Vinte Um

Arquivo : Luis Scola

Guia olímpico 21: o que esperar da Argentina?
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira, iniciamos uma série sobre as equipes do torneio masculino das Olimpíadas do #Rio2016:

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Lá vem o Luis de novo

O elenco
Armadores: Facundo Campazzo e Nicolás Laprovítoola
Alas: Manu Ginóbili, Nicolás Brussino, Patricio Garino, Gabriel Deck e Carlos Delfino.
Pivôs: Andrés Nocioni, Leo Mainoldi, Luis Scola, Marcos Delía e Roberto Acuña.

A troca de gerações está encaminhada. Claro que eles vão sentir essa passagem. Nenhuma seleção internacional perde jogadores como Luis Scola, Manu Ginóbili e Andrés Nocioni sem sofrer um baque.  A não ser os Estados Unidos. Se algum dia vão poder brigar novamente pelo ouro olímpico? As perspectivas não são tão otimistas, mas está muito cedo para dizer. Mas pelo menos a Argentina pode olhar para seus 12 olímpicos e perceber que há um caminho a ser seguido pelo próximo ciclo.

Entre atletas nascidos nos anos 90, os armadores Facundo Campazzo e Nicolás Laprovíttola, os alas Nicolás Brussino, Patricio Garino e Gabriel Deck e mesmo os pivôs Marcos Delía e Roberto Acuña já compõem uma sólida base para futuros torneios. Especialmente os armadores, que estão subindo degraus na Europa consistentemente, rumo aos grandes clubes do continente. Prometem bastante os eventuais duelos com Raulzinho, Ricardo Fischer, Rafael Luz, entre outros da nova geração brasileira.

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Mas vale prestar atenção nos laterais. Brussino é quem vai ficar mais visado agora, pelo fato de o Dallas Mavericks estar apostando em seu talento – seu contrato, de todo modo, não é garantia: o garoto vai ter de brigar por uma vaga no elenco de Rick Carlisle em outubro. O rapaz de 23 anos não pára de crescer, tem muita envergadura para incomodar na defesa, a despeito do físico franzino, e no ataque pontua com inteligência, se deslocando pela quadra em busca de espaço para o arremesso. Ao meu ver, Garino é um prospecto mais interessante, ou pelo menos mais confiável, seguro para uma aposta. Atlético, forte, aguerrido, pode fazer um pouco de tudo em quadra, vai fazer longa carreira na Europa se a NBA não lhe abrir as portas (alô, Orlando, vocês viram a liga de verão em casa).

Garino chegou para ficar na seleção

Garino chegou para ficar na seleção

(O mais promissor deles acabou cortado por Sergio Hernández: Juan-Pablo Vaulet, draftado pelo Nets no ano passado. Vaulet é de um enorme talento, com capacidade atlética bem acima da média, agressividade para atacar o aro, coletar os rebotes e defender. Tem muita personalidade. Só não dá para cravar que vá virar um craque para liderar a seleção por dois motivos: primeiro, seu arremesso ainda é uma calamidade e, segundo, seu histórico de lesões já é muito preocupante para um garoto de 20 anos.)

A presença de jogadores mais jovens é um alívio para os mais veteranos, podendo fazer o serviço sujo – desde que Hernández não peça para Nocioni aliviar, o que é impossível. E ainda tem a incrível história de Carlos Delfino, que não jogava há três anos, passou por sete cirurgias no pé direito e foi chamado por pura fé.

Rodagem
A Argentina chegou à disputa por medalhas nas últimas três Olimpíadas, ganhando o ouro em Atenas 2004 e o bronze em Pequim 2008. Há quatro anos, os caras derrotaram a seleção brasileira num jogo dramático, mas perderam para Estados Unidos e Rússia e ficaram em quarto. Do grupo de Londres 2012, apenas cinco estão de volta, porém, e um deles é Delfino, que a gente nem sabe se vai conseguir jogar para valer. Leo Mainoldi não estava naquele grupo, mas tem muita bagagem. Do restante do elenco, Laprovíttola e Delía participaram de todas as competições com a seleção principal desde 2013. Garino, Brussino e Deck foram introduzidos ao time no ano passado, enquanto Acuña é estreante.

Para acreditar

Ainda não é simples ficar no caminho de Ginóbili

Ainda não é simples ficar no caminho de Ginóbili

Vou confessar aqui: não gostei nadinha deste uniforme dourado que a Argentina tem apresentado em amistosos. Mas é óbvio que ele diz muita coisa e vale para além do marketing. É só um questão de recordar que não faz muito tempo ainda que a seleção fez uma das campanhas mais memoráveis do torneio olímpico para ser campeã em Atenas 2004.

Chega uma hora em que nossos vizinhos ao Sul não poderão mais levantar essa credencial, tentando dar carteirada toda hora. Mas, enquanto o trio Scola, Nocioni e Ginóbili estiver por aí, é melhor respeitar. Mesmo com os três estando hoje mais próximos dos 40 anos do que dos 30, vai haver diversos confrontos na primeira fase em que eles ainda terão pelo menos dois dos três, quatro melhores atletas em quadra. Sim, ainda. Pode escanear os elencos de seus adversários e conferir isso aí.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
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Com disse Delfino em alguma entrevista que vi por aí, talvez a excepcional ao Basket Plus mesmo, em que ele solta alguma coisa sobre o croata Dario Saric nesta linha: “Vejo muita gente falando sobre ele. Ok. Mas, para a Olimpíada, se tivesse de escolher entre Saric e Scola, o que faria?”, perguntando de maneira retórica. Pois é. O mesmo raciocínio vale para Manu, que só não tem números maiores pelo Spurs porque não compensa para Gregg Popovich desgastá-lo antes dos playoffs.

Questões
A Argentina está renovando seu elenco, mas seus principais atletas não vão correr muito. Dos três craques, apenas Nocioni ainda tem o preparo para ir de um lado para o outro da quadra sem parar. Só porque é maluco, mesmo. Scola nunca foi desses – seus arranques são apenas oportunistas, em contragolpes certeiros. Então, ou Campazzo sai em disparada com qualquer atleta mais jovial que esteja em ação, ou o time se vê obrigado a atacar quase sempre em cinco x cinco.

Esse ritmo mais lento vai obrigar que Scola seja o Scola de sempre, em pick-and-rolls and pick-and-popcom Campazzo, em jogadas de costas para a cesta. Vai forçar também que Ginóbili consiga se esgueirar pelas defesas como foco primário ou secundário do ataque. Que Campazzo e Laprovíttola consigam conduzir o time sem turnovers, mas sem se tornarem burocráticos – nenhum deles é um Prigioni ou Pepe Sánchez. Tudo isso é bem possível.

O problema maior diz respeito ao sistema defensivo e rebotes. Foi na tabela que a equipe foi destroçada pelos brasileiros há dois anos, pela Copa do Mundo. O que pega é que os dois melhores pivôs do time, Scola e Nocioni, são craques e fazem muita coisa em quadra, menos a proteção do aro. Além disso, os dois têm coração enorme, mas não são caras de 2,10m de altura. É difícil lidar com um Gasol, um Valanciunas, um Nenê ou mesmo um Ezeli, do ponto de vista físico e atlético. Esse é o desafio de montar uma linha de frente com Nocioni e Scola. Se os dois fossem companheiros de clube na Europa, por exemplo, num Real Madrid, é muito provável que um seria o substituto do outro.

Por fim, temos Carlos Delfino. Depois de três anos parado e sete cirurgias, foi convocado ‘no escuro’ por Hernández. É uma história maravilhosa, realmente. Mas não dá para saber o que o veterano pode fazer pela seleção depois de retornar ao esporte apenas nesta fase de amistosos, após três temporadas afastado. Quando no auge, Delfino ajudava nos rebotes, nos arremessos de fora e também poderia criar jogadas em situações de aperto para a seleção.

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Mercado da Divisão Nordeste: Boston está chegando lá
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Giancarlo Giampietro

Quem já leu os textos sobre a Divisão Central, a Divisão Pacífico, a Divisão Sudeste e/ou a Divisão Noroeste pode pular os parágrafos abaixo, que estão repetidos, indo direto para os comentários clube a clube. Só vale colar aqui novamente para o marujo de primeira viagem, como contexto ao que se vê de loucura por aí no mercado de agentes livres da NBA

As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

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Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de 20 dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários:

Boston Celtics

Atlanta Hawks v Boston Celtics

Quem chegou: Al Horford e Jaylen Brown.
Quem saiu: Jared Sullinger (Raptors) e Evan Turner (Celtics).

O clube teve sua chance. Kevin Durant, no final das contas, realmente pensou na possibilidade de jogar em Boston. Mesmo que tenha optado pelo Warriors, para choque geral da liga, a mera consideração pelo Celtics deveria deixar o gerente geral Danny Ainge ainda mais encorajado com seu longo plano de reconstrução. Afinal, times como Lakers e Knicks não conseguiram nem mesmo marcar uma reunião com o ala.

E tem outra: não é que Al Horford seja um frustrante prêmio de consolação. Muito pelo contrário. O pivô dominicano se soma a uma base de jogadores competitivos, inteligentes e bem treinados e, sozinho, já vai fazer o produto de Brad Stevens melhorar consideravelmente em quadra, de tantos fundamentos e versatilidade em geral que oferece. Um time que venceu 48 partidas está basicamente trocando Sullinger por um All-Star. Nada mal.

Já a perda de Evan Turner não é algo para se lamentar tanto. A equipe perdeu, sim, seu condutor da segunda unidade, mas acho que dá para acreditar em um salto de qualidade para Marcus Smart e até mesmo para Terry Rozier, compensando. Além disso, a rotação ganha toda a vitalidade e capacidade atlética do número três do Draft, Brown. O jovem ala não está nada pronto como atacante, dependendo basicamente de investidas explosivas rumo ao aro para pontuar, mas já pode ajudar na contenção no perímetro, dando uma força para Jae Crowder contra alas mais altos e fortes.

De todo modo, Ainge não deve parar por aí. O gerente geral ainda busca mais um ou dois negócios, na forma de trocas, tendo ainda uma dúzia de ativos. A franquia obviamente aguarda o que OKC e Russell Westbrook pretendem da vida. Não custa insistir com Vlade Divac sobre DeMarcus Cousins também. Ou quiçá Cleveland já não se importe mais em segurar Kevin Love, precisando de reforços no perímetro devido ao fator Durant. Vai saber. Há sempre um negócio para se fechar por aí, desde que pelo valor certo – esta tem sido a filosofia paciente de Ainge, mesmo depois de um Draft no qual foi obrigado a selecionar seis atletas.

Uma eventual troca vai decidir o futuro de alguns desses jovens jogadores. É certo que Ante Zizic seguirá na Europa. De resto, ninguém sabe ainda o seu destino. O trator francês Guerschon Yabusele impressionou durante as ligas de verão e parece preparado para jogar na liga para já. Por ora, porém, não há espaço no elenco.

Brooklyn Nets

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Quem chegou: Jeremy Lin, Trevor Booker, Luis Scola, Greivis Vasquez, Randy Foye, Anthony Bennett, Justin Hamilton, Joe Harris, Caris LeVert e Isiah Whitehead.
Quem saiu: Thaddeus Young (Nets), Jarrett Jack (Hawks), Willie Reed (Heat), Wayne Ellington (Heat), Sergey Karasev (Rússia), Donald Sloan (China).

Não dá para dizer que Sean Marks esteja recomeçando o projeto do zero, mas é quase perto disso, hein? Considerando o estado em que estava a franquia ao final da temporada passada, é bastante compreensível essa chacoalhada toda. O neozelandês tinha dinheiro para gastar, mas o clube não atrairia grandes nomes. Então optou por apostas em jogadores que ainda teriam potencial para ser explorado, na expectativa de que evoluam com mais tempo de quadra e possam formar um núcleo mais interessante daqui a dois anos, eventualmente. Sim, Jeremy Lin ainda se encaixa nesse perfil, ainda mais agora que ai reencontrar o técnico Kenny Atkinson, uma das principais figuras por trás das semanas de Linsanidade que viveu pelo Knicks há quatro anos.

Outros jogadores nessa linha: Hamilton, um pivô que jogou muita bola pelo Valencia na temporada passada e pode ser considerado um stretch 5, com bom chute da cabeça do garrafão; Bennett, um dos maiores fiascos da história do Draft, mas que ainda é jovem o bastante para não ser descartado de vez; e Harris, que entrou na liga com a reputação de ser um grande chutador de três pontos, mas que não impressionou a serviço do Cavs. Não são nomes que comovem tanto, mas vale a prospecção.

Lembrando também que a ideia inicial de Marks nem era contratar tanta gente assim. Acontece que, quando o Miami Heat e o Portland Trail Blazers decidiram cobrir suas polpudas (e um tanto ousadas) ofertas, respectivamente, por Tyler Johnson e Allen Crabbe, lhe restou dinheiro e poucos alvos no mercado. Aí ele optou pela contratação de veteranos como Scola, Vasquez e Foye, que são caras muito respeitados dentro do vestiário. Pensou em química. Mas será que tantos veteranos assim não podem roubar minutos preciosos dos mais jovens? Caras como Rondae Hollis-Jefferson, Chris McCullough, Sean Kilpatrick e os calouros LeVert e Whitehead deveriam ter a prioridade. Ou Brooklyn acreditaria que um quinteto Lin-Foye-Bogdanovic-Booker-Lopez seria competitivo no Leste?

New York Knicks

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Quem chegou: Derrick Rose, Joakim Noah, Courtney Lee, Willy Hernángómez, Brandon Jennings, Justin Holiday, Mindaugas Kuzminskas, Maurice N’Dour e Marshall Plumlee.
Quem ficou: Lance Thomas e Sasha Vujacic.
Quem saiu: Robin Lopez (Bulls), José Calderón (Bulls/Lakers), Jerian Grant (Bulls), Arron Afflalo (Kings), Derrick Williams (Heat), Langston Galloway (Pelicans) e Tony Wroten (Grizzlies).

É, Phil Jackson também trabalhou bastante nas últimas semanas. Quantas canetas foram necessárias para assinar tanta papelada? Desde a troca surpreendente com o Bulls por Derrick Rose (análise aqui) a contratações de veteranos com histórico de lesão, passando pela busca por talento na Europa, o Mestre Zen fez de tudo um pouco para tentar conduzir o Knicks de volta aos playoffs. Carmelo Anthony não aguentava mais. Agora está empolgadão com os nomes que chegaram. Deveria?

Em tese, Noah e Lee fortalecem bastante a vulnerável defesa da equipe. O Knicks pagou um preço caro por um dos marcadores mais inteligentes e aguerridos do basquete. Ele tem tudo o que Jackson ama em um jogador. Precisa ver apenas se o pivô – um dos meus cinco jogadores prediletos em toda a liga, acreditem – vai ter condições físicas para jogar a temporada toda em alto nível. Do contrário, vai ter de apelar a Hernángómez e Plumlee, que até são mais maduros que a média entre calouros, mas não estão à altura da missão. O espanhol tem força, munheca e movimentos para pontuar, mas não é um grande defensor. Já Plumlee vem com a grife Dukep-Coach K, joga pesado, não vai inventar onda nenhuma, reconhecendo todas as suas limitações com a bola. E bota limitação nisso.

O temor pela enfermaria naturalmente se estende aos armadores. Rose terá a companhia de Jennings, que tentará mostrar que a ruptura no tendão de Aquiles ficou no passado. Registre-se aqui uma curiosidade quase mórbida: vamos ver se os dois vão conseguir passar da marca de 70 jogos e de 40% nos arremessos.

Já Lee acrescenta muito na contenção do perímetro. É um defensor muito mais intenso e capaz que Afflalo, que hoje só tem fama. Também arremessa bem e sabe jogar coletivamente, se movimentando pelo ataque, abrindo espaços, acostumado a jogar em função secundária. Definitivamente não vai brigar com Melo e Rose por arremessos. Baita contratação.

Por fim, completando o elenco, Kuzminskas é um ala que vive de oportunismo no ataque. Não é um cara que cria situações de cesta por conta própria, mas sabe aproveitar muito bem as rebarbas em rebotes ofensivos e cortes para a cesta pelo fundo da quadra. Imagino muitas assistências de Noah e Jennings para ele. Na defesa, é uma negação, e talvez seja superado por Holiday na rotação justamente por isso. N’Dour, o atlético senegalês que mal jogou pelo Real Madrid, deve passar mais tempo com o time da D-League do que com as estrelas.

Se estivéssemos em 2010, as contratações de Phil Jackson seriam bombásticas. Mas o calendário, salvo engano, aponta 2016. Se tirarmos o Warriors da dicsusão, talvez o Knicks seja o time mais interessante para se acompanhar na temporada que vem, pela combinação perigosa de egos, pelo simples fato de Rose e Noah estarem fora de Chicago e pela situação de Carmelo – mais um ano de fracasso, e o ala muito provavelmente vá forçar uma troca.

Philadelphia 76ers

Quem chegou: Ben Simmons, Dario Saric, Sergio Rodríguez, Jerryd Bayless, Gerald Henderson e Timothy Luwawu.
Quem saiu: Ish Smith (Pistons), Isaiah Canaan (Bulls) e Christian Wood (Hornets)
Quem chegou e nem ficou: Sasha Kaun

Pela primeira vez desde 2013, o Sixers vai abrir uma temporada em que o objetivo não são as derrotas. O Processo de Sam Hinkie foi abortado abruptamente na campanha passada, com o Clã Colangelo afanando todos os seus ativos, e agora o metódico, cultuado (por uns) e ridicularizado (por muitos) dirigentes tem de se contentar, de alguma forma, com o fato de que pelo menos a franquia conseguiu uma estrela em torno da qual pode se fortalecer, que é Simmons. Mesmo que ele já não esteja mais por lá para curtir esse desenvolvimento.

O novato australiano já encantou durante as ligas de verão com sua visão de quadra especial, lembrando muito um Jason Kidd de 2,08m de altura. Tal como era o caso do armador, porém, em seus primeiros anos de profissional, Simmons não representa absolutamente nenhuma ameaça como chutador, e isso vai ter um preço em seu ano de novato. Enquanto ele não der um jeito nesse fundamento, não deve entrar na pauta de um All-Star Game, por exemplo.

Com Saric e Rodríguez vindo da Europa, de todo modo, o Sixers certamente será um dos times mais divertidos da liga nas trocas de passe e jogo em transição. Depois de sofrer com armadores abaixo da linha da mediocridade, Brett Brown agora pode chorar de alegria no banco. Ele merece.

Fora isso, Henderson vai contribuir com profissionalismo, defesa e chutes de média distância, jogando em casa, enquanto o francês Luwawu se encorpa e se ajusta a um jogo no qual não será mais a figura mais atlética em quadra, como acontecia na Sérvia.

A missão de Colangelo agora deveria ser encontrar uma nova casa para Jahlil Okafor, cujos talentos ofensivos não se encaixam com o restante do elenco – independentemente, inclusive, do que acontecer com Joel Embiid. A rotação da linha de frente com Robert Covington, Jerami Grant, Simmons, Saric, Nerlens Noel e Richaun Holmes já é interessante o bastante.

Toronto Raptors

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Quem chegou: Jared Sullinger, Jakob Poetl e Pascal Siakam.
Quem ficou: DeMar DeRozan.
Quem saiu: Bismack Biyombo (Magic), Luis Scola (Nets) e James Johnson (Heat).

Masai Ujiri teve a chance de acrescentar Serge Ibaka ao finalista da Conferência Leste, mas não aceitou o preço cobrado por OKC (que era a nona escolha do Draft + Patrick Patterson + Cory Joseph + Norman Powell). Os dois reservas são figuras muito queridas no vestiário e compuseram uma segunda unidade que foi um dos pontos fortes do time canadense na última temporada. Joseph também é adorado em Toronto, um queridinho local. Powell deixou claro seu potencial nas últimas semanas do campeonato. Ainda assim… Por mais salgada que fosse a pedida, se o Raptors pretendia melhorar nessa temporada, talvez valesse a aposta. Ibaka seria um parceiro perfeito para Jonas Valanciunas e ainda supriria a inevitável ausência de Biyombo como protetor de aro.

Outra opção badalada que o clube vislumbrou foi Pau Gasol. Aparentemente, se não fosse a aposentadoria de Tim Duncan em San Antonio, o pivô espanhol estava muito disposto a fechar com Toronto. Taj Gibson também foi cortejado, mas as reviravoltas de mercado em Chicago impediram o negócio. Aí restou ao nigeriano a contratação de Jared Sullinger, por US$ 6 milhões.

Considerando os alvos primários, o ala-pivô não empolga muito. Não é ele que vai aproximar o Raptors do Cavs. Mas foi uma alternativa razoável e barata, para assumir os minutos de Luis Scola. Uma evolução. Sullinger é um reboteiro muito mais eficaz, também sabe passar a bola, embora seja um arremessador no mínimo irregular. Como ele vai se encaixar na equipe depende basicamente de seu condicionamento físico. Em Boston, teve constantes embates com a balança.

Já os calouros Poetl e Siakam entram no programa de desenvolvimento da franquia, que agora está lotado. Para um time que briga para se manter no topo da conferência, são diversos os jovens jogadores que não devem receber muita atenção de Dwane Casey na próxima temporada. Talvez o austríaco possa brigar por posição com Lucas Bebê, valendo a vaga de reserva imediato de Valanciunas.

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Jukebox NBA 2015-16: Raptors, Arcade Fire e um recado geral: eles existem
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “We Exist”, por Arcade Fire

Em 2011, com dez anos de estrada, os integrantes do Arcade Fire subiam ao palco do Grammy para, de modo até chocante, receber o prêmio de Álbum do Ano, superando popstars como Lady Gaga, Eminem e Katy Perry. Ninguém entendeu nada, nem a apresentadora Barbara Streisand, muito menos  mesmo o vocalista e compositor Win Butler, que, ao chegar ao microfone,  soltou: “Que diabos?!”

Aquele grupo de esquisitões, nerds e/ou eruditos reunidos em Montreal já atraía bom público em festivais e havia participado da festa antes, mas concorrendo entre os alternativos. Depois daquela façanha, com “The Suburbs”, se tornariam gigantes. Ou, vá lá, gigantes para os patamares atuais do rock. Mas chegaram lá, ganharam estofo, confiança e voltariam, dois anos depois, com um álbum bem mais ambicioso, “Reflektor”, para pista, com direito até a curta metragem dirigido por um dos Coppola e pontas de astros hollywoodianos. “We Exist” está entre essas faixas.

Ok.

Estaria o Toronto Raptors, então, preparado para dar um salto desses?

Bem, falar em título talvez seja algo impensável, mas esse, na verdade, é um discurso útil que vale para praticamente qualquer time que não se chame Golden State Warriors.

Contudo, se os objetivos forem menores, por que não?

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Ao receber o Cavs na sexta-feira, o Toronto Raptors ratificou que, sim, já existe como ameaça ao time de LeBron James ao título – da Conferência Leste, no caso, de acordo com suas atuais configurações. Cleveland, no papel, ainda é o favorito, mas, enquanto não encontra a paz interna, vai ser mais vulnerável do que a combinação de suas peças sugeriria. E aí entra o clube canadense na jogada, disposto a aprontar, seguindo o líder da conferência bem de pertinho, tendo a vantagem de um eventual desempate.

Havia diversos elementos que já serviriam para colocar Toronto como o principal candidato a azarão na conferência, posto que muitos talvez imaginassem que caberia ao Chicago Bulls no início da temporada, numa ascensão gradual da franquia, basicamente desde a partida de Rudy Gay e Andrea Bargnani. Mesmo que tivesse levado um sacode do Cavs no dia 4 de janeiro, fora por 122 a 100, haviam vencido 17 de 21 partidas incluindo antes do reencontro com os LeBrons. Ainda assim, valeu como tanto como um resultado simbólico, como para dar o troco e jogar pressão para cima dos caras, ajudando, de passagem, a tumultuar mais um pouquinho o vestiário.

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler, que jogava no high school, é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

Será que Bargnani e Gay poderiam imaginar um cenário desses, em que o Raptors entra em março com a quinta melhor campanha da temporada? E Bryan Colangelo? Talvez todos eles quisessem, mas é improvável que acreditassem que fosse possível que ele surgisse assim tão cedo. Mas não por acaso. Em diversos frentes, o clube canadense vem num processo evidente de crescimento, especialmente no mundo dos negócios, se firmando como um dos queridinhos do Canadá (vide o sucesso do slogan #WeTheNorth). A compra de uma franquia exclusiva na liga de desenvolvimento, em uma ação bem rápida, para acolher Bruno Caboclo e os mais jovens, também mostra isso.

De nada adiantaria uma esperta campanha de marketing se o produto em quadra não tivesse substância para sustentá-la. O técnico Dwane Casey sabe que não tem um time perfeito em suas mãos. Mas também está ciente de que conseguiu formar um conjunto bem equilibrado, com uma identidade bem definida e potencial para melhora, a ponto de voltar aos mata-matas com as maiores pretensões da equipe desde os dias em que Vince Carter decolava.

Os dinos têm o quinto ataque mais eficiente da liga e a 12ª defesa. Na subtração de um pelo outro, chega ao sexto melhor saldo de pontos por 100 posses de bola, superado apenas por, veja bem, Spurs, Warriors, Thunder, Clippers e Cavs. Ficar entre os sistemas ofensivos mais fortes, para esse núcleo, não é uma novidade, tendo ficado em terceiro neste ranking na temporada passada e em nono em 2013-14. Já o sistema defensivo resgatou sua credibilidade, depois de ter sido de um décimo lugar há dois campeonatos e de um esquálido 23º na campanha anterior.

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

E há caminhos claros para apertar ainda mais a retaguarda. A prioridade seria a recuperação de DeMarre Carroll, afastado do time desde janeiro, quando sofreu uma artroscopia no joelho direito. Até a virada do ano, por exemplo, com seu caríssimo agente livre contratado, a defesa era a décima melhor, se colocando no cobiçado grupo de times top 10 dos dois lados da quadra. Mas ainda não há data para Carroll retornar, e o escritório de Masai Ujiri não deixa vazar nada. Se ele estiver pronto para os playoffs, será um tremendo reforço.

Outra possibilidade, dói dizer, seria o banimento, ou a redução significativa dos minutos de Scola na rotação. Ao consultar os 20 quintetos mais utilizados por Casey na temporada, vemos que lenda viva argentina está relacionada em nove. O duro é que, destes nove, apenas um tem saldo positivo. Os outros oito estão no vermelho, por mais que o camisa 4 tenha adicionado a seu repertório o chute da moda: tiros de três pontos pontos como um ala-pivô aberto. Scola está convertendo 38,3% de seus disparos de três pontos, e o mais interessante é que isso ocorre com um número elevado de tentativas. Ele saiu de 0,4 por 36 minutos quando defendia o Indiana Pacers para 3,0 neste ano.

A eficiência nos arremessos deixa a quadra mais alargada no ataque, facilitando as infiltrações de Kyle Lowry e DeMar DeRozan. Na defesa, porém, as coisas não funcionam. Em tese, isso poderia se explicar pela parceria com Jonas Valanciunas, com dois pivôs muito técnicos, mas extremamente lentos numa liga que tende a punir esse tipo de marcador. Acontece que, nem com Bismack Biyombo ao seu lado no garrafão, o Raptors tem resistido.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Daí o estranhamento pela inércia de um gerente geral tão agressivo como Masai Ujiri antes do fechamento da janela de trocas. Só mesmo o nigeriano e seus confidentes sabem ao certo que tipo de negociação e proposta eram atingíveis. Talvez Brooklyn e New Orleans tenham pedido muito por Thaddeus Young e Ryan Anderson. Mas muito quanto? O Raptors está numa posição bem confortável quanto a trunfos para negociações. Tem assegurada todas as suas escolhas dos próximos Drafts, além dos direitos sobre a escolha do Knicks  deste ano (ou do Nuggets, dependendo da ordem, ficando com a mais baixa delas) e mais uma do Clippers. Além disso, o terço final do elenco de Casey é dominado por atletas mais jovens, como Bruno Caboclo e Lucas Bebê, que não serão aproveitados tão cedo.

Moedas de troca Ujiri tinha. Se os negócios oferecidos não eram tão bons, isso não impedia que fosse atrás de outros caminhos. Não dá para criticar tanto alguém que preze pela paciência nos negócios. São vários os clubes que já se colocaram em má situação com uma sequência precipitada de trocas. Mas o clube canadense poderia para assumir riscos moderados, sem o temor de comprometer a sustentabilidade do projeto. Será que Jason Thompson, marginalizado em Sacramento e Golden State e contratado para o lugar do dispensado Anthony Bennett – ô, tristeza! –, pode render no lugar de Scola? Agora não há muito o que se fazer a respeito. Também não é o fim do mundo.

Com Lowry e DeRozan, o ataque conta com dois All-Stars que ditam o ritmo da equipe. Ritmo, por sinal, que é o quinto mais lento da liga, em sintonia com Spurs e Cavs. Isso tem muito a ver com o modo como os dois atacam. São centralizadores, massageam a bola (o Raptors é o segundo que mais arremessa nos últimos quatro segundos de uma posse de bola, com 7,2 por jogo nessas condições), chamam o pick-and-roll, vão para dentro, e dá certo. Juntos, são responsáveis por 56,4% das assistências da equipe. É muito. Mas, comparando com a liga, isso não significa muito, já que o Raptors é o terceiro que menos faz cestas assistidas (14,5%). Como faz, então, para ter um ataque eficiente, sem ser solidário? Não é com o bombardeio de fora. O rendimento de 36,8% nos chutes de três é excelente, o terceiro melhor (Warriors e Spurs). Mas eles não arriscam muito, ficando em 15º em tentativa, no meio da tabela.  Por outro lado, são muitos lances livres para compensar, sendo o terceiro em conversões (Rockets e Wolves). Também se comete poucos turnovers, com 13,2.

Lowry e DeRozan fazem suas melhores temporadas. Depois de um regime durante as férias, o armador se apresentou a Casey em excelente forma, finíssimo. Bacana, certo? Só não deixa de ser engraçado que ele tenha esperado nove anos para chegar a essa conclusão, de que perder alguns quilinhos poderia fazer bem a um armador que adora bater para a cesta e se gabava, antes, de ser um pitbull na defesa. Enfim.

Antes e depois

Antes e depois

Já DeRozan passou a enxergar o jogo com muita inteligência e paciência, para se infiltrar e descolar lances livres. É o segundo que mais converteu chutes na linha nesta temporada, atrás apenas de James Harden. Em seus movimentos rumo ao aro, vem usando cada vez mais o pick-and-roll e também aprendeu a servir aos companheiros. Fica tão confortável com a bola que hoje tem uma taxa de uso maior que a de Lowry.

Além disso, o que vem funcionando muito bem é o banco de reservas. Com Lowry fazendo companhia a Cory Joseph, Terrence Ross, Patrick Patterson e Biyombo, temos um quinteto que vem sendo bastante produtivo, com um saldo de 29,4 pontos por 100 posses de bola. Essa é a quarta melhor marca do campeonato (para um mínimo de 20 jogos e 100 minutos), gente. Outro quinteto que rende bem tem Lowry-Joseph-Ross-Patterson-Valanciunas, mas com uma carga bem menor de minutos (63 contra 201 da outra equipe).

Os bons resultados, aliás, devem gerar um impasse para Casey. Se o time titular não tem rendido conforme o esperado, ao mesmo tempo seria complicado de mexer drasticamente na rotação, já que a segunda unidade tem dado tão certo. Daí que um retorno de Carroll seria providencial. Dependendo de seu estado físico, o veterano poderia ser reinserido naturalmente no lugar de Scola, e vida que seguisse. Se ele não puder jogar, porém, seria a solução estender os minutos de Patterson? Ele manteria sua eficiência com maior carga? Scola daria conta, pelo menos, dos minutos que sobram para a posição? Ou talvez você possa distribui-los entre James Johnson e Ross, com Johnson jogando mais perto do garrafão nesse caso.

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Diante dessas dúvidas, o argumento por uma postura mais agressiva na busca por trocas ganha mais força. Outro  ponto a ser levado em conta, nesse raciocínio, é a entrada de DeRozan no mercado de agentes livres neste ano e a de Lowry no ano que vem. Os contratos da NBA são cada vez mais curtos, e o prazo de validade de um time competente fica reduzido na mesma medida. Qualquer elevação na produção desse time poderia empurrá-lo com tudo para cima do Cavs, independentemente do estado de espírito dos adversários.Isso, claro, se eles chegarem a esse embate. Por mais que tenham se fixado como o segundo principal time da conferência, não dá para encarar uma série com o Boston Celtics como uma barbada. Isso para não falar, de repente, de um confronto com o Atlanta Hawks logo de cara. Glup.

Num cenário ideal, supõe-se que o clube renove com DeRozan em julho, mesmo que isso os tire de ação no mercado, dando conta do teto salarial nas próximas duas temporadas. Deixar o ala-armador sair seria assumir um grande risco (estamos falando do terceiro jogador do clube em eficiência, com 23,1 pontos, 4,1 assistências, 4,3 rebotes, 6,9 lances livres por jogo e aproveitamento de 83,8%, 26 anos). Para ir atrás de Durant? É realista? Al Horford? Será concorrido. Dwight Howard? Não faz sentido. Há opções mais baratas, que poderiam atenuar uma perda e manter a flexibilidade para manobras. Mas há também como ficaria o relacionamento com a torcida? DeRozan é o Raptor mais longevo desse elenco e acabou de ser eleito All-Star.

Obviamente essas questões todas passam pela cabeça de Ujiri. Como ele mesmo disse a Zach Lowe, do ESPN.com: “Como você passa de bom para excelente na NBA? Isso é realmente muito difícil”. É complicado, mesmo. Cada negócio ou não-negócio tem uma ramificação. A diretoria preferiu apostar na continuidade do time e de seu projeto com os mais jovens. Basta mais uma série desastrada nos playoffs e nova eliminação na primeira rodada, porém, para que essa narrativa seja alterada drasticamente. Pensando no estágio em que o clube estava no início da década, esse tipo de problema não justifica lamúrias. São hipóteses também. Por enquanto, de concreto, o que temos é que o Raptors existe e precisa ser respeitado.

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

A pedida? Final de conferência. Ou, pelo menos, competitividade numa eventual semifinal contra Boston, Miami, Indiana etc. O certo é que chegar aos playoffs já não é o bastante mais. Uma terceira eliminação consecutiva na primeira rodada seria uma tremenda decepção e muito provavelmente poderia resultar na demissão de Dwane Casey, além de chacoalhar as estruturas superiores da franquia.

A gestão: Masai Ujiri é um dos executivos mais bem pagos da liga, por uma razão. Ou várias razões. O New York Knicks que o diga, depois de duas negociações (Carmelo vindo de Denver e Bargnani de Toronto) em que diferentes dirigentes foram rapelados pelo nigeriano. O cara  desfruta de tanta reputação na liga que seus pares deveriam ter receio de iniciar uma negociação com ele. Talvez venha daí, mesmo, a ausência de trocas por parte do Raptors. Vai saber.

O que Ujiri não nega é que, em seu projeto, houve também uma contribuição do acaso, ao tentar arrumar a bagunça deixada pelos últimos anos desesperados de Bryan Colangelo por lá – quando mandou Rudy Gay para Sacramento, jamais imaginaria que essa transação resultaria em uma (r)evolução imediata em seu time, rumo ao topo da conferência.

Claro que há uma contribuição estrutural nessa reformulação. O trabalho com os técnicos do Raptors ajudou DeRozan a virar a ameaça que representa hoje, realizando todo o seu potencial, mesmo que seu arremesso exterior ainda não desperte o horror nas defesas. Se Valanciunas e Ross vão progredir desta maneira, o time ficará em boas condições, uma vez que seus contratos foram firmados em um teto salarial muito mais baixo do que vem por aí nos próximos anos (subindo de US$ 63 milhões na temporada passada para algo em torno de US$ 110 milhões em 2018).

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Ujiri foi promovido de scout gratuito do Orlando Magic no início da carreira a chefão em Toronto por conta de uma vasta rede de relacionamento, mas também pelo trabalho exaustivo na busca por talentos mundo afora, e a história da seleção de Bruno Caboclo, numa articulação (quase) confidencial, é um grande exemplo de sua visão como dirigente.

Naturalmente, o dirigente tratou de buscar atletas mais jovens e conseguiu formar um núcleo bastante homogêno. Tirando Luis Scola, de 1980, todos os outros 14 atletas da equipe nasceram entre 1986 (Lowry e Carroll) e 1995 (Caboclo). Boa parte deles tem a chance de se desenvolver lado a lado, em que pese a curta duração de seus contratos. O problema: Lowry é justamente o segundo mais velho. Agora em março, vai virar trintão. Sem o armador, como essa base se viraria?

A diretoria dos dinos tem de se perguntar o quanto isso tudo vai durar, considerando seu estilo de jogo. Lowry é hoje a grande estrela da turma, tendo se transformado no tipo de jogador que a franquia jamais conseguiu recrutar no mercado de agentes livres. Aliás, pelo contrário: a história diz que estrelas ou candidatos a estrela saem de Toronto rapidamente. Então a linha de questionamento continua: se o armador está no auge, será era a hora do ataque? É legal investir na garotada, mas quando eles serão promovidos para valer? E quantos deles?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

O time atingiu um nível tão bom em quadra e tem uma rotação estabelecida que torna difícil o aproveitamento dos mais jovens. Ou, vamos colocar assim: mais inexperientes. O armador Delon Wright, irmão mais novo do ala Dorell, pode ser um novato, mas é dez dias mais velho que Valanciunas. Ambos chegarão aos 24 nesta temporada, assim como Lucas Bebê. O ala-armador Norman Powell vai completar 23. Bruno Caboclo é quem ainda pode ser tratado tranquilamente como o caçulinha. Só vai fazer 21 em setembro, pouco antes do próximo “training camp”.

Legal. É boa a base.

Mas com atletas que já estão, ou deveriam estar num estágio de desenvolvimento mais avançado. Preparados para assumir mais responsabilidades, exceção feita a Caboclo. Juntos, eles receberam apenas 476 minutos na temporada. Se fossem apenas um atleta, isso daria 8,2 minutos por partida, e isso só aconteceu devido a lesões de Valanciunas e Carroll, que liberaram boa parte dos 313 minutos de Bebê e Powell. Em suma: é D-League, ou fim da fila no banco de reservas. Se tudo der certo no time de cima, essa é uma condição que deve ser mantida por um bom tempo, a não ser que deem sinal de progresso nos treinos ou na liga menor.

No fim, como Ujiri vai aproveitar esses jogadores é o que pode definir seu trabalho.

Olho nele: Bismack Biyombo.

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Se arrumar a defesa era uma prioridade do técnico Dwane Casey, a contratação do centro-africano foi uma dádiva. Se nenhum Rudy Gobert está disponível, se não havia muito espaço na folha salarial para investir pesado além de Carroll, conseguir Biyombo por menos de US$ 3 milhões foi também uma pechincha. Com baixa estatura, mas muita envergadura e força física, o pivô é uma alternativa perfeita a Valanciunas, contra pivôs mais ágeis. Sua verticalidade também funciona muito bem no novo sistema defensivo dos dinos, que tenta empurrar os atletas para o centro do garrafão, para chutes de média distância contestados pelo xerife da vez. Com Biyombo em quadra, fica mais difícil de achar a cesta: os oponentes fazem 5,6 pontos a menos por 100 posses de bola. Suas dificuldades ofensivas ainda o limitam no mercado, mas é provável que ele exerça sua cláusula – não é possível que ninguém lhe pague mais que que os US$ 2,9 milhões previstos em seu contrato. Troque Roy Hibbert por ele, e o Lakers teria um garrafão muito menos acolhedor, certamente, por exemplo.

vince-carter-dunk-elbowUm card do passado: Vince Carter. Muito óbvio? Pois é. Mas, do elenco da temporada 2000-01, a primeira e única vez em que o time venceu uma série de playoff, o então acrobático ala foi o único que sobrou na liga para contar história. Hoje não lembra em nada aquele cestinha de então, explosivo, com um conjunto de ataques enfáticos ao aro praticamente inigualável ou que, no mínimo, só permite que um Jordan, um Wilkins ou um Erving lhe façam companhia. Mas dá sua pequena, esporádica, mas honesta contribuição ao Memphis Grizzlies – o que é curioso, já que estamos falando da franquia que não teve tempo o suficiente para vingar em solo canadense, enquanto, no auge, ajudou o Raptors a se estabelecer comercialmente, enquanto ajudava o basquete a se popularizar por lá.

Para termos uma ideia do quanto valem os 15 anos que se passaram, vamos relembrar do que consistia a rotação do técnico Lenny Wilkens, então: Alvin Williams, Chris Childs, Dell Curry, Morris Peterson, Jerome Williams, Charles Oakley, Antonio Davis e Keon Clark. O último a se aposentar dessa leva toda foi Peterson, em 2011, aos 33, mas sem condições de entrar em quadra por OKC, depois de anos pouco produtivos, com muitas lesões, em New Orleans.

Naquela campanha, Carter tomou uma decisão que se tornaria extremamente controversa e, de certa forma, o empurraria anos mais tarde para fora de Toronto. Em plena semifinal de conferência com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson, decidiu viajar para Chapel Hill para receber seu diploma universitário, por North Carolina. Precisamente no mesmo dia de um eletrizante Jogo 7, 20 de maio de 2001. A partida derradeira foi decidida apenas no último segundo, e com posse para o Raptors. Carter pediu a bola, fez a finta e foi para o chute. Deu aro, batendo na parte de trás. Tivesse acertado, seria uma jornada perfeita para qualquer marketeiro da liga: imagine só, você não só estava falando de um superastro em quadra como de um aluno comprometido. Mas não aconteceu, e, de modo inevitável no mundo esportivo, o ala passou a ser questionado com frequência. A equipe ainda voltou aos playoffs em 2002, mas caiu diante do emergente Detroit Pistons que ganharia o título dois anos depois. Seria ladeira abaixo a partir daí, e a amargura da torcida, as derrotas e um ressentimento retribuído por Carter resultaram numa troca do astro com o New Jersey Nets na temporada 2004-05.


Prepare-se para o jogo do ano pelo mundo Fiba
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Giancarlo Giampietro

Gustavo Ayón, Argentina, México, Fiba Américas

Existem Pré-Olímpicos, e existe o EuroBasket, é verdade.

Mas, no calendário Fiba deste ano, o melhor jogo tende a ser este México e Argentina, que nos aguarda na sexta-feira. Os dois times já fizeram uma grande partida nesta quarta, fechando a segunda fase, com os donos da casa efetuando mais uma virada improvável, vencendo por 95 a 83. O resultado tirou Luís Scola e Andrés Nocioni da primeira colocação geral e agendou uma revanche na semifinal. Do outro lado, o Canadá. Para quem não sabe ainda, apenas os dois finalistas garantirão vaga direta às Olimpíadas do Rio 2016.

Os mexicanos comemoram tanto, mas tanto a vitória sobre os então invictos argentinos, que é preciso cuidado com o que se deseja. Tá certo que foi uma batalha emotiva e que, no plano continental, a Argentina ainda é vista como referência, tendo ainda em sua escalação dois campeões olímpicos que já são lendas vivas. Mas me parece claro que a festa que os anfitriões fizeram não foi só por uma grande vitória. Para os caras, ela se tornou mais especial pelo fato de terem fugido do Canadá na disputa pela vaga olímpica premium. Ao que parece, a surra que tomaram na terça-feira teve efeito traumatizante. A garotada canadense abriu vantagem de 22 pontos já no primeiro tempo, ignorando o ginásio cheio e barulhento.

Isso a gente não percebe  apenas pela festa, mas também pelo empenho dos atletas durante todo o confronto. Gustavo Ayón jogou 40 minutos. Outros três titulares ficaram em quadra por 34 minutos ou mais. Ah, mas do outro lado também teve um empenho considerável e a derrota foi dolorida. Sim, sim. Mas há uma diferença aqui: a Argentina queria muito jogar contra a Venezuela na semifinal. O México fez de tudo para não enfrentar o Canadá. “Era a partida que tínhamos de ganhar. Nos últimos dias, foi dito por aí que o México já estava praticamente fora, devido ao cruzamento com o Canadá, mas demonstramos que não é assim”, disse o próprio Ayón. De qualquer forma, los cabrones fizeram sua parte. Entregar a partida é que não fariam, dãr. Agora, vão lidar com Scola e Nocioni novamente.

Scola x Ayón

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Assim como os craques argentinos vão precisar encarar um ginásio infernal. Não vai ser nada fácil, e esse é o fator que, para mim, turbina as expectativas para o jogo de sexta. Veja ao final o ranking de ingredientes que tornam o jogo imperdível.

A torcida mexicana bateu o recorde de público para uma partida de Copa América nesta quarta, com mais de 16 mi espectadores no Palacio de los Deportes. Sabemos bem como esses caras são calorosos. O mexicano, no fim, também é outro que gosta muito mais de esporte do que o brasileiro, que prefere a vitória. Por isso, a mera ideia de se realizar essa partida no mítico estádio Azteca nem soa absurda. Certeza de que os torcedores o lotariam. E eles têm empurrado a equipe. O clima foi fundamental para uma virada impressionante no período final, o qual sua seleção venceu por 36 a 11. Sergio Hernández afirmou na coletiva que não se lembra de um jogo pela equipe nacional em que tenha levado tantos pontos assim num só quarto. (O que ele não disse é que deu uma boa contribuição para tanto, deixando o jogo correr solto quando seus atletas não encontravam rumo em quadra.)

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O México obviamente não avança só à base de empolgação. Lembrem-se que jogam como os atuais campeões do torneio, depois de triunfarem na Venezuela, milhas e milhas ao Sul de Nayarit, onde conquistaram o CentroBasket de 2014. A rotação, na hora do vamos ver, foi enxugada pelo espanhol Sergio Valdeolmillos. Contra a Argentina, jogaram basicamente sete atletas, descontando os três minutos dados a Marco Antonio Esquivel e o grandão Rodrigo Zamora. Nesse grupo de sete homens de confiança, porém, há gente talentosa, para além de Ayón.

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Jorge Gutiérrez está sempre atacando, com um dinamismo que incomoda a oposição (12,9 pontos, 4,4 assistências e 4,4 rebotes). É um armador alto, forte e rápido para este nível. Se aprender a arremessar minimamente bem de fora (tem 10-48 em sua carreira pela seleção), fará estragos. O ala Francisco Cruz é outro que merece menção. Tem todo o tipo de um rato de ginásio, daqueles que encontra maneiras para colocar a bola na cesta, mesmo que seja lento (poderia muito bem despejar alguns quilinhos). Sabe aquela coisa de conhecer os atalhos, né? Além disso, seu arremesso de fora é muito bonito e também eficiente a partir do drible (44%). E ele sabe usar essa arma ao seu favor, para poder se aventurar em direção à cesta. Cheio de confiança, anotou 21 pontos nesta quarta, mas também contribuiu com seis rebotes, dois ofensivos até, e cinco assistências. Do ala-pivô Héctor Hernández (11,8 pontos e 5,0 rebotes), você nunca sabe o que esperar. Surpreendentemente ágil para alguém de seu tamanho e bom chutador de longa distância, ainda que, neste torneio em específico, não esteja convertendo os arremessos. O armador Paul Stoll consegue ser ainda mais enjoado que Barea e Campazzo com a bola. O ala Juan Toscano-Anderson, que tem bolsa na Universidade de Marquette, é uma grata adição. Aos 22 anos, tem dificuldade gritante para finalizar, mas causa impacto com seu físico e envergadura. Joga pesado e dá suporte aos mais talentosos cuidando das pequenas coisas e tem dado 3,3 assistências em média, sabendo ler o jogo em meio a suas infiltrações desajeitadas.

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Agora, claro que, sem Ayón, não iriam a lugar algum. Contra a Argentina o pivô mostrou novamente o quão especial é como jogador. Se a NBA não o soube aproveitar, azar da NBA, sorte do Real Madrid. Ele fez um esforço hercúleo neste triunfo: 38 pontos, 14 rebotes, 4 tocos e , 4 assistências. Com um bônus: a defesa para cima de Scola no quarto período. Pode parecer uma provocação, ou heresia até, mas vamos lá: hoje o mexicano entrega mais que o craque argentino. Em termos de valor para uma determinada equipe, tudo depende do contexto. Essa renovada seleção argentina precisa desesperadamente dos talentos ofensivos de seu legendário camisa 4, alguém que pode criar situações de cesta por conta própria, com um repertório professoral de movimentos. Ayón não tem a classe ou o arsenal do cabeludo, mas já mostrou que tem um gancho confiável. Também sabe se deslocar muito bem fora da bola, ficando à disposição dos companheiros na hora do aperto. Na defesa, também está quase sempre bem posicionado e usa seu vigor e agilidade para se impor num torneio como a Copa América que não tem tantos grandes atletas. Os armadores latinos, como Laprovíttola, parece que ainda não se deram conta disso. Não adianta Sua presença foi o suficiente, por exemplo, para forçar uma andada e outros arremessos mais precipitados por parte de Scola, preocupado em fugir de seus tocos.

É por isso que ele é o orgulho de Zapotán:


(Aos leitores de outras encarnações que já tenham visto este vídeo umas trocentas vezes, perdón não precisam agradecer, ok? O prazer é todo meu.)

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Neste jogaço, de todo modo, o México se resumiu a três nomes: Ayón, Gutiérrez e Cruz, que somaram 82 dos 95 pontos mexicanos. Só sobraram sete arremessos para os demais jogadores. Não é das práticas mais saudáveis e, ainda assim, a defesa argentina quase permite uma quantia centenária. Ai. Dá para imaginar a ansiedade e o frio na barriga de nossos hermanos, que formam uma comunidade basqueteira muito apaixonada.

O duelo com os mexicanos é um pouco traiçoeiro do ponto de vista tático para Hernández. Scola não consegue marcar Ayón e precisa de ajuda nessa. Por mais valente e determinado que seja, Nocioni também sabe, desde os treinos do Real, que não dá conta. Restam, então, Delia e Gallizzi. O espigão Delia talvez seja hoje aquele nome que mais desperta angústia na Argentina. Em vez de se desenvolver, parece que o pivô regrediu nos últimos dois anos. No primeiro jogo, Delia ficou em quadra por 20 minutos e, embora tenha terminado com apenas três pontos e dois rebotes, ao menos conseguiu atrapalhar um pouco o pivô mexicano. Tem hora que o tamanho, sozinho, ajuda. Talvez seja o caso de reduzir os minutos do novato Patricio Garino, xodó nacional, que não tem quem marcar do outro lado. Ou encaixá-lo na rotação de outra forma, pois vale apostar mais na dupla armação com Laprovíttola e Campazzo. Mesmo que o ex-flamenguista fique em posição de inferioridade (física) contra Gutiérrez, ainda é a melhor pedida.

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Vendo Campazzo, fica claro como a cobrança e as expectativas em torno de um jovem armador precisam ser moderadas. Ainda mais um cara tão elétrico assim. Ele funciona na correria, mesmo — e esta seleção argentina em específico corre como nunca. Com o tempo, Campazzo vai entender, porém, que há momentos em que o uso do freio também é uma boa solução, se não a melhor. No quarto período, o futuro companheiro de Benite e Augusto perdeu a mão. Energia por energia, o adversário jogava amparado por 16 mil pessoas.

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O Canadá é favorito absoluto contra a Venezuela. No hotel, cada um em seu quarto — ou todos juntos no bar? –, devem ter comemorado o desfecho do último jogo do dia, depois de terem atropelado a combalida República Dominicana.  Quando os dois times se enfrentaram pela primeira fase, os norte-americanos também resolveram a parada já no primeiro tempo, encaminhando um triunfo por 20 pontos, mesmo tendo cometido 22 turnovers. A equipe vinotinto não tem um jogo interior que inspire muito medo, e s proteção de cesta seria aquilo que mais chega perto de um ponto fraco de seus adversários. No perímetro, eles estão equipados para conter a movimentação de caras como Cox, Colmenares e Cubillan, que precisaria estar muito inspirados para se pensar em aprontar algo. A turminha de Andrew Wiggins só não pode entrar com o um tênis de solado muito alto, digamos, já que são apenas 40 minutos para se definir todo um trabalho. Os venezuelanos fizeram partidas muito mais competitivas em relação ao que se esperava e têm um técnico argentino ardiloso. Derrubar os canadenses, com seus nove atletas de NBA e que evoluíram gradativamente durante a competição, seria para Nestor “Che” Garcia uma proeza similar à de Rubén Magnano com a Argentina pelo Mundial de 2002.

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Resumindo, então, por que você não pode perder este jogo?

1) O ginásio vai bombar. Vale vaga olímpica.

2) A presença de Scola e Nocioni. Nunca sabemos quando pode ser a despedida de duas lendas dessas, mesmo que eles nem cogitem o assunto.

3) Scola x Ayón.

4) Nocioni x o povo mexicano.

5) Gutiérrez x Laprovíttola.


Brasil se recupera e vence a Argentina. Notas sobre o jogo
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Giancarlo Giampietro

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Com um bom atraso, alguns comentários sobre a vitória do Brasil sobre a Argentina, por 80 a 71, na noite desta terça-feira. Nem o link oficial, nem os “alternativos” estavam funcionando aqui no QG, então ficou para o VT pela manhã. Foi o terceiro amistoso entre os rivais nesta preparação para a Copa América, de modo que os times já se conheciam bem. O interessante desta série é que diversos novos protagonistas estão sendo introduzidos à maior rivalidade basqueteira sul-americana, de ambos os lados. Como o Marcus, por exemplo…

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Antes de falar sobre o jogo em si, vocês vão me desculpar se nos atermos a um pequeno ingrediente para lá de saboroso em quadra: a batalha entre Marcus Toledo e Andrés Nocioni. Em linhas gerais, numa partida de basquete, um duelo individual costuma ser só uma de diversas peças de um grande embate no plano geral. As chispas entre Marcus e Chapu, porém, tiveram significado especial. Primeiro porque pudemos ver o ala do Basquete Cearense cumprir em quadra aquilo que muita gente imaginava que ele pudesse fazer há anos. Anos, e não apenas desde o NBB6 e seu ótimo campeonato nacional por Mogi. Marcus é um ala-pivô combativo desde sempre, ganhando cancha nas divisões menores da Espanha e também na Liga ACB, até aprender a canalizar toda sua inesgotável energia de um modo mais eficiente na defesa. Foi o que fez contra um craque como Nocioni — e levou a melhor. O veterano argentino, aliás, experimentou de seu próprio veneno.

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Geralmente cabe ao campeão olímpico a posição de intimidador/agressor. Dessa vez, ele foi a vítima, ficando evidentemente surpreso e incomodado pelos seguidos desarmes de Marcus, a ponto de, no último deles, já no terceiro quarto, reclamar horrores com a arbitragem e ser excluído com cinco faltas e duas técnicas. Por essas e outras, Marcus precisa ser considerado a cada convocação. Você nunca chama apenas 12 atletas. Vai reunir um grupo, fazer cortes e, diante do que vê em treino, define seu grupo. Nem todo mundo que for para o banco vai ter um grande papel, volume de jogo e muitas oportunidades de arremesso. Para encontrar um equilíbrio, existem os operários. Está aqui um que pode ser muito valioso, a ponto de tirar, literalmente, um Nocioni do jogo. Sua importância foi muito além dos seis pontos (todos no primeiro quarto) e dois rebotes.

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Marcus entendeu rapidamente — e apreciou, naturalmente — qual era a natureza desse (coff, coff!) amistoso. Brasil e Argentina, para variar, fizeram um jogo muito físico. Ao todo, foram batidos  44 lances livres, com 24 para os hermanos. Esse combate vigoroso partiu muito muito mais da seleção de Rubén Magnano, talvez frustrada por ter sido oprimida na véspera pelo Canadá, e também por vir de duas derrotas. A pegada defensiva esteve até mesmo num nível acima do Pan, forçando 14 turnovers por parte dos argentinos, compensando a derrota nos rebotes (35 a 29).

Ricardo Fischer era outro exemplo claro essa atitude, mordendo a barra dos calções de Laprovíttola e Richotti, de um modo que deu gosto de ver. O armador do Bauru era mais baixo e menos veloz que os dois oponentes, mas isso não o impediu de fazer excelente papel defensivo, e não só por uma questão de agressividade. Ele se movimentou muito bem lateralmente, com um jogo de pés ágil e impressionante, algo que ele já usa tão bem no ataque. Se formos pensar, Fischer não é um jogador explosivo. Mas, pela inteligência e fundamentos, ele consegue levar seu time adiante no NBB, chegando aonde quer em quadra. Aos poucos, com a extensa bagagem que vai carregando nesta Copa Tuto Marchand, percebe-se que está se ajustando ao nível de competição em seleções e vai produzindo.

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Contra a Argentina, Fischer atacou muito mais a partir da linha de três, mantendo a bola viva com seu drible bem controlado e matando tiros em flutuação, mesmo sem ter por muito tempo a companhia de Augusto Lima, o tipo de pivô que facilita a vida do armador com seus cortes para a cesta, atraindo a defesa. O jogador do Murcia ficou limitado por faltas, cometendo quatro em 16 minutos. Na defesa, quem apareceu para cobrir Augusto foi Rafael Mineiro, um jogador que, sinto, não recebe o devido valor por estas bandas. Você não encontra todo dia um jogador com sua altura e mobilidade. Essa mobilidade pode não ser muito explorada no ataque da seleção (às vezes até mesmo por hesitação do próprio atleta, uma vez que me parece que Magnano tem confiança na sua habilidade para atacar vindo do perímetro). Na defesa, porém, ele vem sendo extremamente útil na defesa, para fechar espaços e acertar a cobertura.

Outros jogadores que não vinham tendo sucesso nesta semana em Porto Rico e renderam bem mais ao mudar a abordagem ofensiva contra a Argentina: Leo Meindl, muito bem nos oito minutos que recebeu no primeiro tempo, forçando inclusive um pedido de tempo de um Sergio Hernández pasmo com suas infiltrações pelo centro da defesa, e Guilherme Giovannoni, que primeiro atacou perto da cesta, correndo para valer em transição, para depois usar o chute de fora (fundamento que mais uma vez deixou a desejar do ponto de vista coletivo, com 33% de acerto, em 5-15).

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Não dá para negar que, entre os três primeiros adversários em San Juan, a Argentina é a que tem a capacidade atlética mais reduzida, de modo que o Brasil conseguiu se impor nessa esfera. De qualquer forma, observando essa atual formação de Hernández, percebe-se aqui e ali alguns jogadores que elevam o padrão habitual da seleção dos últimos anos. Nícolas Richotti já faz sucesso com suas arrancadas pela Liga ACB, então não é uma surpresa. O destaque aqui fica para os jovens alas Patrício Garino, da Universidade de George Washington, um excelente defensor, e Gabriel Deck, sensação nas competições de base da Fiba como um ala-pivô técnico, mas baixo e lento, e que reinventou seu jogo no adulto. São dois caras que vamos ver por anos e anos nas competições continentais.

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Magnano deu uma enxugada em sua rotação nesta terça, mesmo sendo o terceiro jogo em três noites. Sinal do que vem por aí? Danilo Fuzaro não foi para o jogo, assim como Olivinha. Meindl recebeu oito minutos e Marcus ficou com 16. Deryk, muito tímido com a bola, ganhou apenas cinco. Rafael Luz mais uma vez não se fardou. Esperemos que ele esteja bem para a Copa América, e que não seja nada além de medida cautelar da comissão técnica. Mesmo sem jogar, Olivinha dava sua contribuição em termos de animação no banco de reservas. Quando Marcus forçou a quarta falta de Nocioni, após um desarme, o ala-pivô do Flamenguista quase invadiu a quadra para cumprimentar o companheiro. Mesmo que, em teoria, eles sejam concorrentes.

O bacana foi ver novamente a pontuação distribuída, com quatro jogadores em duplos dígitos, liderados por um João Paulo Batista sempre eficiente (15 pontos, 56% de quadra e 5-5 nos lances livres). Da turma que foi para quadra, só Deryk ficou zerado, errando seus dois únicos arremessos, ambos de três.

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Todo paz e a mor com as câmeras de TV, o que é algo chocante, Magnano, pela primeira vez, censurou uma transmissão de TV contra a Argentina. Num determinado momento do quarto período, os adversários ensaiavam uma reação, e ele chamou tempo. Na hora de rabiscar uma jogada na prancheta, percebeu o que estava fazendo e, discretamente, se deslocou na rodinha para colocar seu traseiro de frente para as câmeras. Não era um gesto de ostentação, fiquem tranquilos. Ele só não queria que a concorrência tivesse acesso àquela jogada específica. A preocupação com esse trâmite era tanta que a instrução foi para que os atletas nem mesmo chamassem a jogada em quadra, para não dar bandeira. Jogos secretos, a gente se vê por aí.

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Por fim, reproduzo uma observação do narrador Álvaro Martín, da Fiba e da ESPN, sobre Magnano, que é algo que estamos realmente testemunhando mais vezes neste giro: o argentino tem por vezes deixado os pedidos de tempo na mão de José Neto e/ou Gustavo de Conti. De um modo geral, o treinador tem adotado postura mais leve também (sem deixar de espernear com seus atletas quando achar necessário, diga-se). Estaria o argentino preparando a transição para um mundo pós-Rio 2016? Martín falou sobre o treinador começar a se dedicar às categorias de base brasileiras, mas aí não ficou claro se era apenas especulação de sua parte ou resultado de conversas durante a semana. Magnano tem vocação para lidar com garotos e fez isso constantemente quando técnico da geração dourada de nossos vizinhos. Lembro muito bem de um Sul-Americano Sub-19 em Ancud, no Chile, em 2004, para o qual ele chegou durante a competição e, na hora da disputa por medalhas (e vaga na Copa América), rendeu um de seus assistentes para assumir o comando do time. Estava sempre perto das canteras, tal como faz Óscar Tabárez no futebol uruguaio. A ver.


Por que você pode (quase) gostar da briga pelos playoffs no Leste?
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Giancarlo Giampietro

Enquanto a NBA mantém divisão Leste-Oeste, Pacers e Celtics têm chances

Enquanto a NBA mantém divisão Leste-Oeste, Pacers e Celtics têm chances

Não, esta não é uma tentativa de autoplágio, tá?

É que, desde o momento em que este polêeeemico (coff! coff!) artigo foi publicado, as coisas mudaram bastante. E a não-corrida pelas últimas vagas dos playoffs da Conferência Leste se tornou quase uma corrida de verdade, com a ascensão de alguns times que já estariam mortinhos da Silva no Oeste, mas que, no lado oriental dos EUA, sempre tiveram chances.

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Um termo recorrente aqui vai ser o “quase”. Sim, quase dá para gostar do que está acontecendo por lá. Só não dá para curtir de verdade quando você se toca que, enquanto equipes que mais perdem do que ganham sonham com os mata-matas, no Oeste vamos ter pelo menos dois desses caras assistindo tudo de fora: Anthony Davis, Russell Westbrook, Kevin Durant, Serge Ibaka, Dirk Nowitzki, Rajon Rondo, Monta Ellis, ou Tyson Chandler. Isso para não falar de Mitch McGary, Perry Jones, o Terceiro, Luke Babbitt, Alex Ajinça, JJ Barea e do sargento Bernard James.

Muita sacanagem, gente.

Especialmente no caso do Monocelha, que ainda sustenta o maior índice de eficiência da história da liga.

De qualquer forma, aqui estamos. Com o Indiana Pacers, agora em sétimo, tendo uma das melhores campanhas do Leste desde o All-Star Game. Com o Boston Celtics curtindo a segunda maior sequência de vitórias em voga – cinco, atrás apenas das seis do Utah Jazz de Rudy Gobert. Esses dois times (quase) emergentes estão empatados com o Miami Heat, restando 16 partidas para ambos. O atual tetracampeão do Leste vive um sufoco danado para manter a oitava posição. Um pouquinho abaixo, em décimo, com apenas um triunfo a menos, o Charlotte Hornets também vai dizer que tem boas chances nessa. Jesus, até mesmo o Brooklyn Nets ainda acredita.

Assumindo desde já um risco aqui de considerar que o Milwaukee Bucks, mesmo sentindo falta dos chutes de fora de Brandon Knight, ‘está’ classificado. Restariam, então, duas vagas, mesmo. Vamos examinar, então, novamente os candidatos? Por que dá para (quase) gostar deles?

INDIANA PACERS (30-36)

Hill e Vogel: reflexos de uma cultura vencedora

Hill e Vogel: reflexos de uma cultura vencedora


– O que deu errado:
o quinteto vice-campeão do Leste do ano passado jamais poderia ser repetido, uma vez que Lance Stephenson se mandou para Charlotte. E aí o Paul George ainda fraturou a perna. Já era motivo para muita tristeza. Mas Frank Vogel mal podia imaginar que, por conta de mais e mais lesões, nem mesmo o trio George Hill-David West-Roy Hibbert ele poderia escalar por 20 jogos. Muita crueldade.

Como se viraram: Palmas para Frank Vogel, por favor. Mais palmas. Pode até levantar da cadeira. Que o que o técnico fez este ano é de fato admirável. O Pacers ainda marca muito. Desde 1º de fevereiro, tem a segunda defesa mais eficiente, atrás apenas de Utah. A coesão defensiva é e também um testamento da cultura estabelecida pelo treinador nos últimos anos, sempre com a orientação dos senadores Larry Bird e Donnie Walsh. Nunca, jamais subestimem a química, que amplifica o talento em quadra. A ironia é que, devido aos desfalques, Vogel se viu obrigado a buscar diversas soluções, ampliando sua rotação e preservando seus atletas (ninguém passa da casa dos 30 minutos em média). No ataque, Hill vem jogando o melhor basquete de sua carreira, enquanto Rodney Stuckey redescobriu o caminho da cesta, para compensar as diversas noites de aro amassado durante a campanha. Luis Scola também ressuscitou e segue aplicando seus truques para cima dos adversários, mantendo o alto nível no garrafão quando West sai. Viver de Solomon Hill e CJ Miles para pontuar seria impossível.

– Campanha na conferência: 22-18.

Últimos 10 jogos: 7-3.

O que vem por aí: 7 jogos em casa, 9 fora, e adversários com aproveitamento de 51,2% e 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

MIAMI HEAT (30-36)

erderam um tal LeBron James. De modo que a equipe voltaria a ser de Dwyane Wade. Mas as constantes lesões de Wade, mesmo quando ele era apenas o braço direito de LBJ seriam um problema. Foi o que aconteceu. O entra-e-sai do astro, que já perdeu 18 partidas, atrapalha demais, quebrando o ritmo da equipe. Ainda mais depois de Chris Bosh ter sido afastado por conta de uma embolia pulmonar e de Josh McRoberts mal ter feito sua estreia. Contar com jogadores desgastados como Luol Deng, Chris Andersen e Udonis Haslem na rotação também pesa numa reta final de temporada.

Como se viraram: encontraram Hassan Whiteside perdido por aí. E, claro, fecharam uma troca por Goran Dragic. Vai precisar de mais tempo para o esloveno sacar quais as características peculiares de seus companheiros, mas sua visão de jogo, agressividade e categoria compensam demais. Era isso, ou Norris Cole: escolham. Pat Riley deve ganhar todos os elogios devidos por essa negociação, mas também precisa ser louvado pela atenção que tem com sua filial da D-League, recrutando jogadores mais que úteis – e baratos – como Tyler Johnson e Henry (ex-Bill) Walker para encorpar o banco de Erik Spoelstra.

Últimos 10 jogos: 5-5.

– O que vem por aí: 8 jogos em casa, 8 fora, adversários com aproveitamento de 49,6% e só 2 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

BOSTON CELTICS (30-36)

Brad Stevens obviamente saberia como usar os talentos de Thomas

Brad Stevens obviamente saberia como usar os talentos de Thomas


– O que deu errado:
se Indiana e Miami sofreram com lesões, em Boston os desfalques foram “forçados” – pelas constantes trocas de Danny Ainge. Rajon Rondo e Jeff Green, enfim, foram negociados. Brandan Wright, Tayshaun Prince e Jameer Nelson mal chegaram e já foram repassados. Dos que estão fora hoje, só Jared Sullinger foi encaminhado para o departamento médico. Ao todo, Brad Stevens teve 22 jogadores em quadra (mais que quatro quintetos) e 11 titulares diferentes.

– Como se viraram: tal como Vogel, Stevens merece a ovação popular, por ter conseguido manter um senso de unidade e competitividade num elenco itinerante, no qual nenhum jogador parecida estar 100% garantido. Não só isso: soube desenvolver ou aproveitar melhor as diversas peças que recebeu, com um quê de Rick Carlisle nessa. Poderia até ser candidato a técnico do ano em um campeonato mais frágil, mas só vai ganhar, mesmo, menções honrosas em listas lideradas por Steve Kerr e Mike Budenholzer – para não falar de Terry Stotts, sempre subestimado. Está certo que as mudanças não foram sempre para o mal. Isaiah Thomas perdeu os últimos jogos, mas se encaixou perfeitamente num time carente por cestinhas, enquanto Tyler Zeller, contratado em julho, vai surpreendendo como referência na tábua ofensiva. Para não falar de Luigi Datome, o Gigi, já um herói popular em Boston e que mal via a quadra em Detroit.

Campanha na conferência: 18-21.

Últimos 10 jogos: 7-3

– O que vem por aí: 7 jogos em casa, 9 fora, adversários com aproveitamento de 49,8% e 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

CHARLOTTE HORNETS (29-36)

MKG: um dos maiores malas na defesa, né, Wess?

MKG: um dos maiores malas na defesa, né, Wess?

– Os problemas: para um time cheio de carências no ataque, a contratação de Lance Stephenson foi uma tremenda decepção. O ala-armador só contribuiu para uma coisa: deixar o vestiário conturbado. E aí que, para piorar, Al Jefferson perdeu dez partidas e em algumas de suas incursões estava claramente debilitado. Para completar, Kemba Walker passou por uma cirurgia no joelho. Ficava difícil pensar em fazer pontos. Do outro lado, Michael Kidd-Gilchrist fez muita falta por cerca de 20 jogos.

As soluções: Steve Clifford respirou fundo em um início de campanha horroroso e conseguiu colocar as coisas no trilho, contando com uma senhora ajuda da fragilidade de seus adversários. Quando a defesa encaixou – coincidentemente, com o retorno de MKG, um Tony Allen supersize –, Charlotte já não se preocupava mais com a frequência que a bola estava caindo. Até porque essa fase coincidiu com as melhores semanas de Kemba como profissional, até sua lesão acontecer. De qualquer forma, uma troca totalmente subestimada por Maurice Williams acabou se revelando salvadora. O armador veio do Minnesota para cumprir aquilo que faz melhor: esquentar a munheca aqui e ali oupor um curto período de tempo. Tudo de que o Hornets precisava.

Campanha na conferência: 22-17.

– Últimos 10 jogos: 6-4.

O que vem por aí: 7 jogos em casa, 10 fora, adversários com aproveitamento de 50% e 5 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

BROOKLYN NETS (27-38)

Um Thaddeus Young não é o bastane para Brooklyn

Um Thaddeus Young não é o bastane para Brooklyn

– O que deu errado: Um russo bilionário que já teve a ousadia de desafiar Vladmir Putin em uma eleição presidencial ordenou que o time vencesse, e vencesse o título logo de cara? Sim. Seu gerente geral, que já havia se atrapalhado todo com movimentos imediatistas em seu emprego anterior, abraçou a causa? Claro que sim. Para isso, ele torrou escolhas de Draft para contratar estrelas que obviamente já haviam passado de seu auge há um bom tempo? Hmm… SIM! O que será que deu errado, então? Nem sei. Sem contar as constantes trocas de técnico, um ginásio lindo, mas que não pode ser chamado de casa, mais lesões de Brook Lopez etc.

– As soluções: fora Thaddeus Young, a primeira vez na história em que o jogador que eles receberam ser a peça mais jovem numa troca (por Kevin Garnett)? Difícil de achar outra. Ok, talvez o fato de não terem se precipitado ao demitir Lionel Hollins. Nem mesmo o fato de estarem no Leste é tão relevante aqui…

– Campanha na conferência: 11-19.

– Últimos 10 jogos: 4-6.

– O que vem por aí: 11 jogos em casa, 6 fora, adversários com aproveitamento de 52,3%, 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

Se for pensar, Indiana vive o melhor momento, mas pode ser algo frugal, com uma tabela difícil pela frente. Miami simplesmente não pode pensar em perder Wade (e o cabeça-de-vento Whiteside) por dois ou três jogos, enquanto tem o calendário mais fácil entre esses. Boston está no meio do caminho entre eles e é o time que menos depende de um só atleta. Charlotte precisa resolver o que fazer com a dinâmica Kemba/Mo Williams agora, ao passo que vai jogar muito mais como visitante e tem seis jogos back-to-back, no final do campeonato. Já o Brooklyn nem tem um fator casa verdadeiro para se empolgar com as 11 partidas em seu ginásio. Tudo isso para dizer que não tenho ideia do que vai sair dessa disputa.

A única certeza é a de que o Detroit Pistons já está eliminado, podendo Stan Van Gundy se concentrar no que Reggie Jackson não consegue fazer em quadra. De resto, um palpite mais conservador poderia pender para os finalistas da conferência dos últimos dois anos, não? Se os playoffs já começaram para os cinco clubes acima, a experiência do que sobrou de seus núcleos poderia fazer a diferença. Mas eles obviamente estão numa posição tão frágil como a dos demais. De novo: são times que mais perderam do que venceram durante a campanha. Boa sorte apostando em qualquer um deles. Talvez o melhor fosse realmente virar os olhos para o Oeste e aproveitar os últimos jogos do ano para Wess ou Monocelha. Um deles infelizmente vai ficar no quase.


Brasil supera traumas, anula e Scola e mete 20 pontos na Argentina
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Giancarlo Giampietro

Nenê e seus comparsas dessa vez dominaram Scola, abrindo caminho para sacolada

Nenê e seus comparsas dessa vez dominaram Scola, abrindo caminho para sacolada

O começo de jogo não poderia ser mais preocupante. Luis Scola terminou o primeiro quarto com apenas dois pontos, e a Argentina estava na frente por 21 a 13, bombardeando da linha de três pontos. Então ficava aquela impressão: você tira o cabeleira do jogo e abre o perímetro. Se for brecar os tiros de fora, vai deixar o cara jogar? Como se as coisas fossem excludentes.

Hoje, Scola joga muito mais flutuando do que próximo da cesta. Segurar o velho carrasco na cabeça do garrafão e fiscalizar os arremessos eram tarefas que poderiam ser enquadradas no mesmo plano, e, quando isso passou a acontecer, o Brasil deslanchou em quadra, caminhando para uma vitória há muito tempo aguardada sobre os rivais sul-americanos em um mata-mata de respeito: 85 a 65, e a vaga nas quartas de final conquistada. A Sérvia é o próximo obstáculo, na quarta-feira.

"Wild Thing". Um dos melhores apelidos do basquete atual, fazendo justiça a um Anderson Varejão dominante nos rebotes: 5 ofensivos _ 8 pontos e 4 assistências numa grande atuação

“Wild Thing”. Um dos melhores apelidos do basquete atual, fazendo justiça a um Anderson Varejão dominante nos rebotes: 5 ofensivos _ 8 pontos e 4 assistências numa grande atuação

Na defesa e nos pormenores do jogo interno, os pivôs foram totalmente dominantes na zona pintada e seguraram o craque argentino com uma linha estatística irreconhecível: 7 pontos, 7 rebotes e 2/10 nos arremessos, mais os frustrados 3/8 nos lances livres. Além disso, Raulzinho veio do banco totalmente confiante, ignorando por completo a idade que seu RG mostra, 22 anos, caçula da equipe, marcando 17 pontos em 22 minutos, acertando 8 de 9 arremessos.

Uma revelação em quadra o armador, ajudando o Brasil a conquistar sua terceira vitória contra a Argentina em jogos em que Scola estivesse em quadra, depois de sete derrotas em nove confrontos. Os argentinos sentiram a falta de Manu Ginóbili durante todo o torneio – mas já haviam batido os brasileiros sem o genial ala-armador do Spurs antes. Dessa vez, porém, com um elenco cheio de improvisos, mesmo com o fator emocional e o retrospecto ao seu lado, não tiveram forças para lidar com a seleção brasileira.

Eles só se deram bem, mesmo, por dez minutos. No primeiro quarto, os brasileiros permitiram que os hermanos acertassem cinco bolas de fora, 15 pontos, equivalendo a 71% do escore deles. Pablo Prigioni, de uma hora para a outra, havia se transformado num Stephen Curry, acertando todos os seus chutes – terminou o primeiro tempo com 100% de quadra e 15 pontos na sua conta.  Sabemos que o veterano argentino não é tão produtivo ou arrojado assim com a bola em mãos. Nunca foi. Suas oportunidades surgiam com base na movimentação de bola de um ataque muito espalhado.

Sem referências internas, o adversário jogava com até cinco atletas flutuando. Por dez minutos e um pouco mais, a defesa brasileira simplesmente permitiu muitos chutes livres. A partir do momento em que acertou suas rotações – novamente com participação decisiva e muito mais atenta de Alex, Larry e Raulzinho – sim, o armador foi primeiro importante na defesa, para depois arrebentar no ataque, matando seus arremessos de todos os cantos. Ajudou, claro, o acúmulo de faltas de Scola também, que teve de descansar por quase todo o segundo período. Quando ele voltou, porém, sua presença não foi o suficiente para desequilibrar novamente a defesa no perímetro.

Garrafão: território brasileiro
As faltas anotadas contra Scola e sua ineficácia geral na partida foram consequências diretas do impacto dos pivôs brasileiros (mais tamanho, mais força física, mais agilidade e disposição para prevalecer no jogo sujo e nas pequenas tarefas). Splitter, Nenê e Varejão marcaram 21 pontos somados. Aí numa análise mais rasa, pode-se até pensar que foram mal, que espera-se muito mais deles, e tal cousa, e lousa, e maripousa, como diria o Alberto Helena. Mas realmente não dá para cobrar muito mais dos grandalhões, como outros números igualmente importantes atestam. Por exemplo: eles deram 11 das 16 assistências brasileiras.

O fato é que os três foram agressivos durante toda a partida e, aos poucos, com persistência e inteligência,  controlaram o garrafão – especialmente depois do intervalo. No terceiro período, a equipe nacional apanhou o dobro de rebotes ofensivos que havia obtido em toda o primeiro tempo, chegando a nove. Varejão foi o destaque aqui, atacando a tábua de ataque sem parar, atropelando um guerreiro como Andrés Nocioni no meio do caminho. O capixaba terminou cinco rebotes do lado argentino da quadra. Splitter apanhou mais três. O trio somou 21 rebotes. Para comparar, no total, a Argentina teve 26 (contra 39 do adversário). Ressalte-se aqui também os oito rebotes de Marquinhos, um fundamento que nunca foi o seu forte. O ala estava energizado.

Com mais posses de bola, oprimindo e desmoralizando a defesa argentina no jogo interno, o Brasil passou a afinar seu ataque, elevando atee mesmo sua produção nos tiros de fora, saindo de 2/11 no primeiro tempo (18,8%) para 8/18 na segunda etapa (44,4%). Outro mundo. A mínima troca de passes envolvendo os pivôs representava um desafio para os adversários, que formaram uma seleção sem envergadura e capacidade atlética. Tiveram muita dificuldade para contestar.

Depois de tomar 5 em 9 disparos até a metade do segundo quarto (55,5%), a seleção limitou seus oponentes a apenas 4 dos próximos 17 (23,5%) até que Salem Safar procurou sacudir as coisas no quarto final. Quando a vantagem brasileira já era superior a 10 pontos. Não seria o ala reserva argentino que alteraria o panorama do jogo. A essa altura, a Argentina estava basicamente rendida, sem ter a quem recorrer para fazer frente a um time muito mais atlético, sem nenhum vestígio de temor do seu lado. Dessa vez, não houve retrospecto, não Scola, nem nada que impedisse a seleção brasileira de avançar.


Brasil x Argentina: o clássico em números
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Giancarlo Giampietro

Neste domingo, tem Brasil x Argentina pela Copa do Mundo de basquete (17h no horário de Brasília). Acho que vocês já sabem, né? Seguem então alguns links relacionados ao jogo e, logo abaixo, um apanhado de números da história recente dos confrontos:

161 – minutos Luis Scola passou em quadra nas primeiras cinco rodadas do campeonato (32,2). Foi o quinto que mais jogou, atrás de Andray Blatche (Filipinas), Gorgui Dieng (Senegal), Bojan Bogdanovic (Croácia) e Samad Nikkah Bahrami (Irã).

116 – já Leandrinho foi aquele que ficou menos tempo sentado no banco brasileiro, com 116 minutos (23,2) de ação, apenas 63ª maior média do torneio.

77,7% – é o aproveitamento da Argentina contra o Brasil com Luis Scola em quadra, em nove jogos desde o Mundial 2002. Foram sete vitórias (Mundial 2002, Copa América 2003, 2 na Copa América 2007, Mundial 2010, Copa América 2011 e Olimpíadas 2012) e duas derrotas (Copa América 2009 e 2011).

Huertas, efetivado como titular com Moncho, numa rara vitória sobre Argentina de Scola (2009)

Huertas, efetivado como titular com Moncho, numa rara vitória sobre Argentina de Scola (2009)

37 – no Mundial da Turquia 2010, Scola arrebentou a defesa brasileira com 37 pontos, numa atuação verdadeiramente histórica (recorde individual de seu país no torneio). Sabe quantos minutos ele descansou na ocasião? Um. Apanhou ainda nove rebotes, deu três assistências e matou 14 de seus 20 arremessos, para um aproveitamento absurdo de 70%.

Hettsheimeir brilhou em 2011. Pivô é o segundo mais jovem da seleção hoje aos 28 anos

Hettsheimeir brilhou em 2011. Pivô é o segundo mais jovem da seleção hoje aos 28 anos

31 – anos é a idade média do elenco brasileiro, o mais velho do torneio. Apenas três de seus atletas estão abaixo dos 30 (Raulzinho, o caçula, com 22, Hettsheimeir, 28, e Splitter, 29). A média de idade argentina é de 28 anos, com sete atletas abaixo dos 39 (o mais jovem é o pivô Matías Bortolín, de 21 anos, que jogou apenas quatro minutos no torneio até aqui).

21,6 – A média de pontos de Scola neste Mundial. É o cestinha argentino e também o cestinha entre os atletas que ainda estão vivos na disputa por pódio. José Juan Barea, estrela de Porto Rico, anotou 22 pontos por jogo na 1ª fase, mas já está eliminado.

19 – os pontos de Rafael Hettsheimeir na última vitória brasileira no clássico, em Mar del Plata 2011, uma atuação marcante e surpreendente, em 22 minutos. Na atual Copa do Mundo, o pivô perdeu espaço na rotação e anotou só 13 pontos no total, em 59 minutos. Huertas anotou 17 pontos naquele jogo, seguido pelos 14 de Marquinhos e outros 13 de Giovannoni.

18 – maior pontuador do Brasil na primeira fase, com 13,6 em média, Leandrinho foi apenas o 18º na lista de anotadores da fase de grupos, numa prova de um ataque dissipado para a seleção – não há concentração nas mãos de um só atleta.

Splitter tinha apenas 17 anos em 2002, para seu primeiro Brasil x Argentina. Jogou 2 minutos

Splitter tinha apenas 17 anos em 2002, para seu primeiro Brasil x Argentina. Jogou 2 minutos

10 – atletas das seleções jogam ou já jogaram partidas oficiais na NBA: seis brasileiros (Alex, Marquinhos, Leandrinho, Varejão, Splitter e Nenê) e quatro argentinos (Nocioni, Herrmann, Scola e Prigioni). O armador Raulzinho já foi draftado no ano passado pelo Utah Jazz.

9 – jogadores vão disputar a próxima temporada do NBB: Alex, Marcelinho, Marquinhos, Hettsheimeir, Larry, Giovannoni, Herrmann, Laprovíttola e Marcos Mata. O Flamengo tem quatro deles, enquanto o Bauru aparece com três.

8 – o primeiro confronto de mata-mata entre as duas gerações aconteceu no Mundial de 2002, Indianápolis, pelas quartas de final. E não é que, 12 anos depois, oito atletas que estiveram em quadra naquele dia 5 de setembro estão listados para o jogo deste domingo? Diz muito sobre a (falta de) renovação de ambos os times. Pela Argentina, Luis Scola, Andrés Nocioni e Leo Gutiérrez. Pelo Brasil, uma penca: Alex, Marcelinho, Anderson Varejão, Splitter e Giovannoni. Se Leandrinho tivesse saído do banco, seriam nove. O cestinha brasileiro naquela ocasião é hoje diretor de seleções da CBB: Vanderlei Mazzuchini (20 pontos).l

4,5 – a média de pontos das vitórias argentinas nos últimos dois confrontos entre as seleções.

4 – por quatro temporadas, Scola e Splitter foram companheiros de clube, no Saski Baskonia, da Liga ACB. São amigos de longa data. Juntos, ganharam a Copa do Rei em duas ocasiões (2004 e 2006). Já o armador Pablo Prigioni acompanhou o pivô catarinense por seis temporadas.

3 – a Argentina ocupa a terceira posição no Ranking da Fiba vigente. O Brasil aparece em décimo.

 


O 6º dia da Copa do Mundo: Tudo conspira para Brasil x Argentina
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só: 12 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, pela última rodada da 1ª fase, depois de uma semi-overdose. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a classificação final dos grupos e os todos os resultados. Sobre a vitória brasileira sobre o Egito, clique aqui.

Sim, o universo basqueteiro conspirou para isso: que Brasil e Argentina se enfrentem pelo terceiro torneio intercontinental seguido num mata-mata, tal como ocorreu no último Mundial e nas Olimpíadas de 2012. É um longo retrospecto, que precisou da combinação de três resultados nesta quinta-feira: derrota de Senegal para Filipinas, vitória da Croácia contra Porto Rico e o derradeiro revés dos argentinos contra a Grécia. hermanos terminaram, assim, com o terceiro lugar do Grupo B, encarando o segundo do A. O Brasil, claro. Nenhum desses três jogos terminou com uma surpresa, mas não deixa de ser notável que os três desfechos necessários para levar ao clássico tenham ocorrido. Veja abaixo os demais confrontos (nesta sexta, dia de folga geral, vamos abordar cada embate):

Os mata-matas: Parte superior da tabela é sensivelmente mais fraca que a de baixo. EUA têm caminho teoricamente tranquilo até a final

Os mata-matas: parte superior da tabela é sensivelmente mais fraca que a de baixo. EUA têm caminho tranquilo até a final

O jogo do dia: Pode passar?
Falando sério, é muito difícil escolher.

Os Tall Blacks, com Isaac Fotu, eliminam a Finlândia e sua empolgada torcida na #Espanha2014

Os Tall Blacks, com Isaac Fotu, eliminam a Finlândia e sua empolgada torcida na #Espanha2014

Em termos de emoção – e justiça histórica : ) –, poderíamos escolher Filipinas 81  x 79 Senegal. A equipe asiática merecia uma vitóriazinha que fosse, depois de amedrontar Argentina, Croácia e Porto Rico. Ela saiu em sua despedida, na segunda prorrogação que disputaram em cinco partidas. Melhor: nos minutos finais do tempo extra, o pivô contratado naturalizado foi excluído com cinco faltas, e seus nanicos tiveram de se virar contra os africanos, que já estavam classificados, mas tentavam sair do quarto para o terceiro lugar do grupo e escapar da Espanha nas oitavas. Não deu certo. E esta acabou sendo a primeira pedra a cair para levar a este grande Brasil x Argentina.

Mas teve outros tantos momentos intensos e mais relevantes para a continuidade do evento: a Nova Zelândia suou, mas venceu a Finlândia num confronto direto que lhe rendeu a classificação para os mata-matas, em jogo decidido realmente nos últimos segundos. E o que mais? O Irã quase apronta uma para cima da França, sonhando discretamente com a quarta posição do Grupo A. Os campeões europeus venceram por cinco pontos apenas.

A (quase) surpresa: Angola 91 x 83 Austrália
O placar em si foi inesperado. Mas a forma como ele foi construído não chega a surpreender, embora ainda possa deixar indignado quem leve a sério de mais o espírito esportivo. A gente conta essa história com mais detalhe em outro post: a Austrália não vai admitir nunca, mas entregou um jogo para a Angola, manipulando a tabela do Grupo D: terminou com o terceiro lugar. O motivo? Se passar para as quartas de final, não terá os Estados Unidos pela frente. Goran Dragic ficou uma arara, uma vez que sua Eslovênia se deu mal nessa.

Um causo
De manhã, bem cedo, estourou o rumor: os jogadores croatas teriam se rebelado contra o técnico Jasmin Repesa e ameaçavam boicotar o jogo contra Porto Rico se ele não fosse afastado, passando o comando para um de seus assistentes: o ex-pivô Zan Tabak. Depois de uma chocante derrota para Senegal, lembremos, Repesa havia detonado sua equipe: disse que, se pudesse escolher, não teria nascido nos Bálcãs, para não ter de lidar com o tipo de mentalidade que permite uma zebra dessas acontecerem. Antes de a partida começar, Tabak foi o primeiro a se pronunciar a respeito, negando de modo veemente o suposto motim. “Em toda a minha vida no basquete, nunca vou entender essas pessoas que gostam de inventar esse tipo de coisa. Estou surpreso que alguém precise mentir desse jeito”. Mas a maior resposta, mesmo, veio da própria seleção croata em quadra: uma exibição primorosa do início ao fim para eliminar os porto-riquenhos por 103 a 82, com aproveitamento de 57,9% nos arremessos no geral, 45,8% de três. Com Repesa dirigindo o time normalmente e dando bronca: eram 24 pontos de vantagem no segundo tempo e ele esbravejava: “Quem acha que este jogo já acabou? Quem?” – mas, bem, eventualmente acabou , mesmo, e a Croácia asseguraria a segunda colocação do Grupo B.

Uma curiosidade foi a presença na plateia, em Sevilha, do trio Michael Carter-Williams, Nerlens Noel e Joel Embiid, jovens talentos do Philadelphia 76ers que foram ver de perto seu futuro companheiro: Dario Saric, sensação croata que não decepcionou, com 15 pontos, 4 rebotes, 3 assistências e 100% nos arremessos de quadra, em apenas 14 minutos de muita eficiência.

MCW, Noel e Embiid foram bater um papo com Saric em Sevilha

MCW, Noel e Embiid foram bater um papo com Saric em Sevilha

Alguns números
564 –
Luis Scola marcou 17 pontos em derrota para a Grécia e alcançou a terceira colocação na lista histórica de cestinhas da competição, com 564. Acima dele, só Oscar Schmidt (843) e o australiano Andrew Gaze (594). Nesta jornada, o mítico ala-pivô argentino deixou três lendas para trás, entre eles o ala Marcel, agora o quinto nessa relação, com 551 pontos.

Olho na Grécia de Printezis e Bourousis: time está com excelente química e uma linha de frente em forma, assessorada pelo cerebral Nick Calathes. Time não sente ausência de Vasilis Spanoulis e pinta como forte candidato ao pódio, guiado pelo técnico Fotis Katsikaris, nome em alta no mercado europeu

Olho na Grécia de Printezis e Bourousis: time está com excelente química e uma linha de frente em forma, assessorada pelo cerebral Nick Calathes. Time não sente ausência de Vasilis Spanoulis e pinta como forte candidato ao pódio, guiado pelo técnico Fotis Katsikaris, nome em alta no mercado europeu

100% – Três seleções venceram todos os seus compromissos na primeira fase: Estados Unidos, Espanha e Grécia. A melhor campanha foi dos norte-americanos, com 166 pontos de saldo, acima dos 126 dos espanhóis. Os gregos tiveram +63. O Brasil aparece em quarto na tabela geral, acima de Lituânia, Eslovênia e Argentina, vejam só, com saldo de +83. Graças a…

63 – Já destacamos durante o dia, mas não custa alardear novamente: nesta quinta, o Brasil deu sua maior lavada na história dos Mundiais ao vencer o Egito por 63 pontos de vantagem.

45 – Foi o índice de eficiência atingido pelo angolano Yanick Moreira, de 23 anos, contra uma Austrália não muito motivada. O pivô marcou 38 pontos e apanhou 15 rebotes, acertando 17 de 24 arremessos. Uma linha estatística que certamente ganhará destaque em seu currículo, na hora de sair do basquete universitário americano em busca de uma carreira profissional.

2 – A Eslovênia entrou em colapso em seu confronto direto com a Lituânia, de olho na primeira posição do Grupo D. A equipe de Dragic venceu o jogo praticamente de ponta a ponta, mas tomou a virada num quarto período desastroso, em que anotou apenas dois pontos, contra 12 do adversário, numa parcial bastante travada. A equipe caiu deste modo para o segundo lugar, sendo posicionada na chave dos Estados Unidos.

Andray Blatche: contagem de arremessos
86! – O pivô mais filipino da Copa do Mundo se despede do torneio – e, quiçá, do mundo Fiba –, com média de 17,2 arremessos por partida, num esforço comovente.  Scola tentou 75 arremessos na primeira fase e foi aquele que mais chegou perto do grandalhão. O argentino, afinal, não tem o apetite suficiente para competir com Blatche, que efetuou 4,4 disparos de três por confronto, a despeito do aproveitamento de 27,3%. Outra estatística que ele liderou foi a de rebotes: 13,8, acima dos 11,4 de Gorgui Dieng e Hamed Haddadi. Seria realmente o fim de uma era? Esperemos que não. Tomara que não.

O que o Giannis Antetokounmpo fez hoje?

Giannis tentou uma enterrada em rebote ofensivo, mas errou a mira. Seria highlight, na certa

Giannis tentou uma enterrada em rebote ofensivo, mas errou a mira. Seria highlight, na certa

Num jogo valendo a liderança da chave, o ala foi limitado novamente a 12 minutos, saindo zerado de quadra. Poxa. De qualquer forma, pegou seis rebotes e deu um toco em Facundo Campazzo sem nem precisar sair do chão. A linha estatística é fraca, mas você precisa vê-lo em ação para acreditar em seu potencial. O garoto de 19 anos ajuda a levar a bola, fecha espaço na defesa e corta linhas de passe com braços muito longos e agilidade e joga com muita energia. A inexperiência ainda custa alguns erros de fundamentos e a perda de posição . Em geral, porém, ele injeta vitalidade a um time muito bem equilibrado.

Tuitando:

Joel Embiid pode nem jogar na próxima temporada, mas já é disparado o favorito a MVP do Twitter na NBA 2014-15. Depois de flertar com a popstar Rihanna em público, mas virtualmente, o pivô camaronês agora corteja o ala-pivô croata, que foi escolhido pelo Philadelphia 76ers no mesmo Draft e fez bela partida contra Porto Rico. O prodígio, porém, só vai se apresentar ao time provavelmente em 2016, após cumprir dois anos de um robusto contrato com o Anadolu Efes, da Turquia.  

O armador finlandês poderia ter definido a vitória sobre a Turquia na terceira rodada. Teve novamente a chance de matar o jogo contra a Nova Zelândia nesta quinta. Passou em branco em ambas as oportunidades, acabando com a festa da torcida mais animada do Mundia. Vai para casa pouco deprimido o rapaz.

O armador soltou os cachorros para cima dos compatriotas durante a amalucada derrota para o Brasil na quarta-feira. Assistam.

Enquanto isso, na Croácia, o jovem Saric desce o porrete na apresentação da equipe, derrotada na véspera pelos gregos por 76 a 65.


O jornalista espanhol resume tudo isso. Viva os basqueteiros balcânicos!

Relembre o Mundial até aqui: 1º dia, , , e 5º.


Como não? Brasil reencontra Argentina; veja o retrospecto
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Giancarlo Giampietro

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Sí, sí. É isso, mesmo. Deu Brasil x Argentina novamente.

Para que o clássico sul-americano se repetisse logo de cara nos mata-matas da Copa do Mundo de basquete, era necessária pelo menos uma combinação de três resultados no Grupo B: que as Filipinas lavassem a alma com pelo menos uma vitória sobre a outra zebra do torneio, Senegal; que a Croácia afastasse os rumores sobre autocombustão (mais uma!?) e vencesse Porto Rico; e que a Grécia provasse sua consistência redescoberta para derrotar nossos vizinhos do Sul, para que  eles terminassem em terceiro. Check, check, check. Confere, e cá estamos em mais um jogo decisivo entre os dois rivais.

Em competições intercontinentais, o confronto acontece pelo terceiro evento consecutivo. Sem brincadeira: rolou no Mundial passado, em 2010, e também nas Olimpíadas de Londres 2012. Vocês me deem licença, então, para resgatar e editar um texto de dois anos atrás, recuperando o retrospecto – já nem mais tão recente assim – entre as duas gerações que vão se reencontrar no domingo (17h, horário de Brasília). Uma experiência dolorosa para muita gente, eu sei. Mas esse histórico, que vem de 2002 para cá, é um componente emocional inegável, que tem de ser enfrentado nas próximas 40 e poucas horas.

Desde o torneio de Indianápolis, 12 anos atrás, muitas figuras fundamentais se despediram das quadras. Deu tempo de Marcelinho Machado, por exemplo, anunciar em duas ocasiões que não jogaria mais pela seleção brasileira, para reconsiderar prontamente. Do outro lado, Walter Herrmann também alternou bastante: foi, voltou, foi, voltou. De constantes, mesmo, temos Luis Scola e seu vasto arsenal ofensivo, que continua superprodutivo e eficiente (21,6 pontos por jogo no atual campeonato, mais 8,8 rebotes, 2,2 assistências e 52% nos arremessos).

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

A diferença é que dessa vez são os argentinos que entram com desfalques. Manu Ginóbili e Carlos Delfino fazem uma falta danada no perímetro: não só como pontuadores, mas também como criadores e defensores. Já o Brasil surge com força máxima. A primeira vez em muito, muito tempo, com todos os seus atletas apresentados, fisicamente bem (ao menos segundo as aparências e os relatos oficiais). Esse é um fator que deve passar obrigatoriamente mais confiança para os rapazes de Rubén Magnano – algo que compense de alguma forma o desequilíbrio emocional gerado por tantas derrotas no decorrer da última década (pensando apenas em grandes competições, ok? Sul-Americano, isto é, excluído). Vamos lá, passo a passo:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Os argentinos conseguiram sua primeira grande vitória em clássico pelo Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora (havia acabado de ser draftado pelo Nuggets), e a armação era dividida por Helinho e Demétrius, hoje assistente de Rubén Magnano. Que, na época, trabalhava para seu país natal. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção braileira, agora com Lula Ferreira no comando e bastante renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: o Brasil sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e a Argentina sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann. Foram duas derrotas para os campeões olímpicos: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga nos Jogos de Pequim, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, em uma cobertura de ambiente tumultuado, extremamente tenso. Luis Scola jogou uma barbaridade, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

– Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Das principais peças, eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni, enquanto o Brasil jogou com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda. Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen (lembra dele!?) mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

– Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando os arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que fez a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente, não importando que os grandes ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Foi um triunfo que encaminhou a equipe nacional para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das brabas, a trupe tupiniquim perdeu por cinco pontos.

– Em Londres 2012, depois de a Espanha supostamente manipular a tabela, o Brasil terminou em segundo em seu Grupo A. E quem estava em terceiro no B? Sim, a Argentina, numa repetição do atual cenário. As duas equipes contavam com seus grandes nomes, e isso pesou a favor do time que já tinha duas medalhas olímpicas (o ouro de Atenas e um Bronze em Pequim). Os argentinos abriram vantagem de até 15 pontos, viram os brasileiros reagirem, mas ganharam no final. Um drama particular daquele jogo? Os lances livres…

Passando por tantas derrotas assim, não dá para dizer, mais uma vez, que o jogo deste domingo sirva de tira-teima, né? Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos deste ano, em que já se enfrentaram em dois amistosos, com uma vitória para cada lado, cada um vencendo em casa. Mas eram apenas amistosos, bem no início da fase de preparação. No primeiro, no Rio, o Brasil venceu bem, explorando seus pivôs, mas Luis Scola não estava do outro lado. No segundo, em Buenos Aires, um bombardeio de três pontos desarmou a defesa de Magnano. Dois jogos que provavelmente não dizem nada.

Agora, com tanta história envolvendo os rivais, é impossível relevar o retrospecto geral. Os brasileiros vão precisar de toda a maturidade que puderem acessar para encarar esses diversos tropeços, erguerem a cabeça e partirem para mais um clássico para se acrescentar neste relato. Em 2016, vai ter mais?