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Jukebox NBA 2015-16: Utah Jazz, “coloca o Raul”
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Tente Outra Vez”, por Raul Seixas

“Coloca o Raul!”

Se algum brasileiro estiver presente na plateia de um jogo do Utah Jazz, duvido muito que, depois de um copão de cerveja (porque lá é tudo gigante, mesmo), não tenha feito o trocadilho, sem que ninguém ao seu lado entendesse, muito menos o técnico Quin Snyder. Então aqui temos a única música brasileira na trilha sonora da temporada, por motivos óbvios. E, desculpem, piada era muito infame para ser evitada. : )

Por três, quatro meses, os pedidos foram atendidos: Raulzinho não só estava jogando em seu ano de novato, como havia sido eleito o titular. Quando foi selecionado para participar do jogo da garotada no fim de semana do All-Star, teve suas melhores atuações, a confiança visivelmente reforçada. Acontece que,  logo quando voltou das festividades em Toronto, recebeu uma notícia que servia como pulga atrás da orelha: o clube contratou um armador. Fosse uma estrela, um jogador de ponta, talvez fosse fácil de compreender. Mas, não, quem chegou foi Shelvin Mack, um cara que, até o momento, praticamente passou batido desde que foi selecionado pelo Wizards em 2011.

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Tom Thibodeau costuma dizer que, se o cara já está na NBA, é por ser um grande jogador. E está certo. Mas, entre esses grandes jogadores, há uma separação de castas, claro. E não dá para dizer que Mack faça parte da elite. Mesmo assim, bastou uma boa partida em sua estreia, para o armador de 25 anos assumir o posto de titular. Ele nem sabia as jogadas, muito menos seus nomes.

“Eu me senti muito bem. Não jogava tanto assim há um tempo. Venho trabalhando muito duro, aguardando por minha oportunidade. Foi muito bom sentir isso novamente”, afirmou o veterano, que tinha participado de 24 jogos com o Atlanta, com apenas 7,5 minutos, atrás de Jeff Teague e do Schrödinho. Se Snyder seguir prestigiando o recém-contratado, isso vai empurra o brasileiro para uma disputa ferrenha por minutos com Trey Burke. E o pesadelo de Rubén Magnano só fica mais intenso.
Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Então vem daí a escolha de “Tente Outra Vez”, então? Poderia ser, para que Raul mantenha a cabeça erguida e brigue por seus minutos. Mas a canção (separada antes de o campeonato começar, juro), tem mais a ver com o fato de o Utah tentar, enfim, voltar aos playoffs com seu segundo núcleo desde a era Stockton-to-Malone. O grupo com Deron, Boozer, Kirilenko e Okur (mais uma participação especial do Baby, por meia temporada!) até chegou a uma final de conferência, mas não teve chance nenhuma contra o Lakers. Agora, num processo bastante paciente de reformulação, depois de alguns anos de draga geral, a família Miller espera que sua diretoria tenha reunido peças em torno das quais possa se construir uma equipe vencedora.

As coisas estão caminhando bem nesse sentido, com o chefão de longa data, Kevin O’Connor, delegando poderes a Dennis Lindsey, mais um aluno do Instituto Gregg Popovich & R.C. Buford Spursiano de Basquete. Tal como o Philadelphia 76ers, mas sem fazer tanto estardalhaço, o clube vem bancando uma folha salarial barata para os padrões da liga, dando espaço a jovens apostas do Draft e buscando um ou outro talento na D-League. No ano passado, com a contratação de um verdadeiro professor, Quin Snyder, a equipe passou a ser mais competitiva. Depois do excelente rendimento que o time teve nos últimos meses da temporada passada, muitos esperavam que os garotos já pudessem se meter na briga com os grandes do Oeste, ou pelo menos incomodá-los mais. Que tivessem pelo menos um aproveitamento entre 55 e 60%, que o colocasse na briga pela quinta posição da conferência, ficando abaixo do quarteto Warriors/Spurs/Thunder/Clippers.

Não foi possível, por ora. A campanha na primeira metade da temporada foi gravemente atrapalhada por lesões e longo período de afastamento para Derrick Favors e Rudy Gobert. Quando o francês retornou, o americano saiu de cena. Agora estão reunidos, e fica a expectativa de que o time como um todo possa apertar o passo, no mesmo ritmo de 2015, e superar Mavs, Blazers e Rockets para se meter entre os oito melhores. Vamos ver.

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Para isso, precisam que seu núcleo central, com os dois grandões acima e Gordon Hayward e o emergente Rondey Hood, se mantenha saudável. Pois, como pudemos ver, ainda há limitações no elenco para lidar com desfalques do tamanho de seus excelentes pivôs, em todos os sentidos. Jeff Withey e o habilidoso novato Treyl Lyles tiveram seus momentos, mas estão num nível abaixo, e a defesa icou comprometida.

(PS: As produtivas atuações de Withey, todavia, depõem contra o gerente geral do Pelicans, Dell Demps, que tem de se explicar por permitir que o espigão fosse embora de graça, enquanto Omer Asik e Alexis Ajinça não conseguem dar cobertura a Anthony Davis. Já Lyles teve lampejos que mostram que Phil Jackson não estava tão maluco assim ao namorar o ala-pivô canadense antes do Draft.)

De qualquer forma, a maior carência, admitamos, estava na armação, como a contratação de Shelvin Mack não deixa negar. Lindsey falou com seu ex-companheiro Mike Bundeholzer para sondar a disponibilidade de Jeff Teague, não gostou do preço alto estipulado e, com o aval de Snyder e Hayward, se contentou com o terceiro armador da rotação do Hawks. Ao justificar a negociação, Snyder atentou para o fato de ter usado até seis jogadores diferentes na condução da equipe em minutos finais durante a temporada, com direito a improvisos. Quer dizer: em sua cabeça, repete-se um mantra que não podemos esquecer e que Manu Ginóbili sabe de cor: “Não importa quem começa o jogo, mas, sim, quem termina”.

Não é um demérito para o brasileiro, que, muito jovem, fez boas campanhas numa concorrida Liga ACB por anos e anos. A NBA é outra história, porém, e ainda estamos falando de um calouro se ajustando a este nível elevado de basquete. Como ponderação, basta observar o que se passa com Burke, oras. O rapaz foi uma estrela  de high school em Ohio e teve uma carreira bastante badalada pela Universidade de Michigan. Agora está prestes a ser descartado.

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Além disso, também não podemos nos esquecer que o plano de Snyder e Lindsey era por o exuberante Dante Exum como dono da posição. Uma infeliz lesão em amistoso pela seleção australiana, porém, o tirou do campeonato, abrindo espaço para Raulzinho. Ele aproveitou do jeito que dava, ganhou elogios de seu treinador por seu empenho defensivo e por sua estabilidade, mesmo sendo um novato. Mas não convenceu o bastante.

“Tivemos, não vou dizer uma porta giratória, mas tivemos de encontrar opções internamente, essencialmente usando nossos caras fora de posição. Se tivesse três armadores no início do ano, você veria algum tipo de separação entre eles. Mas não aconteceu isso. O resultado é que esse processo acontece agora. Vou ter de tomar algumas decisões em relação a quem vai jogar”, afirmou Snyder.

“Será muito fácil questionar algumas dessas decisões num período tão curto. Mas tomara que, com o tempo, vamos ganhar mais continuidade nessas escalações. Para chegarmos a conclusões, é importante que usemos Shelvin. Ele não teve chance de jogar muito neste ano. E por isso conseguimos a contratação. Ele é um armador de porte físico maior. Vale cada centímetro de seu 1,91m de altura e cada grama de seus 94kg. Em algumas ocasiões, essa fisicalidade em um jogo desta natureza é importante. Tivemos algumas ocasiões recentemente em que fomos superados fisicamente. Ele é diferente dos outros dois. Eles são muito diferentes , na verdade.”

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

O que dá para entender da fala do técnico: o plano era ter Exum no time titular, e Raulzinho desafiando Burke por minutos vindo do banco, com o americano levando vantagem por ter mais poder de fogo, sendo utilizado mais como pontuador do que organizador vindo da segunda unidade. É algo que se encaixa melhor na rotação, e aqui precisamos ressaltar que tipo de jogador está ao lado dos armadores no perímetro.

Hayward tem muita habilidade e vai ser o criador primário em muitas ocasiões. Nas últimas semanas, Hood também entrou nessa discussão, ganhando mais e mais admiradores entre os scouts. Nenhum deles chega a ser um James Harden, retendo tanto a bola assim. Mas é fato que o armador do Utah, qualquer que seja, tem de dividir a bola de um jeito diferente do que um ataque mais tradicional sugeriria. “Espero apenas que esses caras sejam agressivos”, diz Snyder. “E aí vamos continuar observando e ver o que acontece.”

Seguindo o raciocínio do treinador, é provável, então, que, assim como nos botecos por aí, o grito de mais “Raul” não adiante muito. Nem mesmo vindo de Magnano.

 A pedida: playoffs, dãr.

A gestão: conforme dito acima, Dennis Lindsey vem tendo todo o cuidado na construção de seu elenco, numa transição lenta e, ao seu ver, segura. A diferença, em relação ao que o agressivo Sam Hinkie apronta em Philadelphia, é que, sitiado no alto das Montanhas Rochosas, seu ritmo como negociador é bem mais pacato.

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz e daqueles que mete a mão na massa, surpreendendo até os mais veteranos. Corrige fundamentos mesmo durante partidas e tal, coisa que, em meio a jogadores milionários, não é de costume

Lembremos que, para chegar ao estágio atual, o clube abriu mão, de uma só vez, da dupla Al Jefferson e Paul Millsap. Assim como Philly fez com Thaddeus Young, Evan Turner & Cia. Desde então, porém, basicamente adicionou a sua base os escolhidos via Draft e algumas especulações pontuais da D-League. Mal investiu em agentes livres, mas também não participou de muitas trocas assim. De novo: precisando de alguma ajuda para se estabelecer no Oeste, eles se contentaram com Shelvin Mack.

Só fica uma dúvida: será que não era a hora de investir mais? Tudo bem evitar Teague se o Atlanta estivesse pedindo, realmente, uma escolha de primeira rodada mais um jogador jovem (de repente Alec Burks…). Aí não adianta se precipitar e pagar muito caro.  Mais:n um elenco jovem, Favors e Hayward já ganharam um bom aumento, e se aproxima a hora de que Rudy Gobert vai receber uma inevitável proposta de salário máximo. Num mercado pequeno, que não atraiu tanta gente assim nos últimos anos, você tem de ser cauteloso e guardar uma grana para tentar manter suas revelações.  O outro lado é que, num ano mais fraco do Oeste, há uma clara oportunidade subir na tabela. Chegar aos playoffs, mesmo com uma queda na primeira rodada, já rende um bom troco em bilheteria e TV. O desenvolvimento interno de Hood, Lyles, Raul e outros será o suficiente para compensar a inércia? É nisso que Snyder aposta, na certa.

De todo modo, em julho, chega a hora a de usar o largo espaço salarial em busca de um ou outro agente livre qualificado e mais experiente, dependendo especialmente da saúde de Dante Exum e Burks, caras talentosos, mas que agora são cercados por algumas questões físicas.

Olho nele: Rodney Hood.

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

Quanto mais alta sua escolha no Draft, a matemática histórica nos diz que você tem maior probabilidade de conseguir um jogador relevante. É uma loteria, então? Do ponto de vista do Utah Jazz, talvez não. Para um clube que selecionou Rudy Gobert em 27º e Hood em 23º, talvez essa lógica não cole. O pivô francês já tem uma baita moral na liga. Hood, mês a mês, vai chegando lá.

Que Hood tenha deslizado tanto assim no recrutamento de 2015 é difícil de entender. Talvez os olheiros estivessem muito mais atentos em Jabari Parker, ignorando seu arremesso suave de canhota, com uma boa elevação devido a sua estatura, e visão de quadra. Ele era um assessor em Duke, mas vai mostrando rapidamente em Salt Lake que tem muito mais recursos, funcionando até mesmo como arma na chamada de pick-and-rolls. Em 25 partidas desde a virada do ano, vem com médias de 18,3 pontos, 2,8 assistências (contra 1,7 turnover e 43,8% nos arremessos de fora e 88,6% nos lances livres. Numa divisão por shooting guards (algo que, na NBA de hoje, não diz muito), ofensivamente, o ala aparece como o sétimo no ranking de Real Plus-Minus do ESPN.com, atrás de Harden, Butler, DeRozan, Middleton, Klay e Redick, acima de Ginóbili, McCollum e J.R. Nada mal.

A defesa, porém, é outra história. Ele é facilmente batido em sua movimentação lateral e, em geral, precisa ser muito mais combativo. Ainda assim, já vale como um fator positivo para o time nessa reconstrução.

raul-lopez-trading-card-utahUm card do passado: Raúl López. Vocês se lembram? Raulzinho já teve, há 14 anos, um xará vindo do basquete espanhol que era aguardado por ansiedade por sua fanática torcida. Com algumas diferenças, claro: López tinha a missão de substituir ninguém menos que John Stockton e chegava a Salt Lake City mais bem cotado, como o 24º do Draft de 2001, quatro posições acima de outro jovem armador europeu, Tony Parker.

Acontece que o jogador que estreou pela franquia em 2003 não era o mesmo de dois ano antes, e não é que tivesse evoluído. Foi o contrário. No meio do caminho, a serviço pelo Real Madrid em 2001, o catalão sofreu uma grave lesão no joelho direito (ligamento cruzado anterior). Quando assinou com o Utah em 2002, teve a mesmíssima lesão em um amistoso pela seleção espanhola. Sem confiança, com menos velocidade e arranque (algo fundamental para um jogador de 1,82m (se tanto) fazendo a transição para os Estados Unidos, não teve sucesso.

Em sua temporada de novato, conseguiu disputar todas as 82 partidas, com médias de 7,0 pontos e 3,7 assistências em 19,7 minutos, acertando apenas 29,4% dos arremessos de três e 43,1% no geral. Em 2004-05, voltou a sentir o joelho, e foi limitado a 31 partidas. Na hora de renovar seu contrato, o Utah preferiu trocá-lo com o Memphis Grizzlies, que já contava com Pau Gasol. López, porém, nunca mais jogaria pela NBA, sem repetir a parceria com seu compatriota e velho amigo das divisões de base. Chegou a ganhar a prata olímpica em Pequim 2008, foi campeão europeu pela seleção, mas num nível bem abaixo do que se esperava. Hoje, aos 35, ainda joga pelo Bilbao, com 17 minutos em média.


Raulzinho é a mais nova adição ao núcleo jovem do Utah Jazz. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho esperou por dois anos, mas chegou a hora de botar no papel. Nesta quinta-feira, o armador assinou por três anos com o Utah Jazz para ser o sétimo brasileiro na NBA de hoje — e o 14o. na história. Existe uma grande diferença entre ser um jogador draftado pela liga e com um  contrato. “Achei que era um sonho sendo realizado quando fui selecionado, mas agora vejo o que é o sonho de verdade”, disse o armador já diante dos repórteres de Salt Lake City, no último dia da liga de verão local.

Com o acordo oficializado, então é a hora de tentar entender o que cerca a vida de “Raul Neto” (HA-OOL, nos ensinam) em seu novo clube e o quanto esta movimentação pode interferir em seu desenvolvimento.

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De cara, o que temos de informação: parece uma declaração óbvia para um clube que foi seguiu em seu encalço no Draft de 2013, mas a diretoria do Utah Jazz realmente adora seu prospecto de 23 anos. Durante a cobertura do All-Star Game em Nova York, tive a chance de conversar com o repórter Jody Genessy, setorista do clube pelo Desert News. Ele disse que o time não via a hora de trabalhar diretamente com o jovem atleta. A chance chegou, e as atividades já vão começar nesta semana, em Las Vegas. Segundo Genessy, porém, ele não vai jogar a liga de verão local, mas, sim, treinar com um grupo de veteranos do time.

(Um parêntese aqui: fico no aguardo pela reação de Rubén Magnano… O técnico, que apostou lá atrás num ainda adolescente Raulzinho,  esperava um papel de protagonismo para o atleta nos Jogos Pan-Americanos, e seria realmente interessante acompanhá-lo nessa empreitada. Ficou a ver navios nessa. A expectativa da CBB era a de que o armador se reapresentasse até esta sexta-feira para embarcar rumo a Toronto. Não rolou, por motivos óbvios. A dúvida: ele ainda vai jogar o Pan, mesmo perdendo tanto tempo de preparação? O torneio começa dia 20. Suponho que já esteja fora, e aí precisaria ver quem seria chamado para substitui-lo. Provavelmente alguém a serviço na Universíade, ficando a eventual vaga entre Gui Deodato, Deryk, Gegê, ou Henrique Coelho.  Vai rolar alguma mágoa? De todo modo, a seleção já está bem servida com Rafael Luz, Ricardo Fischer, Larry Taylor e Vitor Benite. Os dois mais jovens têm uma bela oportunidade para mostrar serviço agora.)

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Voltando ao Utah Jazz, Raulzinho entra em um clube com elenco jovem e cheio de potencial para fazer barulho na próxima temporada. Se a campanha depois do All-Star Game serve de algum indício, o time vai brigar por uma vaga pelos playoffs em 2016, já que venceu 19 de suas últimas 29 partidas, com um aproveitamento de 65,5%. Sétimo colocado neste ano, o Dallas Mavericks teve 61,0% de rendimento, enquanto o New Orleans Pelicans, oitavo, ficou com 54,9%.

Capitaneada pelos braços infinitos de Rudy Gobert, a equipe passou a ter a defesa mais dura de toda a liga, e de longe. Há quem acredite que esse tipo de progresso em meio a um campeonato não se traduz automaticamente para o seguinte, uma vez que os adversários vão se debruçar em estudos e já desenhar os ajustes necessários. Ação e reação.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Ainda assim, o núcleo do Utah também naturalmente vai evoluir, como se espera com atletas tão jovens. Gordon Hayward (o principal criador do time, versátil e confiante), Derrick Favors (em progressão gradual e segura, rumo ao All-Star, se é que alguém repara ou liga) e, principalmente, Gobert cresceram uma barbaridade durante a campanha e ainda têm mais o que render. Esses são os principais nomes, hoje, mas o elenco que o gerente geral Dennis Lindsey reuniu oferece diversas alternativas para o técnico Quin Snyder. Os alas Alec Burks e Rodney Hood já tiveram seus lampejos. O canadense Trey Lyles, muito bem cotado desde o colegial, acabou de chegar para reforçar o jogo interior.

E ainda tem o prodígio australiano Dante Exum, aparentemente efetivado como armador titular, tendo apenas 19 anos. Para uma escolha número cinco de Draft, é natural que a cobrança seja em outro patamar. Nesse sentido, a primeira campanha entre os profissionais foi tímida, para dizer o mínimo. Os críticos mais apressados, no entanto, ignoram o contexto. Se Bruno Caboclo teria dificuldades em deixar a LDB e a reserva do Pinheiros para se provar nos Estados Unidos, o que dizer de um carinha que jogava com adolescentes na Austrália? Que Exum tenha começado 41 jogos como titular e segurado as pontas na defesa, com sua agilidade e envergadura, já é um feito e tanto.

Basta observá-lo em quadra por um ou dos minutos para salivar com seu potencial — por mais talentosos que Hayward, Favors e Gobert sejam, esse garoto pode se tornar algo maior, pasme. Não é garantia, mas ainda há muito o que sair dali, e Snyder tem reputação excelente no trabalho de fundamentos com os atletas. Em sua primeira partida nesta temporada de verão, encarando defensores encardidos como Marcus Smart e Terry Rozier, do Boston, Exum já botou para quebrar, até sair de quadra com uma torção no tornozelo. Estamos falando do dono da posição, mesmo.

Para desgosto de Trey Burke, que tinha plena fé de que chegaria à NBA para ser um armador de ponta. O baixinho, que custou duas escolhas de Draft ao Utah também em 2013, ainda não conseguiu encontrar uma zona de conforto em meio aos cachorrões. Seus dribles de hesitação não são o suficiente para conseguir a separação mínima para seus arremessos. Em duas temporadas, ele só acertou 37,4% de seus arremessos de quadra, 32,4% na linha de três, e não é que tenha compensado tantos erros com um bom número de lances livres (só cobra 1,8 por partida) ou controle de jogo apurado (mira muito mais a cesta que seus companheiros). Sair do banco, como pontuador, talvez seja o seu destino, ainda que precise elevar sua eficiência para cumprir bem esse papel.

Ninguém da franquia vai falar abertamente a respeito, até para não avariar ainda mais sua cotação, mas não é segredo que o clube tenha se decepcionado com Burke. Os scouts mais otimistas esperavam que estivesse saindo um líder da Universidade de Michigan, um jogador com personalidade e recursos técnicos para compensar o que fica devendo em físico. Não aconteceu até o momento. Ainda que só tenha 22 anos, ele não evoluiu nada entre a primeira campanha e a segunda. Dá para dizer que tenha regredido, inclusive. Se for para investir tanto em alguém, a bola da vez vem da Austrália.

Como fica Raulzinho nessa, então? Em tese, ele foi contratado para ser o terceiro armador da equipe. Foi o que a diretoria lhe passou, ao sondar a possibilidade de ele deixar o basquete espanhol para cruzar o Atlântico. Na NBA, porém, as coisas avançam com uma velocidade impressionante, e talvez baste uma proposta razoável por Burke para que o brasileiro seja promovido.

Se for para falar em hipóteses, no entanto, talvez o mais simples seja o próprio jogador desbancar a concorrência no dia a dia de treinos. Admiradores dentro do clube ele já tem. Agora resta confirmar essas sensações na prática. O que o atleta entrega desde já é a visão de quadra fora do comum, a predisposição ao passe, característica que cai bem a qualquer grupo, mas principalmente no tipo de ataque que Snyder projeta. É um perfil que já difere. “Só quero aprender a cada dia. Quero melhorar meu jogo. Ainda não falei com o técnico, mas vai ser a escolha dele os minutos que jogarei. Estou aqui para fazer meu trabalho”, afirmou o armador.

Mesmo que, num primeiro momento, encontre dificuldades, acredito que, a longo prazo, a decisão de encarar a nata do esporte nos Estados Unidos é a mais indicada. Por quê? Raul sempre foi um armador muito arrojado. A experiência na Espanha foi muito valiosa para que aprenda a cadenciar as coisas, a maneirar em seu ritmo de jogo, mas por vezes pode ser um tanto amarrada. É com um jogo agressivo que ele pode render mais. A despeito da capacidade atlética bem mais elevada que ele vai encarar daqui para a frente, as dimensões mais espaçadas e a própria velocidade do jogo tendem a favorecê-lo, a deixá-lo mais solto. E fazer coisas do tipo:

Em Utah, o armador vai ter de melhorar de modo significativo seu arremesso de três pontos para ter mais chances (em sua carreira pela Liga ACB, converteu míseros 22,9% em suas tentativas). Na defesa, o trabalho de pernas no deslocamento lateral será exigido como nunca viu antes. Enfim, há muito o que aprimorar, para além de seu talento natural. Vamos esperar para ver. Por enquanto, Raulzinho vai curtindo seu sonho. Para valer.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


O povo de Utah tem um novo inimigo: Enes Kanter
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Giancarlo Giampietro

Gobert, aquele que herdou a vaga do "ex-jogador"

Gobert, aquele que herdou a vaga do “ex-jogador”

Existem aqueles caras que não falam nada, para desespero dos jornalistas. Você repete a pergunta de diversas formas, para ver se tira algo, e não sai. Mas também há aqueles que são os mais procurados por terem a matraca solta. Não importa se choveu ou fez sol, se teve derrota ou vitória, vão tagarelar.

E tem o Enes Kanter, que está numa classe só sua desde o sábado, quando retornou a Salt Lake City pela primeira vez como jogador de OKC e cuspiu marimbondos ao falar sobre sua ex-equipe.

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O pivô turco disse basicamente que só quando chegou ao Thunder que foi perceber o que era um time, um clube de NBA de verdade, embora não quisesse especificar quais os detalhes que o levaram a essa conclusão. O que importava é que, pela primeira vez, ele afirma que estava curtindo a liga americana. “Acho que a diferença provavelmente é que eu gosto de jogar aqui. É a coisa mais importante. Eu não gostei de jogar basquete antes em minha carreira de NBA. É a primeira vez que gosto de jogar basquete para meu time, meus torcedores, companheiros, treinadores, todos. Essa é a primeira vez. Não era uma frustração de um ou dois jogos. Mas, sim, uma frustração de três anos e meio.”

As declarações foram dadas em pleno ginásio do Utah Jazz, no treino leve da manhã, de aquecimento para a partida. Você pode imaginar o que aconteceu horas mais tarde…

(…)

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Acho que a expressão facial de Gordon Hayward e Trevor Booker diz tudo, né?

Sem a galera. As vaias constantes e a barulheira geral de uma fervorosa torcida, que que abraça sua jovem equipe – numa das raras cidades em que a franquia de NBA é a principal atração esportiva, no alto das montanhas, com uma religião predominante diferente do restante do país, entre outros fatores que sugerem um “isolamento”.

Vejam, por exemplo, o que o narrador das transmissões oficiais do Utah, David Locke, teve a dizer: “Numa nota oficial, sempre fui um fã de Enes. Conheço todos os seus defeitos, mas os aceitei e esperei que melhorasse. Mas ele se expôs tanto dessa vez que agora está sozinho, por conta. Nós o protegemos e cuidamos dele nos últimos anos e continuaríamos fazendo isso, mas agora ele está por conta”. Em tempo: Locke pode proteger alguns interesses do clube devido ao seu cargo, mas é um jornalista sensato, que não evita cobranças públicas e análises mais duras em tempos difíceis.

É justamente contra esse tipo de comunidade que você não quer ficar. Kanter deu de ombros e comprou a briga – resta saber se com plena consciência do que estava fazendo, ou se simplesmente sem se dar conta do péssimo timing para abrir o coração. Lembrete: sem Kevin Durant e Serge Ibaka, OKC e Russell Westbrook estão usando a reserva do tanque para garantir a oitava colocação da conferência.

Pois, naquela noite quente em Salt Lake City, tudo do que eles menos precisavam era uma cidade inteira querendo sangue. Sobrou cotovelo e empurrão para tudo que é lado na vitória do time da casa.

Westbrook e seus parceiros começaram o jogo em ritmo frenético, dando suporte ao turco. Do segundo período em diante, porém, intensidade dos enervados anfitriões prevaleceu. O Utah venceu o jogo por 94 a 89, mesmo que tenha acertado sofríveis 38,1% de seus arremessos e errado 23 de 29 chutes de três pontos. Por outro lado, forçaram 23 turnovers (contra apenas 11 cometidos) e cometeram 29 faltas. Foi um jogo feio, brigado, do jeito que desejavam, ao que parece.

Kanter somou um double-double, com 18 pontos e 11 rebotes, em 34 minutos, acertando 7 de seus 13 arremessos e deu dois tocos ainda – mas cometendo quatro desperdícios de posse de bola.

Pergunte, então, ao Trevor Booker, seu antigo reserva, o que ele tinha a dizer a respeito… “Ele conseguiu os números dele e também a derrota. Como sempre”, disse o ala-pivô.

Pow!

Essa foi a resposta mais ferina da noite – depois da vitória, claro. Mas tem muito mais. Gordon Hayward admitiu: “Ele nos deixou putos, honestamente. Queríamos essa vitória de qualquer maneira”. O mais engraçado foi que o novo astro da franquia se recusou a se referir ao turco pelo nome. “Todos nós ouvimos o que o ex-jogador falou.”

Rancor é pouco. “Virou muito pessoal para nós. Tentamos nos afastar desse tipo de coisa, mas dessa vez nos sentimos desrespeitados”, afirmou Trey Burke. “A quadra sempre fala melhor do que qualquer palavra”, disse Rudy Gobert, justamente o maior beneficiado pela saída de Kanter. Aliás, a ascensão do pirulão francês combinada com a troca de Kanter transformou a equipe em quadra. Esse fator, na verdade, é o que pega mais mal nas declarações de Kanter.

Westbrook, o técnico Scott Brooks, o ala Anthony Morrow e todos em OKC estão vendo de perto o potencial do pivô turco no garrafão, como cestinha e reboteiro. Ex-dirigente do Phoenix Suns, analista do ESPN.com, Amin Elhassan conta um pouco mais a respeito, dando bons argumentos que ajudam a entender o discurso do atleta. Em Utah, Kanter nunca pôde ser uma referência ofensiva no jogo interior, como seu pacote técnico pede. Primeiro, estava no banco de Millsap e Jefferson. Depois, a dupla com Favors, por incapacidade, ou não, de Tyrone Corbin, não teve uma química. Com Snyder no comando, sua principal função era espaçar a quadra – uma tarefa que, conforme notado agora, não lhe caiu bem, nem lhe apeteceu.

Acontece que o basquete não se resume a isso, a esses números básicos. Eles possam influenciar os rumos de uma partida ou de uma temporada? Sim, claro. Mas não podem ser tomados como única razão para investimento ou aclamação para um jogador – ainda mais um atleta que tem dificuldade para gravar e entender jogadas de ataque, em seu quarto ano como profissional.

O Thunder vai ter de fazer as contas certinhas ao final do campeonato para saber o quanto vale o turco, colocando na mesa suas contribuições estatísticas mais óbvias, e aquilo que ele subtrai nos meandros do jogo. Snyder, o gerente geral Dennis Lindsey e o vice-presidente Kevin O’Connor certamente estão contentes em ter passado esse dilema do mercado de agentes livres para a frente.

O que Enes Kanter fazia no ataque não compensava o que tirava na defesa. Com Gobert, foi o inverso

O que Enes Kanter fazia no ataque não compensava o que tirava na defesa. Com Gobert, foi o inverso

Desde que a rotação do treinador passou a ter Gobert como titular efetivo, enquanto seu ex-jogador conhecia um time de verdade, o Jazz se transformou na melhor defesa da NBA. Sério. E bem acima do Golden State Warriors, o segundo colocado. Sofrem apenas 93,3 pontos por 100 posses de bola. Sabe qual era a situação até a troca? Tinham a quarta pior defesa, com 106,1 pontos. Sem ele, perderam em eficiência ofensiva, mas nada que atrapalhasse a melhora do outro lado da quadra. Os reflexos você vem em quadra: desde a troca, a equipe venceu 13 de 20 partidas – aproveitamento de 65% que lhe colocaria nos playoffs.

Isso pode ter muito mais a ver com a mera promoção de Gobert e suas habilidades assustadoras, claro. Mas qualquer torcedor mais sério da equipe também vai testemunhar o quanto o pivô turco pode ser desatento e/ou lento para brecar um adversário. Derrick Favors tinha de se desdobrar para cobri-lo. São dois pontos indissociáveis. Até porque o Thunder piora sensivelmente na defesa quando com o jogador. Quando ele está em quadra, o time leva 110,8 pontos por 100 posses de bola. Sem ele, cai para 103,8. Tirando suas contribuições positivas no ataque, o saldo ainda é negativo.

Isto é: mesmo um Kanter empolgado, feliz da vida ainda não é um produto refinado ou decisivo – e nem pode ser considerado “um dos jogadores mais dominantes” de sua geração, como já bradou o seu agente. Se formos considerar apenas os atletas nascidos em 1992 e se trocarmos “mais dominantes” por “um dos melhores”, pode ser que, eventualmente, ele tenha razão. Agora, se formos expandir o conceito de geração para um ou mais anos e pensarmos na turma de 1991 e 1993 também, aí a coisa fica mais difícil, não importando o filtro (se mais dominante, ou dos melhores). Temos Anthony Davis, Andre Drummond, Kyrie Irving, Kawhi Leonard, Nikola Mirotic, Bradley Beal, entre outros. Competições de base da Fiba? Já faz tempo e nem tem como comparar com o que se produz na vida adulta.

De todo modo, não importa. Kanter não precisa ser um jogador de elite para dar suas entrevistas. Jornalistas e, na verdade, a NBA como um todo precisa de gente assim, que fale o que pense, o que sinta, em vez de adotar o discurso treinado de sempre. Serve para mostrar como as coisas são de fato.

Ainda mais fora dos Estados Unidos, nota-se uma idolatria desmedida aos caras e ao universo da liga, sendo que, nos bastidores, são várias e várias as histórias de problemas, desavenças, intrigas. Algo totalmente normal, já que estamos falando de um ambiente extremamente concorrido, competitivo.

Com o que o turco precisa tomar cuidado é apenas o fator de “quando” e “onde” falar. Em Salt Lake City, virou inimigo público.


Utah Jazz: mais uma chance para uma mente brilhante
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Giancarlo Giampietro

 30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Saga de Snyder o leva a Utah. Fim de peregrinação

Saga de Snyder o leva a Utah. Fim de peregrinação

Quando o Portland Trail Blazers foi enfrentar o Utah Jazz lá nos confins das Montanhas Rochosas na abertura da pré-temporada, enquanto o jogo rolava, o técnico Terrt Stotts teve uma sensação estranha, à medida que ele e seus assistentes analisavam mais e mais o adversário. Seria o Utah mesmo? Ele diria aos repórteres locais, depois, que era a primeira vez que via o time sem nenhum vestígio dos tempos de Jerry Sloan.

Não é fácil virar as costas para algo que deu certo por tanto tempo. Sob o comando de Sloan por incríveis 23 anos, numa das gestões mais duradouras que a liga já viu, a equipe chegou a duas finais da NBA e a mais quatro finais de conferência e só ficou fora dos playoffs em três temporadas, de 2004 a 2006, sendo que apenas em 2005 eles tiveram um recorde abaixo de 50% de aproveitamento.

Sabe aquela coisa de desenvolvimento sustentável? O Utah Jazz representou isso no basquete, antes de Gregg Popovich e Tim Duncan levarem o San Antonio Spurs a outro patamar. Mas chega uma hora que isso acaba, gente. A família Miller e o cartola Kevin O’Conner bem que tentaram prorrogar esse período com a promoção de Tyrone Corbin. Não deu muito certo.

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Corbin, é verdade, pegou um time em reformulação depois da saída de Deron Williams e Carlos Boozer – e, depois, de Paul Millsap e Al Jefferson. A diretoria tem um dedo nisso, claro. Mas em nenhum momento ele conseguiu passar uma identidade ao seu jovem time em quadra. A defesa era uma calamidade. Chegara a hora de seguir em outra direção. E Quin Snyder foi o escolhido para conduzir esse processo.

Quando você faz uma breve pesquisa sobre Snyder, a pergunta que fica é a seguinte: por que levou tanto tempo para ele chegar aqui?

Porque vejam só o que o Trevor Booker tem a dizer: “O Coach Q é um gênio do basquete”. E quanto ao Steve Novak? “Ofensivamente, acho que é área em que ele tem uma grande mente para o jogo. Você vê nas sessões de filme e nas rodas, que ele tem um monte de ideias no ataque, e acho que a gente ainda está na ponta do iceberg”, diz. E o Enes Kanter fala também de sua facilidade no relacionamento: “Ele é como se fosse um irmão mais velho. Não tenta se impor como o técnico e que saiba tudo. Ele pergunta para os jogadores o que deveríamos fazer em algumas ocasiões. Ele se comunica com os jogadores, e isso significa muito para mim. Quando você está sob estresse, isso te afeta em quadra. Mas quando falamos com o técnico Quin, ele te dá confiança e ele se comunica tão bem que você apenas vai jogar, quer jogar jogar por ele. Faz muita diferença. Vai ser um ano interessante”.

É o suficiente?

Espere só para ver o depoimento dos rapazes de Atlanta, como os quais ele trabalhou na temporada passada como assistente de Mike Budenholzer. Antes, porém, vamos tentar contar a história, a saga do novo treinador do Utah Jazz  e entender por que demorou tanto – ou não.

Quin Snyder levou Mercer Island a um título estadual em Washington em 1985

Quin Snyder levou Mercer Island a um título estadual em Washington em 1985

Quincy Snyder era uma estrela no estado de Washington nos tempos de colegial. Qualquer pessoa minimamente interessada por basquete o reconhecia pelo nome. O primeiro, no caso. Ele, por exemplo, seria o primeiro jogador da região a ser eleito como McDonald’s All American, inserido na elite do basquete colegial. Optou por jogar com o Coach K em Duke, de 1985 a 89. Nesses quatro anos, jogou o Final Four em três ocasiões, sendo titular a partir da temporada de sophomore, a segunda. Virou também o capitão do time. O curioso é que talvez ele tivesse ainda mais sucesso fora das quadras, como estudante. Quando se formou em 89, tinha diplomas de filosofia e ciência política. E não parou por aí: dez anos mais tarde, completou um doutorado na escola de direito de Duke e também um MBA na escola de negócios.

Nesse meio tempo, enquanto não se cansava de estudar, encerrou sua breve carreira como jogador e entrou no mundo dos técnicos, bastante jovem. Em 1992-93, chegou a fazer bico como assistente do Los Angeles Clippers de Larry Brown. O time chegou aos playoffs e fez dura série com o Houston Rockets, caindo na primeira rodada. Quando enfim largou a sala de aula, foi efetivado como assistente de Krzyzewski em 1995. Em 1997, já era o técnico principal associado. Em 1999, era a hora de montar o seu próprio programa. Aceitou, então, uma oferta da Universidade de Missouri, não importando a responsabilidade de substituir Norm Stewart, um treinador que havia ocupado o cargo por 32 anos. Trinta e dois! Coincidentemente, a mesma idade de Snyder.

Não teve pressão que atrapalhasse sua ascensão impetuosa. Seu time se classificou por quatro anos seguidos aos mata-matas da NCAAA, se posicionando entre os oito melhores (o chamado “Elite Eight”) em 2002, a melhor marca da história. Obviamente, foi incensado pelos locais, ainda mais pelo fato de a equipe conseguir fazer frente a Kansas, seu arquirrival muito mais laureado. Tão rápido ele subiu, contudo, tão vertiginosa foi a queda. Investigações da sempre hipócrita entidade que regular o esporte universitário americano detectaram uma série de irregularidades no trabalho conduzido com os Tigers. A situação se transformou num escândalo em Missouri, embora, quando reveladas, as infrações se tornassem pálidas se comparadas com o que já se viu por lá. Coisas como atender o telefone em uma situação inapropriada e pagar uma refeição além da conta para prospectos. Chocante, né?

Sob a tutela do Coach K. Raro pupilo que prosperou, ainda que tenha passado por dificuldades

Sob a tutela do Coach K. Raro pupilo que prosperou, ainda que tenha passado por dificuldades

O furacão de (falta de) relações públicas, porém, derrubou Snyder em 2006. A turbulência afetou os resultados em quadra, e o time mais perdeu do que venceu em suas últimas duas temporadas. O treinador, com 128 vitórias e 96 derrotas, acabou demitido de forma humilhante: o diretor do departamento atlético, Mike Alden, nem mesmo se prontificou a dar a notícia pessoalmente. Passou o recado por meio de um dos comentaristas de TV da universidade. “Essa experiência o assustou emocionalmente. Ele foi culpado por muitas coisas sobre as quais ele não tinha controle algum, e isso o levou a questionar muitas cosias. Houve tempos em que ele considerou se afastar do jogo”, disse Bob Rathbun, jornalista que acompanhou seu trabalho por lá.

O San Antonio Spurs, porém, não permitiu que isso acontecesse. Ignorando a imagem ‘manchada’, ofereceu a Snyder o cargo de técnico do Austin Toros, sua filial na D-League. Um emprego que, convenhamos, não é dos mais charmosos. Mas propiciou que ele fizesse bons contatos e se afastasse dos holofotes e trabalhasse com o que mais gosta: o desenvolvimento de jovens talentos. E fez: durante os três anos que ficou na capital texana, foi o que mais levou jogadores à NBA e, ao mesmo tempo, mais venceu, tendo sido vice-campeão na primeira temporada.

Em 2010, foi a vez de ele migrar e retornar à liga principal, como assistente de Doug Collins no Philadelphia 76ers. No ano seguinte, foi escolhido por Mike Brown, ex-assistente de Gregg Popovich, para compor sua comissão no Lakers. Lá, conheceu Ettore Messina, com quem foi para a Rússia em 2012, chegando ao CSKA Moscou. Em sua peregrinação, voltou para os Estados Unidos em 2013, com primeira escala em Atlanta. Lá, voltou a causar impacto.

Snyder e o jovem Dennis Schroeder em liga de verão por Atlanta

Snyder e o jovem Dennis Schroeder em liga de verão por Atlanta

“Ele foi o primeiro técnico que realmente trabalhou comigo em meu jogo de pés, meu arremesso, que dedicou tempo comigo”, afirma o ala DeMarre Carroll, que, não por coincidência, evoluiu consideravelmente desde que chegou ao Hawks. “Isso é crédito para ele e mostra o quanto ele se importa com a gente como pessoas e com nossas carreiras. Senti que estava partindo para uma nova direção, me senti como um novato até”.

“Ele realmente tem uma mente interessante para o basquete. Foi muito legal trabalhar com ele”, diz Kyle Korver. “Ele me ensinou muitas coisas. Depois que você passa um certo tempo na liga, se tende a reagir meio que automaticamente. O Quin trouxe um novo modo de pensar o basquete para mim. Acho que melhorei no ano passado, e muito se deve a ele. Muito, mesmo. Ele te faz pensar nas possibilidades em quadra e pensar de modo geral. É uma mente realmente ótima para o basquete.”

“Aprendi muito com o Q durante o campeonato, ele é muito inteligente”, diz Paul Millsap. “Quando nos sentamos e conversamos, ele te faz pensar. Muito das coisas que ele falava eu só iria entender no final do dia, depois de praticar muito. Ele é esperto desse jeito.”

Agora fixo em Utah, tem muito o que fazer com jovem núcleo

Agora fixo em Utah, tem muito o que fazer com jovem núcleo

Foi esse profissional que o Utah Jazz buscou para ver se o seu plano de renovação decolava de vez. Snyder vai ter muito o que conversar e ensinar a Trey Burke, Alec Burks, Gordon Hayward, Enes Kanter, Derrick Favors, Rudy Gobert, Rodney Hood e, principalmente, Dante Exum, o mais promissor de todos.

Para quem já passou por tanta coisa, não assusta muito, não? “Enfrentei alguns desafios na minha vida, e eles me ajudaram. Passei por um pouco de adversidade, e ela me tornou um treinador melhor, e uma pessoa melhor”, disse. Agora em seu sexto emprego em seis anos, ele espera enfim se assentar num trabalho de longo prazo.

Manteve alguns integrantes do estafe técnico anterior, trouxe outros de sua confiança e montou uma comissão bastante jovem, com média de idade de 41 anos. Apesar da pouca idade, o treinador principal indica um ponto em comum: “Eles são professores. Numa situação como a nossa, a capacidade de ensinar foi tão valorizada como a experiência. Quando você está treinando um time que vai passar por alguns percalços de crescimento, ter uma comissão que possa sustentar a paixão e o entusiasmo pelo jogo é realmente importante. Para que os jogadores jovens não desanimarem, seguirem competindo e melhorando. Esse é o principal”, disse.

Agora, nesse processo, pode muito bem acontecer o reverso. Dá para todo mundo aprender alguma coisa. “Há jogadores que são muito mais inteligentes que os treinadores. Você pode aprender com eles só de assisti-los. Estava vendo o Kobe um dia, e ele me ensinava sem saber. Estava apenas vendo e ouvindo”, afirmou Snyder, que não pára de estudar, mesmo.

Hayward, em franca evolução

Hayward, em franca evolução

O time: bem, já adiantamos um pouco as coisas aqui. É uma equipe bastante jovem, que não vai conseguir brigar para chegar aos playoffs. A missão é realmente desenvolver os garotos, e os primeiros sinais dados por Gordon Hayward e Derrick Favors já são muito positivos. E o desenvolvimento realmente precisa ser acelerado: com altos salários para esses dois e Alec Burks, o Utah aceitou que essa é a base deles para o futuro. Na NBA, você nunca sabe quando vai pintar uma troca, mas, por ora, essa é o núcleo, mesmo.

Em quadra, Snyder pede um estilo de jogo muito mais veloz do que o das últimas campanhas com Corbin, acompanhando a tendência da liga. Podem esperar muitos arremessos de longa distância, tal como era pedido em Atlanta. Trevor Booker, por exemplo, já arriscou 21 chutes de longa distância nas primeiras 18 partidas. Em toda a sua carreira, em quatro temporadas, ele havia tentado apenas dez. De qualquer forma, o treinador quer por mais ênfase, mesmo, na orientação defensiva. O que era uma carência, e tanto.

A pedida: curva de crescimento acentuada e, inevitavelmente, mais uma boa escolha de Draft.

Enes Kanter também quer um contrato

Enes Kanter também quer um contrato

Olho nele: Enes Kanter. Gente, o pivô turco ainda não passou uma noção exata sobre que tipo de jogador pode ser na liga. Mas fiquem certos de que ele também vai querer sua parte em dinheiro. Ainda muito jovem, com 22 anos, Kanter confia que vá receber uma boa proposta ao final da temporada, quando vira agente livre restrito. Resta saber se vai ser do Utah, que já tem muita grana investida em três atletas. É um promissor reboteiro e pontuador, e vai expandindo seu raio de ação sem perder eficiência. Muito lento em sua movimentação lateral, a questão que fica é sobre o quanto ele vai progredir como defensor individual ou coletivamente.

Abre o jogo: “O técnico realmente partiu para cima de nós no intervalo. Sinceramente, estávamos todos chocados ao ver o quão agitado ele ficou”, Trey Burke, sobre um momento de ira de Snyder durante duelo com o Oklahoma City Thunder. A equipe chegou a ficar 17 pontos atrás de um adversário totalmente arrebentado. Acabaram vencendo pelos mesmos 17: 98 a 81. Quer dizer: mente brilhante, e tal, mas que também sabe gritar.

Você não perguntou, mas… Quincy Snyder é um caso raro de treinador que tenha trabalhado com o Coach K em Duke e prosperado na sequência de sua carreira. É algo de fato intrigante, principalmente pelo sucesso que os caras do outro lado – os Tar Heels. A irmandade da Universidade de North Carolina se mostra muito mais influente. Da árvore genealógica de Dean Smith, saíram nomes como Larry Brown, George Karl, Doug Moe, Mitch Kupchak, entre outros. Michael Jordan não conta.

piculin-ortiz-utah-jazz-cardUm card do passado: José “Piculín” Ortiz. Quando Jerry Sloan assumiu o Utah Jazz no decorrer da temporada 1988-89, estava lá o par John Stockton e Karl Malone, a montanha humana Mark Eaton e os alas Darrell Griffith e Thurl Bailey como principais figuras. Havia também esse pivô porto-riquenho formado pela Universidade de Oregon State, que se tornaria uma lenda do basquete na ilha caribenha, mas foi pouquíssimo aproveitado em apenas dois anos de NBA. Piculín disputou 51 partidas naquela campanha, sendo titular em 15, com médias de 2,8 pontos, 1,1 rebote em apenas 6,4 minutos. Já tinha 25 anos. Em 1989-90, ele faria apenas 13 partidas, com ainda menos minutos. Foi dispensado em fevereiro de 1990, seguindo carreira na Espanha. Passou por Real Madrid, Barcelona, jogou na Grécia e retornou a Porto Rico em 1997. Ele se aposentou apenas em 2006, aos 43.


Na vaga de Raulzinho, Scott Machado chega à 3ª escala em seu sonho de NBA
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado, e aí?

E não é que, mesmo sem Raulzinho, o Utah Jazz pode iniciar a temporada 2013-2014 da NBA com um armador brasileiro em seu elenco? Lá está ele, Scott Machado, já na terceira escala de seu sonho de se firmar como um jogador da liga norte-americana.

A equipe de Salt Lake City inicia formalmente suas atividades para um novo campeonato nesta segunda-feira, com o “Media Day”, no qual os jogadores ficam disponíveis para sessões de fotos e entrevistas com os jornalistas antes do tapinha inicial do training camp. E toca o gaúcho nova-iorquino, um rapaz bastante otimista e batalhador, falar sobre suas ambições como profissional e sobre como esta é uma excelente oportunidade para ele mostrar seu valor.

Mas é mesmo? Qual é o Utah Jazz que ele tenta convencer a lhe empregar nas próximas semanas?

Este é um ano de transição drástica para o clube. Abriram mãos de alguns veteranos consolidados e decidiram investir em jogadores mais jovens, com a expectativa de desenvolver uma base mais forte a longo (ou médio?) prazo.

Algo parecido com o que se passou em quadra ao final da carreira de John Stockton e Karl Malone. Com pequenas diferenças, claro: 1) o grupo anterior, de Al Jefferson, Paul Millsap e alguns resquícios da era Deron-Boozer-Okur, jamais chegou perto da identidade que aqueles chatíssimos, mas eficientes times dos anos 90 tiveram, ainda mais carregados por duas lendas do basquete; 2) a nova guarda de agora tem muito mais talento para oferecer do que os times de Arroyo, Raul López, Sasha Pavlovic, Jarron Collins e Ben Handlogten, a despeito da exuberância de Andrei Kirilenko.

A ideia é investir no núcleo de Trey Burke, Gordon Hayward, Enes Kanter, Derrick Favors (e talvez Alec Burks? Rudy Gobert?). Depois de anos medíocres com Al Jefferson e Paul Millsap, flertando com os playoffs, mas sem ter chance alguma de incomodar, chegou a hora de apostar que um ou vários desses garotões estoure e venha se tornar um líder de maior potencial, pensando em voos mais altos num Oeste ainda muito competitivo.

Nesse sentido, Scott encontra, então, um contexto benéfico para alguém igualmente jovem. Esse é o ponto mais otimista para o brasileiro se equilibrar. Outro: o armador foi o primeiro atleta a ser convidado pelo gerente geral Dennis Lindsey (mais um dos pupilos de Buford e Popovich em San Antonio) para fazer parte dos treinos da pré-temporada. Os alas Mike Harris, ex-Rockets, e Dominic McGuire, ex-Wizards e Warriors, foram os atletas adicionados na sequência – McGuire, um defensor versátil, capaz de segurar as pontas no perímetro e de reforçar o rebote é alguém de que sempre gostei, e seria um bom substituto para o enérgico DeMarre Carroll, que fechou com o Hawks. Por fim, chegaram o ala Justin Holiday (irmão mais velho do Jrue), o veterano ala-pivô Brian Cook (um pesadelo para Phil Jackson), o viajado pivô Dwayne Jones e o armador Nick Covington, da D-League e bom arremessador do perímetro.

Explicando do que se trata o tal do “contrato do training camp”: o jogador assina sem garantias alguma, tal como no ano passado com Houston. Isto é, pode ser dispensado a qualquer momento, sem que a franquia lhe deva muito dinheiro.

Não é o compromisso mais promissor do mundo, mas o fato de ele ter sido o primeiro da lista já conta para alguma coisa. Principalmente pelo fato de a diretoria ter acabado de dispensar Jerel McNeal, armador rodado na D-League e que fechou com a equipe na temporada passada. (Embora ainda não esteja claro se essa atitude teve a mais a ver com um desinteresse do clube, ou se o atleta recebeu alguma proposta mais vantajosa para jogar na Europa ou China.)

Scott terá, então, alguns dias ou semanas para convencer o técnico Tyrone Corbin de que seria útil ao seu time. Em teoria, falta ao elenco do Utah Jazz hoje um terceiro armador, atrás do calouro Burke, nona escolha do Draft deste ano, e de John Lucas III, ex-Raptors, Bulls e tantos outros.

Acontece que Hayward e Burks (não confundir com Burke… Deveria haver uma regra na NBA que proibisse os times de criar esse tipo de confusão para jornalistas e torcedores, não?) também têm o tipo de habilidade no drible e visão de jogo que lhes permite conduzir uma equipe em quadra por alguns minutos. Ainda mais se acompanhados em quadra pelo ala-armador Ian Clark, um baixinho que impressionou durante as ligas de verão, jogando pelo Miami Heat e pelo Golden State Warriors. Clark apresenta o suposto biótipo de um armador, mas não está habituado a criar para os outros. Tem muito mais tino para a finalização, com um excepcional tiro de três pontos. De todo modo, se for para quadra, deve ter alguma responsabilidade na estruturação da equipe.

(A presença de Clark, aliás, no elenco do Jazz não deixa de ser uma ironia e um incentivo para Scott: foi ele quem o colocou no banco no Warriors de veraneio em Las Vegas, praticamente definindo a demissão do brasileiro. Há divergências sobre o tipo de vínculo que ele tem com o clube. Se parcialmente garantido – no sentido de que, se mandado embora, ainda embolsaria pelo menos um cheque de agradecimento – ou se já tem um salário integral assegurado.)

Incluindo o chutador revelado pela universidade de Belmont, o Utah tem 13 jogadores contratados para a temporada, o mínimo necessário para a formação de um elenco, de acordo com as regras da liga. De modo que Scott precisa fazer bons treinos, dando sequência aos testes que realizou nas Montanhas Rochosas durante o mês de setembro, para tentar abrir mais uma vaguinha nesse plantel.

O que causa estranhamento, de certa forma, em seu convite pelo Utah Jazz é a baixa estatura dos armadores já contratados pelo time. Com 1,80 m, Lucas consegue encarar este blogueiro  de olho-pra-olho, assim como o titular Burke, com seu generoso e oficial 1,83 m. Scott teria sido ainda mais abençoado com seu oficial 1,85 m.

É de se esperar que os gerentes gerais procurem diversificar na formação de um time, com peças complementares no banco de reserva. Do ponto de vista físico, Scott não oferece nada de diferente, sofrendo igualmente diante de armadores maiores, mais fortes e mais atléticos – e sabemos que a liga está inundada com este tipo de cara. Ainda que em seus últimos jogos pelo Warriors ele tenha se mostrado combativo na defesa, pressionando com sucesso o drible do adversário, o tipo de adversários que enfrentou em Vegas é bem inferior aos Roses e Walls do mundo.

O que o brasileiro oferece de diferente (beeeem diferente, aliás) é sua visão de jogo, sua maior propensão para o passe, facilitando a vida de seus companheiros no ataque. Lucas é um chutador por vezes descontrolado, enquanto Burke seria um meio termo, dependendo da orientação que tiver de sua comissão técnica.

Além disso, Scott ainda precisa solucionar sua mecânica de arremesso de modo urgente, além de melhorar sua técnica para conversão de bandejas – ainda tem muita dificuldade para encarar pivôs fisicamente intimidadores, e os treinos contra Favors, Kanter e Gobert já serão um duro teste. Sim, o armador persiste, busca novos caminhos para continuar sua carreira, mas as coisas de forma alguma se apresentarão fáceis para descolar um emprego de alto nível.

Uma posição que Raulzinho teria a oportunidade de ocupar este ano, mas que postergou ao tomar a correta decisão de voltar para a Espanha, aonde poderá ficar muito mais minutos para usufruir e evoluir. De lá, nem que seja online ou por meio de algum espião-amigo em Salt Lake City, poderá coletar as informações com o que se passa com seu breve companheiro de seleção, de olho no futuro.


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