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Tyrone para todo lado, e Mogi elimina campeão Brasília
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Giancarlo Giampietro

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rahttps://vinteum.blogosfera.uol.com.br/wp-admin/post.php?post=7819&action=edit#chão no parque...

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rachão no parque…

É comum aqui no blog convidar o leitor para respirar um pouco antes de se eleger o destaque de uma partida, já que a tradição nacional é correr sempre em direção ao cestinha. Na vitória do Mogi sobre o Brasília, por 92 a 70, nesta quarta-feira, para definir a classificação da equipe da casa e também do Bauru à fase final da Liga Sul-Americana, porém, isso certamente não foi necessário.

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Para quem viu o jogo, não há como apontar outra figura que não o norte-americano Tyrone Curnell, um ala-pivô que botou fogo na partida, para deixar a torcida mogiana ainda mais empolgada. É aquilo: eles animam os jogadores, mas os atletas também podem fazer sua parte neste ciclo e fazer as coisas pegarem fogo de vez.

Ao ataque, mais uma vez

Ao ataque, mais uma vez

Foi Tyrone para todo lado. Ele fez tudo o que era esportivamente possível para isso, como suas estatísticas comprovam. Mais do que os 19 pontos (mesma quantia de Filipin, quatro abaixo de Shamell), o que impressiona são os sete roubos de bola, os cinco rebotes e as cinco assistências. Foram 33 minutos de pura energia para o nova-iorquino.

Diante de um Brasília sem pernas, com rotação novamente enxuta devido aos problemas físicos, foi quase injusto o quanto o camisa 88, ex-queridinho da torcida do Palmeiras, correu e incomodou demais seus adversários. Nas suas recuperações, chegou a desarmá-los em embate frontal, mano a mano, mesmo, atacando o drible de um Guilherme Giovannoni ou de um Darington Hobson com voracidade, impulsionando o o jogo em transição. Em outras ocasiões, ele saía em disparada para evitar o contragolpe.

Na imprensa americana, eles costumam usar um termo bem legal para definir esse tipo de comportamento: “motor”. Quando o atleta se empenha tanto em quadra, tem o motor potente. Nesta quarta, Tyrone jogou com um V8 bem barulhento, arrancando com tudo mesmo em meia quadra, para apanhar rebotes ofensivos e forçar muitas faltas (nove lances livres no total foram batidos).

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rachão no parque...

No NBB, correria de Tyrone agora é de Mogi

O que não quer dizer também que ele seja o melhor dos carros, um Mustang em quadra. Tanta dedicação serve também para compensar a falta de refinamento em seu jogo. A mão esquerda é praticamente inexistente. O arremesso de longa distância tem mecânica estranha e não é dos mais confiáveis, ainda que ele esteja trabalhando em cima disso. Entre suas primeira e segunda temporadas pelo Palmeiras, subiu de 58,1% nos lances livres para 79,4% e de 27,2% nos arremessos de três para 36,9%. Em duas rodadas pelo Mogi no NBB7, tem respectivamente 80% e 50% – mas é muito cedo ainda para constatar um novo e significativo salto desses. No Paulista, por exemplo, em 14 partidas, teve 73,7% e 37,5%.

Para ficar em números do estadual, porém, o que mais chama a atenção são os 6 rebotes por jogo e as 2,14 roubadas. Que seguem, vá lá, o padrão de sua carreira no NBB: 5 e 1,5, respectivamente. Esses são dados que reforçam o estilo do americano, uma pegada que vai conquistar sua nova torcida claramente.

Essa entrega e sua capacidade atlética propiciam ao técnico Paco García também uma bem-vinda versatilidade. “Gosto muito assim”, disse ao VinteUm, durante a cerimônia de apresentação do campeonato nacional. “No ano passado, já construímos o time desta forma. Com exceção do Gustavinho, que é um armador-armador, e do Paulão, que é um cinco-cinco, o resto são todos jogadores polivalentes. O Filipin, o Tyrone, o Alemão, o Gerson e outros… São jogadores que nos dão muitas opções. Se você quer um time grande e forte, pode jogar com atletas de mais de 2,00 m. Se quer um time pequeno e rápido, dá para jogar com o Tyrone como 4. Pois cada jogo é um jogo, e você tem de se adaptar à situação. Se vai pedir mais pressão, mais posse e acho que o nosso time  pode ser forte desse jeito.”

O interessante é que, com Tyrone em quadra, num time mais baixo ou alto, o espanhol sabe que aceleração não vai faltar.

*   *   *

Shamell: e o joelho não era o que mais doía

Shamell: e o joelho não era o que mais doía

O cestinha do Mogi, de todo modo, também mereceria uma atenção especial pelo que aconteceu em quadra também além de seus 23 pontos. O veterano ex-Pinheiros deu um susto danado na torcida quando caiu em quadra com seu pé esquerdo em cima de um adversário, virando a perna num ângulo preocupante. Ficou estendido sobre o tablado por um tempinho, recebeu atendimento e saiu mancando. A equipe médica detectou uma hiperextensão no joelho, mas nada grave. Quando voltou do vestiário, o ala subiu, então, numa bicicleta, para se manter quente. Voltou a jogar no quarto período.

Já seria o suficiente para render manchetes. Aí que, ao final da partida, em entrevista ao SporTV, Shamell se mostrava bastante emocionado. Mas não tinha nada a ver com a questão médica que havia acabado de superar. Ele revelou que, na noite anterior, havia perdido seu sogro, falecido. “Fiquei com meus filhos chorando a noite toda. Mas nessas horas tem de vir para cá, jogar”, disse. No fim, o jogo era para extravasar. Com a vaga assegurada.

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Mais cedo, o Bauru venceu o Comunikt, do Equador, por 110 a 83. Foi uma partida relativamente equilibrada até o início do terceiro período, quando a equipe paulista desgarrou, assim como havia acontecido na véspera, fazendo 27 a 10. A equipe de Guerrinha apostou novamente num volume altíssimo nos arremessos de longa distância, com 37 de 69 tentativas. Novamente mais do que a metade do total (53,6%). O aproveitamento foi de 54% no geral, com 20 cestas.

O pivô Rafael Hettsheimeir marcou 34 pontos em 32 minutos, na sua melhor atuação desde que retornou da Espanha, com 13-19 (68%) nos arremessos de quadra, sendo que, nas bolas de dois pontos foi praticamente impecável, com 10-12. Todos os cinco titulares anotaram um mínimo de 12 pontos. Outro dado: para as 38 cestas de quadra bauruenses, ocorreram 31 assistências – 13 na conta de Ricardo Fischer.


NBB7 tem Flamengo favorito ao tri, mas com nova ameaça
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Giancarlo Giampietro

flamengo-2014-carioca-basquete

O NBB que começa nesta sexta-feira promete o melhor nível técnico do campeonato em sete edições. São ao todo dez atletas que disputaram a última Copa do Mundo, algumas importações de talento interessantes e jovens promissores – sim, eles ainda existem, mesmo que dependam da boa vontade de seus técnicos para jogarem. Fazer um bolão para adivinhar os quatro semifinalistas também será uma tarefa complicada, com muita gente se achando no direito de entrar nessa parada, o que é extremamente saudável. Resta saber o que todos os técnicos por trás dessas forças poderão aprontar, para fazer suas equipes se diferenciarem e subirem na tabela, tirando o máximo da técnica que tiveram à disposição.

De todo modo, em meio a essa crença de imprevisiblidade, uma tese é difícil de se evitar. Nem há muito como escondê-la: por tudo o que conquistou na última temporada – e no início desta –, o Flamengo é o grande favorito, principalmente depois que as negociações de Marquinhos com a NBA não foram adiante. Um jogador único dentro da liga nacional.

Se o time rubro-negro confirmar essa condição, chegará a um tricampeonato, repetindo o feito de seu rival Brasília, que ganhou três taças consecutivas entre 2010 e 2012. Se, para enfrentar adversários da liga norte-americana, em partidas de mais longas, o elenco de José Neto se mostrou reduzido, em cenário nacional, com os 40 minutos regulares da Fiba e uma concorrência mais justa, plantel não será um problema. Nem mesmo o tão sonhado pivô extra, que poderia ter sido JP Batista, parece necessário.

Dessa vez ele terá Vitor Benite desde o início da campanha – em vez de apenas na partida final –, ganhando  mais poder de fogo. Mas o grande chamariz, mesmo, em termos de novidade fica por conta de Walter Herrmann, que, aos 35 anos, tem muito o que render em quadra:

Demais, né? É o tipo de lance que você não cansa de rever. De tão sofisticado que foi o movimento, a cada reprise pode-se reparar em um novo detalhe: nada como fazer da bola de basquete uma bolinha de tênis. Herrmann, Marquinhos e Olivinha formam um trio de atletas intercambiáveis, que podem exercer múltiplas funções, entregando um pacote de características diversas que facilitam muito qualquer riscado de prancheta. A linha de frente é complementada pelo excelente Jerome Meyinsse, que comprovou contra Maccabi e NBA que não é só forte e atlético para os padrões sul-americanos, e Cristiano Felício, que já provou merecer seus minutos em sua turnê pelos EUA.

Não fica só nisso. Nícolas Laprovíttola é o melhor armador em atividade no país hoje, com um arsenal de fintas para entrar no garrafão quando bem entender. O que facilita a conexão com Olivinha, Herrmann, Meyinsse e Felício e, ao mesmo tempo, abre espaço para os chutes de fora de seus companheiros. Se o argentino maneirar um pouco no ímpeto e desistir dessa ideia de chutes de três em movimento, a partir do drible, sua eficiência vai decolar, impulsionando toda a equipe. Sim, há sempre detalhes para corrigir e o que melhorar, mesmo para os campeões. Mesmo para um time com o luxo de contar com um Gegê em constante evolução, saindo do banco. Enfim, um esquadrão, que deve imprimir um estilo de jogo agressivo, de velocidade e combativa defesa.

Uma nova ameaça
O Fla tem três quatro (1, 2, 3, 4) jogadores que disputaram a última Copa do Mundo. O único clube que repete essa marca é justamente aquele que, em teoria, desponta como a maior ameaça ao seu reinado: o Bauru. Campeã nacional em 2002, com os veteranos Raul, Vanderlei e Josuel, um emergente Leandrinho e os adolescentes Marquinhos e Murilo, a cidade só se viu entre os quatro melhores do NBB na edição retrasada, quando terminou em terceiro lugar.

Rafael e Larry, dois selecionáveis

Rafael e Larry, dois selecionáveis em Bauru

Para esta sétima edição, porém, a equipe do interior paulista foi a que mais se reforçou. Num projeto bastante ambicioso, a diretoria entregou a Guerrinha quatro grandes nomes: Alex, Rafael Hettsheimeir, Jefferson William e Robert Day, que se juntam a um núcleo já bastante forte.  As contratações do veterano Alex, que aos 34 ainda tem um vigor físico assustador, e de Hettsheimeir são as que chamam mais a atenção, e não necessariamente pela grife de seleção brasileira. Tirar o ala-armador de Brasília foi uma surpresa, um negócio que causa impacto em duas equipes de ponta de uma vez. Já o pivô passou os últimos nove anos na Espanha, estava em clubes de ponta do campeonato nacional mais forte da Europa e que poucos imaginavam que poderia voltar aos 28. Pois ele queria faz tempo, como revelou ao VinteUm.

O Bauru tem todas as peças que precisa para montar um ataque poderosíssimo. São três pivôs versáteis com Murilo, Hettsheimeir e Jefferson. Larry Taylor e Ricardo Fischer dividem a armação. Guilherme Deodato, o americano Day e Alex rodam nas alas. Esperem trovejadas de três pontos aqui. Constam também os caçulas Wesley Sena (se conseguir bater Thiago Mathias, já será ótimo sinal), Carioca (um tanque em direção ao aro), Vezaro e Gabriel para completar a rotação. As interrogações ficam por conta do joelho de Murilo, que vem dando trabalho, e da consistência defensiva de um time que é baixo no perímetro e vai depender de muita pressão em cima da bola para se proteger – algo que Alex, Larry, Fischer e Gui podem muito bem fazer.

É um plantel mais volumoso e com mais apelo que o do velho candidato Brasília, que tem José Vidal novamente na beirada da quadra. Giovannoni é um sério candidato ao prêmio de MVP do ano, agora com ainda mais responsabilidades ofensivas, enquanto Arthur vai correr ao redor das defesas, se desmarcar e converter seus chutes. Fúlvio é o tipo de armador que vai satisfazê-los em sua sede de pontos. Para a equipe candanga voltar ao top 4, porém, dois pontos são importantes: que o americano Darington Hobson se encaixe e se adapte – já ouvi por aí que ele tem um senso de grandeza um pouco desproporcional ao que produz… – e que Ronald e Isaac esteja prontos para carregar uma carga maior. A defesa vai depender muito dos três.

Mais que o CV
Esses são evidentemente os times mais estrelados da competição. Considerando a divisão de títulos bipolar dos seis primeiros campeonatos, sabemos que isso tende a fazer diferença por estas bandas. Por outro lado, a lista de vice-campeões nos permite pensar, sim, em mais candidatos, ou surpresas. Não é que Flamengo e Brasília tenham chegado a todas as decisões. Nos últimos quatro anos, a equipe derrotada foi diferente.

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano, segundo colocado do ano passado, fez por merecer o respeito de todos e também mantém seu núcleo, com um elenco bastante homogêneo em que os americanos Kenny Dawkins e Desmond Holloway carregam a pontuação e uma série de companheiros os ajudam com defesa, movimentação de bola e espaçamento. Para este ano, chegaram o experiente Fernando Penna (um jogador de que gosto, mas que não sei bem o quanto era necessário num elenco que já tinha o jovem Arthur Pecos para ajudar Dawkins e Manteiguinha) e o americano DeVon Hardin, um gigante extremamente atlético que chega para substituir um Rafael Mineiro, que foi para o São José. O pivô havia feito ótimo campeonato na temporada passada patrulhando o garrafão, ocupando espaços na defesa. Para isso, Hardin, que já foi selecionado no Draft da NBA de 2008, vai ter de mostrar que é muito mais que um campeão de enterradas. E, sim, Fabrício Melo poderia estar aqui, mas acabou dispensado por questões extraquadra. Gustavo de Conti vai tentar fazer dessa turma uma nova encrenca para os adversários.

E, se for para falar em surpresa, não há como ignorar o que o Mogi das Cruzes também balançou o NBB6. Honestamente, talvez nem mesmo o técnico Paco Garcia esperasse que sua equipe poderia alcançar a semifinal e endurecer contra o Flamengo numa série melhor-de-cinco. O problema do sucesso é o desmonte. Quatro de seus atletas migraram para o próximo clube dessa lista. Em contrapartida, chegaram caras de ponta como Shamell e Paulão, além do ala Tyrone Curnell, referência do Palmeiras no campeonato passado, do armador Elinho e do jovem pivô Gerson Espírito Santo, formado em Colorado State. O Mogi pode manter a pegada de  um garrafão pesado, massacrante que o levou  longe, mas também conta hoje com mais alternativas para acelerar o jogo. Tantas trocas, porém, pedem tempo para o acerto. O que não deve mudar é o apoio de sua torcida. Lá o mando de quadra faz realmente diferença.

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Também semifinalista, mesmo numa temporada conturbada em que contou com três técnicos, o São José é outro que tem algumas caras novas para entrosar. E pior: algumas delas chegando de última hora, perdendo a fase de preparação, a ponto de faltar contingente para o técnico Zanon – recém-egresso do Mundial feminino, diga-se – realizar coletivos. Além disso, Caio Torres vem sofrendo com uma tendinite no joelhor direito. A contratação de Mineiro ganha relevância por isso. Valtinho é quem assume a direção agora – Manny Quezada, o homem dos 50 pontos, foi embora. Nas alas, Betinho vai ter a companhia de dois americanos: Andre Laws, que está de volta (e nem dá para entender por que havia sido liberado), e Jimmy Baxter, mais um que vem da Argentina.

Agora vai?
O continente paulista, aliás, talvez chegue com sua maior força ao campeonato nacional, desde que ele passou a ser organizado pela LNB. O estado, maior polo produtor do país, ainda não conquistou o título do NBB, tendo de se contentar com três vice-campeonatos, quatro terceiros lugares e três quatro lugares. Tem mais gente querendo entrar nessa briga.

O Pinheiros estoca as revelações mais tentadoras do basquete brasileiro, com o novato Georginho chegando para a festa, mas tem na contratação do técnico Marcel de Souza seu ponto mais intrigante, que promete algo de diferente no plano tático, encerrando seu exílio. A receita na montagem do elenco é semelhante à de seu rival da capital: nomes não muito badalados, mas com bons jogadores em quantidade (são quatro armadores que pedem tempo de quadra, por exemplo: os irmãos Smith, Paulinho e Jéfferson Campos, sem contar Humberto). Subestimem o quanto quiserem um trator como Marcus Vinícius Toledo, que isso não costuma sair bem. Os resultados recentes do time, campeão da Liga das Américas 2013, também o credenciam.

De volta ao interior, armadores também não faltam a Limeira, agora com Nezinho ao lado de Ronald Ramon e Deryk. A presença de um cestinha como David Jackson e de Rafael Mineiro, Teichmann e Fiorotto também encoraja muito. E quanto a Franca? O time da capital basqueteira dosa, entre seus protagonistas, a cancha de Helinho, que está de volta para trabalhar, veja só, com Lula Ferreira, e dos argentinos Juan Figueroa e estreante Marcos Mata (candidato a MVP?) dois alguns prospectos para a seleção brasileira como Leo Meindl e Lucas Mariano – mas talvez que talvez só sejam aproveitados com maior frequência no outro ciclo olímpico, a julgar pelo progresso deles e o conservadorismo de Rubén Magnano. A rotação, porém, é enxuta.

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

São todos ótimos times, com muito potencial para ser explorado por seus treinadores. Depois do que Paulistano, São José e Mogi fizeram no NBB6, cada um ao seu modo, com trilhas diferentes, está claro que o equilíbrio da competição permite diversos desdobramentos. O maior orçamento, os nomes mais consagrados…  Essas coisas talvez não importem mais. Vai pesar o melhor trabalho de quadra, mesmo.

No Rio, pensando nisso, o Flamengo tem algo que costuma fazer a diferença no basquete: química e continuidade, como o Spurs demonstra na NBA. No caso do gigante carioca, a diferença é que, em seu elenco, estão muitos dos melhores jogadores da liga também. Uma combinação dura de derrubar.


Hettsheimeir exclusivo: “Não pensei duas vezes ao acertar com Bauru”
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Giancarlo Giampietro

Hettsheimeir em ação pela Sul-Americana, em vitória sobre o Brasília. Outro cenário

Hettsheimeir, em vitória sobre o Brasília. Outro cenário. Crédito das fotos: Henrique Costa/Paschoalotto/Bauru

Quando Rafael Hettsheimeir deixou o basquete brasileiro, o campeonato nacional ainda era (?) organizado pela CBB de Gerasime Bozikis, tendo Vanderlei Mazzuchini, hoje diretor da confederação, como seu segundo cestinha, atrás de Marcelinho Machado. Foi antes da ruptura de 2006, que gerou primeiro a Nossa Liga de basquete, depois outra competição paralela que acabou sendo só uma versão estendida do Paulistão e, por fim, no advento da Liga Nacional de Basquete, que colocou a casa em ordem. Faz tempo.

Seu Ribeirão Preto de 2005 não tinha mais Alex Garcia, que estava tentando a sorte na NBA, mas ainda seguia liderado pela dupla Nezinho-Renato, acompanhando também por Murilo e outros jovens como Douglas (aposentado precocemente, uma pena) e dois espigões que viriam a ser conhecidos como “Rafael Mineiro” – um no Limeira, o outro no Paulistano, de estilos completamente diferentes.

Nove anos depois, todos vividos na Espanha, o pivô está de volta ao interior paulista, agora em Bauru – a 213 km de Ribeirão e a 193 km de sua cidade natal, Araçatuba. Ele integra mais um plantel de respeito, combinando também estrelas nacionais (Murilo entre elas) e revelações promissoras, cheio de ambição. “O elenco desta temporada para brigar pelos títulos dos campeonatos que formos disputar. O elenco já está se adaptando às novas peças e o entrosamento vem com tempo de quadra. Nossos objetivos sãos os títulos”, afirma o jogador ao VinteUm, em entrevista por email.

Henrique Costa/Paschoalotto/Bauru

Na duríssima semifinal do Paulista contra Franca, em que o time ficou perto da eliminação, mas virou o jogo

Aos 28, após jogar a Euroliga por Real Madrid e Unicaja Málaga, Hettsheimeir é hoje um dos veteranos sob o comando de Guerrinha e um três atletas da seleção brasileira de Rubén Magnano em Bauru, ao lado de Alex, outro grande reforço, e Larry Taylor. Eles voltaram da Copa do Mundo para ajudar a equipe a voltar à final do escondido Campeonato Paulista, que começa a ser disputada nesta segunda-feira, contra o Limeira, em série melhor-de-cinco. É o primeiro troféu que vão buscar. Depois, vêm o NBB e a Liga Sul-Americana, pela qual já venceu seu primeiro quadrangular, semana passada, em casa.

Confira abaixo o que o pivô pensa a respeito da pressão que o clube vai enfrentar na temporada e sua crescente predisposição aos chutes de longa distância, além do cenário nacional que ele reencontra, o que o motivou a deixar a Espanha.

21: Como tem sido o retorno ao basquete brasileiro, depois de tanto tempo no espanhol? Encontrou um cenário diferente, após nove anos?
Rafael Hettsheimeir: Com certeza, o cenário é outro. O basquete brasileiro está mais organizado, os times estão mais competitivos e com jogadores de fora que trazem na bagagem experiência para contribuir com essa evolução.

O que mais o motivou a voltar?
Há dois anos eu pensava em voltar para o Brasil para ficar mais próximo da família. Quando recebi a proposta de Bauru, não pensei duas vezes. Uma equipe competitiva com ótimos jogadores e uma cidade próxima de onde minha família mora.

Nas últimas duas temporadas, você integrou o elenco de dois times de ponta na Espanha. Desnecessário falar sobre a qualidade que o Real Madrid tinha, por exemplo. No final, acabou não tendo muito tempo de quadra? Foi uma combinação de lesões, timing e forte concorrência? Com foi lidar com esse tipo de situação?
No Real Madrid tive a infelicidade de chegar lesionado. Na ocasião o campeonato já estava em andamento e não consegui acompanhar o ritmo, por conta de uma lesão de longo tempo de recuperação, aproximadamente sete meses. A mesma situação de lesão se repetiu no Málaga. Quase no meio do Campeonato tive uma lesão na panturrilha e fiquei três meses parado. Quando voltei, já era fase final e é difícil reintegrar a equipe em jogos decisivos em que eu estava sem ritmo.

Henrique Costa/Paschoalotto/Bauru

Rafael e o jogo interior: ideia é dosar com o tiro de fora, cada vez mais presente em suas atuações

Do que viu em quadra do Bauru, neste processo de adaptação depois da Copa, qual acredita ser o potencial da equipe? Após o Paulista, pensar em título do NBB e da Liga Sul-Americana já é uma meta? Até por ter três jogadores da seleção e jovens de muito valor, o time desperta muita expectativa para este ano. Como lidar com essa pressão?
O elenco desta temporada do Paschoalotto/Bauru foi montado para defender o título paulista, pelo qual estamos lutando na final, e para brigar pelos títulos dos campeonatos que formos disputar. O elenco já está se adaptando às novas peças e o entrosamento vem com tempo de quadra. Nosso objetivo sãos os títulos. A pressão faz parte da vida de um atleta de alto nível, temos que saber lidar com isso e não deixar influenciar dentro de quadra.

Nos últimos anos, fica evidente seu trabalho nos arremessos de longa distância. Hoje, o quão confiante você se sente neste fundamento? No plano tático do Bauru, acha que será algo mais preponderante do que o jogo interior? Ou a idéia é dosar?
A ideia é dosar e vai com a leitura do jogo. Um cinco que arremessa de fora não é tão comum, então isso pode ajudar o time em uma situação de jogo, além de me ajudar a abrir o jogo.

Henrique Costa/Paschoalotto/Bauru

Rafael e Larry, dois selecionáveis

Nesse sentido, a dupla com Murilo parece integrante: ele também gosta de jogar de frente para a cesta, com bom chute e corte. O que você espera dessa parceria?
Tanto o Murilo como o Jefferson têm a capacidade abrir o jogo, além do chute de fora, que é uma arma fundamental, já que dependendo da situação podemos ter cinco jogadores em quadra com capacidade de arremesso. Para o time, isso mostra que um revezamento com o banco mantém a proposta do nosso jogo.

Entre os mais jovens do time, um deles, imagino, estará sempre praticando mais com você, pela posição: o Wesley Sena. Do que já viu nos treinos, o que pode nos contar sobre seu potencial? Te impressionou? Quais suas principais qualidades hoje?
O Wesley é um jogador novo e com um grande potencial. É forte fisicamente e tem talento. Acredito que nesta idade, poder estar treinando com jogadores com larga experiência, como o Alex e o Murilo, por exemplo, vai agrega muito conhecimento para o futuro e o basquete dele.

Para fechar: o plano é ficar por um bom tempo no basquete brasileiro? Ou é uma decisão que pretende encarar a cada temporada?
Eu voltei agora e estou perto da minha família. Agora o plano é esse, defender as cores do Bauru e estar próximo da minha família. Então estou muito feliz com essa combinação.


Em movimento intrigante, Brasília contrata ala ex-NBA
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Giancarlo Giampietro

Hobson, em rara aparição pelo Milwaukee Bucks. Agora no cerrado

Hobson, em rara aparição pelo Milwaukee Bucks. Agora no cerrado

É difícil redigir manchetes, sabia? Ou títulos. Elas são a mesma coisa, basicamente, mas “manchete” carrega muito mais peso do que “título”, como o pai dos burros – o  atencioso pai de todos nós– conta. “Manchete é o título principal numa edição de jornal” e pode vir “em caracteres grandes, como título de uma notícia sensacional”, na descrição do Michaelis.

Esse aqui de cima vale como título, no qual para muita gente deve se destacar o “ex-NBA”. Que é um tanto sacana, admito, uma vez que o ala americano Darington Hobson, contratado no final de semana pelo Brasília, disputou apenas cinco jogos pela grande liga. Cinco jogos? Ex-NBA? Sensacionalismo na certa. Pois é. Mas convido o amigo e corajoso leitor a embarcar comigo se concentrar mais na primeira parte da frase, no tal do “movimento integrante”. Mais genérico, mas que nos ajuda a contar melhor essa história.

São dois pontos a nos intrigar, na verdade.

Primeiro que Hobson é um jogador muito talentoso, que vai completar 27 anos daqui a uma semana, e que tem tudo para causar um grande impacto em quadras brasileiras por um time de ponta;

Herrmann, uma contratação excepcional para o mercado brasileiro

Herrmann, uma contratação excepcional para o mercado brasileiro

Segundo que, mesmo que tenha ficado muito tempo em quadra  pela NBA, isso ninguém vai lhe tirar de seu currículo, e ainda é muito difícil encontrar alguém com essa grife jogando por essas bandas. De qualquer forma, não é necessariamente o carimbo que importa mais nessa transação. O que pesa mais é o simples fato de os clubes do mercado brasileiro parecerem um pouco mais antenados do que o habitual. Em vez de ficar apenas com a rebarba da rebarba, temos visto algumas contratações um pouco mais relevantes em cenário internacional, que exigiram a atenção de veículos especializados lá fora.

A repatriação de Rafael Hettsheimeir pelo Bauru pode não ser a melhor notícia para os fãs do pivô brasileiro, que talvez esperassem um pouco mais dele, mas é excelente para Bauru e a liga nacional. Mais relevante ainda é a chegada de um craque como Walter Herrmann ao Flamengo – outro ex-NBA, mas que definitivamente tem muito mais em seu histórico profissional a apresentar do que a passagem de três anos pelos Estados Unidos. Campeão olímpico, MVP na Espanha, um baita jogador, ainda que em fase final de carreira. O mesmo Fla que parece ter acertado também no fim de semana a contratação de Derrick Caracter, pivô ex-Lakers (sobre a qual falaremos mais nesta semana, esperando a oficialização, já com a ressalva de que Caracter só disputaria a Copa Intercontinental contra o Maccabi e os amistosos nos Estados Unidos).

Enfim, são quatro contratações que têm muito mais representatividade no mercado da bola (ao cesto). Entre elas, falemos agora um pouco mais sobre a de Hobson, que chega para reforçar consideravelmente a rotação perimetral do Brasília. É preciso ver com qual mentalidade o americano chega ao cerrado. Se chega com perspectiva de dominar (esfomear, leia-se), se está animado, ou o quê. Nunca se sabe. Se for o mesmo Darington de sempre, deve contribuir com algumas características muito interessantes.

Vindo do modesto nível do Junior Colleges, Hobson entrou no radar da NBA durante sua temporada de junior, pela Universidade de New Mexico, em 2009-10. Os Lobos, como são conhecidos, se tornaram O Time da conferência Mountain West nos últimos anos, deixando San Diego State (de Kawhi Leonard) e BYU (Jimmer, Baby, Luiz Lemes e Tavernari) para trás. Têm presença constante nos mata-matas da NCAA, mas com pouco sucesso nacional.

Hobson enterra: não sei bem o quanto de "show" o americano pode entregar no NBB, mas é de se esperar um talento acima da média para o Brasília

Hobson enterra: não sei bem o quanto de “show” o americano pode entregar no NBB, mas é de se esperar um talento acima da média para o Brasília, para tornar a equipe mais coesa

Em sua campanha com a equipe, o ala se tornou o primeiro jogador da história a liderá-la em pontos (15,9), rebotes (9,3) e assistências (4,6). O que já nos conta muito sobre a versatilidade deste atleta canhoto de 2,01 m de altura e corpo lânguido. Ganhou o prêmio de destaque da MWC, um estrondo, ainda mais se considerarmos que foi sua primeira temporada em um campeonato decente, por um time de ponta.

Hobson pode pontuar de diversas maneiras – chute de fora, partindo para a cesta, ainda que de forma errática. Mas, creio, seu diferencial esteja realmente em sua visão de quadra e em seu potencial como “homem de ligação” num quinteto, fazendo de tudo um pouco para tornar um time uma unidade mais coesa. Mantendo esse perfil, é alguém que poderá assessorar, e muito, o armador Fúlvio na organização ofensiva – os chutadores Arthur e Giovannoni devem gostar. Segue aqui, em inglês, um scout de seus tempos de universitário, cortesia do DraftExpress.

Em 2010, Hobson foi escolhido na posição 37 do Draft, pelo Milwaukee Bucks, aos 22. Sua cotação chegou a ser mais alta, mas uma insistente lesão na virilha o atrapalhou bastante no processo de recrutamento. as mesmas dores que o impediram de disputar a liga de verão de Las Vegas pelo clube. Depois de fazer um exame detalhado, os médicos do Bucks descobriram que o jogador, na real, tinha um desalinhamento nos quadris. Acabou passando por duas cirurgias e ficou fora de toda a temporada, tendo seu contrato rescindido. Esse é um fator decisivo para entendermos sua condição de “ex-NBA”.

A franquia do Winsconsin ainda foi leal ao jovem em que apostou. Uma vez recuperado das operações, preparou em 2011 um novo contrato, de dois anos, por US$ 1,4 milhões, mas parcialmente garantido. O ala, porém, só ficou no time até fevereiro de 2012, sem conseguir mostrar muito – foi nesse período que aconteceram suas cinco partidas pela liga, com resultados pouco satisfatórios em uma situação obviamente pouco favorável. Para constar, seus concorrentes por tempo de quadra eram Stephen Jackson, Carlos Delfino, Shaun Livingston e Tobias Harris.

Dispensado, foi batalhar na D-League. Naquela temporada, jogou pelo Fort Wayne Mad Ants – sério concorrente do Rio Grande Valley Vipers como nome mais absurdo de franquia norte-americana. Depois, em 2012-2013, foi companheiro de Scott Machado no Santa Cruz Warriors, pelo qual teve médias de 9,2 pontos, 5,7 rebotes e 4,3 assistências – de novo a versatilidade dando as caras. No ano passado, em busca de melhor pagamento, o americano topou jogar fora do país pela primeira vez, defendendo o Hapoel Migdal Haemek, da segunda divisão israelense, com médias de 15,4 pontos, 10,5 rebotes e 3,3 assistências em 12 jogos. Antes de mais nada, não riam: “segunda divisão israelense” não parece tão ruim quanto parece. Estamos falando de um país pequeno, mas de forte estrutura e competitividade interna bas-que-te-bo-lís-ti-ca.

Agora, aparece Brasília na vida do americano, que, em seu contrato, tem cláusulas que o liberariam para a NBA ou para a Europa, caso apareça alguma proposta que considere mais valiosa. Se no início de carreira como profissional, seus problemas físicos foram sérios o suficiente para abalar suas pretensões, no NBB, agora em forma, Hobson tem o necessário para se destacar, com um estilo que está longe de ser explosivo, mas bastante fluído. É daqueles jogadores que faz o basquete parecer fácil – como no caso de Marquinhos, por exemplo. Alguém que pode ajudar o Brasília a lutar novamente pelo títulos. Títulos que, aí, sim, renderiam manchetes.

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Curiosidade sobre o Draft de 2010 da NBA, que só reforça o quão brutal é a concorrência para ter essa sigla em seu currículo. Dos 30 atletas selecionados na segunda rodada daquele ano, apenas dois estão na liga no momento com contratos garantidos. Dois! Os felizardos são o inigualável Lance Stephenson, agora do Charlotte Hornets, e o já moribundo Landry Fields, que cumpre seu último ano de vínculo com o Toronto Raptors, quase fora do baralho, mas um cara decente, que pode dar uma força a Bruno Caboclo nos treinos.De resto, temos o pivô Jarvis Varnado no Philadelphia 76ers, sempre  à mercê dos planos mirabolantes do gerente geral Sam Hinkie.

Outros dois jogadores estariam nos Estados Unidos se quisessem e seus clubes europeus permitissem: o pivô alemão Tibor Pleiss, hoje do Barcelona, cujos direitos pertencem ao Oklahoma City Thunder, e o ala-pivô sérvio Nemanja Bjelica, do Fenerbahçe, destaque pela Copa do Mundo, vinculado ao Minnesota Timberwolves. São dois caras bem pagos na Europa, mas que logo, logo devem cruzar o Atlântico. Da mesma safra de estrangeiros selecionados? Paulão Prestes, também pelo Wolves.

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Se não estou deixando passar alguém, o NBB 7 vai começar no dia 31 de outubro com quatro jogadores que com experiência na NBA, em partidas oficiais. Alex, Marquinhos e Herrmann fazem companhia a Hobson. Fica pendente uma quinta vaga para Rafael “Baby” Araújo, caso feche mais um contrato.

Outros atletas que já passaram por lá e cá, com uma bela ajuda da turma no Twitter: Leandrinho, o armador Jamison Brewer, ex-Pinheiros e Pacers, o pirado Rashad McCants, aposta ex-Timberwolves totalmente furada do Uberlândia, o ala-armador Jeff Trepagnier, ex-Liga Sorocabana e Nuggets, e os alas Eddie Basden, que até que se deu bem em Franca, Bernard Robinson, ex-Minas e Basquete Cearense, e Chris Jefferies, ex-Raptors e Minas.

Destes, McCants era o mais talentoso e gabaritado, sem dúvida, mas a dor-de-cabeça que ele causa fora e dentro de quadra o tornam proibitivo. Comparando com seus antecessores, Hobson seria, então, o mais promissor dos americanos importados.

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De jogadores draftados, mas que não chegaram a disputar partidas oficiais pela NBA, que tenham dado as caras por aqui, temos Paulão e o pivô DeVon Hardin, ex-Basquete Cearense.

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O caminho inverso, saindo do NBB para a NBA, apenas dois fizeram: Leandrinho, saindo do Flamengo e do Pinheiros, em curtos pit-stops, e Caboclo, esse, sim, a grande história.


Brasil x Argentina: o clássico em números
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Giancarlo Giampietro

Neste domingo, tem Brasil x Argentina pela Copa do Mundo de basquete (17h no horário de Brasília). Acho que vocês já sabem, né? Seguem então alguns links relacionados ao jogo e, logo abaixo, um apanhado de números da história recente dos confrontos:

161 – minutos Luis Scola passou em quadra nas primeiras cinco rodadas do campeonato (32,2). Foi o quinto que mais jogou, atrás de Andray Blatche (Filipinas), Gorgui Dieng (Senegal), Bojan Bogdanovic (Croácia) e Samad Nikkah Bahrami (Irã).

116 – já Leandrinho foi aquele que ficou menos tempo sentado no banco brasileiro, com 116 minutos (23,2) de ação, apenas 63ª maior média do torneio.

77,7% – é o aproveitamento da Argentina contra o Brasil com Luis Scola em quadra, em nove jogos desde o Mundial 2002. Foram sete vitórias (Mundial 2002, Copa América 2003, 2 na Copa América 2007, Mundial 2010, Copa América 2011 e Olimpíadas 2012) e duas derrotas (Copa América 2009 e 2011).

Huertas, efetivado como titular com Moncho, numa rara vitória sobre Argentina de Scola (2009)

Huertas, efetivado como titular com Moncho, numa rara vitória sobre Argentina de Scola (2009)

37 – no Mundial da Turquia 2010, Scola arrebentou a defesa brasileira com 37 pontos, numa atuação verdadeiramente histórica (recorde individual de seu país no torneio). Sabe quantos minutos ele descansou na ocasião? Um. Apanhou ainda nove rebotes, deu três assistências e matou 14 de seus 20 arremessos, para um aproveitamento absurdo de 70%.

Hettsheimeir brilhou em 2011. Pivô é o segundo mais jovem da seleção hoje aos 28 anos

Hettsheimeir brilhou em 2011. Pivô é o segundo mais jovem da seleção hoje aos 28 anos

31 – anos é a idade média do elenco brasileiro, o mais velho do torneio. Apenas três de seus atletas estão abaixo dos 30 (Raulzinho, o caçula, com 22, Hettsheimeir, 28, e Splitter, 29). A média de idade argentina é de 28 anos, com sete atletas abaixo dos 39 (o mais jovem é o pivô Matías Bortolín, de 21 anos, que jogou apenas quatro minutos no torneio até aqui).

21,6 – A média de pontos de Scola neste Mundial. É o cestinha argentino e também o cestinha entre os atletas que ainda estão vivos na disputa por pódio. José Juan Barea, estrela de Porto Rico, anotou 22 pontos por jogo na 1ª fase, mas já está eliminado.

19 – os pontos de Rafael Hettsheimeir na última vitória brasileira no clássico, em Mar del Plata 2011, uma atuação marcante e surpreendente, em 22 minutos. Na atual Copa do Mundo, o pivô perdeu espaço na rotação e anotou só 13 pontos no total, em 59 minutos. Huertas anotou 17 pontos naquele jogo, seguido pelos 14 de Marquinhos e outros 13 de Giovannoni.

18 – maior pontuador do Brasil na primeira fase, com 13,6 em média, Leandrinho foi apenas o 18º na lista de anotadores da fase de grupos, numa prova de um ataque dissipado para a seleção – não há concentração nas mãos de um só atleta.

Splitter tinha apenas 17 anos em 2002, para seu primeiro Brasil x Argentina. Jogou 2 minutos

Splitter tinha apenas 17 anos em 2002, para seu primeiro Brasil x Argentina. Jogou 2 minutos

10 – atletas das seleções jogam ou já jogaram partidas oficiais na NBA: seis brasileiros (Alex, Marquinhos, Leandrinho, Varejão, Splitter e Nenê) e quatro argentinos (Nocioni, Herrmann, Scola e Prigioni). O armador Raulzinho já foi draftado no ano passado pelo Utah Jazz.

9 – jogadores vão disputar a próxima temporada do NBB: Alex, Marcelinho, Marquinhos, Hettsheimeir, Larry, Giovannoni, Herrmann, Laprovíttola e Marcos Mata. O Flamengo tem quatro deles, enquanto o Bauru aparece com três.

8 – o primeiro confronto de mata-mata entre as duas gerações aconteceu no Mundial de 2002, Indianápolis, pelas quartas de final. E não é que, 12 anos depois, oito atletas que estiveram em quadra naquele dia 5 de setembro estão listados para o jogo deste domingo? Diz muito sobre a (falta de) renovação de ambos os times. Pela Argentina, Luis Scola, Andrés Nocioni e Leo Gutiérrez. Pelo Brasil, uma penca: Alex, Marcelinho, Anderson Varejão, Splitter e Giovannoni. Se Leandrinho tivesse saído do banco, seriam nove. O cestinha brasileiro naquela ocasião é hoje diretor de seleções da CBB: Vanderlei Mazzuchini (20 pontos).l

4,5 – a média de pontos das vitórias argentinas nos últimos dois confrontos entre as seleções.

4 – por quatro temporadas, Scola e Splitter foram companheiros de clube, no Saski Baskonia, da Liga ACB. São amigos de longa data. Juntos, ganharam a Copa do Rei em duas ocasiões (2004 e 2006). Já o armador Pablo Prigioni acompanhou o pivô catarinense por seis temporadas.

3 – a Argentina ocupa a terceira posição no Ranking da Fiba vigente. O Brasil aparece em décimo.

 


O fator Hettsheimeir nos três pontos
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Giancarlo Giampietro

O fato novo nos amistosos da seleção brasileira rumo ao Mundial de basquete é a versão gatilho-de-três de Rafael Hettsheimeir. O pivô, que primeiro teve de disputar o Sul-Americano para, depois, garantir sua vaga na seleção principal, se transformou aparentemente no principal arremessador de três pontos de Rubén Magnano.

Quer dizer, pelo menos em oito jogos-teste.

É uma amostra muito pequena de partidas para ficar plenamente empolgado e eleger um novo Dirk Nowitzki. O que temos, por certo, é um jogador completamente confiante, se posicionando aberto na maior parte do tempo em que está na quadra, flutuando no perímetro, pronto para fazer o disparo.

Marcelinho Machado mostra para Hettsheimeir aonde receber o passe. : )

Marcelinho Machado mostra para Hettsheimeir aonde receber o passe. : )

Não se configura uma aberração, todavia.

Rafael vem realmente trabalhando esse fundamento, e não é de agora. Basta dar uma espiada em seus números desde que migrou para a Europa, para constatarmos que este elemento faz parte de seu repertório. Já tinha, vejam, um volume alto de tentativas sete anos atrás. Dependendo do clube por onde passou, a quantia pode ter variado, mas estavam lá os arremessos.

Numa já longínqua temporada de 2005-06 pelo CB Vic, egresso do Ribeirão Preto, o brasileiro começava sua longa trajetória Espanha, na LEB 2 (hoje LEB plata, terceira divisão  do país), com 29 arremessos de três em 25 partidas. Média de 1,16 por jogo e aproveitamento de 37,9%. No ano seguinte, com mesmo clube e mesma competição, foram 79 arremessos em 43 partidas (média de 1,83 e 35,4%).

O bom rendimento (geral) pelo clube catalão lhe valeu uma promoção. Subiu um degrau para disputar a LEB oro (segundona), defendendo o CE Lleida em 2007-08. Aparentemente, seu treinador de então, Eduard Torres, não gostava muito dessa ideia de pivô aberto – ou precisava do brasileiro no poste baixo, mesmo. Em 36 rodadas, ele tentou apenas sete chutes de fora. Não demorou, contudo, para que ganhasse o sinal verde novamente: 42 tentativas em 36 compromissos, mas com um aproveitamento bem baixo (23,8%).

O Lleida foi rebaixado para a quarta divisão espanhola, a EBA, por conta de problemas financeiros, e Hettsheimeir escapou dessa ao acertar com o Zaragoza, matendo-se na LEB. De todo modo, já significava mais um salto, uma vez que se tratava de um clube mais relevante. É verdade que a equipe havia acabado de cair. Porém, sempre foi mais habituada a jogar na elite espanhola, para a qual já voltariam em 2010-11.

O pivô, porém, sofreu uma lesão e ficou fora de ação por meses. Quando voltou, teve sorte: acabou cedido por empréstimo por um mês para o Obradoiro, pelo qual faria sua estreia na Liga ACB. Disputou 11 jogos pelo time (que hoje conta com Rafael Luz) em fevereiro. Foi muito bem, mas atuando nas cercanias da tabela. No ano seguinte, novamente pelo Zaragoza, já estava na Liga ACB em tempo integral, e também foi mais contido no perímetro, com dez arremessos em 34 jogos. Em geral, foram dois anos em que o tiro de fora esteve em segundo plano.

Hettsheimeir nos tempos de Zaragoza: grande fase

Hettsheimeir nos tempos de Zaragoza: grande fase

Foi ao final deste campeonato, aliás, que ele mostraria seu cartão de visitas para Luis Scola – e a boa parte da audiência brasileira também – no Pré-Olímpico de Mar del Plata. Turbinado depois de uma ótima Copa América, voltou para a Espanha para fazer a melhor temporada de sua carreira. Estava novamente assanhado no perímetro, tendo praticado bastante nas férias, ainda que não tenha apresentado um bom rendimento imediato: 56 arremessos em 33 jogos (1,69 por jogo e 33,9%). Acabou, também, sofrendo uma lesão no joelho, que lhe tiraria das Olimpíadas.  De qualquer forma, receberia sondagens da NBA e acertaria com o Real Madrid.

Hettsheimeir jogou no Real e no Unicaja Málaga nos últimos dois anos. Dois clubes de ponta da Europa, no qual infelizmente não teve muito tempo de quadra. Aí é uma situação difícil: qualquer arremessador precisa de ritmo, confiança e, claro, alguém que lhe passe a bola para produzir. Batalhando por um espaço na rotação, o brasileiro ainda tentou marcar presença como um pivô aberto, mas sem muito sucesso. No total, contando jogos de Euroliga e ACB, arriscou 107 arremessos de fora em 69 jogos (1,55 por jogo e 32%).

Na hora de processar tantos números, como em qualquer esporte, é preciso encarar o contexto. Cada equipe funciona de um modo diferente, tanto na tática quanto na combinação dos diversos talentos de cada elenco. Há uma referência interna que vá chamar uma dobra e abrir a quadra para o chute? O armador é um fominha? O time joga em transição, apostando nos arremessos rápidos e equilibrados, não importando de qual ponto da quadra saia? Etc. Etc. Etc.

O que vemos, de qualquer forma, é que Hettsheimeir invariavelmente procurou pontuar do perímetro, tentando fazer disso um diferencial em seu jogo. Vale destacar que, na Europa, o stretch 4 (ou 5) – o pivô aberto – já é utilizado há tempos. O objetivo primário desse movimento é espaçar a quadra, em vez de ficar com dois cones parados nos arredores do garrafão, congestionando o setor. Isto, claro, se o seu time não tiver um ataque inventivo, dinâmico, com boa movimentação fora da bola. Tipo o Brasil de Magnano.

Pelos últimos trabalhos com a seleção brasileira, está claro que o argentino vê muito valor num pivô que possa chutar de fora. Depois de anos e anos escalado basicamente como um lateral, Guilherme Giovannoni foi, enfim, aproveitado na seleção desta forma no último Mundial e em Londres 2012. No ano passado, depois de um período de treinos com sua supervisão e muito incentivo, Lucas Mariano desandou a arriscar de três pontos na Universíade – com resultados desastrosos, mas que melhorariam na sequência da temporada pelo Franca, pelo qual mandou ver 3,8 arremessos no último NBB, com 35,1% de acerto.

Agora temos Hettsheimeir cumprindo essa função tática. Algo que não aconteceu no ano passado durante a desastrosa Copa América e que tampouco vimos durante o Sul-Americano de julho na Venezuela. A diferença é que, nesses dois torneios, sem a cavalaria da NBA, ele era, na real, a principal esperança de pontuação interna da seleção. Ao lado de um Splitter ou de um Nenê em forma, vira opção secundária. E bem afastado da cesta. Veja só uma coleta de seus dados como arremessador nos oito amistosos que o Brasil fez até aqui:

Hettsheimeir: amistosos de 2014

Do jogo para o México em diante, Hettsheimeir não hesitou, hein? Se descontarmos os três primeiros amistosos, foram em média cinco arremessos de três por jogo, com sucesso, pelo que podemos ver. Levando em conta, porém, os números de sua carreira, é razoável ponderar se esse rendimento é sustentável. De novo: são poucos jogos para julgarmos o pivô como o maior chutador da paróquia. Não quer dizer que ele não possa fazer. Afinal, ele está fazendo. Também não significa que ele não possa melhorar de um ano para o outro. Pode, sim, ainda mais se estiver trabalhando tão duro conforme o relatado – sem contar o fato de que houve uma mudança no posicionamento de seus chutes em relação ao que vi nas últimas duas Euroligas: muito mais na zona morta do que frontal à cesta (menor distância, maior probabilidade de acerto). Só não sei se é prudente esperar que ele vá produzir desta maneira. Se mantiver o ritmo, Magnano tem uma belíssima arma ao seu dispor. Na seleção, a consequência pode ser uma possível redução drástica no uso de Giovannoni, que torceu o tornozelo e pode ter perdido seus minutos nessa. Acontece.

A fotinho de Hettsheimeir vai ser distribuída de vestiário em vestiário se o volume de três pontos seguir elevado desta maneira

A fotinho de Hettsheimeir vai ser distribuída de vestiário em vestiário se o volume de três pontos seguir elevado desta maneira

Por outro lado, durante uma competição, o estudo de cada seleção começa a se intensificar. Se Hettsheimeir virar bola cantada, como vai reagir? Contra a Lituânia, ele acertou três tiros de três consecutivos no primeiro tempo. No segundo, os marcadores correram desesperados em sua direção para desencorajá-lo. Em algumas situações, teve paciência para fazer o passe e ver o ataque brasileiro aproveitar um corredor aberto (causa e efeito). Mas também desafiou as contestações e errou três de seus próximos quatro chutes. Obviamente que seu aproveitamento é muito maior quando está com os dois pés plantados e com espaço para projetar a bola. Sabemos também que ele não é um dos pivôs mais ágeis ou explosivos, com dificuldade para por a bola no chão e executar em movimento, em progressão.

Qualquer jogador que acerte acima de 40% nos disparos de fora já tem de ser vigiado. Agora, se isso vem de um pivô, a defesa adversária vai ter um problemão para resolver.  Por exemplo: como fará suas coberturas no pick-and-roll? Se você puxa alguém do lado contrário para fazer frente ao mergulho de Splitter, vai pagar pra ver e deixar Hettsheimeir livre da zona morta? Se um de seus pivôs tiver de sair para contestá-lo longe do aro, como fica o rebote? Se o pivô e seus companheiros girarem a bola, sua rotação está coordenada para perseguir cada oponente, sem quebras? Os técnicos são obrigados a fazer cálculos e tomar decisões desagradáveis.

Pensando nesse tipo de desequilíbrio, a NBA abraçou essa tendência europeia e a transformou em uma coqueluche que agora ganha evidência na seleção brasileira. Rafael batalhou para ganhar esse status e terá um grande palco para mostrar o quão refinada está realmente sua habilidade. Em Bauru, a torcida assiste com um conflito de interesses. Dependendo da resposta que grandão der, pode ser que eles nem o vejam usar a camisa do time nesta temporada.


A 11ª vitória seguida da Lituânia. E uma dúvida sobre o Brasil
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Giancarlo Giampietro

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Por 18 minutos, o Brasil foi soberano em quadra com sua defesa, mas também aproveitando bem seus ataques. Restando precisamente 1min57s no cronômetro do primeiro tempo, o time vencia por 38 a 21, numa exibição verdadeiramente impressionante contra uma fortíssima Lituânia. Um rival que havia vencido seus dez primeiros amistosos rumo ao Mundial.

Acontece que, dali para a frente, os vice-campeões europeus foram paulatinamente entrando no jogo. Do instante em que Tiago Splitter anotou dois pontos em uma bandeja em diante, os caras venceram por 43 a 23 e chegaram a uma poderosa marca de 11 vitórias em 11 partidas-teste. Foi 64 a 61 o placar final.

São só amistosos, é verdade. Mas vá falar isso para os lituanos. Com 100% de aproveitamento – tendo batido Austrália, Eslovênia, Grécia e Finlândia (duas vezes) –, caminham para lá de confiantes em suas possibilidades.

Para a seleção de Magnano?

Há o que se pensar, sem poder tirar muitas conclusões. Sinto dizer.

Essa derrota poderia muito bem entrar na lista daquelas do “como” – em “Como diabos eles perderam (também) esse jogo?!”, numa pergunta já um tanto disseminada por estas bandas.

Seria uma conclusão fácil, mas um tanto precipitada.

Antes de se concentrar no que se passou em quadra, é preciso entender que a Lituânia deve aparecer acima do Brasil em cada oito ou nove listas de favoritos ao pódio desta Copa do Mundo. Na minha está, e isso apenas quer dizer que é uma seleção forte pacas, com uma rotação robusta, cheia de gente que atua nas grandes ligas europeias há muito, muito tempo, com extensa rodagem experiência e fundamentos excelentes.

Além do mais, não foi um jogo típico da fase do bumba-meu-boi brasileiro, com altos e baixos alternados a cada cinco minutos. Não sei se serve de consolo, mas o Brasil teve nesta quinta 18 grandes minutos e outros 22 não muito bons, mas sem oscilações dentro desses períodos.

Então o que acontece, para levar uma virada dessas?

Acredito que ela ocorreu por dois motivos (fora o fato de eles, do “1 ao 11” – ou, do 4 a 15, pra ficar na numeração Fiba, são tecnicamente superiores):

1) sinceramente, parece que a Lituânia foi pega de modo desprevenido pela intensidade do Brasil na primeira etapa. Não quer dizer que estavam de corpo mole. Mas talvez não estivessem exatamente preparados para o adversário. E aí a gente pode ir longe também: os jogadores brasileiros não são nada desconhecidos. A base é a mesma de Londres 2012. E foram os rapazes tupiniquins que tiveram de viajar para a Europa, se adaptando ao fuso. Então que história é essa de ser pego de calça curta? São pontos todos válidos. Mas, bem, por outro lado, se tratava de um amistoso, né? Neste caso, para um time que já disputara dez partidas – o dobro de seu adversário. Poderiam não estar cansados, mas talvez relaxados? E que talvez nem conheçam tão bem assim, em detalhes, o funcionamento da seleção nacional, embora saibam muito bem como um Tiago Splitter, por exemplo, gosta de atuar? Enfim, foi essa minha impressão. Que, após o intervalo, eles entraram prontos para responder – e conseguiram.

2) O próprio conceito de amistosos e fase de testes em si: até que comecem os jogos para valer, você nunca sabe ao certo quem está escondendo cartas e, ao mesmo tempo, experimentando, ou não. Acreditar nesse tipo de situação também depende de algumas questões levantadas acima: o quanto times tão em evidência como Brasil e Lituânia têm para esconder? Uma ou outra jogada marota? Propostas inteiras de jogo? Não sei bem. Mas o Brasil, por exemplo, não acelerou muito seu ataque em transição, mesmo sendo um time mais veloz em basicamente todas os confrontos particulares, de jogador com jogador. Além disso, Magnano em nenhum momento do segundo tempo repetiu a formação que havia dado mais certo no segundo quarto, justamente quando sua equipe abriu larga vantagem. Ao passo que, do outro lado, a Lituânia também só colocou um quinteto efetivamente fortíssimo nos chutes de três pontos, com Simas Jasaitis, Jonas Maciulis e Ksystof Lavrinovic (ou “Lavrinovic-K”, daqui para a frente) no terceiro quarto – e, vejam só, foi quando cortaram a diferença para mais da metade. Mesmo que as bombas não tenham vindo, eles já representavam uma ameaça a ponto de espaçar a defesa interior brasileira.

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Do ponto de vista brasileiro, é uma dúvida que já julgo crucial. O técnico segue rodando bastante seus atletas, com diversas combinações aplicadas no decorrer dos quatro períodos. Não chega a ser absurdo, pois ainda vivem uma fase preliminar. Mas, por tudo que já li e ouvi sobre construção de rotações, um time geralmente responde com muito mais eficiência quando os atletas passam a saber exatamente seu papel em quadra, o que se espera deles. Da mesma forma que a repetição dos exercícios, da prática desenvolve melhor coesão, entrosamento entre eles, para, aí, sim, se transformarem em unidades. Com o rodízio intenso, vamos atingir esse ponto? Estaria o argentino confiante o bastante com o resultado dos treinos para mexer, mexer, e mexer mais um pouco sem o temor de perder consistência?

Contra a Lituânia, Magnano começou com Huertas, Leandro, Alex, Nenê e Splitter. Aos poucos, foi inserindo os reservas, para iniciar o segundo período com aquela que seria a segunda “unidade”, formada por Raul, Larry, Machado, Hettsheimeir e Varejão. Talvez seja esse o esboço de rotação que vá ser oficializado no Mundial, com a perspectiva de uma troca entre Marquinhos e Machado. Nesse sexto jogo, Marcus foi o último reserva a entrar em quadra. Giovannoni ficou fora o tempo todo.

Fato é que, no segundo tempo, Marquinhos já começava ao lado de Huertas, Leandro, Hettsheimeir e Splitter, num misto do que havia sido utilizado até então. Larry, que havia jogado tão bem o segundo período, foi chamado de volta apenas a quatro minutos do fim. Machado nem foi mais acionado. Isso quer dizer que o comandante ainda está avaliando as suas possibilidades? Provavelmente. Mas não custa lembrar: restam apenas dois amistosos antes do Mundial. E, de tanto que já trabalhou com esse núcleo desde que assinou com a CBB, é de se perguntar o que falta para firmar terreno? O temor: que, na verdade, o padrão no Mundial será não ter padrão, um problema (ao menos aqui na base 21, lê-se como “problema”, sim) que já ocorreu em outras campanhas.

Obviamente você não vai ser rígido ao extremo com seu elenco. Cada adversário pede, ou no mínimo sugere ajustes. Você desenvolve um plano tático, tenta se impor com ele, mas precisa ter jogo de cintura para se adaptar. Agora, esperava mesmo ver um pouco mais de estabilidade nessa perna europeia de amistosos. Perder um jogo não é o fim do mundo, ainda que o time agora tenha 50% de aproveitamento em seis testes. Jogar de igual para igual com a Lituânia é bom sinal, na verdade. Dependendo da sua expectativa – e de quais são os planos concretos de Magnano.

* * *

Esse quinteto (?) reserva do qual Larry fez parte executou uma defesa que foi de deixar qualquer um orgulhoso – mesmo com alguém lento como Machado na formação. Compensa aqui a agilidade e inteligência de um pivô como Varejão, para fazer as dobras e recompor e a explosão física de Larry, que entrou em quadra ligado no 220 V. Mesmo Hettsheimeir movimentou seus pés como raramente se vê, bloqueando armadores que vinham em sua direção, desviando vários passes. A porta estava fechada na cara dos lituanos, que demoraram 4min26s para anotarem os três primeiros pontos na parcial, com um chute de te Maciulis. Esses seguiram os três únicos pontos até a marca de 18min03s. No geral, a parcial foi vencida por 16 a 7.

* * *

Um parêntese sobre Machado, contudo. E, sim, vai parecer um contrasenso, uma vez que ele esteve em quadra no melhor momento da seleção. Mas… há de se tomar cuidado com a forma como ele será usado. No reencontro com algum chapa de Zalgiris Kaunas, não demorou um minuto para que ele fosse atacado no mano a mano por Maciulis, com o lituano usando sua força física para dominar o veterano brasileiro de costas para a cesta, sofrendo a falta para dois lances livres. Foi automático. De modo que ficou difícil de entender porque esse tipo de movimento não foi repetido. Talvez tenha a ver com pressão que Larry colocou em cima da bola e o pandemônio de sempre que Varejão apronta. De qualquer forma, o que temos é o seguinte: contra times que façam bem seu scout, o ala tende a ser atacado. Seja por oponentes mais altos/fortes ou mais baixos/rápidos. Se ele não estiver convertendo as bolinhas de fora (0/3 desta feita…), imagino que será muito difícil mantê-lo em quadra com o jogo valendo classificação.

* * *

Sobre Rafael Hettsheimeir: ele foi o cestinha brasileiro, com 14 pontos em 21 minutos. Depois da badalada exibição contra os Estados Unidos, ele repetiu a dose na Eslovênia ao acertar 4 de seus 7 disparos do perímetro, incluindo os três primeiros. Foi com essas bombas de três, consecutivas, que o Brasil saiu de um placar de 19 a 18 com 9min18s de jogo para 28 a 18 com 11min20s. O oponente não estava realmente pronto para lidar com isso. O assunto já ganhou proporção que pede um texto próprio a respeito. Mas registre-se que, no segundo tempo, os lituanos cuidaram para que o pivô não lhes causasse mais tantos estragos.

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Leandrinho, entrando em forma

Leandrinho, entrando em forma

Os números de Leandrinho não saltam aos olhos: 6 pontos (com 2/7 nos arremessos), 3 assistências, 3 rebotes, 1 roubo de bola. Ainda mais em 25min33s, sendo o brasileiro que mais ficou em quadra neste amistoso. Mas o ala-armador fez uma boa partida, colocando sua capacidade atlética a serviço da defesa, sendo bastante competitivo, recuperando bolas eventualmente perdidas e tudo o mais que leva um time adiante.

*  *  *

Um lance em especial do segundo período chamou a atenção no ataque brasileiro: Huertas driblava pela zona morta, na direita. Marquinhos cortou em parábola por baixo da cesta, rente ao fundo da quadra e recebeu um passe por trás das costas do armador. Em vez de girar com a bola e partir para o chutinho usual – e a munheca deve ter coçado… –, o ala teve paciência e visão de jogo para ver Anderson, cortando no garrafão, completamente livre. Dois pontos para o pivô, que abriria 15 no marcador (36 a 21), num momento em que o adversário parecia grogue em quadra. Foi o tipo de jogada que evidencia a importância dos deslocamentos sem a bola que tanto se cobra no time.

*  *  *

Por falar em Huertas… O condutor da seleção fez mais uma partida fraca, no mínimo. Já chegamos a um estágio que é para se preocupar? O titular do Barcelona hoje somou, em 25 minutos, 4 pontos, 4 assistências e 4 desperdícios de posse de bola e a pior marca no saldo de cestas da seleção: 11 pontos negativos. Mais do que os números, chamou a atenção seu desempenho um tanto aerado. De seus quatro turnovers, três foram cometidos de forma incrível, com o experiente atleta saltando com a bola sem ter um destino claro (não sabia bem se passava ou arremessava, entregando-a nas mãos dos adversários). O terceiro erro dessa linha foi no quarto período, em momento crucial. Chegou a reclamar da arbitragem, mas sem muita convicção. Estranho, bem estranho.

* * *

A arbitragem, aliás, foi bastante confusa e, vamos lá, nada mesquinha. Interferiu demais no andamento de um amistoso, apitando 44 faltas. Quem levou a pior nessa foi Splitter, o melhor jogador brasileiro e o único a ficar pendurado com cinco infrações. Em 18 minutos, o catarinense terminou com 11 pontos, 6 rebotes e 2 assistências.


Perguntas e respostas após o Sul-Americano
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Giancarlo Giampietro

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

É só um Sul-Americano, né? Serve para nada.

É o que a gente gosta de dizer. Como se o basquete brasileiro estivesse plenamente estabelecido como potência mundial e qualquer torneio pudesse ser tratado com desdém. (Desdém por parte da crítica, claro, e não dos jogadores que lá estiveram.)

O que não dá mais. Não quando a seleção masculina vem de quatro derrotas em quatro partidas pela Copa América. Desfalcada de seus atletas de NBA, é verdade, mas enfrentando adversários igualmente avariados. E dirigida por um campeão olímpico, não se esqueçam.

Daí que sempre tem muito o que ser discutido. Como de fato acontece após mais uma campanha frustrante em quadras venezuelanas, agora tendo de se contentar com um terceiro lugar. Melhor que terminar em penúltimo? Sim, melhor. Mas perder de Equador, Peru, Paraguai ou Chile é algo que, por ora, parece impensável, mesmo. Porque, por maior que seja a pindaíba, ela ainda tem limite.

De modo que o que temos é o seguinte: independentemente de quem estava em quadra, a seleção brasileira perdeu seis partidas consecutivas até se safar na última segunda-feira ao bater o Uruguai para conquistar um honroso lugar no pódio e uma ainda mais fogosa vaga no próximo Pan-Americano. Que vai ser disputado em… (responda sem consultar o Google, por favor).

Seis? Sim, meia dúzia, mesmo: as quatro da vexatória e inesquecível Copa América do ano passado, mais duas este ano, contra Argentina e Venezuela. Mais duas derrotas que suscitam algumas perguntas. No fim de semana, por exemplo, pouco antes de começar no Domingo Maior na Globo, as redes sociais basqueteiras estavam novamente borbulhando.

Depois de dois jogos parelhos, eram duas derrotas para o time de José Neto, nos primeiros jogos que contavam para alguma coisa de fato. Foram duas derrotas com dinâmicas parecidas: altos e baixos no placar, e a virada tomada no quarto final.

Antes de a seleção principal entrar em quadra nesta quinta, ficam listadas algumas dessas encafifações. É como se fossem mais chutes de três  brasileiros equivocados, com a bola atirada para o alto, esperando uma cesta milagrosa:

– O que significa hoje o Campeonato Sul-Americano?
Olha, a competição já teve seus dias mais charmosos, mas faz tempo que não vê equipes competindo com força máxima. Aqui, do fundo da caixola, vou me lembrar do torneio de 2001, no Chile, quando o Brasil ainda estava se habituando com nomes como “Anderson Varejão” e “Nenê”, dois pivôs cheios de potencial encarando uma Argentina um pouco mais experiente, mas ainda jovem, com caras como Luis Scola, ainda sem muito cabelo, em quadra. Torneio transmitido pela ESPN por aqui, que incitava a gente devido aos novos prospectos. Em 2004, estava eu perdido em Campos de Goytacazes para ver o emergente Carlos Delfino e o espetacular Walter Herrmann barbarizarem contra Lula Ferreira e os melhores do Nacional de basquete na final. Acho que foi a saideira.

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

– A chance de ver alguém de elite no campeonato acabou, mesmo?
Bom, se por elite formos entender “NBA”, a coisa muda de figura se o campeonato for disputado na Venezuela. Aí o Greivis Vasquez, armador do Raptors e provável mentor de Bruno Caboclo e Lucas Bebê na próxima temporada, joga. Pega bem com o governo, as autoridades, o marketing pessoal. Aliás, melhor jogar uma competição com TV, torcida e tudo mais, do que ficar afundado numa rede qualquer de um resort caribenho, nénão? Agora, se você tiver a cabeça mais aberta e pensar em atletas de Euroliga e Liga ACB também como de ponta – o que é um conceito obrigatório aqui neste espaço –, então no Brasil estávamos bem representados por jovens atletas, mas com boa rodagem na Espanha.

– OK. Se é um campeonato esvaziado, qual o sentido então de entrar num Sul-Americano preocupado em vencer?
Há muita gente que defende a tese de que a competição não tem peso algum e que pode ser utilizada para experimentações, mesmo, para dar cancha aos jogadores mais jovens do país. Confesso que gosto dessa ideia, sim. Desde que tenhamos um time competitivo o bastante para lutar pelo título. Não adiantaria muito pegar a molecada juvenil do Pinheiros, vesti-los de Brasil e atirá-los em quadra. Tomam cacetadas e aprendem o quê?

– E qual foi o Brasil que jogou o Sul-Americano, então?
Bem, na seleção escalada por José Neto, estávamos, em geral, com um grupo que precisa de experiência, sim, com a “amarelinha” (ou a “branquinha”, muitas vezes). Pensando em longo prazo, é bacana que um Raulzinho lide com a pressão de um ginásio venezuelano fervendo, encarando gente barbada do outro lado. Que Cristiano Felício veja, mais uma vez, que tem bola para dominar um garrafão lá e cá. Etc. Por outro lado, é preciso dizer que não havia nenhum adolescente em quadra. O mais jovem, Leo Meindl, tem 21 anos, já disputa o NBB adulto há duas temporadas e foi pouco utilizado. Raul, Rafael Luz, Augusto Lima e Rafael Hettsheimeir acumulam mais de três temporadas na Liga ACB, o principal campeonato nacional da Europa. Desse quarteto, apenas Hettsheimeir, reserva do Unicaja Málaga (clube de Euroliga) e lesionado na segunda metade, não jogou muito durante o ano. Da turma do NBB, Mineiro tem 26 anos, Arthur, Jefferson William e Olivinha, 31. Vitor Benite faz parte da seleção de modo regular desde 2011. São inexperientes, pero no mucho.

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

– O que isso quer dizer?
Que, francamente, não dá para justificar as derrotas com base em inexperiência e uma suposta predisposição para o experimento. Os jogadores convocados não estão tão distantes assim de uma lista “principal” do país. E, ao menos aqui na base do 21, são vistos como atletas talentosos, de muito potencial. Além do mais…

– Contra quem eles jogaram?
Como já dissemos, a Venezuela contava com seu único figurão de NBA, Greivis Vasquez, alguém que acabou de assinar um contrato de US$ 13 milhões por dois anos com o Toronto Raptors. Feito o registro, não estamos falando de uma potência mundial. É, sim, uma seleção com jogadores atléticos, enjoados, mas que, mesmo fazendo a Copa América em casa, com Vasquez e um técnico argentino, não conseguiu a vaga no Mundial. O Uruguai não estava completo. Já a Argentina levou para o campeonato uma equipe composta apenas por atletas em atividade na América do Sul – bons valores, mas não necessariamente os melhores do país. Nem o Facundo Campazzo, promovido ao time A, estava lá. Isto é: se for pensar bem, o Brasil era quem tinha o elenco mais renomado. Um time de certa forma jovem – especialmente em contraponto ao elenco verdadeiramente veterano que vem sendo preparado por Magnano –, mas que entrava para ganhar.

– Posto isso, sabemos que o Brasil perdeu os primeiros dois jogos que valiam. Que houve?
Digamos que os brasileiros tiveram seus bons momentos em quadra. No final da fase de grupos, sábado, contra os argentinos, por exemplo, a seleção venceu os segundo e terceiro quartos por 34 a 16. Sim, tomaram míseros 16 pontos em 20 minutos, algo sensacional, independentemente do nível de competição. No quarto período, no entanto, tomaram uma sacolada de 27 a 13. Essa derrota acabou deixando os hermanitos na primeira posição do grupo, empurrando o Brasil para um confronto com a Venezuela na semifinal. A dinâmica da partida foi de certa forma parecida. A seleção abriu uma vantagem razoável, mas acabou tomando a virada no último quarto. Legal que eles tenham encarado um ambiente daqueles, mas seria muito melhor se estivesse valendo o título, não? Digo, que guardassem essa experiência para a final.

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

– Além das derrotas, o que as estatísticas dizem sobre a campanha?
Adoro a expressão que nos conta sobre a “frieza dos números”. E, olha, número por número, a coisa foi gélida (obs: contando apenas os duelos com Argentina, Venezuela e Uruguai, ok?). Traduziu muito bem o que vimos em quadra dessa vez. O Brasil fez um ótimo papel defensivo. Um lapso aqui, outro ali, mas em geral o time se comportou de modo muito sólido ao proteger sua cesta. Do outro lado, porém, foi uma tristeza. A começar pelos 39,7% nos arremessos de quadra no geral. De três pontos? Horrendos 20%, com mais assustadores ainda 15 acertos em 75 (!!!) tentativas. Quer dizer: o time errou, errou e errou mais um pouco de longa distância, e não parou de atirar. Isso é reflexo claro de um coletivo desorganizado ofensivamente. A movimentação fora da bola foi praticamente nula. Raulzinho, por exemplo, vezes era forçado a jogar no mano a mano, ou num pick and roll sem inventividade alguma, quase sempre com ângulos frontais para a cesta. E o jovem armador, até que alguém me comprove o contrário, nunca teve perfil de Allen Iverson. É agressivo, mas, sozinho, não vai resolver as coisas. Pivôs ágeis como Mineiro e Augusto pouco foram servidos no pick-and-roll ou em cortes vindo do lado contrário. A turma do perímetro, uma vez acionados os grandalhões, se estacionavam, como se a única jogada seguinte pudesse ser disparo de três. Lembrando que este é um problema repetido quando nos recordamos da lamentável Copa América. O talento estava ali, mas não foi muito bem manejado para pontuar.

– Pensando na seleção, principal, nessa gama de talentos, quem merecia a promoção para tentar uma vaga no Mundial?
Bom, agora já ficou um pouco tarde para falar de merecimento, ou não, uma vez que sabemos que Raulzinho, Rafa Luz, Cristiano Felício e Rafael Hettsheimeir foram pinçados para treinar com os marmanjos. Nenhum desses quatro nomes pode ser contestado severamente, é verdade. Mas gostaria de saber quais são os critérios de convocação. Algo que Magnano nunca nos deixou muito claro.

– Qual a confusão sobre os critérios de composição da seleção, então?
Na minha humilde e 99% desnecessária opinião, alguns fatores precisam se discutidos:

a) a temporada que cada um apresentou;
b) o desempenho nos treinos e, claro, nos jogos para valer; e aí não contam Paraguai e Equador. Qualquer coletivo interno tem mais peso, neste caso.
c) quem se encaixa melhor com o que já tem de disponível no time principal?
d) como exatamente Magnano pretende aproveitar essas últimas peças?

Na cabeça do argentino, certamente aparece outro item: “Histórico/serviços prestados”. Não sei bem se concordo com essa.

Temporada por temporada, quem teve a melhor campanha de um brasileiro na Espanha este ano foi Augusto Lima, e não há nem o que se discutir aqui. Ao meu ver, uma oportunidade desperdiçada para um jogador extremamente valorizado na ACB – arrebentou nos rebotes, na defesa e nas estatísticas mais avançadas. O bizarro é que um atleta superprodutivo desses não tenha nem mesmo espaço no Sul-Americano. Não adianta julgar por dois ou três minutos de quadra. Das duas, uma: ou é “tímido” e não se impôs nos treinos, ou acabou engolido por uma rotação um tanto maluca. Mas é difícil de aceitar que não sirva por aqui.

Lembrando sempre: não estamos falando de Scola ou Tim Duncan, mas, sim, de um pivô cheio de energia, capacidade atlética invejável, bom para fazer o serviço sujo e atacar os rebotes ofensivos. Uma peça complementar muito boa, e não alguém que vai carregar um ataque. Como a comissão técnica enxerga Rafael Hettsheimeir, que pouco jogou este ano, diga-se. No caso do pivô, o que não dá, porém, é esperar que ele sempre vá repetir aquela atuação histórica de Mar del Plata contra Scola. Aquela não é a regra, mas, sim, a exceção. E, com Splitter, Nenê e Varejão escalados, Giovannoni fazendo o strecht 4, não sei bem quantos minutos sobrariam para Hettsheimeir ser acionado e esquentar a munheca. Talvez aí cresçam as chances de um Cristiano Felício, que completa 22 anos, mas ainda é um projeto, alguém que poderia ser o 12º homem da lista.

Mas, bem, esse já seria um artigo à parte. Na combinação dos quatro critérios propostos acima, um nome seria certo: Rafael Luz, que fez uma campanha sólida na Espanha, foi o melhor armador no Sul-Americano e tem características que se encaixam bem na rotação de cima, ao meu ver: dá estabilidade, ao mesmo tempo que também é energético e influencia o jogo com sua força física e agilidade. Seu chute ainda é deficiente, mas, como peça complementar na rotação principal, parece uma escolha adequada para jogar ao lado de Huertas e Larry, armadores que gostam de ter a bola em mãos.

– E o Raulzinho?
Na duas derrotas do Sul-Americano, o Brasil perdeu o jogo com a posse de bola. E a bola nas mãos do armador revelado pelo Minas. É em momentos como esse que vale toda a calma do mundo quando formos falar do rapaz. Nem tão lá em cima, nem tão cá em baixo. Draftado pela NBA, é verdade. Mas como um título de capitalização no futuro. O Utah Jazz admira seu talento, mas sabe que ainda não é hora de jogar nos Estados Unidos. Os pivôs são os que mais demoram para se desenvolver, mas executar a armação de uma equipe, quanto mais de uma seleção não é moleza, não. Raul obviamente tem o tino, personalidade e arranque para isso. Mas, ao menos nos três jogos do Sul-Americano, pudemos vê-lo tentando fazer muito com a bola. Alguns passes forçados, outros com brilho. Tentativas arrojadas de infiltração, mas por vezes se perdendo em meio às linhas defensivas etc. Lances que pedem refinamento, algo que, esperamos, vai acontecer no decorrer das temporadas, com a sucessão de acertos e erros, que tenhamos muito mais bolas certeiras. No Sul-Americano, ele tinha mais responsabilidade criativa, e as coisas não saíram tão bem. De todo modo, vale a ressalva: foram apenas três jogos, não é a maior amostra. No grupo principal, porém, sua carga seria muito menor. Só vejo nas características de Luz algo que combina melhor com o grupo de cima.


Talento porto-riquenho pesa na estreia. Mas a derrota deixa lição coletiva importante para a seleção
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Giancarlo Giampietro

Renaldo x JP Batista

Renaldo Balkman, de novo, acabou com o jogo a favor de Porto Rico

“EQUIPO!!! EQUIPO!!”, era o que berrava, com a voz estridente, mesmo, Rubén Magnano num pedido de tempo no segundo período. Num raro flagra televisivo,  provavelmente equipada com um microfone “boom” daqueles que captam tudo ao seu redor, até pensamento, a equipe de TV da Fiba conseguiu registrar um pedido de tempo da seleção brasileira, para ouvir o argentino.

E o técnico reclamava daquilo que era evidente: a seleção brasileira insistindo de modo irritante nas jogadas individuais, com um ataque novamente estagnado, pouco criativo. A partir da chamada, se não testemunhamos uma revolução, ao menos o padrão mudou o suficiente para mudar o ritmo do embate. Aos poucos, seus comandados foram voltando ao jogo. Só não foi o suficiente na derrota para Porto Rico por 72 a 65, pela rodada de abertura da Copa América em Caracas.

Era o que faltava ao time brasileiro, mesmo. Um mínimo de organização, de cabeça erguida e altruísmo, mas um pouquinho mesmo para fazer a diferença contra os bons e velhos parceiros de Porto Rico. Ah, Porto Rico! Os sabores porto-riquenhos, a leveza, a cultura caribenha. Individualmente muito mais talentosos nesta competição, mas ainda indisciplinados o bastante para fazer de qualquer partida uma emoção.

Também pesou na recuperação, como o próprio Wlamir alertou durante a transmissão da ESPN, uma ajudinha do técnico Paco Olmos. O espanhol não só tirou seus melhores nomes de quadra como chamar jogadas em sequência para o decadente já totalmente caído Larry Ayuso, o eterno nêmesis de Marcelinho Machado. Bem coberto por Vitor Benite, forçou seus chutes e investidas e, num piscar, o Brasil diminuiu uma desvantagem de dez pontos para dois ao final do primeiro tempo (31 a 29).

Do seu lado, além da bronca, Magnano também pôde consertar um próprio erro. Em vez de capengar com a dupla Caio e João Paulo, lançouum quinteto muito mais coeso por ser beeeeeem mais leve, com Larry-Benite-Arthur-Giovannoni-Hettsheimeir. Na volta do intervalo, eram Huertas e Alex no lugar de Benite e Arthur, mantendo a agilidade. Com esse tipo de formação, conseguiram pular cinco pontos à frente. O terceiro quarto foi vencido por 22 a 17 – isto é, dois pivôs pesados ao mesmo tempo em quadra não pode.

No quarto período, porém, Porto Rico enfim se acertou em quadra, lendo melhor o que se passava na partida. Diminuíram o bumbameuboi, aproveitando inclusive uma falha estratégica do técnico da seleção brasileira.

Ok, o velhaco Daniel Santiago estava dando um trabalhão danado, de modo que o técnico tirou Caio Torres de seu banco para combatê-lo. Deu certo por algumas posses de bola. Daí que Olmos tirou, então, seu grandalhão, e o argentino não o acompanhou nesse jogo de xadrez. Sem tem com quem trombar em seus custosos minutos a mais em quadra, no sacrifício e, por isso, com a mobilidade ainda mais comprometida,  sobrou para o novo pivô de São José perseguir sem a menor chance o hiperativo Renaldo Balkman.

Uma das figuras desta Copa América, o ala-pivô andava quieto ofensivamente, mas foi muito bem acionado por Barea nessa ocasião e acabou com o jogo, no fim. Operário toda a vida, terminou o duelo com os brasileiros novamente com uma linha estatística de superestrela: 24 pontos, oito rebotes e quatro tocos, com 70% de acerto nos arremessos. Uma ou duas posses de bola de sucesso para o cabeludo, e os adversários abriram uma vantagem mínima. Conta cada detalhe, não?

A essa altura, ao menos a seleção ao menos tinha uma abordagem mais razoável, menos egoísta – ainda que, no ímpeto de querer resolver jogo rapidamente, os alas brasileiros tenham novamente se precipitado a arremessar com muitos segundos no cronômetro, achando que aquela era A HORA de matar os caribenhos.

Se tivessem trabalhado um pouco mais o ataque durante os primeiros 15 minutos do primeiro tempo, quando Porto Rico estava todo atrapalhado, perdido em seus devaneios, talvez o desfecho pude ser diferente? Pode ser. De qualquer forma, ficou evidente que as investidas no mano-a-mano não são o que apregoam Magnano. O técnico agora tem de dar um jeito de passar a mensagem de maneira ainda mais clara para as próximas rodadas. Com muitos desfalques e uma convocação deficiente, seu time não tem margem de erro alguma. Cada minutinho de um jogo coletivo que possa amplificar as qualidades de seus atletas.

Precisa-se, realmente, de uma equipe.

*  *  *

O Brasil teve chance. A derrota incomoda, claro. Mas era um resultado, digamos, que já poderia entrar na conta. Não muda muito o planejamento da equipe na busca de uma das quatro vagas do torneio. Depois da folga neste sábado, voltam aí, sim, para um confronto direto com o Canadá no domingo, ao meio-dia (horário de Brasília). Os canadenses venceram a Jamaica com facilidade na primeira partida do torneio: 85 a 64, com excepcional partida de Cory Joseph (17  pontos, 9 assistências e 8 rebotes).

*  *  *

Marcar Barea é complicado. Explosivo, maroto, tende a conseguir aquilo que pretende fazer no ataque. Larry bem que tentou, num esforço louvável, mas seu oponente tende a levar a melhor mesmo no um contra um ou no uso de pick-and-rolls. E o que fazer, então, para amenizar essa situação? Atacar, literalmente, sua deficiência. Leia-se: sua defesa. Ele só joga de um lado da quadra. Então Huertas adotou uma estratégia correta: antes de serem agredidos, foi ele para cima. O brasileiro terminou o jogo com 16 pontos, contra 12 de seu oponente. E o saldo positivo não se resume apenas aos quatro pontos de uma conta básica, mas, antes de tudo, na grande conta tática do jogo, minimizando o impacto gerado pelo tampinha.

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Situação hipotética: se Magnano fosse o treinador de Arroyo e Ayuso, precisaria muito mais de uma equipe de paramédicos ao seu lado do que de Fernando Duró liderando um grupo de escudeiros. As chances de um piripaque seriam altíssimas. De acompanhar os caras há anos, sabemos bem, né? Mas não deixa de impressionar a cada confronto: os dois são talentosos, obviamente, mas, juntos, têm uma malemolência incontrolável. Agem como se fossem matar o jogo a cada momento.

É até engraçado, no caso de Arroyo, comparar sua postura quando serve ao time nacional com a que tem em clubes. Duas figuras completamente diferentes. Em Porto Rico, é como se ele fosse o chefão, um scarface prestes a dominar a situação. Daí o seu orgulho ferido pela ascensão de um Barea igualmente tinhoso, mas muito mais produtivo. Não que o armador não consiga mais perturbar uma defesa ou seu marcador em específico. Tem ginga, drible e chute para isso. Mas, em geral, o modo como enxerga o jogo e como se comporta não é nada saudável para nenhuma equipe.

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Tão eficiente na fase de amistosos, o tiro de três pontos foi uma lástima no jogo de estreia: os brasileiros converteram apenas 24% de seus arremessos de fora, com 13 erros em 17 tentativas. Ai. No geral, porém, a coisa foi ainda mais feia: 36% no aproveitamento de quadra, contra 41% dos porto-riquenhos, num jogo feio de doer.

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 Rafael Hettsheimeir: completamente enferrujado. Na hora de avaliar o pivô brasileiro, favor não esquecer a temporada perdida que ele teve na Espanha. Ele ficou muito tempo no banco de reservas do Real Madrid, e isso atrapalha demais, para qualquer um. Ou não lembramos mais das dificuldades que até mesmo um Tiago Splitter teve ao se apresentar em 2011 após um ano de banco pelo Spurs também?

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Raulzinho e Rafael Luz nem jogaram. Passaram a partida inteira com camisa de manga comprida no banco. Nem um minutinho sequer? A ver se a situação se mantém para o decorrer do torneio.


Seleção vence Canadá no último teste e vai para a Copa América vulnerável, mas na briga
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Giancarlo Giampietro

Magnano orienta. E vai precisar de mais

Rubén Magnano é um ótimo treinador.

Vamos lá, de novo. O Rubén Magnano? Um baita treinador.

Sabia? Campeão olímpico e tudo. Com a Argentina! Vice-campeão mundial, operado na final contra o Bodiroga, o Peja e o Divac. Deu uma cara nova para a seleção brasileira! Conseguiu o quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Londres. Ganhou da mesma Argentina lá dentro. Com tantas façanhas, tem o respeito, imagino, irrestrito por parte de seus jogadores. Não há como não confiar num técnico desses.

Satisfeitos?

Se não, vai mais uma vez, sem cinismo algum: Rubén Magnano é um treinador que qualquer time deveria pensar em contratar.

Pronto, acho que deu.

Talvez agora possamos falar sobre a seleção brasileira livres da paranoia. E sem ter background algum no assunto.

A delegação tupiniquim desembarca nesta terça-feira já em Carcas, com a Copa América começando já na sexta. Em sua despedida da Copa Tuto Marchand, uma noite depois de ter sofrido uma derrota apertada contra Porto Rico, o time de – vejam só, ele mesmo! – Magnano venceu a jovem seleção canadense por 77 a 70, terminando sua campanha com dois triunfos e dois reveses. Ao menos, depois do vexame passado contra a Argentina, a intensidade defensiva foi resgatada.

Se, no torneio continental, a equipe conseguir manter esse padrão, essa tocada e evitar tropeços calamitosos, vai se meter entre os quatro primeiros e vai conquistar, na quadra, sua vaga para a Copa do Mundo da Espanha 2014. É simples: na teoria, basta ficar acima de um entre Argentina, Canadá, Porto Rico e República Dominicana. Que se tome cuidado com México, reforçado com Ayón, e a Venezuela, um time doido, jogando em casa, e pronto.

Posto isso, vai ser extremamente difícil me convencer de que Magnano tenha feito uma boa convocação para a temporada. Houve um sério erro de cálculo, e isso está escancarado na quadra. Metade de nosso elenco é baixa e veloz. A outra, nem tão alta assim, mas extremamente pesada. Para fazer isso conectar não vem sendo nada fácil, se é que vai acontecer. Esse descompasso só não vê quem realmente não quiser ou quem realmente ache que, no mundo, é tudo uma questão de “ame” ou “odeie”, preto e branco, e que ou se é “pró”, ou “contra”. Ou talvez esses estejam com a bandeira tapando a cara, distraídos ao tirar do saquinho um punhado de confetes ou qualquer coisa do tipo. Pode ser também.

De qualquer forma, independentemente de ideologia política, educação ou credo, acho que todos concordamos que Facundo Campazzo e José Juan Barea são dois tampinhas muito difíceis de se marcar. Vocês devem se lembrar, por exemplo, do que o porto-riquenho fez contra uma defesa hiperatlética como a do Miami Heat, né? Ele continua o mesmo, embora escondido no Minnesota Timberwolves e sem a companhia de um Jason Kidd para escoltá-lo. Se o Brasil estivesse com Varejão, Splitter e Nenê, três grandalhões de excelente movimentação lateral, a coordenação da defesa de um pick-and-roll já teria de ser perfeitinha, para afastá-lo da cesta.

Agora, quando você está tentando frear Barea numa jogada dessas com Rafael Hettsheimeir envolvido na troca, fica mais difícil. Com JP Batista, apesar de sua inteligência em quadra, não muda muito. Se a segunda ou terceira opção é Caio Torres, ainda mais pesado, complica bastante. E, se o treinador não está confortável em dar mais minutos para o único pivô atlético que tem no elenco, danou-se. É exatamente este o cenário que temos na seleção hoje. Simples. Nossos quatro pivôs experientes são extremamente vulneráveis quando estão afastados da cesta.

Tendo pela frente gente como Luis Scola, Ricky Sánchez, Andrew Nicholson, Hector Romero, Gustavo Ayón e, por vezes, até Jack Martínez e Esteban Batista, o que acha que vai acontecer, e muitas vezes? Os pivôs vão precisar subir e marcar – e importante considerar aqui que não estamos falando apenas de contestar arremessos na linha de três. São raros, bem raros, aliás, o caso de “cincões” que joguem de costas para a cesta, plantados próximos do aro neste torneio. Mas, nem mesmo a presença desses gigantões como Eloy Vargas, dos dominicanos, ou o bom e velho Daniel Santiago anima muito. Por quê? É só ver o impacto que Santiago teve no quarto período, com corta-luzes imensos que garantiam a Barea um posicionamento cara a cara com um pivô/uma avenida. Resultado: bandeja. Neste ponto, fazem falta também jogadores mais atléticos para fazer a cobertura.

Desde que assumiu o cargo, Magnano procurou imprimir na seleção a ideia de que, se quisessem deixar para trás os dias de derrota após derrota, teriam de aceitar e aplicar seu ritmo defensivo extremamente exigente. Por isso a estranheza da lista que ele próprio compôs, com jogadores que não atendem exatamente aos seus princípios, incluindo aqui os dois que chamou a partir do momento em que os comunicados com pedidos de dispensa começaram a se empilhar. Lembram? Antes de João Paulo Batista o argentino já havia chamado Paulão, mais um que nunca foi conhecido por sua explosão em quadra. Veja bem: não é que sejam, individualmente, separados, jogadores ruins. O problema é que eles não batem com as necessidades deste grupo em específico.

Essas questões defensivas ficam ainda mais custosas quando combinadas com a ineficiência dos pivôs também apresentada do outro lado da quadra. Mesmo o talentoso Hettshimeir está com enorme dificuldade para produzir, enferrujado depois de uma temporada inteira no banco do Real Madrid. Caio só vem matando quando completamente livre – sem muita mobilidade, tem sido presa fácil para quem estiver ao seu lado disposto a combater. João Paulo é uma peça complementar, que deve ser mais usada dentro de um sistema do que como referência. Cristiano Felício deveria ter sido mais usado no torneio amistoso, mas não foi o caso.

Desta forma, a seleção fica extremamente dependente dos tiros de fora, que caíram com uma frequência saudável em Porto Rico (em geral, sem forçação de barra), e dos contra-ataques, que saem a partir da pressão na bola que Larry e Alex podem fazer por conta, a despeito da falta de cobertura. Se esses contragolpes não forem concluídos necessariamente com bandejas em linha reta, ao menos o jogo em transição pode proporcionar situações de desequilíbrio para serem aproveitadas com um ou dois passes a mais antes de as defesas se recomporem. Passes esses que, contra Porto Rico e Canadá, começaram a aparecer com maior frequência, ainda que numa frequência tímida. Espera-se que esse movimento ganhe mais força para o torneio que vale.

De resto, temos um Larry mais agressivo com a bola, procurando infiltrar mais do que brecar para os tiros ineficientes de média distância – fundamento o qual não domina. Alex vai fazendo de tudo um pouco. Giovannoni, adorando essa vida de cestinha designado, saindo do banco. Benite parece ter perdido o espaço na rotação – em seu lugar, faz muita falta um jogador vigoroso como Marcus Vinícius Toledo, de Mogi. Raulzinho fica estabelecido como o armador vindo do banco, preocupado mais em melhorar a pegada defensiva da equipe, já que Huertas vem se mostrando bastante frágil quando atacando no um contra um e está, para variar, sobrecarregado em suas responsabilidades ofensivas. Arthur vai ganhar uns minutos aqui e ali, dependendo do excesso de faltas dos companheiros.

Sim, essa seleção tem problemas e sérios. Que talvez pudessem ter sido remediados com uma lista melhor – e, por “melhor”, não é preciso pensar necessariamente em nomes, mas, sim, em características que fossem mais produtivas num coletivo.

Mas o time de – tcha-ram! – Magnano não é o único cheio de pendências para resolver. Porto Rico depende do estado de humor de seus talentosíssimos mas geniais armadores. A República Dominicana tem um banco ainda menor que o brasileiro. O Canadá, com seus talentos de NBA, está apenas em seu estágio inicial de evolução, como se fosse o Brasil de 2003. A Argentina parece mais azeitada, mas, por mais que seu elenco de apoio esteja surpreendendo, ainda estamos diante de um time que depende de Scola para avançar. E todos eles sofrem com os famigerados “desfalques”.

Fato é que, no momento, o Brasil está no meio do bolo. Vai ter de lutar, jogo a jogo, ciente disso, preparada psicologicamente para suportar a pressão. Para lidar com isso, é preciso contar com um comandante renomado e tarimbado.

Inicialmente, Magnano foi contratado com uma missão urgente: encerrar o jejum olímpico de qualquer maneira. Cumprida essa etapa, o basquete nacional pode pedir mais – e que os favores fiquem mais com a parte esportiva da coisa, a despeito de seu status de trunfo político numa gestão totalmente destrambelhada.

Entre o que se espera, está fazer do grupo limitado que ele próprio convocou uma unidade mais forte.

Afinal, é um excelente treinador.

Quem duvida?