Vinte Um

Arquivo : Seleção

Talento porto-riquenho pesa na estreia. Mas a derrota deixa lição coletiva importante para a seleção
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Giancarlo Giampietro

Renaldo x JP Batista

Renaldo Balkman, de novo, acabou com o jogo a favor de Porto Rico

“EQUIPO!!! EQUIPO!!”, era o que berrava, com a voz estridente, mesmo, Rubén Magnano num pedido de tempo no segundo período. Num raro flagra televisivo,  provavelmente equipada com um microfone “boom” daqueles que captam tudo ao seu redor, até pensamento, a equipe de TV da Fiba conseguiu registrar um pedido de tempo da seleção brasileira, para ouvir o argentino.

E o técnico reclamava daquilo que era evidente: a seleção brasileira insistindo de modo irritante nas jogadas individuais, com um ataque novamente estagnado, pouco criativo. A partir da chamada, se não testemunhamos uma revolução, ao menos o padrão mudou o suficiente para mudar o ritmo do embate. Aos poucos, seus comandados foram voltando ao jogo. Só não foi o suficiente na derrota para Porto Rico por 72 a 65, pela rodada de abertura da Copa América em Caracas.

Era o que faltava ao time brasileiro, mesmo. Um mínimo de organização, de cabeça erguida e altruísmo, mas um pouquinho mesmo para fazer a diferença contra os bons e velhos parceiros de Porto Rico. Ah, Porto Rico! Os sabores porto-riquenhos, a leveza, a cultura caribenha. Individualmente muito mais talentosos nesta competição, mas ainda indisciplinados o bastante para fazer de qualquer partida uma emoção.

Também pesou na recuperação, como o próprio Wlamir alertou durante a transmissão da ESPN, uma ajudinha do técnico Paco Olmos. O espanhol não só tirou seus melhores nomes de quadra como chamar jogadas em sequência para o decadente já totalmente caído Larry Ayuso, o eterno nêmesis de Marcelinho Machado. Bem coberto por Vitor Benite, forçou seus chutes e investidas e, num piscar, o Brasil diminuiu uma desvantagem de dez pontos para dois ao final do primeiro tempo (31 a 29).

Do seu lado, além da bronca, Magnano também pôde consertar um próprio erro. Em vez de capengar com a dupla Caio e João Paulo, lançouum quinteto muito mais coeso por ser beeeeeem mais leve, com Larry-Benite-Arthur-Giovannoni-Hettsheimeir. Na volta do intervalo, eram Huertas e Alex no lugar de Benite e Arthur, mantendo a agilidade. Com esse tipo de formação, conseguiram pular cinco pontos à frente. O terceiro quarto foi vencido por 22 a 17 – isto é, dois pivôs pesados ao mesmo tempo em quadra não pode.

No quarto período, porém, Porto Rico enfim se acertou em quadra, lendo melhor o que se passava na partida. Diminuíram o bumbameuboi, aproveitando inclusive uma falha estratégica do técnico da seleção brasileira.

Ok, o velhaco Daniel Santiago estava dando um trabalhão danado, de modo que o técnico tirou Caio Torres de seu banco para combatê-lo. Deu certo por algumas posses de bola. Daí que Olmos tirou, então, seu grandalhão, e o argentino não o acompanhou nesse jogo de xadrez. Sem tem com quem trombar em seus custosos minutos a mais em quadra, no sacrifício e, por isso, com a mobilidade ainda mais comprometida,  sobrou para o novo pivô de São José perseguir sem a menor chance o hiperativo Renaldo Balkman.

Uma das figuras desta Copa América, o ala-pivô andava quieto ofensivamente, mas foi muito bem acionado por Barea nessa ocasião e acabou com o jogo, no fim. Operário toda a vida, terminou o duelo com os brasileiros novamente com uma linha estatística de superestrela: 24 pontos, oito rebotes e quatro tocos, com 70% de acerto nos arremessos. Uma ou duas posses de bola de sucesso para o cabeludo, e os adversários abriram uma vantagem mínima. Conta cada detalhe, não?

A essa altura, ao menos a seleção ao menos tinha uma abordagem mais razoável, menos egoísta – ainda que, no ímpeto de querer resolver jogo rapidamente, os alas brasileiros tenham novamente se precipitado a arremessar com muitos segundos no cronômetro, achando que aquela era A HORA de matar os caribenhos.

Se tivessem trabalhado um pouco mais o ataque durante os primeiros 15 minutos do primeiro tempo, quando Porto Rico estava todo atrapalhado, perdido em seus devaneios, talvez o desfecho pude ser diferente? Pode ser. De qualquer forma, ficou evidente que as investidas no mano-a-mano não são o que apregoam Magnano. O técnico agora tem de dar um jeito de passar a mensagem de maneira ainda mais clara para as próximas rodadas. Com muitos desfalques e uma convocação deficiente, seu time não tem margem de erro alguma. Cada minutinho de um jogo coletivo que possa amplificar as qualidades de seus atletas.

Precisa-se, realmente, de uma equipe.

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O Brasil teve chance. A derrota incomoda, claro. Mas era um resultado, digamos, que já poderia entrar na conta. Não muda muito o planejamento da equipe na busca de uma das quatro vagas do torneio. Depois da folga neste sábado, voltam aí, sim, para um confronto direto com o Canadá no domingo, ao meio-dia (horário de Brasília). Os canadenses venceram a Jamaica com facilidade na primeira partida do torneio: 85 a 64, com excepcional partida de Cory Joseph (17  pontos, 9 assistências e 8 rebotes).

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Marcar Barea é complicado. Explosivo, maroto, tende a conseguir aquilo que pretende fazer no ataque. Larry bem que tentou, num esforço louvável, mas seu oponente tende a levar a melhor mesmo no um contra um ou no uso de pick-and-rolls. E o que fazer, então, para amenizar essa situação? Atacar, literalmente, sua deficiência. Leia-se: sua defesa. Ele só joga de um lado da quadra. Então Huertas adotou uma estratégia correta: antes de serem agredidos, foi ele para cima. O brasileiro terminou o jogo com 16 pontos, contra 12 de seu oponente. E o saldo positivo não se resume apenas aos quatro pontos de uma conta básica, mas, antes de tudo, na grande conta tática do jogo, minimizando o impacto gerado pelo tampinha.

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Situação hipotética: se Magnano fosse o treinador de Arroyo e Ayuso, precisaria muito mais de uma equipe de paramédicos ao seu lado do que de Fernando Duró liderando um grupo de escudeiros. As chances de um piripaque seriam altíssimas. De acompanhar os caras há anos, sabemos bem, né? Mas não deixa de impressionar a cada confronto: os dois são talentosos, obviamente, mas, juntos, têm uma malemolência incontrolável. Agem como se fossem matar o jogo a cada momento.

É até engraçado, no caso de Arroyo, comparar sua postura quando serve ao time nacional com a que tem em clubes. Duas figuras completamente diferentes. Em Porto Rico, é como se ele fosse o chefão, um scarface prestes a dominar a situação. Daí o seu orgulho ferido pela ascensão de um Barea igualmente tinhoso, mas muito mais produtivo. Não que o armador não consiga mais perturbar uma defesa ou seu marcador em específico. Tem ginga, drible e chute para isso. Mas, em geral, o modo como enxerga o jogo e como se comporta não é nada saudável para nenhuma equipe.

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Tão eficiente na fase de amistosos, o tiro de três pontos foi uma lástima no jogo de estreia: os brasileiros converteram apenas 24% de seus arremessos de fora, com 13 erros em 17 tentativas. Ai. No geral, porém, a coisa foi ainda mais feia: 36% no aproveitamento de quadra, contra 41% dos porto-riquenhos, num jogo feio de doer.

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 Rafael Hettsheimeir: completamente enferrujado. Na hora de avaliar o pivô brasileiro, favor não esquecer a temporada perdida que ele teve na Espanha. Ele ficou muito tempo no banco de reservas do Real Madrid, e isso atrapalha demais, para qualquer um. Ou não lembramos mais das dificuldades que até mesmo um Tiago Splitter teve ao se apresentar em 2011 após um ano de banco pelo Spurs também?

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Raulzinho e Rafael Luz nem jogaram. Passaram a partida inteira com camisa de manga comprida no banco. Nem um minutinho sequer? A ver se a situação se mantém para o decorrer do torneio.


Seleção vence Canadá no último teste e vai para a Copa América vulnerável, mas na briga
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Giancarlo Giampietro

Magnano orienta. E vai precisar de mais

Rubén Magnano é um ótimo treinador.

Vamos lá, de novo. O Rubén Magnano? Um baita treinador.

Sabia? Campeão olímpico e tudo. Com a Argentina! Vice-campeão mundial, operado na final contra o Bodiroga, o Peja e o Divac. Deu uma cara nova para a seleção brasileira! Conseguiu o quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Londres. Ganhou da mesma Argentina lá dentro. Com tantas façanhas, tem o respeito, imagino, irrestrito por parte de seus jogadores. Não há como não confiar num técnico desses.

Satisfeitos?

Se não, vai mais uma vez, sem cinismo algum: Rubén Magnano é um treinador que qualquer time deveria pensar em contratar.

Pronto, acho que deu.

Talvez agora possamos falar sobre a seleção brasileira livres da paranoia. E sem ter background algum no assunto.

A delegação tupiniquim desembarca nesta terça-feira já em Carcas, com a Copa América começando já na sexta. Em sua despedida da Copa Tuto Marchand, uma noite depois de ter sofrido uma derrota apertada contra Porto Rico, o time de – vejam só, ele mesmo! – Magnano venceu a jovem seleção canadense por 77 a 70, terminando sua campanha com dois triunfos e dois reveses. Ao menos, depois do vexame passado contra a Argentina, a intensidade defensiva foi resgatada.

Se, no torneio continental, a equipe conseguir manter esse padrão, essa tocada e evitar tropeços calamitosos, vai se meter entre os quatro primeiros e vai conquistar, na quadra, sua vaga para a Copa do Mundo da Espanha 2014. É simples: na teoria, basta ficar acima de um entre Argentina, Canadá, Porto Rico e República Dominicana. Que se tome cuidado com México, reforçado com Ayón, e a Venezuela, um time doido, jogando em casa, e pronto.

Posto isso, vai ser extremamente difícil me convencer de que Magnano tenha feito uma boa convocação para a temporada. Houve um sério erro de cálculo, e isso está escancarado na quadra. Metade de nosso elenco é baixa e veloz. A outra, nem tão alta assim, mas extremamente pesada. Para fazer isso conectar não vem sendo nada fácil, se é que vai acontecer. Esse descompasso só não vê quem realmente não quiser ou quem realmente ache que, no mundo, é tudo uma questão de “ame” ou “odeie”, preto e branco, e que ou se é “pró”, ou “contra”. Ou talvez esses estejam com a bandeira tapando a cara, distraídos ao tirar do saquinho um punhado de confetes ou qualquer coisa do tipo. Pode ser também.

De qualquer forma, independentemente de ideologia política, educação ou credo, acho que todos concordamos que Facundo Campazzo e José Juan Barea são dois tampinhas muito difíceis de se marcar. Vocês devem se lembrar, por exemplo, do que o porto-riquenho fez contra uma defesa hiperatlética como a do Miami Heat, né? Ele continua o mesmo, embora escondido no Minnesota Timberwolves e sem a companhia de um Jason Kidd para escoltá-lo. Se o Brasil estivesse com Varejão, Splitter e Nenê, três grandalhões de excelente movimentação lateral, a coordenação da defesa de um pick-and-roll já teria de ser perfeitinha, para afastá-lo da cesta.

Agora, quando você está tentando frear Barea numa jogada dessas com Rafael Hettsheimeir envolvido na troca, fica mais difícil. Com JP Batista, apesar de sua inteligência em quadra, não muda muito. Se a segunda ou terceira opção é Caio Torres, ainda mais pesado, complica bastante. E, se o treinador não está confortável em dar mais minutos para o único pivô atlético que tem no elenco, danou-se. É exatamente este o cenário que temos na seleção hoje. Simples. Nossos quatro pivôs experientes são extremamente vulneráveis quando estão afastados da cesta.

Tendo pela frente gente como Luis Scola, Ricky Sánchez, Andrew Nicholson, Hector Romero, Gustavo Ayón e, por vezes, até Jack Martínez e Esteban Batista, o que acha que vai acontecer, e muitas vezes? Os pivôs vão precisar subir e marcar – e importante considerar aqui que não estamos falando apenas de contestar arremessos na linha de três. São raros, bem raros, aliás, o caso de “cincões” que joguem de costas para a cesta, plantados próximos do aro neste torneio. Mas, nem mesmo a presença desses gigantões como Eloy Vargas, dos dominicanos, ou o bom e velho Daniel Santiago anima muito. Por quê? É só ver o impacto que Santiago teve no quarto período, com corta-luzes imensos que garantiam a Barea um posicionamento cara a cara com um pivô/uma avenida. Resultado: bandeja. Neste ponto, fazem falta também jogadores mais atléticos para fazer a cobertura.

Desde que assumiu o cargo, Magnano procurou imprimir na seleção a ideia de que, se quisessem deixar para trás os dias de derrota após derrota, teriam de aceitar e aplicar seu ritmo defensivo extremamente exigente. Por isso a estranheza da lista que ele próprio compôs, com jogadores que não atendem exatamente aos seus princípios, incluindo aqui os dois que chamou a partir do momento em que os comunicados com pedidos de dispensa começaram a se empilhar. Lembram? Antes de João Paulo Batista o argentino já havia chamado Paulão, mais um que nunca foi conhecido por sua explosão em quadra. Veja bem: não é que sejam, individualmente, separados, jogadores ruins. O problema é que eles não batem com as necessidades deste grupo em específico.

Essas questões defensivas ficam ainda mais custosas quando combinadas com a ineficiência dos pivôs também apresentada do outro lado da quadra. Mesmo o talentoso Hettshimeir está com enorme dificuldade para produzir, enferrujado depois de uma temporada inteira no banco do Real Madrid. Caio só vem matando quando completamente livre – sem muita mobilidade, tem sido presa fácil para quem estiver ao seu lado disposto a combater. João Paulo é uma peça complementar, que deve ser mais usada dentro de um sistema do que como referência. Cristiano Felício deveria ter sido mais usado no torneio amistoso, mas não foi o caso.

Desta forma, a seleção fica extremamente dependente dos tiros de fora, que caíram com uma frequência saudável em Porto Rico (em geral, sem forçação de barra), e dos contra-ataques, que saem a partir da pressão na bola que Larry e Alex podem fazer por conta, a despeito da falta de cobertura. Se esses contragolpes não forem concluídos necessariamente com bandejas em linha reta, ao menos o jogo em transição pode proporcionar situações de desequilíbrio para serem aproveitadas com um ou dois passes a mais antes de as defesas se recomporem. Passes esses que, contra Porto Rico e Canadá, começaram a aparecer com maior frequência, ainda que numa frequência tímida. Espera-se que esse movimento ganhe mais força para o torneio que vale.

De resto, temos um Larry mais agressivo com a bola, procurando infiltrar mais do que brecar para os tiros ineficientes de média distância – fundamento o qual não domina. Alex vai fazendo de tudo um pouco. Giovannoni, adorando essa vida de cestinha designado, saindo do banco. Benite parece ter perdido o espaço na rotação – em seu lugar, faz muita falta um jogador vigoroso como Marcus Vinícius Toledo, de Mogi. Raulzinho fica estabelecido como o armador vindo do banco, preocupado mais em melhorar a pegada defensiva da equipe, já que Huertas vem se mostrando bastante frágil quando atacando no um contra um e está, para variar, sobrecarregado em suas responsabilidades ofensivas. Arthur vai ganhar uns minutos aqui e ali, dependendo do excesso de faltas dos companheiros.

Sim, essa seleção tem problemas e sérios. Que talvez pudessem ter sido remediados com uma lista melhor – e, por “melhor”, não é preciso pensar necessariamente em nomes, mas, sim, em características que fossem mais produtivas num coletivo.

Mas o time de – tcha-ram! – Magnano não é o único cheio de pendências para resolver. Porto Rico depende do estado de humor de seus talentosíssimos mas geniais armadores. A República Dominicana tem um banco ainda menor que o brasileiro. O Canadá, com seus talentos de NBA, está apenas em seu estágio inicial de evolução, como se fosse o Brasil de 2003. A Argentina parece mais azeitada, mas, por mais que seu elenco de apoio esteja surpreendendo, ainda estamos diante de um time que depende de Scola para avançar. E todos eles sofrem com os famigerados “desfalques”.

Fato é que, no momento, o Brasil está no meio do bolo. Vai ter de lutar, jogo a jogo, ciente disso, preparada psicologicamente para suportar a pressão. Para lidar com isso, é preciso contar com um comandante renomado e tarimbado.

Inicialmente, Magnano foi contratado com uma missão urgente: encerrar o jejum olímpico de qualquer maneira. Cumprida essa etapa, o basquete nacional pode pedir mais – e que os favores fiquem mais com a parte esportiva da coisa, a despeito de seu status de trunfo político numa gestão totalmente destrambelhada.

Entre o que se espera, está fazer do grupo limitado que ele próprio convocou uma unidade mais forte.

Afinal, é um excelente treinador.

Quem duvida?


Argentina surra o Brasil e deixa a preparação do time de Magnano ainda mais nebulosa
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Giancarlo Giampietro

Mais uma bandejinha pra Campazzo

Facundo Campazzo se esbaldou contra a nada combativa defesa brasileira

Depois da surra que o Brasil tomou da Argentina neste sábado, perdendo por 90 a 70 pela Copa Tuto Marchand, o que resta é fazer especulações, sabe? Como se estivéssemos em meio uma guerra fria, com espionagem e contra-espionagem e apelar para a máxima de que só podem estar “escondendo o jogo”.

Por exemplo: no comecinho do jogo, a seleção conseguiu atacar sem problema alguma defesa por zona adversária, com Marcelinho Huertas invadindo o garrafão para servir a Rafael Hettsheimeir em duas ocasiões. As duas jogadas resultaram em enterradas do pivô, muito bem posicionado para receber o passe, na lateral do garrafão. Evitava os três segundos, estava próximo da cesta e, ao mesmo tempo, posicionado entre dois quintos de uma formação 2-3. Raulzinho faria o mesmo com Caio Torres depois.

Daí que o time de Rubén Magnano pouco – ou, se bobear, nunca mais – repetiu esse tipo de investida até o final da partida. Começaram a sair os tiros de média distância teimosos, as tentativas de se jogar no mano-a-mano começaram a aparecer com frequência, enquanto, do outro lado, a pegada defensiva estava bastante afrouxada, algo raramente visto durante a gestão do argentino. Além disso, Huertas ficou em quadra por apenas 13 minutos. Alex, nem isso. Hettsheimeir jogou por 22 minutos.

Então o que aconteceu lá em Porto Rico? O Brasil entrou para jogar um amistoso, e a Argentina, com o Luis Scola jogando até o final, a despeito de uma vantagem superior a 20 pontos, encarou como clássico? Ou os argentinos já estão num estágio consideravelmente superior em sua preparação? Ou eles foram infinitamente superiores ao menos por uma determinada noite? Os jogadores brasileiros perdem a disciplina no decorrer do jogo e o treinador não consegue administrar, orientar? As próximas partidas contra Porto Rico, neste domingo, e Canadá, na segunda-feira, vão nos ajudar a entender. Quer dizer, podem ajudar a entender.

De qualquer forma, se formos ignorar qualquer tipo de trama mirabolante, o que vimos em quadra preocupa.

A começar pela defesa, que supostamente seria o carro-chefe da seleção com Magnano. Facundo Campazzo, que parece melhor a cada torneio, se esbaldou de tantos cortes pelo fundo que conseguiu, com ou sem a bola. Os marcadores se alternaram, e o tampinha seguiu fazendo bandeja atrás de bandeja (17 pontos, 70% nos arremessos e só um turnover). Scola foi surpreendentemente bem marcado por Caio no primeiro quarto, terminando a parcial com apenas quatro pontos e nenhuma cesta de quadra – depois, caminharia para mais um double-double dominante, com 23 pontos, 11 rebotes e 58% nos arremessos. No perímetro, os argentinos acertaram 8 em 17 tentativas (47%). Além disso, eles cobraram 15 lances livres a mais que os brasileiros.

Nos lances livres, aliás, outro problema: a seleção converteu apenas 33% de seus chutes, um horror horripilante, daqueles horrorosos mesmo, que deixaria até Shaquille O’Neal envergonhado. Foram 12 erros em 18 arremessos. Para se ter uma ideia, o melhor aproveitamento do time na noite foi de Arthur, com 75%. Depois veio Giovannoni, com 66,7%. O restante?  Todos de 50% para baixo. Embora não tenhamos os melhores gatilhos do mundo, também não quer dizer que seja ruim assim a coisa. Das duas, uma? ou estão muito cansados e não tiraram o pé coisa nenhuma nos treinos em Porto Rico, ou foram quebrados mentalmente pela Argentina. As duas são bastante possíveis, ainda mais a segunda, considerando o tanto que reclamaram os brasileiros durante a partida, com um gestual que incomoda – embora, diga-se, Julio Lamas também seja uma prima donna neste quesito.

No ataque, o ritmo também não vai nada bem, mesmo. As trocas de passes, quando ocorrem, são inócuas. O aproveitamento de longa distância segue alto (43%), mas o de dois pontos vai baixo (44,7%) – e, sim, há uma diferença brutal entre chutar 43% de fora e 44% dentro da linha de três pontos.

Fato é que, até o momento, o Brasil não apresenta padrão algum de jogo, num reflexo direto de uma convocação mal feita. Magnano está tentando fundir jogadores baixos e velozes com pivôs lentos, pesados. Partes que não se encaixam, que ainda não conseguiram formar uma unidade em quadra.

Veja o quinteto que iniciou o segundo quarto, por exemplo: Luz, Larry, Benite, Hettsheimeir e Caio. Não faz sentido algum essa formação. O que esperar dela? Como fazer uma defesa agressiva se os dois pivôs, por exemplo, não vão conseguir cobrir um pick-and-roll de maneira apropriada. Para eles, qualquer passe em falso a mais no perímetro significa um argentino cortando com liberdade em direção ao aro – até Juan Gutiérrez se deu bem nessa.É na defesa que Splitter, Varejão e Nenê, os três muito velozes, fazem mais falta.

Além disso, impressiona como o conjunto argentino parece muito mais bem preparado e formado. Os jogadores sabem exatamente seu papel em quadra, e isso faz uma diferença danada. Ajuda para que o jogo tenha mais fluência, seja pelo espaçamento ou pelas decisões que passam a ser simplicadas as partir do momento em que cada atleta tenha suas diretrizes claras. O que não impede que eles improvisem, claro, como Campazzo fez muitas vezes.

Enfim, os desfalques estão de todos os lados, as gerações vão sendo trocadas, o tempo passa, o tempo voa, e a Argentina dá um jeito de seguir por cima.

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Com 5min33s restando no primeiro quarto, Raulzinho entrou no lugar de Marcelinho Huertas. Em seu primeiro ataque, fez o passe para cesta de Caio Torres. Um minuto depois, deu uma assistência para Arthur matar de três pontos. Na posse de bola seguinte, cometeu uma falta ofensiva no enjoado Facundo Campazzo ao tentar se livrar da marcação para receber o fundo bola. Acabou substituído no ato, dando lugar a Rafael Luz. Quando entrou, o jogo estava 10 a 8 Brasil. Quando saiu, após 1min23s (!?!?!), estava 15 a 14. O tipo de substituição do (nosso) argentino que não dá para entender. Educação tem limite?

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Juan Fernández, em quadra, é a cara de Pepe Sánchez. Capazzo, em toda a sua sanha, lembra um pouco Alejandro Montecchia.

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Por que os números não dizem tudo ou podem ser bastante enganosos? Vejamos o total de assistências da partida: 14 para o Brasil e apenas seis para a Argentina. Logo, a dedução de bate-pronto poderia ser a de que os argentinos são individualistas em demasia, não? Não. Como o twitteiro profissional Filipe Furtado falou, isso só mostra o quão facilmente eles estavam batendo a defesa oponente, em jogadas simples de tudo. No geral, porém, ficou evidente que o senso coletivo de nossos vizinhos ao sul, a essa altura, está muito superior.

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Levantamento de Guilherme Tadeu, do Basketeria, aponta que esta derrota foi a maior da seleção sob o comando de Magnano.

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Estar atrás da Argentina, de novo, pode ferir o orgulho de alguns, mas não é o fim do mundo, por enquanto. Para classificar para a Copa do Mundo, a seleção precisa estar entre os quatro melhores na Copa América. Quer dizer, tem de superar, em teoria, pelo menos um entre Canadá, Porto Rico e República Dominicana, ainda que não esteja pronto para descartar o Urutuguai e a anfitriã Venezuela, mesmo sem Greivis Vasquez, mas com o ala americano Donta Smith contratado nacionalizado.


Aproveitamento de 3 pontos é alto, mas seleção escapa de derrota ao agedir a cesta
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Giancarlo Giampietro

Giovannoni alternando

Guilherme para a bandeja também: 6/7 nos arremessos, 3/4 de fora

Na vitória suada contra a República Dominicana, com a cesta de Alex a menos de meio segundo do fim, a seleção brasileira acertou 44% de seus arremessos de longa distância. Foram oito cestas em 18 tentativas, ótimo rendimento. Além disso, o time de Rubén Magnano não mostrou uma propensão exagerada ao tiro de fora, numa comparação com os 49 arremessos de dois pontos que tentaram durante toda a partida. Muito bem.

Agora, para um específico grupo de jogadores, especialmente aqueles aculturados dentro do NBB – e, na verdade, no basquete brasileiro como um todo, numa predisposição que antecede o campeonato e esta nomenclatura –, há sempre um perigo quando se desfruta de uma boa jornada com os chutes de longa distância. O de achar que vai ser sempre assim. De que será com esses chutes que as coisas vão se “desafogar”, para ficar no termo usado pelo legendário Wlamir durante a transmissão da ESPN.

Mas foi apenas pelos tiros de três pontos que o jogo foi vencido? Eles foram tão cruciais assim? Recapitulemos os minutos derradeiros do quarto período na ofensiva brasileira, antes da intervenção salvadora de Alex, para avaliar o peso de cada bola. Leva um pouco tempo, mas se faz necessário…

O quarto começou com vantagem brasileira de quatro pontos, 57 a 53. O limeirense Ronald Ramon não precisou nem de três segundos para anotar uma bandeja e deixar os dominicanos bem próximos no placar. Aí, na bola seguinte, Giovannoni acertou uma bomba de fora com assistência de Larry. Foi um lance celebrado, de que teria dado um respiro ao time.

Com 9min02s no cronômetro, foi a vez de João Paulo Batista fazer mais dois, levando o escore a 62 a 55. Seguiram-se, então, cinco pontos seguidos dos oponentes, numa velocidade que só, até que, com 8min13s, Larry fez uma cesta. Com 5min41s, contudo, a República Dominicana liderava por 67 a 64.

Parecia que o jogo escorria pelo ralo, mesmo, quando Huertas entrou em ação, marcando os próximos oito pontos brasileiros em quatro cestas, lembrando seu poder de finalização a despeito das amarras de Xavier Pascual. Na terceira, restando 2min41s, foi para recuperar a dianteira em 72 a 70.

Nas duas posses de bola seguinte, a República Dominicana teve um turnover com o versátil Eulis Baez e um erro num chute completamente forçado de Francisco Garcia.  Com 1min17s, no ataque seguinte, bum!, Giovannoni não hesitou em queimar quase de frente para a cesta, com um mínimo espaço necessário para matar de fora, levando o placar a 75 a 70.

Uma série de ataques infelizes de um lado e de boas investidas de Garcia, descolando lances livres, e chegamos ao minuto final com 15 segundos no relógio e os caribenhos com a chance de matar o jogo. Sabemos o que houve: Garcia errou mais uma vez no perímetro, mas, com a defesa brasileira quebrada após o rebote, James Feldeine recebeu livrinho na zona morta pela esquerda para encestar, num lance com ecos do Jogo 6 das finais da NBA, sem a mesma dramaticidade, claro, ou dificuldade. Até que Alex fez das suas. E acabou.

Dessa reviravolta toda, tirando, claro, as intervenções nos últimos segundos, se você não ficar atento e se deixar levar pelas “emoções”, é capaz de lembrar dos chutes de Guilherme. Olha que maravilha! De três! É assim que eu gosto! Ignorando que, no momento de maior dificuldade, ficando três pontos atrás, foram quatro jogadas agressivas de Huertas, buscando a cesta de perto, em que o controle do placar foi reassumido. No fim, pressionado, o armador foi buscar os pontos no garrafão, lá pertinho do aro, aonde a probabilidade é muito maior de conversão, e você não precisa exclusivamente de superpivôs para atacar deste jeito.

Aqui não se trata, então, de uma crítica – embora as coisas não estejam nada perto de uma maravilha. Mas, antes, um alerta: que não se enamorem pela conversão nos chutes de fora, como de costume, como estão habituados a fazer durante boa parte da temporada. Nem toda defesa vai dar tanto espaço assim como fizeram os dominicanos.

Deste jogo, a lição mais importante que fica para o ataque é, ironicamente, o erro (quase) crucial de Larry, com o aro escancarado a um palmo da fuça, e os segundos minguando. Acabou que não caiu a bola, mas o rebote só saiu manso para o tapinha por causa da confusão que o americano criou ao partir para cima dos dominicanos e procurar a bandeja. Ele pode ter falhado na execução técnica, mas tomou a decisão correta, a despeito do aperto da situação, em vez de optar por um atalho na linha de três.


Enfrentando ala de NBA, nove centímetros mais baixo, Alex mostra seu valor e faz cesta da vitória
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Giancarlo Giampietro

Cisco x Alex, os Garcias

O duelo entre Garcias sempre animado pelo mundo Fiba

Alex é sempre o primeiro a divagar… Ah, se fossem dez centímetros a mais!

Mas tem hora que nem todo centímetro vai compensar a disposição para fazer o serviço sujo, a preocupação com os detalhes, a disposição em quadra. E lá estava o diminuto ala, do alto de seu oficial 1,92 m, com os braço esquerdo e os dedos todos estendidos para conferir o rebote ofensivo, com cerca de 0s2 no cronômetro, e definir uma vitória por 78 a 77 para a seleção brasileira pela rodada de abertura da Copa Tuto Marchand, em Porto Rico.

Um desfecho de certa forma irônico, enquanto podemos nos apegar a esse tipo de coisa, já que ainda escrevemos sobre jogos preparatórios. O rebote é o fundamento que talvez mais preocupe rumo a uma disputa de vaga no Mundial – e título continental, oras –, e foi justamente num tapinha ofensivo que o time de Magnano se safou nessa.

Um viva ao amigo Elpidio Fortuna, aliás, que ficou hipnotizado pela bola, pela rebarba de uma bandeja agressiva, inteligente, mas mal efetuada por Larry Taylor e se esqueceu de uma das tarefas mais básicas do jogo. Aquela que muitas vezes dói, por conta das pancadas nas costelas, na coxa ou mais, mas que é extremamente necessária: o bloqueio de rebote. Alex subiu livrinho da silva, sem contato físico nenhum, para fazer a cesta decisiva.

Não que o chamado “Brabo” tenha algum problema em assimilar as pancadas. Pelo contrário, né? Fosse proibido de buscar o contato, teria de buscar outro esporte. Que o diga o talentoso Francisco Garcia, seu xará de sobrenome, que deve detestar os dias em que tem o Brasil pela frente. Ele sabe que aquele tampinha estará em quadra disposto a contestá-lo, ou, no mínimo, importuná-lo.

Aconteceu na última Copa América em 2011, com uma vaga olímpica em jogo. Aconteceu no Pan de 2003 até, dez anos atrás! Na casa deles, em Santo Domingo. E teve repeteco nesta quinta, mesmo em torneio amistoso. Alex perseguindo o dominicano no perímetro, com uma postura defensiva na maioria das vezes perfeita – em duplo sentido, contando não só o empenho, como também o posicionamento. Mesmo sendo mais baixo, o brasileiro não arrisca muito, guardando posição, com os braços erguidos, deixando para saltar ou dar o bote apenas no último instante. É um comportamento que atrapalha o alto e esguio dominicano.

Em competições de nível Fiba, diante de poucos atletas de primeiro nível, mesmo, que ele tem pela frente, Cisco ainda possui recursos suficientes para criar suas situações de arremesso. Contra o Brasil, ele ainda pode colocar a bola no chão com mais tranquilidade e partir rumo ao garrafão na esperança de descolar uma falta ou seu arremesso de média distância, encurtando a passada, para aproveitar sua envergadura. Arthur e Benite foram obrigados a tomar nota disso.

Com o número 10 da seleção em seu cangote, porém, a coisa fica um pouco mais difícil. Suas investidas são mais suadas, até pela pressão física que o adversário impõe. Se a arbitragem deixar o pau comer, o Garcia brasileiro consegue equilibrar bem as coisas.

E aí, medindo de baixo para cima o dominicano, com seus 2,01 m de altura e oito anos de NBA no currículo, sem contar a marca de US$ 29 milhões em salário que vai bater este ano como jogador do Rockets, Alex primeiro vai combater. Depois, sempre sobra um tempo para levar aquela hipótese dos dez centímetros adiante.

PS: mais algumas notas sobre a partida, com as mesmas preocupações de sempre, nesta sexta.


Ataque estagnado ou cansado? Torneio em Porto Rico serve para seleção tirar prova
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Giancarlo Giampietro

Vamos ver, Rubén

Rubén Magnano, preparação dura num ano duro para a seleção

O ala Arthur, veterano de NBB, mas um novato aos 30 anos quando falamos de Copa América, tem como uma de suas principais características a incessante e inteligente movimentação fora da bola. Se aqueles com o drible mais habilidoso e explosivo são os que aparecem com mais frequência nos melhores momentos e contagens regressivas, os jogadores que sabem encontrar ou gerar estes espaços nos, digamos, bastidores, também podem se tornar cestinhas de mão cheia. Eles só trabalham de outra maneira, muito mais sutil, mas, nem por isso, menos desgastante, cortando de um lado para o outro na quadra, usando bem os corta-luzes, backdoors e tudo o mais, até que se cause a mínima separação e ativar o arremesso. Para os mais habituados com a NBA, é só pensar em caras como Reggie Miller, Richard Hamilton e JJ Redick.

Nos primeiros amistosos da seleção brasileira antes do embarque rumo a Porto Rico e, depois, Venezuela, o jogador do Brasília até que tentou criar situações de ataque para a equipe se mexendo na zona morta, buscando ângulos diversos para a recepção do passe, mas nem sempre foi recompensado, por vezes ficando com as mãos espalmadas aguardando a assistência que não vinha.

Agora calma: não era nada pessoal.

Essa foi apenas uma das consequências negativas de um sistema ofensivo bastante estagnado que vimos em ação nestes primeiros jogos preparatórios do time de Rubén Magnano, num padrão preocupante, caso não seja alterado até o início da Copa América, no dia 31 de agosto.

Após a vitória sobre o México, em São Paulo, num jogo bastante enjoado (em muitos sentidos), Arthur foi simpático o suficiente para interromper uma sessão fotográfica animada com a pirralhada na quadra do Paulistano para conversar sobre isso. Ele concordou com a observação feita sobre o ataque pesado, arrastado que a seleção vinha demonstrando. Mas ofereceu um bom motivo para tanto: o simples cansaço.

Naquela terça-feira, por exemplo, o time entrou em quadra por volta das 19h para disputar o amistoso. O que não impediu que Magnano os convocasse para um treino com bola pela manhã, acompanhado de mais uma bateria de exercícios na academia, puxando ferro sem parar. Um episódio que não foi isolado. Na segunda-feira passada, antes de viajar para San Juan, o time também repetiu a dose em São Paulo.

Lembrei disso na hora em que li a seguinte declaração de Marcelo Huertas, o capitão do time, em texto de divulgação da CBB, comentando a partida de estreia na Copa Tuto Marchand, em San Juan, nesta quinta-feira. “Tivemos uma fase de treinamento muito boa, em que conseguimos alcançar uma ótima condição física e técnica. Agora é hora de tirar o pé, fazer os últimos ajustes para chegar à Copa América na melhor condição possível”, disse o armador.

“Tirar o pé.”

Os treinos comandados pelo técnico argentino são notoriamente pesados, dando vontade aqui de usar até o termo “mutiladores”, o que não seria de bom tom, evidentemente, e também se trata de uma palavra bastante feia, que faz jus ao seu significado. Não importa a origem do jogador, se está vindo da NBA, da Europa ou dos clubes nacionais – o fato é que múltiplos relatos dos atletas que trabalharam com Magnano dão conta do quão puxada tende a ser sua preparação. A ideia, acho, é que eles cheguem para os torneios oficiais achando que tudo é uma moleza, depois do tanto que ralaram nas semanas que antecedem a competição.

Bem, nas últimas temporadas, a seleção tem apresentado esta tendência, de oscilar em amistosos até que eleva seu jogo na hora do vamo-vê. Neste ano, essa transformação se faz urgente. Se a pegada defensiva foi regula, é preciso considerar que a equipe enfrentou adversários consideravelmente mais fracos na maioria das vezes – tirando uma Argentina com Scola & chicos em Anápolis, contra a qual o “abafa” não deu muito certo. Mas o que fez coçar a cabeça mais foi o ataque, ainda mais dependente das chamadas “cestas fáceis” de contra-ataque.

Quando o time parou em situações de meia quadra, de cinco encarando cinco, as coisas ficaram bem mais complicadas, especialmente quando a mesma Argentina resolveu brincar de gato e rato e alternou sua retaguarda sem parar, entre zona e defesa individual, deixando os brasileiros sem rumo em quadra.

Isso naturalmente deve ter aberto os olhos de Magnano, quando este optou por colocar dois ou até mesmo três eventuais armadores em quadra.

“Eventuais” porque Larry Taylor e Benite pouco passaram a bola nestes amistosos. Se o jovem flamenguista ainda tem a desculpa de estar sendo muito mais utilizado do outro lado do passe – ele também investindo nas trajetórias e parábolas por trás da marcação adversária –, o americano não colaborou muito no sentido coletivo da coisa. Em Bauru, Larry tem a bola por boa parte do tempo, podendo produzir de acordo com sua preferência. Na seleção, não há espaços para tanto drible, fazendo da bola uma prisioneira.

Contra o México, de novo, ficou evidente o quanto sua presença em quadra ajudava a estacar a coisa toda. Se a bola está com Huertas, o carequinha tende a se posicionar na quinta da linha de três pontos e por ali estacionar. Atlético, explosivo, seria muito mais produtivo se tentasse encontrar outras formas de atacar a cesta que não em situações de mano-a-mano ou de pick-and-rolls nem tão em realizados.

Mas isso, claro, não tem a ver apenas com o americano. O time todo precisa estar envolvido, engajado em trocar passes de um lado a outro, se movimentando como uma só máquina, em busca das melhores situações de arremesso. Ou isso, ou estaremos destinados a exigir o máximo da criatividade de Huertas e da sede de cestas de Hettsheimeir.

A partir desta quinta, contra os dominicanos, chegou a hora de medir o quanto era cansaço, mesmo, ou limitações técnico-táticas. É hora de acelerar em quadra.

*  *  *

Depois do corte de Marquinhos, cresceu a responsabilidade de Arthur na seleção, em sua primeira grande (?) competição. Até este ano, o ala de Brasília só foi aproveitado nos Sul-Americanos, tendo sido curiosamente convocado para a competição regional, relegada a times “B” brasileiros, em suas últimas quatro edições (2006, 2008, 2010 e 2012). Sua média geral na competição é de 8,5 pontos e 2,6 rebotes.

*  *  *

Arthur nunca foi reconhecido como um reboteiro voraz, mas vai ter de se desdobrar neste fundamento quando for para quadra. Com desfalques  e uma rotação baixa no perímetro, o ala vai precisar descer muito mais para o garrafão do que está habituado, ainda mais num eventual confronto com a Argentina e seus alas altos, fortes e raçudos.

*  *  *

Um jogador como Marcus Vinícios Toledo, hoje no Mogi, depois de anos e anos na Espanha, pode fazer falta. Embora não seja o mais talentoso ofensivamente, Marcus poderia ajudar, e muito, Alex na contenção de perímetro, com muita energia, força e capacidade atlética. Um jogador extremamente útil, se bem encaixado na rotação. Outra opção para a posição, mas inviabilizada por lesão, era Jhonatan, do Franca. Ele foi ao ginásio do Paulistano para ver o jogo contra o México, mas ainda tem limitações durante os treinamentos com o clube. Deve demorar ainda cerca de um mês para que ele esteja liberado para atividades regulares com bola e contato.


Faverani rumo a Boston: “Tenho de chegar antes e ganhar meu espaço”
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Giancarlo Giampietro

Faverani, ele, mesmo

Faverani, rosto ainda não muito conhecido para o público brasileiro

Sentado ali na modesta arquibancada do ginásio Antônio Prado Júnior, do clube Paulistano, estava o mais novo integrante da legião brasileira na NBA, nas me parecia. Acompanhado do irmão mais novo e de seus agentes, Vitor Faverani obviamente chamava a atenção pelo tamanho, mas conseguia ver o jogo entre Brasil e México numa boa, sem ser importunado. Autógrafo, pedido de foto, nada. Quer dizer, tirando o fato de um jornalista se intrometer nessa história para pedir uma entrevista, mais um bate-papo e conhecer o pivô que, neste sábado, está chegando ou já chegou a Boston para se apresentar ao Celtics.

Natural esse anonimato. Tal como Tiago Splitter, Vitor saiu do Brasil muito, mas muuuito cedo. Passou nove temporadas na Espanha. Neste período, defendeu seis clubes diferentes. Entre idas e vindas, teve contato reduzido – para não dizer zero – com a seleção brasileira. E só defendendo a seleção é que um jogador de basquete consegue visibilidade no Brasil, segundo pensa um certo “Mão Santa”.

Daí que, impossibilitado de se apresentar a Rubén Magnano, devido ao recente acordo fechado com a franquia mais vitoriosa da NBA, só lhe cabia ali, mesmo, primeiro o papel de torcedor e, depois, o de diplomata. Era sua intenção falar em privado, cara a cara com o técnico argentino para expor o que se passava. Antes disso, com forte entonação, acentuação espanhola, mas em português descontraído, a conversa deste gaúcho primeiro radicado no interior paulista e, depois, na costa Mediterrânea deve ter sido um pouco mais fácil:

VinteUm: Já tem viagem marcada para Boston?
Faverani: Estou indo para Boston no sabadão, mas antes vim aqui apoiar um pouco a seleção. Chego lá com dois meses para começar a liga e vou poder fazer um trabalho individual,  com preparador físico e com os treinadores. Conhecer os companheiros novos. Sobre o jogo, o time não tem muito o que falar agora. É uma mudança definitiva agora. Tenho contrato de três anos e agora a primeira coisa é tocar essa pré-temporada, tentar ganhar meu lugarzinho lá.

Faverani

Faverani, depois de altos e baixos, um nome estabelecido na Espanha

Como você lidou com essa questão de NBA em sua carreira? Muitos a cobiçam, mas você vem de muitos anos na Espanha, os últimos deles firmes também numa liga de ponta, a ACB…
O sonho da NBA sempre está aí. Desde que eu peguei uma bola na mão, você pensa nisso. Mas o primeiro que tem de fazer é assinar um contrato, né? (Nota: seu primeiro vínculo profissional foi assinado em 2004, com o Unicaja Málaga, dez anos atrás! Veja mais abaixo.). E depois que um jogador vai pensar nisso. Bem, eles me chamaram para treinar em Boston. Fui sem nenhuma expectativa de poder ficar. Via esse sonho muito longe. Mas graças a Deus a Liga LEB e a Liga ACB – joguei na Europa desde pequeninho – me deixaram preparado. Consegui fazer bons treinos e ficar.

É curioso isso e algo que muitas vezes pode passar batido. Com 25 anos, você já passou por muita coisa na sua vida, seja pessoalmente ou como jogador. Agora dá um passo desses. Como pensa que será a transição?
Não é fácil para nenhum jogador. Se você for perguntar, todos têm seus altos e baixos como jogador. Há também as lesões, mas graças a Deus não tive nada grave até agora. A transição imagino que seja a mesma de outras. É a melhor liga do mundo, os melhores estão ali física e taticamente. O talento é puro ali. Mas minha adaptação será trabalho, trabalho e trabalho, e jogar basquete. Não tem outra: é botar a bola na cesta, se me deixarem jogar ali dentro, e tomara que seja bastante. O que você tem de fazer é trabalhar e ver se as coisas saem bem.

O quanto você consegue verde NBA jogando na Espanha?
Alguns jogos a gente consegue acompanhar, mas é muito difícil, mesmo, porque alguns vão terminar 4h da manhã e, no dia seguinte, você começa a treinar às 10h. Aí não tem quem aguente. É legal ver NBA, ver tudo, mas a gente tem de dormir, né? Para ajudar o seu time. Então, para falar do Boston e do jogo, é melhor esperar os treinos.

Já entrou em contato com o Fabrício Melo?
Tive o prazer de me encontrar com ele no ginásio. Ele estava lá. Durante os testes, ele e outros jogadores estavam ali, mas não podiam treinar comigo. Peguei o telefone dele, que até disse que estava com a mãe em casa, fazendo feijão.
(Nota: três dias depois, o pivô brasileiro seria trocado para o Memphis Grizzlies. O que não impede que seu compatriota possa ao menos fazer uma ligação, para pegar dicas da cidade. De repente a mesma casa?)

Bom, e seleção brasileira? Como fica? Já conversou com o Magnano sobre sua dispensa?
Vim hoje apoiar e poder falar com ele um pouquinho. Falei com ele em Valência, disse que tinha muita ilusão de vir para a seleção. Mas o Boston colocou algumas coisas aí. Eles me convocaram agora, e o importante agora mesmo é olhar para a NBA, sendo o primeiro ano, tentando conseguir meu espaço ali dentro. É importante que eu não chegue depois de ninguém, fazendo as coisas certinhas. Então vim explicar para ele. Com certeza, se eu ficasse em Valência, estaria com a seleção – claro, se ele quisesse. Mas no primeiro ano tenho de mostrar serviço desde o começo, ganhar meu espacinho. Ele é um treinador, sabe do que falo e vai me entender. Para muita gente a prioridade agora é realmente poder estar com o seu clube,  desde o começo.

Mas você tem alguma expectativa, intenção de jogar pela seleção no futuro?
Com certeza. Tou ali sentado, morrendo de vontade de vestira camisa da seleção brasileira, mas é o que te falei. A primeira coisa agora é Boston Celtics na minha cabeça, mesmo. Para o futuro, não descarto. Claro, se o Magnano quiser. Sei que ele tem um grupo espetacular, converso sempre com eles (nota: Rafael Luz, Hettsheimeir, Paulão, Raulzinho, Lucas Bebê, Huertas… Todos conhecidos e companheiros de basquete espanhol), e quero um dia jogar de verde e amarelo.

*  *  *

Não são todos que estão familiarizados com a trajetória do pivô. Então vai um breve resumo: ele deixou as categorias de base do Araraquara,  em 2004, com 16 anos e 2,07 m de altura, para fazer testes pelo Unicaja Málaga. Não demorou nem dez minutos para que os dirigentes deste tradicional clube espanhol quisessem contratá-lo. De modo que, ainda adolescente, firmava seu primeiro contrato de trabalho e poderia começar a ajudar a família – mãe e irmãos – financeiramente. Três anos antes, detalhe: era obrigado a disputar as primeiras peladas com um tênis 44 abrigando um pé 46, porque era o que tinha.

Fazer essa mudança já seria algo bastante drástico para alguém da sua idade. Mas, pensem, era apenas o começo: uma vez na Espanha, os desafios pela frente ainda eram enormes não só no dia-a-dia (longe de casa pela primeira vez, tendo de se virar em um novo país, com novo idioma), como em quadra, cercado de grandes expectativas em ligas muito competitivas. O primeiro ano serviu para evidenciar seu potencial. Com 17 anos, já dominava torneios sub-20, jogando contra gente significativamente mais velha. Passou a treinar com Zan Tabak pessoalmente, a jogar na LEB-2 (terceira divisão) e a fazer fama rápida entre os olheiros europeus. Aos 18, foi cedido por empréstimo para o Zaragoza, ocupando um valorizado posto de extracomunitário na LEB-1 (segunda divisão), na qual arrancou com tudo também, sendo comparado por Sergio Scariolo (então treinador do Málaga) a um jovem Luis Scola. “Tomara que tenha a mesma progressão”, disse. Aí que as coisas diferiram.

Tempos difíceis para Faverani

De branco e verde, no Unicaja, Faverani não conseguiu fazer muita coisa. Espera que em Boston a coisa seja diferente

No decorrer da temporada, passou a ser questionado pelo comportamento fora de quadra, pela falta de disciplina e dedicação. “Que se sinta imprescindível não é bom”, “Tenho a sensação de que precisa de estímulos importantes para subir de nível” e mais frases nessa linha começaram a cercar seu desenvolvimento. Em março de 2007, o Zaragoza optou pela rescisão de seu contrato. Voltou ao Unicaja, fez a estreia na ACB, mas não podia ser aproveitado num clube deste porte ainda. Na próxima temporada, então, voltou a ser emprestado, agora para o Gipuzkoa BC (hoje clube de Raulzinho). Trabalhando com Pablo Laso, atual comandante do Real Madrid, teve médias de apenas 12 minutos por partida, mas ajudou o clube a conseguir o acesso à elite. Quando regressou a Málaga, voltou a dominar a competição sub-20. Até que decidiram segurá-lo e incorporá-lo de vez ao time principal para a temporada 2008-2009.

“Faverani é o que tem mais potencial de todos que já vi na Europa. Realmente, ele me impressionou”, foi o que disse o pivô americano Marcus Haislip, ex-jogador do Milwaukee Bucks que teve uma sólida carreira na Espanha após fracassar na NBA. Estava o brasileiro pronto para dar o grande salto, então? Que nada: mal foi aproveitado, passando muito mais tempo com a filial Clínicas Rincón Axarquía do que no time de cima. Difamado, passou batido no seu último ano de Draft da NBA e encerrou seu vínculo com o clube de Málaga.

Parece que era uma despedida necessária. Em 2009-2010, jogou ao lado de Paulão pelo Murcia, pelo qual foi campeão da segunda divisão, com papel de protagonista – e, mais importante, regular em quadra e boa influência no vestiário –, liderando uma campanha inédita de 30 vitórias e quatro derrotas. Até receber uma nova chance em um grande clube, dessa vez o Valencia. Tinha dúvidas se era o caso de deixar o lugar em que foi tão bem sucedido, mas, por fim, topou nova mudança. Na primeira temporada, arrebentou. Na segunda, teve alguns problemas físicos que limitaram seu rendimento. Mas aí já não havia mais dúvida: Faverani havia, enfim, vencido, realizado.

Agora, aos 25, deixa a Espanha, sua segunda terra, para trás.

 


Marquinhos contradiz Magnano em mais uma dispensa “surpreendente” para técnico seleção
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Giancarlo Giampietro

Magnano

Magnano certamente não está perdido na tradução. O que acontece, então?

Senhoras e senhores, nós temos um problema. De comunicação.

Neste caso, não estamos falando das deficiências do blog – deixemos isso pra depois, tá? –, mas, sim, do que vem acontecendo durante esta temporada da seleção brasileira.

Vocês já sabem, claro, que o ala Marquinhos foi o último a pedir dispensa da delegação de Magnano. A diferença para a trupe da NBA que ele passou quase um mês reunido com a moçada antes de pular fora da barca nesta quarta-feira. O que aconteceu? O MVP do NBB e destaque do Flamengo alega que sente fortes dores no joelho, depois de ter sofrido um trauma durante um treinamento, num lance isolado, caindo mal de um salto. Essas dores o afastaram de todos os amistosos e, por fim, o forçaram a comunicar sua desistência.

Até aí tudo bem. Esse tipo de situação acontece. Esporte, lesão, dores, estão todos sujeitos a isso. Porém… O que causa estranhamento é o conflito entre o que diz um (jogador) e o que responde outro (o técnico). De novo.

Você deve se lembrar, né? Da dissonância entre os discursos de Magnano e Splitter, quando o catarinense o comunicou de que não se apresentaria. Agora é a vez de o processo se repetir com Marquinhos. Curiosamente, são dois homens que tinham (têm?) toda a confiança do treinador.

Marquinhos, treinando separado

Marquinhos: sem treinar com bola e sem jogar pela seleção

Na quarta, já sem Marcus ao seu lado, Magnano falou ao vivo para todo mundo ouvir: “Não fiquei decepcionado com ele, mas fiquei surpreso. Clinicamente ele estava recuperado para jogar. Com esta avaliação, tinha a esperança que ele chegaria na Copa América”. Ao passo que o flamenguista conta outra história ao repórter Fábio Aleixo, do Lance!: “Foi uma situação que ficou bem esclarecida com ele. Tivemos uma conversa olho no olho. Ele sabe o que aconteceu. Não vai ter nenhum tipo de problema no futuro”.

Epa. Déjà vu.

Se não clicou no link acima, tudo bem. Recupero aqui as duas declarações que, somadas às do parágrafo anterior, deixam o diálogo bem ruidoso. Splitter alegou sentir um desgaste extremo para não jogar a Copa América. “É um ano que permite você ter um descanso. Obviamente se fosse uma Olimpíada ou um Mundial é outra coisa, você faz um esforço. Tantos anos seguidos de seleção, minha esposa está querendo me matar. Um pouquinho de tudo me fez tomar essa decisão”, disse. Daí que Magnano rebateu: “Pensava que o único problema do Tiago era somente contratual. Depois, o estafe dele me ligou falando que ele não ia se apresentar. Eu não sabia disso (de cansaço)”, afirmou o treinador.

“Surpreso”, “não sabia”… É o que diz Magnano. O que afirmam os jogadores é outra história. O que está acontecendo?

Sabemos que está cada vez mais difícil montar uma seleção – seja ela israelense, brasileira ou russa. A pressão da NBA é imensa. Mas as limitações não ficam só nisso. Como já ocorre há tempos no futebol, a tendência é que a relação de federações  e clubes de basquete se aproxime muito mais do atrito do que de um armistício. Por mais que se incense o amor à pátria, à camisa nacional etc. Os calendários começam a apertar e afestar o principal aspecto que move hoje, sim, o esporte: os negócios como um todo, entre eles a carreira profissional.

Na entrevista ao Lance!, Marquinhos fala: “Joguei toda a temporada com dor. Se eu não parasse agora, poderia acarretar em problema no futuro”. Em seu comunicado para dizer que não vinha ao Brasil, Lucas Bebê anuncia: “Este é um momento importante para a minha carreira, e que exige a minha permanência para que tudo seja resolvido o mais breve possível”. Em entrevista coletiva, Tiago Splitter admite: “Não quero tirar a importância da Copa América, é importante, mas é um ano de  contrato, estou desgastado física e mentalmente”.

Percebem o padrão? Nesse contexto de calendário mais apertado, complicadas negociações e diversos interesses, chegou a hora em que o privado vem antes do coletivo. Vitor Faverani, em conversa breve no Paulistano – a ser publicada nesta sexta ou sábado, vamos ver –, também deixou isso claro. O clube, que o paga, tem a preferência. Simples assim. E, nesse contexto, o técnico da seleção que se vire. É o que temos, um choque de interesses que não vai se encerrar neste ano.

Para alguém competitivo como Magnano, deve bater um certo desespero ou, no mínimo, aflição. Ele confia que seus convocados vão chegar, quer muito que isso aconteça. Não nos esqueçamos que mesmo Varejão (se recuperando de uma embolia pulmonar, diabos!) e Leandrinho (cirurgia muito mais grave no joelho), clínica e publicamente fora de combate, foram convocados da mesma forma. Deve ter algum ditado que resuma melhor essa situação, mas seria algo na linha de que o argentino, a essa altura, parece estar filtrando e ouvindo apenas o que lhe pareça positivo para a seleção.

Daí tantas “surpresas” a cada dispensa? Certamente não é uma questão de tradução português-espanhol. E se for algum jogo político do treinador? Fosse o caso, não seria melhor adotar o discurso de que valoriza “aqueles que se apresentaram,  o grupo, e que não há o que lamentar”? Em vez disso, não só o técnico contradiz publicamente seus atletas – alimentando a pauta jornalística para futuras convocações, diga-se – como perde a oportunidade de afagar aqueles com os quais está concentrado.

Magnano garante que Marquinhos estava liberado para jogar. O ala, que passou por uma cirurgia logo depois do NBB, não o desmente, exatamente. Se estamos falando do joelho operado, não há mais nenhuma restrição alguma. Só acrescenta um detalhe: segundo o jogador, seu problema era outro: “Realmente estava recuperado da artroscopia no menisco, mas fisicamente não estou bem. O edema ósseo é na tíbia, perto da junção com o joelho. Não chegaria em condições ideais na Copa América. Sinto dor para caminhar ainda. É algo que foge do meu controle”.

Nesse ponto o flamenguista pode ficar tranquilo, ao menos. Muita coisa parece fora do lugar aqui.


No confronto CBB x Flamengo, quem sai vencendo, de novo, é a Argentina
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Giancarlo Giampietro

Jerome Meyinsse e Nicolás Laprovittola

Laprovittola (d) deu as caras pelo Flamengo. Julio Lamas, um cavalheiro

No calendário acidentado do basquete brasileiro, agora temos um episódio de clube disparando contra a CBB. E não um clube qualquer, mas o Flamengo, atual campeão nacional e daqueles poucos que ainda consegue atrair a presença da mídia nacional para o lançamento de um projeto de basquete.

A ideia dos rubro-negros era apresentar suas novidades para a temporada 2013-2014 nesta segunda. E eles o fizeram, mas não do modo como queriam, já que faltaram alguns de seus protagonistas como Marquinhos, MVP do NBB, Vitor Benite e Cristiano Felício estão com a seleção e não foram liberados para um bate-e-volta no Rio. Não só eles, como também o técnico José Neto, assistente de Magnano, e o preparador físico Diego Falcão. Todo mundo barrado.

“Hoje está sendo um dia muito feliz pra nós, mas era para ser um dia mais feliz ainda. Era para ser um dia pra gente apresentar o elenco inteiro. Não pudemos fazer isso porque, infelizmente, a CBB não liberou os jogadores”, afirmou Alexandre Povoa, diretor de esportes olímpicos do Fla. “A gente contatou várias vezes dizendo: ‘Escolhe o dia, escolhe a hora, traz aqui o jogador umas três, quatro horas, só pra apresentar, é importante pro basquete brasileiro’, (e nada).”

Mais uma vez, Rubén Magnano dá sua demonstração de tolerância zero: não importam as circunstâncias, sua cartilha não pode ser quebrada. Uma intransigência que poderia ser contornada por seus superiores, ainda mais numa segunda-feira pós-jogo, desde que o clube arcasse com os custos. Contudo, quem numa hora dessas vai ter coragem de peitar o argentino, justamente o maior trunfo da atual gestão da confederação, talvez o principal responsável pela eleição do desastrado presidente?

Necessário dizer também que a programação da seleção está definida há um bom tempo, e talvez o Flamengo pudesse ter escolhido melhor momento para fazer sua festa, não? A Copa América vai terminar no dia 11 de setembro. O sucateado Campeonato Carioca começa no dia 20 de setembro e ainda tem tempo para o NBB dar largada. Se você caprichar na matemática, vai ver que sobrava uma brecha aí para apresentar o plantel com toda a pompa e atenção disponível.

Por outro lado, quando a Argentina – “NOSSA, O NOSSO INIMIGO! CRUZES!” – acha que está tudo bem liberar um dos seus, o armador Nicolás Laprovittola, belíssimo reforço rubro-negro, para o mesmíssimo evento, alguma coisa realmente parece errada. Não é segredo que, digamos, Magnano e Julio Lamas não são os melhores amigos. Basta ver o modo como se comportam na beira da quadra quando se enfrentam. Nesta, a classe e esperteza de um desses argentino foi bem maior.


Magnano dispensa Mariano, e restam dois cortes para definir seleção da Copa América
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Giancarlo Giampietro

A seleção brasileira vai avançando etapas – ao menos em termos de calendário –, e Rubén Magnano, definindo seu grupo. Nesta segunda-feira, o técnico argentino dispensou o pivô Lucas Mariano, o caçulinha da equipe. Restam agora 14 jogadores sob seu comando, com mais dois cortes a serem realizados até que tenhamos o plantel da Copa América definido.

Nesta terça-feira, sua equipe volta a enfrentar o fraquinho México, em São Paulo, 19h (horário de Brasília). Se o padrão for mantido, é de se esperar que, ao final do amistoso, mais um atleta seja comunicado de que não vai embarcar para a Venezuela. De modo que viajariam 13 para a disputa da Copa Tuto Marchand, até que sobrem os 12 eleitos.

Lucas Mariano e a bandeja de esquerda

Lucas Mariano para a bandeja no treino: algo que pareceu proibido em jogo

Lucas participou da final do Super 4 de Anápolis contra a Argentina, ficando em quadra por 12 minutos. Marcou três pontos, não pegou nenhum rebote e cometeu um desperdício de bola. Seus três chutes no clássico saíram de longa distância, numa arma que parece ter virado a única no repertório do talentoso jogador durante sua extensa passagem a serviço dos times da CBB.

Na Universíade de Kazan, a revelação francana já havia exagerado um pouco na dose em seus arremessos de fora: ele tentou 14 bolas do perímetro durante todo o torneio para supostos estudantes e converteu apenas uma. Até que, em amistoso contra o Uruguai na semana passada, um aparente milagre aconteceu, quando ele acertou quatro em cinco. Prova de que está praticando o fundamento, sim, mas também um número que sublinha o quanto randômica foi sua atuação. Vamos lá: se formos considerar seus dois testes pelo time de Magnano e todo o torneio “universitário”, Mariano obteve um aproveitamento de apenas 27,7% de três (6/22). Não é da noite para o dia em que um jogador que ainda não matou sequer um chute de fora quando em ação pelo NBB.

Não que ele deva ser proibido de se aventurar distante da cesta. Pelo contrário. Se há a mínima chance de um atleta tão jovem, de 19 anos, desenvolver múltiplas habilidades, que se invista nisso sem freio – Lula Ferreira certamente está ciente do que vem acontecendo. Agora… Conduzir esse experimento numa seleção brasileira e, numa subversão, limitar o rapaz a apenas este papel em quadra não parece a coisa mais produtiva para nenhuma das partes. E assim coube a Lucas nos 33 minutos que teve nos amistosos: com os pés fixos na linha de três pontos, basicamente esperando o desenvolvimento dopick-and-roll da vez para ver se dali sobraria uma rebarba. A ideia, a princípio, faz sentido. Sua presença, desde que como um chutador respeitado, serviria para espaçar a quadra para os companheiros atacarem. Agora, ficar só nisso? Um pecado, considerando o material humano. Guilherme Giovannoni (presença certa) e Rafael Mineiro (acho que ainda na luta por vaga) ficam com essa incumbência daqui para a frente.

Temos o seguinte, então: Huertas, Raul, Rafael Luz, Larry, Benite, Alex, Arthur, Marquinhos, Giovannoni, Mineiro, Felício, JP, Hettsheimeir e Caio.

Quais podem ser os próximos dois cortes?

Depende do que Magnano tem na cabeça. Se ele pretende jogar sempre com dois armadores na rotação, o natural seria manter Luz e dispensar Arthur e um pivô ou dois grandalhões de uma vez (Felício, JP, Mineiro e Caio no páreo), contando com Guilherme como alguém capaz de segurar as pontas lá debaixo. Outro caminho seria abrir mão de Rafael e manter o ala de Brasília no time como uma medida de segurança, deslocando eventualmente Benite para o rodízio de armadores. Mas… Tudo isso se Marquinhos estiver apto para jogar. Até agora, preservado com problemas no joelho, ele ainda não foi para quadra em cinco amistosos.

*  *  *

Flaquito, sim, o México, mas que deu uma canseira na rapaziada no sábado passado. Este jogo eu não consegui ver, por motivos de Ricardo Darín e de achar que a partida começaria mais tarde, mesmo, mas vocês já sabem, claro, do sufoco que o Brasil passou para derrotá-los em Anápolis. Aqui, as estatísticas do triunfo por 88 a 81, com uma virada por 29 a 17 no último quarto. Uma partida bem diferente daquela de Salta, na Argentina, em que a seleção venceu por 94 a 68.Se na derrota para a Argentina, no domingo, o ataque foi o problema, no inesperado jogo sofrido contra os mexicanos, foi a defesa quem deixou a desejar, fazendo de Magnano um sujeito furioso, com razão. Não dá para tomar 81 pontos de um time desses, ainda mais sem Gustavo Ayón, o herói de Zapotán (cliquem e assistam ao vídeo, por favor), Earl Watson, Eduardo Nájera, Chicharito e Hugo Sánchez. Vamos ver como as equipes se comportarão no terceiro confronto em oito dias. Vou tentar dar uma chegada ao clube para  conferir de perto.