Vinte Um

Arquivo : Jeremy Pargo

Euroligado: que comecem as batalhas
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

euroleague-playoffs-2014-15

A Euroliga abre nesta terça-feira sua fase de playoffs, sem grandes surpresas entre os oito finalistas. Agora o que isso quer dizer? Que a tendência é que tenhamos alguns confrontos bastante equilibrados na fase de quartas de final, com camisas de peso em quadra – são 31 títulos acumulados entre os participantes.

Mas obviamente não é só isso. Não adianta ter a sala cheia de troféus do passado. E os elencos que vão para a quadra nestes playoffs são, em geral, estelares. São 26 jogadores com experiência de NBA (sem contar os diversos atletas que já foram Draftados e eventualmente farão a transição), além de 29 atletas que disputaram a Copa do Mundo do ano passado.

(Embora aqui valha uma observação: há casos como o do armador americano-croata Oliver Lafayette, que disputou apenas uma só partida pelo Boston Celtics. A NBA está em seu currículo, fato. Mas quem vai dizer que isso significa mais do que todos os prêmios e títulos de uma lenda viva como Dimitris Diamantidis, que nunca pensou em jogar nos Estados Unidos? Enfim, a sigla é valiosa, mas não significa tudo na carreira de alguns caras.)

>> A cobertura da Euroliga 2014-2015 no VinteUm
>> A temporada europeia de Marcelinho Huertas

Nesta terça, a brincadeira começa com o CSKA e o Fener jogando em casa. Na quarta, entram os gigantes espanhóis em cena, também com mando de quadra. O Sports+, canal 228 da SKY, vai transmitir tudo com exclusividade. Vou comentar a primeira leva de jogos. Como gosta de dizer o companheiro Decimar Leite, é a melhor competição de basquete do mundo. Já que a NBA não conta.

Sem mais delongas, algumas observações sobre as séries:

CSKA MOSCOU X PANATHINAIKOS

– Títulos: 6 para cada um.
Passagem pela NBA: Nando De Colo, Sonny Weems, Andrei Kirilenko, Viktor Khryapa, Demetris Nichols (CSKA); Esteban Batista, DeMarcus Nelson, Antonis Fotsis, Gani Lawal (Panathinaikos).
Na Copa do Mundo: Milos Teodosic (CSKA). PS: a Rússia ficou fora, né? Em Londres 2012, 5 atletas do CSKA foram medalhistas de bronze; já o legendário Dimitris Diamantidis se aposentou da seleção grega.
Campanha: CSKA 22-2; Panathinaikos 12-12.

Como podemos notar pela discrepância entre as campanhas de ambos, dá para dizer que este deve ser o confronto menos equilibrado. Não duvido que pinte uma varrida para o clube moscovita, que só perdeu um jogo para Fenerbahçe e outro para Olympiakos – isto é, perdeu para quem podia, na fase Top 16. É um CSKA muito mais forte que o do ano passado, quando precisou do quinto jogo para despachar o mesmo Panathinaikos pelas quartas de final. É a única revanche aqui.

O time de Dimitris Itoudis chegou a vencer 15 partidas consecutivas nesta temporada. No geral, termina com o melhor aproveitamento da fase de grupos, com impressionantes 91,6%. Tem sido um trabalho excepcional do treinador grego, que, até o momento, perdeu apenas cinco partidas na temporada – as outras três aconteceram pela Liga VTB, o equivalente ao campeonato russo nesses dias, mas com participação especial de tchecos, letãos, estonianos e outro).

Está certo que o técnico tem um timaço ao seu dispor. Basta reparar com mais atenção nos nomes citados acima. É sempre um desafio pegar tantos jogadores de ponta e cuidar da química em quadra. Pegue um cara como Andrei Vorontsevich, por exemplo. O ala-pivô fez um grande campeonato. Na reta final, porém, teve de aceitar o retorno de Andrei Kirilenko, vindo da NBA, e de Victor Khryapa, recuperado de lesão. Apenas os principais nomes do basquete russo hoje, prontos para receber uma boa carga de minutos.

Desta forma, não deixa de ser curioso que o Panathinaikos, justamente o clube que deixou Itoudis escapar de seus domínios, vá agora testar suas habilidades de estrategista num mata-mata. Em Atenas, o grego foi braço direito de Zeljko Obradovic por 13 anos. Não se sabe se o clube grego permitiu sua saída sem muito esforço, ou se o treinador não tinha a intenção de seguir por lá depois de tanto tempo, mesmo que fosse o assistente.

O comandante da vez do Panathinaikos é o sérvio Dusko Ivanovic, bastante experiente e competente. Mas o treinador vai ter de fazer um dos melhores trabalhos de sua carreira para derrubar o CSKA, um time que tem mais velocidade, mais tamanho e mais elenco. Chumbo grosso. Para ter alguma chance, o time grego vai precisar defender demais e ainda converter seus arremessos de três pontos com um aproveitamento superior aos 37,6% que teve até agora – os russos mataram 41%. Pelo menos um entre os jovens Nikos Pappas e Vlantimir Giankovits também deve jogar em alto nível, para fortalecer a rotação de Ivanovic. Pappas, por exemplo, teve uma exibição incrível na melhor partida dos verdes na temporada, quando trucidaram o Real Madrid em Atenas. Duro é repetir esse padrão por pelo menos três partidas na série melhor-de-cinco.

Dimitris Diamantidis ainda tem um truque ou outro para oferecer como marcador, mesmo um passo mais lento. Isso se deve ao seu tamanho, envergadura e, claro, inteligência. Talvez seja o responsável por marcar Milos Teodosic, que faz a melhor Euroliga de sua vida. O sérvio, porém, não é a única força criativa no elenco dos russos. Nando De Colo também curte ótima fase, enquanto Sonny Weems, refugo do Denver Nuggets e do Toronto Raptors, se fixou com um dos grandes alas do basquete europeu. Para não falar do arranque do armador Aaron Jackson.

FENERBAHÇE X MACCABI TEL AVIV

Títulos: 6 para Maccabi, 0 para Fener.
Passagem pela NBA: Andrew Goudelock, Semih Erden, Jan Vesey (Fener); Jeremy Pargo, Joe Alexander (Maccabi).
Na Copa do Mundo: Bogdan Bogdanovic, Nemanja Bjelica, Emir Preldzic, Oguz Savas, Luka Zoric, Nikos Zisis (Fener).
Campanha: Fener 19-5; Maccabi 16-8.

No papel, também é difícil de imaginar o Maccabi fazendo frente ao Fenerbahçe. Por outro lado, este embate talvez sugira aquele debate de sempre sobre o peso da tradição num mata-mata. É muito simples dizer, por exemplo, que no ano passado o Olimpia Milano fraquejado contra os israelenses, caindo nesta mesma fase e abrindo caminho para o título da equipe então dirigida por David Blatt.

Que Blatt tenha acertado sua rotação externa, encontrando o papel ideal para o tampinha Tyrese Rice, que os veteranos Guy Pnini e David Blu tenham esquentado a mão nos arremessos de três pontos e qualquer outra sacada tática parecida não importar. Porque é sempre mais fácil falar de coragem, coração, garra – ou, claro, de amarelar, porque é sempre mais prazeroso, hoje em dia, detonar alguém.

De qualquer forma, o Fener realmente entra pressionado – apenas o Real Madrid tem responsabilidade maior. O clube investe demais há pelo menos três anos para tentar ser o primeiro clube turco a enfim conquistar a Euroliga. Esse é um fator que não pode ser subestimado. Considere que a maior companhia aérea do país é o principal patrocinador da competição. A primeira barreira, no entanto, já foi rompida: a equipe não disputava os playoffs há sete anos.

Foi para isso que eles contrataram Obradovic, o técnico com o assombroso currículo de oito títulos continentais. O sérvio teve carta branca para contratar quem bem entendesse, incluindo o armador Nikos Zisis já durante a temporada. Com o grego no seu elenco, o time ganhou estabilidade e consistência. Especialmente em jogos mais cadenciados. Sua presença se tornou ainda mais importante depois da lesão de Ricky Hickman – justamente o armador ex-Maccabi, o único atleta do elenco que já ergueu a taça. A despeito de o elenco ser caríssimo, a rotação de armadores ficaria seriamente comprometida sem ele. Ainda assim, o jovem Kenan Sipahi, de apenas 19 anos, ainda terá seus nervos testados aqui e ali. Se não estiver bem, é de se imaginar que o faz-tudo Emir Preldzic, um ala de 2,06 m, e Bogdan Bogdanovic conduzam a bola para dar um descanso ao titular.

O Fener continua tendo muita versatilidade em seu jogo. Tem pivôs altos, fortes e rodados como Savas e Erden para trombar com Sofoklis Schortsanitis e também tem espigões flexíveis como Jan Vesely e Nemanja Bjelica, que deverão fazer duelos interessantíssimos com Alex Tyus, Joe Alexander (aquele, ex-Bucks e Bulls) e Brian Randle, três dos homens de garrafão mais explosivos do campeonato. Bjelica merece uma vaga no quinteto ideal da competição, com um empenho notável nos rebotes, para não falar de toda a sua versatilidade no ataque.

Para o Maccabi, a corrida parece o melhor caminho, mesmo. Espaçar a quadra e procurar definições rápidas antes que a agora poderosa defesa turca se estabeleça. Para isso, depende bastante da criatividade e do temperamento do armador Jeremy Pargo. O torcedor do Flamengo se lembra dele, né?

A questão é que o americano perdeu muito do seu rendimento no decorrer da temporada. Por vezes, tenta o lance mais difícil e se atrapalha. Obviamente, o clube israelense espera contar mais com seus altos (quando está agredindo as defesas, invadindo o garrafão e servindo aos pivôs) do que os baixos (quando força a barra nos arremessos de três pontos e ignora os companheiros de modo inexplicável, uma vez que acerta apenas 28% dos chutes de fora). Num duelo com Andrew Goudelock, um cestinha muito mais qualificado, pode se perder caso queira “ralar” em quadra.

Outro embate interessante deve acontecer entre o jovem Bogdan-Bogdan e o veterano Devin Smith, um dos destaques do campeonato. Aos32 anos, o americano disputa a sua melhor Euroliga e teve seu contrato renovado até 2018. Na atual configuração do clube, é um dos poucos remanescentes da rotação que ganhou o título ano passado, ao lado de Schortsanitis, Tyus e do sempre regular Yogev Ohayon. E chega aos mata-matas com a confiança lá em cima, após ter anotado 50 pontos nas últimas duas rodadas para classificar o Maccabi. O ala-armador sérvio, contudo, tem muita personalidade e talento para lhe fazer frente.

A torcida em Tel Aviv está acostumada com grandes e tensas batalhas. A de Istambul, no basquete, nem tanto. Se o Fener perder um dos dois primeiros jogos, como vai reagir? Se depender de seu retrospecto como visitante, não será problema: o clube venceu 10 de 12 partidas fora, ficando cinco meses invicto nessas condições.

BARCELONA X OLYMPIAKOS

– Títulos: 3 Olympiakos, 2 Barça.
Passagem pela NBA: Juan Carlos Navarro, Maciej Lampe, Bostjan Nachbar (Barça); Othello Hunter, Vassilis Spanoulis, Oliver Lafayette (Olympiakos).
Na Copa do Mundo: Alejandro Abrines, Edwin Jackson, Mario Hezonja, Marcelinho Huertas, Ante Tomic, Navarro (Barça); Kostas Sloukas, Vangelis Mantzaris, Georgios Printezis, Lafayette (Olympiakos).
Campanha: Barça 20-4; Olympiakos 18-6.

Do ponto de vista brasileiro, a prioridade aqui é monitorar o desfecho de temporada de Marcelinho Huertas, que foi para o banco do jovem Tomas Satoransky em fevereiro e viu sua produção despencar desde então. Nas últimas oito rodadas, o brasileiro anotou 33 pontos e distribuiu 26 assistências. Seja por baixa confiança ou devido a problemas físicos, acertou nestes mesmos jogos apenas 8 em 22 arremessos de dois pontos e 4 em 22 de longa distância. Individualmente, talvez seja sua pior fase com a camisa blaugrana. Contraditoriamente, depois de ter jogado muito na virada da primeira fase para o Top 16.

A queda de rendimento do antigo titular, porém, não abalou o sistema ofensivo do clube catalão que venceu todas essas oito partidas e só não atingiu a casa de 80 pontos no triunfo sobre o Estrela Vermelha (77 a 73). Com Satoransky, Xavier Pascual ainda ganha um defensor mais ágil e mais comprido em seu perímetro, resguardando Juan Carlos Navarro. Isto é: fica difícil de imaginar uma alteração aqui. Quer um resumo de como foi a temporada do brasileiro?

A grande atuação de Huertas contra o Fenerbahçe

Huertas vai reagir nos playoffs?

Caberá muito provavelmente ao tcheco e ao americano Brad Oleson, aliás, a grande missão da série: brecar Vassilis Spanoulis. Afinal, a importância do armador grego para sua equipe já se tornou um mantra da Euroliga: o Olympiakos só vai até onde o astro puder carregá-lo. Pelo segundo ano seguido, no entanto, o clube de Pireus vê sua grande referência chegar aos mata-matas longe de sua melhor forma. Está afastado das quadras desde o dia 13 de março, mas treinou por uma semana e vai para o jogo em Barcelona. A questão é saber qual o seu estado físico. Terá estabilidade e explosão para coordenar o jogo de pick-and-roll que faz tão bem? Todo o sistema ofensivo depende de seu talento para isso. A ideia é que ele quebre a primeira linha defensiva e vá lá dentro para atacar a cesta, municiar seus pivôs atléticos ou abrir a bola na zona morta para o tiro de três.

Se não conseguir ganhar o garrafão, Spanoulis acaba virando um mortal – ainda com um arremesso perigoso e boa visão de quadra, mas um mortal. Nesse cenário, cresce a relevância do americano-belga Matt Lojeski, um grande chutador (46,3% de três), que deveria até mesmo ser mais envolvido no plano de jogo da equipe. Oliver Lafayette, mais um armador americano-croata, também teria maior responsabilidade, uma vez que Kostas Sloukas não curte seu melhor momento. Fica aqui, de qualquer forma, pelo bem do basquete, a torcida para que o camisa 7 alvirrubro esteja bem. Afinal, pode ser um dos seus últimos duelos com “La Bomba”. Navarro e ele ocupam, respectivamente, as primeira e terceira posições no ranking de cestinhas da Euroliga.


A chave para o Olympiakos parece estar nessa turma de perímetro, mesmo. Que eles conseguirem um rendimento superior ao de seus concorrentes. No garrafão, a despeito da instigante diferença de perfis a estatura, técnica e leveza de Ante Tomic e Tibor Pleiss e a velocidade, força física e impulsão de Bryant Dunston e Othello Hunter, o Barça deve levar vantagem. A tendência é a de jogos amarrados, decididos em meia quadra. O Olympiakos teve a segunda melhor defesa do campeonato, enquanto o Barça teve a quinta.

REAL MADRID X ANADOLU EFES

– Títulos: 8 para Real Madrid, 0 para Anadolu
– Passagem pela NBA: Rudy Fernández, Andrés Nocioni, Sérgio Rodríguez, Gustavo Ayón (Real); Nenad Krstic, Stephane Lasme (Anadolu).
– Na Copa do Mundo: Fernández, Nocioni, Rodríguez, Ayón, Ioannis Bourousis, Sérgio Lllull, Felipe Reyes, Facundo Campazzo, Jonas Maciulis (Real); Cedi Osman, Krstic, Thomas Heurtel, Dario Saric (Anadolu).
– Campanha: Real 19-5; Anadolu 12-12.

Os dois times já haviam se enfrentado na primeira fase, com uma vitória para cada lado. A diferença é que o Anadolu pastou para vencer em seu ginásio, por 75 a 73, com cesta da vitória em tapinha no último segundo de Matt Janning, enquanto, na volta, os espanhóis arrasaram: 90 a 70.


o clube espanhol, basicamente, é aquele que joga mais pressionado. Não só por ser o maior vencedor do campeonato europeu de basquete, com oito títulos, e não levantar uma taça desde 1995, mas também pelo fato de ter perdido as últimas duas e finais e, principalmente, por saber que Madri é a sede do Final Four deste ano. Imagine o desespero merengue num caso de eliminação? Tão questionado – de modo injusto, ao meu ver –, o técnico Pablo Laso não pode nem pensar nisso.

Algo vital: cuidar para que Rudy Fernández esteja inteiro e saudável para o confronto. O genioso e talentoso ala lesionou as costas em jogo contra o Zaragoza e não vai nem enfrentar o Barça no Superclássico de domingo. Se Sergio Rodríguez foi o MVP da temporada passada, na atual é Rudy quem tem dado as cartas pelo time, atacando com eficiência (12,8 pontos, 38,4% nos arremessos de três, 3,3 assistências x 1,3 turnover) e ajudando ainda mais na defesa, pressionando as linhas de passe com muito perigo. Ao dos Sérgios, promovem um abafa no perímetro, buscando a tomada de bola e a saída em velocidade. O Real perdeu Nikola Mirotic, mas ainda é muito eficiente no contra-ataque.

Controlar os turnovers é algo fundamental para o Anadolu de Dusan Ivkovic. Se o jogo fugir do controle, um abraço. O que pega é que o Real também tende a levar a melhor no jogo interior. Quer dizer: tudo vai girar em torno de Nenad Krstic, o veterano do Anadolu que vive excelente momento. Se o sérvio mantiver o pique e não se complicar com faltas, pode até inverter esse panorama. Do contrário, não haverá como competir com as numerosas opções madridistas – outro time que possui pivôs para todos os gostos (Bourousis é alto, forte e chuta de fora; Ayón é dos jogadores mais inteligentes que você vai encontrar em quadra e faz um pouco de tudo, e o mesmo pode ser dito sobre Reyes; Slaughter e Mejri entregam capacidade atlética e vigor).

Rudy Fernández, o líder do Real 2014-2015: mais basquete, menos teatro

Rudy Fernández, o líder do Real 2014-2015: mais basquete, menos teatro

Stephane Lasme pode ter feito boa partida contra o Fener na última rodada, mas claramente não é o mesmo jogador dos tempos de Panathinaikos, com mobilidade reduzida. O jovem Dario Saric, em seu primeiro campeonato de ponta, será testado por Gustavo Ayón e Andrés Nocioni – bons duelos para o Philadelphia 76ers observar. Milko Bjelica vai bem no ataque, com sua capacidade para colocar a bola no chão e atacar o aro, mas não tem muita disposição para os embates defensivos.

O pivô sérvio, ex-CSKA, Thunder, Celtics e Nets, vem com média de 14,6 pontos nas últimas seis rodadas, se tornando a referência ofensiva. Isso, aliás, representa quebra no padrão apresentado até então pelo clube turco, uma vez que, no geral, o ala grego Stratos Perperoglou ainda é o cestinha, com apenas 10,6 pontos. Essa quantia ínfima reforça a noção de uma equipe equilibrada, com diversas opções. Um time perigoso, mas sem tanto poder de fogo também.

Levou um tempo para o armador Thomas Heurtel se entrosar com seus novos companheiros, o que é natural: ele se transferiu do Laboral para o Anadolu em meio ao campeonato. O reforço vai precisar chegar ao auge, mesmo, contra Rodríguez e Llull, dois dos melhores armadores da Europa, que atazanam a vida de qualquer um no ataque e na defesa. Para tanto, conta com a ajuda de Dontaye Draper, ex-Real, ganha uma motivação a mais para ajudar seu companheiro francês. É um excelente defensor e conhece os rivais como poucos. Também por isso, sabe que tem uma tarefa ingrata pela frente. A dupla orquestra o ataque mais solidário da história da Euroliga, com 22,0 assistências em média por partida.

O Anadolu chega aos playoffs capengando, precisando de uma ajudinha do Unicaja Málaga até. Ninguém vai subestimar as capacidades de Ivkovic numa situação dessas. Mas admito que me espantaria ver o Real fora do Final Four. No retrospecto, o clube espanhol venceu 13 dos últimos 14 confrontos.


Euroligado: muito aperto, Real x Barça e a queda do invicto
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Rudy Fernández foi o MVP da rodada. Mais que merecido

Rudy Fernández foi o MVP da rodada. Mais que merecido

É, amigos, haaaaaja coração, expressaria o Galvão.

Foi uma semana de infartar na Euroliga, a 16ª da competição continental, e a sexta em sua segunda fase, o Top 16. A semana mais especial da temporada, sem dúvida. Das oito partidas disputadas, quatro foram decididas por três pontos ou menos no placar, enquanto outras três a vantagem do time vencedor não superou a barreira dos nove pontos, com direito, aqui, a um triunfo do Olypiakos sobre o CSKA Moscou, por 85 a 76, encerrando a invencilidade. A única sacolada? Foi justamente no superclássico espanhol, com o Real Madrid atropelando o Barcelona por 97 a 73, em casa. Alguns pitacos, então:

– Começando pelo duelo Real x Barça, o terceiro desta temporada 2014-2015. Cada um dos arquirrivais havia vencido uma vez, e os merengues levaram esse primeiro tira-teima com autoridade. Rudy Fernández jogou uma barbaridade. O ala primeiro deu o tom de uma defesa pressionada que desestabilizou o jogo exterior de um oponente que já não contava com Juan Carlos Navarro e Brad Oleson. O abafa permitiu que sua equipe jogasse em transição, do modo como adora fazer. Quando o Real encaixa seu contra-ataque, já deu para perceber que a atual configuração do Barcelona simplesmente vai comer poeira. Os catalães simplesmente não conseguem acompanhá-los – em contrapartida, numa partida mais truncada, de meia quadra, tendem a levar a melhor graças ao poderio de Ante Tomic. Rudy marcou demais e brilhou também no ataque, somando 22 pontos, 9 rebotes, 5 assistências e 3 roubos de bola em apenas 28 minutos. Os dois Sergios, Rodríguez e Llull, acompanharam o ritmo e acumularam 34 pontos e 10 assistências, dando um trabalho danado a Marcelinho Huertas, que se despediu de quadra com oito pontos e seis turnovers em 23 minutos. A única nota positiva para o Barça foi o desempenho do jovem Mario Hezonja, com 22 pontos em 28 minutos, matando cinco bolas de três pontos. O garoto de 19 anos, da Croácia, está com a confiança lá em cima. Veja alguns dos melhores momentos da partida que transmiti ao lado de Mauricio Bonato pelo Sports+:

– O desfecho mais polêmico valeu para Galatasaray 94 x 97 Maccabi Tel Aviv, definido na prorrogação. A equipe turca não se conforma com um toco do pivô Alex Tyus, do Maccabi, para cima do armador Erden Arslan, a seis segundos do final do tempo extra. Para eles, se tratou de uma bola claramente na descendente. A arbitragem validou o bloqueio. Em release divulgado na sequência, o Galatasaray escreve com todas as palavras: “A vitória nos foi roubada injustamente”. Confira o lance o vídeo abaixo – é um lance muito difícil, mesmo em slow… Ainda acho que a arbitragem acertou em sua marcação, todavia. Detalhe: com quatro segundos restantes no quarto período, o ala-pivô sérvio Zoran Erceg desperdiçou um lance livre que já poderia ter dado o triunfo ao clube turco, que teve uma grande reação na parcial. Outra: mesmo que a bola de Arslan tivesse caído, o Maccabi ainda teria a posse de bola e Jeremy Pargo poderia ter feito, da mesma forma, sua cesta heróica. Por fim: o técnico Ergin Ataman, que tanto protestou em quadra e durante a coletiva, não recebe salário há sete meses (se-te!!!!!!!) e estuda rescindir seu contrato, cansado de promessas não cumpridas. Já destacamos aqui que o Gala perdeu três jogadores ao final da primeira fase por conta de problemas de pagamento. Antes de atacar a organização da competição por um lance no máximo duvidoso, poderiam cuidar de suas próprias dívidas, né?

– Limitado a apenas dois pontos em derrota para o Anadolu Efes, Vassilis Spanoulis reagiu ao seu melhor estilo ao marcar 19 no importantíssimo triunfo do Olympiakos sobre o CSKA, que encerra sua sequência vitoriosa na Euroliga em 15. Os dois times agora estão empatados na liderança do Grupo F – terminar na liderança pode ser algo essencial, dependendo, claro, da classificação do Barcelona, que hoje está justamente em quarto do outro lado da chave e cruzaria com o líder aqui. Mas a expectativa é que o clube espanhol reencontre o rumo no segundo turno do Top 16 e consiga, pelo menos, ultrapassar o Panathinaikos na tabela e, quiça, o Maccabi, que está empatado com o Real na ponta (5-1). Em casa, os gregos perderam o primeiro quarto por 17 a 11, mas conseguiram assumir o controle do placar já no segundo período (vencido por 32 a 20). A estratégia foi não dar espaço algum para Milos Teodosic nas jogadas de pick-and-roll, cortando o mal pela raiz: os ágeis pivôs como Dunston e Hunter dobravam para cima do armador, sem tirando o arremesso e a linha de passe, num empenho irrepreensível. Do outro lado, também procuraram explorar as deficiências defensivas do sérvio sempre que possível – fez falta, então, para os russos o americano Aaron Jackson. Não há mais invictos agora na Euroliga.

– Na derrota custosa para o Zalgiris Kaunas, por 70 a 68, em casa, o Estrela Vermelha errou todos os 19 arremessos que tentou de três pontos. Todos, mesmo, inclusive o último, com o armador Marcus Williams buscando a consagração na última bola. Os caras já haviam desperdiçado 18 chutes de longa distância e ainda assim foram para a bola matadora. Peserverança: a gente se vê por aqui. O americano, aliás, errou cinco disparos, deixando seu aproveitamento na temporada cair para 30,1%. Tá ok! Seu compatriota Charles Jenkins desperdiçou outras quatro. Ao menos, tantos erros proporcionaram 17 rebotes ofensivos no geral para o time e mais um double-double de Boban Marjanovic, o último dos dinossauros, que marcou 17 e 10 em 27 minutos. O engraçado é que os visitantes lituanos acertaram apenas 3 bolas de três na partida. Mas só em 14 tentativas. James Anderson fez 22 pontos para eles.

– Se não há mais invictos, também temos agora ao menos uma vitória para cada participante do Top 16. O lanterninha Unicaja Málaga foi o que mais demorou para comemorar, batendo o Nizhny Novgorod por 85 a 76. O armador Jayson Granger, um jogador que cresceu demais nos últimos dois anos, fez 29 pontos em 25 minutos, acertando 9 de 13 arremessos de quadra e 9 de 10 lances livres. Pouco eficiente o uruguaio, né?

Devido ao adiantado da hora, a sessão vai ter um texto mais econômico hoje, ok?


Euroligado: oscilações acontecem, mas CSKA é uma constante
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Andrey Vorontsevich fecha a porta na cara de Tarence Kinsey

Andrey Vorontsevich fecha a porta na cara de Tarence Kinsey

O Top 16 da Euroliga vai se apresentando de maneira bem traiçoeira, com altos e baixos para todos os envolvidos. Menos para o CSKA Moscou, quer dizer. O clube russo se mantém como uma constante em vitórias e invencibilidade, mesmo quando oscila um pouco: na quinta semana da segunda fase, alcançou sua 15ª consecutiva ao derrotar o conterrâneo Nizhny Novgorod por 103 a 95, na prorrogação.

A cinco minutos do fim, parecia que estava tudo tranquilo para o gigante moscovita no confronto, vencendo por 11 pontos. Permitiu, contudo, uma recuperação para o emergente clube russo, precisando jogar um tempo extra para triunfar e ser o , com Milos Teodosic (25 pontos) cumprindo novamente com seu papel de finalizador em momentos de pressão. O CSKA agora é o único invicto nesta segunda etapa da competição continental.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Isso porque o Olympiakos foi oprimido pelo Anadolu Efes de seu ex-mentor, Dusan Ivkovic, que deu uma aula de defesa, ao passo que o Real Madrid reencontrou o Maccabi Tel Aviv pela primeira vez desde a histórica final da temporada passada e saiu mais uma vez derrotado naquele que foi o…

O jogo da rodada: Maccabi Tel Aviv 90 x 86 Real Madrid
Boa parte das bases finalistas em 2014 estão mantidas, mas não dá para dizer que elas sejam as mesmas equipes. Ambas caíram,  principalmente o Real Madrid, que foi o melhor time europeu no último campeonato – isto é, até a decisão. Os espanhóis perderam muito em velocidade e capacidade atlética com a saída de Nikola Mirotic e Tremmell Darden. Ficaram mais vulneráveis na defesa e menos explosivos no ataque.

Mais toco: agora de Brian Randle contra Sérgio Rodríguez

Mais toco: agora de Brian Randle contra Sérgio Rodríguez

Ainda assim, têm um forte conjunto, com chances de ser campeão e capaz de abrir uma vantagem de nove pontos em Tel Aviv no primeiro tempo: 54 a 46. Na segunda etapa, porém, tomaram a virada, sendo derrotados por 12 pontos. O sistema defensivo do Real não conseguiu conter nem as infiltrações de Jeremy Pargo e MarQuez Haynes (tal como haviam sofrido com Tyrece Rice e Ricky Hickman no clássico anterior, perdendo o título), nem o jogo interior do peso-pesado Sofoklis Schortsanitis. Pargo deu nove assistências e só descansou 1min40s. O Baby Shaq grego também jogou mais que o normal: 28 minutos, o dobro de sua média na temproada, e somou 17 pontos e 8 rebotes.

No ataque, o trio Llull-Rodríguez-Fernández combinou para apenas 20 pontos e 8/24 nos arremessos, prevalecendo aqui a retaguarda do Maccabi, orientada por Guy Goodes a fazer a troca a cada corta-luz. O time israelense podia intensificar essas mudanças de marcação especialmente nos minutos em que Schortsanitis estava no banco, apostando na agilidade do restante de seus pivôs (Alex Tyus, Brian Randle e Joe Alexander, reforço para o Top 16 que não desperta boas lembranças no torcedor do Milwaukee Bucks). Felipe Reyes foi o único merengue a brilhar em Tel Aviv, com 20 pontos, 11 rebotes e 3 assistências, atingindo índice de eficiência de 35, que lhe valeria o prêmio de MVP da jornada, não tivesse sua equipe perdido.

Llull ao menos converteu uma cesta de três a menos de 20 segundos do fim para deixar o Real a dois pontos do Maccabi. De imediato, os visitantes fizeram falta em Alexander, parando o cronômetro e botando o americano em uma situação supostamente desconfortável no lance livre. Um dos fiascos do Draft de 2008, recuperado de diversas cirurgias vindo da D-League da NBA, o americano não se abalou com a pressão e matou seus dois chutes para selar a vitória.

Na trilha de Huertas
O brasileiro não precisou fazer muito em vitória de recuperação para o Barcelona sobre o Zalgiris Kaunas, por 89 a 72, em casa. Foram dois pontos, seis assistências e cinco rebotes para o armador, que errou todos os seus seis arremessos de quadra, em 21 minutos. Num jogo tranquilo, Xavier Pascual nem deu bola, podendo preservar seus principais atletas. No finalzinho, o técnico ainda tirou do banco o ala Emir Sulejmanovic, de 19 anos, de quem se espera muito na base do gigante catalão. Pascual, todavia, podia ter dado mais que 10 segundos para esse jogador que defendeu as seleções menores da Finlândia, mas vai jogar pela Bósnia-Herzegovina daqui para a frente. Uma das assistências de Huertas, de qualquer forma, poderia ter valido por, no mínimo, duas:

Veja a classificação geral do Top 16
Confira os resultados e estatísticas

Olho nele: Davis Bertans (Laboral Kutxa)
Alô, #SpursBrasil. Draftado por RC Buford em 2011, na 42ª posição, o ala está devidamente recuperado de uma cirurgia no joelho e vem recebendo extenso tempo de quadra nesta Euroliga, como titular do clube basco aos 22 anos. Com 2,08 m e um excelente arremesso, Bertans faz os olheiros profissionais salivarem há um tempão. Na vitória por 102 a 83 sobre o decepcionante Olimpia Milano, a revelação letã marcou 19 pontos em 16 minutos, castigando a defesa italiana com seu chute de fora (4-5 nos disparos para três pontos e 6-7 no geral). O problema é que o jovem jogador tende a estacionar no perímetro e forçar muito a barra nas bolas de longa distância, quando está claro que tem fluidez para fazer mais que isso. Pode ser muito mais que um clone magro de Matt Bonner.

Em números
7.000 – Dimitris Diamantidis ultrapassou a casa de 7 mil minutos de tempo de quadra na Euroliga, aproveitando-se das lesões recentes de Juan Carlos Navarro para assumir mais um recorde em sua carreira no basquete continental – ele já é o líder no ranking de assistências e roubos de bola. Ao todo, o legendário armador do Panathinaikos disputou 239 partidas do campeonato, empatando com seu ex-companheiro de clube e seleção Kostas Tsartsaris. Navarro jogou 266 vezes e segue em atividade, enquanto mais uma lenda grega, Theo Papaloukas, aposentado, tem 252. Para Diamantidis, o principal foi comemorar com mais uma vitória, e fácil, sobre o Galatasaray por 86 a 77, em casa. Ele fez uma de suas melhores partidas da temporada, com 14 pontos, 6 assistências e 5 rebotes, em 27 minutos.

1.288 – Na derrota para o Maccabi, Felipe Reyes, ícone do Real, se tornou o maior reboteiro da história da Euroliga, ultrapassando o talentoso e polêmico turco Mirsad Turkcan, primeiro de seu país a jogar pela NBA (em tímida passagem por New York Knicks e Milwaukee Bucks de 1999 a 2000, é verdade) e figura que liderou a competição nesse fundamento em três temporadas.

34 – Foi o índice de eficiência de Ante Tomic no triunfo do Barça, valendo mais um prêmio de MVP. O pivô croata somou 16 pontos, 9 rebotes, 5 assistências e 2 tocos, em 24 minutos de perfeição ofensiva (6-7 nos arremessos, 6-6 nos lances livres, nenhum turnover).

2 – O Anadolu Efes conseguiu algo impensável: limitar Vassilis Spanoulis a míseros dois pontos na vitória sobre o Olympiakos por 84 a 70. É até difícil de qualificar este feito. O armador jogou por 27 minutos e simplesmente não encontrou o rumo da cesta, errando todos os seis arremessos que tentou e terminando com três turnovers e apenas uma assistência. Tudo isso resultou num calamitoso índice de -5 na eficiência. Sua menor pontuação na temporada havia sido 9, contra o Laboral Kutxa e o Olimpia Milano. Mérito em quadra para os americanos Matt Janning e Dontaye Draper, que dividiram a responsabilidade de perseguir o astro e fizeram um trabalho excepcional de carrapato. Os grandalhões Stephane Lasme, Nenad Krstic e Dario Saric também ajudaram nessa, compondo sempre um paredão duplo para cima de Spanoulis, quando este chamava o corta-luz, ficando invariavelmente encurralado. Do ponto de vista de posicionamento tático e dedicação em quadra, foi uma aula de defesa do Anadolu no segundo tempo, com a orientação do professor Ivkovic, que foi, também, duas vezes campeão pelo clube grego (1997 e 2012). No ataque, apenas um anfitrião não pontuou: o caçula Furkan Korkmaz, ala-armador de apenas 17 anos.

As 10 jogadas da semana


Flamengo erra um caminhão de bolas de 3 e perde 1ª final
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Foi apenas por  três pontos: 69 a 66. O Flamengo perdeu para o Maccabi Tel Aviv por um placar reduzido desse, nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, na primeira final da Copa Intercontinental. Quer dizer: a equipe carioca tem totais condições de virar o resultado na segunda partida, domingo, com base no saldo de pontos – numa fórmula de competição esdrúxula, independentemente das limitações do calendário internacional, convenhamos.

Então, tudo bem. Acontece, né?

Hm… Nem tanto: as condições poderiam ser muito mais favoráveis para o time rubro-negro no segundo jogo não fosse uma jornada completamente equivocada, desastrada e inexplicável nos arremessos de longa distância.

Pois, que coisa: se, na defesa, a equipe de José Neto fez o dever de casa, fiscalizando da maneira devida, exemplarmente, os arremessos de três pontos de seu adversário, no ataque ela se entregou desta forma. Para deixar mais claro contra-senso: de um lado, trabalhou seriamente para limitar os chutes de fora; do outro, achou que poderia resolver a partida do mesmo jeito.

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

E não é que o Maccabi tenha repetido a dose de seu rival e contestado as tentativas de longa distância flamenguistas. Em diversas ocasiões, principalmente no primeiro tempo, os donos da casa simplesmente se contentaram em brecar na linha perimetral  para mandar ver. Sem sucesso: o aproveitamento geral na noite foi de apenas 4-31 neste tipo de bola. Apenas 12,9%. Com um rendimento desse, não vamos falar de azar ou detalhes, vamos? Sinceramente.

“A verdade é que o time deles fechou muito o garrafão e não tivemos muita saídas. Agora é assistir ao vídeo e ver no que pode melhorar”, afirmou Marquinhos, ao SporTV, que anotou 11 pontos em 29 minutos, convertendo 4 de 12 arremessos, em 29 minutos. Titular da seleção brasileira na Copa do Mundo, o ala foi um pouco mais comedido em seus disparos: 1-4 de longa distância.

Já o Maccabi terminou também com pífios 24% nos arremessos de três pontos, matando apenas 5-21, algo que não valeria nunca um título de Euroliga. Quer dizer: José Neto conseguiu passar a mensagem aos seus atletas de que esse jogo exterior precisaria ser contido. O que deixa perplexo é o fato de, na outra faceta, seus ateltas se perderem justamente da mesma maneira.

Que o Maccabi tenha forçado o Flamengo para os arremessos de fora não é uma surpresa. É um time que não tem tanta estatura ou envergadura, mas que preenche seu garrafão da maneira apropriada. O problema? O time brasileiro se perdeu em uma avalanche de arremessos sem a menor paciência para trabalhar a bola, nem mesmo quando tinha vantagem no placar.

Neste quesito, um jogador com a experiência de Marcelinho Machado precisaria ser um líder, para acalmar a situação. Acabou tendo uma atuação ainda mais lamentável no Rio, errando todos os seus nove chutes, incluindo todos os oito de três, em 19 minutos. Mas não dá para falar apenas do camisa 4. O armador argentino Nicolás Laprovíttola também se atrapalhou todo com apenas uma cesta de longa distância em nove que tentou (2-12 no geral). Vitor Benite, muito mais jovem, explosivo e habilidoso que seu veterano capitão, ficou com 0-5 (fez 9 pontos em 16 minutos, sendo muito mais eficiente quando partiu para os chutes mais de perto (3-3 nas bolas de dois…).

Aqui, cabe o devido parêntese: ambos os times estão em fase de pré-temporada. Estão desenferrujando, recuperando o melhor ritmo de jogo, buscando um melhor entrosamento. O jogo teve, mesmo, cara de amistoso, algo que pode mudar no domingo, com expectativa de público maior no ginásio da Barra. Mas, se for para falar disso, os próprios flamenguistas admitem que isso seria uma vantagem ao seu favor, uma vez que têm apenas dois atletas para assimilarem – Walter Herrmann e a contratação pontual Derrick Caracter –, enquanto, do outro lado, os europeus mudaram mais da metade de sua rotação e ainda estão assimilando os conceitos de um novo treinador. Uma combinação de fatores que abre incógnitas sobre o desenvolvimento do time israelense, dando mais chances para o Flamengo.

Essas chances ficaram evidentes no jogo desta sexta-feira. O campeão brasileiro e latino-americano vencia ao final do terceiro quarto por cinco pontos. A vantagem chegou à casa de duplos dígitos na etapa inicial, mas as precipitações no ataque permitiram que o Maccabi se mantivesse no jogo. Algo que se mostrou fatal no último quarto, quando a boa e velha combinação de um armador explosivo e matreiro com um pivô atlético fazendo a limpa na tábua ofensiva voltou a funcionar.

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Com Tyrese Rice infernizando a defesa de seus adversários e Alex Tyus desequilibrando na rebarba, o time israelense faturou a Euroliga de modo surpreendente em Milão, derrubando o CSKA pela semifinal e o grande favorito Real Madri pela final. Na troca de temporada, com o mercado russo interferindo, Rice se mandou, mas Pargo retornou para assumir sua vaga. Único jogador com experiência de NBA no elenco de Tel Aviv, o armador foi um terror em quadra, com 21 pontos em 30 minutos, matando 8-14 chutes de quadra, castigando a defesa do Fla tanto dentro como fora. Tyus se viu mais limitado, com apenas 23 minutos, mas contribuiu com 9 pontos e 5 rebotes, dois deles ofensivos.

Com o norte-americano ao centro e quatro atletas abertos, o Maccabi lembrou em muito mais o time que levou o título europeu na temporada passada, ao contrário da formação tradicional que usou no início do confronto, com o pesado e nada efetivo Aleks Maric tendo a companhia de Brian Randle no garrafão. No segundo tempo, o australiano Maric ficou grudado no banco de reservas, e os israelenses ganharam em agilidade e mobilidade para fazer uma defesa mais compacta e também pontuarem de modo mais diversificado. Saiu um poste e entrou outro atleta capaz de criar a partir do perímetro, espaçando a retaguarda flamenguista.

Os times foram se estudando, entendendo. Por melhor que seja o scout feito na véspera, nada melhor do que ver o embate empírico de suas peças, ainda mais com a distância geográfica e esportiva que existe entre a Liga das Américas e a Euroliga. Levando este ponto em consideração, o deslize do Flamengo é ainda maior, considerando o cenário propício para desbancar os favoritos.

Também ao SporTV, ao final do jogo, o armador MarQuez Haynes, que anotou 5 pontos em 13 minutos, reconheceu que cada time agora conhece melhor o seu oponente. Se formos pensar assim, o destempero rubro-negro da linha de fora talvez até possa, enfim, jogar ao seu favor. Capaz de o Maccabi não votar mais fé nenhuma neste fundamento. Aí, de repente, a sorte vira de lado. Foram apenas três pontos de vantagem para os israelenses no primeiro jogo. Três pontos não são nada no basquete.

*  *  *

Em sua entrevista pós-jogo, Marquinhos também disse o seguinte: “O Neto tem que colocar em quadra quem ele conhece”. Sem explanar muito, fora de contexto, parece um jab de direita em direção ao americano Caracter, contratado de última hora para a Copa Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos contra a galera da NBA. O pivô jogou por quase 22 minutos e somou 10 pontos e 11 rebotes, sendo, ao lado de Olivinha, um dos atletas mais eficazes do Fla. Talvez não seja uma crítica, então. Mas tem a história do Cruzeiro, no futebol, sempre para ser contada.


Garimpando talentos: conheça o Maccabi jogador por jogador
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Maccabi Tel Aviv 2014-2015

Maccabi Tel Aviv 2014-2015, sem o Baby Shaq grego na foto : (

O Maccabi Tel Aviv tem torcida, grana e um ginásio sensacionais. Um nível de estrutura que nenhum clube brasileiro dedicado ao basquete ainda está perto de atingir. É uma verdadeira potência europeia, mas que vem sofrendo um pouco nas últimas temporadas para sustentar seu status para além da tradição. Leia-se: com resultados.

Mas eles não são os atuais campeões, cara pálida?

Sim, só vão jogar a Copa Intercontinental contra o Flamengo por isso, mesmo. Ta-ta-ta-tum-pá! (Virada imaginária de baterista.)

Agora tenha em mente o seguinte: entre 1999 e 2006, eles ganharam a Euroliga três vezes e só ficaram fora do Final Four em 2003 – o ano em que Anderson Varejão foi campeão pelo Barcelona, aliás. Nos sete campeonatos seguintes, o baque: só terminaram entre os quatro melhores apenas duas vezes, passando em branco, até encerrarem o jejum em 2014.

Pargo foi companheiro de Varejão por alguns meses no Cleveland. Em Maccabi, pode voltar a ser rei

Pargo foi companheiro de Varejão por alguns meses no Cleveland. Em Maccabi, pode voltar a ser rei

Por mais que tenham a tradição e uma base fervorosa, é extremamente complicada a concorrência financeira com outros centros, no que se refere a contratações de grandes estrelas. No elenco que veio ao Rio de Janeiro, não há sequer um atleta que tenha disputado a última Copa do Mundo. Em termos de NBA, apenas o armador Jeremy Pargo jogou por lá, comparando com nove e quatro, respectivamente, do Real Madrid.

Russos e turcos tendem a rapelar o mercado, assim como a dupla Real-Barça, ano após ano. Para se manter com chances no mais alto nível do basquete além das fronteiras da liga americana, então, o time faz ótimo trabalho de prospecção com nomes geralmente  alternativos, que tendem a se destacar lá para depois saírem em busca de um cheque mais vantajoso.  Um processo que voltou a acontecer depois do título europeu, um  fator que inflacionou contação de seus atletas.

Lá se foram as duas figuras instrumentais de seu ataque, a dupla de armadores americanos Tyrese Rice (Kimkhi Moscou) e Ricky Hickman (Fenerbahçe). Depois de fazer péssima primeira fase, Rice cresceu durante o campeonato e se tornou o MVP do Final Four da Euroliga, com atuações espetaculares na semi e na final. É um armador baixinho, mas explosivo, que infernizou a vida dos Sergios do Real. Rodríguez e Llull simplesmente não conseguiram lidar com ele. Já Hickman, depois de uma longa jornada, foi a força criativa mais estável do clube durante todo o campeonato, também criando muito a partir do drible.

Outro que saiu foi o pivô Shawn James, que ficou fora praticamente de toda a temporada por conta de uma cirurgia nas costas, mas era o principal defensor da equipe quando em forma – excepcional na cobertura vindo do lado contrário. Ele migrou para o Olimpia Milano. Já o versátil ala australiano Joe Ingles, depois de anos de namoro com a NBA, foi para o altar com o Los Angeles Clippers.

A lista segue. Podem somar também mais duas baixas, digamos, casuais. O veterano ala-pivô David Blu, outro atleta decisivo para o título europeu, tendo anotado 29 pontos nos dois jogos do Final Four, com 53,8% nas bolas de três, se aposentou. Além de gatilho, Blu era um dos líderes da equipe, de tantos troféus que conquistou por lá. Já o pivô Sofoklis Schortsanitis, única referência de garrafão da equipe, está afastado das quadras devido a um glaucoma – um alívio para os flamenguistas, especialmente seus pivôs, que já não precisam estocar analgésicos em casa, mas uma pena para o público em geral, que perde a chance de ver na arena um dos jogadores mais singulares do basquete mundial.

Rice, de bandana, já se foi, assim como Ingles (d). Tyus (e) ficou

Rice, de bandana, já se foi, assim como Ingles (d). Tyus (e) ficou

Então quem sobrou? E quem chegou?

Seguem então alguns breves comentários sobre os atletas do Maccabi:

Jeremy Pargo ocupa a vaga aberta por Rice, jogador com o qual compartilha uma característica: muito explosivo, com corte para os dois lados, difícil de ser contido atacando a cesta. Quando quebra a primeira linha defensiva, tende a criar um salseiro rumo ao garrafão – e o ataque do Maccabi depende muito disso, para que seus arremessadores sejam liberados. Destaque da universidade de Gonzaga, volta ao clube pelo qual viveu sua melhor fase, em 2010-11, ano em que foi vice-campeão da Euroliga. Depois daquela campanha, conseguiu exposição e tentou mais uma vez a NBA. Ganhou um contrato garantido do Memphis Grizzlies, mas foi pouco aproveitado como reserva de Mike Conley. Acabou trocado para o Cleveland, que o dispensou em janeiro de 2013. Passou brevemente pelo Philadelphia 76ers sem ganhar destaque. Sua velocidade e capacidade atlética acabam fazendo a diferença mais na Europa, mesmo. Recebeu, então, uma  oferta de quatro milhões de euros do CSKA. Concorrendo com Milos Teodosic e Aaron Jackson, porém, não teve o sucesso esperado e foi liberado para retornar a Israel na tentativa de reencontrar a satisfação em quadra. Vai ser um páreo bem duro para Laprovíttola e Gegê.

Ohayon, canhoto e maroto

Ohayon, canhoto e maroto

Yogev Ohayon é um dos poucos jogadores israelenses do elenco do Maccabi que efetivamente entra em quadra (sem contar os americanos naturalizados, tá?). E o armador é um personagem muito importante para o time, dando estabilidade, cadência ao time, envolvendo todos no ataque, quando necessário conter um pouco a loucura dos armador americano arrojado da vez.   Só não pensem nele como um jogador molenga. Inteligente e oportunista, quando você menos espera, lá está o armador partindo para a bandeja.

Guy Pnini é o outro israelense que vai jogar de modo regular contra o Flamengo. Pode ser que seja anunciado como ala-pivô, “jogador da posição 4” no jogo desta sexta, mas não tem nada disso (média de 1,6 rebote na carreira de Euroliga, gente). Pnini joga aberto o tempo todo: é excelente arremessador de três pontos, não importando a distância, e precisa ser contestado. É obrigatória a contestação, na verdade, especialmente quando ele está de frente para a tabela.  Dificilmente vai entrar no garrafão se for obrigado a fazer a finta, preferindo um tiro em flutuação. Tem pouca presença física, mas é bastante intenso e um dos líderes do time.

Sylven Landesberg: um ala americano que jogou com Jerome Meyinsse na universidade de Virginia. Bastante atlético, forte, de batida firme para a cesta (mas em linhas retas, sem muita criatividade ou ‘eurostep’). Foi aproveitado apenas de modo pontual por Blatt nas últimas duas temporadas, mas que, nas poucas vezes que recebia uma chance real, mostrava que tinha jogo. A prova disso é que tem produzido bastante nesta pré-temporada, aproveitando a saída de Ingles. Sua mão pegando fogo:

Devin Smith: é um jogador discreto que, ironicamente, fez uma das cestas mais espetaculares da Euroliga passada (veja abaixo). No geral, o valor de Smith está muito mais em sua consistência. Nem sempre quando se fala em “jogador regular”, isso quer dizer que seja fraco. Bom arremessador da zona morta, jogando bastante aberto, sendo mais um chutador espaçando a quadra para Pargo. Do outro lado, também um ótimo reboteiro defensivo – é ele que se aproxima mais dos pivôs, para compensar a fragilidade de Pnini. Parte para sua quinta temporada de Maccabi.

Alex Tyus: o que o Big Sofo tem de pesado, Tyus tem de atlético. Um pivô baixo, mas de muita impulsão, que adora completar uma ponte aérea por trás da última linha defensiva. Castiga o aro também em rebotes ofensivos. No ano passado, sua combinação no pick-and-roll com Rice foi mortal. Quando não saía a assistência, ele atacava a tabela em busca de uma eventual rebarba após a conclusão do armador. A defesa flamenguista como um todo vai ter de ficar muito atenta ao bloqueio de rebote em cima do americano formado pela universidade da Flórida. E esse bloqueio precisa acontecer bem antes de sua aproximação da cesta, devido a sua capacidade atlética. Na defesa, Tyus também ajudou muito David Blatt desde o afastamento de Shawn James.

Aleks Maric: nunca foi o pivô de maior mobilidade no mercado – nem mesmo no auge Partizan em 2009-10 –, e sua movimentação ainda mais comprometida na temporada passada pelo Lokomotiv Kuban, devido a uma lesão no joelho. É muito grande, porém, e cria problemas na tábua ofensiva. Já que o Flamengo contratou Derrick Caracter, sua presença será mais necessária quando o australiano estiver em quadra. Do outro lado, deve ser explorado em jogadas de dupla – seria ideal que o Fla forçasse uma troca de defensores, para que Laprovíttola partisse para o ataque contra o grandalhão. É o tipo de jogador que faltava no elenco do Maccabi do ano passado, de maior estatura, mas só foi contratado devido ao glaucoma que tirou Schortsanitis de ação neste início de campanha. O vínculo até dezembro, com possibilidade de renovação.

(Para constar, com o corte do Big Sofo, o Baby Shaq, o flamenguista ficará sem ver um dos jogadores mais singulares do basquete internacional. É como se ele fosse uma versão grega, bem mais baixa, mas mais larga do Sidão, ex-Mogi. Um terror no pick and roll, por razões óbvias, e também nas mais simples jogadas de costas para a cesta. Falta ao pivô condicionamento físico, claro, de modo que ele só pode ser aproveitado em curtos intervalos durante uma partida, nos quais vira referência obrigatória do ataque do time. Bola nele, pancada na sequiencia, perigando carregar os adversários de falta.)

Haynes, agora no Maccabi, não foi muito bem na última Euroliga

Haynes, agora no Maccabi, não foi muito bem na última Euroliga

Sinceramente, dos americanos recém-contratados pelo Maccabi, só vi um deles jogar, e muito pouco: o armador MarQuez Haynes, ex-Olimpia Milano e Montepaschi Siena. Ele cobre a vaga aberta por Hickman, embora tenha o jogo bem mais acelerado e agressivo, mais similar ao que Pargo e Rice fazem. Hickman batia para a cesta muitas vezes também, mas usando mais a malandragem e movimentos de hesitação do que a quinta marcha. Na Euroliga passada, jogou a primeira fase pelo Milano, mas com tempo de quadra muito restrito, atrás dos compatriotas Keith Langord e Curtis Jerrells (caras mais bem valorizados e com maior experiência em alto nível no basquete europeu). Foi dispensado e assinou com o Siena, pelo qual se soltou. Na Lega Basket, anotou mais de 14 pontos por partida. Só me chama a atenção o fraco aproveitamento de três pontos quando jogou pela Euroliga ou pela Eurocup, ficando abaixo dos 30% nos últimos dois anos.

Os outros dois reforços significativos são Brian Randle e Nate Linhart. Randle é um ala-pivô que está em Israel há um bom tempo, desde 2008, e só agora chega ao time de Tel Aviv. Foi eleito em duas ocasiões o melhor defensor da concorrida liga israelense, incluindo a edição passada, pelo Maccabi Haifa. Segundo consta, é um atleta de primeiro nível, mas está se recuperando de uma lesão muscular.

Linhart foi revelado pela universidade de Akron, terra de LeBron, e está na Europa há três anos. Foram dois na Alemanha e o último na Itália, pelo Venezia. De acordo com a descrição do Maccabi, chega ao elenco para fazer um pouco de tudo no perímetro: “Linhart é um ala muito inteligente, que também pode jogar como guard. Ele é um jogador cheio de energia, que pode ler a defesa e criar oportunidades para si e seus companheiros de equipe. Linhart é um verdadeiro jogador de equipe, que ajuda aqueles que melhora aqueles que estão ao seu lado e para quem o sucesso da equipe é a prioridade número um. Um bom e estável arremessador e estável de três, com média de 40% os últimos dois anos”. Agora é ver como ele vai se comportar num time com muito mais cobrança, enfrentando competição bem mais qualificada.


Maccabi joga sempre pressionado. Ainda mais sem Blatt
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Goodes deixa a sombra de Blatt num Maccabi reconfigurado

Goodes deixa a sombra de Blatt num Maccabi reconfigurado

Conforme dito já em toda a Internet, o Maccabi Tetl Aviv que enfrenta o Flamengo no Rio de Janeiro é bem diferente, em termos de nomes, daquele que foi campeão da Euroliga em Milão, em maio. Na troca de temporada, o clube israelense perdeu muitos de seus principais jogadores. Mas a grande mudança, mesmo, diz respeito ao seu comando técnico. Guy Goodes tem a missão ingrata de substituir um David Blatt que foi a grande força por trás de sua histórica e suada conquista e agora vai conversar bastante com LeBron James e Kevin Love em Cleveland.

Podem dizer que técnico não joga, mas Blatt é daqueles que faz a diferença, sim. Extremamente versátil, consegue tirar o máximo do grupo que tem ao seu dispor, adaptando seu jogo ao que seus atletas podem oferecer. “Há duas escolas de pensamento para técnicos, e nenhuma está mais certa que a outra. Há técnicos que têm o seu sistema e vão usá-lo, independentemente da montagem de seu time. E há técnicos que se adaptam, que pegam seu elenco, e jogam de acordo com suas habilidades. Sou mais dessa escola adaptável, com alguns princípios que são consistentes durante a minha carreira”, afirmou a Zach Lowe, do Grantland.

Para quem acopanhou o Maccabi na temporada passada, isso ficou bem claro. Blatt não só aplicava sua tática de acordo com o que tinha em mãos, como também o time era maleável bastante para alterar completamente seu estilo de um jogo para o outro, ou mesmo dentro de um jogo, dependendo do adversário, da fase dos atletas e se Schortsanitis estava em ação.

Baby Shaq grego era a única referência ofensiva, com jogo de costas para a cesta, do elenco do Maccabi 2013-14. Não joga contra o Flamengo

Baby Shaq grego era a única referência ofensiva, com jogo de costas para a cesta, do elenco do Maccabi 2013-14. Não joga contra o Flamengo

No time que derrotou o Real na decisão europeia, dos que foram para quadra, só mesmo o Baby Shaq grego tinha mais de 2,03 m de altura (oficiais 2,06 m, vamos dizer assim), e foi por menos de 10 minutos num jogo de prorrogação. Vimos um Maccabi correndo contra quem podia correr, um time de jogo mais lento quando não conseguia aguentar o pique, protegendo bem sua cesta mesmo sem estatura, alternando defesa pressionada com zonas simples ou mistas para desestabilizar o adversário, mas sempre povoando o garrafão.

De novo: era um time muito interessante, mas limitado, que tinha de se virar como dava – em termos de talento, no papel, seu elenco estava bem abaixo de seus concorrentes do Final Four. Foi um time que perdeu, por exemplo, seis de 14 jogos na fase Top 16, na qual ficou sob séria ameaça de eliminação, até garantir sua vaga nas quartas de final com uma vitória sobre o Bayern de Munique na penúltima rodada. Antes desse triunfo sobre o Bayern, acreditem: o próprio Blatt teve de encarar entrevistas coletivas em que  sua demissão era cogitada. Pasme.

Uma vez classificado para as quartas, porém, o time decolou, vencendo cinco dos próximos seis jogos. O turning point foi uma vitória dramática, na prorrogação, sobre o Olimpia Milano, em Milão, na abertura dos mata-matas. O time virou um jogo impossível, uma reação daquelas digna de Maccabi Tel Aviv, que o presidente Shimon Mizrahi, uma figuraça, vai contar para os bisnetos.

Em termos de talento, seu elenco estava bem abaixo se comparado com o da maioria das equipes classificadas para as quartas de final do torneio europeu. No Final Four, então, era claramente um azarão. Ainda assim, os caras derrotaram o CSKA Moscou num jogo parelho pela semifinal e, depois, derrubaram a máquina de se jogar basquete do Real Madrid na decisão. Mas é isso, né? O tipo de coisa que pode acontecer em jogos decisivos, ainda mais se em confrontos solitários. Um time competitivo engrenar, começar a acreditar e, pumba, realizar sua missão-na-terra. São justos, legítimos campeões, mas o próprio Blatt foi o primeiro a dizer que, num sistema de playoff, dificilmente ele e seus rapazes teriam chegado lá. Talvez estivesse subestimando suas próprias habilidades como estrategista e líder.

David Blatt saiu nos braços do povo

David Blatt saiu nos braços do povo

Blatt construiu um currículo e uma reputação que o empurravam para outra direção. Enfim, as portas da NBA foram abertas para ele, recebendo uma proposta generosa do gerente geral do Cleveland Cavaliers, David Griffin, que teve o apoio inesperado do intempestivo proprietário Dan Gilbert, que preferia um John Calipari. Poucos em Israel puderam acreditar. Não que ele não merecesse. É que não estavam preparados para que ele ‘já’ saísse após seu tão sonhado primeiro título de Euroliga. Havia apenas especulações de propostas para assistente, algo que não necessariamente seria atraente para alguém com seu status, e aí chegou o Cavs, pré-Retorno de LeBron, interessado. Pronto.

Cabe a Guy Goodes, então, assumir essa bronca. Pelo menos o treinador de 43 anos sabe muito bem da responsabilidade. São 15 anos de clube. Já integrou a comissão técnica do Maccabi por seis temporadas – entre 2006 e 2008 e também as última quatro como braço direito de Blatt. Não obstante, também jogou pelo time de 1990 a 1998. Agora assume o cargo principal, sem muita experiência, porém, nessa função. Entre uma passagem e outra como assistente, dirigiu o Hapoel Jerusalem, e só.

Como faz, então, agora que está no comando? “No papel há muitas diferenças entre os dois treinadores, mas também há várias semelhanças. Goodes aplicou no time muito da filosofia de Blatt como também a sua. Ainda assim, Blatt é conhecido por ser um treinador de espírito defensivo que se empenha em limitar os oponentes a 70 pontos por jogo. Goodes é o oposto. Ele ama o basquete veloz, com passes rápidos. Durante a pré-temporada, o Maccabi por duas vezes anotou 106 pontos e 109 em outra”, afirmou o jornalista israelense David Pick, um carrapato do Maccabi, ao Mondo Basquete.

Goodes estuda o Flamengo no tempo que dá. Crédito: David Pick

Goodes estuda o Flamengo no tempo que dá. Crédito: David Pick

É importante dizer que, mesmo que o elenco israelense tenha sido sacudido, o perfil dos atletas foi mantido. Vale destacar o retorno de Jeremy Pargo para a vaga de Rice e a aposta em MarQuez Haynes para o lugar de Hickman. Curioso como o clube realmente foi atrás de jogadores de características muito semelhantes, mesmo. Com os dois em quadra, já se pode esperar muita velocidade. Em situações de meia quadra, preparem-se para o uso e abuso do jogo de pick-and-rolls e pick-and-pops e até mesmo muitas jogadas no mano a mano, explorando a habilidade dos recém-contratados e a presença de muitos arremessadores ao redor deles, com o pivô Alex Tyus representando uma das poucas ameaças no corte para a cesta, fora da bola (fora, isto é, das mãos dos armadores americanos). Brian Randle, bastante atlético, mas voltando de uma lesão muscular, também precisa ser vigiado nessas – se for para o jogo, mesmo.

O time segue muito baixo, com apenas três jogadores acima de 2,05 m – quando, na real, era para ser apenas um. Explico: Alex Maric, de 2,11 m e muita presença física no garrafão, só foi contratado para quebrar o galho enquanto Sofoklis Schortsanitis se recupera de sua operação devido a um glaucoma. O terceiro é o pivô americano Jake Cohen, de 2,08m, que foi contratado no ano passado ao sair da universidade de Davidson. Ainda é um projeto, tendo sido emprestado para o Maccabi Rishon Lezion. Nesta temporada, deve ficar no clube principal, com o qual tem contrato por mais três temporadas, mas sem muito tempo de jogo.

Maric é um sujeito alto, forte, mas que já viveu dias melhores: único poste a desafiar o Fla nesta final

Maric é um sujeito alto, forte, mas que já viveu dias melhores: único poste a desafiar o Fla nesta final

É de se imaginar confrontos de ritmo acelerado em que um atleta lento como o australiano Maric não deve ter espaço – a não ser que o Flamengo não consiga defendê-lo. Como destacou David Pick, o Maccabi tem corrido bastante em seus jogos de pré-temporada, com média incomum de 93,5 pontos em seis partidas disputas na pré-temporada até aqui. Se essa proposta for mantida, for dominante, é algo que favorece o Flamengo, que também gosta de sair em transição, com atletas como Marquinhos, Benite, Laprovíttola, Meyinsse, Gegê, Felício etc. Estão preparados para isso.

Agora, é preciso ver se o novo treinador é um cara de uma cartada só ou se aprendeu com Blatt a se moldar também de acordo com o que jogo oferece, com as facilidades sugeridas e dificuldades impostas pelo adversário. Na pré-temporada, vem com cinco vitórias e apenas uma derrota justamente pela final da Copa da liga israelense, já valendo como partida oficial. Perderam para o Hapoel Jersualem, por 81 a 78.

Sofrer mais um revés em uma decisão seria péssimo para Goodes em seu início de trabalho numa instituição em que a pressão por resultados é gigantesca e pode afetar até uma lenda viva como Blatt. O ex-assistente e o clube ainda não estão preparados para mais mudanças em sua estrutura. Mas o Flamengo não está aí para dar uma forcinha.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>