Vinte Um

Arquivo : Lucas Bebê

Temporada especial: relembre grandes momentos da NBA 2014-15
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Giancarlo Giampietro

“Foi uma temporada e tanto.”

A tendência, ao final de uma jornada de 1.230 jogos, é que sempre falemos isso, né? Pois história não falta para contar. Na hora de separar os principais acontecimentos da campanha 2014-2015 da NBA, porém, dá para perceber que realmente testemunhamos um campeonato especial. Claro que muita coisa chata aconteceu, como as lesões de Durant e Kobe, o empurrão de LeBron em David Blatt, goteira em ginásio, as paralisações constantes no final das partidas, o fundo do poço para Lakers e Knicks e mais alguma coisa. Mas vamos nos apegar a boas lembranças, vai? Então, sem mais delongas, seguem alguns momentos que devem – ou deveriam – ficar guardados na memória dos admiradores em geral da liga americana, ou, pelo menos, das torcidas envolvidas.

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Tem espaço aí no hard drive? ; )

O Retorno
Sim, a temporada já se tornava marcante antes mesmo de seu início, com LeBron James anunciando que o bom filho a casa tornava (sim, surpreendentemente sem crase, mesmo), se desquitando de Dwyane Wade e Pat Riley. Houve romaria em Cleveland, e as lavanderias devem ter lucrado horrores com o tanto de camisa 23 resgatadas do fundo do baú, quiçá até mofadas. Para aqueles que tostaram, rasgaram ou picharam seus antigos uniformes, o jeito era abrir a carteira. Estudos e estudos foram divulgados para mostrar qual seria o impacto para a economia da cidade e de Ohio. A euforia só cresceu quando ficou claro que uma troca por Kevin Love estaria orquestrada. No fim, demorou um pouco para as coisas se acertarem, com o astro fazendo uma primeira metade de campeonato muito aquém do esperado, mas, depois de duas semanas de férias e de duas trocas certeiras, o Cavs decolou. Aqui, vale abrir espaço para dois episódios memoráveis que são consequência direta da mudança de South Beach para Akron. O Rio de Janeiro teve a sorte de sediar um jogo de pré-temporada que colocaria LBJ pela primeira vez contra seus ex-companheiros, enquanto o primeiro jogo oficial acabou reservado, claro, para a tradicional rodada natalina. Orgulhoso que só, Wade jogou demais e conduziu o Miami ao triunfo.

A carta, a volta, o rei

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A estreia de Caboclo e Bebê
A vida é engraçada, né? Dependendo do ponto de vista e do contexto, um jogo aparentemente insignificante entre Toronto Raptors e Milwaukee Bucks, no qual o time canadense trucidou o adversário, pode se tornar especial. Para o público brasileiro, talvez tenha sido a noite de maior algazarra. A história, afinal, era muito legal – desde a seleção do ala do Pinheiros numa surpreendente 20ª posição do Draft. Havia rumores de promessa, mas ninguém imaginava escutar seu nome na primeira rodada. O movimento gerou alta expectativa, tanto dos radicais torcedores do Raptors como no público daqui. E aí que, naquela sexta-feira 21 de novembro, ele foi para a quadra pela primeira vez num jogo oficial (depois de aquecer na Liga de Verão e na pré-temporada). Duas bolas de três pontos, uma ponte aérea maluca para Caboclo, e a loucura instaurada na América-do-Norte-ao-Sul. Lucas Bebê também foi chamado para a festa. A Internet quase quebrou, de tanto frenesi. Um blogueiro varou a madrugada imaginando o diário de um adolescente. Quem viu, viu. No final, porém, essa noite acabou sendo um acontecimento isolado. O gás do Toronto Raptors acabou cedo, as lavadas minguaram, e o ala só teria algum tempo de quadra significativo na D-League, se tanto. Até que a central do zum-zum-zum da liga contou o que estava acontecendo: problemas fora de quadra, com muita imaturidade deixando o caminho para seu desenvolvimento ainda mais intrincado. Bebê ao menos ainda voltaria a jogar também pela D-League, produzindo mais. Mas, ao final da temporada de calouro, o progresso da dupla ainda é um mistério. Mas o YouTube vai ter sempre isto:

Kobe supera Jordan. Literalmente
Foi no dia 14 de dezembro, em Minnesota. Muito melhor teria sido no Staples Center. Mas, enfim. Os deuses do basquete escolheram o ginásio do Timberwolves para esse marco. Com dois lances livres, o já ancião ala-armador do Lakers desbancou Sua Alteza Michael Jordan na lista de cestinhas históricos da NBA,  assumindo o terceiro post, logo abaixo de Kareem Abdul-Jabbar e Karl Malone, com 32.293 pontos. Nada mal, hein? Diga-me com quem andas… Ao menos a torcida e a gerência do Target Center tiveram a grandeza de celebrar o ocorrido, aplaudindo uma lenda viva em quadra. Kobe terminou a partida com 26 pontos, numa vitória por 100 a 94. Foi uma aberração de numa noite em meio a uma temporada deprimente da franquia. (Ah, em mais uma campanha em que as lesões o derrotaram, Kobe também conseguiu um recorde daqueles que já não orgulha tanto: desbancou John Havliceck, o ídolo do Boston dos anos 60 e 70, para se tornar o atleta da NBA que mais desperdiçou arremessos na história. Eram, então, 13.418 chutes errados.)

(Se for para falar de registros históricos, não dá para deixar Dirk Nowitzki de fora, né? De modo bem mais discreto, como de praxe, o alemão também vem subindo a ladeira dos maiores pontuadores que a NBA já viu. Entre 11 de novembro e 5 de janeiro, o genial líder do Mavs deixou passa Hakeem Olajuwon, Elvin Hayes e Moses Malone para trás – curiosamente, três pivôs com passagem pelo Houston Rockets –, para alcançar a sétima posição na lista. Além disso, ao ultrapassar Olajuwon, Dirk se tornou o principal cestinha estrangeiro da liga, em vitória de virada sobre o Sacramento, com um característico chute de média distância. Depois, no dia 24 de março, ao apanhar seu rebote de número 10 mil, o craque inaugurou um clube só seu, tendo também mais de 25 mil ponto. 1.000 tocos e 1.000 cestas de três pontos em sua carreira. Prost!)

Klay Thompson: incendiário
Depois dessa exibição, as mensagens de texto com o seguinte dizer – ALERTA KLAY THOMPSON – ganha um outro sentido. Vai obrigar você a dar pause no Netflix, a abandonar a mesa de jantar, a levantar a coberta, seja o que for, e ligar a TV ou o computador. O que o ala do Warriors fez contra o Sacramento não existe. Ou melhor, não existia até o dia 23 de janeiro. Com as mãos flamejantes e estabelecendo uma série de recordes, deixou toda a liga em estado de choque ao marcar 37 pontos no terceiro período. É difícil de processar isso ainda hoje. Ele finalizou a partida com 52 pontos no geral. Mas um detalhe: apenas 33 minutos. Numa projeção por 48 minutos, teria feito 75. (Para eternizar o apelido de Splash Brothers, Stephen Curry também passou da marca cinquentenária ao fazer 51 contra o Dallas Mavericks menos de duas semanas depois. E os dois se amam, não há rivalidade nenhuma.)

Uncle Drew em quadra
Ou: a noite em que LeBron James teve certeza de que havia tomado a decisão certa. Foi quando Kyrie Irving torturou a defesa do San Antonio Spurs ao marcar 57 pontos naquele que foi um dos melhores jogos do campeonato. Contando o minuto final do tempo regulamentar e a prorrogação, ele marcou 20 pontos – três a mais que toda a equipe texana. O tipo de atuação que também força os jornalistas a fuçar mais uma vez nos livros de recordes e que trouxe o Uncle Drew para uma quadra de verdade. Desta forma, o armador do Cavs terminou com as duas maiores contagens do ano, depois de já ter marcado 55 pontos contra o Portland Trail Blazers, numa partida em que seu companheiro mais famoso estava apenas na plateia.

Aqui, vale gastar mais algumas linhas e segundos para lembrarmos outras atuações magníficas do ano. Entre elas, constam os 50 pontos de James Harden contra o Denver Nuggets no dia 19 de março, dos quais quase a metade vieram em lances livres. O ala-armador do Rockets converteu 22 de 25 lances livres numa partida que é emblemática – não teve fanfarra nenhuma para o Sr. Barba, uma vez que lances livres são, hã, entediantes. Mas muito eficientes, de qualquer maneira. Harden ainda faria 51 pontos em vitória sobre o Kings, com oito bolas de longa distância. Aliás: o Sacramento é uma constante aqui. Também não podemos nos esquecer dos improváveis 52 pontos de Maurice Williams contra o Indiana Pacers.

A tempestade Russell Westbrook
Sem Kevin Durant, o enfezado alienígena de OKC se viu sem amarras nesta temporada, e os críticos tiveram de aturar toda a sua exuberância atlética. Resultado: uma sequência de triple-doubles assustadora. Ao todo, Wess conseguiu 11 jogos dessa natureza, mais que o dobro do segundo colocado na lista, Harden, e mais que o triplo de Michael Carter-Williams, Evan Turner e Rajon Rondo. De 24 de fevereiro a 4 de março, foram quatro em sequência, sendo o primeiro a conseguir essa façanha desde Michael Jordan em 1989. Teve linhas como 49 pontos, 15 rebotes e 10 assistências contra o Sixers e 40 pontos, 13 rebotes e 11 assistências contra o Blazers. Em março, suas médias foram de 30,9 pontos, 10,2 assistências e 8,5 rebotes. Em abril, 32,5 pontos, 8,1 assistências e 8,0 rebotes. Ironicamente, de certo para os mesmos críticos, quando somou 54 pontos (com quase incontáveis 43 arremessos), 9 rebotes e 8 assistências contra o Pacers, o Thunder saiu derrotado, e foi esse o revés que acabou tirando o time dos playoffs.

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Atlanta Hawks, o MVP do mês
Depois de tantas performances individuais destacadas, que tal abrir um espacinho, então, para um esforço coletivo admirável? A NBA teve essa grande ao eleger todo o quinteto titular do Atlanta Hawks para o prêmio de MVP do Leste no mês de janeiro. Most Valuable Players, afinal. Sim, como você vai escolher um atleta num time em que as peças se encaixam perfeitamente? Korver atrai marcadores – e, se eles não comparecem, pune essa mesma defesa na linha de três. Jeff Teague quebra a primeira linha defensiva e passa justamente para Korver. Paul Millsap e Al Horford pontuam por todo o perímetro interno, são confiáveis nos rebotes e solidários. DeMarre Carroll tem de marcar os LeBrons da vida. Com esse conjunto, o Hawks terminou janeiro com 17 vitórias em 17 partidas e se tornou primeiro time da história a concluir um mês invicto.

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

Triplas prorrogações
A terceira semana de dezembro foi a prova máxima da brutalidade do Oeste da NBA, como Gregg Popovich pode confirmar. O Spurs teve dois jogos seguidos com três prorrogações, contra Grizzlies e Blazers. Foram mais de duas horas de basquete, e os atuais são campeões saíram derrotados em ambas. O Grizzlies, na véspera da batalha com o Spurs, havia batido o Golden State Warriors, encerrando uma sequência de 16 triunfos do líder da conferência. Um verdadeiro bangue-bangue.

Cirurgia candelada
LaMarcus Aldridge era para ter aumentado a lista de baixas da temporada. No dia 22 janeiro, o Portland Trail Blazers anunciou que o pivô precisava passar por uma cirurgia na mão esquerda, devido uma ruptura de tendão. A operação o tiraria de quadra por seis a oito semanas. Numa conferência tão competitiva, isso poderia significar uma derrocada para a equipe – sem menosprezar o talento de Damian Lillard, claro. Pois, 48 horas depois, Aldridge surpreenderia a torcida e a liga ao anunciar que ignoraria as recomendações médicas e seguiria em quadra. No mesmo dia, marcou 26 pontos e pegou 9 rebotes em vitória sobre o Washington Wizards. Nos dois jogos seguintes, somou 75 pontos e 22 rebotes. Demais. Wes Matthews, porém, não teve a mesma sorte. Não dá para ignorar uma cirurgia por conta de uma ruptura no tendão de Aquiles. Depois da cirurgia, porém, o aguerrido ala também mostrou como a química em Portland é algo especial: já com alta hospitalar, viu o time vencer o Houston Rockets fardado em casa:

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Vida em trânsito
O último dia para a realização de trocas na temporada foi uma verdadeira loucura, com um recorde de 39 jogadores e 17 times envolvidos, num total de 12 negociações.  Foi, na verdade, uma temporada com muitas mudanças.  Muita gente se antecipou e foi às compras mais cedo. Como o Dallas Mavericks, que acertou uma troca inesperada por Rajon Rondo em dezembro. O Boston Celtics, aliás, agitou geral, despachando sete atletas durante toda a campanha – o que só enaltece o papel do técnico Brad Stevens ao levar essa metamorfose ambulante aos playoffs. A negociação precoce de Rondo gerou um momento bacana também. Apenas duas semanas depois do negócio, Rondo retornou a Boston e recebeu bela homenagem no telão do Garden. Daqueles atletas de coração aparentemente pétreo, Rondo quase chorou. Quaaase:

A serventia da casa
Já Stan Van Gundy não teve paciência para esperar a data final de trocas, numa possível tentativa de encontrar um novo lar para Josh Smith. De forma abrupta, o técnico (e presidente) do Detroit Pistons decidiu demitir o talentoso, mas inconstante ala-pivô. Smith simplesmente não conseguiu se encaixar na rotação com Andre Drummond e Greg Monroe. Chegava a enervar o novo comandante e os torcedores com sua predisposição ao chute de três, sem pontaria alguma, e as diversas partidas com a cabeça nas nuvens. Em vez de procurar interessados, SVG usou sua autonomia total no clube e simplesmente comunicou a Smith que ele estava fora. Na rua, mesmo, causando espanto geral. O ala vai receber o seu salário na íntegra, mesmo prestando serviços para outro clube. De qualquer forma, com o movimento, o Pistons abriu espaço em sua folha salarial na próxima temporada, por ter, digamos, parcelado os vencimentos de Smith. A ver se a moda pega… (O Houston Rockets gostou e o contratou rapidamente. No Texas, tem rendido um pouco mais, sem dar trabalho nenhum dentro e fora de quadra.)

A saideira
Um campeonato desses só poderia terminar com uma noite eletrizante, com muita coisa em aberto. E Anthony Davis enfim conseguiu centralizar as manchetes ao liderar o New Orleans Pelicans a uma grande vitória sobre o San Antonio Spurs para assegurar sua estreia nos playoffs, tirando Westbrook do páreo. Com 31 pontos, 13 rebotes, 3 tocos, 2 assistências e 2 roubos de bola, ainda complicou a vida dos atuais campeões. A comemoração em N’awlins foi como a de um título. Mais que merecida: não só a temporada do jovem ala-pivô pedia mais atenção, como sua diretoria acabou premiada, depois de ver tantas transações questionadas surtirem efeito. Além disso, a classificação do Pelicans deixou a Divisão Sudoeste 100% nos mata-matas. Todos os seus cinco integrantes chegaram lá, sendo apenas a terceira vez na história que isso acontece e a primeira em nove anos. Com uma diferença: foi a primeira vez que todo o quinteto teve aproveitamento superior a 50% na temporada.

Faltou algo? Alguma memória particular?


Lucas Bebê dá as caras na D-League. Como foi a experiência?
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Giancarlo Giampietro

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Depois de passar nove dias com o Fort Wayne Mad Ants, nos confins da D-League, Lucas Bebê foi chamado de volta pelo Toronto Raptors nesta quinta-feira. O problema é que o brasileiro retorna ao Canadá com um problema muscular na perna direita, sofrido em duelo com o Bakersfield Jam em seu último compromisso durante a semana. Segundo sua assessoria, o pivô deve passar por um exame detalhado ainda nesta sexta, para saber qual a gravidade da contusão (ou lesão, dependendo do que a ressonância mostrar).

Certamente não era a notícia que o gerente geral Masai Ujiri queria ouvir, esperando apenas que não seja nada muito grave. De qualquer forma, a primeira passabem do brasileiro pela liga de desenvolvimento da NBA foi muito mais produtiva do que as duas de seu compatriota, Bruno Caboclo, que, depois de uma estreia produtiva, mal viu a cor da bola por lá, dando trabalho fora de quadra.

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Oficialmente, foram quatro jogos para Bebê, com médias de 8,3 pontos, 10,0 rebotes, 2,0 tocos, em 20,1 minutos, com 42,9% no aproveitamento dos arremessos de quadra e 50% nos lances livres. O mais correto, no entanto, é falar em apenas três partidas, uma vez que foi na quarta que ele sentiu uma fisgada na coxa, com apenas dois minutos de ação. Se formos excluir essa, aí as médias sobem para 11,0 pontos, 13,0 rebotes, 2,6 tocos, em 25,6 minutos. Um belo rendimento, ainda que tenha sido pouco eficiente no sistema ofensivo.

Antes de soltar fogos pela vizinhança, porém, é bom lembrar que os números da D-League tendem a ser extremamente inflados, devido ao ritmo acelerado das partidas. A coisa pode descambar para uma pelada facilmente, com uma chuva de arremessos. Se chovem bolas para a cesta, rebote não vai faltar, vai? É preciso dar um desconto a qualquer análise superficial estatística aqui, pois foi exatamente este tipo de basquete que predominou durante as três aparições de Lucas por lá, mesmo que ele não tenha enfrentado os malucos do Reno Bighorns. Para quem não sabe, a liga disponibiliza o VT de todos os seus jogos no YouTube, na íntegra, além de transmiti-los ao vivo.

Em Toronto, pouquíssimos minutos

Em Toronto, pouquíssimos minutos

É isto: depois de um looooooooooongo inverno, podemos avaliar como anda o pivô, que só havia feito seis partidas pelos Raptors na temporada, entrando invariavelmente com os duelos decididos, em clima de garbage time – um cenário que, francamente, anula qualquer possibilidade de avaliação mais séria sobre um jogador. Antes de avançar com o pivô, é importante ressaltar alguns pontos, para que fique bem claro o que representa sua experiência com as Formigas Malucas:

1) O Toronto não está penalizando um jogador ao enviá-lo para a D-League. Faz parte do plano de desenvolvimento.

2) A queda de rendimento do time canadense neste ano só dificulta as coisas. Acabaram as sacoladas, diminuíram as chances de aproveitamento. Em um momento difícil, o técnico Dwane Casey não vai, mesmo, chamar os calouros brasileiros. No entendimento da comissão técnica, não estão nada preparados para enfrentar uma situação dessas. Então a D-League acaba sendo a melhor via para eles mostrarem serviço. Uma pena que Bruno a tenha desperdiçado, por ora.

3) Na D-League, basicamente todo atleta cedido pela NBA encontra um ambiente meio que, ou totalmente hostil. A posição deles é invejada, é o sonho de todos os jogadores que estão ali, abrindo mão de melhores propostas da Europa para ganhar muito pouco – os salários variam de US$ 13 mil a US$ 25,5 mil… por temporada. Confiam que, estando literalmente mais próximos da grande liga, terão mais facilidade de convencer scouts e dirigentes a contratá-los.

4) No caso do Fort Wayne Mad Ants, a complicação ainda é maior: estamos falando do único clube da liga que não tem afiliação exclusiva, abrindo suas portas para 13 equipes da NBA. Isso bagunça o coreto. E outra: o clube não deve satisfações a nenhuma outra entidade. Toca seu projeto, e obrigado. No caso, entram em quadra para vencer e vencer – como se jogassem uma W(in)-League, ao contrário da maioria de seus concorrentes. Então, ok: se vocês querem mandar a molecada, não há problema. Mas ele serão usados nos nossos termos. É o que discurso que vem de lá.

Precisa decorar os quatro tópicos acima antes de se empolgar ou chiar diante do que a duplinha faz nas viagens entre Fort Wayne, no estado de Indiana, e Toronto.  Não obstante, também termos de levar em conta outros dois fatores para diferenciar Bebê e Caboclo, para que não se compare a produção de quadra dos dois brasileiros. (Quer dizer, nem tem muito o que comparar, já que o ala de 19 anos nem bem jogou. Mas isso vale para uma eventual terceira chamada.)

Lucas pode ser um novato na NBA, mas já é profissional há um bom tempo, e encarando competição de alto nível na liga espanhola – o campeonato nacional mais forte da Europa. Também é três anos mais velho. Além disso, sendo um pivô de 2,13 m de altura, o carioca não é dos tipos mais fáceis que se encontra por aí, né? Alto, ágil, comprido. Um biótipo que se encaixa em qualquer elenco, ainda mais num time como o Mad Ants que tem carência no jogo interno. No perímetro, Caboclo enfrenta concorrência mais volumosa e, também, apetitosa.

Aliás, nada melhor do que falar sobre apetite. O ponto mais positivo que percebi nas atuações de Bebê foi sua disposição em quadra. Não teve bico, nem nada. Quando acionado pelo técnico Connor Henry, o pivô mostrou muita energia em quadra. Não chega a ser uma novidade para quem o acompanha desde os tempos de Liga ACB, mas é bom conferir que ele segue correndo a quadra tanto na transição defensiva como na ofensiva, pedindo sempre a bola, ou brigando por ela:

Quando estava no banco, manteve uma atitude positiva cumprimentando um por um de seus novos companheiros na apresentação, em lances livres errados, levantando-se para aplaudir cestas de três etc. Na sua estreia, contra o Delaware 87ers, filial do Philadelphia 76ers (waka-waka-waka), chegou até mesmo a invadir a quadra após uma falta dura do pivô Drew Gordon em cima do ala CJ Fair. Queria tirar satisfações, falando bastante. Foi retirado na manha pelo assistente Jaren Jackson, aquele ex-Spurs.

Os sprints são importantíssimos para um pivô em ação na D-League. Pois, para seguir nas metáforas alimentícias, a turma do perímetro tende a ser um pouco fominha. Ainda mais quando você tem o imortal Jordan Crawford – sim, ele, mesmo, de volta da China – como seu companheiro. Os grandalhões podem ter dificuldade para receber a bola – então é melhor acelerar mesmo no contra-ataque com a esperança de que alguma boa alma enxergue seu empenho e o recompense. No caso de um pirulão de 2,13 m, mais 50 centímetros de afro, descendo a ladeira? Difícil não notar. Diversos pontos do brasileiro saíram nesse tipo de jogada:


Só assim, mesmo. No jogo em que se machucou, contei sete posses de bola para o Mad Ants. Sabe em quantas ele recebeu ao menos um mísero passe? Somente em duas, sendo que, na segunda, foi apenas na reposição lateral, estando o armador da vez bem marcado. Curiosamente, na primeira vez em que foi devidamente envolvido no ataque, ele mostrou uma de suas habilidades mais subestimadas: o passe a partir do poste alto. Está certo que o defensor deu uma boa viajada, mas aí vai uma assistência para Trey McKinney-Jones, que esteve no Brasil com o Miami Heat, durante a pré-temporada:

Até porque, fora o saco sem fundo que é Crawford e alguns outros atletas ansiosos para o arremesso, como Xavier Thames e Fair, em situações de meia quadra há todo o desentrosamento de Lucas com os demais atletas. O cara mal tem tempo de treinar, chegando da metrópole canadense e já precisa jogar, com muita responsabilidade: impressionar seus chefes de verdade e, ao mesmo tempo, justificar o carimbo de NBA diante de gente cheia de desconfiança no vestiário. Por isso, por vezes, apenas vagava de um lado para o outro, indo e voltando. Em algumas ocasiões, nem bem havia chegado ao garrafão, e um tiro de três já havia sido tentado.

Nesse contexto, contei apenas uma bola – uma! – em que o pivô foi municiado no ataque de costas para a cesta. E não deu para saber o que ele faria nessa ocasião, já que sofreu a falta de imediato. Ou seja: não dá para saber se os treinos com os técnicos do Raptors resultaram em evolução no seu arsenal ofensivo. Sem jogadas desenhadas especificamente para ele, o carioca usou os rebotes ofensivos e algumas poucas combinações bem-sucedidas de pick-and-roll para encestar. A jogada pode parecer simples, mas requer química e um armador disposto e/ou capaz de enxergar a quadra – não foi o caso de Gary Talton, infelizmente; posso ter dado azar, mas peguei três jogos bem fracos do cara.

Ainda assim, sua capacidade no corte para a cesta sem a bola segue valiosa. Em duas passadas, Bebê consegue chegar ao aro. Isso chama a atenção da defesa. Se não vier o passe, pode acabar abrindo a quadra para um chute de três, chamando a ajuda lá dentro. Se a defesa se desequilibrar, ele ainda tem grandes chances de coletar o rebote ofensivo, devido a sua envergadura e agilidade e também a sua capacidade de saltar seguidas vezes.

Esses atributos são obviamente o carro-chefe do brasileiro. Habilidades naturais que precisam ser mais e mais refinadas em Toronto. Em compensação, o atleta ainda segue com dificuldade para absorver o contato físico no garrafão ou debaixo da tabela. Os duelos com o Iowa Energy mostraram isso, com Jarnell Stokes, do Memphis Grizzlies, e o já rodado Willie Reed levando a melhor no corpo a corpo com o brasileiro – em duas partidas, os dois somaram 80 pontos e 66 rebotes abusando de todos que encontravam pela frente. Do outro lado, a fragilidade também atrapalhou na hora de finalizar em meio ao tráfego, com contato (como vemos acima). Isso também ajuda a explicar aproveitamento bem baixo nos chutes de quadra, especialmente para alguém da sua estatura. Na NBA, as coisas ficam ainda mais difíceis.

Devido a essa desvantagem em termos de força, é meio que imperativo que Lucas se posicione bem no garrafão na hora de marcar individualmente ou de lutar pelos rebotes. Se não tem a base muito forte para aguentar o tranco de gente mais parruda, deve fazer a defesa pela frente, para cortar a linha de passe, aproveitando-se até mesmo de sua envergadura. O problema é que, justamente por ser longo toda a vida, o pivô acredita que pode bloquear todo e qualquer arremesso num raio de cinco ou mais metros. Por isso, tende a caçar os jogadores que estejam com a bola. Mesmo que chegue no tempo certo, se falhar em atingir a bola, vai deixar um rival livre logo atrás.

Agora, é aqui que lembramos que Bebê mal jogou neste ano. Então não dá para saber exatamente o quanto essas recorrentes questões seriam (ou estão sendo) corrigidas e desapareceriam com mais tempo de quadra, com mais rodagem. Pois é inevitável que ele entre em quadra sedento pela bola, propenso a cometer um ou outro deslize tático. Nesse sentido, atrapalha bastante o fato de o Raptors não ter o seu próprio time na D-League, podendo conduzir esse processo de modo muito mais cuidadoso e acelerado.

Da sua parte, de todo modo, o pivô precisa se manter concentrado, com objetivos a longo prazo, evitando as distrações que o mundo em torno da NBA pode oferecer. O mesmo vale para Caboclo. Chegando aos 23 anos, Lucas ainda é um jogador jovem, mas que já deixou de ser o caçula da turma há tempos e ainda tem muito o que trabalhar para virar um jogador de ponta. O potencial é indiscutível e está aí para ser realizado, para que os números vultuosos não precisem de asterisco nenhum no futuro.


Augusto derruba o Real, Splitter decola e mais: um giro com os brasileiros
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Giancarlo Giampietro

Os playoffs estão chegando, em todos os lugares — no Fantasy, aliás, o bicho já está pegando. Então vale gastar alguns minutos nesta segunda-feira para checar como andam os brasileiros espalhados por aí, levantando como têm sido seus últimos dias, de preparação para a hora que importa, mesmo:

– Começamos pela Espanha. Não só para quebrar a rotina, mas também pelo fato de a maior vitória ‘brasileira’ ter acontecido por lá. Augusto Lima, em sua temporada sensacional, liderou o modesto Murcia em um triunfo histórico sobre o Real Madrid, pela Liga ACB. Há 20 anos que seu clube não derrotava a potência merengue em casa. O pivô teve dificuldade para finalizar no garrafão (3/11 nos arremessos), mas não deixou a confiança esmorecer. Como de costume, batalhou pelas próprias sobras e terminou com um double-double de 13 pontos e 11 rebotes. Foram 5 na tábua ofensiva, buscando contato (6/7 nos lances livres).

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Ao menos neste ano vem sendo acompanhado por Magnano, que o elogiou recentemente, depois de ter sido ignorado na convocação passada. Até porque Augusto tem ao seu lado Raulzinho, que foi titular no domingo. Em 24 minutos, somou 7 pontos, 2 assistências e 2 rebotes. Durante a campanha, o jovem armador vem dividindo a condução da equipe com o veteraníssimo Carlos Cabezas, sendo observado pelo Utah Jazz.

Em termos de classificação, o resultado devolve a esperança ao Murcia de chegar aos playoffs. Mas não vai ser fácil. O time está na décima posição, com 11 vitórias e 13 derrotas, empatado com o Gran Canaria. O oitavo Zaragoza é o Zaragoza, com 14 e 11, respectivamente, também empatado com o Baskonia e o Valencia. Restam 9 rodadas na temporada.

De acordo qualquer forma, tem de comemorar, mesmo. Não só quebraram um tabu — chamado de “maldição” por lá –, como derrubaram o Real da liderança. O Málaga volta a se isolar na ponta. Mais: para se ter uma noção do quão difícil é derrotar o gigante espanhol, saibam que, de 2012 até esse domingo, os caras haviam ganhado 82 de 92 partidas pela temporada regular.  Aproveitamento de 89,1%. Só.

Augusto e Raul na rodinha animada

Augusto e Raul na rodinha animada

Ainda na Espanha, outro que está numa crescente é o armador Rafael Luz, titular na vitória do Obradoiro sobre o Fuenlabrada por 88 a 82, no sábado. O brasileiro marcou 9 pontos e deu 9 assistências em 29 minutos arredondados. Nos últimos quatro jogos, ele tem médias de 10,7 pontos, 5,2 assistências e 3,2 roubos de bola, números elevados para a a liga, ainda mais em 25 minutos.

– Ok, agora a NBA. A julgar pela desenvoltura com a qual se movimentou em quadra neste domingo, parece não haver incômodo algum na panturrilha de Tiago Splitter. O pivô fez uma grande partida contra o Atlanta Hawks, em surra dada pelo Spurs (114 a 95). O catarinense jogou por 27  minutos e terminou com 23 pontos e 8 rebotes, convertendo impressionantes10/14 chutes.

Não é segredo que o Spurs rende seu melhor basquete, há duas temporadas, com Splitter entre os titulares — ainda que um Boris Diaw com bom ritmo seja muito valioso contra times mais ágeis. Tim Duncan, mesmo, já disse ao VinteUm que prefere a formação de duas torres. Os números vão comprovando a tese novamente: desde que o ilustre cidadão de Blumenau recuperou o posto, o quinteto inicial do time texano vem esmagando a oposição.

Taí a dupla

Taí a dupla

Antes, porém, que vocês queiram descer o cacete no Coach Pop, favor considerar os seguintes fatores: 1) Splitter teve sua pré-temporada prejudicada pelas lesões; 2) Pop não ia desgastá-lo, ciente de sua importância; 3) Diaw ainda é um que está atrás da curva, e a equipe vai precisar dele mais para a frente; 4) Aron Baynes meio que jogou bem, mas não conte para ninguém; 5) mais importante de todos: demorou para o quinteto inteiro ficar em forma, na mesma época.

O Spurs, assim como Splitter torcia, está chegando. Se o jogo no Madison Square Garden foi uma desgraça, praguejado com veemência por Popovich, a verdade é que ultimamente os campeões têm dado muito mais sinais de grandeza. Mike Budenholzer viu de perto, num primeiro quarto arrasador: eles voltaram. O que é salutar. Quando o Spurs está em seu melhor nível, difícil encontrar jogo mais bonito e atordoante. A bola cruza a quadra com máxima velocidade, de mão em mão, para frente e para trás, até a defesa rival se despedaçar. E o legal foi ver Splitter totalmente envolvido nessa. Dos raros pivôs com quem a bola não morre. No defesa, as rotações são uma belezura. Green e Kawhi agridem no perímetro, os pivôs cobrem, e a intensidade é plena.

Está tudo enrolado na tabela, mas, mantendo esse ritmo, San Antonio vai ter mando de quadra na primeira rodada, independentemente de ficar com a quarta posição. Tivessem batido os Bockers, já registraram melhor aproveitamento hoje que Blazers e Clippers.

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

– O Toronto Raptors não está jogando tão bem assim, mas tem sua classificação para os mata-matas assegurada, vai. Ao time canadense, o que resta é tentar recuperar o basquete dos dois primeiros meses da temporada. Essa conjuntura não favorece os dois brasileiros do elenco – se o mando de quadra também estivesse garantido, as perspectivas de tempo de quadra aumentariam. De qualquer forma, neste domingo, depois de um looongo inverno e de problemas fora de quadra, pela primeira vez desde 4 de fevereiro, o técnico Dwane Casey colocou o ala em quadra. Foram apenas dois minutinhos contra o Knicks, uma baba.  Isso só foi possível pelo fato de Kyle Lowry estar afastado por lesão, abrindo uma vaga para Caboclo trocar o terno pelo uniforme.

Lucas Bebê não estava presente para ver. O carioca está cedido ao Fort Wayne Mad Ants, da D-League. Ao contrário do que aconteceu com o caçulinha brasileiro por lá, Lucas chegou para jogar – foram três partidas até agora, com médias de 11,0 pontos, 13,0 rebotes e 2,6 rebotes, em imporantes 25,7 minutos – para comparar, Bruno teve apenas 8,9 minutos em sete compromissos. Quer dizer: o pivô produziu bem. Mas não dá para se levar perdidamente pelos números da Liga de Desenvolvimento da NBA. Os jogos são acelerados, a bagunça costuma imperar. Tem de pegar os VTs no YouTube para avaliar com cuidado o que o pivô anda fazendo. O Mad Ants não é a franquia mais aberta da D-League aos jogadores de cima, mas segue como a melhor oportunidade para a dupla ser aproveitada.

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

– Leandrinho foi outro que ganhou espaço devido a uma lesão de um dos titulares. Klay Thompson está fora de ação pelo Warriors, e o ligeirinho tem sido mais acionado por Steve Kerr, dividindo os minutos do jovem astro com Andre Iguodala e Justin Holiday. O ala-armador recebeu 80 minutos em três jogos (26,6) e marcou 44 pontos (14,6). É um momento importante para mostrar serviço: uma hora Kerr vai ter de definir sua rotação para os playoffs, e ainda não está clara a ordem de chamada no banco. Andre Iguodala, Shaun Livingston e Marreese Speights vão para a quadra. É de se imaginar que David Lee também. Restaria uma vaga, pela qual duelam as habilidades ofensivas do brasileiro e as defensivas de Holiday, irmão do Jrue.

– Depois de um mês de fevereiro tenebroso, o Washington Wizards tenta se recuperar, mas vem de duas derrotas (Clippers e Kings, no domingo). Nenê volta a viver sua rotina de entra-e-sai do plantel de relacionados de Randy Wittman, devido aos constantes problemas físicos. O técnico precisa do pivô na briga por mando de quadra, mas a produção do paulista sofreu uma boa queda neste mês, tendo acertado apenas 42,9% de seus arremessos de quadra (na temporada, a média é de 51,5%; na carreira, 54,5%). É uma situação para se monitorar, ainda mais se a seleção brasileira tiver de jogar por uma vaga olímpica neste ano.


Davi Rossetto: longe da vitrine, o amadurecimento e 100% na LDB
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Giancarlo Giampietro

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Quando se viu obrigado a deixar uma vitrine como o Pinheiros para embarcar em um projeto novo como o do Basquete Cearense, muitos poderiam ter olhado para o armador Davi Rossetto e apontado uma baita retrocesso. Ainda mais para um jogador com passagem pelas seleções brasileiras de base e tal.

Pois a mudança não poderia ter encaminhado o jovem paulistano em melhor direção. Longe da casa dos pais pela primeira vez, ele admite que, em Fortaleza, teve um ganho de maturidade que influenciou diretamente na estabilização de sua carreira. “Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra”, diz ao VinteUm.

Agora, de pouco adiantaria esse crescimento fora de quadra se, aos 22 anos, ainda não lhe fosse dada a oportunidade de bater bola com regularidade em jogos oficiais. O que, claramente, é fato raro no NBB 7. Atletas de 23 anos ou menos, ainda em formação, dificilmente veem a luz dos ginásios.

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O clube cearense, nesta edição, se tornou uma das exceções. Só não dá para saber o quanto isso tem a ver com a perda de seu principal patrocinador na virada de temporada, pedindo mão-de-obra mais barata, ou o se o uso mais frequente das revelações já fazia realmente parte do plano de ação.

“Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa”, afirma o armador.

Mais minutos para passar a bola

Mais minutos para passar a bola

Se for para falar do rendimento atual, não há como negar que, com garotos e menos medalhões, o time caiu de modo significativo na tabela. Hoje, ainda tenta entrar na zona de classificação para os playoffs, disputando a 12ª posição com o Macaé, com sete vitórias em 25 jogos (aproveitamento de 28%). Na sexta edição, terminara a temporada regular em nono, com 46,9%. De qualquer forma, as dores enfrentadas nesta temporada podem render frutos mais adiante. Na Liga de Desenvolvimento deste ano, esse núcleo jovem vem arrebentando. Foram 23 vitórias em 23 jogos, para um inédito aproveitamento de 100%. Espanto geral? Não para Davi e seus companheiros: “Vou ser bem sincero: não surpreende”, diz.

Um ponto precisa ser ponderado, é verdade: a média de idade do Basquete Cearense da LDB é bem mais elevada, por exemplo, que a do vice-líder Pinheiros, que venceu 20 partidas. Dos dez jogadores mais utilizados, apenas dois estão abaixo dos 20 anos: o armador Alberto e o pivô Leal. O Pinheiros tem apenas três atletas acima dos 20 em sua rotação regular, estando o trio entre os quatro que menos minutos recebem nesse grupo.

Essa diferença de idade faz diferença, não há como negar. Ainda mais quando se vê a equipe de Fortaleza ao vivo, praticando estilo físico de basquete, marcando com muita pegada para sustentar a melhor defesa do campeonato. Os rapazes sofrem em média apenas 56,0 pontos por rodada.

Victor de Gusmão, Erick Camilo e Davi: base 'experiente' na LDB

Victor Gusmão, Erick Camilo e Davi: base ‘experiente’ na LDB

Agora, isso não é o suficiente para explicar as 23 vitórias consecutivas, né? O técnico Espiga também conta com um entrosamento de sua base, com uma química excelente, sabendo administrar bem os minutos de todos. E tem em Davi um grande assistente na hora de botar o plano em prática.

O armador já vinha fazendo uma boa temporada divisão principal do basquete nacional, em prova clara de sua evolução. De jogador que recebia apenas 8 minutos em média há duas temporadas do NBB, fica em quadra por aproximadamente 32 minutos nesta edição. Melhor: ele vem correspondendo, com 13,1 pontos, 4,7 assistências e 1,2 roubo de bola, todas as melhores marcas de sua carreira.

Na LDB, soma 12,5 pontos, 4,3 assistências, 5,6 rebotes e 1,3 roubo – curiosamente, em menos minutos (27,1). Mas sua influência vai muito além dos números. O que mais chama a atenção em seu jogo: a agressividade na defesa – tem muita velocidade no deslocamento lateral, com excelente preparo físico, colando nos adversários. Ele é a cara do time.

Além disso, consegue controlar o ritmo da equipe no ataque de modo simples e eficiente, característica indispensável para qualquer armador, servindo ao já experiente pivô Erick Camilo, ex-São José e Paulistano, do explosivo ala-armador Victor Gusmão, entre outros. Com esse conjunto e um rendimento impecável até o momento, o Basquete Cearense entra como favorito na segunda fase da LDB, que começa nesta segunda-feira, no Pinheiros, com os oito melhores clubes da competição divididos em dois quadrangulares. Confira a tabela.

Curtindo essa campanha especial, mas sabendo que, sendo jovem, não tem nada garantido pela frente, ainda mais num basquete brasileiro que já maltratou muitas de suas promessas, Davi falou ao blog, esbanjando maturidade:

21: Surpreende chegar ao final da primeira fase de maneira invicta?
Davi Rossetto:
Vou ser bem sincero: não surpreende. No ano passado, a gente teve uma campanha muito boa para um time que tinha acabado de se formar. Treinamos três meses e perdemos quatro ou cinco jogos na fase de classificação. Com a reestruturação do projeto, sabíamos que a ‘minutagem’ no adulto mudaria, saindo um pouco de coadjuvante para protagonista ia ajudar e render frutos aqui. Óbvio que, até por a temporada ser longa, sendo um campeonato com semanas de jogos consecutivos, talvez não esperasse que fosse invicto, mas acreditávamos que poderíamos fazer uma boa campanha e terminar esta fase na primeira posição. Era para isso que a gente vinha trabalhando, então não chega a ser muito surpreendente.

Basquete 100% Cearense

Basquete 100% Cearense

Sobre os minutos no adulto, queria abordar justamente isso com você, que tem o privilégio de desfrutar de um bom tempo de quadra no NBB, algo muito raro no Brasil.
É verdade. O Bial tem como característica gostar de revelar jogadores, dar oportunidade. Nosso time sub-22 é muito aguerrido e enfrenta desafios. Aí acho que a gente acabou conquistando-o. Nesse momento de reestruturação do projeto, com o patrocinador master saindo, a gente soube aproveitar bem o momento. Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa.

Quando você foi para o clube cearense, já tinha em seu horizonte esses minutos a mais? Era algo que vislumbrava?
Claro, a minha ideia quando saí do Pinheiros era ter mais tempo. Era nisso que pensava. Mas, por incompetência minha, não produzi na minha primeira temporada e tive média de apenas cinco minutos. Aos poucos, fui entendendo melhor a minha função, trabalhando mais forte, com mais seriedade. Na segunda, tive 20 minutos e agora já estou próximo de 34. Sei que não é uma coisa habitual, ficar 34 minutos em média, mas é uma coisa que vou levar para a minha carreira inteira. Eu tinha aprimorado várias partes do meu jogo, mas talvez não soubesse bem a hora de usar isso. E essa minutagem maior, atuar com jogadores experientes te traz isso. Tem sido muito importante para minha evolução e maturidade.

Davi Rossetto, Basquete CearenseComo é seu dia-a-dia de treinos?
A gente não tem separação do sub-22 com o adulto. O treino é o mesmo, tudo junto. Normalmente temos um período de treino físico, de academia, e depois um treinamento na quadra. De tarde, vamos para mais um trabalho técnico e tático. Basicamente isso: o trabalho na academia e dois treinamentos em quadra.

Existem exercícios específicos de fundamento para vocês?
Bastante. Separamos os alas e armadores dos pivôs, com a comissão técnica passando para nós esses exercícios para nos aprimorarmos, que vão transferir muito para nós. Tem vezes que é uma sessão extra, com aqueles que tenham jogado menos, ou para aquele jogador que tenha uma deficiência mais específica. Mas, em geral, é o treino que fazemos pela manhã, depois do treinamento físico. De tarde, com o grupo inteiro, nos concentramos mais em questões estratégicas.

Sabemos que no Brasil a transição da base para o profissional pode ser um momento delicado, com vários jogadores tomando rumos diferentes. Como foi esse período para você? Chegou a pensar em parar, ou estava sempre seguro de que era o basquete que queria?
Quando fiz 18 anos, prestei vestibular e comecei a cursar minha faculdade, na EFES, Escola de Educação Física e Esporte da USP. Entrei em 2010, que foi um ano que peguei bastante seleção. Viajei muito, tem concentração, e não consegui ter continuidade nos estudos, até porque a faculdade era integral. Ali tive a dimensão de que não, que era o basquete que queria, que iria até o final. Se não estivesse com a cabeça tão voltada para o basquete, desistiria, sim. Não faria uma coisa meia boca. Não tentaria levar um ou outro nas coxas, como o pessoal fala. Para onde fosse voltar minha atenção, seria 100%. Escolhi o basquete e até hoje não me arrependi mais. Sou jovem, claro, e não descarto que possa me arrepender (risos).

Bom, vai caminhando bem, mesmo. Está satisfeito com a decisão. Embora satisfeito provavelmente não seja a melhor palavra…
Estou feliz. Satisfeito acho que a gente nunca pode sentir. Tem aquela frase de que o animal satisfeito acaba dormindo. O dia em que estiver satisfeito, vou dormir, e alguém vai me passar. Estou feliz e acredito que estou no caminho certo.

Davi Rossetto, CBB, base, Mundial, Sub-19Da sua geração da seleção, qual o panorama agora?
Bom, o Lucas Bebê está na NBA, o Raulzinho foi draftado. Tem o Vezaro, agora em Bauru, que acabou torcendo o joelho. O Felício no Flamengo. Eu e o Taddei aqui. O Gabriel Aguirre está nos Estados Unidos. Leo Meindl em Franca, Bruno no Minas… A geração continua e acho muito promissora ainda. Ficamos em nono no Mundial e pretendíamos mais. Acreditávamos em mais.

Tivemos o exemplo da geração do Mundial Sub-19 de 2007, que tinha o Paulão como um dos destaques, que teve um desfecho bem diferente, com muita gente parando cedo. Daquela para a sua, se passaram cinco, seis anos. Para você, a sobrevivência da sua turma se deve a uma qualidade individual das peças ou a mudanças promovidas no ambiente dos clubes brasileiros?
Acredito que o basquete brasileiro, com a criação da liga de desenvolvimento, dá mais oportunidades para que o jogador tenha uma sequência, tenha mais tempo para fazer a transição. Da nossa geração, por mais que estejam todos jogando, confesso que vejo muitos ainda nessa fase de transição. O Bebê, mesmo, está na NBA, mas ainda está nessa condição. Aquela geração de 2007… Não vou dizer que eram menos talentosos, não. Era uma boa geração, mas que, quando chegou aos 19 anos, ou era profissional, ou tinha de ir para um time mais fraco, uma liga mais fraco, e corriam o risco de desmotivar cedo e parar. Agora temos mais quadra, mais visibilidade e podemos adquirir mais maturidade, e não só no basquete. O que é importante, porque a cabeça de um cara de 19 anos não é nada parecida com a daquele que tem 22. Com 22, você passa mais segurança para quem pode contratá-lo. E a LNB foi fantástica na criação dessa liga. O NBB mais forte também colabora muito para isso, claro. Para que não fiquemos na dependência de uma só geração de jogadores para a seleção e permite que essa troca de faixas seja mais constante.

Se formos comparar você, hoje, ainda muito jovem, mas com maiores responsabilidades no NBB com o garoto que saiu da base do Pinheiros, o crescimento maior é nessa maturidade ou no aspecto técnico? Ou não dá para separar uma coisa da outra?
Na verdade não dá para separar. Um tem influência direta sobre o outro. Mas vou dizer que o que mais me ajudou para mim foi o amadurecimento, mesmo. Mais do que treinar, treinar, treinar, ou jogar, jogar, jogar. Foi refletir, pensar com uma outra cabeça. Sair da casa dos meus pais pela primeira vez, para me deparar com outras situações. Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra. Por isso não dá para separar. Mas, se tiver de destacar, falo do amadurecimento fora de quadra.

Para fechar: o Pinheiros, sabemos, virou uma vitrine não só para o basquete nacional como internacional. Teve o caso do Bruno Caboclo no ano passado, e agora os olheiros de fora estão vindo ver o Georginho, o Lucas. No seu caso, você acabou tendo de sair desse clube. Para muitos, poderia soar como um grande retrocesso. Esse tipo de coisa passava pela sua cabeça? Pois, agora, parece não ter nenhum remorso por essa decisão.
Olha, não sei nem se vai ficar bem eu falar isso, mas o Bruno Caboclo é um menino que hoje está na NBA, mas nem jogava no Pinheiros. Para mim, sempre tive claro que não iria para a NBA. Sabia que, se não tivesse a minutagem, não teria como. Para esses meninos, vejo um potencial fantástico e um trabalho de desenvolvimento muito bem feito. Mas eles não jogam. Tem dias que o Lucas não entra. O Georginho também, estando para ir para a NBA. Na minha reflexão, para ter uma carreira internacional, a ideia era ganhar minutos. No Basquete Cearense, via e vejo tudo o que precisava. O estafe estava comprometido em me fazer melhorar. Teve o desafio de mudar de cidade, algo que me exigia coragem, mas que deveria fazer. Quando converso com o pessoal lá, nunca ouvi que tenha feito uma burrada. Só me parabenizam. Passados três anos, foi o melhor para mim. Cada caso é um caso, mas, no meu, eu tinha de jogar. E veio o Basquete Cearense. Hoje eu me confundo… Olha, parece até o Bial falando (risos). Mas hoje me confundo com o Basquete Cearense. Vejo esses meninos do meu time, penso em defendê-los. Parei de pensar só no Davi e comecei a gostar de defender uma causa, o nosso projeto.


O intrincado caminho para o desenvolvimento de Caboclo e Bebê
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Giancarlo Giampietro

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O Toronto Raptors já surrava o Milwaukee Bucks, em casa, quando Lou Williams recebeu a bola no meio da quadra e viu Bruno Caboclo bem posicionado para o passe, já cruzando a linha de três pontos. O passe foi na medida, e o ala partiu direto para a enterrada. A essa altura, princípio de quarto período, o Air Canada Centre já estava agitado. Depois do lance, entrou em polvorosa, para celebrar o calouro que adotaram prontamente como um xodó. Foi uma estreia perfeita, talvez o momento mais especial da temporada, do ponto de vista brasileiro. Era 21 de novembro, ainda muito cedo no campeonato, mas tudo se encaixava como um conto de fadas para um garoto que nem bem havia jogado como profissional no Brasil e já estava lá na NBA querendo mandar seu recado.

Acontece que aquele seria um episódio isolado, quase um espasmo. O ala mal jogaria depois. De acordo com os planos do time, não há nada de errado com isso. Desde o momento em que anunciou a seleção de Caboclo na 20ª posição do Draft, o Toronto Raptors, representado pela figura de seu gerente geral Masai Ujiri, pregou paciência. O jogador seria lançado aos poucos. Beeem aos poucos. Para o pivô Lucas Bebê, mesmo três anos mais velho, o panorama era o mesmo. Tudo muito calculado.

O difícil, porém, é fazer que as revelações brasileiras, que tanto querem jogar, entenderem e abraçar a causa, o projeto: já se circula pelos bastidores da NBA que o clube canadense tem vivido algumas das semanas mais complicados no processo de desenvolvimento dos dois. Múltiplas fontes da liga americana – de outros clubes, frise-se –, passaram ao VinteUm relatos de uma turbulência em Toronto envolvendo Bruno e Lucas.

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Os dirigentes do Raptors, com o gravador ligado, se concentram em fatos positivos – algo mais que natural, considerando que, em termos práticos, qualquer cartola, quando fala de seus jogadores, está se referindo a patrimônio do clube, seja para o uso na quadra ou como bem de valor.

Conversei em Nova York com quatro fontes diferentes ligadas ao time: Ujiri, o chefão; o treinador Jama Mahlalela, quem mais passa tempo em quadra com o brasileiro; o chefe do departamento de scouting internacional Patrick Engelbrecht, o homem que ‘descobriu’ Caboclo; e Kyle Lowry. Eles discorreram sobre o trabalho com os jovens brasileiros. São aqueles que mais os veem em ação no dia a dia de treinos, uma vez que jogos, para valer, são escassos. As declarações, no entanto, ganharam um contexto muito diferente dias depois do All-Star Weekend, a partir da notícia sobre a visita-surpresa dos jogadores aos camarotes do Carnaval do Rio de Janeiro, na Marquês de Sapucaí.

Bruno Caboclo, Lucas Bebê, carnaval, Toronto, Rio

Caboclo e Bebê mal têm jogado pelo time canadense. Depois do furor da estreia, o ala só seria utilizado em mais três jogos, com um total de 16 minutos. Seria na D-League em que ele ganharia mais tempo para botar em prática aquilo que tem treinado diariamente com a comissão técnica. Bebê não foi enviado para a liga de desenvolvimento da NBA, mas também foi pouco acionado pelo técnico Dwane Casey (menos de 24 minutos em seis partidas). De novo: nada ao acaso.

Por tudo o que o blog ouviu, tanto empenho nos treinos e as poucas oportunidades para jogar levaram os atletas a um nível de frustração alarmante, sucedida por atitudes questionáveis fora de quadra. “Muita exposição, muito cedo”, “não há como negar que coisas ruins aconteceram”, “há problemas em Toronto com os dois”… Esses foram alguns dos comentários endereçados. O que se sabe, nos corredores da liga, é de atos indisciplinares, que não precisam ser publicados. São uma mistura de imaturidade e um certo deslumbre com todas as armadilhas que podem cercar a vida de qualquer jogador da liga norte-americana, quanto mais de dois jovens estrangeiros.

A ida ao Rio de Janeiro para o Carnaval não pegou bem. Pessoalmente, ao ver as fotos da Sapucaí, de início não achei crime algum naquilo. Não foram os primeiros, nem serão os últimos atletas da NBA a sair pela noite, e, além do mais, eles estavam em meio a uma semana de folga. Aliás, não custa lembrar que a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) usou o desfile das escolas de samba para promover o Rio Open, levando Rafael Nadal, David Ferrer e Guga Kuerten para a avenida. Antes da estreia dos espanhóis no torneio – Ferrer seria o campeão.

Por outro lado, os brasileiros viajaram um tanto tarde, já perto da data de retorno aos treinos. Além disso, dá para entender perfeitamente a linha crítica a esse passeio, uma vez que, se eles mal jogam pelo time, precisariam aproveitar qualquer dia disponível de treino para tentar melhorar e buscar espaço no time. Não sei se existe certo ou errado aqui. E, de qualquer forma, já há dois problemas nessa divagação: 1) a opinião de um blogueiro não vale de nada comparada com a de quem trabalha com os jogadores diariamente; 2) a escapada veio nesse contexto já tenso.

A primeira passagem de Bruno pela D-League, por exemplo, terminou bem antes do esperado, depois de apenas três jogos, e não foi devido aos seus altos e baixos em quadra – o que era esperado. “É o que acontece com o jogador jovem. Vai ter esses altos e baixos, jogos de um ou três pontos, vai fazer 20 pontos em outro dia. Ele tem de passar por essa curva de aprendizado. Não acho que possamos esperar muito de seus jogos”, diz o gerente geral Ujiri. O problema não foi a quadra. O brasileiro deu trabalho ao Fort Wayne Mad Ants fora dela e teve de ser resgatado às pressas pelo Toronto.

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Agora, o ala está de volta ao clube de Indiana, com temperaturas gélidas, literalmente ou não. Tem novamente jogado muito pouco: foram 14 minutos totais nos dias 19 e 20 de fevereiro, com um aproveitamento melhor na segunda, contra o Westchester Knicks, na qual fezoito pontos em 10 minutos, com a equipe conquistando sua única vitória em todas as cinco partidas em que escalou o paulista de Osaco. No dia 22, ele nem mesmo entrou em quadra – por decisão do treinador Conner Henry. Independentemente do que acontece atrás das cortinas, este já está longe de ser um cenário ideal para o progresso do ala como jogador.

Em sua estreia pelo Fort Wayne, detalhada aqui, Caboclo fez um primeiro tempo excepcional, mas depois se atrapalhou bastante na volta do intervalo, cometendo muitas faltas e um turnover crucial em uma derrota para o Iowa Energy. No jogo seguinte, sem remorso algum, o técnico Henry deu apenas cinco minutos para o brasileiro, que não escondeu seu descontentamento. Esse tipo de situação jamais aconteceria num clube que fosse exclusivamente controlado pelo Raptors. Nesse sentido, o modelo conduzido por Miami Heat, Houston Rockets, San Antonio Spurs e Golden State Warriors, entre outros, é visto como o ideal.

“Bruno vai ter momentos em que vai parecer muito bom e outros em que vai parecer muito ruim. Vai ser assim. Ele precisa jogar, ganhar experiência. Podemos fazer os exercícios, os treinos a cada dia, mas precisamos que ele jogue mais. Vamos mandá-lo para a D-League para isso”, diz Jama Mahlalela, o assistente do Raptoras, que também ressalta a importância da próxima liga de verão para o brasileiro, a segunda de sua carreira. “Aí será com o nosso sistema, nossos treinadores e minutos prolongados para ele mostrar o que pode”, explica.

Toronto, todavia, não pode depender apenas de um punhado de jogos em julho para desenvolver seus jovens talentos. Por isso, está sondando seriamente o mercado da liga de desenvolvimento em busca de uma filial de seu uso exclusivo. Desta maneira, teriam mais autonomia para botar em prática o que têm de planejado não só para os brasileiros, como para qualquer prospecto no futuro. Esse é um ponto crucial que um scout já havia destacado ao blog, ao término da liga de verão de Las Vegas no ano passado.

Bruno Caboclo, Summer League, Toronto

Duas fontes independentes também disseram ao VinteUm que a franquia busca um time no estado de Nova York, bem próximo de sua base. A cidade de Rochester seria uma possibilidade, estando a apenas 140 km de distância. Por que não no Canadá? Para evitar dificuldades com visto de trabalho e outras burocracias que podem ser facilmente resolvidas num ambiente mais estável como o da NBA, mas seriam muito maiores numa competição bem mais volátil como a D-League. Só não é, de forma alguma, um processo simples de se executar. A criação de mais um time depende de uma série de avaliações, técnicas e comerciais, por parte de ambas as ligas, além da viabilização de toda uma estrutura paralela para o Raptors gerir.

A relação entre a franquia canadense e o Fort Wayne Mad Ants é amistosa, profissional, mas não pode ser aprofundada pelo fato de o clube da liga menor ter total autonomia em suas operações – é o único que não desfruta de um relacionamento direto com um time da NBA. Quando o técnico Conner Henry recebe um talento vindo de cima, de qualquer uma das 13 agremiações com as quais têm convênio, não tem a obrigação de usá-lo, independentemente das necessidades ou do currículo do jogador. Além do mais, o Mad Ants também joga hoje para vencer e vencer, sendo o atual campeão, inclusive. Sua prioridade difere muito em relação ao restante de seus concorrentes.

“É uma situação difícil, acaba sendo complicado manter qualquer tipo de continuidade. Mas existe um diálogo, sim, e podemos expressar o que pretendemos quando mandamos nossos calouros e a melhor maneira de acomodar isso”, diz Mahlalela. “Não é uma situação perfeita, mas você trabalha com as condições que tem e parte daí.”

Caboclo, Ujiri, Toronto

Mesmo com os momentos difíceis nos bastidores, segundo o que VinteUm apurou, o Raptors em nenhum momento envolveu ou ofereceu os brasileiros em negociações na semana passada, antes do encerramento da janela para trocas na NBA, na quinta-feira. Quatro clubes diferentes foram consultados a respeito. Nenhum ouviu sequer um pio de qualquer rumor em torno de Bruno ou Lucas. O consenso é que Ujiri investiu muito – tanto do ponto de vista financeiro, como esportivo – nos dois jogadores e ainda confia no desenvolvimento de seu imenso talento.

É bom lembrar que o contrato de calouros da NBA tem apenas dois anos garantidos – os terceiro e quarto anos são opcionais para as equipes. No caso de arrependimento, os times têm, então, menos compromissos assumidos, menos dinheiro comprometido, e podem facilmente seguir em outra direção. Vide o caso de Fabrício Melo e o Boston Celtics: após um só campeonato, o pivô mineiro foi trocado por Danny Ainge para o Memphis Grizzlies, que o dispensou de imediato, consumindo seu salário final de mais de US$ 1 milhão. Melo ainda tentou assinar com o Dallas Mavericks, mas não passou no corte do training camp. Hoje está afastado do basquete, após ter contrato rescindido com o Paulistano, por conta de graves problemas particulares.

Mas, em Toronto, estamos falando de um conjunto de dirigentes que se encantou há pouco tempo com Caboclo. Gente que sabia que não seria uma transição simples para um adolescente. “Sim, o que se pede é paciência, mesmo. Ele é um garoto muito jovem, tentando se desenvolver. Sabíamos que levaria um tempo para isso acontecer. Mas está tudo bem para nós também. Ele vai ter de passar por esse processo, vai levar alguns anos, mas vamos ser pacientes”, diz Masai Ujiri.

O jovem ala com o qual tiveram contato no período pré-Draft inspira a confiança de que, independentemente dos percalços, o Raptors ainda pode colher bons frutos adiante. “Temos de lembrar: estamos falando de um garoto. Sabemos que é uma peça para o futuro de nosso clube e não para amanhã. Para nós, o que conta é o progresso contínuo, dia após dia”, afirma Engelbrecht. “Ele é um desses caras que se sente em casa no ginásio. É seu ambiente natural, no qual ele fica realmente confortável, quando está treinando. Para nós, esse foi um dos pontos principais para apostar. Pensamos que, não importasse o nível de talento que tivesse, sua dedicação o levaria adiante. Isso nos deu a segurança para realmente considerá-lo naquela escolha.”

Bruno Caboclo, Toronto Raptors, treino, workout

Houve momentos, nas primeiras semanas de convívio em Toronto, em que o clube precisou até mesmo pedir para o ala maneirar em suas idas ao ginásio. Houve dias em que estava ultrapassando a casa de quatro horas de treino, usando estagiários para ajudá-los em séries de arremesso etc. Para a comissão técnica, o ideal é trabalhar por menos horas, mas com muita intensidade.

Em termos práticos, o Raptors vem trabalhando em duas frentes com Caboclo. “Estamos tentando deixá-lo mais forte agora. Estamos nos concentrando em deixar sua base mais forte, mesmo. É para isso que este ano vai servir. Além disso, vamos desenvolvendo também algumas habilidades individuais de NBA, um trabalho extenso em cima disso”, diz Ujiri. Bebê também passa pelo mesmo processo, embora com menos ênfase – já está num ponto diferente de aprimoramento.

O que se mais trabalhou até agora foi realmente o aspecto físico, com a supervisão do renomado Alex McKechnie, escocês que é o diretor de ciência esportiva do clube e que trabalhou pelo Lakers de 2003 a 2011. Durante as ‘férias’, Caboclo e Lucas passaram por um período intenso em um centro de treinamento de Vancouver que tem McKechnie como um dos proprietários. “Foi uma ótima oportunidade para o Alex realmente avaliar o corpo deles, encontrar os pontos fortes e fracos em seus corpos e, a partir daí, elaborar um plano para atacar essas fraquezas”, afirma Engelbrecht.

Agora em Toronto, os brasileiros se dedicam a exercícios diários, específicos antes ou depois dos treinos oficiais comandados por Dwane Casey. É aí que entram Mahlalela e outro assistente, Bill Bayno. Bebê, mais velho e bem mais experiente, vindo de três temporadas na Liga ACB espanhola, o principal campeonato nacional da Europa, estaria mais perto de ser aproveitado. “Esperamos que nessa segunda metade da temporada ele possa ter oportunidades. Não necessariamente ganhando um papel definido no time, mas uns cinco minutos aqui e ali. Em jogos que tenhamos uma vantagem confortável, talvez ele possa entrar no segundo quarto para se testar, para provar um pouco e dar mais motivos para que ele possa continuar treinando forte”, diz Engelbrecht. “Ele tem feito um ótimo trabalho. Esperamos que a comissão técnica se sinta confortável com o nosso time caminhando para o fim da temporada e possa dar a ele alguns minutos. Mas essa é uma decisão dos treinadores. Masai e os técnicos conversam sobre o que querem em termos de desenvolvimento.”

A palavra, então, passa a Mahlalela, um dos técnicos: “Acho que é mais provável, sim, que encontremos minutos primeiro para Lucas do que para o Bruno, mas acho que ele tem de fazer por merecer e, se for chamado, tem de estar pronto para jogar. Ele tem um feeling natural para o jogo, o que nos deixa mais à vontade em colocá-lo em quadra para ver o que pode fazer”. O técnico, porém, relembra: “Ele é mais velho, mais maduro, mas também ainda é um novato na NBA, está tentando encontrar seu caminho e ainda é um trabalho em andamento”.

Em termos de habilidades como atleta, não há dúvida de que há muito potencial para ser explorado pela dupla. Aquela estreia incrível de Caboclo contra o Bucks ainda está na memória, como prova clara e irrefutável disso. Só é necessária a consciência de que aquela euforia passou e o caminho para o sucesso vai passar por semanas e semanas de treino, mesmo, sem muito glamour, sem os holofotes. “Ele vai poder olhar para aquele momento no futuro e perceber o quão especial foi”, diz Mahlalela. “Mas ele tem de continuar trabalhando. Foi um momento único, mas que não vai acontecer o tempo todo.”


Georginho e Lucas Dias vão testar o Draft da NBA
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Giancarlo Giampietro

Lucas Dias e Georginho, duas apostas do Pinheiros

Lucas Dias e Georginho, duas apostas do Pinheiros

Com tantos olheiros da NBA viajando ao Brasil para assistir aos jogos do Pinheiros pelo NBB e pela LDB, isso não chega a ser uma bomba, mas tem de ser avisado que o armador Georginho e o ala Lucas Dias terão seus nomes declarados na lista de concorrentes ao Draft 2015 da NBA, o processo de recrutamento de calouros da liga americana.

Os jovens atletas que não têm sua candidatura automática têm até o dia 26 de abril para se inscrever nesse páreo. São aqueles que defendem equipes do basquete universitário americano e ainda não vão se formar neste ano e os estrangeiros nascidos a partir de 1994. Que é o caso de George, de 1996, e Lucas, de 1995.

O ato de declarar não significa participação obrigatória no recrutamento. Os jogadores e seus agentes têm até 15 de junho, 10 dias antes do evento, para decidir se vão manter a candidatura e encarar o processo de seleção – e aí são 60 vagas abertas. Até lá, muita informação vai correr em todas as vias possíveis: agente-clube, clube-mídia, agente-mídia etc. Devido ao espaço reduzido de operação para tanta gente, o ambiente de ‘guerra fria’ da NBA só se intensifica.

>> Depois da impaciência, o desenvolvimento para Lucas Dias
>> Conheça Georginho, armador que é ameaça de triplo-duplo

Georginho, hoje, é quem desperta maior curiosidade, quem está mais bem cotado. A coisa esquentou para valer especialmente depois de ter sido promovido pelo DraftExpress, o site especializado mais influente, ao primeiro round em sua projeção. Para Jonathan Givony, o armador brasileiro seria, no momento, o 28º melhor prospecto deste ano. Quer saber como o armador do Pinheiros entrou no radar da NBA? Aqui, passo a passo da promissora trajetória do atleta.

Ainda está muito cedo, mas hoje, em 23 de fevereiro, o brasileiro aparece com boas perspectivas. Não só pela concorrência em sua posição ser fraca, mas principalmente por todo o potencial que tem. Os scouts mais interessados acreditam que ele poderia ser selecionado até mesmo entre os 20 melhores. Para a turma do fundão da primeira rodada, ele é visto como um investimento de longo prazo, com a possibilidade de render uma recompensa bastante valorosa.

Em Nova York, durante o camp Basketball without Borders, um executivo de um time da Conferência Leste me disse, em off, que ele e seus companheiros de escritório já teriam interesse em escolher o armador até mesmo no Draft do ano passado, na segunda rodada. Isso, claro, se George pudesse se declarar. Não era o caso, uma vez que completaria apenas 18, e a idade mínima para concorrer ao processo é de 19.

Georginho, ao fundo, chama a atenção, mas a exposição agora é geral

Georginho, ao fundo, chama a atenção, mas a exposição agora é geral

O armador pode ser o principal alvo, mas a exposição ao seu jogo só faz bem a Lucas, ao ala-armador Humberto e a todos os seus companheiros e adversários. Na semana passada, durante a conclusão da temporada regular da LDB, pelo menos seis times visitaram Mogi das Cruzes para ver o Pinheiros de perto: Dallas, Detroit, LA Clippers, Miami, Portland e Toronto. Some-se aí Indiana, San Antonio, Sacramento – com direito a Mitch Richmond e tudo –, e temos um mínimo de nove times avistados nos ginásios brasileiros, mais de um quarto da liga.

Virão ainda mais, agora que sabemos as datas da segunda fase da liga de desenvolvimento, com oito clubes divididos em dois quadrangulares que serão realizados nos dias 2, 3 e 4 de março, em São Paulo, na própria sede do Pinheiros. A fase decisiva, de semifinais e final, será disputada nos dias 8 e 9, com sede ainda a ser definida.

Em 23 partidas pela competição, Lucas Dias tem médias de 21,3 pontos, 9,3 rebotes, 2,0 roubos e 1,5 assistência, em 30 minutos. Georginho soma 12,6 pontos, 4,0 assistências, 6,1 rebotes e 1,8 roubo, em 28 minutos. No caso de saída para a liga americana, cada jogador pode render ao Pinheiros US$ 600 mil pela rescisão contratual, pagos pelo clube interessado, tal como aconteceu com Bruno Caboclo no ano passado.

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O Brasil tem marcado presença constante nos últimos Drafts da NBA. Em 2013, Lucas Bebê foi selecionado a mando do Atlanta Hawks na 16ª posição. O armador Raulzinho saiu em 47º, sendo repassado do mesmo Atlanta Hawks para o Utah Jazz. E 2014, a grande surpresa foi a escolha de Caboclo pelo Toronto Raptors em 20º.

A grande diferença é que, dessa vez, não há mais segredos. Se Caboclo foi fisgado pelo clube canadense muito cedo no processo do ano passado, o nome de Georginho consta agora na lista de observação de, provavelmente, todas as equipes. Depois da LDB, o armador  deve disputar algumas partidas do Campeonato Paulista Sub-19. Em abril, vai encarar um evento que pode ser determinante para suas pretensões de Draft: o Nike Hoop Summit, na segunda semana de abril, reunindo em Portland as mais badaladas revelações do basquete internacional para um período de treinamentos seguido por um jogo, no dia 10 de abril, contra os destaques do high school dos Estados Unidos. O time americano já tem sua seleção definida. Existe a possibilidade de Lucas também participar da partida, ainda no aguardo de uma confirmação dos organizadores do evento.


A conquista de Toronto por Bruno Caboclo
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Giancarlo Giampietro

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“Toronto, 21 de novembro de 2014.

Galera, jamais vou esquecer o que aconteceu hoje. Vocês sabem, entrei num jogo oficial de NBA pela primeira vez e marquei oito pontos. O jogo tava decidido já, mas foi tudo muito especial. Sonho realizado, não tem o que dizer! A torcida pirou comigo e deixou tudo ainda mais incrível. Nessas horas a memória recupera um monte de coisa, tudo passando muito rápido. Importante registrar aqui o que rolou, apesar que da minha cabeça nunca mais vai sair!

Tudo começou quando o professor ficou sabendo que não ia poder usar mesmo o James Johnson, o cara do kickbox, que tá com o tornozelo machucado. Aí ele acabou me relacionando para a partida ao lado do amigão Lucas Bebê. Se a gente fosse olhar pra tabela lá atrás, o jogo contra o Milwaukee Bucks era para ser fácil, uma boa chance para estrear, como contra o Philadelphia 76ers. Acontece que o Bucks vem jogando bem e tá até mesmo na briga por playoff nesse comecinho de temporada. Então não dava para saber. O legal é que, se fosse para acontecer, eu pelo menos evitaria de entrar em quadra com aquela roupa bem ridícula de estampa militar. No fim, escapei daquela!

O curioso é que minha estreia  acabou acontecendo justamente contra o Giannis, o grego com o qual eu já fui muito comparado. Sabe aquela coisa de Kevin Durant brasileiro, né? Pois é, também ouvi por aí que eu seria o Giannis Antetkompo… Como escreve mesmo? Enfim, vocês entendem, que eu seria o grego brasileiro. Só porque viemos de uma liga pouco assistida no mundo todo e por termos entrado na NBA muito jovens, ainda no final de nossa adolescência. Ah, e também por termos o agente. Enfim, acaba sendo meio que irônico.

Claro que, quando o quarto período chegou e meu time tava dando uma sova no Milwaukee, essa coincidência nem passava pela minha cabeça. E pela barriga? Vixe, na minha barriga era como se tivessem borboletas. Já tava batendo aquele nervosismo, que poderia ser a hora de jogar, mesmo. A galera não ajudou, gritando meu nome sem parar. Eu enterrei a cabeça no meio da toalha, mas eles não pararam. Foi emocionante. E brincadeira. Claro que eu queria jogar e eles deram uma baita força. Mas dava meio que vergonha. Quando acabou o terceiro período, a gente tava vencendo por 101 a 57, e aí o treinador Casey me chamou e disse que tinha chegado a hora. Vi até gente na galera que ficou de pé pra aplaudir. Putz! Não tinha mais volta, vamo que vamo. 

No primeiro ataque, o Loui Williams errou um chute de dois de longe. Depois, aquele turco do Milwaukee fez uma cesta. Então chegou minha vez, né? Tentei um arremesso de três pontos, que venho treinando bastante. Na pré-temporada e na liga de verão os técnicos meio que já tinham me dito para trabalhar isso e, na hora dos jogos, deu pra ver que ali na zona morta é onde eles querem que eu fique. A linha de três fica mais curta dali, então tudo bem. Acabei errando, mas não perdi a confiança, não. Tanto que aquele minuto ali passou rapidão. Depois que um armador do Bucks perdeu um arremesso de média distância, saí correndo que nem um maluco pro ataque. Aí o Lou foi bem camarada e inteligente. No meio da quadra, viu que eu tava lá sozinho, na banheira. Ele acabou passando a bola ainda um pouco mais na frente pra mim. Doido! Ainda bem que sou atlético, né? Porque consegui pegar o passe na pinta, direitinho mesmo e fui pro aro com tudo. Cravei!

  

Se eu escrevo aqui que o Lou Williams foi doido de mandar um passe daquele, loucura mesmo aconteceu depois da cravada! Caraca, o ginásio ficou descontrolado. Era Bru-no, Bru-no sem parar no canto! Eles ficavam falando meu nome até mesmo naquela hora de gritar “defesa”. Eles queriam ficar falando de mim o tempo todo, eita. Só sei que a adrenalina foi a mil e nem dá muito tempo de pensar. O turcão errou um arremesso de fora, e peguei o rebote. Trabalhamos a posse de bola, e com dois segundos ainda no relógio, eu meti minha primeira de três. Foi mais uma assistência do Greivis Vasquez, que tem me ajudado bastante no dia-a-dia também. Mandei pro aro sem pensar, no automático, na cara do turco. Quando correu mais de três minutos de quarto, teve tempo na quadra. Foi o tempo da TV. E funcionou direitinho, porque aí o técnico falou pro Lucas Bebê entrar na quadra também. Aí era festa completa! Saiu o Patterson. Pena que no primeiro ataque acabei perdendo a bola. Seria legal  se o Bebê já desse uma cravada dele.

Aqui nessa foto acho que tou tentando pegar um rebote, mas ficou meio estranha. Tá valendo!

Aqui nessa foto acho que tou tentando pegar um rebote, mas ficou meio estranha. Tá valendo!

O jogo foi rolando, e ficamos um tempo sem mexer no placar quando o Bebê sofreu falta. Ele errou os dois lances livres, uma pena. Mas de repente era para ele pontuar pela primeira vez com mais estilo, né? Nem sempre vai rolar uma ponte de primeira, que nem pra mim, mas no lance livre não dá nem graça. O engraçado foi que, no segundo erro do Lucas, o Landry Fields veio do nada para socar a bola direto no aro. Tipo Michael Jordan. Afe!!! A galera pirava. Era festa, mesmo, no ginásio. Nunca vi nada parecido na minha vida. E eles curtiram ainda mais quando larguei outra bola de três! Raptors 116 a 64! #WeTheNorth!!!! Kkkkk.

Pois é, esses foram meus oito primeiros pontos na NBA.  Dava o friozinho na barriga, mas não era medo. Vocês me entendem, né? Tinha mais era de curtir esse momento e foi o que fiz. A torcida aproveitou bem mais, e isso foi bem legal. Não vou esquecer isso nunca mais. Nem do toco que eu dei no alemãozinho do Bucks – Wolters tava na camisa dele –, nem da primeira cesta do Bebê, em outro passe do Vasquez, já mais pro finalzinho. A torcida não parava e me matava. Agora cantavam “Vamos, Bruno”. Acho que eles gostam do meu nome.

No final do jogo, na hora que liberaram a entrada da mídia no vestiário, nem acreditei: vieram todos aqueles caras falar comigo. O Lou Williams, aquele mesmo que deu o passe para minha p.a., tirou foto e sarro da minha cara, dizendo que minha mãe iria adorar. E aí vem o Bebê e me alopra! Disse que todo mundo me amava porque eu era que nem o Justin Bieber! Sai fora!

 

Aí fiquei sabendo que meu nome virou assunto comentado no Twitter! Isso aí é mais doideira ainda. De tanta coisa para falar de NBA numa noite de sexta-feira, tava lá meu nome no TT mundial!??!?!!? Valeu, galera, pelo apoio! Fico muito feliz, vocês todos aí acordados até tardão.

Agora tá tarde aqui também, hora de voltar pra casa. Vai ser duro dormir, porque meu coração tá batendo forte até agora, mas não tem essa de balada, não. Os veteranos com certeza tinham algum plano pra mim, mas sou desses moleques sérios, e tem de descansar porque amanhã tem o LeBron por aí! Acho bem difícil que eu possa jogar essa. Tá todo mundo esperando um jogo mais difícil, porque o Cleveland tá   estrela, mas mais perdem que ganham por enquanto.

E não pode esquecer que só entrei no banco porque meu timaço tinha desfalque. A gente tá brigando pela liderança da conferência, e não vai ser sempre que o técnico vai me por pra jogar. Lembrem que o jogo tava com mais de 30 pontos de vantagem quando entrei, e os caras do Milwaukee ainda venceram o quarto período, chatões. Vou esperar pra ver. Já disse pros jornalistas aqui: quando estou no banco, o que mais fica forte em mim é minha cabeça. Tou aprendendo. Vai ser bacana demais de qualquer jeito poder ver o Anderson Varejão. Ah, e ver o LeBron de perto também!

Fui!”

*Vocês devem imaginar, mas não custa avisar que não teve depoimento nenhum, ok? Apenas uma brincadeira, um texto fictício com base em relatos colhidos por aí na rede www, nesta madruga.


Toronto Raptors, dois brasileiros, nós e o Norte
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Oh, Canada

Oh, Canada

Em 1995, a NBA anunciou que incorporaria duas franquias canadenses ao seu campeonato. A liga ainda curtia a popularidade de um Michael Jordan, já havia se beneficiado aos montes com a empreitada do Dream Team nos Jogos de Barcelona e estava pronta para dar mais um passo importantíssimo em seu processo de internacionalização. Nasceram, então, o Toronto Raptors e o Vancouver Grizzlies.

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As duas equipes tiveram dificuldades naturais para engrenar no princípio. Eles tinham de se montar a partir do zero, a partir do Draft de Expansão, no qual os demais clubes têm o direito de proteger oito atletas de seus elencos, sobrando apenas a rebarba para os irmãos canadenses. Acontece que, sob a direção do hoje esculhambado Isiah Thomas e de Glen Grunwald, o time de Toronto garimpou melhor no mercado e no Draft, enquanto em Vancouver as coisas só pioravam.

Em seis campanhas, a equipe não conseguiu superar a marca de 28% de aproveitamento. Cinco técnicos foram contratados e demitidos. A média de público despencou de 17,1 mil na primeira temporada para 13,7 mil na sexta, com uma ajudinha de um lo(u)caute no meio do caminho, em 1998. O dólar canadense também estava desvalorizado, aumentando as dívidas da gestão. Quando o grupo Orca Bay fechou a venda da franquia para Michael Heisley, em janeiro de 2001, o bilionário de Chicago havia dito que sua intenção era mantê-la na cidade. Heisley sabia, oras, que dias antes a NBA havia vetado um negócio com Bill Laurie, que pretendia levá-la para St. Louis.  Meses depois, contudo, após uma campanha duvidosa para difamar Vancouver, já estava fazendo uma turnê pelos Estados Unidos em busca de possíveis portos para realocação. Encontrou Memphis.

A NBA toparia retornar a Vancouver?

A NBA toparia retornar a Vancouver?

Esse contexto é importante para entender o momento vivido pelo Raptors. O clube passou por mais bocados durante a década passada, saindo dos anos eufóricos de Vince Carter a uma preocupante depressão, com Rafael “Baby” Araújo, Chris Bosh, Jorge Garbajosa, Anthony Parker e outros personagens no meio do caminho. Ainda que o produto em quadra não fosse dos mais interessantes, o aspecto comercial foi bem desenvolvido, conquistando uma sólida base de torcedores e parcerias no mundo corporativo. Eles eram o time do Canadá.

Reparem, então, como, no decorrer dos anos, a cor dos uniformes, por exemplo, migrou gradativamente do roxo para o vermelho. O dinossauro do primeiro logo perdeu seu aspecto cartunesco e foi encolhendo. Hoje, o finado animal está representado por uma simples e discreta pata com três garras que, nessas coisas da semiótica, remete direta ou indiretamente, dependendo do ponto de vista, a uma folha de maple (para eles, bordo para nós), o símbolo da bandeira nacional.

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Para culminar, na temporada passada eles lançaram com estrondoso sucesso a campanha “We, The North” (Nós, o Norte), que virou coqueluche na metrópole com camisetas, cartazes, outdoors e, dãr, #hashtag. Eles, do norte, assumindo de maneira interessante, orgulhosos, sua condição geográfica austral, o que não é tão lógico assim. Quanto mais ao Norte, mais frio. Não o frio paulistano de 12ºC, e, sim, o frio gélido bem pertinho do ártico, abaixo de zero e tal. É o tipo de clima que faz com que, nas obras anglo-saxônicas de ficção, o  “povo do Norte” seja invariavelmente associado a nobres austeros – porque seria assim a vida por lá, com as condições inóspitas exigindo mais trabalho, empenho, seriedade etc., ao contrário dos folgados de um Sul mais quente. Que nos digam os inimigos Stark e Lannister de George R.R. Martin (e da HBO).

Então aí está o marketing da franquia fazendo empréstimos desse tipo de mitologia. O slogan serviu para unir ainda mais uma das bases de torcedores já considerada das mais fervorosas e fanáticas da liga. A ponto de, na abertura dos playoffs 2014, vermos milhares e milhares de pessoas reunidas do lado de fora do Air Canada Centre, no centro de Toronto, para assistir num telão ao primeiro embate de playoff da equipe depois de seis anos, contra o Brooklyn Nets. Uma cena muuuuito rara no cotidiano da liga.

Ainda mais rara – e absurdamente engraçada, vai – foi a manifestação do chefão das operações de basquete do clube, Masai Ujiri, naquele sábado histórico, diante da multidão de torcedores fora do ginásio. Provavelmente com a adrenalina a mil, sentindo aquela vibração descomunal, o dirigente nigeriano soltou logo um entusiasmado “F***-se, Brooklyn!” no microfone, de modo chocante. A galera foi ao delírio, claro. A liga, nem tanto: o dirigente acabou multado em US$ 25 mil. Ainda que daria para fazer uma boa aposta que, secretamente, os gestores tenham rachado o bico e só tenham decidido aplicar a punição por não haver outro modo, mesmo, de lidar com o causo. Além do mais, Ujiri ganha US$ 3 milhões por ano como um supercartola e, caso fizesse uma vaquinha com os torcedores, certeza que pagaria a taxa com tranquilidade e ainda sobraria um troco para um sorvete.

Ujiri foi o homem que selecionou Bruno Caboclo, para choque geral dos especialistas. O mesmo que foi atrás de Lucas Bebê um ano depois de ter falhado em sua missão de também assegurar os direitos sobre o pivô carioca no Draft. E aí que, num estalo, a metrópole canadense se tornou a capital brasileira no basquete da América do Norte. Tipo: agora são eles e ‘nós’ do Norte. O único senão aqui: para ver a dupla em quadra, vai demorar um pouco. Ambos são vistos como projetos de médio para longo prazo. Tanto o ainda adolescente Caboclo como Bebê, que, aos 22 anos e temporadas de Liga ACB nas costas,  já deveria estar num ponto mais adiantado em sua curva de aprendizado.

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Nos primeiros jogos do Raptors, conforme o esperado, os rapazes não vêm sendo nem relacionados pelo técnico Dwane Casey, que tem optado pelos veteranos Landry Fields e Greg Stiemsma no preenchimento de seu banco. Dois caras bem mais experimentados, preparados. De modo que, por enquanto, Bruno e Lucas não terão chance de jogar nem mesmo numa surra como a deste domingo sobre o Philadelphia 76ers, o lanterninha da liga e o jogo mais provável para seu aproveitamento.

“Vai levar um tempão para caras como Bruno e Bebê (estarem prontos), então vamos ser pacientes. Ainda somos uma equipe jovem”, disse Ujiri, sobre os garotos. É o tipo de frase que o espectador brasileiro precisa ter em mente na hora de checar as fichas dos jogos do Raptors e não ver a dupla relacionada. E Ujiri tem razão nesse aspecto: o núcleo principal da equipe ainda vai crescer.

Se o plano do dirigente der certo, os promissores atletas vão se juntar a um elenco mais maduro e ainda mais forte. Futuro próximo? Dois anos? Vai saber. É uma preocupação que um scout da NBA demonstrou em entrevista para o blog, lembram? O Raptors não tem uma filial na D-League. Então toda  a evolução dos brasileiros ficará por conta do trabalho individual com os treinadores durante uma temporada corrida, na qual eles competem para já. No Leste, distante de Memphis. E pelo Canadá.

O time: na temporada passada, Casey fez um dos trabalhos mais formidáveis. O plano de Ujiri, todos sabem, era implodir seu elenco e apostar numa derrocada rumo ao Draft estelar de Andrew Wiggins, Jabari Parker e Joel Embiid. Despachou Andrea Bargnani e Rudy Gay. Deu errado: digo, de acordo com essa ideia original. Porque a equipe melhorou, e muito.

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

A bola começou a girar de um lado para o outro, Kyle Lowry, DeMar DeRozan e Terrence Ross gostaram da responsabilidade maior e cresceram. O banco de reservas foi bastante produtivo, com Patrick Patterson assessorando a entrosada dupla Jonas Valanciunas-Amir Johnson. A melhor química resultou também numa melhora do sistema defensivo, com os atletas mais conectados. Ao final da campanha, o Raptors era um dos poucos posicionados entre os dez ataques e defesas mais eficientes da liga, ao lado de gente como Spurs, Heat, Clippers e Thunder.

Para este campeonato, a base está mantida. Os reforços que chegaram são peças complementares, para deixar a segunda unidade ainda mais sólida. O ala James Johnson endireitou a cabeça, vem de bela campanha pelo Grizzlies, fez as pazes com Casey e retorna a Toronto para fortalecer a defesa no perímetro. Lou Williams pode ter perdido muitos jogos pelo Hawks devido a uma séria lesão no joelho, mas ainda é mais habilidoso e explosivo que John Salmons. Se Lowry e DeRozan mantiverem o ritmo, a estrutura ao redor deles será o suficiente para lhes posicionar bem nos mata-matas. Dependendo do progresso de Ross e Valanciunas, as metas vão crescer.

A pedida: ir longe nos playoffs e, dependendo do nível que Bulls e Cavs tiverem atingido, sonhar, talvez, com uma final?

Olho nele: Terrence Ross. Porque vale a pena observar com atenção qualquer jogador que passe da barreira dos 50 pontos numa partida, não? Foi o que o ala de 23 anos conseguiu numa derrota para o Clippers no dia 25 de janeiro, assustando a imprensa norte-americana. A quantia é emblemática, mas o mais interessante é o modo como ele a atingiu, que mostra todo o seu potencial. Veja:

Ross é um desses atletas especiais que poderia competir tanto no torneio de enterradas como no de chutes de três pontos num All-Star Weekend. Além disso, é agil e tem envergadura para dar trabalho na defesa.

Abre o jogo: “É tanto dinheiro que eu guardo logo na minha conta. Talvez algo no futuro, mas não sei”, Bruno Caboclo ao ser questionado em Toronto sobre o que faria com o seu primeiro pagamento.

Você não perguntou, mas… a grande temporada do Raptors realmente foi produto do acaso. De vários causos fortuitos, mesmo. Por exemplo: quando a franquia acertou uma troca com o Houston Rockets para receber Kyle Lowry, esse era apenas um plano B do então presidente Bryan Colangelo. A principal opção do dirigente, que acabou substituído por Ujiri, era Steve Nash – negociação que acompanhava perfeitamente a guinada canadense do time. O veterano havia se tornado um agente livre em julho de 2012 e estava disposto a conversar com a franquia de seu país natal. Quando o Lakers surgiu para atrapalhar tudo, Colangelo se viu obrigado a procurar outras alternativas. E veio Lowry, de quem o Rockets queria se livrar para limpar sua folha salarial e também por que andavam cansados da dor-de-cabeça que o armador causava, de tanto reclamar que não aceitaria ser reserva. A ironia é que, a princípio, em Toronto ele também chegaria para ficar no banco de Nash.

Damon Stoudamire, Toronto RaptorsUm card do passado: Damon Stoudamire. Além do aspecto comercial e logístico, o Raptors também teve mais sucesso que o Grizzlies na montagem de seus primeiros elencos. Para 1995-96, sua primeira temporada, enquanto Vancouver foi de Bryant Reeves, Toronto selecionou o baixinho Stoudamire, de 1,78 m, para sua armação. Vindo da Universidade do Arizona, o talentoso armador, apelidado de Mighty Mouse (Super Mouse, aqui) foi a primeira grande esperança da franquia, tendo impressionantes médias de 19 pontos e 9,3 assistências como novato. Também foi a primeira grande esperança a deixar a equipe precocemente, forçando uma troca para o Portland Trail Blazers, de sua cidade natal. O mesmo aconteceria com Vince Carter, Tracy McGrady e Chris Bosh, numa sina daquelas (os impostos em Toronto são mais caros e ainda existe uma espécie de preconceito entre os atletas contra a ideia de viver no Canadá, acreditem). A carreira armador nunca mais teve tanto brilho. Ele ainda jogou pelo Grizzlies, mas em Memphis, teve uma curta passagem pelo Spurs e se aposentou em 2008. No mesmo ano, começou a trabalhar como treinador. Em fevereiro de 2009, retornou a Memphis para integrar a comissão técnica de Lionel Hollins, tendo sido importante no desenvolvimento de Mike Conley Jr. Hoje, é um dos assistentes de Sean Miller na sua alma mater, Arizona.


6º lugar no Mundial: é o que tem para hoje. E depois?
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Giancarlo Giampietro

(Atualização: com a derrota da Espanha para a França, o Brasil perde uma colocação na classificação geral, caindo de quinto pra sexto. Que fase!)

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A frase não vai parecer genial, mas é precisa ser dita: o Brasil tanto podia ganhar da Sérvia nesta quarta-feira, como poderia perder. E perdeu. Era um duelo equilibrado, sem favoritos, pelas quartas de final de uma Copa do Mundo de basquete. Alguns detalhes aqui e ali poderiam ter se corrigido, mas o fato é que o time brasileiro, desde a sua composição ao que executava em quadra, estava longe de ser perfeito. Era competitivo, estava na briga pelo pódio, mas não tinha direito adquirido nenhum ali. Estava metido em um jogo enroscado, se descontrolou emocionalmente na volta do intervalo e, pumba!, quando passou, já era. Vitória sérvia.

Isso tudo se refere a 10 de setembro de 2014 e a um geração de jogadores que, em geral,  está em seu auge, descontando uma ou outra peças periféricas de sua rotação, que já se veem mais perto da aposentadoria. Quer dizer, uma pequena retificação: essa competitividade da seleção brasileira passa por 10 de setembro e deve se estender até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. A seleção vai receber uma Olimpíada com as mesmas chances, se as coisas correrem normalmente.

Agora, e o que vem depois disso?

Depois de assimilada a eliminação – que poderia ser evitada, mas acontece –, muito do que se ouviu em tempo real foi sobre “o bom trabalho” executado, que é algo que não pode ser descartado prontamente, e bla-bla-blá. Obviamente que não. Aliás, quem estaria argumentando de modo contrário? O Brasil se despede do Mundial com o quinto sexto lugar, o mesmo posto de Londres 2012. O basquete internacional não é para qualquer um, mesmo num cenário em que boa parte dos grandes concorrentes estava seriamente desfalcada.

Mas só precisamos ter cuidado com a generalização: se for falar em bom trabalho, que fiquemos com Rubén Magnano e seu grupo de veteranos. Não que o argentino deva ser ou esteja blindado de críticas. O ataque brasileiro não funcionou como poderia, tendo muita dificuldade para produzir de modo eficiente em situações de meia quadra. Sua convocação final se mostrou redundante. Ele não pediu mais um tempo naquele fatídico terceiro período. Etc. Entre os atletas, houve surpresas e decepções. Agora, me parece que esse é o tipo de discussão que toda equipe vai ter ao final de uma campanha. Vai acontecer até mesmo nos Estados Unidos. Não existem times perfeitos. Existem times que reconhecem suas deficiências e procuram amenizá-las. Pode ser que tenha faltado isso? Sim, certamente faltou. A verdade, porém, é que a seleção caiu, com suas virtudes e limitações.

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O que não dá para fazer é ficar jogando confete para cima depois de um quinto sexto lugar e deixar que muitos penetras entrem nessa festa (inexistente). Não dá para incluir os cartolas da CBB (a inoperante Confederação Brasileira de Basquete) nessa. Sua diretoria – e até mesmo os manifestos opositores aos atuais gestores – devem ser barrados na porta. Porque, entre as limitações que temos, dá para falar de fundamentos e minúcias de jogadores e de alguns nomes convocados, mas o buraco, mesmo, está ao redor desta seleção.

O basquete brasileiro foi para um Mundial com sua força máxima – pelo menos segundo o gosto de seu treinador, com americano naturalizado, e tudo – e com média de 31 anos, a mais elevada da competição. A Sérvia tem média de 26 anos. Entre seus protagonistas, apenas um está acima dos 30 anos, o pivô Nenad Krstic. O ala Bogdan Bogdanovic, autor de 12 pontos, tem apenas 22 anos, mesma idade do titular Nikola Kalinic. Milos Teodosic tem 27. Nemanja Bjelica, 26, assim como Miroslav Raduljica e Stefan Markovic. Já deu para entender, né? O time balcânico que deu uma surra hoje pode pensar até mesmo nas Olimpíadas de 2020.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

A verdade, contudo, é que eles nem precisam, já que não sabem nem ao certo se estarão no Rio 2016. As coisas na Sérvia funcionam de outro jeito, devido à alta competitividade para se entrar naquela seleção. Eles trocam de geração a cada dois anos, é algo impressionante. Estão aí para comprovar Marko Keselj e Milan Macvan, dois semifinalistas de 2010, atletas bem pagos de Euroliga e que não chegaram nem perto de jogar este Mundial. Os esquecidos e os eleitos para o time de hoje que se cuidem, aliás, porque a fornada de 1994 e 95 também já é boa o bastante para sonhar com as grandes competições, vindo de um vice-campeonato mundial em 2013. O armador Vasilje Micic e os pivôs Nikola Jokic e Nikola Milutinov jajá estarão por aí – dois deles já foram draftados pela NBA neste ano.

Do Brasil, se formos recuperar as últimas campanhas com algum sucesso em torneios internacionais de base, temos a galera que terminou o Mundial Sub-19 de 2007 (1988/89) em quarto, além da equipe que deu um sufoco danado nos Estados Unidos na Copa América Sub-18 de San Antonio, em 2010 (galera de 1992/93).  Se a turma de Raulzinho, Felício e Bebê já se aproxima, perigosa e precocemente do ostracismo, o que dizer daqueles quatro ou cinco anos mais velhos? Antes da partida desta quarta, já havia passado por esse caso alarmante. Dessa geração, apenas dois atletas hoje estariam no radar da seleção principal – mas com chances remotas de aproveitamento: Rafael Mineiro e Paulão. Entre os sérvios, dois saíram triunfantes em Madri (Raduljica e Markovic), enquanto Macvan e Keselj já haviam disputado a edição de 2010, conforme citado.

Para não falar apenas de Sérvia, fica o registro: a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos, a Lituânia, a Croácia e muitas outras equipes já apresentaram bases renovadas para esta Copa. O grau de protagonismo dos atletas mais jovens variou de uma equipe para a outra, mas pelo menos eles estavam na Espanha, vivendo a experiência intensa que é disputar um torneio de elite desses. Do lado brasileiro, dos mais jovens, apenas Raulzinho pode falar a respeito do assunto, já com duas edições em seu currículo.

Não é que não existam opções. O armador Rafael Luz e o pivô Augusto Lima já são realidades no basquete europeu, jogadores produtivos no campeonato nacional mais difícil do continente – a Liga ACB espanhola. Augusto, aliás, foi um dos destaques individuais na temporada passada – e mal teve chance para mostrar serviço na seleção “b” que ficou com um (?) honroso bronze no Sul-Americano. O pivô Lucas Mariano e o ala Leo Meindl (Franca) e o armador Ricardo Ficher (Bauru) também aparecem num grupo de revelações lembradas por Magnano nos últimos anos. Para não falar de Bruno Caboclo, ala surpreendentemente escolhido pelo Toronto Raptors no Draft da NBA, o atleta de maior potencial nessa lista, sem dúvida. Em seu ex-clube, o Pinheiros, também há pelo menos mais três garotos para serem monitorados.

Daí que… Ué? Então de que trevas você está falando, meu chapa? Olha aí o tanto de jogador jovem aí que você acabou de citara. Para um comentário desses, reverteria o jogo: mas o simples fato de nos apegarmos a cinco, seis, sete nomes já não diz muito sobre a quantas anda a produção de talentos nacional? Digo, se todo mundo sabe de cor quais são as apostas para o próximo ciclo olímpico, acho que isso significa justamente como as coisas andam errado. Já se comprova o número bastante limitado de alternativas, num país com 200 milhões de habitantes, cujo Ministério dos Esportes aponta a modalidade como a segunda mais praticada.

Além do mais, não é brincando de apostar em garotos, como se o desenvolvimento seguisse a lógica do mercado futuro, que os problemas de constituição de um time – e do basquete – brasileiro serão solucionados. A carreira dessa molecada não está nem mesmo garantida, de modo que soa absurdo depositar em seus ombros carências de uma estrutura toda deficitária. Em setembro de 2014, eles são apenas promessas, que precisam jogar e  treinar em paz, seguindo sua rotina, quiçá com a melhor orientação disponível. Não é hora de ficar buscando nomes – mas, sim, de trabalhar pra ter um maior número de nomes possível.

Só com uma confederação que trabalhe desta maneira, com essa mentalidade, que não dependa de milagres – o advento de do Grande Jogador da Silva –, que se pode exigir mais do que o atual time conseguiu. De novo: a despeito de toda a precariedade estrutural lamentada, os veteranos de Magnano tinham plenas condições de ir adiante neste Mundial. Mas não foram. Goste ou não, é uma seleção brasileira se afirma como a quinta/sexta melhor do mundo. É o que tem para hoje.

Brasil perde, CBB, Copa do Mundo, Sérvia

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Em tempo, e algo que não pode ser esquecido jamais: depois do fiasco que foi a participação na Copa América, na qual, sem seus melhores jogadores, Magnano naufragou, perdendo para Jamaica e Uruguai, a CBB teve de desembolsar um milhão de euros para ser “convidada” para jogar o Mundial. Arredondando: 3 milhões de reais. Então, do ponto de vista administrativo, é um fiasco ficar fora do pódio. Um quinto lugar não vale 3 milhões de verdinhas. Os patrocinadores ganharam alguma visibilidade em TV aberta, ainda mais depois da vitória sobre a Argentina, mas o prejuízo da confederação é brabo. Ainda mais para quem já está endividado.

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Acho que vale reforçar: o Brasil levou aquilo que seu técnico julga de melhor para o Mundial, inclusive naturalizando o Larry. Com o grupo que levou, Magnano foi para o tudo ou nada. Contra muitos adversários desfalcados. E terminou em quinto. Isso diz muito sobre a dureza que é lutar por uma medalha no basquete de hoje, mas também sobre o nível atual da seleção. É de se ponderar, mesmo.


Duelo com a Sérvia escancara buraco na base brasileira
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Giancarlo Giampietro

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Quando a bola subir na quarta-feira, pelas quartas de final da Copa do Mundo, não será a primeira vez que o armador Stefan Markovic e o pivô Miroslav Raduljica vão enfrentar o Brasil num mata-mata de torneio Fiba. Sete anos atrás, ainda adolescentes, no Mundial Sub-19 eles levaram a melhor contra em uma semifinal que acabou em vitória tranquila dos balcânicos, 89 a 74.

Para quem clicou imediatamente no link acima, já deu para ver os dois ficaram, respectivamente, 26 e 23 minutos, em quadra, contribuindo com 12 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. Números regulares. Mas vale o destaque, mesmo, estatístico daquele jogo é a quantidade de brasileiros presentes na seleção nacional que derrubou a Argentina no domingo passado: 0. Isso mesmo: ze-ro.

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

Quer dizer, se formos considerar o assistente técnico José Neto, temos ao menos um – ele era o treinador daquele time. Daquela geração era de 1988-89, dos quais foram pinçados os 12 representantes para aquela campanha (?) histórica, hoje todos eles com 25 e 26 anos,  nenhum jogador conseguiu se desenvolver a ponto de entrar na lista final de Rubén Magnano para competir por uma medalha na Espanha.

Quem chegou mais perto disso foi o ala-pivô Rafael Mineiro, que disputou o Campeonato Sul-Americano deste ano, como peça integral da rotação, com médias de 6,2 pontos e 4,8 rebotes. Da seleção B, Raulzinho e Rafael Hettsheimeir foram chamados para compor o grupo principal.

Embora não tenha conseguido dar o grande salto, o talentoso Mineiro é um caro caso de atleta que conseguiu alguma continuidade em sua carreira internacional desde o Mundial Sub-19. Desde, então, ao menos conseguiu jogar três Sul-Americanos, mais que o grande nome daquela categoria: Paulão Prestes. O pivô participou só de um Sul-Americano – ironicamente, em 2006, anterior ao torneio de base. Os problemas físicos de Paulão estão bem documentados, guiando uma trajetória de altos e baixos. Foi muito bem cotado na Espanha, acabou draftado pelo Minnesota Timberwolves (algo muito difícil e não pode se perder de perspectiva), mas se lesionou demais e teve problemas com a balança. Chegou a ser pré-convocado por Magnano em duas ocasiões e hoje é a grande aposta do Mogi, ao lado de Shamell.

De resto, temos o ala Betinho em São José, com média de 13,6 pontos, 2,0 assistências e 32,5% nos três pontos em sua carreira no NBB, o ala-pivô Rodrigo César no Uberlândia e o pivô Romário no Macaé. Outro que chega ao NBB agora é o armador Carlos Cobos, de dupla nacionalidade (Espanha e Brasil), criado na base do Unicaja Málaga ao lado de Paulão, e que também não conseguiu se firmar na Liga ACB. Ele acabou de acertar com o Franca de Lula Ferreira, que ao menos vai fazendo esse trabalho de prospeção, tentando recuperar alguns dos garotos espalhados por aí.

Contando: foram citados, então, seis atletas daquele time sub-19, 50%. O restante, para termos uma ideia, é até difícil de rastrear. Luiz Gomes, que hoje é um dos motores por trás do Mondo Basquete – um site bem bacana para você visitar –, fez esse trabalho hercúleo no ano passado, já constando uma geração verdadeiramente perdida.

Thomas Melazzo, fora do basquete

Thomas Melazzo, fora do basquete

Cauê Freias, autor da cesta da vitória contra a Austrália de Patty Mills nas quartas de final, e Bruno Ferreira, o Biro, estão no Caxias do Sul e devem disputar a Liga Ouro, Segunda Divisão do NBB. Houve quem tenha parado e largado o esporte: o ala Thomas Melazzo, que tinha um potencial absurdo, hoje é personal trainer, aparentemente vivendo em Salt Lake City, terra do Utah Jazz. Se alguém souber do paradeiro dos demais, por favor, caixa de comentários aberta abaixo.

Dia desses, no Twitter, o mesmo Luiz Gomes estava especulando a respeito, apontando algumas promessas  de então e hoje na elite. Muitos deles classificados para os mata-matas de uma Copa do Mundo, na elite. A Sérvia já escalou o ala-pivôs Marko Keselj e Milan Macvan na fase decisiva do Mundial de 2010, para se ter uma ideia. No time de hoje, tem Markovic e Raduljica e ainda conta com mais cinco jogadores que teriam idade para disputar aquele torneio, mas só ganhariam visibilidade mais tarde.

Já a França apresenta quatro nomes de seu time sub-19 que bateu o Brasil na disputa pelo bronze: o armador Antoine Diot, o ala Edwin Jackson, o pivô Kim Tillie e um certo Nicolas Batum. O pivô Alexis Ajinça certamente estaria na Copa do Mundo, não tivesse pedido dispensa. Até mesmo os Estados Unidos, com sua produção de talentos incomparável, tem um representante de 2007 aqui: Stephen Curry! Daquele elenco, destacam-se também nomes como DeAndre Jordan (Clippers), Patrick Beverley (Rockets) e Michael Beasley (Marte).

Entre os demais quadrifinalistas da Copa, para ser justo, é preciso dizer que a Espanha só tem um atleta daquela jornada: o ala Victor Claver. Lituânia e Turquia? Nenhum. A Eslovênia não havia se classificado.Mas também é preciso dizer uma coisa sobre os lituanos: sua atual seleção conta com cinco jogadores nascidos depois de 1988 (o ano-limite para inscrição naquele Mundial): Adas Juskevicius, Sarunas Vasiliauskas, Mindaugas Kuzminskas, Donatas Motiejunas e Jonas Valanciunas – os dois últimos simplesmente as maiores apostas dessa tradicional potência. Já os turcos têm três: o caçula Cedi Osman, de apenas 19, além de Furkan Aldemir (cujos direitos na NBA pertencem ao Sixers) e Baris Hersek.

Nessa categoria, de atletas de 26 anos ou mais jovens, também se enquadram os argentinos Facundo Campazzo, Nícolas Laprovíttola, Tayavek Gallizzi, Matías Bortolín e Marcos Delía. A Austrália contou com seis: Dante Exum (19), Brock Motum, Cameron Bairstow (23), Matthew Dellavedova, Ryan Broekhoff (24) e Chris Goulding (25, este convocado para aquele Mundial Sub-19). Já os Estados Unidos possuem apenas um jogador nascido antes de 88: Rudy Gay, e só.

No Brasil, com 22 anos, Raulzinho é a figura solitária. Rafael Luz acabou preterido no último corte, enquanto Augusto Lima dançou já no Sul-Americano. Uma decisão bastante sensata poupou Bruno Caboclo dessa. Já Lucas Bebê foi deixado na geladeira, depois da escapada do ano passado. Ao menos o filho do Raul vem sendo utilizado com regularidade por Rubén Magnano, contribuindo para valer hoje – e ao mesmo tempo ganhando uma experiência extremamente valiosa para o futuro. Agora, fora isso, a seleção que joga na Espanha, a mais velha do Mundial, é apenas para agora e agora.

Obviamente que a base do elenco de Magnano é fortíssima, não sobram vagas. Como acontece com a Espanha. Agora, na periferia do plantel, será que não dava para encaixar? Depois de uma vitória contra a Argentina, na iminência de um confronto com a Sérvia, pode ter gosto de chope aguado todas essas lembranças. Nesta semana, as preocupações dos envolvidos com o jogo ficam realmente direcionadas só para a quadra. Fora dela, porém, nos escritórios da CBB, o tema já deveria estar na mesa há tempos. Sem precisar que a figura até folclórica de Raduljica, nesta quarta-feira, servisse como recado.