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Arquivo : Faverani

Magnano “digere” desencontros com Faverani e convoca pivô para o #Rio2016
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Giancarlo Giampietro

Faverani fez boa Liga ACB pelo Murcia. Agora vai?

Faverani fez boa Liga ACB pelo Murcia. Agora vai?

Considerando todas as declarações e farpas que o Rubén Magnano soltou nos últimos anos, é com surpresa que recebemos a inclusão de Vitor Faverani nesta sexta-feira num grupo de 14 candidatos a disputar as Olimpíadas do #Rio2016 pela seleção brasileira. O pivô é a grande surpresa numa lista, digamos, conservadora elaborada pelo argentino, com os nomes de sempre. Huertas, Raul, Rafa Luz, Larry, Benite, Leandro, Alex, Marquinhos, Giovannoni, Varejão, Nenê, Hettsheimeir e Augusto o acompanham. Dois desses terão de ser cortados.

Magnano flerta com a convocação do pivô há um bom tempo tempo, mas até agora não teve sucesso em fazer com ele se apresentasse. Foram idas e vindas neste namoro, incluindo o famigerado episódio de 2011, antes da Copa América, em que o treinador levou um ‘cano’ do atleta durante uma viagem à Espanha. Os dois supostamente iriam se reunir em um hotel de Murcia. O técnico foi. O jogador, não – depois, alegou que e teve um problema pessoal de última hora e que não conseguiu se comunicar com o argentino. Obviamente esse ‘causo’ deu o que falar. Dois anos depois, o atleta voltou a ser listado para mais uma Copa América. Os dois, enfim, se encontraram, e Vitor topava jogar. Mas aí veio um acerto com o Boston Celtics para travar o processo. Desde então, o argentino não perdeu a chance de alfinetar o atleta durante uma série de entrevistas.

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Acontece que agora a gente está falando de Olimpíada. De tentar reunir os melhores atletas, mesmo, e lutar por uma medalha em casa. Acho que era motivo o bastante para Magnano superar qualquer ressentimento que restasse e desse mais uma chance a Faverani. “Sempre quis que ele jogasse pela seleção. Houve no passado uma situação muito curiosa, desagradável. Digo curiosa, porque não posso dizer que tenha sido engraçada. Consegui digerir isso”, afirmou o técnico, com a acidez típica. “Depois, ele teve muito problema de lesão, que atrapalhava sua preparação. Hoje, como já tinha visto há muito tempo, acho que ele está jogando muito bem. Tenho gostado muito dele, é um grande jogador. Ele tem muita vontade de vir, estamos em contato direto com ele e, por isso, está de novo na convocação. Espero não ter mais nenhuma surpresa. Se vai ficar ou não, depois vemos.”

Que Magnano tenha “digerido” essas questões só mostra o quanto admira as características de Faverani, que de fato são raras para um pivô e estão em voga. Recuperado de uma cirurgia no joelho que o atrapalhou muito nos últimos dois anos e forçou sua demissão pelo Boston Celtics e pelo Maccabi Tel Aviv, o jogador oferece arremesso de média para longa distância e também é um excelente protetor de aro. Isto é, pode jogar aberto no ataque tranquilamente, espaçando a quadra quando necessário, e estabelecer uma presença defensiva importante no garrafão. Pelo fato de nunca ter se apresentado antes, porém, dá para dizer que corre por fora, mesmo que tenha feito boas apresentações pelo Murcia na segunda metade da temporada espanhola. Afinal, este é o modus operandi do argentino.

Ninguém vai olhar a lista de Magnano e apontar uma incoerência. Na verdade, o treinador se mantém fiel até demais aos atletas que convocou durante anos e anos. Pesa muito mais na cabeça do argentino a noção de conjunto da obra do que necessariamente a produção apresentada na última temporada – no caso de Bruno Caboclo e Lucas Bebê, aliás, para constar, nenhum desses fatores os favoreciam. Não havia muito espaço para novidades. Ou isso, ou o treinador julgou que nada de muito interessante tenha surgido no último NBB.

Da liga brasileira, para o grupo principal, foram chamados seis jogadores – todos eles figuras mais que habituais em suas listas e que também tiveram experiência no exterior antes de se estabelecerem como referências em quadras nacionais. Magnano dá muito valor a isso. De resto, sobrou uma composição de veteranos e mais jovens para a disputa do Sul-Americano (valorizada este ano pelo fato de já valer para o novo calendário de seleções da Fiba).

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O outro nome mais comentado do dia foi o de Cristiano Felício. O pivô seria convocado, mas pediu dispensa para seguir treinando com o Chicago Bulls. Lendo assim, a frase parece absurda, não? Magnano, mesmo, se frustrou. “Claro que fico chateado. São razões pessoais. Temos que entender. Não significa aceitar”, disse Magnano.

Mas é preciso entender a dinâmica que envolve jovens atletas e clubes da NBA. É improvável que a recusa tenha partidoexclusivamente de Felício. Há sempre outro lado nesse tipo de questão. Em seu comunicado, tentando explicar o que se passava, dá para dizer que o pivô foi no mínimo ambíguo, claramente tentando evitar pisar nos calos de muita gente.   “Estou vindo de um bom fim de temporada pelo Chicago Bulls, e, como todo brasileiro, vivendo também essa expectativa pelas Olimpíadas no Brasil. Mas não posso pensar com a paixão, preciso e devo agir com a razão. Não foi nada fácil. Sei da importância, do que significa vestir a camisa do meu país, mas tenho a consciência de que tenho que trabalhar ainda mais duro, me dedicar e evoluir para conquistar o meu espaço, pensar no meu futuro. Infelizmente, aconteceu tudo ao mesmo tempo”, afirmou.

O que acontece? O jovem pivô foi uma das poucas boas notícias que o Bulls teve em uma campanha que foi um tremendo fiasco. Aproveitou as chances que teve nas últimas semanas da temporada, mostrou serviço e subiu de cotação internamente. É provável que o chefão John Paxson e o técnico Fred Hoiberg tenham planos mais ousados para ele, ainda mais com as incertezas em torno de Pau Gasol e Joakim Noah, agentes livres. De modo que o clube prefere manter o pivô por perto, dar sequência ao seu desenvolvimento e eventualmente disputar uma segunda liga de verão.

Taí mais uma frase que parece despropositada, já que estamos falando de uma Olimpíada em casa. Mas o que prevalece aqui é a lógica da diretoria do Bulls, que cuida de seu investimento do modo que achar  melhor. E não havia muito como atleta e empresário baterem o pé aqui, ao contrário do que Giannis Antetokounmpo fez com o Milwaukee Bucks, por exemplo. A franquia de Winsconsing não vai querer irritar  seu jovem prodígio. Por outro lado, em Chicago, por melhor que tenha ido em sua temporada de novato, Felício ainda não teria tantos trunfos para barganhar. Seu contrato nem deve estar garantido.

Além do mais, se viesse, iria se meter em uma disputa acirrada por um lugar final no grupo olímpico. Ao meu gosto, não só entraria no grupo dos 12, como chegaria para jogar. Mas a cabeça de Magnano não funciona assim, e o pivô revelado pelo Minas Tênis teria de se superar para desbancar nomes mais badalados e de veteranos que bateram cartão nos últimos torneios. Não seria fácil. Assim como não será para Faverani, independentemente da digestão do argentino.

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Augusto Lima volta a sorrir e se fixa na elite da Liga ACB
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Giancarlo Giampietro

Augusto deixou de ser o garoto da base para ser estrela no Murcia

Augusto deixou de ser o garoto da base para ser estrela no Murcia

Quando optou por deixar o Unicaja Málaga, seis anos depois de ter chegado ao basquete espanhol como um adolescente, Augusto Lima disse que seu objetivo era bem singelo: apenas voltar a sorrir. Pois, com a camisa do UCAM Murcia, o pivô brasileiro conseguiu muito mais que isso. Hoje ele é simplesmente um dos melhores atletas da concorridíssima Liga ACB e, quando se mostra frustrado, é pelo fato de seu time não ter saído vencedor.

Peguem, por exemplo, sua declaração do último fim de semana, em que a equipe foi superada pelo Manresa, fora de casa, depois de tomar logo nos minutos iniciais: “Aqui, ganhamos e perdemos juntos, e se tem de trabalhar, e trabalhar e ir para a quadra como homens. Foi uma derrota dura em uma quadra que sabíamos que seria difícil. Eles começaram o jogo para matar, e nós não fizemos isso. Assim é complicado vencer”.

Pagou geral, não? O mais interessante, porém, é o contexto por trás disso. Sob todas as medidas, o Murcia é um clube bastante modesto na Espanha. Em uma temporada isolada, um revés como visitante, mesmo contra o lanterna do campeonato, seria tranquilamente aceito por seus torcedores e pelos observadores mais distantes.

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Acontece que o time vive hoje a melhor arrancada em sua história de Liga ACB. Está na briga por uma vaga na prestigiada Copa do Rei. Para tanto, precisa se manter entre os oito primeiros – a zona de classificação também para os mata-matas. “Nossa torcida quer que disputemos a Copa, e sonhar é grátis, mas nós no vestiário não nos esquecemos de que somos um clube humilde.”

O Murcia nunca ficou acima da 12ª posição na elite espanhola. Entrou em quadra nesta terça-feira como o 7º. Já é, então, uma campanha excepcional, que coincide justamente com a melhor temporada como profissional de Augusto. O pivô desponta como a força-motriz por trás desse sucesso.

Em qualquer consulta aos números da Liga ACB, vai ser fácil encontrar o nome do brasileiro, que deu um salto significativo em praticamente todas as estatísticas avançadas, mesmo sendo menos envolvido no ataque (sua taxa de uso baixou de 21,46% para 19,77%). Vamos lá:

– Augusto é hoje o jogador com maior PER, o índice de eficiência por minuto (26,6), acima de um craque como Ante Tomic e do veterano Fran Vázquez.

– O principal fundamento que o leva esse posto é o rebote. O brasileiro lidera a liga em percentual de rebotes (de acordo com aquilo que está disponível para ser coletado): 21,5%, superando o gigantesco Walter Tavares, cabo-verdiano draftado pelo Atlanta Hawks e o mesmo Tomic.

Na tábua ofensiva, com 18,6%, sua vantagem ainda é maior para Vazquez e o jovem Marko Todorovic (draftado pelo Houston Rockets).

– Já são todos dados excelentes, mas o que mais chama a atenção, para mim, é o fato de ele ser o terceiro em aproveitamento de tocos e o quinto em rendimento nos roubos de bola.

Essa combinação de top 5 para rebotes, tocos e roubadas diz tudo sobre o jogo do pivô, para quem não está familiarizado com seu basquete. Um jogador muito atlético, vigoroso, que corre a quadra de modo mais veloz, acelerado que muito armador. Ataca a tabela com ferocidade e tem muita agilidade em seu deslocamento lateral e vertical – daí o fato raro de ser um grandalhão de 2,08m posicionado entre os cinco maiores ladrões de bola do campeonato. “Meu jogo é bastante físico”, resume.

É importante avaliar pelas estatísticas avançadas e por minuto, até por justiça com aqueles que seriam seus principais concorrentes: os atletas de Barcelona e Real Madrid. Os dois gigantes espanhóis basicamente estocam os melhores atletas do país (e do continente), e a divisão de tempo de quadra em seus elencos acaba limitando suas médias totais. Enquanto, em Murcia, aquele que se destaque mais vai jogar sem parar.

Ocampo, cobrança e trabalho para fazer Augusto crescer na Espanha

Ocampo, apoio, cobrança e trabalho para fazer Augusto crescer na Espanha

De qualquer forma, segue seu ranking em números totais também: melhor reboteiro (com 7,8) e terceiro em tocos (1,5) e roubos (1,5), sendo que, nas recuperações de bola, ele e o búlgaro Kaloyan Ivanov, do Androrra, são os únicos pivô entre os 15 primeiros.

Numa projeção numérica por 36 minutos, com o ritmo de jogo nivelado (como se todos os times atacassem com a mesma quantidade de posses de bola), ele cai um pouquinho, mas ainda se vê no topo: 2º em rebotes (11,3, atrás do gigantesco Walter Tavares, cabo-verdiano draftado pelo Atlanta Hawks); terceiro em tocos (2,1, atrás de Tavares e Sitapha Savane) e quinto em roubadas (2,2, atrás de Sadiel Rojas, Luke Sikma, Diamon Simpson e Pavel Pumpria).

Isto é: sob qualquer medição, o pivô brasileiro aparece com destaque. Mais agressivo, com quatro double-doubles na temporada, o mesmo que somou em toda a jornada 2013-2014. Mesmo com tantos dados animadores, Augusto prefere não se vangloriar. Adota costumeiramente o discurso de que tudo seja produto do meio. “Tanto faz”, disse. “É o trabalho da equipe faz que tenha esses números. Só me interessa que avancemos em bloco, e que a torcida esteja contente com a equipe.”

De qualquer forma, o pivô destaca o trabalho com o técnico Diego Ocampo, uma das revelações da temporada ao seu lado. Aos 38, Ocampo pode ser considerado um estreante na profissão – mas só se for para falar de “treinador principal”. Mas já é um veterano de banco, depois de muitos anos como auxiliar de profissionais aclamados como Aíto García Reneses, Manel Comas e Joan Plaza.

“Diego está muito em cima de mim, trabalhando comigo, e creio que estou nesse bom momento”, disse o brasileiro. “Isso é para conseguir as coisas para a equipe. É para isso que vou todos os dias para a quadra com o objetivo de matar. No final, tudo o que vem de números e ações é para a equipe. Quero seguir ajudando desta maneira, com meus rebotes.”

O sorriso
Foi quando se apresentou ao Murcia na temporada passada que Augusto soltou a seguinte frase: “Quero voltar a sorrir e ser importante para o UCAM Murcia”. Poderia soar novamente muito protocolar, mas nesse caso o contexto também contava uma história mais ampla. Considerando as poucas e boas pelas quais havia passado o pivô carioca nos últimos anos, nada mais que justo.

Em Málaga, desenvolvimento na base, mas poucas chances no time principal

Em Málaga, desenvolvimento na base, mas poucas chances no time principal

Vejamos: mesmo com a cidadania espanhola obtida, o que lhe dava segurança no elenco malagueño, Augusto mal conseguiu sair do banco do Unicaja na temporada 2012-2013, mesmo com o clube disputando a liga espanhola e a Euroliga. Ele simplesmente não teve condições de mostrar serviço, repetindo um padrão de campanhas anteriores, nas quais só jogava mais quando era cedido para equipes menores como o Granada ou a filial Axarquía.

Ao mesmo tempo, passou o campeonato todo procurando contornar um problema nas costas que se mostraria muito mais sério do que o imaginado. Quando se apresentou a Rubén Magnano em São Paulo, acabou vetado nos exames médicos: foi constatada uma hérnia de disco. Nem a Copa América poderia disputar.

Em uma de suas visitas ao Eurocamp da adidas em Treviso. Não foi draftado

Em uma de suas visitas ao Eurocamp da adidas em Treviso. Não foi draftado

Isso aconteceu poucas semanas depois de ter sido ignorado no Draft da NBA. Ele viajou para os Estados Unidos com Raulzinho e Lucas Bebê, deu um duro danado em Los Angeles, passou por algumas cidades para treinos particulares, mas não foi escolhido por nenhuma franquia – ao contrário do que ocorreu com os compatriotas.

Então chega uma hora que basta, né? De notícia ruim a caixa de correspondência já estava cheia. Deixou um clube tradicional como o Unicaja em busca de um recomeço. De um lugar onde pudesse realmente se sentir relevante novamente. Em que pudesse sorrir, e a modesta agremiação, que já havia tido sucesso com outros brasileiros no passado (Paulão e Vitor Faverani) lhe oferecia essa oportunidade. Foi recebido como “um grande jogador“, nas palavras do presidente do clube da universidade católica, mantenedora do time, José Luis Mendoza.

Aos 21, ele já era uma espécie de veterano. “Vim para oferecer tudo o que aprendi e para tomar decisões importantes. No Málaga eu era um jovem da base. Aqui, meu papel muda”, afirmou. “Desde o primeiro momento estão me tratando muito bem, e venho me sentindo muito à vontade. Eles me deram muita confiança.”

Na elite
Confiança era do que Augusto Lima precisava para realizar seu potencial atlético, sempre evidente. “Os pontos e rebotes seriam consequência naturais disso – sem contar os euros, sempre importantes, que certamente chegarão ao final da temporada, quando se tornar agente livre.

Augusto, ainda na briga pelo rebote e por uma próspera carreira

Augusto, ainda na briga pelo rebote e por uma próspera carreira

Claro que ainda há muito o que melhorar em seu jogo. Não estamos tratando de um produto acabado. Seu lance livre e o tiro exterior em geral são bem fracos. Assim como sua capacidade para criar jogadas por conta própria e para os companheiros – tem média de 0,4 assistências a cada turnovers nesta temporada, enquanto apenas 5% de suas posses de bola terminam com passe para cesta. Você tem, então, de saber usá-lo. No ataque, deve ser explorado perto do garrafão, em movimentos de pick and roll ou com cortes fora da bola, vindo do lado contrário. Não é para colocar a bola nele em um lance de isolamento, um contra um e esperar que ele trabalhe com a mesma eficácia a partir daí.

Afinal, ele ainda é um cara que depende muito da energia que vá ter em quadra. Não por acaso, seu rendimento varia drasticamente entre os jogos disputados dentro e fora de quadra. Suas médias, respectivamente: 17,8 pontos para 6,6, 9,6 rebotes para 6,2, 1,8 roubada para 1,2, 77,6% nos arremessos de quadra para 42%. Detalhe: os minutos não mudam tanto assim, saindo de 25,4 para 22,3.

De qualquer forma, na defesa, já é um jogador que vai ajudar qualquer time devido aos seus atributos físicos, empenho e inteligência. Mesmo com suas limitações, sustenta uma produção elevadíssima já por uma temporada e meia.

Daí o estranhamento por sua exclusão do grupo principal da seleção neste ano, além de ter ficado escondido até mesmo no elenco do Sul-Americano. Um atleta de elite na Espanha é só mais um no basquete brasileiro? Imagino que vá ser algo remediado nas próximas convocações…

Porque, conforme já dito aqui, o sucesso de Augusto não é abstrato. Algo que você possa simplesmente designar como “bons números num time fraquinho”. Esse até poderia ser o cenário da temporada passada. Para o ano vigente, porém, o Murcia subiu junto com seu pivô: de 36,7% (11-19) com ele, para 56,2% (7-6).

A despeito da crise geral na economia europeia, a liga ainda é fortíssima, com um nível de competitividade único em todo o continente. O time hoje está na oitava colocação, na zona de classificação para os playoffs e a Copa do Rei. A cada rodada, porém, a volatilidade é grande: o Valencia, uma equipe de Euroliga, e o Zaragoza têm a mesma campanha, enquanto outros quatro concorrentes aparecem com seis triunfos e sete reveses – entre eles o Obradoiro de Rafael Luz e o Laboral Kutxa, outro time de Euroliga.

O que vem por aí?
Consistência é algo que Augusto já conquistou. Para a segunda metade da temporada espanhola, a grande meta seria realmente manter o Murcia entre os oito melhores da Espanha. “Temos de estar concentrados no que fazer a cada jogo, em nosso trabalhos, e manter a humildade. As coisas estão saindo bem, e temos de lutar por tudo”, diz.

O jogo para Augusto ainda é lá embaixo da tabela, mas com muita eficiência e domínio

O jogo para Augusto ainda é lá embaixo da tabela, mas com muita eficiência e domínio

Não apenas seria histórico para o clube, como lhe renderia uma bem-vinda exposição – ainda que na Espanha ele seja muito mais badalado hoje do que pelo basqueteiro brasileiro em geral. Jogar a Copa do Rei seria uma tremenda experiência. É uma competição que atrai olheiros de todos os cantos.

Um scout de uma equipe da Conferência Oeste da NBA, por exemplo, está sempre me falando sobre como o pivô progrediu sensivelmente em quadra. Caso chegue ao basquete americano, cumpriria com uma trajetória semelhante à de Faverani – mais um brasileiro que saiu jovem daqui, ingressou na base de o Málaga, mas só foi brilhar na Espanha em outro clube, até fechar um contrato nos Estados Unidos, tendo passado batido pelo Draft. É um paralelo do qual está ciente. “Fazem muito essa comparação. Somos jogadores com alguma característica parecida, como por exemplo a forma de falar. Mas penso que Vitor é o Vitor, e eu sou o Augusto. Ele chegou à NBA. Quero primeiro ser importante aqui e, se chegar a hora de dar o salto, iria encantado.”

Augusto está desfrutando de tempo, ritmo e sucesso em quadra, mas agora é hora de competir. Ainda há um longo caminho pela frente. É por isso que não se daria mais que uma nota maior que 7 para o que vem fazendo até aqui. “Sempre quero algo a mais, e as derrotas ainda me custam muito”, disse. No nível que ele alcançou, a simples alegria de ir para o jogo já não é o bastante.


Troca de Rondo resulta na dispensa de Faverani. Na NBA, nada é garantido
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Giancarlo Giampietro

Carreira de Faverani pelo Boston durou 488 minutos em 37 jogos; marcou 164 pontos

Carreira de Faverani pelo Boston, por enquanto, durou 488 minutos em 37 jogos; marcou 164 pontos

Como jogadores, dirigentes e treinadores sempre falam: são negócios afinal, não?

O universo da NBA é muito complicado, cheio de armadilhas, que são intrínsecas ao jogo. O jogo como um todo, mesmo, muito mais os dados lançados fora de quadra, como Scotty Hopson pode muito bem assinalar. Assinar um contrato com um time da liga norte-americana pode ser o auge para a carreira de um atleta, mas não é certeza de nada. Quer dizer: dependendo do acordado, até rende uma boa grana. No que se refere a basquete, uma vez lá, você tem de se preparar para encarar uma competitividade extrema. Além disso, num cenário sempre volátil, também vai precisar de sorte.

O que faltou a Vitor Faverani. Nesta quinta-feira, sua passagem pelo Boston Celtics se encerrou, ao ser dispensado depois da fulminante troca de Rajon Rondo para o Dallas Mavericks. Como Danny Ainge recebeu mais jogadores (Brandan Wright, Jameer Nelson e Jae Crowder) do que mandou (Rondo e Dwight Powell), acabou ultrapassando novamente o limite de contratos permitidos pela liga (15). Sobrou para o pivô brasileiro, que ainda se recupera de uma segunda lesão no joelho.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

A transição de jogador relevante na Europa para peça complementar nos Estados Unidos geralmente é bem complicada. Splitter, Teletovic e, agora, Bojan Bogdanovic são alguns dos casos de gente badalada no Velho Continente que enfrentou sérios percalços ao migrar para a NBA. Para Faverani, que nunca chegou a ter o sucesso desse trio no princípio de sua carreira, não seria diferente. Já coloquei aqui os altos e baixos de seu primeiro ano na liga, que acabou encerrado por conta de uma lesão no joelho. Lesão que pediu duas cirurgias e olhe pôs numa posição muito difícil.

Uma pena. Seu talento e suas habilidades se encaixam com o sistema tático em voga na liga americana, já que não só pode proteger bem o aro como tem potencial para ser uma ameaça no perímetro. O próprio Danny Ainge já disse isso. Mas chegou uma hora em que os bastidores o atropelaram. O cartola precisava encontrar um novo destino para Rondo. Não é que ele duvide da capacidade do armador. O que pega é que ele vai virar agente livre ao final da temporada e, segundo a mídia de Boston, iria pedir um contrato máximo para renovar. Coisa de US$ 20 milhões, aproximadamente, e o clube não estava disposto a desembolsar tal quantia. Aí que o Dallas apareceu com tudo e venceu Houston Rockets e Los Angeles Lakers num breve leilão e levou o armador. Faverani acabou pagando o pato, mesmo que tivesse um salário garantido de mais de US$ 2 milhões.

Brandan Wright e Jae Crowder acabam forçando a dispensa de Faverani

Brandan Wright e Jae Crowder acabam forçando a dispensa de Faverani

O que vai ser do pivô de 26 anos? Caso não seja recolhido por nenhuma franquia em seu período de waiver, até sábado, imagino que um retorno para a Europa seja o mais fácil de concretizar – tem muito apelo mercado na Espanha, e aí seria uma questão de apenas averiguar se está tudo certo mesmo com o joelho e seguir em frente.

Por outro lado, ao que  parece, a ideia inicial é tentar mais alguma porta nos Estados Unidos, o que dá para entender. Inevitável que fique um pouco de frustração. Segundo um de seus agentes, Luis Martin, ele poderia até mesmo ser reaproveitado pelo Boston no futuro. É o que disse ao repórter Gustavo Faldon, do ESPN.com.br.

Sua dispensa aconteceu por circunstâncias bem diferentes, se compararmos com o que aconteceu com outro gigantão brasileiro descartado pelo Celtics, Fabrício Melo. Mais jovem, Fab foi draftado por Ainge, ainda muito cru, como uma aposta de longo prazo num elenco que ainda contava com Garnett e Pierce. O que ele mostrou em um ano de trabalho, dentro e fora da quadra, foi o suficiente para o dirigente abortar esse projeto bruscamente. O pivô foi trocado para o Memphis, chegou a acertar, ironicamente, com o mesmo Mavs, mas se viu fora da liga rapidamente. Nem no Paulistano conseguiu se manter, independentemente de seu potencial (se nos Estados Unidos já é difícil encontrar um cara de 2,13 m e ágil, imagine por aqui…). Pelo que entendo, aprontou fora da quadra.

Ainda que bem diferentes, as histórias de Faverani e Melo têm outro ponto em comum além do fato de terem sido relevados pelo Boston Celtics: como é difícil se manter na NBA. São casos que servem de alerta para qualquer garoto que espera chegar a esse eldorado, ainda mais depois do que ocorreu com Bruno Caboclo. A saída do garoto do Pinheiros direto para o Raptors acende uma fagulha, mesmo, nas revelações brasileiras. Não tem como. Se alguém, por ventura, conseguir replicar esse salto, é para se comemorar, mesmo, com orgulho. Só não dá para achar que a vida está feita, que a carreira está ganha.

Como disse Luis Martin a Gustavo Faldon: “Ele (Vitor) não entendeu nada. Estava falando com o técnico sobre voltar e de repente vem a troca. Todo mundo falando da volta dele, o Danny Ainge, mas daí venho a troca e muda tudo”.

Num campo em que a concorrência em quadra e os negócios são cruéis, a luta é contínua. Não sobra muito tempo para comemorar.

*   *   *

Num veículo brasileiro, a gente acaba se concentrando no impacto da negociação para um compatriota. Mas toda as partes envolvidas em qualquer negociação são afetadas.  Sabe o que Jameer Nelson estava fazendo quando soube que seria trocado para Boston? Comprando presentes de Natal para crianças de Dallas no shopping North Park, segundo Brad Towsend, repórter do Dallas Morning News.

* * *

Já Mark Cuban, o irrequieto dono do Dallas Mavericks, deu seu aval para a troca enquanto se preparava para participar da gravação do último programa de Stephen Colbert no canal Comedy Central. Colbert vai substituir o genial Dave Letterman na CBS.


Sobrinho de Leandrinho tenta a chance na D-League da NBA
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Giancarlo Giampietro

Ricardo Barbosa, sobrinho de Leandrinho, armador, Osasco

Ricardo Barbosa, armador de 20 anos e 1,85 m de altura, está tentando a sorte nos Estados Unidos também. O jogador se inscreveu no Draft da liga de desenvolvimento da NBA, a NBADL – também popularmente conhecida como D-League. Mas quem seria Ricardo? Era a pergunta de um scout da liga principal norte-americana quando veio me informar sobre essa pequena surpresa na lista oficial que recebera pela manhã. Bem, estamos falando de um sobrinho do Barbosa mais famoso em tempos recentes do basquete nacional: Leandrinho.

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A princípio, minha pergunta para o olheiro foi de espanto: Ricardo quem? Também não conhecia, e havia pouca informação disponível por aí no Google. Checar informações nas federações nacionais nem sempre é a tarefa mais fácil, mas com ajuda da comunidade nerd basqueteira, como o pessoal do Mondo Basquete, e de grandíssimos torcedores do Pinheiros, conseguimos juntar as peças.

Quando obtive acesso à lista oficial – agora já divulgada pela D-League com alguns nomes interessantes como Marquis Teague, Erik Murphy, o dominicano Eloy Vargas e o canadense Brady Heslip –, chamou a atenção o agente que o representava: Sam Goldfelder, cujos atletas vão ganhar mais de US$ 57 milhões nesta temporada da NBA. É um cara poderoso, que conta com Blake Griffin como principal cliente. Quando fui conferir quem mais ele representava, lá estava Leandrinho.

Por aqui, pouco se escreveu sobre Ricardo. A primeira ocorrência que encontrei foi um texto do extremamente valioso blog da Liga Nacional de Basquete, o Território LNB. Numa lista de “novos talentos”, identificando nada menos que 25 jovens atletas para serem acompanhados na LDB de 2013. Ô loco. Ricardo, inscrito pelo Pinheiros – clube que seu tio defendeu depois da cirurgia por que passou no joelho, antes de voltar ao Phoenix Suns –, apareceu na posição 18, com a seguinte descrição: “Nascido em 1994, mostrou uma grande evolução da 2ª para a 3ª edição da LDB. Em São Sebastião do Paraíso mostrou muita versatilidade, começou jogando na 2 e assumiu a armação principal do time após a contusão de Gustavoa Ceccato. Boa defesa e, no ataque, um faro pra encontrar os buracos no sistema adversário”.

Ricardo Barbosa, jogando pelo Pinheiros na LDB

Ricardo Barbosa, jogando pelo Pinheiros na LDB

O garoto, que é filho de Arthur, irmão mais velho de Leandro e uma grande influência na trajetória ímpar do ala-armador, não foi aproveitado pelo time principal do clube da capital paulista, no entanto. Antes, na base, havia jogado pelos times menores de Hebraica e Palmeiras.

Neste ano, Ricardo assinou com o time de Osasco. E foi pesquisando no perfil do clube no Facebook que encontramos também o Eduardo Barbosa, irmão mais velho de Ricardo, que já havia ganhado suas manchetes no passado por ter assinado com o Londrina em 2010. Em termos de clube, Eduardo teve na base a mesma trajetória do caçula, tendo estudado também por dois anos nos Estados Unidos. Na equipe paranaense, que passava por situação financeira bastante grave, trabalhou com o técnico Ênio Vecchi. Justamente o comandante de Osasco.

Agora, o jovem atleta tenta dar um grande salto. Ele é um dos cerca de 180 atletas que estão disponíveis para as franquias da D-League selecionarem neste sábado, pela tarde – 11 deles têm experiência de NBA. Entre eles também consta o veterano armador Luther Head, ex-Houston Rockets, companheiro de Deron Williams na universidade de Illinois, e Chris Smith, o irmãozinho do JR. David Stockton, armador revelado por Gonzaga, nunca jogou lá, mas também tem um sobrenome de peso, com pai famoso.

Como funciona o Draft? São loooongas oito rodadas de escolhas para as 18 franquias. Tal como na liga principal, esses picks estão sujeitos a trocas, e tal, com muitas delas já interferindo na ordem de escolha deste ano. As negociações, porém, só podem acontecer até esta sexta-feira. Não estranhem se Ricardo for selecionado pelo Santa Cruz Warriors, filial do Golden State, de Leandrinho. Na campanha passada, eles contaram com Seth Curry, por exemplo. Esse tipo de acordo é normal.

Dos 18 times, 17 têm vínculo exclusivo com, digamos, seus irmãos da NBA. O único fora da brincadeira é o Fort Wayne Mad Ants, justamente aquele de melhor nome, que acaba sendo forçado a abrir espaço em suas fileiras aos demais 13 clubes da liga administrada hoje por Adam Silver. O Toronto Raptors, de Bruno Caboclo e Lucas Nogueira, está no meio dessa confusão, diga-se.

O training camp dos times começa no dia 2 de novembro, enquanto a largada da temporada regular será no dia 14. Na véspera, os clubes precisam definir seu elenco oficial de 10 atletas. A origem dos jogadores não precisa ser apenas via draft. O site oficial explica tudo em detalhes, mas basicamente os times de cima têm direito de “reservar” alguns atletas para seus afiliados (num limite de quatro). Além disso, durante o calendário regular, sabemos muito bem que há constante intercâmbio entre os dois campeonatos. Brasileiros como Vitor Faverani, no campeonato passado, antes de se lesionar, Scott Machado e Fabrício Melo já passaram por essa rota.


Boston Celtics: Alguém vai atender o telefone?
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Stevens e Rondo: juntos para sempre ou até quando?

Stevens e Rondo: juntos para sempre ou até quando?

Danny Ainge não vai parar, disso todos sabemos. O irrequieto chefão do Celtics é daqueles que torra dólares em contas telefônicas. A orelha de seus contatos no Skype já está cansada. E lá está ele ligando para aquele pobre gerente geral novamente, em busca de mais escolhas de Draft, de mais trunfos para poder apostar alto depois. É isto: o cartola não vai sossegar, enquanto não conseguir fechar mais uma supertroca que dê ao tradicionalíssimo time mais um grande craque, aos moldes do que obteve em 2007 com Ray Allen e Kevin Garnett.

Quando Kevin Love visitou o Fenway Park, do Red Sox, nas férias, você imagine como a cidade, doente por esportes, ficou. Em polvorosa? É pouco até, especialmente depois de David “Big Papi” Ortiz se empenhar no recrutamento. Um torcedor sortudo até mesmo flagrou um encontro do ala-pivô com Rajon Rondo:


Acontece que o flerte durou pouco. Flip Saunders, presidente, gerente geral, técnico, roupeiro e segurança do Timberwolves, não se empolgou tanto assim, não, com o que Ainge lhe ofereceu, o contrário de Kevin McHale, todo camarada com seu ex-companheiro, tempos atrás. Obviamente LeBron James ficou bastante satisfeito com essa decisão.  Já Rondo… Por mais que o armador fale em público, e que a diretoria do Celtics sublinhe cada palavra – está tudo bem, estão todos felizes –, fato é que o astro e a franquia estão em pontos diferentes da curva, neste momento. O time está em fase de reconstrução, ainda sem identidade. O atleta, em último ano de contrato, voltando de lesão no joelho e de uma fratura na mão, acostumado a lutar pelo título, a brigar nos playoffs. Vai demorar para acontecer isso em Boston. A não ser que alguém diga sim a Ainge. Sempre levando em conta que, no fim, Rondo é aquele poderá ser trocado. Senta, que lá vem história, viu?

 Marcus Smart arranca elogios por onde passa. Por ora, aguarda se Rondo vai ou fica

Marcus Smart arranca elogios por onde passa. Por ora, aguarda se Rondo vai ou fica

O time: que o Celtics vai estar bem preparado, bem treinado, disso não há dúvida. Brad Stevens impressionou em seu primeiro campeonato profissional e agora chega mais experiente. O jovem técnico é elogiado por todos em sua habilidade para fraturar o jogo em pequenos detalhes, repassando-os de modo claro para seus jogadores. Esses relatórios são acompanhados de toda e qualquer estatística disponível.  O problema é que, em quadra, o elenco é bem inferior ao da maioria de seus concorrentes: faltam arremessadores de primeira linha e um defensor que proteja o aro. São carências que Vitor Faverani poderia suprir, desde que consiga jogar: além de uma segunda cirurgia no joelho, o pivô ainda teve dificuldades com a língua e a cultura do basquete americano, segundo Ainge. A defesa ao menos conta com armadores ágeis e implacáveis, que podem atormentar os adversários. No geral, cabe a Stevens desenvolver os novatos Marcus Smart (badalado por onde quer que passe, até em treinos contra o Team USA) e James Young (um mês e cinco dias mais velho que Bruno Caboclo), além do segundanista Kelly Olynyk.

A pedida: se a troca por um atleta de ponta não acontecer, a direção do Celtics não vai fazer força nenhuma, nem torcer para que a equipe renda bem em quadra. Nos planos de longo prazo, mais vale uma escolha alta no próximo Draft, do que uma campanha beirando a mediocridade.

Sullinger, o novo atirador

Sullinger, o novo atirador

Olho nele: Jared Sullinger. No geral, o Celtics não tem muitos chutadores, mesmo, em seu plantel. Mas bem que o ala-pivô tem trabalhado para aumentar essa lista. Na pré-temporada, o rapaz de 22 anos converteu 14 de 22 disparos de longa distância nos primeiros sete jogos de pré-temporada. Vejam só. Seu apetite (sem trocadilhos, por favor) para os chutes de fora vem sendo incentivado por Stevens. Na temporada passada, ele tentou 208 arremessos em 74 partidas, mesmo que tenha convertido apenas 26,9% deles. O interessante é que Sullinger consegue combinar esse maior volume (de novo: sem trocadilhos!!) no jogo exterior com uma presença relevante na briga por rebotes: tem média de 10 por partida nesses mesmos amistosos, com direito a 19 num duelo com o Brooklyn Nets. Se o treinador preferia ter Kevin Love cumprindo esse tipo de papel? Ô. De todo modo, o jovem Sullinger ao menos vai se esforçando para deixar sua marca.

Você não perguntou, mas… o Celtics está prestes a dispensar um de seus jogadores, sendo obrigado a pagar o salário dessa figura na íntegra. O mais cotado é o armador Will Bynum, recém-adquirido em uma troca por Joel Anthony, que foi para Detroit. Cada franquia só pode levar 15 contratos garantidos para a temporada regular. Acontece que, em sua volúpia para fechar transações, a diretoria acabou juntando um plantel com com peças uma peça sobressalente. Bynum chegou de última hora, com US$ 2,9 milhões por receber – muito mais que o calouro Dwight Powell (US$ 500 mil). Mas preferiram apostar no potencial do ala-pivô canadense, mesmo arcando com a diferença: é como se estivessem assinando um cheque de US$ 2,4 milhões para nada. Pense nisso.

Abre o jogo: “Cara, estamos assistindo a muito basquete europeu. Não… o jogo é que está crescendo, e essa é a direção que todos estão tomando”, Brandon Bass, experiente ala-pivô que também vai adicionando o chute de três pontos ao seu arsenal, sob insistência de Stevens. Para Bass, porém, o arremesso se restringe a zona morta, e só. Resta saber se a parada no meio da frase, para mudar o tom, tem a ver com ironia ou reclamação.

Danny Ainge, beisebol, MLB, Blue JaysUm card antigo antigo: antes de entrar na NBA para ganhar dois títulos pelo histórico Celtics dos anos 80, Danny Ainge primeiro jogou na liga profissional de beisebol, a MLB, pelo Toronto Blue Jays.  Ao mesmo tempo em que estudava na BYU, o segunda-base estreou pelo time canadense no dia 21 de maio de 1979 e se despediu da modalidade em setembro de 1981, optando pelo basquete. Ainda hoje, o armador tem um recorde nos campos: é o mais jovem atleta a ter conseguido um home run pelo Blue Jays, com 20 anos e 77 dias. Detalhe: nos tempos de colegial, o cara era também um craque no futebol americano, com direito a dois títulos estaduais no Oregon. Quem pode, pode, né?


Situação difícil: Faverani passa por nova cirurgia
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Giancarlo Giampietro

O Hospital Mesa de Castillo, de Murcia, na Espanha, publicou nesta tarde o seguinte tweet:

Aqui, temos o pivô Vitor Faverani prestes a passar por uma cirurgia no joelho esquerdo, para limpar uma inflamação persistente e avaliar seu menisco, que já havia sido operado em março deste ano. Estes são os fatos declarados. O que é mais difícil de entender e explicar é a situação delicada na qual o futuro do brasileiro em Boston fica em dúvida.

É a segunda cirurgia em sete meses para o jogador. Algo que já seria péssimo para qualquer pessoa, quanto mais para um jogador de basquete. Mas a situação piora bastante quando você é um jogador de basquete que está num clube que tem pouco mais de duas semanas para se livrar de pelo menos um contrato excedente em seu elenco um tanto bagunçado – com talentos que se duplicam e não necessariamente chamam a atenção da liga.

O gerente geral Danny Ainge chegou a este ponto ao fazer troca atrás de trocas na esperança de estocar escolhas de Draft  e formar um pacote que se tornasse irresistível e que lhe pudesse executar mais uma negociação que lhe desse um craque, como já havia que feito por Kevin Garnett e Ray Allen em 2007. As escolhas vieram, mas a tão sonhada transação envolvendo Kevin Love, não.

Smart e Young: duas raras certezas no time de Ainge e Stevens

Smart e Young: duas raras certezas no time de Ainge e Stevens

Agora, ele precisa resolver este impasse: no momento, o Celtics tem 20 jogadores com papelada assinada. No dia 28 de outubro, quando a temporada começar, este número precisa ser reduzido para 15. Obrigatoriamente. Destes, quatro deles podem ser dispensados sem… hã… problema – isso quando você consegue esquecer que está, na verdade, cortando, demitindo quatro pessoas. Os vínculos que podem ser rescindidos sem que o clube precise lhes pagar nada durante a temporada regular são de Christian Watford, Rodney McGruder e Tim Frazier, calouros convidados para o training camp, além do ala-pivô Erik Murphy, ex-Bulls, Jazz e Cavs, que chegou de última hora numa troca tripla.

Então tudo bem: o dirigente chegaria a 16. Ainda está sobrando um. Neste caso, as coisas ficam um pouco mais complicadas para se resolver. Pois os 16 atletas têm seus salários garantidos por todo o campeonato. Isto é, aquele que fosse desligado ganharia um belo cheque sem nem mesmo disputar um jogo sequer pelo time. O que os cartolas podem tentar fazer é acertar uma troca na qual a franquia só receberia uma escolha de Draft, os direitos sobre um jogador… Tudo menos um jogador. Ainge é um negociador quase compulsivo até e certamente já tem cenários em mente para seguir com esse plano – foi algo que conduziu Fabrício Melo, outro pivô brasileiro, para fora de Boston, inclusive, no ano passado.

Se não obtiver sucesso, aí, sim, teria de sacrificar um contrato. Mas qual?

É certo que os armadores Marcus Smart e Avery Bradley, o ala James Young e os os alas-pivôs Jared Sullinger e Kelly Olynyk jamais seriam mandados embora a não ser em uma negociação por uma estrela. Assim como Rajon Rondo, o melhor jogador do time. Ou Jeff Green, o ala que o clube parece dar muito mais valor do que a concorrência – cujo salário pode servir como grande peça para uma aguardada supertroca, da mesma forma que os de Brandon Bass, Marcus Thornton e Gerald Wallace (altíssimos e no último ano de duração). O pivô Tyler Zeller também ainda é jovem, tem grife, tamanho e bons fundamentos.

O que sobra? Se formos pegar pelos de menor valor, temos o ala-pivô Dwight Poweell, novato selecionado pelo Cavs no Draft e repassado para Boston ao lado de Murphy e Marcus Thornton, com salário de US$ 507 mil. O próximo da lista o armador segundanista Phil Pressey, com US$ 816 mil. Pressey, no entanto, é constantemente elogiado por Ainge e pelo técnico Brad Stevens. Faverani tem mais dois anos de contrato, mas só um deles é garantido, por US$ 2,09 milhões neste próximo campeonato. Há também o veterano Joel Anthony, com US$ 3,8 milhões para serem depositados. Matematicamente, Powell seria o corte mais barato. O canadense, revelado pela universidade de Stanford, membro de seleções de base, é três anos mais jovem que Faverani, no entanto, e vem batalhando na pré-temporada para tentar entrar na turma dos intocáveis.

Faverani não conseguiu jogar muito no primeiro ano de adaptação. Jogo exterior tem mais apelo

Faverani não conseguiu jogar muito no primeiro ano de adaptação. Jogo exterior tem mais apelo

E quanto ao brasileiro?

Vitor teve uma temporada de calouro na NBA irregular. Começou jogando muito, com direito ao incrível jogo de 18 rebotes e 6 tocos contra o Milwaukee Bucks no dia 30 de outubro, logo pela segunda rodada, mas viu seu tempo de quadra sendo reduzido gradativamente. Embora veterano de Liga ACB, o pivô passou pelo já tradicional período de adaptação ao basquete norte-americano – algo que Tiago Splitter e Mirza Teletovic, duas estrelas do campeonato espanhol, também encararam em San Antonio e Brooklyn, respectivamente.

Deslocado para a D-League, jogando pela filial Maine Red Claws, o brasileiro começava a ser produtivo (12,8 pontos, 9 rebotes, 2,8 assistências e 1 toco em 25 minutos) até sofrer a grave lesão. No geral, pela liga principal, o atleta disputou 37 partidas, com médias de 4,4 pontos, 3,5 rebotes em 13,2 minutos – numa projeção por 36 minutos, o rendimento é ótimo. Mais do que os números, o brasileiro possui características difíceis de se combinar e que valem muito na NBA moderna: o potencial para converter tiros de longa distância e ao mesmo tempo ajudar na defesa interior, com boa capacidade para tocos.

“Acho que ele provou que é bom. Quando ele estava recebendo minutos de nós e quando estava jogando na D-League, acho que ele provou a todos que é um jogador de NBA”, avaliou Ainge ao final da temporada. “Ele foi o único cara de nosso time que tinha, na verdade, qualquer tipo de presença na frente do aro. Mas uma vez que o (Kris) Humphries estava jogando bem, assim como Brandon, Kelly e Sully, foi duro para ele entrar na rotação. Teve também uma dificuldade com a língua e a cultura, mas, em termos de talento, acreditamos que ele definitivamente é um jogador de NBA. Gostaria de contratar mais um jogador que proteja o aro, mas acho que o Vitor provou que pode ter um papel no nosso time.”

As declarações eram animadoras – ainda que não pudessem ser levadas a ferro e fogo. Faverani pode ter mostrado talento, mas ao mesmo tempo não foi suficiente para ele entrar no time de Stevens, mesmo que o técnico tivesse carências na proteção da cesta e do garrafão. O diretor elogia e aponta alguns problemas. Vai ser político ao falar de seus jogadores. Dessa forma, a pré-temporada seria essencial para que o pivô mostrar serviço, evolução, justificando o investimento nele.

Vitor Faverani, Boston

Boston obviamente precisa de ajuda no garrafão, conforme mostrou contra o Bucks. Faverani entra nessa?

Acontece que seu joelho não ficou bom, nem mesmo com o tempo de descanso nas férias – período no qual precisou responder sobre um acidente de trânsito na Espanha, levantando suspeitas de que estaria embriagado, algo que ele negou de modo veemente. O tipo de incidente que não pega bem nos Estados Unidos e que a franquia não desmentiu, mas sobre o qual também não anunciou nenhuma punição.

O brasileiro se apresentou a Stevens ainda dores e inchaço, que o impediram de treinar direito. Passou por mais algumas baterias de exame de ressonância magnética, mas nada foi constatado. Constantemente questionado a respeito, o técnico já não sabia mais o que dizer aos repórteres. Até que o pivô decidiu viajar para a Espanha para consultar um médico com o qual é mais familiar. Chegou a Murcia e, dias depois, optou pela segunda cirurgia, que lhe deve afastar das quadras por seis a oito semanas. A pior hora possível, considerando o cenário exposto acima.

Quando indagado se havia a possibilidade de Faverani ser dispensado, Stevens afirmou que não havia conversado a respeito com seus superiores. O site Sportando afirma que existe essa hipótese, que ela vem sendo discutida. O jogador vai passar as primeiras duas semanas de recuperação em solo espanhol, adiando o retorno a Boston. Resta saber agora se o seu potencial vai prevalecer em meio as contas que Danny Ainge precisa fazer. A passagem de volta depende muito disso.


Depois da eliminação, as pérolas de Carlos Nunes
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Giancarlo Giampietro

"Aqui não é futebol", afirma Carlos Nunes. E...?

“Aqui não é futebol”, afirma Carlos Nunes. E…?

Carlos Nunes ataca novamente! Numa rara aparição pública, o presidente da CBB topou falar ao GloboEsporte.com depois da eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo. Suas respostas, para manter a coerência, beiram ou atravessam a linha do trágica. Um ou outra resposta você entende de onde saem: Nunes é um político e vai falar como tal, na pior acepção da palavra. Vai distorcer fatos, ignorar os percalços gerais de sua administração e encher a boca para garantir uma série de coisas que estão fora de sua alçada. A não ser que ele resolva endividar ainda mais a confederação, pegar empréstimos, passar o chapéu em Brasília de novo e de novo para assinar cheques de um milhão de euros para fazer valer qualquer discurso. Aí, meus amigos, até eu. Então, sem mais delongas, aqui estão as declarações para o repórter Fábio Leme seguidas de comentários:

País-sede vai ter de disputar vaga olímpica?
“Estamos absolutamente tranquilos. O Brasil, como país-sede das Olimpíadas, não vai ter basquete? Isso não existe. Evidente que há uma especulação, pois o regulamento é omisso nesse assunto, mas não tenho dúvida. Veja só nas Olimpíadas de Londres quem participou? Não foi a Inglaterra, foi a Grã-Bretanha, e o time deles não chega nem aos pés do nosso, com o perdão da expressão.”
>> Comentário: e quanto foi Brasil x Grã-Bretanha nas últimas Olimpíadas? Só 67 a 62? Ah, tá… Agora, sim, todos sabemos que o Brasil tem mais tradição que os britânicos nessa brincadeira toda, tem mais jogadores disponíveis, mercado etc. Só não dá para alguém intelectualmente honesto se referir ao atual basquete brasileiro com essa soberba toda. Simplesmente não dá: pelo que a CBB faz, não cabe expressão espirituosa nenhuma. Além do mais, não sei se o presidente sabe, a Inglaterra não disputa os Jogos Olímpicos, mesmo. Nem no futebol, em que os inventores do esporte dividiram time com galeses e vizinhos.

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Calendário 2015: Pan + Copa América
“Eu acho que temos equipe para cumprir os dois eventos. Não vamos com a equipe A nos dois, vamos fazer uma mescla. Estamos avaliando qual a nossa prioridade agora, mas, a princípio, é o Pan-Americano, porque a vaga olímpica nós temos, apesar de a Fiba nunca ter dado essa segurança. No Pan, nós não vamos com os jogadores da NBA, mas vamos com uma equipe forte, com o objetivo de ganhar medalha. Acho que não teremos problemas para ter os atletas que atuam no basquete europeu. Isso tudo vai ser discutido pelo departamento técnico, eu estou dando as informações de algo que discutimos mais ou menos. No Pré-Olímpico, nós vamos com os da NBA.”
>> Discutir “mais ou menos” não é a cara da CBB? Mas tudo bem, né? Está cedo para fazer plano para o ano que vem. Acabamos de jogar um Mundial, gente. Vamos deixar de chatice. Deixa primeiro aproveitar o resto da estadia em Madri. O futuro fica para amanhã. De longo prazo, só vive gente séria. Além do mais, obviamente que o Brasil tem dois times fortes para disputar medalhas o tempo todo. Como a Copa América do ano passado comprovou, com as derrotas para Jamaica e Uruguai. Da mesma forma em que ocorreu no Pan de Guadalajara 2011, em que ficou fora das semifinais. O fato até agora é um só: quando Rubén Magnano não teve nenhum representante da NBA em seu time, se lascou.

E tem mais: Carlos Nunes por acaso sabe quem são os atletas brasileiros hoje na Europa? Vamos contar: Huertas, Rafael Luz, Raulzinho, Augusto, JP Batista, Tavernari e quem mais? De repente ele esteja se referindo aos meninos de 1996 (Daniel Bordignon, do Baskonia) ou mesmo de 1998 (Felipe dos Anjos, o espigão do Real Madrid, ou Gabriel Galvanini, do Fuenlabrada)? Pode ser.

Lembrando que a seleção brasileira de base europeia, junto com os veteranos de sempre do NBB, foi a que naufragou na Copa América. Em 2011, no Pré-Olímpico em que o Brasil derrotou a Argentina, sabe quantos de NBA estavam lá? Só Splitter. Então como ele pode garantir que todos estarão no ano que vem? Isso representaria três anos seguidos de convocação desses caras, que já não são os mais jovens do mercado. Como eles chegarão ao Rio 2016? Enfim, há muito o que ser discutido, especulado. Mas depois a gente fala mais a respeito.

Quando o dever com o COB te chama
“Quanto ao Pan-Americano, nós também queremos medalha, até porque o COB está nos dando um apoio muito grande. Então, nós temos que honrar esse apoio conseguindo uma medalha no Pan.”
>> O repórter traz uma informação que desconhecia (se estava amplamente divulgado, podem me espezinhar): a de que o Comitê Olímpico Brasileiro está bancando o salário da comissão técnica da seleção. Ajuda providencial, depois dos R$ 3 milhões que gastamos apenas para entrar no Mundial a “convite” – sem contar a grana torrada com a delegação de 2013, no fiasco que foi a campanha na Venezuela. Aí a CBB se vê de mãos atadas: se a Fiba por um acaso optar por ferrar o basquete brasileiro e deixar o país-sede sem vaga olímpica definida, como faz? Vai jogar com dois times “fortes” no Pan e Pré-Olímpico? Em tempo: sinceramente, acho possível ter duas equipes competitivas, mesmo só com atletas do NBB. Desde quem bem preparados. Infelizmente não aconteceu nas últimas oportunidades, com críticas cabíveis ao trabalho do argentino, que simplesmente lavou as mãos e afirmou que, sem os melhores, não havia o que se fazer.

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

A derrota para a Sérvia e a Copa em geral
“Nós não precisávamos de um resultado acachapante como foi, no caso mais de 30 pontos, mas, no total da campanha, foi ótimo. Quebramos um tabu, recuperamos a hegemonia sul-americana diante de nosso mais assíduo inimigo, comprovamos ter um time forte e ganhamos do campeão europeu. O Brasil mostrou que tem condições. Nosso planejamento está correto, estamos vendo 2016 e seria importantíssimo chegar ao pódio. Nossos atletas demonstraram que têm amor pelo Brasil, pois vieram todos. Da outra vez, não vieram por problemas de saúde ou porque os clubes não liberaram, como foi na Venezuela.”
>> Amor pelo Brasil. Carlos Nunes tem? E ele conversou sobre esse amor com Rubén Magnano quando o argentino saiu disparando para todos os lados, no ano passado? Entendo que o argentino tinha alvos específicos, que deve ter revelado em conversas posteriores aos veteranos, mas vocês se lembram do fuzuê que foi, não? Com Oscar e outros detonando o time, o discurso do treinador serviu como gasolina. As coisas foram contornadas, ainda bem, mas o ponto aqui é: a CBB falha, e muito, em sua comunicação corporativa.

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Rio 2016: pódio?
“A pressão vai ter, sempre vai. Mas a equipe está madura, acho que a pressão não vai influenciar. Nós vamos chegar fortes, aliás, temos de chegar fortes. No nosso país, as Olimpíadas nos exigem uma medalha. Aqui, nosso time deu o recado e essa derrota em nada vai nos abalar. Sempre costumo dizer que aqui não é futebol. Temos um planejamento com o Rubén (Magnano) até 2017 e ele só não vai cumprir se não quiser. Se depender de nós, ele está confirmadíssimo.”
>> De novo o descuido com as palavras: “exige”. A seleção brasileira não tem condição de falar nesses termos. No Mundial, o time estava mais uma vez completo e não conseguiu se posicionar para disputar medalhas, caindo novamente nas quartas. Poderiam ter avançado? Claro que sim. Mas é tudo muito equilibrado e, por consequência, incerto, que não dá para falar em garantias ou exigências. De modo que o basquete em diversos sentidos “é futebol”, sim, com uma penca de times competitivos que sonham com um pódio olímpico. Sobre a CBB ter planejamento e tal, melhor nem comentar. Tou limpando as lágrimas aqui.

Renovação na seleção?
“Essa avaliação quem vai fazer é o Rubén, mas eu entendo que a maioria tem condições de chegar em 2016. Também existem novos valores despontando como o Bebê, o Caboclo e o Faverani, que não pôde vir porque estava machucado. Nós vamos ter uma equipe forte e preparada.”
>> Faverani é um novo valor, que está despontando. Ele, que vai fazer 28 anos em 2016.

 Eu não recebi a informação de que estaríamos garantidos desde que jogássemos com um time forte no Pré-Olímpico mas, se isso for o que a Fiba decidir, nós vamos cumprir


Gerald Wallace, os resmungos e a fuga da realidade
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Giancarlo Giampietro

Toda a depressão e os resmungos de Gerald Wallace

Toda a angústia, depressão, os resmungos e os milhões de dólares de Gerald Wallace

Pode sorrir, Pau Gasol. Que o troféu de Maior Chorão da Temporada 2013-2014 da NBA não é seu.

A honraria vai para Boston dessa vez. Obviamente ainda há muito jogo pela frente até chegarmos a abril, mas dificilmente alguém vai conseguir bater o Gerald Wallace nessa disputa.

O jogador que um dia já foi conhecido como “Crash”, por sua capacidade atlética incrível, muita energia e a ferocidade em quadra, brigando por rebotes, distribuindo tocos, aterrorizando os adversários, hoje é um pesadelo apenas para o departamento de relações públicas da franquia mais vitoriosa da liga norte-americana.

Wallace basicamente virou o melhor amigo dos setoristas da Beantown. Os jornalistas que seguem o Celtics sabem: se está faltando assunto, basta abordá-lo no vestiário, na zona mista, em qualquer lugar. Eles só precisam estar certos de que há espaço suficiente na memória do celular para gravar a conversa, ou que a Bic azul clássica está com carga suficiente para gastar o bloquinho. É aquela coisa: “Senta, que lá vem história”.

Quando escrevemos aqui sobre o quão egocêntrica ou ególatra a rapaziada da NBA pode chegar não é por pouca coisa. Nos vestiários, no dia a dia de viagens e muitos jogos, esse é um dos principais problemas que gerentes gerais e treinadores precisam controlar. Quando o Celtics perde tanto como foi em sua recente viagem pela Costa Oeste, fica ainda mais difícil.

A liga, em geral, reúne a elite da modalidade. Para o sujeito chegar lá, precisará ter superado muitos obstáculos desde pequeno, não importando o talento natural. Muitos desses caras foram tratados como reis dos 15 aos 19 anos, vindos das mais diversas regiões dos Estados Unidos, cada um senhor de seu universo (“Sr. Basquete de Iowa” etc.). A bajulação só aumenta a partir do momento em que viram profissionais. Se você não se cuidar, a cabeça vai longe, bem longe, a ponto de se perder completamente a conexão com o que se passa ao seu redor.

Wallace já não aguenta mais, gente

Wallace já não aguenta mais, gente

No momento, é nesse estado que está Wallace, que não para de resmungar, de modo descontrolado, sobre tudo, absolutamente tudo o que acontece com o Celtics nesta temporada.

Anotando:

– “É mais , se sentir desrespeitado. O que aconteceu? Ninguém se prontificou a dizer, avisar que você seria trocado. Foi do nada: bam! Você vai para um time que está se dilacerando, pensando em reconstruir. É um lugar difícil para se estar depois de 13 ou 14 anos na liga. Fiquei chateado com o modo como o Brooklyn fez. Sei que faz parte, mas é duro.”

– “Tenho de começar de novo, resgatar toda a minha reputação novamente.”

– “Você fica sentado no banco, jogando apenas 17 ou 18 minutos por partida, assistindo, sabe que ainda pode jogar, e vê caras entrando na sua frente que não se esforçam em quadra, não respeitam o jogo e não pensam primeiro na equipe. Isso meio que te frustra, te deixa puto. Mas tem de lidar com isso.”

– “Não estou acostumado a ficar no banco no início dos jogos e nos momentos decisivos.”

– “Esta temporada é um tapa na cara.”

– “Somos o time que é só conversa. Falamos sobre como temos de melhorar. É fácil falar e fazer no treino. Mas os treinos não têm nada a ver com nada em te fazer melhorar. Na hora em que acendem a luz, quando o jogo realmente conta, na hora de fazer o time melhor, não fazemos.”

– “O Denver estava fazendo tudo certo. Do jeito que eles jogaram, do modo como nós jogamos como time, as coisas que fazemos, não merecemos ganhar as faltas que eles ganharam.”

– “Chega de fazer reunião. Chega de papo. Chega disso tudo. Chega de discutir, fazer barulho, reclamar, gemer, de tudo isso.”

– “Acho que um time estava pronto para jogar, e o outro estava preparado para aproveitar o Natal.”

Tudo documentado.

Mas, antes de avançarmos com seu chororô, vale uma digressão.

Uma digressão daquelas, já aviso.

Quem aí está interessado em conhecer um pouco da biografia do ala?

Wallace não se enquadra necessariamente nesse perfil de, vá lá, estrelinha. Não foi daqueles que a vida toda só ouviu elogios e caminhou sobre pétalas e tapete vermelho. Nascido na minúscula e inconfundível Sylacauga, nos confins do Alabama – é supostamente o segredo mais bem cuidado do estado, vejam só! –, ele cresceu jogando numa região que valoriza muito mais o golfe ou o automobilismo (estamos falando do condado de Talladega, cenário perfeito para Will Ferrell tirar um sarro da Nascar americana). No geral, o Alabama também é muito mais conhecido por sua produção de grandes jogadores e times de futebol americano.

Aqui, Ricky Bobby - A Toda Velocidade. Lá, Talladega Nights: The Ballad of Ricky Bobby

Aqui, Ricky Bobby – A Toda Velocidade. Lá, Talladega Nights: The Ballad of Ricky Bobby

Não que o estado, apenas o 23º mais populoso do país, com 4,8 milhões de habitantes segundo a estimativa mais recente do ano pasado, não tenha revelado basqueteiros proeminentes. Quem não se lembra dos dias em que Charles Barkley brincava que se candidataria até, mesmo, a governador por lá? Bem, ao Chuckster fazem companhia Robert “Sete anéis” “Big Shot Bob” Horry, o monolítico Artis Gilmore, os irmãos Chuck e Wesley Person, Jeff “Não sou, nem nunca fui irmão do Karl” Malone e Ben Wallace, aquele fenômeno defensivo da década passada. Nada mal.

Por sua carreira duradoura e produtiva na NBA, Wallace ganhou o direito de se incluir na lista acima, entre os principais expoentes regionais. Mas não se enganem: é em futebol americano e corridas que seus conterrâneos estão antenados. De modo que a badalação em torno do ala nunca foi daquelas, mesmo que ele, em seu último ano de High School, tenha ganhado o prêmio de Jogador do Ano Naismith, entrando numa relação que conta com gente como Kobe Bryant, LeBron James, Dwight Howard, Chris Webber, Jason Kidd (mas também Damon Bailey, Dajuan Wagner, Shabazz Muhammad, Donnell Harvey, entre outros que não vingaram, por diversos motivos; isto é, depende da fornada).

Artis Gilmore, produto do Alabama

Artis Gilmore, produto do Alabama

Fiel, talvez demais, a sua terra natal, decidiu jogar na universidade de Alabama, mesmo numa época em que os colegiais poderiam pular diretamente para a liga principal. Os Crimson Tide também foram muito mais celebrados por seus feitos no futebol americano, sendo um dos dez times mais vitoriosos da história na NCAA nessa modalidade, do que pelo basquete, no qual eles não se cansam de apanhar de Kentucky na SEC (Conferência Sudeste). Da NBA de hoje, apenas outros dois jogadores passaram por lá: Mo Williams, que se reinventa como sexto homem no Blazers, e o esforçado, mas limitado Alonzo Gee, ala do Cavs.

Com média de apenas 9,8 pontos, 6 rebotes e pouco mais de um toco e um roubo de bola por partida, mostrou basicamente o potencial que tinha pela frente, mas sem deixar scouts e gerentes gerais malucos. Ainda assim, aos 19 anos, se inscreveu no Draft de 2001, aquele que ficou marcado pelo amontoado de pivôs adolescentes recém-saídos do high school,  mas também contou com o influxo de muitos estrangeiros: Pau Gasol em terceiro, Vladimir “Mais Um Futuro Nowitzki” Radmanovic em 12º, Raúl López em 24º e o desconhecidoTony Parker em 28º. No meio de tantas novidades, o ala foi escolhido na 25ª colocação, pelo Sacramento Kings. (Para constar, Gilbert Arenas foi a 30ª escolha, o que na época queria dizer segunda rodada).

Na capital californiana – sim, Sacramento –, Wallace entrou em um elenco fortíssimo. O Kings vivia seu auge, brigando pelo topo da Conferência Oeste com o Lakers de Shaq, Kobe & Phil. Era um timaço, de jogo vistoso, dirigido por Rick Adelman, com Webber como o craque, mas muita gente talentosa, inclusive, nas alas. Turkoglu era reserva de Peja. Christie também estava em alta. Diante desses caras, não havia espaço para um novato ainda muito cru tecnicamente. Foi escalado, então, em apenas 54 jogos, com média inferior a dez minutos. Foi o décimo atleta mais usado pelo hoje treinador do Wolves.

O problema é que passou mais um ano, e outro, e… O cara seguia mais tempo sentado no banco do que atacando o aro. Em 2004, então, para o bem ou para o mal, ele mudaria de vida. Ele foi selecionado para o primeiro time do Charlotte Bobcats, no chamado Draft de expansão, no qual as outras franquias têm o direito a proteger até oito jogadores de seu elenco. O restante? Fica ao alcance de quem está chegando. E Wallace caiu nesse balaio. Daquela lista original, apenas um atleta está na liga ainda hoje: Zaza Pachulia, o pivô cabeçudo e lesionado do Milwaukee Bucks.

Para alguém que havia jogado tão pouco, porém, o que poderia haver de mal numa situação dessas? Ok, o Kings jogava pelo título. Em Charlotte, era sabido que o projeto demoraria a chegar a um nível de respeitabilidade (estamos esperando até agora, aliás). Não haveria restrição alguma para Wallace, só 22, arregaçar as mangas e ir ao trabalho. De espectador passou a terceiro que mais jogou pelo Bobcats. Teve a chance de se apresentar como um jogador dinâmico, daqueles que estufa a linha estatística, com detalhe especial para seus números de rebotes, roubadas e tocos. Em 2005-06, por exemplo, antes de se lesionar, tinha média de dois por jogo em cada um desses quesitos, algo que só dois jogadores na história conseguiram reproduzir num campeonato: David Robinson e Hakeem Olajuwon.

Com carta branca e liberdade, evoluindo temporada após temporada, a despeito de uma constante troca de companheiros, fez seu nome, com agilidade, impulsão, explosão e a fome pela bola, sofrendo uma ou outra concussão no caminho. Até que, em 2009-10, agora com Larry Brown no comando e Michael Jordan já proprietário do clube, ajudou o Bobcats chegar aos playoffs pela primeira vez na história e, no meio do caminho, se viu premiado com uma seleção para o All-Star Game, votado pelos técnicos. Sim, o “Crash” era enfim uma estrela.

De lá para cá, acho que você já deve estar mais familiarizado com o que se passou em sua carreira. Então vamos rapidamente: o Bobcats regrediu, os veteranos foram trocados – e Wallace já era um deles, indo para o Portland. O time tinha uma base promissora, mas acabou se implodindo, levando a cabeça do técnico Nate McMillan junto. Foi, então, repassado ao Brooklyn Nets, atendendo pedido de Deron Williams (e, dizem, Dwight Howard). Teve seu contrato renovado por US$ 40 milhões e quatro temporadas.  Só durou mais uma lá, envolvido na negociação com o Celtics por Pierce e Garnett.

Ufa.

E aqui voltamos.

Ao ponto em que Wallace se desconectou da realidade.

Com uma trajetória dessas, dá para entender. O sujeito deu um duro danado para se virar “al-guém” na liga. “Você está de volta para o ponto que em que já esteve em Charlotte”, diz o ala. “Os árbitros não te respeitam mais, assim com os outros times.”

Não imaginava que passaria alguns de seus brilhantes últimos anos num time que é um saco de pancadas e não vai brigar por grandes coisas tão cedo, como o próprio Danny Ainge afirma.

Mas… Hã… Espere um pouco: de onde saiu “brilhantes últimos anos”?

Para um jogador que tem médias de 4,2 pontos, 3,3 rebotes, 2,5 assistências em 22,1 minutos, acertando 36,1% de seus lances livres (!?) e , acho que o termo não se encaixa, né? É o que ele vem oferecendo ao Celtics neste campeonato. E o que dizer dos 7,7 pontos, 6,8 rebotes, 3,1 assistências e 39,7% nos arremessos do ano passado em Brooklyn? Também não anima nada, ainda mais com um salário de US$ 10 milhões por ano – sozinho, recebe mais que Avery Bradley, Jared Sullinger, Kelly Olynyk e Vitor Faverani juntos, e ainda sobra troco.

Gerald Wallace, Crash, G-Force, já não é mais o mesmo

Gerald Wallace, Crash, G-Force, já não é mais o mesmo

Tem mais: não é nem um caso de jogador que esteja passando pouco tempo em quadra, obrigado a ficar fora para a turma dos mais jovens brincar. Numa projeção por 36 minutos, seus números seguem abaixo da mediocridade. Em termos de eficiência, também, lá foi ladeira abaixo, com o pior índice de sua carreira, pior até mesmo que os anos de soneca em Sacramento.

Privado de sua capacidade atlética, 12 anos depois de ter entrado para o mundo maravilhoso e perigosamente fantasioso da NBA, Wallace não conseguiu se reinventar como jogador. Tenta ser o mesmo de antes, mas não consegue. Há diversos garotos chegando, como ele, ávidos por sua oportunidade. Fica esse descompasso.

Com base em sua experiência, o jogador teria certa autoridade para se pronunciar em entrevistas e no vestiário e tentar mexer com os brios de muitos de seus jovens colegas. Mas o fato é que, de acordo com o que ele produz em quadra, fica um pouco difícil de a mensagem ser compreendida de forma devida.

Os jornalistas adoram, ao menos.


Faverani se destaca e tenta ganhar confiança do técnico em renovado Celtics
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Giancarlo Giampietro

Faverani, fazendo diferença (Photo by Christopher Evans)

Courtney Lee foi abordado ao final de um dia pesado de treinamentos da pré-temporada do Boston Celtics, e a curiosidade do repórter Steve Bulpett, do Boston Herald, tinha a ver com um possível paralelo entre dois brasileiros. Diga aí, Lee: como comparar Vitor Faverani, aquele que ficou, com Fabrício Melo, o que saiu?

“Eles são muito diferentes”, disse o ala. Bulpett afirma que o que mais ouviu foi que “Fab” ainda é um projeto, e “Fav”, um jogador.

Esta foi a primeira distinção que Faverani conseguiu estabelecer em seus primeiros dias com o Celtics, durante os treinos. Agora, com o time já a pleno vapor disputando amistosos, o pivô pretende mostrar que, em termos de habilidade de encarar os desafios de uma NBA, em comum com seu compatriota, mesmo, só há a nacionalidade.

Nesta quarta, em derrota apertada para o Knicks, o brasileiro saiu do banco novamente e teve grandes momentos em quadra para impressionar o técnico Brad Stevens. Especialmente no segundo período, no qual anotou nove de seus 11 pontos, com direito a enterradas afirmativas e um chute de três pontos, deixando evidente sua versatilidade. Sem fazer festa.

“Não tenho tempo para (comemorar) na quadra. Porque tenho de fazer a enterrada e, então, voltar para a defesa”, afirmou o jogador, que atuou por 20 minutos, apanhando seis rebotes. “Mas estou feliz, muito feliz. Porque as enterradas podem ajudar meus companheiros e eu posso mostrar ao técnico que posso jogar na NBA. Estou muito feliz.”

É isso. Faverani penou por umas boas duas ou três temporadas como profissional na Espanha até amadurecer e se estabelecer como um grande jogador, alguém preparado para atender aos pedidos de seus treinadores dia após dia, treino após treino, jogo a jogo.

Isso pesa a seu favor. Embora tenha de fazer diversos ajustes, lidando diariamente com jogadores, no mínimo, muito mais atléticos e fortes do que enfrentava na Espanha, o pivô chegou a Boston como um atleta já formado. O que não quer dizer também que não possa melhorar – se Kobe Bryant pode aperfeiçoar ou desenvolver fundamentos aos 34 anos, está claro que no basquete não há limites.

Faverani x Hansbrough

Vitor teve o privilégio de trabalhar duro durante a pré-temporada com Ron Adams, assistente que foi contratado para guiar Stevens em suas primeiras temporadas como treinador principal na NBA. Membro mais experiente da comissão técnica, Adams teve passagens recentes bastante significativas pelo Oklahoma City Thunder e pelo Chicago Bulls, influenciando na evolução de diversos jovens jogadores. Com o brasileiro, a ênfase tem sido em seu arremesso e nos fundamentos de defesa. Aos poucos, o resultado vai aparecendo em quadra.

 “Ele tem um bom entendimento do jogo. Você pode chamar várias um monte de coisas para ele. Está ficando mais confortável”, avaliou Stevens. “Ele também tem um pouco de dificuldade com a língua, mas faz o que pedimos na saída dos pedidos de tempo. Não tem problema nenhum em traduzir na quadra o que estamos tentando fazer.”

Sem Kevin Garnett e Paul Pierce, com Rajon Rondo assistindo tudo do lado de fora, ainda se recuperando de uma cirurgia no joelho, com um treinador calouro, o Boston Celtics ainda busca uma nova identidade em quadra.

Pelos esboços que vimos nas suas primeiras duas partidas da equipe (que havia perdido na estreia para o Toronto Raptors, por 97 a 89), a rotação de pivôs de Stevens era composta por Brandon Bass, Kris Humphries, Jared Sullinger e o novato Kelly Olynyk. Vitor seria o quinto grandalhão na ordem.

Mas nada disso ainda é definitivo, enquanto o técnico vai assimilando o que cada atleta tem para oferecer e quais as melhores combinações possíveis entre esses grandalhões. Nesse ponto, Faverani vai fazendo de tudo para elevar sua cotação e se inserir na discussão com mais propriedade, ainda que seu inglês não seja o mais expansivo.

“Ele é um arremessador melhor do que tem mostrado até agora”, disse Stevens. “Acho que ele tem um potencial muito bom, e é o único em nosso elenco que é um verdadeiro pivô. É um cara que vai ter de jogar, acho, enquanto seguimos adiante.”

 *  *  *

Austin Ainge, filho de Danny, faz parte da diretoria do Boston Celtics, na avaliação e preparação de jogadores. Fluente em espanhol, ele também tem ajudado o pivô como uma espécie de tradutor. “Ele adora bater. Ele é físico. Chega e faz as coisas acontecer e instiga o contato”, disse o jovem dirigente, em sua avaliação pessoal sobre o brasileiro.

Quem sentiu isso na pele foi o assistente técnico Jamie Young (remanescente do estafe de Doc Rivers), que precisou de oito pontos no supercílio direito depois de uma sessão informal de treinos com Faverani. “Tinha sangue pra todo lado. o Danny amou”, disse Young, talvez arrependido de não ter seguido Rivers rumo a Los Angeles.


Ranking põe 2 pivôs brasileiros entre os 20 piores jogadores da NBA, mas qual deles deve se preocupar?
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Giancarlo Giampietro

Fab Melo, o Fabrício

Fabrício não pôde mostrar muita coisa como novato, e seu status despencou em um ano

O melhor da NBA já sabemos quem é. Começa com K, quer dizer, com L. Com “L”, tá, pra ficar claro? Todos sabemos.

E que tal brincar de falar sobre os 5oo (5 x 100) melhores jogadores da NBA? Foi o que o ESPN.com decidiu fazer mais uma vez, a partir desta semana, e o início desta insanidade afetou diretamente os pivôs Fabrício Melo e Vitor Faverani, listados supostamente entre os piores jogadores da liga. O impacto deste ranking para os dois deveria ser nulo – para um deles, contudo, acaba sendo muito preocupante.

Antes de comentar a parte que os atinge, vale gastar algumas linhas sobre o projeto em si.

Empilhar 500 jogadores é algo tão maluco, mas tão maluco – e absurdo, e apelativo, e… Interessante? –, que, se quisessem adotar uma prática sadomasoquista, poderiam divulgar o resultado com um nome por dia, e assim passaríamos quase um ano e meio acompanhando o projeto.

Mas o site americano não precisa disso. O que eles vão fazer é pegar as cinco centenas de jogadores que seu imenso estafe ranqueou e dividi-las em blocos, de modo que a coisa dure apenas umas duas semanas, se tanto. A ideia, claro, é que acabe quando os training camps estiverem prestes a começar. Matam, assim, dois coelhos, dois pobres coelhos de uma vez: não só cobrem um período no qual, para eles, a notícia mais interessante pode ser a próxima briga que um Goran Dragic vá descolar na Europa, como arrumam um jeito de levar sua polêmica para dentro da cobertura geral da liga. Kobe e Dwyane Wade já reclamaram, por exemplo. Kobe, que começa com K, assim como Kevin, de Durant.

Faverani para el mate

Faverani nem jogou na NBA ainda e já se vê metido em lista de polêmicas, ou quase-polêmicas

Aí começa aquela bagunça que só, agitando bares, escritórios, condomínios, sem contar a paróquia. Isso gera tráfego, audiência, e pode até para o jornalista brasileiro oportunista: “Cara, você não vai acreditar, mas o idiota do Vinte Um chegou a pensar em colocar o Kobe ou o Durant na frente do LeBron como o bambambam da NBA? Tem noção?!”, reclama um. E do outro lado do Skype o outro responde: “Afe, vôclicá, caramótoupeira”, e pronto. Talvez percam alguns segundos digitando algum comentário bombástico. Habemus cliques e cliques, e assunto pra conversa.

Mas não é de Kobes e LeBrons que vamos falar, não. Do ponto de vista tupinambá, o ranking mal começou e já atingiu dois brasileiros: Fabrício, ex-Boston Celtics, e Victor Faverani, um novíssimo Boston Celtic.

Para Vitor, que ficou na posição 481 da lista, isso não representa nada. Coisa alguma. Bulhufas.

Como você vai ranquear um jogador que nunca pisou numa quadra de NBA? E, por mais amplo que seja o painel de eleitores, com mais de 200, é de se duvidar que 5% (dez, no caso) tenham gastado mais do que cinco minutos do pivô em ação pelo Valencia. Mas nem no YouTube. Então… Como exatamente eles vão dar para o paulista uma nota  maior ou menor do que a de DeSagana Diop, o veterano pivô que está logo acima na tabela, como o número 480? Diop, que somou 0,7 pontos e 1,9 rebote em 10,3 minutos pelo Charlotte Bobcats no campeonato passado – e que em sua carreira nunca teve média de mais de 20 minutos. Não faz sentido.

Ainda assim, Diop, selecionado em 2001 pelo Cleveland Cavaliers num histórico Draft – o mesmo de Tyson Chandler, Eddy Curry e Kwame Brown –, conseguiu dar um jeito de permanecer na liga até hoje, acumulando 13 temporadas de experiência. Nada como os 2,13 m de altura. A mesma de Fabrício Melo, que ficou na… Tipo… Em… 499º, também conhecido como penúltimo lugar. Atrás dele? Apenas Royce White. O que, aliás, parece até piada – e não se enganem, os jogadores reparam, sim, nesse tipo de “produto editorial”.

White é um ala-pivô cujas habilidades intrigantes nunca puderam ser testadas pelo Houston Rockets em seu ano de novato, tornando-se muito mais famoso por sua luta/campanha a favor do reconhecimento de doenças mentais como algo sério e relevante e que deveria ser enquadrado na política da NBA da mesma forma que lesões em articulações etc.  Não é nenhum absurdo, mas o modo como ele conduziu a campanha foi desastroso, para dizer o mínimo, virando chacota entre dirigentes e torcedores e uma anedota durante a boa campanha do Rockets. Acabou trocado para o Philadelphia 76ers. Sixers, que na verdade estava mais interessado em obter os direitos sobre o pivô turco Furkan Aldemir como contrapartida.

Fabríco Melo no ataque, ou quase

Fabrício, marcado por Steve Novak. Diz muito?

Pois é. Esse figura recebeu uma nota 1,50, contra 1,55 de Melo. Para constar: a pontuação ia de 0 a 10, com o intuito de avaliar a expectativa em torno do “nível geral de cada jogador para a próxima temporada da NBA”. Fabrício caiu de 389 para penúltimo. E aqui o ranking se torna relevante porque confirma uma percepção negativa em torno do jovem brasileiro ao redor da liga. Seu status não poderia estar mais baixo no momento.

De certa forma, poucos viram o brasileiro jogar no último ano também. Vestido de Celtic, ele ficou em quadra por apenas 36 minutos em toda a campanha 2012-2013. Não dá nem uma partida inteira de Fiba. Como avaliá-lo, então, de uma forma justa? Muito difícil. Daí que o fato de ele ter sido dispensado pelo Celtics não pegou nada bem e o empurrou ladeira abaixo. Afinal, era o clube que estaria mais interessado em seu desenvolvimento e, principalmente, mais informado a seu respeito, não? E, se Danny Ainge desistiu tão rápido, que tipo de mensagem isso passa para seus concorrentes e para quem cobre o assunto?

E há mais ingredientes: depois de apenas uma campanha, o pivô foi trocado pelo Boston Celtics para o Memphis Grizzlies. De imediato, a franquia gerida por fanáticos por estatísticas decidiu por dispensá-lo – isto é, estavam mais interessados nas possibilidades estratégicas que a negociação proporcionava, do que em adotá-lo como um novo projeto. E o que aconteceu depois? Nenhuma franquia sequer se candidatou a recolhê-lo durante o período de waiver. Nenhuma, nem mesmo aquelas abaixo do teto salarial que ainda precisam preencher seu elenco. Mesmo sendo ele ainda jovem, com apenas um ano na liga e um gigante que não se encontra todo dia por aí. Até que, por fim, o Dallas Mavericks decidiu convidá-lo para seu training camp, mas sem nenhuma obrigação contratual.

Vamos discutir mais sobre o pivô e sua curiosa trajetória no basquete norte-americano em breve, reunindo material desde seus tempos como um badalado colegial na Flórida. Na cabeça do mineiro de Juiz de Fora, porém, estes tempos já não podem contar para mais nada. É hora de engolir a seco essa cotação baixíssima, encarar o duro e reformular sua reputação para ontem. Não se trata mais de brincadeira.

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Scott Machado, ainda sem clube, mas flertando com um retorno ao time do Warriors na D-League, ficou com a 463ª posição, grudado em… Lamar Odom. Os dois tiveram a mesma nota: 2,05, assim como, ironicamente, Ian Clark, ala-armador que roubou tempo de quadra do brasileiro nova-iorquino durante a liga de verão de Las Vegas e acabou descolando um contrato garantido do Utah Jazz. Um arremessador excepcional.

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A ideia era publicar na quinta-feira um artigo sobre a influência dos jogadores norte-americanos no EuroBasket, mas um problema técnico me fez perder… Hã… Basicamente todos os números que levantei dos “gringos”. Daqueles momentos em que você perde a fé na tecnologia. Vamos ver se dá ânimo de fazer de novo.