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Convites para o Mundial: quais os prós e contras dos principais candidatos?
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Giancarlo Giampietro

Times do Mundial 2014

A Fiba abriu o jogo, ou pelo menos um pouco dele, ao divulgar nesta semana quais os critérios que seus dirigentes vão considerar para escolher os últimos quatro times classificados convidados para completar a Copa do Mundo de basquete Espanha 2014. Para que não viu, aqui está no site oficial (ou traduzido aqui pelo Basketeria). É uma forma esdrúxula de se definir os times participantes de um campeonato, claro, mas são estas regras, e não há muito o que fazer.

O que conta mais? Tamanho de mercado ou resultados esportivos? Conexões políticas ou popularidade de suas ligas? É muito complicado encontrar um senso comum aqui, numa lista realmente extensa para se avaliar num esboço do que estará na mesa para as próximas reuniões de cúpula da entidade – nos dias 23 e 24 de novembro em Buenos Aires e nos dias 1º e 2 de fevereiro de 2014 em Barcelona. O encontro na capital argentina pode fazer uma primeira peneirada entre todos os candidatos, mas a escolha final ficará mesmo para o encontro na Catalunha.

Claro que tudo pode se resumir a meramente quem pagar mais. Será que o cheque com mais dígitos vai levar? Pode ser que sim, embora não digam isso abertamente. Veja o que diz a federação em seu comunicado: “As confederações nacionais que decidirem colocar suas seleções como candidatas ao convite podem fazer doações. A quantia arrecadada será usada para a promoção mundial do basquete por meio da Fundação Internacional de Basquete da Fiba (IBF, na siga em inglês)”.

Mas, aqui, neste exercício, vamos supor que essa “doação” não será o fator mais decisivo – até porque um país talvez possa não oferecer muito dinheiro, mas sua mera presença no torneio já elevaria suas economias (oi, China). Então é hora de discutir a realidade dos principais candidatos de acordo com os critérios expostos pela federação e ver quais são as chances do Brasil nessa. Imagino que não teremos nenhum convidado fora do seguinte grupo:

Rubén abatido

Será que vai, Magnano?

Brasil
Prós:
sede das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016 – seria interessante para a Fiba fazer uma Copa do Mundo sem contar com o anfitrião olímpico? Participou em todas as edições do Mundial. Muitos jogadores de NBA. Quinto lugar nos Jogos de Londres 2012. Sede do Mundial feminino de 2006 (com muitos problemas). Engajamento do governo na fomentação da modalidade. Uma das sete maiores economias do mundo. Décimo no ranking mundial.

– Contras: péssima campanha continental, com nenhuma vitória em cinco jogos. Constantes desfalques em suas seleções, embora em Londres tenha reunido força máxima. Liga nacional se consolidando, mas ainda muito aquém de seu potencial. Ginásios vazios.

Canadá
Prós: um vasto grupo de jogadores na NBA – e, melhor, jogadores engajados no programa. Seria um modo de vender uma nova geração de estrelas em escala global. De modo que seria de bom tom colocá-los no Mundial já para dar exposição, incentivar e acelerar o progresso de um projeto bastante promissor. Fora de quadra, registre-se que esta é uma das 15 maiores economias do mundo.

Contras: resultados muito fracos desde a aposentadoria de Steve Nash (ficaram, por exemplo, na 22ª posição no último Mundial, um horror, e nem disputaram o de 2006). Mesmo historicamente seu retrospecto não chega a comover: na Copa América, para constar, conseguiram duas pratas e três bronzes – estão na 15ª posição do ranking mundial. Em termos de popularidade, o Toronto Raptors tem uma das torcidas mais fiéis e/ou raivosas da NBA. Vancouver estaria interessada em acolher um novo clube. Mas a modalidade ainda está bem distante do hóquei, claro.

China
Prós: precisa mesmo? Então vamos lá: não queira ser você o contador que vá fechar uma planilha de Excel de um torneio sem os chineses. Vai ficar tudo no vermelho, se comparada com a edição de 2010. Especialmente contando a audiência. Porque não só estamos falando de bilhões de chineses no total, mas de que, nesse mundaréu de gente, estão muitos, mas muitos, mesmo, aficionados pelo esporte, ainda que ele não tenha o prestígio de um pujante badminton. Se não bastasse, um dos patrocinadores da Copa é chinês.

Contras: olha… Difícil, hein? Só mesmo o fiasco que foi a campanha da seleção no Campeonato Asiático, no qual ficaram com uma péssima quinta posição, atrás de Taiwan. Maior humilhação que isso não tem. Mas foi apenas um acidente de percurso: de 1975 a 2007, os caras ganharam 14 de 16 competições continentais, tendo só perdido a hegemonia em tempos recentes para o Irã. Estão em 12º no ranking.

Grécia
Prós: uma potência na modalidade durante as últimas décadas. Vice-campeões mundiais em 2006. Campeões europeus em 2005. Bronze continental em 2009. Liga nacional caloteira, mas com clubes de muito prestígio, com o Olympiakos sendo o atual bicampeão da Euroliga. Uma nação doente pelo basquete – ainda que podemos dizer que eles, na verdade, são doentes por tudo e qualquer coisa. Acolheram o Pré-Olímpico mundial de 2008, o Mundial de 1998 e o Mundial Sub-19 de 2003. Quinto melhor no ranking da Fiba.

Contras: resultados recentes que ficam aquém do que vinham produzindo. Ficaram fora dos Jogos de Londres 2012, ficaram em décimo no último Mundial, sexto no EuroBasket de 2009. Neste ano, terminaram o campeonato regional apenas com a 11ª posição, ficando atrás até mesmo da Finlândia e da Bélgica (!?) e empatados com a Letônia na lista de times fora da zona de classificação para a Copa do Mundo. Jogadores gabaritados, mas de pouca expressão internacional além de Vassilis Spanoulis. Economia numa crise profunda que se arrasta há anos. Forte concorrência europeia pelos convites.

Clássico é clássico

Grécia e Turquia estão na briga por uma vaga. Mais rivalidade

Itália
Prós: tem uma liga que é historicamente uma das melhores do mundo. Os azzurrinos fizeram um excelente início de EuroBasket, mostrando enorme potencial, mas acabaram desandando da segunda fase em diante, sofrendo três dolorosas derrotas nos mata-matas. Apesar do desfecho decepcionante, apresentaram uma geração empolgante – que poderia muito bem receber uma forcinha da Fiba, para ver se engrenam de vez. Estrelas da NBA disponíveis que se juntam a jovens talentos para as ligas europeias. Uma das dez maiores economias do mundo e um mercado importante para patrocinadores da Copa do Mundo. Sediaram o EuroBasket feminino em 2007.

Contras: esse própria derrocada na reta final do EuroBasket, mas, antes disso, o significativo fiasco de suas campanhas desde a prata olímpica obtida em Atenas 2004: ficaram fora do último Mundial e das últimas duas Olimpíadas, amargando o 21º lugar na lista da Fiba. Forte concorrência europeia pelos convites.

Nigéria
Prós: poderia ser um convidado estratégico para a Fiba se houver algum interesse de intensificar a popularidade do esporte no continente africano. Muitos jogadores talentosos, alguns de NBA, que se comprometeram com a federação local nos últimos anos, premiados com uma surpreendente classificação para os Jogos de Londres 2012.

Contras: pouca rodagem em torneios de grande porte (jogaram apenas dois Mundiais, em 1998 e 2006) e uma economia pouco atrativa para investidores e patrocinadores. Instabilidade da confederação põe em dúvida a continuidade do projeto desenvolvido. Obviamente o azarão aqui, assim como seria a Tunísia, campeã continental em 2011 que também acabou eliminada neste ano.

Kiriklenko x Yi Jianlian

AK e Yi estarão na Copa do Mundo? Muito provável que sim

Rússia
– Prós: uma seleção de enorme tradição no basquete (se considerado o retrospecto soviético, ainda que os lituanos possam dizer uma coisa ou outra a respeito). Campeões europeus em 2007, bronze em 2011. Assim como levaram o terceiro lugar nas Olimpíadas de Londres 2012, mas oscilando muito. Andrei Kirilenko é uma superestrela europeia e presença obrigatória em qualquer clipe durante as transmissões de TV elaboradas pela Fiba. Uma das dez maiores economias do mundo.

– Contras: a despeito do tamanho do país, de suas pretensões no âmbito de política de esporte, sendo a sede da próxima Copa do Mundo de futebol, nunca sediaram um torneio de ponta da Fiba, nem no feminino. Extremamente dependentes de Andrei Kirilenko. Pífia campanha no EuroBasket (21º lugar).

Turquia
– Prós: alto investimento recente em competições da Fiba, sendo a sede do Mundial de 2010 e a futura sede do Mundial feminino, em 2014. Uma liga com forte poder econômico e grandes clubes. Uma companhia do país é a principal patrocinadora da Euroliga. Grande popularidade local, com clubes gigantes. Atual vice-campeão mundial (em casa, diga-se) e sexto colocado no ranking mundial. Jogadores com selo de NBA. Uma das 20 maiores economias do mundo. Posição  geográfica estratégica com território dividido entre Europa e Ásia. Estão em sexto no ranking mundial.

Contras: um tenebroso 17º lugar no EuroBasket, com um time desconjuntado – algo recorrente nas últimas campanhas, com uma disputa de egos notória, problemas que resultam em campanhas igualmente fracas nas últimas edições, não passando do oitavo lugar desde o vice-campeonato continental de 2001. Força da modalidade no país independe dessas participações nos grandes eventos.

Venezuela
Prós: ambição já elogiada pela Fiba para receber torneios da entidade, como a Copa América deste ano e o Pré-Olímpico mundial do ano passado. Liga nacional é uma das mais fortes do continente.

Contras: poucas estrelas, ou nenhuma estrela além de Greivis Vasquez. Só participou de uma edição das Olimpíadas (1992) e de três Mundiais (1990, 2002 e 2006), sem nunca ter ficado entre os dez primeiros colocados nestes torneios. Só tem duas medalhas em Copas Américas (prata em 1992 e bronze em 2005). Falhou em obter a vaga mesmo jogando em casa. Tem o pior ranking desta lista, em 28º.


Onda de eliminações surpreendentes atinge Europa; Finlândia passa, Rússia e Turquia ficam
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Giancarlo Giampietro

Koponen e o expresso finlandês

A Finlândia de Petteri Koponen (d) apronta no EuroBasket

A Copa América ainda realiza nesta terça e quarta-feira sua disputa por medalhas. O EuroBasket ainda caminha para sua segunda rodada. De qualquer forma, com o AfroBasket e o Campeonato Asiático já encerrados, um cenário nesta temporada 2013 já fica bem claro: as seleções desfalcadas e, antes de tudo, despreparadas tendem a ficar pelo caminho, não importando seu histórico ou potencial.

Para quem ainda não juntou tudo o que vem acontecendo nessas últimas agitadas semanas, segue uma lista das principais seleções habituadas a frequentar a Copa do Mundo, mas que já estão eliminadas, dependendo agora exclusivamente de um dos quatro convites disponibilizados pela Fiba para entrar na festa:

Europa
Alemanha, Rússia e Turquia (a lista vai acrescer ainda, pois ainda temos 12 times vivos disputando seis vagas).

Américas
Brasil e Canadá.

África
Nigéria e Tunísia.

Ásia
China.

Nesse apanhado de times, em termos de elenco, há de tudo: extremamente desfalcados (Brasil, Alemanha, Rússia), moderadamente desfalcados (Canadá) e os que tinham basicamente o que têm de melhor em quadra e, ainda assim, fracassaram (Turquia, Nigéria e China). Então não é que tenha uma explicação única por trás dessas surpresas.

Nem mesmo no caso das ausências. Por exemplo a Rússia. Ficar sem Andrei Kirilenko ou Viktor Khryapa já seria ruim – ainda mais AK, Kirilenko, cuja escalação tem feito toda a diferença nos últimos anos, ganhando bronze olímpico em Londres ou conquistando um EuroBasket batendo a Espanha lá. Agora, perder os dois ao mesmo tempo? A coisa complica, mesmo. Mas o que teria pesado mais para o fiasco de uma eliminação na primeira fase do campeonato continental? Não contar com seus dois principais jogadores (+ os gigantescos Timofey Mozgov e Sasha Kaun) ou o fato de não terem mais o inventivo David Blatt no comando? Ou que seu substituto, o grego Fotios Katsikaris, tenha pedido demissão agora em julho e a bomba, caído no colo de Vasily Karasev, ex-armador da seleção nacional que virou técnico em 2010 e só assumiu um time adulto pela primeira vez em 2012?

Sim, foi dessa forma que os caras chegaram ao torneio continental, em frangalhos, com um treinador jovem e, pior, interino. Aí não há Aleksey Shved, Vitaly Fridzon ou Sergey Monya que deem conta e evitem uma campanha de apenas uma vitória em cinco partidas, perdendo para Finlândia e Suécia.

E sobre quem foi esse único triunfo?

A Turquia. Sim, a Turquia de Ersan Ilyasova, Omer Asik, Hedo Turkoglu, Semih Erden, Emir Preldzic e outros. Que também venceu apenas um jogo, contra os suecos, igualmente eliminados. Que também definiu seu treinador de última hora, ainda que  este não fosse uma novidade: o experiente e vencedor Bogdan Tanjević, com quem foram vice-campeões mundiais em 2010 (jogando em casa, diga-se).

Foi aquela boa e velha baderna: dificuldade para definir o grupo final, um monte de grandalhões no mínimo competentes, mas armação falha, Turkoglu se comportando como o craque nunca foi e amassando o aro (indesculpável  aproveitamento 17,9% nos arremessos de quadra), atletas desinteressados durante pedidos de tempo, o ignorado Enes Kanter dando risada no Twitter depois da eliminação em uma derrota para os arquirrivais da Grécia para, depois, decidir que não era a melhor ideia, apagando o post… Enfim, tudo o que de caótico você pode esperar, ainda que dinheiro não seja problema para a federação local e que suas principais estrelas estivessem fardadas.

Hahahaha, Kanter

Turkoglu sozinho deve ganhar mais que todo o elenco finlandês, mas isso não foi o suficiente para evitar o revés por 61 a 55 na estreia diante dos nórdicos, que lideraram o confronto de ponta a ponta. Quem podemos destacar nesse time? O armador Petteri Koponen é o mais conhecido e talentoso. Aos 25 anos, ele defende o endividado Khimki Moscou, tendo sido selecionado na 30ª posição do Draft de 2007 pelo Portland Trali Blazers, mas cujos direitos foram repassados mais tarde ao Dallas Mavericks. Um jogador corajoso e atlético, que vem liderando sua equipe com 14 pontos, 4,8 assistências e 3,8 rebotes no torneio. Para os torcedores mais saudosistas do Atlanta Hawks, listamos também o pivô Hanno Mottola, aparentemente um imortal aos 37 anos, que jogou na NBA entre 2000 e 2002 e voltou a jogar depois de ter anunciado a aposentadoria em 2008!

Pois é. Estamos numa temporada em que avança a Finlândia, enquanto Rússia e Turquia ficam pelo caminho, não importando quem tenha se apresentado.

Ter Ike Diogu e Al-Farouq Aminu também não livrou a Nigéria de uma derrota para Senegal nas quartas de final na África. A Tunísia caiu ainda mais cedo, nas oitavas, diante do Egito, mesmo apresentando a base campeã continental em 2011. Na Ásia, da mesma forma precoce dançou a acomodada China, com Yi Jianlian e tudo, em uma derrota para Taiwan. Num início de trabalho com Steve Nash atuando como dirigente, o Canadá conseguiu juntar boa parte de sua molecada talentosa da NBA, mas lhe faltou experiência na luta pela vaga no hexagonal americano.

A distância entre as supostas potências (ou “favoritos”) e os (não mais) eternos sacos de pancada diminuiu consideravelmente. Entrar com credenciais já não serve de mais nada. Esses vão ter de jogar, e jogar bem, para vencer, como os jamaicanos deixaram claro para brasileiros e argentinos.

Daí vem a frustração com o trabalho de Rubén Magnano este ano – especificamente neste ano. Com o time completo talvez a campanha brasileira na Copa América tivesse sido completamente diferente, muito provavelmente sim, mas, considerando o que vem acontecendo em todo o globo, nem mesmo essa hipótese pode ser mais encarada como uma garantia. E, de qualquer forma, essa hipótese, de time completo, já estava  aparentemente descartada para todos, menos o treinador.

Num contexto em que todos se veem no mesmo balaio, o argentino era para ser um trunfo da seleção brasileira, alguém que pudesse fazer a diferença, deixando-a bem preparada para as batalhas que viriam. Obviamente não aconteceu dessa vez. Difícil aceitar isso, até para ele, e daí saem os ataques aos que não embarcaram, de pura frustração. Que ele se acostume a partir de agora.

No mundo Fiba versão 2013, de fácil, mesmo, só a vida de Austrália e Nova Zelândia, que só precisa cumprir tabela em dois amistosos no (coff! coff!) Campeonato da Oceania para garantirem suas vaguinhas.


Oscar Schmidt e suas histórias maravilhosas no Hall da Fama
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Giancarlo Giampietro

Oscar & Bird

Oscar e seu padrinho Bird no Hall da Fama. História para quem puder ouvir

De uma coisa vocês podem ter certeza: nunca nenhum integrante do Hall da Fama do Basquete treinou tanto para fazer seu discurso de introdução como Oscar Schmidt. Afinal, poucos desses se tornaram um palestrante de mão cheia, e santa, conforme o legendário cestinha brasileiro conseguiu.

Para quem não sabe, distante – ou afastado – do basquete, o ala tem uma das palestras mais concorridas e caras desse circuito que virou uma indústria própria no país e no globo. Os americanos, claro, nem contavam com isso. Daí que, quando aquela figura imensa subiu ao palanque de boina, acompanhado por ninguém menos que Larry Bird, poucos podiam imaginar que se iniciaria um derivado de stand up com duração de 17 minutos.

Quer dizer: como em Indianápolis-1987, novamente Oscar pegou os americanos de surpresa.

Usando de seus seus trejeitos e retórica típicos, treinados por anos e anos e apenas traduzindo para o inglês, Oscar contou alguns dos causos que já havia ensaiado bem durante os anos em que encarou plateias diversas e, além do mais, em suas mais recentes entrevistas. Dominou a sala, usando até Pat Riley como um degrau para suas piadas. Coragem! ; )

O “Mão Santa” falou de como queria ser jogador de futebol até ser convencido pela família a migrar para o basquete, deu suas explicações sobre como não topou jogar na NBA – embora tenha supostamente humilhado Charles Barkley em jogos das ligas de verão de 1984 –, falou com todo o orgulho sobre o ouro no Pan, tirando mais uma lasquinha dos locais, relembrou Marcel, Ary Vidal, Mortari e terminou por agradecer aos familiares, especialmente a esposa, sua “máquina pessoal de rebotes”, arrancando gargalhadas. De como se convenceu de aquela era a “prometida” quando topou por semanas e semanas ajudar em seus legendários treinamentos. “Não tem ninguém que treinou mais”, fala, sem se cansar de repetir.

Tem uma coisa nessa história que é deveras interessante e que supera qualquer fronteira sensorial de tempo-espaço. Assim como nos tempos de quadra, quando superou barreira dos 40 anos perseguindo um recorde aparentemente inatingível – o de maior cestinha do basquete, acima de Kareem Abdul-Jabbar. Não havia limites para a capacidade que tinha para encestar.  Da mesma forma, quiçá, que se aplicam suas histórias hoje.

Para os jornalistas, analistas – com ou sem pedigree, background –, a pior armadilha é se levar apenas pelas memórias e emoção, deixando qualquer senso crítico de lado. Recorrer aos números, aos títulos, aos fatos, ao que rodeou a carreira de um jogador nunca será demais. Nunca.

Oscar ao ataque

No caso do camisa 14 da seleção brasileira (daqueles poucos que roubou, eternizou um número para si no baquete Fiba), tudo isso fica um pouco mais difícil, ainda que, no geral, seus números sejam espetaculares. Como tudo no Brasil nesses dias, há duas facções que se enfrentam quando Oscar é o assunto.

Antes de mais nada: a arte de analisar estatísticas não é concreta, definitiva de modo algum. Mesmo as mais avançadas de hoje, pelo simples fato de que elas não consideram jamais, de maneira total, quem está em quadra com determinado jogador, quem está por ali do outro lado e o que está em jogo em um determinado minuto. Você pode ajustar, conflitar a gama de dados mais larga possível, mas isso nunca vai se tornar uma ciência exata. Ainda mais quando falamos de tempo já tão distantes, como os anos 80, auge do brasileiro.

De modo que o que nos resta são os pontos de vista. Treinadores, companheiros, adversários, jornalistas, torcedores, espectadores. E do próprio Oscar. Em primeira pessoa, Oscar não foi nunca alguém de abaixar a cabeça. Pelo contrário. Dentro e fora de quadra, enfrentou, enfrenta, doendo em quem pudesse doer. Nas últimas entrevistas, tem falado sem hesitação alguma: dominaria na NBA, fazia o que queria em quadra, foi um dos maiorais e poucos podiam contestá-lo.

Por outro lado, as críticas que perduraram durante – e, principalmente, após – a carreira do Mão Santa são também igualmente inesquecíveis: não marcava ninguém, não venceu o que realmente importava, não marcava ninguém, não passava a bola nem sob decreto, não marcava ninguém e não fazia de seus companheiros melhores jogadores em quadra e que, ao ser celebrado apesar de tudo isso, seria responsável por uma herança maldita (hoje traduzido como “legado”). São diversos os registros, internacionais ou nacionais, que o acompanharam nesse sentido.

Para isso tudo, alguns pontos ele próprio encara, dando a cara a tapa. Vamos relembrar suas respostas de costume, com um ou outro comentário:

– Sim, não passava a bola, mesmo, especialmente nos tempos de seleção brasileira de Vidal, quando, alega, jogava sob um “sistema de NBA” no qual ele e Marcel poderiam chutar o que devessem e/ou quisessem, enquanto o restante do time dava conta das outras, digamos, atividades de uma partida. Ele assume,  mas banca com a fama de quem não errava, de que era melhor ele (ou Marcel ou craque X) chutando do que qualquer outra coisa, já que fazia isso muito bem. Não sei se é a melhor abordagem: há times, líderes que venceram assim e outros que preferiram dividir, repartir de uma outra maneira, que o diga Magic Johnson. E, sim, seus números em assistências são paupérrimos, de um senhor mão-de-vaca. Uma coisa não se pode negar, contudo:  Oscar sempre fala de seus companheiros.

Ok, ele fala bastante. Candidato ao senado na chapa de Maluf. Impropérios, berros insanos nacionalistas sem limite – como quando gritava contra um adversário de Diego Hypólito no Pan do Rio 2007, constrangendo o público na Arena…  A despeito desse gigantesco ego (que pode incomodar em muitas ocasiões, embora, na situação que viva hoje, isso passe por lição de humanidade em seu ápice), Oscar, o fominha, não deixa de registrar a importância de seus companheiros para seu sucesso, sempre gastou um tempinho que fosse para elogiá-los, como o leão que era o pivô Israel, um de seus favoritos;

– Sobre o suposto “legado” de que teria incentivado gerações e gerações a fazer o “jogo errado” dos três pontos, isso não pode ser levado a sério como teoria. Um herói televisionado é o suficiente para corromper toda uma cultura esportiva? Não seria um gigantesco problema do basquete brasileiro, então, se foi/fosse esse o caso? Cada vez mais depender de ídolos (indivíduos) do que de estrutura, de paixão dispersa pelo jogo para se sustentar? Uma conta, aliás, que sobrou agora para a turma da NBA, com o pioneiro Nenê eleito como símbolo, pagar.

– Oscar assegura que só marcava quando necessário (ou pedido). Será que isso é uma opção? Há diversos casos mais recentes que  abordam o mesmo tema, por exemplo: o Kobe Bryant dos 81 pontos, Allen Iverson em 2001, Glenn Robinson, Scottie Pippen x Toni Kukoc, Marcelinho Machado, Dirk Nowitzki e a seleção alemã, Milos Teodosic e a nova (e já velha?) seleção sérvia, LeBron James no Cavs … Etc. Etc. Etc. Até onde vai uma responsabilidade e começa a outra? Quem faz as duas coisas sempre e em alto nível com muita pressão? O mais novo membro do “Hall da Fama” jura que, em sua última temporada de Espanha, seu técnico disse que as coisas mudariam de figura no Valladolid e que, a partir daí, precisaria marcar mais. Teria respondido: “Ok, só não me peça para fazer 40 pontos por jogo do outro lado?”. Abaixou sua média no ataque e teria “parado” todos quem enfrentou, conta, um por um. De qualquer maneira,  essas coisas são bem complicadas: só estudando números de adversários ou revendo fitas e fitas para emitir uma opinião concreta;

– Destaca também que nas Olimpíadas de 1988, após uma “inesperada” derrota para a Espanha na primeira fase, acabou sobrando para a seleção a União Soviética nas semifinais (na verdade, quartas de final), com uma derrota por dois pontos apenas (na verdade, cinco); mas ele conta: Sabonis teria feito apenas seu quarto ponto no jogo no minuto final (na verdade, terminou com 12), na penúltima posse de bola, e que o Brasil tinha a chance nas mãos de virar o jogo. Com a coisa “entalada na garaganta” até hoje, conforme disse no seu discurso, acredita que deveria ter optado por um chute de três pontos naquela ocasião, em vez de ter batido para dentro, como fez, sem conseguir converter o arremesso ou ter descolado falta nenhuma. De forma abstrata, sem ter em mente o modo como a defesa soviética se armou nessa específica investida, essa coisa de ir para a cesta tende a dar mais certo: aumenta-se as probabilidades, embora os números do 14 fossem assustadores. Mas, de novo: tudo depende da configuração da defesa. De toda maneira, a seleção terminou com a quinta colocação naquele torneio. A mesma que o país teve em Londres 2012. Por que esta seria boa e a outra, não?

Ah, o mundo hoje é diferente, muito mais equilibrado com a fragmentação de União Soviética e Iugoslávia e a expansão da modalidade por todos os cantos do globo a ponto de estarmos escrevendo algo após vitórias da Jamaica sobre Argentina e Brasil. De fato não há como negar isso. Agora, o outro lado da moeda é que, justamente, a constituição de potências como essas do front socialista da Guerra Fria deixava a aproximação do pódio em grandes torneios como algo bastante complicado. Além disso, mesmo com os universitários, os Estados Unidos da América ainda chegavam como favoritos a cada torneio.

Por aí vamos.

Ao revisitar os nomes do passado, porém, a discussão se amplia de modo significativo. Fica muito fácil falar de Pelé, Wlamir, Garrincha, Amaury – embora não faltem aqueles para problematizar o que é irrefutável. Os títulos, o currículo… Tudo isso impressiona.

Há uma certa condescendência no Brasil de que os ídolos não podem ser atingidos, de que há que se preservá-los não importa o que digam ou o que façam. É de fácil compreensão este tipo de argumento. Numa história tão carente de referências, para que maltratar aqueles que lá chegaram?

Estou no time dos que defendem que ninguém intocável, ao mesmo em que deve se entender que as diferenciações entre sujeito-esportista e sujeito-cidadão. E há exageros, claro. Gustavo Kuerten, por exemplo, era o número um do mundo e, nem por isso, tinha direito a perder numa segunda rodada de Viña del Mar ou Kitzbühel.  Qualquer piloto de Fórmula 1 minimamente competente jamais seria um Ayrton Senna.

No caso de Oscar, o que fazer? Em termos de competição regional, ele e sua seleção foram predadores. Nas grandes competições, o título nunca veio, mas não é que tenham fracassado de modo retumbante – por exemplo, ainda que no início de trajetória pela seleção, num encontro de diversas gerações, Oscar e Marcel Marcel e Oscar conquistaram o bronze do Mundial das Filipinas em 1978, a última medalha do país em alto nível.

Nessas horas, distante da frieza analítica ou do ranço inerente ao personagem, talvez a válvula de escape mais fácil seja apelar para artifícios de retórica clássicos, como aquele de um editor de jornal do filme “O Homem Que Matou o Facínora“, de John Ford – “Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda”. Ou como no”Peixe Grande” de Tim Burton, filme que sai em defesa de qualquer boa prosa, não importando a exatidão do que se fala.

Não à toa, o próprio Oscar recorre a algo nessa linha durante sua participação no Bola da Vez da ESPN Brasil. Caminhando para o fechamento do programa, ele disse: “O importante não é contar as histórias, é saber contar as histórias”.

Retórica de um profissional. Que não se cansará de surpreender os americanos e de provocar as mais diversas reações por aqui.

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Aqui, o discurso de Oscar na íntegra:

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Aqui, o vídeo oficial para a indicação de Oscar ao Hall da Fama:


México toma de assalto o grupo da Argentina e se recoloca no mapa do basquete das Américas
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Giancarlo Giampietro

O técnico Sergio Valdeolmillos e sua prancheta

Treinador Sergio Valdeolmillos e a equipe-sensação do torneio

Ter um ala-pivô de NBA, que já foi um jogador top na Liga ACB, em meio a um monte de adversários desfalcados, pode fazer toda a diferença nesta Copa América.

Né, Luis Scola Gustavo Ayón?

Com o ala-pivô do Atlanta Hawks em sua escalação, o México se transformou no bicho papão do Grupo A da Copa América, vencendo seus três primeiros jogos – da mesma forma que fez Porto Rico no Grupo B, de Brasil.

Se alguém estava escondendo jogos nos amistosos, temos o vencedor: a seleção mexicana, que trouxe seus jogadores desconhecidos para um giro de amistosos arqui no Hemisfério Sul e, na hora do vamos ver, adicionou um craque do quilate de Ayón para fazer a diferença. Mas vamos falar especificamente sobre ele um pouco mais adiante no torneio, mas só fica um aviso: de nada vale olhar sua ficha de estatísticas de NBA na hora de avaliar seus talentos. De todo modo, o que temos é uma surpreendente seleção, passados quatro dias.

“Eu bem que gostaria assumir que podemos chegar ao Mundial. É verdade que a soma de vitórias nos gera outra responsabilidade e motivação. Mas a análise que fazemos é que o México não tem uma história no basquete. Viemos com muita humildade”, afirmou o técnico Sergio Valdeolmillos.

Neste ponto, vale destacar a curiosa e relação entre México e o restante do continente.

Com gente da Patagônia ao Alasca, a cada dois anos, a Fiba realiza essa confraternização chamada Copa América, em que velhos conhecidos como Daniel Santiago, Hector Romero, Rubén Garces e outros tantos personagens se reencontram para colocar a conversa em dia. Figuras que o amaaaaante do basquete brasileiro – coisa piegas, hein? Mas vá lá… – aprendeu a achincalhar ou adorar, dependendo do gosto, que tem pra tudo. Nesse ambiente, contudo, os primos pobres da América do Norte parecem verdadeiros estranhos no ninho.

São pouquíssimas as referências que temos deles. Até outro dia desses “Eduardo Nájera” parecia sinônimo de “basquete mexicano”. Ou que tal “Horacio Llamas”? Algo natural, considerando que seja muito difícil o esporte se desprender da política e cotidiano de um país – e eles estão completamente virados para o Norte de sua fronteira, nesse sentido. Seus jogadores estão espalhados pelas universidades das diversas conferências da NCAA espalhadas pela Costa Oeste americana. Na contramão, a liga mexicana paga bem, aproveita americanos de maior quilate do que os que estamos acostumados a receber em clubes do NBB. E fica basicamente  por aí o intercâmbio dos caras.

Daí que corre-se o risco de assumir Ayón como o Nájera da vez, ignorando outros jogadores perigosos como o chutador Orlando Méndez, ala-armador com 14,3 pontos e aproveitamento de 50% nos tiros de três pontos até aqui, um perigo quando livre na zona morta. Os defensores precisam ficar colados para contestar seu arremesso, considerando sua baixa estatura.

Mas vale ficar de olho, mesmo, no ala-armador Jorge Gutiérrez, 24, 14,7 pontos de média e aproveitamento de 61,9% nos arremessos até aqui. O ex-aluno da Universidade da Califórnia não teve problema nenhum em ralar com Alex Garcia nos amistosos de preparação – foi um atleta que chamou muito minha atenção no confronto realizado no Paulistano, por seu primeiro passo explosivo e a habilidade para converter bandejas. Basicamente: um sujeito muito difícil de se conter quando ele bota na cabeça que seu destino final é a cesta.

E adivinha só?

Em seu perfil no site oficial, a Fiba coloca uma foto de… Gustavo Ayón, claro. Figura onipresente, num México que entrou de vez na briga por vaga Copa do Mundo.

Hora de aprender um pouco mais sobre eles.

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O México não joga o Mundial desde 1974, quando terminou com a oitava colocação. Sua melhor classificação? Um oitavo lugar em…1967, no Uruguai, quatro anos depois de ter ficado, no Rio de Janeiro, em nono. Em termos de Olimpíadas, olha que coisa: ganharam um bronze histórico nos Jogos de Berlim 1936. O país não disputa essa competição desde Montreal 1976, quando ficou em décimo.

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Nono, sexto, décimo, sétimo, sétimo e ausente: esse é o retrospecto da seleção mexicana nas últimas seis edições da Copa América. Sim, eles nem jogaram em Mar del Plata.

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No Draft Brasil, o fuçador Luiz Gomes resgata a história de Manuel Raga Navarro, um craque mexicano que em 1970 chegou a ser draftado pelo Atlanta Hawks, em posição de pioneiro. Ele esteve presente nas campanhas da década de 60 citadas acima. Muito antes de Nájera e Ayón. Vale muito a leitura.


Derrota desmoralizante para o Canadá deixa Brasil extremamente pressionado na Copa América
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Giancarlo Giampietro

(Atualizado: 16h30, com aspas de Magnano e Huertas.)

Giovannoni e o Brasil encaixotados pelo Canadá

Giovannoni, sem reserva na Copa América, encaixotado pelos canadenses

Depois de uma derrota por 29 pontos de diferença, 91 x 62 para o Canadá, podemos fazer, sim, um esforço hercúleo e tentar enxergar algum ponto positivo nesta história toda, mesmo sendo este o dia em que o Brasil viveu sua jornada de Paraguai no basquete.

Rebobinemos a fita para 2 de setembro de 2011, quando a seleção brasileira saía de quadra em Mar del Plata tentando digerir uma derrota para a República Dominicana, ainda pela primeira fase do Pré-Olímpico. Uma derrota que deixava sua tão sonhada classificação bastante ameaçada. O time não estava bem, sem consistência alguma, mas, a partir daquele revés, conseguiu se ajeitar com uma ajudinha da tabela, engatando uma sequência de três vitórias até chegar ao grande clássico do continente, contra a Argentina. Vocês, aí, se lembram do que aconteceu, né? Hettsheimeir.

Para recuperar a confiança de sua equipe naquele torneio, Magnano teve a sorte de poder preparar sua equipe para jogos contra Cuba, Uruguai e Panamá. Três sacos de pancada usuais. Agora, no nosso tenebroso presente, a situação mais ou menos se repete nesta Copa América, com o Uruguai e a Jamaica pela frente, os dois times (supostamente, em teoria…) mais fracos do Grupo A.

Mas os paralelos se encerram, infelizmente, por aí.

Já que…

1) O Brasil havia perdido por apenas cinco pontos para os dominicanos, e, não, por 29.

2) É difícil encontrar time mais frágil que Cuba neste tipo de competição para poder elevar o moral.

3) Na primeira rodada da segunda fase, um time mais forte que o Panamá vai surgir, sendo muito provavelmente a Argentina – ferida por sua própria derrota na estreia, fazendo deste confronto algo ainda mais alucinante.

4) Aquela seleção tinha um elenco muito superior que esta.

Daí que Magnano tem, agora, duas partidas (supostamente, em teoria…) mais fáceis para tentar juntar os cacos, os fragmentos da seleção se ainda tiver esperança de conseguir a classificação para a Copa América na quadra e quiser, de algum jeito, lutar pelo título continental em Caracas, na semana que vem.

Ao ser humilhado pelo Canadá, numa exibição que não animou em nada o almoço da família brasileira, a seleção se vê numa situação extremamente incômoda.  Vai jogar a segunda fase, contra os quatro melhores times do Grupo B, já com duas derrotas, se vendo em desvantagem diante de porto-riquenhos e dominicanos (que, confirmando o favoritismo, avançariam sem nenhum revés), além de argentinos e canadenses (hipoteticamente com um revés cada). Se for esse, mesmo, o cenário para a próxima fase, a calculadora vai ser bem gasta pela comissão técnica – e a lavada deste domingo pode fazer uma baita diferença em qualquer conta necessária para definir os quatro classificados. Serão necessários no mínimo cinco triunfos nos próximos seis jogos.

Sobre a quadra? Se na Tuto Marchand  o Brasil levou uma surra da cerebral Argentina e agora foi a vez de ser destroçado de um time hiperatlético como o Canadá – comparem as estatísticas gerais novamente para constatar que os norte-americanos foram superiores em TODOS os quesitos disponíveis. Duas equipes completamente diferentes e que impuseram vitórias acachapantes num intervalo de menos de dez dias, em mais uma prova que temos problemas muito sérios em andamento. “O time veio para baixo quando a diferença foi subindo. Não tivemos força para reagir. Eles estavam jogando com muita facilidade. A defesa, que sempre foi ponto chave desde que o Rubén está no time, não funcionou, Estávamos perdidos. Tentamos e não conseguimos”, disse Huertas ao repórter Fábio Aleixo, do Lance.

De resto, não há muito o que colocar que fuja do que tem sido apontado desde a fase de amistosos. A convocação do argentino foi péssima. Seu time não tem senso coletivo algum em quadra. Harmonia, coesão, unidade, equilíbrio… Escolha o termo: é tudo o que tem faltado a esta equipe, com peças desconexas, que não se encaixam à medida que o treinador precisa utilizar seu banco e tocar sua rotação adiante. Apenas um quinteto com Giovannoni e Hettsheimeir de pivôs vem tendo alguma consistência, por ser essa a formação mais atlética (ou menos defasada, menos arrastada) que se pode usar com este grupo, uma vez que Felício parece descartado. De qualquer forma, seria extremamente injusto exigir 40 minutos intensos, impecáveis, sem faltas por jogo de Guilherme, que também nunca foi reconhecido como o melhor defensor.

E aí, para piorar, vemos o próprio campeão olímpico, logo ele, perder as estribeiras a ponto de ser excluído no quarto período, enquanto contestava diversas marcações do trio de arbitragem, querendo acreditar em alguma conspiração contra o Brasil neste torneio, uma conspiração pró-Caribe, ou algo assim.

Se há conspiração, isso é coisa para os diretores remunerados da CBB resolverem nos bastidores.

Em quadra, foi Magnano, mesmo, que se colocou em uma enrascada.

E ele sabe: “Sou o primeiro preocupado e o primeiro responsável. Este Brasil não tem nada a ver com o Brasil que se preparou para esta competição”, disse o argentino, incluindo que foi ainda a pior partida de toda a sua gestão.

De uma coisa discordamos, no entanto: a preparação já não havia sido nada boa.

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Estamos falando de uma situação pontual. Uma seleção enrascada na Copa América. E, não, sobre o currículo de Magnano.

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Nas duas primeiras partidas nesta Copa América, o Brasil acertou apenas 45 de seus 125 arremessos de quadra. Acredite: 36%, incluindo arremessos de dois pontos. Na linha de três pontos, o rendimento é de  10-35, bom para 28%.

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Se as estatísticas da Fiba estão corretas – e precisam estar, já que são nossa única fonte –, a seleção só fez dez pontos de contra-ataque nas duas primeiras rodadas. Para um time que deve correr a toda hora, com base nos berros da comissão técnica na lateral da quadra, é um número muito alarmante. A estratégia não conseguiu ser colocada em prática. E, sim, este número está totalmente ligado ao anterior.

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Quando receber as informações sobre a vitória arrasadora do Canadá, Gregg Popovich será um homem feliz: não só vai se lembrar que Tiago Splitter está tirando todo o verão de férias pela primeira vez desde que chegou a San Antonio, como tomará nota dos 28 pontos em 33 minutos que marcou Cory Joseph, o reserva do Parker. Acertou 10 de 15 arremessos, ainda bateu oito lances livres e não cometeu sequer um turnover durante a partida, fazendo Larry Taylor de gato e sapato. Superagressivo em quadra, como se fosse um Allen Iverson, e ainda com a maior tranquilidade. Foi a feia a coisa, mesmo.

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Desfalque por desfalque, o Canadá tem hoje Steve Nash como gerente geral e, não, como armador. Andrew Wiggins, uma das maiores promessas do basquete mundial, também não se apresentou, assim como o ala-pivô Kelly Olynyk, calouro do Boston Celtics. Carl English, cestinha da Liga ACB, é outro que ficou fora.


Caras da Copa América: Renaldo Balkman, o homem banido das Filipinas
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Giancarlo Giampietro

Balkman no rebote

O pogobol Balkman na disputa por rebote – enquanto não faz nenhuma besteira em quadra

LeBron James ministrou uma clínica de basquete em Manila para 15 mil pessoas. Clínica nada, claro. Era mais um evento de adulação ao superastro do Miami Heat, com direito a show pirotécnico. Kobe Bryant também se divertiu um bocado por lá, como vemos nessa galeria, depois de ter enfrentado uma tempestade durante seu voo. JaVale McGee? Quase se naturalizou filipino.

As Filipinas amam a NBA e o basquete. Eles estão abertos a tudo. Só não querem saber mais de ver Renaldo Balkman nem pintado de ouro

Em março deste ano, o ala-pivô da seleção de Porto Rico aprontou um fuzuê inacreditável durante sua breeeeve passagem jogando na liga local. Vestindo a camisa do Petron Blaze Boosters (!?), num confronto com o Alaska Aces (!?!?), o rapaz  perdeu por completo as estribeiras em quadra após discordar de uma decisão da arbitragem.

Num episódio que rodou o mundo, Balkman começa a berrar na direção de um dos juízes. Quando um dos assistentes de sua equipe tenta chegar no clima de “deixa-disso”, levou um “chega-pra-lá”. Depois foi a vez de encarar um companheiro de time, com aquela postura de “tira-a-mão-di-mim”. E segue com sua insanidade. Dedos em riste, cabeça tombada, gritos e gritos, enquanto os adversários estão cobrando lances livres. Até que sobrou para Arwind Santos, outro parceiro de time, que… Acaba estrangulado! E não para nisso. Se acha impossível, veja aqui:

O episódio naturalmente deixou muita gente perplexa, incluindo o comissário da liga, Chito Salud, que optou por banir o porto-riquenho do basquete filipino para toda a eternidade. Além disso, só para deixá-lo sem o dinheiro do busão, também aplicou uma multa de 250 mil pesos filipinos, que dava na época algo como US$ 6 mil.

Depois, arrependido que só, Balkman usou o Twitter para tentar se redimir. “Gostaria de pedir desculpas a Arwind Santos como pessoa, alguém que respeito verdadeiramente (a-hã) e alguém que não iria machucar intencionalmente. Minhas ações foram irresponsáveis (ah, vá)”, disse o cabeludo, que falou que foi levado pelas emoções de um jogo intenso e que curtiu sua estadia nas Filipinas. “Todo mundo faz uma vez na vida algo que não era para se fazer e me deu branco naquela hora.”

Foi bom enquanto durou – ele tinha médias de 25 pontos, 13,4 rebotes, 2,4 assistências e 2,7 tocos por jogo na temporada, enfrentando uma concorrência bem fraca. Chito Salud não se sensibilizou com a resposta, mantendo a decisão da liga. Até porque ele citou este episódio aqui para julgar o atleta como reincidente:

Aqui, vemos Balkman “encarando” o venezuelano Greivis Vasquez, durante a Copa América/Pré-Olímpico de 2011, em Mar del Plata. Ele não gostou de uma falta dura do hoje armador do Sacramento Kings. Acabou suspenso por um jogo, ao lado de Nestor Colmenares, que chega para o empurrão em defesa de seu companheiro.

Sabemos também que o ala-pivô também já teve problemas disciplinares com a seleção porto-riquenha, abandonando o time por considerar que não estava sendo aproveitado de modo adequado.

Mas, tudo bem. Paramos por aqui, porque a ideia nem é pintar Balkman assim como o maior bandido do planeta. Só é preciso tomar cuidado com ele em quadra. Porque isso faz parte de todo um pacote de um dos jogadores realmente mais intensos que você pode encarar em quadra.

Ele definitivamente não é dos mais talentosos. Mas foi abençoado com uma capacidade atlética incrível – acho que consegue dar uns quatro ou cinco pulos em sequência na busca de um rebote, sem peder um centímetro na impulsão de pogobol – e muita determinação, correndo sem parar pela quadra. Incomoda mesmo, com os brasileiros puderam atestar na disputa da Copa Tuto Marchand, em que ele se aproveitou da lentidão dos adversários para revier seus tempos de astro filipino, com 24 pontos, 15 rebotes e quatro roubos de bola.

Renaldo Balkman

Balkman matou o garrafão brasileiro no último amistoso

Só com muito esforço e garra, mesmo, para que pudesse encaminhar sua carreira adiante. Quando estava no colegial, Balkman mal podia sonhar com alguma bolsa de estudos até que foi descoberto pelo técnico da Universidade da Carolina do Sul, Dave Odom, durante uma partida de eu Laurinburg Institute, em Orlando. “Eu me lembro da primeira vez que o vi. Estava sentado neste ginásio, com (o assistente) Barry Sanderson, e perguntei: ‘Quem é aquele garoto com os dreadlocks? É deste cara que precisamos’. Barry foi atrás, voltou e ninguém sabia seu nome”, afirmou o técnico.

É isso. De um jeito ou de outro, o jogador sempre esteve correndo – e por fora. Até que, de última hora, aparece alguém para acreditar. Quando, no Draft de 2006, o New York Knicks o escolheu na posição número 20, poucos puderam acreditar. Poucos, menos Isiah Thomas, então o chefão da franquia nova-iorquina, um dos piores gestores que a NBA já viu, mas um sujeito de grande reputação na hora de identificar talentos. Seria esse mais um diamante bruto descoberto pelo ex-genial armador?

Hoje, sabemos que não foi o caso. Balkman até desfrutou de algum sucesso em sua primeira pela temporada como um Knick, mas em nenhum momento justificou uma escolha tão alta, ainda mais quando gente como Rajon Rondo e Kyle Lowry estava disponível. (Embora, um parêntese: Cedric Simmons Rodney Carney, Shawne Williams, Oleksiy Pecherov e Quincy Douby foram os cinco jogadores selecionados antes de Thomas tomar sua decisão… Então não é que Rondo ou Lowry fossem tão amados assim naquele Draft.)

Não demorou muito, então, para que o atleta fosse chutado para fora de Nova York, trocado por um saco de batatas do Denver Nuggets, durante o expurgo do legado de Thomas que Donnie Walsh promoveu, numa reconstrução de elenco que depois resultaria na contratação de Amar’e Stoudemire e Carmelo Anthony. Alías, bem lembrado: quando Melo conseguiu forçar a barra para deixar as Montanhas Rochosas rumo a Manhattan, ironicamente Balkman foi incluído no mesmo pacote, de volta ao Knicks. Neste retorno, porém, jogou muito pouco até ser dispensado em fevereiro de 2012.

Foi aí que Balkman caiu na vida de andarilho do basquete e chegou a Manila. Para lá, no entanto, ele nunca mais pode voltar.


Revolução africana: Nigéria e Tunísia estão fora da disputa por vaga na Copa do Mundo
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Giancarlo Giampietro

Maleye D'doye e o Senegal vão adiante

Nigéria e Tunísia, dois dos três grandes favoritos africanos a uma vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014, estão fora da disputa de vaga. É uma BAITA surpresa isso. As duas seleções estão fora da semifinal do AfroBasket, e apenas os três primeiros colocados se garantem diretamente no Mundial. Na sexta, as semifinais são Costa do Marfim, time da casa, contra Angola e Egito contra Senegal.

Quem caiu primeiro, já na fase de oitavas de final, foi a Tunísia, pelas mãos de seu vizinho Egito, por 77 a 67. “Clássico é clássico”, sorri um egípcio. A eliminação veio a despeito dos esforços do ala-pivô Makram Ben Romdhane, de 24 anos e um dos destaques individuais do torneio e recém-contratado pelo Murcia – ele vai ser companheiro de Augusto Lima na Liga ACB. Os tunisianos eram os atuais campeões e haviam terminado com o terceiro lugar em 2009, na Líbia.

Na quarta, então, pelas quartas, foi a vez de a Nigéria se despedir, perdendo para a rapaziada de Senegal, por 64 a 63, do jeito que o capeta gosta. Imagine o horror – e a tensão também, vá lá – de um quarto período vencido por 14 a 10 pelos nigerianos, que, em termos de elenco, formavam, disparado, o time mais forte da competição.

O ala-pivô Ike Diogu, que não conseguiu emplacar uma carreira decente na NBA apesar de ter sido selecionado pelo Golden State Warriors no Draft de 2005 em nono, se transformou numa espécie de terrorzinho em competições da Fiba. Al-Farouq Aminu, do New Orleans Hornets, com 22 anos, ainda tem um vasto potencial para ser realizado e teve médias de 12,5 pontos, 5,2 rebotes e 5 assistências no torneio, atuando com muito mais liberdade para impor seu jogo hiperatlético. Seu irmão Alade Aminu é mais um ótimo finalizador. O armador Ben Uzoh e o pivô Gani Lawal são outros com experiência na liga americana – do outro lado, os pivôs Saer Sane, ex-Sonics (bons tempos!) e já com 27 anos, e Hamady N’diaye, ex-Wizards.

E, ainda assim, caiu a Nigéria. Sofreram com uma defesa por zona dos senegaleses espertos, que pagaram para ver se Al-Farouq e amigos poderiam matar seus tiros no perímetro. Erraram 12 em 16 disparos – mas não que tenham desfrutado de sucesso no jogo interior, com um aproveitamento pífio de 41%.

Como se não bastasse, Camarões, do príncipe Luc Richard Mbah a Moute, também está fora, depois de perder para os anfitriões da Costa da Marfim nas quartas, por 71 a 56. Os marfinenses anularam por completo o ala do Sacramento Kings – nem na África esse ótimo defensor consegue se soltar ofensivamente.

“Nós sempre fomos um dos favoritos, nos estabelecemos como um potencial vencedor do torneio. Mas o que aconteceu para nós hoje, o que aconteceu com Camarões e Tunísia é o crescimento meteórico do basquete africano. Qualquer um pode ser derrotado, afirmou o técnico nigeriano Ayodele Bakare, que agora não sabe o que vai ser da sua equipe, dada, digamos, a volatilidade administrativa das confederações do continente.

Para eles, Mundial agora só com um eventual convite da Fiba. Lembrando: são quatro que a federação vai distribuir, com a China muito provavelmente já garantida com um – a não ser que os cartolas não estejam tão preocupados assim com audiência quantitativa, né? Pense que outro convite deva ficar para um dos excluídos das Américas e outro, para alguma potência que dance no Eurobasket  – alô, Rússia, tá todo mundo de olho –, e teríamos apenas um quarto e último posto para ser preenchido. Mais um das Américas? Ou uma colher de chá para africanos? Vai saber.

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Agora vale gastar só mais alguns minutinhos com nossos irmãos angolanos. Se Portugal só apanha na Europa e o Brasil já não é a potência de outros tempos, ao menos um país da comunidade lusófona segura as pontas no topo em sua região. Dos favoritaços a vaga, só restou Angola nas semifinais, mesmo.

Nas quartas, os caras tiveram um desempenho ofensivo avassalador contra Marrocos, vencendo por 95 a 73. Os 12 jogadores angolanos entraram em quadra e pontuaram, incluindo nosso bom e velho Eduardo Mingas, com cinco. Olimpio Cipriano, aquele, marcou 15, saindo do banco. Carlos Morais, ele mesmo, somou 11. Joaquim Gomes, há quanto tempo!, nem precisou dominar o garrafão. Bastaram nove pontos e seis rebotes em 17 minutos.

Dos últimos 12 campeonatos africanos, Angola venceu dez, ao mesmo tempo em que foi ao pódio nas 15 edições passadas. Para se garantir no Mundial, é o que basta. Mas o time vai ter um páreo duríssimo pela frente contra os donos da casa. E, nesse torneio tresloucado, o peso da camisa ou do currículo não está valendo nada. Força!


Enfrentando ala de NBA, nove centímetros mais baixo, Alex mostra seu valor e faz cesta da vitória
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Giancarlo Giampietro

Cisco x Alex, os Garcias

O duelo entre Garcias sempre animado pelo mundo Fiba

Alex é sempre o primeiro a divagar… Ah, se fossem dez centímetros a mais!

Mas tem hora que nem todo centímetro vai compensar a disposição para fazer o serviço sujo, a preocupação com os detalhes, a disposição em quadra. E lá estava o diminuto ala, do alto de seu oficial 1,92 m, com os braço esquerdo e os dedos todos estendidos para conferir o rebote ofensivo, com cerca de 0s2 no cronômetro, e definir uma vitória por 78 a 77 para a seleção brasileira pela rodada de abertura da Copa Tuto Marchand, em Porto Rico.

Um desfecho de certa forma irônico, enquanto podemos nos apegar a esse tipo de coisa, já que ainda escrevemos sobre jogos preparatórios. O rebote é o fundamento que talvez mais preocupe rumo a uma disputa de vaga no Mundial – e título continental, oras –, e foi justamente num tapinha ofensivo que o time de Magnano se safou nessa.

Um viva ao amigo Elpidio Fortuna, aliás, que ficou hipnotizado pela bola, pela rebarba de uma bandeja agressiva, inteligente, mas mal efetuada por Larry Taylor e se esqueceu de uma das tarefas mais básicas do jogo. Aquela que muitas vezes dói, por conta das pancadas nas costelas, na coxa ou mais, mas que é extremamente necessária: o bloqueio de rebote. Alex subiu livrinho da silva, sem contato físico nenhum, para fazer a cesta decisiva.

Não que o chamado “Brabo” tenha algum problema em assimilar as pancadas. Pelo contrário, né? Fosse proibido de buscar o contato, teria de buscar outro esporte. Que o diga o talentoso Francisco Garcia, seu xará de sobrenome, que deve detestar os dias em que tem o Brasil pela frente. Ele sabe que aquele tampinha estará em quadra disposto a contestá-lo, ou, no mínimo, importuná-lo.

Aconteceu na última Copa América em 2011, com uma vaga olímpica em jogo. Aconteceu no Pan de 2003 até, dez anos atrás! Na casa deles, em Santo Domingo. E teve repeteco nesta quinta, mesmo em torneio amistoso. Alex perseguindo o dominicano no perímetro, com uma postura defensiva na maioria das vezes perfeita – em duplo sentido, contando não só o empenho, como também o posicionamento. Mesmo sendo mais baixo, o brasileiro não arrisca muito, guardando posição, com os braços erguidos, deixando para saltar ou dar o bote apenas no último instante. É um comportamento que atrapalha o alto e esguio dominicano.

Em competições de nível Fiba, diante de poucos atletas de primeiro nível, mesmo, que ele tem pela frente, Cisco ainda possui recursos suficientes para criar suas situações de arremesso. Contra o Brasil, ele ainda pode colocar a bola no chão com mais tranquilidade e partir rumo ao garrafão na esperança de descolar uma falta ou seu arremesso de média distância, encurtando a passada, para aproveitar sua envergadura. Arthur e Benite foram obrigados a tomar nota disso.

Com o número 10 da seleção em seu cangote, porém, a coisa fica um pouco mais difícil. Suas investidas são mais suadas, até pela pressão física que o adversário impõe. Se a arbitragem deixar o pau comer, o Garcia brasileiro consegue equilibrar bem as coisas.

E aí, medindo de baixo para cima o dominicano, com seus 2,01 m de altura e oito anos de NBA no currículo, sem contar a marca de US$ 29 milhões em salário que vai bater este ano como jogador do Rockets, Alex primeiro vai combater. Depois, sempre sobra um tempo para levar aquela hipótese dos dez centímetros adiante.

PS: mais algumas notas sobre a partida, com as mesmas preocupações de sempre, nesta sexta.


Marquinhos contradiz Magnano em mais uma dispensa “surpreendente” para técnico seleção
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Giancarlo Giampietro

Magnano

Magnano certamente não está perdido na tradução. O que acontece, então?

Senhoras e senhores, nós temos um problema. De comunicação.

Neste caso, não estamos falando das deficiências do blog – deixemos isso pra depois, tá? –, mas, sim, do que vem acontecendo durante esta temporada da seleção brasileira.

Vocês já sabem, claro, que o ala Marquinhos foi o último a pedir dispensa da delegação de Magnano. A diferença para a trupe da NBA que ele passou quase um mês reunido com a moçada antes de pular fora da barca nesta quarta-feira. O que aconteceu? O MVP do NBB e destaque do Flamengo alega que sente fortes dores no joelho, depois de ter sofrido um trauma durante um treinamento, num lance isolado, caindo mal de um salto. Essas dores o afastaram de todos os amistosos e, por fim, o forçaram a comunicar sua desistência.

Até aí tudo bem. Esse tipo de situação acontece. Esporte, lesão, dores, estão todos sujeitos a isso. Porém… O que causa estranhamento é o conflito entre o que diz um (jogador) e o que responde outro (o técnico). De novo.

Você deve se lembrar, né? Da dissonância entre os discursos de Magnano e Splitter, quando o catarinense o comunicou de que não se apresentaria. Agora é a vez de o processo se repetir com Marquinhos. Curiosamente, são dois homens que tinham (têm?) toda a confiança do treinador.

Marquinhos, treinando separado

Marquinhos: sem treinar com bola e sem jogar pela seleção

Na quarta, já sem Marcus ao seu lado, Magnano falou ao vivo para todo mundo ouvir: “Não fiquei decepcionado com ele, mas fiquei surpreso. Clinicamente ele estava recuperado para jogar. Com esta avaliação, tinha a esperança que ele chegaria na Copa América”. Ao passo que o flamenguista conta outra história ao repórter Fábio Aleixo, do Lance!: “Foi uma situação que ficou bem esclarecida com ele. Tivemos uma conversa olho no olho. Ele sabe o que aconteceu. Não vai ter nenhum tipo de problema no futuro”.

Epa. Déjà vu.

Se não clicou no link acima, tudo bem. Recupero aqui as duas declarações que, somadas às do parágrafo anterior, deixam o diálogo bem ruidoso. Splitter alegou sentir um desgaste extremo para não jogar a Copa América. “É um ano que permite você ter um descanso. Obviamente se fosse uma Olimpíada ou um Mundial é outra coisa, você faz um esforço. Tantos anos seguidos de seleção, minha esposa está querendo me matar. Um pouquinho de tudo me fez tomar essa decisão”, disse. Daí que Magnano rebateu: “Pensava que o único problema do Tiago era somente contratual. Depois, o estafe dele me ligou falando que ele não ia se apresentar. Eu não sabia disso (de cansaço)”, afirmou o treinador.

“Surpreso”, “não sabia”… É o que diz Magnano. O que afirmam os jogadores é outra história. O que está acontecendo?

Sabemos que está cada vez mais difícil montar uma seleção – seja ela israelense, brasileira ou russa. A pressão da NBA é imensa. Mas as limitações não ficam só nisso. Como já ocorre há tempos no futebol, a tendência é que a relação de federações  e clubes de basquete se aproxime muito mais do atrito do que de um armistício. Por mais que se incense o amor à pátria, à camisa nacional etc. Os calendários começam a apertar e afestar o principal aspecto que move hoje, sim, o esporte: os negócios como um todo, entre eles a carreira profissional.

Na entrevista ao Lance!, Marquinhos fala: “Joguei toda a temporada com dor. Se eu não parasse agora, poderia acarretar em problema no futuro”. Em seu comunicado para dizer que não vinha ao Brasil, Lucas Bebê anuncia: “Este é um momento importante para a minha carreira, e que exige a minha permanência para que tudo seja resolvido o mais breve possível”. Em entrevista coletiva, Tiago Splitter admite: “Não quero tirar a importância da Copa América, é importante, mas é um ano de  contrato, estou desgastado física e mentalmente”.

Percebem o padrão? Nesse contexto de calendário mais apertado, complicadas negociações e diversos interesses, chegou a hora em que o privado vem antes do coletivo. Vitor Faverani, em conversa breve no Paulistano – a ser publicada nesta sexta ou sábado, vamos ver –, também deixou isso claro. O clube, que o paga, tem a preferência. Simples assim. E, nesse contexto, o técnico da seleção que se vire. É o que temos, um choque de interesses que não vai se encerrar neste ano.

Para alguém competitivo como Magnano, deve bater um certo desespero ou, no mínimo, aflição. Ele confia que seus convocados vão chegar, quer muito que isso aconteça. Não nos esqueçamos que mesmo Varejão (se recuperando de uma embolia pulmonar, diabos!) e Leandrinho (cirurgia muito mais grave no joelho), clínica e publicamente fora de combate, foram convocados da mesma forma. Deve ter algum ditado que resuma melhor essa situação, mas seria algo na linha de que o argentino, a essa altura, parece estar filtrando e ouvindo apenas o que lhe pareça positivo para a seleção.

Daí tantas “surpresas” a cada dispensa? Certamente não é uma questão de tradução português-espanhol. E se for algum jogo político do treinador? Fosse o caso, não seria melhor adotar o discurso de que valoriza “aqueles que se apresentaram,  o grupo, e que não há o que lamentar”? Em vez disso, não só o técnico contradiz publicamente seus atletas – alimentando a pauta jornalística para futuras convocações, diga-se – como perde a oportunidade de afagar aqueles com os quais está concentrado.

Magnano garante que Marquinhos estava liberado para jogar. O ala, que passou por uma cirurgia logo depois do NBB, não o desmente, exatamente. Se estamos falando do joelho operado, não há mais nenhuma restrição alguma. Só acrescenta um detalhe: segundo o jogador, seu problema era outro: “Realmente estava recuperado da artroscopia no menisco, mas fisicamente não estou bem. O edema ósseo é na tíbia, perto da junção com o joelho. Não chegaria em condições ideais na Copa América. Sinto dor para caminhar ainda. É algo que foge do meu controle”.

Nesse ponto o flamenguista pode ficar tranquilo, ao menos. Muita coisa parece fora do lugar aqui.


Campeão asiático, Irã está no Mundial. E o que mais sobre o 1º torneio classificatório?
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Giancarlo Giampietro

Haddadi ali com o bração aberto

Irã: WE ARE THE CHAMPIONS! Via @HamedHaddadi

A profecia se fez como previsto: 2013, e Hamed Haddadi lidera o Irã a mais um título do campeonato asiático da Fiba. Como MVP, claro.

Daria para fazer aquela autopromoção básica, né? Sacar aquele bacaninha, supimpa “conforme antecipamos”, mas isso já está mais batido que a própria rotina de glórias e dominância do pivô no vasto continente. Pensou em basquete de seleções na Ásia, pensou em Haddadi, meus amigos.

Na final, já com a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014 garantida, o iraniano se aproveitou da ausência do americano Marcus Douthit e trucidou os pivôs das Filipinas, os donos da casa, somando 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos. Escreveria aqui que ele teve sua jornada de Shaquille O’Neal, mas nem isso vale, já que converteu 71,4% de seus lances livres.

Agora, descentralizando um pouco o post, fugindo da sombra de Haddadi, vale destacar que a final em Manila não foi exatamente um passeio para o país do Oriente Médio. O primeiro tempo terminou com uma vantagem de apenas um ponto (35 a 34) para os visitantes. Até que as parciais de 27 a 19 e 23 a 18 nos quartos seguintes resolveram a parada (85 a 71).

Foi um contraste de duas abordagens ofensivas distintas.

Os filipinos, por Deus!, arremessaram 34 vezes da linha de três pontos, contra 35 de dois. Por uma mísera e infeliz bolinha de dois que eles não conseguem a maioria absoluta das tentativas do meio da quadra. Um pecado certamente lamentado por Porto Rico e muitos patrícios. Não importando de onde dispararam, o fato é que a turma deixou os dois aros significativamente avariados, com uma pontaria de apenas 31,9% no geral – se de fora eles fizeram 29,4%, não dá para dizer que havia uma bola de segurança interna (apenas 34,3%).

Já os iranianos ao menos tinham Haddadi para desequilibrar. Com ele, acertaram 61,4% dos chutes de dois pontos, para compensar os desastrosos 17,6% de longa distância (3/17, uma blasfêmia). Eles também se atrapalharam todos com a bola, cometendo 19 turnovers.

De todo modo, mesmo com essa carência evidente no seu jogo de perímetro, é de se admirar o fato de que o Irã tocou sua campanha sem contar com a ajuda de nenhum estrangeiro, algo cada vez mais raro em competições internacionais. Jogaram, mesmo, e de forma competente, com seus Davoudichegani, Afagh e Jamshidijafarabadi, para pesadelo dos locutores nacionais.

Coreia é bronze!

Coreia do Sul de Eric Sandrin está na Copa também

O mesmo vale, aliás, para a Coreia do Sul, que beliscou a terceira vaga ao bater Taiwan na disputa pelo bronze, por 75 a 57. Quer dizer, se formos levar ao pé-da-letra, havia um estrangeiro no time: o veterano ala-pivô Lee Seung-Jun, de 35 anos, também conhecido como Eric Sandrin, norte-americano filho de uma coreana e que andou jogando até mesmo pelo Brasil na década passada – foi parceiro de Sandro Varejão e Ratto no Brasília. Andarilho, passou também por Luxemburgo e Portugal até se estabelecer lá por perto de Seul. Então é como se ele fosse um Scott Machado veterano.

Para os torcedores saudosistas do Portland Jail Blazers, a nota triste fica pela ausência do gigante Ha Seung-Jin. Xuim. Nesta preliminar, o sul-coreanos ensinaram aos filipinos como se faz, convertendo 45,8% de seus arremessos de três pontos (pontaria superior ao que tiveram de dois, 43,9%). Inicialmente, esse número seria um alívio. Tudo o que gostaríamos de escrever aqui era que, a despeito de toda essa mudança climática e da revolução 2.0, ainda poderíamos respirar em paz sabendo que um time coreano ainda chuta bem de fora. Mas, no geral, eles tiveram rendimento de apenas 34% no campeonato (66/194), algo alarmante. Estamos todos fritos, mesmo.

Quer dizer: todos menos Haddadi.

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A China, com todo a grana, astros (ou ‘astros’, coff, coff!) da NBA importados para sua liga nacional, protagonizou a grande façanha do Campeonato Asiático, ao ficar sem vaga direta para a Copa do Mundo. A equipe passou por um papelão na fase de quartas de final ao perder Taiwan por 96 a 78. Justo para quem! Nessa partida, os chineses venceram o primeiro tempo por dez pontos de vantagem, mas tomaram uma virada escandalosa no terceiro período (31 a 12). Para registrar, o pivô Yi Jianlian perdeu alguns jogos no torneio devido a uma contusão, mas esteve em quadra nos mata-matas. Em cinco jogos, ele teve médias de 17,4 pontos e 6,6 rebotes em apenas 24,6 minutos por partida. Na hora de distribuição dos quatro convites para o torneio, porém, é bem provável que a Fiba lhes reservem um.

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Interessante a classificação das Filipinas para o Mundial. O país é doente por basquete, a ponto de entender que JaVale McGee é uma espécie de Deus – vejam que coração bom têm os católicos de lá. Kobe Bryant anda por lá neste momento, enfrentando tempestade e tudo, LeBron James fez uma visita-relâmpago há pouco, e a capital Manila conta com uma arena de primeiro nível, que, depois de receber o torneio continental neste mês, vai acolher um amistoso de pré-temporada entre Rockets e Pacers, no dia 10 de outubro.

Mall of Asia Arena

A Mall of Asia Arena, com capacidade para 16 mil espectadores

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Os torneios qualificatórios regionais continuam nesta semana com o clássico entre Austrália e Nova Zelândia, na Oceania. O primeiro jogo será na quarta-feira, em Auckland, e o segundo, domingo, em Canberra. Com Patty Mills, Joe Ingles, David Andersen, Matthew Dellavedova e a revelação Dante Exum no elenco, os Boomers são claramente os favoritos. Pelos Tall Blacks, nada de Steven Adams (jovem pivô selecionado na 12ª posição do Draft da NBA pelo Oklahoma City Thunder) e do veterano Kirk Penney. Destaque para o ala-armador Corey Webster, um cestinha explosivo, e para o ala faz-tudo Tom Abercrombie.