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Raulzinho é a mais nova adição ao núcleo jovem do Utah Jazz. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho esperou por dois anos, mas chegou a hora de botar no papel. Nesta quinta-feira, o armador assinou por três anos com o Utah Jazz para ser o sétimo brasileiro na NBA de hoje — e o 14o. na história. Existe uma grande diferença entre ser um jogador draftado pela liga e com um  contrato. “Achei que era um sonho sendo realizado quando fui selecionado, mas agora vejo o que é o sonho de verdade”, disse o armador já diante dos repórteres de Salt Lake City, no último dia da liga de verão local.

Com o acordo oficializado, então é a hora de tentar entender o que cerca a vida de “Raul Neto” (HA-OOL, nos ensinam) em seu novo clube e o quanto esta movimentação pode interferir em seu desenvolvimento.

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De cara, o que temos de informação: parece uma declaração óbvia para um clube que foi seguiu em seu encalço no Draft de 2013, mas a diretoria do Utah Jazz realmente adora seu prospecto de 23 anos. Durante a cobertura do All-Star Game em Nova York, tive a chance de conversar com o repórter Jody Genessy, setorista do clube pelo Desert News. Ele disse que o time não via a hora de trabalhar diretamente com o jovem atleta. A chance chegou, e as atividades já vão começar nesta semana, em Las Vegas. Segundo Genessy, porém, ele não vai jogar a liga de verão local, mas, sim, treinar com um grupo de veteranos do time.

(Um parêntese aqui: fico no aguardo pela reação de Rubén Magnano… O técnico, que apostou lá atrás num ainda adolescente Raulzinho,  esperava um papel de protagonismo para o atleta nos Jogos Pan-Americanos, e seria realmente interessante acompanhá-lo nessa empreitada. Ficou a ver navios nessa. A expectativa da CBB era a de que o armador se reapresentasse até esta sexta-feira para embarcar rumo a Toronto. Não rolou, por motivos óbvios. A dúvida: ele ainda vai jogar o Pan, mesmo perdendo tanto tempo de preparação? O torneio começa dia 20. Suponho que já esteja fora, e aí precisaria ver quem seria chamado para substitui-lo. Provavelmente alguém a serviço na Universíade, ficando a eventual vaga entre Gui Deodato, Deryk, Gegê, ou Henrique Coelho.  Vai rolar alguma mágoa? De todo modo, a seleção já está bem servida com Rafael Luz, Ricardo Fischer, Larry Taylor e Vitor Benite. Os dois mais jovens têm uma bela oportunidade para mostrar serviço agora.)

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Voltando ao Utah Jazz, Raulzinho entra em um clube com elenco jovem e cheio de potencial para fazer barulho na próxima temporada. Se a campanha depois do All-Star Game serve de algum indício, o time vai brigar por uma vaga pelos playoffs em 2016, já que venceu 19 de suas últimas 29 partidas, com um aproveitamento de 65,5%. Sétimo colocado neste ano, o Dallas Mavericks teve 61,0% de rendimento, enquanto o New Orleans Pelicans, oitavo, ficou com 54,9%.

Capitaneada pelos braços infinitos de Rudy Gobert, a equipe passou a ter a defesa mais dura de toda a liga, e de longe. Há quem acredite que esse tipo de progresso em meio a um campeonato não se traduz automaticamente para o seguinte, uma vez que os adversários vão se debruçar em estudos e já desenhar os ajustes necessários. Ação e reação.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Ainda assim, o núcleo do Utah também naturalmente vai evoluir, como se espera com atletas tão jovens. Gordon Hayward (o principal criador do time, versátil e confiante), Derrick Favors (em progressão gradual e segura, rumo ao All-Star, se é que alguém repara ou liga) e, principalmente, Gobert cresceram uma barbaridade durante a campanha e ainda têm mais o que render. Esses são os principais nomes, hoje, mas o elenco que o gerente geral Dennis Lindsey reuniu oferece diversas alternativas para o técnico Quin Snyder. Os alas Alec Burks e Rodney Hood já tiveram seus lampejos. O canadense Trey Lyles, muito bem cotado desde o colegial, acabou de chegar para reforçar o jogo interior.

E ainda tem o prodígio australiano Dante Exum, aparentemente efetivado como armador titular, tendo apenas 19 anos. Para uma escolha número cinco de Draft, é natural que a cobrança seja em outro patamar. Nesse sentido, a primeira campanha entre os profissionais foi tímida, para dizer o mínimo. Os críticos mais apressados, no entanto, ignoram o contexto. Se Bruno Caboclo teria dificuldades em deixar a LDB e a reserva do Pinheiros para se provar nos Estados Unidos, o que dizer de um carinha que jogava com adolescentes na Austrália? Que Exum tenha começado 41 jogos como titular e segurado as pontas na defesa, com sua agilidade e envergadura, já é um feito e tanto.

Basta observá-lo em quadra por um ou dos minutos para salivar com seu potencial — por mais talentosos que Hayward, Favors e Gobert sejam, esse garoto pode se tornar algo maior, pasme. Não é garantia, mas ainda há muito o que sair dali, e Snyder tem reputação excelente no trabalho de fundamentos com os atletas. Em sua primeira partida nesta temporada de verão, encarando defensores encardidos como Marcus Smart e Terry Rozier, do Boston, Exum já botou para quebrar, até sair de quadra com uma torção no tornozelo. Estamos falando do dono da posição, mesmo.

Para desgosto de Trey Burke, que tinha plena fé de que chegaria à NBA para ser um armador de ponta. O baixinho, que custou duas escolhas de Draft ao Utah também em 2013, ainda não conseguiu encontrar uma zona de conforto em meio aos cachorrões. Seus dribles de hesitação não são o suficiente para conseguir a separação mínima para seus arremessos. Em duas temporadas, ele só acertou 37,4% de seus arremessos de quadra, 32,4% na linha de três, e não é que tenha compensado tantos erros com um bom número de lances livres (só cobra 1,8 por partida) ou controle de jogo apurado (mira muito mais a cesta que seus companheiros). Sair do banco, como pontuador, talvez seja o seu destino, ainda que precise elevar sua eficiência para cumprir bem esse papel.

Ninguém da franquia vai falar abertamente a respeito, até para não avariar ainda mais sua cotação, mas não é segredo que o clube tenha se decepcionado com Burke. Os scouts mais otimistas esperavam que estivesse saindo um líder da Universidade de Michigan, um jogador com personalidade e recursos técnicos para compensar o que fica devendo em físico. Não aconteceu até o momento. Ainda que só tenha 22 anos, ele não evoluiu nada entre a primeira campanha e a segunda. Dá para dizer que tenha regredido, inclusive. Se for para investir tanto em alguém, a bola da vez vem da Austrália.

Como fica Raulzinho nessa, então? Em tese, ele foi contratado para ser o terceiro armador da equipe. Foi o que a diretoria lhe passou, ao sondar a possibilidade de ele deixar o basquete espanhol para cruzar o Atlântico. Na NBA, porém, as coisas avançam com uma velocidade impressionante, e talvez baste uma proposta razoável por Burke para que o brasileiro seja promovido.

Se for para falar em hipóteses, no entanto, talvez o mais simples seja o próprio jogador desbancar a concorrência no dia a dia de treinos. Admiradores dentro do clube ele já tem. Agora resta confirmar essas sensações na prática. O que o atleta entrega desde já é a visão de quadra fora do comum, a predisposição ao passe, característica que cai bem a qualquer grupo, mas principalmente no tipo de ataque que Snyder projeta. É um perfil que já difere. “Só quero aprender a cada dia. Quero melhorar meu jogo. Ainda não falei com o técnico, mas vai ser a escolha dele os minutos que jogarei. Estou aqui para fazer meu trabalho”, afirmou o armador.

Mesmo que, num primeiro momento, encontre dificuldades, acredito que, a longo prazo, a decisão de encarar a nata do esporte nos Estados Unidos é a mais indicada. Por quê? Raul sempre foi um armador muito arrojado. A experiência na Espanha foi muito valiosa para que aprenda a cadenciar as coisas, a maneirar em seu ritmo de jogo, mas por vezes pode ser um tanto amarrada. É com um jogo agressivo que ele pode render mais. A despeito da capacidade atlética bem mais elevada que ele vai encarar daqui para a frente, as dimensões mais espaçadas e a própria velocidade do jogo tendem a favorecê-lo, a deixá-lo mais solto. E fazer coisas do tipo:

Em Utah, o armador vai ter de melhorar de modo significativo seu arremesso de três pontos para ter mais chances (em sua carreira pela Liga ACB, converteu míseros 22,9% em suas tentativas). Na defesa, o trabalho de pernas no deslocamento lateral será exigido como nunca viu antes. Enfim, há muito o que aprimorar, para além de seu talento natural. Vamos esperar para ver. Por enquanto, Raulzinho vai curtindo seu sonho. Para valer.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Cesta da Jamaica! O novo capítulo da crise com Fiba, e a humilhação da CBB
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Giancarlo Giampietro

Carlos Nunes nos holofotes agora, com o pires na mão

Carlos Nunes nos holofotes agora, com o pires na mão

“Fiba recusa proposta da CBB e seleções de basquete podem até ser suspensas”. A essa altura, vocês já leram a matéria de assinatura tripla aqui do UOL Esporte que revela o mais novo capítulo da saga que agora humilha o basquete brasileiro no mundo inteiro. Jornalistas americanos, espanhóis, argentinos, gregos… Já estão todos repercutindo a pindaíba nacional. A última é que as equipes brasileiras podem ser suspensas de atividades internacionais nos próximos meses. Isso inclui a Copa América e até mesmo a Copa Intercontinental entre Bauru e Real Madrid. Ah, e alguém falou de vaga olímpica?

Se não bastasse o fato de a seleção brasileira ter perdido para Uruguai e Jamaica – não dá realmente para ignorar que todo esse causo tem origem em derrotas históricas em quadra, em 2013 –, agora é a hora de passar carão do ponto de vista de *gestão*, estendendo suas mazelas financeiras para o âmbito internacional, devendo dinheiro justamente para seu, digamos, ‘chefe’. Dá para dizer que não é a atitude mais esperta, ainda mais no atual contexto.

Já escrevi aqui no mês passado: “A CBB escolheu a pior hora para ficar em dívida com a Fiba, que vive um de seus períodos mais agitados nos bastidores, com a ideia de expansão de sua marca (e do basquete, quiçá). A troca do nome de Campeonato Mundial para Copa do Mundo, o deslocamento da competição para um ano ímpar, fugindo de eventual conflito com a Copa do futebol, a trabalhosa proposta de alteração no calendário de seleções, com inclusão de eliminatórias… Tudo com alcance global, em larga escala. Mas as mexidas não param por aí, fazendo um movimento agressivo apara reassumir o controle da Euroliga, sob o comando de um agora incisivo secretário geral Patrick Baumann”. Geralmente acusamos as federações de serem ineptas, inertes. Neste momento, a Fiba está em alvoroço, independentemente da pureza de seus motivos. Eles querem bufunfa, claro. Da CBB, dos clubes europeus e de todo mundo – e os cartolas brasileiros deveriam saber disso.

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A entidade agora exige uma solução (leia-se “pagamento”) até 31 de julho. Afinal, a logística da Copa América (feminina e masculina) depende disso. Uma reunião vai ser realizada durante os Jogos Pan-Americanos, em Toronto, de 21 a 25 de julho, para saber o que se fazer. Até lá, deve acontecer alguma correria por aqui para se levantar o máximo de bufunfa possível, talvez adiantando cotas de patrocínio – prática que só serve para deixar a confederação mais estrangulada no futuro.

Derrota na Copa América de 2013 fica mais e mais cara

Derrota na Copa América de 2013 fica mais e mais cara

O pior: o convite foi vendido para a CBB em janeiro de 2014. Há um ano e meio. Desde então, a confederação simplesmente não encontrou um meio de pagar a quantia de US$ 1 milhão em sua totalidade, se estrepando enquanto o câmbio decolava no ano passado, é verdade. Até agora, pagaram apenas US$ 300 mil. A última proposta foi de parcelar a parcela: os US$ 700 mil restantes (que equivalem a duas prestações do ingresso na Copa do Mundo). De novo: desde fevereiro de 2014, tiveram 17 meses para se preparar, e não o fizeram. É difícil de entender isso.

Será que a intenção era dar um calote, acreditando que tudo passa nessa vida, sem imaginar que a Fiba jamais ameaçaria tirar uma potência (do passado) como o Brasil dos Jogos Olímpicos? Bom, vamos supor que não, pela boa-fé. Até por termos todos os fatos expostos sobre a falência de seu escritório, que hoje já deve R$ 13 milhões na praça, a despeito dos constantes pedidos de socorro ao Governo para custeio das operações de suas equipes em viagens internacionais.

Até por conta dessa penúria, o mais prudente era realmente aceitar a eliminação da Copa do Mundo e tirar o time de quadra, mesmo que a seleção tenha sido competitiva na Espanha. Entrar pela porta dos fundos, só para manter uma sequência de participações nos Mundiais não vale este vexame. Sim, é um vexame, não importando o desfecho desta história. Mesmo que a Fiba arrefeça, não vejamos o sorriso de sempre, como se nada tivesse acontecido. Como se fosse uma vitória. No futebol, convencionou-se a expressão “gol da Alemanha”, certo? Aqui, encerramos com “mais uma cesta da Jamaica”.


Até agosto, o planejamento das seleções brasileiras está em suspenso
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Giancarlo Giampietro

Clima de suspense sobre a vaga brasileira no Rio 2016

Clima de suspense sobre a vaga brasileira no Rio 2016

O companheiro Fábio Aleixo noticia aqui no UOL Esporte: “Fiba adia decisão e Brasil terá de esperar até agosto por vaga olímpica”. Traduzindo: todo o planejamento da CBB para este ano está sequestrado pela federação internacional, e com possíveis repercussões para a conclusão do ciclo olímpico em 2016. Que a Fiba não consiga realizar uma reunião sequer de conselho para definir algo tão simples (e importante) – se o país anfitrião dos Jogos do Rio 2016 terá uma vaga automática – não é culpa dos cartolas brasileiros. Mas não dá para ignorar que a inépcia dos mesmos os empurrou nessa direção.

Foi um efeito dominó, gente, que deixou a seleção brasileira nessa situação ingrata e vexatória. Começou com a campanha horrível no Torneio das Américas de 2013 e a exclusão, por critérios esportivos, da Copa do Mundo. Para não quebrar uma sequência histórica de participações no Mundial, a confederação nacional se comprometeu a pagar um milhão de euros por um (?) convite. Atolada em dívidas, a entidade não conseguiu honrar com seus compromissos no tempo devido e ficou na mão dos dirigentes de lá. Agora toca esperar.

Inicialmente, a Fiba afirmou que tomaria uma decisão a respeito em março. Depois, a reunião foi marcada para o dia 18. Mas já pode mudar isso, pois agora ficou para os dias 7, 8 e 9 de agosto. Só para deixar as coisas mais complicadas, o encontro será realizado no Japão. Quer dizer: vai ter gente madrugando para saber o que será que será.

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As consequências? Que Rúben Magnano muito provavelmente não vai poder dirigir a seleção masculina no Pan Americano, competição bastante valorizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro, aquele que banca os vencimentos do treinador. Não que José Neto não possa fazer um bom trabalho, vindo de um tricampeonato do NBB. Mas a expectativa, de bastidores, era outra.  O torneio do Pan termina no dia 25 de julho – antes da reunião em Tóquio. A Copa América começa no dia 31 de agosto. O argentino teria tempo de dirigir o time em Toronto e, na piora das hipóteses, retornaria ainda com mais de um mês de preparação para uma eventual disputa pela vaga olímpica. Mas já disse que, na incerteza, não assumiria nenhum tipo de risco nesse sentido.

Yvan Mainini, presidente da FIBA e Patrick Baumann. Entre eles, Carlos Nunes

Yvan Mainini, presidente da FIBA e Patrick Baumann. Entre eles, Carlos Nunes

A ideia de Magnano era usar a competição continental para investir em mais jogadores jovens, o que seria positivo em duas frentes: 1) dar uma chance a jogadores mais jovens de disputar uma competição relevante e competitiva, podendo avaliar peças para completar o time do Rio 2016 e 2) dar um descanso aos seus veteranos – a geração ‘Nenê’ está vencendo na NBA, mas já passou da casa dos 30 anos.

Requerer os serviços desses caras os deixaria numa situação muito difícil, com o evento terminando no meio de setembro, a menos de um mês da apresentação para o training camp. E cuidado com a sobrecarga – estendendo a temporada por mais um mês, quando o melhor era poupar esforços. Isso, claro, se o Brasil conseguir a vaga, uma vez que só os dois finalistas conseguirão se classificar. Os Estados Unidos, campeões mundiais, estão dispensados da disputa, a Argentina talvez tenha baixas de sua geração dourada, mas basta ter Scola para dar trabalho, enquanto o Canadá vai forte, os mexicanos, anfitriões, estão empolgados, e tudo o mais.

Antes de preocupante, no entanto, essa é uma situação constrangedora, que poderia ter sido evitada com um trabalho melhor de Magnano em 2013, a humildade de aceitar uma campanha fracassada ou uma decisão mais precavida na hora de gastar uma dinheirama que você não tem.

A CBB escolheu a pior hora para ficar em dívida com a Fiba. A federação internacional vive um de seus períodos mais agitados nos bastidores, com a ideia de expansão de sua marca (e do basquete, quiçá). A troca do nome de Campeonato Mundial para Copa do Mundo, o deslocamento da competição para um ano ímpar, fugindo de eventual conflito com a Copa do futebol, a trabalhosa proposta de alteração no calendário de seleções, com inclusão de eliminatórias… Tudo com alcance global, em larga escala. Mas as mexidas não param por aí. A entidade também vem fazendo um movimento agressivo apara reassumir o controle da Euroliga, sob o comando de um agora incisivo secretário geral Patrick Baumann.

Em entrevista ao Mundo Deportivo, Baumann foi questionado sobre o impasse no aproveitamento de jogadores da NBA neste novo modelo de calendário. Em sua resposta, afirmou que a NBA aceitou o fato de que os Estados Unidos precisará eventualmente lutar por sua classificação para os torneios internacionais, independentemente de títulos olímpicos ou mundiais. “A classificação automática já não existirá a partir de 2017”, diz. E se eles decidirem antecipar, tipo, para agora?

Agora o basquete brasileiro se vê envolvido de modo precoce no meio desse turbilhão, sem poder se planejar direito, deixando todo mundo em suspenso: jogadores, jornalistas, técnicos e, infelizmente, o cheque.


CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
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Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

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Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Helinho: “Quero terminar a carreira jogando bem”
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Giancarlo Giampietro

Helinho para o ataque: se aposentando nos seus termos

Helinho para o ataque: se aposentando nos seus termos. Crédito: Newton Nogueira

Aos 39 anos, pode ser que Hélio Rubens Garcia Filho esteja se preparando para se despedir das quadras – mas certamente não do basquete, pretendo estudar para virar treinador. Então falemos em aposentadoria pelo menos como atleta. Se optar por isso, mesmo, não havia lugar mais adequado para fazê-lo do que em Franca, .

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Por mais que tenha ganhado títulos em Uberlândia e no Rio de Janeiro, pelo Vasco, é inevitável associar Helinho à capital da basquete, a cidade aonde nasceu, na qual sua família criou algo que chega bem perto de uma dinastia brasileira. Foi por Franca, aliás, que ele conquistou seus três primeiros campeonatos nacionais, de 1997 a 1999, quando não havia chegado nem aos 25. Depois, ganharia mais três canecos ainda. Na fase de NBB, ainda seria vice-campeão em 2011 e 2013. Hoje, disputa o campeonato como seu segundo jogador mais velho – é exatamente um mês mais jovem que Marcelinho Machado.

Se em abril ele não falava em parar, agora, com o início de mais uma temporada pela frente, o discurso mudou. De modo que fica mais do que apropriado seu segundo retorno ao clube, que defendeu desde a saída das categorias de base nos anos 90 até 2000 e, depois, numa segunda passagem, de 2006 a 2012. “Acho que vai ser meu último ano de carreira jogando. Quero terminar a carreira me sentindo muito bem, jogando bem, dando minha parcela de contribuição”, afirmou ao VinteUm.

Em 2011, contra o Limeira de Ronald Ramon

Em 2011, contra o Limeira de Ronald Ramon

Está bem cedo ainda para falar de prognósticos, mas Helinho, por enquanto, vem cumprindo com suas expectativas – e o time também, com duas vitórias (sacolada para cima do Basquete Cearense e um jogo duro contra Brasília, ambas em casa). Nas duas primeiras rodadas, ele marcou 25 pontos e matou bolas de tudo que é lado da quadra, com 60% no aproveitamento dos arremessos, de dois ou três pontos. O chute que sempre foi a maior qualidade do atleta, um verdadeiro Steve Kerr brasileiro – a média na carreira apenas em NBBs nos tiros de longa distância é de 41,6%, com a diferença de que o integrante do clã Garcia já criou muito mais por conta própria, a partir do drible (média de 3,92 assistências). Sua liderança e intensidade em quadra também foram sempre subestimadas pelo público em geral.Agora, a bola vai ficar mais nas mãos de Juan Figueroa, um dos argentinos do time, ao lado de Marcos Mata, um grande reforço. A combinação do retorno do veterano e da chegada do ala da seleção argentina só vai inflar a esperança do torcedor francano, que anda sedento por uma conquista. “Estão todos muito, muito motivados para chegar mais longe do que nos últimos anos. Essa é a nossa expectativa”, afirma.

Helinho, vice-campeão do NBB em 2011 por Franca. Brasília venceu a final por 3-1

Helinho, vice-campeão do NBB em 2011 por Franca. Brasília venceu a final por 3-1

Bom, se for para levar em conta o retrospecto do clube apenas no NBB, temos as seguinte colocações: 7º, 3º, 2º, 10º e 5º. Então Helinho quer e espera ver seu clube brigando pelas primeiras posições. Não chega a falar em título, mas em vagas nas competições continentais, o mínimo que a exigente cidade espera. E algo que caberia bem para sua eventual saideira.

Confira a breve entrevista, na qual o armador relembra bons tempos com Demétrius, avalia o progresso de Leo Meindl e Lucas Mariano e fala sobre o primeiro trabalho com Lula Ferreira em um clube:

21: Como tem sido este novo retorno a Franca e quais os planos daqui para a frente? Ficará na cidade até o fim agora?
Helinho: Estou muito feliz, cara, um momento muito legal, importante. Acho que vai ser meu último ano de carreira jogando. Estou me sentindo muito bem. Quero terminar a carreira jogando bem, dando minha parcela de contribuição. A equipe é boa e já mostrou que tem qualidades. Estão todos muito, muito motivados para chegar mais longe do que nos últimos anos. Essa é a nossa expectativa. Uma vaga na Liga Sul-Americana ou na Liga das Américas tem de ser um objetivo. Mas é claro que outras equipes também estão pensando nisso. Estamos focados nisso, e eu, focado em poder fazer minha parte para alcançar isso.

Se for sua última temporada, mesmo, como imagina que vai ser? Seu papel, a média de minutos, envolvimento com o time etc.
No Campeonato Paulista eu me senti muito bem, joguei bastante tempo e até muitas vezes jogando de 2, uma posição que eu gosto de jogar. Quando tinha um armador que me passava bastante bola igual o Demétrius (risos), ficava mais fácil. Mas é um papel que gosto de fazer também. Neste momento, como disse, eu quero contribuir da forma que puder, dentro e fora da quadra, para que as coisas possam fluir da melhor maneira possível. Estou me sentindo bem, podendo ajudar, mesmo, nesse início de temporada.

Em 2001, aos 26, na melhor fase pela seleção. Partida contra Colômbia pelo Sul-Americano, com o pai ao fundo

Em 2001, aos 26, na melhor fase pela seleção. Partida contra Colômbia pelo Sul-Americano, com o pai ao fundo

(Aqui, uma breve interrupção: a menção a Demétrius Ferraciú não foi gratuita, mas, sim, pela aproximação de seu ex-companheiro de tantas jornadas, seja por clubes ou seleção nacional, hoje treinador do Limeira, aos 41 anos – dois mais velho que Helinho. Demétrius jogou até os 33. Quando ouviu o comentário de mais um representante da família Garcia, Demétrius disse: “Difícil é achar um desses hoje, né?”, com Helinho consentindo. O repórter, bobão, lembro que aquela era a “dupla do Goodwill Games”, ao que o armador respondeu: “É, aquele torneio foi bom”.

E aí vale aquela digressão: estamos falando dos extintos Jogos de Amizade, quando o calendário do esporte mundial ainda permitia eventos do tipo. Em 2001, em Brisbane, na Austrália, o Brasil deu um calor danado numa seleção dos Estados Unidos composta por atletas de NBA. O elenco tinha Baron Davis, Andre Miller, Jason Terry, Mike Miller, Shane Battier, Wally Szczerbiak, Rashard Lewis, Shawn Marion, Marcus Fizer, Kenyon Martin, Calvin Booth (!?) e Jermaine O’Neal. Os dois times se enfrentaram pelas semifinais, e os EUA venceram apenas na prorrogação, por 106 a 98.

Demétrius chegou a ter a bola do jogo nas mãos no tempo regulamentar, mas Baron Davis não o permitiu arremessá-la. A dupla de armadores brasileiros causou estragos naquela partida, acreditem. Foram 24 pontos para cada. Outra anedota: foi nessa competição que um jovem pivô chamado Nenê Hilário primeiro chamou a atenção dos olheiros internacionais, tendo sido bastante elogiado por Jermaine O’Neal, o cestinha deles na partida com 22 pontos e já uma estrela em ascensão pelo Pacers. Em geral, acho que esse é um dos episódios mais interessantes e talvez menos comentados do basquete brasileiro recente. Agora, de volta ao mundo de hoje…)

Sabemos da paixão genuína de Franca pelo basquete. O clube ainda não ganhou um NBB e não conquista um Paulista desde 2007.  Ao mesmo entendem que o time passou por uma renovação nos últimos anos. Para este campeonato, porém, você voltou, tem um cara do nível do Mata chegando. Como anda a cabeça do torcedor nesses dias? Como está a cobrança?
Na cidade sempre teve cobrança, e nada melhor do que ter cobrança para se ter motivação. Quanto mais você é cobrado, mais vai ter força para fazer. Isso acontece muito em Franca, e acho que é um dos nossos segredos. Estamos num momento importante, tentando fechar alguns patrocínios que ainda não estão acertados. Mas estamos empenhados, com um elenco de jogadores de cabeça boa, que sabem das dificuldades que existem no basquete tanto dentro como fora da quadra. O torcedor entende e abraça a equipe mais uma vez.

Essa é a primeira vez que você vai trabalhar com o Lula Ferreira, não? Pelo menos em clubes. Como tem sido a relação, lembrando sempre da rivalidade com Ribeirão Preto na década passada?
Sim, já joguei com ele na seleção, mas em clube é a primeira. Joguei mais contra aquele time do Lula quando estava no Vasco, e, não, por Franca. Mas muita gente na cidade ainda me aborda e fala disso: ‘Pô, como perdeu aquele Paulista?!’ (Risos) Mas a verdade é que eu não estava naquele time, né?  O Lula é um cara trabalhador, que tem credibilidade e conhecimento da causa. Tem sido um convívio tranquilo. Estou muito feliz, e ele dá liberdade para falar no dia-a-dia. Acho que ele também está sentindo a mesma coisa. Quando você quer ajudar, fazer o bem, naturalmente o bem volta para nós mesmos. A gente se encaixou muito bem.

Helinho, Franca, família Garcia, basquete

Tá em casa

Do ponto de vista nacional, na hora de olhar para o time francano, a curiosidade sempre aguça em relação ao Leo Meindl e o Lucas Mariano. O que você pode nos contar a respeito do progresso deles? O que tem sentido?
São dois jogadores talentosíssimos, que vieram da nossa categoria de base e têm muita confiança no jogo deles. Eu particularmente também aposto muito neles. Acho que no futuro próximo os dois vão estar pegando seleção brasileira. Sinto ainda um crescimento deles nos treinamentos, nos jogos, isso fica nítido. Estamos dando muita força para eles, que serão muito importantes para o clube. Estou sempre falando para eles que os chamo os chamo de ‘galudos’. Estão sempre perguntando, pedindo conselhos, querendo melhorar. Isso, acredito,  é a característica de grandes talentos que querem chegar a algum lugar. Eles têm isso.

E o pai, como está?

Está bem, está bem. Quase que ele veio hoje. Deveria ter vindo, aí ficava completo.


Exclusiva com JP Batista: na Euroliga, seguindo em frente
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Giancarlo Giampietro

JP Batista, agora em ação pelo campeão francês

JP Batista, agora em ação pelo campeão francês

Prestes a completar 33 anos, o pivô João Paulo Batista apenas segue em frente. Ao que parece, vai sempre pelas beiradas, mas construindo uma carreira única para os padrões brasileiros. Ele acabou de abrir sua nona temporada seguida na Europa, agora defendendo o Limoges, campeão francês, com direito a mais uma participação na Euroliga.

“Olha, é difícil de responder, pois fica um pouco fora do meu controle. Quem me conhece sabe de onde eu vim e o caminho que tive que percorrer pra chegar onde estou”, afirmou ao VinteUm, em generosa entrevista por email.

O pernambucano já está mais que acostumado a batalhar e ser, de certa forma, relevado. Acontece desde cedo, vindo de uma região que ainda está muito afastada dos principais centros de captação de talentos no país. Até chegou a jogar em São Paulo, por Paulistano e São José do Rio Preto, mas nada que prometesse muito. Resolveu, então, pegar as malas e embarcar em busca de um literal “sonho americano“.

É aquilo: você chega a uma cidade no interior dos Estados Unidos, sem saber exatamente o que te espera, sem falar inglês fluente – e “sem nada no bolso”, lembra –, apenas empenhado em fazer as coisas acontecerem. Que tal um junior college em Western Nebraska? Ou, quiçá, o Barton County Community College? Foi a rota que o pivô tomou, mesmo, até entrar no radar de times de ponta da NCAA. Entre um punhado de propostas, escolheu a de Gonzaga, na qual teria a companhia de um certo Adam Morrison – além do armador Jeremy Pargo, que a torcida do Flamengo conheceu tão bem neste mês e quem reencontrou recentemente:

Com seu cabelo desgrenhado, bigode ralo e meiões estendidos, Morrison havia virado uma coqueluche jogando pelos Bulldogs, com aparições regulares em ESPN, Sports Illustrated, New York Times e afins. Em 2006, a equipe estava debaixo do holofote nacional, mas não quer dizer que JP estivesse dominando o noticiário. De qualquer maneira,  era uma das peças mais importantes do time e ao menos ganhou a atenção de quem mais valia. “Ele é o nosso herói anônimo”, afirmou, na época, o técnico Mark Few, sobre o atleta de médias de 19,3 pontos e 9,4 rebotes. “Ele segue entregando, entregando e entregando todas as noites para nós.”

Em Gonzaga, luzes, ainda que para outro, e o serviço sujo bem feito

Em Gonzaga, luzes, ainda que para outro, e o serviço sujo bem feito

Gonzaga acabou caindo precocemente naquele torneio, perdendo na terceira rodada para uma UCLA de eventuais cinco jogadores de NBA (Arron Afflalo, Jordan Farmar, Luc Richard Mbah a Moute, Darren Collison e Ryan Hollins). Com o pessoal de sua turma, está sempre em contato. “Todas as férias vou para lá treinar”, afirma. Neste ano, encontrou Morrison, que está concluindo seus estudos e estudando a possibilidade de virar técnico.

No Draft de 2006, João Paulo passou batido. Disputou uma liga de verão pelo Minnesota Timberwolves, mas foi se profissionalizar, mesmo, apenas na Europa, pelo Lietuvos Rytas, da Lituânia. Está na Europa desde então, numa carreira bastante sólida – e incomum para brasileiros, ainda que poucos deem bola. Já são oito anos por lá.

Sobre a seleção? Neste longo intervalo, foi chamado por Lula Ferreira em 2007, sendo campeão pan-americano. Participou também do fatídico Pré-Olímpico de Las Vegas 2007, assim como da campanha do Pré-Olímpico mundial em 2008, já com Moncho Monsalve, num elenco dizimado por desfalques. Seguiu no time para ser campeão da Copa América de 2009. Na gestão de Rubén Magnano, porém, só foi lembrado em duas ocasiões e sempre de última hora, em situações emergenciais. Em 2010, foi o substituto de Nenê, cortado por lesão. Em 2013, para mais uma Copa América, teve de interromper suas férias no Recife para novamente socorrer o argentino. O time foi um desastre, mas, nos poucos minutos que teve, o massa-bruta rendeu.

Mas precisamos entender: aos 32 anos, JP continua bastante produtivo em quadra, mesmo sem nunca ter sido um dos pivôs mais atléticos – pelo contrário. Forte toda a vida, joga com os pés no chão, um jogo terreno, de feijão com arroz, que dificilmente vai gerar lances de arromba, que virem sucesso no YouTube. E não tem problema: o basquete não seria feito só de acrobatas ou velocistas. Não se trata de um jogador perfeito, claro. Sua movimentação limitada pode ser explorada na defesa. Com pouca envergadura, também não é o protetor do aro mais temido. Por outro lado, com discrição, inteligência e seriedade, porém, começa sua terceira campanha de Euroliga, pelo Limoges, após jogar seis temporadas pelo Le Mans.

Dois pontos de João Paulo pelo campeão francês Limoges

Dois pontos de João Paulo pelo campeão francês Limoges

Na entrevista abaixo, ele nos conta sobre sua experiência no basquete francês, mas não se sente tão confortável em falar sobre a baixa popularidade em sua terra, para a qual pensa em voltar o quanto antes. Aliás,  o pivô revela ter entrado em negociações sérias com o Flamengo neste ano e que estava preparado para fechar um contrato, só para ver o negócio desfeito na última hora. Assinou, então, por mais duas temporadas com Limoges. Confira:

21: Depois de seis anos no mesmo clube, você chega ao Limoges, atual campeão francês. Como tem sido sua adaptação? Há muita diferença no estilo de jogo de um time para o outro?
JP: Minha adaptação tem sido muito boa. Sou um jogador de mente aberta e com facilidades de me adaptar rapidamente. O sistema do meu novo treinador é muito parecido com o que eu joguei os últimos seis anos, facilitando ainda mais.

Qual a sua expectativa para a Euroliga deste ano? A meta é chegar ao Top 16? Dá para sonhar mais alto? O clube chega para brigar nas duas frentes: continente e defesa do título nacional?
Acho que Maccabi é CSKA são os gigantes no nosso grupo. Muito superiores devido ao seu maior orçamento etc. Estamos com um time muito interessante neste ano e podemos surpreender. Não tem muita gente acreditando em nossa equipe, mas temos confiança e vamos brigar por uma vaga no Top 16, que é o nosso objetivo na Euroliga. Sem dúvida temos um time forte e vamos brigar pelo título francês.

A posição de pivô é a mais concorrida do basquete brasileiro há muito tempo. São vários grandalhões na NBA, outros jovens que surgiram nos últimos, e tudo o mais. Você acha que, nesse contexto, acabou ficando um pouco esquecido ou subestimado em seu país, embora tenha uma carreira bastante sólida na Europa?
Olha, é difícil de responder, pois fica um pouco fora do meu controle. Quem me conhece sabe de onde eu vim e o caminho que tive que percorrer pra chegar onde estou. Devido à pouca popularidade do basquete no Brasil acho que a mídia sempre deu muito foco a NBA, Euroliga e ACB e pouco ao resto.

No ano passado, JP e a seleção não renderam em fiasco na Copa América

No ano passado, JP foi chamado de última hora para a Copa América

Saindo de Olinda, longe dos grandes centros de basquete do Brasil… Depois fazendo sua trilha nos Junior Colleges até chegar a Gonzaga… Pelos Bulldogs, era um dos coadjuvantes do Adam Morrison… E agora vai tocando sua carreira na Europa, na França, indo sempre pelas beiradas, seguindo em frente. Essa, digamos, discrição seria algo que te ajudou?
Sem dúvida. Acho que passei um pouco despercebido pelo Brasil, quando joguei pelo Paulistano e São José do Rio Pardo. Agarrei com unhas e dentes quando a oportunidade de ir pros EUA apareceu, e hoje agradeço a Deus todos os dias por estar vivendo o que sempre sonhei quando criança.

Você ainda mantém contato com seus companheiros de Gonzaga? Quando falou pela última vez com o Morrison?
Sim, mantenho um pouco de contato com a maioria. Todas as férias eu volto para lá para treinar. Vi Morrison em julho, quando estive pela universidade. Ele está terminado seus estudos e fazendo parte da comissão do time masculino de Gonzaga como voluntário, para ganhar experiência.

Daqueles tempos do basquete universitário americano, qual a lembrança mais forte que tem? O jogo em que foram eliminados no Torneio Nacional? Ou  as coisas mais corriqueiras, dos tempos de estudante, como o esforço de chegar aos EUA sem saber direito o que seria de sua vida por lá?
Sem dúvida a eliminação do torneio da NCAA doeu um pouco. Mas foram muitos obstáculos no caminho, ainda mais por ir para os Estados Unidos sozinho, sem saber o que esperar, sem nada no bolso. Tinha somente a fé e a determinação de vencer como pessoa e como atleta, e isso vai sempre marcar mais.

Você começou sua carreira profissional pelo Lietuvos Rytas, num verdadeiro “país do basquete”. Como foi sua experiência num país desses?
Na Lituânia realmente foi uma experiência única. É um lugar onde o povo respira basquete. É como o futebol no Brasil. Sem palavras.

JP quase fechou com o Flamengo. Mas joga de alviverde, mesmo, este ano

JP quase fechou com o Flamengo. Mas joga de alviverde, mesmo, este ano

Sabemos que, embora o orçamento dos clubes não esteja entre os maiores da Europa, a liga é muito bem organizada do ponto de vista financeiro. O que mais você pode nos contar nesse sentido, em relação ao que se faz no restante da Europa? Já teve problemas com salários atrasados, por exemplo? Que tipo de lição a Liga Nacional Brasileira poderia tirar daí?
Uma das razões pelas quais estou aqui por tanto tempo é devido a essa estabilidade da liga e do país. Nunca recebi um salário atrasado aqui na França. O basquete aqui é muito bem divulgado, e a cobertura pela TV, muito boa e organizada. Os ginásios estão muito bem estruturados e limpos. E o campeonato tem cinco divisões. Acho que o basquete tem evoluído muito no Brasil, mas, num país dominado pelo futebol, a exposição é muito pouca. Futebol é muito popular aqui, mas, mesmo assim, tem transmissão de jogos de basquete quase todos os dias na TV.

Em termos de resultado de seleção, o basquete francês talvez viva seu melhor momento na história. Qual o impacto das recentes conquistas para a liga francesa, em termos de investimento e público?
O basquete sempre foi um esporte de boa popularidade aqui na França. Estes últimos resultados só têm ajudado ainda mais a valorizar o investimento que sempre foi feito, com mais eventos envolvendo torcedores etc. As grandes empresas estão investindo sem medo, e a criançada, se interessando cada vez mais.

Os times franceses estão constantemente revelando talentos, em geral muito atléticos. Tanto que o país é aquele que tem hoje o maior número de estrangeiros na NBA. Como acontece essa integração dos garotos da base? Existe alguma obrigação nesse sentido, ou é algo que acontece mais devido a circunstâncias de mercado?
O campeonato juvenil acontece paralelamente ao adulto. E todos os times da primeira divisão fazem um trabalho de base espetacular. Todas equipes fornecem alojamento, educação e alimentação a todos jogadores do cadete e juvenil. E aí os jogadores de talento do juvenil são integrados à equipe profissional para treino e jogo. Geralmente uns dois ou três. A maioria acaba sendo revelada desta forma.

Para fechar: seu contrato com o Limoges é de dois anos, né? O segundo ano é totalmente garantido? Você tem algum tipo de plano para quando o vínculo se encerrar? Pensa em jogar o NBB?
Sim, assinei um contrato garantido de dois anos. Quero muito voltar ao Brasil. Fui sondado pelo Flamengo em junho quando meu contrato em Le Mans terminou. Infelizmente não conseguimos entrar em acordo e ao mesmo tempo tinha a proposta do Limoges com um prazo para dar uma resposta. Confesso que estava pronto pra fechar com o Flamengo, mas infelizmente não deu certo.


A ciranda de Marquinhos, Flamengo e Wizards. Como faz agora?
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Giancarlo Giampietro

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Primeiro foi tratado como “rumor”. Depois, como furada. Mas agora parece que está acontecendo mesmo: os repórteres Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, parceiros aqui do UOL Esporte, acabam de noticiar que Marquinhos está, mesmo, em negociações avançadíssimas para assinar com o Washington Wizards.

De modo que este é um post complicado de escrever, mas importante, já que tem a ver com o universo do basquete e o do jornalismo, com notícias (ou boatos?), desmentidos (ou dissimulações?)… Enfim, todas as artimanhas que a profissão sempre ofereceu para repórteres e fontes, que ficam ainda mais complicadas em tempos de Internet. Vamos lá, então, relatar o que está acontecendo, em ordem cronológica:

Quinta-feira
O jornalista italiano Emiliano Carchia, que pilota o site Sportando, referência em notícias do basquete europeu e que também mete a colher aqui e ali no mundo da NBA, soltou uma bomba que agitou o basqueteiro brasileiro – e o flamenguista em particular. Emiliano cravou: Marquinhos havia acertado um contrato de um ano com o Washington Wizards e estaria pronto para viajar no mesmo dia.

Acontece que, naquele exato momento, o Flamengo estava treinando na Arena HSBC no Rio de Janeiro, na véspera da disputa da Copa Intercontinental contra o Maccabi Tel Aviv. Que hora, hein? Finalizada a sessão, Marquinhos desmentiu, disse que não tinha assinado contrato nenhum. O Flamengo não estava sabendo de nada. O agente do atleta, em contato com o jornalista italiano, reforçou as negativas, pedindo um desmentido no site. Emiliano seguiu a linha de ouvir o outro lado e publicou sua nota de noite. O pequeno texto, porém, se encerrava com a informação de que uma fonte sua assegurava que o ala brasileiro e o time da capital norte-americana tinham um acordo acertado.

Sexta-feira
Marquinhos vai para a quadra normalmente com o Flamengo, escalado no time titular ao lado de Laprovíttola, Marcelinho e Walter Herrmann, trio que também participou da Copa do Mundo. Torneio no qual o lateral jogou muita bola, apresentando uma intensidade bastante rara para quem acompanha sua carreira desde os tempos de Vasco da Gama, Mogi etc. Obviamente que o desempenho chamaria a atenção de olheiros – o atleta sempre foi um prospecto de nível internacional, descolando contrato com o então fortíssimo basquete italiano cedo em sua carreira, sendo draftado pelo New Orleans Pelicans-então-Hornets e tal. Poderia estar no basquete europeu há tempos, em clubes de ponta, mas, devido aos filhos, preferiu o conforto de casa, fazendo boas campanhas por Pinheiros e, agora, Fla.

Contra o Maccabi, o ala não teve o desempenho mais eficiente (4-12 nos arremessos, 11 pontos, 4 rebotes, 2 roubos de bola, 2 turnovers em 29 minutos), mas jogou duro, com a mesma pegada que havia demonstrado na Espanha. Não foi sua melhor partida, mas jogou bem, passando aquela impressão (de sempre) de que pode ser muito mais utilizado, ainda mais quando está empenhado em partir para a cesta.

Ao final da partida, uma derrota por 69 a 66, Marquinhos foi o escolhido pelo repórter Guido Nunes, do SporTV, para fazer os primeiros comentários sobre o jogo. Quando questionado sobre os reforços rubro-negros para a competição – especificamente o argentino Walter Herrmann, que vem para disputar toda a temporada, e o norte-americano Derrick Caracter, contratado especificamente para o Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos –, o brasileiro não dobrou a língua e foi crítico. Disse que os gringos não jogaram bem e que o técnico José Neto deveria ter usado um “time que se conhece”. Assim, na lata. Essa coisa de contratação pontual, para um punhado de jogos, tem histórico bastante duvidoso. Os cruzeirenses que o digam.

O que nos leva ao grande hit da banda sueca The Hives, que já tem mais de dez anos:

Sábado
Lá vêm Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida para basicamente confirmarem a bomba que Emiliano Carchia havia soltado na quinta: sim, Marquinhos está negociando com o Washington Wizards. Nenê teria reforçado a indicação de seu companheiro de seleção, que está inclusive pesquisando sobre escolas na capital norte-americana para inscrever as filhas. Quer dizer: o Sportando pode ter meio que errado ao dizer que o contrato estava assinado e que já viajaria na quinta. Mas também estava meio certo, no sentido de que parece que está tudo acertado entre as partes, restando apenas a tinta no papel.

Domingo
E aí? Faz como?

Lembrando que não é a primeira vez que Marquinhos se envolve nesse tipo de tiroteio público. Como sabem Guerrinha e Flávio Davis, assistentes da seleção na gestão de Lula Ferreira. Por falar nesta fase da equipe nacional, mais especificamente de 2007, nem sempre o que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas, né? Além do mais, até Rubén Magnano, um entusiasta do jogador, teve suas rusgas e lamúrias. O que não quer dizer que ele seja um atleta problemático. Marquinhos é simplesmente um atleta que não se importa com o microfone e costuma falar o que dá na telha.

O ala está falando por conta própria? Sua opinião foi, digamos, pontual? No sentido de que só fez uma crítica ao basquete apresentado pelo(s?) reforço(s?) naquela sexta-feira específica e que seu treinador deveria se ater a um time mais bem entrosado? Ou seu comentário tem a ver com algum ressentimento pela contratação de última hora de Caracter? E isso reflete de algum modo a opinião geral do vestiário, ou pelo menos de alguns companheiros? Se há um desconforto, isso o teria motivado a abrir o bico em rede nacional, uma vez que seu compromisso com o clube já está chegando ao fim?

São as questões que precisam ser respondidas agora.

O Flamengo, basicamente, precisa vencer o Maccabi por quatro pontos para ganhar um título histórico. É mais do que plausível isso. O time israelense comprovou na primeira partida sua vulnerabilidade, sua falta de entrosamento. Foi salvo pelo caminhão de chutes de três desperdiçados pelo adversário e pelas estripulias de Jeremy Pargo.

Agora, porém, as dificuldades cresceram. E o que será mais complicado de se resolver: lavar a roupa suja com Marquinhos, treinar os chutes de três pontos ou anular Pargo?


Depois da eliminação, as pérolas de Carlos Nunes
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Giancarlo Giampietro

"Aqui não é futebol", afirma Carlos Nunes. E...?

“Aqui não é futebol”, afirma Carlos Nunes. E…?

Carlos Nunes ataca novamente! Numa rara aparição pública, o presidente da CBB topou falar ao GloboEsporte.com depois da eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo. Suas respostas, para manter a coerência, beiram ou atravessam a linha do trágica. Um ou outra resposta você entende de onde saem: Nunes é um político e vai falar como tal, na pior acepção da palavra. Vai distorcer fatos, ignorar os percalços gerais de sua administração e encher a boca para garantir uma série de coisas que estão fora de sua alçada. A não ser que ele resolva endividar ainda mais a confederação, pegar empréstimos, passar o chapéu em Brasília de novo e de novo para assinar cheques de um milhão de euros para fazer valer qualquer discurso. Aí, meus amigos, até eu. Então, sem mais delongas, aqui estão as declarações para o repórter Fábio Leme seguidas de comentários:

País-sede vai ter de disputar vaga olímpica?
“Estamos absolutamente tranquilos. O Brasil, como país-sede das Olimpíadas, não vai ter basquete? Isso não existe. Evidente que há uma especulação, pois o regulamento é omisso nesse assunto, mas não tenho dúvida. Veja só nas Olimpíadas de Londres quem participou? Não foi a Inglaterra, foi a Grã-Bretanha, e o time deles não chega nem aos pés do nosso, com o perdão da expressão.”
>> Comentário: e quanto foi Brasil x Grã-Bretanha nas últimas Olimpíadas? Só 67 a 62? Ah, tá… Agora, sim, todos sabemos que o Brasil tem mais tradição que os britânicos nessa brincadeira toda, tem mais jogadores disponíveis, mercado etc. Só não dá para alguém intelectualmente honesto se referir ao atual basquete brasileiro com essa soberba toda. Simplesmente não dá: pelo que a CBB faz, não cabe expressão espirituosa nenhuma. Além do mais, não sei se o presidente sabe, a Inglaterra não disputa os Jogos Olímpicos, mesmo. Nem no futebol, em que os inventores do esporte dividiram time com galeses e vizinhos.

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Calendário 2015: Pan + Copa América
“Eu acho que temos equipe para cumprir os dois eventos. Não vamos com a equipe A nos dois, vamos fazer uma mescla. Estamos avaliando qual a nossa prioridade agora, mas, a princípio, é o Pan-Americano, porque a vaga olímpica nós temos, apesar de a Fiba nunca ter dado essa segurança. No Pan, nós não vamos com os jogadores da NBA, mas vamos com uma equipe forte, com o objetivo de ganhar medalha. Acho que não teremos problemas para ter os atletas que atuam no basquete europeu. Isso tudo vai ser discutido pelo departamento técnico, eu estou dando as informações de algo que discutimos mais ou menos. No Pré-Olímpico, nós vamos com os da NBA.”
>> Discutir “mais ou menos” não é a cara da CBB? Mas tudo bem, né? Está cedo para fazer plano para o ano que vem. Acabamos de jogar um Mundial, gente. Vamos deixar de chatice. Deixa primeiro aproveitar o resto da estadia em Madri. O futuro fica para amanhã. De longo prazo, só vive gente séria. Além do mais, obviamente que o Brasil tem dois times fortes para disputar medalhas o tempo todo. Como a Copa América do ano passado comprovou, com as derrotas para Jamaica e Uruguai. Da mesma forma em que ocorreu no Pan de Guadalajara 2011, em que ficou fora das semifinais. O fato até agora é um só: quando Rubén Magnano não teve nenhum representante da NBA em seu time, se lascou.

E tem mais: Carlos Nunes por acaso sabe quem são os atletas brasileiros hoje na Europa? Vamos contar: Huertas, Rafael Luz, Raulzinho, Augusto, JP Batista, Tavernari e quem mais? De repente ele esteja se referindo aos meninos de 1996 (Daniel Bordignon, do Baskonia) ou mesmo de 1998 (Felipe dos Anjos, o espigão do Real Madrid, ou Gabriel Galvanini, do Fuenlabrada)? Pode ser.

Lembrando que a seleção brasileira de base europeia, junto com os veteranos de sempre do NBB, foi a que naufragou na Copa América. Em 2011, no Pré-Olímpico em que o Brasil derrotou a Argentina, sabe quantos de NBA estavam lá? Só Splitter. Então como ele pode garantir que todos estarão no ano que vem? Isso representaria três anos seguidos de convocação desses caras, que já não são os mais jovens do mercado. Como eles chegarão ao Rio 2016? Enfim, há muito o que ser discutido, especulado. Mas depois a gente fala mais a respeito.

Quando o dever com o COB te chama
“Quanto ao Pan-Americano, nós também queremos medalha, até porque o COB está nos dando um apoio muito grande. Então, nós temos que honrar esse apoio conseguindo uma medalha no Pan.”
>> O repórter traz uma informação que desconhecia (se estava amplamente divulgado, podem me espezinhar): a de que o Comitê Olímpico Brasileiro está bancando o salário da comissão técnica da seleção. Ajuda providencial, depois dos R$ 3 milhões que gastamos apenas para entrar no Mundial a “convite” – sem contar a grana torrada com a delegação de 2013, no fiasco que foi a campanha na Venezuela. Aí a CBB se vê de mãos atadas: se a Fiba por um acaso optar por ferrar o basquete brasileiro e deixar o país-sede sem vaga olímpica definida, como faz? Vai jogar com dois times “fortes” no Pan e Pré-Olímpico? Em tempo: sinceramente, acho possível ter duas equipes competitivas, mesmo só com atletas do NBB. Desde quem bem preparados. Infelizmente não aconteceu nas últimas oportunidades, com críticas cabíveis ao trabalho do argentino, que simplesmente lavou as mãos e afirmou que, sem os melhores, não havia o que se fazer.

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

A derrota para a Sérvia e a Copa em geral
“Nós não precisávamos de um resultado acachapante como foi, no caso mais de 30 pontos, mas, no total da campanha, foi ótimo. Quebramos um tabu, recuperamos a hegemonia sul-americana diante de nosso mais assíduo inimigo, comprovamos ter um time forte e ganhamos do campeão europeu. O Brasil mostrou que tem condições. Nosso planejamento está correto, estamos vendo 2016 e seria importantíssimo chegar ao pódio. Nossos atletas demonstraram que têm amor pelo Brasil, pois vieram todos. Da outra vez, não vieram por problemas de saúde ou porque os clubes não liberaram, como foi na Venezuela.”
>> Amor pelo Brasil. Carlos Nunes tem? E ele conversou sobre esse amor com Rubén Magnano quando o argentino saiu disparando para todos os lados, no ano passado? Entendo que o argentino tinha alvos específicos, que deve ter revelado em conversas posteriores aos veteranos, mas vocês se lembram do fuzuê que foi, não? Com Oscar e outros detonando o time, o discurso do treinador serviu como gasolina. As coisas foram contornadas, ainda bem, mas o ponto aqui é: a CBB falha, e muito, em sua comunicação corporativa.

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Rio 2016: pódio?
“A pressão vai ter, sempre vai. Mas a equipe está madura, acho que a pressão não vai influenciar. Nós vamos chegar fortes, aliás, temos de chegar fortes. No nosso país, as Olimpíadas nos exigem uma medalha. Aqui, nosso time deu o recado e essa derrota em nada vai nos abalar. Sempre costumo dizer que aqui não é futebol. Temos um planejamento com o Rubén (Magnano) até 2017 e ele só não vai cumprir se não quiser. Se depender de nós, ele está confirmadíssimo.”
>> De novo o descuido com as palavras: “exige”. A seleção brasileira não tem condição de falar nesses termos. No Mundial, o time estava mais uma vez completo e não conseguiu se posicionar para disputar medalhas, caindo novamente nas quartas. Poderiam ter avançado? Claro que sim. Mas é tudo muito equilibrado e, por consequência, incerto, que não dá para falar em garantias ou exigências. De modo que o basquete em diversos sentidos “é futebol”, sim, com uma penca de times competitivos que sonham com um pódio olímpico. Sobre a CBB ter planejamento e tal, melhor nem comentar. Tou limpando as lágrimas aqui.

Renovação na seleção?
“Essa avaliação quem vai fazer é o Rubén, mas eu entendo que a maioria tem condições de chegar em 2016. Também existem novos valores despontando como o Bebê, o Caboclo e o Faverani, que não pôde vir porque estava machucado. Nós vamos ter uma equipe forte e preparada.”
>> Faverani é um novo valor, que está despontando. Ele, que vai fazer 28 anos em 2016.

 Eu não recebi a informação de que estaríamos garantidos desde que jogássemos com um time forte no Pré-Olímpico mas, se isso for o que a Fiba decidir, nós vamos cumprir


6º lugar no Mundial: é o que tem para hoje. E depois?
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Giancarlo Giampietro

(Atualização: com a derrota da Espanha para a França, o Brasil perde uma colocação na classificação geral, caindo de quinto pra sexto. Que fase!)

Brasl derrotado, Sérvia vence, Copa do Mundo, basquete, crise, CBB

A frase não vai parecer genial, mas é precisa ser dita: o Brasil tanto podia ganhar da Sérvia nesta quarta-feira, como poderia perder. E perdeu. Era um duelo equilibrado, sem favoritos, pelas quartas de final de uma Copa do Mundo de basquete. Alguns detalhes aqui e ali poderiam ter se corrigido, mas o fato é que o time brasileiro, desde a sua composição ao que executava em quadra, estava longe de ser perfeito. Era competitivo, estava na briga pelo pódio, mas não tinha direito adquirido nenhum ali. Estava metido em um jogo enroscado, se descontrolou emocionalmente na volta do intervalo e, pumba!, quando passou, já era. Vitória sérvia.

Isso tudo se refere a 10 de setembro de 2014 e a um geração de jogadores que, em geral,  está em seu auge, descontando uma ou outra peças periféricas de sua rotação, que já se veem mais perto da aposentadoria. Quer dizer, uma pequena retificação: essa competitividade da seleção brasileira passa por 10 de setembro e deve se estender até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. A seleção vai receber uma Olimpíada com as mesmas chances, se as coisas correrem normalmente.

Agora, e o que vem depois disso?

Depois de assimilada a eliminação – que poderia ser evitada, mas acontece –, muito do que se ouviu em tempo real foi sobre “o bom trabalho” executado, que é algo que não pode ser descartado prontamente, e bla-bla-blá. Obviamente que não. Aliás, quem estaria argumentando de modo contrário? O Brasil se despede do Mundial com o quinto sexto lugar, o mesmo posto de Londres 2012. O basquete internacional não é para qualquer um, mesmo num cenário em que boa parte dos grandes concorrentes estava seriamente desfalcada.

Mas só precisamos ter cuidado com a generalização: se for falar em bom trabalho, que fiquemos com Rubén Magnano e seu grupo de veteranos. Não que o argentino deva ser ou esteja blindado de críticas. O ataque brasileiro não funcionou como poderia, tendo muita dificuldade para produzir de modo eficiente em situações de meia quadra. Sua convocação final se mostrou redundante. Ele não pediu mais um tempo naquele fatídico terceiro período. Etc. Entre os atletas, houve surpresas e decepções. Agora, me parece que esse é o tipo de discussão que toda equipe vai ter ao final de uma campanha. Vai acontecer até mesmo nos Estados Unidos. Não existem times perfeitos. Existem times que reconhecem suas deficiências e procuram amenizá-las. Pode ser que tenha faltado isso? Sim, certamente faltou. A verdade, porém, é que a seleção caiu, com suas virtudes e limitações.

Seleção brasileira, banco, 2014, basquete

O que não dá para fazer é ficar jogando confete para cima depois de um quinto sexto lugar e deixar que muitos penetras entrem nessa festa (inexistente). Não dá para incluir os cartolas da CBB (a inoperante Confederação Brasileira de Basquete) nessa. Sua diretoria – e até mesmo os manifestos opositores aos atuais gestores – devem ser barrados na porta. Porque, entre as limitações que temos, dá para falar de fundamentos e minúcias de jogadores e de alguns nomes convocados, mas o buraco, mesmo, está ao redor desta seleção.

O basquete brasileiro foi para um Mundial com sua força máxima – pelo menos segundo o gosto de seu treinador, com americano naturalizado, e tudo – e com média de 31 anos, a mais elevada da competição. A Sérvia tem média de 26 anos. Entre seus protagonistas, apenas um está acima dos 30 anos, o pivô Nenad Krstic. O ala Bogdan Bogdanovic, autor de 12 pontos, tem apenas 22 anos, mesma idade do titular Nikola Kalinic. Milos Teodosic tem 27. Nemanja Bjelica, 26, assim como Miroslav Raduljica e Stefan Markovic. Já deu para entender, né? O time balcânico que deu uma surra hoje pode pensar até mesmo nas Olimpíadas de 2020.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

A verdade, contudo, é que eles nem precisam, já que não sabem nem ao certo se estarão no Rio 2016. As coisas na Sérvia funcionam de outro jeito, devido à alta competitividade para se entrar naquela seleção. Eles trocam de geração a cada dois anos, é algo impressionante. Estão aí para comprovar Marko Keselj e Milan Macvan, dois semifinalistas de 2010, atletas bem pagos de Euroliga e que não chegaram nem perto de jogar este Mundial. Os esquecidos e os eleitos para o time de hoje que se cuidem, aliás, porque a fornada de 1994 e 95 também já é boa o bastante para sonhar com as grandes competições, vindo de um vice-campeonato mundial em 2013. O armador Vasilje Micic e os pivôs Nikola Jokic e Nikola Milutinov jajá estarão por aí – dois deles já foram draftados pela NBA neste ano.

Do Brasil, se formos recuperar as últimas campanhas com algum sucesso em torneios internacionais de base, temos a galera que terminou o Mundial Sub-19 de 2007 (1988/89) em quarto, além da equipe que deu um sufoco danado nos Estados Unidos na Copa América Sub-18 de San Antonio, em 2010 (galera de 1992/93).  Se a turma de Raulzinho, Felício e Bebê já se aproxima, perigosa e precocemente do ostracismo, o que dizer daqueles quatro ou cinco anos mais velhos? Antes da partida desta quarta, já havia passado por esse caso alarmante. Dessa geração, apenas dois atletas hoje estariam no radar da seleção principal – mas com chances remotas de aproveitamento: Rafael Mineiro e Paulão. Entre os sérvios, dois saíram triunfantes em Madri (Raduljica e Markovic), enquanto Macvan e Keselj já haviam disputado a edição de 2010, conforme citado.

Para não falar apenas de Sérvia, fica o registro: a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos, a Lituânia, a Croácia e muitas outras equipes já apresentaram bases renovadas para esta Copa. O grau de protagonismo dos atletas mais jovens variou de uma equipe para a outra, mas pelo menos eles estavam na Espanha, vivendo a experiência intensa que é disputar um torneio de elite desses. Do lado brasileiro, dos mais jovens, apenas Raulzinho pode falar a respeito do assunto, já com duas edições em seu currículo.

Não é que não existam opções. O armador Rafael Luz e o pivô Augusto Lima já são realidades no basquete europeu, jogadores produtivos no campeonato nacional mais difícil do continente – a Liga ACB espanhola. Augusto, aliás, foi um dos destaques individuais na temporada passada – e mal teve chance para mostrar serviço na seleção “b” que ficou com um (?) honroso bronze no Sul-Americano. O pivô Lucas Mariano e o ala Leo Meindl (Franca) e o armador Ricardo Ficher (Bauru) também aparecem num grupo de revelações lembradas por Magnano nos últimos anos. Para não falar de Bruno Caboclo, ala surpreendentemente escolhido pelo Toronto Raptors no Draft da NBA, o atleta de maior potencial nessa lista, sem dúvida. Em seu ex-clube, o Pinheiros, também há pelo menos mais três garotos para serem monitorados.

Daí que… Ué? Então de que trevas você está falando, meu chapa? Olha aí o tanto de jogador jovem aí que você acabou de citara. Para um comentário desses, reverteria o jogo: mas o simples fato de nos apegarmos a cinco, seis, sete nomes já não diz muito sobre a quantas anda a produção de talentos nacional? Digo, se todo mundo sabe de cor quais são as apostas para o próximo ciclo olímpico, acho que isso significa justamente como as coisas andam errado. Já se comprova o número bastante limitado de alternativas, num país com 200 milhões de habitantes, cujo Ministério dos Esportes aponta a modalidade como a segunda mais praticada.

Além do mais, não é brincando de apostar em garotos, como se o desenvolvimento seguisse a lógica do mercado futuro, que os problemas de constituição de um time – e do basquete – brasileiro serão solucionados. A carreira dessa molecada não está nem mesmo garantida, de modo que soa absurdo depositar em seus ombros carências de uma estrutura toda deficitária. Em setembro de 2014, eles são apenas promessas, que precisam jogar e  treinar em paz, seguindo sua rotina, quiçá com a melhor orientação disponível. Não é hora de ficar buscando nomes – mas, sim, de trabalhar pra ter um maior número de nomes possível.

Só com uma confederação que trabalhe desta maneira, com essa mentalidade, que não dependa de milagres – o advento de do Grande Jogador da Silva –, que se pode exigir mais do que o atual time conseguiu. De novo: a despeito de toda a precariedade estrutural lamentada, os veteranos de Magnano tinham plenas condições de ir adiante neste Mundial. Mas não foram. Goste ou não, é uma seleção brasileira se afirma como a quinta/sexta melhor do mundo. É o que tem para hoje.

Brasil perde, CBB, Copa do Mundo, Sérvia

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Em tempo, e algo que não pode ser esquecido jamais: depois do fiasco que foi a participação na Copa América, na qual, sem seus melhores jogadores, Magnano naufragou, perdendo para Jamaica e Uruguai, a CBB teve de desembolsar um milhão de euros para ser “convidada” para jogar o Mundial. Arredondando: 3 milhões de reais. Então, do ponto de vista administrativo, é um fiasco ficar fora do pódio. Um quinto lugar não vale 3 milhões de verdinhas. Os patrocinadores ganharam alguma visibilidade em TV aberta, ainda mais depois da vitória sobre a Argentina, mas o prejuízo da confederação é brabo. Ainda mais para quem já está endividado.

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Acho que vale reforçar: o Brasil levou aquilo que seu técnico julga de melhor para o Mundial, inclusive naturalizando o Larry. Com o grupo que levou, Magnano foi para o tudo ou nada. Contra muitos adversários desfalcados. E terminou em quinto. Isso diz muito sobre a dureza que é lutar por uma medalha no basquete de hoje, mas também sobre o nível atual da seleção. É de se ponderar, mesmo.


Sérvia se aproveita de destempero brasileiro, atropela e está na semifinal
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Giancarlo Giampietro

O jogo de contato de Raduljica incomoda. Uma falta nele, muita reclamação, e lá se foi o placar

O jogo de contato de Raduljica incomoda. Uma falta nele, muita reclamação, e lá se foi o placar

O jogo já estava complicado, duro, conforme o esperado. Até que, no início do terceiro período, um momento de destempero da seleção brasileira, a equipe mais velha da Copa do Mundo, foi praticamente mortal. Do seu lado, cheia de confiança, a Sérvia, num jogo de quartas de final, não ia permitir reação nenhuma. Não só administrou, como aumentou, e muito, a diferença, eliminou seu adversário e avançou para a semifinal – e a consequente disputa de medalhas. A equipe balcânica venceu por 84 a 56 e agora enfrenta a França, que surpreendentemente eliminou a Espanha.

O Brasil começou a terceira parcial de guarda baixa, permitindo que o adversário abrisse nove pontos de vantagem, após um primeiro tempo muito parelho. Depois de uma falta de Anderson Varejão sobre Miroslav Raduljica, a arbitragem sinalizou mais duas faltas técnicas contra Tiago Splitter e Marquinhos, com 7min19s no cronômetro. Os europeus fizeram cinco pontos nos lances livres e mais dois numa bandeja de Stefan Markovic, de modo que, com 7min10s, os brasileiros tinham novamente a posse de bola, mas com 16 pontos de desvantagem.

Um instante de descontrole emocional que acabou abalando um grupo com 31 anos em média (bem superior que a idade média dos sérvios, de 26). O técnico Rubén Magnano chegou a pedir um tempo de imediato, mas não foi o suficiente para acalmar sua equipe. O técnico argentino não viria a interferir na partida novamente, mesmo com a seleção ficando quatro minutos sem pontuar. Quando Raulzinho acertou um tiro de três a 1min18s do fim, ele estava apenas reduzindo um placar que já apontava 20 pontos de desvantagem. O quarto período começou com 66 a 44.

Bjelica faz a falta e pára o contra-ataque brasileiro: algo recorrente no primeiro tempo, em jogo tático dos sérvios

Bjelica faz a falta e pára o contra-ataque brasileiro: algo recorrente no primeiro tempo, em jogo tático dos sérvios

Cada jogo é uma história, mesmo. Esse duelo pelas quartas foi  completamente diferente do primeiro embate entre os times. Ainda pela fase de grupos, foi o Brasil que primeiro abriu uma larga vantagem no placar, de até 18 pontos, para depois sofrer uma virada preocupante. Ainda assim, a equipe nacional conseguiu se acertar no quarto período e triunfou.

Na primeira fase, os sérvios haviam vencido apenas os frágeis Irã e Egito, tendo perdido também para Espanha e França. Nos mata-matas, porém, o time elevou sua produção de modo impressionante. Nas oitavas, derrubou a Grécia, até então invicta, por 90 a 72, chegando muito mais preparada para uma revanche com os brasileiros.

Depois de comer poeira contra o Brasil no primeiro jogo, especialmente na etapa inicial, os sérvios praticamente abriram mão da disputa pelos rebotes ofensivos para recomporem sua defesa com mais agilidade. Na mínima chance de escapada dos adversários, não hesitavam em fazer faltas táticas, para frear o jogo. Deu certo.

Em meia quadra, a seleção nacional seguiu com dificuldades de execução, problema detectado desde a fase de amistosos. Se contra a Argentina os pivôs conseguiam se impor fisicamente, dessa vez a disputa, digamos, corporal era muito muito mais equilibrada. Os sérvios conseguiram proteger sua cesta com autoridade, limitando seu oponente com apenas 38% nos chutes de dois pontos (9/24) nos primeiros 20 minutos.  Os únicos que conseguiram ser produtivos lá dentro foram Varejão e Marquinhos. Varejão acertou apenas 2/7 nos arremessos, mas seguia firme no lance, em posição favorável para o rebote, cavando faltas, convertendo seus lances livres e, ufa!, chegando a oito pontos no primeiro tempo – a média no torneio era de 8,2.

A munheca certeira de Teodosic fez estragos: 10 lances livres convertidos também

A munheca certeira de Teodosic fez estragos: 10 lances livres convertidos também

Do outro lado, o time de Magnano simplesmente não conseguia segurar o genial e genioso Milos Teodosic. O experiente armador chamou muito o jogo na linha de três pontos e usou a largura de seus pivôs, especialmente Nenad Krstic, pivô que estava em forma muito melhor, se compararmos com sua exibição na primeira partida. O veterano, largo toda a vida, estabeleceu corta-luzes fortes, daqueles que castigam, mesmo, e liberou seu companheiro. Teodosic  teve espaço para chutar e criar – soube também explorar a recuperação tardia de marcadores para forçar a falta e infiltrar. Faltou comunicação entre seus marcadores. Se era para deixar algum rival livre, poderiam escolher qualquer um dos outros quatro, menos o armador. E ele fez a equipe pagar por essas falhas e hesitações, anotando 16 pontos dos primeiros 37 dos balcânicos.

Outro problema foi a contenção do talentosíssimo Nemanja Bjelica. O ala-pivô tem 2,08m, longas pernas e joga bem afastado da cesta. Tirava Anderson do garrafão e abria espaços. Quando precisou atacar no mano-a-mano, bateu o pivô capixaba com certa facilidade, invadiu o garrafão e pontuou. Faltou alguém fechar esse corredor na cobertura. As coisas só melhoraram nesse sentido quando Nenê veio para a quadra. O são-carlense tem recuperação muito mais ágil, cercando a turma do perímetro com mais controle.

No segundo tempo, a Sérvia variou sua abordagem, pingando bolinhas no pivô Raduljica. Uma opção que havia sido sua prioridade no primeiro confronto, lembrem-se, mas que havia sido descartada até então nesta quarta-feira. O sérvio marcou quatro pontos em menos de dois minutos. No ataque seguinte em que foi acionado, sofreu a falta de Varejão, e o resto foi história.

A seleção brasileira simplesmente saiu dos trilhos a partir daí, e seu adversário não teve piedade, nem oscilação, nem nada. Matou, no geral, 50% dos seus arremessos, ao passo que limitou seu adversário a 34%. Teodosic terminou com 23 pontos. Krstic, impressionante no terceiro período, fez 10 pontos, matando 5 de suas 7 tentativas de cesta. Mas os números, no fim, nem importam. A partir do momento em que as faltas técnicas foram marcadas, era como se Brasil e Sérvia tivessem entrado num terceiro jogo nesta Copa do Mundo, para o qual apenas os balcânicos pareceram preparados.