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Arquivo : LeBron

Oscar Schmidt e suas histórias maravilhosas no Hall da Fama
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Giancarlo Giampietro

Oscar & Bird

Oscar e seu padrinho Bird no Hall da Fama. História para quem puder ouvir

De uma coisa vocês podem ter certeza: nunca nenhum integrante do Hall da Fama do Basquete treinou tanto para fazer seu discurso de introdução como Oscar Schmidt. Afinal, poucos desses se tornaram um palestrante de mão cheia, e santa, conforme o legendário cestinha brasileiro conseguiu.

Para quem não sabe, distante – ou afastado – do basquete, o ala tem uma das palestras mais concorridas e caras desse circuito que virou uma indústria própria no país e no globo. Os americanos, claro, nem contavam com isso. Daí que, quando aquela figura imensa subiu ao palanque de boina, acompanhado por ninguém menos que Larry Bird, poucos podiam imaginar que se iniciaria um derivado de stand up com duração de 17 minutos.

Quer dizer: como em Indianápolis-1987, novamente Oscar pegou os americanos de surpresa.

Usando de seus seus trejeitos e retórica típicos, treinados por anos e anos e apenas traduzindo para o inglês, Oscar contou alguns dos causos que já havia ensaiado bem durante os anos em que encarou plateias diversas e, além do mais, em suas mais recentes entrevistas. Dominou a sala, usando até Pat Riley como um degrau para suas piadas. Coragem! ; )

O “Mão Santa” falou de como queria ser jogador de futebol até ser convencido pela família a migrar para o basquete, deu suas explicações sobre como não topou jogar na NBA – embora tenha supostamente humilhado Charles Barkley em jogos das ligas de verão de 1984 –, falou com todo o orgulho sobre o ouro no Pan, tirando mais uma lasquinha dos locais, relembrou Marcel, Ary Vidal, Mortari e terminou por agradecer aos familiares, especialmente a esposa, sua “máquina pessoal de rebotes”, arrancando gargalhadas. De como se convenceu de aquela era a “prometida” quando topou por semanas e semanas ajudar em seus legendários treinamentos. “Não tem ninguém que treinou mais”, fala, sem se cansar de repetir.

Tem uma coisa nessa história que é deveras interessante e que supera qualquer fronteira sensorial de tempo-espaço. Assim como nos tempos de quadra, quando superou barreira dos 40 anos perseguindo um recorde aparentemente inatingível – o de maior cestinha do basquete, acima de Kareem Abdul-Jabbar. Não havia limites para a capacidade que tinha para encestar.  Da mesma forma, quiçá, que se aplicam suas histórias hoje.

Para os jornalistas, analistas – com ou sem pedigree, background –, a pior armadilha é se levar apenas pelas memórias e emoção, deixando qualquer senso crítico de lado. Recorrer aos números, aos títulos, aos fatos, ao que rodeou a carreira de um jogador nunca será demais. Nunca.

Oscar ao ataque

No caso do camisa 14 da seleção brasileira (daqueles poucos que roubou, eternizou um número para si no baquete Fiba), tudo isso fica um pouco mais difícil, ainda que, no geral, seus números sejam espetaculares. Como tudo no Brasil nesses dias, há duas facções que se enfrentam quando Oscar é o assunto.

Antes de mais nada: a arte de analisar estatísticas não é concreta, definitiva de modo algum. Mesmo as mais avançadas de hoje, pelo simples fato de que elas não consideram jamais, de maneira total, quem está em quadra com determinado jogador, quem está por ali do outro lado e o que está em jogo em um determinado minuto. Você pode ajustar, conflitar a gama de dados mais larga possível, mas isso nunca vai se tornar uma ciência exata. Ainda mais quando falamos de tempo já tão distantes, como os anos 80, auge do brasileiro.

De modo que o que nos resta são os pontos de vista. Treinadores, companheiros, adversários, jornalistas, torcedores, espectadores. E do próprio Oscar. Em primeira pessoa, Oscar não foi nunca alguém de abaixar a cabeça. Pelo contrário. Dentro e fora de quadra, enfrentou, enfrenta, doendo em quem pudesse doer. Nas últimas entrevistas, tem falado sem hesitação alguma: dominaria na NBA, fazia o que queria em quadra, foi um dos maiorais e poucos podiam contestá-lo.

Por outro lado, as críticas que perduraram durante – e, principalmente, após – a carreira do Mão Santa são também igualmente inesquecíveis: não marcava ninguém, não venceu o que realmente importava, não marcava ninguém, não passava a bola nem sob decreto, não marcava ninguém e não fazia de seus companheiros melhores jogadores em quadra e que, ao ser celebrado apesar de tudo isso, seria responsável por uma herança maldita (hoje traduzido como “legado”). São diversos os registros, internacionais ou nacionais, que o acompanharam nesse sentido.

Para isso tudo, alguns pontos ele próprio encara, dando a cara a tapa. Vamos relembrar suas respostas de costume, com um ou outro comentário:

– Sim, não passava a bola, mesmo, especialmente nos tempos de seleção brasileira de Vidal, quando, alega, jogava sob um “sistema de NBA” no qual ele e Marcel poderiam chutar o que devessem e/ou quisessem, enquanto o restante do time dava conta das outras, digamos, atividades de uma partida. Ele assume,  mas banca com a fama de quem não errava, de que era melhor ele (ou Marcel ou craque X) chutando do que qualquer outra coisa, já que fazia isso muito bem. Não sei se é a melhor abordagem: há times, líderes que venceram assim e outros que preferiram dividir, repartir de uma outra maneira, que o diga Magic Johnson. E, sim, seus números em assistências são paupérrimos, de um senhor mão-de-vaca. Uma coisa não se pode negar, contudo:  Oscar sempre fala de seus companheiros.

Ok, ele fala bastante. Candidato ao senado na chapa de Maluf. Impropérios, berros insanos nacionalistas sem limite – como quando gritava contra um adversário de Diego Hypólito no Pan do Rio 2007, constrangendo o público na Arena…  A despeito desse gigantesco ego (que pode incomodar em muitas ocasiões, embora, na situação que viva hoje, isso passe por lição de humanidade em seu ápice), Oscar, o fominha, não deixa de registrar a importância de seus companheiros para seu sucesso, sempre gastou um tempinho que fosse para elogiá-los, como o leão que era o pivô Israel, um de seus favoritos;

– Sobre o suposto “legado” de que teria incentivado gerações e gerações a fazer o “jogo errado” dos três pontos, isso não pode ser levado a sério como teoria. Um herói televisionado é o suficiente para corromper toda uma cultura esportiva? Não seria um gigantesco problema do basquete brasileiro, então, se foi/fosse esse o caso? Cada vez mais depender de ídolos (indivíduos) do que de estrutura, de paixão dispersa pelo jogo para se sustentar? Uma conta, aliás, que sobrou agora para a turma da NBA, com o pioneiro Nenê eleito como símbolo, pagar.

– Oscar assegura que só marcava quando necessário (ou pedido). Será que isso é uma opção? Há diversos casos mais recentes que  abordam o mesmo tema, por exemplo: o Kobe Bryant dos 81 pontos, Allen Iverson em 2001, Glenn Robinson, Scottie Pippen x Toni Kukoc, Marcelinho Machado, Dirk Nowitzki e a seleção alemã, Milos Teodosic e a nova (e já velha?) seleção sérvia, LeBron James no Cavs … Etc. Etc. Etc. Até onde vai uma responsabilidade e começa a outra? Quem faz as duas coisas sempre e em alto nível com muita pressão? O mais novo membro do “Hall da Fama” jura que, em sua última temporada de Espanha, seu técnico disse que as coisas mudariam de figura no Valladolid e que, a partir daí, precisaria marcar mais. Teria respondido: “Ok, só não me peça para fazer 40 pontos por jogo do outro lado?”. Abaixou sua média no ataque e teria “parado” todos quem enfrentou, conta, um por um. De qualquer maneira,  essas coisas são bem complicadas: só estudando números de adversários ou revendo fitas e fitas para emitir uma opinião concreta;

– Destaca também que nas Olimpíadas de 1988, após uma “inesperada” derrota para a Espanha na primeira fase, acabou sobrando para a seleção a União Soviética nas semifinais (na verdade, quartas de final), com uma derrota por dois pontos apenas (na verdade, cinco); mas ele conta: Sabonis teria feito apenas seu quarto ponto no jogo no minuto final (na verdade, terminou com 12), na penúltima posse de bola, e que o Brasil tinha a chance nas mãos de virar o jogo. Com a coisa “entalada na garaganta” até hoje, conforme disse no seu discurso, acredita que deveria ter optado por um chute de três pontos naquela ocasião, em vez de ter batido para dentro, como fez, sem conseguir converter o arremesso ou ter descolado falta nenhuma. De forma abstrata, sem ter em mente o modo como a defesa soviética se armou nessa específica investida, essa coisa de ir para a cesta tende a dar mais certo: aumenta-se as probabilidades, embora os números do 14 fossem assustadores. Mas, de novo: tudo depende da configuração da defesa. De toda maneira, a seleção terminou com a quinta colocação naquele torneio. A mesma que o país teve em Londres 2012. Por que esta seria boa e a outra, não?

Ah, o mundo hoje é diferente, muito mais equilibrado com a fragmentação de União Soviética e Iugoslávia e a expansão da modalidade por todos os cantos do globo a ponto de estarmos escrevendo algo após vitórias da Jamaica sobre Argentina e Brasil. De fato não há como negar isso. Agora, o outro lado da moeda é que, justamente, a constituição de potências como essas do front socialista da Guerra Fria deixava a aproximação do pódio em grandes torneios como algo bastante complicado. Além disso, mesmo com os universitários, os Estados Unidos da América ainda chegavam como favoritos a cada torneio.

Por aí vamos.

Ao revisitar os nomes do passado, porém, a discussão se amplia de modo significativo. Fica muito fácil falar de Pelé, Wlamir, Garrincha, Amaury – embora não faltem aqueles para problematizar o que é irrefutável. Os títulos, o currículo… Tudo isso impressiona.

Há uma certa condescendência no Brasil de que os ídolos não podem ser atingidos, de que há que se preservá-los não importa o que digam ou o que façam. É de fácil compreensão este tipo de argumento. Numa história tão carente de referências, para que maltratar aqueles que lá chegaram?

Estou no time dos que defendem que ninguém intocável, ao mesmo em que deve se entender que as diferenciações entre sujeito-esportista e sujeito-cidadão. E há exageros, claro. Gustavo Kuerten, por exemplo, era o número um do mundo e, nem por isso, tinha direito a perder numa segunda rodada de Viña del Mar ou Kitzbühel.  Qualquer piloto de Fórmula 1 minimamente competente jamais seria um Ayrton Senna.

No caso de Oscar, o que fazer? Em termos de competição regional, ele e sua seleção foram predadores. Nas grandes competições, o título nunca veio, mas não é que tenham fracassado de modo retumbante – por exemplo, ainda que no início de trajetória pela seleção, num encontro de diversas gerações, Oscar e Marcel Marcel e Oscar conquistaram o bronze do Mundial das Filipinas em 1978, a última medalha do país em alto nível.

Nessas horas, distante da frieza analítica ou do ranço inerente ao personagem, talvez a válvula de escape mais fácil seja apelar para artifícios de retórica clássicos, como aquele de um editor de jornal do filme “O Homem Que Matou o Facínora“, de John Ford – “Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda”. Ou como no”Peixe Grande” de Tim Burton, filme que sai em defesa de qualquer boa prosa, não importando a exatidão do que se fala.

Não à toa, o próprio Oscar recorre a algo nessa linha durante sua participação no Bola da Vez da ESPN Brasil. Caminhando para o fechamento do programa, ele disse: “O importante não é contar as histórias, é saber contar as histórias”.

Retórica de um profissional. Que não se cansará de surpreender os americanos e de provocar as mais diversas reações por aqui.

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Aqui, o discurso de Oscar na íntegra:

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Aqui, o vídeo oficial para a indicação de Oscar ao Hall da Fama:


Chris Paul, o poderoso chefinho, assume a presidência do sindicato de jogadores da NBA
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Giancarlo Giampietro

Chris Paul para presidente

O repórter Lee Jenkins, da Sports Illustrated, relata que Chris Paul foi presidente de sua classe nas sétima, oitava, décima, 11ª e 12ª séries, durante sua adolescência. “Para os que estão perguntando, na nona série ele não concorreu”, completa.

Aí você fica até em dúvida: estamos diante de uma piada?

Os jogadores da NBA vão responder, hoje, que não. Afinal, acabaram de eleger o astro do Los Angeles Clippers como o novo presidente de seu sindicato. E, de acordo com as histórias que lemos sobre o #CP3, não é de se estranhar, mesmo: ele está acostumado a liderar,  ou, no seu caso, mandar.

Estamos falando de um armador, afinal. Mas daqueles que ditam as coisas.

Por exemplo, podemos afirmar que Steve Nash tem tendências socialistas em quadra, falando sempre de como gostaria de ver suas equipes compartilhando, em plena comunhão. Vejam o que ele diz a Zach Lowe, do Grantland, aqui: “Em Phoenix, eu pensava sempre, que poderia jogar e fazer mais de 20 pontos, arremessar mais, mas talvez minha efetividade fosse diminuir. Talvez o equilíbrio do time fosse abaixo. Talvez nós não tivéssemos aquele diferencial, aquela coisa especial que tínhamos porque os outros estão recebendo mais a bola e sentem que vão recebê-la. Não é minha natureza arremessar”.

Não pensem que isso não passa pela cabeça de Paul. Não se trata definitivamente de alguém egoísta – estima-se que, em sua carreira, 46,3% das cestas feitas por seus parceiros vieram de assistências do craque. A diferença é que para o impetuoso baixinho as coisas são mais práticas. Seu ideal é jogar para vencer, não obrigatoriamente para deixar quem está ao seu lado feliz. Se isso significa que ele tem de ir para a cesta, jogar para fazer 40 pontos, que assim seja. E que não entrem em seu caminho. Do contrário, você vai ouvir pacas.

Dizem que, no Clippers, Blake Griffin e DeAndre Jordan, mais espirituosos,  já teriam problemas sérios quanto a isso, muita dificuldade para suportar toda a pressão que o armador faz – feito Kobe, ele é daqueles que colocam o dedo na cara, mesmo, apontam erros e não toleram “desculpas”. Além disso, após a saída de Neil Olshey para o Portland Trail Blazers, em Los Angeles virou ponto passivo de que o jogador seria o gerente geral informal do clube, opinando em todas as decisões esportivas da franquia. Doc Rivers que se enquadre!

Também dizem que, quando a turma bicampeã olímpica se reúne – Wade, LeBron, Bosh, Carmelo etc. –, é ele quem dá as cartas e não para de falar, na quadra, no vestiário, em festa de casamento, na mesa do bar, no busão ou no metrô (lembram!?), em qualquer lugar. E que, se não for ele a falar, que abram espaço para o “Little Chris”, seu filhinho, mandar brasa. : )

Muito bem.

Agora Chris Paul tem muito sobre o que falar, mesmo. Uma série de reuniões, vice-presidentes (Steve Blake e Anthony Tolliver entre eles), secretário do tesouro (James Jones!) e muito mais para comandar, num mandato inicialmente previsto de um ano e meio, sucedendo Derek Fisher. Dessa vez os operários não tiveram chance, com uma estrela subindo ao poder pela primeira vez desde Patrick Ewing, cuja presidência se encerrou em 2001. LeBron James chegou a cogitar sua candidatura, mas foi dissuadido numa conversa com, e quem mais?, o próprio Paul.

A agenda do novo presidente requer tempo, e talvez alguém da estatura de LeBron não tivesse tanto tempo assim – ou talvez fosse importante preservar a imagem do maior jogador da atualidade, guardando qualquer intervenção do ala para momentos mais críticos.  Por ora, parece que há muito o que arrumar, mesmo, dentro de um combalido sindicato, que anda envolvido em em batalha judicial contra o ex-diretor executivo Billy Hunter, demitido em março, tendo empregado até filhos, cunhados, tios, sobrinhos e, se bobear, até o cachorro na administração da entidade.

Hunter, todavia, já é passado. O maior desafio de Paul é se sentar à mesa com o próximo comissário da NBA, Adam Silver, que assume em fevereiro e fechar as diversas pontas pendentes no acordo trabalhista (não tão) definido (assim) em 2011, com duração prevista por dez anos, mas que pode ser refeito em 2017, caso jogadores ou os donos dos clubes optem. Entre os tópicos mais espinhosos, está a pra-lá-de-urgente regulamentação de um controle antidoping mais adequado na liga. Exames de sangue detalhados vão ser liberados? Serão feitos testes de supetão? Em que período do ano?  O limite de idade para inscrição no Draft – hoje de 19 anos, com os proprietários tentando elevar para 20 –, a criação de uma terceira rodada no processo de recrutamento de novatos – que permitira aos clubes um controle sobre maior gama de jogadores –, o  relacionamento com a D-League e o número mínimo de jogadores contratados por cada franquia são outras questões em pauta para serem acertadas.

Barra pesada? Preocupante? Nada disso. “Foi algo que vi como um desafio, algo que sabia que seria capaz de conduzir. Foi uma oportunidade incrível, e muita responsabilidade vem com este cargo”, disse Paul. Oportunidade incrível? Eu, hein? Haja confiança para o poderoso chefinho da liga.


Campeão asiático, Irã está no Mundial. E o que mais sobre o 1º torneio classificatório?
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Giancarlo Giampietro

Haddadi ali com o bração aberto

Irã: WE ARE THE CHAMPIONS! Via @HamedHaddadi

A profecia se fez como previsto: 2013, e Hamed Haddadi lidera o Irã a mais um título do campeonato asiático da Fiba. Como MVP, claro.

Daria para fazer aquela autopromoção básica, né? Sacar aquele bacaninha, supimpa “conforme antecipamos”, mas isso já está mais batido que a própria rotina de glórias e dominância do pivô no vasto continente. Pensou em basquete de seleções na Ásia, pensou em Haddadi, meus amigos.

Na final, já com a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014 garantida, o iraniano se aproveitou da ausência do americano Marcus Douthit e trucidou os pivôs das Filipinas, os donos da casa, somando 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos. Escreveria aqui que ele teve sua jornada de Shaquille O’Neal, mas nem isso vale, já que converteu 71,4% de seus lances livres.

Agora, descentralizando um pouco o post, fugindo da sombra de Haddadi, vale destacar que a final em Manila não foi exatamente um passeio para o país do Oriente Médio. O primeiro tempo terminou com uma vantagem de apenas um ponto (35 a 34) para os visitantes. Até que as parciais de 27 a 19 e 23 a 18 nos quartos seguintes resolveram a parada (85 a 71).

Foi um contraste de duas abordagens ofensivas distintas.

Os filipinos, por Deus!, arremessaram 34 vezes da linha de três pontos, contra 35 de dois. Por uma mísera e infeliz bolinha de dois que eles não conseguem a maioria absoluta das tentativas do meio da quadra. Um pecado certamente lamentado por Porto Rico e muitos patrícios. Não importando de onde dispararam, o fato é que a turma deixou os dois aros significativamente avariados, com uma pontaria de apenas 31,9% no geral – se de fora eles fizeram 29,4%, não dá para dizer que havia uma bola de segurança interna (apenas 34,3%).

Já os iranianos ao menos tinham Haddadi para desequilibrar. Com ele, acertaram 61,4% dos chutes de dois pontos, para compensar os desastrosos 17,6% de longa distância (3/17, uma blasfêmia). Eles também se atrapalharam todos com a bola, cometendo 19 turnovers.

De todo modo, mesmo com essa carência evidente no seu jogo de perímetro, é de se admirar o fato de que o Irã tocou sua campanha sem contar com a ajuda de nenhum estrangeiro, algo cada vez mais raro em competições internacionais. Jogaram, mesmo, e de forma competente, com seus Davoudichegani, Afagh e Jamshidijafarabadi, para pesadelo dos locutores nacionais.

Coreia é bronze!

Coreia do Sul de Eric Sandrin está na Copa também

O mesmo vale, aliás, para a Coreia do Sul, que beliscou a terceira vaga ao bater Taiwan na disputa pelo bronze, por 75 a 57. Quer dizer, se formos levar ao pé-da-letra, havia um estrangeiro no time: o veterano ala-pivô Lee Seung-Jun, de 35 anos, também conhecido como Eric Sandrin, norte-americano filho de uma coreana e que andou jogando até mesmo pelo Brasil na década passada – foi parceiro de Sandro Varejão e Ratto no Brasília. Andarilho, passou também por Luxemburgo e Portugal até se estabelecer lá por perto de Seul. Então é como se ele fosse um Scott Machado veterano.

Para os torcedores saudosistas do Portland Jail Blazers, a nota triste fica pela ausência do gigante Ha Seung-Jin. Xuim. Nesta preliminar, o sul-coreanos ensinaram aos filipinos como se faz, convertendo 45,8% de seus arremessos de três pontos (pontaria superior ao que tiveram de dois, 43,9%). Inicialmente, esse número seria um alívio. Tudo o que gostaríamos de escrever aqui era que, a despeito de toda essa mudança climática e da revolução 2.0, ainda poderíamos respirar em paz sabendo que um time coreano ainda chuta bem de fora. Mas, no geral, eles tiveram rendimento de apenas 34% no campeonato (66/194), algo alarmante. Estamos todos fritos, mesmo.

Quer dizer: todos menos Haddadi.

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A China, com todo a grana, astros (ou ‘astros’, coff, coff!) da NBA importados para sua liga nacional, protagonizou a grande façanha do Campeonato Asiático, ao ficar sem vaga direta para a Copa do Mundo. A equipe passou por um papelão na fase de quartas de final ao perder Taiwan por 96 a 78. Justo para quem! Nessa partida, os chineses venceram o primeiro tempo por dez pontos de vantagem, mas tomaram uma virada escandalosa no terceiro período (31 a 12). Para registrar, o pivô Yi Jianlian perdeu alguns jogos no torneio devido a uma contusão, mas esteve em quadra nos mata-matas. Em cinco jogos, ele teve médias de 17,4 pontos e 6,6 rebotes em apenas 24,6 minutos por partida. Na hora de distribuição dos quatro convites para o torneio, porém, é bem provável que a Fiba lhes reservem um.

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Interessante a classificação das Filipinas para o Mundial. O país é doente por basquete, a ponto de entender que JaVale McGee é uma espécie de Deus – vejam que coração bom têm os católicos de lá. Kobe Bryant anda por lá neste momento, enfrentando tempestade e tudo, LeBron James fez uma visita-relâmpago há pouco, e a capital Manila conta com uma arena de primeiro nível, que, depois de receber o torneio continental neste mês, vai acolher um amistoso de pré-temporada entre Rockets e Pacers, no dia 10 de outubro.

Mall of Asia Arena

A Mall of Asia Arena, com capacidade para 16 mil espectadores

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Os torneios qualificatórios regionais continuam nesta semana com o clássico entre Austrália e Nova Zelândia, na Oceania. O primeiro jogo será na quarta-feira, em Auckland, e o segundo, domingo, em Canberra. Com Patty Mills, Joe Ingles, David Andersen, Matthew Dellavedova e a revelação Dante Exum no elenco, os Boomers são claramente os favoritos. Pelos Tall Blacks, nada de Steven Adams (jovem pivô selecionado na 12ª posição do Draft da NBA pelo Oklahoma City Thunder) e do veterano Kirk Penney. Destaque para o ala-armador Corey Webster, um cestinha explosivo, e para o ala faz-tudo Tom Abercrombie.


Na tabela 2013-2014 da NBA, os jogos (alternativos) que você talvez queira ver
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Giancarlo Giampietro

Com olançamento sempre adiantadíssimo de tabela, agora da temporada 2013-2014, a NBA já reservou em seu calendário – sem nem consultá-los, vejam só! – algumas noites ou madrugadas de suas vidas. E nem feriado eles respeitam, caramba.

Já é hora, então, de sentar com o noivo, avisar a namorada, checar se não é o dia da apresentação do filho, e que a universidade não tenha marcado nenhuma prova para essas datas: Kobe x Dwight, retorno de Pierce e Garnett com Boston, o Bulls abrindo a temporada contra os amáveis irmãos de Miami, Kobe x Dwight, as tradicionais visitas de LeBron ao povoado de Cleveland, Nets x Knicks, revanche Heat x Spurs, Kobe x Dwight etc. etc. etc. Não precisa nem falar mais nada a respeito.

Mas, moçada, preparem-se. Que não ficaria só com isso, claro. A liga tem muito mais o que oferecer para ocupar seu tempo de outubro a junho. Muito mais. Colocando a caixola para funcionar um pouco – acreditem, de vez em quando isso acontece –, dá para pescar mais alguns jogos alternativos que talvez você esteja interessado em assistir, embora não haja nenhuma garantia de que eles vão ocupar as manchetes ou a conversa de bar – porque basqueteiro também pode falar disso no bar,  sem passar vergonha. Pode, né?

Hora de rabiscar novamente a agenda, pessoal. Mexam-se:

– 1º de novembro de 2013: Miami Heat x Brooklyn Nets
Depois de encarar o Bulls na noite de abertura, de descansar um pouco diante do Sixers, lá vem o Nets para cima dos atuais campeões logo em sequência. Essa turma de David Stern não toma jeito. Querem colocar fogo em tudo. Bem, obviamente esse jogo não é tão alternativo assim, considerando as altíssimas expectativas em torno dos rublos do Nets. Mas há uma historieta aqui para ser acompanhada em meio ao caos: será que Kevin Garnett, agora que não se veste mais de verde e branco, vai aceitar cumprimentar Ray Allen? Quem se lembra aí de quando o maníaco pivô se recusou a falar com o ex-compadre no primeiro jogo entre eles desde que o chutador partiu para Miami? Vai ser bizarro para os dois e Paul Pierce, certamente. Assim como a nova dupla de Brooklyn quando chegar a hora de enfrentar o Los Angeles Clippers de Doc Rivers em 16 de novembro.

No hard feelings? KG x Allen

E o KG nem aí para esse tal de Ray Allen ao chegar a Miami

1º de novembro de 2013:  Houston Rockets x Dallas Mavericks
Sim, uma noite daquelas! Mas sem essa de “clássico texano”. O que vale aqui é o estado psicológico de Dirk Nowitzki e o tamanho de sua barba. Contra o Rockets, o alemão vai poder se perder no tempo, divagando no vestiário sobre como poderiam ser as coisas caso o plano audacioso de Mark Cuban tivesse funcionado: implodir um time campeão para sonhar com jovens astros ao lado de seu craque. Dois astros como Harden e Howard, sabe? Que o Houston Rockets roubou sem nem dar chance para o Mavs, que teve de se virar com um pacote Monta Ellis-Samuel Dalembert-José Calderón e mais cinco chapéus e três botas de vaqueiro para tentar fazer de Nowitzki um jogador feliz.

Hibbert x Gasol

E que tal um Hibbert x M. Gasol?

– 11 de novembro de 2013: Indiana Pacers x Memphis Grizzlies
Vimos nos playoffs: dois times que ainda fazem do jogo interior sua principal força, e daquele modo clássico (pelo menos que valeu entre as décadas de 70 e 90), alimentando seus pivôs, contando com sua habilidade e físico para minar os oponentes*. Então temos aqui David West x Zach Randolph e Roy Hibbert x Marc Gasol. Só faça figas para que eles não esmaguem o Mike Conley Jr. acidentalmente. Candidatos a título, são duas equipes que estão distante dos grandes mercados, mas merecem observação depois do que aprontaram em maio passado.  Não dá tempo de mudar. (*PS: com a troca de Lionel Hollins por Dave Joerger, o Grizzlies deve adotar algumas das diretrizes analíticas de John Hollinger, provavelmente buscando mais arremessos de três pontos, mas não creio que mudem taaaanto o tipo de basquete que construíram com sucesso nas últimas temporadas e, de toda forma, no dia 11 de novembro, talvez ainda esteja muito cedo para que as mudanças previstas sejam totalmente incorporadas pelos atletas.)

– 22 de dezembro de 2013: Indiana Pacers x Boston Celtics
O campos da universidade de Butler está situado no número 4.600 da Sunset avenue, em Indianápolis. De lá para o ginásio Bankers Life Fieldhouse leva 17 minutos de carro. Um pulo. Então pode esperar dezenas e dezenas de seguidores de Brad Stevens invadindo a arena, com o risco de torcerem para os forasteiros de Boston, em vez para o Pacers local, time candidato ao título. Sim, o novo técnico do Celtics é venerado pela “comunidade” de Indianápolis e esse jogo aqui pode ter clima de vigília. (E, sim, mais um jogo do Pacers: a expectativa do VinteUm é alta para os moços.)

– 28 de dezembro de 2013: Portland Trail Blazers x Miami Heat
Se tudo ocorrer conforme o esperado para Greg Oden, três dias depois do confronto com o Lakers no Natal, ele voltará a Portland já como um jogador ativo no elenco do Miami Heat, deixando o terno no vestiário, indo fardado para a quadra. Da última vez em que ele esteve no Rose Garden, foi como espectador, sem vínculo com clube algum, sendo vaiado e aplaudido, tudo moderadamente. E se, num goooolpe do destino, o jogador chega em forma, tinindo, tendo um papel importante nos atuais bicampeões? Imaginem o tanto de corações partidos e a escala de depressão que isso pode – vai? – gerar na chamada Rip City.

– 13 de março de 2014:  Atlanta Hawks x Milwaukee Bucks
O tão aguardado reencontro entre Zaza Pachulia com essa fanática torcida de Atlanta, que faz a Philipps Arena tremer a cada jogo do Hawks. Não dá nem para imaginar como eles vão se comportarem na hora de acolher de volta esse cracaço da Geórgia, ainda mais vestindo a camisa do poderoso Bucks de Larry Drew – justo quem! –, o ex-técnico do Hawks. E, para piorar as coisas, o Milwaukee ainda tentou roubar desses torcedores o armador Jeff Teague. Não vai ficar barato! (Brincadeira, brincadeira.) Na verdade, an 597otem aí o dia 20 de novembro, bem mais cedo no campeonato, que é quando Josh Smith jogará em Atlanta pela primeira vez com o uniforme do Detroit Pistons. Neste caso, os 597 torcedores do Hawks presentes no ginásio e que consigam fazer mais barulho que o sistema de som vão poder aloprar o ala sem remorso algum quando ele optar por aqueles chutes sem-noção de média distância, desequilibrado, com 17 segundos de posse de bola ainda para serem jogados.

Ron-Ron tem um novo amigo agora

Ron-Ron agora vai acompanhar Melo em Los Angeles

– 25 de março de 2014: Los Angeles Lakers x New York Knicks
Já foi final de NBA, Carmelo Anthony seria um possível alvo do Lakers no mercado de agentes livres ao final da temporada, Mike D’Antoni não guarda lembrança boa alguma de seus dias como técnico Knickerbocker. São muitas ocorrências. Mas a cidade de Los Angeles tem de se preparar mesmo é para o retorno de Ron Artest ao Staples Center. Na verdade, o ala já terá jogado na metrópole californiana em 27 de novembro, contra o Clippers, mas a aposta aqui é que apenas quando ele tiver o roxo e o amarelo pela frente que suas emoções vão balançar, mesmo. E um Ron-Ron emocionado pode qualquer coisa. Nesta mesma categoria, fiquem de olho no dia 21 de novembro para o reencontro de Nate Robinson, agora um Denver Nugget, com seus colegas do Bulls, a quem ele jurou amor pleno. Robinson também é uma caixinha de… Fogos de artifício, e não dá para saber o que sai daí. Ele volta a Chicago no dia 21 de fevereiro.

– 12 de abril de 2014: Charlotte Bobcats x Philadelphia 76ers
O Sixers lidera os palpites das casas de apostas a pior time da temporada. O time nem técnico tem hoje – o único nesta condição –, seu elenco tem uma série de refugos do Houston Rockets, eles vão jogar com um armador novato que não sabe arremessar e lá não há sequer um jogador que possa pensar em ser incluído na lista de candidatos ao All-Star Game. Desculpe, Thaddeus Young, nós amamos você, mas tem limite. E, Evan Turner, bem… Estamos falando talvez da última chance. Então, no quarto confronto entre essas duas equipes na temporada, Michael Jordan espera, desesperadamente, que o seu Bobcats esteja beeeeem distante do Sixers na classificação da Conferência Leste. Se não for em termos de posições, que aconteça pelo menos em número de vitórias. Do contrário, é de se pensar mesmo se, antes de o time voltar ao nome Hornets, não era o caso de fechar as portas.

– 16 de abril de 2014: Sacramento Kings x Phoenix Suns
Como!? Deu febre?!? Não, não, tá tudo bem. É que… no crepúsculo da temporada, essa partida tem tudo para ser uma daquelas em que ninguém vai querer ganhar. Embora os torcedores do Kings tenham esperanças renovada com um nova gestão controlando o clube, a concorrência no Oeste ainda é brutal o suficiente para que eles coloquem a barba de molho e não sonhem tanto com playoffs assim. Ou nem mesmo com uma campanha vitoriosa. Fica muito provável que esses dois times da Divisão do Pacífico estejam se enfrentando por uma posição melhor no Draft de Andrew Wiggins (e Julius Randle, Aaron Gordon, Jabari Parker, Dante Exum e outros candidatos a astro). Então a promessa é de muitos minutos e arremessos para os gêmeos Morris em Phoenix, DeMarcus Cousins mandando bala da linha de três pontos, defesas de férias e mais esculhambação.


Mais um momento Mandrake para Gregg Popovich. Chocante!
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Giancarlo Giampietro

Outro dia estava falando aqui de Pelé e aposentadoria. Agora é hora de evocar outra memória dos encontros da família Giampietro, quando meu tio e padrinho, que me catequizou em histórias em quadrinhos, tirava de vez em sempre uma referência desse mundo, ao qual estava me habituando, para comentar outro, o dos esportes, que sempre segui. Pois ele adorava falar de um treinador como um “Mandrake“, em alusão ao mágico que estrelava tiras diárias nos anos 30. Apesar de toda a sua simpatia por esse ilusionista, quando – rá! – tirava da cartola esse termo, era para desancar um técnico e suas invencionices. Era a sua versão para “Professor Pardal”, digamos, embora ache que a crítica também tenha a intenção de atingir as facetas marotas dos profiessshores, quando eles querem sair da reta depois de alguma besteira.

Mandrake

Mandrake

Para comentar mais uma atitude inexplicável de Gregg Popovich, vamos nos ater ao lado pardalesco da coisa – porque o caráter do Coach Pop não se discute. Fiquemos, sim, com as engenhocas táticas que ele apresentou nos momentos finais das últimas duas partidas das finais da NBA entre o seu San Antonio Spurs e o Miami Heat.

Pois bem: depois de sacar Tim Duncan em duas  defesas no Jogo 6, agora no Jogo 7, ele me resolve tirar Tony Parker de ação no ataque, restando apenas 27 segundos (ou uma posse de bola completa e mais três segundos) no cronômetro, com o time da Flórida vencendo por 92 a 88. Depois de um pedido de tempo, veio para seu lugar o valente Gary Neal.

Nada pessoal contra Neal, vocês sabem. Mas… Hein?!

Vá lá, vá lá. Neal é um arremessador muito mais confiável que Parker. A movimentação que Popovich instruiu envolveu Manu Ginóbili e Tim Duncan pela ala direita da quadra, em direção ao garrafão – pelo menos quero crer que o argentino estava indo atrás de algo desenhado durante a parada do jogo. Então a presença do ala-armador reserva serviria para dar um maior espaçamento. Além disso, Parker vinha sendo anulado por LeBron em quadra, com uma atuação sofrida. De qualquer forma… Era hora!?

A única explicação seria o francês ter acusado qualquer tipo de problema físico. Porque… Hã…

O Spurs partiu para uma jogada de pick-and-roll ousada, a partir da cobrança de um lateral. Ginóbili passa para Duncan, recebe no give-and-go e bate para a cesta marcado por Chris Bosh. Mas o ângulo desse lance foi muito estranho, apertado. Quando o narigudo percebeu, estava encurralado no fundo da quadra, debaixo da tabela, sem muito o que fazer. Ele se girou crente de que estava escoltado por seu pivô e atirou a bola. Nas mãos de LeBon, que ficou em seu encalço, uma vez que não havia Parker para ser marcado. Bidu.

Mais uma intervenção extremamente discutível de Pop, na qual foi ousado em demasia.

Esse post não quer dizer que o técnico seja uma anta. Obviamente o Spurs não perdeu por essa substituição. Mas o lance mostra apenas o quão vulneráveis os treinadores, jogadores e protagonistas de uma final épica dessas pode se tornar.

Novamente não vamos saber. Talvez não desse em nada um ataque com o francês em quadra. Ou talvez ele aprontasse mais um milagre em Miami, assim como fez no Jogo 1. Aquele, sim, um lance de um Mandrake autêntico, falando apenas de mágico.


LeBron James se afirma em quadra após desafio mental de Popovich e ganha o 2º título
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Giancarlo Giampietro

LeBron, MVP

Agora, suponho, vão deixar o amarelão em paz

Será que LeBron James fez ioga ou imergiu em meditação nesta quinta-feira?

Pode parecer a pergunta mais besta do mundo, mas bateu na cuca em algum momento desse Jogo 7, antes de sabermos que tudo desembocaria no segundo título seguido do Miami Heat, com uma vitória por 95 a 88, e numa performance histórica do ala.

Pensei por influência de um veterano jornalista americano, Roland Lazenby, que andava biografando Michael Jordan e tem bom trâmite com o que se passa no universo do Mestre Zen – seja em Chicago, seja em Los Angeles.

Vira e mexe, e Lazenby entra no Twitter para despejar uma série de notinhas saborosas sobre o que se passou com o técnico mais vitorioso da história da NBA. Calha que, ao acessar Jackson e seus trejeitos e causos, uma hora ou outra você vai passar por esse lance espiritual. Como fez nesta quinta.

Em muitos de seus livros, P-Jax bate de modo veemente nesta tecla: a da preparação mental (espiritual?) de seus atletas. As sessões de meditação, reflexão, (des)conscientização que promovia com seus jogadores são legendárias. A ponto de não sabermos exatamente qual o alcance dessas técnicas. Há jogadores que juram que saíam do tatame num outro astral. Há aqueles que deveriam gastar toda a energia de uma noite de descanso ao se segurar tanto para não cair em risos. Pudera: imagine você se sentar ao lado Dennis Rodman ou Will Perdue, de pernas cruzadas no chão, e acreditar que tudo aquilo é sério.

Mas aí basta se lembrar de todos os títulos de Jackson como jogador e técnico, que a piada murcha que só. Deve ser sério, né?

Na visão do treinador, essas sessões ajudavam o jogador a mentalizar o jogo, a imaginar o que se passaria em quadra. Era como se, mentalmente, eles já disputassem aquela batalha horas antes de entrar nas vias de fato.

Ao ver LeBron James extremamente confortável neste Jogo 7, foi daí que me veio esse flashback. O cara simplesmente estava relaxado em quadra. Tranquilo, confiante, assertivo. Sendo que, das arapucas armadas pelo San Antonio Spurs, nada havia mudado na sua frente. Kawhi Leonard, Boris Diaw ou Danny Green continuavam recuando sem pudor algum, dando todo o espaço do mundo para LeBron chutar. Ou, principalmente, pensar se deveria chutar.

LeBron para o jump shot

Green recua e, depois, tenta em vão se aproximar de LeBron

Em primeiro momento, o mais apressado ou espírito de porco, pode querer traduzir isso num instante para “amarelar”. “Quem é craque decide” etc. Mas é preciso entender as razões por trás da hesitação.

Quando LeBron entrou na liga em 2003, o grande ponto fraco de seu jogo era o chute de longa distância. Em 2007, quando ele enfrentou Tim Duncan em uma primeira decisão, ainda era o caso (sua média de três subiu apenas de 29% no ano de novato para 31,9%). Demorou realmente um bocado até ele atingir a marca de 40,6% nesta temporada. Vejamos: 31,5% em 2008, 34,4% em 2009, 33,3% em 2010, 33% em 2011, 36,2% em 2012. Até que bateu pela primeira vez a marca de 40% agora – algo aliás que está longe de ser valorizado no ala: estamos habituados a tratar os talentos do ala como divinos, com dádivas, ignorando o quanto o adolescente já milionário trabalhou para expandir seu arsenal.

Mas, no geral, observando estes números acima, o que a gente tira disso? Que, consistentemente, LeBron nunca foi um grande atirador de fora, enquanto, lá dentro, seu aproveitamento é excepcional.

O que Gregg Popovich ordenou, então? Que seus rapazes congestionassem ao máximo o garrafão. Que fizessem o sujeito arremessar de fora, sim, senhor, a despeito de sua notória evolução nos últimos anos – acreditando que essa era ainda, sim, uma fraqueza do oponente. Ou, no mínimo, o aspecto em que ele era menos forte. E essas coisas ficam na sua cabeça. Você sabe exatamente o que geralmente dá certo em quadra. Pode acontecer até, mesmo, com o autoproclamado “Rei”, que, nos primeiros seis jogos, acertou apenas 29,2% do perímetro.

O que acontece: LeBron percebe que está sendo desafiado – ‘Estão aí esses Spurs o desafiando a meter bala de longe, e eu vou fugir da raia?’. Ao mesmo tempo, inteligentíssimo que é, sabe que tudo não passa de uma armadilha, que não pode perder de foco as cortadas vorazes rumo ao aro. Mas os espaços não estão ali para serem aproveitados. Daí que você recebe a bola e está criado um impasse – um impasse que precisa ser resolvido em segundos, e, não, em minutos ou horas que o jornalista pesadão leva para redigir um texto desses. LeBron, sim, pensa. Acabou pensando demais em quais caminhos seguir, quais decisões tomar – daí a diferença clara de fãs e fãs quando comparado a Kobe Bryant, alguém muito mais agressivo por natureza, ou fominha, mesmo. Kobe vai atacar, atacar, atacar, até romper um tendão de Aquiles não deixar mais. O craque do Heat primeiro quer entender qual a opção mais adequada.

No Jogo 7, porém, ele pareceu ter pisado em quadra já com toda essa coisa de compreensão finalizada, sem perder suas características. Deu assistências nas primeiras posses de bola do time e também aceitou a provocação do Spurs e disparou. Converteu os dois primeiros jumpers e, a partir daí, virou automático…

Cheguei a twittar – vejam lá o imediatismo… – de que talvez não fosse o melhor comportamento. Que talvez ele pudesse ficar acomodado demais com esses arremessos e que, uma hora, cedo ou tarde, começaria a dar aro. Era isso, elaiá, que Popovich esperava também. Mas o período de seca nunca veio. Acertou 5-10 de três pontos, como se fosse um Ray Allen. Matou 12 de 23 chutes no geral. E ainda bateu e converteu oito lances livres. Some tudo e chegue a 37 pontos. E, como LeBron é diferente, suas contribuições não se resumem a chuta-chuta, cesta-cesta. Coloque na planilha mais 12 rebotes, 4 assistências e 2 roubos de bola. Coisa de MVP.

Escrevo sem saber como foi a quinta-feira da estrela. Quais rituais seguiu. O que mudou em sua cabeça para que, após seis jogos em que os truques mentais de Popovich,  fosse prevalecer de tal modo nesta quinta.

O que sei é que, a essa altura, em South Beach, ioga e meditação definitivamente LeBron James e sua turma não vão fazer.

*  *  *

A noite de Battier, Tiago Splitter, mais uma bobagem bizarra de Popovich, o esforço de Tim Duncan… Vamos dividir essas coisas e outras pautas que forem sugindo em posts menores no decorrer desta sexta-feira e fim de semana, ok? Tem tempo.


Heat x Spurs, o último capítulo: o que está na mesa para o Jogo 7 das finais?
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Giancarlo Giampietro

LeBron James, tudo ao redor dele

Mais uma decisão para LeBron James

Alguém aí conseguiu dormir nas últimas 72 horas?

Miami Heat e San Antonio Spurs atingiram um nível de basquete neste histórico Jogo 6 das finais, com vitória para o time da Flórida, que é realmente complicado de discorrer a respeito. Daí um post simplório em primeiro lugar para questionar o quão imediatistas conseguimos ser, querendo comentar segundo a segundo, lance a lance uma partida que tem 48 minutos – ou 53, no caso da prorrogação que vimos na terça. Mania de julgar e martelar que não leva a lugar algum. Demora um tempo para digerir um jogo clássico destes:

Passadas seis partidas, o básico que sabemos sobre o confronto é o seguinte:

1) Não há muitos ajustes a serem feitos agora para o sétimo jogo – pelo menos aquele tipo de ajustes gerais de plano tático. Cada um já sabe o que esperar do outro, as cartas estão todas na mesa: virou um jogo de “small ball” contra “small ball”, mesmo, e vai ganhar o caneco aquele que executar com mais precisão; coisa que o Spurs fez por 40 e poucos minutos nesta terça-feira.

2) Por isso, dãr, Gregg Popovich deixou escapar uma enorme chance. Quando as equipes atingem seu ápice, o Miami é simplesmente melhor – e isso tem muito a ver com a capacidade atlética de seu elenco, mas, principalmente, pelo fato de ter LeBron James a seu favor. Difícil de imaginar como o Spurs poder ficar mais perto de uma vitória no sétimo do jogo do que já estiveram no duelo passado. Daí que…

3) O Miami Heat tem o momento psicológico todo a seu favor;

Oh, Manu, Where Art Thou?

Teria Manu mais um truque Jedi disponível?

Para o Jogo 7, a partir daí, ficam algumas outras perguntas:

– Será que o Miami pode, após tanto drama e esforço, abaixar a guarda? Levando em conta o histórico da equipe, será que o “momento psicológico” é realmente uma vantagem? Os atuais campeões se acostumaram a jogar da melhor forma nestes playoffs quando estão contra a parede, “desesperados”, como Erik Spoelstra gosta de falar. Há risco de entrarem extremamente confiantes e tomar um peteleco daqueles?

– Na bacia das almas, com muitos minutos jogados, os jogadores veteranos estão muito irregulares – com exceção de Tim Duncan; aqui estamos falando especificamente de Ginóbili e Wade. E aí, o que vai ser desses dois craques quebradiços? Qualquer atuação “para cima” de um deles pode ser o ponto decisivo para a derradeira partida.

– E o Ray Allen? Vem com tudo? O ala sofreu contra Bulls e Pacers de acordo com seus padrões, convertendo, respectivamente, apenas 23,5% e 34,5% de seus chutes de três pontos nessas séries. Contra o Spurs, porém, voltou a ser um matador implacável: 60%. Com Allen representando uma séria ameaça exterior, a defesa do Spurs fica em situação muito mais delicada. O mesmo vale para Shane Battier, que encestou cinco das suas últimas dez tentativas.

– Por falar em arremesso de três, Mike Miller vai acertar mais um descalço? : 0

– Tim Duncan ainda tem mais lenha para queimar? É meio inacreditável que o Spurs tenha desperdiçado daquela maneira um jogo de 30 pontos e 17 rebotes do pivô. Um pecado.  Num intervalo de dois dias o veterano conseguiria repetir um jogo vintage desses?

– Sabemos também que LeBron James consegue dar conta de Tony Parker, super-humano que é. E, uma vez que os ângulos de infiltração para o francês são fechados, os operários do Spurs se tornam menos eficientes. Pois não é necessária nenhuma dobra ou cobertura para conter o armador, fazendo com que a turma do perímetro fique mais grudada em seus respectivos alvos. Por isso era imperativo que Ginóbili jogasse minimamente bem, para que sua equipe tivesse outra via de escape ofensiva. Então… Para um último suspiro, por quanto tempo LeBron se dedicará a Parker?

– E a arbitragem? O padrão será mantido? O que vimos no sexto jogo foi, convenhamos, extremamente atípico: boa parte das jogadas polêmicas foram decididas a favor do time visitante e contra as superestrelas. Algo chocante até. LeBron mal podia acreditar. Foi contestado duramente em diversas infiltrações, e a juizada nem aí pra nada. Da mesma forma como aconteceu em cortes para a cesta de Duncan e Ginóbili do outro lado. Foi um jogo físico e solto. Esperemos que sigam nessa linha:  no turbilhão que cerca o próximo confronto, o emocional de todos será testado, inclusive o dos homens do apito.

– Será que esses dois timaços vão conseguir, de alguma forma, superar o que entregaram no Jogo 6?

Segura!


Quando até Gregg Popovich falha: o jogo que o técnico do Spurs deixou escapar
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Giancarlo Giampietro

Gregg Popovich

Gregg Popovich teve seu momento de Frank Vogel

A grande armadilha em que os maiores técnicos, de qualquer esporte, podem cair é pensar o jogo demais. Algo ue aconteceu até com Gregg Popovich nesta terça-feira.

Numa série tão equilibrada, com marretadas distribuídas dos dois lados, era natural que, para seu desfecho, as coisas se equilibrassem um pouco mais e fossem se decidir em pequenos detalhes, quiçá no finalzinho da partida. E, nos momentos derradeiros da partida o supostamente inabalável treinador do San Antonio Spurs deu uma senhora derrapada.

O primeiro erro: com uma vantagem de três pontos a menos de 30 segundos para o fim, não ter orientado seus jogadores a fazerem a falta, mandar o adversário para o lance livre, obrigando Erik Spoelstra e o chutador em questão a optarem por duas cestas e a tentativa de roubo de bola na pressão sobre a saída de bola, ou tentar aqueles rebotes ofensivos a partir de um erro intencional no segundo chute – algo que quase nunca dá em nada.

“Nós não fazemos isso”, afirmou Popovich em sua entrevista pós-jogo, minutos depois. Justamente ele, que nunca teve pudor de chamar o “Hack-a-Shaq” em quadra nos embates com o Los Angeles Lakers na década passada.

Ok, LeBron James não é Shaq. Mas seu aproveitamento nos lances livres na série é de apenas 74,2%. Ontem, ele desperdiçou três lances livres. Acabou jogando 50 minutos no geral, correndo atrás de Tony Parker. Pernas cansadas? Vai saber. Mas, mesmo que convertesse as duas bolas, o Spurs ainda teria um ponto de vantagem, talvez com cerca de dez segundos no cronômetro.

O grande temor nessas situações é que o defensor erre em seus cálculos e cometa a falta justamente no ato do arremesso – podendo até contribuir para uma jogada de quatro pontos. Aí, sim, seria um desastre. De qualquer modo, levando em conta toda a aplicação defensiva de Kawhi Leonard desde a primeira partida, talvez o jovem ala merecesse um voto de confiança nessa. Outra coisa que pode ter pesado: sem um pedido de tempo, o temor de se encurralar debaixo da cesta e fazer a uma reposição de bola arriscada diante de um time superatlético. Com a velocidade de Tony Parker, porém, não sei se o risco era tão assustador assim.

Popovich ficou na sua e pagou para ver se o Miami Heat conseguiria acertar o seu tiro de fora. Quando viu LeBron James optar por um tiro de três pontos forçado, quase frontal, por um instante deve ter achado que foi a decisão certa. Acontece que, naquela sequência incrível, Chris Bosh pegou o rebote ofensivo e passou para Ray Allen na zona morta. O veterano, um dos melhores arremessadores de todos os tempos, subiu e matou a bola, mesmo um pouco desequilibrado. Ka-bum. Prorrogação na cabeça.

E a coisa fica ainda pior quando nos antentamos a este trecho em específico: “Chris Bosh pegou o rebote ofensivo”.

Popovich teve seu momento de Frank Vogel também ao tirar Tim Duncan de quadra. Essa é realmente incompreensível.

A ideia era jogar com Boris Diaw, que, a despeito de seus sandubas a mais, tem um jogo de pés bastante veloz, capaz de se manter diante de seu oponente no perímetro. Isso facilitaria a contenção na linha de três pontos.  O mesmíssimo raciocínio de Vogel no Jogo 1 das finais do Leste, quando sacou Roy Hibbert – com a diferença de que, naquela partida, a cesta saiu em uma bandeja tranquila de LeBron.

Duncan não só é o melhor reboteiro da equipe, como um baita marcador, protetor. Durante toda a partida ele contestou as infiltrações do Heat de maneira impecável, usando toda sua envergadura e inteligência. Sem contar toda sua experiência. Ali pesava a seu favor, então, não só um currículo único mas o que estava fazendo naquela noite. Você realmente vai querer tirar um cara desses de quadra no momento em que o vital é impedir uma cesta?

Quando o chute de LeBron amassou o aro, a defesa interior do Spurs estava totalmente desequilibrada. Vejam aqui:

Antes de LeBron arremessar, reparem que ele faz o corta-luz para Mario Chalmers, e aí consegue se livrar de Kawhi Leonard, que teve de desloar para cobrir o armador pela esquerda. Aí já temos um cenário preocupante: com Tony Parker correndo para segurar LeBron, um tanto desorientado. Então, Chris Bosh sobe para fazer outro corta para LeBron, deixando o francês perdidinho. No fim, tanto ele como seu compatriota Diaw saíram para contestar o disparo. Aí que Bosh caminha COMPLETAMENTE livre para o garrafão, numa falha de Parker, que deveria ter ficado com ele e ao menos se intrometido em seu caminho em direção ao aro, ainda que, evidentemente, essa não fosse a melhor pedida.

Teria Duncan se posicionado de melhor forma ali? Ou será que ele estaria no mesmo lugar que Diaw na linha de três pontos, e Bosh sempre deslizaria com liberdade para apanhar o rebote? Não dá para adivinhar. Na frieza dos fatos, do que aconteceu, só dá para dizer que Popovich se meteu em uma tremenda enrascada que pode ter lhe custado o título.


Em uma partidaça, Miami Heat vence Spurs e força o sétimo jogo. Relaxe e desfrute
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Giancarlo Giampietro

LeBron, assim mesmo

LeBron, sem bandana mesmo: triple-double, defesa sobre Parker, e talvez não seja o suficiente?

Depois de um dos grandes jogos, dos maiores que já vimos, você vai dizer o quê?

Com nossa preocupação – ou despreocupação – em querer avaliar tudo a cada instante, todo detalhezinho que seja, em tempo real, gênios que somos, depois do que vimos nesta madrugada de terça para quarta-feira, vamos falar exatamente o quê?

QUEM amarelou?

QUEM é o culpado?

Há realmente espaço para esse tipo de coisa ainda?

(Ainda mais levando em conta o contexto do que se manifesta pelas ruas das capitais e capitais do país nestes últimos dias?)

Depois do espetáculo apresentado neste sexto jogo das finais da NBA, com o Miami Heat tirando forças no quarto período para forçar uma dramática-ática-ática prorrogação, garantindo a vitória por 103 a 101, e agendando sétima partida, volta a pergunta: você vai dizer o quê?

Vai julgar quem desta vez?

Diabos.

De antemão, deixem LeBron James e seu triple-double (“apenas” 32 pontos, 11 assistências, 10 rebotes e 3 roubadas) em paz – durante 36 minutos, ele já estava incluso burroneamente, novamente na lista dos fracassados históricos da liga. Aí termina o jogo e como é que fica?

Assim como Kawhi Leonard (22 pontos e 11 rebotes!!!) e seu lance livre perdido no final do tempo regular, que poderia ter feito toda a diferença na contagem final, antes da bola. Em alguma realidade alternativa seu chute de lance livre caiu. Só não foi nesta que, por acaso, seguimos. E agora temos um Jogo 7 já histórico para acompanhar.

Vale o mesmo para Pop, Spo, Wade, Parker, Splitter ou Bosh (justo ele, com seus dois tocos decisivos!)… Não pensem que estes caras todos estão de bobeira.

Antes de martelar, de julgar, de sabe-se lá o quê…

Apenas desfrutem.

*  *  *

Twitter é legal, mas é um saco ao mesmo tempo.

*  *  *

Dou um jeito de voltar aqui nesta quarta ou quinta-feira cedinho para discutir um pouco mais do Jogo 6 e falar do Jogo 7. É que a agenda tá apertada pacas. Mas só para reforçar: o que vimos nesta terça foi uma das melhores partidas da NBA – e do basquete, doa a quem doer – em muito tempo. Dois times bem armados, testados, após batalhas e batalhas. A essa altura, dá pra dizer que o mais preparado é o Spurs. Mas o talento do Heat é tamanho que deixa tudo muito imprevisível. Ray Allen não estava matando nada, nada. Mas quem duvidaria de que ele seria capaz de acertar aquele chute. naquela hora? Ninguém. E foi um petardo de chuá. Que deixa o momento psicológico da série todo voltado para o time da Flórida. Mas não dá para fazer prognóstico algum para o jogo decisivo do confronto. Quem vai reagir como? É aguardar para ver. O lance, mesmo, é esperar um grande jogo. É deixar as infantilidades de lado e embarcar nessa. Há muitos detalhes para se consumir antes: se Manu Ginóbili vai conseguir responder (de novo e de novo)?; se Dwyane Wade consegue jogar por mais de um tempo ainda; se o chute de 3 pontos de Miami vai cair com esta frequência; se Danny Green vai reagir para se manter na briga pelo prêmio de MVP; se Mario Chalmers conseguirá se manter efetivo; etc; etc; etc.


Cada jogo é uma história: Spurs devolve marretada contra Heat e volta a liderar as finais
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Giancarlo Giampietro

Danny Green on fire

Green matou 14 de 17 chutes de fora em 3 jogos de série (70,8%);  galera vibra

“Seven Nation Army”, do White Stripes. A música é boa demais, uma das melhores dos anos 00’s. O melhor riff, provavelmente. Mas, no esporte, já estava popularizada pelas torcidas de futebol europeias. Quem começou primeiro a gente não sabe. Provavelmente algum grupo de fanáticos ingleses, também afeitos ao rock. Daí que, quando o Miami Heat decide incorporá-la ao seu ritual de introdução das partidas dos playoffs, fica uma sensação meio contraditória: por um lado, continua sendo uma sonzeira; por outro… Ficou batido, né? Por isso, brotar agora desta cultura “oba-oba-viva-Miami” não era de se estranhar.

Daí que, no finalzinho do Jogo 3, a ironia não podia passar despercebida: o inspirado DJ do AT&T Center mandou ver com o superhit de Jack White, e os torcedores fizeram o coro. Mas muito mais por ironia do que qualquer outra coisa: a farra do Jogo 2 promovida pelos jogadores em quadra e levada adiante pelo público não iria passar batida para um grupo de torcedores tão acostumados a playoffs e decisões como os do Spurs.

Nesta terça-feira, então, quando a marretada no jogo foi devolvida, sobrou espaço para a tiração de sarro. San Antonio 113, Miami 77, e os texanos novamente liderando a série final da NBA 2012-2013.

O desafio para a tropa de Gregg Popovich, agora, é de fugir do mesmo clima de euforia em que os astros do Miami embarcam facilmente. Cada jogo num confronto de mata-mata tende a ser uma história. O placar geral está apenas em 2 a 1 – e, não, 120 a 70.

Até porque o Heat ainda não perdeu duas partidas seguidas nesta fase decisiva. Em geral, depois de uma derrota, se acostumaram a responder com autoridade. Tal como fizeram no segundo embate em casa.

Reservas do Spurs também comemoram

O banco do Spurs dessa vez pôde jogar pelos motivos certos, com seu time aplicando a surra

Há diferenças para serem destacadas, contudo. Entre eles o fato de os atuais campeões serem agora os forasteiros, jogando numa terra que parece ensandecida por conta do retorno de seus cowboys aos grandes duelos, aqueles que importam, que valem título. E, talvez mais importante, do outro lado está Gregg Popovich, que sabe administrar muito bem o ego de seus atletas.

Claro que o Coach Pop não entra em quadra para fazer o serviço, e por vezes é muito difícil jogar contra o Miami Heat, como ficou comprovado no terceiro período do Jogo 2 – quando eles criaram o caos em quadra e atropelaram os oponentes no contra-ataque. Acontece que, neste Jogo 3, a turma de LeBron se viu do outro lado da surra, e uma surra aplicada de modo diferente, na mesma terceira parcial.

O Spurs, com a participação consciente  de Tiago Splitter, voltou a ser uma das melhores defesas da liga, mas seu modo de proteger a cesta vem sendo muito mais cerebral do que físico, especialmente nesta série. Eles não investir necessariamente em abafar as linhas de passe, ou em acuar os armadores  com dobras assustadoras – ainda que os turnovers  do Heat tenham ocorrido – 16 no total, permitindo 20 pontos no contragolpe.

Muitos desses desperdícios, porém, aconteceram com os visitantes já grogues, desestabilizados diante de um time que estava muito mais aplicado taticamente e empenhado em fazer as pequenas coisas vitoriosas. Os anfitriões apanharam 19 rebotes ofensivos, salvaram inúmeras bolas que não estavam tão perdidas assim e não pararam de se mexer no ataque buscando o melhor espaçamento e a melhor posição para o chute.

E como esses chutes caíram. Foram 43 cestas de quadra (com aproveitamento de 48,9%), com 16 delas de três pontos (50% na mira, incrível). O estrago maior no ataque ficou por conta novamente do ala Danny Green, que somou 27 pontos, com sete chutes de longa distância, e do ala-armador Gary Neal, que marcou 24 pontos, com seis tiros de fora. Neal, na verdade, merece muito mais destaque por ter aprontado muito mais quando a partida ainda estava em aberto, anotando alguns arremessos com pura confiança, a mais de um passo da linha de três, enquanto Green acertou quatro dessas já no período final, quando Erik Spoelstra ainda teimava em manter seus titulares em ação por muitos minutos desnecessários, sem preservá-los como fez Pop no confronto anterior.

Ao menos eles já estavam sentados quando a música começou…

*  *  *

O Spurs aniquilou o Heat com apenas seis pontos e oito assistências de Tony Parker em  27 minutos. Só não dá para imaginar que a equipe de Popovich vá ter vida fácil assim em caso de o armador virar desfalque para a continuidade da série, por mais que Neal venha de uma noite mágica e que Manu Ginóbili tenha mais acertado que errado,. Mais do que entender o que acontece com LeBron James, o fato mais urgente da decisão se tornou a ressonância magnética pela qual ele vai passar nesta quarta de manhã em San Antonio. O armador francês foi retirado de quadra por um breve período para ser examinado no vestiário, sentindo dores na coxa e afirmou que sua presença no Jogo 4, na quinta-feira, ainda é incerta.

*  *  *

A essa altura, a pergunta já é válida: estaria LeBron James exausto fisicamente ou realmente tão incomodado assim com a defesa do Spurs e a postura de sempre-alerta de Kawhi Leonard? Acabou o gás ou talvez ele simplesmente ainda não tenha encontrado a melhor forma de lidar com a formação de barricadas promovida por Popovich para desencorajá-lo que a vá para a cesta? De modo que o cara perdeu toda a agressividade e ritmo no ataque, pensando demais no que fazer com a bola, hesitando. E, por favor, não confunda isso com “amarelar”: esse tipo de polêmica pela polêmica não vai ter espaço aqui.  No primeiro jogo em San Antonio, o superastro somou 15 pontos, 11 rebotes e 5 assistências, em 39 minutos de esforço em vão, acertando apenas 7 de 21 arremessos (33%). Quer dizer, novamente conseguiu números que seriam uma dádiva para qualquer jogador medíocre. Mas o pior é que estes números não contam muita coisa do que foi sua história no jogo, especialmente antes de marcar 9 pontos em sequência no terceiro período, quando tinha apenas quatro anotados até, então. O esforço de Kawhi Leonard e o apego ao plano  tático dos demais companheiros co Spurs é louvável, mas chegou a hora de o craque e Spo repensarem o modo como reutilizar seus diversos talentos.