânica ainda é inconsistente demais e que vai levar tempo para se ajustar para situações de jogo. Mas, bem, tempo é o que não lhe falta. Não topou conversar ao final do jogo alegando que não pode dar entrevistas. Levando em conta a pouca idade a a rigidez protocolar de seu clube, não duvido, mesmo.

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Sobre o Bauru, o time tem agora alguns dias para recarregar a bateria e se preparar, já no sábado, embarcar rumo a Nova York.

Rafael Hettsheimeir x Real Madrid

Rafael Hettsheimeir tinha uma oferta com o Estudiantes na mesa. Ao que tudo indica, o pivô estava apalavrado com o clube madrilenho (coincidência), segundo o que se falava pela Europa e o que noticiou passo a passo o site Encestando. O técnico Diego Ocampo, que fez ótimo trabalho com Augusto Lima e Raulzinho na última temporada pelo Murcia, falou sobre o assunto: “Falta um jogador para nós contratarmos, e quase todo mundo dá por certo que temos Hettsheimeir, mas eu, enquanto no vir por aqui, não acredito nisso. Mas, sim, queremos esse último jogador, e que venha nesta semana”.

Segundo a diretoria do Bauru, o pivô só não teria multa rescisória no caso de alguma proposta da NBA. Para a Europa, algo deveria ser pago, seja pelo clube interessado ou pelo próprio jogador. Eles não o liberariam e não o liberaram, pelo menos não antes dos amistosos contra New York Knicks e Washington Wizards. Mas a intenção, parece, é segurá-lo por toda a temporada, mesmo. Seria muito difícil para o vice-campeão mundial repor um jogador deste nível, especialmente com o dólar nas alturas. Do lado espanhol, mesmo, o próprio Estudiantes não parece disposto a aguardar mais duas semanas. Ocampo perderia um tempo precioso para integrar essa nova peça ao seu grupo. Esta porte parece ter se fechado. Agora é preciso ver se alguém nos Estados Unidos se anima com o rendimento do pivô.

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Existe também o caso de Rafael Mineiro. Está, no momento, sem clube, aguardando qual o destino do elenco do Limeira. Existe, de fato, a possibilidade de eles jogarem a próxima temporada com a camisa do Vasco, com as negociações em andamento. Não é um trâmite fácil, porém, e a própria liga nacional, presidida pelo patrono limeirense, precisaria ou deveria se certificar de que a parceria seria realmente viável, que tenha garantias financeiras e fôlego para chegar até o fim do campeonato. Afinal, o clube de São Januário não é hoje, infelizmente, uma instituição com de bases tão sólidas assim, ainda mais correndo o risco de novo rebaixamento (e de inerente redução de orçamento para 2016). E não se trata de um elenco barato.

>> Bauru tentou, mas o Real segue seu em seu ciclo vitorioso
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Mineiro vai com a rapaziada para os Estados Unidos, ocupando a vaga de Murillo na rotação interior. Contra o Real, mesmo desentrosado, mostrou o quão valioso pode ser para qualquer equipe devido aos seus atributos defensivos. Para os que questionam o pivô, favor atentar para o fato de que o basquete é jogado em duas tabelas. Uma você ataca, a outra você protege, e, nessa função, vai ser difícil encontrar um marcador tão hábil quanto Rafael. Sua movimentação lateral é incrível e se traduz até mesmo contra gente como Scola, Ayón, Nocioni, Reyes e Thompkins, como pudemos ver nas últimas semanas. Tem tanta agilidade que o técnico Dedé, mesmo, reitera que, numa situação de corta-luz, até gosta que o espigão fique de frente com um armador. Não é necessária ajuda nenhuma na contenção. No ataque, ele também pode render mais, e aí que a chegada de última hora atrapalha. Mineiro já se aventurou na linha de três pontos, como gostam de fazer Jefferson e seu xará, mas rende muito mais na cabeça do garrafão com os disparos de meia distância e a ameaça constante de que, com um drible, já pode alcançar o aro para finalizar com uma cravada.


Copa Intercontinental: o Real Madrid jogador a jogador
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Giancarlo Giampietro

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Breves notas sobre o elenco galáctico do Real Madrid, que enfrenta o Bauru nesta sexta-feira e no domingo, pela Copa Intercontinental. São peças que se encaixam muito bem. Ao contrário do que muitas vezes acontece no futebol, o orçamento milionário do basquete merengue (estima-se que na casa de 25 milhões de euros) procura grandes nomes que se encaixam em quadra. O técnico Pablo Laso prefere um time leve e arrojado, que coloque pressão em cima da bola e procure desestabilizar a armação do adversário. Mas também pode recuar e proteger sua cesta em uma batalha mais física no garrafão. Tem chute exterior, jogadores capazes de quebrar a linha defensiva e estrelas solidárias. É um esquadrão:

Sergio Rodríguez: basicamente, se você precisa de um armador para incendiar o jogo, não há melhor na Europa, devido ao seu combo de instinto, visão, drible, ginga e chute. Mais sobre ele aqui, num texto do ano passado, ou em outro de 2013, mas que ainda se sustentam. Ele está jogando muito há tempos.

>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?
>> Bauru admite que não fez preparação ideal para o torneio
>> A ajudinha de Paco, o não a Larry e a rivalidade com Mogi

 

Sergio Llull: talvez tenha feito sua melhor temporada no ano passado. Por isso o Houston Rockets estava preparado para lhe oferecer uma bolada. Por não ter tanto controle de bola assim, ao menos quando comparado a Rodríguez, mas por ser mais alto e físico, se encaixaria perfeitamente ao lado de Harden. Explosivo em suas infiltrações, com bom chute exterior, ainda que possa forçar um pouco diante de defesas mais bem plantadas. Movimenta os pés com muita rapidez na defesa e põe muita pressão em cima do drible. Desarma e parte com perigo em quadra aberta.

Muito da força do Real vem de sua dupla de armadores, que tão bem se complementam. Dão velocidade ao time e atacam desde o primeiro instante

Muito da força do Real vem de sua dupla de armadores, que tão bem se complementam. Dão velocidade ao time e atacam desde o primeiro instante

Rudy Fernandez: ala muito atlético que salta do chão e avança rumo ao aro flutuando feito uma pluma. Joga acima do aro e sabe usar essa impulsão também para dar tocos improváveis vindo do lado contrário. Dá a impressão de chutar tão bem a partir do drible como com os pés plantados. Está sempre atento à linha de passe. Também representa um terror em quadra aberta. Alas mais altos e fortes podem lhe causar problemas nos arredores do garrafão. Resta saber como estão suas costas. Teve atuação limitada no EuroBasket, mas foi até o final. Tendência é que seja preservado, apesar de Jeffrey Taylor estar fora. Um baita de um mala em quadra, porém. A ver se faz algo que peça vaias da torcida.

Jaycee Carroll: um gatilho mortal. É como se fosse um Steve Kerr mais arrojado, com maior capacidade para por a bola no chão e chutar em movimento. Entende suas limitações, porém, é dificilmente vai chegar até o aro,  a não ser que tenha o corredor aberto. Marcador sério e competitivo, apesar do físico nada imponente.

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Jonas Maciulis: uma parede ambulante. Ala muito forte e que joga duro. Tem mãos velozes, bom ladrão de bolas, mas a movimentação lateral não impressiona. É menos eficiente quando tem de driblar em meio ao tráfego, por não ter tanto jogo de cintura. Lituano, sim, mas um arremessador irregular. 🙂

Via Twitter do tampinha Facundo Campazzo. A legenda do armador falava alguma coisa sobre... Huevos

Sim, ele tem… Huevos

Andres Nocioni: precisa mesmo descrever? Está desfrutando de uma das benesses de vestir a camisa do Real aos 35 anos. Num time com tanta mão-de-obra qualificada, não precisa carregar uma carga muito pesada, tendo chegado à Copa América em plena forma. Minutos reduzidos, sem muita responsabilidade de criar como nos tempos de Laboral, pode se dedicar às pequenas coisas que tão bem realiza. Mas o mais interessante que o veterano Chapu nos mostra é que sua ferocidade e malandragem e toda a lenda que se criou ao seu redor podem desviar a atenção para o fato de que é um tremendo jogador de basquete, muito bem fundamentado para compor qualquer linha de frente do mundo. Mais sobre o que ele fez na temporada passada pelo Real você pode ler aqui.

Felipe Reyes: o coadjuvante eterno da geração dourada espanhola, mas que não só sobrevive como segue ultraprodutivo, a despeito de sua discrição. Tem mãos enormes e finaliza tão bem como Scola quadro próximo da tabela, mesmo com impulsão reduzida. A diferença é que o argentino tem um jogo de pés bem mais criativo. Excelente reboteiro ofensivo. Só não esperem que jogue como um garçom. Na defesa, é vulnerável longe do garrafão e não oferece proteção ao aro, mas costuma se posicionar bem para fechar espaços.

Gustavo Ayón: saiu no blog texto recente sobre ele a serviço do México. Tem outro lembrando sua atuação pela Copa do Mundo. Pelo Real, obviamente não é tão exigido.

Sobre os reforços Trey Thompkins, Jeffery Taylor e Willy Hernangómez, as observações aqui.

Por fim…

O garotão Doncic já teve seus momentos com o time brasileiro

O garotão Doncic já teve seus momentos com o time brasileiro

Luka Doncic: nascido em 28 de fevereiro de… 1999. Sim, a maravilha eslovena tem apenas 16 anos de idade. Mas já está acostumado a jogar com gente mais velha, tendo feito a rapa com o Real sub-18 no ano passado, ao lado do espigão brasileiro Felipe dos Anjos (que chegou a jogar na pré-temporada do Real, mas não veio a São Paulo. É um projeto ainda é precisa ser blindado.) Doncic é um armador de 1,98m (ou mais…) e dinâmico. Contra a garotada, está sempre flertando com o triple-double, entrando no garrafão como bem entende. Entre os adultos, a coisa muda, e seu chute exterior ainda precisa de um bom trabalho para ser efetivo. Vai ser interessante acompanhar: Laso vai dar minutos para ele?  Só se o jogo estiver definido?

Para ler todo o conteúdo que o blog já escreveu sobre o Real Madrid, e não é pouco, clique aqui.


Notas sobre o EuroBasket: a era espanhola e outras seleções
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Giancarlo Giampietro

Três dos últimos quatro EuroBaskets terminaram assim

Três dos últimos quatro EuroBaskets terminaram assim

Depois de duas grandes semifinais, a disputa pelo título teve um pouco de anticlímax, né? A Lituânia perdeu o jogo já nos primeiros minutos.Mas claro que os espanhóis não estão nem aí para isso. Em seu período (quase) hegemônico no continente, a seleção talvez nunca tenha sido tão contestada como aconteceu neste torneio. Os caras penaram na primeira fase e poderiam muito bem ter sido eliminados pela Alemanha. Mas passaram e foram ganhando corpo. A defesa cresceu, os Sergios se soltaram e Pau Gasol foi enorme.

O título deste ano teve o prazer da reação em questão de dias e da revanche contra os franceses, na casa do adversário, com público enorme presente. Em termos de relevância de símbolo, contudo, nada supera o torneio que fez o seu MVP, com um dos melhores torneios individuais de que se tem nota no mundo Fiba: 23,0 pontos, 8,8 rebotes, 2,9 assistências, 2,3 tocos e aproveitamento inspiradíssimo nos arremessos (57,5% no geral, 66,7% de três e 80,5% dos lances livres), em 30 minutos, com apenas 1,2 turnover. Como bem constatou a conta da Synergy no Twitter, ele teve volume de jogo de LaMarcus Aldridge com a eficiência de um Kyle Korver. Só acrescentaria que, além disso, teve ainda de proteger o garrafão e a cesta de seu time como se fosse um Roy Hibbert.

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Da frustração por sua primeira derrota numa final de EuroBasket em 2003, contra os próprios lituanos, à dominância 12 anos depois, Gasol encaminha com naturalidade sua segura candidatura ao Hall da Fama. Dentro desse seleto grupo, também há filtros. Não vou aqui me meter a besta e comparar quem foi o maior jogador europeu de todos os tempos, uma discussão que ganhou força nos últimos dias, muito por conta da exibição histórica do pivô espanhol, aos 35 anos. É uma discussão divertida para muitos, irritante para outros e que tende a ser interminável. Há quem se apegue demais ao passado, há quem desconheça o que foi feito até mesmo antes de Pequim 2008. Prefiro me abster dessa,  mas uma coisa dá para cravar: o craque está no pacote. Levantamento feito pelo HoopsHype nos mostra que ele tem mais prêmios de MVP (3) e foi mais vezes eleito a uma seleção de um torneio Fiba (8) do qualquer atleta.

O MVP histórico

O MVP histórico

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Em termos de equipe, a seleção espanhola também já tem seu lugar assegurado na história, obviamente. De 2009 para cá, ganharam três de quatro EuroBaskets. Só falharam, mesmo, em 2013, na Eslovênia, quando foram superados pela França. Do título na Polônia, o primeiro do país, cinco chegaram ao tri em Lille: Gasol, Rudy Fernández, Sergio Llull, Felipe Reyes, Victor Claver, além do técnico Sergio Scariolo. É um núcleo que tem consistentemente chegado ao pódio em cada competição que disputa, também contando com Sergio Rodríguez e alguns desfalques deste ano como Calderón, Navarro, Marc Gasol e Ricky Rubio. Se formos mais generosos, podemos falar que, desde 1999, a Espanha só não esteve no pódio em 2005, quando Grécia, Alemanha e França foram premiadas. Em um intervalo de 16 anos, só mesmo superpotências como a União Soviética e a Iugoslávia podem superar isso, mas essa não seria uma comparação justa, devido à união de diversos países sob uma bandeira.

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Que ano o dos madridistas Llull, Rodríguez, Reyes e Fernández, hein? Campeões da Supercopa, da Copa do Rei, da Liga ACB, da Euroliga e, agora, o do EuroBasket. Se suas residências já não tinham um espaço só para troféus, chegou a hora de rever a planta de casa. Agora, depois de um torneio desgastante, resta saber qual será o envolvimento do quarteto na Copa Intercontinental de logo mais contra o Bauru.

Selfie de campeão oficial? Sempre com Sergio Llull

Selfie de campeão oficial? Sempre com Sergio Llull

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A França conseguiu um prêmio de consolação com o bronze em Lille. Para quem jogava em casa e com um timaço, pode parecer pouco. Do ponto de vista histórico, porém, é muito valioso. É o que Tony Parker disse: o país não ganhou tantas medalhas assim em grandes eventos. Em 37 aparições no EuroBasket, a seleção tem agora seis bronzes. Quatro deles, porém, foram conquistados antes dos anos 60. Então tem isso. O maior consolo, porém, é saber que Gasol não vai mais tão longe assim em sua carreira. A Espanha seguirá competitiva, mas não será a mesma sem ele. Do seu lado, ainda que Parker e Diaw não tenham jogado nada, os franceses contam hoje com a produção mais profícua de talentos na Europa. De Colo tem 28 anos. Batum, 26. Lauvergne, 24. Gobert e Fournier, 23. Todos com longa estrada pela frente. A eles vão se juntar muitos garotos que estão fazendo a transição do juvenil para o profissional e são considerados prospectos de NBA. O DrafExpress, por exemplo, já lista mais quatro atletas que podem se candidatar com sucesso no ano que vem.

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O que dizer da Lituânia? Bem… Não dá para criticar um time que conseguiu uma dificílima vaga olímpica na Europa. É algo com o que Alemanha, Croácia, França, Grécia, Itália e Sérvia sonhavam para valer. Mas também não dá para deixar de registrar que, se pelo segundo torneio seguido eles deram um jeito de chegar à decisão, pela segunda vez tomaram uma surra na disputa pelo ouro. Há um relaxamento, claro, depois de assegurar o primeiro objetivo que era a vaga direta para o Rio 2016. Agora, contra os espanhóis, creio que o que pesou, mesmo, foi o desnível técnico de um time para o outro. A equipe lituana possui uma série de sólidos jogadores e um talento acima da média em Jonas Valanciunas, mas tende a avançar nas competições com a força de seu conjunto, com caras que jogam juntos há muito tempo. Jonas Kazlauskas, um cara de certa forma subestimado, também merece muitos elogios, ajudando a fazer desse todo algo maior que a soma de suas partes.

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A Sérvia chegou com expectativa de título. Acabou saindo sem medalhas. Talvez tenham sido derrotas importantes para o amadurecimento do time vice-campeão mundial. Aleksandar Djordjevic tem falado todas as coisas certas e exerce forte influência sobre seus atletas para usar a decepção deste ano para o bem. É muito mais time que a Lituânia, apesar da derrota na semi e creio que teria feito uma grande final contra Espanha ou França. Mas acontece. Eles foram os primeiros a admitir que sentiram o peso do favoritismo, contra um adversário muito bem preparado, pouco badalado e de ombros leves. Kazlauskas dobrou sempre que pôde para cima de Teodosic depois de corta-luzes e tirou a bola das mãos do genial armador. Além disso, com Valanciunas, Javtokas e Kavaliauskas, não precisou fazer dobras em cima de Raduljica, podendo manter a turma do perímetro grudada nos chutadores sérvios. Outra boa sacada foi colocar Mindaugas Kuzminskas para marcar Nemanja Bjelica, eliminando o mismatch tático que o ala-pivô geralmente representa.

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Como bem escreveu Austin Green, do blog Los Crossovers, a Itália que vimos no EuroBasket é afeita ao anarquismo — ideologia, aliás, que teve fôlego mais longo do que o habitual no país. Era, desde sempre, o grande desafio de Simone Pianigiani. Pegar um monte de cestinhas e conseguir alguma coesão entre eles. Não aconteceu. Ainda assim, o time conquistou a vaga, terminando com a sexta posição, de tanto talento ofensivo que tinha. Gallinari fez uma grande competição e é aquele que tem o senso coletivo mais apurado. A bola, porém, ficava a maior parte do tempo nas mãos de Marco Belinelli, alguém que foi promovido a principal play-maker, mas que, embora mate bolas de fora, não é tão criativo assim. Andrea Bargnani, para variar, jogou estourado, foi um fiasco nos rebotes. Chega a ser até cômico o quão fominha é o ex-número um do Draft. O dia em que Bargs receber um passe na cabeça do garrafão e não arremessar já estará  em sua aposentadoria. Alessandro Gentile é mais jovem que todos eles, mas talvez seja o de personalidade mais forte, de modo que foi aquele com a maior média de arremessos por partida, batendo Belinelli por pouco. Em suma: um bando de free-lancers que ainda precisam crescer muito como equipe para lutar por medalhas na Europa.

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Devido à dupla Vesely-Satoransky e à vitória sobre a Croácia, a República Tcheca foi o azarão que fez mais barulho no torneio. Em sétimo, a seleção se garantiu ao menos no Pré-Olímpico mundial. Para o futuro, porém, quem merece mais atenção é a Letônia, que terminou em oitavo com seus veteranos e tem uma fornada bem quente vindo por aí, liderada por Kristaps Porzingis e Davis Bertans, mas que também aposta em Timma, os irmãos Kurucs, Pasecniks, Kohs, Smits, Gromovs e Silins.


O jogo verdadeiramente histórico de Gasol (e a questão Tony Parker)
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Giancarlo Giampietro

Ele contra os azuis

Ele contra os azuis

Muito provavelmente já fiz essa reclamação antes. Certo que na minha cabeça ela já foi repetida diversas vezes. Se for o caso, desculpem a repetição de uma autocrítica à classe dos cronistas esportivos. Seja por falta de criatividade ou cultura ou por simples preguiça, nunca escrevemos tanto palavras como “épico”, “mítico” e afins. Mesmo que tenha sido um hat-trick na Série B brasileira ou um golaço de sem-pulo no Maracanã. Num meio em que tantas e tantas vozes se dissiparam pela grande rede, parece haver um certo afã de se sentir parte dos registros históricos, nem que como testemunha.

Aí quando morre um Djalma Santos e ou um Moses Malone, na hora de se atribuir um devido valor a esses caras, os adjetivos mais indicados parecem ter perdido seu valor, banalizados. Mais do mesmo. Pois é. Essa sensação de impotência me ocorre quando vejo uma partida como a de Pau Gasol nesta quinta-feira, para derrubar a França por 80 a 75, em uma vingança particular pela semifinal do EuroBasket e classificar a Espanha para o Rio 2016. Foi um desempenho incrível e, dentro daquele contexto específico, me pareceu uma das melhores exibições individuais da… história.

Senão, vejamos: trata-se da maior rivalidade do basquete de seleções hoje; valia a vaga olímpica; foi com o drama de uma prorrogação; jogou diante da torcida do mesmo adversário que, um ano antes, havia estragado a sua festa na casa dele; Gasol, inclusive, não jogou conforme o esperado naquela ocasião, oprimido pela capacidade atlética de um oponente que, depois de tanto insistir, se inseriu no primeiro escalão; está com 35 anos, o relógio está batendo, e, para alguém tão envolvido com sua seleção, isso tem um peso enorme. O que ele fez? O… mítico pivô espanhol marcou 40 pontos em 36 minutos e acertou 12 de 21 arremessos, incluindo 63% nos arremessos de dois pontos, além de ter matado 16 de 18 lances livres e capturado 11 rebotes. Vale o slow:

Na verdade, essa coisa de aproveitar o momento vale muito mais para nós do que para o craque. Andrei Kirilenko já se foi, Dirk Nowitzki está nas últimas, Spanoulis diz que não vai mais jogar pela Grécia… Esses caras estão todos indo embora, então que o basquete como um todo possa curtir o vasto talento do camisa 4 espanhol. Excluindo os franceses desse grupo, claro.

Rudy Gobert, Nicolas Batum e o técnico Vincent Collet reclamaram uma barbaridade. “Pau é um grande jogador, mas ele não pode arremessar 18 lances livres, enquanto a França como um todo não chutou nem mesmo um no primeiro tempo. Houve diferentes modos de se apitar. Ele é um jogador gigante, vem num torneio fantástico, mas não pode ser favorecido desse jeito enquanto os outros atletas não ganham nada. A Fiba deveria fazer algo a respeito”, afirmou o treinador. “Não podia mesmo tocar nele. É difícil marcar assim. Quando você não pode usar suas mãos, ele é praticamente imarcável”, disse Gobert. “Não gosto de falar sobre arbitragem, mas Pau Gasol é protegido um pouco demais. Isso é o esporte, não tem jeito. Nunca vamos ganhar o respeito devido, e eles sempre serão os reis do mundo”, completou Batum.

Dureza em francês escreve como?

Dureza em francês escreve como?

Gasol realmente cobrou mais lances livres que toda a seleção francesa: 18 a 17. No geral, porém, a diferença não foi tão gritante assim: os demais jogadores espanhóis somaram apenas oito lances livres. Então temos 26 x 17. A NBA já viu coisa muito pior que isso. Por mais que o craque tenha sido protegido, não pega nada bem para os falastrões franceses chiarem dessa maneira depois de uma partida daquelas.

Será que ocorreu para os magoadíssimos franceses que o pivô do Chicago Bulls tenha simplesmente se imposto, e não por paparicação? Que a arbitragem só deu tantas faltas nele pelo fato de ser, disparado, o jogador mais agressivo e lúcido em quadra? Gasol foi ao ataque do início ao fim. Em excelente forma, apostou corrida com os franceses mais jovens e mais atléticos e venceu.

Se Phil Jackson se deu ao trabalho de interromper a meditação em Montana para assistir ao jogo, deve ter ficado com inveja, matutando por que nem sempre tinha um pivô tão agressivo assim em quadra. Mike D’Antoni, então, depois de tantos maus-tratos ao espanhol em sua conturbada passagem pelo Lakers, deve ter desligado a TV, entediado ou arrependido que só. O técnico tem uma mente especial para desenhar o ataque, mas se perde em seu brilhantismo ao tentar dobrar todo e qualquer jogador de acordo com seu sistema. Desperdiçou muito do que o espanhol tem de melhor.

Gasol dançou a noite toda com Gobert, Lauvergne, Diaw e Pietrus. Giro daqui, giro para lá, gancho, o chute de média distância mortal, o drible absurdo para alguém de 2,13m , a visão de quadra. São vastos os seus talentos. Quando joga com a determinação que vem apresentando neste EuroBasket, não há quem segure em lugar algum. Nem mesmo um gigante como Gobert, que ainda é jovem e talvez tenha se empolgado demais com o que havia feito na Copa do Mundo do ano passado, quando levou a melhor sobre o craque.

Por mais compridos que sejam seus braços e pernas, não é sempre que vai acontecer, mon ami. E também serão raríssimas as vezes em que terá como missão parar uma… lenda viva dessas.

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Fala-se  muito em desfalques da Espanha. Mesmo durante a comemoração, o técnico Sergio Scariolo e sua grande estrela mencionaram as baixas para colocar sua seleção em condição de inferioridade e tentar entender a súplica que foi avançar no torneio. Sem tanto drama, meus chapas. Marc Gasol obviamente faz falta a qualquer equipe, mas é de se pensar se, hoje, sua presença em quadra não limita o jogo de seu irmão. Explico: por mais que possa jogar na cabeça do garrafão ou até na linha de três, numa quadra mais apertada como a da Fiba, acaba obstruindo um espaço precioso para o craque operar. Mesmo que não tenha chutado bem no EuroBasket, Nikola Mirotic desperta temor dos adversários, que ficam grudados nele. Além do mais, do outro lado, com dois Gasols em quadra, as coisas podem ficar ainda mais difíceis no jogo de hoje, pois um dos pirulões será obrigado a marcar um ala-pivô mais baixo e mais leve. Sobre Mirotic: de acordo com as regras da federação internacional, um país só pode usar um naturalizado por uma vez. Então era ele ou Ibaka, de modo que o congolês não pode ser considerado baixa. No perímetro, Juan Carlos Navarro teve sua temporada menos produtiva da década. Alejandro Abrines está crescendo, mas ainda não é uma certeza. Ricky Rubio e José Calderón? Também fariam parte do grupo. Mas os dois Sergios do Real Madrid são hoje atletas muito superiores. Mas muito, mesmo. Calderón é o melhor diretor e arremessador, mas, no momento em que entra em quadra, se torna um alvo do ataque adversário. Rubio não conseguiu jogar basquete na última temporada.

Agora, claro: quando você soma tantos nomes assim, dá meio time. A rotação ficaria mais encorpada. Mas, contra França e Grécia, no quarto final, o que a Espanha basicamente tem de melhor estava em quadra. Além do mais, assim como valeu para a França e para os Estados Unidos no ano passado, vale para eles agora: são tantos os jogadores de ponta disponíveis para uma convocação, que é obrigação de qualquer técnico montar um time não só competitivo, mas que entra para brigar por medalha e título.

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Sergio Llull, Espanha

Sergio Llull mostrou nesta semifinal por que o Houston Rockets não se cansa de tentar sua contratação. Acontece que é difícil tirar o rapaz do Real Madrid, onde é tratado como rei. Quando está mais concentrado na defesa, deixando o xará Rodríguez e Rudy Fernández com maiores encargos ofensivos, é que rende melhor em alto nível. Ele movimenta os pés com muita rapidez. Está, por isso, invariavelmente bem posicionado. Sua defesa para cima de Tony Parker não pode passar despercebida num jogão desses. No ataque, ele também não pára de acelerar. Às vezes força nas infiltrações, mas, por atacar sempre, joga pressão sobre a defesa. Já de Rodríguez não há muito mais o que escrever aqui. Dos armadores europeus hoje, é o que tem o jogo mais apropriado para fazer sucesso na NBA, como suas constantes infiltrações contra uma defesa fortíssima como a da França podem comprovar (15 pontos, 5-8 quando foi lá dentro, 3 assistências e só um turnover).

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Sobre Tony Parker: pode ser demasiado cedo para ser alarmista, mas, LaMarcus Aldridge à parte, pode ser que Gregg Popovich tenha um problemaço para a próxima temporada. Llull fez um grande trabalho contra o astro francês, mas não foi o único a incomodá-lo bastante neste torneio. Se um viajante do tempo chegasse desavisado a Lille, não daria a mínima para o capitão francês, que chega à disputa pelo bronze com médias de 11,9 pontos, 4,3 assistências, mas 2,3 turnovers e sofríveis 35,4% os arremessos de quadra (sendo 37,1% de dois pontos — quer dizer, não é que ele tenha se acomodado no perímetro com seu arremesso de três suspeito). Aqui, valem as mesmas ressalvas feitas para Nowitzki: são veteranos que talvez não estejam nem mesmo em ritmo de pré-temporada, enfrentando defensores ferozes e vorazes. Pode ser que Parker ainda esteja, mesmo, avariado por tantas lesões que teve de tratar durante a última temporada e que vá demorar para recuperar a melhor forma. Você dá o benefício da dúvida a um jogador destes, claro. Fica quase na torcida para que seja isso, e não limitações que tenham chegado para ficar. Pois ele dificilmente conseguiu quebrar a primeira linha defensiva nos últimos dias. Também não conseguia criar a separação necessária para fazer seu chute de média distância funcionar. Sem velocidade, seu jogo evapora. Aos 33 anos, é uma situação para se monitorar com muita atenção.

Na semifinal, por mais que não funcionasse sua abordagem ofensiva, ele não arredava pé, e era bico atrás de bico. Foram apenas 10 pontos em 37 minutos, com 13 arremessos desperdiçados em 17 tentativas (23,5%) e um aro que precisará ser trocado para a sequência do torneio. É nessas horas que ter uma figura de tanta relevância em quadra pode até fazer mal a uma equipe, dependendo de suas condições. Por mais arrojado que seja Nando De Colo, não há como ele não deferir para seu capitão. E qual o nível de coragem que Collet precisaria ter para deixá-lo no banco? De qualquer forma, analisando friamente o desempenho do armador, imagino que o treinador esteja muito arrependido pelo corte de Thomas Heurtel, tendo priorizado a envergadura de Leo Westermann, com propósitos defensivos para cobrir Parker. No fim o ataque que precisava de ajuda.


Real varre o Barcelona e fecha ano inédito na Espanha com 4 taças
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Giancarlo Giampietro

Real comemora. Na quadra do Barça

Real comemora. Na quadra do Barça: superioridade em toda a temporada

Os torcedores do Real Madrid querem saber, mesmo, é de basquete, né? Pelo menos por ora. Afinal, foram os galácticos do baloncesto que lhes encheram de orgulho com uma campanha verdadeiramente histórica. Pela primeira vez, um clube levou os quatro títulos que disputou: Supercopa, Copa do Rei, a tão sonhada Euroliga e, agora, por fim, a Liga ACB, depois de ter varrido o Barcelona nesta quarta-feira. Pelo menos para algo serve um torneio de início de temporada como a Supercopa, hein? Para estabelecer recordes.

Os merengues bateram os arquirrivais catalães por 90 a 85, fora de casa, acabando com qualquer expectativa de reação por parte da equipe de Marcelinho Huertas, que pode ter feito sua despedida do Barça. Um desfecho perfeito para o Real, que penou tanto nos anos anteriores e correu o risco de ser desmontado. Desmonte, agora, só se for pelo fato de o clube ter ganhado tudo o que podia e pela cotação inflacionada de alguns de seus principais atletas.

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Mas como assim? Quem poderia pensar em virar as costas para um clube desse porte? Bem, é aí que temos a grande diferença para um madridista na hora de se apegar ao basquete, deixando o futebol em segundo plano. É que, se for para falar das quadras, a NBA tem o maior poderio financeiro. E a liga americana está de olho no campeão europeu e espanhol em busca de possíveis reforços.

O Houston Rockets já estaria preparado para oferecer um contrato de três anos para tentar, enfim, levar Sergio Lllull, o MVP das finais da ACB, selecionado pelo clube texano no Draft de 2009. Ídolo em Madri, sempre competindo em alto nível no Velho Continente, o armador já relutou por um tempo para se transferir para os Estados Unidos, mas, ao que tudo indica, chegou a hora. Ele estaria trocando um Señor Barba pelo Mister Barba. No caso, Sergio Rodríguez por James Harden.

Llull, MVP das finais da Liga ACB pela primeira vez. De saída?

Llull, MVP das finais da Liga ACB pela primeira vez. De saída?

Até porque Rodríguez é outro que pode estar de saída. Segundo o repórter Adrian Wojnarowski, o cara mais conectado na mídia americana, o outro armador estelar do Real estaria interessado em tentar a grande liga novamente, depois de uma passagem pouco produtiva quando mais jovem – foi selecionado pelo Portland Trail Blazers em 2006, ficou nos Estados Unidos até 2010, teve bons momentos pelo New York Knicks, mas, um tanto traumatizado, voltou correndo para casa assim que seu contrato de calouro acabou. Cresceu muito pelo Real e se tornou um dos melhores do mundo em sua posição.

Perder dois armadores deste nível seria um golpe e tanto para o técnico Pablo Laso, claro. Mas pode ser o preço depois de um ciclo tão vitorioso como esse. E obviamente que o orçamento seguiria generoso o suficiente para tentar uma reformulação em alto nível, ainda que encontrar um armador já seja complicado, quanto mais dois.

Um organizador que deve ir para o mercado é Huertas. Segundo o que apurei, o brasileiro estaria realmente interessado em sondar o mercado norte-americano. Algo que confirmou em entrevista ao mesmo Wojnarowski. O Toronto Raptors estaria interessado, segundo o site Sportando. Mas vocês sabem como são essas coisas de mercado. O armador, mesmo,  depois diria que era possível renovar com o Barça. O Fenerbahçe também havia demonstrado interesse em sua contratação, mas já fechou com o americano Bobby Dixon, que tem passaporte turco e fez bela temporada no país.

Outros que podem deixar o clube catalão: o ala Mario Hezonja, sensação croata que está cotado para ser uma das dez primeiras escolhas do Draft da NBA desta quinta-feira, e o pivô Tibor Pleiss, alemão que tem sondagem do Bayern de Munique e também seria uma possibilidade para completar a rotação de grandalhões do Utah Jazz, ao lado de Rudy Gobert e Derrick Favors.

Perder jogadores até que não seria o pior negócio para o Barcelona, aliás. O técnico Xavier Pascual simplesmente não conseguiu comandar um elenco vasto e caríssimo nesta temporada. As lesões de Juan Carlos Navarro, Brad Oleson e Alejandro Abrines atrapalharam muito, mas, quando teve força máxima, o treinador falhou ao encontrar uma rotação funcional. Com um time desses, é a pior coisa que pode acontecer: papéis indefinidos, minutos (e estatísticas) irregulares, confusão geral. Os pivôs rodaram muito durante toda a temporada. Satoranksy e Huertas trocaram de posto. As incertezas duraram até as finais da liga espanhola, com Abrines, Edwin Jackson e Hezonja numa gangorra. Um desastre.

Do outro lado, o Real demorou, mas se acertou. A equipe que encantou a Europa na temporada passada não era mais a mesma. A saída de Nikola Mirotic custou muito em velocidade e espaçamento de quadra. Aos poucos, porém, Laso, tão contestado, deu um jeito de acomodar suas peças, nem sempre com decisões fáceis. Mesmo com uma rotação de até dez homens na liga nacional – Llull foi quem mais jogou, com 24 em média –, teve de sacrificar um jogador caro como Ioannis Bourousis. Trocou Jonas Maciulis por KC Rivers no quinteto inicial, encontrando mais equilíbrio defensivo. Reaproveitou Marcus Slaughter de modo pontual, sempre que precisou de mobilidade e capacidade atlética, e manteve o plano de jogo aberto, com atiradores de três pontos em todos os cantos e um contragolpe mortal. A diferença é que, na hora do aperto, em meia quadra, tinha um garrafão mais forte, com um Felipe Reyes em incrível boa forma, toda a versatilidade de Gustavo Ayón e o espírito vencedor (e garra e catimba) de Andrés Nocioni.

MVP do Final Four da Euroliga, Nocioni apareceu muito bem no segundo tempo nesta quarta, com tiros de longa distância em momentos críticos. Foi mais uma vez decisivo (11 pontos, 6 rebotes e 3/4 de fora) para conter a reação de um Barcelona que chegou a marcar 16 pontos seguidos no terceiro período para assumir a liderança do marcador, depois de perder por 14 no primeiro tempo. Outro que contribuiu de modo significativo foi Jaycee Carroll, o gatilho americano que anotou 19 pontos em 21 minutos. Os dois mais importantes foram a 14 segundos  do fim, num tiro contestado de média distância para levar a vantagem madridista a duas posses de bola (88 a 83). Veja:

Este foi um padrão da temporada: as estrelas são os Sergios e Rudy Fernández, acompanhados por Reyes. Mas o elenco de apoio sempre esteve de prontidão para ajudar esses ídolos nacionais, como tem de acontecer em qualquer grande time. Para ganhar quatro títulos no ano, então, nem se fala.


A lenda de Spanoulis só cresce e agora desafia o Real Madrid
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Giancarlo Giampietro

Ele de novo

Ele de novo

Primeiro foi uma exibição assustadora de um jogador. Depois, entrou em quadra um timaço para definir a final da Euroliga 2014-2015.

Na abertura do Final Four em Madri, Vassilis Spanoulis voltou a torturar o CSKA, com todos os seus craques, torcedores plácidos e dirigentes cheios de careta nos primeiros assentos ao lado da quadra. O Olympiakos alcança sua terceira deicão em quatro temporadas, em busca do terceiro título. Agora, terão pela frente mais um oponente que sonha com a revanche: o time da casa, o Real, que destroçou o Fenerbahçe pela segunda semifinal.

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Lembrando: o clube grego foi bicampeão em 2012 e 2013 com viradas no último jogo para cima de CSKA e Real, respectivamente. Enquanto tiver sob a liderança de Spanoulis, os caras vão chegar.

O que o camisa 7 fez nesta sexta foi algo meio indescritível. Estava comentando a partida no Sports+, ao lado do chapa Rafael Spinelli, e houve uma hora em que fiquei simplesmente sem palavras. Para um analista, ao vivo na TV, parece o fim da picada, né? Mas é que sua exibição foi tão impressionante que por vezes que era de deixar qualquer um perplexo, mesmo. Veja o Luigi Datome, por exemplo:

(Não sei nem o que escrever para descrever Spanoulis. Lenda? História? Ou apenas Spanoulis? Estou totalmente chocado.)

Estamos todos, Gigi. Veja a reação de uma galera, entre atletas de NBA e Euroliga, frente ao que o craque grego fazia.   E foi o quê exatamente? Se você pega a linha estatística final da partida, vitória por 70 a 68, vai ver um atleta com 13 pontos e péssimo aproveitamento de 4-15 (26,6%) nos arremessos de quadra, em 32 minutos. Mais turnovers (quatro) do que assistências, tendo levado três tocos também durante a jornada.Vem cá: o que tem de especial nisso?  

Pois é. Mais uma vez percebe-se como é perigoso espiar uma linha estatística e avaliar que fulano tenha “brilhado”, “dado show” ou “ido mal”. Com esse rendimento numérico ridículo, Spanoulis foi ainda o cara da partida. Depois de errar seus primeiros 11 arremessos de quadra e só converter dois pontos no primeiro tempo na linha de lance livre, de passar em branco no terceiro período, ele voltou para a quadra com seis minutos restando no cronômetro e… Pumba.

   

Por 26 minutos, ele não conseguia fazer nada. De repente, decidiu que era a hora da matança. Fez, então, 11 pontos, seus seus últimos quatro arremessos no jogo, incluindo três arremessos de longa distância, para elevar a contagem do Olympiakos de 54 a 69, com a ajuda de quatro pontinho de Kostas Sloukas. O CSKA vencia por nove pontos a três minutos do fim e novamente entrou em colapso. O que leva um sujeito a ser tão confiante assim? 

O ala-armador francês Nando De Colo, que havia feito um excelente primeiro tempo, acabou descadeirado pelo veterano. É um grande jogador, mas falou um pouco mais do que devia em quadra e tomou a resposta mais dolorida: a de que ainda precisa crescer muito para se colocar num patamar de astro europeu. Foi o mesmo tipo de postura que o tirou de San Antonio, sem aceitar muito bem os minutos limitados com Gregg Popovich e que ainda não se justifica, tendo em base o que faz em quadra. Não há dúvida de que tenha muito talento, mas ainda lhe falta tarimba. Começou a forçar arremessos, cochilou demais na defesa e, ainda assim, foi mantido como referência ofensiva por parte de Dimitris Itoudis. O técnico grego, que fez uma primeira Euroliga formidável,  se atrapalhou em sua rotação nos momentos decisivos, promovendo diversas substituições. Não encontrou resposta para o camisa 7 alvirrubro.

Ele já havia sido eleito pelos dirigentes da Euroliga como o atleta mais temido na hora de partir para uma bola decisiva. Lá foi ele de novo, então. A lenda de Spanoulis só cresce. O Emanuel também está tentando digerir tudo isso:

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Ayón guardou o melhor para o fim: exibição completa contra o Fenerbahçe

Ayón guardou o melhor para o fim: exibição completa contra o Fenerbahçe

É essa a figura que vai desafiar o Real Madrid novamente. Os anfitriões venceram o Fenerbahçe, de Zeljko Obradovic, por 96 a 87. O placar conta só um pouco do que foi a partida. O primeiro tempo dos vencedores foi um primor, com 20 pontos de vantagem abertos (55 a 35), 18 assistências, oito bolas de três pontos convertidas e nenhum turnover. Zero. Uma aula ofensiva. Pareceu o Real da temporada passada, com um jogo vistoso, ainda com Nikola Mirotic na formação titular, correndo a quadra com criatividade, velocidade e inteligência – as três podem ser unidas, acreditem. Juntos, os Sergios, Rodríguez e Lllull, tiveram 25 pontos e 16 assistências, contra apenas dois desperdícios de posse de bola.

A surpresa foi ver Gustavo Ayón absolutamente dominar o garrafão. Não por que haja o que duvidar sobre as qualidades do mexicano, mas mais pelo fato de que a expectativa era a de que tivesse uma batalha com os excelentes pivôs  do clube turco. Ayón somou 19 pontos, 7 rebotes, 6 assistências e três roubos de bola. Além disso, converteu 8 de 11 arremessos de quadra, saindo excluído com cinco faltas. Ele contou com a ajuda de 12 pontos, 6 rebotes e muita luta por parte de Andrés Nocioni.

Na busca incessante pela novena, a nona taça continental no basquete, o gigante espanhol só não pode se empolgar tanto. “Não ganhamos nada ainda”, afirma Llull, que sabe que seu time vai ter de apagar um trauma de duas decisões perdidas por virada, a primeira contra o próprio Olympiakos. Revisar esse e outro episódio de seu passado recente pode ajudar o time do técnico Pablo Laso a se preparar da forma apropriada para a decisão. Não custa lembrar que, em 2014, no Final Four de Milão, o Real massacrou o Barcelona por 100 a 62 e acabou derrotado pelo Maccabi na final. Um clube de prestígio incontestável na Europa, mas que era um azarão na ocasião. Agora vão enfrentar um Olympiakos cheio de orgulho também. E com aquele matador. Sérgio Rodríguez sabe o que precisa ser feito: “Temos de tentar limitar Spanoulis”. Mas como lidar com uma lenda?


Euroligado: que comecem as batalhas
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Giancarlo Giampietro

euroleague-playoffs-2014-15

A Euroliga abre nesta terça-feira sua fase de playoffs, sem grandes surpresas entre os oito finalistas. Agora o que isso quer dizer? Que a tendência é que tenhamos alguns confrontos bastante equilibrados na fase de quartas de final, com camisas de peso em quadra – são 31 títulos acumulados entre os participantes.

Mas obviamente não é só isso. Não adianta ter a sala cheia de troféus do passado. E os elencos que vão para a quadra nestes playoffs são, em geral, estelares. São 26 jogadores com experiência de NBA (sem contar os diversos atletas que já foram Draftados e eventualmente farão a transição), além de 29 atletas que disputaram a Copa do Mundo do ano passado.

(Embora aqui valha uma observação: há casos como o do armador americano-croata Oliver Lafayette, que disputou apenas uma só partida pelo Boston Celtics. A NBA está em seu currículo, fato. Mas quem vai dizer que isso significa mais do que todos os prêmios e títulos de uma lenda viva como Dimitris Diamantidis, que nunca pensou em jogar nos Estados Unidos? Enfim, a sigla é valiosa, mas não significa tudo na carreira de alguns caras.)

>> A cobertura da Euroliga 2014-2015 no VinteUm
>> A temporada europeia de Marcelinho Huertas

Nesta terça, a brincadeira começa com o CSKA e o Fener jogando em casa. Na quarta, entram os gigantes espanhóis em cena, também com mando de quadra. O Sports+, canal 228 da SKY, vai transmitir tudo com exclusividade. Vou comentar a primeira leva de jogos. Como gosta de dizer o companheiro Decimar Leite, é a melhor competição de basquete do mundo. Já que a NBA não conta.

Sem mais delongas, algumas observações sobre as séries:

CSKA MOSCOU X PANATHINAIKOS

– Títulos: 6 para cada um.
Passagem pela NBA: Nando De Colo, Sonny Weems, Andrei Kirilenko, Viktor Khryapa, Demetris Nichols (CSKA); Esteban Batista, DeMarcus Nelson, Antonis Fotsis, Gani Lawal (Panathinaikos).
Na Copa do Mundo: Milos Teodosic (CSKA). PS: a Rússia ficou fora, né? Em Londres 2012, 5 atletas do CSKA foram medalhistas de bronze; já o legendário Dimitris Diamantidis se aposentou da seleção grega.
Campanha: CSKA 22-2; Panathinaikos 12-12.

Como podemos notar pela discrepância entre as campanhas de ambos, dá para dizer que este deve ser o confronto menos equilibrado. Não duvido que pinte uma varrida para o clube moscovita, que só perdeu um jogo para Fenerbahçe e outro para Olympiakos – isto é, perdeu para quem podia, na fase Top 16. É um CSKA muito mais forte que o do ano passado, quando precisou do quinto jogo para despachar o mesmo Panathinaikos pelas quartas de final. É a única revanche aqui.

O time de Dimitris Itoudis chegou a vencer 15 partidas consecutivas nesta temporada. No geral, termina com o melhor aproveitamento da fase de grupos, com impressionantes 91,6%. Tem sido um trabalho excepcional do treinador grego, que, até o momento, perdeu apenas cinco partidas na temporada – as outras três aconteceram pela Liga VTB, o equivalente ao campeonato russo nesses dias, mas com participação especial de tchecos, letãos, estonianos e outro).

Está certo que o técnico tem um timaço ao seu dispor. Basta reparar com mais atenção nos nomes citados acima. É sempre um desafio pegar tantos jogadores de ponta e cuidar da química em quadra. Pegue um cara como Andrei Vorontsevich, por exemplo. O ala-pivô fez um grande campeonato. Na reta final, porém, teve de aceitar o retorno de Andrei Kirilenko, vindo da NBA, e de Victor Khryapa, recuperado de lesão. Apenas os principais nomes do basquete russo hoje, prontos para receber uma boa carga de minutos.

Desta forma, não deixa de ser curioso que o Panathinaikos, justamente o clube que deixou Itoudis escapar de seus domínios, vá agora testar suas habilidades de estrategista num mata-mata. Em Atenas, o grego foi braço direito de Zeljko Obradovic por 13 anos. Não se sabe se o clube grego permitiu sua saída sem muito esforço, ou se o treinador não tinha a intenção de seguir por lá depois de tanto tempo, mesmo que fosse o assistente.

O comandante da vez do Panathinaikos é o sérvio Dusko Ivanovic, bastante experiente e competente. Mas o treinador vai ter de fazer um dos melhores trabalhos de sua carreira para derrubar o CSKA, um time que tem mais velocidade, mais tamanho e mais elenco. Chumbo grosso. Para ter alguma chance, o time grego vai precisar defender demais e ainda converter seus arremessos de três pontos com um aproveitamento superior aos 37,6% que teve até agora – os russos mataram 41%. Pelo menos um entre os jovens Nikos Pappas e Vlantimir Giankovits também deve jogar em alto nível, para fortalecer a rotação de Ivanovic. Pappas, por exemplo, teve uma exibição incrível na melhor partida dos verdes na temporada, quando trucidaram o Real Madrid em Atenas. Duro é repetir esse padrão por pelo menos três partidas na série melhor-de-cinco.

Dimitris Diamantidis ainda tem um truque ou outro para oferecer como marcador, mesmo um passo mais lento. Isso se deve ao seu tamanho, envergadura e, claro, inteligência. Talvez seja o responsável por marcar Milos Teodosic, que faz a melhor Euroliga de sua vida. O sérvio, porém, não é a única força criativa no elenco dos russos. Nando De Colo também curte ótima fase, enquanto Sonny Weems, refugo do Denver Nuggets e do Toronto Raptors, se fixou com um dos grandes alas do basquete europeu. Para não falar do arranque do armador Aaron Jackson.

FENERBAHÇE X MACCABI TEL AVIV

Títulos: 6 para Maccabi, 0 para Fener.
Passagem pela NBA: Andrew Goudelock, Semih Erden, Jan Vesey (Fener); Jeremy Pargo, Joe Alexander (Maccabi).
Na Copa do Mundo: Bogdan Bogdanovic, Nemanja Bjelica, Emir Preldzic, Oguz Savas, Luka Zoric, Nikos Zisis (Fener).
Campanha: Fener 19-5; Maccabi 16-8.

No papel, também é difícil de imaginar o Maccabi fazendo frente ao Fenerbahçe. Por outro lado, este embate talvez sugira aquele debate de sempre sobre o peso da tradição num mata-mata. É muito simples dizer, por exemplo, que no ano passado o Olimpia Milano fraquejado contra os israelenses, caindo nesta mesma fase e abrindo caminho para o título da equipe então dirigida por David Blatt.

Que Blatt tenha acertado sua rotação externa, encontrando o papel ideal para o tampinha Tyrese Rice, que os veteranos Guy Pnini e David Blu tenham esquentado a mão nos arremessos de três pontos e qualquer outra sacada tática parecida não importar. Porque é sempre mais fácil falar de coragem, coração, garra – ou, claro, de amarelar, porque é sempre mais prazeroso, hoje em dia, detonar alguém.

De qualquer forma, o Fener realmente entra pressionado – apenas o Real Madrid tem responsabilidade maior. O clube investe demais há pelo menos três anos para tentar ser o primeiro clube turco a enfim conquistar a Euroliga. Esse é um fator que não pode ser subestimado. Considere que a maior companhia aérea do país é o principal patrocinador da competição. A primeira barreira, no entanto, já foi rompida: a equipe não disputava os playoffs há sete anos.

Foi para isso que eles contrataram Obradovic, o técnico com o assombroso currículo de oito títulos continentais. O sérvio teve carta branca para contratar quem bem entendesse, incluindo o armador Nikos Zisis já durante a temporada. Com o grego no seu elenco, o time ganhou estabilidade e consistência. Especialmente em jogos mais cadenciados. Sua presença se tornou ainda mais importante depois da lesão de Ricky Hickman – justamente o armador ex-Maccabi, o único atleta do elenco que já ergueu a taça. A despeito de o elenco ser caríssimo, a rotação de armadores ficaria seriamente comprometida sem ele. Ainda assim, o jovem Kenan Sipahi, de apenas 19 anos, ainda terá seus nervos testados aqui e ali. Se não estiver bem, é de se imaginar que o faz-tudo Emir Preldzic, um ala de 2,06 m, e Bogdan Bogdanovic conduzam a bola para dar um descanso ao titular.

O Fener continua tendo muita versatilidade em seu jogo. Tem pivôs altos, fortes e rodados como Savas e Erden para trombar com Sofoklis Schortsanitis e também tem espigões flexíveis como Jan Vesely e Nemanja Bjelica, que deverão fazer duelos interessantíssimos com Alex Tyus, Joe Alexander (aquele, ex-Bucks e Bulls) e Brian Randle, três dos homens de garrafão mais explosivos do campeonato. Bjelica merece uma vaga no quinteto ideal da competição, com um empenho notável nos rebotes, para não falar de toda a sua versatilidade no ataque.

Para o Maccabi, a corrida parece o melhor caminho, mesmo. Espaçar a quadra e procurar definições rápidas antes que a agora poderosa defesa turca se estabeleça. Para isso, depende bastante da criatividade e do temperamento do armador Jeremy Pargo. O torcedor do Flamengo se lembra dele, né?

A questão é que o americano perdeu muito do seu rendimento no decorrer da temporada. Por vezes, tenta o lance mais difícil e se atrapalha. Obviamente, o clube israelense espera contar mais com seus altos (quando está agredindo as defesas, invadindo o garrafão e servindo aos pivôs) do que os baixos (quando força a barra nos arremessos de três pontos e ignora os companheiros de modo inexplicável, uma vez que acerta apenas 28% dos chutes de fora). Num duelo com Andrew Goudelock, um cestinha muito mais qualificado, pode se perder caso queira “ralar” em quadra.

Outro embate interessante deve acontecer entre o jovem Bogdan-Bogdan e o veterano Devin Smith, um dos destaques do campeonato. Aos32 anos, o americano disputa a sua melhor Euroliga e teve seu contrato renovado até 2018. Na atual configuração do clube, é um dos poucos remanescentes da rotação que ganhou o título ano passado, ao lado de Schortsanitis, Tyus e do sempre regular Yogev Ohayon. E chega aos mata-matas com a confiança lá em cima, após ter anotado 50 pontos nas últimas duas rodadas para classificar o Maccabi. O ala-armador sérvio, contudo, tem muita personalidade e talento para lhe fazer frente.

A torcida em Tel Aviv está acostumada com grandes e tensas batalhas. A de Istambul, no basquete, nem tanto. Se o Fener perder um dos dois primeiros jogos, como vai reagir? Se depender de seu retrospecto como visitante, não será problema: o clube venceu 10 de 12 partidas fora, ficando cinco meses invicto nessas condições.

BARCELONA X OLYMPIAKOS

– Títulos: 3 Olympiakos, 2 Barça.
Passagem pela NBA: Juan Carlos Navarro, Maciej Lampe, Bostjan Nachbar (Barça); Othello Hunter, Vassilis Spanoulis, Oliver Lafayette (Olympiakos).
Na Copa do Mundo: Alejandro Abrines, Edwin Jackson, Mario Hezonja, Marcelinho Huertas, Ante Tomic, Navarro (Barça); Kostas Sloukas, Vangelis Mantzaris, Georgios Printezis, Lafayette (Olympiakos).
Campanha: Barça 20-4; Olympiakos 18-6.

Do ponto de vista brasileiro, a prioridade aqui é monitorar o desfecho de temporada de Marcelinho Huertas, que foi para o banco do jovem Tomas Satoransky em fevereiro e viu sua produção despencar desde então. Nas últimas oito rodadas, o brasileiro anotou 33 pontos e distribuiu 26 assistências. Seja por baixa confiança ou devido a problemas físicos, acertou nestes mesmos jogos apenas 8 em 22 arremessos de dois pontos e 4 em 22 de longa distância. Individualmente, talvez seja sua pior fase com a camisa blaugrana. Contraditoriamente, depois de ter jogado muito na virada da primeira fase para o Top 16.

A queda de rendimento do antigo titular, porém, não abalou o sistema ofensivo do clube catalão que venceu todas essas oito partidas e só não atingiu a casa de 80 pontos no triunfo sobre o Estrela Vermelha (77 a 73). Com Satoransky, Xavier Pascual ainda ganha um defensor mais ágil e mais comprido em seu perímetro, resguardando Juan Carlos Navarro. Isto é: fica difícil de imaginar uma alteração aqui. Quer um resumo de como foi a temporada do brasileiro?

A grande atuação de Huertas contra o Fenerbahçe

Huertas vai reagir nos playoffs?

Caberá muito provavelmente ao tcheco e ao americano Brad Oleson, aliás, a grande missão da série: brecar Vassilis Spanoulis. Afinal, a importância do armador grego para sua equipe já se tornou um mantra da Euroliga: o Olympiakos só vai até onde o astro puder carregá-lo. Pelo segundo ano seguido, no entanto, o clube de Pireus vê sua grande referência chegar aos mata-matas longe de sua melhor forma. Está afastado das quadras desde o dia 13 de março, mas treinou por uma semana e vai para o jogo em Barcelona. A questão é saber qual o seu estado físico. Terá estabilidade e explosão para coordenar o jogo de pick-and-roll que faz tão bem? Todo o sistema ofensivo depende de seu talento para isso. A ideia é que ele quebre a primeira linha defensiva e vá lá dentro para atacar a cesta, municiar seus pivôs atléticos ou abrir a bola na zona morta para o tiro de três.

Se não conseguir ganhar o garrafão, Spanoulis acaba virando um mortal – ainda com um arremesso perigoso e boa visão de quadra, mas um mortal. Nesse cenário, cresce a relevância do americano-belga Matt Lojeski, um grande chutador (46,3% de três), que deveria até mesmo ser mais envolvido no plano de jogo da equipe. Oliver Lafayette, mais um armador americano-croata, também teria maior responsabilidade, uma vez que Kostas Sloukas não curte seu melhor momento. Fica aqui, de qualquer forma, pelo bem do basquete, a torcida para que o camisa 7 alvirrubro esteja bem. Afinal, pode ser um dos seus últimos duelos com “La Bomba”. Navarro e ele ocupam, respectivamente, as primeira e terceira posições no ranking de cestinhas da Euroliga.


A chave para o Olympiakos parece estar nessa turma de perímetro, mesmo. Que eles conseguirem um rendimento superior ao de seus concorrentes. No garrafão, a despeito da instigante diferença de perfis a estatura, técnica e leveza de Ante Tomic e Tibor Pleiss e a velocidade, força física e impulsão de Bryant Dunston e Othello Hunter, o Barça deve levar vantagem. A tendência é a de jogos amarrados, decididos em meia quadra. O Olympiakos teve a segunda melhor defesa do campeonato, enquanto o Barça teve a quinta.

REAL MADRID X ANADOLU EFES

– Títulos: 8 para Real Madrid, 0 para Anadolu
– Passagem pela NBA: Rudy Fernández, Andrés Nocioni, Sérgio Rodríguez, Gustavo Ayón (Real); Nenad Krstic, Stephane Lasme (Anadolu).
– Na Copa do Mundo: Fernández, Nocioni, Rodríguez, Ayón, Ioannis Bourousis, Sérgio Lllull, Felipe Reyes, Facundo Campazzo, Jonas Maciulis (Real); Cedi Osman, Krstic, Thomas Heurtel, Dario Saric (Anadolu).
– Campanha: Real 19-5; Anadolu 12-12.

Os dois times já haviam se enfrentado na primeira fase, com uma vitória para cada lado. A diferença é que o Anadolu pastou para vencer em seu ginásio, por 75 a 73, com cesta da vitória em tapinha no último segundo de Matt Janning, enquanto, na volta, os espanhóis arrasaram: 90 a 70.


o clube espanhol, basicamente, é aquele que joga mais pressionado. Não só por ser o maior vencedor do campeonato europeu de basquete, com oito títulos, e não levantar uma taça desde 1995, mas também pelo fato de ter perdido as últimas duas e finais e, principalmente, por saber que Madri é a sede do Final Four deste ano. Imagine o desespero merengue num caso de eliminação? Tão questionado – de modo injusto, ao meu ver –, o técnico Pablo Laso não pode nem pensar nisso.

Algo vital: cuidar para que Rudy Fernández esteja inteiro e saudável para o confronto. O genioso e talentoso ala lesionou as costas em jogo contra o Zaragoza e não vai nem enfrentar o Barça no Superclássico de domingo. Se Sergio Rodríguez foi o MVP da temporada passada, na atual é Rudy quem tem dado as cartas pelo time, atacando com eficiência (12,8 pontos, 38,4% nos arremessos de três, 3,3 assistências x 1,3 turnover) e ajudando ainda mais na defesa, pressionando as linhas de passe com muito perigo. Ao dos Sérgios, promovem um abafa no perímetro, buscando a tomada de bola e a saída em velocidade. O Real perdeu Nikola Mirotic, mas ainda é muito eficiente no contra-ataque.

Controlar os turnovers é algo fundamental para o Anadolu de Dusan Ivkovic. Se o jogo fugir do controle, um abraço. O que pega é que o Real também tende a levar a melhor no jogo interior. Quer dizer: tudo vai girar em torno de Nenad Krstic, o veterano do Anadolu que vive excelente momento. Se o sérvio mantiver o pique e não se complicar com faltas, pode até inverter esse panorama. Do contrário, não haverá como competir com as numerosas opções madridistas – outro time que possui pivôs para todos os gostos (Bourousis é alto, forte e chuta de fora; Ayón é dos jogadores mais inteligentes que você vai encontrar em quadra e faz um pouco de tudo, e o mesmo pode ser dito sobre Reyes; Slaughter e Mejri entregam capacidade atlética e vigor).

Rudy Fernández, o líder do Real 2014-2015: mais basquete, menos teatro

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Stephane Lasme pode ter feito boa partida contra o Fener na última rodada, mas claramente não é o mesmo jogador dos tempos de Panathinaikos, com mobilidade reduzida. O jovem Dario Saric, em seu primeiro campeonato de ponta, será testado por Gustavo Ayón e Andrés Nocioni – bons duelos para o Philadelphia 76ers observar. Milko Bjelica vai bem no ataque, com sua capacidade para colocar a bola no chão e atacar o aro, mas não tem muita disposição para os embates defensivos.

O pivô sérvio, ex-CSKA, Thunder, Celtics e Nets, vem com média de 14,6 pontos nas últimas seis rodadas, se tornando a referência ofensiva. Isso, aliás, representa quebra no padrão apresentado até então pelo clube turco, uma vez que, no geral, o ala grego Stratos Perperoglou ainda é o cestinha, com apenas 10,6 pontos. Essa quantia ínfima reforça a noção de uma equipe equilibrada, com diversas opções. Um time perigoso, mas sem tanto poder de fogo também.

Levou um tempo para o armador Thomas Heurtel se entrosar com seus novos companheiros, o que é natural: ele se transferiu do Laboral para o Anadolu em meio ao campeonato. O reforço vai precisar chegar ao auge, mesmo, contra Rodríguez e Llull, dois dos melhores armadores da Europa, que atazanam a vida de qualquer um no ataque e na defesa. Para tanto, conta com a ajuda de Dontaye Draper, ex-Real, ganha uma motivação a mais para ajudar seu companheiro francês. É um excelente defensor e conhece os rivais como poucos. Também por isso, sabe que tem uma tarefa ingrata pela frente. A dupla orquestra o ataque mais solidário da história da Euroliga, com 22,0 assistências em média por partida.

O Anadolu chega aos playoffs capengando, precisando de uma ajudinha do Unicaja Málaga até. Ninguém vai subestimar as capacidades de Ivkovic numa situação dessas. Mas admito que me espantaria ver o Real fora do Final Four. No retrospecto, o clube espanhol venceu 13 dos últimos 14 confrontos.