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Arquivo : Hettsheimeir

Boi na linha: as novas espanadas de Magnano após pedidos de dispensa
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Giancarlo Giampietro

Ruben Magnano, Brasil, CBB, técnico, seleção

Deu boi na linha, gente. Como sempre.

Depois da conquista do Pan e de um breve momento para respiro — e alívio — pela vaga olímpica, a seleção brasileira reuniria a turma campeã para encarar uma Copa América muito interessante, pelo simples fato de esse time poder ser testado contra adversários muito mais fortes, jogando sem pressão alguma.

O grupo não será o mesmo, todavia, devido ao pedido de dispensa de Larry Taylor e Rafael Hettsheimeir. Sinceramente, não via problema algum em relação a esses desfalques. Afinal, Rubén Magnano já deve saber, nos mínimos detalhes, o que o armador do Mogi e o pivô do Bauru podem oferecer, ou não, à seleção. Já foram testados, avaliados nos mais diversos níveis. Além disso, era a chance de ver em ação Deryk, Danilo e talvez mais algum jovem pivô, quiçá Lucas Mariano — o que não aconteceu, com a convocação um tanto deslocada de Giovannoni.

Acontece que, para o treinador, a saída dos atletas não pegou nada bem. Em entrevista ao repórter André Sender, da Gazeta Esportiva, o argentino voltou a espanar ao lidar com um tópico recorrente na hora de se montar a equipe nacional. Não bastava ele se dizer “surpreso” uma vez, por exemplo. Não, em suas palavras, ele ficou “muito, muuuuuuito surpreso” com o que aconteceu. Não é a primeira vez que ouvimos essa história, e nem mesmo a segunda. Está mais para quinta, sexta vez em que atletas e clubes dão uma versão e o treinador e a seleção, outra.

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Nessa história toda, ao conflitar todos os discursos, o que fica claro em meio à confusão é que falham todos.

Os clubes não ajudam, de fato. Se há o interesse de segurar um jogador, recém-contratado ou não, jovem ou veterano, qual o problema de expressar isso à confederação, ao treinador ou ao seu torcedor? Como no caso de Mogi e Larry. O armador tinha uma contusão para ser tratada, e o clube alega que queria supervisionar o processo, embora a comissão técnica da CBB diga que não fosse nada grave — ele já está jogando normalmente pelo Campeonato Paulista, aliás. Por que esperar o fogo cruzado de críticas públicas do treinador da seleção e a matéria do companheiro Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, para, aí, emitir nota oficial tentando explicar o que estava acontecendo? A apuração de Aleixo também indica que o clube também estava um tanto ansioso para colocar o norte-americano, uma grande contratação, em quadra. Numa temporada muito longa de seleções, com Pan e Copa América, não deixa de ser compreensível esse anseio. É a mesma discussão que, no futebol, acontece mensalmente a cada convocação de Dunga, gente.

Sabemos bem que o ato de se pedir dispensa da seleção brasileira é um tema ainda bizarramente espinhoso no basquete nacional. Nesse contexto, se o clube tinha alguma preocupação em preservar a imagem de seu jogador, deveria ter se antecipado e assumido essa bronca. Não fizeram, e, depois da ofensiva de Magnano, Larry se sentiu impelido a esclarecer que não foi sua a decisão pelo desligamento e que estava “triste” por isso. “O clube pediu para eu me tratar lá. Fiquei triste, pois era uma coisa que não queria ter feito. É um direito do clube. Por mim eu teria continuado lá. Mas acabou se criando esta situação. Conversei com o Magnano e com a comissão técnica e disse que queriam que eu voltasse para Mogi”, afirmou.

Larry Taylor, Mogi, reforço, NBB

Da parte dos jogadores, de todo modo, também falta transparência e firmeza, convenhamos. Larry, mesmo, poderia ter aberto o jogo antes, embora estivesse numa situação delicada em relação ao clube, sendo o elo mais fraco da história. No caso de Rafael, apenas uma nota oficial, sem maiores detalhes, foi emitida pelo atleta quando ele optou por abrir mão da convocação. Soube, depois, que o pivô tinha uma questão particular, de saúde particular, para ser resolvida, que realmente demandava sua seleção para além dos treinos com a seleção ou um eventual teste para um clube da NBA de que fala Magnano, forçando sua estadia em Bauru.

O que não impediu que o treinador da seleção desse sua alfinetada. “Ainda estou esperando uma resposta, uma ligação, sobre a situação. Ele disse que faria um teste na NBA, mas ainda não deu respostas porque perguntei ‘quando é essa prova? Onde é essa prova?’ para tentar coordenar a possibilidade de ele voltar e jogar a Copa América”, relatou o técnico. Ao que o pivô respondeu: “Já conversei com o técnico e expliquei minha situação. A dispensa foi por motivos pessoais e já acertei isso com ele”, disse o pivô, via comunicado, à Gazeta.

Uma fonte próxima dessa situação assegura que o argentino tinha total ciência sobre os motivos para Hettsheimeir dizer que não poderia jogar o torneio continental e que, com suas declarações, estaria “jogando para a torcida”. Ele não estaria necessariamente mentindo, mas omitindo algumas informações em seu discurso para mandar seu recado aos atletas e à nação — e até para manter uma certa coerência com a chiadeira de verões passados. São os ecos de 2013, quando o argentino cuspiu marimbondos depois de campanha vexatória pela Copa América. Na ocasião, generalizou em seu desabafo e acabou atingindo muita gente.

Se Magnano se sentia obrigado a reforçar a mensagem de comprometimento com a seleção, especialmente a um ano das Olimpíadas em casa, talvez houvesse outro meio de fazê-lo. E aí chegamos à CBB, que, supõe-se, deve estar a par do desgosto de seu treinador pelas dispensas e de sua necessidade de se posicionar a respeito. Nesse caso, a entidade não poderia ter assumido o controle do processo e externado essa preocupação e lamentação, mas por outros canais, de preferência mais diplomáticos?

Hã… Sim, claro. Mas esta é a CBB, mesmo. A confederação desacreditada e endividada que não sabe o que é assumir uma posição firme há tempos. Além do mais, internamente, não há quem possa peitar Magnano por lá. E aí o argentino volta a roubar a cena, mas não do modo como o basquete brasileiro espera.


Ritmo, energia, química, e a tempestade perfeita para a seleção
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Giancarlo Giampietro

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

Sendo julho, período de férias da garotada, a queda de produção do blog tem um timing ligerimante suspeito. Mas ainda não existem pimpolhos circulando pela base do conglomerado 21, e o mês foi de muito trabalho, mesmo, com algo como 33 dias trabalhados de 35 possíveis, em ritmo intenso. Só para deixar claro o porquê do sumiço e de como foi bem-vinda a colaboração de Rafael Uehara, para ao menos publicar algo durante o mês.

Posto isso, não quer dizer que não tenha dado para assistir a um jogo ou outro de basquete nesse meio-tempo, para evitar aplacar a tremedeira nas mãos e evitar que chegasse a uma crise de convulsão.

As ligas de verão? Infelizmente só consegui ver a de Orlando, perdendo a apresentação dos brasileiros em Las Vegas. Mas isso o Rafael conseguiu remediar, com seus scouts atenciosos em relação a Bruno Caboclo e Lucas Bebê. Nesta terça-feira, vou publicar também as notas de um experiente olheiro da NBA, que estava presente no ginásio, às quais tive acesso.

Antes disso, todavia, melhor falar sobre o que pude assistir para valer, e com grande satisfação, que foi a seleção brasileira campeã pan-americana – e que acaba de vencer Uruguai e Argentina em amistosos em Brasília.

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Bom, entre o torneio valendo ouro e o amistoso, já são sete vitórias seguidas. O basquete apresentado no Nilson Nelson foi o mesmo de Toronto? Claro que não. Nem poderia ser, e isso tem mais a ver com o calendário um tanto espaçado e traiçoeiro do que com o nível dos adversários. A seleção teve de ser preparada para um pico de performance, tanto do ponto de vista técnica como do físico de 21 a 25 de julho. Agora, encaminha nova preparação para um torneio que vai começar mais de um mês depois, de maior duração (espera-se…), lembrando que estamos falando de meses nos quais, supostamente, esses caras deveriam estar parados.

Aliás 1: como chamar essa temporada de seleção tão longa? Pré-e-pós-temporada-tudo-ao-mesmo-tempo? Flamengo, Bauru, Murcia… É bom que os clubes estejam atentos desde já em relação ao estado dos atletas em sua apresentação. Por mais jovem que seja o grupo, tem de tomar cuidado.

Aliás 2: se o plano de Magnano é contar com a tropa de choque veterana da NBA nos Jogos do Rio 2016, tanto melhor que não a usasse agora, especialmente depois de uma campanha pela qual só Leandrinho passou incólume.

Aliás 3: a vaga olímpica ter sido garantida ao país-sede vale como um alívio ainda maior considerando os dois fatores acima. Mais a respeito será tratado durante a semana, mas dá para dizer aqui que, esportivamente, comemora-se. Pensando nas constantes vezes que a CBB flerta com o desastre e até mesmo faz da vergonha um eufemismo, não há nada o que festejar, pensando no futuro.

>> Ouro em Toronto só confirma a impressionante ascensão de Augusto Lima
>> Teria Rafael Luz feito o suficiente para se garantir na armação da seleção?

Agora, voltando à quadra. Deu para se notar um certo zum-zum-zum sobre como este Pan não poderia valer tanto assim, já que todos os principais adversários estavam formados por times em versão beta. Inegável isso, mas a seleção brasileira também não era, até a hora que entrou em quadra, favorita a nada.

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

O time de Ruben Magnano simplesmente dominou rivais de nível técnico – ou bagagem internacional, no mínimo – equivalente. E dominou devido ao excelente padrão de jogo apresentado. Padrão de jogo que turbina o talento disponível, como em qualquer time campeão. Você não vai vencer só pela técnica ou pela tática. Vai vencer quando as duas andam em conjunto, quando um treinador faz uma boa lista e tira o melhor daquilo que tem em mãos. Não há outro “se”, ao meu ver, para ser ponderado aqui. Acho que podíamos combinar uma coisa: falar que é a seleção jogando. Sem B, C ou D. É o time convocado, que se apresentou, treinou e ganhou.

Foi o que aconteceu em Toronto, e algo bem diferente do que vimos em Guadalajara 2011 ou na Copa América 2013, por razões diferentes. Para o México, Magnano admitiu que reuniu o time já no avião, indo à base de catadão, mesmo. Dois anos depois, na Venezuela, o treinador jurava que contaria com seus principais nomes (mesmo num torneio em que Luis Scola e Greivis Vásquez eram verdadeiras aberrações) e se atrapalhou todo na hora de fazer as emendas necessárias. Ficou com um arremedo de equipe, sem coesão alguma entre as peças, perdendo para Uruguai e Jamaica. O maior vexame sobre o qual se tem nota, na quadra.

Desta vez, com planejamento adequado, tudo mudou. O título pan-americano obviamente começou a partir da convocação, muito mais razoável. Magnano formou uma equipe balanceada. Tão importante também foi o respeito pelo que aconteceu durante a temporada – algo que, por uma razão difícil de compreender, nem sempre acontece. Os nomes podem não ter sido tão revolucionários assim, em termos de material novo, mas foram pinçados todos atletas que jogaram muita bola no Brasil ou na Europa. Benite e Olivinha terminaram o ano voando pelo Fla. Augusto foi um dos cinco melhores pivôs da Liga ACB, sob qualquer avaliação. Rafael Luz se despediu do Obradoiro aclamado pela torcida. João Paulo foi campeão francês. Ricardo Fischer e Rafael Hettsheimeir ganharam quase tudo por Bauru. Marcus já atormenta os atacantes do NBB há tempos. Etc. Etc. Etc. Isso serve para confirmar o talento brasileiro por vezes subestimado. Não precisa de um selo de NBA ou Euroliga para se corroborar a qualidade de um atleta e, principalmente, de uma equipe.

A partir daí, foi entender a melhor forma como encaixar essas peças. Não era tão difícil assim. O grupo tinha bons armadores com propensão ao passe. Rafael e Ricardo podem ser jovens, porém já têm boa cancha, se não em competições pela seleção, mas em jogos de grande relevância por seus clubes. Havia bons arremessadores, com Benite, Meindl, Hetthsheimeir. Pivôs flexíveis como Augusto e Olivinha, e de habilidades distintas que combinavam muito bem, como os bons corta-luzes e cortes para a cesta de Augusto, o jogo de costas para a cesta de JP e mais chute.

De nada adiantaria, porém, se não houvesse química entre esses atletas, e até nesse aspecto a lista é, vá lá, extremamente feliz. É só ver o Marcus vibrando (em vez de urrando de dor), estirado na quadra do Nilson Nelson, depois de cavar uma falta de ataque da Argentina. O ala, agora do Basquete Cearense, é uma das tantas personalidades agrupadas de astral e energia elevados.

Isso não é conversa fiada e facilita o entendimento em quadra. Algo que foi basicamente impecável durante o Pan. A agressividade na marcação exigida por Magnano ganhou também a cobertura de uma defesa interior muito sólida. A boa defesa leva ao contra-ataque, e a execução em transição está no DNA. Quando não houve oportunidade para a definição rápida, o time cumpriu, creio, o melhor ataque em meia quadra sob gestão do argentino, com espaçamento e ritmo.

Por falar em ritmo, retomamos a produção normal do blog nesta semana, acompanhando como a seleção, com essa tempestade perfeita que vimos em Toronto, vai se virar contra oponentes mais qualificados.


Para Bauru, ao menos a final continua. No 1º jogo só deu Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Foram 15 pontos e 7 assistências para Laprovíttola, em 26 minutos

Foram 15 pontos e 7 assistências para Laprovíttola, em 26 minutos

Quando você junta em quadra uma equipe que está se arrastando e outra que está voando, chegando ao auge, pode dar isto, mesmo: 22 pontos de vantagem, não importando que esteja valendo taça. Na abertura da decisão NBB 7 nesta terça-feira, um Flamengo para lá de determinado atropelou o trôpego Bauru por 91 a 69, no Rio de Janeiro.

Após uma surra dessas, se há algo que pode servir de consolo para o time de Guerrinha, dono da melhor campanha da fase de classificação, é o fato de a final do campeonato nacional ter adotado o formato de melhor-de-três neste ano. Os bauruenses têm, então, a chance de se rever seu erros e se recuperar. Só não dá para dizer que seja em casa, já que terão de jogar em Marília, no próximo sábado, para tentar evitar um tricampeonato para o Fla.

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>> Os duelos, os números e a luta por hegemonia

Para quebrar a hegemonia rubro-negra na competição, vão precisar promover uma reviravolta drástica em relação ao que vimos numa Arena da Barra que poderia estar mais cheia e vibrante. Pois não lembraram nem de longe o conjunto que já conquistou três títulos na temporada – Paulista, Liga Sul-Americana e Liga das Américas. Esteve, porém, com a mesma voltagem das partidas contra Franca e Mogi nas últimas semanas. A diferença é que agora encara um adversário ainda mais qualificado.

Guerrinha pedia energia. Mas faltou mais que isso

Guerrinha pedia energia. Mas faltou mais que isso

O sistema ofensivo Bauru já não tem o mesmo ritmo e a mesma fluência da primeira metade da temporada. Isso tem a ver com a perda em velocidade, seja pelo desfalque de Jefferson William como pelo desgaste de tantos jogos? Certamente. Mas não é só. Falta movimentar a bola, que tem empacado com facilidade. Nesses momentos de adversidade, os atletas têm procurado a definição por conta própria.

Do outro lado, um Flamengo na ponta dos cascos, muito mais ativo e organizado, numa combinação perfeita para um resultado estrondoso desses. Os atuais bicampeões tiveram forte pegada defensiva desde o início, desestabilizando a armação dos paulistas, congestionando seu garrafão, também sem permitir arremessos livres de fora.

Fischer, Alex, Larry tentavam infiltrar e davam de cara com dois defensores, invariavelmente. O resultado: turnovers e bandejas e chutes forçados em flutuação. Bem postados, os defensores dominaram os rebotes – destaque para a atuação do jovem Cristiano Felício, que já marca melhor que o americano titular, com um deslocamento de pés muito rápido para alguém de seu tamanho. Sabe fechar espaços como veterano. Bauru converteu apenas 36% dos arremessos de quadra, sendo que, nas bolas de dois pontos, foram 42,1%. Muitos erros, muitos rebotes, e o contra-ataque facilitado.

O time da casa venceu a disputa nas duas tábuas por 27 a 12 no primeiro tempo, e aí o estrago já era gigantesco, com o placar sinalizando 49 a 28. No final, a vantagem nos rebotes ficou em 43 a 31. “Viemos preparados para disputar cada bola. Acho que foi o grande diferencial da equipe hoje. Todos brigando pelos rebotes e cobrindo na defesa, algo importante para enfrentar um time que pode jogar com até cinco homens aberto. Conseguimos defender muito bem, anulamos alguns jogadores deles por boa parte do jogo”, afirmou o ala Marquinhos, ao SporTV.

Defesa em postada do Flamengo

Defesa do Flamengo: chute contestado e linha de passe fechada

O Flamengo foi o time mais veloz e mais físico em quadra, amplamente superior no jogo interno tanto no ataque como na defesa. Rafael Hettsheimeir e Murilo acertaram juntos apenas 5 de 15 arremessos de dois pontos, sem espaço para operar no garrafão. Isso teve a ver com energia (o termo usado por Guerrinha em diversos pedidos de tempo), claro, manifesta na disposição defensiva dos atuais bicampeões, mas não dá para explicar uma lavada dessas só por essa via.

Bauru sente muito a falta de Jefferson William, por ser um ala-pivô leve e bom de rebote. É o contraponto perfeito para Olivinha e Herrmann. A dupla de pivôs de hoje tem muita técnica e força, mas é bem mais lenta, comendo poeira em transição e também apresentou dificuldade para completar as rotações defensivas nesta terça. Claro que não ficam apenas na conta dos grandalhões os 91 pontos flamenguistas. Teve cesta para todo mundo: Vitor Benite marcou 16, seguido pelos 15 de Laprovíttola, Marquinhos e Olivinha.

No ataque, Jefferson ajuda a espaçar a quadra para facilitar a vida dos armadores. Mas o time teve tempo para se ajustar a esse desfalque e até ganhou a Liga das Américas com esta formação. Contra o Fla, porém, aconteceram investidas individuais em excesso e nenhuma fluidez. No terceiro período, deu para contar, por exemplo, até cinco posses de bola seguidas sem que nem mesmo três passes fossem trocados.

“Não falo que tenha falado energia, falo que faltou inteligência, e isso foi minando nossa força. Disposição teve, mas faltou cabeça”, disse Alex, ao SporTV. “Essa não foi a nossa equipe. Jogamos de modo errado, no ataque e na defesa. A gente facilitou para que eles tivessem esse aproveitamento. Tem de esquecer e focar na segunda partida.”

Depois da torção de tornozelo de Murilo, Guerrinha escalou quatro abertos ao lado de Rafael ou Thiato Mathias. O panorama mudou um pouco. Bauru já venceu o quarto período por 26 a 21. Isso poderia já representar um começo, mas seria injusto com o Flamengo, que tinha a partida absolutamente resolvida com menos de meia hora de duração. O jeito, mesmo, é correr para Marília, renovar o fôlego e encontrar outro rumo em direção à cesta. E essa é só metade do problema. Pois o Flamengo está jogando muita bola.


CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
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Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

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Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Vitória sobre Mogi: mais uma prova de como será duro derrubar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Não tem como baixar a guarda: mesmo que um ou outro direto tenha passado em meio ao combate, quem estiver do outro lado vai precisar assimilar o golpe com rapidez. Vai ter de, literalmente, manter a cabeça no lugar, e a cuca pensando naquilo que mais importa em sua estratégia. Não dá para esquecer o que foi combinado na sala de vídeo.

Do contrário, se você decidir partir para o confronto franco, a troca de sopapos no muque, mesmo, a tendência é que o esquadrão do Bauru o leve a nocaute. Foi o que o Mogi das Cruzes percebeu nesta quarta-feira, no Panela de Pressão, na reta final da temporada regular do NBB. Por 24 minutos, o time de Paco García estava plenamente ciente do que fazer em quadra. Quando o cronômetro apontava 6min19s para o fim, os visitantes tinham vantagem de seis pontos (47 a 41). A partir daí, perderam as estribeiras, permitindo uma chuva de bolas de três pontos. Tentaram reagir na mesma moeda muitas vezes. E um jogo que se desenhava bastante equilibrado foi terminar com o placar de 97 a 75.

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Isto é: nos últimos 16 minutos de partida, deu 56 a 34 para os líderes do campeonato nacional, que alcançaram agora a marca de 24 triunfos consecutivos apenas pela competição – igualando recorde do Flamengo na campanha 2008-2009. Se você for por nessa conta as vitórias para a conquista da Liga das Américas, aí chegará a 32 rodadas de invencibilidade. Algo realmente especial, que faz a confiança subir a um nível estratosférico já.

Nesse embate com Mogi, o terceiro quarto terminaria em 65 a 54. Já uma vantagem considerável, mas não impossível de se tirar. O problema foi como aconteceu a virada bauruense. Daquela marca de 6min19s até o estouro da buzina, foram seis bolas de três convertidas pelo time da casa. Sabe quantas haviam caído nessa mesma parcial até então? Nenhuma.

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Pior: quem foi o cara que fez o maior estrago nesse momento de reviravolta? O veterano Alex. O ala-armador que, convenhamos, nunca foi notório por seu aproveitamento nos tiros exteriores – a média de sua trajetória pelo NBB neste fundamento é de apenas 32,8%. Acontece que, num ataque bem espaçado como o da equipe paulista, com múltiplas armas ofensivas, o Brabo nunca teve tanta facilidade assim para arremessar, tendo, disparado, o melhor aproveitamento da carreira, com elevadíssimos 46,2%. Então, no scout de qualquer oponente, se faz necessária a observação de que ele precisa ser vigiado de perto. Nesta terça, acertou absurdos 7-10, igualando sua melhor marca individual.

No caso específico do Mogi, porém, não dá para espernear muito sobre uma desatenção defensiva em relação a Alex. Duas das quatro bolas que ele converteu nesse terceiro quarto foram de trás da linha da NBA, a partir do drible, com uma confiança desmedida. Os chutes caíram que nem uma bomba psicológica para cima dos forasteiros, que errariam três arremessos de longa distância e nove de quadra no geral, além de cometer um turnover. As coisas descambaram.

No quarto período, foi a vez de Rafael Hettsheimeir queimar a redinha com as conversões do perímetro. E aqui, sim, o sistema defensivo adversário falhou bastante. O pivô é outro que está embalado no fundamento e acabou tendo muita liberdade para chutar de longe – seja com Paulão em quadra (conforme o esperado, neste caso), ou com uma dupla mais ágil como Gerson e Tyrone. Estava tão tranquilo lá fora que chegou a arriscar impensáveis 14 bolas, matando seis delas.

Quer dizer, juntos, os companheiros de seleção garantiram ao Bauru 39 pontos na linha perimetral. Baixou o santo para a dupla, é verdade. Não será todo dia assim. Mas aí Guerrinha pode dizer que, no seu time, sempre vai ter um podendo desembestar, na mais pura verdade. No total, foram 31 pontos para Alex e 28 para Rafael.

Agora: este foi o terceiro duelo entre os dois clubes na temporada, contando aí também a final da Liga Sul-Americana. Coincidentemente, nas três partidas Bauru tentou 38 bolas de fora. Um volume exagerado, mas que também não enfrentou resistência dos oponentes, tendo convertido 50 no geral, com um rendimento de mais de 16 por partida e 43,8%. Então já estamos falando mais de acaso. Se voltarem a se cruzar no mata-mata do NBB, Garcia vai ter de rever sua cobertura e/ou fixá-la na cabeça de seus atletas. Foi mais uma sacolada daquelas.

Potencial para o Mogi não falta, pensando numa eventual semifinal contra um rival que já garantiu a condição de cabeça-de-chave número nos mata-matas. O espanhol tem ao seu dispor um elenco que, em teoria, pode funcionar tão bem num jogo acelerado, com uma formação mais atlética e dinâmica – explorando  Tyrone ao lado de Gerson, mantendo o vigor físico ainda assim –, como num ritmo mais cadenciado, compondo uma linha de frente pesada, talvez com Tyrone, Gerson e Paulão juntos. Essa versatilidade pode ser mais explorada nos playoffs, no jogo de gato-e-rato, ainda que não tenha surtido efeito nesses primeiros três embates. Também não será todo dia que Shamell vai ficar limitado a 9 pontos, com 4/12 nos arremessos. Guilherme Filipin, com 23 pontos em 21 minutos, foi quem assumiu o papel de cestinha. Foi o único a pontuar em dois dígitos, o que é muito pouco, mas não necessariamente algo essencial para se remediar.

Pois não será num tiroteio, num jogo de ataques livres, que a equipe conseguiria fazer frente ao Bauru. Essa é uma mensagem, aliás, que fica mais e mais clara para os concorrentes a meros dias do início dos mata-matas. Ainda mais numa série melhor-de-três: invariavelmente, você vai ficar grogue após ataques fulminantes bauruenses. Vai acontecer, não tem muito jeito. Resta saber apenas qual o seu nível de resistência.


Bauru conquista 2ª taça internacional numa temporada já histórica
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Giancarlo Giampietro

Bauru, Liga das Américas 2015, Rio

O jovem Ricardo Fischer e o experiente Rafael Hettsheimeir repetiram a mesma frase nas entrevistas já celebratórias em quadra: “A gente montou um time para isso: ser campeão”.

Bem, com três decisões disputadas e três títulos na conta depois de uma vitória sobre o Pioneros, do México, pela final da Liga das Américas, parece não haver dúvidas quanto a isso.  Guerrinha tem, de fato, um elenco totalmente estrelado na mão, mas que, ainda assim, precisaria entrar em quadra e confirmar seu favoritismo. Sem problema: neste domingo, o time conquistou seu 28º triunfo consecutivo na temporada.

“Quando montamos esse time, nosso lema para a temporada era: ‘Cabeça nas nuvens, pés no chão’. Estamos conseguindo nossos objetivos, mas temos de continuar trabalhando muito, com humildade e sonhando alto”, afirmou ao SporTV o treinador, que conseguiu um feito inédito: unificar os títulos tanto da LDA e da Liga Sul-Americana, adicionando também o Campeonato Paulista. Estendeu, também, a hegemonia sem precedentes dos clubes brasileiros nas disputas continentais.

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A última vez que Bauru perdeu um jogo foi para Limeira, no dia 3 de dezembro, pelo NBB. De lá para cá, conseguiu 20 vitórias pela competição continental, que se somam aos resultados positivos em toda a sua campanha pela América, o último deles por 86 a 72, contra um adversário realmente encardido.

Não foi uma final fácil para o MVP Alex e o campeão Bauru

Não foi uma final fácil para o MVP Alex e o campeão Bauru

O placar final não conta nada sobre o que foi o confronto. Uma partida tensa, muito tensa – mas bem jogada, sem aquele teatro fora de quadra com o qual já nos acostumamos em quadras brasileiras, de reclamações exageradas. A decisão ao menos não foi atrapalhada por isso, até pela ajuda de uma arbitragem bastante sóbria, que não precisa ficar ensinando nada para ninguém. Foi uma pena, porém, o público diminuto num ginásio tão bonito como o Maracanãzinho.

Aqui, o drama ficava por conta mesmo da imprevisibilidade do confronto, do mistério de não saber o que ia dar de resultado – a vantagem era de apenas três pontos ao final de três quartos, para o time brasileiro, evidentemente mais talentoso, mas que teve bastante trabalho para assegurar o troféu. Poucos atletas adversários teriam lugar em sua rotação. Mas o esporte tem dessas coisas. Coletivamente, as coisas podem se equilibrar.

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O Pioneros manteve as coisas parelhas novamente usando do expediente de faltas – foram 25 em 40 minutos, nove a mais que os bauruenses. Um estilo bastante físico que não abria muitos espaços – e, quando eles surgiram, era só descer a marreta para frear o lance. Não faz muito meu gosto, mas foi desse jeito que os caras alcançaram a decisão, derrubando o atual campeão Flamengo na semi. Num jogo duro como esse, os jogadores mais experimentados do Bauru foram fundamentais.

Hettsheimeir: 30 pontos em tiros de fora e trombadas na decisão

Hettsheimeir: 30 pontos em tiros de fora e trombadas na decisão

Alex levou o MVP com justiça, pelo conjunto da obra no Final Four, acumulando dessa vez 16 pontos, 8 assistências e 5 rebotes na final, com 6-14 nos arremessos, em 33 minutos. Mais importante que isso foi sua ainda impressionante capacidade para brecar os oponentes. O ala-armador marcou feito o garoto revelado pelo Ribeirão Preto. Prova que, para executar uma boa defesa individual, a força física pode até ajudar, mas o que conta, mesmo, é a vontade e a cabeça. Saber como se posicionar e incomodar.

Do outro lado da quadra, Rafael Hettsheimeir estava numa jornada de pura inspiração nos arremessos. Marcou 30 pontos em 38 minutos, convertendo 8-12 nos arremessos de quadra (5-8 de três pontos…) e 9-10 nos lances livres. Deu para ver que, quando o pivô pega confiança, a mecânica sai de modo bastante consistente, o arco é perfeito, e a bola cai de chuá. Ritmo, ritmo e ritmo. Não nos esqueçamos que, na temporada, até a final, o pivô havia convertido 36,3% pela Liga das Américas, enquanto, pelo NBB, tem matado 40,2%.

Na disputa pelos rebotes, completamente dominada pelos brasileiros (41 a 26, com 15 importantíssimos na tábua ofensiva), Rafael contou com uma ajuda inestimável de Murilo Becker, que conseguiu um duplo-duplo de 17 pontos e 11 rebotes em 29 minutos. O pivô pode ainda não ter recuperado sua mobilidade característica depois da última cirurgia, mas mas comprou a briga, respondendo ao jogo de contato de Justin Keenan & cia.

Murilo foi lá embaixo brigar

Murilo foi lá embaixo brigar

Se for fazer as contas, vamos ver que o trio foi responsável por 63 dos 86 pontos do Bauru, ou mais de 73%. Contra uma defesa forte e bem postada, o clube paulista não conseguiu tantos arremessos livres, terminando o jogo com 48% nos chutes em geral e 35% de longa distância – a dificuldade maior foi contra a marcação em zona, algo de certa forma surpreendente. Mas soube movimentar a bola mesmo assim, dando assistências em 24 de suas 30 cestas de quadra, um aproveitamento elevadíssimo. Ainda mais se for levar em conta que só cometeu dez turnovers – cinco deles com Ricardo Fischer, que vai ganhando os calos necessários para virar um grande armador.

Pensando em seleção, não vejo como chamar Larry Taylor neste ano e pensar em deixar o rapaz de lado. Vamos ver. Fischer terminou o jogo com oito pontos e nove assistências, algumas delas com passes bastante criativos, de muita visão. Na defesa, também fez um belo papel no quarto final. Já Larry  parece ter perdido muito de sua explosão, de seu arranque, tendo dificuldade para finalizar lá dentro (1-5 nos chutes de dois pontos), acompanhando sua já sabida deficiência nos tiros de fora (1-4).

Fischer e seus companheiros querem mais.  “A gente quer sempre mais, não pode ficar satisfeito para isso. O time foi montado para isso: chegar a todas as finais e ser campeão”, disse Fischer ao repórter Edgar Alencar, do SporTV.  “A gente montou um time para isso: ser campeão”, repetiu Hettsheimeir. “Agora é pensar no NBB e vamos tentar levantar esse também.”

A temporada vai avançando, e vai ficando cada vez mais difícil de pensar num desfecho diferente.


Ricardo Fischer aceita a pressão de mudar e liderar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Fischer, bem na foto

Fischer, bem na foto

Tem vezes que, fora a festa e a congratulação de jogadores, dirigentes, técnicos e fã – o que já é muita coisa –, um Jogo das Estrelas qualquer não serve para coisas mais práticas de quadra. Digo: não define muita coisa do ponto de vista esportivo, do que acontece na temporada regular de verdade.

Em Franca, no último fim de semana, porém, o prêmio de MVP da partida entre brasileiros e estrangeiros entregue a Ricardo Fischer teve um valor realmente simbólico e para além do troféu. Serviu para confirmar a ascensão de um jovem armador que vem cumprindo seu papel de modo mais que satisfatório comandando um time dominado por veteranos que, desde o momento que foi formado, jogaria por uma e só razão: títulos.

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Aos 23 anos, Fischer se assume em quadra como líder. Mesmo que, quando olhe ao redor, veja basicamente jogadores muito mais experientes, com longa rodagem em jogos internacionais, por clubes e a seleção brasileira. Para ele, não tem problema. É sua a missão, a responsabilidade de encaixar tantas peças talentosas – e valiosas –, na tentativa de, no próximo final de semana, conquistar o terceiro troféu em três campeonatos. A Liga dos Américas, no caso, para tentar se tornar o terceiro campeão continental em três anos consecutivos.

O Bauru enfrenta no sábado, no Maracanãzinho, o Peñarol de Mar del Plata, da Argentina, enquanto o anfitrião Flamengo encara o Pioneros de Quintana Roo, do México, pelas semifinais (confira a tabela e preços de ingressos). Neste duelo, o clube paulista vai ter de se testar novamente sem o ala-pivô Jefferson William, afastado do restante da temporada devido a uma ruptura no tendão de Aquiles. Um desfalque que muda alguns planos, é verdade, mas que não tira do time de Guerrinha o favoritismo, por conta de tudo o que eles fizeram até aqui: além de liderarem o NBB, com 23 vitórias em 25 jogos, já ganharam o Campeonato Paulista e a Liga Sul-Americana.

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

“Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando”, disse Fischer ao VinteUm. “Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.”

Para ajudar a equipe a chegar a este patamar, o armador precisou ajustar algumas coisas em seu jogo: menos pontos, mais passes. O tipo de sacrifício, aliás, que foi pedido para todos os jogadores de um elenco estrelado. “Preciso fazer mais que eles joguem, e está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo.”

Veja a entrevista realizada durante o final de semana do Jogo das Estrelas em Franca, antes de Fischer entrar em quadra para ganhar o prêmio de MVP e superar não apenas os estrangeiros do NBB como as vaias do torcedor fanático local, perseguindo um bauruense. Isto é: o armador ainda é jovem, mas já construiu um nome, uma reputação. Veja, então, o que ele tem a dizer:

21: O Bauru faz uma grande temporada, conquistando tudo o que conquistou, mas agora parte para a fase mais difícil, decidindo a Liga das Américas e lutando pelo título do NBB. Justo agora, o time teve seu primeiro grande desfalque, com a lesão de Jefferson William? Qual o impacto dessa lesão?
Ricardo Fischer:
O impacto foi grande. Se pegasse o vídeo do jogo depois do que aconteceu, estávamos abatidos. Além de ser um grande jogador, é um amigo nosso, que a gente sabe que, numa fase final do NBB, chegando aos playoffs, e também com o Final Four do NBB, acabou se machucando. É muito ruim. Para nós, vai mudar um pouco de característica. Provavelmente o Rafael vai jogar de 4, com o Murilo de 5, por ter um pouco disso. Mas a gente perde um pouco.

É a velocidade, não?
Sim, a velocidade a gente perde. Além disso, ele desafoga um pouco até como lateral. Mas ganhamos em outras coisas, como no jogo interno, principalmente com o Murilo e o Rafael jogando de costas. O Alex também provavelmente vai ter de fazer o pivô em alguma parte dos jogos. Agora vamos nos ajustando. Montaram um time para isso, para não sofrer com jogador fora. Acho que vamos estar bem.

Jefferson é baixa para o Bauru

Jefferson é baixa para o Bauru

E o Wesley Sena (pivô de 18 anos que compõe o elenco)? Ainda está muito cedo?
O Wesley… Assim, está treinando bastante com a gente, entrando nos jogos. Claro que no Final Four a gente não pode esperar muito dele. Mas na sequência, nessa fase final do NBB para os playoffs, acho que pode ajudar, sim Com certeza vai ganhar mais minutos.

Você é um armador jovem, em termos de idade, ainda que já venha acumulando boa experiência nos últimos anos. Quando você recebe as notícias de tantas contratações, de veteranos de Seleção… Então como faz para ser o líder desses caras em quadra? É uma curiosidade que sempre tenho, sobre como funciona essa dinâmica.
É engraçado, mesmo. Eu já era um líder antes de eles chegarem, e neste ano continuou. É estranho. Fui capitão, levantei o troféu da Liga Sul-Americana e, você vê, sendo um dos caçulas do time. Eles me respeitam muito. Acho que o armador tem de falar muito dentro da quadra, mesmo, e eles me escutam. Principalmente por ser o armador, com outra visão. Isso é fenomenal. Ao lado de tantas estrelas, que jogaram as Olimpíadas, Mundiais, têm vários títulos, poder ser um dos líderes, é muito bom.

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Por outro lado, imagino que, vez ou outra, no vestiário, eles podem pegar no seu pé também, né? De falar para o ‘moleque’ maneirar…
É… (Risos). Tem vezes que eles soltam o: “Calma aí”. Mas isso tudo que aconteceu foi bem natural, nada forçado. Todo mundo respeita. Pode até vir o Wesley, que é o mais novo do time, e a gente vai escutar e conversar.

E o que você ganha com esses veteranos ao seu lado? Um cara como o Alex. O que ele mais oferece no dia a dia de treinos, fora o nome, o respeito que pede dos adversários?
Cara, costumo dizer que o Alex é um monstro, mesmo. Como pessoa e como jogador ele teve um impacto gigantesco. Um cara que já ganhou tudo, já competiu em tudo, e nesses dias fez 35 anos, mas parece que tem uns 20 ainda, pelo vigor físico dele, pela vontade que tem de ganhar. Já podia ser alguém acomodado, jogando na dele, mas quer ganhar a qualquer custo. A gente aprende muito com isso, com sua experiência e também com as histórias que conta.

Na virada de uma temporada para a outra, você já via pistas, dicas de que um grande time estava sendo formado? Ou tudo isso te pegou de surpresa?
Por ser um armador, conversava muito com os diretores. E eles tinham essa ideia de trazer esses grandes reforços. Confesso que a surpresa foi o Robert Day e o Jefferson. Tínhamos já o Faber no time, que estava fechado, mas teve um problema pessoal e saiu. O Day foi uma novidade sensacional. Hoje temos um banco com Larry, Gui e outros caras que poderiam ser titulares em qualquer time. São caras que se completam, foi um time bem montado.

Quando soube queria todos esses jogadores como companheiro, as coisas mudaram para você na preparação para a temporada?
Muda bastante, porque no ano passado tinha mais protagonismo, tinha de buscar mais a cesta e ao mesmo tempo fazer o time jogar. Não preciso mais ir tanto para a cesta, agressivo como no ano passado. Preciso fazer mais que eles joguem. Acho que está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo. Entendo qual a mudança que precisava ter. Para este ano, também trabalhei muito fisicamente.

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Esse tipo de sacrifício é o que seria pedido para cada jogador, mesmo, com tantas contratações. Isso foi conversado com vocês antes de a temporada começar?
Foi tudo muito natural, mesmo, e acho que por isso que nosso time está tão bem. Todos os jogadores sabem que, para ganhar, precisariam abrir mão de algumas coisas. Todos entenderam isso, e não temos vaidade nenhuma, mesmo, por mais que algumas pessoas até nem acreditem. Se vou sair para o Larry entrar, estou dando o lugar para um grande jogador. Todos se respeitam, isso é a chave.

O favoritismo incomoda? A partir do momento que Bauru juntou este elenco, o nível de expectativa ficou altíssimo. Aí o time ganha o Paulista, ganha a Sul-Americana e lidera o NBB. Ao mesmo tempo, enquanto vai cumprindo com isso, cada resultado positivo, imagino, só faz crescer do outro lado, não?
Vem mais pressão. E isso vem, mesmo, desde o momento em que começamos a treinar. Todo mundo querendo saber como vai ser esse time, se vai ganhar. Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando. Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.

Sobre o estilo da equipe, de buscar muito o chute de três pontos. Sabemos que esse é um ponto discutido no basquete brasileiro há muito tempo. Talvez nem tanto o volume, mas a seleção de arremessos. De qualquer forma, lá fora, há uma tendência que isso cresça, mesmo. Para o Bauru, era esse o plano desde o início?
Acho que foi pensado, mas também teve o encaixe natural. Tem jogo em que chutamos 40 bolas, mas com um aproveitamento bom. A característica dos jogadores é essa. A gente não pode tirar. O que a gente conversa bastante é que, depois de estudar o jogo, vemos que alguns arremessos estão sendo forçados. Então a gente pode jogar mais interno, mas é uma característica que não dá para perder. O Rafael, por exemplo, é um jogador 5, que joga muito bem de costas, mas é um cara que faz corta-luz e pode abrir para o arremesso. O Alex pode jogar dentro e aberto também. Temos muitas armas. A gente procura trabalhar para liberar o arremessador, deixá-lo livre para matar.

Para fechar, queria perguntar como você está se sentindo na sua curva de aprendizado. No que pensa em melhorar daqui para a frente.
Tenho mais três anos de contrato, mas com cláusula para que eventualmente possa sair para a Europa ou para a NBA. Só no Brasil que não. O aprendizado foi esse de saber abrir mão do meu jogo ofensivo em prol da equipe. E fisicamente, mesmo. Na Seleção, acabei me machucando no Sul-Americano. E me foquei este ano no físico. Se voltar para a Seleção, para o Pan de Toronto, quero estar bem. É um trabalho em cima de resistência e força. Não sou um cara alto para a armação, então preciso ser veloz e forte. São coisas que eu percebi que precisava trabalhar, e neste ano já melhorei muito, mas ainda tem muito mais para ganhar, com um trabalho específico, com uma nutricionista e um preparador físico em Bauru, que trabalham sozinhos comigo.

E os planos para o futuro? Pensa em jogar na Europa, fora do país?
Penso, sim, em ir para a Europa. Ir para uma Espanha, jogar a Euroliga, acho que é o sonho de qualquer um. Mas estou feliz em Bauru, tenho esses três anos de contrato, assim como o resto do time. Então não precisa criar expectativas. O que tiver de acontecer, vai acontecer.


20 votos para o Jogo das Estrelas do NBB 2015
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Giancarlo Giampietro

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

A assessoria de comunicação da Liga Nacional de Basquete cometeu a loucura de me estender um convite para participar da votação para o Jogo das Estrelas do NBB7, que vai ser disputado entre os dias 6 e 7 de março, com sede ainda para ser anunciada.

Ao menos essa responsabilidade foi divida entre diversos companheiros de imprensa, assim como os técnicos – e seus assistentes –, capitães e (!) árbitros envolvidos com a competição, além de outras “personalidades” da modalidade. Cada um dos eleitores teve a chance de escolher dez nomes para o time brasileiro e outros dez para a equipe estrangeira. Você precisa dividir cada grupo entre titulares e reservas, e os votos dedicados aos titulares ganham peso maior.  Essa é uma novidade no processo que, creio, ajuda a diminuir a chance de injustiças.

Mas, prepare-se, elas podem acontecer. Veja a repercussão, na NBA, para a exclusão de um enfezado Damian Lillard, que não conseguiu nem mesmo a 13ª vaga e foi ao Instagram protestar, lembrando que havia sido ignorado por torcedores, técnicos e até pelo comissário Adam Silver. Ele merecia a vaga de Kevin Durant? Para mim, sim, levando em conta o fato de que o ala de OKC perdeu metade da temporada norte-americana.

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Esse tipo de polêmica certamente vai aparecer aqui neste espaço, agora que abro minhas 20 escolhas. Inevitável. Mas boa parte das discussões depende de quais critérios cada um vai adotar para escolher sua seleção. Pesa mais o sucesso da equipe ou o rendimento individual de cada atleta? Na dúvida, preferi a solução mais fácil: dosar um pouco de cada caminho. Privilegiei os destaques das melhores campanhas, mas também tentei abrir espaço para caras que estejam numa ótima temporada, ainda que seus clubes decepcionem. Só procurei pensar apenas no que acontece neste ano, e, não, ignorando o conjunto da obra – se o cara é o cestinha histórico do NBB, se é medalhista olímpico, se já passou pela NBA etc.

Mais: você vai segmentar, estratificar os jogadores por posição? Na planilha encaminhada pela LNB, era preciso escolher um armador, dois alas e dois pivôs. Esses conceitos são todos meio relativos, não? Pegue um time como Limeira, uma das gratas notícias do campeonato. Nezinho, Ronald Ramon e Deryk estão revezando constantemente, dividindo a quadra, escoltados pelo gatilho de David Jackson, do jeito que o Paulo Murilo pregou sempre em seu Basquete Brasil – e quando dirigiu o Saldanha da Gama. Tentei ir um pouco além da nomenclatura clássica.

Vamos aos votos do VinteUm, então, seguidos por breves explicações. Os quintetos titulares vão ser escolhidos pelos torcedores:

NBB – Brasil
Titulares
Nezinho (Limeira)
Alex Garcia (Bauru)
Marquinhos (Flamengo)
Jefferson William (Bauru)
Rafael Hettsheimeir

Reservas
Coelho (Minas)
Leo Meindl (Franca)
Giovannoni (Brasília)
Gerson (Mogi das Cruzes)
Caio Torres (reservas)

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

O desafio aqui foi evitar de escalar todo o elenco do Bauru, né? Tendo apenas 10 vagas em cada seleção, achei o mais correta a distribuição entre mais clubes, impondo um limite de três atletas para cada agremiação. E aí Ricardo Fischer acabou sendo sacrificado, em detrimento de seus companheiros bauruenses escalados entre os titulares (Alex segue influenciando o jogo dos dois lados da quadra, resistindo ao tempo, Jefferson William é fundamental no sistema de Guerrinha por sua mobilidade e poder de execução, além de um bem-vindo nível de atividade na briga por rebotes e na defesa, e Rafael Hettsheimeir, ainda que deveras enamorado pelo chute de fora, vem sendo bastante produtivo em seu retorno ao país). Nezinho assume a vaga de Fischer, sendo um dos líderes do Limeira, pontuando com muito mais eficiência do que na temporada passada, ainda que frequente menos a linha de lance livre. Para completar, Marquinhos, que ainda não recuperou o ritmo de seu sensacional NBB5, mas tem números que igualam ou superam sua última campanha, em menos minutos, e ainda é um pesadelo para qualquer defesa nacional conter. O Flamengo também não tem sido o mesmo, mas, da mesma forma, continua sendo um time de respeito

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

No banco, o jovem Coelho merece reconhecimento: ganhou autonomia em Belo Horizonte e respondeu muito bem, obrigado. Em termos de produção, é o jogador mais eficiente de sua posição entre os brasileiros, com 14,59 por jogo, mais que o dobro de sua carreira – e o mais interessante pode melhorar muito ainda como um armador forte, veloz e agressivo. Confesso: foi uma dúvida brutal optar entre ele e Nezinho na vaga de titular, mas pesou a maior propensão ao passe e o recorde da equipe do veterano. Leo Meindl vem numa curva ascendente em sua carreira, ajudando o Franca a se manter entre os seis primeiros, a despeito dos problemas financeiros. Talvez não no ritmo esperado, mas está subindo enquanto se distancia de uma complicada lesão no joelho. Seu arremesso de três pontos o abandonou nesse campeonato, e talvez fosse mais interessante que ele usasse sua habilidade no drible e o jogo de média distância para buscar a cesta. Giovannoni faz uma temporada que o colocaria na discussão para MVP, mas o fato de o Brasília ser a grande decepção da temporada impede que isso aconteça.  Foi cruel deixar Lucas Cipolini fora, mas não havia como eleger dois atletas do time candango, a despeito de seu ótimo rendimento estatístico. No garrafão, temos então o jovem e hiperatlético Gérson, que faz Mogi crescer cada vez que vai para quadra com seu energia e dedicação extrema, e Caio Torres, em boa forma, vai fazendo a melhor temporada de sua carreira nos rebotes e como referência interior do time que menos arremessa de três no campeonato. Entre ele e Rafael, a dúvida também é grande. Seus números são superiores, mas o bauruense divide a bola com mais gente. A campanha abaixo de 50% do São José também não ajuda.

NBB – Mundo
Titulares
Jamaal Smith (Macaé)
David Jackson (Limeira)
Marcos Mata (Franca)
Tyrone Curnell (Mogi das Cruzes)
Jerome Meyinsse (Flamengo)

Reservas
Kenny Dawkins (Paulistano)
Ronald Ramón (Limeira)
Jimmy Baxter (São José)
Shamell (Mogi das Cruzes)
Steven Toyloy (Palmeiras)

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

A posição de armador estrangeiro, gente, é a mais concorrida de todo o campeonato. Não encontrei lugar aqui para Caleb Brown, limitado a apenas oito jogos em Uberlândia devido a dores lombares), para o jogo clássico do baixinho Maxi Stanic, do Palmeiras, e nem para Nícolas Laprovíttola, que anda muito inconstante. David Jackson, creio, é uma unanimidade como um arremessador letal de todos os cantos da quadra. Já Mata e Tyrone servem como influência mais que positiva para os jovens companheiros devido ao tino para cuidar de pequenas coisas e a conduta exemplar em quadra. Curiosamente, de tanto fundamento que tem, o argentino vira uma arma ofensiva em quadras brasileiras, assim como aconteceu com seu compatriota Frederico Kammerichs. Curnell pode não ser o jogaodor mais refinado, mas seu vigor físico e seu empenho contagiam. Quando faz dupla com Gérson, é melhor sair da frente – uma dupla que representa bem a identidade vibrante do Mogi. Meyinsse é hoje o pivô mais completo em atividade no país, dosando força física e agilidade acima da média.

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Ramón ganha uma vaga pela consistência que dá ao trio de armadores de Limeira, clube cujo rendimento pede também três indicados. Seus números caíram em quantidade, mas subiram em qualidade, ocupando uma vaga que, em nome e números poderia ser do jovem Desmond Holloway. O Paulistano, porém, insere o explosivo Dawkins no quinteto reserva, mesmo que não repita a química obtida no campeonato passado. Baxter tem números inferiores aos de Robbie Collum (em menos minutos também), uma figura importante para o Minas, mas se sobressai pela postura defensiva. Shamell tem passado bem menos a bola, mas ainda se sustenta como um cestinha decisivo nas quadras brasileiras, enquanto Steven Toyloy voltou a ser uma rocha no garrafão depois de um ano em que foi subaproveitado pelo Pinheiros, levando um Palmeiras a uma honrosa sétima posição.
Estão aí. Se for para xingar, que seja com educação, tá?


A conquista sul-americana de Bauru em números
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Giancarlo Giampietro

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Vamos com um apanhado estatístico do primeiro título continental da história de Bauru, que arrasou Mogi das Cruzes na final da #LSB2014 nesta quinta-feira, para termos uma ideia do quanto os caras sobraram nessa campanha:

281 – Os arremessos de três pontos em oito jornadas, com média assustadora de 35,1 por jogo. O aproveitamento foi de 38,1%. Para comparar, eles tentaram 23 chutes de fora a mais do que as bolas dentro do perímetro, zona em que tiveram aproveitamento de 62%. Em lances livres, foram 134 no geral, média de 16,7 por jogo.

169 – O saldo de pontos de Bauru no torneio, com média impressionante de 21,12 por partida. Avassalador. A maior diferença foi estabelecida na semifinal contra o Malvin, do Uruguai: 46 pontos. O jogo mais ‘apertado’? Triunfo sobre Brasília na abertura da segunda fase, com 95 a 87. Se for para contar apenas o Final Four, Bauru venceu os últimos dois jogos por uma média de 36 pontos. Para comparar, o vice-campeão Mogi terminou a competição com 40 pontos de saldo.

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

164 – O total de assistências da equipe em toda a campanha, em média superior a 20 por jogo. Excelente: 61,4% de suas cestas de quadra foram assistidas. Isso sem contar os passes que resultam em faltas e lances livres.

93,5 – A impressionante média de pontos por jogo. Apenas em uma ocasião o time ficou abaixo dos 80 pontos: na decisão contra Mogi, na qual também fez sua melhor defesa, limitando o adversário a 53 pontos. Mogi teve média de 78,3 pontos.

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

70,2% – Quando jogou perto da cesta, Rafael Hettsheimeir foi um terror para os adversários, matando 33 de 47 bolas de dois pontos. Em arremessos exteriores, ficou num 33,3% que não impressiona (12/36), mesmo sendo ele um pivô. Jefferson foi outro grandalhão que, no fim, não teve uma média tão boa assim lá fora: 32,7% (18/55).

57 – Os valiosos minutos recebidos pelo jovem pivô Wesley Sena, se aproveitando das sacoladas que sua equipe dava para entrar na festa. O promissor pivô tem apenas 18 anos e disputou sua primeira competição internacional adulta. Somou 25 pontos e sete rebotes, convertendo 10 de 19 arremessos (52,6%), com 1/3 de longa distância. O armador Carioca, de 21 anos, extremamente atlético, mas enfezado demais, ficou em quadra por 36 minutos.

56,9% – O aproveitamento de Robert Day em chutes de três no torneio. O gringo contemplado pelo Bolsa Atleta e que nada tem a declarar a respeito foi o único que, entre os que tiveram maior volume de jogo, superou sua pontaria de dois pontos com os pombos sem asa  (56,9% x 53,8%).

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

32 – Um jogador do calibre de Murilo disputou apenas 32 minutos no torneio, ainda limitado por problemas no joelho. Em cinco partidas no geral, ele marcou só 9 pontos, com… três arremessos de longa distância, em três tentativas. Fora isso, foram três arremessos de dois, todos errados.

5 – Todos os cinco titulares na maior parte da campanha terminaram com média de pontos superior a 10 por jogo. De cima para baixo: Robert Day (16,6), Rafael Hettsheimeir (16,5), Alex (13,3), Jefferson William (11,0) e Ricardo Fischer (10,8). Larry Taylor, que integrou o quinteto inicial na decisão contra Mogi, no lugar de seu compatriota norte-americano, terminou com 9,0. Gui Deodato teve 7,8.

2 – O atlético Gui Deodato tentou duas vezes mais arremessos de três do que de dois pontos: 30 x 15. Se levarmos em conta que ele matou módicos 30% dos disparos exteriores, é uma pena, mesmo, que ele não tenha expandido seu jogo. Ainda são raras as ocasiões em que vai por a bola no chão e partir para a cesta, sem explorar sua velocidade, agilidade e impulsão. No geral, ele cobrou apenas 14 lances livres em 163 minutos.


Bauru arrasa Mogi e avança com sua missão de títulos
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Giancarlo Giampietro

Campeões sul-americanos, e o projeto não pára

Campeões sul-americanos, e o projeto não pára

Já havia alguns atletas jovens bastante chamativos em seu elenco, escoltados por americanos e um americano bauruense, o Larry, mais o Murilo. Mas isso não era o suficiente ainda. Enquanto a cidade se envolvia com a coisa, aparece um investidor disposto a colocar grana e comprar, turbinar um projeto. E, a partir do momento em que Bauru começou a por dinheiro, muito dinheiro no mercado, não havia como ignorá-los. Alex, Hettsheimeir, Robert Day,  Jefferson. Muitas contratações, a formação de um supertime.

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Tudo muito legal. Agora, como nossos exemplos da NBA demonstram, com Anderson Varejão podendo dizer uma coisa ou outra a respeito do que se passa em Cleveland agora, a montagem de um elenco estrelado, badalado não vai ser garantia de nada. Tem de ir para a quadra e justificar o tal do hype. O frisson, o burburinho. Não adianta só ter a fama, o nome. Esse fator isolado, na verdade, só atrapalha. Precisa ir para a quadra, então, e ratificar. Mostrar na prática que são os bons, os melhores.

Nesta Liga Sul-Americana 2014, Bauru não deixou dúvidas sobre qual seria o melhor clube. Na final inédita continental, os caras derrotaram Mogi das Cruzes por 79 a 53, nesta quinta-feira, para não deixar dúvidas sobre quem é a bola da vez. O primeiro tempo terminou com uma parcial de 45 a 22 já. É muito. É algo para a concorrência estudar e se precaver. Vão ter de se virar com o que vem por aí.

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

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Bauru novamente arremessou mais de três pontos do que de dois. Muito mais, na verdade. Dos 62 chutes, foram 38 de longa distância, o que vale por 61,2%. Para quem é mais purista, isso representa realmente um pesadelo. Mas há fatores complicadores, que podem complicar essas noções. No duelo com Mogi, os bauruenses arriscaram 10 tiros de fora a mais que Mogi. Ainda assim, superaram o adversário em pontos na zona pintada (22 a 20). Um empate que se pode considerar técnico, ok. Mas que, diante do volume de três pontos imposto pelo time da casa, acaba ganhando outro peso.

Em termos de lances livres, no entanto, o volume foi baixíssimo para ambos os lados: apenas 12 para Mogi e módicos 9 para Bauru. Sim, somente 21 lances livres chutados em 40 minutos, num reflexo de um jogo que priorizou a batalha externa à interna. Importante ressaltar: na onda internacional que dá bastante atenção ao jogo fora da linha perimetral, não se descarta as bolas de dois pontos. Pelo contrário: bandejas, enterradas e lances livres são muito bem-vindos por sua eficiência.

Na final, Alex mais passou que finalizou e, com 8 assistências, foi eleito MVP

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Para derrubar a artilharia de Bauru, então, os adversários estão avisados: muito provavelmente não vai adiantar competir com eles em chutinhos de três. É preciso encontrar outras alternativas ofensivas. Além, claro, da obrigação de combatê-los lá fora como prioridade absoluta . A defesa tem de estar adiantada e bem comunicativa, não pode dar brechas. Do outro lado, a agressividade tem de ser mantida, acompanhada de boa movimentação de bola, de criatividade.

Mogi claramente não conseguiu fazer nada disso na final continental e acabou derrotado de modo inconteste – nem mesmo os minutos reduzidos para Paulão e uma promoção para Thoma Gehrke, com a tentativa de ganhar mais velocidade na cobertura defensiva. Seu ataque promoveu míseras 18 cestas. De novo: foram apenas 18 cestas de quadra em 40 minutos para os visitantes, num aproveitamento de quadra de 25%. O mesmo rendimento que tiveram nos arremessos de fora. Contra Bauru, essa conta não vai fechar nunca – e aí não se pode ignorar a atividade defensiva dos adversários também.

Enfim, não houve nada que Mogi tenha tentado para reverter o curso do favoritismo de seu oponente. Pelo contrário, foi Bauru que se mexeu, com Guerrinha escalando Larry de titular, puxando Day, aquele da Bolsa-Atleta, vindo do banco. Dá muito mais pegada na defesa. E ainda há muito mais o que ser feito nesse time: Fischer e Gui têm o que aprender em fundamentos defensivos e desenvolver em movimentos complementares no ataque, para além de uma primeira bola sugerida;  o antes dominante Murilo ainda precisa esquentar o motor e deixar os problemas no joelho para trás; mesmo os mais jovens com Wesley e Carioca têm potencial para serem aproveitados.

Enquanto a turma ainda vai se ajeitando, Bauru segue em frente em sua trilha de conquistas. Depois de dois Paulistas, agora asseguraram um título sul-americano inédito, e todo o alarde causado por suas contratações vai se justificando com resultados.