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Categoria : Notas

Notas de um fim de semana de estrelas: parte 1
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Giancarlo Giampietro

Já é sábado, mas essas são notas sobre uma looooonga sexta-feira de puro amor basquete em Nova York, longe da Senhora 21 em pleno Valentine’s Day, mas ao lado de um monte de gente enorme, que te faz parecer totalmente insignificante. Sério: se quiserem passar o dia perto de jogadores de basquete, é preciso primeiro sentar no divã na véspera. Ou fazer um semestre de coaching. Cada um na sua.

Existe toda uma dificuldade logística que não permite que um blogueiro brasileiro atualize tudo em cima do lance, como pedem os tempos de 60/24/7/365. Os eventos são bem espaçados, a conexão sem fio nem sempre funciona etc. etc. etc. E as informações vão se acumulando. Coisa que não justifica um post único aqui para este espaço, mas que, juntas, podem valer alguma coisa. Então é hora de soltar algumas notas e impressões sobre o primeiro dia de atividades, hã, oficiais do All-Star Weekend da NBA:

– Num universo paralelo, a liga americana também está organizando, com ajuda da Fiba, mais uma edição do Basketball without Borders, o camp que reúne a garotada do mundo todo. Neste ano, são mais de 40 inscritos, vindo de mais de 20 países, incluindo dois brasileiros: o armador Guilherme Santos e o pivô Yuri Sena, ambos de 17 anos e do Bauru. Eles estão reunidos no ginásio do Baruch College, no Midtown nova-iorquino, cercados de olheiros por todos os lados. Segue abaixo um vídeo que dá um panorama da área de trabalho com treinadores:

Aqui está Guilherme, que chama a atenção por seu porte físico e capacidade atlética – mas ainda é muito cedo para tirar qualquer conclusão:

Guilherme trabalhando com armadores sob orientação de Jama Mahlalela, do Raptors

Guilherme trabalhando com armadores sob orientação de Jama Mahlalela, do Raptors

E aqui está um vídeo curtinho com Yuri, que lembra, e muito, seu irmão Wesley, que já recebe tempo de quadra aqui e ali pelo time principal bauruense. Dá para ver o tipo de exercício que ficam executando, até trabalhar movimentação de bola e se agruparem para coletivos ao final da sessão:

– O principal nome entre as dezenas de inscritos é a sensação croata Dragan Bender, que vai fazer 18 anos apenas em novembro. Então vale sempre a menção atenuante para termos como “principal” e “sensação”. De qualquer forma, o jogador de 2,13 m de altura chama, mesmo, a atenção. O modo como se movimenta com a bola é impressionante, para alguém de sua idade e pouca experiência. Está claro que ainda precisa fortalecer a base, para ganhar mais equilíbrio, mas tem potencial enorme. Já está sob contrato com o Maccabi Tel Aviv há quase um ano, num movimento inovador do gigante israelense, que vinha investindo pouco em jovens talentos. O Maccabi inclusive enviou seu gerente geral para a festa: Nikola Vujcic, compatriota de Bender que se consagrou como jogador da equipe israelense na década passada. Foi um craque, mesmo. Aqui está o reencontro dos dois gigantes croatas, rodeados por uma criançada do Maccabi, que assistia aos exercícios com muita atenção:

Uma lenda croata (d) e uma aposta do país, para se juntar a Saric e Hezonja

Uma lenda croata (d) e uma aposta do país, para se juntar a Saric e Hezonja

– O BwB começou com atraso, o que me impediu de acompanhar os coletivos até o fim. Tive de sair correndo em direção ao hotel que acolheu os protagonistas do fim de semana: os integrantes das seleções do Leste e do Oeste. Quando cheguei ao Sheraton, na Times Square, foi aquele choque pelo volume de profissionais de mídia presentes – como já relatei em texto sobre Tim Duncan. A NBA estima que 600 estiveram presentes para entrevistas nesta sexta. LeBron, Carmelo e Stephen Curry foram os mais concorridos, claro. Mas surpreendeu também o volume de gente em volta dos irmãos Gasol, cada um ao seu tempo (primeiro falou a turma do Oeste, depois veio a do Leste).

– Ah, sobre entrevistas… Foi engraçado notar que, em meio ao caos, a estação de Russell Westbrook até que estava bem tranquila. Na hora, imaginei: é por que ele não está falando nada. E foi isso, mesmo. Wess apelou a sua rotina de sempre, respondendo as perguntas mais pertinentes ou birutas com quatro ou cinco palavras. Isso quando não se limitava a dizer apenas “não”. Então, ao contrário do que aconteceu com Marc Gasol, ao menos era possível vê-lo. Não perdi tempo – e o respeito próprio, aliás – para me aproximar, mas deveria ter filmado a cena. #FailGeral

"Ambos os times executaram muito bem seus planos de jogo"

“Ambos os times executaram muito bem seus planos de jogo”

– Outro que atrai multidões: Rudy Gobert, com diversos franceses em sua cola durante os eventos em torno do jogo das estrelas ascendentes. Tanto em atividade descontraída na quinta, como no pós-jogo desta sexta. São muitos os jornalistas europeus credenciados para a cobertura, com poloneses, croatas e mais. Para os franceses, faz muito sentido, já que são dez seus representantes na liga americana. O Brasil, em compensação, com seis jogadores, tem, que eu tenha visto, apenas quatro jornalistas confirmados, sendo que três vieram a convite do Canal Space, como o caso deste blogueiro. A galera da Espanha, com cinco atletas, causa um alvoroço. Para constar.

C'est un monstre! Gobert encontrou diversos compatriotas na zona mista

C’est un monstre! Gobert encontrou diversos compatriotas na zona mista

– Por falar em Gobert… Mon Dieu! Se em quadra ele consegue intimidar um Mason Plumlee, imagine lado a lado na sala de entrevistas? O mais espigão do dia. Durante o jogo, proporcionou realmente excelentes momentos, com tocos assustadores, mesmo para cima de Mason P, um pivô de 2,11 m, ágil e experiente já. O jovem pivô francês veio para ficar, acostumem-se. Foi prudente da parte do agente de Enes Kanter abrir uma campanha para tirar o turco de lá.

– Imagino só um time de verdade com Exum, Wiggins, Giannis, Mirotic e Gobert, como vimos em alguns momentos nessa sexta. Nas mãos do Jason Kidd. Seria demais. Envergadura é pouco. Potencial para uma defesa sufocante – uma versão turbinadíssima do que o Milwaukee Bucks faz hoje –, além da versatilidade no ataque, com chute, arranque para a cesta, presença física no garrafão e muita velocidade. Afe.

– Zach LaVine é muito mais explosivo que Andrew Wiggins – e, ao que tudo indica, vai deixar sua marca no torneio de enterradas deste sábado. Mas a leveza como o canadense se desloca pela quadra é cativante. Parece que está andando sobre a água, flutuando na verdade.


 -Presenciamos também o momento histórico em que um integrante da família Plumlee dividiu a quadra com um Zeller. Os Plumlee, vocês sabem, são uma dinastia da Universidade de Duke, tendo o Coach K como conselheiro. Miles, Mason e agora o Marshall por lá. No ex-jogo dos novatos, Mason P, que é o filho do meio em seu clã, teve como companheiro o Cody Z, o caçula da outra gangue. Ficaria estranho, mesmo, se a companhia fosse de Tyler Zeller, que teve uma carreira produtiva pela Universidade de North Carolina – o ala-pivô do Hornets jogou em Indiana. Ao menos os deuses do basquete universitário nos pouparam dessa.

– Contagem de consumo até aqui:

11 viagens de metrô
1 corrida de táxi
1 carona de ônibus, com Rick Rox e Brent Barry, emperrado no trânsito
1 cheeseburguer (juro!)
4 donuts
8 chocolates quentes


Um Tim Duncan que sempre destoa. Para sorte de Splitter
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Giancarlo Giampietro

Marc Gasol e Tim Duncan ao fundo. A loucura o Media Day

Marc Gasol e Tim Duncan ao fundo. A loucura o Media Day

Tim Duncan se lembra das sensações, mas não exatamente dos detalhes. De quando foi convocado pela primeira vez para um All-Star Game da NBA, lá atrás, em 1998. Em Nova York. A mesma metrópole que ele reencontra agora, 17 anos depois, numa prova de durabilidade impressionante.

Só não peçam, porém, para que essa consistência, essa capacidade para desafiar o tempo se sustente no momento em que senta na cadeira de entrevistado para ser torpedeado numa concorrida entrevista coletiva. Duncan não é, nem nunca foi esse tipo de cara. Os torcedores do Spurs sabem: estamos falando de um craque singular em muitos sentidos. Um pivô que diferente, e muito, da maioria de seus companheiros, e não apenas no que se refere a fundamentos e habilidades dentro de quadra.

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Ao menos quando respondeu uma mísera pergunta deste blogueiro, se mostrou mais interessado que a média. Por sorte? Claro. Mas também justamente por gostar de fazer as coisas ao seus termos. Queria saber o que ele pensava da dupla com Tiago Splitter, pois eram dois grandalhões fazendo uma parceria um tanto à moda antiga. Não necessariamente pesos pesados, mas bem diferentes das combinações que estão em expansão na liga, com um homem mais centralizado e outro pivô aberto para o chute. A era do strecht four.

Sobre isso, disse ao VinteUm: “Sempre me senti mais confortável jogando com outro pivô grande e tudo o que isso proporciona para o time. Claro que tem essa conversa sobre os pivôs de chute, mas, se for pensar, com dois pivôs maiores, você ganha em rebotes, deixa o time mais sólido defensivamente e muitas outras coisas. Além disso, estamos falando de dois jogadores talentosos, que sabem passar a bola, o que deixa tudo divertido”.

Se a NBA quer jogar com muito chute de três pontos, usando até o suposto atleta da posição quatro para isso, Duncan ainda quer ver sua equipe mais reforçada para a batalha interna. Como nos tempos de Torres Gêmeas com um David Robinson, não? E até mesmo com o inesquecível (?) Will Perdue. Ou Nazr Mohammed. Enfim, vocês entenderam.

Com o pivô catarinense, os números corroboram sua predileção: o Spurs consistentemente defende melhor quando os dois estão juntos em quadra – além disso, no ataque, já tem um número excelente de arremessadores para dar conta do espaçamento da quadra. Neste campeonato, porém, é preciso dizer, as coisas ainda não aconteceram desta maneira. Mas isso tem mais a ver com a recuperação gradual de Splitter, depois de mais uma chata lesão na panturrilha que atrapalhou, e muito, sua preparação. Algo que Duncan afirmou ao repórter Mendel Bydlowski, da ESPN Brasil, falando sobre a relevância do catarinense nos planos do Gregg Popovich: “Ele melhorou conosco de modo consistente nos últimos anos. Esse ano tem sido um pouco de baixa só, por causa das lesões, mas acho que ele já deixou isso para trás e fez uma grande partida um dia desses. Ele é grande parte do que fazemos. Quando joga bem, nós jogamos bem”.

Então dava para fazer esta manchete: “Duncan julga Splitter essencial para as pretensões do Spurs”. Aposto que seria mais atrativa. Mas não deu para explorar tanto o tema, gente.

Fui para a zona mista promovida pela NBA com uma lauda inteira de perguntas para o ícone Spursiano. Doce inocência. Não há a menor condição de fazer algo mais elaborado numa situação dessas. Vocês já ouviram o termo “circo da mídia”? É o que se passava ali, com uma estimativa extraoficial de até 600 credenciados se esgoelando para conseguir a atenção de um trilhardário e extremamente talentoso grupo de jogadores de basquete. Uma situação que incomoda Duncan.

É muita gente para uma sala só de conferência

É muita gente para uma sala só de conferência

“Chega uma hora que issso cansa?”, pergunta o jornalista X.

“Eu gosto do jogo do All-Star. O resto é que poderia ser evitado.

“Tipo a gente?”, retrucou o repórter.

“Sim”, respondeu, rindo. “Não gosto disso, dessa situação toda”, completou, enquanto ergue a cabeça e esbugalha os olhos, exatamente do modo como reclama com os árbitros. Estava conferindo a loucura, o caos ao seu redor – ajuda, e muito, o fato de estarmos em New Tabloid City. Ao seu lado, por exemplo, estacionava Marc Gasol. Era quase impossível ver o pivô espanhol sentado em sua cadeira.

Com Duncan, o movimento começou intenso, mas depois foi esfriando. E aí foi aberta uma brecha (mínima, é verdade) para a aproximação. Ufa. Nem importava o repórter do lado, da TV do Clippers, que teimava em saber a opinião do craque sobre DeAndre Jordan e o arremesso de Jamal Crawford.

Aliás, as perguntas. Tantos microfones e tantas perguntas, sem parar.

Digaê, Timmy, se for sua última temporada, em quem gostaria de enterrar? “Eu? Eu nem enterro mais”, respondeu, quando ativa a expressão “Duncan dissimulado”. E quem, Timmy, você gostaria de enfrentar se pudesse escolher qualquer jogador da história? “Bill Russell”. Por quê? “Ele era bastante atlético. No auge, gostaria de enfrentá-lo”. Por fim, Timmy, como descreveria sua vestimenta para essa entrevista, uma vez que os atletas da NBA se tornaram notórios por isso? “Hm… Não sou fashion”, disse. Risos na roda.

Acorda, Timmy. Tem muita gente para falar com você

Acorda, Timmy. Tem muita gente para falar com você

Duncan gosta, mesmo, de botar bermuda, chinelo e sair para pescar. Por vezes com Gregg Popovich. Ah, claro: também gosta de jogar basquete.

Lendo assim, pode parecer uma atitude antipática, não? Só que ali, de cara para essa figura já mítica, não era essa a impressão. Duncan não estava destratando ninguém. Para ele, não dá praia com tanta gente ao seu redor. Se não encontra nenhuma resposta mais fácil, diz abertamente que simplesmente não consegue falar sobre aquilo. Talvez, com um pouquinho mais de esforço, pudesse discorrer mais sobre os temas levantados. Mas a combinação de preguiça e desconforto não o permite. Será que, então, num fim de semana prolongado desses ele preferia estar fazendo outras coisas?

Não é bem assim. O pivô jamais vai se vangloriar, mas está claro que se sente orgulhoso de, aos 38, fazer parte mais uma vez do grupo dos melhores. Mesmo que seja um tremendo peixe fora d’água neste final de semana estrelado em Manhattan. Dos caras que foram escalados na sua equipe da Conferência Oeste, em seu ano de novato, apenas dois caras segues em atividade: Kobe Bryant, em teoria, e Kevin Garnett, o bom e velho arquirrival, hoje muito distante de seu nível produtivo. De resto? Temos celebridades de TV (Shaq), dirigentes (Richmond), técnicos (Kidd) e gente que sumiu do mapa (Karl Malone, Eddie Jones, onde estão vocês?).

“Eu me lembro que foi aqui, de ter me divertido ao ver um monte de caras diferentes no vestiário, me lembro de ter sido uma experiência incrível… Lembro que não sabia o que esperar e de chegar aqui e ficar de queixo caído, impressionado com a atmosfera”, diz, quase sempre interrompendo sua fala. Nessas freadas, é como se estivesse olhando para o retrovisor rapidamente, para recordar as coisas. “Até mesmo uns cinco, seis anos atrás as coisas não eram assim, não”, afirmou.

Nos pequenos sinais, a gente liga os pontos. Duncan preferiria, sim, estar nos tempos de Bill Russell, quando ninguém dava bola para a camisa ou a calça que tivesse para vestir. Quem sabe, talvez até pudesse enterrar por cima do multicampeão do Boston Celtics, e sem precisar falar com ninguém a respeito.


Aviso: o VinteUm vai ao All-Star Game
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Giancarlo Giampietro

nba-nyc-all-star-2015

Só uma notinha bem breve para avisar que, a partir de quinta-feira, o blog estará em Nova York para fazer acompanhar fim de semana das estrelas da NBA. Aliás, o basqueteiro pode ficar de olhos bem atentos aqui para o UOL Esporte, já que o vizinho Bala na Cesta também estará por lá. Vamos os dois a convite do Canal Space, que transmite o duelo das seleções do Leste e do Oeste no domingo, com Magic Paula nos comentários. Sinceramente, não sei bem como funcionará minha dinâmica de cobertura – será meu primeiro contato ao vivo com o universo da liga americana com credencial na mão, o que é, claro, empolgante. Serão diversos eventos espalhados por toda a cidade, passando pelo Madison Square Garden e o Barclays Center.

A ideia é postar muita coisa em redes sociais (links abaixo), algumas outras notinhas rápidas por aqui e, ao mesmo tempo, coletar material exclusivo para mais tarde. Só não esperem algo corriqueiro como manchetes de LeBron James discutindo as chances do Cavs, Anthony Davis dizendo que sonha em jogar os playoffs, ou DeMarcus Cousins pedindo uma troca. A ver como funciona! Enquanto preparo as malas, deixo para os próximos dias uma lista de prêmios. Todos nós gostamos de listas, né? Abraço e nos falamos.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Enquanto isso, vale apena gastar uns (bons) minutos conferido uma página especial que o site da NBA preparou, com a história do basquete na metrópole, bem resumida com seus principais personagens. É muita gente boa, com o armador Scott Machado, o gaúcho nova-iorquino. Foi no interior dos Estados Unidos que a modalidade surgiu. Em NYC, o jogo ganhou outro status.

nova-york-mapa-basquete

Tags : NBA


Euroligado: muito aperto, Real x Barça e a queda do invicto
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Giancarlo Giampietro

Rudy Fernández foi o MVP da rodada. Mais que merecido

Rudy Fernández foi o MVP da rodada. Mais que merecido

É, amigos, haaaaaja coração, expressaria o Galvão.

Foi uma semana de infartar na Euroliga, a 16ª da competição continental, e a sexta em sua segunda fase, o Top 16. A semana mais especial da temporada, sem dúvida. Das oito partidas disputadas, quatro foram decididas por três pontos ou menos no placar, enquanto outras três a vantagem do time vencedor não superou a barreira dos nove pontos, com direito, aqui, a um triunfo do Olypiakos sobre o CSKA Moscou, por 85 a 76, encerrando a invencilidade. A única sacolada? Foi justamente no superclássico espanhol, com o Real Madrid atropelando o Barcelona por 97 a 73, em casa. Alguns pitacos, então:

– Começando pelo duelo Real x Barça, o terceiro desta temporada 2014-2015. Cada um dos arquirrivais havia vencido uma vez, e os merengues levaram esse primeiro tira-teima com autoridade. Rudy Fernández jogou uma barbaridade. O ala primeiro deu o tom de uma defesa pressionada que desestabilizou o jogo exterior de um oponente que já não contava com Juan Carlos Navarro e Brad Oleson. O abafa permitiu que sua equipe jogasse em transição, do modo como adora fazer. Quando o Real encaixa seu contra-ataque, já deu para perceber que a atual configuração do Barcelona simplesmente vai comer poeira. Os catalães simplesmente não conseguem acompanhá-los – em contrapartida, numa partida mais truncada, de meia quadra, tendem a levar a melhor graças ao poderio de Ante Tomic. Rudy marcou demais e brilhou também no ataque, somando 22 pontos, 9 rebotes, 5 assistências e 3 roubos de bola em apenas 28 minutos. Os dois Sergios, Rodríguez e Llull, acompanharam o ritmo e acumularam 34 pontos e 10 assistências, dando um trabalho danado a Marcelinho Huertas, que se despediu de quadra com oito pontos e seis turnovers em 23 minutos. A única nota positiva para o Barça foi o desempenho do jovem Mario Hezonja, com 22 pontos em 28 minutos, matando cinco bolas de três pontos. O garoto de 19 anos, da Croácia, está com a confiança lá em cima. Veja alguns dos melhores momentos da partida que transmiti ao lado de Mauricio Bonato pelo Sports+:

– O desfecho mais polêmico valeu para Galatasaray 94 x 97 Maccabi Tel Aviv, definido na prorrogação. A equipe turca não se conforma com um toco do pivô Alex Tyus, do Maccabi, para cima do armador Erden Arslan, a seis segundos do final do tempo extra. Para eles, se tratou de uma bola claramente na descendente. A arbitragem validou o bloqueio. Em release divulgado na sequência, o Galatasaray escreve com todas as palavras: “A vitória nos foi roubada injustamente”. Confira o lance o vídeo abaixo – é um lance muito difícil, mesmo em slow… Ainda acho que a arbitragem acertou em sua marcação, todavia. Detalhe: com quatro segundos restantes no quarto período, o ala-pivô sérvio Zoran Erceg desperdiçou um lance livre que já poderia ter dado o triunfo ao clube turco, que teve uma grande reação na parcial. Outra: mesmo que a bola de Arslan tivesse caído, o Maccabi ainda teria a posse de bola e Jeremy Pargo poderia ter feito, da mesma forma, sua cesta heróica. Por fim: o técnico Ergin Ataman, que tanto protestou em quadra e durante a coletiva, não recebe salário há sete meses (se-te!!!!!!!) e estuda rescindir seu contrato, cansado de promessas não cumpridas. Já destacamos aqui que o Gala perdeu três jogadores ao final da primeira fase por conta de problemas de pagamento. Antes de atacar a organização da competição por um lance no máximo duvidoso, poderiam cuidar de suas próprias dívidas, né?

– Limitado a apenas dois pontos em derrota para o Anadolu Efes, Vassilis Spanoulis reagiu ao seu melhor estilo ao marcar 19 no importantíssimo triunfo do Olympiakos sobre o CSKA, que encerra sua sequência vitoriosa na Euroliga em 15. Os dois times agora estão empatados na liderança do Grupo F – terminar na liderança pode ser algo essencial, dependendo, claro, da classificação do Barcelona, que hoje está justamente em quarto do outro lado da chave e cruzaria com o líder aqui. Mas a expectativa é que o clube espanhol reencontre o rumo no segundo turno do Top 16 e consiga, pelo menos, ultrapassar o Panathinaikos na tabela e, quiça, o Maccabi, que está empatado com o Real na ponta (5-1). Em casa, os gregos perderam o primeiro quarto por 17 a 11, mas conseguiram assumir o controle do placar já no segundo período (vencido por 32 a 20). A estratégia foi não dar espaço algum para Milos Teodosic nas jogadas de pick-and-roll, cortando o mal pela raiz: os ágeis pivôs como Dunston e Hunter dobravam para cima do armador, sem tirando o arremesso e a linha de passe, num empenho irrepreensível. Do outro lado, também procuraram explorar as deficiências defensivas do sérvio sempre que possível – fez falta, então, para os russos o americano Aaron Jackson. Não há mais invictos agora na Euroliga.

– Na derrota custosa para o Zalgiris Kaunas, por 70 a 68, em casa, o Estrela Vermelha errou todos os 19 arremessos que tentou de três pontos. Todos, mesmo, inclusive o último, com o armador Marcus Williams buscando a consagração na última bola. Os caras já haviam desperdiçado 18 chutes de longa distância e ainda assim foram para a bola matadora. Peserverança: a gente se vê por aqui. O americano, aliás, errou cinco disparos, deixando seu aproveitamento na temporada cair para 30,1%. Tá ok! Seu compatriota Charles Jenkins desperdiçou outras quatro. Ao menos, tantos erros proporcionaram 17 rebotes ofensivos no geral para o time e mais um double-double de Boban Marjanovic, o último dos dinossauros, que marcou 17 e 10 em 27 minutos. O engraçado é que os visitantes lituanos acertaram apenas 3 bolas de três na partida. Mas só em 14 tentativas. James Anderson fez 22 pontos para eles.

– Se não há mais invictos, também temos agora ao menos uma vitória para cada participante do Top 16. O lanterninha Unicaja Málaga foi o que mais demorou para comemorar, batendo o Nizhny Novgorod por 85 a 76. O armador Jayson Granger, um jogador que cresceu demais nos últimos dois anos, fez 29 pontos em 25 minutos, acertando 9 de 13 arremessos de quadra e 9 de 10 lances livres. Pouco eficiente o uruguaio, né?

Devido ao adiantado da hora, a sessão vai ter um texto mais econômico hoje, ok?


Ninguém queria Hassan Whiteside. Nem o Miami Heat
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Giancarlo Giampietro

Uma das 34 enterradas de Whiteside até aqui

Uma das 34 enterradas de Whiteside até aqui

Quando é que chega a hora de dizer que não dá mais, que tal jogador é um caso perdido?

O sucesso de Hassan Whiteside com o Miami Heat, um dos raros pontos positivos de uma temporada muito aquém do esperado para Pat Riley, talvez indique a seguinte resposta: “Nunca”. Ou pelo menos algo do tipo:”Bem, vamos esperar mais um pouco, mais um pouco e mais um pouco. Aí talvez chegue a hora. Um pouco antes de ‘nunca'”.

Aos 25 anos, depois de ser dispensado oficialmente por duas equipes da NBA e ignorado por outras tantas, inclusive pela franquia da Flórida, três temporadas após a Linsanidade, o pivô tem causado espanto por onde passa. Assusta não só os jogadores que o desafiam no garrafão como os técnicos e dirigentes que não conseguem e talvez nem queiram acreditar no que estão vendo.

Em janeiro, ele teve médias de 13 pontos, 10,6 rebotes e 3,4 tocos por jogo. Em apenas 23,6 minutos! Desde que perdeu duas partidas por conta de uma contusão e voltou a jogar no último dia 25, passou a receber mais tempo de quadra e respondeu com 16,6 pontos, 15,5 rebotes e 4,0 tocos. O aproveitamento nos arremessos é de 58%. Quer dizer, ‘arremessos’. É uma enterrada atrás da outra, e sai de baixo.

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Nos últimos anos, muita gente da liga se esquivou de Whiteside, mesmo. A turma do escritório. Fugindo cada um para um canto, no caso, enquanto ele, desempregado, buscava um contrat.

Então o que acontece? Como deixaram passar uma dessas? A trajetória e a atual transformação desse grandalhão, de refugo com estadias na segunda divisão da China e no Líbano para sensação das redes sociais, é mais um grande causo a ser estudado com cuidado. Por dirigentes, treinadores, agentes e, principalmente, por atletas.

DDA
Quando deixou a universidade de Marshall em 2010 para se profissionalizar, durante o período pré-Draft, Whiteside rapidamente desenvolveu um rótulo que, quando pega, é difícil de se livrar: pro-ble-má-ti-co. Na tentativa de impressionar os dirigentes, os prospectos viajam de cidade em cidade, para fazer treinos e bater um papo. Essa coisa de conversar com o então jovem pivô de 20 anos queimou o filme geral.

Um scout da NBA, que acompanhou todo o processo bem de perto, afirmou ao VinteUm que não se tratava exatamente de um desvio de caráter. “Ele é uma pessoa genuinamente boa, um bom sujeito. O problema é que era muito ingênuo e atirado. Falava umas coisas malucas”, afirmou. “Mas sempre disse que ele precisaria primeiro falhar, para depois conhecer o sucesso.”

Não é todo dia que surge um desses

Não é todo dia que surge um desses

Pois essa combinação de ingenuidade e arrojo nas declarações passou aos avaliadores dos clubes a imagem de arrogante, ou algo até pior. Amin Elhassan, hoje analista do ESPN.com, trabalhava na época pelo Phoenix Suns. Digamos que o jogador não causara uma boa impressão. “Se você é um idiota, reparar essa reputação é algo muito difícil. É muito fácil arruinar sua reputação e muito difícil de reconstruí-la. Hassan Whiteside, na falta de uma palavra melhor, era um idiota quando saiu da universidade. Ele estava delirando e dizia coisas que não eram compatíveis com o que jogava”, afirmou em entrevista ao Palm Beach Post, sem preocupação de aliviar em nada.

Recuperando seu arquivo no HoopsHype, encontrei também a seguinte informação compartilhada pelo repórter Sam Amick, do USA Today: “Ele caiu no Draft por “ter um caso seríssimo de DDA”, o famigerado déficit de atenção. Acontece que, segundo o gerente geral do Sacramento Kings, clube que o selecionou na 33ª posição, não constava nada disso nos exames que a franquia recebeu. Provavelmente o olheiro estava falando metaforicamente…

Whiteside acreditava que seria escolhido entre os dez primeiros. Afinal, era um pivô alto, forte, extremamente atlético, uma aberração física. O tipo de prospecto pelo qual os cartolas se apaixonam num piscar de olhos. Eles podem até ter ficado enamorados de supetão. Quando passaram a observá-lo com mais cuidado, porém, pularam fora.

Em um perfil recente sobre o fenômeno do Heat, Tom Haberstroh recuperou um episódio bastante interessante que resultou apenas na primeira das três vezes que o clube da Flórida teve a chance de fechar com o pivô, mas deixou para depois. O espigão foi treinar no ginásio do Heat, uma escala notoriamente difícil para a molecada, devido aos treinos exaustivos que Pat Riley instaurou por lá. No meio da sessão, pregado, o jogador simplesmente saiu de quadra sem dar satisfação a ninguém. Já havia dado para ele. No dia do recrutamento, Riley selecionou Dexter Pittman na 32ª colocação, um posto antes do Sacramento.  Veja só.

Nada deu certo
Em Sacramento, Whiteside supostamente havia encontrado uma casa. Disse que não havia problema em ter saído apenas na segunda rodada e que o clube era um de seus dois favoritos, mesmo. Apostando em seu futuro, o Kings ofereceu um contrato de quatro anos, valendo US$ 3,8 milhões. Apenas as duas primeiras temporadas seriam garantidas, no entanto.

Whiteside, nos tempos improdutivos de Sacramento

Whiteside, nos tempos improdutivos de Sacramento

No primeiro campeonato, visto como um projeto de longo prazo, aos 21, só entrou em quadra uma vez e jogou por apenas dois minutos em vitória sobre o Minnesota Timberwolves. Em março, porém, teve de passar por uma cirurgia no joelho que o afastou do time. Durante a fase de recuperação, afirmou que estava treinando e jogando na D-League lesionado, mas que optara pelo sacrifício justamente pela fama de imaturo que havia ganhado. “Só faltava, então, as pessoas me chamarem de preguiçoso. Não queria que pensassem que estava inventando desculpas. Mas foi um erro. Isso tirou minha explosão em quadra. Digo, conseguia ainda dar tocos, mas isso é basicamente uma questão de timing. Mas minha capacidade atlética estava afetada. Até que soube que não podia mais evitar a operação”, afirmou.

Reabilitado, foi utilizado um pouco mais na temporada 2011-2012, participando de 18 jogos, mas viu novamente sua jornada interrompida por uma lesão grave, dessa vez no tornozelo. Resultado: mal teve tempo de mostrar serviço e de reverter sua má reputação. No momento do Draft daquele ano, em meio a tantas trocas, o Sacramento achou por bem dispensá-lo para abrir espaço em seu elenco.

Hoje, quando questionado sobre seu corte pelo Sacramento, ele afirmou aos jornalistas de Miami que mais nenhuma das pessoas envolvidas com aquela decisão estava no clube. “O quão inteligentes eles foram, então?”, respondeu, de modo retórico. Detalhe: o treinador do Sacramento na época era Keith Smart, hoje assistente de Erik Spoelstra. Em inglês, Smart, vocês sabem, significa… “Inteligente”. Pegou?

Roda viva
Geoff Petrie fez algumas boas bobagens no final de sua gestão no clube californiano. Dispensar Whiteside talvez tenha sido das menores. Afinal, muitos times lhe dariam respaldo informal. Muitos dirigentes chegaram a manifestar interesse no pivô. Nenhum deles teve a coragem ou a visão para fechar um contrato.

O Minnesota foi aquele que mais chegou perto em 2012, ainda liderado por David Kahn. O cara estava procurando um pivô atlético e de boa envergadura para ser o terceiro reserva, atrás de Nikola Pekovic e, sim, Greg Stiemsma na rotação. Conversou bastante com o agente do jovem pivô, mas preferiu mudar de rota e assinar com Anthony Tolliver.

O próprio Miami Heat voltaria a entrar em contato, também recebendo o pivô para mais um treino. Dessa vez ele foi até o fim. Mas não os convenceu. Acabaram contratando o inesquecível Josh Harrelson. Essa era a segunda vez que ele passaria batido por lá. Whiteside, então, se viu fora do mapa da NBA e teve de procurar asilo na Ásia. A China? Tudo bem, claro. Eles pagam uma boa grana. Mas o Líbano?! Digamos que não é o destino mais cobiçado por agentes livres, independentemente da origem. Lá ele defendeu o Al Moutahed Tripoli e teve médias superiores a 20 pontos, 15 rebotes e 4 tocos. Um prenúncio? Mas como alguém iria saber disso? Até o momento não há informações de tradução das estatísticas da liga libanesa para a NBA. Se alguém souber de algo nessa linha, favor entrar em contato com a secretaria.

No final da temporada 2013-2014, o New York Knicks até que flertou com o pivô, talvez bem informado a respeito de suas atuações do outro lado do mundo. Já com Phil Jackson no comando, embora recém-chegado, o clube optou por um acordo que ninguém mais, ninguém menos que Lamar Odom. No que deu essa história? Em nada, claro. Odom sumiu do mapa. Ao menos Cole Aldrich está por lá segurando as pontas, ao lado dos valentes Lou Amundson e Lance Thomas (sem ironia aqui no termo “valente”, tá? São dois caras ótimos de vestiário, que dão um duro danado. Mas quem aí acha que Carmelo Anthony se empolga com suas chances de título ao olhar para o lado e dar de cara com eles?)

Desesperado atrás de uma chance,  Whiteside pediu para seu agente ligar para para quem pudesse, talvez para os 30 times da liga. O Los Angeles Clippers, entre eles. Doc Rivers não quis nem chamá-lo para um treino. Depois despachar Jared Dudley para Milwaukee, assinou com Epke Udoh para a vaga de quinto homem na rotação de grandalhões. Meses mais tarde, no dia 11 de janeiro, já com as turbinas esquentadas, o pivô estaria decolando no Staples Center para somar 23 pontos e 16 rebotes em vitória do Heat. Lá, contou a história: “Eu liguei para marcar um teste, eles disseram não. Todos disseram não, exceto o Heat. O Heat me deu uma chance e o certo é eu dar 110% por eles em quadra. Foi isso que aconteceu”, disse.

Ficou bem como um do Grizzlies?

Ficou bem como um do Grizzlies?

Antes de receber essa chance, todavia, Whiteside havia, enfim, fechado um vínculo com o Memphis Grizzlies, que o escalou durante a pré-temporada. Na hora de definir o plantel oficial, acabou cortando o atleta, que foi endereçado a sua filial na liga de desenvolvimento, o Iowa Energy. Convenhamos que, com Marc Gasol e Kosta Koufos, seu garrafão estava bem protegido. O que deixa a diretoria da equipe maluca, todavia, é que eles chegaram a recrutar novamente o atleta emergencialmente para um duelo com o Toronto Raptors no dia 19 de novembro. Metade do plantel havia sido infectada por uma virose, e o técnico Dave Joerger precisava de reforços. Acabou nem entrando em quadra e seria novamente chutado no dia seguinte. “Pensávamos que talvez, se pudéssemos trabalhar com ele na D-League, ele poderia se tornar um pivô reserva decente. Mas obviamente ninguém viu isso (esse nível de jogo) chegando”, afirmou John Hollinger, vice-presidente do Grizzlies, a Haberstroh.

Udoh, Aldrich, Odom, Stiemsma, Tolliver… Independentemente do desnível já existente entre os nomes aqui citados, são apenas cinco jogadores que a NBA, de modo geral, colou à frente de Whiteside em suas listas de prioridades. Mas a conta é muito maior. E pode incluir Shannon Brown nesse grupo.

Pode riscar
Riley, Spoelstra e os caras em Miami ficaram tensos demais quando o pivô foi chamado pelo Memphis mais uma vez. Na véspera, ele havia feito um terceiro teste pela franquia, dessa vez se saindo de modo excepcional em quadra. Segundo Haberstroh, Spoelstra escreveu a seguinte frase em seu bloco de notas: “Vai ser nosso pivô titular na temporada que vem”. Eles lhe ofereceriam o tão esperado contrato ao amanhecer. De noite, veio a ligação do Grizzlies.

Por sorte, receberam a notícia da dispensa. Quando voltou ao Iowa Energy, dois dias depois, Whiteside enfrentou justamente a filial do Heat na D-League, o Sioux Falls SkyForce. Ele marcou 24 pontos, pegou 16 rebotes e deu quatro tocos. Dessa vez, a papelada para ele assinar ficou pronta mais rapidamente.  Para abrir espaço para a sua chegada, rescindiram com Shannon Brown.

Repararam, porém, que Spoelstra fazia planos para o campeonato 2015-2016, né? Nem Hollinger, nem ele podiam esperar o que estava por vir. Depois de dominar um garrafão que já tinha DeAndre Jordan e Blake Griffin, Whiteside conseguiu um triple-double impressionante de 14 pontos, 13 rebotes e 12 tocos em 25 minutos. Contra quem? O Chicago Bulls, de Joakim Noah, Pau Gasol e Taj Gibson. Na partida seguinte, contra Milwaukee, ele foi promovido ao time titular. Anotação já riscada. “Estou muito contente e encorajado pelo quanto ele cresceu nas últimas semanas, desde que se juntou a nós. Ele tem passado por um plano específico e abraçou o trabalho”, disse Spo, que tem em Juwan Howard seu assistente dedicado aos treinos especiais para o pivô.

O Miami está lucrando horrores nessa, tendo firmado um contrato de dois anos com Whiteside, pagando ‘apenas’ US$ 1,1 milhão na temporada que vem – lembrem-se que Amar’e Stoudemire ganha mais de US$ 20 milhões pela atual campanha.  Tem um porém nessa: o contrato é uma barganha, mas tem curta duração. Apenas dois anos, mesmo: ele vai virar agente livre em 2016. Como notou o South Florida Sun Sentinel, nenhum contrato com duração inferior a três anos pode ser estendido. Ops.

Daqui para a frente
A pergunta é outra: quando é a hora de dizer chega, vamos com calma?

A ascensão de Whiteside em Miami é devastadora. O único exemplo parecido com esse foi justamente a Linsanidade que tomou conta de Manhattan em 2012. Quando um jogador de pouco lastro na NBA surgiu meio que do nada e produziu feito uma superestrela. Hoje, por um motivo e outro, Lin está no banco de Jordan Clarkson em Los Angeles. Uma curiosidade é que, durante a boa fase de Lin, Whiteside havia afirmado: “Já havia dito a todos, na Summer League, que meu chapa Jeremy Lin era bom. Todos estavam vacilando com ele”.

Quando estourou pelo Knicks, Lin teve um índice de eficiência de 23,3 pontos. Whiteside, no momento, tem 27,98. Está abaixo apenas de Anthony Davis. Os demais oito nomes abaixo? Durant, Westbrook, Harden, Curry, James, Cousins, Paul e Aldridge. Afe. Em 36 minutos, seus números projetados ficariam em 18 pontos, 15,2 rebotes e 4,7 tocos. É coisa de maluco.

Dá para pensar numa produção dessas de modo sustentável?

Não é só Blake Griffin que sai do chão: exibição incrível contra Clippers, em jogo que transmiti, pasmo, pelo Sports+

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Da sua parte, Whiteside diz que se contenta em ter apenas médias de duplos dígitos em pontos rebotes e de ficar entre os três principais bloqueadores da temporada. Então tá certo. Algo que já o apetece, de toda forma, é ver suas cotações no jogo NBA2 k elevadas – algo com que, pasme, os jogadores da NBA se importam verdadeiramente. Vale a honra. Agora, quer que melhorem também sua produção para o arremesso de média distância, algo que ele mostrou no domingo, contra o Boston, quando os Estados Unidos inteiros estavam assistindo ao Super Bowl. Esse chute de mais longe, porém, ainda aparece de modo tímido em seu repertório (89,1% de suas tentativas de cesta acontecem nos arredores do garrafão).

A eficiência do jogo do pivô se explica dessa maneira. Ele tenta pouco em quadra além de finalizações próximas da cesta, feito Tyson Chandler e Brandon Wright. Praticamente não é envolvido no ataque do Miami em nenhuma circunstância, seja para criar individualmente ou para os demais companheiros. O negócio é fazer o corta-luz e mergulhar no garrafão atrás de um rebote ofensivo ou, melhor, de uma ponte. Ele já lidera o time em cravadas, com 34 em 21 partidas. “Continue enterrando e você vai ganhar US$ 60 milhões”, disse Danny Granger. A NBA vai encará-lo e desafiá-lo mais uma vez. Agora não no jogo dos bastidores, mas em quadra. Os times mais bem preparados vão saber como. Jason Kidd, técnico do Bucks, anunciou: “Entendemos que ele vai entrar buscando tocos. Ele não é mais uma surpresa, está no no radar”.

Ajuda muito o pivô ter um cara como Dwyane Wade ao lado, com a bola em mãos. O astro do time ainda desperta pavor nas defesas e atrai marcadores. Também sabe invadir o garrafão como poucos. Uma combinação que deixa Whiteside na cara da cesta toda hora. “Ele consegue dominar a bola. Ele consegue finalizar. Ele é grande, e eu posso infiltrar. Algo bom vai acontecer a partir daí”, diz Wade, que ainda chama Whiteside de calouro. É como se fosse, mesmo. E agora ele vai ter de se virar sem a companhia do camisa 3, afastado por tempo indeterminado devido a uma lesão muscular.

Só não falta confiança a Whiteside, assim como não faltava quando ele era de fato um novato. Quando questionado pela ESPN Radio sobre qual antigo jogador da NBA ele acha que seu jogo lembra, citou, tranquilamente, David Robinson ou Alonzo Mourning. “Algo perto disso”, afirmou.

É de fazer engasgar, mesmo. No momento, porém, ninguém mais está falando sobre idiotices ou distúrbios. Estão apenas tentando entender o que está acontecendo.


Euroligado: oscilações acontecem, mas CSKA é uma constante
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Giancarlo Giampietro

Andrey Vorontsevich fecha a porta na cara de Tarence Kinsey

Andrey Vorontsevich fecha a porta na cara de Tarence Kinsey

O Top 16 da Euroliga vai se apresentando de maneira bem traiçoeira, com altos e baixos para todos os envolvidos. Menos para o CSKA Moscou, quer dizer. O clube russo se mantém como uma constante em vitórias e invencibilidade, mesmo quando oscila um pouco: na quinta semana da segunda fase, alcançou sua 15ª consecutiva ao derrotar o conterrâneo Nizhny Novgorod por 103 a 95, na prorrogação.

A cinco minutos do fim, parecia que estava tudo tranquilo para o gigante moscovita no confronto, vencendo por 11 pontos. Permitiu, contudo, uma recuperação para o emergente clube russo, precisando jogar um tempo extra para triunfar e ser o , com Milos Teodosic (25 pontos) cumprindo novamente com seu papel de finalizador em momentos de pressão. O CSKA agora é o único invicto nesta segunda etapa da competição continental.

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Isso porque o Olympiakos foi oprimido pelo Anadolu Efes de seu ex-mentor, Dusan Ivkovic, que deu uma aula de defesa, ao passo que o Real Madrid reencontrou o Maccabi Tel Aviv pela primeira vez desde a histórica final da temporada passada e saiu mais uma vez derrotado naquele que foi o…

O jogo da rodada: Maccabi Tel Aviv 90 x 86 Real Madrid
Boa parte das bases finalistas em 2014 estão mantidas, mas não dá para dizer que elas sejam as mesmas equipes. Ambas caíram,  principalmente o Real Madrid, que foi o melhor time europeu no último campeonato – isto é, até a decisão. Os espanhóis perderam muito em velocidade e capacidade atlética com a saída de Nikola Mirotic e Tremmell Darden. Ficaram mais vulneráveis na defesa e menos explosivos no ataque.

Mais toco: agora de Brian Randle contra Sérgio Rodríguez

Mais toco: agora de Brian Randle contra Sérgio Rodríguez

Ainda assim, têm um forte conjunto, com chances de ser campeão e capaz de abrir uma vantagem de nove pontos em Tel Aviv no primeiro tempo: 54 a 46. Na segunda etapa, porém, tomaram a virada, sendo derrotados por 12 pontos. O sistema defensivo do Real não conseguiu conter nem as infiltrações de Jeremy Pargo e MarQuez Haynes (tal como haviam sofrido com Tyrece Rice e Ricky Hickman no clássico anterior, perdendo o título), nem o jogo interior do peso-pesado Sofoklis Schortsanitis. Pargo deu nove assistências e só descansou 1min40s. O Baby Shaq grego também jogou mais que o normal: 28 minutos, o dobro de sua média na temproada, e somou 17 pontos e 8 rebotes.

No ataque, o trio Llull-Rodríguez-Fernández combinou para apenas 20 pontos e 8/24 nos arremessos, prevalecendo aqui a retaguarda do Maccabi, orientada por Guy Goodes a fazer a troca a cada corta-luz. O time israelense podia intensificar essas mudanças de marcação especialmente nos minutos em que Schortsanitis estava no banco, apostando na agilidade do restante de seus pivôs (Alex Tyus, Brian Randle e Joe Alexander, reforço para o Top 16 que não desperta boas lembranças no torcedor do Milwaukee Bucks). Felipe Reyes foi o único merengue a brilhar em Tel Aviv, com 20 pontos, 11 rebotes e 3 assistências, atingindo índice de eficiência de 35, que lhe valeria o prêmio de MVP da jornada, não tivesse sua equipe perdido.

Llull ao menos converteu uma cesta de três a menos de 20 segundos do fim para deixar o Real a dois pontos do Maccabi. De imediato, os visitantes fizeram falta em Alexander, parando o cronômetro e botando o americano em uma situação supostamente desconfortável no lance livre. Um dos fiascos do Draft de 2008, recuperado de diversas cirurgias vindo da D-League da NBA, o americano não se abalou com a pressão e matou seus dois chutes para selar a vitória.

Na trilha de Huertas
O brasileiro não precisou fazer muito em vitória de recuperação para o Barcelona sobre o Zalgiris Kaunas, por 89 a 72, em casa. Foram dois pontos, seis assistências e cinco rebotes para o armador, que errou todos os seus seis arremessos de quadra, em 21 minutos. Num jogo tranquilo, Xavier Pascual nem deu bola, podendo preservar seus principais atletas. No finalzinho, o técnico ainda tirou do banco o ala Emir Sulejmanovic, de 19 anos, de quem se espera muito na base do gigante catalão. Pascual, todavia, podia ter dado mais que 10 segundos para esse jogador que defendeu as seleções menores da Finlândia, mas vai jogar pela Bósnia-Herzegovina daqui para a frente. Uma das assistências de Huertas, de qualquer forma, poderia ter valido por, no mínimo, duas:

Veja a classificação geral do Top 16
Confira os resultados e estatísticas

Olho nele: Davis Bertans (Laboral Kutxa)
Alô, #SpursBrasil. Draftado por RC Buford em 2011, na 42ª posição, o ala está devidamente recuperado de uma cirurgia no joelho e vem recebendo extenso tempo de quadra nesta Euroliga, como titular do clube basco aos 22 anos. Com 2,08 m e um excelente arremesso, Bertans faz os olheiros profissionais salivarem há um tempão. Na vitória por 102 a 83 sobre o decepcionante Olimpia Milano, a revelação letã marcou 19 pontos em 16 minutos, castigando a defesa italiana com seu chute de fora (4-5 nos disparos para três pontos e 6-7 no geral). O problema é que o jovem jogador tende a estacionar no perímetro e forçar muito a barra nas bolas de longa distância, quando está claro que tem fluidez para fazer mais que isso. Pode ser muito mais que um clone magro de Matt Bonner.

Em números
7.000 – Dimitris Diamantidis ultrapassou a casa de 7 mil minutos de tempo de quadra na Euroliga, aproveitando-se das lesões recentes de Juan Carlos Navarro para assumir mais um recorde em sua carreira no basquete continental – ele já é o líder no ranking de assistências e roubos de bola. Ao todo, o legendário armador do Panathinaikos disputou 239 partidas do campeonato, empatando com seu ex-companheiro de clube e seleção Kostas Tsartsaris. Navarro jogou 266 vezes e segue em atividade, enquanto mais uma lenda grega, Theo Papaloukas, aposentado, tem 252. Para Diamantidis, o principal foi comemorar com mais uma vitória, e fácil, sobre o Galatasaray por 86 a 77, em casa. Ele fez uma de suas melhores partidas da temporada, com 14 pontos, 6 assistências e 5 rebotes, em 27 minutos.

1.288 – Na derrota para o Maccabi, Felipe Reyes, ícone do Real, se tornou o maior reboteiro da história da Euroliga, ultrapassando o talentoso e polêmico turco Mirsad Turkcan, primeiro de seu país a jogar pela NBA (em tímida passagem por New York Knicks e Milwaukee Bucks de 1999 a 2000, é verdade) e figura que liderou a competição nesse fundamento em três temporadas.

34 – Foi o índice de eficiência de Ante Tomic no triunfo do Barça, valendo mais um prêmio de MVP. O pivô croata somou 16 pontos, 9 rebotes, 5 assistências e 2 tocos, em 24 minutos de perfeição ofensiva (6-7 nos arremessos, 6-6 nos lances livres, nenhum turnover).

2 – O Anadolu Efes conseguiu algo impensável: limitar Vassilis Spanoulis a míseros dois pontos na vitória sobre o Olympiakos por 84 a 70. É até difícil de qualificar este feito. O armador jogou por 27 minutos e simplesmente não encontrou o rumo da cesta, errando todos os seis arremessos que tentou e terminando com três turnovers e apenas uma assistência. Tudo isso resultou num calamitoso índice de -5 na eficiência. Sua menor pontuação na temporada havia sido 9, contra o Laboral Kutxa e o Olimpia Milano. Mérito em quadra para os americanos Matt Janning e Dontaye Draper, que dividiram a responsabilidade de perseguir o astro e fizeram um trabalho excepcional de carrapato. Os grandalhões Stephane Lasme, Nenad Krstic e Dario Saric também ajudaram nessa, compondo sempre um paredão duplo para cima de Spanoulis, quando este chamava o corta-luz, ficando invariavelmente encurralado. Do ponto de vista de posicionamento tático e dedicação em quadra, foi uma aula de defesa do Anadolu no segundo tempo, com a orientação do professor Ivkovic, que foi, também, duas vezes campeão pelo clube grego (1997 e 2012). No ataque, apenas um anfitrião não pontuou: o caçula Furkan Korkmaz, ala-armador de apenas 17 anos.

As 10 jogadas da semana


Poucos notam, mas o New Orleans Pelicans ainda está na briga
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Giancarlo Giampietro

Anthony Davis pode ser o MVP. Desde que o Pelicans...

Anthony Davis pode ser o MVP. Desde que o Pelicans…

Nesta segunda-feira, demos uma passada pela situação de classificação do Leste. Se a gente virar a tábua, no Oeste, existe uma situação curiosa: virou lugar comum falar que o Phoenix Suns vai tentar de tudo para se segurar com a oitava colocação diante da pressão de um Oklahoma City Thunder completo, e sobre como será difícil resistir ao ataque destes. Até faz sentido quando lembramos que o Suns foi o time que brigou por esse oitavo lugar até o fim do campeonato, sem sucesso, enquanto OKC surfava lá em cima, perto do Spurs.

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Só tem um problema nessa história toda: o New Orleans Pelicans de Anthony Davis, que insiste em se manter entre uma franquia e a outra, ocupando a nona posição numa corrida – aí, sim, de verdade – pelos playoffs.

(Ao contrário do que acontece na outra metade do país, em que muitas equipes de fato até querem uma vaguinha, mas estão completamente  danificadas. O Charlotte Hornets, por exemplo,  que hoje é o oitavo, de um dia para o outro, descobriu que Kemba Walker vai precisar passar por uma cirurgia devido a um menisco lateral rompido no joelho esquerdo. Ele deve ficar afastado por um mínimo de seis semanas. Então lá vai Brian Roberts para o resgate.)

Os Monocelhas estão curtindo sua maior série de vitórias na temporada (quatro, com 24 vitórias e 21 derrotas no geral) e têm o Denver Nuggets como próximo compromisso. Tudo isso em meio a um período extremamente favorável na tabela: dos 12 jogos antes do intervalo do All-Star Game, dez serão em casa. Alguns visitantes são bem incômodos: Los Angeles Clippers (30/01), Atlanta Hawks (02/02). No fim de semana, porém, a equipe venceu o Dallas Mavericks para ganhar confiança.

Ah, antes que esqueça: quem também vai dar um pulo por Nova Orleans em breve é o… Oklahoma City, dia 4 de fevereiro. E mais: no dia seguinte, os dois times voltam a se enfrentar no ginásio do Thunder, numa daquelas dobradinhas lá-e-cá que se encaixam da melhor maneira possível em meio à maratona da temporada regular.

Se ninguém cogita o Pelicans como opção viável para os mata-matas da conferência, dependendo do que aprontarem nas próximas semanas, as coisas podem mudar rapidamente, dependendo muito do que acontecer no confronto direto com Durant e Westbrook. É a chance de a franquia romper com a mediocridade e partir para cima da concorrência.

Antes de mais nada, como o vocábulo é gasto à vera por aí, vale esclarecer que, segundo um dos pais de nós todos, “mediocridade” se assimila, pela ordem, da seguinte maneira: “1. Médio ou mediano. 2. Meão. 3. Que está entre bom e mau. 4. Que está entre pequeno e grande. 5. Ordinário, sofrível, vulgar. Naturalmente, em tempos de ódio mortal por qualquer coisa, para a esmagadora maioria, o quinto lugar virou o primeiro. No caso do Pelicans, vale o primeiro.

Até esta segunda-feira, quando massacrou o Philadelphia 76ers, a  galera do Monocelha nunca havia ficado mais que duas vitórias acima da marca de 50% (5-3 e 7-5 foi o máximo que conseguiu). Ao mesmo tempo, também nunca se viu duas derrotas abaixo dessa linha mediana (8-10, a pior). Além disso, antes de engatar esta sequência de quatro resultados positivos, os caras não haviam somado mais do que dois triunfos consecutivos, assim como também não perderam mais do que três em série (sendo derrotado por Sacramento Kings, quando eles ainda eram bons, Atlanta Hawks e Washington Wizards). Já tomaram vareios de Warriors, Blazers e Clippers, é verdade, mas, além do Mavs, também derrotaram Grizzlies, Raptors e Rockets. Isto é: a lei de que tudo se equilibra no decorrer da temporada da NBA  encontra em N’awlins seu maior representante nesta temporada.

No Oeste e na estrada, Pelicans se manteve na linha da mediocridade. Hora de deslanchar?

No Oeste e na estrada, Pelicans se manteve na linha da mediocridade. Momento para deslanchar?

Se o aproveitamento de 53,3% não chama tanta a atenção, é bom reparar que eles fizeram até o momento cinco partidas a mais fora de casa – e, jogando como anfitriões, os rapazes têm a quarta melhor campanha do Oeste, com 15-5, abaixo apenas de Golden State (21-1), Portland (20-5) e Memphis (19-5). Interessante, até porque a tabela que eles enfrentaram é, por ora, a nona mais difícil. Seus oponentes sustentam um aproveitamento de 50,5% na média, enquanto os do Phoenix Suns têm 48,6% (a segunda mais fraca). OKC, todavia, teve o quarto caminho mais pedregoso (51%). O aproveitamento intraconferência rende outro número otimista para o técnico Monty Williams: eles também venceram muito mais do que perderam (17-11, o quinto melhor).

Por essas e outras, na hora de fazer projeções estatísticas – como a fórmula/brincadeira desenvolvida por John Hollinger no ESPN.com, antes de ele virar dirigente do Grizzlies –, o Pelicans aparece, sim, como um convidado realista para a festa dos playoffs. Nesta segunda, antes mesmo da surra sobre o Sixers, o clube já aparecia como o favorito ao oitavo lugar, com 43,8% de chances, contra 40,8% do Thunder e 39,5% do Suns. Legal que, na projeção pelos resultados acumulados até esta terça-feira, os três podem terminar com a mesma campanha: 44 vitórias e 38 derrotas, com o ex-Hornets levando a vaga no desempate. Haja coração, amigo.

Para constar, de acordo com esse mesmo sistema, restaria de fato apenas uma vaga em aberto. O San Antonio Spurs seria o único time entre os sete primeiros abaixo dos 90% de probabilidade, mas com 88,6%. Como esses números são calculados? Bem, o cara explica de forma mais detalhada, mas saiba que eles saem depois que a temporada regular é simulada 5.000 vezes. A partir dos 5.000 resultados possíveis, saem os percentuais. É ciência? Sim. Exata? Dãr.

Obviamente o computador precisa fazer seus palpites a partir de uma fonte, e essa fonte são os dados enfatizados pelo mesmo Hollinger em sua medição estatística diária da liga, que não leva em conta apenas números básicos como a soma de vitórias e derrotas. Outra: a máquina também não vai saber se algum favorito ao título vai perder, ou adicionar uma peça importante daqui para a frente. Assim como não sabe, por exemplo, que o Pelicans está jogando neste exato momento sem o armador Jrue Holiday e que Austin Rivers, ineficiente que só, foi mandado para as cucuias, antes de ser resgatado pelo pai.

Sem Holiday (afastado por conta de uma reação de estresse na perna direita), um armador que intimida pela combinação de tamanho, porte físico e velocidade, a equipe vem respondendo bem, com seis vitórias em oito compromissos. A subida de produção se explica por um desempenho defensivo bem superior ao do restante da temporada: em janeiro, eles têm a sétima defesa mais eficiente da liga; na temporada como um todo, ocupam apenas o 22º lugar. O padrão ofensivo, um dos dez melhores do campeonato de modo consistente, se manteve, aliás. Mas o ganho na contenção dos oponentes representou um saldo de quatro pontos por posse de bola a mais. Lembrando que o armador titular disputou cinco partidas no mês. De qualquer forma, confesso minha surpresa aqui.

Dante Cunningham, importante na nova química do Pelicans

Dante Cunningham, importante na nova química do Pelicans

Tyreke Evans foi quem assumiu a armação, jogando ao lado de Eric Gordon na back court. Nenhum dos dois é reconhecido na liga como um defensor implacável. A efetivação de Dante Cunningham na formação titular já dá uma pista mais confiável (ao menos segundo o teste dos olhos). O ala dispensado pelo Minnesota Timberwolves tem envergadura e agilidade para tapar buracos. Sozinho, porém, não vai fazer milagre. Decorre que, com ele ao lado de Evans, Gordon, Davis e Omer Asik, o técnico Williams descobriu uma formação que lhe rende 19,4 pontos a mais a cada 100 posses de bola, um número para lá de ótimo, que só merece o asterisco pela baixa incidência, pelo fato de ser uma amostra pequena (98min47s no final). Supera os +15,2 do quinteto Holiday-Gordon-Evans-Davis e Asik (169 minutos). Para contextualizar, o Golden State Warriors titular, com Curry-Thompson-Barnes-Green-Bogut, bate os adversários por +29,1 pontos por 100 posses de bola, mas em 366 minutos juntos. Trocando Bogut por Speights, cairia para +23,2, em 170 minutos.

Agora, discutir qualquer assunto ligado ao Pelicans sem enfatizar a excelência de Anthony Davis é impossível. Com o Monocelha em quadra, a equipe tem um saldo de +5,3 pontos/100. Sem ele, despenca para -9.7/100. Os números do jovem astro ficam ainda melhores na condição de anfitrião, quando sua presença em quadra resulta num impacto de +14,4/100, com melhora substancial no setor defensivo. Com mais energia para usar os braços intermináveis e todo o seu pacote atlético, interfere muito mais nos planos dos adversários. Como no dia em que não se cansou de dar tocos em Tim Duncan, vibrando demais.

Em termos de medição de eficiência, com PER de 31,9, a temporada que o estimado Monocelha vem conduzindo em Nova Orleans está entre as melhores da história. Algo equivalente ao que Wilt Chamberlain e LeBron-no-auge atingiram.  Ah, e Michael Jordan também. Agora calma: isso não quer dizer que ele seja do nível de nenhum desses três – mas ‘apenas’ que, no seu tempo, comparando com os números de seus concorrentes da atual temporada, o ala-pivô vem sendo igualmente produtivo.

Até para efeito de reconhecimento do que Davis vem fazendo, com um jogo que vai muito além de cravadas e tocos (ainda que seus lances individuais sejam realmente chocantes), seria legal ver seu time deslanchar. Até porque a narrativa predominante na atual campanha vai impedir que ele entre para valer na discussão pelo prêmio de MVP, uma vez que sua equipe tem hoje, respectivamente, 15 e 7 derrotas a mais que o Golden State Warriors e Houston Rockets, ou Stephen Curry e James Harden. Dois craques, mas que, em termos de rendimento individual, não se equiparam do garoto de 21 anos.

O New Orleans Pelicans, claro, como time, não persegue mais Warriors, nem Rockets. Está de olho apenas em Suns e Thunder. Ainda que poucos estejam reparando nele.


Coisas para se fazer no Leste quando você (não) está morto
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Giancarlo Giampietro

Lance Stephenson, o símbolo da 'corrida' pelos mata-matas do Leste

Lance Stephenson, o símbolo da ‘corrida’ pelos mata-matas do Leste

Na onda tarantinesca do cinema dos anos 90, Coisas para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto foi um dos primeiros filhotes. Lançado em 1995, um ano depois de Pulp Fiction, foi um entre uma centena de películas (ainda eram películas, acho) a tirar do submundo alguns criminosos de personalidade singular, tentando sair de enrascadas com humor e violência, nem sempre explícita. Os diálogos obrigatoriamente precisavam conter referências da cultura pop em um mínimo de 67% de suas falas.

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Andy Garcia, o impagável Steve Buscemi, o eterno Dr. Brown Christopher Lloyd e o curinga Christopher Walken que me desculpem, mas este aqui não é um bom filme. Pelo menos não no meu gosto. A melhor coisa era o título. E só. Mas que título, né? Serve para deixar qualquer coluna parecendo muito mais legal do que é na verdade. ; )

Coisas para se fazer em Denver quando você está mortoSe for para tomá-lo emprestado e empregá-lo na NBA, ele nem precisa de adaptação. O Denver Nuggets já está morto nesta temporada faz tempo – algo de que a franquia se demorou a dar conta, mas enfim aconteceu. Mas esse texto não vai perder mais tempo para falar do indeciso time de Brian Shaw. No Leste, tem muito mais gente enterrada. Digo: enterrada, mas viva – numa expressão tão cara ao chapa Ricardo Bulgarelli, do Sports+.

Na conferência banhada pelo Oceano Atlântico, você nunca pode dar uma equipe como falecida nesta temporada, por mais que todos os fatos apontem o contrário. São todas sobreviventes – menos o New York Knicks e o Philadelphia 76ers, claro, que só querem competir hoje por Jahlil Okafor, mesmo.

O Philadelphia se sabota voluntariamente: Sam Hinkie já fez uma série de coisas para matar as chances de resultado positivo para sua equipe. Por outro lado, Phil Jackson começou o ano vendendo uma proposta em Manhattan e vai terminá-lo com outra inversa.

De resto, excluindo o pessoal do topo e o valente e surpreendente Milwaukee Bucks, temos uma extensa lista de times que entraram no campeonato com aspirações de playoffs, mas para os quais quase nada saiu conforme o planejado. Mesmo assim, todos ainda têm chances de classificação. Segue a folha corrida, com os times ordenados de acordo com suas respectivas campanhas e posicionamento até esta segunda-feira, 11h da manhã, horário de Brasília:

7 – Miami Heat (20-24, 45,5%): Pat Riley e Erik Spoelstra anunciavam um mundo pós-LeBron em que o time seguiria fortíssimo e deveria ser encarado se não como candidato ao título, mas pelo menos como candidato a uma quinta final consecutiva. Em sua última entrevista, não conseguiu disfarçar a frustração, embora ainda sustentando a opinião de que vê muito potencial a ser explorado no atual elenco. Se jogassem no Oeste, estariam hoje na 11ª posição, mesmo que enfrentem semanalmente adversários bem mais fracos. Os veteranos Dwyane Wade e Chris Bosh já perderam juntos 18 partidas – Bosh, em particular, estava barbarizando até sofrer uma mardita lesão na panturrilha. Josh McRoberts nem estreou de verdade. Shabazz Napier, bicampeão universitário e senior, não estava tão pronto assim como se imaginava. Mesmo jogando muitas vezes com dois armadores, Spoelstra não se sente confortável mais em colocar sua equipe para correr – o Heat tem o ataque mais lento da liga. As boas notícias: quando joga, Wade ainda é bastante produtivo, mesmo que distante de seu auge. E o fenômeno Hassan Whiteside (mais sobre ele depois). Com tantos problemas, o clube da Flórida ainda é o favorito para se classificar em sétimo.

8 – Charlotte Hornets (19-26, 42,2%): depois de chegar aos mata-matas na temporada passada, Michael Jordan redescobriu o gosto pela coisa. Foi às compras e hoje está com remorso. Não tem um dia em que o HoopsHype não destaque um rumor de negociação envolvendo Lance Stephenson. O Hornets sente que precisa se livrar de Stephenson o quanto antes, a ponto de aceitar discutir com Brooklyn uma troca por Joe Johnson, o segundo jogador mais bem pago da liga. Sim, o JJ mesmo. É de abrir os olhos todo esse esforço: sem o volátil ala-armador, o aproveitamento é de 9-5 (64%). Al Jefferson enfrenta uma incômoda lesão na virilha, que limita seus movimentos e já o tirou de quadra por nove partidas. Kemba Walker joga há tempos com um um cisto no joelho, que passou a preocupar de verdade neste mês, lhe custando três jogos, justo quando vivia seu melhor momento na NBA. Michael Kidd-Gilchrist ainda não sabe o que é um arremesso de três pontos. Marvin Williams é Marvin Williams. Mas não tem tempo ruim, não: o Hornets se vê hoje dentro da zona dos mata-matas, graças a uma defesa que foi a mais implacável neste mês de janeiro. É o bastante. Sofram:

9 – Brooklyn Nets (18-26, 40,9%): Billy King promove neste momento o maior saldão. É chegar e levar! Desde que paguem, e caro. Afinal, ele quer se desfazer da folha salarial mais custosa de toda a liga, com mais de US$ 91 milhões investidos. Então temos aqui o time da vez na central de boatos. Antes de ser afastado por conta de uma fratura na costela, Deron Williams havia virado banco de Jarrett Jack. Brook Lopez, que já perdeu dez jogos, não consegue superar a marca de 6,0 rebotes. Joe Johnson está em quadra, mas a verdade é que o clube vem acobertando lesões no joelho e no tornozelo para tentar vendê-lo. Bojan Bogdanovic é um fiasco até o momento e aquele por quem havia sido substituído, Sergey Karasev, anda curtindo a vida adoidado. Lionel Hollins não consegue mais se conter em entrevistas coletivas, manifestando constante desprezo por sua equipe. Com mais uma vitória, eles voltam a se juntar ao Hornets, para reassumir o oitavo lugar (uma vez que levam a melhor no critério de desempate por confronto direto). Kevin Garnett sorri. Totalmente surtado.

10 – Detroit Pistons (17-28, 37,8%): até o Natal, o presidente e técnico Stan Van Gundy havia testemunhado apenas cinco vitórias dos rapazes da Motown. Em 28 duelos. Tipo um Sixers, mesmo. Foi aí que ele ativou o detonador da bomba e mandou embora Josh Smith, aceitando lhe pagar mais de US$ 30 milhões a troco de nada. Obviamente que o Pistons venceria 12 das próximas 17 partidas e se recolocaria na discussão. O duro é perder Brandon Jennings pelo restante da temporada, devido a mais uma ruptura de tendão de Aquiles nesta campanha. Jennings era outro que praticava o melhor basquete de sua decepcionante carreira. Momento para pânico geral, não? Em qualquer outra circunstância, sim. Mas talvez SVG consiga fazer que DJ Augustin replique sua incrível jornada dos tempos de Chicago. Se não for o caso, resta sempre o caminho de uma troca (Prigioni é o primeiro nome especulado) ou de um milagre vindo da D-League (Lorenzo Brown, ex-Sizers e North Carolina State, também é comentado). Enquanto isso, Greg Monore vai conseguindo a proeza de superar Andre Drummond nos rebotes. Vai que dá!

11 – Boston Celtics (15-27, 35,7%): Danny Ainge trocou Rajon Rondo. Danny Ainge trocou Jeff Green. Danny Ainge trocou Brandan Wright. Danny Ainge trocou até mesmo Austin Rivers. Marcus Smart ainda é só uma promessa. Kelly Olynyk começou muito bem o campeonato e despencou até sofrer uma torção de tornozelo grave. Evan Turner continua acumulando números, mas sem eficiência nenhuma. E o Celtics ainda tem chances, para tornar a vida de Brad Stevens menos miserável. Esse é um dos clubes que tem, hoje, um dos maiores conflitos de interesses entre o que a direção espera (reformulação apostando no próximo Draft) e o técnico prega (tentar vencer a cada rodada, e que se dane). Os caras acabaram de conseguir dois triunfos em um giro pela Conferência Oeste  e de fazer um jogo relativamente duro contra Warriors e Clippers. E aí: Ainge vai trocar Stevens também?

12 – Indiana Pacers (16-30,  34,8%): o time da depressão, mas que não desiste nunca. Só não são brasileiros. Frank Vogel deve ler a relação de lesões acima e gritar em seu escritório: Vocês querem falar de desfalques!? Sério!? Peguem esta, então:” Paul George acompanha o time nas viagens, vai treinando de leve, e só; George Hill só disputou sete de 46 partidas; Hibbert perdeu outras quatro, enquanto West já perdeu 15; CJ Watson ficou fora de 18 jornadas, dez a mais que Rodney Stuckey e oito a mais que CJ Miles; Donald Sloan já tentou 334 arremessos neste campeonato, sendo que, de 2011 a 2014, havia somado 393 chutes; apenas o imortal Luis Scola e Solomon Hill jogaram todas as partidas. E o Pacers ainda deu um jeito de vencer 16 partidas e de se manter entre as dez defesas mais eficientes da liga, superando até mesmo o Memphis Grizzlies. Alguém aí falou em Votel para técnico do ano?

13 – Orlando Magic (15-32, 31,9%): o quê? Você não bota fé!? Não vá me dizer que não leu nada dos parágrafos acima?


Em números e frases: o jogo insano e flamejante de Klay Thompson
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Giancarlo Giampietro

Você acorda no meio da madrugada – e dessa vez o calor nem foi desculpa, deve ser coisa da idade, mesmo –, e acaba pegando o celular para ver que horas são. Aí abre o aplicativo Game Time da NBA para ver como havia terminado a rodada que acontecia depois de Mavs x Bulls. Na hora de conferir o último resultado do dia, mais uma lavada do Golden State Warriors em que eles passam dos 120 pontos, pumba: 52 saíram só na conta de Klay Thompson!

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Daí você abre o Twitter, e os Estados Unidos da América estão inteiros em ebulição: afinal, o que a box score não contava é que, de 52 pontos, 37 o ala do Warriors marcou num só quarto, o terceiro. Foi um recorde da liga – nem Wilt, nem MJ chegaram perto disso. Ixemaria. E para dormir novamente, como fica? Demorou um pouco, mas consegui. Postar blog 4h01 da madruga também não ajudaria ninguém, né? De todo modo, com algumas horas de atraso, seguem alguns dados sobre a estarrecedora noite do cestinha:

52 – Mo Williams não está mais sozinho nessa luta, amigos. Thompson igualou o igualmente especial recorde da temporada estabelecido pelo armador do Timberwolves contra o Indiana Pacers na semana passada. O Indiana Pacers, por outro lado, precisou de todo o primeiro tempo para marcar 37 pontos contra o Miami Heat.

Klay Thompson põe fogo na folha de estatísticas

Klay Thompson põe fogo na folha de estatísticas

42 – Tirando o Golden State, dãr, apenas o Cleveland Cavaliers conseguiu marcar mais que 37 pontos num quarto na rodada desta sexta-feira: foram 42 contra o Charlotte Hornets, no segundo período. O Lakers fez 38 contra o Spurs na primeira etapa.

38 – O recorde pessoal de Mychal Thompson, ex-pivô do Blazers e do Lakers, bicampeão pela franquia angelina, foi de 38 pontos pelo Portland, justamente contra sua futura equipe, em 1981. Também pelo Blazers, ele marcou 37 pontos em outras três partidas.

33 – Esse era o recorde de pontos em um só período até, então, obtido por Carmelo Anthony com a camisa do Denver Nuggets em 2008 e por George “Iceman” Gervin, o primeiro grande ídolo do Spurs. David Thompson, o ala-armador explosivo do Denver Nuggets e que inspirou Jordan muito mais que você imagina, já fez 32 pontos em uma parcial.

32 – Thompson chegou aos 52 pontos em 32 ou menos minutos, se juntando a Kobe Bryant como o único atleta da liga a conseguir tamanha produção em tão pouco tempo de quadra. Kobe anotou 62 pontos em três períodos contra o Dallas Mavericks em 2005, pouco antes de alcançar 81 contra o Toronto Raptors. Vocês lembram, né? Phil Jackson manteve o ala sentado durante todo o quarto final contra os texanos e nem deu bola. A diferença é que ao seu lado, no time titular, ele tinha Smush Parker, Brian Cook, Chris Mihm e, ufa, Lamar Odom.

26 – Foi o total de pontos de todos os outros atletas, de Warriors e Kings, em quadra durante o terceiro período. Perderam de Klay por 11.

As estatísticas do terceiro período

As estatísticas do terceiro período

25 – Klay Thompson precisou de apenas 25 arremessos para marcar 52 pontos. Média de 2,08 para cada chute de quadra. Ele converteu 64% de seus chutes de quadra. Em três pontos, ficou em 73,3%. Nos lances livres, 90%.

11 – O ala foi selecionado no Draft de 2011 na 11ª colocação. Em décimo, o… Sacramento Kings, claro, escolheu Jimmer Fredette, hoje reserva do New Orleans Pelicans. Jornalistas da capital californiana juram que havia muita gente na diretoria do clube que preferia Thompson naquela ocasião.

9 – Foram nove chutes de longa distância para Thompson apenas no terceiro período, sendo que oito deles estavam marcados. Em quatro desses arremessos ele saiu de corta-luz, enquanto outros três vieram em transição. No geral, ele matou 11 tiros de fora, ficando a um do recorde individual em uma partida (compartilhado por Kobe e Donyell Marshall).

O quadro de arremessos de KT no terceiro período

O quadro de arremessos de KT no terceiro período

5 – Thompson ainda encontrou espaço no jogo para dar cinco assistências.

2 – Excluindo James Michael-McAdoo, que acabou de vir da D-League, dois companheiros de time de Thompson não conseguiram fazer nem 37 pontos durante toda a temproada: Brandon Rush, que tem 18 pontos em 21 jogos, e o pivô sérvio Ognjen Kuzmic, que soma 20 pontos em 15 jogos. Ao menos, juntos, os dois conseguem superar o ala, né?

-48 – Thompson, todavia, ainda ficou devendo 48 pontos para o recorde individual da franquia: os 100 pontos de Wilt Chamberlain, claro, como jogador do Warriors, mas ainda na Philadelphia. A segunda maior contagem do clube foi de Stephen Curry, que fez 54 contra os Knicks em 2013.

No vestiário, Stephen Curry assiste aos 37 pontos de Thompson no terceiro quarto

No vestiário, Stephen Curry assiste aos 37 pontos de Thompson no terceiro quarto

* * *

Klay Thompson é pop. A NBA mal dormiu de sexta para sábado. Seguem, então, algumas das declarações mais legais sobre a tempestade promovida pelo ala do Golden State:

“Foi meio que um vulto. Gostaria de poder voltar no tempo e curtir isso um pouco mais, pois em momentos como esse passam realmente muito rapido. Foi maluco, eu nem sei o que aconteceu”, Thompson, o próprio.

“Fui um dos jogadores sortudos por ter atuado ao lado de Michael Jordan, Tim Duncan, David Robinson e alguns dos maiores da história. Mesmo com tantas coisas espetaculares que Michael fez, e ele fazia noite a noite, nunca o vi fazer algo assim”, Steve Kerr, técnico do Warriors. Demais.

“Vocês (repórteres) estão todos me fazendo parecer como se não soubesse, mesmo, o que dizer para a mídia. Eu honestamente não sei o que dizer para vocês”, Draymond Green, o faz-tudo do Warriors.

“Isso é lixo. Se não acreditávamos nisso antes, agora todos acreditamos”, Green novamente, quando questionado sobre a ideia de que não existe o conceito de mão “quente”, confiante no basquete.

“Você não esquenta dessa maneira nem no NBA 2K. Aquele videogame agora já é real. O que Klay fez não foi real”, Green, definitivamente o melhor entrevistado desse timaço do Golden State.

“Cheguei agora depois de ter visto um filme chamado Klay Thompson. Pegou fogo!”, Shaun Livingston, armador reserva do Warriors.

“Foi o melhor filme que já assisti! Obrigado pelo show, Klay”, Marreese Speiths, o sexto homem da equipe, seguindo na mesma temática de Livingston.

“Voando de volta a Chicago e acompanhando Klay Thompson surtando contra o Kings… 37 pontos no terceiro período é algo insano!”, Pau Gasol, no Twitter.

“Se o Klay Thompson não for um All-Star, desisto do basquete de vez”, Anthony Tolliver, ala do Detroit Pistons.


É Boban Marjanovic contra a teoria da evolução no basquete
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Giancarlo Giampietro

Gustavo Ayón, de 2,08m, vira só mais um baixinho

Gustavo Ayón, de 2,08m, vira só mais um baixinho

A natureza – e o basquete – sempre dão um jeito de se reinventar, não?

(E que tal começar filosofando assim numa sexta-feira?)

No mundo todo, há muita gente pelo menos 35 vezes mais inteligente que um mero blogueiros que já tenha declarado a extinção dos dinossauros. Ou melhor, a extinção do pivô-cincão-gigante-jogando-de-costas-para-a-cesta-lento-toda-a-vida-mas-que-faz-estragos. Você pega o Miami Heat bicampeão da NBA em 2012-2013, os texanos Mavs e Spurs nas outras pontas (2011 e 2012), a seleção norte-americana reassumindo o controle das competições Fiba, o Flamengo, o Bauru… Enfim, são diversos os casos que comprovariam essa tese. Eles listam, sim, pirulões em seus elencos, mas são caras extremamente ágeis, explosivos, dinâmicos (como Tyson Chandler, Jerome Meyinsse, Mason Plumlee, Tiago Splitter etc., cada um na sua). A velocidade é o que manda em quadra.

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Só não dá para aplicar a teoria evolucionista assim tão friamente, gente. Ao menos não no esporte – que o diga Barcelona, com todos os seus tampinhas encantadores, subvertendo um darwinismo que parecia exigir de um jogador de futebol um mínimo de 1,85 m de estatura. No basquete, não seria diferente. Para cada ação, há uma reação. E, mesmo isoladamente, vão surgir casos que desafiam a regra vigente. Aí chega a hora de apresentar para o basqueteiro brasileiro mais incauto a figura imensa que se chama Boban Marjanovic, do Estrela Vermelha.

Para quem está ligado nas transmissões semanais de Euroliga no Sports+, o pivô não é novidade alguma. Agora, como ele não jogou a última Copa do Mundo e anda afastado da seleção sérvia, não foi draftado por nenhum time da NBA e só defendeu o Atlanta Hawks numa liga de verão ao lado de Lucas Bebê, pode ser que Marjanovic ainda seja um anônimo em geral. Urge, então, apresentá-lo.

Marjanovic nasceu na cidadezinha de Inđija, que tem área de 384 km² e cuja população não passa dos 50 mil habitantes. Foi revelado nas pelo Hemofarm, um tradicional clube de base da Sérvia – Darko Milicic também saiu de lá. Completou 26 anos em agosto passado. Ah, e e estava esquecendo já: ele tem 2,21 m de altura. Ou 2,22m. Ou 2,23 m, dependendo da fonte. Ele, vocês entenderam, é IMENSO. E não deveria ter espaço no basquete de hoje. Não só conseguiu se manter em quadra, porém, como é o jogador mais produtivo do segundo principal campeonato de clubes do mundo.

O sérvio lidera a competição em índice de eficiência tanto na medição normal, como por minuto. É o oitavo cestinha, com média de 15,7 pontos, o principal reboteiro, com 9,9, acerta 63,2% de seus arremessos de dois pontos (sendo o 13º) e sofre 3,85 faltas por jogo (o 13º também). Alguns detalhes, antes de seguirmos adiante: as equipes da Euroliga têm tabelas diferentes, então os números vêm com um asterisco; sobre as faltas: seriam muito mais, pode ter certeza, não fosse pelo fato de ele converter 74,6% de seus lances livres. Não é inteligente tentar parar o pivô na marra, então, embora muitas vezes seja a única alternativa quando o cara recebe a bola a um raio de cinco metros do aro, em situação de isolamento. Isso causa problemas sérios.

“Marjanovic é um dos jogadores mais dominantes da competição. É um jogador que proporciona muitíssima dificuldade para todas as equipes, porque temos pouca solução tática para enfrentá-lo, devido a sua maneira de finalizar e a capacidade que ele tem”, avalia o técnico Xavi Pascual, do Barcelona, que vai tentar parar o pivô nesta sexta (estou nessa transmissão ao lado de Rafael Spinelli). “Há poucos jogadores que dão identidade ao seu time nesta competição, e ele dá um estilo ao seu.”

Isso não deixa de ser uma ironia. Afinal, foi da Europa que a NBA pegou a gripe do strecht four, que tem Dirk Nowitzki como seu principal agente. Os dirigentes estão vasculhando todo e qualquer canto do mundo em busca de um pivô minimamente competente no arremesso de longa distância. A ideia é espaçar a quadra e facilitar as infiltrações de armadores e alas numa liga que não permite mais o contato de mão por parte dos defensores. Quanto mais espaçada a quadra, as figuras mastodônticas tendem a se complicar na defesa – como perseguir os jogadores mais rápidos no perímetro? Causa e efeito.

Na Europa, porém, Marjanovic tem a marcação por zona como sua aliada. Ainda que a liga americana permita defesas flexíveis hoje, existe ainda a restrição de três segundos para o marcador se distanciar de seu oponente. Claro que muitas vezes eles conseguem roubar dois ou três segundos a mais que o permitido, mas essa preocupação já interfere o bastante. Faz muita diferença, na real.

De modo que o pivô não precisa ser utilizado apenas de modo pontual, como acontece com o Maccabi Tel Aviv e Sofoklis Schortsanitis, por exemplo. Ele tem média de 27 minutos por jogo, enquanto a jamanta grega só fica em quadra por 14 minutos. Isso também diz muito a respeito do condicionamento físico do sérvio. O cara tem mais de 2,2o m de altura e pesa mais de 130 kg. Joga normalmente, e numa equipe que está cheia de alas jovens, fogosos que partem feito malucos para o contra-ataque – destaque para Nikola Kalinic (já bastante elogiado aqui), Jaka Blazic (um assessor dos irmãos Dragic na Eslovênia), o hiper-atlético Nemanja Dangubic (draftado pelo Spurs no ano passado) –, todos coordenados pelo arrojado armador Marcus Williams (ex-Nets, Warriors e Grizzlies).

O renovado elenco do Estrela vai correr sempre quando pode, especialmente quando joga em Belgrado, empurrados por sua torcida fervorosa. Marjanovic, claro, não é o primeiro a chegar ao ataque, mas consegue de certa forma acompanhá-los em transição. Além disso, não é sempre que seu time vai conseguir uma enterrada ou bandeja tranquila no contragolpe. Aí chega a hora de jogar em 5 x 5. Aí é bola no Marjanovic. E seu impacto ofensivo é enorme, com o perdão do trocadilho.

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Pega leve aí, Boban! Não vá machucar ninguém

Seu compatriota é lento, se comparado com Pau Gasol, Ante Tomic e outros espigões talentosos. Mas, considerando em seu tamanho, ele se mexe com relativa desenvoltura. Para os antenados com a NBA, não se trata de um Nikola Pekovic muito mais espichado, alguém que prevalece, sim, no garrafão devido ao físico avantajado, sem se esquecer da técnica para complementar o pacote. Debaixo do ar, dãr, só sai cravada. Mas ele tem excelente chute de média distância e gira bem, ainda que geralmente para a finalização com o braço direito, por cima do ombro esquerdo.

Na primeira fase da Euroliga, enfrentando Olympiakos, Laboral Kutxa, Valencia, Galatasaray e Neptunas Klaipeda, Marjanovic fez pelo menos 11 pontos em todas as dez partidas. Num jogo eletrizante de prorrogação dupla contra o Gala em Istambul, somou 23 pontos e 17 rebotes em 34 minutos, tendo cometido apenas duas faltas. Foi o mais volumoso de seus sete double-doubles. No primeiro duelo com o clube turco, matou 11 de 14 arremessos de quadra. Na segunda partida contra o estreante lituano Neptunas, o aproveitamento foi de 11-13. Uma vez que recebe a bola, ninguém vai movê-lo dali – por isso, a melhor forma de marcá-lo e atacar a fonte. O Real Madrid o limitou a 9 pontos (4-6), em 20 minutos, na abertura do Top 16 ao usar o americano Marcus Slaughter em marcação frontal, inibindo as linhas de passe. Contra o Maccabi, que tem em Alex Tyus um jogador similar, terminou com 10 pontos e 4-10, em 28 minutos.  Além disso, ambos os clubes possuem em Rodríguez, Lllull, Ohayon e Pargo armadores que pressionam, e muito, no perímetro. No reencontro com o Galatasaray, porém, voltou a arrasar, com 18 pontos (7-10) em 24 minutos.

Nem sempre foi assim, porém. Marjanovic sempre foi bem cotado como prospecto na Europa, tendo sido campeão mundial sub-19 em 2007, ao lado de Miroslav Raduljica, trombando com Paulão Prestes nas semifinais, aliás. Em 2010, depois de passar batido pelo Draft da NBA (estava no radar dos scouts, porém), se consolou com um belo contrato de três anos com o CSKA Moscou. A superpotência russa nunca o aproveitou, porém. Quando Dusko Vujosevic foi demitido, acabou dispensado, depois de ter sido emprestado para o Zalgiris Kaunas, pelo qual teve médias de 5,2 pontos e 3,5 rebotes em apenas seis partidas. Em 2011-2012, teve uma campanha praticamente perdida, passando pelo Nizhny Novgorod, da Rússia, e de volta aos Bálcãs, pelo Radnicki Kragujevac.

Foi só em 2012-2013 que o gigante se acertou, jogando pelo Mega Vizura. Virando referência no jogo interno, desabrochou com 16,9 pontos por jogo e 11,6 rebotes, aproveitamento de 68,9% nos arremessos e 85,4% nos lances livres para ser eleito o MVP da liga sérvia. O projeto estava recuperado. Na temporada seguinte, assinou com o Estrela Vermelha. Foi muito bem em 2012-2013, mas não foi o suficiente para descolar uma vaga na seleção nacional (Raduljica e Nenad Krstic foram escolhidos… A concorrência é braba). De qualquer forma, elevou seu jogo para outro patamar na atual campanha. Dificilmente ficará fora da próxima convocação.

A pergunta que fica: Marjanovic teria espaço na NBA hoje? Valeria o teste? Seria necessário, no entanto, encontrar um clube realmente interessado, que valorize muito suas peculiares características. Não existe em solo americano um jogador com seu tamanho, com porte físico. Roy Hibbert seria aquele que chega mais perto, com 2,18 m e mais de 130 kg também. Agora, até até o pivô que um dia defendeu a Jamaica em torneio Fiba Americas parece mais ágil que o sérvio (ao mesmo tempo, também é mais… baixo!). E Hibbert, não nos esqueçamos, joga num time que rema contra a maré, ainda apostando num jogo interior de pesos pesados, opressor – capitaneando uma das melhores defesas dos últimos anos, enquanto o principal recurso do sérvio é o ataque.

Se for apenas para oferecer o salário mínimo ou um contrato sem garantias, não tem por que Boban topar, economicamente. Ao final da temporada, seu agente vai poder barganhar tranquilamente um contrato milionário no basquete europeu. O que já é uma grande conquista. Ao menos esse dinossauro aqui já sobreviveu.