Vinte Um

Arquivo : Ben McLemore

Conheça alguns dos candidatos a protagonistas nos mata-matas da NCAA
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Giancarlo Giampietro

As loucuras já vêm de uma ou duas semanas, mas se intensificam a partir desta terça-feira, com o início dos mata-matas da NCAA, o basquete universitário norte-americano. É uma oportunidade para ver de uma leva só uma infinidade de estilos, alguns extremamente contrastantes, com esses diferentes times espalhados em um gigante tabuleiro.

Há equipes como Winsconsin que vão murchar a bola de tanto driblá-la, de um lado para o outro, rodando, rodando, rodando, gastando o cronômetro. Por outro lado, uma equipe como North Carolina só funciona se a aceleração for máxima. Louisville, seguindo os mandamentos de Rick Pitino, não vai parar de pressionar a saída de bola. Syracuse, porém, deixa seu abafa montadinho em sua metade de quadra, com as formações complexas orquestradas por Jim Boeheim, sistemas que são ajudados pela quantia abundante de superatletas em seu elenco. Nem todos os times, porém, conseguem recrutar a nata que sai do colegial e precisam se virar com jogadores mais, digamos, mundanos, e aí os técnicos vão se adaptando.

Mas não são apenas as pranchetas a definir tudo. Os jogadores também têm seu espaço, ainda que poucos deles realmente estejam hoje formados, moldados, física e tecnicamente. Dividindo as horas de treino com estudos, ainda em fase de crescimento, muitos deles estarão completamente diferentes em quadra daqui a alguns anos, enquanto outros nem mais calçarão o tênis para bater uma bola, presos em suas mesas de escritório.

Abaixo, vamos nos concentrar naquelas figuras que esperam movimentar milhões em suas contas bancárias como profissionais de basquete, mesmo, e, no torneio nacional, encaram um momento muito importante, de propulsão para suas carreiras:

Kyle Anderson

Chega de soneca, Kyle

– Kyle Anderson, ala de UCLA, 19 anos, freshman. Estatísticas.
Dos calouros dos Bruins, Anderson não é o mais badalado ou promissor – essas honrarias ficam para o cestinha Shabazz Muhammad, que também tem, disparado, o melhor nome. Mas Anderson é um jogador mais intrigante, para não dizer engraçado. Com sua cabeleira desarrumada e sempre com uma cara e a postura de quem parece ter acordado há pouco, se arrastando pela quadra, mas influenciando a partida de diversas maneiras, especialmente com sua vocação para o passe. De longa envergadura, também pode fazer boas coberturas defensivas, apesar de lento. Seu estilo único desafia os scouts da NBA, que não conseguem encontrar um paralelo na liga para fazer qualquer comparação.

Trey Burke, armador de Michigan, 20 anos, sophomore. Estatísticas.
No ataque é completo, podendo fazer um pouco de tudo, atacando o garrafão com esperteza, habilidade e agilidade, convertendo também 40% dos arremessos de três pontos. É um bom passador, mas pode prender muito a bola também quando não sente confiança em seus companheiros de perímetro. Aliás, se for para ver Burke, já dá para observar de uma vez outros dois jogadores curiosos, de pedigree de NBA: Tim Hardaway Jr., filho do armador brilhante do Golden State Warriors, e Glenn Robinson III, filho do ala que já foi o número um do Draft de 1994 pelo Milwaukee Bucks. Vale também se encantar com o arremesso do ala Nik Stauskas (44,9% de fora).

Doug McDermott, ala de Creighton, 21 anos, junior. Estatísticas.
Todo ano a América profunda (e branca) precisa adotar um darling por quem torcer no torneio, e McDermott talvez seja o principal candidato ao posto já ocupado por Adam Morrison e outros que não o JJ Redick, que fazia as vezes de vilão. Um excelente arremessador, um arma de todos os cantos da quadra, matando 58,9% de dois pontos e sensacionais 49,7% de três. Também tem bons movimentos de costas para a cesta, vai bem nos rebotes, mas peca na defesa, sem a dedicação necessária para compensar sua vulnerabilidade a ataques frontais. E, se for para assistir McDermott, vale também conferir como anda o progresso do pivô Greg Echenique, aposta da seleção venezuelana que deve jogar a Copa América deste ano.

Ben McLemore, honrando a 23

Permissão para decolar conedida, McLemore

Ben McLemore, ala de Kansas, 20 anos, freshman. Estatísticas.
Chegou a uma das universidades mais tradicionais do basquete americano sem muita fama ou fanfarra, ficou afastado do time no ano passado e estreou nesta temporada completamente modificado, mais forte e com um arremesso refinado. Salta e corre demais e, por isso, se apresenta como uma excelente opção na transição. Também se movimenta bem fora da bola, em cortes para a cesta. Criar por conta própria, porém, ainda não é seu forte, com um drible deficiente, sem saída para a esquerda. Na defesa, pode se desconcentrar com facilidade, mas possui os atributos necessários para fazer um bom papel na NBA. Candidato ao primeiro lugar do Draft deste ano.

Victor Oladipo, ala de Indiana, 20 anos, junior. Estatísticas.
Um incendiário, ou algo muito perto disso. Energético, daqueles que não para nunca em quadra, é um defensor excepcional no perímetro que já mereceria uma boa atenção dos olheiros. Para completar, progrediu consideravelmente no ataque este ano, passando a acertar com maior frequência seus arremessos de três pontos. Assim como McLemore, funciona mais em quadra aberta, decolando e enterrando. Em meia quadra, ataca os rebotes ofensivos com voracidade incomum para alguém que vem do perímetro.

Kelly Olynyk, ala-pivô de Gonzaga, 21 anos, junior. Estatísticas.
Líder de uma das melhores equipes dos EUA. Leia mais sobre ele aqui. É um dos inúmeros jovens talentos do Canadá a despontar no circuito universitário. Nesta onda também está seu companheiro de Gonzaga, o armador Kevin Pangos, um jogador cerebral, assim como o ala Anthony Bennett, calouro de UNLV, de 2,01 m, mas um tanque debaixo da cesta e extremamente atlético.

Otto Porter, ala de Georgetown, 19 anos, sophomore. Estatísticas.
Um prospecto inexperiente, mas já consideravelmente sólido, com bons fundamentos de rebote, passe e arremesso, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque, podendo produzir para sua equipe sem necessariamente ser o centro das atenções. Esguio, com os braços longos, é outro com atleta com bastante potencial para a defesa. Top 5 ou 10 no próximo Draft.

Marcus Smart

Um tanque de guerra modelo Smart

– Marcus Smart, armador de Oklahoma State, 19 anos, freshman. Estatísticas.
Fisicamente, este jovem armador parece um homem entre garotos. Extremamente forte, pode atropelar os marcadores na base do contato, abrindo um corredor em direção ao aro, embora nem sempre use este recurso, parando no meio do caminho para arremessos forçados e inconsistentes. Tem um primeiro passo explosivo, mas talvez precise afinar um pouco o corpo para ganhar em velocidade e elasticidade. Na defesa é que mostra maior potencial, com mãos ágeis e muita combatividade para alguém de sua idade. Visto como um potencial candidato a número um do Draft deste ano, ainda como um diamante em estado bruto. Não custa, aqui, olhar para o ala Markel Brown, cestinha bastante atlético, sempre candidato aos melhores momentos da rodada.

– Nate Wolters, armador de South Dakota State, 21 anos, senior. Estatísticas.
É um armador alto que compensa sua velocidade reduzida com muita inventividade no drible, arrumando espaço para infiltrações de passo em passo, tudo no tempo certo, seja no mano-a-mano ou em combinações de pick-and-roll. Controla bem a bola embora seja muito exigido no ataque de sua equipe, que já está satisfeita apenas de ser convidada para a festa, sem ambição alguma de título. Pode não causar a comoção nacional que causou Jimmer Fredette em seus tempos de BYU, mas é constantemente comparado ao armador reserva do Sacramento Kings. Contra Burke, na primeira rodada, ganha a chance de aparecer em uma competição de elite para os scouts da NBA.


Com paridade em destaque, mata-matas da NCAA começam nesta terça
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Giancarlo Giampietro

Por Rafael Uehara*

O NCAA Tournament, competição que decide o campeão universitário do basquete americano, se inicia nesta terça-feira com a paridade entre os times como seu maior destaque. Nenhuma equipe foi indisputavelmente dominante durante a temporada, caso oposto ao ano passado quando o Kentucky Wildcats atropelou a concorrência a caminho do primeiro título nacional da carreira do técnico John Calipari, que serviu de validação ao seu modelo de recrutamento com foco em jogadores que passam apenas um ano jogando basquete colegial e seguem em frente para a NBA.

Mr. Pitino, nem sempre bem lembrado pelos torcedores do Celtics

Pitino e seu terno tentam confirmar posto de cabeça-de-chave número 1 para Lousville

Ma se a fórmula pagou dividendos no ano passado, o tiro saiu pela culatra este ano. Com o time todo reformulado, Kentucky surpreendentemente falhou em se classificar para o torneio, sendo mandado invés para o NIT – competição secundária e considerada humilhante para times do status de Kentucky. Vale a pena mencionar que a lesão do pivô Nerlens Noel – possível primeira escolha no próximo Draft – atrapalhou demais na arrancada final. Porém, o time já decepcionava antes de sofrer com a ausência de Noel.

O Gonzaga Bulldogs chega ao torneio rankeado como o número um em pesquisas da imprensa americana, com 31 vitórias em 33 jogos. Mas o Louisville Cardinals, oitavo nos votos dos jornalistas, é que será o nominal cabeça de chave geral, jogando a primeira fase mais próximo de casa que qualquer outro time. Isso é reflexo de um algoritmo antiquado usado pelo comitê que decide os qualificados e constrói a tabela. A fórmula julga a tabela das conferências chamadas “Power 6” com maior força do que aquela de conferências de menor representação, mesmo que isso não seja verdade absoluta nos tempos de hoje em dia. Por isso o título de campeão da Big East vale mais para Louisville do que da WCC para Gonzaga, nos olhos daqueles que tomam as decisões.

Por outro lado, o Indiana Hoosiers é o clube visto como o principal favorito entre os cabeças de chave. Indiana começou o ano número um na pesquisa entre os jornalistas. O time que chegou ao round das oitavas de final na temporada passada contou com o retorno de Cody Zeller e Victor Oladipo, projetados como top 10 escolhas no próximo Draft, e trouxe uma classe de novatos que preencheu algum dos buracos que o time do ano passado tinha. Os Hoosiers jogam o basquete universitário mais agradável, com um ataque veloz que toma vantagem da capacidade de Zeller de arrancar em contra-ataques, qualidade incomum para pivôs de sua estatura. Para mais detalhes sobre os Hoosiers, aqui segue uma prévia completa sobre eles.

Cody, irmão de Tyler Zeller. E do Luke

Cody Zeller: pivô extremamente veloz de Indiana, lutando pelo título

Não se deve esquecer também do imortal Kansas Jayhawks, de Bill Self, não importando o quão forte a classe anterior foi, se as expectativas para o time  deste ano eram menores, ou se alguém sequer está prestando atenção. Kansas sempre ganhará sua conferência e chegará ao torneio como concorrente a ser levado a sério, e esse é o caso mais uma vez nesta temporada. O grupo que jogou a final do ano passado perdeu seu maior anotador em Tyshawn Taylor e o superatlético Thomas Robinson, mas – como é de regra em Kansas – não perdeu o sono, trocando facilmente suas peças. Liderados pela revelação Ben McLemore, ala que é projetado como top 5 no próximo draft, venceu 29 de seus 34 jogos a caminho da cabeça de chave no lado Sul da tabela.

O Duke Blue Devils, de Mike Kzryzweski, técnico da seleção americana nas últimas duas Olimpíadas, não será cabeça de chave, mas é visto por muitos como o time que mais impressionou quando completo. Devido a lesões do ala-pivô Ryan Kelly e do atirador Seth Curry, Duke tropeçou algumas vezes durante a temporada, mas, quando contaram com força máxima, os Blue Devils perderam apenas para o rival Maryland no torneio da conferência. Um ponto contra é que o time de Kzryzewski é um tanto quanto dependente do tiro de três pontos e pode ser derrubado por qualquer um naquele dia em que nada está caindo de longa distância, como aconteceu no ano passado quando Lehigh mandou os Blue Devils pra casa.

Outros times que merecem atenção: o Saint Louis Billikens é um time muito físico que tem jogado com motivação extra; o técnico do time na temporada passada faleceu pouco antes do início do ano e esse grupo tem jogado em sua honra. Tom Izzo sabe como levar seu Michigan State Spartans o mais longe possível. Bo Ryan e Wisconsin, com seu jeito monolítico, lento que só, procurando limitar o número de posses, bateram Indiana duas vezes esse ano. Porte atlético é que não falta ao New Mexico Lobos e o UNLV Running Rebels. VCU e Butler são programas conhecidos por fazerem as finais em anos recentes com técnicos progressivos. Trey Burke e Ottor Porter podem carregar Michigan e Georgetown nas costas. Florida é letal de fora de arco e protege seu garrafão extremamente bem. Muitos ainda esperam que Shabbaz Muhammed exploda com o UCLA Bruins pelo menos uma vez antes de seguir em frente para a NBA. E o Miami Hurricanes tem o time mais velho do basquete universitário, e nesse nível de competição, idade importa bastante; basta olhar os homens feitos que o Miami põe em quadra e o quão franzino Kyle Anderson do UCLA é, por exemplo.

Mas a melhor parte de “March Madness” é que tudo pode acontecer e todos os 68 times, não os favoritos ou os que chamam maior atenção, tem condições de pegar fogo e fazer história nessas próximas três semanas.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


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