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Os Mercenários 4: a luta pelo EuroBasket
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Giancarlo Giampietro

Os Mercenários, The Expendables

Uma das séries mais cara-de-pau que você vai encontrar nos cinemas, “The Expendables” — ou “Os Mercenários”, por aqui — já tem seu quarto episódio anunciado e, talvez, em fase de produção, com um ator no mínimo curioso escalado para o papel de vilão: o ex-007 Pierce Brosnan, que definitivamente não tem moral na quebrada, como o esnobado Idris Elba. Não se sabe ainda muito qual será o enredo, mas você não precisa ser muito bidu para deduzir, né? O filme serve apenas para Sylvester Stalonne fazer mais um troco, enquanto enumera piadas com antigos e novos heróis dos filmes de ação, que tanto bombaram nas locadoras dos anos 80.

O VinteUm só vem aqui pedir uma coisa: não dê atenção aos rumores de que a nova trama de Sly possa envolver o EuroBasket a que estamos assistindo agora, mesmo, a despeito dos diversos jogadores de aluguel que as seleções nacionais estão empregando. Vale tudo em busca do título, da vaga olímpica e de uma eventual festa com multidão nas ruas no retorno para casa. Acredite, na Europa isso é possível até mesmo para o basquete. No caso de alguns atletas, porém, a gente só não sabe exatamente para qual casa ele estará voltando.

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O competição europeia está em outro nível, ainda mais quando comparada com a pobrinha Copa América. (Conselho: só não usem esses termos na hora de bater um papo com a turma da CBB, tá? Você vai ferir sentimentos). A França já penou para ganhar da Finlândia, na prorrogação, e quase viu a Polônia também forçar o tempo extra. A Lituânia nem sabe o que dizer depois de perder para a Bélgica neste domingo. Tem sido assim, gente, há um tempo já.

Renfroe nunca jogou na Bósnia. Mas é bósnio

Renfroe nunca jogou na Bósnia. Mas é bósnio

A coisa de não ter mais bobo foi levada ao extremo por lá. E o que acontece quando se vive um campeonato tão competitivo assim? Tal como acontece na NBA — a não ser que estejamos falando do Philadelphia 76ers, claro –, os times vão se desdobrar para tentar levar vantagem em algum detalhe, uma sacada que seja, tentando se distanciar de um largo grupo de concorrentes. É nesse contexto que entram os mercenários, aqueles jogadores contratados naturalizados, que já são a norma no mundo Fiba hoje, em vez da exceção.

Os norte-americanos estão por todos os lados. Tem hora que você pode até mesmo se confundir se não está vendo a própria Copa América, ainda mais quando a Finlândia pode por em seu quinteto titular os seguintes nomes: Erick Murphy, Jamar Wilson e Gerald Lee. Ainda assim, calma. Porque esses três atletas em específico até nos contam histórias que justificam sua presença no selecionado dos #Susijengi. Lee, na verdade, é finlandês. Murphy tem mãe finlandesa. Wilson já jogou por lá. Existem outros atletas que simplesmente acompanham movimentos migratórios que claramente independem do esporte. Há, porém, casos descarados, como o do armador Jerome Randle na Ucrânia, do ala Alex Renfroe na Bósnia-Herzegovina, em que o único vínculo existente é o passaporte expedido, ou comprado, como queiram.

Na Finlândia, tem festa antes mesmo da viagem

Na Finlândia, tem festa antes mesmo da viagem

A Fiba, do seu lado, é extremamente conivente com algumas situações que são vergonhosas e podem causar desequilíbrio e/ou bagunça em suas competições. Basta dar uma olhada na grande piada que é o texto de seus regulamentos a respeito. Chega a ser difícil de entender, já que cada regra aparentemente firme vem quase que obrigatoriamente acompanhada por um “mas” ou “com exceção de”.  Este parágrafo acaba dando o recado geral: “No entanto, em circunstâncias excepcionais, o Secretário Geral pode autorizar que determinado atleta jogue por uma seleção para a qual esteja inelegível se, de acordo com o artigo 3.23 e se essa decisão zela pelo desenvolvimento do basquete nesse país”. Traduzindo: pode tudo. E o mais engraçado é o complemento: “Uma taxa administrativa decida pelo Secretário Geral pode ser paga à Fiba”. A federação, claro, ainda arruma um meio de faturar uma grana. Tudo em prol do progresso da modalidade, claro.

No ritmo do bumba-meu-boi, seguem, então, os mercenários do EuroBasket, devidamente catalogados. De 24 seleções nacionais, apenas Eslovênia, Estônia, Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Rússia e Sérvia (sem contar os jogadores nascidos em territórios balcânicos fronteiriços…) não estão fazendo uso de reforços estrangeiros:

Anton Gavel, versão eslovaca

Anton Gavel, versão eslovaca

Alemanha: Anton Gavel, armador.
País de origem: Eslováquia
Categoria: homem de duas pátrias.
Jogou por outra seleção? Sim.
Vínculo: ele mora em território alemão desde 2000. Ganhou o passaporte em janeiro de 2013. Embora tenha defendido a seleção eslovaca em 2005, 2007, 2009, 2011 (sempre pela Segunda Divisão do EuroBasket) e até mesmo dois anos atrás, na qualificação para o torneio, pediu à Fiba para que pudesse mudar de nacionalidade em competições internacionais. “Já joguei por meu país nativo no passado, mas gostaria de jogar pela Alemanha, o país que virou minha segunda casa”, afirmou o atleta do Bayern de Munique. Em agosto, recebeu o sinal verde da federação.

Com a modalidade em franca expansão em seu território, é de se imaginar que a confederação germânica não vá apelar a esse tipo de expediente num futuro próximo, mesmo que Dirk Nowitzki esteja nas últimas. Chris Kaman já foi um desses reforços meio mambembes no passado, depois que descobriram que um de seus avós era alemão. Bom defensor, Gavel tem média de 25,5 minutos pela seleção alemã em duas partidas até o fechamento deste texto. Acertou apenas quatro de 12 arremessos de quadra e 1 de 8 de longa distância. A ironia é que, soubesse o técnico norte-americano Chris Flemming que teria tantos desfalques em sua linha de frente, talvez o país fosse procurar algum pivô para naturalizar.

Bélgica: Matt Lojeski, ala
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: antes de se transferir para o poderoso Olympiakos, Lojeski jogou no basquete belga por seis temporadas, período no qual obteve cidadania. Foi pelo Oostende que ele arrebentou:  Nesse período, levando em conta seu sobrenome, é de se deduzir que algum país do Leste europeu deu bobeira. conquistando duas copas e dois campeonatos belgas, sendo eleito MVP de ambas as competições em 2013.

Americano pouco badalado nos tempos de universitário, Lojeski se tornou um cestinha de primeira linha na Europa e é importantíssimo para a seleção belga. Na verdade, é seu melhor jogador, com média de 16,3 pontos, 4,0 rebotes e 3,3 assistências em três rodadas e aproveitamento de 59,4% nos arremessos de quadra, incluindo 50% dos três. No domingo, protagonizou um dos grandes momentos da competição até o momento, fazendo a cesta da incrível vitória sobre a Lituânia, que deixou o Grupo D bastante embolado.

E o que mais? A Bélgica ainda conta com três jogadores nascidos no Congo: o armador Jonathan Tabu, o ala Wen Mukubu e o pivô Kevin Tumba. Tabu foi revelado pelo Charleroi e Tumba, pelo Mons-Hainaut. Já Mukubu cresceu nos Estados Unidos, jogando high school e no basquete universitário. Aos 33 anos, já rodou o mundo e só em 2011 chegou à Bélgica.

Bósnia-Herzegovina: Alex Renfroe, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: hã… Nenhum, gente. Hoje atleta do Bayern de Munique, aos 29 anos, Renfroe construiu seu currículo aos poucos na Europa, à qual chegou em 2009, via Letônia. Passou por Croácia, Itália, Espanha, Alemanha, Rússia, voltou à Espanha e, na temporada passada, regressou à Alemanha, onde fez bela temporada pelo Alba Berlin. Nunca defendeu um clube de seu novo país e, ainda assim, recebeu o passaporte bósnio neste ano para poder jogar o EuroBasket, desbancando o compatriota Zach Wright, que havia disputado o torneio em 2013.

Num time sem Mirza Teletovic e Jusuf Nurkic, não havia muito o que fazer, mesmo. De todo modo, para justificar seu passaporte, Renfroe topou se matar por Dusko Ivkovic nos treinos. Titular na armação, tem médias de 9,3 pontos, 5,3 assistências e 5,0 rebotes, matando 71,4% dos arremessos de fora. É um armador que não estrela jogadas espalhafatosas, mas dá estabilidade ao ataque.

Croácia: Dontaye Draper, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Draper foi outro que viajou bastante antes de conhecer a Croácia de perto. Jogou pelo Cedevita Zagreb de 2010 a 2012 e durante esse período ganhou a cidadania. Pelo clube croata, fez sucesso e foi MVP da Eurocup 2011. Sua cotação subiu tanto que, de lá, saiu para o Real Madrid. Hoje ganha uma bolada pelo Lokomotiv Kuban, da Rússia. Jogou os últimos dois EuroBaskets.

Draper, um dos dois armadores americanos para a seleção croata

Draper, um dos dois armadores americanos para a seleção croata

Aqui, talvez a maior heresia. A seleção croata importando um armador dos Estados Unidos. E só piora: na verdade, Draper dessa vez foi chamado de última hora. Sua vaga seria ocupada por Oliver Lafayette, que se lesionou durante a fase de preparação e defendeu o país na última Copa do Mundo. Ao contrário do compatriota, Lafayette jamais jogou por um clube croata. O mais perto que chegou do país foi pelo Partizan Belgrado. Ai. Ainda assim, teve sua nacionalização bancada pelo comitê olímpico croata, com base em “interesses esportivos”. Então tá. Curiosamente, Draper teve média de apenas 13 minutos por partidas nas duas primeiras rodadas. Precisava?

Espanha: Nikola Mirotic, ala-pivô
País de origem: Montenegro.
Categoria: homem de duas pátrias.
Vínculo: olha, é difícil descrever em detalhes a novela espanhola da qual faz parte Mirotic, que se mudou para Madri, para jogar pela base do real em 2005, aos 14 anos. Somente em 2010, porém, que foi naturalizado. Quando os dirigentes já sabiam que estavam lidando com um craque, diga-se, sendo obrigado a renunciar a seu passaporte montenegrino. Naquele ano, foi destaque do EuroBasket Sub-20, levando a medalha de bronze. Voltaria a jogar pelo torneio em 2011, sendo dominante.  Desde, então, porém, chegou a bater boca publicamente com os dirigentes espanhóis, afirmou que voltaria a Montenegro e tudo o mais, enciumado pela preferência dada a Serge Ibaka em verões passados. Não deixa de ser vergonhoso que um país que se orgulhe tanto de sua produção de talentos desde as Olimpíadas de 1992 apele desta maneira.

Mirotic, MVP do EuroBasket sub-20 em 2011. Sem barba

Mirotic, MVP do EuroBasket sub-20 em 2011. Sem barba

Com Ibaka afastado por divergências esportivas, digamos, Mirotic enfim foi convocado para uma competição internacional. Está a serviço de uma grande seleção, porém, com minutos controlados numa rotação que inclui seu companheiro de Chicago, Pau Gasol, e seu ex-parceiro de Real, Felipe Reyes. Demora um pouco para ele se soltar, mas é de se esperar que um talento desse nível eventualmente vá causar grande impacto pela seleção espanhola. Para um futuro sem Gasols, deve se tornar a referência do time.

Finlândia: Erik Murphy, ala-pivô, e Jamar Wilson, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categorias: descendente e pagou pedágio.
Vínculo: a história de Murphy, ex-jogador do Chicago Bulls e hoje no Beskitas, é simples: sua mãe, Päivi, é finlandesa. Por isso, no futuro, dependendo de seu conturbado desenvolvimento na NCAA, pode ser que o irmão caçula, Alex Murphy, também entre para essa alcateia. Erik já disputou no ano passado a Copa do Mundo. Natural do Bronx, Wilson se formou por Albany em 2007 e partiu para a Europa. Jogou na Bélgica de 2007 a 2010, quando migrou para a Finlândia. Ficou uma só temporada na liga escandinava, jogando pelo Honka Espoo Playboys. : ) Talvez traumatizado com o frio, arrumou as malas e se mandou para a Austrália, onde jogou até este ano. Agora, assinou com o Rouen, da França.

Murphy já virou O Cara. Como se escreve isso em finlandês?

Murphy já virou O Cara. Como se escreve isso em finlandês?

Depois de um ano de adaptação, Murphy já se tornou o cestinha finlandês, com 16,7 pontos, e também o principal reboteiro, com 9,0, em 32 minutos. Wilson joga exatamente a metade, mas ajuda Petteri Loponen na armação, com 9,7 pontos e 2,0 assistências.

Geórgia: Jacob Pullen, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: fora o passaporte, nenhum. Não fosse a lesão sofrida por Ricky Hickman pelo Fenerbahçe, talvez nem estivesse aqui, embora já tenha disputado a edição de 2013. Estrela de Kansas State de 2007 a 2011, Pullen foi bem examinado pelos scouts americanos, mas não teve propostas da NBA. Está vagando pela Europa há um tempo, então, tendo descolado inclusive um contrato do Barcelona. Ficou pouco tempo, porém, na Catalunha e, após o EuroBasket, vai defender o Cedevita Zagreb.

Pullen é um belo arremessador, mas não acertou quase nada nas duas primeiras partidas. Foram apenas duas cestas de quadra em 12 tentativas. Zaza Pachulia e a Geórgia obviamente esperam que ele renda mais para que tentem se recuperar no torneio e alcançar a fase de mata-matas.

Grécia: Nick Calathes, armador, e Kosta Koufos, pivô
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: descendentes.
Vínculo: os bisavós de Calathes emigraram da Grécia para os Estados Unidos. Seu avô nasceu já nasceu em Nova York em 1926. Já um jogador de destaque pela Universidade da Flórida, o armador se aproveitou da facilidade de se obter a cidadania grega e se mandou para a Europa em 2007, assinando com um clube do porte do Panathinaikos. Com altos e baixos na NBA, sempre numa luta ferrenha por tempo de quadra, decidiu voltar ao clube para a próxima temporada, num contrato que vai lhe pagar, líquido, US$ 7 milhões. Presença constante na seleção helênica. Já Koufos tem pais gregos e talvez represente minha trívia predileta. Ele nasceu em Ohio e e fez o circuito básico de um prospecto americano. Nunca jogou por um clube europeu, tendo recusado uma proposta do Olympiakos de 5 milhões de euros por três anos. O pivô não defendia a seleção desde 2011, mas também participou de torneios de base pelo país.

A presença de Calathes e de Koufos faz da Grécia um dos elencos mais completos e vastos do EuroBasket. O excesso de jogadores ajuda que tenham minutos controlados. O armador ficou 41 minutos em quadra nas duas primeiras rodadas, enquanto Koufos jogou 37. O pivô, em especial, é um grande reforço, sendo um defensor muito mais atento e eficiente que Bourousis. Além disso, tem arremesso de média distância.

Holanda: Nicolas de Jong e Robin Smeulders, pivôs
Origem: França e Alemanha.
Categorias: descendentes e o mais puro samba do crioulo doido.
Vínculo: ah, a Europa, e suas múltiplas fronteiras e curtas distâncias. Temos aqui um time cheio de “estrangeiros”, mas que, na verdade, têm escalação mais coerente do que a da maioria dos atletas aqui listados. Vamos lá: Nicolas de Jong nasceu na França, com pai holandês, e fez carreira por lá. Já Smeulders tem mãe austríaca e pai holandês, mas nasceu em Muenster, na Alemanha. Por isso, tem tripla nacionalidade. Para complicar, passou a infância entre terras germânicas e holandesas, fez colegial no Havaí e se formou pela Universidade de Portland em 2010. Como profissional, jogou sempre na Alemanha e hoje defende o Oldenburg. Para completar, o ala Worthy de Jong e o armador Charlon Kloof vieram do Suriname, então nem contam, enquanto  Mohamed Kherrazi nasceu no Marrocos, mas emigrou cedo. E eu, inicialmente, achando que o armador Leon Williams era o gringo aqui. Apesar do nome, nasceu na Holanda, mesmo.

Smeulders tinha três países para escolher em sua carreira Fiba

Smeulders tinha três países para escolher em sua carreira Fiba

Numa equipe surpreendentemente competitiva, esses caras jogam todos. Kloof foi o cestinha nas duas primeiras rodadas, com 31 pontos em 28 arremessos. Um baita de um fominha, pelo jeito. De resto, os números e os minutos são bem divididos entre dez homens de rotação.

Israel: D’Or Fischer, pivô
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: o pivô revelado pela tradicional Universidade de West Virginia em 2005 tem contrato assinado com o Hapoel Jerusalem para a próxima temporada. Mas esta não será sua primeira passagem pela liga israelense. Por dois anos, entre 2008 e 2010, ele jogou pelo Maccabi Tel Aviv. Seu passaporte, porém, só saiu no ano passado, garantindo participação no torneio de classificação para o EuroBasket.

Num país sem muita mão-de-obra qualificada, Fischer aparece como peça de apoio valiosa ao trio Casspi, Mekel e Eliyahu, especialmente num setor muito carente como o garrafão. Sua contribuição é na proteção de aro, jogando na cobertura de alas talentosos ofensivamente, mas que nunca tiveram a defesa como ponto forte. No ataque, depende da criação dos outros e costuma produzir com eficiência, mas sem muito volume. Não é algo que faça falta nessa seleção.

Macedônia: Richard Hendrix, pivô
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: ao sair do high school, o pivô natural do Alabama era considerado umas das principais apostas de sua geração. Embora tenha sido muito produtivo na universidade, viu sua cotação com os scouts profissionais se esvair aos poucos. Draftado em 2008, foi mandado para diretamente para a D-League. Em 2009, cruzou o Atlântico em busca de salários mais compatíveis com o seu talento. Mas, não: assim como o armador Bo McCalebb, que pediu folga este ano, nunca jogou por um clube da Macedônia.

Sem McCalebb e sem Pero Antic, o técnico Marijan Srbinovski optou pela nacionalização de um pivô. Hendrix pode fazer de tudo um pouco pela seleção, embora seja no rebote em que ele se destaca mais. De todo modo, seu rendimento no EuroBasket vem sendo bastante tímida, longe de justificar sua contratação.

Polônia: AJ Slaughter, ala
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: É… Mais um que, se pisou na Polônia antes de receber o passaporte, foi para jogar como visitante, já que defendeu clubes da Itália, da França e, por último, o Panathinaikos em uma carreira europeia que se iniciou em 2010. Agora vai jogar pelo Banvit, emergente turco. Ocupa a vaga que já foi do veterano David Logan.

Slaughter fez seu nome no mercado europeu como um cestinha atlético e agressivo, de primeiro passo explosivo rumo ao aro. Pelo Panathinaikos, porém, em sua estreia pela Euroleague, não teve das campanhas mais produtivas. Em uma seleção que já conta com cestinhas fogosos e jovens como Adam Waczynski e Mateusz Ponitka, parece ter sido um reforço um tanto redundante.

República Tcheca: Blake Schilb
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Schilb ao menos usou o basquete tcheco para se inserir no mercado europeu, quando deixou quando deixou a Universidade de Loyola (Illinois) para jogar pelo CEZ Nymburk, principal equipe do país. Foi bicampeão tanto da liga como da copa em 2008 e 2009. Saiu, então, para a França, onde jogou por seis anos. Acabou de assinar com o Galatasaray.

Schilb está na seleção tcheca para arremessar

Schilb está na seleção tcheca para arremessar

Schilb é uma das contratações que mais deu certo nesta primeira fase. Dá poder de fogo e aparece como uma terceira força muito bem-vinda à seleção que, hoje, conta com basicamente dois atletas na elite europeia: Jan Vesely e Tomas Satoransky. David Jelinek não vingou como o esperado e Jiri Welsch e Lubos Barton já estão bem próximos da aposentadoria.

Turquia: Bobby Dixon, armador
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Você pode chama-lo de Robert Lee Dixon, Bobby ou, agora, de Ali Muhammed, desde que retirou seu passaporte turco há questão de semanas. O baixinho e veterano de 32 anos já está na Europa desde 2006, tendo alternado basicamente passagens por França e Itália. Foi na Turquia, todavia, em que se encontrou como estrela, vestindo a camisa do Pınar Karşıyaka, mais uma equipe que vem fazendo sucesso por aquelas bandas, se classificando para a Euroliga. Vindo de ótimas campanhas, foi contratado pelo Fenerbahçe.

Dixon, mas também pode chamar de Muhammed

Dixon, mas também pode chamar de Muhammed

Entre todos esses reforços, é sem dúvida aquele que está causando maior impacto, assumindo as rédeas de uma seleção cheia de alas e pivôs talentosos e experimentados, mas que tinha armação no mínimo suspeita. Vem pecando nas finalizações, mas consegue acelerar o ataque de Ergin Ataman com bom controle de bola, colocando Ilyasova, o jovem Cedi Osman e o irregular Semih Erden para jogar.

Ucrânia: Jerome Randle, armador
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: depois de ser dispensado pelo Dallas Mavericks em 2011, Randle circulou por aí. A Turquia foi seu destino mais frequente, mas a Ucrânia não esteve entre suas escalas.  Em entrevista ao Deadspin, o baixinho deixa bem claro o que está em jogo para ele no EuroBasket: sem contrato, quer ganhar projeção internacional e um salário generoso na próxima temporada. Quem sabe na NBA, sua obsessão?

Sem Jeter, Alex Len, Gladyr, Mykhailiuk, Pecherov e Kravtsov, a seleção ucraniana não entrou em quadra com as melhores perspectivas. Com tantos desfalques, incluindo Eugene “Pooh” Jeter – que foi, inclusive, um dos responsáveis por sua contratação –, Randle sabe que vai ter minutos e espaço suficiente num grande palco para tentar impressionar os scouts. No ataque, a prioridade é toda de Randle, que vem liderando o time em pontos, arremessos, assistências – e turnovers. É o suficiente para impressionar alguém?

Por isso, topou jogar de graça por um país abalado pela guerra interna. “Não há dinheiro investido na seleção nacional este ano porque eles têm muito mais com o que se preocupar. As coisas que ouvi dos jogadores… É algo muito ruim. Quando falam a respeito, você percebe a tristeza. Então, para mim, levo isso como um desafio pessoal. Quero tentar animá-los de alguma forma”, afirmou. Ao menos isso, né?


Oscar Schmidt e suas histórias maravilhosas no Hall da Fama
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Giancarlo Giampietro

Oscar & Bird

Oscar e seu padrinho Bird no Hall da Fama. História para quem puder ouvir

De uma coisa vocês podem ter certeza: nunca nenhum integrante do Hall da Fama do Basquete treinou tanto para fazer seu discurso de introdução como Oscar Schmidt. Afinal, poucos desses se tornaram um palestrante de mão cheia, e santa, conforme o legendário cestinha brasileiro conseguiu.

Para quem não sabe, distante – ou afastado – do basquete, o ala tem uma das palestras mais concorridas e caras desse circuito que virou uma indústria própria no país e no globo. Os americanos, claro, nem contavam com isso. Daí que, quando aquela figura imensa subiu ao palanque de boina, acompanhado por ninguém menos que Larry Bird, poucos podiam imaginar que se iniciaria um derivado de stand up com duração de 17 minutos.

Quer dizer: como em Indianápolis-1987, novamente Oscar pegou os americanos de surpresa.

Usando de seus seus trejeitos e retórica típicos, treinados por anos e anos e apenas traduzindo para o inglês, Oscar contou alguns dos causos que já havia ensaiado bem durante os anos em que encarou plateias diversas e, além do mais, em suas mais recentes entrevistas. Dominou a sala, usando até Pat Riley como um degrau para suas piadas. Coragem! ; )

O “Mão Santa” falou de como queria ser jogador de futebol até ser convencido pela família a migrar para o basquete, deu suas explicações sobre como não topou jogar na NBA – embora tenha supostamente humilhado Charles Barkley em jogos das ligas de verão de 1984 –, falou com todo o orgulho sobre o ouro no Pan, tirando mais uma lasquinha dos locais, relembrou Marcel, Ary Vidal, Mortari e terminou por agradecer aos familiares, especialmente a esposa, sua “máquina pessoal de rebotes”, arrancando gargalhadas. De como se convenceu de aquela era a “prometida” quando topou por semanas e semanas ajudar em seus legendários treinamentos. “Não tem ninguém que treinou mais”, fala, sem se cansar de repetir.

Tem uma coisa nessa história que é deveras interessante e que supera qualquer fronteira sensorial de tempo-espaço. Assim como nos tempos de quadra, quando superou barreira dos 40 anos perseguindo um recorde aparentemente inatingível – o de maior cestinha do basquete, acima de Kareem Abdul-Jabbar. Não havia limites para a capacidade que tinha para encestar.  Da mesma forma, quiçá, que se aplicam suas histórias hoje.

Para os jornalistas, analistas – com ou sem pedigree, background –, a pior armadilha é se levar apenas pelas memórias e emoção, deixando qualquer senso crítico de lado. Recorrer aos números, aos títulos, aos fatos, ao que rodeou a carreira de um jogador nunca será demais. Nunca.

Oscar ao ataque

No caso do camisa 14 da seleção brasileira (daqueles poucos que roubou, eternizou um número para si no baquete Fiba), tudo isso fica um pouco mais difícil, ainda que, no geral, seus números sejam espetaculares. Como tudo no Brasil nesses dias, há duas facções que se enfrentam quando Oscar é o assunto.

Antes de mais nada: a arte de analisar estatísticas não é concreta, definitiva de modo algum. Mesmo as mais avançadas de hoje, pelo simples fato de que elas não consideram jamais, de maneira total, quem está em quadra com determinado jogador, quem está por ali do outro lado e o que está em jogo em um determinado minuto. Você pode ajustar, conflitar a gama de dados mais larga possível, mas isso nunca vai se tornar uma ciência exata. Ainda mais quando falamos de tempo já tão distantes, como os anos 80, auge do brasileiro.

De modo que o que nos resta são os pontos de vista. Treinadores, companheiros, adversários, jornalistas, torcedores, espectadores. E do próprio Oscar. Em primeira pessoa, Oscar não foi nunca alguém de abaixar a cabeça. Pelo contrário. Dentro e fora de quadra, enfrentou, enfrenta, doendo em quem pudesse doer. Nas últimas entrevistas, tem falado sem hesitação alguma: dominaria na NBA, fazia o que queria em quadra, foi um dos maiorais e poucos podiam contestá-lo.

Por outro lado, as críticas que perduraram durante – e, principalmente, após – a carreira do Mão Santa são também igualmente inesquecíveis: não marcava ninguém, não venceu o que realmente importava, não marcava ninguém, não passava a bola nem sob decreto, não marcava ninguém e não fazia de seus companheiros melhores jogadores em quadra e que, ao ser celebrado apesar de tudo isso, seria responsável por uma herança maldita (hoje traduzido como “legado”). São diversos os registros, internacionais ou nacionais, que o acompanharam nesse sentido.

Para isso tudo, alguns pontos ele próprio encara, dando a cara a tapa. Vamos relembrar suas respostas de costume, com um ou outro comentário:

– Sim, não passava a bola, mesmo, especialmente nos tempos de seleção brasileira de Vidal, quando, alega, jogava sob um “sistema de NBA” no qual ele e Marcel poderiam chutar o que devessem e/ou quisessem, enquanto o restante do time dava conta das outras, digamos, atividades de uma partida. Ele assume,  mas banca com a fama de quem não errava, de que era melhor ele (ou Marcel ou craque X) chutando do que qualquer outra coisa, já que fazia isso muito bem. Não sei se é a melhor abordagem: há times, líderes que venceram assim e outros que preferiram dividir, repartir de uma outra maneira, que o diga Magic Johnson. E, sim, seus números em assistências são paupérrimos, de um senhor mão-de-vaca. Uma coisa não se pode negar, contudo:  Oscar sempre fala de seus companheiros.

Ok, ele fala bastante. Candidato ao senado na chapa de Maluf. Impropérios, berros insanos nacionalistas sem limite – como quando gritava contra um adversário de Diego Hypólito no Pan do Rio 2007, constrangendo o público na Arena…  A despeito desse gigantesco ego (que pode incomodar em muitas ocasiões, embora, na situação que viva hoje, isso passe por lição de humanidade em seu ápice), Oscar, o fominha, não deixa de registrar a importância de seus companheiros para seu sucesso, sempre gastou um tempinho que fosse para elogiá-los, como o leão que era o pivô Israel, um de seus favoritos;

– Sobre o suposto “legado” de que teria incentivado gerações e gerações a fazer o “jogo errado” dos três pontos, isso não pode ser levado a sério como teoria. Um herói televisionado é o suficiente para corromper toda uma cultura esportiva? Não seria um gigantesco problema do basquete brasileiro, então, se foi/fosse esse o caso? Cada vez mais depender de ídolos (indivíduos) do que de estrutura, de paixão dispersa pelo jogo para se sustentar? Uma conta, aliás, que sobrou agora para a turma da NBA, com o pioneiro Nenê eleito como símbolo, pagar.

– Oscar assegura que só marcava quando necessário (ou pedido). Será que isso é uma opção? Há diversos casos mais recentes que  abordam o mesmo tema, por exemplo: o Kobe Bryant dos 81 pontos, Allen Iverson em 2001, Glenn Robinson, Scottie Pippen x Toni Kukoc, Marcelinho Machado, Dirk Nowitzki e a seleção alemã, Milos Teodosic e a nova (e já velha?) seleção sérvia, LeBron James no Cavs … Etc. Etc. Etc. Até onde vai uma responsabilidade e começa a outra? Quem faz as duas coisas sempre e em alto nível com muita pressão? O mais novo membro do “Hall da Fama” jura que, em sua última temporada de Espanha, seu técnico disse que as coisas mudariam de figura no Valladolid e que, a partir daí, precisaria marcar mais. Teria respondido: “Ok, só não me peça para fazer 40 pontos por jogo do outro lado?”. Abaixou sua média no ataque e teria “parado” todos quem enfrentou, conta, um por um. De qualquer maneira,  essas coisas são bem complicadas: só estudando números de adversários ou revendo fitas e fitas para emitir uma opinião concreta;

– Destaca também que nas Olimpíadas de 1988, após uma “inesperada” derrota para a Espanha na primeira fase, acabou sobrando para a seleção a União Soviética nas semifinais (na verdade, quartas de final), com uma derrota por dois pontos apenas (na verdade, cinco); mas ele conta: Sabonis teria feito apenas seu quarto ponto no jogo no minuto final (na verdade, terminou com 12), na penúltima posse de bola, e que o Brasil tinha a chance nas mãos de virar o jogo. Com a coisa “entalada na garaganta” até hoje, conforme disse no seu discurso, acredita que deveria ter optado por um chute de três pontos naquela ocasião, em vez de ter batido para dentro, como fez, sem conseguir converter o arremesso ou ter descolado falta nenhuma. De forma abstrata, sem ter em mente o modo como a defesa soviética se armou nessa específica investida, essa coisa de ir para a cesta tende a dar mais certo: aumenta-se as probabilidades, embora os números do 14 fossem assustadores. Mas, de novo: tudo depende da configuração da defesa. De toda maneira, a seleção terminou com a quinta colocação naquele torneio. A mesma que o país teve em Londres 2012. Por que esta seria boa e a outra, não?

Ah, o mundo hoje é diferente, muito mais equilibrado com a fragmentação de União Soviética e Iugoslávia e a expansão da modalidade por todos os cantos do globo a ponto de estarmos escrevendo algo após vitórias da Jamaica sobre Argentina e Brasil. De fato não há como negar isso. Agora, o outro lado da moeda é que, justamente, a constituição de potências como essas do front socialista da Guerra Fria deixava a aproximação do pódio em grandes torneios como algo bastante complicado. Além disso, mesmo com os universitários, os Estados Unidos da América ainda chegavam como favoritos a cada torneio.

Por aí vamos.

Ao revisitar os nomes do passado, porém, a discussão se amplia de modo significativo. Fica muito fácil falar de Pelé, Wlamir, Garrincha, Amaury – embora não faltem aqueles para problematizar o que é irrefutável. Os títulos, o currículo… Tudo isso impressiona.

Há uma certa condescendência no Brasil de que os ídolos não podem ser atingidos, de que há que se preservá-los não importa o que digam ou o que façam. É de fácil compreensão este tipo de argumento. Numa história tão carente de referências, para que maltratar aqueles que lá chegaram?

Estou no time dos que defendem que ninguém intocável, ao mesmo em que deve se entender que as diferenciações entre sujeito-esportista e sujeito-cidadão. E há exageros, claro. Gustavo Kuerten, por exemplo, era o número um do mundo e, nem por isso, tinha direito a perder numa segunda rodada de Viña del Mar ou Kitzbühel.  Qualquer piloto de Fórmula 1 minimamente competente jamais seria um Ayrton Senna.

No caso de Oscar, o que fazer? Em termos de competição regional, ele e sua seleção foram predadores. Nas grandes competições, o título nunca veio, mas não é que tenham fracassado de modo retumbante – por exemplo, ainda que no início de trajetória pela seleção, num encontro de diversas gerações, Oscar e Marcel Marcel e Oscar conquistaram o bronze do Mundial das Filipinas em 1978, a última medalha do país em alto nível.

Nessas horas, distante da frieza analítica ou do ranço inerente ao personagem, talvez a válvula de escape mais fácil seja apelar para artifícios de retórica clássicos, como aquele de um editor de jornal do filme “O Homem Que Matou o Facínora“, de John Ford – “Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda”. Ou como no”Peixe Grande” de Tim Burton, filme que sai em defesa de qualquer boa prosa, não importando a exatidão do que se fala.

Não à toa, o próprio Oscar recorre a algo nessa linha durante sua participação no Bola da Vez da ESPN Brasil. Caminhando para o fechamento do programa, ele disse: “O importante não é contar as histórias, é saber contar as histórias”.

Retórica de um profissional. Que não se cansará de surpreender os americanos e de provocar as mais diversas reações por aqui.

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Aqui, o discurso de Oscar na íntegra:

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Aqui, o vídeo oficial para a indicação de Oscar ao Hall da Fama:


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