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Arquivo : Argentina

Giovannoni justifica sua convocação e até merecia mais minutos
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Giancarlo Giampietro

Giovannoni teve grandes momentos contra a Argentina. E se... ?

Giovannoni teve grandes momentos contra a Argentina. E se… ?

Por Rafael Uehara*

Muitos contestaram a convocação de Guilherme Giovannoni para estes Jogos Olímpicos. O veterano já não tem mais porte atlético invejável, e havia questionamentos se sua presença não estaria tirando a oportunidade de jogadores com maior potencial. Mas, neste sábado, na derrota da seleção por 111 a 107 contra a Argentina, o veterano mostrou que não só merece presença nesse grupo, mas que, na verdade, deveria ter papel maior na rotação.

O tiro de três pontos é essencial no basquete moderno, mas tem impacto ainda maior quando vem das posições mais altas. Jogando contra um time com escalação padrão, com um ala-pivô puro em quadra, Giovannoni força que esse defensor maior se afaste da cesta, dando maior espaço para seu pivô trabalhar de costas pra cesta e para que seus alas e armadores invadam o garrafão por meio do drible.

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E os números atestam esse impacto. Giovannoni acertou apenas cinco tiros de três pontos em quatro jogos. Em apenas oito oportunidades, este é um aproveitamento excelente. Mas, em termos de números acumulados, não parece lá grande coisa. Mesmo assim, a mera presença dele em quadra aliena a defesa adversária e acelera o ataque brasileiro. De acordo com o site RealGM, antes da partida contra a Argentina, com o ídolo do Brasília em quadra, a seleção marcou em média 113 pontos a cada 100 posses de bola. Excepcional. Pelo #Rio2016, o ala-pivô tem jogado por 14,1 minutos e médias de 6,0 pontos, 3,0 rebotes e 62,5% nos arremessos de longa distância.

Porém, o técnico Rubén Magnano ainda sim tem optado por manter Rafael Hettsheimeir como parte ativa da rotação, e até mesmo como titular, em vez de simplesmente dar todos os seus minutos (9,8) para Giovannoni e jogar com uma formação menor quando ele precisa descansar, se a ideia é sempre ter um entre Nenê ou Felício em quadra. (PS: lembrando que um dos melhores momentos do pivô ex-Real, Málaga e Zaragoza pela seleção aconteceu no Pan, ao lado de um pivô mais flexível, como Augusto).

Chute de Guilherme alarga a quadra para o ataque brasileiro

Chute de Guilherme alarga a quadra para o ataque brasileiro

Magnano provavelmente pensa que Hettsheimeir proporciona o melhor de dois mundos. O pivô do Bauru também tem o tiro de longa distância como principal arma, mas, além disso, tem certa habilidade para trabalhar de costas para a cesta caso o adversário simplesmente coloque um jogador menor nele para contestar os tiros de longa distância com maior rapidez.

Giovannoni realmente, em 2016, é limitado em outros quesitos com a bola nas mãos contra esse nível de basquete. Quando o oponente o impede de atirar rapidamente após o passe, ele não tem muita velocidade pra atacar através do drible, chegar à cesta e finalizar ao redor de pivôs com larga envergadura esperando por ele. Tem força para manter seu equilíbrio contra marcação física, mas seu tiro de média distância criado por ele mesmo também não cai o suficiente para ser carro-chefe de um ataque.

Além disso, nenhum adversário teme que ele possa fazer tamanho estrago contra jogadores menores de costa pra cesta, nunca demonstrando tamanho porte físico para simplesmente forçar posição para arremessos muito curtos perto do aro, mesmo que seu jogo de pés tenha sido sempre uma das  principais virtudes de seu basquete.

Porém, Magnano tem ignorado, ou não diagnosticado, que Hettsheimeir também não tem sido grande opção nestes tipos de jogada contra os adversários de alto escalação que temos enfrentado. E que, a essa altura do campeonato, a disciplina de Giovannoni posicionando-se ao redor do arco com maior frequência do que Hettsheimeir (que vira e mexe ainda pede e recebe a bola tentando materializar algo de costas pra cesta), tem maior valor e beneficia o ataque brasileiro mais. Sem contar o fato de que Giovannoni tem sido ameaça maior no rebote ofensivo.

Magnano provavelmente também se sente mais seguro com o tamanho de Hettsheimeir no setor defensivo. Realmente, a presença de Giovannoni em quadra, especialmente em formações junto com Vitor Benite, o deve deixar muito preocupado com a capacidade da seleção de impedir que o adversário bote fogo no jogo.

Giovannoni não tem mais porte atlético para dar tocos, gerar roubos de bola ou trocar marcação e enfrentar jogadores menores com frequência. Mas sua disposição nesse lado da quadra é de se aplaudir. Ele é atento a suas responsabilidades cumprindo com suas rotações e fazendo bloqueio de rebote para tirar seus adversários da tabela. Ele tem coletado 20.4% dos tiros perdidos pelos oponentes enquanto esteve em quadra. Além disso, pensando nos desastrosos minutos inicias do jogo contra a Argentina, em que Andrés Nocioni flutuou com liberdade pelo perímetro, fazendo Magnano pagar pela dupla Hetthsheimeir-Nenê em quadra, fica a dúvida sobre como teria sido aproveitamento de Chapu se Guilherme, um velho conhecido, estivesse mais tempo com ele.

Brasil já sofreu um bocado nesta primeira semana

Brasil já sofreu um bocado nesta primeira semana

Antes da partida contra a Argentina, a seleção tinha permitido menos que um ponto por posse com Giovannoni no time. Contra a Argentina, a seleção perdeu apenas por um ponto em seus 30 minutos de quadra, em comparação a cinco com Hettsheimeir em seus 15 minutos. Com o pivô do Bauru em quadra, a seleção tinha permitido em média 112 pontos a cada 100 posses de bola do adversário antes da partida de sábado.

Giovannoni não é um jogador perfeito, mas suas virtudes tendem a causar maior efeito do que seus defeitos nestes Jogos Olímpicos, algo que até mesmo os mais críticos hoje talvez não possam contestar. Parece claro que é/era a melhor opção que a seleção tem/tinha em sua função. É difícil fugir da ideia de que, se tivesse sido mais bem aproveitado em todas essas três partidas que a seleção perdeu de forma dolorosa, por diferenças pequenas, talvez estivesse em condição de avançar às quartas com um melhor aproveitamento de um veterano que ainda vem produzindo muito pelo NBB e, de alguma forma, ainda traduz algumas de suas habilidades para o nível olímpico.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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Dez previsões nada ousadas para o Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

Boogie Cousins, Team USA

Quando jornalista se mete a dar palpite, está arrumando confusão. Pode ser sobre um confronto Japão x Filipinas pelos Jogos Asiáticos Universitários. Você falou, escreveu, quis cravar? Imediatamente fica sob o risco de queimar a língua. Ou o dedão da mão direita.

A gente tem essa mania de se meter a sabichão, né? De querer se antecipar a quaisquer grupo de deuses que estejam vagando por aí e provar por A + B que sua lógica está infalível no momento. Dois, três dias depois? É bastante provável que vá dar tudo errado. Ainda mais num torneio olímpico cheio de equilíbrio.

Isso tudo não significa que esse tipo de exercício seja pura bobagem. Não estou aqui para pagar de mais sabichão ainda, esnobe, acima das vontades mudanas esportivas. É esporte só. Que, em diversos casos e eventos, obviamente ganha proporções gigantescas pela quantidade de dinheiro que move e por suas implicações político-culturais. Ainda assim, no final das contas, é só esporte. Que envolve paixão (por vezes em intensidade descabida), mas não deveria ser levado tão a sério. Então qual o problema de ficar palpitando? Tem um monte de gente por aí que anda emburrada pacas, querendo reclamar a toda hora. Mas há quem se divirta demais em comparar resultados e discutir depois, numa boa.

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Então o que este blogueiro vai fazer?

Dar alguns palpites, mas sem cravar resultados, para além do ouro olímpico para os Estados Unidos, que isso é coisa para bolão. Não tem nada muito ousado aqui, claro. Alguns dos itens abaixo têm o mesmo valor que dizer que a “Dinamarcá terá um bom goleiro” ou que “os quenianos vão dominar o pódio da maratona”. Coisa de bidu, mesmo. Podem bater:

O Rio 2016 será o Torneio de Boogie Cousins. Kevin Durant é mais jogador. Carmelo Anthony é outro cestinha perfeito para o mundo Fiba. Kyrie Irving vai ter mais oportunidades de arremesso. Mas podem se preparar para uma exibição, digamos, hulkiana do intempestivo DeMarcus. O pivô está enxuto como nunca, ganhando agilidade sem perder sua força física descomunal, prontinho para esmagar seus adversários, tal como o dito “Gigante Esmeralda” nos quadrinhos. Para quem tem desperdiçado alguns bons anos produtivos nos confins de Sacramento, jogar com o Team USA no Rio de Janeiro serve quase como uma experiência terapêutica. Quiçá, o contato com a elite da modalidade pela segunda competição internacional seguida também não motive Boogie a aceitar aquele procedimento básico que se chama amadurecimento. Com a cabeça no lugar, tem tudo para fazer paçoca da concorrência.

hulk-smash-esmaga

– O Grupo B vai ser um tiroteio. Sinceramente, qualquer pessoa pode se gabar aqui e dizer que tem certeza que a Espanha será a primeira colocada dessa chave, seguida por Lituânia, Brasil e Argentina. Tudo bem, pode ir em frente com essa. Mas a real é que ninguém, com o juízo em dia, sabe realmente qual será o desenrolar destas partidas. No meu entender, pelo menos, até a Nigéria tem chances, mesmo que correndo por fora. Isso sem nem levar em conta o que aconteceu nos amistosos. Vai ser uma disputa duríssima, com a seleção brasileira metida no meio. Haaaaaaaja coração. (Agora, pode muito bem que a Espanha não tome conhecimento de ninguém, vença todos e que a Nigéria apanhe – e, no final, restariam três vagas para quatro seleções. Ainda assim seria dramático.)

– Vamos ter um top 10 só com DeMar DeRozan. O ala do Raptors é outra figura de segundo escalão que pode aproveitar a experiência olímpica para expandir sua marca globalmente, como diria o agente de LeBron. Embora já eleito duas vezes para o All-Star Game, não dá para dizer que o jogador desfrute de tanto prestígio assim em todas as cidades da liga que não estejam em território canadense. Então lá vai essa maravilha atlética aproveitar os inúmeros contra-ataques em garbage time que a seleção norte-americana vai ter, para saltar em 720º, se desvencilhar de oito braços compridos chineses no ar e dar suas cravadas. Paul George, Kevin Durant, Jimmy Butler, Harrison Barnes e, principalmente, DeAndre Jordan podem ser todos ignorantes no ataque ao aro. Mas nenhum deles tem a plasticidade de DeRozan em seus movimentos. Ele será o Capitão Vine da Olimpíada, ganhando até de Usain Bolt.



– Nenê não será vaiado. O bom senso, afinal, ainda pode prevalecer. Quatro anos atrás, o pivô foi vaiado de modo deprimente pelo público presente na Arena HSBC, quando a NBA trouxe um amistoso de pré-temporada pela primeira vez ao Brasil. Maybyner Hilário agora retorna ao Rio de Janeiro com um papel importantíssimo pela seleção brasileira, liderando um garrafão 40% renovado após as baixas de Splitter e Varejão. Se for para buzinar no ouvido de alguém, é só procurar as figuras de Gerasime Bozikis e Carlos Nunes pelo ginásio. Eles certamente estarão presentes, em lugares privilegiados.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?
>> Espanha ainda depende de Pau Gasol. O que não é ruim
>> Argentina tem novidades, mas ainda crê nos veteranos
>> França chega forte e lenta, com uma nova referência

>> Lituânia tem entrosamento; Sérvia sente falta de Bjelica
>> Croácia e Austrália só alargam o número de candidatos
>> Nigéria e Venezuela correm por fora. China? Só 2020

– A Venezuela vai encrespar com França e/ou Sérvia. Eles têm talento para bater de frente com essas seleções europeias? Não. A França foi campeã europeia em 2013, bronze pela Copa do Mundo em 2015 e bronze novamente pelo EuroBasket do ano passado. A Sérvia chegou ao segundo lugar no Mundial. Mas este time aguerrido de Néstor “Che” García parece destinado a aprontar, a fazer mais do que se esperava deles. A classificação olímpica já foi uma façanha, deixando a badalada e numerosa geração canadense pelo caminho (o Canadá está para o mundo Fiba hoje assim como a Bélgica, para o futebol). Mas por que eles se contentariam com isso? Seus armadores são manhosos e o time passou a defender muito bem com Che. Pode ser que consigam cozinhar a partida contra equipes muito mais expressivas.

Venezuela, Nestor Garcia, Copa América, Fiba Américas

– É melhor não se meter em um jogo parelho com a Argentina. Por falar em jogo apertado, eu não gostaria de ter defender contra uma equipe que vá colocar em quadra Manu Ginóbili e Luis Scola ao mesmo tempo numa última posse de bola. É muito talento e respeito em quadra. Cojones e muito mais, claro. Aqui tem a máxima que a mídia americana costuma usar para a NBA, com a qual concordo: é muito provável que o time com os dois, três melhores jogadores em quadra saia vencedor de uma partida. Em 2016, talvez a dupla argentina já não consiga mais ser superior por 40 minutos. Mas, num ataque final, valendo o jogo, com tudo o que eles já experimentaram de sucesso em suas carreiras? Eu gelaria.

Nando De Colo vai fazer muita gente se perguntar por que diabos ele não quis nem negociar direito com as equipes da NBA. É, o francês está jogando muito. O cara tem os números de Euroliga para exibir por aí e também um jogo vistoso demais, que deve ser ainda mais bacana ao vivo. Ele joga em seu próprio ritmo. O mais legal: geralmente consegue chegar aonde quer para finalizar. É nisso que dá sua combinação de drible, altura e fome de bola.

Huertas, Rodríguez e Tedosic vão dar passes para confundir até mesmo seus companheiros. É a turma do sexto sentido. Mais três jogadores que não são os mais explosivos em quadra, mas têm tanta habilidade, coordenação e visão de quadra, que fazem o jogo ficar muito mais rápido e imprevisível. As defesas muitas vezes podem achar que os têm controlados, e aí de repente sai aquele passe (quase) sem olhar para o pivô livre debaixo da tabela. É bom que Augusto Lima, Felipe Reyes, Milan Macvan & Cia. estejam espertos. Posso dizer: é meu tipo de lance favorito.

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Matthew Dellavedova vai irritar alguém – ou muita gente, mesmo. Ele sempre arruma uma em quadra, não? Se acontece nos playoffs esvaziados da Conferência Leste, com o Cavs passando por cima de tudo mundo, por que não iria ocorrer em uma Olimpíada, com os ânimos muito mais esquentados? Pior: Delly tem uma baita cobertura. É só olhar o tamanho dos pivôs australianos para compreender uma eventual super-agressividade do armador. Com Andrew Bogut retornando, fazendo uso nada econômico das cotoveladas, é chance quase zero que os Boomers não se metam em pelo menos uma confusão em jogos pelo Grupo A.

– Alguém vai dizer que lance livre ganha jogo. Mas talvez não digam que um rebote, um toco, uma assistência e um arremesso contestado de média distância o façam.

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Guia olímpico 21: o que esperar da Argentina?
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira, iniciamos uma série sobre as equipes do torneio masculino das Olimpíadas do #Rio2016:

luis-scola-argentina-2016

Lá vem o Luis de novo

O elenco
Armadores: Facundo Campazzo e Nicolás Laprovítoola
Alas: Manu Ginóbili, Nicolás Brussino, Patricio Garino, Gabriel Deck e Carlos Delfino.
Pivôs: Andrés Nocioni, Leo Mainoldi, Luis Scola, Marcos Delía e Roberto Acuña.

A troca de gerações está encaminhada. Claro que eles vão sentir essa passagem. Nenhuma seleção internacional perde jogadores como Luis Scola, Manu Ginóbili e Andrés Nocioni sem sofrer um baque.  A não ser os Estados Unidos. Se algum dia vão poder brigar novamente pelo ouro olímpico? As perspectivas não são tão otimistas, mas está muito cedo para dizer. Mas pelo menos a Argentina pode olhar para seus 12 olímpicos e perceber que há um caminho a ser seguido pelo próximo ciclo.

Entre atletas nascidos nos anos 90, os armadores Facundo Campazzo e Nicolás Laprovíttola, os alas Nicolás Brussino, Patricio Garino e Gabriel Deck e mesmo os pivôs Marcos Delía e Roberto Acuña já compõem uma sólida base para futuros torneios. Especialmente os armadores, que estão subindo degraus na Europa consistentemente, rumo aos grandes clubes do continente. Prometem bastante os eventuais duelos com Raulzinho, Ricardo Fischer, Rafael Luz, entre outros da nova geração brasileira.

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Mas vale prestar atenção nos laterais. Brussino é quem vai ficar mais visado agora, pelo fato de o Dallas Mavericks estar apostando em seu talento – seu contrato, de todo modo, não é garantia: o garoto vai ter de brigar por uma vaga no elenco de Rick Carlisle em outubro. O rapaz de 23 anos não pára de crescer, tem muita envergadura para incomodar na defesa, a despeito do físico franzino, e no ataque pontua com inteligência, se deslocando pela quadra em busca de espaço para o arremesso. Ao meu ver, Garino é um prospecto mais interessante, ou pelo menos mais confiável, seguro para uma aposta. Atlético, forte, aguerrido, pode fazer um pouco de tudo em quadra, vai fazer longa carreira na Europa se a NBA não lhe abrir as portas (alô, Orlando, vocês viram a liga de verão em casa).

Garino chegou para ficar na seleção

Garino chegou para ficar na seleção

(O mais promissor deles acabou cortado por Sergio Hernández: Juan-Pablo Vaulet, draftado pelo Nets no ano passado. Vaulet é de um enorme talento, com capacidade atlética bem acima da média, agressividade para atacar o aro, coletar os rebotes e defender. Tem muita personalidade. Só não dá para cravar que vá virar um craque para liderar a seleção por dois motivos: primeiro, seu arremesso ainda é uma calamidade e, segundo, seu histórico de lesões já é muito preocupante para um garoto de 20 anos.)

A presença de jogadores mais jovens é um alívio para os mais veteranos, podendo fazer o serviço sujo – desde que Hernández não peça para Nocioni aliviar, o que é impossível. E ainda tem a incrível história de Carlos Delfino, que não jogava há três anos, passou por sete cirurgias no pé direito e foi chamado por pura fé.

Rodagem
A Argentina chegou à disputa por medalhas nas últimas três Olimpíadas, ganhando o ouro em Atenas 2004 e o bronze em Pequim 2008. Há quatro anos, os caras derrotaram a seleção brasileira num jogo dramático, mas perderam para Estados Unidos e Rússia e ficaram em quarto. Do grupo de Londres 2012, apenas cinco estão de volta, porém, e um deles é Delfino, que a gente nem sabe se vai conseguir jogar para valer. Leo Mainoldi não estava naquele grupo, mas tem muita bagagem. Do restante do elenco, Laprovíttola e Delía participaram de todas as competições com a seleção principal desde 2013. Garino, Brussino e Deck foram introduzidos ao time no ano passado, enquanto Acuña é estreante.

Para acreditar

Ainda não é simples ficar no caminho de Ginóbili

Ainda não é simples ficar no caminho de Ginóbili

Vou confessar aqui: não gostei nadinha deste uniforme dourado que a Argentina tem apresentado em amistosos. Mas é óbvio que ele diz muita coisa e vale para além do marketing. É só um questão de recordar que não faz muito tempo ainda que a seleção fez uma das campanhas mais memoráveis do torneio olímpico para ser campeã em Atenas 2004.

Chega uma hora em que nossos vizinhos ao Sul não poderão mais levantar essa credencial, tentando dar carteirada toda hora. Mas, enquanto o trio Scola, Nocioni e Ginóbili estiver por aí, é melhor respeitar. Mesmo com os três estando hoje mais próximos dos 40 anos do que dos 30, vai haver diversos confrontos na primeira fase em que eles ainda terão pelo menos dois dos três, quatro melhores atletas em quadra. Sim, ainda. Pode escanear os elencos de seus adversários e conferir isso aí.

Guia olímpico 21
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Com disse Delfino em alguma entrevista que vi por aí, talvez a excepcional ao Basket Plus mesmo, em que ele solta alguma coisa sobre o croata Dario Saric nesta linha: “Vejo muita gente falando sobre ele. Ok. Mas, para a Olimpíada, se tivesse de escolher entre Saric e Scola, o que faria?”, perguntando de maneira retórica. Pois é. O mesmo raciocínio vale para Manu, que só não tem números maiores pelo Spurs porque não compensa para Gregg Popovich desgastá-lo antes dos playoffs.

Questões
A Argentina está renovando seu elenco, mas seus principais atletas não vão correr muito. Dos três craques, apenas Nocioni ainda tem o preparo para ir de um lado para o outro da quadra sem parar. Só porque é maluco, mesmo. Scola nunca foi desses – seus arranques são apenas oportunistas, em contragolpes certeiros. Então, ou Campazzo sai em disparada com qualquer atleta mais jovial que esteja em ação, ou o time se vê obrigado a atacar quase sempre em cinco x cinco.

Esse ritmo mais lento vai obrigar que Scola seja o Scola de sempre, em pick-and-rolls and pick-and-popcom Campazzo, em jogadas de costas para a cesta. Vai forçar também que Ginóbili consiga se esgueirar pelas defesas como foco primário ou secundário do ataque. Que Campazzo e Laprovíttola consigam conduzir o time sem turnovers, mas sem se tornarem burocráticos – nenhum deles é um Prigioni ou Pepe Sánchez. Tudo isso é bem possível.

O problema maior diz respeito ao sistema defensivo e rebotes. Foi na tabela que a equipe foi destroçada pelos brasileiros há dois anos, pela Copa do Mundo. O que pega é que os dois melhores pivôs do time, Scola e Nocioni, são craques e fazem muita coisa em quadra, menos a proteção do aro. Além disso, os dois têm coração enorme, mas não são caras de 2,10m de altura. É difícil lidar com um Gasol, um Valanciunas, um Nenê ou mesmo um Ezeli, do ponto de vista físico e atlético. Esse é o desafio de montar uma linha de frente com Nocioni e Scola. Se os dois fossem companheiros de clube na Europa, por exemplo, num Real Madrid, é muito provável que um seria o substituto do outro.

Por fim, temos Carlos Delfino. Depois de três anos parado e sete cirurgias, foi convocado ‘no escuro’ por Hernández. É uma história maravilhosa, realmente. Mas não dá para saber o que o veterano pode fazer pela seleção depois de retornar ao esporte apenas nesta fase de amistosos, após três temporadas afastado. Quando no auge, Delfino ajudava nos rebotes, nos arremessos de fora e também poderia criar jogadas em situações de aperto para a seleção.

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Há três anos sem jogar, Delfino vem ao Rio com a Argentina
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Giancarlo Giampietro

Assim como Scola e Manu, Delfino é um boa praça pelo qual todos torcem

Assim como Scola e Manu, Delfino é um boa praça pelo qual todos torcem

A Argentina foi para a quadra nesta segunda-feira em Las Vegas para enfrentar a Nigéria em um amistoso, que estava mais para jogo-treino, num aperitivo muito interessante antes da emocionante (epa!) final da Summer League da NBA, vencida pelo Chicago Bulls de Cristiano Felício.

Dentre os 12 convocados pelo técnico Sergio Hernández, havia um que talvez despertasse a maior ansiedade do torcedor argentino para que fosse visto em ação. E, não: não estamos falando de Manu Ginóbili, que não joga pela seleção desde as semifinais das Olimpíadas de Londres 2012. A atração era para ser o ala Carlos Delfino, que foi surpreendentemente inserido na lista final do ‘Ovelha’, mesmo que ele não jogue sequer uma partida oficial há mais de três anos, desde o dia 1º de maio de 2013, pelo Houston Rockets. Desde então, o veterano passou por nada menos que sete cirurgias no pé. Ainda assim, em reta final de (mais uma fase de) recuperação, recebeu um corajoso voto de confiança de seu treinador. Mas ainda não foi contra os campeões africanos que retornou – ele e Ginóbili foram os únicos que ficaram fora da derrota por 96 a 92 (veja o relato em espanhol).

Em meio a tanta informação, acho que vale o reforço: foram sete (!) operações no pé direito, depois de uma fratura sofrida a serviço pelo Houston Rockets, em duelo com o Oklahoma City Thunder em 2013, pela primeira rodada dos playoffs da NBA – foi a mesma série em que Russel Westbrook se lesionou ao se topar com Patrick Beverley. Que ele esteja agora relacionado para uma Olimpíada, é  uma história incrível, como diz o Basquet Plus.

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Antes de abrir uma sessão de perguntas e respostas com Delfino, o site argentino faz um relato de fato inacreditável dessa retomada, que passa por uma consulta a um podólogo em Bolonha, na Itália, cidade em que jogou por duas temporadas, antes de começar sua carreira na NBA pelo Detroit Pistons de Joe Dumars. Era setembro do ano passado, logo após a sexta operação pela qual passou. Foi quando questionaram se o jogador por acaso já havia consultado um tal de Giannini, que seria um professor da universidade local.

Ao fazer uma pesquisa, o santafesino constatou que se tratava de um médico de 78 anos, que supostamente já estaria aposentado. O jogador ainda não estava preparado para se tornar um “ex” e não desistiu. Quando entrou em contato com o italiano, o signore Giannini não só topou um novo procedimento cirúrgico, como lhe fez uma proposta um tanto espantosa: para cuidar daquela lesão, já não era mais o caso de colocar, mas, sim, de retirar ossos. Considerando tudo o que já havia passado, o ala tomou uma decisão simples: por que não tentar? E voltou a uma sala cirúrgica no dia 11 de novembro. Em janeiro, o médico já recomendava que seu paciente começasse a correr. “Ainda que ele tenha me dito isso, só me animei em fevereiro a caminhar por longas distâncias. Foi em meados de abril que passei a correr. Agora tenho de recuperar musculatura, porque por três anos minha perna esteve parada. Mas não sinto dor”, disse.

Com Ginóbili, a Argentina certamente fica muito mais forte. Mas e com Delfino?

Com Ginóbili, a Argentina certamente fica muito mais forte. Mas e com Delfino?

Ao saber desses detalhes, imagine a preocupação que cada jogador ou técnico argentino tem durante os treinos quando Delfino pisa de mau jeito sobre o pé de alguém. “Fiz uma careta quando aconteceu, mas depois saí rindo. Todos ficaram me olhando. Não aconteceu nada, e são provas pelas quais tenho de passar. Pisar no tênis de um rival. Saí correndo e por isso ri. Há 15 dias, não imaginava que isso poderia acontecer”, afirmou ao site argentino. Vale muito perder alguns minutos para ler esta longa entrevista.

“Passei por processos. Depois da primeira operação, veio a segunda, a terceira… E eu ainda estava contratado. Tinha de falar com a franquia. Depois, fiquei sem clube, sem nada, e deixei de pensar em basquete por um tempo. Não queria saber nada de nenhum esporte competitivo. Cheguei a pesar 115kg. Hoje estou com 99kg. Em janeiro do aano passado, perdi minha avó. Em seu último dia de vida, queria sair para caminhar comigo. Ela morreu, e isso me sobrou como motivação. Agora tenho de voltar, pensei. Fui a um teste com o San Antonio, e me disseram que o problema com o pé ainda era um problema. Então operei antes do Pré-Olímpico, pensando que era coisa mínima, mas, logo ao sair, pisei e me dei conta de que estava igual. Até o meu pai me questionava se fazia sentido seguir me testando assim”, relata o ala, pensando nos tempos mais difíceis.

Se Delfino estava tão inseguro assim, com toda a razão, Sergio Hernández foi muito arrojado ao convocar o veterano de 33 anos. Não é que algum grande jogador esteja ficando fora da lista, mas, para um torneio curto como o olímpico, qualquer opção extra pode ser importante. O medalhista de bronze em Pequim 2008 não parece preocupado. “Esperemos que ele possa receber os minutos que eu julgue necessário. É certo que, se estiver bem, a equipe vai ficar melhor. Ele está em um processo de adaptação, entrando e saindo dos treinos. Mas a cada vez que entra mostra sua qualidade”, afirmou o “Ovelha” ao canal TyC Sports, justificando a convocação.

Que Delfino tem um grande talento, não há o que se discutir.  Ele não ficou tanto tempo nos Estados Unidos por nada. Os marcadores da seleção brasileira já testemunharam isso em diversas campanhas pelo mundo Fiba, desde o já longínquo Sul-Americano de 2004 em Campos de Goytacazes – ao qual estava presente para ver Walter Herrmann destroçar o time B de Lula Ferreira na final. Naquele torneio, fazendo sua estreia pela seleção principal, o ala teve média de 15,8 pontos. Semanas depois, seria um reserva na campanha do histórico ouro olímpico em Atenas. Em 2007, estava ao lado de Luis Scola na equipe que eliminou o Brasil na semifinal da Copa América de Vegas, comm médias de 13, pontos, 6,3 rebotes e 3,3 assistências. Em Pequim 2008, rumo ao bronze, já era um protagonista mesmo entre as feras douradas, com 14,1 pontos e 5,1 rebotes. No Mundial de 2010, mais uma vez superando os brasileiros, teve 20,6 pontos, 4,7 rebotes e 2,8 assistências rumo a um quinto lugar. Por fim, em Londres 2012, ajudou a equipe a chegar ao quarto lugar, com 15,2 pontos, passando novamente pelo Brasil nas quartas.

Agora, tudo isso foi antes das sete cirurgias por que passou, dos três anos de inatividade. Hernández o inclui no grupo, mas tem opções para o caso de essa (?) última tentativa de recuperação não dê certo. Os jovens Gabriel Deck, Patricio Garino, Nicolas Brussino (recentemente contratado pelo Dallas Mavericks) e mesmo o caçula Juan-Pablo Vaulet estão no elenco, prontos para assimilar seus minutos na rotação – são todos atletas que ainda vamos ver por muito tempo em clássicos sul-americanos.

Deck e Garino foram titulares contra os nigerianos. O primeiro somou 12 pontos, 4 rebotes e 2 assistências em 18 minutos, enquanto o segundo foi quem jogou mais, de qualquer forma, com 29 minutos, com 5 pontos e 6 rebotes. O problema, ao meu ver, é que, para acomodar o veterano, a Argentina vem para o Rio 2016 apenas com dois armadores: Nícolas Laprovíttola, o ídolo rubro-negro, e Facundo Campazzo. Obviamente que Ginóbili pode ajudar os dois talentosos na criação e organização. Mas uma lesão do narigudo seria algo muito grave para nossos vizinhos.

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“Quando falamos dele, falamos de um jogador de elite internacional, de NBA, dos melhores do mundo para esta posição. Ele tem uma capacidade atlética importante e condições técnicas que tornam o basquete algo muito natural para ele. Por isso, sua volta não é algo tão grave para ele como seria para outros jogadores, que precisam trabalhar muito. Por isso, temos essa aposta que ele, com o correr do tempo, estará bem para jogar”, disse o treinador.

O curioso é que, em meio a tantas loucuras que os clubes da liga americana fazem, Delfino ainda está recebendo salários por um contrato firmado com o Milwaukee Bucks em julho de 2013, quando ainda se recuperava da fratura inicial. O gerente geral John Hammond aparentemente pensava que a lesão do ala era algo corriqueira, de fácil regeneração. Ooops.

O dirigente ao menos contou com a incompetência de Doc Rivers para repassar seu contrato um ano depois. O Clippers tinha a intenção de se desfazer de Jared Dudley e ainda pagou uma escolha de primeira rodada em Draft para tanto, absorvendo o restante do contrato de Delfino, que, três dias depois, foi dispensado. Nesse processo, o Clippers parecelou os US$ 3,2 milhões devidos ao argentino em cinco anos. Resultado? Até 2019 ele vai receber mais três parcelas de US$ 650 mil. Ou quase R$ 2 milhões anuais, dependendo do câmbio.

“Eu devolveria esse dinheiro pelos três anos que perdi”, afirmou o ala. “Mas isso eu não consigo mudar mais. Só posso mudar o que vem adiante. Fiz tudo o que podia: vi bruxas, médicos, fiz reiki, testei todas as máquinas que existem. Se não puder jogar, não poderei. Mas no pior dos cenários, voltarei a ser um jogador de basquete. Acho que o único fator que poderia cortar tudo isso era ir aos Jogos e ganhar a medalha de ouro. Para que merda eu seguiria jogando? (Risos.) Falando sério, quero seguir jogando. Eu me sinto jovem, confiante de que vou bem. Se me perguntar, me sinto um jogador de NBA. Quero voltar a fazer cosas interessantes. Mas agora tenho a cabeça na seleção. Não me importa o seguro, nem se se alguém está pergutando por mim. Nada. Que se dane. Estou aqui, tranquilo, e só penso em voltar a ser um jogador de basquete.”

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Chegou a hora para Tim Duncan? Ele não diz
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Giancarlo Giampietro

O jogo já havia acabado há um tempo, mas era questão de cumprir os 48 minutos regulamentares. O San Antonio Spurs até tentou uma última reação, com a possibilidade de reduzir uma enorme diferença para a casa de um dígito. Mas não rolou. Era demais até para o time mais vencedor das últimas duas décadas da liga. Quando a buzina estourou em quadra, mal dava para ouvi-la, de tão alto que animados que estavam os fervorosos torcedores de OKC. Depois de saudar os vencedores, Tim Duncan se dirigiu sozinho a um dos corredores de acesso, de cabeça baixa, tipicamente, enquanto era aplaudido por um ou outro anfitrião. O máximo que fez foi erguer o braço direito e apontar o dedo indicador para cima, num gesto austero de agradecimento.

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É o máximo de emoção que Timmy vai mostrar

Se este foi o último jogo de sua carreira, dá para dizer que ele saiu de quadra ao seu modo. Sem papel picado, fogos, música, tributos, meias especiais ou milhões de merchandising. Sem choro, sem emoção, totalmente frio, depois de competir do jeito que dava contra adversários hoje muito mais vigorosos. O único detalhe que não cabia ali? Que ele tivesse saído após uma derrota acachapante – 113 a 99, cujo peso é muito maior pela virada sofrida na série contra o Thunder, do que pelo placar em si. Isso definitivamente não combina com um notório vencedor.

(Nos registros da NBA, tem a companhia de Kareem Abdul-Jabbar e Robert Parish num clubinho exclusivo de jogadores com mais de mil vitórias na carreira. São os três apenas, e, entre eles, o aproveitamento de Timmy é consideravelmente superior: triunfou em 71,9% de seus jogos, contra 68,8% de Kareem e 62,9% do Chief.)

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Foi o fim mesmo? Talvez nem ele mesmo tenha certeza. O máximo que soltou, quando questionado sobre seu futuro, foi: “Vou pensar nisso quando me mandar daqui e aí ver o que fazer da vida”. De novo, contido de tudo, econômico que só. É muito provável também que, mesmo que saiba qual a sua decisão, não fosse falar assim de imediato, por se recusar a atrair manchetes, ainda mais numa hora dessas, após a eliminação.  Já Gregg Popovich preferiu desconversar, com suas respostas ora rabugentas, ora engraçadas, se negando a nos contar qual foi o assunto em sua conversa com o pivô na saída de quadra. Duncan admitiu, porém, que o técnico o procurou e perguntou se queria seguir jogando. “Sempre quero jogar. Então ele me disse para seguir em frente. Foi isso. Então continuei jogando o tempo todo.”

Mas Pop nem precisava dizer nada, mesmo. Que ele tenha mantido Duncan até o instante final do quarto período, mesmo depois de a reação de sua equipe ser encerrada, já diz muito sobre qual é a sensação, o palpite do técnico-presidente. Não é que estivesse dando um recado ao veterano – como sempre fez, sem fazer concessões a seu status –, ou tentando humilhá-lo, dãr. A impressão que passou é que, se aquela era a saideira de seu velho companheiro, sua despedida do basquete, que ele pudesse aproveitar até o finalzinho, mesmo. Mesmo que ele já tivesse jogado 47.368 minutos pela temporada regular e mais de 9.300 pelos playoffs.

Se o Spurs perdeu, ao menos Duncan, aos 40 anos, pôde fazer seu melhor jogo na série, com 19 pontos em 14 arremessos, com 50% de aproveitamento, em 34 minutos, bem acima de médias melancólicas que teve no confronto. Com ele em quadra, mais importante, o time texano ainda teve saldo positivo de 13 pontos, vejam só. Mas não pensem que isso vá servir de algum consolo para o gigante.

Em sua carreira, o pivô nunca teve sequer um arroubo individualista de que tenha memória. A gente mal sabe o que ele pensa sobre a liga e sobre a vida (risos). O máximo que se ouviu sobre ele foi de um divórcio (e daí?) e de que ficou pê da vida quando David Stern instaurou um código de vestimenta para os atletas — seu negócio era usar bermudão, e pronto. Redes sociais? Por favor. É como se ele estivesse em outro mundo, mesmo, de outros tempos também. De resto, são apenas frases nada eloquentes, mas preocupadas com seus companheiros, seu clube. O time sempre à frente.

Nesse sentido, se foi o último jogo, mesmo, ouso dizer que foi muito mais significativo que os 61 pontos de Kobe, episódio sobre o qual ainda estou devendo texto (posso dizer que está ficando enorme e, por isso, de difícil conclusão). A matemática não nos deixa mentir, que 61 > 19. Além disso, o Lakers venceu o Utah Jazz, enquanto seu Spurs perdeu. Mas a questão é que, para Duncan, essa história de números nunca foi a prioridade, por mais que sua consistência (vejam isto aqui) o coloque entre os melhores também estatisticamente: é 14o maior cestinha da liga, sexto em rebotes e quinto em tocos, enquanto, nos playoffs, ele é o sexto, terceiro e primeiro, respectivamente, nesses quesitos.

Um card de novato de Duncan

Um card de novato de Duncan. Faz muito tempo

Ah, os playoffs, né? Sim, os texanos estavam jogando pela fase decisiva, enquanto o Lakers fechava a pior campanha de sua história contra um time desmotivado por sua eliminação na última rodada. No ocaso de sua carreira, Kobe primeiro teve de lutar contra graves lesões e, depois, contra as próprias limitações de um elenco abaixo da mediocridade. São os piores anos da franquia angelina. Não é culpa direta do ala, claro, embora seu salário astronômico tenha sido um empecilho, assim como Duncan não é a única razão pelo período de excelência de seu clube, tenso sacrificado alguns milhões para que LaMarcus chegasse. O que não dá para negar? Que os dois, dos maiores da história, são, foram as faces de suas franquias.

Um ponto que os une é especialmente esse: de serem os caras de um time só, por tanto tempo. Para Kobe, foram 20 anos como Laker. Foram 19 anos como Spur para Duncan, igualando a marca de John Stockton pelo Utah Jazz. Esses 19 anos atravessaram três décadas, e em todas elas ele ganhou um título. Só mesmo o operário John Salley, ex-Pistons, Bulls e Lakers, havia conseguido isso antes, mas já como conselheiro de vestiário nos últimos dois clubes, depois de surgir na liga no final dos anos 80 como um ala-pivô extremamente atlético. Spurs e Lakers se cruzaram diversas vezes durante todos estes anos. Quase sempre com chance de título. Desde 1997, quando o pivô das Ilhas Virgens entrou na liga, os dois ganharam 10 troféus e disputaram 13 finais, mais de 50% do que esteve em disputa.

A diferença é que, nesta reta final Duncan e o Spurs ainda estavam envolvidos em jogos relevantes. E que Duncan, mesmo no primeiro ano em que não passou dos 10,0 pontos em média, se manteve como uma influência positiva em quadra durante a temporada. Um dos criadores da medição de “Real Plus-Minus” do ESPN.com, Jeremias Engelmann atesta que, com o quarentão, o Spurs melhora sua eficiência defensiva em 5,3 pontos por 100 posses de bola. Isso é muita coisa e o deixou na segunda colocação do ranking.

O problema é que no ataque sua mobilidade o limita demais já. Quando confrontado com atletas como Steven Adams, Serge Ibaka e Enes Kanter, isso ficou ainda mais evidente. Não sabemos se ele sentiu alguma coisa a mais do a mera trava nos joelhos e costas. Até o Jogo 6 desta quinta-feira, porém, a coisa estava feia. A primeira questão é saber se foi algo pontual, pelo desgaste da temporada, a despeito da menor carga de minutos da carreira e pela característica dos rivais, ou se o declínio é permanente. Uma hora acontece. Depois, precisaria ver se Duncan poderia tolerar este declínio, se teria vontade e pique para isso – certeza ao menos de que estaria num time muito forte ainda, podendo contratar mais um jogador de ponta em julho. Ele simplesmente não fala sobre essas coisas. Se vai jogar mais um ano, ou não, não dá para esperar estardalhaço nenhum.

(Nenhuma palavrinha sobre Manu Ginóbili? Ainda não é hora, pois já sabemos que ele vem ao #Rio2016, e,se for para pensar de modo egoísta, o técnico Sérgio Hernández até pode comemorar o fato de que a campanha do Spurs terminou antes de junho, dando um respiro ao seu craque.)

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Seleção masculina conhece seu grupo olímpico. Está difícil
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Giancarlo Giampietro

Grupos - basquete olímpico

Um grupo de olímpico nunca será exatamente uma moleza. Mas dá para ficar mais complicado também do que Rubén Magnano gostaria. Foi o que aconteceu nesta sexta-feira, quando a Fiba sorteou as chaves do torneio masculino e já reservou ao time anfitrião um senhor desafio logo de cara: conseguir a mera classificação para as quartas de final.

Pois a seleção brasileira vai ter de se virar com Argentina, Espanha, Lituânia, Nigéria e mais um dos vencedores dos três pré-olímpicos mundiais que serão disputados às vésperas da grande competição. E aí você pergunta: quais são as possibilidades? Por cerca de uma hora, ninguém sabia dizer, até que o repórter David Hein, fonte bastante confiável para assuntos europeus do tipo, esclarecer: os três times classificados nessa última peneira serão alocados em um novo sorteio.

Genial, né? Ainda estou para ver um procedimento da federação internacional que não seja confuso. Já não poderiam ter numerado os torneios? Mas, não: tem de fazer mais um evento. Pelo menos precisamos admitir que eles são bons nisso de enrolar e encher linguiça.  De qualquer forma, os três torneios serão disputados em Manila, nas Filipinas, Belgrado, na Sérvia, e Turim, na Itália. Podem vir equipes como França, Canadá, Sérvia, Itália, Grécia, Sérvia… Enfim, será mais uma pedreira, certamente.

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Levando em conta o retrospecto brasileiro na última Olimpíada e na Copa do Mundo de 2014, com vitórias sobre seleções como Austrália, Espanha (*sim, foi polêmica), França, Sérvia e Argentina, não há razão para se desesperar. Se a preparação for a que Magnano julga ideal, o time chegará em condições de enfrentar qualquer um de seus primeiros cinco oponentes, com estreia marcada contra a Lituânia, no dia 7 de agosto.

Mas seria melhor ficar numa chave com Venezuela e China, com o Grupo A? Sim, seria, por mais que os venezuelanos tenham surpreendido o Canadá pela Copa América e que os chineses estejam lançando uma nova geração talentosa e tenham vencido seu torneio continental tranquilamente. Em tese, a Nigéria é mais forte que os asiáticos – mais experiente, certamente.

Do outro lado, é bem possível o Brasil vencer o grupo, bem como ser eliminado de cara, sem avançar aos mata-matas – tem de batalhar, não tem jeito. Mas pensemos assim: do ponto de vista de um time anfitrião, com muitos veteranos em reta final de carreira, faria diferença cair na primeira fase ou nas quartas? Acho que não. Para eles, a essa altura, é medalha, ou medalha. (Veja bem: não estou dizendo que são obrigados a subir ao pódio, mas, sim, que, para os atletas, qualquer resultado diferente será decepcionante igual, independentemente do basquete apresentado no evento).

Tá, e se passar de fase, melhor que não sem em quarto, né? Para evitar os Estados Unidos, que são os favoritos absolutos, indiscutíveis. Depois de tanto penarem, os norte-americanos recuperaram este status. De resto, segue a linha do equilíbrio: Austrália e mais dois campeões de pré-olímpico. Seria chumbo grosso, mas para os dois lados.

Só não dá para avançar muito na análise aqui. Ainda está cedo. São cinco meses até o início dos Jogos, com playoffs de NBA, Euroliga, ACB, NBB e tantas outras ligas. Então tem de ver quais equipes vão exatamente desembarcar no Rio de Janeiro. Quantos Gasols vão jogar pela Espanha? Motiejunas vai fazer companhia a Valanciunas? Ezeli vai aceitar uma convocação? Uma Argentina com Prigioni e, especialmente, Ginóbili é outra história. Quis o sorteio, aliás, que a possível competição de despedida da geração dourada inclua mais um duelo com o Brasil. Não podia faltar. Para Magnano, mesmo que desafiador, seria especial.

A tabela, por ora:

Tabela, basquete olímpico


De frente com Andrés Nocioni: muita cultura além do coração
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Giancarlo Giampietro

Andrés Nocioni, Real Madrid x Bauru

Uma viso aos navegantes: o Real Madrid está em São Paulo desde quarta-feira, mas não anda muito aberto para conversar com a gente. Por enquanto, basicamente há três porta-vozes que se repetem: o técnico Pablo Laso, o armador Sergio Llull e Andrés Nocioni, nosso velho conhecido. Um ou outro vai falar aqui e ali, e neste sábado os novatos merengues Trey Thompkins e Willy Hernangómez estiveram disponíveis para um rápido bate-papo. Mais nada. Num depoimento pessoal, depois de ter transmitido com o Sports+ duas temporadas seguidas nas quais eles tinham a melhor equipe, posso dizer que esperava mais contato, mais oportunidades de discutir, trocar ideias.  Mas isso não quer dizer que sejam necessariamente esnobes, ou coisa mais grave.  É de se supor que este protocolo foi desenvolvido com o passar das últimas temporadas de retomada do clube no basquete europeu, honrando o peso da camisa, ou do escudo, como eles preferem dizer. É o Real Madrid, de nove títulos continentais na modalidade, e outros dez no futebol. Enfim.

Posto isso, quando eles falam, geralmente dão depoimentos ricos em detalhes que acabam compensando  o silêncio. Peguem Nocioni, o Chapu, por exemplo. Após a derrota de sexta-feira, foi  o único a parar na zona mista para atender a mídia que chegou lá um pouco mais cedo, topando falar com o Bruno Laurence, da TV Globo, com o resto na carona. Mais tarde, Llull e Laso se apresentariam para a coletiva. Antes do treino deste sábado, mais uma janela foi aberta. E quem estava lá de novo? Novamente o campeão olímpico argentino.

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O bom é que, amigos, a conversa rende, e sem cotoveladas, xingamentos ou berros irados. Para uma entrevista coletiva com uns cinco, seis repórteres, com os quais ele provavelmente só estava familiarizado com o sujeito da TV Real Madrid, o veterano de 35 anos falou bastante. Você pode ter certeza que o assessor de imprensa gigantesco do clube espanhol estava imaginando algo como cinco perguntinhas rápidas, respostas protocolares e um “hasta mañana”. Pois a sessão durou oito minutos. Para quem não está muito acostumado com esse processo, pode parecer pouco, mas se fosse transcrever tudo na íntegra aqui, pode ter certeza que seria mais um calhamaço típico do blog.

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Houve, por exemplo, uma exigente pergunta de um hermano sobre se Chapu imaginava, 19 anos depois  da Copa Intercontinental de 1996, estar de volta ao torneio. Por experiência própria, posso dizer que é o tipo de questionamento que poderia ser facilmente desconversado por alguém com má vontade, preguiça ou que não tenha tão interesse assim pela história, mesmo pela história por ele vivida. Mas, não. Do torneio realizado entre Olimpia Venado Tuerto, de sua Rosario, e Panathinaikos, Nocioni se lembrou de muita coisa. De como, naquela ocasião, era o contrário: ele estava ao lado do time mais fraco, sendo que agora estão com os “chamados, a priori” favoritos. Falou de como venceram o primeiro jogo em casa, “incrível”, com Alejandro Montecchia se destacando “como sempre”, que fizeram um segundo jogo equilibrado em Atenas, mas perderam, para, depois, serem atropelados na terceira partida. As respostas se prolongavam, sem o menor problema.

É engraçado: foi minha primeira entrevista com Nocioni ao vivo. O Chapu não estava em nenhum d0s torneios americanos que havia ido cobrir, e não foram poucos. Walter Herrmann, Federico Kammerichs, Marcos Mata, Leo Gutiérrez, Carlos Delfino e outros ‘ches’ estavam fazendo suas vezes. Fiquei impressionado pela combinação de lucidez, cultura e profissionalismo que usava para se expressar. Convenhamos: para quem o vê se matando e arrebentando (física e metaforicamente) a concorrência em quadra, não era a imagem que se supunha. Ou era?

>> Não importa o desfecho. O Bauru sempre vai ter a 1a. vitória
>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?
>> Bauru admite que não fez preparação ideal para o torneio
>> A ajudinha de Paco, o não a Larry e a rivalidade com Mogi
>> O Real Madrid analisado jogador a jogador: um esquadrão

Aí me cai a ficha: para ser o vencedor que Nocioni se tornou, não basta força de vontade (desmedida, no seu caso) ou talento (muuuuuuuuito subestimado). Tem de saber o que fazer com essas ferramentas. E isso não acontece ao acaso. Quer dizer, há gente tão talentosa que acaba superando qualquer barreira com facilidade. No caso desse argentino ouro em Atenas 2004, bronze em Pequim 2008, semifinalista em Londres 2012 e classificado novamente para o Rio 2016, sem contar os quatro títulos recentes pelo Real Madrid em 2014-2015, e tantos outros do passado, pesa também a sua cultura basquetebolística. Nocioni não é só coração, mas também um  cérebro.

O que me ocorreu também foi um velho perfil do ex-volante Chicão, do São Paulo e da seleção brasileira, de autoria de José Maria de Aquino, para Placar. Se procurar com paciência no “Google Books”, deve dar para encontrar. Mas foi desses textos que fez a minha cabeça e valeu talvez mais do que um ano inteiro de faculdade. Nele, o repórter relata a ansiedade (pretensa, claro) de se encontrar com o brucutu meio-campista, desde a chegada ao prédio em que morava, à espera por sua saída no vestiário. Aos poucos, Aquino vai desconstruindo o mito de violência e rudeza em torno do jogador. No final,  está claro que se tratava de alguém com o coração enorme e também bastante pragmático. A reportagem, porém, terminava com uma espécie de aviso: “Mas que se diga que eu nunca joguei contra ele”. Pois é. Evoco essa tirada sensacional para dizer que nunca disputei um rebote com Chapu. Fiquemos assim.

*   *   *

11-Andrade-101-369x525Bom, nesses oito minutos de perguntas e respostas, duas vieram desta fonte aqui. A primeira foi sobre o desafio de se marcar um time que pode jogar com seus dois pivôs abertos, com Jefferson William e Rafael Hettsheimeir — e algo que Rafael Mineiro também poderia fazer, se estivesse mais entrosado. O strecht four, gente, é uma das posições da moda na NBA, mas é algo que foi importado da Europa, com enorme influência de Dirk Nowitzki. O movimento, porém, suplanta o craque alemão. Jorge Garbajosa, Dejan Tomasevic, Kostas Tsartsaris são alguns dos nomes de grandalhões que faziam muito bem o jogo de high-low que me vêm à cabeça, mas vai ter muito mais por aí. Praticamente toda seleção europeia tem um desses hoje (pensem em Nemanja Bjelica, Nikola Mirotic, Boris Diaw, Andrea Bargnani, Ersan Ilyasova etc.). Com um adendo: o fato de eles abrirem para o chute não quer dizer que tenham obrigatoriamente de limitar sua abordagem ofensiva à zona de longa distância.

O Bauru toma emprestada essa ideia e a leva ao extremo quando posiciona seus dois pivôs titulares no perímetro. O legendário argentino disse que é muito difícil lidar com algo assim. “É algo totalmente distinto. Sinceramente, não temos muita experiência com equipes assim na Europa. Não há nenhuma equipe que jogue desta maneira”, afirmou. “Temos de fazer alguns ajustes, pois ontem tínhamos a partida bastante controlada até que eles começaram a abrir os dois grandalhões para o tiro exterior, e aí o jogo saiu das nossas mãos. Rafa esteve em um nível altíssimo, com uma porcentagem incrível, mas que sabemos que não é nada de outro mundo, que tem feito isso na liga brasileira todos os dias. Vamos ter que ajustar um pouquinho a defesa, já que não podem chegar ao triunfo.”

Interessante, não? Quando guerrinha abre seus dois homens altos, parece estar infringindo uma série de regras clássicas do esporte. Pode beirar o absurdo, mesmo. Mas, se dá certo, se rende resultados, como você vai contestar isso? Naturalmente, não podem depender só desse fator que, de primeira, surpreende. O Real vai se planejar para conter esse tipo de armação, e o Bauru já tem de estar preparado para isso e buscar alternativas. Para o restante da concorrência do NBB, creio que vale ficar de olho no que Laso vai planejar e tentar executar.

*    *   *

A segunda questão era uma escapada do tema, mas que não deveria falar. Sobre como se sentia depois de mais uma participação olímpica, e o quão especial essa última Copa América foi ao lado de Scola, seu velho parceiro. Chapu foi além: “Foi um torneio incrível no qual conseguimos nossa classificação olímpica para manter um projeto, uma ideia de seleção argentina durante muitos anos. É nossa quarta edição de Jogos Olímpicos. Sinceramente me sinto muito orgulhoso de todo esse processo. Fomos com uma equipe jovem, de inexperientes em sua maioria. Mas conseguimos uma classificação incrível. Obviamente que tivemos um sabor amargo ao não conseguir o título no final, mas mas me parece que perdemos para um adversário grande que foi a Venezuela, terminando um torneio histórico para eles. Para nós, terminou sendo um torneio importantíssimo, porém, para manter a equipe no maior nível mundial.”


Prepare-se para o jogo do ano pelo mundo Fiba
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Giancarlo Giampietro

Gustavo Ayón, Argentina, México, Fiba Américas

Existem Pré-Olímpicos, e existe o EuroBasket, é verdade.

Mas, no calendário Fiba deste ano, o melhor jogo tende a ser este México e Argentina, que nos aguarda na sexta-feira. Os dois times já fizeram uma grande partida nesta quarta, fechando a segunda fase, com os donos da casa efetuando mais uma virada improvável, vencendo por 95 a 83. O resultado tirou Luís Scola e Andrés Nocioni da primeira colocação geral e agendou uma revanche na semifinal. Do outro lado, o Canadá. Para quem não sabe ainda, apenas os dois finalistas garantirão vaga direta às Olimpíadas do Rio 2016.

Os mexicanos comemoram tanto, mas tanto a vitória sobre os então invictos argentinos, que é preciso cuidado com o que se deseja. Tá certo que foi uma batalha emotiva e que, no plano continental, a Argentina ainda é vista como referência, tendo ainda em sua escalação dois campeões olímpicos que já são lendas vivas. Mas me parece claro que a festa que os anfitriões fizeram não foi só por uma grande vitória. Para os caras, ela se tornou mais especial pelo fato de terem fugido do Canadá na disputa pela vaga olímpica premium. Ao que parece, a surra que tomaram na terça-feira teve efeito traumatizante. A garotada canadense abriu vantagem de 22 pontos já no primeiro tempo, ignorando o ginásio cheio e barulhento.

Isso a gente não percebe  apenas pela festa, mas também pelo empenho dos atletas durante todo o confronto. Gustavo Ayón jogou 40 minutos. Outros três titulares ficaram em quadra por 34 minutos ou mais. Ah, mas do outro lado também teve um empenho considerável e a derrota foi dolorida. Sim, sim. Mas há uma diferença aqui: a Argentina queria muito jogar contra a Venezuela na semifinal. O México fez de tudo para não enfrentar o Canadá. “Era a partida que tínhamos de ganhar. Nos últimos dias, foi dito por aí que o México já estava praticamente fora, devido ao cruzamento com o Canadá, mas demonstramos que não é assim”, disse o próprio Ayón. De qualquer forma, los cabrones fizeram sua parte. Entregar a partida é que não fariam, dãr. Agora, vão lidar com Scola e Nocioni novamente.

Scola x Ayón

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Assim como os craques argentinos vão precisar encarar um ginásio infernal. Não vai ser nada fácil, e esse é o fator que, para mim, turbina as expectativas para o jogo de sexta. Veja ao final o ranking de ingredientes que tornam o jogo imperdível.

A torcida mexicana bateu o recorde de público para uma partida de Copa América nesta quarta, com mais de 16 mi espectadores no Palacio de los Deportes. Sabemos bem como esses caras são calorosos. O mexicano, no fim, também é outro que gosta muito mais de esporte do que o brasileiro, que prefere a vitória. Por isso, a mera ideia de se realizar essa partida no mítico estádio Azteca nem soa absurda. Certeza de que os torcedores o lotariam. E eles têm empurrado a equipe. O clima foi fundamental para uma virada impressionante no período final, o qual sua seleção venceu por 36 a 11. Sergio Hernández afirmou na coletiva que não se lembra de um jogo pela equipe nacional em que tenha levado tantos pontos assim num só quarto. (O que ele não disse é que deu uma boa contribuição para tanto, deixando o jogo correr solto quando seus atletas não encontravam rumo em quadra.)

*   *   *

O México obviamente não avança só à base de empolgação. Lembrem-se que jogam como os atuais campeões do torneio, depois de triunfarem na Venezuela, milhas e milhas ao Sul de Nayarit, onde conquistaram o CentroBasket de 2014. A rotação, na hora do vamos ver, foi enxugada pelo espanhol Sergio Valdeolmillos. Contra a Argentina, jogaram basicamente sete atletas, descontando os três minutos dados a Marco Antonio Esquivel e o grandão Rodrigo Zamora. Nesse grupo de sete homens de confiança, porém, há gente talentosa, para além de Ayón.

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Jorge Gutiérrez está sempre atacando, com um dinamismo que incomoda a oposição (12,9 pontos, 4,4 assistências e 4,4 rebotes). É um armador alto, forte e rápido para este nível. Se aprender a arremessar minimamente bem de fora (tem 10-48 em sua carreira pela seleção), fará estragos. O ala Francisco Cruz é outro que merece menção. Tem todo o tipo de um rato de ginásio, daqueles que encontra maneiras para colocar a bola na cesta, mesmo que seja lento (poderia muito bem despejar alguns quilinhos). Sabe aquela coisa de conhecer os atalhos, né? Além disso, seu arremesso de fora é muito bonito e também eficiente a partir do drible (44%). E ele sabe usar essa arma ao seu favor, para poder se aventurar em direção à cesta. Cheio de confiança, anotou 21 pontos nesta quarta, mas também contribuiu com seis rebotes, dois ofensivos até, e cinco assistências. Do ala-pivô Héctor Hernández (11,8 pontos e 5,0 rebotes), você nunca sabe o que esperar. Surpreendentemente ágil para alguém de seu tamanho e bom chutador de longa distância, ainda que, neste torneio em específico, não esteja convertendo os arremessos. O armador Paul Stoll consegue ser ainda mais enjoado que Barea e Campazzo com a bola. O ala Juan Toscano-Anderson, que tem bolsa na Universidade de Marquette, é uma grata adição. Aos 22 anos, tem dificuldade gritante para finalizar, mas causa impacto com seu físico e envergadura. Joga pesado e dá suporte aos mais talentosos cuidando das pequenas coisas e tem dado 3,3 assistências em média, sabendo ler o jogo em meio a suas infiltrações desajeitadas.

*   *   *

Agora, claro que, sem Ayón, não iriam a lugar algum. Contra a Argentina o pivô mostrou novamente o quão especial é como jogador. Se a NBA não o soube aproveitar, azar da NBA, sorte do Real Madrid. Ele fez um esforço hercúleo neste triunfo: 38 pontos, 14 rebotes, 4 tocos e , 4 assistências. Com um bônus: a defesa para cima de Scola no quarto período. Pode parecer uma provocação, ou heresia até, mas vamos lá: hoje o mexicano entrega mais que o craque argentino. Em termos de valor para uma determinada equipe, tudo depende do contexto. Essa renovada seleção argentina precisa desesperadamente dos talentos ofensivos de seu legendário camisa 4, alguém que pode criar situações de cesta por conta própria, com um repertório professoral de movimentos. Ayón não tem a classe ou o arsenal do cabeludo, mas já mostrou que tem um gancho confiável. Também sabe se deslocar muito bem fora da bola, ficando à disposição dos companheiros na hora do aperto. Na defesa, também está quase sempre bem posicionado e usa seu vigor e agilidade para se impor num torneio como a Copa América que não tem tantos grandes atletas. Os armadores latinos, como Laprovíttola, parece que ainda não se deram conta disso. Não adianta Sua presença foi o suficiente, por exemplo, para forçar uma andada e outros arremessos mais precipitados por parte de Scola, preocupado em fugir de seus tocos.

É por isso que ele é o orgulho de Zapotán:


(Aos leitores de outras encarnações que já tenham visto este vídeo umas trocentas vezes, perdón não precisam agradecer, ok? O prazer é todo meu.)

*   *   *

Neste jogaço, de todo modo, o México se resumiu a três nomes: Ayón, Gutiérrez e Cruz, que somaram 82 dos 95 pontos mexicanos. Só sobraram sete arremessos para os demais jogadores. Não é das práticas mais saudáveis e, ainda assim, a defesa argentina quase permite uma quantia centenária. Ai. Dá para imaginar a ansiedade e o frio na barriga de nossos hermanos, que formam uma comunidade basqueteira muito apaixonada.

O duelo com os mexicanos é um pouco traiçoeiro do ponto de vista tático para Hernández. Scola não consegue marcar Ayón e precisa de ajuda nessa. Por mais valente e determinado que seja, Nocioni também sabe, desde os treinos do Real, que não dá conta. Restam, então, Delia e Gallizzi. O espigão Delia talvez seja hoje aquele nome que mais desperta angústia na Argentina. Em vez de se desenvolver, parece que o pivô regrediu nos últimos dois anos. No primeiro jogo, Delia ficou em quadra por 20 minutos e, embora tenha terminado com apenas três pontos e dois rebotes, ao menos conseguiu atrapalhar um pouco o pivô mexicano. Tem hora que o tamanho, sozinho, ajuda. Talvez seja o caso de reduzir os minutos do novato Patricio Garino, xodó nacional, que não tem quem marcar do outro lado. Ou encaixá-lo na rotação de outra forma, pois vale apostar mais na dupla armação com Laprovíttola e Campazzo. Mesmo que o ex-flamenguista fique em posição de inferioridade (física) contra Gutiérrez, ainda é a melhor pedida.

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Vendo Campazzo, fica claro como a cobrança e as expectativas em torno de um jovem armador precisam ser moderadas. Ainda mais um cara tão elétrico assim. Ele funciona na correria, mesmo — e esta seleção argentina em específico corre como nunca. Com o tempo, Campazzo vai entender, porém, que há momentos em que o uso do freio também é uma boa solução, se não a melhor. No quarto período, o futuro companheiro de Benite e Augusto perdeu a mão. Energia por energia, o adversário jogava amparado por 16 mil pessoas.

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O Canadá é favorito absoluto contra a Venezuela. No hotel, cada um em seu quarto — ou todos juntos no bar? –, devem ter comemorado o desfecho do último jogo do dia, depois de terem atropelado a combalida República Dominicana.  Quando os dois times se enfrentaram pela primeira fase, os norte-americanos também resolveram a parada já no primeiro tempo, encaminhando um triunfo por 20 pontos, mesmo tendo cometido 22 turnovers. A equipe vinotinto não tem um jogo interior que inspire muito medo, e s proteção de cesta seria aquilo que mais chega perto de um ponto fraco de seus adversários. No perímetro, eles estão equipados para conter a movimentação de caras como Cox, Colmenares e Cubillan, que precisaria estar muito inspirados para se pensar em aprontar algo. A turminha de Andrew Wiggins só não pode entrar com o um tênis de solado muito alto, digamos, já que são apenas 40 minutos para se definir todo um trabalho. Os venezuelanos fizeram partidas muito mais competitivas em relação ao que se esperava e têm um técnico argentino ardiloso. Derrubar os canadenses, com seus nove atletas de NBA e que evoluíram gradativamente durante a competição, seria para Nestor “Che” Garcia uma proeza similar à de Rubén Magnano com a Argentina pelo Mundial de 2002.

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Resumindo, então, por que você não pode perder este jogo?

1) O ginásio vai bombar. Vale vaga olímpica.

2) A presença de Scola e Nocioni. Nunca sabemos quando pode ser a despedida de duas lendas dessas, mesmo que eles nem cogitem o assunto.

3) Scola x Ayón.

4) Nocioni x o povo mexicano.

5) Gutiérrez x Laprovíttola.


E o professor Scola deu uma aula na molecada canadense da NBA
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Giancarlo Giampietro

Mais uma exibição histórica de Scola pela Argentina

Mais uma exibição histórica de Scola pela Argentina

O professor Luis Alberto Scola, 35 anos, resolveu ensinar a molecada canadense que, no mundo Fiba, as coisas podem ser mais complicadas do que se espera. Nesta terça-feira, essa verdadeira lenda argentina marcou 35 pontos e pegou 13 rebotes, em 34 minutos, e liderou uma estrondosa vitória por 94 a 87 sobre a geração NBA de uma potência emergente.

>> Brasil vence a República Dominicana, com 8 minutos de ótimo basquete

Só no terceiro período, quando os jovens adversários começavam a se empolgar, foram 18 pontos, para deixá-los perturbados. Dá para dizer que, diante do volume de jogo impressionante do veterano, a seleção norte-americana se desestabilizou um pouco e teve de correr atrás do placar no quarto período.  Simplesmente não sabiam o que fazer contra o craque.

Foi um pouco de mais do mesmo do ponto de vista brasileiro, um tanto castigado por tantas surras que Scola nos aplicou. Um terror por toda a zona interior, atacando de frente e de costas para a cesta, com fintas para todos os lados, a munheca infalível e muita inteligência. É algo que sempre me maravilha e não consigo responder: o que é mais sensacional em seu jogo? A habilidade ou o instinto? São os fundamentos que permitem ele tomar decisões inesperadas pelos defensores, ou é a tomada de decisão que facilita a execução? Não importa. Os dois andam juntos e, com isso, temos uma figura legendária para acompanhar. Agora contratado pelo Raptors, é de se imaginar o quão calorosa será sua recepção em Toronto, né? ; )

Para os jovens canadenses, como Anthony Bennett, Kelly Olynyk, Andrew Nicholson e Dwight Powell, todos eles concorrentes na grande liga, era algo novo. Pelo Rockets, pelo Suns ou pelo Pacers, o argentino que eles conheciam era outro jogador, mais comedido. Daí que era até engraçado quando o veterano errava um arremesso e, segundos antes de a bola bater no bico, já estava de prontidão para coletar o rebote e encestar, num mesmo movimento, deixando atletas mais altos e/ou mais ágeis para trás, sem entenderem o que acontecia direito. E quando Scola puxava contra-ataque sem que ninguém se aproximasse deles, com os oponentes demorarem para persegui-lo, já apressados.

Correr, aliás, foi algo que o Canadá tentou fazer, para se aproveitar de sua condição atlética e tentar, quem sabe, cansar o pivô rival. Mesmo depois de cestas argentinas, o time de Jay Triano tentou acelerar em transição. Acontece que nossos vizinhos ao Sul estavam preparados para conter essa correria, por mais que os armadores Cory Joseph e Phil Scrubb rompessem, vez ou outra, a defesa para atacar o aro. Foram 12 pontos em contragolpes para eles.

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No geral, porém, a Argentina refreou como podia o arranque e o vigor físico deles, somando inclusive 14 pontos em sua transição e ainda vencendo a batalha dos rebotes por 45 a 39. Também soube cuidar da bola, limitando seu ataque a apenas nove turnovers. Mesmo com um conjunto também bastante renovado, a Argentina jogou com intensidade e maturidade.

Ajuda ter líderes como Scola e Andrés Nocioni (15 pontos e 5 rebotes) ao lado, obviamente. Os dois causam um impacto imenso, cuidando de pequenas coisas em quadra com atenção e esmero. Também é preciso dizer que o time de Sérgio Hernández não é só Scola+Chapu contra a rapa. A começar pelo técnico, que vai fazendo um trabalho bem mais interessante que o de Julio Lamas. Pode parecer bobagem, mas o “Ovelha” foi influente até mesmo ao saber esfriar os canadenses com pedidos de tempo providenciais quando as enterradas e bolas de três sucediam. O mais importante, porém, é seu trabalho para captação de talentos e saber como usá-los. Contra os canadenses, o treinador armou um ataque todo espaçado para dar centímetros e segundos preciosos para seu grande jogador atacar.

O camisa 4 usou todo o seu repertório, mas não viu, surpreendentemente, muitas dobras defensivas, pois havia ameaça no tiro exterior — a despeito do aproveitamento de 5-29, 26%. Além disso, temos na Cidade do México uma equipe em que cada um conhece seu papel e vai executando suas obrigações de modo competente. O universitário Patricio Garino se encaixou perfeitamente ao lado dos campeões olímpicos com sua aplicação tática. Ótimo marcador, atacante oportunista e que não tenta fazer o que está além de suas capacidades. Depois de campanhas muito ruins, Leo Mainoldi acertou a munheca. Tayavek Gallizzi soube peitar os canadenses para dar alguns minutos de descanso aos veteranos.

A maior ajuda, mesmo, veio dos armadores. Nícolas Laprovíttola teve uma atuação que já deixa o torcedor flamenguista saudosista — e os dirigentes do Lietuvos Rytas, para onde está indo, bastante animados. Foram 20 pontos, 4 assistências e 4 rebotes em 21 minutos para o barbudo, que foi realmente dominante quando esteve em quadra. Já Facundo Campazzo, que pouco jogou pelo Real Madrid durante a temporada, anotou 10 pontos, seis assistências em 18 minutos. Juntos, eles acertaram 12 de 17 arremessos de quadra, agredindo e sem forçar a barra. Talvez os canadenses pudessem ter tentado uma pressão maior para cima dos armadores. Mas talvez isso não fizesse a menor diferença. Foi uma grande exibição da dupla.

O espevitado Brady Heslip, que, guardadas as devidas proporções, seria um jovem Juan Carlos Navarro canadense, bem que tentou fazer frente a eles do outro lado da quadra. Com uma mentalidade agressiva e sua mecânica perigosíssima, não deixou a coisa desandar para valer e conseguiu tirar seu time do sufoco em situações de meia quadra. Ele que é justamente um dos três atletas do grupo de Jay Triano que hoje não têm contrato com a NBA.

Andrew Wiggins teve seus lampejos, com direito a uma enterrada para cima de Nocioni, com direito a uma audaciosa encarada na sequência. Imagino o desespero de Flip Saunders ao ver a provocação de seu jogador, que é muito jovem e talvez não soubesse exatamente com quem estava mexendo. O rapaz tinha apenas 9 anos de idade quando Chapu estava recebendo sua medalha olímpica. Wiggins também ainda não é um ala que possa criar situações por conta própria e carregar uma equipe nesse tipo de jogo.

Dos mais experientes da equipe, Kelly Olynyk foi engolido por Scola na defesa — neste ponto, o técnico Jay Triano de um caldeirão de sopa para o azar ao confiar no ala-pivô para segurar a lenda argentina no mano a mano. No ataque, voltando de lesão, o cabeleira do Celtics se não teve a melhor leitura de jogo, chutando quando tinha espaço para atacar e cortando para a cesta quando o garrafão estava congestionado. Brigou lá embaixo, é verdade, terminando com 11 pontos, 10 rebotes e mais 4 assistências para os companheiros. Mas errou 0 de seus 13 arremessos, em 23 minutos, falhando em todas as suas quatro tentativas do perímetro.

O Canadá não fez uma partida ruim, para assustar. Mas acabou acusando o golpe desferido por Scola e seus amigos baixinhos. Agora vai ter se recuperar rapidamente. Eles ainda têm Porto Rico, Venezuela e Cuba pela frente, após uma derrota que não é nenhum absurdo, mas não estava nos planos de uma seleção considerada a grande favorita ao título e a uma das vagas olímpicas. Por sorte, o próximo jogo é contra os cubanos, o que tende a ser um treino. Esse, sim, o tipo de jogo que não tende a passar nenhuma lição.


Brasil se recupera e vence a Argentina. Notas sobre o jogo
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Giancarlo Giampietro

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Com um bom atraso, alguns comentários sobre a vitória do Brasil sobre a Argentina, por 80 a 71, na noite desta terça-feira. Nem o link oficial, nem os “alternativos” estavam funcionando aqui no QG, então ficou para o VT pela manhã. Foi o terceiro amistoso entre os rivais nesta preparação para a Copa América, de modo que os times já se conheciam bem. O interessante desta série é que diversos novos protagonistas estão sendo introduzidos à maior rivalidade basqueteira sul-americana, de ambos os lados. Como o Marcus, por exemplo…

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Antes de falar sobre o jogo em si, vocês vão me desculpar se nos atermos a um pequeno ingrediente para lá de saboroso em quadra: a batalha entre Marcus Toledo e Andrés Nocioni. Em linhas gerais, numa partida de basquete, um duelo individual costuma ser só uma de diversas peças de um grande embate no plano geral. As chispas entre Marcus e Chapu, porém, tiveram significado especial. Primeiro porque pudemos ver o ala do Basquete Cearense cumprir em quadra aquilo que muita gente imaginava que ele pudesse fazer há anos. Anos, e não apenas desde o NBB6 e seu ótimo campeonato nacional por Mogi. Marcus é um ala-pivô combativo desde sempre, ganhando cancha nas divisões menores da Espanha e também na Liga ACB, até aprender a canalizar toda sua inesgotável energia de um modo mais eficiente na defesa. Foi o que fez contra um craque como Nocioni — e levou a melhor. O veterano argentino, aliás, experimentou de seu próprio veneno.

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Geralmente cabe ao campeão olímpico a posição de intimidador/agressor. Dessa vez, ele foi a vítima, ficando evidentemente surpreso e incomodado pelos seguidos desarmes de Marcus, a ponto de, no último deles, já no terceiro quarto, reclamar horrores com a arbitragem e ser excluído com cinco faltas e duas técnicas. Por essas e outras, Marcus precisa ser considerado a cada convocação. Você nunca chama apenas 12 atletas. Vai reunir um grupo, fazer cortes e, diante do que vê em treino, define seu grupo. Nem todo mundo que for para o banco vai ter um grande papel, volume de jogo e muitas oportunidades de arremesso. Para encontrar um equilíbrio, existem os operários. Está aqui um que pode ser muito valioso, a ponto de tirar, literalmente, um Nocioni do jogo. Sua importância foi muito além dos seis pontos (todos no primeiro quarto) e dois rebotes.

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Marcus entendeu rapidamente — e apreciou, naturalmente — qual era a natureza desse (coff, coff!) amistoso. Brasil e Argentina, para variar, fizeram um jogo muito físico. Ao todo, foram batidos  44 lances livres, com 24 para os hermanos. Esse combate vigoroso partiu muito muito mais da seleção de Rubén Magnano, talvez frustrada por ter sido oprimida na véspera pelo Canadá, e também por vir de duas derrotas. A pegada defensiva esteve até mesmo num nível acima do Pan, forçando 14 turnovers por parte dos argentinos, compensando a derrota nos rebotes (35 a 29).

Ricardo Fischer era outro exemplo claro essa atitude, mordendo a barra dos calções de Laprovíttola e Richotti, de um modo que deu gosto de ver. O armador do Bauru era mais baixo e menos veloz que os dois oponentes, mas isso não o impediu de fazer excelente papel defensivo, e não só por uma questão de agressividade. Ele se movimentou muito bem lateralmente, com um jogo de pés ágil e impressionante, algo que ele já usa tão bem no ataque. Se formos pensar, Fischer não é um jogador explosivo. Mas, pela inteligência e fundamentos, ele consegue levar seu time adiante no NBB, chegando aonde quer em quadra. Aos poucos, com a extensa bagagem que vai carregando nesta Copa Tuto Marchand, percebe-se que está se ajustando ao nível de competição em seleções e vai produzindo.

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Contra a Argentina, Fischer atacou muito mais a partir da linha de três, mantendo a bola viva com seu drible bem controlado e matando tiros em flutuação, mesmo sem ter por muito tempo a companhia de Augusto Lima, o tipo de pivô que facilita a vida do armador com seus cortes para a cesta, atraindo a defesa. O jogador do Murcia ficou limitado por faltas, cometendo quatro em 16 minutos. Na defesa, quem apareceu para cobrir Augusto foi Rafael Mineiro, um jogador que, sinto, não recebe o devido valor por estas bandas. Você não encontra todo dia um jogador com sua altura e mobilidade. Essa mobilidade pode não ser muito explorada no ataque da seleção (às vezes até mesmo por hesitação do próprio atleta, uma vez que me parece que Magnano tem confiança na sua habilidade para atacar vindo do perímetro). Na defesa, porém, ele vem sendo extremamente útil na defesa, para fechar espaços e acertar a cobertura.

Outros jogadores que não vinham tendo sucesso nesta semana em Porto Rico e renderam bem mais ao mudar a abordagem ofensiva contra a Argentina: Leo Meindl, muito bem nos oito minutos que recebeu no primeiro tempo, forçando inclusive um pedido de tempo de um Sergio Hernández pasmo com suas infiltrações pelo centro da defesa, e Guilherme Giovannoni, que primeiro atacou perto da cesta, correndo para valer em transição, para depois usar o chute de fora (fundamento que mais uma vez deixou a desejar do ponto de vista coletivo, com 33% de acerto, em 5-15).

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Não dá para negar que, entre os três primeiros adversários em San Juan, a Argentina é a que tem a capacidade atlética mais reduzida, de modo que o Brasil conseguiu se impor nessa esfera. De qualquer forma, observando essa atual formação de Hernández, percebe-se aqui e ali alguns jogadores que elevam o padrão habitual da seleção dos últimos anos. Nícolas Richotti já faz sucesso com suas arrancadas pela Liga ACB, então não é uma surpresa. O destaque aqui fica para os jovens alas Patrício Garino, da Universidade de George Washington, um excelente defensor, e Gabriel Deck, sensação nas competições de base da Fiba como um ala-pivô técnico, mas baixo e lento, e que reinventou seu jogo no adulto. São dois caras que vamos ver por anos e anos nas competições continentais.

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Magnano deu uma enxugada em sua rotação nesta terça, mesmo sendo o terceiro jogo em três noites. Sinal do que vem por aí? Danilo Fuzaro não foi para o jogo, assim como Olivinha. Meindl recebeu oito minutos e Marcus ficou com 16. Deryk, muito tímido com a bola, ganhou apenas cinco. Rafael Luz mais uma vez não se fardou. Esperemos que ele esteja bem para a Copa América, e que não seja nada além de medida cautelar da comissão técnica. Mesmo sem jogar, Olivinha dava sua contribuição em termos de animação no banco de reservas. Quando Marcus forçou a quarta falta de Nocioni, após um desarme, o ala-pivô do Flamenguista quase invadiu a quadra para cumprimentar o companheiro. Mesmo que, em teoria, eles sejam concorrentes.

O bacana foi ver novamente a pontuação distribuída, com quatro jogadores em duplos dígitos, liderados por um João Paulo Batista sempre eficiente (15 pontos, 56% de quadra e 5-5 nos lances livres). Da turma que foi para quadra, só Deryk ficou zerado, errando seus dois únicos arremessos, ambos de três.

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Todo paz e a mor com as câmeras de TV, o que é algo chocante, Magnano, pela primeira vez, censurou uma transmissão de TV contra a Argentina. Num determinado momento do quarto período, os adversários ensaiavam uma reação, e ele chamou tempo. Na hora de rabiscar uma jogada na prancheta, percebeu o que estava fazendo e, discretamente, se deslocou na rodinha para colocar seu traseiro de frente para as câmeras. Não era um gesto de ostentação, fiquem tranquilos. Ele só não queria que a concorrência tivesse acesso àquela jogada específica. A preocupação com esse trâmite era tanta que a instrução foi para que os atletas nem mesmo chamassem a jogada em quadra, para não dar bandeira. Jogos secretos, a gente se vê por aí.

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Por fim, reproduzo uma observação do narrador Álvaro Martín, da Fiba e da ESPN, sobre Magnano, que é algo que estamos realmente testemunhando mais vezes neste giro: o argentino tem por vezes deixado os pedidos de tempo na mão de José Neto e/ou Gustavo de Conti. De um modo geral, o treinador tem adotado postura mais leve também (sem deixar de espernear com seus atletas quando achar necessário, diga-se). Estaria o argentino preparando a transição para um mundo pós-Rio 2016? Martín falou sobre o treinador começar a se dedicar às categorias de base brasileiras, mas aí não ficou claro se era apenas especulação de sua parte ou resultado de conversas durante a semana. Magnano tem vocação para lidar com garotos e fez isso constantemente quando técnico da geração dourada de nossos vizinhos. Lembro muito bem de um Sul-Americano Sub-19 em Ancud, no Chile, em 2004, para o qual ele chegou durante a competição e, na hora da disputa por medalhas (e vaga na Copa América), rendeu um de seus assistentes para assumir o comando do time. Estava sempre perto das canteras, tal como faz Óscar Tabárez no futebol uruguaio. A ver.