Vinte Um

Scola volta a brilhar, mas jogo coletivo argentino predomina em vitória sobre o Brasil

Giancarlo Giampietro

Bola ao alto!

Ginásio em Anápolis vazio para ver a Argentina bater o Brasil. Acreditem

Não importa: amistoso, fase de grupo, valendo vaga, medalha ou título, Luis Scola há de esculhambar com a seleção brasileira. Dessa vez o (?) privilégio ficou para algumas dezenas de gatos pingados heroicos em Anápolis, que puderam testemunhar a habilidade ofensiva do pivô argentino, cestinha na vitória deles por 85 a 80 no segundo Super 4 do ano. Para constar, foi para caneco, mas esse pouco importa, assim como o conquistado no final de semana passado pelos brasileiros.

Jogando cada vez mais no perímetro, flutuando, o camisa 4 anotou 26 pontos em 29 minutos. Pá-pum. Não só o volume impressiona, mas conta ainda mais a destreza (que neste caso também pode ser lido como ''facilidade'') para ele alcançar esse total: 8/14 nos arremessos (57%), 3/5 nos três pontos (60%) e 7/7 nos lances livres. Apesar de ter apanhado apenas um rebote – logo, não ''ralou'', nem ''se matou'' em quadra, tampouco ''dando o sangue'' – e de ter cometido mais turnovers (quatro) do que assistências (três), sua noite nos arremessos foi tão boa que lhe permitiu ser o segundo jogador mais ''eficiente'' da noite, com 20 pontos neste índice.

O craque do Pacers só ficou atrás de outro pivô argentino nesse quesito, o bom e velho Juan Gutiérrez, com 28, graças aos seus 22 pontos e 7 rebotes e percentual de 100% nos arremessos (9/9). Ai. O grandalhão fez a farra na tábua ofensiva – problema alertado no amistoso contra o Uruguai… –, apanhando quatro rebotes no ataque, devidamente seguidos por cestas fáceis, tranquilas. Daí o ótimo rendimento, ainda que ele também possa converter o chute de média distância, como na última (ou penúltima) bola do jogo para definir (ou quase) o placar.

De todo modo, o que ficou desse amistoso não são as armas argentinas, esses dois jogadores que estariam em quadra mesmo se todos os craques de lá tivessem se apresentado, mas, sim, a maneira como elas foram utilizadas. No ataque, o time de Julio Lamas, pelo menos por ora, mostra muito mais predisposição a compartilhar a bola. Neste caso, os números não fazem justiça ao que vimos em Goiás: 16 assistências contra 12 a favor dos vizinhos? Ok, podem ter sido, mesmo. Só não temos computados os números de passes trocados entre eles durante toda a partida. A bola roda de um lado para outro, volta, trás e frente, direita e esquerda, e por aí vai – ops, por ''aí'', não, agora foi por lá.

Do outro lado, mesmo com dois armadores em quadra, Magnano vai administrando uma ofensiva muito estagnada. Vem sendo drible, drible, drible no centro da quadra, a tentativa de chamar um pick-and-roll (várias vezes negada por uma defesa em colapso) e… Quase nada além disso. Larry Taylor, em especial, está com cola nas mãos. E o relógio correndo, uma movimentação reduzida, e nada de se buscar uma opção melhor de arremesso. Tudo isso em situações de meia-quadra, que são forçadas com mais frequência contra times mais bem estruturados, que conseguem retornar com disciplina para a defesa para impedir os contragolpes, como os argentinos conseguiram fazer hoje. Resultado: foram apenas dois pontos brasileiros no contra-ataque.

Uma prova da estagnação do ataque brasileiro é o baixo número de assistências para aqueles que não se chamam ''Marcelo Huertas''. Dos 12 passes para cesta da seleção, seis foram de seu armador e capitão. Quer dizer, a outra meia dúzia ficou dividida entre 11 atletas. Fica a dúvida: será que há um limite para passes na seleção imposto pelo treinador? Se alguém arriscar um quarto – ou, pior, quinto ou sexto! – passe no mesmo ataque vai para o banco logo em sequência?

Sobrecarregado na hora de criar, com 17 pontos e seis assistências, Huertas acabou cometendo mais da metade dos turnovers brasileiros, 4 de 7. Um número de erros, aliás, bastante limitado. Ao menos isso: estão cuidando da bola.

Trevas? Catástrofe, então?

Ainda não.

Estamos apenas nos amistosos. E uma combinação de adversários inferiores/menos organizados + blitz defensivas + contra-ataques + bola no Hettsheimeir + rotação mais enxuta pode bastar para encaminhar uma classificação, ainda que a conta possa ficar apertada numa noite de azar. Ainda assim, a 18 dias do início da Copa América, a Argentina está na frente. E quem vai estranhar isso?