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Arquivo : Osimani

Brasil agora perde para o Uruguai e depende de vitória contra Jamaica para sobreviver
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Giancarlo Giampietro

Garcia Morales deixa o lento Brasil para trás

Garcia Morales e o Uruguai alguns centímetros na frente do Brasil. Quem diria

Acreditem: o Brasil perdeu para o Uruguai nesta segunda-feira, de ponta a ponta, por 79 a 73, sem vencer sequer uma parcial. Por conta disso, vai jogar contra a Jamaica nesta terça precisando de qualquer maneira de uma vitória para conquistar uma vaga. Na Copa do Mundo? Não, mano, calma: na segunda fase da Copa América, disputada em caracas.

Sim, é isso mesmo: o Brasil vai para a última rodada da fase inicial do torneio continenta precisando de uma vitória contra os jamaicanos para ter uma sobrevida. Para poder sonhar com uma classificação para a semifinal e, aí, sim, assegurar sua classificação para o Mundial da Espanha 2014 sem precisar apelar a um convite da Fiba.

E vocês acham que acabou por aí?

Não, mas claro que não.

Pois ganhar da Jamaica não é nenhuma barbada a essa altura da vida.

Pensem assim: os caribenhos perderam hoje para seus colegas porto-riquenhos por 88 a 82. O Brasil, na primeira rodada, caiu por 72 a 65. Não obstante, eles perderam para o Canadá por  21 pontos. O Brasil, por 29. Logo…

(Mas, ok, calma lá também: não vamos tratar as coisas de modo tão simplista… Cada jogo é um jogo, e tal… E…  Assim… Hã… Fato é que, com anos de atraso, a Jamaica também começa a desenvolver seu núcleo, contando com bons jogadores desenvolvidos nos Estados Unidos. Entre eles o pivô Samardo Samuels, ex-companheiro de Anderson Varejão no Cleveland Cavaliers. Samuels não tem uma carreira de arromba na NBA. Hoje, sobrevive de contrato em contrato nos Estados Unidos, com números medíocres, se tanto. Mas seria apresentado num cartaz muito maior caso tivesse optado por jogar na Europa. Isto pé: não subestimem esse sujeito. Quem for marcá-lo vai ter de estar bastante atento e preparado para aguentar o tranco.)

Agora o que resta é se virar para esse confronto, mesmo. E tentar ao máximo deixar o que aconteceu contra os uruguaios – e porto-riquenhos e canadenses – no passado. Num cenário ideal, os brasileiros dormiriam, babando na frente do telão, observando com detalhes duas diversas falhas nessas primeiras rodadas. Mas a rotina de uma Copa América é cruel, testa qualquer psicólogo e estrategista. Não tem muito tempo para respirar, assistir ao vídeo e refletir sobre o que está errado em quadra. Em 24 horas, ou menos, precisa voltar para quadra e executar o que é pedido, planejado.

O problema? Pode ser que não reste plano de nada para a seleção brasileira. Do que vimos contra o Uruguai nesta segunda, é a impressão que fica. O time está perdido, desorientado, dos dois lados. Não defende com vitalidade, não ataca com o cérebro. Não defende com cérebro, não ataca com vitalidade. Temos hoje um amontado de jogadores que estão sem espírito ou cabeça na competição.

(E, por favor, esqueçam clichês como “raça”ou “gente-que-não-assume-responsabilidade” nesta hora: de que adianta “garra” se você não sabe como empregá-la em quadra? E mais: Marcelinho Machado não foi execrado por milhares e milhares nos últimos anos justamente por “querer-assumir- demais”?)

Caio x Esteban, não deu certo

Esteban Batista volta a ser um monstro lá dentro. Cortesia brasileira

O Brasil perdeu porque entrou desmoralizado. E, além disso, perdeu também porque foi a primeira vez em muuuuuuuito tempo vimos em ação um time brasileiro que não conseguiu se sobrepor de modo atlético aos uruguaios em 40 minutos. Os oponentes pegaram mais rebotes (+2), deram mais tocos (+4) e bateram mais lances livres (+15!!!). Resultado: a primeira derrota para a “Celeste” em 18 anos.

Essa foi mais uma proeza que a atual comissão técnica conseguiu: reunir um grupo de 11 jogadores (descartando Felício, “café-com-leite”, inexplicavelmente) que não conseguem se impor fisicamente nem diante de uma seleção que invariavelmente comeu poeira jogando contra o Brasil nos últimos duas décadas.

“Não temos nem o que falar. Nós simplesmente não jogamos basquete. Não jogamos o que sabemos. Em 13 anos de seleção, nunca tinha perdido para o Uruguai ou para o Canadá. São derrotas difíceis, com as quais não estávamos acostumados. Não soubemos ganhar”, afirmou o veterano Alex, pasmo, em entrevista ao SporTV.

O que mais impressiona, além dessa convocação desastrosa, é a incapacidade da mesma comissão de buscar ajustes: insistem com o mesmo plano de jogo, sem, ao que parece, procurar entender o que se passa em quadra, ignorando deficiências claríssimas de um time que não marca nem baixinhos, nem grandões – Esteban Batista terminou com 22 pontos e 13 rebotes, grande destaque, mas Leandro Garcia Morales também somou 16 pontos, seis rebotes e quatro assistências, cobrando dez lances livres e o velhaco Nicolás Mazzarino matou 14 pontos no jogo exterior.

Agora só resta uma partida contra os jamaicanos, pensando em, antes de vaga ou título, lutar por uma vitória de honra. É para evitar o vexame supremo: uma queda já na primeira fase e as eventuais súplicsa por um convite para que o país se mantenha como um dos poucos a nunca perder uma edição de Mundial da categoria. Acreditem.

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O jovem (e atlético) Cristiano Felício não entrou um minuto sequer em quadra nesta segunda. Ou seja: foi oficializado como “café-com-leite”. O que só torna a convocação de Magnano ainda pior. O argentino realmente achou que, com os 11 que listou “para valer”, teria condições de passear no torneio, a ponto de descartar um posto em sua equipe?

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Contagem atualizada: o Brasil acertou apenas 72 de seus 188 arremessos de quadra após três rodadas. O aproveitamento é de 38,2%.

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Importante lembrar: o Uruguai também está desfalcado. Por exemplo: tivessem o veterano Martin Osimani e o emergente Jayson Granger se apresentado, Bruno Fitipaldo, o titular, seria apenas o terceiro armador da rotação. Além desses dois, está faltando Mauricio Aguiar, o ala mais qualificado do país.


Brasil vence Uruguai em primeiro teste e mostra pegada defensiva em busca de vaga
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Giancarlo Giampietro

Rafael Hettshimeir, dois pontos

Dois pontos para Rafael Hettsheimeir, referência ofensiva brasileira no garrafão

Você não vai querer mostrar tudo tão cedo. Alex não jogou, Marquinhos nem viajou, Huertas saiu do banco, tranquilo. Vai tudo de pouco em pouco. Assim como o Uruguai não contou com com alguns de seus principais (mesmo) jogadores em Osimani, Batista, Aguiar, Garcia Morales e Mazzarino.

De toda forma, a seleção brasileira mostrou suas principais cartas em seu primeiro amistoso na preparação para a Copa América, numa vitória sobre os vizinhos do Sul por 92 a 71, neste sábado, em Salta, na Argentina. O jogo foi válido pelo torneio amistoso tradicionalmente conhecido como Super 4.

E tem problema apresentar essas cartas tão cedo?

No caso do Brasil de Magnano, não.

A essa altura, qualquer procarionte americano sabe qual a proposta de jogo que o time de Magnano vai apresentar em quadra: defesa pressionada para cima da bola, tentativa de interrupção da linha de passe e o rodízio frequente de atletas para não deixar a peteca tocar o solo etc. Grosso modo, é o que o Coach K aplica pelos Estados Unidos ultimamente, e isso não é mera coincidência: com pouco tempo para treinar, desenvolver conceitos mais profundos, você investe no sistema defensivo, sacode seus jogadores e toca esse abafa para cima de adversários menos preparados (ou menos habilidosos).

Aí não importa se Anderson Varejão, Tiago Splitter, Marcelinho Machado, Leandrinho ou fulano se apresentaram. O que importa é a premissa básica de desestabilizar o oponente em busca de cestas mais fáceis para seus jogadores mais atléticos, velozes e explosivos. Eles destroem e saem em velocidade em sequência. Se não sai a bandeja, ao menos um ataque foi desarmado.

É uma receita que virou marca registrada do time de Magnano, e tende a dar certo. Os uruguaios, que se aproximaram no placar no terceiro quarto, foram limitados a 41% nos tiros de quadra, 29% de longa distância e cometeram 16 turnovers.

Mas nem sempre vai ser suficiente, pois depende, sim, de quem está do outro lado. Neste caso, faz uma diferença danada se o adversário vai de Bruno Fitipaldo (um armador talentoso, candidato a NBB para quem estiver de olho, mas jovem e atirado demais) ou Martín Osimani. Na hora de brigar pela vaga, vai ser preciso mais – pegada e diversificação ofensiva.

Mas é isto: o Brasil vai encher o saco dos adversários com esse tipo de postura defensiva. E tentar evoluir no ataque durante as próximas semanas, com os treinos e amistosos pela frente. Alex (nosso maior carrapato na defesa) e Marquinhos (arma do outro lado) ainda vão chegar e o time vai ganhando uma cara melhor desse lado. Esperemos.

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Cnsiderando as peças que tem em mãos – último a se apresentar, Scott Machado nem foi –, é mais que natural que Magnano vá investir numa formação com dois armadores. Huertas, Raulzinho, Larry, Rafael e (?) Benite tiveram juntos mais de 62 minutos de ação, somando 11 assistências das 18 da equipe, além de 40 pontos dos 92.

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Um dos caçulinhas da seleção, o ala francano Leo Meindl vai seguindo a trilha aberta por  Raulzinho nos anos anteriores de “jogador convidado” que força a barra para se meter no grupo principal. Ele converteu 13 pontos em apenas 16 minutos e conseguiu o segundo melhor índice de eficiência da noite, com +13, atrás apenas dos +16 de Larry. O garoto de 20 anos matou 3 de 4 tiros de tiros de três pontos (5-7 nos tiros de quadra no geral) e apanhou dois rebotes. Concorrente, Benite teve 11 pontos, 3 rebotes e 2 assistências em 27 minutos, começando como titular e jogando de modo agressivo durante toda a partida, algo relevante.

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Com 24 chutes de três pontos, o Brasil apresentou um vlto volume de jogo no perímetro (com eficiência, 54% de acerto, diga-se).

Na hora do vamo-vê, porém, esperemos que os pivôs sejam mais alimentados, envolvidos em ações de pick-and-roll, ou de isolamento no lado contrário, com rápida troca de passes. Rafael Hettsheimeir, depois de um ano apagado pelo Real Madrid, está com sede de bola e precisa ser saciado. Assim como o jovem Cristiano Felício é atlético em demasia para ser aproveitado perto da cesta. Aos poucos, imagino, Huertas e Raulzinho devem desenvolver a química em quadra com estes novos parceiros, para entender como e para onde cada grandalhão tende a se deslocar, para que aí as coisas possam fluir de melhor maneira. Seria este o ponto benéfico, aliás, de não se ter medalhões escalados: que a bola rode mais e o time tenha uma identidade de “todos contra um” (adversário).


Reforçado, Uruguai corre por fora e acredita em disputa por vaga na Copa América
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Giancarlo Giampietro

Mazzarino voltou

Nicolás Mazzarino ainda rende bem aos 37 anos. Cuidado com ele

Nicolás Mazzarino, 37, é daqueles jogadores que, na hora de se formar duas equipes para se disputar uma pelada no parque, muito provavelmente ficaria fora. Tudo por causa do olhômetro: você bate a vista no sujeito, baixinho, o cabelo com boas entradas, e tal. Sai o que daí, diria o preconceito do capitão de ambas as equipes?

Olha, uma coisa com certeza sairia: muitas bolas de três pontos. O veterano uruguaio é um dos maiores atiradores de longa distância que o basquete sul-americano já viu e, depois de sete anos, resolveu aceitar uma convocação, voltando a defender a equipe celeste na Copa América que se inicia no dia 30 de agosto.

Mazzarino não defendia o time desde o Sul-Americano de 2008. Já o ala Emilio Taboada, 31, também decidiu voltar à seleção nacional pela primeira vez desde a Copa América 2009, aquela que a seleção brasileira venceu sob o comando de Moncho Monsalve.

E o que acontece no Uruguai para o Natal ser antecipado tanto assim para o técnico Pablo Lopez?

Bem… Cientes dos desfalques que muitas das potências continentais têm no momento, os uruguaios talvez simplesmente acreditem que possam beliscar uma das quatro vagas para a Copa do Mundo de 2014, na Espanha. Algo que não parece nada exagerado, aliás. Estão farejando sangue e chegarão ligadíssimos à disputa. Aí chamam a cavalaria, ainda que seja a cavalaria uruguaia.

Mazzarino já não é mais o cestinha de mão cheia de meados dos anos 2000, assim como Taboada nunca foi.  O armador/escolta, porém, jogou na forte liga italiana até esta última temporada, sem parar, em clube de ponta, disputando Euroliga e tudo. E não não como simples mascote. Converteu 41% de seus disparos do perímetro, depois de ter matado 45,3%, 44,3% e 45,8% nas campanhas anteriores.

No contexto uruguaio, em que a mão-de-obra não é nada abundante, poder contar com esses dois jogadores, de nível internacional, é um reforço danado.  São duas peças que se somam aos já “batidos” Martin Osimani, Leandro Garcia Morales e Mauricio Aguiar, além do sub-23 Bruno Fitipaldo. Estamos diante de um elenco muito talentoso ofensivamente, com artilharia pesada, para espaçar a quadra. Resta saber se Reque Newsome e Esteban Batista estão em condições de pontuar dentro do garrafão para completar o ataque da equipe.

Batista vem em declínio no basquete europeu e, para piorar, sofreu um baita susto durante os treinamentos no Uruguai, ao cair sobre o braço, contundindo o cotovelo e o punho. No elenco uruguaio, porém, é o único que pode causar algum estrago próximo da cesta, para se aproveitar de tantos arremessadores ao seu redor.

Olho neles.

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Os veteranos voltaram, mas o Uruguai perdeu um de seus principais jogadores jovens, se não o principal, para a Copa América. É o armador Jayson Granger, formado no basquete espanhol. Ex-Estudiantes, o atleta defendeu o Boston Celtics na liga de verão da NBA em Orlando ao lado de Fabrício Melo este ano e acaba de assinar contrato com o Unicaja Málaga, de Augusto Lima. Para facilitar a adaptação ao novo clube, abriu mão de defender a seleção nacional, pela qual jogou pela primeira vez no Sul-Americano de 2012. Um bom defensor, alto e forte para a posição, Granger ajudaria bastante, mas nessa posição os vizinhos do sul ainda se viram muito bem obrigado com Osimani e o joven Bruno Fitipaldo, um armador muito talentoso ofensivamente.

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Sob o comando de López, que assumiu o time no ano passado, a preparação uruguaia já começou no dia 8 de julho e vai ser uma das mais extensas das seleções participantes. O Brasil vai enfrentá-los pela primeira vez no dia 7 de agosto, em São Carlos. As duas seleções também realizarão um Super 4 em Anápolis, entre 10 e 11 de agosto. Em jogos para valer, se enfrentam no dia 2 de agosto já pela Copa América.

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Mazzarino não está de volta apenas ao time nacional. Na próxima temporada, ele vai defender o Malvin, tradicional clube de seu país, depois de passar 12 anos na Itália, aonde defendeu o Reggio Calabria e o Cantù . Quer dizer, vai cruzar novamente com as defesas brasileiras nas Ligas Sul-Americanas e das Américas da vida.


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