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Arquivo : Olynyk

NBA, contratos milionários e as dores do mundo Fiba para o Canadá
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Giancarlo Giampietro

Jay Triano tinha experiência. Os seus atletas nem tanto

Jay Triano tinha experiência. Os seus atletas nem tanto

Tem uma expressão em inglês que, acabo de ser informado, tem equivalente no português, até mesmo ao pé-da-letra: growing pains, que, para os pediatras, é a chamada dor de crescimento, mesmo. Mas é claro que, no cotidiano, os gringos a usam com outra conotação. São as dores de se crescer, de amadurecer. São essas coisas da língua inglesa que mostram que, na sua simplicidade, não tem um vocabulário que impressione Camões ou José de Alencar, mas pode ter uso muito prático e inteligente e, por isso, rico.

Mas vamos deixar o Professor Pasquale cuidar desse assunto com mais propriedade. É que foi simplesmente a primeira coisa que me veio à cabeça durante o jogão do ano até agora pelo mundo Fiba: Venezuela 79, Canadá 78. É um jogo que pode ter repercussão infinita, de tantas lições e consequências que se tira dele. O lado venezuelano e o exemplo que ele representa para o Brasil já pediu o seu artigo. Os vencedores tiveram a prioridade. Agora é a vez dos perdedores.

Foi uma derrota e tanto para os canadenses. Agora, antes de se air avacalhando com os caras, é bom lembrar que, do ponto de vista brasileiro, nada pode ser dito. Os moleques saíram da capital mexicana com apenas duas derrotas. A segunda derrota veio apenas na hora que não podia. Já a CBB só garantiu sua seleção nas Olimpíadas ao vencer a luta contra sua vocação pela pendura, pelo calote e convencer seus patrocinadores a pagar sua dívida com a federação internacional. Ponto. Em quadra, foi mais um vexame.

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E, se for para zoar o país mais ao Norte da América, melhor aproveitar o momento. Pois, em termos de produção de talento, o Canadá não vai parar por aqui, por mais que esse revés machuque muitos de seus eventuais protagonistas. Esse time tinha nove jogadores sob contrato com a NBA, e há muito mais vindo por aí. Gradativamente, ao menos nos grandes centros urbanos, eles estão trocando o bastão e o disco pelo aro e a bola. É a tal da massificação — e taí um vocábulo que os dirigentes brasileiros desconhecem.

Sabe qual a diferença de idade entre Andrew Wiggins e Bruno Caboclo? Ele é sete meses mais velho. Sua seleção como um todo tinha média de idade de 23,8 anos e pouquíssima rodagem em competições internacionais. Esse era desde sempre o maior adversário na briga por uma vaga olímpica. Num paralelo com a nossa geração NBA, é como se fosse 2003 para eles.

Apenas 20 anos para Wiggins. Foi seu primeiro torneio com a seleção

Apenas 20 anos para Wiggins. Foi seu primeiro torneio com a seleção

Para os que já não se lembram mais, há 12 anos a seleção brasileira jogava sua primeira Copa América desde a entrada de Nenê (e Leandrinho) na grande liga, com a esperança de não ficar fora pela segunda vez seguida das Olimpíadas. Varejão era atleta do Barcelona. Alex estava explodindo com o Ribeirão Preto de Lula Ferreira. Marcelinho ainda não tinha um alvo gigante em suas costas. Splitter era um adolescente, apenas, é verdade. Mas em geral havia uma expectativa enorme em torno deles. O desfecho foi de massacrar os nervos: quatro derrotas seguidas, uma facada atrás da outa, e de todos os lados: perderam por dois pontos para os eventuais campeões olímpicos da Argentina, por três pontos para o Canda (de Steve Nash!), por dois pontos para Porto Rico e, para fechar, derrota de dez pontos para o México, de Eduardo Nájera, o ancestral de Ayón.

Os brasileiros amarelaram, então? E os canadenses? (Com a diferença de que a competição de 2003 era muito mais forte que a deste ano.)

Se você prefere esse tipo de termo, tudo bem. Prefiro dizer que sentiram a pressão de um grande jogo, sendo um grupo pouco acostumado a esse tipo de situação. Uma coisa é enfrentar o Milwaukee Bucks ou o Los Angeles Clippers. A qualidade do outro lado será muito superior à de uma Venezuela ou de Porto Rico. Mas o jogo é muito diferente. A pancadaria, a tensão, o clima no ginásio, especialmente para um time tão envolvido com a missão Rio 2016. Tem isso: entre todas as críticas que se pode fazer ao colapso canadense contra os venezuelanos, “salto alto” não pode fazer parte do pacote. Os caras jogaram e respeitaram a competição. Não subestimaram a concorrência.

Ciente disso, a experiente comissão técnica da seleção tentou fazer o que podia para preparar os atletas para o que viria pela frente. O repórter Josh Lewenberg tem um relato muito interessante sobre um coletivo em que os assistentes de Jay Triano faziam as vezes de árbitros e estavam apitando tudo, invertendo marcações, bagunçando geral. “Disse a eles durante o treino que eles precisam encarar isso porque é o que vai acontecer no torneio. O jogo é arbitrado de uma forma diferente da que eles estão acostumados em suas temporadas regulares. É sobre uma das coisas que conversamos. Temos de nos adaptar”, disse Triano, após a sessão.

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez em Toronto. Esmagado por venezuelanos

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez em Toronto. Esmagado por venezuelanos

Santa premonição. A arbitragem na partida contra os venezuelanos foi polêmica. Aquela falta dada na disputa do rebote no último segundo, de Aaron Doornekamp sobre Gregory Vargas, não se marca. Estavam todos se estapeando. É a mesma coisa que a confusão de um escanteio no futebol. Mas o apito soou, e não teve jeito. A maturidade que não conseguiu mostrar na condução do jogo, Cory Joseph, ex-xodó de Popovich em San Antonio, teve na hora de avaliar o que se passou em quadra: “Não deveria nunca ter ido para aquela última bola, primeiro de tudo. Joguei de modo horrível. Se não fosse Kelly (Olynyk), teríamos sido esmagados. Não jogamos bem como equipe. Eles trabalharam e se dedicaram mais que nós em quadra. Estou decepcionado, não consegui liderar meu time. Acontece”.

Olynyk de fato teve uma partida memorável. Em termos individuais, foi a terceira maior atuação deste torneio, ficando atrás apenas da aula que levou de Scola na estreia e do esforço hercúleo que Ayón teve contra a Argentina. Foram 34 pontos e 13 rebotes, convertendo oito de nove arremessos de dois pontos e três em quatro de longa distância, mais nove em dez lances livres. Não há nem o que se falar de seus seis desperdícios de bola. Chegou uma hora em que o jogador de 2,11m era o único que encarava a agressiva defesa venezuelana, ficando sobrecarregado. Wiggins fez bom primeiro tempo e sumiu no segundo. Joseph foi um verdadeiro desastre. Stauskas passou mal durante toda a véspera por conta de uma intoxicação alimentar. Anthony Bennett, que teve uma ótima temporada com a seleção, não foi acionado e não conseguiu se impor fisicamente no garrafão.  Melvin Ejim é quatro anos mais velhe que Wiggins e ainda menos polido. Talvez fosse um jogo que pedisse mais a brutalidade de Dwight Powell, que recebeu apenas quatro minutos, do que a finesse de Andrew Nicholson. Por fim, Robert Sacre não saiu do banco.

Reparem que os nove atletas de NBA da seleção foram citados no parágrafo acima. O que serve também para reforçar a tese que o mero selo da liga norte-americana em seu currículo não conta toda a história, não é garantia de nada. Ainda mais quando o time que os derrotou não possui nem mesmo perto de receber um contrato — se fosse apostar, diria que Windi Graterol eventualmente possa ser testado em uma liga de verão. A maior parte desses moleques canadenses, oras, ainda está em formação, enquanto alguns deles não devem nem mesmo ter uma longa carreira por lá. Não à toa, na hora em que a coisa apertou, foi Olynyk, o mais experiente da turma em jogos Fiba, quem carregou o piano.

Joseph conseguiu reagir na disputa pelo bronze

Joseph conseguiu reagir na disputa pelo bronze

“Pareceu que estávamos um pouco inseguros”, disse o técnico Triano. Pois é. A outra derrota canadense foi na estreia, contra a Argentina. Justamente o outro jogo de uma competição oficial que notoriamente costuma ser dos mais tensos, independentemente do nível do rival. Passado esse revés, os norte-americanos se soltaram e dominaram a competição. Com folga. Chegou o único jogo do mata-mata que não poderiam perder, porém, e tomaram um tombo feio.

“Dou crédito a eles (venezuelanos). Eles tiraram nossa transição e nós cometemos os turnovers que sabíamos que eles tentariam forçar. Foi um jogo complicado de aceitar para nós, obviamente. Jogamos bem pela maior parte do torneio, mas não fomos muito bem nessa partida, o que é uma falta de sorte. Esses torneios costumam ser resumidos pelo jogo que se perde, se você perder. Muitos de nossos caras jogaram duro, como fizeram durante toda a competição. Só não jogamos muito bem nesta semifinal. Nossos sonhos agora ficam na espera”, completou o treinador.

Neste sábado, de volta à quadra, os jovens canadenses se viram novamente diante de uma torcida toda contrária, na disputa pelo terceiro lugar com o México e venceram. Em termos práticos, o bronze não vale nada para eles quando confrontado com as expectativas do time. Mas o modo como saiu a vitória pode ser emblemático: foi mais uma partida decidida na última bola, com um arremesso salvador do próprio Cory Joseph, no estouro do cronômetro. Faz parte, como ele mesmo diz. Não importa se você está na NBA, se está milionário. Se você gosta de basquete, se importa com a sua seleção, tem de passar por esses testes e amadurecer. Nem que seja com dor.


A zebraça venezuelana e as lições de basquete e humildade
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Giancarlo Giampietro

Estavam todos no Pan

Estavam todos no Pan

Sério, quem imaginava? Nem o Greivis Vásquez.

A Venezuela protagonizou nesta sexta-feira uma das maiores zebras da história da Copa América — e do basquete mundial. Guardadas as devidas proporções, a vitória, por 79 a 78, sobre o estrelado Canadá tem um quê de Argentina derrubando pela primeira vez uma seleção dos Estados Unidos formada por jogadores da NBA, em 2002, pelo Mundial de Indianápolis. Um resultado de tremendo impacto, mesmo.

Contrariando todas as previsões, a equipe vinotinto vem, então, ao Rio 2016 de peito erguido e ensinando muitas lições aos integrantes da seleção brasileira que na Cidade do México estiveram. Para a diretoria, que descolou uma verba federal milagrosa em tempos de recessão, vale investigar quanto teria custado a campanha venezuelana. Quantas peças de roupa eles teriam lavado? Num degrau mais abaixo, chegamos aos jogadores, mas também os técnicos, não? Afinal, perderam todos.

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Aqui faço referência a mais uma declaração de Rubén Magnano que, pode cravar, não pegou bem com o seu elenco: “Os jogadores devem avaliar então em que estágio se encontram hoje. Essa derrota não vai modificar a minha maneira de ver o basquete. Os ganhos que tive ao longo da minha carreira me dão a força necessária para apostar no que penso. Eu não acredito em fazer as coisas de maneira automática. Gosto que os jogadores tenham a coragem e a bravura para resolver as coisas. Insisto na solidariedade, e o fato de 80% deste time ter jogado junto nos Jogos Pan-Americanos não se refletiu.”

“Em comparação ao Pan, que é a relação mais próxima que consigo fazer, tivemos um aproveitamento bem inferior nos arremessos. Isso tem a ver com o nível do torneio, que não era o mesmo do Pan, e pelo fato de as partidas terem sido muito físicas, como já falei. As decisões tomadas não foram as corretas. Não tivemos sucesso e não repetimos o jogo coletivo do Pan, graças aos nossos erros e às virtudes dos outros”, disse ainda. “Certamente saio com gosto amargo e espero que os jogadores pensem o mesmo.”

Pela segunda vez consecutiva após um vexame na Copa América, o comandante argentino procura se distanciar do que acontece em quadra. Dá a entender que seus atletas atuaram com soberba, relaxamento — ou que não tenham nível técnico para jogar desta forma. Fala em mentalidade individualista, bem diferente daquela que vimos durante a conquista em Toronto. Algo que não se pode negar, de fato. Mas isso aconteceu por desobediência tática? O descontrole é deles? Se Magnano tinha uma mensagem a ser passada e ela não foi aceita/escutada/compreendida, isso é um problema só dos jogadores?

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez. Esmagado por venezuelanos

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez. Esmagado por venezuelanos

E aqui temos, novamente, a questão do Pan, aquele que, de acordo com a tese geral, não vale nadica de nada. Para Magnano, percebam, valia e valeu, sim. O técnico também imaginava que aquele basquete vitorioso pudesse ser replicado. Por alguma razão, não deu certo. O nível da competição aumentou, como ele diz, mas aqui interfiro: a Copa América foi muito mais dura do que os Jogos de Toronto, sim, mas não do ponto de vista técnico. Pelo menos não para o Brasil, conforme o já exposto aqui.

Do contrário, como explicar a Venezuela alcançando a final? Afinal, a seleção dirigida por outro argentino, Nestor Garcia, teve exatamente o mesmo número de jogadores que atuaram no Pan em comparação com os brasileiros: 10 de 12. Apenas o ala-pivô Windi Graterol e o reservão Ceso García foram adicionados. Por mais que adore Graterol, não dá vou dizer que ele, sozinho, elevou uma equipe que nem mesmo brigou por medalhas no primeiro torneio à condição de superpotência no segundo.

Também não vamos agora olhar em retrospecto e salivar pelo elenco venezuelano. O fato de terem derrubado o Canadá na semifinal, depois de vitórias sobre Porto Rico e República Dominicana na fase classificatória e de jogos duros contra Argentina e México, pode indicar que mereciam mais respeito prévio. Afinal, conhecemos há tempos esses caras de muitas competições internacionais, por clubes ou seleção: há gente de muito talento por lá, como sabemos desde aquela marcante derrota pela semifinal do Pré-Olímpico de 1992. Só não dá para dizer que os atuais jogadores seja tão superiores assim aos que Magnano convocou para o torneio. Nada que chegue perto de justificar tamanha discrepância nos resultados.

Garcia consegue o improvável. Quanto custa o projeto?

Garcia consegue o improvável. Quanto custa o projeto?

O que Nestor Garcia conseguiu foi organizar a equipe e dar a ela um senso de coletivo e combatividade — e nisso podemos todos concordar com Magnano: comparada ao Pan, a Copa América foi mai difícil do ponto de vista de intensidade e desejo, algo que faltou à seleção brasileira. Essa evolução vinotinto veio, naturalmente, num processo gradual. Na Copa América de 2013, em casa, terminaram na quinta colocação e só não foram à semifinal devido a uma derrota dramática para Porto Rico pela segunda fase, por 86 a 85. Um pontinho que os tirou da semifinal. No ano seguinte, foram campeões do Sul-Americano. Antes que você engasgue com a competição, atente que Laprovíttola, Richotti, Safar, Delia, Augusto, Rafael Luz, Meindl, Felício, Hettsheimeir e Raulzinho estiveram em ação por lá. Agora, na Cidade do México, deram a grande rasteira.

A façanha aconteceu mesmo que não contassem com sua principal estrela, Greivis Vásquez. Depois de anos e anos de serviço, tendo inclusive jogado o Sul-Americano, o armador recusou a seleção desta vez. Ironicamente, o ex-jogador do Raptors viu o time fazer seu melhor basquete justamente contra Cory Joseph, aquele que foi contratado para a sua vaga em Toronto, e Andrew Wiggins, com o qual a franquia canadense sonha desesperadamente para o futuro.

Como conseguiram isso? Primeiro que, tal como Magnano fez no Brasil, Garcia colocou os venezuelanos para defender como nunca antes visto na história desse continente, diria o outro. Na semifinal, adiantou sua marcação para contestar de qualquer maneira o arremesso de fora canadense. Com um time extremamente atlético e veloz, o rival ainda se mostrava mortal com sua artilharia exterior, listando sete jogadores com aproveitamento superior a 40%, com dois deles acima de 50%. Valendo vaga olímpica, foram limitados a 5-17 (29%). Isso porque Kelly Olynyk matou 3 em 4, num jogo excepcional.

Do outro lado, a estratégia ofensiva era claramente gastar a posse de bola. Nem que, para isso, tivessem de investir muito em jogadas individuais a partir do perímetro. Fosse com seus armadores malacos (Heissler Guillent, 28, talvez tenha feito a partida de sua vida, com 19 pontos em 22 minutos, matando quatro chutes de fora) ou com o peladeiro John Cox, o primo do Kobe nascido em Caracas (14 pontos em 15 arremessos, com seis cestas de quadra, algo nada eficiente), muito importante por sua habilidade no drible, fazendo o tempo passar. O ataque foi todo controlado. Em 40 minutos de um jogo extremamente nervoso, cometeram apenas dez desperdícios de posse de bola.

E aqui há o outro lado também: o Canadá sentiu a pressão. Na verdade, dois tipos de pressão. Primeiro que era o jogo mais importante, o único que valia em suas ambiciosas projeções, e eles estiveram abalados por este fardo. Quando esteve solta em quadra durante a competição, a molecada atropelou seus eventuais algozes (82 a 62!) e os mexicanos anfitriões. Segundo que houve a própria pressão venezuelana. Foi o time de Garcia que tirou os oponentes de uma zona de conforto, que os desestabilizou. E, aí, mérito para os atletas e para seu treinador. Garcia foi um caso à parte durante o torneio e, em especial, na decisão. Correu todo esbaforido na lateral de quadra, com seu conjunto esportivo geralmente desarranjado. Vejam isto:

Não acho que o técnico precise jogar junto com seus atletas, fazendo esse show todo. Sinceramente, embora o vine acima seja hilário, com direito a censura nada higiênica por parte do árbitro, prefiro uma figura mais discreta, que confie nas instruções que tenha passado ao seu elenco na preparação do jogo e que possa observar simplesmente o que se passa em quadra, anotando os ajustes necessários. Cada um na sua.  Garcia conseguiu, do seu jeito, fazer sua mensagem ser entregue. Por aqui, quando decide jogar para a torcida, Magnano usa outro expediente: queimar o filme de seus em praça pública.

Em diversos sentidos, a Venezuela virou exemplo, de postura, empenho e, principalmente, basquete e humildade. Algo que, admito não esperava escrever tão cedo e que Grevis Vásquez, ao contrário de Manu Ginóbili, flagrado no ginásio, nem pôde ver de perto.


E o professor Scola deu uma aula na molecada canadense da NBA
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Giancarlo Giampietro

Mais uma exibição histórica de Scola pela Argentina

Mais uma exibição histórica de Scola pela Argentina

O professor Luis Alberto Scola, 35 anos, resolveu ensinar a molecada canadense que, no mundo Fiba, as coisas podem ser mais complicadas do que se espera. Nesta terça-feira, essa verdadeira lenda argentina marcou 35 pontos e pegou 13 rebotes, em 34 minutos, e liderou uma estrondosa vitória por 94 a 87 sobre a geração NBA de uma potência emergente.

>> Brasil vence a República Dominicana, com 8 minutos de ótimo basquete

Só no terceiro período, quando os jovens adversários começavam a se empolgar, foram 18 pontos, para deixá-los perturbados. Dá para dizer que, diante do volume de jogo impressionante do veterano, a seleção norte-americana se desestabilizou um pouco e teve de correr atrás do placar no quarto período.  Simplesmente não sabiam o que fazer contra o craque.

Foi um pouco de mais do mesmo do ponto de vista brasileiro, um tanto castigado por tantas surras que Scola nos aplicou. Um terror por toda a zona interior, atacando de frente e de costas para a cesta, com fintas para todos os lados, a munheca infalível e muita inteligência. É algo que sempre me maravilha e não consigo responder: o que é mais sensacional em seu jogo? A habilidade ou o instinto? São os fundamentos que permitem ele tomar decisões inesperadas pelos defensores, ou é a tomada de decisão que facilita a execução? Não importa. Os dois andam juntos e, com isso, temos uma figura legendária para acompanhar. Agora contratado pelo Raptors, é de se imaginar o quão calorosa será sua recepção em Toronto, né? ; )

Para os jovens canadenses, como Anthony Bennett, Kelly Olynyk, Andrew Nicholson e Dwight Powell, todos eles concorrentes na grande liga, era algo novo. Pelo Rockets, pelo Suns ou pelo Pacers, o argentino que eles conheciam era outro jogador, mais comedido. Daí que era até engraçado quando o veterano errava um arremesso e, segundos antes de a bola bater no bico, já estava de prontidão para coletar o rebote e encestar, num mesmo movimento, deixando atletas mais altos e/ou mais ágeis para trás, sem entenderem o que acontecia direito. E quando Scola puxava contra-ataque sem que ninguém se aproximasse deles, com os oponentes demorarem para persegui-lo, já apressados.

Correr, aliás, foi algo que o Canadá tentou fazer, para se aproveitar de sua condição atlética e tentar, quem sabe, cansar o pivô rival. Mesmo depois de cestas argentinas, o time de Jay Triano tentou acelerar em transição. Acontece que nossos vizinhos ao Sul estavam preparados para conter essa correria, por mais que os armadores Cory Joseph e Phil Scrubb rompessem, vez ou outra, a defesa para atacar o aro. Foram 12 pontos em contragolpes para eles.

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No geral, porém, a Argentina refreou como podia o arranque e o vigor físico deles, somando inclusive 14 pontos em sua transição e ainda vencendo a batalha dos rebotes por 45 a 39. Também soube cuidar da bola, limitando seu ataque a apenas nove turnovers. Mesmo com um conjunto também bastante renovado, a Argentina jogou com intensidade e maturidade.

Ajuda ter líderes como Scola e Andrés Nocioni (15 pontos e 5 rebotes) ao lado, obviamente. Os dois causam um impacto imenso, cuidando de pequenas coisas em quadra com atenção e esmero. Também é preciso dizer que o time de Sérgio Hernández não é só Scola+Chapu contra a rapa. A começar pelo técnico, que vai fazendo um trabalho bem mais interessante que o de Julio Lamas. Pode parecer bobagem, mas o “Ovelha” foi influente até mesmo ao saber esfriar os canadenses com pedidos de tempo providenciais quando as enterradas e bolas de três sucediam. O mais importante, porém, é seu trabalho para captação de talentos e saber como usá-los. Contra os canadenses, o treinador armou um ataque todo espaçado para dar centímetros e segundos preciosos para seu grande jogador atacar.

O camisa 4 usou todo o seu repertório, mas não viu, surpreendentemente, muitas dobras defensivas, pois havia ameaça no tiro exterior — a despeito do aproveitamento de 5-29, 26%. Além disso, temos na Cidade do México uma equipe em que cada um conhece seu papel e vai executando suas obrigações de modo competente. O universitário Patricio Garino se encaixou perfeitamente ao lado dos campeões olímpicos com sua aplicação tática. Ótimo marcador, atacante oportunista e que não tenta fazer o que está além de suas capacidades. Depois de campanhas muito ruins, Leo Mainoldi acertou a munheca. Tayavek Gallizzi soube peitar os canadenses para dar alguns minutos de descanso aos veteranos.

A maior ajuda, mesmo, veio dos armadores. Nícolas Laprovíttola teve uma atuação que já deixa o torcedor flamenguista saudosista — e os dirigentes do Lietuvos Rytas, para onde está indo, bastante animados. Foram 20 pontos, 4 assistências e 4 rebotes em 21 minutos para o barbudo, que foi realmente dominante quando esteve em quadra. Já Facundo Campazzo, que pouco jogou pelo Real Madrid durante a temporada, anotou 10 pontos, seis assistências em 18 minutos. Juntos, eles acertaram 12 de 17 arremessos de quadra, agredindo e sem forçar a barra. Talvez os canadenses pudessem ter tentado uma pressão maior para cima dos armadores. Mas talvez isso não fizesse a menor diferença. Foi uma grande exibição da dupla.

O espevitado Brady Heslip, que, guardadas as devidas proporções, seria um jovem Juan Carlos Navarro canadense, bem que tentou fazer frente a eles do outro lado da quadra. Com uma mentalidade agressiva e sua mecânica perigosíssima, não deixou a coisa desandar para valer e conseguiu tirar seu time do sufoco em situações de meia quadra. Ele que é justamente um dos três atletas do grupo de Jay Triano que hoje não têm contrato com a NBA.

Andrew Wiggins teve seus lampejos, com direito a uma enterrada para cima de Nocioni, com direito a uma audaciosa encarada na sequência. Imagino o desespero de Flip Saunders ao ver a provocação de seu jogador, que é muito jovem e talvez não soubesse exatamente com quem estava mexendo. O rapaz tinha apenas 9 anos de idade quando Chapu estava recebendo sua medalha olímpica. Wiggins também ainda não é um ala que possa criar situações por conta própria e carregar uma equipe nesse tipo de jogo.

Dos mais experientes da equipe, Kelly Olynyk foi engolido por Scola na defesa — neste ponto, o técnico Jay Triano de um caldeirão de sopa para o azar ao confiar no ala-pivô para segurar a lenda argentina no mano a mano. No ataque, voltando de lesão, o cabeleira do Celtics se não teve a melhor leitura de jogo, chutando quando tinha espaço para atacar e cortando para a cesta quando o garrafão estava congestionado. Brigou lá embaixo, é verdade, terminando com 11 pontos, 10 rebotes e mais 4 assistências para os companheiros. Mas errou 0 de seus 13 arremessos, em 23 minutos, falhando em todas as suas quatro tentativas do perímetro.

O Canadá não fez uma partida ruim, para assustar. Mas acabou acusando o golpe desferido por Scola e seus amigos baixinhos. Agora vai ter se recuperar rapidamente. Eles ainda têm Porto Rico, Venezuela e Cuba pela frente, após uma derrota que não é nenhum absurdo, mas não estava nos planos de uma seleção considerada a grande favorita ao título e a uma das vagas olímpicas. Por sorte, o próximo jogo é contra os cubanos, o que tende a ser um treino. Esse, sim, o tipo de jogo que não tende a passar nenhuma lição.


A invasão canadense está em marcha, já como ameaça no Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

A geração NBA canadense

A geração NBA canadense é vasta

Quando Kelly Olynyk fez sua estreia pela seleção do Canadá, no Mundial de 2010, chamou a atenção. Tinha 19 anos apenas e era um ala-pivô já bastante dinâmico, com 2,11m de altura e flutuando pelo perímetro de modo bastante fluente. Ele foi talvez o único ponto positivo de uma equipe que perdeu todos os seus cinco jogos pela primeira fase, inclusive para o Líbano na estreia. Naquele plantel com predominância de veteranos, Joel Anthony, reserva do Miami Heat, era o único representante da NBA convocado, enquanto o técnico Leo Rautins sonhava com uma possível reapresentação de Steve Nash. Não aconteceria, e o país enfrentava um período em que mesmo a mediocridade em competições Fiba parecia inalcançável.

Para o então atleta da Universidade de Gonzaga, a experiência foi incrível. “Teve uma importância enorme para mim. Foi meu primeiro verão com a seleção adulta, e eu realmente era o mais jovem ou o segundo mais jovem do torneio (PS: era o segundo, mesmo, perdendo para um armador chamado Raul Neto, que tinha 18 anos. Conhecem?). O nível de talento que fui ver ali pela primeira vez foi de abrir os olhos. Era um Mundial. Embora não tenhamos ido bem como coletivo, foi uma competição muito legal e que me ajudou a ganhar confiança para ver que podia enfrentar atletas de ponta, ver que tinha talento para estar ali.”

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Como as coisas mudaram em cinco anos, hein? Na Copa América que se inicia nesta segunda-feira, na Cidade do México, uma coisa está clara: o Canadá é o time a ser batido, como o grande favorito a uma das duas vagas olímpicas que estão em jogo. O próprio Olynyk admite isso. Depois de um longo período de vacas magras,  a presença de Nash, agora gerente do time, nem se faz mais necessária em quadra. Dos 12 atletas que o país inscreveu na competição, nove estão sob contrato com franquias da NBA. Poderiam ser 12, na verdade, não fosse uma lesão sofrida pelo armador Tyler Ennis, do Milwaukee Bucks, a arrastada negociação do pivô Tristan Thompson com o Cleveland Cavaliers, e o fato de o ala Trey Lyles ter acabado de chegar ao Utah Jazz.

“Somos canadenses e agora estamos nos encontrando a todo momento na liga, o que ajuda a reforçar essa conexão. É legal pensar, conversar a respeito, pois é o momento em que poderemos nos unir para representar nosso país, vestir a camisa. É algo que tem de ser encarado de modo especial”, disse o hoje ala-pivô do Boston Celtics, em entrevista ao VinteUm gravada em fevereiro, em Nova York, durante a cobertura do NBA All-Star Weekend.

Em 2010, Olynyk estreava pela seleção ao lado de Sacre (ao fundo)

Em 2010, Olynyk estreava pela seleção ao lado de Sacre (ao fundo)

As origens
No corre-corre de um fim de semana das estrelas da liga norte-americana, o jornalista precisa ficar atento e aproveitar qualquer brecha. Especialmente um forasteiro do Brasil, que não tem tantas oportunidades assim para entrar em contato com os grandes protagonistas de lá, os jogadores. Fui a convite do canal Space, tendo a oportunidade de ficar no mesmo hotel que toda a imensa equipe da Turner, que tem um verdadeiro time dos sonhos em seu elenco de transmissão. Dentre os ex-jogadores, o nome de Rick Fox definitivamente não é dos mais chamativos, se comparado com Barkley, Shaq, Grant Hill, Isiah… Por outro lado, em termos de desenvoltura em frente às câmeras, até por ter sido um ator (de verdade), talvez o ex-ala que dividiu seu tempo simplesmente entre Boston Celtics e  Los Angeles Lakers seja imbatível. Até por isso, naquele domingo, 15 de fevereiro, estava escalado para ser algo como o mestre de cerimônias do Jogo das Estrelas, em pleno Madison Square Garden, diante dos milhares de malas nova-iorquinos presentes e de milhões de espectadores do outro lado da câmera.

Não era o melhor dia para abordar Fox, ainda que fosse pela manhã. Mas foi o instante em que este blogueiro aqui não estava desesperado para sair do hotel e chegar a algum evento a tempo, encarando o frio lá fora e um joelho machucado (a pior combinação possível, veja só). E o cara estava só de roupa esportiva, como se estivesse preparado para um treino leve em quadra — em vez do terno e do casacão que usaria à noite e que, juntos, deveriam valer pelo menos o quíntuplo de toda a minha bagagem. Então você se aproxima do cara e pergunta se dava para falar uns minutinhos.

A seleção do Mundial de 94 tinha Nash (terceiro da esquerda para direita entre os sentados) e Fox (terceiro da direita para a esquerda)

A seleção do Mundial de 94 tinha Nash (terceiro da esquerda para direita entre os sentados) e Fox (terceiro da direita para a esquerda)

Foi coisa bem rápida, mesmo, e o tema era essa invasão recente promovida por seus conterrâneos. Por muito tempo, ele foi O Canadense do pedaço, antes de Steve Nash se soltar pelo Dallas Mavericks e virar um embaixador do outro jogo bonito pelo Suns ou de um pivô limitado e trombador como Jamaal Magloire ser agraciado com uma seleção para o All-Star de 2004. Quando Fox chegou ao Celtics em 1992, apenas dois compatriotas estavam empregados na liga. Não à toa, ambos faziam o perfil de lenhador e, curiosamente, também integraram dois times históricos: Bill Wennington, reserva de Luke Longley no tricampeonato do Bulls de 1996-98, e Mike Smrek, coadjuvante do coadjuvante no showtime bicampeão Do Lakers em 1987 e 88, tendo jogado gloriosos 67 minutos nos playoffs.

Embora, no Lakers de Shaq, Kobe e Mestre Zen, tenha tido papel muito mais relevante que o desses conterrâneos, Fox nunca foi um cestinha explosivo, nem mesmo em seu auge atlético, tendo chegado aos 15,4 pontos por jogo pelo Celtics na temporada 1996-97, aqueles anos depressivos pós-Larry Bird. Com seu jogo de arroz com feijão e habilidades defensivas, o ala não aparecia no SportsCenter, nem nos clipes semanais do NBA Action. Por isso, sorri ao dizer que “bem que gostaria de ter alguma importância” no boom basqueteiro que vive sua cidade, Toronto, e seu país. “Mas não posso assumir nenhum crédito nisso”, afirma.

“Para mim, um cara como Vince Carter foi muito mais importante nesse surgimento sem precedentes de talentos de ponta. Ele era o cara das enterradas, dos grandes momentos que acabam inspirando um monte de crianças a pegar a bola e ir para o parque, ou o quintal de casa. Aquele período do Raptors com ele foi fundamental para isso”, afirma o hoje repórter-apresentador-faz-tudo da TNT. “E aí veio o Steve, com dois prêmios seguidos de MVP, para, talvez, reforçar uma espécie de orgulho nacional na cabeça desses garotos.”

Raptors, de Damon Stoudamire, e Grizzlies, com Blue Edwards e Greg Anthony, no ano de estreia das franquias. Vince Carter chegaria depois, fazendo muito sucesso

Raptors, de Damon Stoudamire, e Grizzlies, com Blue Edwards e Greg Anthony, no ano de estreia das franquias. Vince Carter chegaria depois, fazendo muito sucesso

Jama Mahlalela, assistente técnico do Toronto Raptors que trabalha diariamente com Bruno Caboclo, concorda em partes com seu compatriota. Para ele, mais que indivíduos, foi a criação de dois clubes da NBA no país em 1995 (mesmo quer a vida do Vancouver Grizzlies tenha sido curta, de seis anos) foi determinante. “Acho que ter essas equipes lá foram a fundação que permitiram que esse surgimento de jogadores fosse possível”, diz. Faz sentido. Se realizadas em Oakland, sede do Golden State Warriors, time que originalmente o selecionou no Draft, as acrobacias de Carter talvez não tivessem impacto algum na metrópole canadense.

Fato, hoje, é que, de acordo com o Basketball Reference, 26 jogadores nascidos em solo canadense já atuaram na NBA. Ironicamente, “Steve” — o Nash, no caso — não consta nessa lista, por ter vindo à luz na África do Sul, assim como Robert Sacre, que vem de Baton Rouge, na Luisiana. Samuel Dalembert, haitiano naturalizado, seria outra menção relevante, mas acho que nem a federação do Canadá faz questão de contá-lo, depois de sua desastrosa passagem pela seleção nacional em 2007 e 2008, arrumando encrenca com todos até ser banido do time em pleno Pré-Olímpico mundial de Atenas pelo técnico Leo Rautins, este, sim, considerado uma espécie de pioneiro do país ao draftado na 17a. posição em 1983, pelo Philadelphia 76ers, mas sem ter conseguido levar sua carreira profissional adiante, se desligando da liga já em 1985.

Na temporada passada, estiveram em quadra 13 atletas: Nash e Sacre (Lakers), Olynyk, Andrew Wiggins e Anthony Bennett (pelo Wolves), Nik Stauskas e Sim Bhullar (Kings), Andrew Nicholson (Magic), Cory Joseph (Spurs), Dwight Powell (Celtics e Mavs), Thompson (Cavs), Ennis (Suns e Bucks) e Anthony (Celtics e Pistons), algo bem diferente da liga que Fox encontrou no início dos anos 90. Para o próximo campeonato, essa quantia pode ser mantida, com a saída do gigantão Sim Bhullar, dispensado pelo Kings, e a aposentadoria de Nash, mas com a chegada do ala-pivô Trey Lyles, do Utah Jazz, enquanto o ala Melvin Ejim, convocado para a Copa América, tem um contrato sem garantias com o Orlando Magic, precisando se provar no training camp.

A sensação Andrew Wiggins, em sua estreia pela seleção adulta

A sensação Andrew Wiggins, em sua estreia pela seleção adulta

Chumbo grosso
O selo NBA, goste-se ou não, causa alvoroço. Nem sempre significa qualidade indiscutível, como Sacre e o atlético Ejim podem dizer. Mas a quantidade de atletas na grande liga impressiona, de todo modo, e praticamente garante ao país um time decente ano após ano, mesmo que aconteça uma evasão em massa. Só a família Joseph, com Cory, agora do Raptors, o ala Kris (ex-Celtics) e DeVoe (cortado do grupo final para o Pan) tem três selecionáveis, caceta.

E muito mais virá por aí, com uma horda espalhada pelo basquete universitário dos Estados Unidos. O armador Jamal Murray é o destaque, já prometendo para fazer um grande campeonato por John Calipari em Kentucky. No geral, as seleções de base do país também vêm obtendo bons resultados internacionais. Segundo reportagem da Forbes, o basquete já é mais popular que o hóquei entre os jovens de lá. Segura.

A despeito da quase garantia de novos nomes no futuro, a atual base é jovem o bastante para se entrosar e crescer harmoniosamente de olho em futuras Copas do Mundo e Olimpíadas. Além do mais, com os bastidores sempre turbulentos do mundo Fiba e a crescente tensão de dirigentes da NBA em relação à liberação de seus atletas, melhor aproveitar a chance de reunir um time tão talentoso desde já. Quanto questionado se o técnico Jay Triano, assistente do Portland Trail Blazers, havia usado os encontros com os compatriotas durante a temporada regular como oportunidades de recrutamento, Olynyk disse que isso não era necessário. “Jay é um cara muito legal, está em contato conosco, mas não sei se ele precisa nos recrutar. Afinal, é a seleção nacional. É algo de que supostamente você quer participar. Espero que os caras venham para jogar, que estejamos prontos”.

Cory Joseph está de volta à seleção. Embora jovem, é o líder do time

Cory Joseph está de volta à seleção. Embora jovem, é o líder do time

Mesmo que num nível técnico abaixo, quando estreou pela seleção principal, o atleta do Celtics estava escoltado por veteranos que o ajudaram em sua transição para a seleção nacional e que ainda estão em atividade em sólidos clubes da Europa. “Vários caras foram importantes para nós, ou pelo menos para mim no início, como Joel Anthony, Jermaine Anderson, Denham Brown, Jesse Young, Carl English. São caras que te adotam e mostram o que deve ser feito, ainda mais em competições internacionais e quando você está começando.”

No geral, o grupo canadense  é jovem, com média de 23,8 anos e nenhum trintão. English, que já foi a principal referência ofensiva da seleção por muito tempo, foi cortado precocemente do grupo da Copa América, depois de fazer um Pan-Americano bem apagado, aos 34 anos. Anderson e Anthony dessa vez não foram chamados. Desta forma, ao lado do ala Aaron Doornekamp, de 29 anos,  Olynyk, 24, aparece como uma espécie de veterano da seleção, devido à experiência acumulada em 2010 e à igualmente malsucedida Copa América de 2011. Mesmo em recuperação de uma torção de tornozelo sofrida durante a Copa Tuto Marchand, segue no grupo com uma voz de liderança, ao lado de Joseph.

A inexperiência e os ajustes às regras Fiba talvez sejam os pontos aos quais a concorrência possa mais se apegar na esperança de derrubar um badalado time que, segundo Olynyk, “jogará com um alvo nas costas”.  No torneio amistoso disputado em San Juan, Porto Rico, eles venceram jogos parelhos contra os donos da casa e os dominicanos e atropelaram o Brasil. O jogo contra a seleção brasileira em especial apresentou muitos indícios do potencial de uma equipe extremamente atlética e versátil. Foram amistosos, ok, mas eles passaram invictos. É só o começo de uma geração que pode ter mais e mais representantes em futuros All-Star Games da NBA, em quadra, entrevistados por Fox. Agora, no México, Rubén Magnano vai poder acompanhar de perto quão concreta é essa ameaça para já, pensando no Rio 2016.


Canadá vence Brasil com autoridade. Notas sobre o amistoso
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Giancarlo Giampietro

Andrew Nicholson, um dos nove jogadores de NBA nesta seleção candense

Andrew Nicholson, um dos nove jogadores de NBA nesta seleção candense

A lógica de ontem ainda se aplica: é apenas um amistoso. Dessa vez Rafael Luz nem foi relacionado. O Brasil novamente jogou sem energia. Mas são partidas que, ainda assim, nos apontam dicas, caminhos. E, com o perdão do tom apocalíptico, os indícios que a vitória tranquila do Canadá, por 80 a 64, nesta segunda-feira nos deu são do chumbo grosso que vem por aí em futuros duelos com os americanos do extremo norte do continente.

Fica até difícil de avaliar. A seleção brasileira mais uma vez não conseguiu igualar a intensidade ou a movimentação de semanas atrás. Por outro lado, essa impressão de morosidade talvez seja mero consequência da capacidade atlética impressionante que o time de Jay Triano tem em quadra e como ela se traduziu especialmente para a defesa, complicando as linhas de passe e contestando os tiros exteriores brasileiros. Em diversos momentos, sinceramente, a impressão era de que os rapazes de Magnano pareciam um conjunto master.

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Além disso, a questão aqui também pode ser outra: a qualidade dos adversários aumentou consideravelmente em relação a Toronto, e é natural que as coisas fiquem bem mais difíceis para os campeões pan-americanos. De toda maneira, é fato de que eles ainda não estão jogando com aquela mesma alegria. Que seja algo programado e natural, por serem apenas jogos preparatórios. Quando a Copa América se iniciar, além de vagas olímpicas para a concorrência, o que estará valendo é um título. Vale a pena brigar por ele.

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Voltando a essa coisa de chumbo grosso canadense. Antes de mais nada, estou ciente de que, além de a partida não ser oficial, o Brasil poderia contar com um outro reforço em sua escalação, pensando nos Jogos Olímpicos. De qualquer forma, não é que os veteranos sobre os quais estamos falando terão vida muito longa na equipe. A base hoje em atividade deve compor o núcleo do próximo ciclo olímpico. E o mesmo vale para o Canadá, que tem apenas Carl English como um atleta que tem linha curta em sua trajetória pela equipe nacional.

Mais: além de jovens, o que o Canadá tem é quantidade, já prenunciada pela invasão que protagoniza neste momento em todos os níveis do basquete dos Estados Unidos. Colegiais, universitários e profissionais: eles estão chegando aos montes, e aí nem mesmo o mais rabugento poderá rosnar contra a grife NBA que a equipe carrega. Os cinco titulares em San Juan, por sinal, vêm de lá: Cory Joseph, Nik Stauskas, Andrew Wiggins, Andrew Nicholson e Anthony Bennett. Outros dois vieram do banco: Robert Sacre e Melvin Ejim (*este com o asterisco de contrato de training camp). Kelly Olynyk, que contundiu o joelho contra a Argentina, nem se fardou. Dois ou três desses caras podem não parecer nada demais. Mas a safra do país é vasta. Eles têm volume para compensar qualquer dúvida, e a produção da base dá a entender que não se trata de acaso.

A vitória contra o Brasil sublinha a invasão. Dwight Powell — que se mostra produtivo praticamente toda santa vez que recebe minutos, aliás — dominou o primeiro quarto. No terceiro, Anthony Bennett exibiu seu arsenal ofensivo bastante versificado, que ajuda a explicar sua seleção como número um de Draft. Depois, no quarto, com a vitória já selada, e Magnano experimentando uma zona contra a rapaziada, foi a vez de o chutador Brady Heslip queimar o barbante. Powell, um pivô muito atlético e físico, terminou com 18 pontos e 8 rebotes em 17min52s, batendo um total de 13 lances livres. Bennett anotou 16 pontos em menos de 15 minutos, sendo 11 deles na volta do intervalo, matando praticamente tudo: as duas tentativas de três, chutes em flutuação e ganchos no garrafão. Heslip guardou 15 pontos.

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Tenho uma entrevista com Kelly Olynyk para desovar aqui, nesta semana, quando poderemos refletir mais sobre o assunto. Pensando na Copa América de logo mais no México, talvez a grande esperança de Argentina, República Dominicana, Porto Rico e até mesmo dos anfitriões seja que a equipe canadense sinta a pressão. Eles são jovens, bem jovens, e realmente inexperientes nesse tipo de situação. Como a geração Nenê, mesmo, pode nos dizer, o jogo de seleções é outra realidade (até mesmo com outras regras, dãr), principalmente no caso daqueles que se importam, que entram em quadra com o coração batendo de um jeito diferente.

Se esses caras mantiverem a compostura, vai ser muito difícil de derrubá-los, até pela versatilidade de seu elenco. Num jogo mais pesado, Sacre e Powell não vão afinar. Bennett está cheio de confiança e será um problema para qualquer defesa. Nicholson abre para chutar. Artilharia de três não falta, por sinal, com Heslip, Stauskas, o armador reserva Phil Scrubb e até mesmo Joseph (31,4% em sua carreira na NBA, mas 36,4% na temporada passada, e numa distância maior). Joseph também exerce visível influência sobre os companheiros. É o líder emocional da equipe. E ainda nem falamos do garoto Wiggins, que ainda está aprendendo o jogo e vai sofrer um pouco em termos de macetes da arbitragem Fiba, mas é uma maravilha atlética, capaz de lances surpreendentes e de incomodar muito na defesa individual e nas linhas de passe.

Atleticamente, eles foram dominantes contra os brasileiros, e não há o que discutir. Nos rebotes, tiveram vantagem de 43 a  24. Um espanco, já diria o Mauricio Bonato. Assim como fez Porto Rico na véspera, não permitiram que a transição brasileira funcionasse. Sabe quantos pontos de contragolpe tomaram? Nenhum. Para fechar, limitaram o oponente a apenas 39% nos arremessos e 4-17 nos chutes de longa distância. A seleção de arremessos brasileira não foi equivocada. Não teve forçada de barra. Eles simplesmente não encontraram uma zona de conforto em quadra.

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Nos petardos de fora, faz falta o fator tático que é Hettsheimeir, sem dúvida. Mas não é só isso. Nesses amistosos, a seleção vai se dando conta de que não pode depender tanto do volume exterior para pontuar. Está muito claro que Triano e Pitino estudaram bem o time de Magnano depois do Pan e armaram suas defesas de modo que o arremesso exterior fosse varrido do mapa. Vitor Benite (0-5) é o principal alvo, logicamente, sendo sufocado em sua movimentação fora da bola.O ex-flamenguista tem recursos para criar a partir do drible, mas sua eficiência tende a diminuir nessas situações. Ainda assim, o armador foi o único a conseguir criar jogadas por conta própria contra a fortíssima retaguarda canadense ao por a bola em quadra. (13 pontos em 28 minutos, com 6-15 nos arremessos, mais 3 assistências e nenhum turnover). Marquinhos, Meindl e os armadores precisam agredir um pouco mais e, a partir do drible, fazer a bola rodar em busca de bons arremessos.

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Em termos atléticos, Augusto foi o único que pareceu não se incomodar com o que via do outro lado (17 pontos, 6 rebotes, 2 tocos e 8 lances livres batidos em 24 minutos). Dá realmente gosto de ver sua desenvoltura em quadra e o quanto cresceu nos últimos anos. O próximo passo é refinar o chute de média distância e desenvolver um movimento mais seguro quando perto da cesta, de costas.


Porto Rico vence Brasil: notas sobre o amistoso
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Giancarlo Giampietro

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

A Copa Tuto Marchand é um evento meio estranho. Tem estatísticas da Fiba, nome de torneio, banca de oficial, mas não passa de um conjunto de amistosos que serve para seus participantes dar uma espiada nos adversários às vésperas de uma Copa América, embora todos saibam que nem tudo está sendo mostrado. Só uma coisa ou outra. Pegue a partida entre Brasil e Porto Rico pela primeira rodada desta edição 2015, neste domingo. Em um pedido de tempo no quarto período, com o jogo praticamente descarrilado já, Rubén Magnano abriu espaço para Gustavo de Conti passar uma jogada. Planejaram uma conexão direta em ponte aérea. O tipo de jogada para buscar uma cesta decisiva ao final da partida. Não deu certo, mas era uma cartada ali.

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Esse é um exemplo de situação que mostra como essas partidas em San Juan não devem ser levadas muito a sério, e não só pelo fato de a seleção ter sido derrotada pelo time da casa por 79 a 66. De qualquer forma, os jogos apresentam alguns indícios. Sem TV para registrar os acontecimentos, o canal oficial para se acompanhar o torneio é a LiveBasketball.TV, pagando por assinatura. Com base no que pudemos ver contra os porto-riquenhos, seguem algumas notas.

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Foi uma partida beeeem diferente em relação ao que aconteceu no Pan-Americano. Porto Rico jogou com muito mais pegada e estrutura, já devidamente influenciado por Rick Pitino. Imagino o célebre técnico da Universidade de Louisville tenha usado a surra histórica que a equipe tomou em Toronto a seu favor para pilhar seus atletas — e também para amainar um pouco o orgulho ferido. Os brasileiros conseguiram fazer apenas três pontos de contra-ataque, diante de uma defesa em transição muito atenta. Foi claramente uma prioridade para o treinador que é um mestre nesse tipo de lance.

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É preciso dizer que, a despeito do desfalque de José Juan Barea, John Holland e Maurice Harkless — supostamente o trio titular no perímetro –, esta já era uma seleção porto-riquenha também distinta daquela de semanas atrás, especialmente pela presença sempre energética de Renaldo Balkman no quinteto titular. O cabeleira é uma figura muito influente quando o basquete Fiba está em quadra.

Balkman deu muito trabalho a qualquer defensor que estivesse à sua frente. Com agilidade e vigor, passou facilmente por Giovannoni e Olivinha, para acumular 16 pontos, 4 rebotes, 3 assistências, 2 roubos de bola e 2 tocos em 26 minutos, batendo seis lances livres. Ele basicamente fez o que quis em quadra, iludindo os brasileiros com fintas para um chute suspeito do perímetro. Botava a bola no chão, e aí era um abraço, com ataques rápidos em direção à cesta. Fora da rotação, Marcus Toledo não teve a chance de bater de frente com o veterano. Seria um duelo muito interessante.

Esse aspecto de rapidez e velocidade chamou a atenção: mesmo quando o ala-pivô ex-Knicks e Nuggets estava no banco, os caribenhos em geral tiveram o time mais leve em ação, com Devon Collier e Ramon Clemente também prevalecendo em seus movimentos. Concentrando-se em propósitos defensivos, é provável que Rafael Mineiro tenha de ficar mais tempo em quadra durante a Copa América, ao lado de Augusto.

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Augusto Lima, do outro lado da quadra, fez das suas. Sem Daniel Santiago e Peter John Ramos, Porto Rico tem alas-pivôs móveis, mas pode enfrentar dificuldade na hora de proteger a cesta na busca por uma vaga olímpica, pelo menos a julgar por esta partida. Tanto o pivô do Murcia, extremamente atlético e voluntarioso, como JP Batista, mais lento, mas inteligente em seus cortes e com excelente munheca, se deslocaram muito bem pela área pintada e pontuaram com eficiência perto da tabela, enfrentando pouca resistência na cobertura. Foram 14 pontos e 4 rebotes ofensivos para Augusto, em 17 minutos (6-11 de FG) e 18 pontos em 20 minutos para João Paulo (com 8-12). Foram os dois jogadores mais lúcidos do Brasil.

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Os dois pivôs brasileiros tiveram atuação eficiente e arriscaram juntos 35% dos arremessos da seleção e tiveram boa assessoria da turma de fora.  No geral, porém, o time não movimentou bem a bola. Foi um nível bem abaixo de rapidez em relação ao que vimos em Toronto, isso é certo. E aqui não estamos falando só de contra-ataque, de transição. Mas de ritmo de jogo, mesmo, de movimentação de bola. É nesses detalhes — e, não, nos números — que vocês devem notar a diferença que um armador com a cancha e vocação de passe de Rafael Luz pode fazer, gente.

Parte disso se justifica pela postura mais combativa dos caribenhos, claro. Outra parte da resposta vem do fato de Magnano ter promovido uma rotação claramente alternativa, na qual Rafael jogou apenas oito minutos, Benite ficou com 17, enquanto os caçulas Deryk Ramos e Danilo Siqueira jogaram, respectivamente, 15 e 16 minutos. Mas por vezes os atletas parecem muito acomodados e confiantes em dar a bola para Marquinhos e deixar o veterano ala resolver as coisas em jogadas individuais. Isso já havia acontecido bastante nos amistosos em Brasília e não é saudável.

Não que o ala flamenguista não tenha bola para isso. É difícil encontrar um marcador no mundo Fiba que consiga freá-lo quando ataca a cesta. De toda forma, quando servido em movimento, em progressão em direção ao aro, ele fica ainda mais perigoso. Essa é uma opção para finais de jogada, lances mais apertados, claro. Talvez a preocupação aqui seja dar mais ritmo a Marquinhos, que está voltando de férias. Não à toa, foi o brasileiro que mais jogou, com 27 minutos (sete a mais que JP). Quando o torneio para valer começar, espera-se que o ala esteja mais entrosado e afiado. Com seu pacote de mobilidade, altura, visão de quadra e habilidade, é uma peça mais que bem-vinda, que cai como uma luva, caso a equipe repita o padrão de jogo que a levou à conquista do ouro na metrópole canadense.

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Outro ponto a ser considerado no ataque: , Giovannoni, Olivinha e Marquinhos vão precisar acertar seus disparos ou ao menos representar alguma ameaça nesse sentido. Do contrário, o espaçamento de quadra vai para o buraco, e os ângulos de infiltração serão tapados. De modo que as defesas poderão se dedicar muito mais à fiscalização de Benite, deslocando adversários para cobrir sua trilha longe da bola. Goste-se ou não de ver Rafael Hettsheimeir chutando de três pontos, o fato é que um pivô com chute hoje faz parte integral do plano tático de Magnano.

*   *   *

Entre os mais jovens, Danilo teve seus momentos. Sua primeira passada é algo que pode ser explorado mais em movimentações fora da bola, ou em ataques após as tradicionais parábolas pelo fundo da quadra. Pode render bem como reserva de Benite, mostrando visão de jogo para distribuir a bola. Deryk foi um pouco mais comedido. Melhorou bem no segundo tempo, procurou buscar a bola em rebotes longos para tentar dar um pouco mais de velocidade à transição ofensiva, mas não conseguiu quebrar a primeira linha defensiva de Porto Rico, terminando com quatro assistências e quatro turnovers. Merece mais chances, de qualquer forma, contra Canadá e Argentina.

*    *   *

No primeiro jogo da noite, a jovem seleção canadense, cercada de imensa expectativa, venceu os argentinos por por 85 a 80. Foi também um duelo de altos e baixos. Facundo Campazzo  ficou fora de um lado e Corey Joseph do outro. Sem o tampinha, a equipe de Sergio Hernández perde em velocidade e criatividade, dependendo ainda mais dos veteranos e infalíveis Scola e Nocioni. Os campeões olímpicos marcaram 23 pontos cada, em 57 minutos. Nicolás Laprovíttola anotou 16 pontos e deu 4 assistências, em 31 minutos. O caminho para os hermanos é ter o barbudo ex-Fla, agora no Lietuvos Rytas, ao lado de Campazzo. Do lado do Canadá, a linha de frente titular teve Anthony Bennett, que fez ótimo Pan, ao lado de Kelly Olynyk, o jogador de NBA deles mais experiente em competições Fiba. Andrew Wiggins marcou 18 pontos em 26 minutos.


Situação difícil: Faverani passa por nova cirurgia
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Giancarlo Giampietro

O Hospital Mesa de Castillo, de Murcia, na Espanha, publicou nesta tarde o seguinte tweet:

Aqui, temos o pivô Vitor Faverani prestes a passar por uma cirurgia no joelho esquerdo, para limpar uma inflamação persistente e avaliar seu menisco, que já havia sido operado em março deste ano. Estes são os fatos declarados. O que é mais difícil de entender e explicar é a situação delicada na qual o futuro do brasileiro em Boston fica em dúvida.

É a segunda cirurgia em sete meses para o jogador. Algo que já seria péssimo para qualquer pessoa, quanto mais para um jogador de basquete. Mas a situação piora bastante quando você é um jogador de basquete que está num clube que tem pouco mais de duas semanas para se livrar de pelo menos um contrato excedente em seu elenco um tanto bagunçado – com talentos que se duplicam e não necessariamente chamam a atenção da liga.

O gerente geral Danny Ainge chegou a este ponto ao fazer troca atrás de trocas na esperança de estocar escolhas de Draft  e formar um pacote que se tornasse irresistível e que lhe pudesse executar mais uma negociação que lhe desse um craque, como já havia que feito por Kevin Garnett e Ray Allen em 2007. As escolhas vieram, mas a tão sonhada transação envolvendo Kevin Love, não.

Smart e Young: duas raras certezas no time de Ainge e Stevens

Smart e Young: duas raras certezas no time de Ainge e Stevens

Agora, ele precisa resolver este impasse: no momento, o Celtics tem 20 jogadores com papelada assinada. No dia 28 de outubro, quando a temporada começar, este número precisa ser reduzido para 15. Obrigatoriamente. Destes, quatro deles podem ser dispensados sem… hã… problema – isso quando você consegue esquecer que está, na verdade, cortando, demitindo quatro pessoas. Os vínculos que podem ser rescindidos sem que o clube precise lhes pagar nada durante a temporada regular são de Christian Watford, Rodney McGruder e Tim Frazier, calouros convidados para o training camp, além do ala-pivô Erik Murphy, ex-Bulls, Jazz e Cavs, que chegou de última hora numa troca tripla.

Então tudo bem: o dirigente chegaria a 16. Ainda está sobrando um. Neste caso, as coisas ficam um pouco mais complicadas para se resolver. Pois os 16 atletas têm seus salários garantidos por todo o campeonato. Isto é, aquele que fosse desligado ganharia um belo cheque sem nem mesmo disputar um jogo sequer pelo time. O que os cartolas podem tentar fazer é acertar uma troca na qual a franquia só receberia uma escolha de Draft, os direitos sobre um jogador… Tudo menos um jogador. Ainge é um negociador quase compulsivo até e certamente já tem cenários em mente para seguir com esse plano – foi algo que conduziu Fabrício Melo, outro pivô brasileiro, para fora de Boston, inclusive, no ano passado.

Se não obtiver sucesso, aí, sim, teria de sacrificar um contrato. Mas qual?

É certo que os armadores Marcus Smart e Avery Bradley, o ala James Young e os os alas-pivôs Jared Sullinger e Kelly Olynyk jamais seriam mandados embora a não ser em uma negociação por uma estrela. Assim como Rajon Rondo, o melhor jogador do time. Ou Jeff Green, o ala que o clube parece dar muito mais valor do que a concorrência – cujo salário pode servir como grande peça para uma aguardada supertroca, da mesma forma que os de Brandon Bass, Marcus Thornton e Gerald Wallace (altíssimos e no último ano de duração). O pivô Tyler Zeller também ainda é jovem, tem grife, tamanho e bons fundamentos.

O que sobra? Se formos pegar pelos de menor valor, temos o ala-pivô Dwight Poweell, novato selecionado pelo Cavs no Draft e repassado para Boston ao lado de Murphy e Marcus Thornton, com salário de US$ 507 mil. O próximo da lista o armador segundanista Phil Pressey, com US$ 816 mil. Pressey, no entanto, é constantemente elogiado por Ainge e pelo técnico Brad Stevens. Faverani tem mais dois anos de contrato, mas só um deles é garantido, por US$ 2,09 milhões neste próximo campeonato. Há também o veterano Joel Anthony, com US$ 3,8 milhões para serem depositados. Matematicamente, Powell seria o corte mais barato. O canadense, revelado pela universidade de Stanford, membro de seleções de base, é três anos mais jovem que Faverani, no entanto, e vem batalhando na pré-temporada para tentar entrar na turma dos intocáveis.

Faverani não conseguiu jogar muito no primeiro ano de adaptação. Jogo exterior tem mais apelo

Faverani não conseguiu jogar muito no primeiro ano de adaptação. Jogo exterior tem mais apelo

E quanto ao brasileiro?

Vitor teve uma temporada de calouro na NBA irregular. Começou jogando muito, com direito ao incrível jogo de 18 rebotes e 6 tocos contra o Milwaukee Bucks no dia 30 de outubro, logo pela segunda rodada, mas viu seu tempo de quadra sendo reduzido gradativamente. Embora veterano de Liga ACB, o pivô passou pelo já tradicional período de adaptação ao basquete norte-americano – algo que Tiago Splitter e Mirza Teletovic, duas estrelas do campeonato espanhol, também encararam em San Antonio e Brooklyn, respectivamente.

Deslocado para a D-League, jogando pela filial Maine Red Claws, o brasileiro começava a ser produtivo (12,8 pontos, 9 rebotes, 2,8 assistências e 1 toco em 25 minutos) até sofrer a grave lesão. No geral, pela liga principal, o atleta disputou 37 partidas, com médias de 4,4 pontos, 3,5 rebotes em 13,2 minutos – numa projeção por 36 minutos, o rendimento é ótimo. Mais do que os números, o brasileiro possui características difíceis de se combinar e que valem muito na NBA moderna: o potencial para converter tiros de longa distância e ao mesmo tempo ajudar na defesa interior, com boa capacidade para tocos.

“Acho que ele provou que é bom. Quando ele estava recebendo minutos de nós e quando estava jogando na D-League, acho que ele provou a todos que é um jogador de NBA”, avaliou Ainge ao final da temporada. “Ele foi o único cara de nosso time que tinha, na verdade, qualquer tipo de presença na frente do aro. Mas uma vez que o (Kris) Humphries estava jogando bem, assim como Brandon, Kelly e Sully, foi duro para ele entrar na rotação. Teve também uma dificuldade com a língua e a cultura, mas, em termos de talento, acreditamos que ele definitivamente é um jogador de NBA. Gostaria de contratar mais um jogador que proteja o aro, mas acho que o Vitor provou que pode ter um papel no nosso time.”

As declarações eram animadoras – ainda que não pudessem ser levadas a ferro e fogo. Faverani pode ter mostrado talento, mas ao mesmo tempo não foi suficiente para ele entrar no time de Stevens, mesmo que o técnico tivesse carências na proteção da cesta e do garrafão. O diretor elogia e aponta alguns problemas. Vai ser político ao falar de seus jogadores. Dessa forma, a pré-temporada seria essencial para que o pivô mostrar serviço, evolução, justificando o investimento nele.

Vitor Faverani, Boston

Boston obviamente precisa de ajuda no garrafão, conforme mostrou contra o Bucks. Faverani entra nessa?

Acontece que seu joelho não ficou bom, nem mesmo com o tempo de descanso nas férias – período no qual precisou responder sobre um acidente de trânsito na Espanha, levantando suspeitas de que estaria embriagado, algo que ele negou de modo veemente. O tipo de incidente que não pega bem nos Estados Unidos e que a franquia não desmentiu, mas sobre o qual também não anunciou nenhuma punição.

O brasileiro se apresentou a Stevens ainda dores e inchaço, que o impediram de treinar direito. Passou por mais algumas baterias de exame de ressonância magnética, mas nada foi constatado. Constantemente questionado a respeito, o técnico já não sabia mais o que dizer aos repórteres. Até que o pivô decidiu viajar para a Espanha para consultar um médico com o qual é mais familiar. Chegou a Murcia e, dias depois, optou pela segunda cirurgia, que lhe deve afastar das quadras por seis a oito semanas. A pior hora possível, considerando o cenário exposto acima.

Quando indagado se havia a possibilidade de Faverani ser dispensado, Stevens afirmou que não havia conversado a respeito com seus superiores. O site Sportando afirma que existe essa hipótese, que ela vem sendo discutida. O jogador vai passar as primeiras duas semanas de recuperação em solo espanhol, adiando o retorno a Boston. Resta saber agora se o seu potencial vai prevalecer em meio as contas que Danny Ainge precisa fazer. A passagem de volta depende muito disso.


Na contramão, Canadá deve contar com nova geração da NBA na Copa América
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Giancarlo Giampietro

Kabongo, Thompson, Joseph

Kabongo, Thompson, Joseph: três promissores talentos canadenses chegando

Aviso: este é um posto sobre a seleção canadense de basquete. Mas, antes de chegar lá, começamos a falar um pouco sobre a rotina do jornalismo online.

Só não temos imagens de bastidores! : )

É assim. Por alguns anos, este que vos escreve cumpriu a função de redator da casa maior que abriga o surrado blog, o UOL Esporte. Dentre as tarefas deste espécimes mais do que especiais, os redatores, estão as chamadas “rondas”. Toca gastar o Google até não poder mais, navegando de site para site, brasileiros e estrangeiros, em busca de alguma bomba ou daquela notinha que pode estar escondida, mas que, dependendo do enfoque, viraria algo. Coisa do tipo: buscar  alguma molecagem de Robinho no portal do diário Marca, em seus tempos de Real Madrid etc. Podem apostar que, nas redações, o Mundo Deportivo e o Sport, de Barcelona, vão bombar agora com ‘focas’ ávidos por qualquer informação sobre Neymar.

Avançando alguns anos desde aqueles tempos emocionantes – ou, nem tanto –, temos aqui este Vinte Um, que, vocês sabem, é muito mais opinativo do que informativo.

Agora, por mais impertinente que seja o condutor do blog, para dar qualquer pitaco, o jornalista deve estar, antes de tudo… Bronzeado? Bêbado? Envaidecido? Não, seus tontos, deixem disso. Tem de estar “minimamente lido”.

Para a NBA, fica fácil. Basta digitar HoopsHype.com, e tá lá. Agora, na temporada de seleções nacionais, a coisa muda um pouco de figura. A caça é mais ampla, em territórios por vezes hostis. A ronda precisa ser mais cuidadosa e persistente. As fontes nem sempre são confiáveis, nem mesmo nos sites oficiais das federações – o jornalismo em espanhol, gente, é uma coisa séria. Então fique navegando sem parar, nem que seja madrugada de domingo para segunda-feira, chegando até a conta oficial da Federação Canadense no Twitter. Vale tudo.

Lá eles estão anunciando a venda de ingressos para dois amistosos em Toronto contra a Jamaica – estamos falando, então, de dois adversários da seleção brasileira pela primeira fase da Copa América.

Bem, se o objetivo é vender bilhetes, o promotor do evento precisa de alguma atração, né? Mas como o marketing da federação fará isso se o gerente geral Steve Nash (sempre estranho escrever uma coisa dessas) e o técnico Jay Triano ainda nem anunciaram a convocação canadense? Bom, aí se quebra o protocolo um pouco para antecipar pelo menos alguns nomes. Estes aqui já foram anunciados: @Cory_Joe, @nicholaf44 e @RealTristan1.

Traduzindo: Cory Joseph, armador do San Antonio Spurs, Andrew Nicholson, pivô do Orlando Magic, e Tristan Thompson, ala-pivô do Cleveland Cavaliers. A não ser que a entidade seja processada por falsa propaganda, a equipe norte-americana, então,  vai na contramão de Brasil e Argentina e, entre os seríssimos candidatos a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014, já começa a enfileirar suas tropas de NBA.

E gente de NBA canadense nestes tempos é o que não falta.

Além dos três já listados, os caras têm Joel Anthony em Miami, Matt Bonner (naturalizado) em San Antonio, Kelly Olynyk em Boston, Robert Sacre em Los Angeles e o encrenqueiro Samuel Dalembert em Dallas. O ala Anthony Bennett, mais um do Cleveland, a gente nem cita aqui, por estar se recuperando de uma cirurgia no ombro. Kris Joseph, ala, acabou de ser dispensado pelo Celtics. O armador Myck Kabongo tenta descolar uma vaga em Miami.

Cory Joseph, oh, Canada

Oh, Canada: Cory Joseph está animado

Além disso, há uma turma também se refinando em grandes universidades norte-americanas, com os alas Nik Stauksas, gatilhaço de Michigan, e Dwight Powell, de Stanford, o ala-pivô Kyle Wiltjer, recém-transferido de Kentucky para Gonzaga, os armadores Tyler Ennis, de Syracuse, e Kevin Pangos, também de Gonzaga, e a sensação Andrew Wiggins, de Kansas e favorito disparado a escolha número um do Draft de 2015.

Some-se a esses jovens talentos os veteranos como o ala-pivô Levon Kendall, o ala Aaron Doornekamp e o armador Jermaine Anderson, gente que já disputou os melhores campeonatos na Europa, entre outros, e temos um grupo volumoso, com fartura para se montar uma equipe de 12 jogadores. Para o Canadá, a hora é agora.

“O basquete canadense vem se mostrando irregular há muito tempo. Agora estamos trabalhando sério para levar nosso país de volta ao mapa, e estou certo de que vamos conseguir isso muito em breve”, afirmou Joseph, em recente entrevista ao site da Fiba. “O próximo passo é ter um grande desempenho na Copa América.”

Diante de uma concorrência enfraquecida, não há motivos para eles não conseguirem isso desde já. Não é preciso mais ronda nenhuma para sacar isso.


Faverani tem até esta terça-feira para responder se joga a Copa América; Paulão é convocado
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Giancarlo Giampietro

Vitor Faverani, chegando

O pivô Vitor Faverani tem até esta terça-feira para definir se vai se apresentar ao técnico Rubén Magnano para buscar uma vaga na seleção brasileria que disputará a Copa América a partir do dia 30 de agosto, na Venezuela. O brasileiro e seus agentes estão em Boston e, segundo informação que chegou à CBB, teriam enfim assinado nesta segunda-feira um contrato com a franquia mais vitoriosa da NBA. (Informação confirmada horas depois pela própria franquia.)

Segundo diversos veículos norte-americanos, o vínculo é de US$ 6 milhões por três temporadas de contrato. Ainda não está claro se todos os três anos do negócio são garantidos.

Com a papelada assinada, sendo oficialmente um jogador de NBA, Vitor já teria pedido à diretoria do Celtics a liberação para se apresentar à seleção. Se vão dar o sinal… Hã… Verde, aí são outros quinhentos.

A franquia está em pleno processo de reconstrução, montando uma novíssima comissão técnica que vai trabalhar também com um elenco bastante renovado. Nesse momento, é natural que queriam usar cada dia, cada semana para entrosar essas partes diferentes, enquanto a própria diretoria tenta achar algum negócio que vá limpar seu plantel – resta saber se alguém vai querer Gerald Wallace e Kris Humphries.

Agora, liberar Faverani para jogar com a seleção também poderia ter seus benefícios. Ficar mais de um mês sob o comando de Magnano certamente deixaria o pivô em forma, tinindo. Além disso, se a tese for bem vendida a Danny Ainge, está claro que, com tantos desfalques, o atleta teria um tempo de quadra considerável no torneio continental, e um tempo de quadra relevante, como referência da equipe, ao lado de Rafael Hettsheimeir – seria uma dupla bastante intrigante e versátil, mesmo.

Paulão, em busca do tempo perdido

Paulão ganha nova chance na seleção. Está pronto para aproveitá-la?

Não sei se ajuda ou atrapalha, mas há outro jogador em Boston que deve passar pelo mesmo processo de convencimento: o canadense Kelly Olynyk, 13ª escolha no Draft deste ano.  O talentoso ala-pivô participa do programa de sua seleção nacional há anos e certamente está nos planos do técnico Jay Triano. Ainge teria, então, de abrir as portas para os dois jogarem o torneio.

De qualquer forma, sem poder esperar por muito tempo por uma decisão de Faverani, já com muitas baixas no garrafão, Magnano resolveu se mexer por conta própria, anunciando nesta segunda a convocação do pivô Paulão, que acabou de assinar com o Franca, aonde vai reencontrar Lula Ferreira. “Convocamos o Paulão Prestes porque sofremos muitos pedidos de dispensa para a posição de jogo interior. Ele é um jogador que conheço muito bem, sei a maneira que joga e trabalha. Será importante sua vinda para compor o grupo de jogadores”, disse o argentino.

O novo convocado chegou a trabalhar na seleção com Magnano em 2011, mas foi cortado do grupo que disputou o Pré-Olímpico de Mar del Plata. Na ocasião, foi o último a ser dispensado – Splitter, Caio, Hettsheimeir, Augusto e Giovannoni integraram a lista final.

O talento de Paulão nunca foi discutido. Tem ótima presença próximo da tabela e é um reboteiro fenomenal. O brasileiro, porém, teve muita dificuldade nos últimos anos para se manter em forma, enfrentando diversas graves lesões. Na temporada 2012-2013, ele disputou o último NBB pelo Brasília, com médias de 12,4 pontos e 8,0 rebotes em apenas 23,3 minutos, ainda devendo no condicionamento físico.

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Tanto Paulão como Faverani foram apostas do Unicaja Málaga que não deram muito certo na década passada. Os dois talentosos pivôs foram contratados ainda adolescentes pelo clube espanhol, que tinha a perspectiva de desenvolvê-los aos poucos até que pudessem subir ao seu elenco principal, jogando Liga ACB e/ou Euroliga. Nunca aconteceu, seja pelas constantes lesões de um e pelos problemas disciplinares com o outro ou mesmo pela inabilidade do time em tirar o máximo de talentos de base. Três anos mais jovem, Augusto Lima agora passa pelo mesmo ritual.

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Vocês podem estranhar, mas Paulo Prestes é pouco mais que dois meses mais velho que Vitor Faverani. Os dois são de 1988. Acontece que Paulão chegou a jogar nos campeonatos adultos por aqui, teve participação mais ativa nas seleções brasileiras, passando então uma impressão de que está “há muito mais tempo no basquete”, enquanto Vitor foi bem jovem para a Espanha e demorou um bocado para se firmar nas principais ligas por lá.

 


Fabrício Melo vive semana decisiva para encaminhar sua carreira pelo Boston Celtics
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Giancarlo Giampietro

A história não mudou muito, não. Só um pouco.

Fabrício Melo continua sendo encarado pela diretoria do Boston Celtics como um “projeto”. A diferença: talvez o clube esteja mais disposto a  utilizar o brasileiro. O quanto? Muito vai depender de sua atuação durante a liga de verão de Orlando, que começou neste domingo. “Nós conversamos a respeito e ele sabe é uma semana muito importante”, afirmou o técnico Jay Larranaga, que era cotado para assumir a equipe principal até que Danny Ainge surpreendeu a NBA ao contratar o jovem Brad Stevens para o lugar de Doc Rivers.

Rivers que, segundo o Boston Herald, não apostava muito no pivô e, em off, deixava isso claro para os jornalistas. Com uma comissão sendo constituída agora, Fabrício fica mais animado. “Definitivamente vejo isso como um novo começo para mim. Estou pronto para encarar e me sinto muito diferente comparando com o ano passado. Não sabia o que esperar. Agora sei o que acontece. Estou muito mais confortável”, disse Melo

Fabrício e o meio-gancho

Fabrício, em ação contra o Orlando Magic: bom início de semana decisiva

A equipe de verão do Celtics está sob o encargo de Larranaga, que teve coisas positivas para falar sobre o mineiro de Poços de Caldas antes do início do torneio na Flórida. “Ele tem se preparado realmente durante o último mês em Boston, trabalhando duro, então espero que ele tenha uma ótima liga de verão”, disse. “Acho que Fab tem feito um ótimo trabalho desde o momento em que começamos a treinar.”

Legal, e tal. O que pega é que o treinador ainda se sente impelido a fazer uma resalva: “Ele ainda não é um produto finalizado”. É uma repetição natural do discurso de Danny Ainge no ano passado. Sabiam que haviam contratado alguém que levaria tempo para contribuir. Por isso, a liga de verão em Orlando é tão importante: o clube precisa saber o quanto progrediu e o quanto falta para poder ser um atleta de NBA para valer.

Neste domingo, pela estreia da liga de verão contra o Magic,  pudemos ver um pouco de tudo do discurso de Larranaga – a NBA TV transmite tudo online durante a semana e, depois, nos brindará com os jogos de Las Vegas. No primeiro tempo, o brasileiro, ainda muito cru ofensivamente, foi ignorado por seus companheiros em muitos ataques, sem mal poder tocar na bola. O canadense Kelly Olynyk, o mais novo draftado da equipe, foi quem centralizou as ações, algo esperado. O jogador de Gonzaga é bastante talentoso e mais desenvolvido que o companheiro nesse sentido. Embora um ano mais jovem, tem muito mais rodagem e bagagem.

No segundo tempo, outro jogo: Fabrício se apresentou de modo mais assertivo em quadra e, mesmo sem o condicionamento físico ideal, batalhou no garrafão com dois jogadores competentes em Kyle O’Quinn e Andrew Nicholson e teve sucesso. E foi recompensado do outro lado, marcando todos os seus pontos após o intervalo. Em uma ocasião, converteu até mesmo um tiro de média distância seguido de falta, e os reservas do Celtics se divertiram horrores no banco.

É claro que ninguém em Boston imagina ou sonha que Fabrício vá virar um Kevin McHale. Ainge o selecionou para proteger o aro, dominar os rebotes, fazer bons corta-luzes e, se possível, contribuir de uma forma ou de outra com pontos debaixo do aro. “Ele tem um potencial tremendo”, diz o técnico. “Ele teve alguns grandes jogos nesta temporada da D-League. Fez algumas coisas que nenhum jogador havia feito antes, com seus triple-doubles (de pontos, rebotes e tocos). Ele teve um ótimo impacto defensivo, então o que nós apenas temos de fazer é levá-lo a traduzir isso para a NBA, e de modo consistente.”

Kelly Olynk, um talento

Olynyk, aposta de Ainge, muito mais desenvolvido que Fabrício

Antes de avaliarmos 0s números de Fabrício neste primeiro jogo, uma nota obrigatória: as estatísticas das ligas de verão são constantemente questionadas por scouts e jornalistas presentes no ginásio. E, de certo modo, elas pouco importam também. Treinadores e dirigentes estão muito mais interessados em ver essas peladas para projetar o que suas revelações podem fazer nos jogos que realmente importam, do que em acumular vitórias em julho.

De todo modo, lá vão: foram nove pontos, oito rebotes e um toco (em Victor Oladipo, ala superatlético selecionado em segundo no Draft deste ano) para o brasileiro, que jogou por 28 minutos. Mas, dentre seus dados, o mais importante foi seu saldo de cestas: +6, o maior de todos os dez atletas do Celtics que foram para quadra. Além dele, apenas o ala-armador Courtney Fells teve saldo positivo na derrota por 95 a 88 diante de um adversário que escalou muitas figuras de seu time principal. Outra marca importante: cometeu apenas três faltas, sem deixar de ser combativo, problema que foi uma constante nas últimas temporadas.

Com diz Larranaga, a despeito de a inexperiência de Fabrício, o desafio é fazer isso de modo consistente durante toda a semana, decisiva. Afinal, um ambiente de extrema competição como o da NBA, não há tanta paciência assim. O pivô se mostra confiante. “Acho que estou muito perto”, disse. “Acho que agora vou jogar. Isso é o que vai me fazer melhorar: apenas jogar basquete. É do que preciso. Agora quero ficar confortável e mostrar o que posso fazer.”

 

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As opiniões sobre Fabrício depois da estreia:

– Brad Stevens (quem mais importa, no caso): “Não tenho condições de comparar o ano passado, nem mesmo duas semanas atrás com o que vi hoje, mas penso que as coisas que me impressionaram sobre ele foi o modo como ele tentou se comunicar defensivamente. Acho que ele foi bastante ativo, muito engajado. E ele obviamente fez alguns ganchos bem em frente de onde estávamos, mostrando muito toque. Ele é um cara grande que pode jogar no garrafão e ao redor dele. Sabe fazer corta-luzes. Defensivamente, ele parece alguém que tem bons instintos e sabe o que está acontecendo. As primeiras impressões foram boas”.

Jay Larranaga: “Acho que Fab fez um monte de coisas legais. Ele nos dá uma presença interior. Ele fez alguns ganchos legais, foi para o rebote, deu um belo toco. Ele hoje está como todos nós: um trabalho em progresso, e acho que ele deu bons passos hoje”.

Jared Sullinger (pivô que também parte para o segundo ano em Boston, muito mais polido também e que está afastado devido a uma cirurgia nas costas, mas acompanha o time feito um assistente técnico): “Comparando com o ponto em que estava no ano passado, ele é um jogador completamente diferente”.

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Uma presença interessante no elenco de verão de Boston: o armador Jayson Granger, que é… Uruguaio (filho de Jeff Granger, ala-pivô americano naturalizado que defendeu nossos vizinhos do Sul por anos e anos). Velho conhecido daqueles que seguem Lucas Bebê na Liga ACB, é mais um dos projetos sul-americanos do Estudiantes. Com 23 anos, 1,88 m de altura, ele vem de uma bela temporada na Espanha e decidiu se testar contra atletas de primeiro nível nos EUA. Neste domingo, acertou apenas um de seis arremessos, mas somou cinco pontos e quatro assistências, ganhando mais tempo de quadra depois da lesão de Nolan Smith, azarado jogador ex-Portland. O jovem Granger, porém, costuma ignorar a seleção uruguaia.