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Categoria : Notas

Chegou a hora de aceitar o Atlanta Hawks como sério candidato
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Giancarlo Giampietro

Estão aí para ficar

Estão aí para ficar

Há alguns caminhos básicos para aceitar um time qualquer como favorito, ou forte candidato ao título. Cada vez mais se valoriza números e números, dentre os quais o saldo de pontos acumulado durante a campanha se destaca como um grande indicador para além da óbvia comparação entre vitórias e derrotas. O seguidor mais conservador pode se apegar a outros fatores como a quantidade de superestrelas em um elenco e o retrospecto, histórico recente dessa equipe nos mata-matas. Ainda assim, essa abordagem também tem uma base empírica, já que são raríssimos os casos de clubes que conquistaram a NBA sem contar com um craque transcendental em sua formação.

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Tanto que o Detroit Pistons virou a menção obrigatória de exceção dessa regra, com os Wallace que não eram irmãos e a dupla entrosadíssima de Billups e Hamilton. Todos All-Stars, bem acima da média, que se entenderam muito bem e entraram para os livros históricos. Mas nenhum deles vai entrar no panteão. O Spurs de 2014 poderia até entrar nessa lista também, mas vai depender de como você avalia o fato de a equipe contar com Parker, Duncan e Ginóbili, que já não estavam no auge mais, mas cujo currículos causam, de qualquer forma, inveja em muita gente.

Deixemos os atuais campeões de lado, todavia. Ou melhor: nem tanto, já que, para falar sobre o Atlanta Hawks, não dá para ignorar o fator #SpursDoLeste, com um time armado sob os mesmos princípios saudáveis que Gregg Popovich consolidou em San Antonio. Em seu segundo ano de trabalho na Geórgia, Mike Budenholzer vai obtendo resultados incríveis. Nesta quarta, por exemplo, ele já se assegurou como o técnico da seleção do Leste no All-Star Game, com a melhor campanha da conferência, por ora inatingível. Seus atletas venceram 28 das últimas 30 partidas que disputaram, vindo de 14 vitórias seguidas, igualando o recorde da temporada 1993-94. Os falcões estão voando, mesmo, como nunca antes na história da franquia. Ainda assim, guiada por princípios históricos – resumidos na marcante frase de Jordan sobre crianças, homens e playoffs –, a crítica demorou a reconhecê-los como séria ameaça na liga americana. Pode incluir esta besta quadrada aqui nesse pacote. Pode, também, esquecer qualquer preconceito. O Atlanta veio para ficar.

Não quer dizer que o título é deles já, de modo antecipado. Que seja impossível de perder. Qualquer lesão de Al Horford, Jeff Teague, Kyle Korver e Paul Millsap já os deixariam em maus lençóis. O Washington segue jogando de igual para igual com a maioria dos grandes. Mesmo em espiral, Toronto não pode ser desrespeitado. Para não falar de Chicago e Cleveland, esses, sim, os conjuntos estelares, que vão chegar aos mata-matas, independentemente da histeria ao redor de ambos. Importante dizer que todos esses times já foram surrados pelo Hawks. De qualquer modo, muita coisa pode acontecer em 40 partidas, em três meses de temporada regular até a chegada aos mata-matas.

Se tivéssemos, no entanto, a chance de congelar o tempo e deslocar esse Hawks de hoje, 22 de janeiro de 2014, e descolá-lo para os primeiros dias de abril, teríamos no páreo um favorito, e tanto. Favorito e encantador, ainda que sem o sex appeal de um Golden State Warriors comandado por um técnico tão carismático e vitorioso e liderado em quadra por um talento precioso como o de Stephen Curry.

O irônico é que o gerente geral Danny Ferry, ainda afastado por uma gafe-ou-comentário racista, fez de tudo para contratar a chamada superestrela. Alguém da estirpe de Curry – ou do ala-pivô Bob Pettit, que guiou a equipe nos tempos de St. Louis ao título em 1958, desbancando Bill Russell, Red Auerbach e o Celtics. Foi atrás de Chris Paul e Dwight Howard, nativos da Geórgia, quis também se reunir com Carmelo e LeBron. Dikembe Mutombo, Joe Johnson e Isaiah Rider (risos) que nos desculpem, mas o clube não conta com ninguém desse porte desde as cravadas inigualáveis de Dominique Wilkins nos anos 80.

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Não rolou, claro. Fechou, então, com Millsap, Korver, DeMarre Carroll, Mike Scott, Pero Antic, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore. E não é que deu certo? Com um basquete eficiente, consistente, de movimentação de bola totalmente solidária e arremessadores perigosos para quebrar qualquer sistema defensivo, de Thibs a marcação por zona, a turma de Al Horford está arrebentando. Ênfase em solidariedade, por favor. É um conceito que pode ser banalizado se usado a cada crônica de jogo, a cada análise de uma equipe. Neste caso, contudo, não precisa se preocupar, pois o termo cabe ferfeitamente.

O Atlanta é o segundo time em assistências por jogo, atrás do Golden State. Mas acho que já aprendemos que se basear apenas em números absolutos não cola mais, né? Cada equipe joga num ritmo, produzindo mais ou menos números. O melhor, sempre, é saber o quão eficiente o conjunto se apresenta. Então que tal conferir o ranking de assistências por posse de bola e ver que, nessa medição, eles aparecem em primeiro? Lideram também a coluna de percentual de cestas de quadra que são assistidas – o Spurs, observem, está em terceiro. Esse padrão se mantém para seus chutes de três pontos: apenas 7,1% dos tiros de longa distância decorrem de jogadas individuais, em vez de um passe, contra 9,2% do Spurs. Istoé, Jamal Crawford, Nick Young e JR Smith não teriamm espaço por lá. Nas bolas de dois pontos sem assistências, o percentual sem assistências é maior (39,9%, e aqui entram as infiltrações de Jeff Teague e Dennis Schröder), mas ainda é o menor da liga.  Por fim, na média de assistências para cada turnover, estão em terceiro. Nas últimas sete vitórias, em seis ocasiões eles bateram a marca de 30 assistências. Vamos todos juntos, então, repetir: jo-go so-li-dá-rio. Pode soletrar também, se achar necessário.

A excelente visão de quadra e a predisposição para passar a bola resultam, obviamente, numa bola seleção de arremessos. A equipe é a terceira no aproveitamento efetivo de arremessos, a medição que dá um pouco mais de valor para os arremessos de três pontos, já que… segundo minhas contas, três é maior que dois. Sim, Budenholzer também é um adepto dos arremessos de três como peça integral de uma ofensiva, tendo o segundo melhor aproveitamento da liga nesse quesito (atrás apenas do Golden State). O sistema do ex-assistente do Coach Pop enfatiza o chute de fora, mas não chega a ser obcecado como o Houston Rockets, sendo o nono que mais arrisca, mas com oito tentativas a menos que os texanos). Por ter um excelente rendimento, no entanto, é o quarto time que mais depende da bola de longa distância para gerar pontos.

Parêntese obrigatório aqui para o Sr. Kyle Elliot Korver, nascido no dia 17 de março de 1981, natural de Lakewood, na Califórnia. O que ele está fazendo nesta temporada não existe. Quer dizer: existe, mas é inédito – nunca um atleta terminou a temporada regular com mais de 50% tanto nos arremessos de dois como de dois e 90% nos lances livres. Seus números, respectivamente: 51,8%, 53,5% e 92,2%. Ele lidera a liga no aproveitamento do perímetro pelo segundo campeonato seguido. Sua habilidade neste fundamento faz com que seus companheiros ataquem com 4 contra 4, já que ele não pode ficar livre de modo algum. Ele transformou um chute de três em bandeja, gente. E aí que foi engraçado ver o cara enterrar nesta quarta contra o Indiana Pacers, em transição. Foi sua primeira cravada desde desde 16 de novembro de 2012, contra o Kings! No meio do caminho, ele matou 484 chutes de fora em 198 jogos. Vejam abaixo e, logo depois, seu esmeraldino gráfico de arremessos:

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

Korver merece estar no All-Star. Mas este também é o caso de Teague, jogando seu melhor basquete, Millsap, que vai receber uma bolada no mercado de agentes livres, e Horford, o faz-tudo perfilado por Zach Lowe com a maestria de sempre e que só não tem o status de superestrela por jogar em Atlanta e pelas lesões peitorais bizarras. Dificilmente os técnicos vão encontrar espaço no banco da seleção do Leste para fazer justiça a todos eles.

Ao menos eles não dão a mínima para isso. Millsap ficou todo orgulhoso ao ser selecionado no ano passado, mas vai sobreviver se a façanha não se repetir. O mesmo vale para os outros. Afinal, numa unidade dessas, é muito complicado separar o sucesso de um e o do outro. “Sentimos que temos peças realmente boas que combinam bem, e entendemos que temos de jogar juntos para ter sucesso”, diz o atirador de elite.

Korver e seu arremesso perfeito

Korver e seu arremesso perfeito

Depois de longa consulta nos números, são poucos os pontos fracos a serem apontados para um raro caso de time que está entre os dez melhores no ranking de eficiência ofensiva e defensiva (Golden State, soberano, e Portland são os outros). O máximo que dá para falar é de uma fragilidade nos rebotes. Na tábua defensiva, ocupa apenas a 18ª posição na coleta de rebotes disponíveis, situação da qual Greg Monroe e Andre Drummond tiraram proveito na segunda-feira (juntos, somaram 12 rebotes ofensivos). Além disso, o Hawks é o 19º em contra-ataques: apenas 11,6% de seus pontos saem em transição, contra 18,6% do Warriors, e também o 18º em lances livres (17,1%). Esses pontos, porém, não preocupam tanto, devido a sua excelência na execução em meia quadra. Para os mata-matas, porém, podem fazer falta.

Ah, claro, se for para falar de números, o pior de todos é o de público, o sétimo pior da liga, com 16.327 espectadores em média – 2.500 a mais que o lanterna Timberwolves. O torcedor de Atlanta tem demorado para se interessar pela excelente fase. A despeito do incidente com Ferry, passar os dias sem prestigiar essa equipe é um pecado. Contra o Pistons, no feriado em homenagem a Martlin Luther King, a arena teve capacidade esgotada (19.108). Contra o modorrento time do Pacers, nesta quarta, só 15.045 foram ao ginásio. A baixa audiência só não impede que o valor da franquia tenha subido quase 100% no último ranking divulgado pela Forbes.

Vale mencionar também que o Hawks encarou até o momento a quinta tabela mais fraca da liga. Juntos, seus adversários têm aproveitamento de 48,9,%. Por outro lado, estão empatados com o Bulls nesse quesito. O Wizards, concorrente direto, teve a segunda jornada mais fácil, com 48%. O time de Budenholzer também fez mais jogos fora do que em casa (22 x 21, é verdade).

Então é isso: você precisa se esforçar para encontrar algum senão nessa jornada do Hawks, que se tornou apenas o terceiro time da história do Leste a somar 28 vitórias em um intervalo de 30 jogos. Os outros dois? Miami em 2012-2013 e Chicago em 1995-96, e ambos levaram o título.  Bastam mais três triunfos para que eles igualem as 38 da temporada passada (38). Com aproveitamento de 81,3% na atual campanha, a equipe cresceu até o momento 34,7%, o maior salto.

Recordes? All-Star? Favoritismo? Não que isso tudo valha algo para eles. “Todos nós sabemos de verdade que ainda não conquistamos nada”, disse Korver. “Eu amo quando a melhor equipe vence os melhores jogadores. Foi o que aconteceu nas finais do ano passado para mim.”

A final vencida pelo Spurs. Vocês sabem, o Hawks do Oeste.


O malucão Nick Nolte de volta a um ginásio de basquete
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Giancarlo Giampietro

A D-League da NBA reúne seus melhores talentos neste fim de semana em Santa Cruz, na Califórnia, para o seu chamado “showcase “. Os times se enfrentam em formato de copa, mata-mata mesmo, no ginásio da filial do Golden State.

Fora uma dúzia de gerentes gerais da grande liga e de uma banca de scouts de times do mundo todo, sabe quem deu as caras por lá?

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

O ator Nick Nolte, um verdadeiro maluco e que anda sumido, provavelmente de saco cheio de Hollywood (na verdade, tem filmado regularmente, mas nenhum papel que lhe renda muito destaque) e da sociedade contemporânea ocidental como um todo. Reparem bem no visual do cara na em foto do jornalista Ken Berger, do site da CBS: está pronto para se tornar um quarto integrante do ZZ Top. Obviamente ele está se lixando para o que um blogueiro brasileiro ou qualquer chupim americano pense.

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São várias as histórias hilárias, as lendas em torno da jornada de Nolte, hoje com 73 anos. Tem aquela sobre cachorros, que Barcinski já lembrou em seu blog no R7, segundo palavras do grande escritor (não só de literatura policial) James Ellroy. O ator vivia em mansão daquelas na capital do cinema e adotou um vira-lata. Gostou tanto da experiência que saiu recolhendo qualquer cãozinho que visse pelo caminho. Agora, perguntem se ele tinha alguma paciência para dar um belo jeito nos animais? Claro que não. Mas não que maltratasse também. Servia comida da boa e da melhor. Só não ia pegar pra dar banho, nem limpar o que aparecesse de m. pela frente. Mais fácil, então, era instalar uma barraca no quintal e deixar a casa para cachorrada.

O cara obviamente bate em outra rotação. Natural que sua estelar carreira estelar também seja irregular. Já foi indicado três vezes ao Oscar, mas provavelmente seu trabalho mais popular tenha sido “48 Horas“, de 1982, ao lado de Eddie Murphy. Já viram, né? Um clássico.  Para o basquteiro, porém, o vínculo com Nolte se direciona para a década de 90, com “Blue Chips“, um dos filmes estrelados por Shaquille O’Neal, então com 22 anos, completando sua segunda temporada pelo Orlando Magic, pronto para dominar o marketing da NBA.

Em vez de um gênio da lâmpada ou de um super-herói de aço, nessa (ainda) película o pivô faz um papel de… Jogador de basquete. Bem, dãr, vocês sabem. Não sou que vou ficar falando aqui sobre o enredo de uma peça obrigatória em sua coleção, discutindo os percalços éticos da vida de um treinador de basquete universitário, na caça por talentos mundo afora, tentando seduzi-los, mas sem deixar que alguém saiba que passou dos passar dos limites. Nolte faz o treinador Pete Bell, fictício, que recruta o gigante imperdível que atende simplesmente pelo nome de Neon. Ô, loco. Duas décadas depois, a “denúncia” de Blue Chips continua válida. As regras da NCAA só são duras, mesmo, com os jogadores… Enquanto os programas seguem lucrando sem parar.

Confesso que realmente não me recordava de o filme ter sido dirigido por um figurão como William Friedkin (“Operação França”, “O Exorcista” e, mais recentemente, “Killer Joe”, um filme completamente demente com uma performance estarrecedora do bola-da-vez Matthew McConaughey, rodado em 2011). O que só deixa um basqueteiro cinéfilo mais contente e orgulhoso. Já o roteiro tem a assinatura de Ron Shelton, o que faz tudo ganhar mais sentido, já que ele é o cara por trás da história de “Homens Brancos Não Sabem Enterrar”. Curiosamente, Shelton chegou a jogar beisebol profissionalmente, em times filiados ao Baltimore Orioles.

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Em Blue Chips – o termo vem do mercado de ações, do tipo em que você pode investir sua grana sem estressar, traduzido para o mundo do esporte como os prospectos mais badalados com Wiggins, Shaq, LeBron etc. –, temos também a participação de outros atletas como Penny Hardaway (“Butch McRae”, antes da briga em Orlando), Calbert Cheaney (formado em Indiana, jogando por Indiana), Bobby Hurley (o armador de Duke que sofreu um acidente que acabou com sua carreira), Geert Hammink (um holandês cult), Rodney Rogers (eleito melhor sexto homem da liga pelo Suns) e muitos, muuuuitos outros jogadores que estavam entrando na NBA naqueles tempos. Há também papel para Bob Cousy (interpretando!) e outras lendas como Larry Bird, Bobby Knight e Rick Pitino, como eles mesmo.

Fiz uma pesquisa aqui para saber de algum interesse especial de Nick Nolte pelo basquete. Não achei. Então a gente pode fingir que essa foi a primeira vez que ele voltou a um ginásio de basquete desde que gravou o filme com Shaq, 21 anos depois, né?

Foi para ver estes jogos aqui.

Aê.

Valeu, pelo menos, para relembrar o filme e este post aqui: Abdul-Jabbar e Wilt Chamberlain curtindo horrores em Hollywood.


Euroligado: Spanoulis e sua fama de matador
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Giancarlo Giampietro

O craque Spanoulis matando jogos

O craque Spanoulis matando jogos

Se você tem um jogo dificílimo na Euroliga, precisando de uma cesta de qualquer jeito, você vai querer a bola nas mãos de quem para buscar a vitória?

Quando questionados pelo site da Euroliga, os gerentes gerais dos times do Top 16 apontaram Vassilis Spanoulis como esse jogador. Ele recebeu 41,6% dos votos, contra 25% de um cara como Juan Carlos Navarro, que mete medo em qualquer defesa. Milos Teodosic ficou em quarto, com apenas 8,3%, o que é surpreendente.

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Contra o Fenerbahçe, nesta sexta-feira, o astro grego comprovou a fama. Ele não fez necessariamente A Cesta da Vitória, aquela no estouro do cronômetro, e tal, virando o placar. Mas foi um de seus chutes de três, a 17s8 do fim, que praticamente selou um grande triunfo do Olympiakos no…

Jogo da Rodada: Fenerbahçe 68 x 74 Olympiakos
Spanoulis é o tipo de jogador que não só cresce em momentos decisivos – e, não, com ele, essa definição não configura um clichê –, como também exige que o adversário planeje todo um sistema defensivo para contê-lo. Uma necessidade que aumentou drasticamente depois que ele comandou um bicampeonato europeu em 2012 e 2013.

Não: o Olympiakos não teve ou tem apenas um jogador decente em seu elenco. Mas é inegável que seu ataque depende muito das características de um armador completo e agressivo com ele. O camisa 7 representa um problema nas movimentações do lado contrário a e a partir do drible. Quando está com a bola, vai usar e abusar de corta-luzes para ganhar terreno perigoso e colocar a retaguarda em crise, uma vez que pode matar tanto o chute de três, como se esgueira em meio a grandalhões e finaliza próximo do aro.

Ciente dessas habilidades, a diretoria do clube de Pireus procura cercá-lo de pivôs explosivos, que possam receber passes em velocidade no corte para a cesta, e chutadores no perímetro, para espaçar a quadra. É tudo muito simples, mesmo, mas vá tentar parar isso.  No jogão transmitido pelo Sports+, com Rafael Spinelli e Ricardo Bulgarelli, o Fenerbahçe tentou e teve algum sucesso em Istambul, até que a partida caminhou para os momentos decisivos.

Zeljko Obradovic já dirigiu Spanoulis no Panathinaikos. Sabe muito bem como lidar com o cara. O que ele fez? Quando Spanoulis tinha a bola em mãos, procurou jogar com pivôs mais ágeis e atléticos, que pudessem confrontá-lo depois do corta-luz e se recuperar em tempo de reencontrar o pivô da vez, desfazendo a troca. Ter a flexibilidade de Jan Vesely e Nemanja Bjelica ajuda para isso. Quando o grego procurava se desmarcar sem a bola, a equipe turca também tinha ordem para fazer trocas imediatas, para que ele não ganhasse o mínimo espaço para ser acionado e atacar. Além disso, quando o cara conseguia passar pela primeira linha defensva, o Fener tinha envergadura e atenção para fazer uma boa cobertura e contestá-lo na zona pintada.

Com disse, deu relativamente certo: o armador errou todos os seus arremessos de dois pontos (0-4) e cometeu cinco turnovers – aliás, seu número de desperdícios tem sido elevado durante todo o campeonato, num reflexo de uma condição física que já começa a se deteriorar, encarando uma tendinite séria no joelho, que o abalou na temporada passada. Por outro lado, ainda conseguiu cavar cinco faltas, convertendo 7 de 7 lances livres. É a pressão que exerce mental e taticamente sobre seus adversários.

>> Veja a classificação geral dos grupos
>> Confira todos os resultados da liga

Até que, nos últimos dois minutos, Spanoulis desembestou ao converter oito dos nove pontos derradeiros para os visitantes. “Clutch”, é o que dizem, né? O craque terminou com 16 pontos e 6 assistências, matando 3/7 nos arremessos de fora, incluindo a bola decisiva a 17 s do fim, quando o placar estava empatado em 68 a 68. O chute obrigaria o Fener a buscar um ataque rápido para uma bola de dois pontos ou a tentar o empate direto com um chute de longa distância. Bogdan-Bogdan e Zisis, no entanto, se atrapalharam na reposição de bola, resultando num turnover e o fim das esperanças.

Talvez seja por isso que os dirigentes também o tenham selecionado como o principal líder da Euroliga, com 45,83% dos votos (novamente acima de Navarro), e, mais importante, como o jogador que seria a prioridade para contratação, com 33,3%, superando o superpivô Ante Tomic, com 12,5%.

Jan Vesely: impacto positivo para o Fener, atleticamente

Jan Vesely: impacto positivo para o Fener, atleticamente

De volta ao jogão, outra cartada tática importante: o técnico Giannis Sfairopoulos usou uma formação baixa por muitos momentos, com o americano Tremmell Darden – que o Real Madrid inexplicavelmente deixou sair… – marcando Nemanja Bjelica. Sua equipe não só não sentiu o impacto dessa decisão nos rebotes, como conseguiu tirar Bjelica de jogo. O ala-pivô sérvio, como já registrado aqui na semana passada, está jogando demais e é uma peça integral no ataque turco, devido a sua mobilidade, visão de jogo e arremesso incomuns para a posição. Em diversas ocasiões, é Bjelica quem já puxa o contra-ataque do Fener, sem perder tempo em acionar o armador. Esse jogo em transição pouco funcionou contra os gregos.

Nos minutos finais, sem poder contar com o sérvio e também sem poder explorar muito Jan Vesely (devido ao seu péssimo lance livre), o Fener se complicou. Andrew Goudelock (23 pontos em 32 minutos, 5-11 de três pontos) vinha convertendo tudo no ataque em jogadas de isolamento, mas se atrapalhou todo nas últimas posses de bola. De qualquer forma, o clube de Istambul está progredindo sob o comando de Obradovic, enfim. Pode ter duas derrotas em três rodadas pelo Grupo F, mas, ainda que em casa, perdeu para quem tinha de perder – o primeiro revés foi contra o CSKA –, e tem totais condições de dar o troco na volta. Olympiakos e CSKA lideram, invictos no Top 16.

Na trilha de Huertas
O armador brasileiro teve sua menor contagem de pontos (4) desde a 2ª rodada da primeira fase, e o Barcelona acabou perdendo mais uma pelo To p16, a segunda em três jogos, dessa vez para o Maccabi Tel Aviv, em Israel, por 70 a 68. Foi uma boa queda de produção para Huertas, que vinha numa sequência incrível pelo clube espanhol, com média de 21,7 pontos por partida nas últimas quatro jornadas – ele ainda deu sete assistências em 25 minutos, acertando de dois de oito arremessos. Com 20 pontos do fogoso Jeremy Pargo, o Maccabi encerrou uma sequência de oito derrotas nesse tradicional confronto europeu. O atual campeão continental chegou a abrir 11 pontos de folga no terceiro período, mas teve de resistir a uma preocupante reação dos visitantes no quarto final, com ótima participação do jovem ala croata Mario Hezonja.

Em números

Devin Smith, capitão do Maccabi, dá o toco em Maciej Lampe. Bonito na foto

Devin Smith, capitão do Maccabi, dá o toco em Maciej Lampe. Bonito na foto

500 – Contra o Barça, o Maccabi atingiu a marca de 500 vitórias na elite do basquete europeu, justamente em seu jogo de número 800.

69% – O trio de armadores Milos Teodosic, Aaron Jackson e Nando de Colo marcou 54 dos 78 pontos (ou69%) da vitória do CSKA Moscou sobre o Anadolu Efes, em Istambul. De Colo foi eleito o MVP da semana, aliás, com 34 de índice de eficiência, com 22 pontos, 7 rebotes, 2 assistências e 4 roubos de bola em 31 minutos. O CSKA tem 13 vitórias em 13 jogos.

7 – Apenas sete atletas do Panathinaikos pontuaram na vitória tranquila sobre o Zalgiris Kaunas, em Atenas, por 77 a 58. O interessante é que, desses sete, seis terminaram com dígito duplo, entre 10 e 14 pontos. Dimitris Diamantidis terminou com sete pontos em quase 26 minutos, mas deu seis assistências. Com tempo de quadra significativo, o letão Janis Blums e o americano DeMarcus Nelson ficaram sem pontuar.

5 – Cinco dos oito jogos da semana terminaram com triunfo dos visitantes. Quem se aproveitou dessa onda foi o Olimpia Milano, que bateu o Unicaja Málaga por 84 a 77. Em seu reencontro com o Estrela Vermelha depois da melhor partida da primeira fase – que teve desfecho fatídico fora de quadra –, o Galatasaray conseguiu um importantíssimo triunfo em Belgrado: 74 a 65. O Estrela está na lanterna do Grupo E, enquanto o Málaga ocua a última posição do Grupo F, ambos com três derrotas até aqui.

0 – O armador americano Ben Hansbrough acumula 26min55s em três partidas pelo Laboral Kutxa na Euroliga e está zerado em pontuação até o momento, tendo tentado apenas dois arremessos. Além disso, tem o mesmo número de faltas pessoais que o de rebotes e assistências somados (sete). Quer dizer: nem sempre o selo de NBA diz muito sobre um jogador. Sim, estamos falando do irmão mais jovem de Tyler Hansbrough, que jogou junto dele no Indiana Pacers por uma temporada – sendo o terceiro armador da rotação, é verdade. Está cedo ainda, mas, para quem chegou para substituir Sasha Vujacic, é muito pouco. Sua equipe ao menos conseguiu a primeira vitória no Top 16 ao bater o Nizhny Novgorod, da Rússia, por 81 a 74, em casa, jogo que transmiti pelo Sports+. Um dos cestinhas do campeonato, o armador Taylor Rochestie marcou 24 pontos pelo Nizhny, acertando seis em sete chutes de longa distância.

Tuitando


As jogadas da semana!


Mo Williams e o clube improvável dos 50
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Giancarlo Giampietro

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Wilt Chamberlain era uma aberração tamanha que, com a camisa do Philadelphia Warriors, marcou 100 pontos numa só partida, contra o New York Knicks, no dia 2 de março de 1962. Ninguém jamais chegou perto dessa quantia centenária – a não ser que dê para considerar o déficit de 19 pontos do recorde pessoal de Kobe Bryant, atingido contra o Toronto Raptors em 22 de janeiro de 2006, como algo mínimo.

Aspirar a 100 pontos num jogo de NBA hoje, sabemos, é algo quimérico. Se for para atingir a metade disso, porém, muda o cenário, não? OK: ninguém vai falar que é fácil terminar um jogo com cinquentinha. Mas em diversas ocasiões a marca já foi batida, a ponto de ter se tornado uma “meta clássica”. Uma soma que define um clube famoso, do qual participam grandes cestinhas como Wilt, Jordan, Baylor, Kobe, Iverson, Wilkins, Malone, Carmelo, entre outros.

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Mas, de acordo com a lei do randômico, do sonhar-é-possível, numa liga que filtra os melhores atletas do mundo, recursos não faltam para um ou outro penetra entrar nesse grupo. Como acabou de fazer o armador Mo Williams, ao anotar 52 pontos na tão esperada vitória do Minnesota Timberwolves sobre o Indiana Pacers, terça-feira.  Quem poderia esperar por um evento desses? Ricky Rubio certamente, não. Muito menos LeBron, que teve em Williams seu principal parceiro de ataque em sua primeira passagem por Cleveland.

Quebrando um galho no revezamento com o jovem Zach Lavine desde a lesão de Rubio, Williams tinha média de 11 pontos por partida na temporada. Hoje tem 12,4. Aos 32, ele se tornou o quarto mais velho da história a se tornar um outro tipo de cinquentão.

O mais legal: a maior fonte de pontos para o armador na partida contra o Pacers foi justamente aquela bola que é julgada como a mais ineficiente da NBA nestes tempos, o tiro de média distância. Para deixar claro, no jargão da liga, o arremesso de média é todo aquele que não sai dentro do garrafão ou além da linha de três pontos. Nesta zona intermediária expandida, ele converteu 11 de 19 arremessos. Foi o máximo que um jogador conseguiu converter durante todo o campeonato, e bem acima de sua própria média de apenas dois cestas dali por partida.

O jogador natural de Jackson, no Mississipi, viveu seu auge entre 2005 e 2009, ano no qual, escoltando LeBron, foi eleito para o All-Star Game. Nas três campanhas, teve média superior a 17 pontos por partida (naquela temporada, chegou a marcar 44 e 43 pontos em vitórias, respectivamente, sobre Phoenix e Sacramento). Desde então, porém, sua cotação só caiu, lhe restando um papel que realmente é o mais indicado para suas características: um armador fogoso vindo do banco de reserva. Função que executou tão bem pelo Blazers no campeonato passado. Em Minnesota, numa jovem equipe, parece deslocado. Ao menos sua jornada inesquecível valeu para encerrar uma sequência de 15 reveses do time de Andrew Wiggins.

No geral, Maurice converteu 19 de 33 arremessos de quadra. Quando viu que era dia, brincou com os orgulhosos defensores de Indiana de que não adiantaria marcá-lo, já que ele estava com a sensação de que a cesta tinha a largura do Oceano Pacífico. Com essa confiança toda, não só ele estabeleceu seu recorde pessoal e o recorde de pontos da temporada 2014-2015, como também garantiu ingresso no clubinho alternativo dos 50 pontos, se juntando a mais algumas figuras que jamais apareceriam como favoritos numa casa de apostas.

Vejamos:

Terrence Ross, 51 pontos, 2014: o ala do Raptors foi a referência automática para completar as notas sobre Mo Williams, já que havia sido o caso improvável mais recente, depois de ter marcado 51 pontos contra o Los Angeles Clippers na temporada passada, igualando o recorde da franquia, antes pertencente a Vince Carter. Ele era o jogador com a menor média de pontos até se tornar um cinquentão, com 9,3 pontos  – sendo que sua principal marca havia sido de 26 pontos. Muitos consideram a explosão de Ross como a mais bizarra, por isso. Abaixo, vejo casos mais estranhos, especialmente pelo fato de Ross ser tão jovem (hoje tem 23, mas eram 22 anos quando realizou a melhor partida de sua vida). Ainda não sabemos aonde vai parar a carreira do talentoso ala, desses raros caras que poderia vencer tanto um torneio de 3 pontos como de enterradas. Ah, uma coisa: seu time perdeu mesmo assim, por 126 a 118. Ao final da partida, ele ouviu de Jamal Crawford: “Bem-vindo ao clube dos 50 pontos”. O ala-armador chegou a fazer 52 contra o Miami Heat em 2007 – mas não entra nessa lista, já que é um cestinha prestigiado em toda a liga.

Andre Miller, 52 pontos, 2010: o armador é um baita jogador, não há dúvida. Mas nunca foi reconhecido como um perigoso pontuador de mão cheia, né? Sua fama é muito maior como a de organizador de jogadas (chegou a liderar a NBA em assistências em 2001-02, com 10,9), o que, aos 38, ainda lhe rende um bom emprego como reserva de John Wall em Washington. Pois com a camisa do Portland Trail Blazers, clube no qual não agradou tanto assim, aliás, aos 33 anos, ele destroçou a defesa do Dallas Mavericks, aproveitando seu tamanho, força e inteligência no jogo de pés de costas para a cesta, para liderar uma vitória bastante apertada: 114 a 112, com prorrogação. Foram 25 pontos entre o quarto final e o tempo extra, para ele ficar a dois pontos do recorde da franquia estabelecido por Damon Stoudamire. Sua média era de 12,6 pontos até então. No duelo com os texanos, Miller deu apenas duas assistências.

Brandon Jennings, 55 pontos, 2009: o armador já havia causado sensação nos Estados Unidos ao abrir mão do basquete universitário para jogar uma temporada na Itália, antes de entrar na NBA. Quando chegou ao Milwaukee Bucks, empolgado e tentando mostrar serviço (já era muito questionado pelos scouts naquela época…), causou estragos imediatos, marcando um mínimo de 24 pontos em sete de seus primeiros 11 jogos. O melhor deles foi contra o Golden State Warriors em 14 de novembro de 2009, na mesma temporada de Miller. Foram 21 cestas de quadra em 34 tentativas, incluindo 7-8 nas bolas de longa distância. Ele também deu cinco assistências. Em sua carreira, porém, ele nunca passou da média de 40% nos arremessos de quadra numa temporada e converte 35,1% nos tiros de três. Agora é Stan Van Gundy quem tenta canalizar o potencial do irregular armador em sua arrancada em busca dos playoffs com o Detroit Pistons.

Tony Delk, 53 pontos, 2001: num Phoenix Suns dirigido por Scott Skiles, com Jason Kidd e Penny Hardaway no elenco, foi Tony Delk, de 27 anos e campeão universitário por Kentucky nos anos 90, quem arrebentou com a boca no balão contra o emergente Sacramento Kings no dia 2 de janeiro, começando o ano novo com tudo. Dos 27 arremessos que tentou, errou apenas sete  (74% de aproveitamento) – e nenhum deles foi de longa distância. Matou também 13 de 15 lances livres, para compensar. Ainda assim, o Suns foi derrotado na capital californiana, na prorrogação, com ótima atuação da dupla sérvia Stojakovic e Divac, que somaram 77 pontos. Um ano depois, ainda com a fama de cestinha vindo do banco, Delk seria trocado para um impaciente Boston Celtics, que mandou um jovem ala chamado Joe Johnson para o Arizona… O veterano deixaria a histórica franquia em 2003, tendo ao menos ajudado o time de Paul Pierce e Antoine Walker a alcançar dois playoffs – em 2002, perderam a final do Leste para o Nets. Aos 32, ele viu sua carreira se encerrar, pelo Detroit Pistons, anotando 182 pontos, no total, na campanha 2005-06.

Clifford Robinson, 50, 2000: Robinson comandou o Phoenix Suns num triunfo sobre o Denver Nuggets, por 113 a 100, convertendo 17 de 26 arremessos em 43 minutos. Isto é, sozinho, anotou metade dos pontos do time adversário, que contava com Antonio McDyess em seu auge atlético, mais Raef LaFrentz, Popey Jones e Keon Clark na sua rotação de grandalhões. Robinson fez uma grande campanha em 1999-2000, passando da casa de 20 pontos em 28 ocasiões. Não foi uma jornada isolada: numa carreira que durou 17 anos, ele teve médias de 14,2 pontos por jogo e foi eleito para o All-Star e ganhou o prêmio de 6º homem da liga em 1993, com a camisa do Blazers, clube pelo qual foi vice-campeão da NBA em duas ocasiões. Nessa época, teve média superior a 20 pontos por quatro temporadas. E o que está fazendo aqui, então? É que, pelo Suns, o ala-pivô já estava bem longe de seu auge e se tornou o segundo jogador mais velho na história a marcar 50 pontos num jogo, aos 33 anos e 31 dias, atrás apenas de Andre Miller. Quando se aposentou em 2007, tinha 1.380 partidas de temporada regular em seu currículo, a nona maior rodagem da liga.

Tracy Murray, 50, 1998: com um nome comum desses, é bem capaz de Murray ter passado despercebido para o fã casual de NBA na década de 90. Até se esbaldar contra a fraquíssima defesa do Golden State Warriors em fevereiro de 1998, o arremessador talvez fosse mais famoso por ter sido incluído numa troca entre Blazers e Rockets que o mandou, em fevereiro de 1995, para Houston ao lado de Clyde Drexler, para ser campeão pela franquia texana. Reservão na turma de Tomjanovich, se tornou na temporada seguinte um membro fundador do Toronto Raptors. Num time fraco, conseguiu a maior média de sua carreira, com 16,2 pontos por partida. Com moral, assinou com o Washington Bullets em 1997, como agente livre. Aproveitando-se da ausência de Chris Webber e Juwan Howard, chamou a responsabilidade no ataque do técnico Bernie Bickerstaff e, em 43 minutos, converteu 18 de 29 arremessos contra um Warriors – que, vejam só, tinha Tony Delk no time titular. Murray jogou sua última partida de NBA em 2003, de volta ao Blazers, aos 32 anos, se despedindo com aproveitamento de 38,8% nas bolas de três e 9,0 pontos.

Dana Barros, 50 pontos, 1995: num decadente Philadelphia 76ers, o baixinho de 1,80 m (oficialmente, claro), viveu, de longe, seu melhor campeonato em 1994-95, sendo eleito de modo surpreendente até mesmo para um All-Star Game, com médias de 20,6 pontos e 7,5 assistências. Era seu segundo ano na Filadélfia, depois de ter passado quatro anos como reserva de Gary Payton e Nate McMillan no Seattle SuperSonics. Sua grande atuação aconteceu contra o Houston Rockets, justamente o campeão, torturando Kenny Smith e Sam Cassell –  e de nada adiantou, já que seu time foi surrado por 136 a 107. Outro que se valorizou bastante com a marca clássica em seu currículo, integrante da comunidade de ascendência cabo-verdiana de forte presença em Massachusetts, assinou, então, um belo contrato com o Boston Celtics, clube no qual ficou até 2000, sem, no entanto, repetir o sucesso. Depois de duas temporada pelo Pistons, voltou ao Celtics em 2003 para se aposentar da liga americana aos 36, com um único jogo.

– Willie Burton, 53 pontos, 1994:  o ala foi mais um a se aproveitar do elenco fraquíssimo do Sixers naquela temporada, ganhando um volume ofensivo impensável. Quando foi selecionado pelo Miami Heat na nona colocação do Draft de 1990, vindo da Universidade de Minnesota, prometia mais, mas acabou jogando por apenas oito temporadas na NBA, com média de 10,3 pontos e 42,4% de aproveitamento nos arremessos, em 21,1 minutos. Como segundo cestinha da equipe de Philly, terminou o campeonato 1994-95 com 15,3 pontos por jogo, sendo o auge os 53 que anotou justamente numa vitória contra sua ex-equipe, com 12 de 19 nos arremessos (5 de 8 em três pontos) e absurdos 24 de 28 nos lances livres, em 43 minutos, dando um banho em Glen Rice. O curioso é que, enquanto Barros conseguiu um megacontrato do Boston, Burton não recebeu nem mesmo uma proposta do 76ers. O máximo que o time lhe propôs foi um contrato sem garantias. O ala decidiu, então, jogar na Itália. Retornou em 1996 aos EUA, via Atlanta Hawks, mas com pouco prestígio. No dia 8 de março de 1999, foi dispensado pelo Charlotte Hornets, sendo obrigado a deixar o país novamente para estender sua carreira. Passou por Grécia, Rússia, em ligas menores americanas e se aposentou em 2004 no Líbano.


Bauru também sabe vencer um jogo de nervos
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

Como parece acontecer em todo anunciado grande jogo do NBB, aquele que gera expectativa por parte de todos os envolvidos com o campeonato – e, não, apenas de duas torcidas –, o duelo entre Flamengo e Bauru desta terça-feira foi nervoso.

Bastante equilibrado, e nervoso, no qual o clube paulista saiu vencedor por 84 a 77, mostrando que pode render nas mais diversas situações, chegando a nove triunfos consecutivos.

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Sim, essa coisa da chiadeira não é a perspectiva mais original para se abordar um confronto tão interessante como esse, com os atuais bicampeões encarando o time que se reforçou tanto, mas tanto, que se tornou obrigatoriamente o principal candidato a derrubá-los. Jajá coloco um pouco mais de colher aqui. Antes, se faz necessário bater na mesma tecla. Muito já se escreveu a respeito disso, mas, enquanto a medição da reclamação dos técnicos e jogadores – principalmente o dos técnicos – se manter em altos decibéis, não tem como não registrá-la. É demais, gente.

Os árbitros cometem erros?!

Esperem um pouco aí, enquanto dou uma pausa para me restabelecer depois de bombástica informação.

(…)

Pronto: água com açúcar tomada. Qualquer coisa, a maracugina já está a postos também.

A arbitragem no Rio de Janeiro deixou passar muitos lances. Teve, por exemplo, um ataque em que Gui (acho) levou o toco de Benite na zona morta, no primeiro tempo, num ação que pareceu limpa, na bola. No segundo tempo, Jerome Meyinsse foi subir para um bloqueio e tocou no aro, impedindo uma bandeja. Interferência clara, e nada foi marcado.

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos... O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos… O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Percebam que nem citei o time dos atletas acima. Porque não importa: os erros acontecem naturalmente, contra e para ambos os lados, de modo que se nivelam ao estouro do cronômetro. Nessa partida em específico, não sei bem se houve uma atrocidade, ou uma conduta tendenciosa que justificasse tanta pirraça. A não ser que a pressão seja algo consciente, para tentar ganhar o benefício da dúvida mais para a frente, num momento de decisão.  Não seria de forma alguma algo aceitável, mas sabemos que faz parte do jogo. A relatada alta temperatura na Arena da Barra também poderia ser um fator para esquentar a cuca, claro. Mas esse costuma ser o padrão de tensão das partidas por aqui, independentemente do funcionamento do ar-condicionado.

Além do mais, cobrar tanto os homens do apito pode ser mero escapismo. Afinal, ninguém aqui, aí ou ali acredita piamente que Bauru e Flamengo tenham feito um jogo perfeito*, né? Não quando temos 29 turnovers somados e um aproveitamento nos arremessos bem abaixo dos 50%. O Fla, por exemplo, fez um ataque para 183 pontos e terminou com 77 (42,1%).

(*PS: Ninguém é perfeito. Jornalista, jogador, torcedor, técnico e juiz. Será impossível conviver com uma realidade dessas?)

Atrás no placar o tempo todo, os rubro-negros, naturalmente, foram aqueles que mais reclamaram – creio, aliás, que muito mais. Obviamente não ajudou em nada o fato de o time de José Neto ter perdido dois dos últimos três jogos, situação com a qual não estão nada habituados. “Não estávamos tão concentrados e isso nos prejudicou. Bauru soube controlar o jogo e é muito difícil você virar uma partida atuando diante de uma equipe tão qualificada. Não estamos em um bom momento na competição, mas temos que botar a cabeça no lugar e tentar consertar os erros para os próximos jogos”, disse Gegê.

Nas entrevistas pós-jogo, ainda mais depois de tanta tensão em quadra, é difícil colher uma declaração tão boa como essa, via site oficial da LNB. O jovem armador flamenguista resumiu objetiva e precisamente o que se passou (ou o que se passa) em quadra com sua equipe. Se a cabeça não está no lugar, as coisas ficam mais complicadas, mesmo, especialmente contra o único rival do NBB que lhe pode fazer frente no número de atletas “selecionáveis” – ao menos levando em conta os nomes constantes nas listas de Rubén Magnano e sua comissão.

E aí, nesse jogo de nervos, o clube paulista encontrou mais uma oportunidade para comprovar sua força. O Limeira de Dedé e seu batalhão de armadores é o líder do NBB no momento, com apenas um revés, e vem de mais uma grande vitória. Mas é muito difícil apontar outro favorito ao título que não Bauru.

A forma como a partida se desenvolveu só reforça essa impressão. No papel e também pela abordagem que resultou nos títulos do Paulista e da Liga Sul-Americana, sabemos que a equipe de Guerrinha está construída para vencer pelo ataque. O potencial ofensivo em seu elenco é absurdo, com oito atletas que podem bater a marca de 20 pontos com tranquilidade. Caras que, colocados num time de menor orçamento, poderiam ser a principal referência.

Contra os rubro-negros, porém, qual era a preocupação? Ricardo Fischer conta: “Era um confronto direto e sabemos o quanto é difícil bater o Flamengo fora de casa. Viemos com uma proposta de baixar a pontuação deles e conseguimos. Empurramos o Flamengo para baixo”. Objetivo alcançado – o que, ironicamente, rendeu ao seu time uma folguinha como melhor ataque do NBB, superando os cariocas em casas decimais.

O Bauru tem em seu perímetro atletas ainda mais ágeis que que os do Fla – ainda mais quando estão juntos Alex, Larry e Gui (num excelente segundo tempo). Velocidade e agilidade: é para isso que o basquete se voltou, e os quatro líderes do campeonato nacional têm esse ponto em comum. A presença de Jefferson William na rotação de pivôs também dá mais leveza ao conjunto paulista. O ala-pivô, aliás, fez uma grande atuação, mexendo bem a bola, correndo para valer, enfrentando um páreo duríssimo contra Herrmann e Olivinha.

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

No Rio, Jefferson e seus companheiros não promoveram exatamente um abafa, não executaram uma defesa massacrante, mas conseguiram limitar as infiltrações de Nicolás Laprovíttola, algo essencial. Marquinhos, é verdade, conseguiu jogar lá dentro, mas as linhas de passe estavam mais apertadas. E aí temos arremessos de longe bem fiscalizados (7/30, 23,3%).

Do outro lado, o volume nos tiros de fora bauruenses seguiu elevado, com 29 tentativas, contra 30 de dois pontos. Seu aproveitamento foi bem maior (37,9%, rendendo 12 pontos a mais também) neste fundamento. Mas não se pode ignorar a vantagem dos visitantes nos lances livres, com nove pontos a mais (21 a 12), em cestas preciosas conseguidas depois de infiltrações de Fischer, Alex e da busca do jogo interior com Hettsheimeir, consistentemente mais efetivo em seu retorno ao Brasil quando mais perto da cesta.

Não foi um banho de basquete. O Flamengo se aproximou do placar de modo perigoso em diversas ocasiões no segundo tempo, inclusive nos minutos finais. Faltou, no entanto, na hora de concluir a virada, a lucidez e a frieza que Gegê mencionou. É algo obrigatório para enfrentar um time do porte de Bauru: concentração, mais na bola, muito menos no apito.


Euroligado: um quarto inesquecível para Huertas
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Giancarlo Giampietro

Diamantidis, considerado um dos melhores defensores do basquete europeu na história, não conseguiu parar Huertas

Diamantidis, considerado um dos melhores defensores do basquete europeu na história, não conseguiu parar Huertas

Dentre todos os brasileiros que estão em atividade no exterior, o pivô Augusto Lima é aquele que vive a melhor temporada, no geral. Já contamos essa história. Mas aquele que vive a melhor fase é Marcelinho Huertas, conforme notado há algumas semanas também. Nesse excelente momento individual por que passa o armador,  os dez minutos mais vultuosos aconteceram nesta sexta-feira, no terceiro período da vitória providencial do Barcelona sobre o Panathinaikos, por 80 a 76. Foram, talvez, sem exagero, os dez melhores minutos de sua carreira – algo que só ele pode confirmar, claro.

Anotem essa: no confronto transmitido pelo Sports+, com Rafael Spinelli e Ricardo Bulgarelli, o paulistano matou seis bolas de longa distância depois do intervalo, sendo cinco delas de modo consecutivo. A sequência só foi interrompida por um pedido de tempo de Dusko Ivanovic, técnico do time grego e seu comandante por duas temporadas no Baskonia (hoje Laboral Kutxa). O sérvio pode ter tentado “marcar” o ex-pupilo, uma vez que sua defesa não conseguia pará-lo de modo algum, mas não deu certo.

Os dois primeiros arremessos caíram para dar ao Barça a liderança no início do terceiro quarto (45 a 40), depois de fal-e-cesta em cima de Esteban Batista. O americano DeMarcus Nelson converteu uma bandeja em infiltração para descontar. O ataque do Barça teve, então, bela movimentação de bola – destaque aqui para o pivô Ante Tomic, excelente passador a partir de marcações duplas – para encontrar o brasileiro novamente no perímetro. Livre, deu cesta. Na posse de bola seguinte, para desespero de Ivanovic, lá estava Huertas novamente sozinho para encaçapar a quarta, abrindo vantagem de nove pontos. Aí veio o pedido de tempo. O ala Vlantimir Giankovitz acertou um gancho. No ataque seguinte… Nova bomba de três para Huertas,  a quinta em menos de três minutos. Ao final da parcial, no último ataque catalão, ele contou com um pouco de sorte num chute de muito longe, a partir do drible, para fazer a sexta cesta de longe. Saíram, deste modo, 18 de seus 22 pontos.

(O Panathinaikos ainda apertou o jogo e vendeu cara a derrota, ficando a um ponto do empate no finalzinho, mas o time da casa sobreviveu, para somar sua primeira vitória na fase de Top 16.)

Na temporada, Huertas estava com um aproveitamento de 45,1% nos arremessos de fora. Já era o melhor rendimento de sua carreira na Euroliga, superando os 44,2% de 2010-11, pelo Baskonia, justamente sob a orientação de Ivanovic – e bem mais produtivo que os 33,8% do campeonato passado ou que os 35,6% da carreira, por exemplo. Depois da formidável jornada, no entanto, elevou este número para 51,3%. Nos últimos cinco jogos, são 66,6% (12/18).

Quando o armador está com uma pontaria dessas, seu jogo simplesmente vira um pesadelo para a concorrência, já que eles não podem se descuidar de suas infiltrações. Não apenas por sua capacidade para matar aqueles chutes lindos em flutuação, como também pela destreza nos passes, para deixar Tomic e os pivôs do Barça em ótima posição para finalização, ou para encontrar arremessadores como Navarro e Oleson abertos na zona morta. Rubén Magnano deve estar empolgado.

PS: neste domingo, numa partida que a Liga ACB já define como “apoteótica”, o Barça derrotou o Unicaja Málaga por 114 a 110, com mais 19 pontos e 8 assistências de Huertas, em 27 minutos. O jogo foi definido na prorrogação apenas, na Catalunha.)

O jogo da rodada: Anadolu Efes 74 x 70 Unicaja Málaga
Foi daquelas vitórias que deixa o time vencedor em êxtase, ao passo que os perdedores entram em luta contra a depressão. Vindo de uma sequência de cinco reveses pela competição – embora lidere a Liga ACB de forma surpreendente –, a equipe malagueña, com sua proposta de jogo acelerado, venceu o primeiro tempo em Istambul por 15 pontos de vantagem (49 a 34). Mas marcou apenas 21 pontos depois do intervalo, com um desempenho ofensivo tenebroso.

A diferença foi construída com base em bom desempenho dos pivôs Will Thomas e Vladimir Golubovic na linha de frente, assessorados pelo armador Jayson Granger, todos reservas na rotação volumosa de Joan Plaza. No terceiro período, contudo, não houve quem conseguisse superar uma defesa muito bem armada por Dusan Ivkovic, que forçou uma série de chutes desequilibrados de seus oponentes, levando apenas oito pontos em dez minutos. Com múltiplas conversões de três do outro lado, a jovem equipe turca empatou o placar em 57 a 57.

Por mais substituições que fizesse, Plaza não conseguiu encontrar uma resposta, e o Anadolu chegou a abrir 67 a 59 no placar, numa parcial impressionante de 33 a 10 desde o final do primeiro tempo. Foi só com o veterano islandês Jon Stefansson, após um pedido de tempo, que o treinador espanhol ganhou algum suporte em quadra, voltando a equilibrar as coisas para os dois minutos finais, ficando três pontos atrás (69 a 66). O armador naturalizado croata Dontaye Draper, no entanto, foi decisivo nas últimas posses de bola com uma bandeja e um chute de fora para definir o primeiro triunfo do time de Dusan Ivkovic (aquele que não gosta de americanos meia-boca, diga-se) no Top 16.

Dario Saric não teve dos jogos mais empolgados no ataque (5 pontos e 2 assistências em 29 minutos, com 2/4 nos arremessos), mas o jovem ala Cedi Osman voltou a produzir bem, com 12 pontos em 16min54s, matando 5/10.

O que os cartolas pensam
Na segunda parte de sua enquete com os gerentes gerais dos times que disputam o Top 16, a Euroliga se concentrou nos jogadores – algo sempre mais interessante (neste link e neste também). Vamos a alguns dados:

euroleague-survey-mvp-2015-teodosic

– Marcelinho Huertas foi apontado como o quarto melhor armador do campeonato, com 8,3% dos votos, atrás de Milos Teodosic (CSKA, 41,6%), Sérgio Rodríguez (Real Madrid, 25%) e Vassilis Spanoulis (Olympiakos, 16,6%). Páreo duro, mesmo. Na hora de responder sobre quem seria o melhor passador, Huertas voltou a aparecer em quarto, ao lado do francês Thomas Heurtel, do Anadolu, com o mesmo percentual, atrás de Rodríguez (29,1%), Teodosic (25%) e Dimitris Diamantidis (Panathinaikos, 20,3%).

– Teodosic recebeu 33,3% dos votos na hora de palpitar sobre o eventual MVP dessta temporada, superando Boban Marjanovic (20,8%) e Tomic (12,5%). Andrew Goudelock, do Fenerbahçe, Nando De Colo e Sonny Weems, ambos do CSKA, Rudy Fernández, do Real, James Anderson, do Zalgiris, e Spanoulis também foram citados.

– Goudelock foi apontado com o melhor americano da competição, com 33,3%, acima de Weems, Anderson e Keith Langford, do já eliminado UNICS Kazan.

– Os alas-pivôs Stephane Lasme, do Anadolu, e Kyle Hines, do CSKA, foram apontados com os melhores defensores, com 16,6%. Hines ganhou a votação de jogador mais durão, mais chato de se lidar, com 16,1%.

– Agora, se eles tivessem o direito de assinar com qualquer jogador da Euroliga, sem nenhuma restrição, o alvo seria Spanoulis, com 33,3%, seguido por Tomic (12,5%), Bogdan-Bogdan, Weems e De Colo (8,3%).

Lembra dele? Felipe Reyes (Real Madrid)

Reyes, em seu gancho tradicional: fundamento, QI e determinação

Reyes, em seu gancho tradicional: fundamento, QI e determinação

O eterno coadjuvante. Reyes, 34, sempre foi mencionado na segunda linha de todos os textos sobre a era dourada espanhola, depois de Pau Gasol, Navarro, Calderón e até de Garbajosa. Pois o país já praticamente trocou de gerações, e o veterano  ala-pivô do Real se aprofundou na sua condição de coadjuvante. Em termos de esforço, consistência e fundamentos, porém, estamos falando de um craque, realizando uma Euroliga sensacional (sua 11ª!). Em vitória por 93 a 78 sobre o Galatasaray, na quinta, ele marcou 22 pontos e pegou 11 rebotes em apenas 22 minutos, acertando 9 de 13 arremessos, atingindo índice de eficiência de 29, para dividir o prêmio de MVP da jornada com o americano Brian Randle, do Maccabi Tel Aviv. Estraçalhou, num ritmo ainda mais forte do o que vem imprimindo na temporada (médias de 11,3 pontos e 6,1 rebotes em 17 minutos).

Em números

Goudelock fez o que quis no segundo tempo contra o Nizhny: tiros de três, bolas em flutuação, bandejas lindas. O mini Mamba faz estragos na Euroliga e já é considerado pelos cartolas o melhor americano e o melhor shooting guard da competição, além do segundo melhor arremessador, atrás de Jaycee Carroll, do Real

Goudelock fez o que quis no segundo tempo contra o Nizhny: tiros de três, bolas em flutuação, bandejas lindas. O mini Mamba faz estragos na Euroliga e já é considerado pelos cartolas o melhor americano e o melhor shooting guard da competição, além do segundo melhor arremessador, atrás de Jaycee Carroll, do Real

23 – O total de pontos anotados por Goudelock em apenas 24 minutos, na vitória do Fenerbahçe sobre o Nizhny Novgorod, por 78 a 60, guiando uma arrancada do clube turco no segundo tempo. O que vale ressaltar aqui: a flexibilidade que Zeljko Obradovic tem em seu elenco. Sua defesa melhorou muito após o intervalo, quando ele abriu mão de jogar com seus pivôs mais pesados (Savas, Erden e Zoric), emparelhando Jan Vesely, Emir Preldzic e Nemanja Bjelica. Que trio, não? Versáteis, ágeis, espichados, podendo trocar na marcação sem problemas, tapando o garrafão.

12 – O CSKA chegou a 12 triunfos consecutivos, sustentando sua invencibilidade, ao bater o Laboral Kutxa por 99 a 90 – partida que transmiti pelo Sports+. O clube russo claramente jogou para o gasto, ciente de sua superioridade em relação ao time espanhol, aquele que mais trocou peças durante a competição. Juntos, Teodosic e De Colo contribuíram com 35 pontos e 13 assistências, com 10/21 dos arremessos.

1 – Apeas um time do Grupo E conseguiu duas vitórias nas duas primeiras rodadas do Top16: o Real. De resto, temos seis times empatados com 1-1 e o Estrela Vermelha na lantetrna, com 0-2. No Grupo F, Olympiakos, CSKA e Anadolu estão com 2-0, com o time grego liderando a chave com base no saldo de pontos (+32).

Tuitando


Cavs dá últimas cartadas para avançar no Leste
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Giancarlo Giampietro

Acesso restrito para a dupla agora em NYC

Acesso restrito para a dupla agora em NYC

No domingo, pouco antes de o Cleveland Cavaliers iniciar aquela que seria uma sequência duríssima de jogos, sem poder contar com LeBron James, o gerente geral David Griffin fez questão de chamar uma entrevista coletiva. Na pauta, o respaldo incisivo ao técnico David Blatt, cuja segurança no cargo já era ameaçada (ao menos por especulações na mídia). Bateu a mão na mesa e disse que não tinha nada disso. Que era ridículo até mesmo pensar isso.

Além do apoio dado ao treinador, o dirigente falou sobre como estava realmente buscando reforços para o time, principalmente depois da lessão que custou mais uma temporada a Anderson Varejão. Mas alertou que as coisas andavam difíceis no mercado. “Estamos ativamente no telefone e fazendo tudo que podemos para melhorar a equipe. Ao mesmo tempo, infelizmente, nosso timing não bate sempre com o dos outros. Até o deadline para se fazer trocas, as pessoas não têm tipicamente muitas razões para fazer uma negociação. Então, estamos fazendo o que podemos e trabalhando todo e qualquer cenário. A lesão alterou o nível de urgência. O que não posso fazer é alterar o nível de disponibilidade no mercado. Então, até que chegue o momento em que possamos encaminhar um negócio que atenda a necessidade de ambos os lados, vamos continuar a nos mexer”, afirmou.

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Três dias depois, fechou duas trocas. Que coisa, né?

Esta é a NBA, onde o adiantado da hora acontece.

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

Depois de receber JR Smith e Iman Shumpert numa entrega expressa de Phil Jackson, o Cleveland agora anuncia um acordo com o Denver Nuggets para, depois de meses e meses de flerte, enfim ter o pivô Timofey Mozgov em seu elenco. A contratação do gigante russo é a mais importante, para suprir uma carência clamorosa no garrafão. Foi por isso, também, a transação mais custosa, com o time do Colorado recebendo duas escolhas de primeira rodada de Draft.

Ainda que seja realmente muito cedo – e, sim, ridículo – para falar em demissão de Blatt, Griffin, por outro lado, teve tempo o suficiente para perceber que o elenco montado para a abertura da temporada não daria conta do recado. Por mais que bata na tecla de que o processo de montagem do renovado Cavs é de médio para longo prazo, desde o momento em que LeBron James assinou um contrato curto e forçou a barra para a troca de Kevin Love, as metas para a franquia se tornaram automaticamente imediatistas.

No mesmo domingo da coletiva enfática do gerente geral, fiz no Sports+ o jogo de seu desfalcado Cavs contra o Dallas Mavericks. Sem LeBron James, com um Kyrie Irving limitado por dores nas costas, a equipe levou uma surra em casa, como já esperava. Não dava para falar muita coisa sobre tática com base naqueles 48 minutos. Mas o que ficou claro foi a fragilidade do elenco que ia além dos seis, sete principais homens da rotação.

Mesmo com força máxima, a verdade é que o produto entregue em quadra se mostrava bastante vulnerável. O time teve bons momentos, venceu todas as equipes que estavam acima na classificação da Conerência Leste, mas a química obviamente não era das melhores, com a defesa sofrendo mais, como o de costume nessas ocasiões de química duvidosa. LeBron tem muito o que falar a respeito, aliás. Mas esse assunto fica para daqui a pouco. Griffin, de todo modo, percebeu que algo precisava ser feito.

Lou Amundson: leão de treino, corre e briga por rebotes. Mas não dá para jogar

Lou Amundson: leão de treino, corre e briga por rebotes. Mas não dá para jogar

Mogzgov chega para, em teoria, fortalecer a defesa interior. O porte físico do pivô, de 2,16m, já é imponente. Mas ele pede ainda mais respeito quando vemos o quanto salta e como corre pela quadra. O curioso, porém, é que o Denver Nuggets defende com menos eficiência quando ele está em quadra, embora isso possa ter a ver com quem está ao seu redor. Segundo a medição avançada de Real Plus-Minus, do ESPN.com, que procura fazer exatamente a distinção de quem está em quadra na hora de avaliar o impacto de cada jogador, ele seria 25º pivô com mais impacto defensivo para seu time. Blatt certamente confia no atleta, com quem já trabalhou com sucesso na seleção russa – foram, juntos, medalhistas de bronze nas Olimpíadas de Londres 2012.

A contratação já diminui a carga sobre Tristan Thompson, de todo modo, e arruma um guarda-costas para Kevin Love, que sempre precisou de um. E aí está uma questão mais relevante do que simplesmente dissecar os números do russo: o Cavs precisa defender melhor de modo geral, e tudo começa pelo comprometimento de suas estrelas, incluindo o ala-pivô ex-Wolves e LBJ.  Se eles não fizerem sua parte, não há pivô que vá consertar, por conta própria, uma defesa esburacada. Iman Shumpert, se conseguir ficar em forma, já pode dar uma boa força para isso, com muita agilidade e envergadura para efetuar desarmes e ameaçar as linhas de passe.

(Sobre JR Smith? Bem… Já está registrado que é um dos jogadores mais lunáticos de sua geração. Cuja seleção de arremessos sempre foi irritante. Nas últimas quatro temporadas, ele não passou da marca de 43% de quadra. Seu chute de longa distância, todavia, é bem superior ao de Dion Waiters. E, ego por ego, não dá para dizer que o povo de Cleveland vai sentir muito a falta do ala-armador endereçado para OKC. Se ele não aprontar muito, vai representar um avanço em relação a Mike Miller e James Jones, os chapas do Rei, que são atiradores muito mais apurados, mas que não contribuem com mais nenhuma habilidade em quadra. Ao menos essa versão de Miller que temos visto: o ala, nos bons tempos, era melhor reboteiro e distribuidor.)

Para Blatt, a dificuldade é que ele agora tem três novos jogadores a integrar em seus planos e rotações, enquanto seu relacionamento com LeBron e Love ainda está, digamos, em manutenção – ao menos os reforços chegaram mais de um mês antes da data final para trocas, dando mais tempo para buscar o entrosamento ideal. Pode ser que não dê tempo de buscar mando de quadra nos mata-matas. O fundamental seria apenas chegar aos mata-matas com um conjunto sólido, azeitado. No Leste, o fato é que ao menos eles não estão ameaçados.

O treinador, de qualquer modo, sabe que a cobrança é dura. Mas deve se sentir mais animado: bem melhor trabalhar com jogadores realmente produtivos, em vez de um projeto como Alex Kirk ou veteranos inofensivos como AJ Price, Lou Amundson e Brendan Haywood. Eram quatro peças nas quais ele não tinha confiança nenhuma. Jones só começou a jogar por causa de lesões e, agora, devido a trocas. Fora isso, Shawn Marion hoje está muito mais para “Cocoon” do que “Matrix“. E aqui já estamos falando de mais de 1/3 do antigo plantel comprometido.

Um plantel cuja construção certamente teve mais influência de LeBron e Griffin, o dirigente que, agora, espera não ter de convocar tão cedo uma nova coletiva. Em termos de negociações, não sobrou muito com o que mexer. Seu trabalho está praticamente feito. Se ele se sentir obrigado a se apresentar aos jornalistas num futuro breve, aí, sim, Blatt pode ficar verdadeiramente preocupado.

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dion-waiters-okc

Sam Presti, gerente geral do Thunder, sabe que as chances de Reggie Jackson se mandar ao final do campeonato beiram os 98,9%. O armador quer ser titular de algum time e já montou um bom DVD de melhores momentos para justificar um contrato na casa, talvez, de oito dígitos anuais. Então Waiters se encaixaria, num preço baixo, como o cestinha do banco para ajudar Durant e Westbrook. Supostamente, claro. O número quatro do Draft de 2013 tem um bom drible e finaliza bem quando próximo da cesta. Segundo medição do NBA.com, porém, ele acertou nesta temporada apenas 27% dos arremessos em situação de catch-and-shoot. Quer dizer, o cara precisa da bola para produzir – e fica ansioso, para não dizer desesperado quando não a tem em mãos. Se em Cleveland, ela ficava dividida entre LeBron e Irving, em OKC… Sacaram, né Waiters precisa aceitar suas limitações de momento e entender que a história de “novo, possível Dwyane Wade”, como seu peixe foi vendido no período pré-Draft, parece uma tremenda balela. Se topar e se enquadrar, pode ser bastante útil. Se não rolar, ao menos o preço pago não foi dos mais caros.

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Lance Galloway, o futuro (imediato) para o Knicks

Lance Galloway, o futuro (imediato) para o Knicks – não o do Westchester

Para o Knicks, é curioso ver em ação o executivo Phil Jackson, com outra mentalidade. Como treinador, ele gostaria de melhorar sua equipe para já, inclusive limitando o tempo de quadra dos calouros. Distante da quadra, não há por que se precipitar. Os Bockers caminham para ser um dos três piores times da temporada, garantindo uma ótima escolha de Draft. Hardway Jr. vai ter mais arremessos, enquanto Cleanthony Early, mais minutos. Jogadores jovens e baratos observados na D-League serão testados – entre eles o armador Langston Galloway, de 23 anos, que jogou a liga de verão pela franquia e estava em sua filial de Westchester. Além disso, sem Smith, ele ganha mais US$ 7 milhões de teto salarial para investir em agentes livres.

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A adição de Mozgov, Shumpert e Sith custarão US$ 7,3 milhões em multas por excesso salarial ao final do campeonato. Dan Gilbert, o mesmo que vai pagar US$ 16 milhões a Mike Brown nos próximos quatro anos, não tem problema em usar o talão de cheques.

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O Cavs mantém suas próprias escolhas de Draft para o futuro. Na troca pelo pivô russo, eles enviaram picks que pertenciam ao Memphis Grizzlies e ao Oklahoma City Thunder. O do Memphis é o mais valioso, já que pode ser de loteria (protegido entre os postos 1 e 5 nos próximos quatro anos). Em 2019, não restará mais nenhuma restrição.

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Em Denver, todos os olhos se voltam agora para o calouro Jusuf Nurkic. O pivô bósnio vem jogando bem em 2015, com médias de 11,7 pontos, 8,7 rebotes e 4 tocos nos últimos três jogos, em 22 minutos. Já deixou JaVale McGee comendo poeira. Esperem um grande saldão no Colorado, com diversos contratos de médio porte para atletas experimentados, que podem contribuir para times com aspirações aos playoffs.


O jogo terminou 174 a 169. E sem prorrogação
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Giancarlo Giampietro

Para não dizer que é mentira

Para não dizer que é mentira

Já escrevemos aqui sobre o experimento sociológico, matemático e alucinógeno aplicado pelo Reno Bighorns na D-League da NBA. A proposta de fazer o jogo de basquete mais acelerado do planeta, com arremessos de três sem parar, poucos segundos gastos no cronômetro, substituições de cinco em cinco, sob o comando de David Arseneault Jr. Tudo com a chancela do bilionário indiano Vivek Ranadive, dono do Sacramento Kings, o clube-irmão das Bigornas. Pois neste sábado os caras talvez tenham alcançado o ‘produto’ máximo em uma vitória sobre o Los Angeles D-Fenders, o afiliado do Lakers, em L.A.

O placar foi de 175 a 169.

Sem prorrogação.

(Sim, 344 pontos em 48 minutos. De D-Fenders, o time da casa ficou apenas no nome, mesmo. O-Fenders combina mais agora.)

Geralmente é legal de citar quantos atletas de um time terminaram uma partida com dígito duplo em pontuação, né? Para mostrar um elenco solidário, versátil, imprevisível. Com um placar desses, porém, as coisas se subvertem: o certo é contar quantos atletas terminaram com menos de 10 pontos. E aí vai: apenas seis. Mas tem um detalhe: se formos contar aqueles que jogaram pelo menos 10 minutos, foram apenas três com dígito simples na linha de estatística: Andrew Warren (6 pontos em 16 minutos) e o gigante canadense de 2,28m Sim Bhullar (4 em 19), pelo Bighorns, e Zach Andrews (2 em 15).

Na real, oito atletas fizeram 20 ou mais pontos, sendo que cinco passaram dos 30. Brady Heslip, o Navarro canadense e cestinha da D-League, anotou 35, acima de sua média de 27,7. David Wear, irmão gêmeo do ala Travis Wear, do Knicks, marcou 33 em 26 minutos, acertando 12 de 18 arremessos, sendo 7 de 12 de longa distância. O ala-armador Jordan Clarkson, do Lakers, liderou a ofensiva de Los Angeles, com 35 pontos. Ele ainda somou 11 assistências e cinco rebotes em 43 minutos, com 16-23 nos arremessos. O ala-pivô Roscoe Smith, ex-Connecticut, somou 32 pontos, 15 rebotes e 7 assistências. O ala-armador Vander Blue, que chegou a assinar com Celtics, Spurs e Sixers na temporada passada, teve 31 pontos, 10 assistências e 5 rebotes. Para constar, o pivô Tarik Black, dispensado pelo Rockets e recrutado por Mitch Kupchak, ficou com 23 pontos e 12 rebotes em sua estreia.

No geral, foram 85 assistências para 132 cestas de quadra, sendo 32 de três pontos. Detalhe: o time angelino converteu apenas quatro tiros de fora. A equipe vencedora levou 98 pontos no primeiro tempo. Tudo muito surreal. Nem em video game.

É basquete ainda, você deve perguntar?

Arseneault Jr. e Ranadive vão dizer que é basquete, sim, no estado mais puro. O resto da liga duvida: nenhum atleta do Reno, a despeito de seus números polpudos, foi recrutado até o momento para jogar na temporada 2014-2015 da NBA – cm exceção do ala Eric Moreland, que pertence ao Kings, claro.

Veja o jogo na íntegra, se não tiver labirintite:

Ironicamente, pouca gente viu o ‘espetáculo’ in loco, já que o jogo foi disputado numa quadra de treino do Los Angeles. O tiroteio ao menos foi transmitido na TV fechada local, com direito a comentários de A.C. Green. Além disso, o time de Reno não conseguiu bater o recorde de pontos em um jogo pela D-League: ele ainda pertence ao… D-Fenders, que anotou 175 no dia 20 de dezembro passado

, justamente contra o Bighorns, que terminou com 152 naquela ocasião.


Ano novo, vida nova? As figuras da NBA que pedem uma virada
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Giancarlo Giampietro

Danny Granger, agora feliz do outro lado, em Miami

Danny Granger, agora feliz do outro lado, em Miami

Para muitos, a carreira de Danny Granger já estava encerrada. O ala havia passado por uma cirurgia no joelho esquerdo em abril de 2013, por conta de uma tendinose (sim, existe tendinite e a tendinose) que simplesmente não o deixava em paz. O veterano mal havia participado da campanha 2012-2013, fazendo tratamentos alternativos, separado do restante do elenco do Indiana Pacers, na esperança de se aprontar para ajudar a emergente equipe em batalhas com o Miami Heat. Não deu certo, e acabou indo para a sala de operação.

Depois de uma lenta recuperação, retornou ao Pacers para a campanha 2013-2014, já transformado, na melhor das hipóteses, em sexto homem, perdendo terreno para Paul George e Lance Stephenson. Por 29 partidas, ele simplesmente não conseguiu encontrar seu ritmo ideal. Não passou de 36% no aproveitamento dos arremessos – estatisticamente, na verdade, era o pior rendimento de sua carreira, muito pior até mesmo do que seu ano de novato, beeeem distante da forma que lhe valeu uma única indicação a All-Star em 2009. O desempenho foi tão aquém do esperado que Larry Bird, na ânsia de conseguir mais um trunfo para tentar, enfim, desbancar LeBron e Wade, não viu problema em despachar seu capitão para a Sibéria Filadélfia, em troca do irregular Evan Turner. Quer dizer: Bird desistitiu de Granger.

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O veterano rescindiu seu contrato com o Sixers e fechou com o Los Angeles Clippers, do outro lado do país, ao menos se encaixando em outro time com aspiração ao título. Vindo do banco, conseguiu elevar seu rendimento a um patamar minimamente satisfatório, mas sem lembrar em nada uma força ofensiva que fosse ameaçadora. Daí a surpresa quando Pat Riley, pressionado, talvez num ato de desespero, escolheu o ex-ala do Pacers, seu antigo rival de playoffs, num pacote de reforços de última hora ao lado de Josh McRoberts para tentar convencer LeBron a ficar na Flórida. Claro que não deu certo.

Foram 19 pontos para Granger contra o Memphis, antes dos 21 contra o Orlando Magic

Foram 19 pontos para Granger contra o Memphis, antes dos 21 contra o Orlando Magic

O Miami fechou, então, com Luol Deng para cobrir a lacuna aberta no quinteto titular – mesmo que essa fosse, em teoria, uma posição que Granger pudesse ocupar. A verdade era que Riley e o técnico Erik Spoelstra ainda não sabiam exatamente o que esperar do ala, ainda mais depois de ele ter passado por uma segunda cirurgia no joelho dois meses antes de se apresentar ao clube. Só imaginavam que, dado o histórico do clube para reabilitar quase-aposentados (desde os tempos de Tim Hardaway nos anos 90, até os mais recentes casos de Rashard Lewis e Chris Andersen), valia a aposta. “Não sabíamos o estado dele para valer, mas conhecíamos nossos próprios registros com casos semelhantes, vindo de lesões, por volta dessa idade. Sabíamos que, se eles se comprometessem a trabalhar, que talvez eles precisassem da oportunidade certa, no lugar certo”, diz Spo.

Vendo o que o ala realizou nas últimas partidas, pode ser que tenha sido uma cartada certeira. “Era para ser um processo longo, mas ele já está adiantado. Pensávamos que isso iria acontecer só no Ano Novo”, afirmou. Granger primeiro recebeu minutos nas 11ª e 12ª partidas do Miami. Depois, nas 18ª e 19ª.  Voltou a ser aproveitado entre as 22ª e 24ª. Não animou muito e ficou parado por mais quatro jornadas, até ser inserido de vez na rotação. Então, no jogo mais esperado do calendário, com o retorno de LeBron no dia de Natal e transmissão, ele marcou 9 pontos, cinco dos quais em um momento crucial do quarto período, para esfriar uma reação do Cleveland Cavaliers. Nas duas partidas seguintes, marcou 39 pontos e converteu 70% dos seus arremessos, saindo do banco, com direito a oito cestas de três pontos. “O que ele fez neste último par de jogos foi fenomenal”, afirmou Dwyane Wade.

Claro que está muito cedo para celebrar dessa forma. O desafio do jogador é justamente sustentar uma sequência produtiva, consistente e com durabilidade, algo que não acontece há mais de dois anos. Nesse caso, não bastaria apenas a conversão de seus arremessos feito um James Jones, mas também se pede boa movimentação pela quadra, especialmente na defesa – o Miami precisa de toda a ajuda possível neste momento.

De qualquer forma, sabe da melhor? A crescente de Granger veio justamente nas vésperas de seu reencontro com o Indiana Pacers. Dá para ter melhor timing que esse? E mais: precisava ser justamente nesta quarta-feira, na noite da virada de ano? Não poderia ser mais emblemático, mesmo.

Agora, num universo de mais de 400 jogadores, são diversos os atletas que precisam de, senão de um recomeço, ao menos de um momento de virada em suas carreiras:

Todo o elenco do New York Knicks: Quer dizer, menos Cole Aldrich, Quincy Acy e Travis Wear, para quem a vida anda muito bem, obrigado. De resto, na pior campanha da história da franquia, o povo anda numa penúria que só. Se for para escolher um nome, porém, ficaríamos entre JR Smith e Andrea Bargnani. O ala-armador sempre foi o principal candidato a estranhar e odiar o sistema de triângulos. Esfomeado, de vista que só enxerga bem a cesta e nada mais, está agora convenientemente afastado de quadra devido a uma ruptura na fáscia plantar (algo que, acho, podemos traduzir como “sola do pé” no populacho). Já Bargnani não jogou sequer um minuto na temporada, por conta de uma ruptura de tendão no cotovelo. Sua estreia pode acontecer também nesta quarta, contra o Sixers. Difícil é encontrar alguém que ainda confie nesses caras. Smith só fez seu desempenho cair desde sua participação desastrosa nos playoffs de 2013. Para o italiano, Nova York, na verdade, já representava uma chance de recomeço, ao sair escorraçado de Toronto. Phil Jackson já disse que não topa nenhuma negociação que vá atrapalhar os planos dos Bockers no mercado de agentes livres. Não vai receber nenhum contrato indesejado que dure mais que os atuais.

A triste história de uma escolha de número um de Draft vinda da Itália

A triste história de uma escolha de número um de Draft vinda da Itália

– Bem, Josh Smith já ganhou, de certa forma, sua Mega-Sena da virada particular.

Andrei Kirilenko: pobre AK-47. Sob o comando de Jason Kidd, o ala tinha tudo para brilhar em Brooklyn, considerando a predisposição do jovem treinador para fazer o uso máximo de atletas híbridos, versáteis. Aí as costas não deixaram. Quando alegou estar bem fisicamente, veio Lionel Hollins, um técnico que conseguiu belos resultados em Memphis, mas que tem visão beeeem quadrada sobre o basquete (“Pivô bom? Só se jogar de costas para a cesta” etc.) Aí que o russo foi afastado da rotação, sem muita explicação, até se tornar o mais novo caso de banimento para a Filadélfia.A ironia é que, quando Kirilenko fechou com o Nets em 2013, houve uma choradeira geral na NBA: a de que havia um acordo por fora com o compatriota Mikhail Prokhorov, uma vez que ele havia aceitado um salário bem inferior ao seu valor de mercado.

Funciona assim, a propósito: a) um time precisa se livrar de um contrato, seja para abrir espaço no teto salarial, ou para diminuir as multas por excesso de gastança; b) o gerente geral liga para Sam Hinkie, chefão do Sixers, o time que nem mesmo cumpre a folha salarial mínima da liga e tem espaço para absorver qualquer tranqueira; c) Hinkie vai levantar o inventário do time que está ligando, para, d) rapelar mais algumas escolhas de Draft, até chegar o momento em que Philly vai ter 98% dos picks de todas as segundas rodadas da década; e) contrariado, mas sem ter muito o que fazer (ao menos ele vai economizar uns tostões, o que sempre agrada a qualquer proprietário de franquia), o cartola paga tudo o que o algoz solicita.

Deron e AK47 eram felizes em Salt Lake City e mal sabiam

Deron e AK47 eram felizes em Salt Lake City e mal sabiam

Foi o que aconteceu com Kirilenko. E pior: ao contrário da maioria dos atletas despachados para lá, Hinkie quer que o russo realmente se apresenta para jogar. Não porque conta com o medalhista de bronze olímpico para reforçar sua equipe, mas, sim, por vislumbrar uma nova troca para ele daqui a um mês – se ele jogar bem, vai aparecer algum time que sonhe com o título a pagar ainda mais pelo cara, saca? Mais escolhas de Draft! Obviamente que o russo não quer saber de virar um peão num joguete desses. Ele só quer liberdade. Se for dispensado, imagine se o San Antonio Spurs encontra um meio de contratá-lo (rompendo, vá lá, com Austin Daye)? O mundo precisa disso.

Deron Williams: Por falar em Brooklyn Nets, conheça o astro de US$ 20 milhões (US$ 19,8 mi, para ser mais preciso) que conseguiu uma proeza: virar reserva de Jarret Jack! Nada contra o novo titular, gente. Mas é que o veterano sempre foi conhecido em sua carreira justamente como o principal concorrente de Steve Blake  à condição de “armador reserva dos sonhos de todo e qualquer treinador”. Ao menos por hora, acabou essa história para Jack. Deron perdeu duas partidas devido a uma contusão na panturrilha e, quando voltou, estava no banco. Em entrevista pós-jogo, supôs que era por medida cautelar de Lionel Hollins. Ao que o treinador respondeu: “Não sabia que eu estava controlando os minutos dele”. Ui. Será que Sacramento, então, ainda topa conversar a respeito? Veja bem, Vivek. Já sabemos que vocês querem o Mason P, que está jogando demais, mesmo, e seria ótimo complemento para o Boogie. Mas… repare que o Sacramento está caindo pelas tabelas na conferência! E que isso talvez não tenha a ver com a meningite mardita que tirou o Boogie de ação, ou com a demissão de um técnico que havia colocado o time em boas condições de competir! O que isso significa? Significa que é hora de fazer mais uma troca por um astro renegado! Deu certo com o Rudy Gay, vai dar certo com o Deron também! Tro-ca já.

Lance Stephenson: é, Lance, a essa altura, você tem de agradecer pela lesão que Al Jefferson sofreu na virilha, que vai tirar o pivô de quadra por um mínimo de quatro semanas. Ufa, né? Pois estava ficando feio: foi só o ala-armador sair de cena com uma torção pélvica (!?!?), que o Charlotte Hornets começou a vencer. Eram quatro triunfos consecutivos já, reforçando a tese de que o talentoso e intempestivo jogador era o problema. Segundo o RealGM, porém, tanto a diretoria quanto Stephenson chegaram a um consenso de que ainda está cedo para romper. Da parte do clube, resta saber apenas se isso não foi motivado pelo simples fato de que as ofertas que chegaram não animavam muito. O Indiana Pacers, por exemplo, flertou com a possibilidade de repatriá-lo. Ao que parece, segundo diversas reportagens, seus antigos companheiros não se animaram muito com a ideia, não. Então parece que, se quiser encontrar paz, Stephenson vai ter de se virar em Charlotte, mesmo, ajudando Kemba Walker, em vez de se meter no caminho do armador, especialmente num momento sem Jefferson.

Vai tudo para a conta de Blatt, mesmo?

Vai tudo para a conta de Blatt, mesmo?

David Blatt: cogitar a demissão de um treinador estreante na NBA, com menos de seis meses no cargo? As coisas em Cleveland parecem não mudar nunca, mesmo, com trono ocupado ou vazio. O Cavs ainda deixa a desejar na defesa, é verdade, especialmente a proteção do garrafão, algo que sempre foi uma preocupação, devido a sua dependência de Anderson Varejão. Havia uma carência clara no elenco. Caberia a Blatt encontrar algum sistema para remediar isso, claro, e até agora não rolou. Talvez os jogadores não estejam escutando Blatt? Pois é. Mas essa não foi a mesma história com os últimos dois treinadores que passaram por lá? Irving e Waiters são reincidentes. Além disso, LeBron tem um comportamento no mínimo suspeito desde que voltou. Berra com companheiros em quadra, enquanto ele mesmo demora para voltar na transição defensiva. Diz a repórteres que estava em “modo relaxa-e-goza” contra o Orlando Magic, depois de uma preocupante derrota na véspera, para o Miami. Não importava, então? Ele age como se tivesse conquistado tudo de que precisava e, agora, era hora apenas de curtir o fato de estar perto de caso. No mesmo jogo contra o Heat, Kevin Love perdeu rebotes para Mario Chalmers e Norris Cole, enquanto vagava emburrado pela quadra. Enfim, Blatt, de um jeito ou de outro, vai precisar assumir as rédeas aqui. Segundo diversas fontes que trabalharam com ele na Europa, trata-se de um sujeito sensacional, que merece melhor sorte em sua grande chance nos EUA. A diretoria vai lhe dar apoio? Ou morrem de medo de LeBron para tomar alguma decisão que possa contrariá-lo?

Anthony Bennett: que o canadense fosse perder minutos para Robbie Hummel realmente não era algo que Flip Saunders tinha em mente quando fechou, enfim, a troca de Kevin Love.

Kobe Bryant: ele também é outro que já desfruta de um recomeço, após tantas lesões que lhe roubaram muitos meses preciosos nesta reta final. Mas para o astro do Lakers a temporada 2014-2015 não poderia passar rápido o suficiente. De qualquer forma, sabemos que ele arremessar 30 vezes por jogo não parece a solução num time fraquíssimo, embora os torcedores do Lakers adorem. Não dá para ser herói com esse time. Resta, então, passar a bola e liderar de um jeito bem diferente ao que se acostumou a fazer em uma vitoriosa – e conflituosa – carreira. Que tal?

PS: Desejo aqui um ótimo 2015 a todos – aqueles que estejam em busca de seu próprio recomeço, os que estão na crista da onda e, claro, o pessoal que toca tudo numa boa, sem tantas peripécias assim para contar, mas que não se enganem: como o filmaço Boyhood – a melhor coisa de 2014 – ensina, até a vida vida mais regular já é um grande acontecimento.


Augusto Lima volta a sorrir e se fixa na elite da Liga ACB
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Giancarlo Giampietro

Augusto deixou de ser o garoto da base para ser estrela no Murcia

Augusto deixou de ser o garoto da base para ser estrela no Murcia

Quando optou por deixar o Unicaja Málaga, seis anos depois de ter chegado ao basquete espanhol como um adolescente, Augusto Lima disse que seu objetivo era bem singelo: apenas voltar a sorrir. Pois, com a camisa do UCAM Murcia, o pivô brasileiro conseguiu muito mais que isso. Hoje ele é simplesmente um dos melhores atletas da concorridíssima Liga ACB e, quando se mostra frustrado, é pelo fato de seu time não ter saído vencedor.

Peguem, por exemplo, sua declaração do último fim de semana, em que a equipe foi superada pelo Manresa, fora de casa, depois de tomar logo nos minutos iniciais: “Aqui, ganhamos e perdemos juntos, e se tem de trabalhar, e trabalhar e ir para a quadra como homens. Foi uma derrota dura em uma quadra que sabíamos que seria difícil. Eles começaram o jogo para matar, e nós não fizemos isso. Assim é complicado vencer”.

Pagou geral, não? O mais interessante, porém, é o contexto por trás disso. Sob todas as medidas, o Murcia é um clube bastante modesto na Espanha. Em uma temporada isolada, um revés como visitante, mesmo contra o lanterna do campeonato, seria tranquilamente aceito por seus torcedores e pelos observadores mais distantes.

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Acontece que o time vive hoje a melhor arrancada em sua história de Liga ACB. Está na briga por uma vaga na prestigiada Copa do Rei. Para tanto, precisa se manter entre os oito primeiros – a zona de classificação também para os mata-matas. “Nossa torcida quer que disputemos a Copa, e sonhar é grátis, mas nós no vestiário não nos esquecemos de que somos um clube humilde.”

O Murcia nunca ficou acima da 12ª posição na elite espanhola. Entrou em quadra nesta terça-feira como o 7º. Já é, então, uma campanha excepcional, que coincide justamente com a melhor temporada como profissional de Augusto. O pivô desponta como a força-motriz por trás desse sucesso.

Em qualquer consulta aos números da Liga ACB, vai ser fácil encontrar o nome do brasileiro, que deu um salto significativo em praticamente todas as estatísticas avançadas, mesmo sendo menos envolvido no ataque (sua taxa de uso baixou de 21,46% para 19,77%). Vamos lá:

– Augusto é hoje o jogador com maior PER, o índice de eficiência por minuto (26,6), acima de um craque como Ante Tomic e do veterano Fran Vázquez.

– O principal fundamento que o leva esse posto é o rebote. O brasileiro lidera a liga em percentual de rebotes (de acordo com aquilo que está disponível para ser coletado): 21,5%, superando o gigantesco Walter Tavares, cabo-verdiano draftado pelo Atlanta Hawks e o mesmo Tomic.

Na tábua ofensiva, com 18,6%, sua vantagem ainda é maior para Vazquez e o jovem Marko Todorovic (draftado pelo Houston Rockets).

– Já são todos dados excelentes, mas o que mais chama a atenção, para mim, é o fato de ele ser o terceiro em aproveitamento de tocos e o quinto em rendimento nos roubos de bola.

Essa combinação de top 5 para rebotes, tocos e roubadas diz tudo sobre o jogo do pivô, para quem não está familiarizado com seu basquete. Um jogador muito atlético, vigoroso, que corre a quadra de modo mais veloz, acelerado que muito armador. Ataca a tabela com ferocidade e tem muita agilidade em seu deslocamento lateral e vertical – daí o fato raro de ser um grandalhão de 2,08m posicionado entre os cinco maiores ladrões de bola do campeonato. “Meu jogo é bastante físico”, resume.

É importante avaliar pelas estatísticas avançadas e por minuto, até por justiça com aqueles que seriam seus principais concorrentes: os atletas de Barcelona e Real Madrid. Os dois gigantes espanhóis basicamente estocam os melhores atletas do país (e do continente), e a divisão de tempo de quadra em seus elencos acaba limitando suas médias totais. Enquanto, em Murcia, aquele que se destaque mais vai jogar sem parar.

Ocampo, cobrança e trabalho para fazer Augusto crescer na Espanha

Ocampo, apoio, cobrança e trabalho para fazer Augusto crescer na Espanha

De qualquer forma, segue seu ranking em números totais também: melhor reboteiro (com 7,8) e terceiro em tocos (1,5) e roubos (1,5), sendo que, nas recuperações de bola, ele e o búlgaro Kaloyan Ivanov, do Androrra, são os únicos pivô entre os 15 primeiros.

Numa projeção numérica por 36 minutos, com o ritmo de jogo nivelado (como se todos os times atacassem com a mesma quantidade de posses de bola), ele cai um pouquinho, mas ainda se vê no topo: 2º em rebotes (11,3, atrás do gigantesco Walter Tavares, cabo-verdiano draftado pelo Atlanta Hawks); terceiro em tocos (2,1, atrás de Tavares e Sitapha Savane) e quinto em roubadas (2,2, atrás de Sadiel Rojas, Luke Sikma, Diamon Simpson e Pavel Pumpria).

Isto é: sob qualquer medição, o pivô brasileiro aparece com destaque. Mais agressivo, com quatro double-doubles na temporada, o mesmo que somou em toda a jornada 2013-2014. Mesmo com tantos dados animadores, Augusto prefere não se vangloriar. Adota costumeiramente o discurso de que tudo seja produto do meio. “Tanto faz”, disse. “É o trabalho da equipe faz que tenha esses números. Só me interessa que avancemos em bloco, e que a torcida esteja contente com a equipe.”

De qualquer forma, o pivô destaca o trabalho com o técnico Diego Ocampo, uma das revelações da temporada ao seu lado. Aos 38, Ocampo pode ser considerado um estreante na profissão – mas só se for para falar de “treinador principal”. Mas já é um veterano de banco, depois de muitos anos como auxiliar de profissionais aclamados como Aíto García Reneses, Manel Comas e Joan Plaza.

“Diego está muito em cima de mim, trabalhando comigo, e creio que estou nesse bom momento”, disse o brasileiro. “Isso é para conseguir as coisas para a equipe. É para isso que vou todos os dias para a quadra com o objetivo de matar. No final, tudo o que vem de números e ações é para a equipe. Quero seguir ajudando desta maneira, com meus rebotes.”

O sorriso
Foi quando se apresentou ao Murcia na temporada passada que Augusto soltou a seguinte frase: “Quero voltar a sorrir e ser importante para o UCAM Murcia”. Poderia soar novamente muito protocolar, mas nesse caso o contexto também contava uma história mais ampla. Considerando as poucas e boas pelas quais havia passado o pivô carioca nos últimos anos, nada mais que justo.

Em Málaga, desenvolvimento na base, mas poucas chances no time principal

Em Málaga, desenvolvimento na base, mas poucas chances no time principal

Vejamos: mesmo com a cidadania espanhola obtida, o que lhe dava segurança no elenco malagueño, Augusto mal conseguiu sair do banco do Unicaja na temporada 2012-2013, mesmo com o clube disputando a liga espanhola e a Euroliga. Ele simplesmente não teve condições de mostrar serviço, repetindo um padrão de campanhas anteriores, nas quais só jogava mais quando era cedido para equipes menores como o Granada ou a filial Axarquía.

Ao mesmo tempo, passou o campeonato todo procurando contornar um problema nas costas que se mostraria muito mais sério do que o imaginado. Quando se apresentou a Rubén Magnano em São Paulo, acabou vetado nos exames médicos: foi constatada uma hérnia de disco. Nem a Copa América poderia disputar.

Em uma de suas visitas ao Eurocamp da adidas em Treviso. Não foi draftado

Em uma de suas visitas ao Eurocamp da adidas em Treviso. Não foi draftado

Isso aconteceu poucas semanas depois de ter sido ignorado no Draft da NBA. Ele viajou para os Estados Unidos com Raulzinho e Lucas Bebê, deu um duro danado em Los Angeles, passou por algumas cidades para treinos particulares, mas não foi escolhido por nenhuma franquia – ao contrário do que ocorreu com os compatriotas.

Então chega uma hora que basta, né? De notícia ruim a caixa de correspondência já estava cheia. Deixou um clube tradicional como o Unicaja em busca de um recomeço. De um lugar onde pudesse realmente se sentir relevante novamente. Em que pudesse sorrir, e a modesta agremiação, que já havia tido sucesso com outros brasileiros no passado (Paulão e Vitor Faverani) lhe oferecia essa oportunidade. Foi recebido como “um grande jogador“, nas palavras do presidente do clube da universidade católica, mantenedora do time, José Luis Mendoza.

Aos 21, ele já era uma espécie de veterano. “Vim para oferecer tudo o que aprendi e para tomar decisões importantes. No Málaga eu era um jovem da base. Aqui, meu papel muda”, afirmou. “Desde o primeiro momento estão me tratando muito bem, e venho me sentindo muito à vontade. Eles me deram muita confiança.”

Na elite
Confiança era do que Augusto Lima precisava para realizar seu potencial atlético, sempre evidente. “Os pontos e rebotes seriam consequência naturais disso – sem contar os euros, sempre importantes, que certamente chegarão ao final da temporada, quando se tornar agente livre.

Augusto, ainda na briga pelo rebote e por uma próspera carreira

Augusto, ainda na briga pelo rebote e por uma próspera carreira

Claro que ainda há muito o que melhorar em seu jogo. Não estamos tratando de um produto acabado. Seu lance livre e o tiro exterior em geral são bem fracos. Assim como sua capacidade para criar jogadas por conta própria e para os companheiros – tem média de 0,4 assistências a cada turnovers nesta temporada, enquanto apenas 5% de suas posses de bola terminam com passe para cesta. Você tem, então, de saber usá-lo. No ataque, deve ser explorado perto do garrafão, em movimentos de pick and roll ou com cortes fora da bola, vindo do lado contrário. Não é para colocar a bola nele em um lance de isolamento, um contra um e esperar que ele trabalhe com a mesma eficácia a partir daí.

Afinal, ele ainda é um cara que depende muito da energia que vá ter em quadra. Não por acaso, seu rendimento varia drasticamente entre os jogos disputados dentro e fora de quadra. Suas médias, respectivamente: 17,8 pontos para 6,6, 9,6 rebotes para 6,2, 1,8 roubada para 1,2, 77,6% nos arremessos de quadra para 42%. Detalhe: os minutos não mudam tanto assim, saindo de 25,4 para 22,3.

De qualquer forma, na defesa, já é um jogador que vai ajudar qualquer time devido aos seus atributos físicos, empenho e inteligência. Mesmo com suas limitações, sustenta uma produção elevadíssima já por uma temporada e meia.

Daí o estranhamento por sua exclusão do grupo principal da seleção neste ano, além de ter ficado escondido até mesmo no elenco do Sul-Americano. Um atleta de elite na Espanha é só mais um no basquete brasileiro? Imagino que vá ser algo remediado nas próximas convocações…

Porque, conforme já dito aqui, o sucesso de Augusto não é abstrato. Algo que você possa simplesmente designar como “bons números num time fraquinho”. Esse até poderia ser o cenário da temporada passada. Para o ano vigente, porém, o Murcia subiu junto com seu pivô: de 36,7% (11-19) com ele, para 56,2% (7-6).

A despeito da crise geral na economia europeia, a liga ainda é fortíssima, com um nível de competitividade único em todo o continente. O time hoje está na oitava colocação, na zona de classificação para os playoffs e a Copa do Rei. A cada rodada, porém, a volatilidade é grande: o Valencia, uma equipe de Euroliga, e o Zaragoza têm a mesma campanha, enquanto outros quatro concorrentes aparecem com seis triunfos e sete reveses – entre eles o Obradoiro de Rafael Luz e o Laboral Kutxa, outro time de Euroliga.

O que vem por aí?
Consistência é algo que Augusto já conquistou. Para a segunda metade da temporada espanhola, a grande meta seria realmente manter o Murcia entre os oito melhores da Espanha. “Temos de estar concentrados no que fazer a cada jogo, em nosso trabalhos, e manter a humildade. As coisas estão saindo bem, e temos de lutar por tudo”, diz.

O jogo para Augusto ainda é lá embaixo da tabela, mas com muita eficiência e domínio

O jogo para Augusto ainda é lá embaixo da tabela, mas com muita eficiência e domínio

Não apenas seria histórico para o clube, como lhe renderia uma bem-vinda exposição – ainda que na Espanha ele seja muito mais badalado hoje do que pelo basqueteiro brasileiro em geral. Jogar a Copa do Rei seria uma tremenda experiência. É uma competição que atrai olheiros de todos os cantos.

Um scout de uma equipe da Conferência Oeste da NBA, por exemplo, está sempre me falando sobre como o pivô progrediu sensivelmente em quadra. Caso chegue ao basquete americano, cumpriria com uma trajetória semelhante à de Faverani – mais um brasileiro que saiu jovem daqui, ingressou na base de o Málaga, mas só foi brilhar na Espanha em outro clube, até fechar um contrato nos Estados Unidos, tendo passado batido pelo Draft. É um paralelo do qual está ciente. “Fazem muito essa comparação. Somos jogadores com alguma característica parecida, como por exemplo a forma de falar. Mas penso que Vitor é o Vitor, e eu sou o Augusto. Ele chegou à NBA. Quero primeiro ser importante aqui e, se chegar a hora de dar o salto, iria encantado.”

Augusto está desfrutando de tempo, ritmo e sucesso em quadra, mas agora é hora de competir. Ainda há um longo caminho pela frente. É por isso que não se daria mais que uma nota maior que 7 para o que vem fazendo até aqui. “Sempre quero algo a mais, e as derrotas ainda me custam muito”, disse. No nível que ele alcançou, a simples alegria de ir para o jogo já não é o bastante.