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Arquivo : Trey Burke

Jukebox NBA 2015-16: Utah Jazz, “coloca o Raul”
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Tente Outra Vez”, por Raul Seixas

“Coloca o Raul!”

Se algum brasileiro estiver presente na plateia de um jogo do Utah Jazz, duvido muito que, depois de um copão de cerveja (porque lá é tudo gigante, mesmo), não tenha feito o trocadilho, sem que ninguém ao seu lado entendesse, muito menos o técnico Quin Snyder. Então aqui temos a única música brasileira na trilha sonora da temporada, por motivos óbvios. E, desculpem, piada era muito infame para ser evitada. : )

Por três, quatro meses, os pedidos foram atendidos: Raulzinho não só estava jogando em seu ano de novato, como havia sido eleito o titular. Quando foi selecionado para participar do jogo da garotada no fim de semana do All-Star, teve suas melhores atuações, a confiança visivelmente reforçada. Acontece que,  logo quando voltou das festividades em Toronto, recebeu uma notícia que servia como pulga atrás da orelha: o clube contratou um armador. Fosse uma estrela, um jogador de ponta, talvez fosse fácil de compreender. Mas, não, quem chegou foi Shelvin Mack, um cara que, até o momento, praticamente passou batido desde que foi selecionado pelo Wizards em 2011.

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Tom Thibodeau costuma dizer que, se o cara já está na NBA, é por ser um grande jogador. E está certo. Mas, entre esses grandes jogadores, há uma separação de castas, claro. E não dá para dizer que Mack faça parte da elite. Mesmo assim, bastou uma boa partida em sua estreia, para o armador de 25 anos assumir o posto de titular. Ele nem sabia as jogadas, muito menos seus nomes.

“Eu me senti muito bem. Não jogava tanto assim há um tempo. Venho trabalhando muito duro, aguardando por minha oportunidade. Foi muito bom sentir isso novamente”, afirmou o veterano, que tinha participado de 24 jogos com o Atlanta, com apenas 7,5 minutos, atrás de Jeff Teague e do Schrödinho. Se Snyder seguir prestigiando o recém-contratado, isso vai empurra o brasileiro para uma disputa ferrenha por minutos com Trey Burke. E o pesadelo de Rubén Magnano só fica mais intenso.
Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Então vem daí a escolha de “Tente Outra Vez”, então? Poderia ser, para que Raul mantenha a cabeça erguida e brigue por seus minutos. Mas a canção (separada antes de o campeonato começar, juro), tem mais a ver com o fato de o Utah tentar, enfim, voltar aos playoffs com seu segundo núcleo desde a era Stockton-to-Malone. O grupo com Deron, Boozer, Kirilenko e Okur (mais uma participação especial do Baby, por meia temporada!) até chegou a uma final de conferência, mas não teve chance nenhuma contra o Lakers. Agora, num processo bastante paciente de reformulação, depois de alguns anos de draga geral, a família Miller espera que sua diretoria tenha reunido peças em torno das quais possa se construir uma equipe vencedora.

As coisas estão caminhando bem nesse sentido, com o chefão de longa data, Kevin O’Connor, delegando poderes a Dennis Lindsey, mais um aluno do Instituto Gregg Popovich & R.C. Buford Spursiano de Basquete. Tal como o Philadelphia 76ers, mas sem fazer tanto estardalhaço, o clube vem bancando uma folha salarial barata para os padrões da liga, dando espaço a jovens apostas do Draft e buscando um ou outro talento na D-League. No ano passado, com a contratação de um verdadeiro professor, Quin Snyder, a equipe passou a ser mais competitiva. Depois do excelente rendimento que o time teve nos últimos meses da temporada passada, muitos esperavam que os garotos já pudessem se meter na briga com os grandes do Oeste, ou pelo menos incomodá-los mais. Que tivessem pelo menos um aproveitamento entre 55 e 60%, que o colocasse na briga pela quinta posição da conferência, ficando abaixo do quarteto Warriors/Spurs/Thunder/Clippers.

Não foi possível, por ora. A campanha na primeira metade da temporada foi gravemente atrapalhada por lesões e longo período de afastamento para Derrick Favors e Rudy Gobert. Quando o francês retornou, o americano saiu de cena. Agora estão reunidos, e fica a expectativa de que o time como um todo possa apertar o passo, no mesmo ritmo de 2015, e superar Mavs, Blazers e Rockets para se meter entre os oito melhores. Vamos ver.

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Para isso, precisam que seu núcleo central, com os dois grandões acima e Gordon Hayward e o emergente Rondey Hood, se mantenha saudável. Pois, como pudemos ver, ainda há limitações no elenco para lidar com desfalques do tamanho de seus excelentes pivôs, em todos os sentidos. Jeff Withey e o habilidoso novato Treyl Lyles tiveram seus momentos, mas estão num nível abaixo, e a defesa icou comprometida.

(PS: As produtivas atuações de Withey, todavia, depõem contra o gerente geral do Pelicans, Dell Demps, que tem de se explicar por permitir que o espigão fosse embora de graça, enquanto Omer Asik e Alexis Ajinça não conseguem dar cobertura a Anthony Davis. Já Lyles teve lampejos que mostram que Phil Jackson não estava tão maluco assim ao namorar o ala-pivô canadense antes do Draft.)

De qualquer forma, a maior carência, admitamos, estava na armação, como a contratação de Shelvin Mack não deixa negar. Lindsey falou com seu ex-companheiro Mike Bundeholzer para sondar a disponibilidade de Jeff Teague, não gostou do preço alto estipulado e, com o aval de Snyder e Hayward, se contentou com o terceiro armador da rotação do Hawks. Ao justificar a negociação, Snyder atentou para o fato de ter usado até seis jogadores diferentes na condução da equipe em minutos finais durante a temporada, com direito a improvisos. Quer dizer: em sua cabeça, repete-se um mantra que não podemos esquecer e que Manu Ginóbili sabe de cor: “Não importa quem começa o jogo, mas, sim, quem termina”.

Não é um demérito para o brasileiro, que, muito jovem, fez boas campanhas numa concorrida Liga ACB por anos e anos. A NBA é outra história, porém, e ainda estamos falando de um calouro se ajustando a este nível elevado de basquete. Como ponderação, basta observar o que se passa com Burke, oras. O rapaz foi uma estrela  de high school em Ohio e teve uma carreira bastante badalada pela Universidade de Michigan. Agora está prestes a ser descartado.

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Além disso, também não podemos nos esquecer que o plano de Snyder e Lindsey era por o exuberante Dante Exum como dono da posição. Uma infeliz lesão em amistoso pela seleção australiana, porém, o tirou do campeonato, abrindo espaço para Raulzinho. Ele aproveitou do jeito que dava, ganhou elogios de seu treinador por seu empenho defensivo e por sua estabilidade, mesmo sendo um novato. Mas não convenceu o bastante.

“Tivemos, não vou dizer uma porta giratória, mas tivemos de encontrar opções internamente, essencialmente usando nossos caras fora de posição. Se tivesse três armadores no início do ano, você veria algum tipo de separação entre eles. Mas não aconteceu isso. O resultado é que esse processo acontece agora. Vou ter de tomar algumas decisões em relação a quem vai jogar”, afirmou Snyder.

“Será muito fácil questionar algumas dessas decisões num período tão curto. Mas tomara que, com o tempo, vamos ganhar mais continuidade nessas escalações. Para chegarmos a conclusões, é importante que usemos Shelvin. Ele não teve chance de jogar muito neste ano. E por isso conseguimos a contratação. Ele é um armador de porte físico maior. Vale cada centímetro de seu 1,91m de altura e cada grama de seus 94kg. Em algumas ocasiões, essa fisicalidade em um jogo desta natureza é importante. Tivemos algumas ocasiões recentemente em que fomos superados fisicamente. Ele é diferente dos outros dois. Eles são muito diferentes , na verdade.”

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

O que dá para entender da fala do técnico: o plano era ter Exum no time titular, e Raulzinho desafiando Burke por minutos vindo do banco, com o americano levando vantagem por ter mais poder de fogo, sendo utilizado mais como pontuador do que organizador vindo da segunda unidade. É algo que se encaixa melhor na rotação, e aqui precisamos ressaltar que tipo de jogador está ao lado dos armadores no perímetro.

Hayward tem muita habilidade e vai ser o criador primário em muitas ocasiões. Nas últimas semanas, Hood também entrou nessa discussão, ganhando mais e mais admiradores entre os scouts. Nenhum deles chega a ser um James Harden, retendo tanto a bola assim. Mas é fato que o armador do Utah, qualquer que seja, tem de dividir a bola de um jeito diferente do que um ataque mais tradicional sugeriria. “Espero apenas que esses caras sejam agressivos”, diz Snyder. “E aí vamos continuar observando e ver o que acontece.”

Seguindo o raciocínio do treinador, é provável, então, que, assim como nos botecos por aí, o grito de mais “Raul” não adiante muito. Nem mesmo vindo de Magnano.

 A pedida: playoffs, dãr.

A gestão: conforme dito acima, Dennis Lindsey vem tendo todo o cuidado na construção de seu elenco, numa transição lenta e, ao seu ver, segura. A diferença, em relação ao que o agressivo Sam Hinkie apronta em Philadelphia, é que, sitiado no alto das Montanhas Rochosas, seu ritmo como negociador é bem mais pacato.

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz e daqueles que mete a mão na massa, surpreendendo até os mais veteranos. Corrige fundamentos mesmo durante partidas e tal, coisa que, em meio a jogadores milionários, não é de costume

Lembremos que, para chegar ao estágio atual, o clube abriu mão, de uma só vez, da dupla Al Jefferson e Paul Millsap. Assim como Philly fez com Thaddeus Young, Evan Turner & Cia. Desde então, porém, basicamente adicionou a sua base os escolhidos via Draft e algumas especulações pontuais da D-League. Mal investiu em agentes livres, mas também não participou de muitas trocas assim. De novo: precisando de alguma ajuda para se estabelecer no Oeste, eles se contentaram com Shelvin Mack.

Só fica uma dúvida: será que não era a hora de investir mais? Tudo bem evitar Teague se o Atlanta estivesse pedindo, realmente, uma escolha de primeira rodada mais um jogador jovem (de repente Alec Burks…). Aí não adianta se precipitar e pagar muito caro.  Mais:n um elenco jovem, Favors e Hayward já ganharam um bom aumento, e se aproxima a hora de que Rudy Gobert vai receber uma inevitável proposta de salário máximo. Num mercado pequeno, que não atraiu tanta gente assim nos últimos anos, você tem de ser cauteloso e guardar uma grana para tentar manter suas revelações.  O outro lado é que, num ano mais fraco do Oeste, há uma clara oportunidade subir na tabela. Chegar aos playoffs, mesmo com uma queda na primeira rodada, já rende um bom troco em bilheteria e TV. O desenvolvimento interno de Hood, Lyles, Raul e outros será o suficiente para compensar a inércia? É nisso que Snyder aposta, na certa.

De todo modo, em julho, chega a hora a de usar o largo espaço salarial em busca de um ou outro agente livre qualificado e mais experiente, dependendo especialmente da saúde de Dante Exum e Burks, caras talentosos, mas que agora são cercados por algumas questões físicas.

Olho nele: Rodney Hood.

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

Quanto mais alta sua escolha no Draft, a matemática histórica nos diz que você tem maior probabilidade de conseguir um jogador relevante. É uma loteria, então? Do ponto de vista do Utah Jazz, talvez não. Para um clube que selecionou Rudy Gobert em 27º e Hood em 23º, talvez essa lógica não cole. O pivô francês já tem uma baita moral na liga. Hood, mês a mês, vai chegando lá.

Que Hood tenha deslizado tanto assim no recrutamento de 2015 é difícil de entender. Talvez os olheiros estivessem muito mais atentos em Jabari Parker, ignorando seu arremesso suave de canhota, com uma boa elevação devido a sua estatura, e visão de quadra. Ele era um assessor em Duke, mas vai mostrando rapidamente em Salt Lake que tem muito mais recursos, funcionando até mesmo como arma na chamada de pick-and-rolls. Em 25 partidas desde a virada do ano, vem com médias de 18,3 pontos, 2,8 assistências (contra 1,7 turnover e 43,8% nos arremessos de fora e 88,6% nos lances livres. Numa divisão por shooting guards (algo que, na NBA de hoje, não diz muito), ofensivamente, o ala aparece como o sétimo no ranking de Real Plus-Minus do ESPN.com, atrás de Harden, Butler, DeRozan, Middleton, Klay e Redick, acima de Ginóbili, McCollum e J.R. Nada mal.

A defesa, porém, é outra história. Ele é facilmente batido em sua movimentação lateral e, em geral, precisa ser muito mais combativo. Ainda assim, já vale como um fator positivo para o time nessa reconstrução.

raul-lopez-trading-card-utahUm card do passado: Raúl López. Vocês se lembram? Raulzinho já teve, há 14 anos, um xará vindo do basquete espanhol que era aguardado por ansiedade por sua fanática torcida. Com algumas diferenças, claro: López tinha a missão de substituir ninguém menos que John Stockton e chegava a Salt Lake City mais bem cotado, como o 24º do Draft de 2001, quatro posições acima de outro jovem armador europeu, Tony Parker.

Acontece que o jogador que estreou pela franquia em 2003 não era o mesmo de dois ano antes, e não é que tivesse evoluído. Foi o contrário. No meio do caminho, a serviço pelo Real Madrid em 2001, o catalão sofreu uma grave lesão no joelho direito (ligamento cruzado anterior). Quando assinou com o Utah em 2002, teve a mesmíssima lesão em um amistoso pela seleção espanhola. Sem confiança, com menos velocidade e arranque (algo fundamental para um jogador de 1,82m (se tanto) fazendo a transição para os Estados Unidos, não teve sucesso.

Em sua temporada de novato, conseguiu disputar todas as 82 partidas, com médias de 7,0 pontos e 3,7 assistências em 19,7 minutos, acertando apenas 29,4% dos arremessos de três e 43,1% no geral. Em 2004-05, voltou a sentir o joelho, e foi limitado a 31 partidas. Na hora de renovar seu contrato, o Utah preferiu trocá-lo com o Memphis Grizzlies, que já contava com Pau Gasol. López, porém, nunca mais jogaria pela NBA, sem repetir a parceria com seu compatriota e velho amigo das divisões de base. Chegou a ganhar a prata olímpica em Pequim 2008, foi campeão europeu pela seleção, mas num nível bem abaixo do que se esperava. Hoje, aos 35, ainda joga pelo Bilbao, com 17 minutos em média.


Raulzinho é a mais nova adição ao núcleo jovem do Utah Jazz. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho esperou por dois anos, mas chegou a hora de botar no papel. Nesta quinta-feira, o armador assinou por três anos com o Utah Jazz para ser o sétimo brasileiro na NBA de hoje — e o 14o. na história. Existe uma grande diferença entre ser um jogador draftado pela liga e com um  contrato. “Achei que era um sonho sendo realizado quando fui selecionado, mas agora vejo o que é o sonho de verdade”, disse o armador já diante dos repórteres de Salt Lake City, no último dia da liga de verão local.

Com o acordo oficializado, então é a hora de tentar entender o que cerca a vida de “Raul Neto” (HA-OOL, nos ensinam) em seu novo clube e o quanto esta movimentação pode interferir em seu desenvolvimento.

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De cara, o que temos de informação: parece uma declaração óbvia para um clube que foi seguiu em seu encalço no Draft de 2013, mas a diretoria do Utah Jazz realmente adora seu prospecto de 23 anos. Durante a cobertura do All-Star Game em Nova York, tive a chance de conversar com o repórter Jody Genessy, setorista do clube pelo Desert News. Ele disse que o time não via a hora de trabalhar diretamente com o jovem atleta. A chance chegou, e as atividades já vão começar nesta semana, em Las Vegas. Segundo Genessy, porém, ele não vai jogar a liga de verão local, mas, sim, treinar com um grupo de veteranos do time.

(Um parêntese aqui: fico no aguardo pela reação de Rubén Magnano… O técnico, que apostou lá atrás num ainda adolescente Raulzinho,  esperava um papel de protagonismo para o atleta nos Jogos Pan-Americanos, e seria realmente interessante acompanhá-lo nessa empreitada. Ficou a ver navios nessa. A expectativa da CBB era a de que o armador se reapresentasse até esta sexta-feira para embarcar rumo a Toronto. Não rolou, por motivos óbvios. A dúvida: ele ainda vai jogar o Pan, mesmo perdendo tanto tempo de preparação? O torneio começa dia 20. Suponho que já esteja fora, e aí precisaria ver quem seria chamado para substitui-lo. Provavelmente alguém a serviço na Universíade, ficando a eventual vaga entre Gui Deodato, Deryk, Gegê, ou Henrique Coelho.  Vai rolar alguma mágoa? De todo modo, a seleção já está bem servida com Rafael Luz, Ricardo Fischer, Larry Taylor e Vitor Benite. Os dois mais jovens têm uma bela oportunidade para mostrar serviço agora.)

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Voltando ao Utah Jazz, Raulzinho entra em um clube com elenco jovem e cheio de potencial para fazer barulho na próxima temporada. Se a campanha depois do All-Star Game serve de algum indício, o time vai brigar por uma vaga pelos playoffs em 2016, já que venceu 19 de suas últimas 29 partidas, com um aproveitamento de 65,5%. Sétimo colocado neste ano, o Dallas Mavericks teve 61,0% de rendimento, enquanto o New Orleans Pelicans, oitavo, ficou com 54,9%.

Capitaneada pelos braços infinitos de Rudy Gobert, a equipe passou a ter a defesa mais dura de toda a liga, e de longe. Há quem acredite que esse tipo de progresso em meio a um campeonato não se traduz automaticamente para o seguinte, uma vez que os adversários vão se debruçar em estudos e já desenhar os ajustes necessários. Ação e reação.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Ainda assim, o núcleo do Utah também naturalmente vai evoluir, como se espera com atletas tão jovens. Gordon Hayward (o principal criador do time, versátil e confiante), Derrick Favors (em progressão gradual e segura, rumo ao All-Star, se é que alguém repara ou liga) e, principalmente, Gobert cresceram uma barbaridade durante a campanha e ainda têm mais o que render. Esses são os principais nomes, hoje, mas o elenco que o gerente geral Dennis Lindsey reuniu oferece diversas alternativas para o técnico Quin Snyder. Os alas Alec Burks e Rodney Hood já tiveram seus lampejos. O canadense Trey Lyles, muito bem cotado desde o colegial, acabou de chegar para reforçar o jogo interior.

E ainda tem o prodígio australiano Dante Exum, aparentemente efetivado como armador titular, tendo apenas 19 anos. Para uma escolha número cinco de Draft, é natural que a cobrança seja em outro patamar. Nesse sentido, a primeira campanha entre os profissionais foi tímida, para dizer o mínimo. Os críticos mais apressados, no entanto, ignoram o contexto. Se Bruno Caboclo teria dificuldades em deixar a LDB e a reserva do Pinheiros para se provar nos Estados Unidos, o que dizer de um carinha que jogava com adolescentes na Austrália? Que Exum tenha começado 41 jogos como titular e segurado as pontas na defesa, com sua agilidade e envergadura, já é um feito e tanto.

Basta observá-lo em quadra por um ou dos minutos para salivar com seu potencial — por mais talentosos que Hayward, Favors e Gobert sejam, esse garoto pode se tornar algo maior, pasme. Não é garantia, mas ainda há muito o que sair dali, e Snyder tem reputação excelente no trabalho de fundamentos com os atletas. Em sua primeira partida nesta temporada de verão, encarando defensores encardidos como Marcus Smart e Terry Rozier, do Boston, Exum já botou para quebrar, até sair de quadra com uma torção no tornozelo. Estamos falando do dono da posição, mesmo.

Para desgosto de Trey Burke, que tinha plena fé de que chegaria à NBA para ser um armador de ponta. O baixinho, que custou duas escolhas de Draft ao Utah também em 2013, ainda não conseguiu encontrar uma zona de conforto em meio aos cachorrões. Seus dribles de hesitação não são o suficiente para conseguir a separação mínima para seus arremessos. Em duas temporadas, ele só acertou 37,4% de seus arremessos de quadra, 32,4% na linha de três, e não é que tenha compensado tantos erros com um bom número de lances livres (só cobra 1,8 por partida) ou controle de jogo apurado (mira muito mais a cesta que seus companheiros). Sair do banco, como pontuador, talvez seja o seu destino, ainda que precise elevar sua eficiência para cumprir bem esse papel.

Ninguém da franquia vai falar abertamente a respeito, até para não avariar ainda mais sua cotação, mas não é segredo que o clube tenha se decepcionado com Burke. Os scouts mais otimistas esperavam que estivesse saindo um líder da Universidade de Michigan, um jogador com personalidade e recursos técnicos para compensar o que fica devendo em físico. Não aconteceu até o momento. Ainda que só tenha 22 anos, ele não evoluiu nada entre a primeira campanha e a segunda. Dá para dizer que tenha regredido, inclusive. Se for para investir tanto em alguém, a bola da vez vem da Austrália.

Como fica Raulzinho nessa, então? Em tese, ele foi contratado para ser o terceiro armador da equipe. Foi o que a diretoria lhe passou, ao sondar a possibilidade de ele deixar o basquete espanhol para cruzar o Atlântico. Na NBA, porém, as coisas avançam com uma velocidade impressionante, e talvez baste uma proposta razoável por Burke para que o brasileiro seja promovido.

Se for para falar em hipóteses, no entanto, talvez o mais simples seja o próprio jogador desbancar a concorrência no dia a dia de treinos. Admiradores dentro do clube ele já tem. Agora resta confirmar essas sensações na prática. O que o atleta entrega desde já é a visão de quadra fora do comum, a predisposição ao passe, característica que cai bem a qualquer grupo, mas principalmente no tipo de ataque que Snyder projeta. É um perfil que já difere. “Só quero aprender a cada dia. Quero melhorar meu jogo. Ainda não falei com o técnico, mas vai ser a escolha dele os minutos que jogarei. Estou aqui para fazer meu trabalho”, afirmou o armador.

Mesmo que, num primeiro momento, encontre dificuldades, acredito que, a longo prazo, a decisão de encarar a nata do esporte nos Estados Unidos é a mais indicada. Por quê? Raul sempre foi um armador muito arrojado. A experiência na Espanha foi muito valiosa para que aprenda a cadenciar as coisas, a maneirar em seu ritmo de jogo, mas por vezes pode ser um tanto amarrada. É com um jogo agressivo que ele pode render mais. A despeito da capacidade atlética bem mais elevada que ele vai encarar daqui para a frente, as dimensões mais espaçadas e a própria velocidade do jogo tendem a favorecê-lo, a deixá-lo mais solto. E fazer coisas do tipo:

Em Utah, o armador vai ter de melhorar de modo significativo seu arremesso de três pontos para ter mais chances (em sua carreira pela Liga ACB, converteu míseros 22,9% em suas tentativas). Na defesa, o trabalho de pernas no deslocamento lateral será exigido como nunca viu antes. Enfim, há muito o que aprimorar, para além de seu talento natural. Vamos esperar para ver. Por enquanto, Raulzinho vai curtindo seu sonho. Para valer.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


All-Star só evidencia a enorme engrenagem do marketing em torno da NBA
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Giancarlo Giampietro

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Peça promocional no corredor de entrada do MSG

Todo mundo sabe que, dentre tantas as coisas que a NBA conduz com maestria, o marketing aparece no topo da lista. Até o intelectual mais introvertido ou esnobe, que tem ojeriza ao esporte, seja qual for a modalidade, deve ter tomado nota a respeito disso.

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>> O VinteUm está no All-Star Game

Em Nova York, a liga obviamente botou as manguinhas de fora para promover o espetáculo do All-Star Weekend, seu final de semana das estrelas. Afinal, as atividades oficiais para o evento já começaram nesta quinta-feira. Sem contar que, além de italianos, chineses, gregos, egípcios, paquistaneses, coreanos, porto-riquenhos e, sim, brasileiros, muito brasileiros, a metrópole mais legal do mundo dá abrigo também a Adam Silver e sua turma. Devidamente acomodados na avenida Madison.

(Parêntese: se a nossa Avenida Brasil fez estrondoso sucesso no Plim-Plim, chegou a hora de uma série americana dar conta de Madison Avenue. É um baita nome, convenhamos, rivalizando com Melrose Place. De qualquer forma, pensando bem, talvez nenhuma série vai fazer mais justiça a essa vizinhança do que Mad Men nos ofereceu nos últimos anos. Fim de digressão.)

O próprio fato de termos um Fim de Semana das Estrelas, em vez de um isolado Jogo das Estrelas, é uma das tantas evidências desse tino comercial arrojado e bem sacado. Para que se limitar a duas, três horas de um domingo, se a quinta, a sexta e o sábado estão por aí para fazer companhia?

Na sexta, ocupa-se do antigo jogo dos novatos, hoje jogo das Estrelas Ascendentes, colocando mais gente no pedaço, com o atrativo de separar estrangeiros e americanos – algo que muitos torcedores e jornalistas já sonharam e especularam, mas que, por ora, não dá para fazer na competição principal. Desnível absurdo, mesmo que Tim Duncan e Kyrie Irving fossem para o lado dos gringos. Kevin Durant também poderia dar uma força, se tivesse em sua ficha sua verdadeira origem marciana. A sexta, aliás, será dividida em duas frentes, com a rapaziada mais nova em Brooklyn e as celebridades no Madison Square Garden.

Essa é a novidade, aliás. A liga ocupando dois ginásios sensacionais para fazer sua festa. A casa do Brooklyn também verá as competições de enterradas e arremessos, enquanto o Garden recebe O Jogo, mesmo. Mas não fica nisso: a Long Island University e o Baruch College também cedem quadras para treino. Hotéis são ocupados para eventos e propósitos administrativos. E por aí vai.

Se você for circular pelas ruas de Manhattan e Brooklyn – desde que com muito cuidado, pois é gelo para tudo que é lado –, não terá como ignorar o evento. São cartazes e telões por toda a parte, sempre dando um jeito de incluir Michael Jordan, que não faz mal nenhum.

MJ nasceu no Brooklyn, como nos relembra o cartaz do outro lado da Flatbush avenue, de frente para a entrada principal do Barclays Center. Sua Alteza, porém, cresceu na Carolina do Norte e se formou como jogador por lá, antes de se mudar para Chicago e curtir a vida

MJ nasceu no Brooklyn, como nos relembra o cartaz do outro lado da Flatbush avenue, de frente para a entrada principal do Barclays Center. Sua Alteza, porém, cresceu na Carolina do Norte e se formou como jogador por lá, antes de se mudar para Chicago e curtir a vida

Mas aqui chamo a atenção para algo mais profundo que as piadinhas de sempre: a NBA não está sozinha nessa. Diversas marcas também pegam carona nessa e transformam os veículos de marketing da liga em um grande comboio. E não são necessariamente apenas os parceiros oficiais, gente. Todo mundo quer estar perto disso. Não só por ser a maneira de se envolver como o produto geral que é a liga, mas também para valorizar suas próprias marcas, mesmo que elas não possam comparecer ao evento, seja por corte devido a lesões (é, Blake Griffin e estimado Monocelha, já estão fazendo falta…), seja por exclusão da lista, mesmo (Joe Johnson até hoje circula pelos ônibus, todo deslocado).

Nesse ponto que é bom relembrar que, no discurso dos dirigentes da NBA no momento do anúncio de parceria com a LNB, marketing e setor comercial foram as prioridades. Por outro lado, na hora de avaliar a liga brasileira, é sempre bom tomar cuidado ao fazer paralelos. Nos Estados Unidos, temos toda uma cadeia produtiva construída. É uma engrenagem enorme em movimento. No Brasil, nem mesmo o futebol faz as coisas dessa forma.

Você pode imaginar que, em meio a toda essa divulgação, maior batalha envolve as gigantes de material esportivo. A adidas acompanha o campeonato em tempo integral. A Nike se vê obrigada a comer pelas beiradas, investindo nos jogadores. Mas vocês também veem diariamente como as duas operam, né? Nenhuma vai se dar por vencida facilmente, proporcionando sempre uma boa briga. O swoosh, inclusive, ocupa uma loja em espaço nobre ao lado da entrada principal do Garden que é de fazer cair o queixo. City of Hoops, se chama. A Penn Station e o Atlantic Terminal também estão envelopados pela companhia. Em briga de gente grande, melhor não mexer.

Os jogadores são arrastados para o meio dessa saudável confusão. Lucro na certa. E não estão limitados a pôsteres. Também tem ação ao vivo para eles. Então que tal uma sessão de autógrafos de cards com Trey Burke numa loja gigante no centro de Manhattan, que já está toda tomada por produtos do All-Star Game? E uma aparição de Mason Plumlee e o do Zach LaVine na loja do Barclays Center? E o Klay Thompson? E um bate-bola entre Tobias Harris e Giannis Antetokounmpo em outro canto da cidade?

Sim, os personagens periféricos ganham espaço, divulgados como gente grande – enquanto LeBron James consegue se promover (e fazer boas ações) por conta própria, renovando centros esportivos para a criançada. A comercialização pode ser agressiva demais, mas, na verdade, ganham todos nessa, incluindo os torcedores, que têm a chance de entrar em contato com os jogadores, mesmo que não tenham os valiosos ingressos. Torcedores, mas pode chamar de consumidores.


Utah Jazz: mais uma chance para uma mente brilhante
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Giancarlo Giampietro

 30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Saga de Snyder o leva a Utah. Fim de peregrinação

Saga de Snyder o leva a Utah. Fim de peregrinação

Quando o Portland Trail Blazers foi enfrentar o Utah Jazz lá nos confins das Montanhas Rochosas na abertura da pré-temporada, enquanto o jogo rolava, o técnico Terrt Stotts teve uma sensação estranha, à medida que ele e seus assistentes analisavam mais e mais o adversário. Seria o Utah mesmo? Ele diria aos repórteres locais, depois, que era a primeira vez que via o time sem nenhum vestígio dos tempos de Jerry Sloan.

Não é fácil virar as costas para algo que deu certo por tanto tempo. Sob o comando de Sloan por incríveis 23 anos, numa das gestões mais duradouras que a liga já viu, a equipe chegou a duas finais da NBA e a mais quatro finais de conferência e só ficou fora dos playoffs em três temporadas, de 2004 a 2006, sendo que apenas em 2005 eles tiveram um recorde abaixo de 50% de aproveitamento.

Sabe aquela coisa de desenvolvimento sustentável? O Utah Jazz representou isso no basquete, antes de Gregg Popovich e Tim Duncan levarem o San Antonio Spurs a outro patamar. Mas chega uma hora que isso acaba, gente. A família Miller e o cartola Kevin O’Conner bem que tentaram prorrogar esse período com a promoção de Tyrone Corbin. Não deu muito certo.

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Corbin, é verdade, pegou um time em reformulação depois da saída de Deron Williams e Carlos Boozer – e, depois, de Paul Millsap e Al Jefferson. A diretoria tem um dedo nisso, claro. Mas em nenhum momento ele conseguiu passar uma identidade ao seu jovem time em quadra. A defesa era uma calamidade. Chegara a hora de seguir em outra direção. E Quin Snyder foi o escolhido para conduzir esse processo.

Quando você faz uma breve pesquisa sobre Snyder, a pergunta que fica é a seguinte: por que levou tanto tempo para ele chegar aqui?

Porque vejam só o que o Trevor Booker tem a dizer: “O Coach Q é um gênio do basquete”. E quanto ao Steve Novak? “Ofensivamente, acho que é área em que ele tem uma grande mente para o jogo. Você vê nas sessões de filme e nas rodas, que ele tem um monte de ideias no ataque, e acho que a gente ainda está na ponta do iceberg”, diz. E o Enes Kanter fala também de sua facilidade no relacionamento: “Ele é como se fosse um irmão mais velho. Não tenta se impor como o técnico e que saiba tudo. Ele pergunta para os jogadores o que deveríamos fazer em algumas ocasiões. Ele se comunica com os jogadores, e isso significa muito para mim. Quando você está sob estresse, isso te afeta em quadra. Mas quando falamos com o técnico Quin, ele te dá confiança e ele se comunica tão bem que você apenas vai jogar, quer jogar jogar por ele. Faz muita diferença. Vai ser um ano interessante”.

É o suficiente?

Espere só para ver o depoimento dos rapazes de Atlanta, como os quais ele trabalhou na temporada passada como assistente de Mike Budenholzer. Antes, porém, vamos tentar contar a história, a saga do novo treinador do Utah Jazz  e entender por que demorou tanto – ou não.

Quin Snyder levou Mercer Island a um título estadual em Washington em 1985

Quin Snyder levou Mercer Island a um título estadual em Washington em 1985

Quincy Snyder era uma estrela no estado de Washington nos tempos de colegial. Qualquer pessoa minimamente interessada por basquete o reconhecia pelo nome. O primeiro, no caso. Ele, por exemplo, seria o primeiro jogador da região a ser eleito como McDonald’s All American, inserido na elite do basquete colegial. Optou por jogar com o Coach K em Duke, de 1985 a 89. Nesses quatro anos, jogou o Final Four em três ocasiões, sendo titular a partir da temporada de sophomore, a segunda. Virou também o capitão do time. O curioso é que talvez ele tivesse ainda mais sucesso fora das quadras, como estudante. Quando se formou em 89, tinha diplomas de filosofia e ciência política. E não parou por aí: dez anos mais tarde, completou um doutorado na escola de direito de Duke e também um MBA na escola de negócios.

Nesse meio tempo, enquanto não se cansava de estudar, encerrou sua breve carreira como jogador e entrou no mundo dos técnicos, bastante jovem. Em 1992-93, chegou a fazer bico como assistente do Los Angeles Clippers de Larry Brown. O time chegou aos playoffs e fez dura série com o Houston Rockets, caindo na primeira rodada. Quando enfim largou a sala de aula, foi efetivado como assistente de Krzyzewski em 1995. Em 1997, já era o técnico principal associado. Em 1999, era a hora de montar o seu próprio programa. Aceitou, então, uma oferta da Universidade de Missouri, não importando a responsabilidade de substituir Norm Stewart, um treinador que havia ocupado o cargo por 32 anos. Trinta e dois! Coincidentemente, a mesma idade de Snyder.

Não teve pressão que atrapalhasse sua ascensão impetuosa. Seu time se classificou por quatro anos seguidos aos mata-matas da NCAAA, se posicionando entre os oito melhores (o chamado “Elite Eight”) em 2002, a melhor marca da história. Obviamente, foi incensado pelos locais, ainda mais pelo fato de a equipe conseguir fazer frente a Kansas, seu arquirrival muito mais laureado. Tão rápido ele subiu, contudo, tão vertiginosa foi a queda. Investigações da sempre hipócrita entidade que regular o esporte universitário americano detectaram uma série de irregularidades no trabalho conduzido com os Tigers. A situação se transformou num escândalo em Missouri, embora, quando reveladas, as infrações se tornassem pálidas se comparadas com o que já se viu por lá. Coisas como atender o telefone em uma situação inapropriada e pagar uma refeição além da conta para prospectos. Chocante, né?

Sob a tutela do Coach K. Raro pupilo que prosperou, ainda que tenha passado por dificuldades

Sob a tutela do Coach K. Raro pupilo que prosperou, ainda que tenha passado por dificuldades

O furacão de (falta de) relações públicas, porém, derrubou Snyder em 2006. A turbulência afetou os resultados em quadra, e o time mais perdeu do que venceu em suas últimas duas temporadas. O treinador, com 128 vitórias e 96 derrotas, acabou demitido de forma humilhante: o diretor do departamento atlético, Mike Alden, nem mesmo se prontificou a dar a notícia pessoalmente. Passou o recado por meio de um dos comentaristas de TV da universidade. “Essa experiência o assustou emocionalmente. Ele foi culpado por muitas coisas sobre as quais ele não tinha controle algum, e isso o levou a questionar muitas cosias. Houve tempos em que ele considerou se afastar do jogo”, disse Bob Rathbun, jornalista que acompanhou seu trabalho por lá.

O San Antonio Spurs, porém, não permitiu que isso acontecesse. Ignorando a imagem ‘manchada’, ofereceu a Snyder o cargo de técnico do Austin Toros, sua filial na D-League. Um emprego que, convenhamos, não é dos mais charmosos. Mas propiciou que ele fizesse bons contatos e se afastasse dos holofotes e trabalhasse com o que mais gosta: o desenvolvimento de jovens talentos. E fez: durante os três anos que ficou na capital texana, foi o que mais levou jogadores à NBA e, ao mesmo tempo, mais venceu, tendo sido vice-campeão na primeira temporada.

Em 2010, foi a vez de ele migrar e retornar à liga principal, como assistente de Doug Collins no Philadelphia 76ers. No ano seguinte, foi escolhido por Mike Brown, ex-assistente de Gregg Popovich, para compor sua comissão no Lakers. Lá, conheceu Ettore Messina, com quem foi para a Rússia em 2012, chegando ao CSKA Moscou. Em sua peregrinação, voltou para os Estados Unidos em 2013, com primeira escala em Atlanta. Lá, voltou a causar impacto.

Snyder e o jovem Dennis Schroeder em liga de verão por Atlanta

Snyder e o jovem Dennis Schroeder em liga de verão por Atlanta

“Ele foi o primeiro técnico que realmente trabalhou comigo em meu jogo de pés, meu arremesso, que dedicou tempo comigo”, afirma o ala DeMarre Carroll, que, não por coincidência, evoluiu consideravelmente desde que chegou ao Hawks. “Isso é crédito para ele e mostra o quanto ele se importa com a gente como pessoas e com nossas carreiras. Senti que estava partindo para uma nova direção, me senti como um novato até”.

“Ele realmente tem uma mente interessante para o basquete. Foi muito legal trabalhar com ele”, diz Kyle Korver. “Ele me ensinou muitas coisas. Depois que você passa um certo tempo na liga, se tende a reagir meio que automaticamente. O Quin trouxe um novo modo de pensar o basquete para mim. Acho que melhorei no ano passado, e muito se deve a ele. Muito, mesmo. Ele te faz pensar nas possibilidades em quadra e pensar de modo geral. É uma mente realmente ótima para o basquete.”

“Aprendi muito com o Q durante o campeonato, ele é muito inteligente”, diz Paul Millsap. “Quando nos sentamos e conversamos, ele te faz pensar. Muito das coisas que ele falava eu só iria entender no final do dia, depois de praticar muito. Ele é esperto desse jeito.”

Agora fixo em Utah, tem muito o que fazer com jovem núcleo

Agora fixo em Utah, tem muito o que fazer com jovem núcleo

Foi esse profissional que o Utah Jazz buscou para ver se o seu plano de renovação decolava de vez. Snyder vai ter muito o que conversar e ensinar a Trey Burke, Alec Burks, Gordon Hayward, Enes Kanter, Derrick Favors, Rudy Gobert, Rodney Hood e, principalmente, Dante Exum, o mais promissor de todos.

Para quem já passou por tanta coisa, não assusta muito, não? “Enfrentei alguns desafios na minha vida, e eles me ajudaram. Passei por um pouco de adversidade, e ela me tornou um treinador melhor, e uma pessoa melhor”, disse. Agora em seu sexto emprego em seis anos, ele espera enfim se assentar num trabalho de longo prazo.

Manteve alguns integrantes do estafe técnico anterior, trouxe outros de sua confiança e montou uma comissão bastante jovem, com média de idade de 41 anos. Apesar da pouca idade, o treinador principal indica um ponto em comum: “Eles são professores. Numa situação como a nossa, a capacidade de ensinar foi tão valorizada como a experiência. Quando você está treinando um time que vai passar por alguns percalços de crescimento, ter uma comissão que possa sustentar a paixão e o entusiasmo pelo jogo é realmente importante. Para que os jogadores jovens não desanimarem, seguirem competindo e melhorando. Esse é o principal”, disse.

Agora, nesse processo, pode muito bem acontecer o reverso. Dá para todo mundo aprender alguma coisa. “Há jogadores que são muito mais inteligentes que os treinadores. Você pode aprender com eles só de assisti-los. Estava vendo o Kobe um dia, e ele me ensinava sem saber. Estava apenas vendo e ouvindo”, afirmou Snyder, que não pára de estudar, mesmo.

Hayward, em franca evolução

Hayward, em franca evolução

O time: bem, já adiantamos um pouco as coisas aqui. É uma equipe bastante jovem, que não vai conseguir brigar para chegar aos playoffs. A missão é realmente desenvolver os garotos, e os primeiros sinais dados por Gordon Hayward e Derrick Favors já são muito positivos. E o desenvolvimento realmente precisa ser acelerado: com altos salários para esses dois e Alec Burks, o Utah aceitou que essa é a base deles para o futuro. Na NBA, você nunca sabe quando vai pintar uma troca, mas, por ora, essa é o núcleo, mesmo.

Em quadra, Snyder pede um estilo de jogo muito mais veloz do que o das últimas campanhas com Corbin, acompanhando a tendência da liga. Podem esperar muitos arremessos de longa distância, tal como era pedido em Atlanta. Trevor Booker, por exemplo, já arriscou 21 chutes de longa distância nas primeiras 18 partidas. Em toda a sua carreira, em quatro temporadas, ele havia tentado apenas dez. De qualquer forma, o treinador quer por mais ênfase, mesmo, na orientação defensiva. O que era uma carência, e tanto.

A pedida: curva de crescimento acentuada e, inevitavelmente, mais uma boa escolha de Draft.

Enes Kanter também quer um contrato

Enes Kanter também quer um contrato

Olho nele: Enes Kanter. Gente, o pivô turco ainda não passou uma noção exata sobre que tipo de jogador pode ser na liga. Mas fiquem certos de que ele também vai querer sua parte em dinheiro. Ainda muito jovem, com 22 anos, Kanter confia que vá receber uma boa proposta ao final da temporada, quando vira agente livre restrito. Resta saber se vai ser do Utah, que já tem muita grana investida em três atletas. É um promissor reboteiro e pontuador, e vai expandindo seu raio de ação sem perder eficiência. Muito lento em sua movimentação lateral, a questão que fica é sobre o quanto ele vai progredir como defensor individual ou coletivamente.

Abre o jogo: “O técnico realmente partiu para cima de nós no intervalo. Sinceramente, estávamos todos chocados ao ver o quão agitado ele ficou”, Trey Burke, sobre um momento de ira de Snyder durante duelo com o Oklahoma City Thunder. A equipe chegou a ficar 17 pontos atrás de um adversário totalmente arrebentado. Acabaram vencendo pelos mesmos 17: 98 a 81. Quer dizer: mente brilhante, e tal, mas que também sabe gritar.

Você não perguntou, mas… Quincy Snyder é um caso raro de treinador que tenha trabalhado com o Coach K em Duke e prosperado na sequência de sua carreira. É algo de fato intrigante, principalmente pelo sucesso que os caras do outro lado – os Tar Heels. A irmandade da Universidade de North Carolina se mostra muito mais influente. Da árvore genealógica de Dean Smith, saíram nomes como Larry Brown, George Karl, Doug Moe, Mitch Kupchak, entre outros. Michael Jordan não conta.

piculin-ortiz-utah-jazz-cardUm card do passado: José “Piculín” Ortiz. Quando Jerry Sloan assumiu o Utah Jazz no decorrer da temporada 1988-89, estava lá o par John Stockton e Karl Malone, a montanha humana Mark Eaton e os alas Darrell Griffith e Thurl Bailey como principais figuras. Havia também esse pivô porto-riquenho formado pela Universidade de Oregon State, que se tornaria uma lenda do basquete na ilha caribenha, mas foi pouquíssimo aproveitado em apenas dois anos de NBA. Piculín disputou 51 partidas naquela campanha, sendo titular em 15, com médias de 2,8 pontos, 1,1 rebote em apenas 6,4 minutos. Já tinha 25 anos. Em 1989-90, ele faria apenas 13 partidas, com ainda menos minutos. Foi dispensado em fevereiro de 1990, seguindo carreira na Espanha. Passou por Real Madrid, Barcelona, jogou na Grécia e retornou a Porto Rico em 1997. Ele se aposentou apenas em 2006, aos 43.


Steven Adams, o novato mais odiado da NBA
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Giancarlo Giampietro

Steven Adams, cara, só a cara de bom moço

Steven Adams, cara, só a cara de bom moço

A atual classe de novatos da NBA nunca chegou a empolgar muito, nem mesmo antes do Draft. Gerentes gerais e scouts eram bastante pessimistas na hora de avaliar o talento do grupo de jogadores disponíveis. Bem, neste caso, as previsões estavam certas. Não há muito com o que se animar, não.

Apenas três jogadores têm média superior a 10 pontos por partida – Michael Carter-Williams (17,5), Trey Burke (13,5) e Victor Oladipo (13,4) – curiosamente, os únicos três candidatos que podem aspirar ao prêmio de calouro do ano, e não (somente) por encabeçarem a tabela de cestinhas de sua geração.

Agora, não quer dizer que os momentos relevantes da trupe mais jovem está limitado a essas três revelações citadas acima. Aqui e ali, aparecem alguns flashes de potencial. O Milwaukee Bucks que o diga com sua aberração atlética helênica que tem nome de Giannis Antetokounmpo (dados sobre o garoto estão sendo coletados,e  jajá ele ganha sua própria manchete, podem esperar).

De todos eles, aquele que mais vai fazendo barulho pelas coisas erradas – ou certas, depende do ponto de vista – é o Steven Adams. O pivô do Oklahoma City Thunder é uma das surpresas da temporada, tendo conseguido espaço na rotação de um time candidato ao título, quando muitos o consideravam meramente um prospecto a longo prazo.

Está preparado para embarcar nessa viagem pelo universo deste neozelandês atrevido?

Vamos juntos, o Vinte Um infoooooooooooorma pra vocêeeee, na voz do Nilson César:

– Vocês sabiam que Steven Funaki Adams é o filho mais novo de um batalhão de 18 irmãos!? Dá um elenco inteiro de NBA e três deles ainda precisariam ser lamentavelmente dispensados ao final do training camp.

– Imaginava que, dentre esses 18 irmãos, aos 20 anos, daquele tamanho todo, ele é o caçula?

– Aliás, se estamos falando de tamanho, que tal a altura dessa galera? Os homens têm média de 2,06 m, enquanto a das mulheres dá 1,83 m. Apesar da estatura, apenas outro dos irmãos Adams seguiu carreira no basquete, Sid Adams Jr., que joga na minúscula liga neozelandesa.

Valerie, a Adams mais laureada por enquanto, e de longe

Valerie, a Adams mais laureada por enquanto, e de longe

– Entre as irmãs, consta uma tal de Valerie Adams. É, a Valerie Adams atual bicampeã olímpica no lançamento de peso. Sim, a mesma que também sustenta um tetracampeonato mundial na modalidade, recordista em distância atingida (21,24 m) e em sequência de títulos na competição (desde Osaka 2007, sendo que já havia ficado com a prata em Helsinque 2005). Além do mais, em 2009, ela esteve aqui pertinho de nós, competindo no Grande Prêmio do Rio. Obviamente se despediu dos cariocas novamente como a vencedora.

– O pai dessa turma toda era o Sid Adams, um velho marujo da Marinha Real britânica. Vejam só.

– Sid navegou por aí e teve cinco diferentes mulheres. A mãe de Steven é de Tonga.

Isto é Tonga, no meio do Pacífico. Vamos todos?

Isto é Tonga, no meio do Pacífico. Vamos todos?

– Sid morreu em 2006, quando Steven ainda era um adolescente de 13 anos. O pivô afirma que estava desandando legal sem tê-lo ao redor, como referência, até que um dos manos mais velhos, Warren, assumiu os controles das coisas. Warren o levou da pequena cidade de Rotorua para a capital Wellington. Foi lá, numa academia de basquete, que ele começou a jogar para valer. Até para extravasar as emoções e energias.

– O coordenador da academia conseguiu que Steven se matriculasse numa escola privada local, a Scots College. Que hoje o relaciona como um de seus alunos de honra, claro, ao lado do All Black Victor Vito, de um governador da Irlanda do Norte, de um satirista e de um autor. Orgulho kiwi.

– Steven até começou a jogar pelo Wellington Saints da liga local, a NBL. Em 2011, foi eleito o novato do ano, mas o campeonato ficou muito pequeno para suas qualidades atléticas. Aí o rapaz pegou as trouxas e cruzou o pacífico em direção aos Estados Unidos. Fez um estágio na escola preparatória de Notre Dame, bastante tradicional no trato com basqueteiros – alô, Michael Beasley, Ryan Gomes e Shawn James. Não conhece o Shawn James? Pegue qualquer partida do Maccabi Tel Aviv no Sports+ para ver. Vale a pena.

– Estudando e treinando, Steven conseguiu a nota necessária para se inscrever na universidade de Pittsburgh. Os Panthers até que mandaram alguns jogadores decentes para a NBA nos últimos anos, como os ursões DeJuan Blair e Aaron Gray, o esforçado Sam Young e o delicado Mark Blount. Nenhum deles, contudo, foi uma escolha de primeira rodada – ainda que Blair só tenha caído no colo de Greg Popovich devido a exames de última hora que apontavam problemas estruturais em seus joelhos. O último jogador a ter deixado o time de Pitt e entrado na ronda inicial do recrutamento de novatos da liga foi o armador Vonteego Cummings (26º em 1999), um cara que não agradou nada em uma fase tenebrosa do Golden State Warriors no início da década passada.

– Nada disso importou. Adams demorou um pouco para se ajustar ao basquete universitário e, da metade de sua primeira e única temporada em diante, se soltou e começou a elevar sua cotação entre scouts e dirigentes, para os quais já havia se apresentado em um dos campos de treinamento da adidas em 2010. Treinou muito bem em sua turnê pelos Estados Unidos, impressionou as franquias com suas entrevistas particulares e acabou, com a 12ª escolha, se tornando uma das peças que o Thunder recebeu em troca de James Harden.

– Para quem o consideraria um mero projeto – seu físico e capacidade atlética impressionam, mas os fundamentos ainda deixam a desejar (veja o quadro abaixo) –, é surpreendente, sim, que esteja recebendo mais de 15 minutos em média por jogo. E pode ter certeza de que ele está aproveitando ao máximo cada instante em quadra. Com muita energia, saltitante, ele causa um fuzuê sempre que acionado para render o já ancião Perk.

Adams nem se mete a besta de querer tentr uma cesta que não seja realmente nos arredores do garrafão, e mesmo ali de perto tem dificuldade de finalizar. Ainda há muito o que evoluir nesse sentido, seja por entender o tempo certo para buscar os dois pontos, ou pelo desenvolvimento físico, para ganhar estabilidade por ali

Adams nem se mete a besta de querer tentr uma cesta que não seja realmente nos arredores do garrafão, e mesmo ali de perto tem dificuldade de finalizar. Ainda há muito o que evoluir nesse sentido, seja por entender o tempo certo para buscar os dois pontos, ou pelo desenvolvimento físico, para ganhar estabilidade por ali

– “Você já viu minha irmã?”, questionou o pivô neozelandês, respondendo a uma pergunta com outra interrogação, depois de se enroscar em quadra com Larry Sanders um dia desses. Estavam querendo saber se Adams, por acaso, não tinha noção do perigo de querer arrumar encrenca em meio aos gigantes da NBA. Para quem foi o caçula numa família de gigantes, moleza.

– Sem contar a óbvia paixão do pivô pelo rúgbi, o esporte que ele mais praticava até descobrir o basquete. “Os dudes no rúgbi ficam empilhados, levam um soco, joelhada e tudo isso “, afirma. “Eles poderiam estar sangrando, estarem machucados, mas ainda têm de jogar.”

– Sanders, na verdade, foi o quarto jogador a ser excluído neste campeonato depois de algum entrevero com o calouro do Thunder. O pivô do Milwaukee Bucks acertou uma cotovelada no rapaz, e a arbitragem viu. Mas sabe do pior/melhor? Seu oponente continuou jogando – e que fase a do Larry Sanders, aliás. O mesmo aconteceu com o espevitado Nate Robinson, com Jordan Hamilton, coadjuvante do Nuggets, e até mesmo com um pamonha como Vince Carter. Adams aparentemente consegue sempre dar a primeira, ao mesmo tempo em que evita o flagrante. O vídeo com Carter deixa isso claro. Jogo sujo ou duro?

Liderado por um Kevin Durant em fase esplendorosa, o Thunder tem tudo para ir muito longe nos playoffs. É nos mata-matas que os jogos ficam mais pesados, em que os adversários se estudam e se desgastam com a repetição dos confrontos durante os dias. O nosso estimado kiwi vai estar envolvido nessa. Faça as contas…. Sim, se você ainda não embarcou nesta viagem meio maluca com Adams, pode ter certeza de que ele vai chegar até você, de um jeito ou de outro. Só não se incomode com o cotovelo.


Na vaga de Raulzinho, Scott Machado chega à 3ª escala em seu sonho de NBA
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado, e aí?

E não é que, mesmo sem Raulzinho, o Utah Jazz pode iniciar a temporada 2013-2014 da NBA com um armador brasileiro em seu elenco? Lá está ele, Scott Machado, já na terceira escala de seu sonho de se firmar como um jogador da liga norte-americana.

A equipe de Salt Lake City inicia formalmente suas atividades para um novo campeonato nesta segunda-feira, com o “Media Day”, no qual os jogadores ficam disponíveis para sessões de fotos e entrevistas com os jornalistas antes do tapinha inicial do training camp. E toca o gaúcho nova-iorquino, um rapaz bastante otimista e batalhador, falar sobre suas ambições como profissional e sobre como esta é uma excelente oportunidade para ele mostrar seu valor.

Mas é mesmo? Qual é o Utah Jazz que ele tenta convencer a lhe empregar nas próximas semanas?

Este é um ano de transição drástica para o clube. Abriram mãos de alguns veteranos consolidados e decidiram investir em jogadores mais jovens, com a expectativa de desenvolver uma base mais forte a longo (ou médio?) prazo.

Algo parecido com o que se passou em quadra ao final da carreira de John Stockton e Karl Malone. Com pequenas diferenças, claro: 1) o grupo anterior, de Al Jefferson, Paul Millsap e alguns resquícios da era Deron-Boozer-Okur, jamais chegou perto da identidade que aqueles chatíssimos, mas eficientes times dos anos 90 tiveram, ainda mais carregados por duas lendas do basquete; 2) a nova guarda de agora tem muito mais talento para oferecer do que os times de Arroyo, Raul López, Sasha Pavlovic, Jarron Collins e Ben Handlogten, a despeito da exuberância de Andrei Kirilenko.

A ideia é investir no núcleo de Trey Burke, Gordon Hayward, Enes Kanter, Derrick Favors (e talvez Alec Burks? Rudy Gobert?). Depois de anos medíocres com Al Jefferson e Paul Millsap, flertando com os playoffs, mas sem ter chance alguma de incomodar, chegou a hora de apostar que um ou vários desses garotões estoure e venha se tornar um líder de maior potencial, pensando em voos mais altos num Oeste ainda muito competitivo.

Nesse sentido, Scott encontra, então, um contexto benéfico para alguém igualmente jovem. Esse é o ponto mais otimista para o brasileiro se equilibrar. Outro: o armador foi o primeiro atleta a ser convidado pelo gerente geral Dennis Lindsey (mais um dos pupilos de Buford e Popovich em San Antonio) para fazer parte dos treinos da pré-temporada. Os alas Mike Harris, ex-Rockets, e Dominic McGuire, ex-Wizards e Warriors, foram os atletas adicionados na sequência – McGuire, um defensor versátil, capaz de segurar as pontas no perímetro e de reforçar o rebote é alguém de que sempre gostei, e seria um bom substituto para o enérgico DeMarre Carroll, que fechou com o Hawks. Por fim, chegaram o ala Justin Holiday (irmão mais velho do Jrue), o veterano ala-pivô Brian Cook (um pesadelo para Phil Jackson), o viajado pivô Dwayne Jones e o armador Nick Covington, da D-League e bom arremessador do perímetro.

Explicando do que se trata o tal do “contrato do training camp”: o jogador assina sem garantias alguma, tal como no ano passado com Houston. Isto é, pode ser dispensado a qualquer momento, sem que a franquia lhe deva muito dinheiro.

Não é o compromisso mais promissor do mundo, mas o fato de ele ter sido o primeiro da lista já conta para alguma coisa. Principalmente pelo fato de a diretoria ter acabado de dispensar Jerel McNeal, armador rodado na D-League e que fechou com a equipe na temporada passada. (Embora ainda não esteja claro se essa atitude teve a mais a ver com um desinteresse do clube, ou se o atleta recebeu alguma proposta mais vantajosa para jogar na Europa ou China.)

Scott terá, então, alguns dias ou semanas para convencer o técnico Tyrone Corbin de que seria útil ao seu time. Em teoria, falta ao elenco do Utah Jazz hoje um terceiro armador, atrás do calouro Burke, nona escolha do Draft deste ano, e de John Lucas III, ex-Raptors, Bulls e tantos outros.

Acontece que Hayward e Burks (não confundir com Burke… Deveria haver uma regra na NBA que proibisse os times de criar esse tipo de confusão para jornalistas e torcedores, não?) também têm o tipo de habilidade no drible e visão de jogo que lhes permite conduzir uma equipe em quadra por alguns minutos. Ainda mais se acompanhados em quadra pelo ala-armador Ian Clark, um baixinho que impressionou durante as ligas de verão, jogando pelo Miami Heat e pelo Golden State Warriors. Clark apresenta o suposto biótipo de um armador, mas não está habituado a criar para os outros. Tem muito mais tino para a finalização, com um excepcional tiro de três pontos. De todo modo, se for para quadra, deve ter alguma responsabilidade na estruturação da equipe.

(A presença de Clark, aliás, no elenco do Jazz não deixa de ser uma ironia e um incentivo para Scott: foi ele quem o colocou no banco no Warriors de veraneio em Las Vegas, praticamente definindo a demissão do brasileiro. Há divergências sobre o tipo de vínculo que ele tem com o clube. Se parcialmente garantido – no sentido de que, se mandado embora, ainda embolsaria pelo menos um cheque de agradecimento – ou se já tem um salário integral assegurado.)

Incluindo o chutador revelado pela universidade de Belmont, o Utah tem 13 jogadores contratados para a temporada, o mínimo necessário para a formação de um elenco, de acordo com as regras da liga. De modo que Scott precisa fazer bons treinos, dando sequência aos testes que realizou nas Montanhas Rochosas durante o mês de setembro, para tentar abrir mais uma vaguinha nesse plantel.

O que causa estranhamento, de certa forma, em seu convite pelo Utah Jazz é a baixa estatura dos armadores já contratados pelo time. Com 1,80 m, Lucas consegue encarar este blogueiro  de olho-pra-olho, assim como o titular Burke, com seu generoso e oficial 1,83 m. Scott teria sido ainda mais abençoado com seu oficial 1,85 m.

É de se esperar que os gerentes gerais procurem diversificar na formação de um time, com peças complementares no banco de reserva. Do ponto de vista físico, Scott não oferece nada de diferente, sofrendo igualmente diante de armadores maiores, mais fortes e mais atléticos – e sabemos que a liga está inundada com este tipo de cara. Ainda que em seus últimos jogos pelo Warriors ele tenha se mostrado combativo na defesa, pressionando com sucesso o drible do adversário, o tipo de adversários que enfrentou em Vegas é bem inferior aos Roses e Walls do mundo.

O que o brasileiro oferece de diferente (beeeem diferente, aliás) é sua visão de jogo, sua maior propensão para o passe, facilitando a vida de seus companheiros no ataque. Lucas é um chutador por vezes descontrolado, enquanto Burke seria um meio termo, dependendo da orientação que tiver de sua comissão técnica.

Além disso, Scott ainda precisa solucionar sua mecânica de arremesso de modo urgente, além de melhorar sua técnica para conversão de bandejas – ainda tem muita dificuldade para encarar pivôs fisicamente intimidadores, e os treinos contra Favors, Kanter e Gobert já serão um duro teste. Sim, o armador persiste, busca novos caminhos para continuar sua carreira, mas as coisas de forma alguma se apresentarão fáceis para descolar um emprego de alto nível.

Uma posição que Raulzinho teria a oportunidade de ocupar este ano, mas que postergou ao tomar a correta decisão de voltar para a Espanha, aonde poderá ficar muito mais minutos para usufruir e evoluir. De lá, nem que seja online ou por meio de algum espião-amigo em Salt Lake City, poderá coletar as informações com o que se passa com seu breve companheiro de seleção, de olho no futuro.


Raulzinho põe pressão em calouro badalado do Utah, mas diz que só fica na NBA se for para jogar
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Giancarlo Giampietro

Olha o Raulzinho aí, gente

O pirulão Gobert e os armadores que brigam por espaço em Utah. Burke não esperava…

Depois que Trey Burke foi selecionado na posição número nove do Draft, Raulzinho, ou Raul Neto, como dizem lá, precisou esperar um tempão. Mais 37 atletas fossem chamados até que ouviu o seu nome, como a 47º da lista, para o Utah Jazz, via Atlanta Hawks.

Então, na hora de juntar as peças, tentando entender quais os planos da franquia de Salt Lake City para a próxima temporada, o natural era pensar que tdoa a prioridade do mundo seria de Burke. Afinal, estamos falando do jogador do ano no basquete universitário, vice-campeão por Michigan, e pelo qual eles pagaram duas escolhas de Draft para poder subir cinco postos e asseugrá-lo.

Raulzinho? Bem, saindo apenas na segunda rodada, ele não teria direito a um vínculo garantido. Além disso, tem um contrato em vigência na Espanha. E… Será que a franquia toparia entrar no campeonato com dois armadores novatos em sua rotação? Quer dizer, o cenário não era muito animador para que o brasileiro seja aproveitado já na próxima temporada. Até que…

Nesta quarta-feira, depois de ficar fora das duas primeiras rodadas enquanto a burocracia da Fiba não liberava sua papelada, o armador foi para quadra na liga de verão de Orlando, teve uma ótima atuação em fácil vitória sobre o Brooklyn Nets por 98 a 69 e colocou um pouco de pimenta nessa história toda.

Raulzinho jogou por pouco mais de 18 minutos, saindo do banco, e terminou com sete pontos, três assistências e quatro rebotes. Mais que os números, porém, o que causou melhor impressão foi o modo como se comportou em quadra, tranquilo, sereno, sem se deixar levar por nenhum tipo de nervosismo. Ajuda o fato, claro, de ter atuado no segundo principal campeonato nacional do mundo nos últimos dois anos. “Estava mais nervoso ontem porque não sabia se iria jogar, mas hoje eu me senti bem demais”, disse o atleta.

Raul Neto, o Raulzinho

Frame da estreia de Raulzinho

Sem colocar muita fé no brasileiro, o técnico Jason Kidd (ainda soa muito estranho isso, aliás) colocou seus jogadores para pressionar o oponente na quadra inteira. Quem ficou mais no seu pé foi Chris Wright, jogador da D-League. No final, Tyshaun Taylor também foi para o abafa. O filho do Raul não deu a menor bola. Soube lidar com essa marcação, controlando bem seu drible e partiu para cima.

Em um lance no terceiro quarto, ficou muito perto de um turnover até que recuperou a compostura, sacudiu Wright com um crossover da direita para a esquerda, e limpou espaço para fazer o corte. Foi até a cesta e fez a bandeja na cobertura de chocolate, por cima do bração estendido do pivô. Uma de suas belas jogadas que deixaram todos os envolvidos bastante impressionados. Veja no vídeo abaixo este lance e uma assistência dele para ponte aérea, com muita categoria, a partir dos 50 segundos:

Apenas nos minutos finais do quarto período que o queridinho de Magnano afrouxou um pouco, evidentemente cansado, cometendo alguns turnovers ao tentar inventar demais, com passes por trás das costas e tal. Na defesa, teve alguma dificuldade para conter, se colocar à  frente do atlético Wright, especialmente no primeiro tempo. De um modo geral, ele parecia um pouco pequeno perto de tanta gente atlética e vigorosa. Mas, após o intervalo, provavelmente mais adaptado ao nível de competição e ao caos geral que tende a ser uma destas partidas de verão, fez um trabalho muito melhor lidando com essas investidas e causou alguns desperdícios de bola e contestou arremessos.

No geral, foi uma tremenda atuação, ainda mais considerando o fato de que nem treinar direito com os novos companheiros ele pôde – e era visível o desentrosamento da equipe, com um bando de jogadores reunidos há poucos dias, muitos dos quais nunca atuaram em conjunto. “Você não precisa treinar com o time. Todo mundo joga o mesmo jogo”, afirmou o brasileiro, confiante que só.

 “Ele fez um ótimo trabalho. Levando em conta que ele nem treinou conosco, isso mostra um pouco sobre sua mentalidade”, afirmou o assistente técnico Sidney Lowe, que comanda o time de verão do Jazz, que se derramou em elogios – e o melhor foi notar que o técnico principal, Tyronne Corbin, observa tudo atentamente na lateral da quadra, ao lado do legendário Jerry Sloan, agora um consultor da franquia. “Ele sabia cada jogada. Ele sabia o que queríamos, nossas ações. Ele sabia aonde os caras deveriam estar. Sabia o ritmo. Isso fala muito (sobre seu talento).”

A equipe de transmissão da NBA TV não parava de citar seu nome. Era “Raul Neto” para lá e “Raul Neto para cá” – pareciam ter prazer de falar essas palavras, também. Beeeem diferente de quando precisavam narrar o nome do esloveno Rašid Mahalbašić, hehe.

Raulzinho na telinha

Raulzinho gastou seu inglês com Dennis Scott e Rick Kamla ao fim do jogo

Os setoristas dos diários de Utah também fizeram sua parte em elogiar o brasileiro. E, jornalista que são, já começaram a ficar irrequietos e a desenvolver uma trama que deve dominar a seção de esportes do Salt Lake Tribune e do Desert News nesta quinta-feira. A carreira de Trey Burke na NBA não tem nem uma semana e ele já se vê pressionado.

O armador revelado por Michigan não foi nada bem nas duas primeiras partidas em Orlando, a ponto de a comissão técnica ter decidido preservá-lo contra o Nets. Seus números após confrontos com Miami Heat e Houston Rockets: 9,5 pontos, 3,5 assistências, 4,5 rebotes e três desperdícios de bola. Seria algo até regular não fosse o horrendo aproveitamento de 22,2% arremessos e os 10% na linha de três pontos. No total, ele acertou apenas seis chutes em 27 tentativas. Argh.

Então…

“Será interessante ver como Trey Burke reage depois de ter sentado no banco e observar o jogo depois do modo como Raul Neto respondeu”, escreveu Jody Genessy, do DN. “Muito foi falado sobre como Burke vai precisar de tempo para aprender o ataque (algo verdadeiro), e então Net aparece e mostra que sabe, friamente”,  escreveu Bill Oram, do Tribune.

Deu para sacar o clima, né?

Da sua parte, quando questionado sobre o que o futuro (imeadiato) lhe reserva, Raulzinho manteve a linha: é preciso esperar que seu agente, o ex-ala-pivô Aylton Tesch, vai resolver com o Jazz e com o Lagun Aro GBC, seu clube na Espanha. Mas mandou seu recado também, dizendo que só fecharia com a franquia da NBA se tivesse garantias de que seria aproveitado em quadra – seria pouco inteligente, mesmo, trocar uma situação confortável numa liga fortíssima com a ACB, na qual vem evoluindo consideravelmente, para virar um esquenta-banco nos Estados Unidos.

“Claro que, se eu tiver que escolher, quero jogar na NBA, mas isso não cabe a mim”, afirmou ao DN. “Tenho de falar com meu agente e ver o que será melhor para mim. Porque não quero ficar aqui sem jogar. Eu quero jogar.”

Está certo que foi apenas uma partida, numa liga de segundo escalão, e que há muito mais o que fazer durante a semana. Mas, se a primeira impressão é a que fica, vai ser difícil o Utah Jazz não deixá-lo jogar. Goste Trey Burke, ou não.


Faverani, Lucas Bebê, Raulzinho, Alexandre… A quantas anda a ‘invasão brasileira’ na NBA?
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Giancarlo Giampietro

Lucas Bebê e sua turminha nova

Lucas, Schroeder e Muscala aguardam as negociações do Haws para assinar, ou não

Está tudo indefinido no momento. Tudo depende de alguma coisa, ou de várias coisas, na verdade. Mas o contingente brasileiro, de uma hora para outra, poderia saltar de seis para 10 na NBA. Ou ser reduzido para cinco (Leandrinho e Scott Machado). Vai saber: é um período de incertezas, mesmo, com muitos times ainda bem distantes de tomar uma cara, enquanto outros buscam apenas alguns últimos retoques. Nesse furacão, Lucas Bebê, Raulzinho & Cia. são vistos como trunfos (“assets”) das franquias, peças num grande tabuleiro (para ficar numa metáfora mais básica), aguardando a hora de colocar as coisas no papel.

Mas vamos lá, tentar resumir e entender a quantas anda a invasão brasileira na liga. Por tópicos:

Vitor, de Valência para Boston?

Faverani em dupla com Fabrício?

Vitor Faverani (atualizado)
Aos 25 anos, estabelecido como um jogador de ponta na Espanha, Vitor foi testado pelo menos por quatro clubes da NBA – Knicks, Wizards, Celtics e Spurs – nas últimas semanas, mas já tem um bom emprego no Valencia, atraindo o interesse de Real Madrid e Barcelona ano sim, ano não. Não precisa se esgoelar para cruzar o Atlântico.

A boa nova, porém, vem do site Tubasket.com: o Boston estaria interessado em lhe oferecer um contrato. “Dos quatro, o Celtics lhe quer em seu elenco”, afirma a publicação, sem dar muitos detalhes, contudo. Com a megatroca que fechou com o Nets, se despedindo de Pierce e Garnett, Danny Ainge já teria no mínimo 13 jogadores sob contrato – Fabrício Melo entre eles –, restando duas vagas para completar o plantel.

Horas mais tarde, o mesmo site espanhol foi adiante e colocou Faverani “muito próximo” de um acordo para se tornar o terceiro brasileiro a jogar pela histórica franquia. “Com o passar das horas, já temos novidades. Todas elas deixam o jogador cada vez mais próximo de Boston, onde esteve há duas semanas entrevistando dirigentes da franquia. Fontes próximas da operação confirmam ao Tubasket.com que o acordo está quase fechado, quase 100%”, escreveram. “Faltam detalhes, embora no principal exista um entendimento: dois anos de contrato mais um terceiro opcional.

Vitor passou batido no Draft de 2009, a despeito de ser seguido pelos olheiros da NBA por anos, admirados com seu talento, mas preocupados com seu comportamento fora de quadra.  Aos poucos, devarzinho, as coisas foram se ajeitando para o paulista de Paulínia. Aparentemente, duas semanas depois de entrevistado, para os cartolas da Beantown, não resta dúvida sobre seu amadurecimento. Vamos ver se eles fecham a negociação.

“Na parte com o time americano, está tudo praticamente certo. Agora precisamos esperar os dois times entrarem em contato, e isso demora um pouco mais. Eles irão pagar uma multa para ele deixar o Valência”, disse o agente Luiz Martín, ao Lancenet!.

Lucas Bebê
Danny Ferry, gerente geral do Atlanta Hawks, anda bastante ocupado nas últimas semanas. Com mais de US$ 20 milhões em salários para gastar, tentou Dwight Howard em vão, assinou com Paul Millsap, renovou com Kyle Korver, fechou com o operário DeMarre Carroll, vai se sentar com Andrew Bynum nesta semana (talvez até nesta terça) e ainda precisa ver o que fazer com Jeff Teague. Ele pode tanto estender um novo contrato para o pequenino, ou envolvê-lo em uma negociação por Brandon Jennings ou Monta Ellis.

Considerando toda essa movimentação, Ferry tem sob sua alçada nove jogadores – sejam contratados ou apalavrados. Restam quatro vagas para ele preencher um elenco mínimo para a próxima temporada. Uma certamente seria a do armador titular. Outra poderia ser de Bynum, mas precisa ver se há espaço na folha salarial para isso dar certo. Talvez não sobre grana. As outras duas ou três? Neste ponto entrariam Lucas Bebê e o alemão Dennis Schroeder, suas duas escolhas de primeira rodada do Draft deste ano, além de Mike Muscala, pivô apanhado na segunda rodada.Primeiro, trabalham com os agentes livres, depois com os calouros.

Lucas e sua icônica subida ao palco do Draft

Será que Bebê vai jogar na NBA de Stern ou na do próximo comissário?

Pensando primeiro no Hawks, o técnico Mike Budenholzer teria como opções de garrafão hoje o talentosíssimo Al Horford, Millsap, Carroll (numa formação mais baixa) e… só. Zaza Pachulia se foi, algo providencial. Bebê e Muscala, então, completariam a rotação. Mas, olha-lá, considerando sua inexperiência, esse grupo ainda fique muito frágil, por mais que queiram usar de small ball. Se o Hawks ainda mira os playoffs – e a contratação de Millsap só corrobora isso –, os cartolas do clube teriam de confiar muito em seus novatos para toparem batalhar com este elenco.

Agora, está pendente ainda a liberação do pivô brasileiro. Ele renovou seu contrato com o Estudiantes por mais dois anos. Poderia ficar na Liga ACB até 2015, confortável, se desenvolvendo. A renegociação, no entanto, permitiu que sua multa rescisória fosse reduzida, facilitando sua saída. Antes, estávamos falando de cerca de 2 milhões de euros, segundo a mídia espanhola, para que o carioca saísse este ano – em 2014, seria de graça. Para não ficar de mãos abanando, o time de Madri aceitou abaixar o valor pedido para agora, desde que no ano que vem também pudessem receber algo.

Ainda que Bebê não tenha saído entre os 10 ou 15 primeiros, com salário mais alto, sendo a 16ª escolha, ganharia no mínimo $1,371 milhão (o valor poderia chegar até US$ 1,6 milhão, dependendo da boa vontade de Ferry) em sua primeira temporada. Estaria provavelmente em condições de pagar sua multa – lembrando que o Hawks pode contribuir com US$ 550 mil nesta conta. Financeiramente valeria a pena, ainda mais de olho no segundo contrato, costumeiramente mais generoso. Agora, essa remuneração só aumentaria de modo mais significativo desde que Lucas mande bem em quadra. Até agora, em todas suas entrevistas, o jogador manifesta confiança de que estaria pronto, sim, para fazer a transição.

Raulzinho (atualizado)

Raulzinho, ainda sem a farda

Espanha ou NBA? Pergunta importante para evolução, diz Raul

A situação é bem mais instável que a de Lucas. A começar pelo fato de ter sido escolhido na segunda rodada do Draft, o que lhe dá menos prestígio na hora de negociar. Mas, mais importante, é o fato de o Utah Jazz já ter assinado com Trey Burke, o n¡umero 9 do Draft, armador  como ele e eleito o jogador do ano do basquete universitário. Para ficar com Burke, a franquia gastou duas escolhas de primeiro round. Ele chega para ser titular, até que se prove o contrário (seu primeiro jogo não foi dos melhores, mas ainda está MUITO cedo para qualquer avaliação).

Por mais que o clube tenha, enfim, adotado uma rota de rejuvenescimento em seu plantel, permitindo a saída de Al Jefferson e Millsap para abrir espaço para os promissores Derrick Favors e Enes Kanter, seria muito raro o clube iniciar a temporada com dois armadores novatos dividindo o tempo de quadra. Improvável demais. Tanto que, na noite de segunda-feira, seus diretores se reuniram com John Lucas III em Orlando.

Não ajuda em nada Raul não ter conseguido uma liberação da Fiba para disputar a liga de verão de Orlando nesta semana. Ainda com contrato com o Lagun Aro GBC (ou San Sebastián Gipuzkoa BC), Raulzinho precisava de uma licença para participar dos amistosos e mostrar em que estágio está seu desenvolvimento. Demorou um pouco, mas chegou. Nesta terça, já estava apto para jogar contra o Houston Rockets. Com experiência de duas temporadas numa Liga ACB, tem grandes chances de impressionar.

No caso de o Utah fechar com um atleta mais rodado para ajudar Burke, valeria a pena para o brasileiro ser o terceiro armador? Duvido. Seria bem melhor seguir na Espanha como titular, enfrentando veteranos de alto nível, para, no futuro, tentar a NBA ainda mais consolidado.

“Não sei ainda quando sairá essa decisão sobre meu futuro”, afirmou o armador ao ESPN.com.br. “Meu agente Aylton Tesch está em contato com minha equipe na Espanha, assim como com o Utah Jazz, buscando aquilo que for melhor no momento. Mudar para NBA ou não? Não é algo a ser pensado ainda, tenho que pensar o que vai ser melhor para eu continuar evoluindo.”

Ainda sobre Raulzinho, uma coisa: sei que não temos muitas referências sobre Utah, ou Salt Lake City, vá lá… Mas que tal propormos um pacto coletivo e jamais lhe perguntar o que ele pensa sobre jogar no time que tinha John Stockton? Ok, uma lenda. Ok, um dos maiores da história. Ok, Stockton-to-Malone. Mas… A aposentadoria do carteiro do carteiro, já completou 10 anos. Quantos anos o brasileiro tinha quando o o sujeito disse adeus? Só 11. Então… Deixem que os filhos de Stockton, David e Michael, com o sobrenome nas costas e a função de armador em quadra, falem a respeito. É importante colocar isso porque muitas vezes nós, entidade conhecida como mídia, podemos criar uma história que não existe e, depois, cobrar a respeito.

Alexandre Paranhos

Alexandre, ele

Alexandre mal vestiu a camisa do Flamengo em jogos para valer. Dallas observa

Aposta de Leandrinho, o jogador revelado pelo Flamengo está inscrito no elenco de verão do Dallas Mavericks, que vai jogar na semana que vem em Las Vegas. É difícil dizer o que esperar do ala. Fisicamente, estamos falando de um jogador muito talentoso. Forte, vigoroso, com tremenda envergadura. Aparentemente, deu um duro danado nos Estados Unidos na preparação para o Draft e teria valorizado ainda mais esses atributos. Por outro lado, ainda é muito cru nos fundamentos e muito inexperiente – em alto nível,  isso nunca aconteceu; mal jogou no NBB.

Para agravar, faz muito tempo que o rapaz não disputa uma partida de verdade de basquete. Como, então, vai reagir diante da pressão de tentar uma vaguinha no clube texano, enferrujado e ainda enfrentando a famosa barreira da língua? (No Dallas, o atenuante ao menos fica por conta da predisposição histórica da franquia para trabalhar com estrangeiros).

Durante os treinos desta semana e, em Las Vegas, Alexandre deve convencer os técnicos e dirigentes de Mark Cuban de que merece ao menos um chamado para o training camp em outubro. Desta forma, mesmo que não entrasse para o elenco final, poderia seguir sob a tutela de Donnie Nelson na filial do Mavs da D-League, o Texas Legends.

Para constar: na liga de verão, os segundanistas Jae Crowder (ala) e Bernard James (pivô) saem na frente. Assim como o armador Shane Larkin, escolha de primeira rodada, o ala Ricky Ledo, do segundo round, e o israelense Gal Mekel, já com contrato garantido. De resto, o brasileiro teria de trombar com Christian Watford, calouro revelado por Indiana, DJ Stephens, calouro hiperatlético de Memphis, além dos pirulões Hamady N’Diaye, ex-Wizards, e Dewayne Dedmon, formado pela USC.

É uma trajetória surpreendente a de Alexandre, de qualquer maneira, que desperta muita curiosidade, ainda mais pelo simples convite por parte do Mavs.

PS importante: muito do que está explanado acima pode mudar com um sopro. Considerando a loucura que foi a noite do Draft – Raulzinho já experimentou o que é ser trocado – e toda a movimentação da intertemporada, basta um negócio inesperado para se fechar um elenco, abrir vagas etc. Há muita coisa em jogo ainda.


Conheça alguns dos candidatos a protagonistas nos mata-matas da NCAA
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Giancarlo Giampietro

As loucuras já vêm de uma ou duas semanas, mas se intensificam a partir desta terça-feira, com o início dos mata-matas da NCAA, o basquete universitário norte-americano. É uma oportunidade para ver de uma leva só uma infinidade de estilos, alguns extremamente contrastantes, com esses diferentes times espalhados em um gigante tabuleiro.

Há equipes como Winsconsin que vão murchar a bola de tanto driblá-la, de um lado para o outro, rodando, rodando, rodando, gastando o cronômetro. Por outro lado, uma equipe como North Carolina só funciona se a aceleração for máxima. Louisville, seguindo os mandamentos de Rick Pitino, não vai parar de pressionar a saída de bola. Syracuse, porém, deixa seu abafa montadinho em sua metade de quadra, com as formações complexas orquestradas por Jim Boeheim, sistemas que são ajudados pela quantia abundante de superatletas em seu elenco. Nem todos os times, porém, conseguem recrutar a nata que sai do colegial e precisam se virar com jogadores mais, digamos, mundanos, e aí os técnicos vão se adaptando.

Mas não são apenas as pranchetas a definir tudo. Os jogadores também têm seu espaço, ainda que poucos deles realmente estejam hoje formados, moldados, física e tecnicamente. Dividindo as horas de treino com estudos, ainda em fase de crescimento, muitos deles estarão completamente diferentes em quadra daqui a alguns anos, enquanto outros nem mais calçarão o tênis para bater uma bola, presos em suas mesas de escritório.

Abaixo, vamos nos concentrar naquelas figuras que esperam movimentar milhões em suas contas bancárias como profissionais de basquete, mesmo, e, no torneio nacional, encaram um momento muito importante, de propulsão para suas carreiras:

Kyle Anderson

Chega de soneca, Kyle

– Kyle Anderson, ala de UCLA, 19 anos, freshman. Estatísticas.
Dos calouros dos Bruins, Anderson não é o mais badalado ou promissor – essas honrarias ficam para o cestinha Shabazz Muhammad, que também tem, disparado, o melhor nome. Mas Anderson é um jogador mais intrigante, para não dizer engraçado. Com sua cabeleira desarrumada e sempre com uma cara e a postura de quem parece ter acordado há pouco, se arrastando pela quadra, mas influenciando a partida de diversas maneiras, especialmente com sua vocação para o passe. De longa envergadura, também pode fazer boas coberturas defensivas, apesar de lento. Seu estilo único desafia os scouts da NBA, que não conseguem encontrar um paralelo na liga para fazer qualquer comparação.

Trey Burke, armador de Michigan, 20 anos, sophomore. Estatísticas.
No ataque é completo, podendo fazer um pouco de tudo, atacando o garrafão com esperteza, habilidade e agilidade, convertendo também 40% dos arremessos de três pontos. É um bom passador, mas pode prender muito a bola também quando não sente confiança em seus companheiros de perímetro. Aliás, se for para ver Burke, já dá para observar de uma vez outros dois jogadores curiosos, de pedigree de NBA: Tim Hardaway Jr., filho do armador brilhante do Golden State Warriors, e Glenn Robinson III, filho do ala que já foi o número um do Draft de 1994 pelo Milwaukee Bucks. Vale também se encantar com o arremesso do ala Nik Stauskas (44,9% de fora).

Doug McDermott, ala de Creighton, 21 anos, junior. Estatísticas.
Todo ano a América profunda (e branca) precisa adotar um darling por quem torcer no torneio, e McDermott talvez seja o principal candidato ao posto já ocupado por Adam Morrison e outros que não o JJ Redick, que fazia as vezes de vilão. Um excelente arremessador, um arma de todos os cantos da quadra, matando 58,9% de dois pontos e sensacionais 49,7% de três. Também tem bons movimentos de costas para a cesta, vai bem nos rebotes, mas peca na defesa, sem a dedicação necessária para compensar sua vulnerabilidade a ataques frontais. E, se for para assistir McDermott, vale também conferir como anda o progresso do pivô Greg Echenique, aposta da seleção venezuelana que deve jogar a Copa América deste ano.

Ben McLemore, honrando a 23

Permissão para decolar conedida, McLemore

Ben McLemore, ala de Kansas, 20 anos, freshman. Estatísticas.
Chegou a uma das universidades mais tradicionais do basquete americano sem muita fama ou fanfarra, ficou afastado do time no ano passado e estreou nesta temporada completamente modificado, mais forte e com um arremesso refinado. Salta e corre demais e, por isso, se apresenta como uma excelente opção na transição. Também se movimenta bem fora da bola, em cortes para a cesta. Criar por conta própria, porém, ainda não é seu forte, com um drible deficiente, sem saída para a esquerda. Na defesa, pode se desconcentrar com facilidade, mas possui os atributos necessários para fazer um bom papel na NBA. Candidato ao primeiro lugar do Draft deste ano.

Victor Oladipo, ala de Indiana, 20 anos, junior. Estatísticas.
Um incendiário, ou algo muito perto disso. Energético, daqueles que não para nunca em quadra, é um defensor excepcional no perímetro que já mereceria uma boa atenção dos olheiros. Para completar, progrediu consideravelmente no ataque este ano, passando a acertar com maior frequência seus arremessos de três pontos. Assim como McLemore, funciona mais em quadra aberta, decolando e enterrando. Em meia quadra, ataca os rebotes ofensivos com voracidade incomum para alguém que vem do perímetro.

Kelly Olynyk, ala-pivô de Gonzaga, 21 anos, junior. Estatísticas.
Líder de uma das melhores equipes dos EUA. Leia mais sobre ele aqui. É um dos inúmeros jovens talentos do Canadá a despontar no circuito universitário. Nesta onda também está seu companheiro de Gonzaga, o armador Kevin Pangos, um jogador cerebral, assim como o ala Anthony Bennett, calouro de UNLV, de 2,01 m, mas um tanque debaixo da cesta e extremamente atlético.

Otto Porter, ala de Georgetown, 19 anos, sophomore. Estatísticas.
Um prospecto inexperiente, mas já consideravelmente sólido, com bons fundamentos de rebote, passe e arremesso, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque, podendo produzir para sua equipe sem necessariamente ser o centro das atenções. Esguio, com os braços longos, é outro com atleta com bastante potencial para a defesa. Top 5 ou 10 no próximo Draft.

Marcus Smart

Um tanque de guerra modelo Smart

– Marcus Smart, armador de Oklahoma State, 19 anos, freshman. Estatísticas.
Fisicamente, este jovem armador parece um homem entre garotos. Extremamente forte, pode atropelar os marcadores na base do contato, abrindo um corredor em direção ao aro, embora nem sempre use este recurso, parando no meio do caminho para arremessos forçados e inconsistentes. Tem um primeiro passo explosivo, mas talvez precise afinar um pouco o corpo para ganhar em velocidade e elasticidade. Na defesa é que mostra maior potencial, com mãos ágeis e muita combatividade para alguém de sua idade. Visto como um potencial candidato a número um do Draft deste ano, ainda como um diamante em estado bruto. Não custa, aqui, olhar para o ala Markel Brown, cestinha bastante atlético, sempre candidato aos melhores momentos da rodada.

– Nate Wolters, armador de South Dakota State, 21 anos, senior. Estatísticas.
É um armador alto que compensa sua velocidade reduzida com muita inventividade no drible, arrumando espaço para infiltrações de passo em passo, tudo no tempo certo, seja no mano-a-mano ou em combinações de pick-and-roll. Controla bem a bola embora seja muito exigido no ataque de sua equipe, que já está satisfeita apenas de ser convidada para a festa, sem ambição alguma de título. Pode não causar a comoção nacional que causou Jimmer Fredette em seus tempos de BYU, mas é constantemente comparado ao armador reserva do Sacramento Kings. Contra Burke, na primeira rodada, ganha a chance de aparecer em uma competição de elite para os scouts da NBA.


Com paridade em destaque, mata-matas da NCAA começam nesta terça
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Giancarlo Giampietro

Por Rafael Uehara*

O NCAA Tournament, competição que decide o campeão universitário do basquete americano, se inicia nesta terça-feira com a paridade entre os times como seu maior destaque. Nenhuma equipe foi indisputavelmente dominante durante a temporada, caso oposto ao ano passado quando o Kentucky Wildcats atropelou a concorrência a caminho do primeiro título nacional da carreira do técnico John Calipari, que serviu de validação ao seu modelo de recrutamento com foco em jogadores que passam apenas um ano jogando basquete colegial e seguem em frente para a NBA.

Mr. Pitino, nem sempre bem lembrado pelos torcedores do Celtics

Pitino e seu terno tentam confirmar posto de cabeça-de-chave número 1 para Lousville

Ma se a fórmula pagou dividendos no ano passado, o tiro saiu pela culatra este ano. Com o time todo reformulado, Kentucky surpreendentemente falhou em se classificar para o torneio, sendo mandado invés para o NIT – competição secundária e considerada humilhante para times do status de Kentucky. Vale a pena mencionar que a lesão do pivô Nerlens Noel – possível primeira escolha no próximo Draft – atrapalhou demais na arrancada final. Porém, o time já decepcionava antes de sofrer com a ausência de Noel.

O Gonzaga Bulldogs chega ao torneio rankeado como o número um em pesquisas da imprensa americana, com 31 vitórias em 33 jogos. Mas o Louisville Cardinals, oitavo nos votos dos jornalistas, é que será o nominal cabeça de chave geral, jogando a primeira fase mais próximo de casa que qualquer outro time. Isso é reflexo de um algoritmo antiquado usado pelo comitê que decide os qualificados e constrói a tabela. A fórmula julga a tabela das conferências chamadas “Power 6” com maior força do que aquela de conferências de menor representação, mesmo que isso não seja verdade absoluta nos tempos de hoje em dia. Por isso o título de campeão da Big East vale mais para Louisville do que da WCC para Gonzaga, nos olhos daqueles que tomam as decisões.

Por outro lado, o Indiana Hoosiers é o clube visto como o principal favorito entre os cabeças de chave. Indiana começou o ano número um na pesquisa entre os jornalistas. O time que chegou ao round das oitavas de final na temporada passada contou com o retorno de Cody Zeller e Victor Oladipo, projetados como top 10 escolhas no próximo Draft, e trouxe uma classe de novatos que preencheu algum dos buracos que o time do ano passado tinha. Os Hoosiers jogam o basquete universitário mais agradável, com um ataque veloz que toma vantagem da capacidade de Zeller de arrancar em contra-ataques, qualidade incomum para pivôs de sua estatura. Para mais detalhes sobre os Hoosiers, aqui segue uma prévia completa sobre eles.

Cody, irmão de Tyler Zeller. E do Luke

Cody Zeller: pivô extremamente veloz de Indiana, lutando pelo título

Não se deve esquecer também do imortal Kansas Jayhawks, de Bill Self, não importando o quão forte a classe anterior foi, se as expectativas para o time  deste ano eram menores, ou se alguém sequer está prestando atenção. Kansas sempre ganhará sua conferência e chegará ao torneio como concorrente a ser levado a sério, e esse é o caso mais uma vez nesta temporada. O grupo que jogou a final do ano passado perdeu seu maior anotador em Tyshawn Taylor e o superatlético Thomas Robinson, mas – como é de regra em Kansas – não perdeu o sono, trocando facilmente suas peças. Liderados pela revelação Ben McLemore, ala que é projetado como top 5 no próximo draft, venceu 29 de seus 34 jogos a caminho da cabeça de chave no lado Sul da tabela.

O Duke Blue Devils, de Mike Kzryzweski, técnico da seleção americana nas últimas duas Olimpíadas, não será cabeça de chave, mas é visto por muitos como o time que mais impressionou quando completo. Devido a lesões do ala-pivô Ryan Kelly e do atirador Seth Curry, Duke tropeçou algumas vezes durante a temporada, mas, quando contaram com força máxima, os Blue Devils perderam apenas para o rival Maryland no torneio da conferência. Um ponto contra é que o time de Kzryzewski é um tanto quanto dependente do tiro de três pontos e pode ser derrubado por qualquer um naquele dia em que nada está caindo de longa distância, como aconteceu no ano passado quando Lehigh mandou os Blue Devils pra casa.

Outros times que merecem atenção: o Saint Louis Billikens é um time muito físico que tem jogado com motivação extra; o técnico do time na temporada passada faleceu pouco antes do início do ano e esse grupo tem jogado em sua honra. Tom Izzo sabe como levar seu Michigan State Spartans o mais longe possível. Bo Ryan e Wisconsin, com seu jeito monolítico, lento que só, procurando limitar o número de posses, bateram Indiana duas vezes esse ano. Porte atlético é que não falta ao New Mexico Lobos e o UNLV Running Rebels. VCU e Butler são programas conhecidos por fazerem as finais em anos recentes com técnicos progressivos. Trey Burke e Ottor Porter podem carregar Michigan e Georgetown nas costas. Florida é letal de fora de arco e protege seu garrafão extremamente bem. Muitos ainda esperam que Shabbaz Muhammed exploda com o UCLA Bruins pelo menos uma vez antes de seguir em frente para a NBA. E o Miami Hurricanes tem o time mais velho do basquete universitário, e nesse nível de competição, idade importa bastante; basta olhar os homens feitos que o Miami põe em quadra e o quão franzino Kyle Anderson do UCLA é, por exemplo.

Mas a melhor parte de “March Madness” é que tudo pode acontecer e todos os 68 times, não os favoritos ou os que chamam maior atenção, tem condições de pegar fogo e fazer história nessas próximas três semanas.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


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