Revigorado Knicks vence o Bauru no Garden. Notas sobre o amistoso
Giancarlo Giampietro
O Bauru teve o prazer de jogar no Madison Square Garden nesta quarta-feira, segurou as pontas por 12 minutos de jogo, voltou a batalhar no terceiro período, mas não conseguiu fazer frente ao renovado e revigorado New York Knicks. Vitória por 100 a 81 para os donos da casa, que abriram sua pré-temporada.
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Fico imaginando o que se passava pela cabeça de Phil Jackson ao ver o bombardeio de Bauru no primeiro quarto, parcial que venceram por 25 a 24. “Até no Brasil estão apelando para isso?”, deveria estar se questionando. Para quem não sabe, o Mestre Zen é um dos últimos focos de resistência à cultura de três pontos que ganha força na grande liga. Mal sabe ele, né? : )
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Pois bem. As cinco primeiras cestas de quadra dos campeões (latino-)americanos foram de longa distância. Nos primeiros 12 minutos, eles mataram 60% de fora. Terminaram com 25,6% em 43 disparos de fora. Isso tem a ver não só com ajustes do Knicks, mas principalmente por outros dois fatores: a capacidade atlética de jogadores da NBA e o cansaço.
Lembremos que a linha perimetral no Garden vai bem além da que está traçada no Panela de Pressão. O grau de dificuldade e esforço é maior. Com o relógio avançando, ficou mais e mais comum que os chutes bauruenses dessem bico. Ficaram bem mais curtos, mesmo – Jefferson William, voltando de uma lesão no tendão de Aquiles, foi o que sentiu mais: seu aproveitamento despencou durante o jogo (2-14). E, mesmo que tenham de cobrir mais terreno, os atletas de primeiro nível do Knicks alcançavam rapidamente os arremessadores para a contestação.
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As trocas foram determinantes também. Não que, num jogo de cinco contra cinco, os titulares bauruenses fossem capazes de vencer, até porque teriam de se virar contra Carmelo por mais tempo, mas o volume de jogo do plantel nova-iorquino fez a diferença. Enquanto Guerrinha tinha confiança basicamente em três suplentes (Paulinho, que não foi bem, Mineiro e Meindl), Fisher pôde testar a profundidade de seu novo elenco, usando sete reservas, sendo que seis deles pontuaram. Um ala voluntarioso, mas limitado como Lance Thomas, titular no final de temporada, hoje está relegado ao papel que melhor lhe cabe, mesmo, como 12º homem de rotação. No total, foram 58 pontos para quem saiu do banco pelo time da casa, contra 17 dos brasileiros.
Acho que, por mais que Bauru queira competir nesses amistoso, seria mais interessante fazer uso da molecada no banco de reservas. O espigão Wesley Sena foi para o jogo na metade do segundo período e cometeu dois erros. Primeiro, no ataque, cortou para a cesta pela zona morta quando o passe de Fischer estava endereçado para a média distância. Não havia espaço para ele receber a bola em projeção para o garrafão naquela ocasião. Depois, cochilou na defesa e permitiu uma enterrada fácil de ponte aérea para Derrick Williams, em movimento de backdoor. Pedido de tempo, e foi sacado imediatamente. Valia ter segurado mais um pouco, dando uma experiência muito valiosa para um garoto de 19 anos que vem de um ótimo Campeonato Paulista.
O armador Carioca, que pode muitas vezes parecer um bonde sem freio com a bola, também é outro que merece o teste. É um jogador agressivo e abusado (até demais por vezes…), mas com velocidade para competir contra os americanos. Não é que Paulinho tenha uma abordagem tão diferente assim na hora de carregar a bola para o ataque.
Assimilando as lições desse primeiro jogo, espera-se que ganhem mais minutos contra o Washington Wizards. Até porque o time do quintal de Obama é muito mais forte.
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Os relatos que vieram do training camp são de que a química desta versão do Knicks é bem melhor que a da campanha passada, e isso já se pôde notar neste primeiro amistoso. Dá para entender. Se a franquia não conseguiu os grandes nomes com os quais os tabloides sonhavam, Phil Jacson ao menos povoou seu plantel com jogadores inteligentes, de boa leitura de jogo, como Robin Lopez, Kyle O’Quinn, Sasha Vujacic e Jerian Grant. Também é o segundo ano seguido de aplicação dos conceitos do triângulo para aqueles que ficaram. O que vimos então foi uma movimentação de bola mais fluida, com ações bastante eficazes para liberar os arremessadores do lado contrário. E aí chutadores como Melo e o esloveno ganharam espaço para encaçapar. O’Quinn, em específico, tende a fazer sucesso por lá. Seria uma história muito legal para o antigo morador do Queens.
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Como se diz em inglês, Ricardo Fischer “belongs”. Pertence. No caso, ao mais alto nível de basquete. E, na boa, não estou nem me referindo ao triple-double (11 pontos, 10 rebotes, 10 assistências), que vai fazer manchetes, vai entrar no currículo com linha destacada.
O jovem armador de Bauru mostrou mais uma vez um controle de bola – e de jogo – muito maduro. Enquanto pôde, porém, passou por Calderón, Galloway e Grant, se esgueirou pela defesa do Knicks e criou para seus companheiros. A comparação que Paco Garcia fez com Marcelinho Huertas fez ainda mais sentido depois dessa atuação no Garden. Seu volume de jogo foi até demais da conta. É que, como armador isolado no ataque, ficou sobrecarregado. Daí os sete desperdícios de posse de bola.
Sobre o triple-double em si, muito legal e inesperado. Mas percebam também como estatísticas podem ser fabricadas. Uma vez ciente de que se aproximava da marca, o jogador passou a persegui-la, em busca de rebotes defensivos sem contestação etc. Os próprios companheiros o ajudaram nessa. Faz parte do jogo. Mas é por isso que os números nem sempre dizem tudo. Fischer mesmo admitiu isso, pedindo para que eles abrissem a quadra para a coleta de dois rebotes defensivos derradeiros. A curiosidade é que foi o primeiro de sua carreira. Logo lá.