Vinte Um

Arquivo : Magnano

Argentina surra o Brasil e deixa a preparação do time de Magnano ainda mais nebulosa
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Giancarlo Giampietro

Mais uma bandejinha pra Campazzo

Facundo Campazzo se esbaldou contra a nada combativa defesa brasileira

Depois da surra que o Brasil tomou da Argentina neste sábado, perdendo por 90 a 70 pela Copa Tuto Marchand, o que resta é fazer especulações, sabe? Como se estivéssemos em meio uma guerra fria, com espionagem e contra-espionagem e apelar para a máxima de que só podem estar “escondendo o jogo”.

Por exemplo: no comecinho do jogo, a seleção conseguiu atacar sem problema alguma defesa por zona adversária, com Marcelinho Huertas invadindo o garrafão para servir a Rafael Hettsheimeir em duas ocasiões. As duas jogadas resultaram em enterradas do pivô, muito bem posicionado para receber o passe, na lateral do garrafão. Evitava os três segundos, estava próximo da cesta e, ao mesmo tempo, posicionado entre dois quintos de uma formação 2-3. Raulzinho faria o mesmo com Caio Torres depois.

Daí que o time de Rubén Magnano pouco – ou, se bobear, nunca mais – repetiu esse tipo de investida até o final da partida. Começaram a sair os tiros de média distância teimosos, as tentativas de se jogar no mano-a-mano começaram a aparecer com frequência, enquanto, do outro lado, a pegada defensiva estava bastante afrouxada, algo raramente visto durante a gestão do argentino. Além disso, Huertas ficou em quadra por apenas 13 minutos. Alex, nem isso. Hettsheimeir jogou por 22 minutos.

Então o que aconteceu lá em Porto Rico? O Brasil entrou para jogar um amistoso, e a Argentina, com o Luis Scola jogando até o final, a despeito de uma vantagem superior a 20 pontos, encarou como clássico? Ou os argentinos já estão num estágio consideravelmente superior em sua preparação? Ou eles foram infinitamente superiores ao menos por uma determinada noite? Os jogadores brasileiros perdem a disciplina no decorrer do jogo e o treinador não consegue administrar, orientar? As próximas partidas contra Porto Rico, neste domingo, e Canadá, na segunda-feira, vão nos ajudar a entender. Quer dizer, podem ajudar a entender.

De qualquer forma, se formos ignorar qualquer tipo de trama mirabolante, o que vimos em quadra preocupa.

A começar pela defesa, que supostamente seria o carro-chefe da seleção com Magnano. Facundo Campazzo, que parece melhor a cada torneio, se esbaldou de tantos cortes pelo fundo que conseguiu, com ou sem a bola. Os marcadores se alternaram, e o tampinha seguiu fazendo bandeja atrás de bandeja (17 pontos, 70% nos arremessos e só um turnover). Scola foi surpreendentemente bem marcado por Caio no primeiro quarto, terminando a parcial com apenas quatro pontos e nenhuma cesta de quadra – depois, caminharia para mais um double-double dominante, com 23 pontos, 11 rebotes e 58% nos arremessos. No perímetro, os argentinos acertaram 8 em 17 tentativas (47%). Além disso, eles cobraram 15 lances livres a mais que os brasileiros.

Nos lances livres, aliás, outro problema: a seleção converteu apenas 33% de seus chutes, um horror horripilante, daqueles horrorosos mesmo, que deixaria até Shaquille O’Neal envergonhado. Foram 12 erros em 18 arremessos. Para se ter uma ideia, o melhor aproveitamento do time na noite foi de Arthur, com 75%. Depois veio Giovannoni, com 66,7%. O restante?  Todos de 50% para baixo. Embora não tenhamos os melhores gatilhos do mundo, também não quer dizer que seja ruim assim a coisa. Das duas, uma? ou estão muito cansados e não tiraram o pé coisa nenhuma nos treinos em Porto Rico, ou foram quebrados mentalmente pela Argentina. As duas são bastante possíveis, ainda mais a segunda, considerando o tanto que reclamaram os brasileiros durante a partida, com um gestual que incomoda – embora, diga-se, Julio Lamas também seja uma prima donna neste quesito.

No ataque, o ritmo também não vai nada bem, mesmo. As trocas de passes, quando ocorrem, são inócuas. O aproveitamento de longa distância segue alto (43%), mas o de dois pontos vai baixo (44,7%) – e, sim, há uma diferença brutal entre chutar 43% de fora e 44% dentro da linha de três pontos.

Fato é que, até o momento, o Brasil não apresenta padrão algum de jogo, num reflexo direto de uma convocação mal feita. Magnano está tentando fundir jogadores baixos e velozes com pivôs lentos, pesados. Partes que não se encaixam, que ainda não conseguiram formar uma unidade em quadra.

Veja o quinteto que iniciou o segundo quarto, por exemplo: Luz, Larry, Benite, Hettsheimeir e Caio. Não faz sentido algum essa formação. O que esperar dela? Como fazer uma defesa agressiva se os dois pivôs, por exemplo, não vão conseguir cobrir um pick-and-roll de maneira apropriada. Para eles, qualquer passe em falso a mais no perímetro significa um argentino cortando com liberdade em direção ao aro – até Juan Gutiérrez se deu bem nessa.É na defesa que Splitter, Varejão e Nenê, os três muito velozes, fazem mais falta.

Além disso, impressiona como o conjunto argentino parece muito mais bem preparado e formado. Os jogadores sabem exatamente seu papel em quadra, e isso faz uma diferença danada. Ajuda para que o jogo tenha mais fluência, seja pelo espaçamento ou pelas decisões que passam a ser simplicadas as partir do momento em que cada atleta tenha suas diretrizes claras. O que não impede que eles improvisem, claro, como Campazzo fez muitas vezes.

Enfim, os desfalques estão de todos os lados, as gerações vão sendo trocadas, o tempo passa, o tempo voa, e a Argentina dá um jeito de seguir por cima.

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Com 5min33s restando no primeiro quarto, Raulzinho entrou no lugar de Marcelinho Huertas. Em seu primeiro ataque, fez o passe para cesta de Caio Torres. Um minuto depois, deu uma assistência para Arthur matar de três pontos. Na posse de bola seguinte, cometeu uma falta ofensiva no enjoado Facundo Campazzo ao tentar se livrar da marcação para receber o fundo bola. Acabou substituído no ato, dando lugar a Rafael Luz. Quando entrou, o jogo estava 10 a 8 Brasil. Quando saiu, após 1min23s (!?!?!), estava 15 a 14. O tipo de substituição do (nosso) argentino que não dá para entender. Educação tem limite?

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Juan Fernández, em quadra, é a cara de Pepe Sánchez. Capazzo, em toda a sua sanha, lembra um pouco Alejandro Montecchia.

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Por que os números não dizem tudo ou podem ser bastante enganosos? Vejamos o total de assistências da partida: 14 para o Brasil e apenas seis para a Argentina. Logo, a dedução de bate-pronto poderia ser a de que os argentinos são individualistas em demasia, não? Não. Como o twitteiro profissional Filipe Furtado falou, isso só mostra o quão facilmente eles estavam batendo a defesa oponente, em jogadas simples de tudo. No geral, porém, ficou evidente que o senso coletivo de nossos vizinhos ao sul, a essa altura, está muito superior.

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Levantamento de Guilherme Tadeu, do Basketeria, aponta que esta derrota foi a maior da seleção sob o comando de Magnano.

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Estar atrás da Argentina, de novo, pode ferir o orgulho de alguns, mas não é o fim do mundo, por enquanto. Para classificar para a Copa do Mundo, a seleção precisa estar entre os quatro melhores na Copa América. Quer dizer, tem de superar, em teoria, pelo menos um entre Canadá, Porto Rico e República Dominicana, ainda que não esteja pronto para descartar o Urutuguai e a anfitriã Venezuela, mesmo sem Greivis Vasquez, mas com o ala americano Donta Smith contratado nacionalizado.


Ataque estagnado ou cansado? Torneio em Porto Rico serve para seleção tirar prova
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Giancarlo Giampietro

Vamos ver, Rubén

Rubén Magnano, preparação dura num ano duro para a seleção

O ala Arthur, veterano de NBB, mas um novato aos 30 anos quando falamos de Copa América, tem como uma de suas principais características a incessante e inteligente movimentação fora da bola. Se aqueles com o drible mais habilidoso e explosivo são os que aparecem com mais frequência nos melhores momentos e contagens regressivas, os jogadores que sabem encontrar ou gerar estes espaços nos, digamos, bastidores, também podem se tornar cestinhas de mão cheia. Eles só trabalham de outra maneira, muito mais sutil, mas, nem por isso, menos desgastante, cortando de um lado para o outro na quadra, usando bem os corta-luzes, backdoors e tudo o mais, até que se cause a mínima separação e ativar o arremesso. Para os mais habituados com a NBA, é só pensar em caras como Reggie Miller, Richard Hamilton e JJ Redick.

Nos primeiros amistosos da seleção brasileira antes do embarque rumo a Porto Rico e, depois, Venezuela, o jogador do Brasília até que tentou criar situações de ataque para a equipe se mexendo na zona morta, buscando ângulos diversos para a recepção do passe, mas nem sempre foi recompensado, por vezes ficando com as mãos espalmadas aguardando a assistência que não vinha.

Agora calma: não era nada pessoal.

Essa foi apenas uma das consequências negativas de um sistema ofensivo bastante estagnado que vimos em ação nestes primeiros jogos preparatórios do time de Rubén Magnano, num padrão preocupante, caso não seja alterado até o início da Copa América, no dia 31 de agosto.

Após a vitória sobre o México, em São Paulo, num jogo bastante enjoado (em muitos sentidos), Arthur foi simpático o suficiente para interromper uma sessão fotográfica animada com a pirralhada na quadra do Paulistano para conversar sobre isso. Ele concordou com a observação feita sobre o ataque pesado, arrastado que a seleção vinha demonstrando. Mas ofereceu um bom motivo para tanto: o simples cansaço.

Naquela terça-feira, por exemplo, o time entrou em quadra por volta das 19h para disputar o amistoso. O que não impediu que Magnano os convocasse para um treino com bola pela manhã, acompanhado de mais uma bateria de exercícios na academia, puxando ferro sem parar. Um episódio que não foi isolado. Na segunda-feira passada, antes de viajar para San Juan, o time também repetiu a dose em São Paulo.

Lembrei disso na hora em que li a seguinte declaração de Marcelo Huertas, o capitão do time, em texto de divulgação da CBB, comentando a partida de estreia na Copa Tuto Marchand, em San Juan, nesta quinta-feira. “Tivemos uma fase de treinamento muito boa, em que conseguimos alcançar uma ótima condição física e técnica. Agora é hora de tirar o pé, fazer os últimos ajustes para chegar à Copa América na melhor condição possível”, disse o armador.

“Tirar o pé.”

Os treinos comandados pelo técnico argentino são notoriamente pesados, dando vontade aqui de usar até o termo “mutiladores”, o que não seria de bom tom, evidentemente, e também se trata de uma palavra bastante feia, que faz jus ao seu significado. Não importa a origem do jogador, se está vindo da NBA, da Europa ou dos clubes nacionais – o fato é que múltiplos relatos dos atletas que trabalharam com Magnano dão conta do quão puxada tende a ser sua preparação. A ideia, acho, é que eles cheguem para os torneios oficiais achando que tudo é uma moleza, depois do tanto que ralaram nas semanas que antecedem a competição.

Bem, nas últimas temporadas, a seleção tem apresentado esta tendência, de oscilar em amistosos até que eleva seu jogo na hora do vamo-vê. Neste ano, essa transformação se faz urgente. Se a pegada defensiva foi regula, é preciso considerar que a equipe enfrentou adversários consideravelmente mais fracos na maioria das vezes – tirando uma Argentina com Scola & chicos em Anápolis, contra a qual o “abafa” não deu muito certo. Mas o que fez coçar a cabeça mais foi o ataque, ainda mais dependente das chamadas “cestas fáceis” de contra-ataque.

Quando o time parou em situações de meia quadra, de cinco encarando cinco, as coisas ficaram bem mais complicadas, especialmente quando a mesma Argentina resolveu brincar de gato e rato e alternou sua retaguarda sem parar, entre zona e defesa individual, deixando os brasileiros sem rumo em quadra.

Isso naturalmente deve ter aberto os olhos de Magnano, quando este optou por colocar dois ou até mesmo três eventuais armadores em quadra.

“Eventuais” porque Larry Taylor e Benite pouco passaram a bola nestes amistosos. Se o jovem flamenguista ainda tem a desculpa de estar sendo muito mais utilizado do outro lado do passe – ele também investindo nas trajetórias e parábolas por trás da marcação adversária –, o americano não colaborou muito no sentido coletivo da coisa. Em Bauru, Larry tem a bola por boa parte do tempo, podendo produzir de acordo com sua preferência. Na seleção, não há espaços para tanto drible, fazendo da bola uma prisioneira.

Contra o México, de novo, ficou evidente o quanto sua presença em quadra ajudava a estacar a coisa toda. Se a bola está com Huertas, o carequinha tende a se posicionar na quinta da linha de três pontos e por ali estacionar. Atlético, explosivo, seria muito mais produtivo se tentasse encontrar outras formas de atacar a cesta que não em situações de mano-a-mano ou de pick-and-rolls nem tão em realizados.

Mas isso, claro, não tem a ver apenas com o americano. O time todo precisa estar envolvido, engajado em trocar passes de um lado a outro, se movimentando como uma só máquina, em busca das melhores situações de arremesso. Ou isso, ou estaremos destinados a exigir o máximo da criatividade de Huertas e da sede de cestas de Hettsheimeir.

A partir desta quinta, contra os dominicanos, chegou a hora de medir o quanto era cansaço, mesmo, ou limitações técnico-táticas. É hora de acelerar em quadra.

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Depois do corte de Marquinhos, cresceu a responsabilidade de Arthur na seleção, em sua primeira grande (?) competição. Até este ano, o ala de Brasília só foi aproveitado nos Sul-Americanos, tendo sido curiosamente convocado para a competição regional, relegada a times “B” brasileiros, em suas últimas quatro edições (2006, 2008, 2010 e 2012). Sua média geral na competição é de 8,5 pontos e 2,6 rebotes.

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Arthur nunca foi reconhecido como um reboteiro voraz, mas vai ter de se desdobrar neste fundamento quando for para quadra. Com desfalques  e uma rotação baixa no perímetro, o ala vai precisar descer muito mais para o garrafão do que está habituado, ainda mais num eventual confronto com a Argentina e seus alas altos, fortes e raçudos.

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Um jogador como Marcus Vinícios Toledo, hoje no Mogi, depois de anos e anos na Espanha, pode fazer falta. Embora não seja o mais talentoso ofensivamente, Marcus poderia ajudar, e muito, Alex na contenção de perímetro, com muita energia, força e capacidade atlética. Um jogador extremamente útil, se bem encaixado na rotação. Outra opção para a posição, mas inviabilizada por lesão, era Jhonatan, do Franca. Ele foi ao ginásio do Paulistano para ver o jogo contra o México, mas ainda tem limitações durante os treinamentos com o clube. Deve demorar ainda cerca de um mês para que ele esteja liberado para atividades regulares com bola e contato.


Faverani rumo a Boston: “Tenho de chegar antes e ganhar meu espaço”
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Giancarlo Giampietro

Faverani, ele, mesmo

Faverani, rosto ainda não muito conhecido para o público brasileiro

Sentado ali na modesta arquibancada do ginásio Antônio Prado Júnior, do clube Paulistano, estava o mais novo integrante da legião brasileira na NBA, nas me parecia. Acompanhado do irmão mais novo e de seus agentes, Vitor Faverani obviamente chamava a atenção pelo tamanho, mas conseguia ver o jogo entre Brasil e México numa boa, sem ser importunado. Autógrafo, pedido de foto, nada. Quer dizer, tirando o fato de um jornalista se intrometer nessa história para pedir uma entrevista, mais um bate-papo e conhecer o pivô que, neste sábado, está chegando ou já chegou a Boston para se apresentar ao Celtics.

Natural esse anonimato. Tal como Tiago Splitter, Vitor saiu do Brasil muito, mas muuuito cedo. Passou nove temporadas na Espanha. Neste período, defendeu seis clubes diferentes. Entre idas e vindas, teve contato reduzido – para não dizer zero – com a seleção brasileira. E só defendendo a seleção é que um jogador de basquete consegue visibilidade no Brasil, segundo pensa um certo “Mão Santa”.

Daí que, impossibilitado de se apresentar a Rubén Magnano, devido ao recente acordo fechado com a franquia mais vitoriosa da NBA, só lhe cabia ali, mesmo, primeiro o papel de torcedor e, depois, o de diplomata. Era sua intenção falar em privado, cara a cara com o técnico argentino para expor o que se passava. Antes disso, com forte entonação, acentuação espanhola, mas em português descontraído, a conversa deste gaúcho primeiro radicado no interior paulista e, depois, na costa Mediterrânea deve ter sido um pouco mais fácil:

VinteUm: Já tem viagem marcada para Boston?
Faverani: Estou indo para Boston no sabadão, mas antes vim aqui apoiar um pouco a seleção. Chego lá com dois meses para começar a liga e vou poder fazer um trabalho individual,  com preparador físico e com os treinadores. Conhecer os companheiros novos. Sobre o jogo, o time não tem muito o que falar agora. É uma mudança definitiva agora. Tenho contrato de três anos e agora a primeira coisa é tocar essa pré-temporada, tentar ganhar meu lugarzinho lá.

Faverani

Faverani, depois de altos e baixos, um nome estabelecido na Espanha

Como você lidou com essa questão de NBA em sua carreira? Muitos a cobiçam, mas você vem de muitos anos na Espanha, os últimos deles firmes também numa liga de ponta, a ACB…
O sonho da NBA sempre está aí. Desde que eu peguei uma bola na mão, você pensa nisso. Mas o primeiro que tem de fazer é assinar um contrato, né? (Nota: seu primeiro vínculo profissional foi assinado em 2004, com o Unicaja Málaga, dez anos atrás! Veja mais abaixo.). E depois que um jogador vai pensar nisso. Bem, eles me chamaram para treinar em Boston. Fui sem nenhuma expectativa de poder ficar. Via esse sonho muito longe. Mas graças a Deus a Liga LEB e a Liga ACB – joguei na Europa desde pequeninho – me deixaram preparado. Consegui fazer bons treinos e ficar.

É curioso isso e algo que muitas vezes pode passar batido. Com 25 anos, você já passou por muita coisa na sua vida, seja pessoalmente ou como jogador. Agora dá um passo desses. Como pensa que será a transição?
Não é fácil para nenhum jogador. Se você for perguntar, todos têm seus altos e baixos como jogador. Há também as lesões, mas graças a Deus não tive nada grave até agora. A transição imagino que seja a mesma de outras. É a melhor liga do mundo, os melhores estão ali física e taticamente. O talento é puro ali. Mas minha adaptação será trabalho, trabalho e trabalho, e jogar basquete. Não tem outra: é botar a bola na cesta, se me deixarem jogar ali dentro, e tomara que seja bastante. O que você tem de fazer é trabalhar e ver se as coisas saem bem.

O quanto você consegue verde NBA jogando na Espanha?
Alguns jogos a gente consegue acompanhar, mas é muito difícil, mesmo, porque alguns vão terminar 4h da manhã e, no dia seguinte, você começa a treinar às 10h. Aí não tem quem aguente. É legal ver NBA, ver tudo, mas a gente tem de dormir, né? Para ajudar o seu time. Então, para falar do Boston e do jogo, é melhor esperar os treinos.

Já entrou em contato com o Fabrício Melo?
Tive o prazer de me encontrar com ele no ginásio. Ele estava lá. Durante os testes, ele e outros jogadores estavam ali, mas não podiam treinar comigo. Peguei o telefone dele, que até disse que estava com a mãe em casa, fazendo feijão.
(Nota: três dias depois, o pivô brasileiro seria trocado para o Memphis Grizzlies. O que não impede que seu compatriota possa ao menos fazer uma ligação, para pegar dicas da cidade. De repente a mesma casa?)

Bom, e seleção brasileira? Como fica? Já conversou com o Magnano sobre sua dispensa?
Vim hoje apoiar e poder falar com ele um pouquinho. Falei com ele em Valência, disse que tinha muita ilusão de vir para a seleção. Mas o Boston colocou algumas coisas aí. Eles me convocaram agora, e o importante agora mesmo é olhar para a NBA, sendo o primeiro ano, tentando conseguir meu espaço ali dentro. É importante que eu não chegue depois de ninguém, fazendo as coisas certinhas. Então vim explicar para ele. Com certeza, se eu ficasse em Valência, estaria com a seleção – claro, se ele quisesse. Mas no primeiro ano tenho de mostrar serviço desde o começo, ganhar meu espacinho. Ele é um treinador, sabe do que falo e vai me entender. Para muita gente a prioridade agora é realmente poder estar com o seu clube,  desde o começo.

Mas você tem alguma expectativa, intenção de jogar pela seleção no futuro?
Com certeza. Tou ali sentado, morrendo de vontade de vestira camisa da seleção brasileira, mas é o que te falei. A primeira coisa agora é Boston Celtics na minha cabeça, mesmo. Para o futuro, não descarto. Claro, se o Magnano quiser. Sei que ele tem um grupo espetacular, converso sempre com eles (nota: Rafael Luz, Hettsheimeir, Paulão, Raulzinho, Lucas Bebê, Huertas… Todos conhecidos e companheiros de basquete espanhol), e quero um dia jogar de verde e amarelo.

*  *  *

Não são todos que estão familiarizados com a trajetória do pivô. Então vai um breve resumo: ele deixou as categorias de base do Araraquara,  em 2004, com 16 anos e 2,07 m de altura, para fazer testes pelo Unicaja Málaga. Não demorou nem dez minutos para que os dirigentes deste tradicional clube espanhol quisessem contratá-lo. De modo que, ainda adolescente, firmava seu primeiro contrato de trabalho e poderia começar a ajudar a família – mãe e irmãos – financeiramente. Três anos antes, detalhe: era obrigado a disputar as primeiras peladas com um tênis 44 abrigando um pé 46, porque era o que tinha.

Fazer essa mudança já seria algo bastante drástico para alguém da sua idade. Mas, pensem, era apenas o começo: uma vez na Espanha, os desafios pela frente ainda eram enormes não só no dia-a-dia (longe de casa pela primeira vez, tendo de se virar em um novo país, com novo idioma), como em quadra, cercado de grandes expectativas em ligas muito competitivas. O primeiro ano serviu para evidenciar seu potencial. Com 17 anos, já dominava torneios sub-20, jogando contra gente significativamente mais velha. Passou a treinar com Zan Tabak pessoalmente, a jogar na LEB-2 (terceira divisão) e a fazer fama rápida entre os olheiros europeus. Aos 18, foi cedido por empréstimo para o Zaragoza, ocupando um valorizado posto de extracomunitário na LEB-1 (segunda divisão), na qual arrancou com tudo também, sendo comparado por Sergio Scariolo (então treinador do Málaga) a um jovem Luis Scola. “Tomara que tenha a mesma progressão”, disse. Aí que as coisas diferiram.

Tempos difíceis para Faverani

De branco e verde, no Unicaja, Faverani não conseguiu fazer muita coisa. Espera que em Boston a coisa seja diferente

No decorrer da temporada, passou a ser questionado pelo comportamento fora de quadra, pela falta de disciplina e dedicação. “Que se sinta imprescindível não é bom”, “Tenho a sensação de que precisa de estímulos importantes para subir de nível” e mais frases nessa linha começaram a cercar seu desenvolvimento. Em março de 2007, o Zaragoza optou pela rescisão de seu contrato. Voltou ao Unicaja, fez a estreia na ACB, mas não podia ser aproveitado num clube deste porte ainda. Na próxima temporada, então, voltou a ser emprestado, agora para o Gipuzkoa BC (hoje clube de Raulzinho). Trabalhando com Pablo Laso, atual comandante do Real Madrid, teve médias de apenas 12 minutos por partida, mas ajudou o clube a conseguir o acesso à elite. Quando regressou a Málaga, voltou a dominar a competição sub-20. Até que decidiram segurá-lo e incorporá-lo de vez ao time principal para a temporada 2008-2009.

“Faverani é o que tem mais potencial de todos que já vi na Europa. Realmente, ele me impressionou”, foi o que disse o pivô americano Marcus Haislip, ex-jogador do Milwaukee Bucks que teve uma sólida carreira na Espanha após fracassar na NBA. Estava o brasileiro pronto para dar o grande salto, então? Que nada: mal foi aproveitado, passando muito mais tempo com a filial Clínicas Rincón Axarquía do que no time de cima. Difamado, passou batido no seu último ano de Draft da NBA e encerrou seu vínculo com o clube de Málaga.

Parece que era uma despedida necessária. Em 2009-2010, jogou ao lado de Paulão pelo Murcia, pelo qual foi campeão da segunda divisão, com papel de protagonista – e, mais importante, regular em quadra e boa influência no vestiário –, liderando uma campanha inédita de 30 vitórias e quatro derrotas. Até receber uma nova chance em um grande clube, dessa vez o Valencia. Tinha dúvidas se era o caso de deixar o lugar em que foi tão bem sucedido, mas, por fim, topou nova mudança. Na primeira temporada, arrebentou. Na segunda, teve alguns problemas físicos que limitaram seu rendimento. Mas aí já não havia mais dúvida: Faverani havia, enfim, vencido, realizado.

Agora, aos 25, deixa a Espanha, sua segunda terra, para trás.

 


Marquinhos contradiz Magnano em mais uma dispensa “surpreendente” para técnico seleção
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Giancarlo Giampietro

Magnano

Magnano certamente não está perdido na tradução. O que acontece, então?

Senhoras e senhores, nós temos um problema. De comunicação.

Neste caso, não estamos falando das deficiências do blog – deixemos isso pra depois, tá? –, mas, sim, do que vem acontecendo durante esta temporada da seleção brasileira.

Vocês já sabem, claro, que o ala Marquinhos foi o último a pedir dispensa da delegação de Magnano. A diferença para a trupe da NBA que ele passou quase um mês reunido com a moçada antes de pular fora da barca nesta quarta-feira. O que aconteceu? O MVP do NBB e destaque do Flamengo alega que sente fortes dores no joelho, depois de ter sofrido um trauma durante um treinamento, num lance isolado, caindo mal de um salto. Essas dores o afastaram de todos os amistosos e, por fim, o forçaram a comunicar sua desistência.

Até aí tudo bem. Esse tipo de situação acontece. Esporte, lesão, dores, estão todos sujeitos a isso. Porém… O que causa estranhamento é o conflito entre o que diz um (jogador) e o que responde outro (o técnico). De novo.

Você deve se lembrar, né? Da dissonância entre os discursos de Magnano e Splitter, quando o catarinense o comunicou de que não se apresentaria. Agora é a vez de o processo se repetir com Marquinhos. Curiosamente, são dois homens que tinham (têm?) toda a confiança do treinador.

Marquinhos, treinando separado

Marquinhos: sem treinar com bola e sem jogar pela seleção

Na quarta, já sem Marcus ao seu lado, Magnano falou ao vivo para todo mundo ouvir: “Não fiquei decepcionado com ele, mas fiquei surpreso. Clinicamente ele estava recuperado para jogar. Com esta avaliação, tinha a esperança que ele chegaria na Copa América”. Ao passo que o flamenguista conta outra história ao repórter Fábio Aleixo, do Lance!: “Foi uma situação que ficou bem esclarecida com ele. Tivemos uma conversa olho no olho. Ele sabe o que aconteceu. Não vai ter nenhum tipo de problema no futuro”.

Epa. Déjà vu.

Se não clicou no link acima, tudo bem. Recupero aqui as duas declarações que, somadas às do parágrafo anterior, deixam o diálogo bem ruidoso. Splitter alegou sentir um desgaste extremo para não jogar a Copa América. “É um ano que permite você ter um descanso. Obviamente se fosse uma Olimpíada ou um Mundial é outra coisa, você faz um esforço. Tantos anos seguidos de seleção, minha esposa está querendo me matar. Um pouquinho de tudo me fez tomar essa decisão”, disse. Daí que Magnano rebateu: “Pensava que o único problema do Tiago era somente contratual. Depois, o estafe dele me ligou falando que ele não ia se apresentar. Eu não sabia disso (de cansaço)”, afirmou o treinador.

“Surpreso”, “não sabia”… É o que diz Magnano. O que afirmam os jogadores é outra história. O que está acontecendo?

Sabemos que está cada vez mais difícil montar uma seleção – seja ela israelense, brasileira ou russa. A pressão da NBA é imensa. Mas as limitações não ficam só nisso. Como já ocorre há tempos no futebol, a tendência é que a relação de federações  e clubes de basquete se aproxime muito mais do atrito do que de um armistício. Por mais que se incense o amor à pátria, à camisa nacional etc. Os calendários começam a apertar e afestar o principal aspecto que move hoje, sim, o esporte: os negócios como um todo, entre eles a carreira profissional.

Na entrevista ao Lance!, Marquinhos fala: “Joguei toda a temporada com dor. Se eu não parasse agora, poderia acarretar em problema no futuro”. Em seu comunicado para dizer que não vinha ao Brasil, Lucas Bebê anuncia: “Este é um momento importante para a minha carreira, e que exige a minha permanência para que tudo seja resolvido o mais breve possível”. Em entrevista coletiva, Tiago Splitter admite: “Não quero tirar a importância da Copa América, é importante, mas é um ano de  contrato, estou desgastado física e mentalmente”.

Percebem o padrão? Nesse contexto de calendário mais apertado, complicadas negociações e diversos interesses, chegou a hora em que o privado vem antes do coletivo. Vitor Faverani, em conversa breve no Paulistano – a ser publicada nesta sexta ou sábado, vamos ver –, também deixou isso claro. O clube, que o paga, tem a preferência. Simples assim. E, nesse contexto, o técnico da seleção que se vire. É o que temos, um choque de interesses que não vai se encerrar neste ano.

Para alguém competitivo como Magnano, deve bater um certo desespero ou, no mínimo, aflição. Ele confia que seus convocados vão chegar, quer muito que isso aconteça. Não nos esqueçamos que mesmo Varejão (se recuperando de uma embolia pulmonar, diabos!) e Leandrinho (cirurgia muito mais grave no joelho), clínica e publicamente fora de combate, foram convocados da mesma forma. Deve ter algum ditado que resuma melhor essa situação, mas seria algo na linha de que o argentino, a essa altura, parece estar filtrando e ouvindo apenas o que lhe pareça positivo para a seleção.

Daí tantas “surpresas” a cada dispensa? Certamente não é uma questão de tradução português-espanhol. E se for algum jogo político do treinador? Fosse o caso, não seria melhor adotar o discurso de que valoriza “aqueles que se apresentaram,  o grupo, e que não há o que lamentar”? Em vez disso, não só o técnico contradiz publicamente seus atletas – alimentando a pauta jornalística para futuras convocações, diga-se – como perde a oportunidade de afagar aqueles com os quais está concentrado.

Magnano garante que Marquinhos estava liberado para jogar. O ala, que passou por uma cirurgia logo depois do NBB, não o desmente, exatamente. Se estamos falando do joelho operado, não há mais nenhuma restrição alguma. Só acrescenta um detalhe: segundo o jogador, seu problema era outro: “Realmente estava recuperado da artroscopia no menisco, mas fisicamente não estou bem. O edema ósseo é na tíbia, perto da junção com o joelho. Não chegaria em condições ideais na Copa América. Sinto dor para caminhar ainda. É algo que foge do meu controle”.

Nesse ponto o flamenguista pode ficar tranquilo, ao menos. Muita coisa parece fora do lugar aqui.


No confronto CBB x Flamengo, quem sai vencendo, de novo, é a Argentina
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Giancarlo Giampietro

Jerome Meyinsse e Nicolás Laprovittola

Laprovittola (d) deu as caras pelo Flamengo. Julio Lamas, um cavalheiro

No calendário acidentado do basquete brasileiro, agora temos um episódio de clube disparando contra a CBB. E não um clube qualquer, mas o Flamengo, atual campeão nacional e daqueles poucos que ainda consegue atrair a presença da mídia nacional para o lançamento de um projeto de basquete.

A ideia dos rubro-negros era apresentar suas novidades para a temporada 2013-2014 nesta segunda. E eles o fizeram, mas não do modo como queriam, já que faltaram alguns de seus protagonistas como Marquinhos, MVP do NBB, Vitor Benite e Cristiano Felício estão com a seleção e não foram liberados para um bate-e-volta no Rio. Não só eles, como também o técnico José Neto, assistente de Magnano, e o preparador físico Diego Falcão. Todo mundo barrado.

“Hoje está sendo um dia muito feliz pra nós, mas era para ser um dia mais feliz ainda. Era para ser um dia pra gente apresentar o elenco inteiro. Não pudemos fazer isso porque, infelizmente, a CBB não liberou os jogadores”, afirmou Alexandre Povoa, diretor de esportes olímpicos do Fla. “A gente contatou várias vezes dizendo: ‘Escolhe o dia, escolhe a hora, traz aqui o jogador umas três, quatro horas, só pra apresentar, é importante pro basquete brasileiro’, (e nada).”

Mais uma vez, Rubén Magnano dá sua demonstração de tolerância zero: não importam as circunstâncias, sua cartilha não pode ser quebrada. Uma intransigência que poderia ser contornada por seus superiores, ainda mais numa segunda-feira pós-jogo, desde que o clube arcasse com os custos. Contudo, quem numa hora dessas vai ter coragem de peitar o argentino, justamente o maior trunfo da atual gestão da confederação, talvez o principal responsável pela eleição do desastrado presidente?

Necessário dizer também que a programação da seleção está definida há um bom tempo, e talvez o Flamengo pudesse ter escolhido melhor momento para fazer sua festa, não? A Copa América vai terminar no dia 11 de setembro. O sucateado Campeonato Carioca começa no dia 20 de setembro e ainda tem tempo para o NBB dar largada. Se você caprichar na matemática, vai ver que sobrava uma brecha aí para apresentar o plantel com toda a pompa e atenção disponível.

Por outro lado, quando a Argentina – “NOSSA, O NOSSO INIMIGO! CRUZES!” – acha que está tudo bem liberar um dos seus, o armador Nicolás Laprovittola, belíssimo reforço rubro-negro, para o mesmíssimo evento, alguma coisa realmente parece errada. Não é segredo que, digamos, Magnano e Julio Lamas não são os melhores amigos. Basta ver o modo como se comportam na beira da quadra quando se enfrentam. Nesta, a classe e esperteza de um desses argentino foi bem maior.


Magnano dispensa Mariano, e restam dois cortes para definir seleção da Copa América
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Giancarlo Giampietro

A seleção brasileira vai avançando etapas – ao menos em termos de calendário –, e Rubén Magnano, definindo seu grupo. Nesta segunda-feira, o técnico argentino dispensou o pivô Lucas Mariano, o caçulinha da equipe. Restam agora 14 jogadores sob seu comando, com mais dois cortes a serem realizados até que tenhamos o plantel da Copa América definido.

Nesta terça-feira, sua equipe volta a enfrentar o fraquinho México, em São Paulo, 19h (horário de Brasília). Se o padrão for mantido, é de se esperar que, ao final do amistoso, mais um atleta seja comunicado de que não vai embarcar para a Venezuela. De modo que viajariam 13 para a disputa da Copa Tuto Marchand, até que sobrem os 12 eleitos.

Lucas Mariano e a bandeja de esquerda

Lucas Mariano para a bandeja no treino: algo que pareceu proibido em jogo

Lucas participou da final do Super 4 de Anápolis contra a Argentina, ficando em quadra por 12 minutos. Marcou três pontos, não pegou nenhum rebote e cometeu um desperdício de bola. Seus três chutes no clássico saíram de longa distância, numa arma que parece ter virado a única no repertório do talentoso jogador durante sua extensa passagem a serviço dos times da CBB.

Na Universíade de Kazan, a revelação francana já havia exagerado um pouco na dose em seus arremessos de fora: ele tentou 14 bolas do perímetro durante todo o torneio para supostos estudantes e converteu apenas uma. Até que, em amistoso contra o Uruguai na semana passada, um aparente milagre aconteceu, quando ele acertou quatro em cinco. Prova de que está praticando o fundamento, sim, mas também um número que sublinha o quanto randômica foi sua atuação. Vamos lá: se formos considerar seus dois testes pelo time de Magnano e todo o torneio “universitário”, Mariano obteve um aproveitamento de apenas 27,7% de três (6/22). Não é da noite para o dia em que um jogador que ainda não matou sequer um chute de fora quando em ação pelo NBB.

Não que ele deva ser proibido de se aventurar distante da cesta. Pelo contrário. Se há a mínima chance de um atleta tão jovem, de 19 anos, desenvolver múltiplas habilidades, que se invista nisso sem freio – Lula Ferreira certamente está ciente do que vem acontecendo. Agora… Conduzir esse experimento numa seleção brasileira e, numa subversão, limitar o rapaz a apenas este papel em quadra não parece a coisa mais produtiva para nenhuma das partes. E assim coube a Lucas nos 33 minutos que teve nos amistosos: com os pés fixos na linha de três pontos, basicamente esperando o desenvolvimento dopick-and-roll da vez para ver se dali sobraria uma rebarba. A ideia, a princípio, faz sentido. Sua presença, desde que como um chutador respeitado, serviria para espaçar a quadra para os companheiros atacarem. Agora, ficar só nisso? Um pecado, considerando o material humano. Guilherme Giovannoni (presença certa) e Rafael Mineiro (acho que ainda na luta por vaga) ficam com essa incumbência daqui para a frente.

Temos o seguinte, então: Huertas, Raul, Rafael Luz, Larry, Benite, Alex, Arthur, Marquinhos, Giovannoni, Mineiro, Felício, JP, Hettsheimeir e Caio.

Quais podem ser os próximos dois cortes?

Depende do que Magnano tem na cabeça. Se ele pretende jogar sempre com dois armadores na rotação, o natural seria manter Luz e dispensar Arthur e um pivô ou dois grandalhões de uma vez (Felício, JP, Mineiro e Caio no páreo), contando com Guilherme como alguém capaz de segurar as pontas lá debaixo. Outro caminho seria abrir mão de Rafael e manter o ala de Brasília no time como uma medida de segurança, deslocando eventualmente Benite para o rodízio de armadores. Mas… Tudo isso se Marquinhos estiver apto para jogar. Até agora, preservado com problemas no joelho, ele ainda não foi para quadra em cinco amistosos.

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Flaquito, sim, o México, mas que deu uma canseira na rapaziada no sábado passado. Este jogo eu não consegui ver, por motivos de Ricardo Darín e de achar que a partida começaria mais tarde, mesmo, mas vocês já sabem, claro, do sufoco que o Brasil passou para derrotá-los em Anápolis. Aqui, as estatísticas do triunfo por 88 a 81, com uma virada por 29 a 17 no último quarto. Uma partida bem diferente daquela de Salta, na Argentina, em que a seleção venceu por 94 a 68.Se na derrota para a Argentina, no domingo, o ataque foi o problema, no inesperado jogo sofrido contra os mexicanos, foi a defesa quem deixou a desejar, fazendo de Magnano um sujeito furioso, com razão. Não dá para tomar 81 pontos de um time desses, ainda mais sem Gustavo Ayón, o herói de Zapotán (cliquem e assistam ao vídeo, por favor), Earl Watson, Eduardo Nájera, Chicharito e Hugo Sánchez. Vamos ver como as equipes se comportarão no terceiro confronto em oito dias. Vou tentar dar uma chegada ao clube para  conferir de perto.


Scola volta a brilhar, mas jogo coletivo argentino predomina em vitória sobre o Brasil
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Giancarlo Giampietro

Bola ao alto!

Ginásio em Anápolis vazio para ver a Argentina bater o Brasil. Acreditem

Não importa: amistoso, fase de grupo, valendo vaga, medalha ou título, Luis Scola há de esculhambar com a seleção brasileira. Dessa vez o (?) privilégio ficou para algumas dezenas de gatos pingados heroicos em Anápolis, que puderam testemunhar a habilidade ofensiva do pivô argentino, cestinha na vitória deles por 85 a 80 no segundo Super 4 do ano. Para constar, foi para caneco, mas esse pouco importa, assim como o conquistado no final de semana passado pelos brasileiros.

Jogando cada vez mais no perímetro, flutuando, o camisa 4 anotou 26 pontos em 29 minutos. Pá-pum. Não só o volume impressiona, mas conta ainda mais a destreza (que neste caso também pode ser lido como “facilidade”) para ele alcançar esse total: 8/14 nos arremessos (57%), 3/5 nos três pontos (60%) e 7/7 nos lances livres. Apesar de ter apanhado apenas um rebote – logo, não “ralou”, nem “se matou” em quadra, tampouco “dando o sangue” – e de ter cometido mais turnovers (quatro) do que assistências (três), sua noite nos arremessos foi tão boa que lhe permitiu ser o segundo jogador mais “eficiente” da noite, com 20 pontos neste índice.

O craque do Pacers só ficou atrás de outro pivô argentino nesse quesito, o bom e velho Juan Gutiérrez, com 28, graças aos seus 22 pontos e 7 rebotes e percentual de 100% nos arremessos (9/9). Ai. O grandalhão fez a farra na tábua ofensiva – problema alertado no amistoso contra o Uruguai… –, apanhando quatro rebotes no ataque, devidamente seguidos por cestas fáceis, tranquilas. Daí o ótimo rendimento, ainda que ele também possa converter o chute de média distância, como na última (ou penúltima) bola do jogo para definir (ou quase) o placar.

De todo modo, o que ficou desse amistoso não são as armas argentinas, esses dois jogadores que estariam em quadra mesmo se todos os craques de lá tivessem se apresentado, mas, sim, a maneira como elas foram utilizadas. No ataque, o time de Julio Lamas, pelo menos por ora, mostra muito mais predisposição a compartilhar a bola. Neste caso, os números não fazem justiça ao que vimos em Goiás: 16 assistências contra 12 a favor dos vizinhos? Ok, podem ter sido, mesmo. Só não temos computados os números de passes trocados entre eles durante toda a partida. A bola roda de um lado para outro, volta, trás e frente, direita e esquerda, e por aí vai – ops, por “aí”, não, agora foi por lá.

Do outro lado, mesmo com dois armadores em quadra, Magnano vai administrando uma ofensiva muito estagnada. Vem sendo drible, drible, drible no centro da quadra, a tentativa de chamar um pick-and-roll (várias vezes negada por uma defesa em colapso) e… Quase nada além disso. Larry Taylor, em especial, está com cola nas mãos. E o relógio correndo, uma movimentação reduzida, e nada de se buscar uma opção melhor de arremesso. Tudo isso em situações de meia-quadra, que são forçadas com mais frequência contra times mais bem estruturados, que conseguem retornar com disciplina para a defesa para impedir os contragolpes, como os argentinos conseguiram fazer hoje. Resultado: foram apenas dois pontos brasileiros no contra-ataque.

Uma prova da estagnação do ataque brasileiro é o baixo número de assistências para aqueles que não se chamam “Marcelo Huertas”. Dos 12 passes para cesta da seleção, seis foram de seu armador e capitão. Quer dizer, a outra meia dúzia ficou dividida entre 11 atletas. Fica a dúvida: será que há um limite para passes na seleção imposto pelo treinador? Se alguém arriscar um quarto – ou, pior, quinto ou sexto! – passe no mesmo ataque vai para o banco logo em sequência?

Sobrecarregado na hora de criar, com 17 pontos e seis assistências, Huertas acabou cometendo mais da metade dos turnovers brasileiros, 4 de 7. Um número de erros, aliás, bastante limitado. Ao menos isso: estão cuidando da bola.

Trevas? Catástrofe, então?

Ainda não.

Estamos apenas nos amistosos. E uma combinação de adversários inferiores/menos organizados + blitz defensivas + contra-ataques + bola no Hettsheimeir + rotação mais enxuta pode bastar para encaminhar uma classificação, ainda que a conta possa ficar apertada numa noite de azar. Ainda assim, a 18 dias do início da Copa América, a Argentina está na frente. E quem vai estranhar isso?


Seleção volta a vencer o Uruguai. O que dá para tirar do 3º amistoso?
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Giancarlo Giampietro

Huertas no lance livre

Algumas notas sobre a seleção brasileira depois da terceira vitória em jogos preparatórios para a Copa América, que começa no dia 30 de agosto, em Caracas.  Nesta quarta-feira, a equipe voltou a vencer o Uruguai, em São Carlos, a terra do Nenê, por 83 a 69. Vamos lá:

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Do jogo de sábado (triunfo por 92 a 71), mudou o quê?

No selecionado brasileiro, saíram Rafael Mineiro, Raulzinho, Cristiano Felício e Leo Meindl e entraram Lucas Mariano, Scott Machado, Caio Torres e JP Batista. Os vizinhos do Sul vieram reforçados. Esteban Batista, Leandro Garcia Morales e Nicolás Mazzarino, três figuras fundamentais nos planos celestes, aproveitaram a viagem para conhecer o interior paulista e bater uma bolinha. Destes, Mazzarino foi quem menos jogou – é o mais velho também e estava bastante enferrujado nos poucos minutos que teve de ação.

Em termos de padrão estratégico, tático, não houve muita alteração – e nem dá para esperar muita coisa além disso. A seleção marcou muito bem novamente, cobrindo bem as tentativas de jogo de dupla dos uruguaios, desestabilizando um cestinha como Garcia Morales em diversos momentos. Por outro lado, seria necessário checar também o quanto esses atletas que não participaram do Super 4 treinaram com os demais companheiros. Alguns erros cometidos explicitaram uma falta de sintonia entre eles. O quanto disso tem a ver com a disciplina defensiva dos rapazes de Magnano ou o quanto é puro desentrosamento nós só vamos ver mais para a frente.

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A CBB improvisou, mas conseguiu disponibilizar as estatísticas do jogo antes do fechamento deste post.

A princípio, escreveria aqui ter uma impressão sobre um volume altíssimo sobre os chutes de média e longa distância da seleção em situações de meia quadra, com muita eficiência, diga-se. (No fim, o scout mostrou 23 arremessos de três no total, com excepcional aproveitamento de 52%. Em arremessos como um todo, o rendimento foi de 53%, também elevado.)

Mas foram poucos ataques desacelerados que terminaram com uma bandeja ou enterrada.

A ofensiva tem girado muito em torno das ações drive-and-kick, seja numa investida de um-contra-um ou num pick-and-roll em que o pivô cortando para a cesta não é acionado. Algo de certa forma compreensível com armadores de drible fácil como Huertas e Larry, por exemplo. Mas, na hora da competição para valer, será que os brasileiros vão ter tanta liberdade assim para matar esses chutes? No primeiro período, Lucas Mariano acertou três consecutivos, de frente para a tabela (mais sobre isso um pouco abaixo). Num torneio em que todos estudam todos, essa bola obviamente passaria a ser marcada. E aí como faz?

O recomendável seria desde já, nos amistosos, buscar mais variações, rodar de um lado para o outro da quadra, apostando também em maior movimentação fora de bola. Maior concentração de passes para pivôs que não se chamam Rafael Hettsheimeir também valem. Ok, são apenas os primeiros jogos, Magnano vem rodando bastante sua equipe, e tal. Mas tem de se tomar cuidado para não se apoiar demais nesse velho vício dos três pontos e não saber o que fazer lá na frente se a defesa apertar.

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É o pega-pra-capar. Que deixa mesmo um treinador experiente como Magnano “confuso”, como ele disse ao SporTV numa rara entrevista pós-jogo. O momento é de ganhar conjunto, identidade coletiva em quadra e, ao mesmo tempo, fazer a peneira para definir os 12 convocados da Copa América. Do que vimos até aqui e, em alguns casos, do já sabíamos há tempos, Huertas, Larry, Alex, Benite (sim), Marquinhos (*se o joelho permitir), Giovannoni e Hettsheimeir já estão lá. Restariam cinco vagas para serem preenchidas, com oito atletas na briga.

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Com suas surpreendentes – e meio impensáveis – bolas de três pontos, o garoto Lucas Mariano (4/5 nos tiros de longe, segundo minhas contas não-oficiais) se colocou de modo enfático nessa discussão. O treinador obviamente ficou impressionado com o pivô de Franca, de apenas 19 anos. Agora, não é só um jogo que pode definir uma convocação.

Essa propensão ao arremesso de longa distância, na verdade, já vinha sendo sinalizada desde a Universíade, realizada em julho, na Rússia. Com a diferença de que lá os resultados foram calamitosos: no geral, com aproveitamento de apenas uma cesta em 14 tentativas. No NBB, em toda a sua carreira, ele nunca fez sequer uma cesta de fora.

Então… Será que a mão está tão certeira assim nos treinamentos? E de uma hora para outra? Teve a ver com seus treinamentos personalizados em Los Angeles – ao lado de Raul, Bebê e Augusto no período pré-Draft – ou foi alguma ideia da comissão técnica de Magnano. Para o SporTV, Lucas deu a entender que é coisa de Magnano, de fazê-lo jogar mais aberto, assim como ocorreu com Mineiro no Super 4 argentino. “Aqui na seleção estou numa posição diferente”, disse o francano.

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E lá estava o Scott Machado de verde e amarelo. Mais um calouro na seleção principal, o nova-iorquino jogou por 12 minutos e demonstrou uma ansiedade normal. Penúltimo a se apresentar, com menos treinos com os novos companheiros, assimilando as (incessantes) orientações de Magnano, o jogador, que ainda tenta garantir seu espaço na NBA, cometeu quatro desperdícios de bola e anotou dois pontos. Não foi a melhor estreia, claro, mas seria absurdo concluir qualquer coisa tão cedo.

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O Uruguai não é o time com o garrafão mais forte, muito menos atlético que vamos enfrentar em Caracas. De qualquer forma, pudemos ver hoje o estrago que um Esteban Batista (12 rebotes, cinco deles ofensivos, mais da metade do total brasileiro – 23) sem ritmo já pode causar, atacando a tábua quando o Brasil está jogando com um trio como Rafael-Larry-Benite no perímetro. Qualquer quebra defensiva vai gerar um desequilíbrio e uma consequente uma rotação de emergência em quadra. Resulta dessas trocas que um dos “baixinhos” pode sobrar com um grandão lá dentro. E, aí, em muitas ocasiões não vai importar o quanto de fundamento tem esse atleta. Dependendo do adversário, por mais que se mantenha um posicionamento adequado para bloqueio de rebote ou de contestação ao arremesso, a diferença de altura pode ser tamanha que saem, mesmo, os dois pontos,  uma falta, ou uma nova posse de bola para o oponente. É de se monitorar se isso vai se repetir nas próximas partidas amistosas. Para ver como esse tipo de situação vai se desenvolver e se o eventual retorno de Marquinhos – não necessariamente o jogador mais vigoroso do país, mas com altura suficiente para atrapalhar mais – pode ajudar. Em São Carlos, os adversários ganharam a disputa nos rebotes por 25 a 23.

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Ainda sobre os uruguaios, pensando na Copa América, restando pouco mais de 20 dias para a competição, fica a dúvida se poderão contar com os veteranos Martin Osimani e Mauricio Aguiar em sua equipe. Os dois estão afastados por ora, devido a problemas físicos – Osimani, inclusive, nem teria se apresentado, fazendo tratamento em Buenos Aires. Devido a sua experiência, controle de bola e poderio defensivo, o armador em especial faz/faria/pode fazer toda a diferença nesta equipe, pensando numa disputa por vaga no Mundial. Estivesse o barbudo em quadra, a dinâmica dos dois amistosos seria bem diferente para a seleção brasileira. Seria uma boa chance, bem mais interessante para checar o quanto a marcação pressionada exigida por Magnano poderia incomodar um jogador desta categoria.

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Clique aqui para ler o comentário sobre a primeira vitória contra o Uruguai e aqui para o comentário do segundo amistoso, contra o México.


Brasil vence Uruguai em primeiro teste e mostra pegada defensiva em busca de vaga
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Giancarlo Giampietro

Rafael Hettshimeir, dois pontos

Dois pontos para Rafael Hettsheimeir, referência ofensiva brasileira no garrafão

Você não vai querer mostrar tudo tão cedo. Alex não jogou, Marquinhos nem viajou, Huertas saiu do banco, tranquilo. Vai tudo de pouco em pouco. Assim como o Uruguai não contou com com alguns de seus principais (mesmo) jogadores em Osimani, Batista, Aguiar, Garcia Morales e Mazzarino.

De toda forma, a seleção brasileira mostrou suas principais cartas em seu primeiro amistoso na preparação para a Copa América, numa vitória sobre os vizinhos do Sul por 92 a 71, neste sábado, em Salta, na Argentina. O jogo foi válido pelo torneio amistoso tradicionalmente conhecido como Super 4.

E tem problema apresentar essas cartas tão cedo?

No caso do Brasil de Magnano, não.

A essa altura, qualquer procarionte americano sabe qual a proposta de jogo que o time de Magnano vai apresentar em quadra: defesa pressionada para cima da bola, tentativa de interrupção da linha de passe e o rodízio frequente de atletas para não deixar a peteca tocar o solo etc. Grosso modo, é o que o Coach K aplica pelos Estados Unidos ultimamente, e isso não é mera coincidência: com pouco tempo para treinar, desenvolver conceitos mais profundos, você investe no sistema defensivo, sacode seus jogadores e toca esse abafa para cima de adversários menos preparados (ou menos habilidosos).

Aí não importa se Anderson Varejão, Tiago Splitter, Marcelinho Machado, Leandrinho ou fulano se apresentaram. O que importa é a premissa básica de desestabilizar o oponente em busca de cestas mais fáceis para seus jogadores mais atléticos, velozes e explosivos. Eles destroem e saem em velocidade em sequência. Se não sai a bandeja, ao menos um ataque foi desarmado.

É uma receita que virou marca registrada do time de Magnano, e tende a dar certo. Os uruguaios, que se aproximaram no placar no terceiro quarto, foram limitados a 41% nos tiros de quadra, 29% de longa distância e cometeram 16 turnovers.

Mas nem sempre vai ser suficiente, pois depende, sim, de quem está do outro lado. Neste caso, faz uma diferença danada se o adversário vai de Bruno Fitipaldo (um armador talentoso, candidato a NBB para quem estiver de olho, mas jovem e atirado demais) ou Martín Osimani. Na hora de brigar pela vaga, vai ser preciso mais – pegada e diversificação ofensiva.

Mas é isto: o Brasil vai encher o saco dos adversários com esse tipo de postura defensiva. E tentar evoluir no ataque durante as próximas semanas, com os treinos e amistosos pela frente. Alex (nosso maior carrapato na defesa) e Marquinhos (arma do outro lado) ainda vão chegar e o time vai ganhando uma cara melhor desse lado. Esperemos.

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Cnsiderando as peças que tem em mãos – último a se apresentar, Scott Machado nem foi –, é mais que natural que Magnano vá investir numa formação com dois armadores. Huertas, Raulzinho, Larry, Rafael e (?) Benite tiveram juntos mais de 62 minutos de ação, somando 11 assistências das 18 da equipe, além de 40 pontos dos 92.

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Um dos caçulinhas da seleção, o ala francano Leo Meindl vai seguindo a trilha aberta por  Raulzinho nos anos anteriores de “jogador convidado” que força a barra para se meter no grupo principal. Ele converteu 13 pontos em apenas 16 minutos e conseguiu o segundo melhor índice de eficiência da noite, com +13, atrás apenas dos +16 de Larry. O garoto de 20 anos matou 3 de 4 tiros de tiros de três pontos (5-7 nos tiros de quadra no geral) e apanhou dois rebotes. Concorrente, Benite teve 11 pontos, 3 rebotes e 2 assistências em 27 minutos, começando como titular e jogando de modo agressivo durante toda a partida, algo relevante.

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Com 24 chutes de três pontos, o Brasil apresentou um vlto volume de jogo no perímetro (com eficiência, 54% de acerto, diga-se).

Na hora do vamo-vê, porém, esperemos que os pivôs sejam mais alimentados, envolvidos em ações de pick-and-roll, ou de isolamento no lado contrário, com rápida troca de passes. Rafael Hettsheimeir, depois de um ano apagado pelo Real Madrid, está com sede de bola e precisa ser saciado. Assim como o jovem Cristiano Felício é atlético em demasia para ser aproveitado perto da cesta. Aos poucos, imagino, Huertas e Raulzinho devem desenvolver a química em quadra com estes novos parceiros, para entender como e para onde cada grandalhão tende a se deslocar, para que aí as coisas possam fluir de melhor maneira. Seria este o ponto benéfico, aliás, de não se ter medalhões escalados: que a bola rode mais e o time tenha uma identidade de “todos contra um” (adversário).


Saída da Espanha, mudança para acertar, resistência do Boston… Faverani não deve defender a seleção
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Giancarlo Giampietro

Vitor Faverani, adeus, Valência

Adeus, Valência, para Faverani, e um até breve para Magnano

Chega uma hora que é melhor esquecer e seguir em frente com o que você tem, mesmo.

Rubén Magnano já está esperando há dias, e  será que fazer salinha por mais um tempão?

No caso, estamos falando de Vitor Faverani. Com as dispensas de Nenê, Varejão, Splitter e Lucas Bebê, mais a hérnia de Augusto, qualquer ajuda extra para o garrafão da seleção era bem-vinda. Pensando no enigmático pivô ex-Valencia, talvez fosse a hora perfeita para ele se apresentar oficialmente ao basquete brasileiro.

Mas…

O timing simplesmente não ajudou. O paulista acaba de fechar contrato com o Boston Celtics. Está literalmente num período de mudanças. A cabeça vai longe. E, julguem o que quiser, a seleção simplesmente não parece tão prioritária. É a conclusão que tiramos de sua entrevista ao site Basketeria.

Há diversos empecilhos para o pivô se apresentar a Magnano – lembrando que o prazo anunciado pela CBB para uma resposta do convocado era até esta terça-feira.

1) O Boston Celtics não quer liberá-lo para jogar a Copa América. “Estou esperando o que o Boston fala sobre isso. Eles não estão muito afim que eu vá, por causa da lesão que tive no joelho”, disse.

2) Vitor vai ficar na Espanha por mais uma semana, no mínimo. “Acho que (vem ao Brasil) no final da semana que vem. Ainda tenho algumas coisas para resolver aqui na Espanha. Assim que der, estou indo para o Brasil ficar um pouco com minha família.”

3) No momento, há muito mais na cabeça do cara. “Psicologicamente, é o melhor que posso fazer (encontrar a família) antes de começar a nova “guerra” da minha vida” + “Quando eu for pro Brasil, agora, tenho que sentar com o Rubén (Magnano), sentar com meu agente e conversar” + “O que eu falei para os caras de Boston, no dia que eu assinei contrato, é que nos primeiros dias de setembro eu tinha que estar lá. Vou tentar ir uma semana antes para arrumar as coisas da casa, fazer as coisas de banco, para quando começar a temporada estar bem descansado e tranquilo para trabalhar”.

Ora, façam as contas: o talentoso e enigmático pivô estaria “livre” para conversar com o treinador argentino lá pelo dia 2 ou 3 de agosto. A Copa América começa apenas no dia 30. Daria tempo de ele ser integrado. Do ponto de vista mais pragmático, levando em conta a qualidade do jogador, talvez valesse a exceção aberta.

Agora…

E se o Boston se mantiver contrário e fizer de tudo para censurar seu novo contratado?

E que mensagem seria passada a Caio Torres, Rafael Hettsheimeir, Rafael Mineiro e qualquer outro jogador que tenha se apresentado no horário e já esteja treinando, ralando sob a orientação do campeão olímpico?

Para alguém linha-dura como Magnano, chegou a hora de riscar o giz na quadra e abraçar o que ele tem em mãos no momento. São jogadores talentosos, que, bem orientados e treinados, podem mais do que dar conta do recado.

Faverani  ficou para a próxima.