Vinte Um

Arquivo : Ricardo Fischer

Revigorado Knicks vence o Bauru no Garden. Notas sobre o amistoso
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Fischer consegue o 1º triple-double da carreira. Logo no Garden

Fischer consegue o 1º triple-double da carreira. Logo no Garden

O Bauru teve o prazer de jogar no Madison Square Garden nesta quarta-feira, segurou as pontas por 12 minutos de jogo, voltou a batalhar no terceiro período, mas não conseguiu fazer frente ao renovado e revigorado New York Knicks. Vitória por 100 a 81 para os donos da casa, que abriram sua pré-temporada.

*   *   *

Fico imaginando o que se passava pela cabeça de Phil Jackson ao ver o bombardeio de Bauru no primeiro quarto, parcial que venceram por 25 a 24. “Até no Brasil estão apelando para isso?”, deveria estar se questionando. Para quem não sabe, o Mestre Zen é um dos últimos focos de resistência à cultura de três pontos que ganha força na grande liga. Mal sabe ele, né? : )

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Pois bem. As cinco primeiras cestas de quadra dos campeões (latino-)americanos foram de longa distância. Nos primeiros 12 minutos, eles mataram 60% de fora. Terminaram com 25,6% em 43 disparos de fora. Isso tem a ver não só com ajustes do Knicks, mas principalmente por outros dois fatores: a capacidade atlética de jogadores da NBA e o cansaço.

Lembremos que a linha perimetral no Garden vai bem além da que está traçada no Panela de Pressão. O grau de dificuldade e esforço é maior. Com o relógio avançando, ficou mais e mais comum que os chutes bauruenses dessem bico. Ficaram bem mais curtos, mesmo – Jefferson William, voltando de uma lesão no tendão de Aquiles, foi o que sentiu mais: seu aproveitamento despencou durante o jogo (2-14). E, mesmo que tenham de cobrir mais terreno, os atletas de primeiro nível do Knicks alcançavam rapidamente os arremessadores para a contestação.

*    *    *

As trocas foram determinantes também. Não que, num jogo de cinco contra cinco, os titulares bauruenses fossem capazes de vencer, até porque teriam de se virar contra Carmelo por mais tempo, mas o volume de jogo do plantel nova-iorquino fez a diferença. Enquanto Guerrinha tinha confiança basicamente em três suplentes (Paulinho, que não foi bem, Mineiro e Meindl), Fisher pôde testar a profundidade de seu novo elenco, usando sete reservas, sendo que seis deles pontuaram. Um ala voluntarioso, mas limitado como Lance Thomas, titular no final de temporada, hoje está relegado ao papel que melhor lhe cabe, mesmo, como 12º homem de rotação. No total, foram 58 pontos para quem saiu do banco pelo time da casa, contra 17 dos brasileiros.

Acho que, por mais que Bauru queira competir nesses amistoso, seria mais interessante fazer uso da molecada no banco de reservas. O espigão Wesley Sena foi para o jogo na metade do segundo período e cometeu dois erros. Primeiro, no ataque, cortou para a cesta pela zona morta quando o passe de Fischer estava endereçado para a média distância. Não havia espaço para ele receber a bola em projeção para o garrafão naquela ocasião. Depois, cochilou na defesa e permitiu uma enterrada fácil de ponte aérea para Derrick Williams, em movimento de backdoor. Pedido de tempo, e foi sacado imediatamente. Valia ter segurado mais um pouco, dando uma experiência muito valiosa para um garoto de 19 anos que vem de um ótimo Campeonato Paulista.

O armador Carioca, que pode muitas vezes parecer um bonde sem freio com a bola, também é outro que merece o teste. É um jogador agressivo e abusado (até demais por vezes…), mas com velocidade para competir contra os americanos. Não é que Paulinho tenha uma abordagem tão diferente assim na hora de carregar a bola para o ataque.

Assimilando as lições desse primeiro jogo, espera-se que ganhem mais minutos contra o Washington Wizards. Até porque o time do quintal de Obama é muito mais forte.

*    *    *

Os relatos que vieram do training camp são de que a química desta versão do Knicks é bem melhor que a da campanha passada, e isso já se pôde notar neste primeiro amistoso. Dá para entender. Se a franquia não conseguiu os grandes nomes com os quais os tabloides sonhavam, Phil Jacson ao menos povoou seu plantel com jogadores inteligentes, de boa leitura de jogo, como Robin Lopez, Kyle O’Quinn, Sasha Vujacic e Jerian Grant. Também é o segundo ano seguido de aplicação dos conceitos do triângulo para aqueles que ficaram. O que vimos então foi uma movimentação de bola mais fluida, com ações bastante eficazes para liberar os arremessadores do lado contrário. E aí chutadores como Melo e o esloveno ganharam espaço para encaçapar. O’Quinn, em específico, tende a fazer sucesso por lá. Seria uma história muito legal para o antigo morador do Queens.

*    *    *

Como se diz em inglês, Ricardo Fischer “belongs”. Pertence. No caso, ao mais alto nível de basquete. E, na boa, não estou nem me referindo ao triple-double (11 pontos, 10 rebotes, 10 assistências), que vai fazer manchetes, vai entrar no currículo com linha destacada.

O jovem armador de Bauru mostrou mais uma vez um controle de bola – e de jogo – muito maduro. Enquanto pôde, porém, passou por Calderón, Galloway e Grant, se esgueirou pela defesa do  Knicks e criou para seus companheiros. A comparação que Paco Garcia fez com Marcelinho Huertas fez ainda mais sentido depois dessa atuação no Garden. Seu volume de jogo foi até demais da conta. É que, como armador isolado no ataque, ficou sobrecarregado. Daí os sete desperdícios de posse de bola.

Sobre o triple-double em si, muito legal e inesperado. Mas percebam também como estatísticas podem ser fabricadas. Uma vez ciente de que se aproximava da marca, o jogador passou a persegui-la, em busca de rebotes defensivos sem contestação etc. Os próprios companheiros o ajudaram nessa. Faz parte do jogo. Mas é por isso que os números nem sempre dizem tudo. Fischer mesmo admitiu isso, pedindo para que eles abrissem a quadra para a coleta de dois rebotes defensivos derradeiros. A curiosidade é que foi o primeiro de sua carreira. Logo lá.


Real conquista o quinto troféu seguido. Por mais que o Bauru tenha tentado
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Não. A torcida do Barcelona realmente já não aguenta mais esta cena

Não. A torcida do Barcelona realmente já não aguenta mais esta cena

É um tópico um tanto traumático para o basquete brasileiro. O arremesso de três. Oscar Schmidt, que estava como torcedor na primeira partida, matava as suas. Marcel foi outro. Guerrinha também costumava guardar as suas, ainda que com um volume menor quando acompanhado de dupla tão estrelada. Esses caras conseguiram um título histórico em 1987, reeeeeeeeeeealmente histórico. Mas não formaram a geração brasileira mais vitoriosa que já existiu, algo que cabe às lendas dos anos 60. Durante sua história, há uma partida contra a Espanha aqui, outra com a Austrália ali que entram no campo do “se”. Caso tivessem passado por essas e outras, poderiam ter chegado à disputa por medalhas olímpicas e mundiais, e quem sabe…

Mas esse “se” em particular não entra em jogo. O esporte pode ser inclemente e rígido ao extremo, com base no resultado. O próprio Real Madrid que veio a São Paulo para ganhar o quinto troféu seguido, com uma vitória por 91 a 79,  é prova disso. A versão de 2013-14  da equipe foi um espetáculo. Praticava um basquete avassalador, mas não ganhou a Euroliga, não ganhou nada do que precisava. Tratando-se de Real, foi um fracasso. Mas, voltando, aqui não estamos falando apenas sobre o clube espanhol, mas, sim, sobre a final da Copa Intercontinental deste domingo e também sobre o time que derrotou, o Bauru, que traz o chute de três pontos à tona de uma forma com que muitos jamais poderiam nem mesmo sonhar. Antes de falar sobre o jogo em si, me permitam retomar o raciocínio cronológico.

Marcel já havia parado há tempos. Oscar ainda se arrastava pela quadra para encestar sem parar, vivenciando e atravessando uma troca de gerações. Enquanto Rogério Klafke e outros alas mais velhos já eram pronta e rapidamente relegados ao segundo escalão, Marcelinho Machado emergia para ser demonizado por seguir essa tradição do chuta-chuta, com a seleção tendo ainda menos sucesso em quadra. Mesmo que o ala carioca fosse um paradoxo ambulante. Ele claramente tinha os fundamentos e a visão de jogo para equilibrar as coisas, algo que apresentou na Copa América de 2005, por exemplo, e em muitos outros jogos. A praxe, porém, era que se perdesse a sanha do tiro exterior. Leandrinho também foi outro que, surgindo à esteira, nunca aliviou. O curioso é que esses dois chutadores, no plano de clubes e separadamente, tiveram belas carreiras e, em geral, cada um na sua, contra diferentes graus de exigência defensiva, foram bem-sucedidos. Não obstante, o arremesso do perímetro virou o grande vilão, o grande símbolo da derrocada brasileira.

Quando surge um Bauru, arremessando quase sempre mais do perímetro externo do que do interno, a recepção não poderia ser bombástica, com a licença para o trocadilho. À distância, fico imaginando os scouts e analistas mais arrojados da NBA conferindo as tabelas estatísticas produzidas pelo time do interior paulista.

>> Não importa o desfecho. O Bauru sempre vai ter a 1a. vitória
>> De frente com Andres Nocioni: muito além do coração
>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?
>> Bauru admite que não fez preparação ideal para o torneio
>> A ajudinha de Paco, o não a Larry e a rivalidade com Mogi
>> O Real Madrid analisado jogador a jogador: um esquadrão

Vocês sabem que, hoje, há uma forte corrente na liga americana, baseada cegamente, ou não, em números que  prega o chute de longa distância como um dos caminhos a ser seguido. Eles vão te apresentar uma série de dados para dizer que esta bola precisa ser parte integral de qualquer sistema ofensivo que pense em ficar no lado azul da eficiência, e o Golden State Warriors desponta como um queridinho e como forte argumento dessa linha. Na final do Oeste, eles haviam batido outro dos times ‘nerds’, o Houston Rockets. Na decisão, o Cleveland Cavaliers também não poderia ser considerado uma equipe tímida nesse sentido.

Esse evangelho estatístico não prega tão somente a bola de três como salvação. Porque isso não existe, mesmo. O que existem são arremessos bem selecionados e equilibrados. Com o os lances livres, ué, que, na frieza de seus números, aparecem como fator tão relevante quanto. São, oras, os arremessos com maior índice de conversão. E não só isso: o sucesso também tem a ver com a sua destreza na hora de evitar essas mesmas bolas em sua defesa, no seu poderio reboteiro e mais. Mesmo para os fãs dos números o jogo não é unidimensional.

Aí aparece esse clube brasileiro chutando sem parar de fora, assustando a concorrência. Como aconteceu na primeira partida em São Paulo, na qual seus atletas tentaram 33 bolas de longa distância contra 32 de dois pontos, ao passo que acabaram batendo apenas 14 lances livres. Ainda assim, obtiveram uma vitória especial, para não se esquecer jamais.

De qualquer forma, o desafio estava na posto em quadra. De um lado, Andrés Nocioni admitia que não estava nada acostumado a enfrentar um time que abrisse seus dois grandalhões no perímetro, confiando no bombardeio. Do outro lado, o Bauru sabia que, para a segunda partida da final, esse tipo de jogada seria contestado e que deveriam encontrar outras formas de pontuar. Pois o Real conseguiu contestar, de alguma forma, no perímetro. E os bauruenses também olharam para outros setores para tentar contragolpear. Ainda assim, a matemática foi mais favorável aos merengues.

Vamos esmiuçá-la: neste domingo, Bauru ainda acertou 36% de seus chutes de fora. Não é uma marca de todo ruim, mas vale como algo bem caído perto dos 49% do Jogo 1. Aproveitamento à parte, acho que o que Real mais deve ter comemorado taticamente foi o fato de terem conseguido reduzir também o ímpeto de seu adversário, pelo menos no ponto em que foi mais ferido. De 9-17, Jefferson William e Rafael Hettsheimeir foram limitados a 1/6 no Jogo 2. Arremessaram 11 bolas a menos de trás da linha. Quer dizer, parece que a estratégia de Pablo Laso deu certo, que foi a de fazer as dobras no pick-and-pop e deixar sempre um homem grudado no pivô. Nem que, para isso, tivessem de ver Ricardo Fischer marcar 26 pontos, com 7-12 de quadra, além das seis assistências para apenas um turnover.

O armador brasileiro, que sai de cabeça erguida desse confronto e com a cotação internacional certamente elevada, teve espaços para atacar o garrafão, ao se ver diante de Gustavo Ayón e outros pivôs madrilenhos. Atacou o aro com sagacidade e fez o máximo que podia. O problema é que o Real estava disposto e contente em viver com isso, desde que a artilharia ao seu redor fosse controlada. E foi o que aconteceu.

Fischer jogou de igual para igual com os Sergios

Ofensivamente, Fischer jogou de igual para igual com os Sergios

Mas isso não quer dizer que Bauru aceitou essa armadilha e chutou sem parar de fora, a despeito da contestação. No geral, foram apenas cinco arremessos a menos nessa distância do que na sexta-feira. Mas alguns deles vieram no desespero dos minutos finais, quando precisavam diminuir a diferença dos campeões europeus para um ponto, num placar esdrúxulo que renderia a prorrogação. Fischer, aliás, foi o que mais tentou, com 5-8. Por outro lado, a equipe campeã americana tentou o dobro de lances livres dessa vez (28 contra 14). Um desconto precisa ser dado aqui devido ao excesso de faltas apitado contra os madrilenhos, que os deixou malucos. Não estou aqui acusando roubo ou falhas da arbitragem, mas apenas registrando que alguns dos lances livres batidos pelos bauruenses não foram resultado de ataques à cesta. Mas eles aconteceram. Fischer, mesmo, bateu oito lances livres e converteu sete. Hettsheimeir foi 12 vezes para a linha e acertou dez.

Se formos pegar, na real, os números dos três disparos básicos numa folha estatística, vamos ver que Bauru e Real tiveram volume ofensivo bem próximo: dois pontos (20-36 tentativas do Real x 14-29 Bauru), três pontos (10-26 x 10-29) e lances livres (21-29 x 21-28). , com 13 turnovers para os espanhóis e 11 para os brasileiros.

O que aconteceu foi que, na hora de buscar o jogo interno, o time de Guerrinha falhou. Do alto de seu 1,90m de estatura, Alex Garcia foi afastado da zona pintada quando viu Jonas Maciulis e até mesmo Andrés Nocioni dedicados à sua marcação. Seu jogo de costas para a cesta não funcionaria desta forma. Por isso, passou a atacar de frente, e matou 5-10 para somar 14 pontos. Taticamente, porém, seu papel foi reduzido. As investidas, então, foram mais tradicionais, com Hettsheimeir, e o pivô, que tem proposta do Estudiantes, da Espanha, falhou muito nesse fundamento. Em suas nove tentativas para dois pontos, converteu apenas duas, apresentando muita dificuldade em conversões próximas à cesta. Algumas notas a respeito: por favor, não vela o argumento canalha de que talvez ele esteja praticando tanto o chute de fora que tenha esquecido como fazer uma bandeja — o chute de média distância sempre foi sua principal arma; Rafael nunca teve o par de mãos ou o jogo de pés mais habilidosas em quadra… Para esse tipo de situação, lhe falta agilidade e munheca, precisando, por isso, de muito tempo e espaço para armar o gancho e fazê-lo funcionar; quando contestado, tende a perder o controle da bola ou subir desequilibrado e a falhar como aconteceu neste domingo, pois, além do mais, estava enfrentando uma linha de frente respeito. Enfim: o pivô brasileiro tem hoje uma grande arma, valiosa em seu repertório, mas apresenta buracos em seu jogo que impõem um limite ao seu potencial.

Ayón: 15 rebotes no jogo do título, oito ofensivos. Soberano na zona pintada

Ayón: 15 rebotes no jogo do título, oito ofensivos. Soberano na zona pintada

Outro buraco é o rebote. Em dois jogos e quase 72 minutos, ele apanhou apenas nove. Sozinho e contando apenas a tábua ofensiva, Ayón conseguiu oito no segundo confronto (no geral, foram 15 neste domingo e 17 em 56 minutos para ele). E isso não se explica por sua predileção ao chute de três, gente. Ele pode estar afastado da tabela no ataque, mas não é o que acontece na defesa. De todo modo, a esmagadora vantagem de 46 rebotes a 25 imposta pelo Real no jogo do título não cai apenas em seus ombros. Jefferson William (5 rebotes em 58 minutos) ainda está com a mobilidade muito reduzida). Rafael Mineiro (4 em 28) também pode ser mais atento no fundamento. Para Guerrinha, registre-se, a surra nos rebotes aconteceu devido à necessidade de o Bauru correr atrás do resultado desde o início. Seguindo o seu raciocínio, tiveram de atacar mais a bola e assumir riscos. Os riscos geraram oportunidades para o rival. O Real soube aproveitá-los e, mesmo quando não convertia na primeira tentativa, apanhava o rebote ofensivo (foram 21!) e davam sequência ao ataque, com 15 pontos de segunda chance, contra apenas dois do adversário. “Eram situações de desequilíbrio, e eles tinham reposta para tudo que tentávamos. Tínhamos de socorrer em uma outra situação, e eles se aproveitaram muitas vezes. Se for ver, cada jogador de destacou em um determinado momento”, afirmou o treinador brasileiro.

O curioso é que, ainda assim, o jogo foi parelho por muito tempo. A quatro minutos do terceiro período, a vantagem espanhola era de apenas 52 a 51. Depois, ficariam empatados em 53 a 53, por mais que Jaycee Carroll, com mais ritmo, acertasse (22 pontos em 31 minutos 7-14). Muito fora de uma zona de conforto, os madridistas juravam que o trio de arbitragem trabalhava contra, chiando uma barbaridade, a ponto de Sergio Rodríguez ser excluído e de Laso ficar em quadra apenas por vista grossa, de tanto que gesticulava a cada marcação que julgava equivocada. O Real não imaginava passar pelo que passou, gente — e isso não tinha a ver com soberba, mas com uma crença de que levariam um título para o qual se mostraram realmente motivados. Com seis minutos para o fim da partida, o placar ainda apontava 71 x 66.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Nos minutos finais, porém, Sergio Lllull (21 pontos, 6 assistências, 5 rebotes, 7-17 nos arremessos e o prêmio de MVP) converteu algumas grandes jogadas, acompanhado pelo reforço Trey Thompkins (17 pontos, 7-8, em 21 minutos)  e assessorado pelo adolescente Luka Doncic, que sobrou com um rojão na mão após a despedida de Rodríguez e segurou a bronca sem dar a mínima, como se já fosse campeão do mundo e duas vezes medalhista de prata que nem Felipe Reyes. Aos 16 anos? Impressionante. Quando os chutadores erravam, lá estava Ayón espanando geral no garrafão para dominar os rebotes. Como na sequência que aconteceu basicamente entre 4 e 3 minutos para o fim, quando apanhou três em sequência para, basicamente, garantir o título — era quando a vantagem já estava na casa de dois dígitos, e ao Real valia mais gastar o cronômetro do que uma cesta rápida.

Para os jogadores de Bauru, faltou gás no final. A rotação merengue, mesmo sem Rudy Fernández, Jeffery Taylor e, depois, Rodríguez, teria feito a diferença. Guerrinha disse que não conseguia tirar Fischer por muito tempo de quadra (fora 35min38s para o armador titular). No final, correndo atrás do placar,e estavam todos desgastados.

Outro ponto interessante de contraponto foi a opinião de cada um dos técnicos sobre o que teria feito a diferença, e uma, na real, não exclui a outra. Para Guerrinha, o que complicou tudo foi a sequência de 12-0 para os europeus em coisa de cinco minutos, que teriam ditado o restante do jogo. Para Laso, porém, o que pesou, mesmo, foram os minutos finais, para os quais estava preparado. “Entendia que eram 80 minutos de jogo. Tivemos nossos altos e baixos durante esse período, mas, para o quarto decisivo, estávamos bem, crescendo”, afirmou. O brasileiro, porém, se dá ao direito de questionar, citando a qualidade do elenco oponente: “Fico pensando às vezes como seria o Real Madrid com a nossa estrutura, se teriam feito um jogo parelho”, afirmou Guerrinha, na coletiva. “São perguntas que temos de fazer.”

Mas, bem, este é outro “se” que não entra em jogo. Fato é que, como disse Fischer, os 12 pontos finais não contam a história do jogo. Caso Hettsheimeir tivesse mais felicidade em suas incursões debaixo da cesta, caso Llull errasse um outro arremesso pressionado, as coisas poderiam ter sido diferentes. Quiçá. Pegando emprestada uma expressão típica dos espanhóis: só não me parece que, nessa vitória merengue e derrota bauruense, seja justo falar apenas sobre as bolas de três pontos.


O Bauru sempre vai ter essa noite de sexta na qual derrotou o Real
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Independentemente do que aconteça no domingo, Bauru ao menos já vai ter a noite de sexta-feira para a sua história. Não é sempre que você pode enfrentar um Real Madrid, nove vezes campeão da Europa. Mais rara ainda é a chance de comemorar uma vitória para cima deles, como aconteceu no Ginásio do Ibirapuera, com jogo estendido até a última posse de bola e placar de 91 a 90.

Fischer matou o jogo com uma bandeja simples

Fischer matou o jogo com uma bandeja simples

Com uma defesa muito firme no final do segundo período e um ataque arrasador na abertura do terceiro, o Real chegou a abrir 17 pontos de vantagem quando haviam corrido precisamente 2min01s da segunda etapa (47 a 32). A partir daí, porém, o time baixou a guarda, conscientemente ou não, e, quando seus atletas se deram conta, a diferença já havia despencado. Ao final do quarto, o marcador apontava 62 a 59.  O time espanhol ainda chegou a abrir mais sete na última parcial, mas, àquela altura, a dinâmica do duelo era outra. O Bauru acreditava firmemente que era possível encará-los, e o público presente entrou na pilha, se inflamando.

Estava novamente em prática o ataque que havia arrebentado com a concorrência brasileira e continental há questão de meses. Um ataque bem diferente, diga-se, daquele que alcançou a final do NBB e teve rendimento sôfrego contra o Flamengo. Você pode não aprovar o volume de chutes de longa distância (33 de 65 no geral). Algumas delas foram forçadas, especialmente no primeiro quarto, quando o time estava nervoso com o grande palco, as luzes e os antagonistas. No segundo tempo, porém, não dá para negar que a bola girou no perímetro, passou em mais mãos, e foi aí que começou a chover arremessos de três pontos, com mais intensidade até do que os refrescantes e salvadores pingos do lado de fora, depois de uma semana de calor infernal em São Paulo.

>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?
>> Bauru admite que não fez preparação ideal para o torneio
>> A ajudinha de Paco, o não a Larry e a rivalidade com Mogi
>> O Real Madrid analisado jogador a jogador: um esquadrão

Entre os atiradores estavam novamente os pivôs, Rafael Hettsheimeir e Jefferson William, combinando para 9-17, com 6-9 para o ex-madrilenho, numa verdadeira aberração estatística, até mesmo para o Golden State Warriors, o Houston Rockets e qualquer outra equipe da NBA ou da Europa que busque cada vez mais o tiro exterior como um caminho “eficiente”. O fator que causa espanto é que seus grandalhões tenham um aproveitamento deste nível e com volume elevado. “Se for pegar as estatísticas, vai ver que fomos superiores em praticamente todos os fundamentos. Só perdemos nas cestas de três, e, sim, o acerto dos pivôs fez a diferença”, afirmou o técnico Pablo Laso — no geral, ambas as equipes converteram 48% de trás da linha, mas os brasileiros converteram seis a mais. Ele só esqueceu de mencionar as assistências (19 a 13, que também comprovam a maior fluidez do segundo tempo). “Alguns dos arremessos estavam até bem defendidos, mas eles fizeram”, completou o armador Sergio Llull, sentado ao seu lado. Sim, esse time do Bauru tem disso: quando estão com confiança, até mesmo alguns chutes que parecem destinados o ar — e não à cesta — caem. Em alguns momentos, Hettsheimeir não parecia nem mesmo ter o controle da bola e já efetua o disparo.

“Isso é o nosso forte. O Bauru montou um time com grandes chutadores e é algo que ajuda muito. Abre a quadra. Tanto que, no último ataque, o Guerrinha montou uma jogada como todos abertos, e o Fischer, nosso menor jogador, ficou praticamente sozinho para fazer a cesta. É algo que ajuda bastante”, afirmou Jefferson.

Alex x Llull. No poste baixo, sem que ninguém pudesse pará-lo

Alex x Llull. No poste baixo, sem que ninguém pudesse pará-lo

Há algo de heterodoxo no basquete bauruense que é interessante e que, quando funciona, cria uma bagunça tática, mesmo, e que o técnico Guerrinha registrou em sua coletiva, na sequência dos espanhóis. Quando o time está a pleno favor, as posições se invertem: se os pivôs estão no perímetro, o pequeno e brabo Alex está lá perto da cesta, oprimindo adversários de sua altura, mas que não têm como segurá-lo num jogo de pancada e habilidade de costas para a cesta. Há também a ameaça das infiltrações de Ricardo Fischer e, com a chegada de Leo Meindl, o time ganha outra opção interessante nessas trocas, uma vez que o jovem ala tem presença muito mais física que a de Robert Day.

“Você sabendo usar a bola dos três ela é fantástica. Ela nos colocou na vitória. É a nossa característica, mesmo, de arremesso, mas também usamos o Alex no poste baixo, que foi onde ele definiu o jogo nos minutos finais, sempre com a ameaça do arremesso de fora. A gente pode trocar as funções, isso faz parte do jogador moderno”, afirmou o técnico Guerrinha.

Rafael numa de suas incursões internas para fazer a cesta: no final das contas, teve aproveitamento inferior no garrafão ao dos tiros de fora

Rafael numa de suas incursões internas para fazer a cesta: no final das contas, teve aproveitamento inferior no garrafão ao dos tiros de fora

Bem, os chutes de três podem ter pavimentado a reação, mas foi uma bandeja, debaixo do aro, que garantiu o triunfo, não? Saibam que foi uma jogada quase que improvisada. “Nós fizemos um movimento que nem nossos jogadores conseguiam direito, porque não deu tempo de treinar. Mas desenhamos. Já tinha conversado algo com o Ricardo. O Alex falou para não perdemos o que foi passado, que era para cumprir à risca. E foi bem feito, terminando numa bandeja”, disse Guerrinha. Fischer acrescenta: “A gente tinha uma outra jogada. Ele desenhou para acabar em mim a bola, ou, consequentemente, no Alex, e felizmente caiu para mim e consegui sair livre e acertar”.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Saiu aí a vitória, com uma simples e tranquila (na medida possível) finalização do armador, que teve uma grande atuação. Fischer, porém, era o primeiro a dizer nas entrevistas que, por mais especial que tenha sido a vitória, que tenha uma sensação de façanha, eles não poderiam se empolgar muito sabendo que, no domingo, às 12h, tem mais. E tem, mesmo. Da parte do Real, é algo que até mesmo os bauruenses esperam: eles virão mais preparados, tendo visto agora, de perto, o poderio do chute exterior de seu adversário. Não só isso, mas muitos outros detalhes. O sábado será um dia de muito estudo, para que depois os atletas sejam municiados de muita informação. Então aí vai precisar ver, mesmo, o quão eficiente os arremessos de Bauru poderão ser, com a oposição mais concentrada neles. “No primeiro tempo, eles não conseguiram”, disse o técnico merengue. “Não fomos surpreendidos. Conhecíamos bem esse estilo, e foi acerto deles. Não é que tenhamos jogado contra ninguém. É o campeão das Américas.”

Para segurar Alex, Laso também deve muito provavelmente usar mais o massudo Maciulis. Coisas do tipo, os ajustes por uma taça. Para ficar com ela, o Bauru precisa ganhar novamente, já que não existe empate no basquete e uma derrota por um pontinho também forçaria a prorrogação. O título, dãr, é o que vale mais. De qualquer forma, pelo menos por 40 minutos, os brasileiros se sentiram confiantes e otimistas de que era possível. “Já foi uma noite de sonho. Ganhar do Real Madrid por meio ponto já é isso. Sensacional, mas agora acabou a euforia”, afirmou Fischer.

*   *   *

Algumas notas sobre os bauruenses:

Ricardo Fischer fez uma partida excepcional ofensivamente, uma atuação que certamente eleva sua cotação no mercado internacional. Em conversa por telefone na semana passada, o armador já havia dito que, a despeito do final melancólico que teve a seleção, sua primeira experiência para valer com a equipe fez bem para sua cabeça. Voltou para casa com a sensação de que poderia competir com alguns dos melhores do mundo na posição, ainda que ciente de que há muito o que precisa melhorar, especialmente do ponto de vista físico e na defesa. Nesta sexta, foi batido facilmente em arranques de Lllull e Rodríguez, mas a verdade é que os espanhóis costumam ter sucesso contra a maioria de seus marcadores, mesmo. Do outro lado, porém, compensou com um controle de jogo que comprova o quão rapidamente vem amadurecendo. Depois de um início de jogo atabalhoado, voltou do banco de reservas mais sereno e assumiu as rédeas de sua equipe. De 12 turnovers cometidos no primeiro tempo, Bauru conseguiu limitar as besteiras para apenas três no segundo, e muito disso passou pela segurança de jogo de seu armador, que terminou com 12 pontos, 8 assistências e apenas dois desperdícios de posse de bola em 31 minutos, convertendo 4 de 10 arremessos.

Alex Garcia teve mais uma de suas partidas em que entrega um pouco de tudo ao time. Foram diversas as situações, gente, em que ele aparecia como a última barreira defensiva do time brasileiro, na cobertura do garrafão, pronto para desarmar tanques como Felipe Reyes e Gustavo Ayón. Fazendo falta, ou não, dá para se dizer que levou a melhor na grande maioria desses embates. Isso tem a ver com o seu senso de posicionamento, a força e a capacidade atlética ainda acima da média. Some-se a isso as oito assistências e os sete rebotes, e temos um perfeito “glue guy”, o homem da liga. Mas não podemos nos esquecer dos seus 12 pontos, sendo oito deles em arremessos nos arredores da cesta, com a importância tática já acima relatada. Se for para reclamar de algo, apenas lista-se os três lances livres que desperdiçou em 29 minutos. É impressão minha, ou, aos 35 anos, Alex está jogando o melhor basquete de sua carreira?

Uma das coisas mais legais da noite no Ibirapuera foi poder olhar para um lado, virar para o outro e se deparar com lendas do basquete brasileiro como Oscar, Paula, Hortência, Helen, ou contemporâneos como Larry (barrado por Mogi, mas presente na festa e aplaudidíssimo pela torcida de Bauru), Shamell, Giovannoni e tantos outros. Sobre o público, não peguei o número oficial, mas imagino que tenha sido algo em torno de 4 a 5 mil. Bem aquém da capacidade do ginásio. Ainda assim, era uma torcida engajada, que conhecia do jogo e soube empurrar Bauru no segundo tempo

Uma das coisas mais legais da noite no Ibirapuera foi poder olhar para um lado, virar para o outro e se deparar com lendas do basquete brasileiro como Oscar, Paula, Hortência, Helen, ou contemporâneos como Larry (barrado por Mogi, mas presente na festa e aplaudidíssimo pela torcida de Bauru), Shamell, Giovannoni e tantos outros. Sobre o público, não peguei o número oficial, mas imagino que tenha sido algo em torno de 4 a 5 mil. Bem aquém da capacidade do ginásio. Ainda assim, era uma torcida engajada, que conhecia do jogo e soube empurrar Bauru no segundo tempo

Gui Deodato: podem falar o que for do entrosamento de verões passados que tem com esse grupo, mas o jovem ala foi aquele que entrou na maior roubada. Na quinta-feira, estava em Rio Claro sofrendo para fechar a série contra Pinheiros, pelas quartas do Paulista. Do nada, tinha a missão de perseguir atacantes perigosos como Jaycee Carroll e Sergio Llull. Porém, compenetrado, usando sua envergadura e agilidade lateral, fez um trabalho admirável e foi importante demais na reação de sua ex-nova equipe, se é que isso faz sentido.

Leo Meindl mostrou no segundo tempo os lampejos que justificam a opinião geral de que fará parte por um tempo da seleção brasileira. Ainda há buracos em seu jogo que precisam ser trabalhados, como a visão de quadra quando driblando em direção à cesta (foram dele quatro dos 15 turnovers do time). Também tem o físico, algo que precisa ser martelado. Mas há outras características que lhe são naturais e  difíceis de se ensinar. Como o tino e o arrojo para pontuação. Meindl se comportou como se fosse a coisa mais natural do mundo anotar 15 pontos contra o Real Madrid, em apenas 22 minutos.-

Jefferson William fez apenas o seu quinto jogo desde que se recuperou de uma ruptura no tendão de Aquiles. Sair dessa, meus amigos, é uma batalha. O fato de ele poder estar em quadra para curtir uma final dessas já é uma vitória para o ala-pivô. Poder ter contribuído para o triunfo, então, nem se fala. Anotou 10 pontos em 27 minutos e, é verdade, pegou apenas três rebotes e teve problemas na defesa contra o americano Trey Thompkins, no quarto período. De todo modo, ao matar 3 de 8 arremessos de longe, se firmou como uma arma a ser respeitada pela defesa do Real, já cumprindo um papel tático muito relevante para sua equipe.

Rafael Mineiro jogou 14 minutos, anotou apenas 2 pontos, mas tem de ser elogiado. Sua capacidade defensiva é anormal. Acho que escrevi isso durante a Copa América, então corro o risco aqui da repetição: mas você não vai encontrar facilmente por aí um jogador do seu tamanho e com tanta mobilidade e seu senso de posição. O pivô foi bem na marcação de gente como Reyes, Thompkins e Gustavo Ayón, fechando espaços e portas, devido a sua movimentação lateral que é digna de um armador. Só contei uma posse de bola na qual ele foi batido, quando Thompkins conseguiu cortá-lo pela esquerda para fazer a bandeja no segundo tempo. E só. Ele é como se fosse um canivete suíço na defesa, cumprindo tarefas difíceis que nem sempre são percebidas.

Rafael Hettsheimeir começou a partida claramente pressionado. A bola estava fervendo em suas mãos. Foram diversas as vezes no primeiro tempo em que recebeu passes tranquilos e se atrapalhou na hora de subir na cesta. Quando o jogo estava no pau, nos minutos finais do quarto período, porém, lá estava o pivô batendo palmas em quadra, chamando o jogo. Uma senhora transformação, conduzida pelo volume de jogo externo. O camarada Ricardo Bulgarelli cantou esta, e com razão: deve ter sido sua melhor atuação ofensiva desde aquele embate histórico em Mar del Plata com Luis Scola, rumo à vaga olímpica. Foram 27 pontos em 38 minutos (descansou apenas por 1min48s). Pegou apenas três rebotes, por outro lado, e deve ficar atento a esse fundamento no segundo jogo. Desconfio que, para domingo, o Real possa fazer uso por mais minutos de sua formação “supersize”, procurando atacar a tábua ofensiva.


Copa Intercontinental: como está o Bauru?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

ricardo-fisher-guerrinha-pabo-laso-and-gustavo-ayon-press-conference-intercontinental-cup-2015-eb15-photo-fiba

O Real Madrid venceu tudo o que disputou na temporada passada. Para o Bauru, foi quase. Depois do Campeoanto Paulista, da Liga Sul-Americana e da Liga das Américas, que o credenciou para a Copa Intercontinental, acabaram varridos pelo Flamengo na final do NBB. Mas dá para dizer que aquele Bauru da final brasileira não era o mesmo de fevereiro, de uma sequência invicta que passou da casa de 30 partidas. (Para constar: o Fla não tinha nada com isso. Estava voando em quadra e atropelou, mesmo.)

“Acabou o gás”, afirma ao VinteUm o armador Ricardo Fischer, para, depois, fazer um comentário muito interessante: “Nosso time é muito competitivo, e a gente não acreditava no que estava acontecendo. Até ficamos nervosos com a situação, mas simplesmente não ia, não acontecia. A gente tentatava, mas não saía. Tivemos um pico muito grande na temporada por muito tempo. Nos playoffs, contra a Franca, já havia sido mais difícil. Aconteceu contra Mogi novamente, e aí veio a final. Lembro muito de, antes do Jogo 2, em Marília, ver muita vontade no vestiário. A vontade era imensa. Mas, no começo do jogo, logo errei uma bandeja. O Murilo pegou o rebote e perdeu também debaixo da cesta. Ali deu para ver.”

Bom, estamos agora no início de uma nova temporada? Vida nova, certo?

Hã… Nem tanto.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Como o técnico Guerrinha gosta de dizer, o clube enfrentou uma série de “intercorrências” em sua preparação para um torneio tão relevante e contra um adversário tão imponente. A lista de percalços:

– Quatro de seus jogadores estiveram a serviço da seleção brasileira (Hettsheimeir só no Pan e Ricardo Fischer, Leo Meindl e o importado Rafael Mineiro em Toronto e na Copa América). Para Fischer e Meindl, o calendário foi mais ou menos assim: “Cheguei domingo de manhã, me apresentei quinta à tarde e já teve jogo no sábado”, relata o armador.  Mineiro começou a treinar apenas agora com a equipe, depois que Limeira foi eliminado na primeira fase do Paulista e, depois, saberíamos, encerraria as atividades do time adulto para o restante da temporada.

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Europa

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Espanha

– Hetthsheimeir chegou um pouco antes, mas se mandou para os Estados Unidos, onde fez testes pelo San Antonio Spurs. Segundo consta, fez bons treinamentos por lá, agradou aos treinadores, mas não deve ser contratado neste ano. O que acontece: os times da NBA querem conferir tudo de perto. Obviamente o antenadíssimo departamento de scouting internacional do clube texano tinha diversas notas sobre o pivô brasileiro, complementadas pelo que viram no Pan. Daí que acharam que era o momento de seus treinadores conferirem o jogador de perto. Isso demonstra interesse, mas serve também para um acúmulo maior de informações, pensando no futuro.  Achar uma vaga no atual elenco, com Duncan, Aldridge, West, Diaw, Marjanovic e Bonner, seria complicadíssimo — e nem sei se valeria a pena para o já veterano, que já teve o prazer de vestir a camisa do Real, mas sem mal sair do banco, lembrem-se, quando voltava de lesão. Mas nunca se sabe quando você vai precisar de um grandalhão com boa pontaria no tiro de fora, certo? Entre embarque e desembarque, o atleta se ausentou por 10 dias.

(PS: agora Rafael está sendo sondado de modo mais agressivo pelo Estudiantes, da Espanha. Sinto que há o interesse de voltar à Espanha, mas é algo que só vão discutir após a Copa Intercontinental e, eventualmente, após o giro pela NBA, com jogos contra New York Knicks e Washington Wizards pela frente. Segundo o técnico Guerrinha, para fechar com qualquer clube que não seja uma franquia da grande liga, há uma multa rescisória a ser paga.)

– As lesões: Murilo Becker está fora de combate, se recuperando de uma cirurgia devido a um deslocamento de retina no olho esquerdo. O veterano pivô simplesmente não consegue se livrar dos problemas físicos e se divertir em quadra. Alex sofreu uma pancada no joelho e perdeu alguns dias preciosos de treino também. Jefferson William está voltando de uma lesão no tendão de Aquiles, uma das piores para um jogador de basquete. “Sentimos muito a falta dele nos playoffs.  Taticamente é importantíssimo. Além de ser matador, ele movimenta bem nosso time, com muita mobilidade”, diz Fischer. “Na questão médica, ele está totalmente liberado, 100%. Agora é o tempo de ele voltar, de ganhar ritmo de jogo,”, completa. Jefferson disputou apenas três partidas pelo Campeonato Paulista (uma contra Limeira e duas contra Mogi) e acertou 36% de seus arremessos, sendo 5-17 (29,4%) de três pontos. Foram 10,3 pontos e 6,3 rebotes em 25 minutos. O talentoso e esguio ala-pivô é peça-chave para o esquema bauruense. Obviamente o atleta não vai chegar na forma ideal. mas estará em quadra.

>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?

Por essas e outras, Guerrinha admite que a preparação não foi a ideal. Aliás, nem esteve perto do ideal. Nesse sentido, comparando com o Pinheiros de 2013 e o Flamengo de 2014, o representante brasileiro deste ano talvez chegue pela primeira vez com mais questões para resolver do que seu adversário europeu. Vamos ver.  “Não desenvolvemos a preparação para este campeonato do modo como gostaríamos, para dar ritmo”, afirma o treinador. “Os últimos dois jogos contra Mogi foram muito importantes para dar o espírito. Pois o jogador fica naquela também: quer jogar o Mundial, não quer se machucar, então acaba se dosando. Mas as partidas contra o Mogi são sempre de muito pegada e servem (para dar esse ritmo). A equipe enfrentou, foi valente, e crescemos muito. Mas se perguntar se chegamos no ponto ideal, digo que não.”

bauru

 Na fase regular do Campeonato Paulista, poupando de modo considerável seus principais nomes, deixou Wesley Sena e Carioca jogarem, a equipe do interior paulista venceu quatro e perdeu seis. Foi o suficiente para lhe garantir a quarta posição do Grupo A, ficando acima de Franca e Limeira (que também não jogou com força máxima). Por isso, agora nas quartas estão enfrentando o primeiro do Grupo B, o Mogi. Registre-se que Bauru perdeu as duas fora de casa. A primeira foi por 89 a 84. A segunda, por 89 a 88. É de se imaginar jogos quentes, mesmo, com o perdão do trocadilho. (PS sobre Sena: o pivô de 19 anos foi muito bem, com uma produção encorajadora para alguém tão jovem, algo raro no Brasil. Falei com ele neta quinta. Uma hora sai o texto sobre ele.)

“O Real é uma potência que está reivindicando jogar a NBA. O clube joga um campeonato muito mais forte que o nosso. Mas é da nossa vontade, do nosso querer, diminuir essa diferença com muita disposição, de querer diminuir essa diferença”, afirma Guerrinha, que é o primeiro a admitir, contudo, que conceitos como garra e vontade não serão o suficiente para fazer frente ao Real. “Nos brasileiros estamos acostumados a jogar com a emoção. Os europeus em geral se baseiam na razão. E esse time do Real tem isso: eles sabem direitinho o que procurar em quadra, os desequilíbrios defensivos, os mismatches. Eles atacam isso. O ideal era trabalhar o time por um mês, para tentar diminuir essa margem de diferença de elenco e realidade que temos para ele, mas não foi possível. Esse vai ser o nosso desafio, de não cair só no emocional, de vontade.”

Diria que esse é apenas um dos tantos desafios que Bauru tem pela frente. Dependendo do grau de comprometimento e do preparo físico dos atletas do Real, Bauru vai ter de se superar para buscar o título.

*   *   *

Sobre a questão dos jogadores de aluguel, já abordada aqui no UOL Esporte pelo chapa Fábio Aleixo. Bauru contratou o pivô Rafael Mineiro e repatriou o ala Gui Deodato, que iniciou sua carreira pelo clube, agora cedido pelo Rio Claro. O curioso é que o jogador estava em quadra na noite desta quinta-feira, em casa, para vencer o Pinheiros e fechar o duelo pelas quartas de final do Paulista. Foi um quinto e último confronto emocionante, definido apenas na prorrogação (por 88 a 87), no qual Guilherme anotou 16 pontos em 15 arremessos, errando muito nos chutes de fora.

“Quando perdemos o Murilo (por causa de um problema no olho) fomos atrás do Rafael. Foi um pedido dos jogadores. Já o Gui é uma espécie de recompensa, pois fez parte do nosso time na última temporada inteira, foi criado lá. Já havíamos combinado”, afirmou Vitor Jacob, diretor do Bauru. O discurso foi repetido pelo técnico Guerrinha: de que houve até mesmo uma demanda por parte dos atletas para se reforçar o elenco.

Do ponto de vista ético e esportivo, não me parece a melhor solução. Afinal, este não é o Bauru que vai dar sequência à temporada — pode ser que Mineiro continue no time, mas ambas as partes teriam de chegar a um consenso quanto ao seu salário, que provavelmente não poderá seguir no patamar dos tempos de Limeira. O Flamengo fez o mesmo no ano passado ao acertar com o pivô americano Derrick Caracter, que, no final, acabou não acrescentando muito.

O treinador bauruense, de todo modo, lembra que esse expediente vem de longa data. “Desde que comecei no basquete, em 1976, na Argentina é histórico levar jogadores como reforço. Na nossa mais ainda. Em 1980 fomos para a Iugoslávia com Franca e levamos o Marcelo Vido e um americano. Em 1983, aqui no Ibirapuera, foi o mesmo: eu e o Gerson reforçamos o Sírio”, afirmou.

A dúvida é saber o quão facilmente Mineiro será integrado. Guerrinha aposta no entrosamento que teve com Fischer, Hettsheimeir e Meindl na seleção. Sobre Gui, o encaixa é muito mais natural, obviamente. Para contar: Bauru também tentou resgatar Larry Taylor, mas o americano não foi cedido pelo Mogi.


Brasil vence. Foram nove minutos de ótimo basquete, antes da complacência
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Voltando do trabalho (o outro), cheguei atrasado para o jogo, admito. No caminho, apressado depois de tantas baldeações no lamentável metrô paulistano, restava recorrer ao Twitter e às estatísticas oficiais, já que o sinal de celular não permitia o acesso regular à Fiba TV. Por um bom tempo, achei que, para ajudar, o “tempo real” estava com pau. Afinal, passavam-se as estações, e o Brasil não saía do cinco. Atualizei por conta o link, e nada. Até me dar conta de que estava tudo correndo normalmente. Era só a dificuldade (de sempre?) para se fazer cestas, mesmo. Entre uma bola de três de Marquinhos e um lance livre de Rafael Luz, correram mais de quatro minutos de partida sem nenhum pontinho. Dali até o final sairiam mais dez, diga-se.

Ao menos isso: consegui escapar do período de draga total desta terça-feira, em vitória por 71 a 65. Quando o sofá já se mostrava acolhedor o bastante, a seleção brasileira estava mais solta em quadra, se aproveitando da pouca resistência que a República Dominicana oferecia para construir vantagem no placar. Quando restavam 4min20s para o fim do primeiro tempo, vencia por 31 a 26. A 5min37s do final do terceiro quarto, a parcial já apontava 54-34. Ou seja, em nove minutos, abriu-se 15 pontos.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

E aí há os dois lados, como sempre: os dominicanos parecem desmembrados neste torneio, para alívio geral de argentinos, mexicanos, porto-riquenhos e, opa!, dos canadenses. Tiveram uma postura muito mais frouxa que a dos uruguaios na véspera. Certo. Os brasileiros, de qualquer maneira, souberam se aproveitar desses lapsos de um modo apropriado. Foi uma bela sequência, mesmo. O ataque voltou a ficar, digamos, elástico, no ritmo do Pan, com todos participando. A bola rodou muito mais, indo para o garrafão, voltando para o perímetro, cruzando de um lado para o outro. Fugiram daquele sistema básico de toca-para-o-Marquinhos-que-tudo-bem – o ala flamenguista foi o cestinha novamente, com 17 pontos. Ricardo Fischer marcou todos os seus 10 pontos, João Paulista fez a festa no garrafão (10 pontos e 9 rebotes em 24 minutos), Augusto cravou e até o jovem Leo Meindl, que andava bem travado, esteve agressivo e relativamente produtivo (5 pontos, 3 rebotes, 3 assistências em 18 minutos).

(Parêntese para a revelação francana: o ala apareceu bem, em cortes pelo lado contrário que ele faz tão bem e que deveria usar muito mais, diversificando seu arsenal. E se faz imperativo também que o reforço bauruense trabalhe sua c ondição atlética. Nem todo mundo precisa ser Kobe Bryant nessa vida, mas Leo pode muito bem perder alguns quilos e ganhar em arranque e agilidade, sem perder a força que lhe ajuda em suas ainda raras incursões no garrafão. Ele tem muito talento para ser explorado, e o tempo ainda está o seu favor. Duro é se acomodar em quadras nacionais. Não pode.)

>> E o professor Scola deu uma aula para a molecada canadense da NBA

O jogo meio que se decidiu, então, de modo precoce, e aí voltou a complacência. É meio injusto destacar isso, pois o placar não estava saindo do zero, mas vamos lá: os caribenhos venceram os últimos 15 minutos de jogo por 14 pontos, com direito a um 20-13 no quarto final. Período em que, durante um pedido de tempo, Magnano perguntou aos atletas: “Por que vocês não estão respeitando o que estou falando?”, com ar de perplexidade, depois de tantos arremessos de três pontos forçados. É, pois é. Nada como o áudio liberado no banco de reservas, um reflexo de uma condução mais light do argentino nesta temporada ajuda.

Todo treinador é responsável por sua equipe. Desde a convocação à condução dos treinos, à preparação para os jogos e ao comando na partida. Por mais supercontrolador que seja, porém, todo profissional nesse cargo tem um limite de ação — e, cá entre nós entre marmanjos não me agrada muito o estilo autoritário. Chega uma hora que o desenvolvimento da equipe vai depender da execução dos atletas. Por que os jogadores não estavam cumprindo o recomendado, então, se torna uma boa pergunta. Voltamos aqui ao relaxamento, a um descompromisso com a competição? Os maus hábitos liberados (por quem?) devido ao placar largo? Vai saber.

Por isso, nessa acompanho o Wlamir: não dá para comemorar tanto o resultado, porque não é que o Brasil tenha jogado muito bem, ou melhor: consistentemente bem. E foi contra um adversário que parece destinado à eliminação bem antes da disputa das medalhas. Nesta quarta-feira, é a vez de enfrentar o México, com jogadores  melhores, ginásio bombando e a perspectiva de um embate bem mais complicado.


Brasil se recupera e vence a Argentina. Notas sobre o jogo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Com um bom atraso, alguns comentários sobre a vitória do Brasil sobre a Argentina, por 80 a 71, na noite desta terça-feira. Nem o link oficial, nem os “alternativos” estavam funcionando aqui no QG, então ficou para o VT pela manhã. Foi o terceiro amistoso entre os rivais nesta preparação para a Copa América, de modo que os times já se conheciam bem. O interessante desta série é que diversos novos protagonistas estão sendo introduzidos à maior rivalidade basqueteira sul-americana, de ambos os lados. Como o Marcus, por exemplo…

*    *   *

Antes de falar sobre o jogo em si, vocês vão me desculpar se nos atermos a um pequeno ingrediente para lá de saboroso em quadra: a batalha entre Marcus Toledo e Andrés Nocioni. Em linhas gerais, numa partida de basquete, um duelo individual costuma ser só uma de diversas peças de um grande embate no plano geral. As chispas entre Marcus e Chapu, porém, tiveram significado especial. Primeiro porque pudemos ver o ala do Basquete Cearense cumprir em quadra aquilo que muita gente imaginava que ele pudesse fazer há anos. Anos, e não apenas desde o NBB6 e seu ótimo campeonato nacional por Mogi. Marcus é um ala-pivô combativo desde sempre, ganhando cancha nas divisões menores da Espanha e também na Liga ACB, até aprender a canalizar toda sua inesgotável energia de um modo mais eficiente na defesa. Foi o que fez contra um craque como Nocioni — e levou a melhor. O veterano argentino, aliás, experimentou de seu próprio veneno.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Geralmente cabe ao campeão olímpico a posição de intimidador/agressor. Dessa vez, ele foi a vítima, ficando evidentemente surpreso e incomodado pelos seguidos desarmes de Marcus, a ponto de, no último deles, já no terceiro quarto, reclamar horrores com a arbitragem e ser excluído com cinco faltas e duas técnicas. Por essas e outras, Marcus precisa ser considerado a cada convocação. Você nunca chama apenas 12 atletas. Vai reunir um grupo, fazer cortes e, diante do que vê em treino, define seu grupo. Nem todo mundo que for para o banco vai ter um grande papel, volume de jogo e muitas oportunidades de arremesso. Para encontrar um equilíbrio, existem os operários. Está aqui um que pode ser muito valioso, a ponto de tirar, literalmente, um Nocioni do jogo. Sua importância foi muito além dos seis pontos (todos no primeiro quarto) e dois rebotes.

*   *   *

Marcus entendeu rapidamente — e apreciou, naturalmente — qual era a natureza desse (coff, coff!) amistoso. Brasil e Argentina, para variar, fizeram um jogo muito físico. Ao todo, foram batidos  44 lances livres, com 24 para os hermanos. Esse combate vigoroso partiu muito muito mais da seleção de Rubén Magnano, talvez frustrada por ter sido oprimida na véspera pelo Canadá, e também por vir de duas derrotas. A pegada defensiva esteve até mesmo num nível acima do Pan, forçando 14 turnovers por parte dos argentinos, compensando a derrota nos rebotes (35 a 29).

Ricardo Fischer era outro exemplo claro essa atitude, mordendo a barra dos calções de Laprovíttola e Richotti, de um modo que deu gosto de ver. O armador do Bauru era mais baixo e menos veloz que os dois oponentes, mas isso não o impediu de fazer excelente papel defensivo, e não só por uma questão de agressividade. Ele se movimentou muito bem lateralmente, com um jogo de pés ágil e impressionante, algo que ele já usa tão bem no ataque. Se formos pensar, Fischer não é um jogador explosivo. Mas, pela inteligência e fundamentos, ele consegue levar seu time adiante no NBB, chegando aonde quer em quadra. Aos poucos, com a extensa bagagem que vai carregando nesta Copa Tuto Marchand, percebe-se que está se ajustando ao nível de competição em seleções e vai produzindo.

*   *   *

Contra a Argentina, Fischer atacou muito mais a partir da linha de três, mantendo a bola viva com seu drible bem controlado e matando tiros em flutuação, mesmo sem ter por muito tempo a companhia de Augusto Lima, o tipo de pivô que facilita a vida do armador com seus cortes para a cesta, atraindo a defesa. O jogador do Murcia ficou limitado por faltas, cometendo quatro em 16 minutos. Na defesa, quem apareceu para cobrir Augusto foi Rafael Mineiro, um jogador que, sinto, não recebe o devido valor por estas bandas. Você não encontra todo dia um jogador com sua altura e mobilidade. Essa mobilidade pode não ser muito explorada no ataque da seleção (às vezes até mesmo por hesitação do próprio atleta, uma vez que me parece que Magnano tem confiança na sua habilidade para atacar vindo do perímetro). Na defesa, porém, ele vem sendo extremamente útil na defesa, para fechar espaços e acertar a cobertura.

Outros jogadores que não vinham tendo sucesso nesta semana em Porto Rico e renderam bem mais ao mudar a abordagem ofensiva contra a Argentina: Leo Meindl, muito bem nos oito minutos que recebeu no primeiro tempo, forçando inclusive um pedido de tempo de um Sergio Hernández pasmo com suas infiltrações pelo centro da defesa, e Guilherme Giovannoni, que primeiro atacou perto da cesta, correndo para valer em transição, para depois usar o chute de fora (fundamento que mais uma vez deixou a desejar do ponto de vista coletivo, com 33% de acerto, em 5-15).

*    *   *

Não dá para negar que, entre os três primeiros adversários em San Juan, a Argentina é a que tem a capacidade atlética mais reduzida, de modo que o Brasil conseguiu se impor nessa esfera. De qualquer forma, observando essa atual formação de Hernández, percebe-se aqui e ali alguns jogadores que elevam o padrão habitual da seleção dos últimos anos. Nícolas Richotti já faz sucesso com suas arrancadas pela Liga ACB, então não é uma surpresa. O destaque aqui fica para os jovens alas Patrício Garino, da Universidade de George Washington, um excelente defensor, e Gabriel Deck, sensação nas competições de base da Fiba como um ala-pivô técnico, mas baixo e lento, e que reinventou seu jogo no adulto. São dois caras que vamos ver por anos e anos nas competições continentais.

*    *   *

Magnano deu uma enxugada em sua rotação nesta terça, mesmo sendo o terceiro jogo em três noites. Sinal do que vem por aí? Danilo Fuzaro não foi para o jogo, assim como Olivinha. Meindl recebeu oito minutos e Marcus ficou com 16. Deryk, muito tímido com a bola, ganhou apenas cinco. Rafael Luz mais uma vez não se fardou. Esperemos que ele esteja bem para a Copa América, e que não seja nada além de medida cautelar da comissão técnica. Mesmo sem jogar, Olivinha dava sua contribuição em termos de animação no banco de reservas. Quando Marcus forçou a quarta falta de Nocioni, após um desarme, o ala-pivô do Flamenguista quase invadiu a quadra para cumprimentar o companheiro. Mesmo que, em teoria, eles sejam concorrentes.

O bacana foi ver novamente a pontuação distribuída, com quatro jogadores em duplos dígitos, liderados por um João Paulo Batista sempre eficiente (15 pontos, 56% de quadra e 5-5 nos lances livres). Da turma que foi para quadra, só Deryk ficou zerado, errando seus dois únicos arremessos, ambos de três.

*    *    *

Todo paz e a mor com as câmeras de TV, o que é algo chocante, Magnano, pela primeira vez, censurou uma transmissão de TV contra a Argentina. Num determinado momento do quarto período, os adversários ensaiavam uma reação, e ele chamou tempo. Na hora de rabiscar uma jogada na prancheta, percebeu o que estava fazendo e, discretamente, se deslocou na rodinha para colocar seu traseiro de frente para as câmeras. Não era um gesto de ostentação, fiquem tranquilos. Ele só não queria que a concorrência tivesse acesso àquela jogada específica. A preocupação com esse trâmite era tanta que a instrução foi para que os atletas nem mesmo chamassem a jogada em quadra, para não dar bandeira. Jogos secretos, a gente se vê por aí.

*    *   *

Por fim, reproduzo uma observação do narrador Álvaro Martín, da Fiba e da ESPN, sobre Magnano, que é algo que estamos realmente testemunhando mais vezes neste giro: o argentino tem por vezes deixado os pedidos de tempo na mão de José Neto e/ou Gustavo de Conti. De um modo geral, o treinador tem adotado postura mais leve também (sem deixar de espernear com seus atletas quando achar necessário, diga-se). Estaria o argentino preparando a transição para um mundo pós-Rio 2016? Martín falou sobre o treinador começar a se dedicar às categorias de base brasileiras, mas aí não ficou claro se era apenas especulação de sua parte ou resultado de conversas durante a semana. Magnano tem vocação para lidar com garotos e fez isso constantemente quando técnico da geração dourada de nossos vizinhos. Lembro muito bem de um Sul-Americano Sub-19 em Ancud, no Chile, em 2004, para o qual ele chegou durante a competição e, na hora da disputa por medalhas (e vaga na Copa América), rendeu um de seus assistentes para assumir o comando do time. Estava sempre perto das canteras, tal como faz Óscar Tabárez no futebol uruguaio. A ver.


CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Bauru conquista 2ª taça internacional numa temporada já histórica
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Bauru, Liga das Américas 2015, Rio

O jovem Ricardo Fischer e o experiente Rafael Hettsheimeir repetiram a mesma frase nas entrevistas já celebratórias em quadra: “A gente montou um time para isso: ser campeão”.

Bem, com três decisões disputadas e três títulos na conta depois de uma vitória sobre o Pioneros, do México, pela final da Liga das Américas, parece não haver dúvidas quanto a isso.  Guerrinha tem, de fato, um elenco totalmente estrelado na mão, mas que, ainda assim, precisaria entrar em quadra e confirmar seu favoritismo. Sem problema: neste domingo, o time conquistou seu 28º triunfo consecutivo na temporada.

“Quando montamos esse time, nosso lema para a temporada era: ‘Cabeça nas nuvens, pés no chão’. Estamos conseguindo nossos objetivos, mas temos de continuar trabalhando muito, com humildade e sonhando alto”, afirmou ao SporTV o treinador, que conseguiu um feito inédito: unificar os títulos tanto da LDA e da Liga Sul-Americana, adicionando também o Campeonato Paulista. Estendeu, também, a hegemonia sem precedentes dos clubes brasileiros nas disputas continentais.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A última vez que Bauru perdeu um jogo foi para Limeira, no dia 3 de dezembro, pelo NBB. De lá para cá, conseguiu 20 vitórias pela competição continental, que se somam aos resultados positivos em toda a sua campanha pela América, o último deles por 86 a 72, contra um adversário realmente encardido.

Não foi uma final fácil para o MVP Alex e o campeão Bauru

Não foi uma final fácil para o MVP Alex e o campeão Bauru

O placar final não conta nada sobre o que foi o confronto. Uma partida tensa, muito tensa – mas bem jogada, sem aquele teatro fora de quadra com o qual já nos acostumamos em quadras brasileiras, de reclamações exageradas. A decisão ao menos não foi atrapalhada por isso, até pela ajuda de uma arbitragem bastante sóbria, que não precisa ficar ensinando nada para ninguém. Foi uma pena, porém, o público diminuto num ginásio tão bonito como o Maracanãzinho.

Aqui, o drama ficava por conta mesmo da imprevisibilidade do confronto, do mistério de não saber o que ia dar de resultado – a vantagem era de apenas três pontos ao final de três quartos, para o time brasileiro, evidentemente mais talentoso, mas que teve bastante trabalho para assegurar o troféu. Poucos atletas adversários teriam lugar em sua rotação. Mas o esporte tem dessas coisas. Coletivamente, as coisas podem se equilibrar.

>> Ricardo Fischer aceita a pressão para liderar o Bauru
>> Hettsheimeir: “Não pensei duas vezes em fechar com o Bauru”

O Pioneros manteve as coisas parelhas novamente usando do expediente de faltas – foram 25 em 40 minutos, nove a mais que os bauruenses. Um estilo bastante físico que não abria muitos espaços – e, quando eles surgiram, era só descer a marreta para frear o lance. Não faz muito meu gosto, mas foi desse jeito que os caras alcançaram a decisão, derrubando o atual campeão Flamengo na semi. Num jogo duro como esse, os jogadores mais experimentados do Bauru foram fundamentais.

Hettsheimeir: 30 pontos em tiros de fora e trombadas na decisão

Hettsheimeir: 30 pontos em tiros de fora e trombadas na decisão

Alex levou o MVP com justiça, pelo conjunto da obra no Final Four, acumulando dessa vez 16 pontos, 8 assistências e 5 rebotes na final, com 6-14 nos arremessos, em 33 minutos. Mais importante que isso foi sua ainda impressionante capacidade para brecar os oponentes. O ala-armador marcou feito o garoto revelado pelo Ribeirão Preto. Prova que, para executar uma boa defesa individual, a força física pode até ajudar, mas o que conta, mesmo, é a vontade e a cabeça. Saber como se posicionar e incomodar.

Do outro lado da quadra, Rafael Hettsheimeir estava numa jornada de pura inspiração nos arremessos. Marcou 30 pontos em 38 minutos, convertendo 8-12 nos arremessos de quadra (5-8 de três pontos…) e 9-10 nos lances livres. Deu para ver que, quando o pivô pega confiança, a mecânica sai de modo bastante consistente, o arco é perfeito, e a bola cai de chuá. Ritmo, ritmo e ritmo. Não nos esqueçamos que, na temporada, até a final, o pivô havia convertido 36,3% pela Liga das Américas, enquanto, pelo NBB, tem matado 40,2%.

Na disputa pelos rebotes, completamente dominada pelos brasileiros (41 a 26, com 15 importantíssimos na tábua ofensiva), Rafael contou com uma ajuda inestimável de Murilo Becker, que conseguiu um duplo-duplo de 17 pontos e 11 rebotes em 29 minutos. O pivô pode ainda não ter recuperado sua mobilidade característica depois da última cirurgia, mas mas comprou a briga, respondendo ao jogo de contato de Justin Keenan & cia.

Murilo foi lá embaixo brigar

Murilo foi lá embaixo brigar

Se for fazer as contas, vamos ver que o trio foi responsável por 63 dos 86 pontos do Bauru, ou mais de 73%. Contra uma defesa forte e bem postada, o clube paulista não conseguiu tantos arremessos livres, terminando o jogo com 48% nos chutes em geral e 35% de longa distância – a dificuldade maior foi contra a marcação em zona, algo de certa forma surpreendente. Mas soube movimentar a bola mesmo assim, dando assistências em 24 de suas 30 cestas de quadra, um aproveitamento elevadíssimo. Ainda mais se for levar em conta que só cometeu dez turnovers – cinco deles com Ricardo Fischer, que vai ganhando os calos necessários para virar um grande armador.

Pensando em seleção, não vejo como chamar Larry Taylor neste ano e pensar em deixar o rapaz de lado. Vamos ver. Fischer terminou o jogo com oito pontos e nove assistências, algumas delas com passes bastante criativos, de muita visão. Na defesa, também fez um belo papel no quarto final. Já Larry  parece ter perdido muito de sua explosão, de seu arranque, tendo dificuldade para finalizar lá dentro (1-5 nos chutes de dois pontos), acompanhando sua já sabida deficiência nos tiros de fora (1-4).

Fischer e seus companheiros querem mais.  “A gente quer sempre mais, não pode ficar satisfeito para isso. O time foi montado para isso: chegar a todas as finais e ser campeão”, disse Fischer ao repórter Edgar Alencar, do SporTV.  “A gente montou um time para isso: ser campeão”, repetiu Hettsheimeir. “Agora é pensar no NBB e vamos tentar levantar esse também.”

A temporada vai avançando, e vai ficando cada vez mais difícil de pensar num desfecho diferente.


A final não é brasileira, mas o Bauru ainda é o favorito
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Alex, perto de mais um título continental

Alex, perto de mais um título continental

Não há como negar: o Bauru vai entrar em quadra neste domingo como o grande favorito ao título da Liga das Américas, no Rio de Janeiro. Tem grandes chances, sim, de estender a sequência de títulos do Brasil no torneio continental para três. Afinal, o time de Guerrinha já soma 15 vitórias consecutivas em partidas internacionais nesta temporada, somando aqui aquelas que fez para ganhar a Liga Sul-Americana. E não só isso. O clube paulista vem simplesmente arrasando os concorrentes que enfrenta pelo caminho, com uma margem de pontos superior a 27 pontos em média, tendo batido o Peñarol de Mar del Plata por 88 a 61, de modo incontestável.

Agora, uma coisa é o jogo falado, outra é o jogado, como diria qualquer um neste sábado, após o Pioneros de Quintana Roo, do México, ter derrubado o Flamengo e impedido uma decisão 100% nacional. Para frustrar o Maracanãzinho e a organização do Final Four da LDA como um todo, os caras batalharam, por vezes literalmente, contra o Flamengo, vencendo por 81 a 80. Já aprontaram uma, agora vão tentar outra.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Sim, por mais que a mesma equipe mexicana tenha vencido o torneio em 2012 e tenha chegado ao Rio de Janeiro com cinco triunfos e apenas uma derrota, foi uma surpresa o resultado da segunda partida do dia. No papel, o elenco rubro-negro é muito mais qualificado. Acontece que os visitantes não permitiram que esse talento fizesse a diferença, jogando um basquete muito combativo, físico para desestabilizar um ataque geralmente potente.

Não teve bicampeonato para Neto e o Flamengo

Não teve bicampeonato para Neto e o Flamengo

Foram 25 faltas cometidas, com direito a dois jogadores excluídos. Um estilo que gera, obviamente, muitos lances livres – e o Flamengo, como um todo, falhou nos tiros de um ponto, (19-28, 68%). Mas as falhas na linha não foram a única razão isso para explicar o resultado. A defesa agressiva  também forçou 17 turnovers, cinco deles pelas mãos de Nícolas Laprovíttola. Marquinhos foi o único jogador de perímetro brasileiro que conseguiu enfrentar esses caras e prevalecer, com uma grande atuação (27 pontos, 8-10 nos lances livres, 8-13 nos arremessos, em 41 minutos).

Com ou sem porrete, os mexicanos defenderam muito bem o jogo exterior de seu adversário, limitando o time da casa a míseras 6 bolas de três pontos em 28 tentativas, para um aproveitamento de 21%. Isso, na real, não chega a ser uma novidade, uma vez que, no duelo entre ambos no dia 25 de janeiro, o Fla já havia acertado apenas 10 em 32 (31%). Junte os dois, e temos 16-60. Fica difícil de vencer assim, e aí faltou procurar outros – e melhores – caminhos para explorar Jerome Meyinsse, muito mais explosivo que seus oponentes, debaixo do aro. O pivô acertou sete de oito tentativas de cesta, mas também cometeu cinco desperdícios de posse de bola, somando 16 pontos em 39 minutos. Cristiano Felício ficou apenas cinco minutos em quadra e também poderia ter ajudado.

Na defesa, o que matou foi a dificuldade em marcar o pivô Justin Keenan, pesadão, mas com bom arremesso, se desmarcando em jogadas de pick and roll ou pick and pop para matar tiros de média para longa distância ou descolar faltas (25 pontos, 8-15 de quadra e 7-9 nos lances livres). A comissão técnica do Bauru certamente tomou nota disso, que o grandalhão tem de ser respeitado e contestado, até porque o armador Brody Manjarres não finaliza tão bem assim quando mais perto da cesta.

Ao ver estes números, Manuel Cintrón, ex-treinador de Porto Rico que diz ter ficado dois anos em fase de “reciclagem”, poderia se sentir até mais confortável ao caminhar para o embate com o Bauru na decisão. Afinal, sabemos bem que o clube paulista investe bastante nos chutes de longa distância também. Acontece que seu poderio ofensivo é tão grande que, mesmo numa jornada em que essas bolas não caem (8-36, 22% contra o Peñarol), os bauruenses podem chegar a 80 pontos.

Murilo, diferente de Jefferson, mas igualmente perigoso. Novas possibilidades no ataque

Murilo, diferente de Jefferson, mas igualmente perigoso. Novas possibilidades no ataque

Jefferson William faz falta no espaçamento de quadra, mas a dupla Murilo-Hettsheimeir oferece um jogo interior muito interessante para Guerrinha e um problema para qualquer oponente (somaram 34 pontos, 12 rebotes e 13-23 nos arremessos, com Rafael novamente exagerando na dose de três, errando sete de nove disparos). Outra: não é segredo que o eterno Alex adora uma partida de muito contato físico, batendo para dentro, desafiando gente muito maior. Na semifinal, fez um pouco de tudo, com 18 pontos, 6 assistências e 7 rebotes, 4-10 nos arremessos e 8-9 nos lances livres, em 31 minutos. Sua intensidade será importantíssima neste domingo.

Bauru e Pioneros também já se enfrentaram pela Liga das Américas, 22 de fevereiro. A equipe brasileira venceu por 92 a 79. Os 13 pontos, porém, foram abertos apenas no quarto final, com uma parcial de 28 a 15. Naquela ocasião, curiosamente, Manjarres anotou 17 pontos, mas foi o intempestivo Romel Beck Castro o cestinha, com 28 pontos e 6-10 nos tiros de fora – o restante do time ficou em 3-14. Do outro lado, os campeões paulistas mataram 13-35 e mais de 50% nos arremessos gerais. Ricardo Fischer jogou demais, com 19 pontos, 8 assistências e 6 rebotes (8-11), mas pode esperar algumas bordoadas neste domingo. A ver se essa dinâmica vai se repetir.

Antes de o torneio começar, Cintrón resumiu bem o estado de espírito de seu time: “Não temos nada a perder. Não havíamos traçado esta meta, de chegar ao Final Four, e a conseguimos. Vamos jogar como se fora um partido a mais e com a tranquilidade de saber que o trabalho deu resultados”. Resultado por resultado, o Bauru tem um retrospecto recente muito mais relevante. Agora resta confirmar isso em quadra.


Sumido dos ginásios, de mudança, Magnano reaparece em entrevista. E aí?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

A LDB se encerrou nesta terça-feira, em Fortaleza, com o Basquete Cearense sendo campeão, e nada. Ainda pelo mesmo campeonato, foram realizados, na semana passada, dois quadrangulares em São Paulo, e ninguém viu também. Durante transmissões do NBB e da Liga das Américas, nenhuma câmera conseguiu registrar sua presença também.

Rubén Magnano, o treinador da seleção brasileira, está sumido dos ginásios e também andava desaparecido do noticiário. Ao menos agora reaparece para quebrar o silêncio em entrevista para o site da CBB, para explicar o que anda fazendo até chegar o momento de bolar duas convocações para uma Copa América/Pré-Olímpico e o Pan de Toronto.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Segundo a assessoria da confederação, Magnano compareceu a alguns jogos em São Paulo, sim, no ano passado e tem acompanhado tudo de casa pela TV e também por um programa que lhe permite assistir a todas ligas – muito provavelmente o Synergy. “Felizmente hoje temos à disposição na internet praticamente todos os jogos da Liga de Desenvolvimento e da Liga Nacional. Temos na CBB um programa que nos permite estar muito perto dos nossos jogadores nas ligas pelo mundo”, disse o treinador.

OK, isso é ótimo. Mas, ao mesmo tempo, não passa de dever da profissão, né? E mais: acredito que 10 a cada 10 scouts/técnicos/dirigentes vão dizer que nada substitui a experiência de ver uma partida in loco. Daí o estranhamento por esse chá de sumiço. Até porque Magnano, sabemos, é um junkie de basquete. “Não sei qual o contrato dele com a CBB, mas acho que é um cara que acrescentaria um técnico desse nível assistir ao nosso All-Star Game. Valorizaria o evento”, disse Guerrinha, comandante do Bauru e ex-assistente da seleção, ao VinteUm.

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Muita gente foi ao Pedrocão para ver o Jogo das Estrelas

Detalhe: ao site da CBB, Magnano afirma que vai viajar aos Estados Unidos em abril para falar com a legião nacional da NBA. Esse é um assunto interessante que vale uma abordagem mais detalhada mais adiante. Só fica o registro: a liga americana vai se encerrar em maio para a maioria dos brasileiros que lá estão. Vale a pena mesmo conversar eles de modo antecipado, sem saber o que vai acontecer adiante? Enfim, sigamos em frente. E por que a distinção? Por que a turma em atividade nos Estados Unidos (e Toronto) precisa de um bate-papo, e quem está no interior paulista ou Brasil afora não? Já se sabe absolutamente tudo sobre quem está em quadras nacionais? O que eles estejam sentindo não importa?

“Aqui está a maioria dos jogadores que vai trabalhar com ele, para trocar uma ideia”, afirma Guerrinha. “Também sinto falta dos assistentes dele. É muito importante essa troca. Pois também haveria o diálogo com os treinadores, para saber sobre o que está acontecendo, perguntar sobre o Ricardo, o que estou achando do Alex etc. Ninguém fala nada, ninguém conversa nada.”

Ex-treinador principal da seleção, hoje em Franca, Lula Ferreira foi um pouco mais diplomático quando questionado sobre o assunto: “Para poder emitir uma opinião, eu teria de saber o motivo de ele não ter vindo (ao Jogo das Estrelas). Claro que, analisando teoricamente, você espera que num evento desses ou em jogos do NBB, por ser uma pessoa de peso que pode ajudar no crescimento, como tem ajudado. Mas eu não posso julgar sem saber o motivo. Seria leviano da minha parte”.

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

Do seu lado, a CBB dá a entender que esse período de distanciamento em específico tem a ver com a mudança do argentino para o Rio de Janeiro. Em sua entrevista, o técnico afirma que estava em seu país natal até dias atrás. “Eu vim na semana passada da Argentina, cheguei em São Paulo, peguei o carro e vim para o Rio”, afirmou. Aliás, o presidente da CBB, Carlos Nunes, disse à colega Karla Torralba, aqui do UOL Esporte, que essa mesma mudança seria um entrave para a participação do treinador nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Em julho, no caso – meio longinho, não? Ao site da confederação, Magnano dá uma resposta mais plausível, claro. “Hoje, infelizmente, não tenho como falar onde vou estar, dizer o que vai acontecer com a comissão técnica. A possibilidade é grande de eu não ir ao Pan porque bate com as datas de treinos para o Pré-Olímpico. Mas não posso afirmar porque depois posso ter de desdizer. Essa situação de não ter resposta pode mudar muito nossa maneira de encarar cada torneio. Minha ideia é levar a melhor equipe em cada um. No momento que um torneio bate com a preparação de outro você precisa montar times diferente.”

Para quem não está por dentro, vale o esclarecimento: a CBB ainda nem sabe direito como planejar a vida de suas seleções masculinas para esta temporada, uma vez que a Fiba faz um interessantíssimo jogo duro com a confederação. E aí: vai ter vaga olímpica direta, ou não? A lógica diz que sim: se até a Grã-Bretanha ganhou, por que o Brasil, quinto em Londres 2012, não levaria? O problema, meus amigos, é que há claramente coisas pendentes no bastidor, ainda mais depois que o time de Magnano dependeu de um favor/convite/venda por parte da entidade internacional para evitar um vexame de apenas assistir ao Mundial da Espanha. Aí, sim, da TV, mesmo.

Essa pendenga, porém, não influencia, ou não deveria influenciar no afastamento de Magnano dos ginásios brasileiro. Nem mesmo a mudança, creio. Sabemos que essa história de empacotar as coisas torra a paciência, com todos os detalhes e os cuidados a serem tomados. A correria. Ainda mais quando você está saindo de uma cidade para a outra, e organizando as coisas de um país diferente. Porém, é de se perguntar o quanto demorou tal trâmite. Questão de meses?

Outro ponto que merece o debate: por mais que a confederação esteja sediada no Rio de Janeiro, não seria mais produtivo que o técnico permanecesse em São Paulo, cidade que tem três clubes do NBB e está muito mais próxima de outras tantas no interior do estado? “Quando vim para o Brasil decidi ficar em São Paulo porque era mais conveniente”, diz Magnano.

Agora, ao que parece, a conveniência mudou de lado. “Foi uma decisão (a de mudar-se pessoal combinada com a CBB, focada basicamente em nossas necessidades futuras. Hoje é necessário estar mais perto da CBB e do COB. Tenho um calendário de palestras com o COB muito interessante.”

Palestras com o COB? Epa. Não custa lembrar que é o comitê olímpico nacional que paga o salário do argentino. E não paga pouco. Quer dizer… Há uma gama de interesses aqui a serem atendidos. Como se fosse uma dívida, mesmo. Mas tudo bem: dependendo da agenda do argentino, sobra mais que o tempo necessário para acompanhar a temporada nacional, que já entrou em sua fase decisiva.

Na hora de falar está se passando em quadra, Magnano foi bastante genérico em suas respostas. Da turma da NBA: “Infelizmente o Anderson Varejão se machucou. Havia feito uma Copa do Mundo muito boa. Nenê está jogando em um nível bom. Tiago Splitter voltou bem. Leandrinho não começou bem, mas já melhorou muito”. Do que temos na Europa, registrou que “Augusto Lima está fazendo uma grande Liga ACB na Espanha eRaulzinho e Rafael Luz também” – Augusto já era um dos melhores pivôs da Espanha na temporada passada, diga-se. “E o Marcelinho Huertas é o armador do Barcelona. A equipe está com altos e baixos, mas ele continua sendo o armador de uma grande equipe”, completou, sem dizer que o brasileiro, no momento, perdeu o posto de titular para o jovem tcheco Tomas Satoransky.

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, certo?

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, lesionado, certo?

Sobre a garotada da LDB ou os mais jovens em geral, o argentino se entusiasmou mais um pouco em sua explanação:” Temos muitos jovens fazendo bons trabalhos. O Davi (Rossetto), do Basquete Cearense, é o garoto que mais evoluiu. É um exemplo para muitos jovens que, com trabalho, você consegue chegar ou ficar perto das suas metas. (Henrique), Coelho, do Minas. Gostei muito do que está fazendo nos últimos 50 dias o Cristiano Felício. Melhorou muito. Também tem o Lucas Mariano, Leo Meindl, Ricardo Fischer. O Sualison (Tavares, também do Basquete Cearense) também vem bem. E não podemos esquecer do Bruno Caboclo. Um jogador de futuro na Seleção. Pena que não está jogando tudo que eu gostaria por conta dos poucos minutos em quadra”.

Na hora de abordar os veteranos em atividade no NBB, foi mais evasivo. Disse que “Marquinhos está fazendo um trabalho interessante”. Até aí é o mesmo que dissermos que o Corinthians do Tite “tem defendido bem”. Qual a novidade? O mais preocupante, contudo, foi mencionar logo depois que “Marcelinho Machado “segue como um grande arremessador de três”. Sim, o cara é o bicampeão do torneio de chutes de longa distância, por sinal.

Mas… hã… Estaria o treinador pensando seriamente em mais uma convocação para o veterano ala, hoje reserva flamenguista? De novo: nada contra o camisa 4 num âmbito pessoal, mas levá-lo para mais um torneio não seria uma perda de tempo valioso no desenvolvimento de novas opções, dois anos depois de o veterano ter anunciado que se aposentaria da seleção (só para ser convencido a retornar na temporada passada, depois de ganhar o prêmio de MVP do Final Four da Liga das Américas)?

Para ser justo, Magnano talvez esteja apenas citando um fato corriqueiro para dizer que tem acompanhado as coisas. Ou pode dar a entender também de que as coisas não mudaram tanto assim de um ano para o outro. E, se for essa última alternativa, aí acho que temos um problema. Afinal, a tabela do NBB mostra algumas boas surpresas na parte de cima, assim como o Jogo das Estrelas também já ofereceu alguns nomes um pouco diferentes dos habituais. Nada disso valeria uma citação?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia ver mais de perto?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia vê-lo mais de perto?

De qualquer forma, há mais uma possibilidade que pode atenuar um eventual julgamento precipitado: o argentino obviamente não nasceu ontem e provavelmente não entregaria nenhuma bomba em uma entrevista ao veículo oficial da entidade, assim tão cedo, em março, para não interferir no desempenho de um alvo, digamos, alternativo. Aquela coisa de não mexer na cabeça de jogador e também para não alertar os adversários. Ainda mais se o Brasil tiver de jogar por uma vaga olímpica.

Felício, Fischer, Meindl e Mariano, convenhamos, não são mais segredo para ninguém, nem mesmo para o treinador que já os havia chamado para compor elenco de grupo em jornadas anteriores. Assim como Caboclo, já com seleo NBA. A menção a Coelho e a Davi, por outro lado, é algo que já anima um pouco mais. Não só pelo fato de o os armadores estarem fazendo uma ótima temporada, mas por serem caras que ainda não foram incluídos em nenhuma lista de seleção até aqui – se merecem, ou não, uma vaga, essa é outra discussão, que valeria outro texto, mais trocentas palavras. Os dois seriam de fato novidades e uma prova de que, mesmo distante, o argentino estaria antenado.

Precisa estar, mesmo: num piscar de olhos, a temporada dos clubes vai estar encerrada, e será o momento de anunciar as convocações. Fazer uma lista podendo chamar a cavalaria da NBA é algo relativamente fácil. Quando os caras não se apresentam, porém, pode dar num vexame como o da Copa América de 2013 – formando uma equipe sem equilíbrio nenhum e da qual, de modo absurdo, Magnano procurou se distanciar, lavando as mãos, acusando falta de talento.

Com seu currículo e salário elevado, esperava-se muito mais. Ao menos foi o que o VinteUm cobrou insistentemente na época, sem cair nessa de que só dá para montar uma boa seleção com Splitter & Cia. Isso tudo, claro, pode ser debatido tranquilamente. A ausência do argentino dos ginásios e principais eventos já é outra história. Com o Final Four da Liga das Américas programado para o fim de semana, se apresenta uma chance para retomar o contato com o basquete nacional. E olha que está fácil: os jogos serão disputados no Rio de Janeiro.