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Brasil consegue vitória mais larga de sua história nos Mundiais
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Giancarlo Giampietro

04/09/2014: Brasil 128 x 65 Egito, Splitter sobe para mais dois pontos

04/09/2014: Brasil 128 x 65 Egito, Splitter sobe para mais dois pontos

Serve para nada um jogo contra o Egito?

Serve, sim: valeu para o Brasil conseguir, nesta quinta-feira, a sua vitória mais larga (lavada, surra, atropelo, esculacho, escolhaí) de sua história nos Mundiais 128 a 65, com inacreditáveis 63 pontos de diferença. Até então, os maiores placares haviam acontecido nos anos 70. Em 1978, a seleção que conquistou o bronze nas Filipinas derrotou a China por 154 a 97 (57 pontos) – essa ainda é sua maior contagem num só jogo. Em 1970, aquele que era o segundo placar mais elástico: 112 a 59 contra o Canadá (53 pontos), na Iugoslávia (hoje território esloveno).

Aqui, não vamos nem ser insanos de querer comparar o nível dos adversários, ou mesmo o dos representantes brasileiros em cada uma dessas surras, né? Não faria sentido. Uma ressalva importante para se fazer é que os resultados prévios não contaram com a interferência dos arremessos de três pontos. Aconteceram antes do estabelecimento da linha perimetral, introduzida pela Fiba em 1984.

De qualquer forma, contando os chutes de longa distância, o Egito levou até a melhor nessa: os africanos acertaram 11 disparos de fora, contra 10 da seleção brasileira, equipe que disputou todas as edições da competição, hoje chamada de Copa do Mundo. Isto é: tiraram um pontinho do saldo neste disparo – fossem as regras de quatro décadas atrás, ingorando as bombas de três, a diferença teria sido de 58 pontos.

Na mesma campanha de 1978, o Brasil também atropelou as Filipinas por 119 a 72 (42 pontos), e neste aspecto superariam a atual geração, cuja segunda maior surra foi contra o Irã, nessa primeira fase, por 29 pontos (79 a 50).

Os egípcios entram, de alguma forma, na história do basquete brasileiro

Os egípcios entram, de alguma forma, na história do basquete brasileiro

Voltando ao presente, então, alguns dados desta vitória que se torna histórica:

– A maior vantagem chegou a ser de 65 pontos, descontada no último segundo.

– Todos os 12 jogadores brasileiros fizeram pelo menos quatro pontos. Variaram dessa quantia (Marquinhos, Giovannoni e Larry) para os 22 de Leandrinho.

– Leandrinho anotou seus 22 pontos em apenas 23 minutos, acertando 8 de 9 arremessos (89%).

– Três atletas brasileiros terminaram com 100%, acertando todos os seus arremessos: Raulzinho (7!), Huertas (5) e Hettsheimeir (3).

–  No geral, a seleção matou 75% de seus arremessos, sendo 40 de 47 de dois pontos (85%) e 10/20 de três (50%). Nos temidos lances livres, 18/26 (69%).

75 pontos foram anotados por reservas.

68 pontos foram convertidos no garrafão.

35 pontos saíram no contra-ataque.

– O Egito bateu apenas 4 lances livres e não converteu nenhum, todos com o ala Amr Gendy

– O cestinha egípcio foi Ibrahim El Gammal, com 16 pontos, acertando 7 em 19 arremessos.

Todos esses números podem parecer redundantes, considerando a fragilidade do adversário, mas não há relativização que diminua o escore. Pelo contrário. Para comparar, no último Mundial, o Brasil havia batido o Irã por “apenas” 16 pontos e a Tunísia, eliminada no último AfroBasket justamente pelos egípcios, por 15.

*   *   *

A campanha do Egito nas primeiras quatro rodada, todas derrotas: 85 a 64 para Sérvia, 91 a 54 para Espanha, 94 a 55 para França e 88 a 73 para Irã.

*   *   *

Atualização: O Brasil fecha a primeira fase com a segunda colocação do Grupo A, tendo quatro triunfos e um revés. Seu saldo de pontos até esta quinta era de +20. O adversário nas oitavas de final será o terceiro colocado do Grupo B: Argentina ou Croácia, dependendo da combinação de resultados desta última rodada. Os croatas venceram Porto rico por 103 a 82 e eliminaram os caribenhos em bela exibição. Agora esperamos Argentina x Grécia. Se os hermanos perderem, serão os adversários nas oitavas. Se vencerem, é Brasil x Croácia.


Brasil vence 75% de um jogo de xadrez e se posiciona bem para playoffs
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos, o cestinha, Krstic, o inoperante: dois personagens da vitória brasileira

Marquinhos, o cestinha, Krstic, o inoperante: dois personagens da vitória brasileira

OK, vamos estourar de cara: o fato e o nome do jogo foi Marquinhos. O ala se sentiu como se estivesse no ginásio da Gávea, tranquilão para matar 21 pontos e liderar o ataque brasileiro numa dura e importantíssima vitória sobre a Sérvia pela Copa do Mundo.

Foi 81 a 73, mas poderia ter sido mais. Ou pior, com triunfo para os próprios sérvios, dependendo de uma série de detalhes, que vamos destrinchar logo mais. Antes, explica-se o valor deste triunfo.

Não só significa que os brasileiros venceram dois times europeus nesta primeira fase, como também garante o segundo lugar e assegura um posicionamento, digamos, confortável nos playoffs, pensando longe. Basicamente: evita que eles se deparem com a poderosa Espanha numa eventual quartas de final. Isto é, se chegarem a esta etapa, vão ter, em teoria, um adversário mais fraco para entrar na disputa por medalhas.

Para garantir esse posto, foi preciso passar por um jogo de xadrez. Ou, num populacho, o jogo de gato-e-rato. Partidas de basquete no mais alto nível tendem a ser encaradas deste modo – a não ser no caso em que o adversário é tão superior, que não há artimanhas para desbancá-los. Não era o caso nesta quarta-feira.

Nenê complica a vida de Krstic: pivô sérvio, antes uma estrela no mundo Sérvio, foi limitado a 7 pontos (2/9 nos tiros de quadra) pelos pivôs brasileiros, excelentes marcadores

Nenê complica a vida de Krstic: pivô sérvio, antes uma estrela no mundo Sérvio, foi limitado a 7 pontos (2/9 nos tiros de quadra) pelos pivôs brasileiros, excelentes marcadores

A Sérvia, vejam só, veio para a quadra com uma formação monstruosa de grande. Três pivôs de 2,08m para cima, dois deles pesos pesados, procurando minar o garrafão brasileiro: o inigualável Miroslav Raduljica e o esforçado, mas limitado Vladimir Stimac. Quis descer a marreta no jogo interior e mastigar o aro. No primeiro tempo, deu certo: 9 rebotes ofensivos e 13 lances livres descolados!

Sucesso, né?

Necas. Nada disso: o Brasil venceu por 48 a 32 antes do intervalo. Seria o suficiente para dizer que o jogo estava ganho? Como vocês podem perceber pelo placar final, também não.

Para a segunda etapa, os adversários voltaram do intervalo com uma formação bem mais baixa, leve e técnica, com três armadores – em vez de três armários. Esse time fez a vantagem brasileira se evaporar em cinco minutos (foi 16 a 6 de cara). Rubén Magnano não intercedeu, eles foram pontuando, pontuando, pontuando, até que viraram o placar e chegaram a abrir sete. Os balcânicos começaram a se movimentar muito bem sem a bola, exigindo atenção e agilidade dos brasileiros – o que não acontecia. Foram quebras e quebras defensivas sucessivas, com Huertas envolvido em muitas dessas. É um problema constante no jogo do brasileiro, sabemos.

E o que acontece? Aparentemente senhora de si, a Sérvia voltou a concentrar, canalizar o ataque em seus pivôs. Foi um ajuste bem camarada do técnico Sasha Djordjevic, um dos grandes armadores dos anos 90, mas que priorizou as bolas previsíveis no mano-a-mano para um ancião o trombador Raduljica e um Nenad Krstic irreconhecível de tão lerdo.

Splitter, por conta própria, colocou no bolso o gigante Raduljica. O pivô, que vinha atacando com eficiência nesta Copa, com média de 15 pontos e 59,4% nos arremessos, produziu bem pouco (11 pontos e 5 rebotes, mais quatro turnovers). Seu repertório é feito basicamente de tranco, intimidação físicos e semi-ganchos lentos e mecânicos que só.

O único problema que essas investidas forçaram foi o acúmulo de faltas por parte dos pivôs brasileiros. Nenê ficou pendurado com quatro. Splitter chegou a cometer duas no primeiro período, mas teve sua situação muito bem monitorada pelo técnico argentino. Quando voltou para a quadra no quarto final, estava suficientemente resguardado para contestar o sérvio com vigor, coragem e, muito mais relevante, inteligência. Guardou posição, sem partir para o roubo ou o toco, cavou duas faltas ofensivas e deixou que o oponente se atrapalhasse sozinho. A retaguarda estava resolvida, também com boa participação de Larry para fiscalizar Milos Teodosic (14 pontos e 5 assistências em 25 minutos, saindo do banco).

O figuraça Raduljica não foi efetivo contra os grandalhões brasileiros

O figuraça Raduljica não foi efetivo contra os grandalhões brasileiros

Do outro lado, Marquinhos estava em tarde inspirada. Ele já havia matado suas duas primeiras bolas de longa distância no quarto inicial e carregou essa confiança para os momentos decisivos. Puniu a defesa sérvia nos instantes em que ficou desmarcado e teve a melhor pontuação individual de um brasileiro neste torneio.

O ala foi bem assessorado por Leandrinho no primeiro tempo (11 pontos em 16 minutos, terminando com 16 em 28, sem jogar nos minutos derradeiros) e pelo próprio Splitter no quarto final (10 pontos, 7 rebotes e 6 assistências, com seus deslocamentos irrevogáveis fora da bola e muita visão de quadra – foram deles os dois passes para bombas de três de Marquinhos que diminuiriam o placar de 67 a 60 para 67 a 66). É o tipo de rendimento que o Brasil vai precisar nessa campanha e muito mais sustentável que os tiros de fora de Marquinhos (não dá para esperar que ele vá desafogar o jogo com 6 acertos a cada 9 tentativas, convenhamos).

A combinação dos tiros de fora com o jogo interior é sempre a mais adequada para o jogo de meia quadra e funcionou muito bem, enfim, no quarto período. Se der para atacar em velocidade, em transição, tanto melhor, como aconteceu no primeiro tempo impecável.

O desafio agora é atingir a consistência. Dessa vez o que descambou foi a defesa numa parcial. Somando os primeiro, segundo e quarto períodos, o Brasil teria permitido apenas 41 pontos ao adversário. Excelente. Mas acabou tomando 32 no terceiro, com falhas que não vinham acontecendo.

De qualquer forma, o Brasil, que foi mais time em 75% do jogo, escapou com sua preciosa vitória. Nesta quinta, vai treinar contra o Egito. Depois, é hora de voltar jogar xadrez, mas com a pressão de que cada jogada em falso pode valer a eliminação.


Contra o Irã, a vitória anunciada, mas reforçando percepções
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Giancarlo Giampietro

Defesa forte de um time competitivo, mas ataque ainda devendo na meia quadra

Defesa forte de um time competitivo, mas ataque ainda devendo na meia quadra. Crédito: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

Não tem muito para escrever depois de um jogo contra o Irã. O Brasil se atrapalhou um pouco no primeiro quarto, em qual perdeu por 18 a 17 . Mas digamos que tenha sido o tempo de aquecimento necessário. Dez minutos, e pronto: começou a sacolada, com a seleção vencendo por 77 a 50.

Os iranianos são os chefões na Ásia, mas não têm consistência, nem talento para segurar a onda com um time que sonha com medalha na Copa do Mundo de basquete. Era jogo para Marcelinho Machado (16 minutos) acumular mais milhas num torneio desse nível, para Guilherme Giovannoni (14 minutos) bater uma bola e desenferrujar etc.

Por outro lado, considerando os números finais da partida, a pelada deste domingo acaba reforçando algumas impressões sobre o time de Rubén Magnano: a defesa é intensa, está muito bem preparada. A contagem atingida pelos asiáticos foi a menor do torneio até aqui – na jornada de abertura, os Estados Unidos haviam segurado a Finlândia com 55 pontos – a mesma quantia que a Coreia do Sul fez neste domingo contra a Austrália.

E o  ataque? Nem tanto.

Mas como nem tanto? Não marcaram 79 pontos?

Sim, e digo mais: com aproveitamento alto nos arremessos de quadra: 54%.

Bem, uma boa parte destes pontoas saiu em contra-ataque: 28, na sequência de diversos desperdícios de bola do adversário (24!). A defesa que gerou o ataque, e não há nada de errado com isso – é o jeito mais fácil de encestar. Agora, contra equipes de ponta, com armadores um pouco – ou muito – mais qualificados, esses pontos em transição caem dramaticamente. Na véspera, contra a França, foram apenas quatro. Contra a Espanha, que tem a melhor combinação de armadores do Mundial – Calderón, Rubio, Rodríguez, Llull, quatro jogadores que seriam titulares em praticamente todas as seleções do torneio –, as oportunidades também serão limitadas.

Aí tem de produzir em meia quadra, e até agora as coisas não têm funcionado muito bem nesse tipo de situação. Mesmo hoje, diante de uma defesa baixíssima, pouco atlética, a seleção cometeu 19 turnovers. Boa parte deles no início preguiçoso de partida, é verdade. Mas a movimentação reduzida de bola – e fora da bola – se sustentou, com elevado número de erros de passes, de fundamentos. Nos tiros de fora, mesmo com toda a liberdade do mundo, o aproveitamento foi baixo: 33%. Vale destacar, contudo, que o volume dos arremessos do perímetro foi reduzido (15 dos 59 arremessos), mesmo sem contestação alguma na linha perimetral.

Daqui para a frente, só resta mais uma baba: o Egito. De resto, será só pedreira, só times de ponta, contra os quais o Brasil vai competir para valer, por conta de seu revigorado ímpeto defensivo. Houve um tempo em que chorávamos por um time que protegesse melhor sua cesta. Ele está aí agora, mas com carências do outro lado. Essa combinação deixa as previsões um pouco mais turvas. Nada tão seguro como um triunfo contra iranianos.


Armadores brilham, mas pivôs também ajudam em vitória brasileira
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Giancarlo Giampietro

Huertas comandou a seleção no quarto período em dura, mas importante vitória

Huertas comandou a seleção no quarto período em dura, mas importante vitória

Olhando de primeira, a França não é um time que você vá julgar como de “garrafão forte”, de “referências no jogo interno” etc. Mas a verdade, mon Dieu, é que eles têm um conjunto de gente explosiva e loooooonga, comprida, de muita envergadura, mesmo. Um pacote atlético que dificultou ao máximo a vida dos pivôs brasileiros no jogo de estreia na Copa do Mundo de basquete.

Justamente os pivôs, o ponto forte da seleção de Magnano. Atração nos amistosos, o quarteto Spliter-Nenê-Varejão-Hettsheimeir foi limitado a apenas 19 pontos neste sábado, em Granada. Se fôssemos analisar este número num vácuo, pareceria uma tragédia. Derrota na certa, né? Acontece que os “baixinhos” contra-atacaram dessa vez, liderando o Brasil para uma importante vitória por 65 a 63.

Não foi bonito – faltam mais passes no ataque, muito mais movimentação fora da bola, tecla que vendo batida há tempos. Não foi fácil – e, tirando Irã e Egito, dificilmente esse panorama vai se alterar, até pelo problema citado. Mas já valeu para levar a melhor num confronto direto, que de cara deixa a equipe em boa posição pensando na classificação geral do grupo e no emparelhamento dos mata-matas.

Por falar em matar, Marcelinho Huertas, depois de um acidentado primeiro tempo, apareceu de modo decisivo na segunda etapa. O armador anotou oito pontos nos últimos quatro minutos, encarando a defesa francesa. Em situações de pick-and-roll, os adversários priorizaram descaradamente a contenção dos grandalhões brasileiros. Huertas soube, então, aproveitar os espaços para entrar no garrafão e usar seu arsenal de tiros em flutuação para machucá-los. Algo que fez a diferença, para atenuar o drama de novas falhas nos lances livres,  com quatro bolas desperdiçadas nos dois minutos finais (sem contar a última de Marquinhos).

Raulzinho ataca Rudy Gobert, seu companheiro de liga de verão pelo Utah Jazz (no ano passado)

Raulzinho ataca Rudy Gobert, seu companheiro de liga de verão pelo Utah Jazz (no ano passado). Crédito: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

O veterano do Barcelona foi quem carregou o time nos instantes derradeiros, terminando com , mas foi o jovem Raulzinho quem segurou as pontas entre os segundo e terceiro períodos. Extremamente combativo, importunou Thomas Heurtel e, especialmente, o lento-quase-parando Antoine Diot, ajudando a defesa brasileira a mudar o ritmo da partida.

A França havia começado de modo impositivo. Boris Diaw deitou e rolou contra Nenê, flutuando no perímetro. Nicolas Batum estava com a munheca em dia. Rudy Gobert veio do banco para dominar o garrafão por alguns minutos. Chegaram a abrir nove pontos de vantagem. A partir das trocas, um festival de substituições que mata qualquer diretor de transmissão, perderam rendimento, mas muito por conta do abafa promovido pelos brasileiros.

A seleção realmente brigou pela bola. Algo que é elementar, oras, mas nem sempre acontece – e pondo isso de maneira geral, sem ser algo especificamente direcionado para o time de Rubén Magnano. Contra atletas como Gelabale, Batum, Diaw, Pietrus, Gobert, é preciso inteligência, mas igualmente não podem faltar intensidade e determinação.

Nesse ponto, foi muito bom ver a postura de Raul, que oscilou tanto na fase preparatória, mas respondeu ao desafio no primeiro jogo para valer. Foi tão bem, que Larry nem precisou ser acionado (apenas 3min51s para o americano). No ataque, o armador do Murcia também também teve o pulso firme: não cometeu nenhum desperdício de bola em 17min29s de ação. Terminou com seis pontos e, segundo a estatística oficial, sem nenhuma assistência. Mas isso é piada: houve pelo menos um momento em que serviu a Splitter no contra-ataque, num passe que teria de ser computado. Foi de Raul o maior saldo de cestas brasileiro: +10, seguido pelos +8 de Varejão. Energia traduzida da melhor forma.

A vibração de Marquinhos nesta foto de Gaspar Nóbrega diz muito sobre a intensidade brasileira. Incomum, não?

A vibração de Marquinhos nesta foto de Gaspar Nóbrega diz muito sobre a intensidade brasileira. Incomum, não?

Do incansável Alex, já esperávamos isso. Fez o que pôde para tentar limitar Nicolas Batum, que terminou com 13 pontos e 4/10 nos arremessos. É difícil marcar o ala fora da bola, devido a sua velocidade e impulsão. No ano a mano, o ala do Portland Trail Blazers não conseguiu produzir contra o brasileiro. Já o empenho de Marquinhos vale como uma grata surpresa, convenhamos. Não é tão comum vê-lo com tanta vitalidade em quadra. Muito mais no ataque, partindo para a cesta, em vez de estacionar no perímetro para algumas bolinhas marotas de três – na defesa ainda é propenso a alguns lapsos daqueles. De qualquer forma, esse espírito fogoso veio em boa hora para o flamenguista, para fazer frente a Gelabale, um ala discreto, mas que causa impacto com sua envergadura e presença física.

Até porque a rotação de laterais brasileiros vai se encerrar por aí. Marcelinho Machado foi chamado por Magnano no segundo quarto, e o que a França fez? Nas três primeiras posses de bola, atacou o camisa 4 sem pestanejar. Primeiro com Gelabale de costas para a cesta: dois pontos. Depois, com Edwin Jackson, mais baixo e explosivo, em corte frontal, forçando a falta. Depois, Machado conseguiu um desarme, impedindo que Gelabale recebesse a bola, mas foi com uma ajudinha de Varejão para diminuir espaços.

Varejão, aliás, foi o melhor dos pivôs hoje. Muito menos pelos 8 pontos marcados em 21 minutos do que pelo alvoroço de sempre que ele apronta em quadra, sempre ativo nos rebotes, ressuscitando diversos ataques falhos brasileiros (foram cinco apanhados na tábua ofensiva). A agilidade do carioca também impressiona quando ele faz o combate na dobra num pick-and-roll e consegue se recuperar sem deixar que seu homem ganhe terreno.

Nenê coletou 8 rebotes, mas cumpriu um primeiro jogo quém das expectativas, visivelmente incomodado com os movimentos dos atléticos defensores franceses vindo do lado contrário (não foi um privilégio seu:  Splitter também levou tempo para entender a melhor forma de enfrentá-los, terminando com 6 pontos e 3 rebotes). O pivô do Washington Wizards acertou apenas 2 de 6 chutes de quadra, sendo bloqueado pelo menos em duas ocasiões. Além disso, cometeu quatro turnovers e simplesmente não conseguia frear Diaw do outro lado.

Quando o ala-pivô francês, um craque, atacaou  mais perto da cesta, o são-carlense e, principalmente, Splitter tiveram um pouco mais de sucesso. Em geral, porém, o atleta do Spurs foi soberano em suas ações internas, com 6/10 nos chutes de dois, somados a suas cinco assistências em 29min51s. Com Diaw em quadra, a França teve saldo positivo de 6 pontos, registre-se.

Coletivamente, no entanto, os pivôs brasileiros foram valiosos para controlar a batalha dos rebotes, um ponto-chave para este confronto: 42 a 30. Mais importante: os franceses apanharam apenas quatro rebotes ofensivos contra 16 dos vencedores. Considerando que, no geral, o Brasil acertou apenas 37,7% de seus arremessos (16/42, sendo 5/15 dos três pontos), esse número ganha uma relevância considerável. Isto é: ainda que a pontuação da linha de frente tenha sido baixa, essa não é toda a história.

Então vale revisar um pouco a coisa: os protagonistas na vitória foram os armadores. Mas os valentes grandalhões também deram um belo dum empurrão, fazendo o serviço sujo de modo competente.

Varejão na briga por mais um rebote, deixando a bola viva no ataque (improdutivo) brasileiro

Varejão na briga por mais um rebote, deixando a bola viva no ataque (improdutivo) brasileiro


Brasil e Espanha respiram aliviados em Mundial de desfalques
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Giancarlo Giampietro

Magnano está treinando todos aqueles com que esperava contar. Raridade

Magnano está treinando todos aqueles com que esperava contar. Raridade

O Brasil tem um time rodado, o elenco mais experiente de todos os 24 inscritos na Copa do Mundo de basquete. Com o mesmo grupo, trocando Caio Torres por Rafael Hettsheimeir, terminaram as Olimpíadas de Londres 2012 com o quinto lugar.

São dois pontos importantes para justificar qualquer otimismo que o Basqueteiro da Silva possa sentir em relação ao torneio que começa neste sábado.

Mas saiba que há mais um elemento importante a ser considerado: entre as seleções que afirmam publicamente que jogam por uma medalha neste Mundial, apenas o Brasil e a anfitriã Espanha vão levar para quadra o que no jargão da imprensa esportiva se chama de “força máxima”.

Rubén Magnano, que tanto chiou no ano passado ao final de uma vexatória Copa América, tem agora ao seu dispor a lista que julga ideal. Justamente num campeonato em que seus principais concorrentes estão seriamente avariados.

Se é para falar em desfalque, a lista começa obrigatoriamente com os Estados Unidos da América. O Coach K teve de montar sua lista final sem LeBron James, Kevin Durant, Carmelo Anthony, Russell Westbrook, Paul George… (respirem fundo, que ainda tem mais)… Kevin Love, Blake Griffin e LaMarcus Alridge. Isso para não falar de Michael Jordan, Wilt Chamberlain, Mugsy Bogues, John Isner e os Harlem Globe Trotters. Ainda assim, são candidatos ao ouro, claro – mas sem amedrontar tanto os donos da casa.

A França, campeã europeia, não vai contar com os pontos, assistências e, principalmente, liderança de Tony Parker, seu Macho Alfa. Se já não fosse duro o bastante, ainda perderam seus dois melhores pivôs: Joakim Noah e Alexis Ajinça, duas baixas seriíssimas para sua defesa, além do fogoso e criativo ala-armador Nando De Colo. Resulta que a dupla Boris Diaw e Nicolas Batum vai ter de mostrar do que é feita. Acostumados a vida toda a escoltar Parker – e outras estrelas como Roy, Lillard, Nash, LaMarcus, Duncan, Stoudemire etc. em suas carreiras –, os dois agora têm de canalizar todo o seu talento como referências primárias. Era para os Bleus estarem no topo da pirâmide dos favoritos, mas eles acabam rebaixados ao segundo escalão.

Mesmo nível em que aparece a Lituânia não tinha o estourado ala-pivô Linas Kleiza, cestinha que, quando em forma, pode ajudar qualquer time do mundo. Mas ainda poderia conviver com isso, já que há pivôs de sobra por lá. O problema sério foi ter perdido, de última hora, seu armador Mantas Kalnietis, que deslocou o ombro no último teste da seleção. O cara não é cerebral, não está nem entre os 20 melhores do mundo em sua posição, mas calha de ser o único do país com tarimba para liderar um time desses, a despeito de seus arroubos de loucura aqui e ali. Basicamente: era o jogador que os lituanos não podiam perder.

Šarūnas Vasiliauskas tem as cartas lituanas em mãos: foi o único armador que sobrou no elenco

Šarūnas Vasiliauskas tem as cartas lituanas em mãos: foi o único armador que sobrou no elenco

Na Argentina, a lamentação fica por conta da ausência de Manu Ginóbili, primeiro, e de Carlos Delfino, em segundo. Manu tentou de tudo para se alistar, mas o Spurs disse não, preocupado com a recuperação de uma fratura por estresse na perna. Delfino nem jogou a temporada depois de passar por uma cirurgia no pé direito. Os dois eram basicamente as únicas opções seguras de pontuação no perímetro para Julio Llamas, que agora se vê com um elenco desbalanceado – Scola, Nocioni e Herrmann jogam basicamente na mesma posição hoje em dia.

Já está bom?

Nada, tem muito mais.

Lorbek poideria dar uma baita ajuda para Goran The Dragon não fosse o joelho estourado

Lorbek poideria dar uma baita ajuda para Goran The Dragon não fosse o joelho estourado

A Eslovênia poderia ter um baita time, mas, por motivos diversos, seja de disputas de ego ou lesões, vai com uma equipe remendada para o Mundial. Enquanto Goran Dragic estiver inteiro, eles terão chances. Mas o fato é que sua cotação nas casas de apostas seria mais elevada se o pivô Erazem Lorbek (que não fez uma boa temporada pelo Barcelona, mas ainda é um craque) tivesse pedido dispensa e se Dragic, Beno Udrih e Sasha Vujacic levantassem a bandeira de paz. Boki Nachbar ainda poderia ajudar, caso não tivesse se despedido da seleção.

Por falar em despedidas e seleções balcânicas, bem que o veterano e ainda produtivo Zoran Planinic poderia dar uma forcinha para sua Croácia. Ainda na região, a Sérvia não vai poder contar com o jovem armador Nemanja Nedovic, lesionado, e com o ala Vladimir Micov, que brigou com o técnico. São coadjuvantes, mas estariam entre os 12 num cenário perfeito.

Se a Grécia ttivesse Vassilis Spanoulis entre seus convocados, também teria subido alguns postos na lista de candidatos ao pódio, mesmo que Dimitris Diamantidis siga aposentado de competições Fiba. Kostas Koufos e Sofoklis Schortsanitis também deixariam o garrafão helênico muito mais pesado, com o perdão do trocadilho. A arquirrival Turquia não é confiável, mas se tornaria mais forte com Ersan Ilyasova formando uma bela linha de frente com Preldzic e Asik. Hedo Turkoglu? Nem levaria, mas fica o registro.

Mesmo meu candidato preferido a azarão do Mundial, Porto Rico, tem seus problemas. Há quem julgue que o gigante PJ Ramos não faça falta – é certamente o caso do técnico Paco Olmos, que se recusou a chamá-lo –, mas não há como relevar a baixa do ala John Holland. Americano de ascendência porto-riquenha, ele não tem muito cartaz neste mundão Fiba, mas se tornou um personagem fundamental para o time devido a sua capacidade atlética, apetite pelos rebotes e defesa. “Grande coisa”, poderia responder o técnico Orlando Antígua, da República Dominicana. “Nós perdemos o Al Horford. O Al Horford, meu craque!!!”

Al Horford poderia fazer toda a diferença para os dominicanos

Al Horford poderia fazer toda a diferença para os dominicanos

Do outro lado do planeta, a Austrália ficou sem seus dois principais jogadores: o armador Patty Mills, o explosivo reserva do San Antonio Spurs e também o cestinha das últimas Olimpíadas, operado, e o pivô Andrew Bogut, do Golden State Warriors, que já não tem mais saúde para praticar basquete nas férias.

Se você somar todos os nomes em negrito, vai ver que são mais de 20 jogadores fundamentais fora de combate, além de todas as ausências norte-americanas. Isso tira um pouco do brilho do torneio, mas abre caminho para quem chega inteiro. Mesmo assim, ninguém vai ser insano de dizer ficou “moleza” para Huertas, Splitter, Nenê & Cia. Mas que as chances aumentaram e estão aí, não há dúvida.


A Copa de basquete em números
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Giancarlo Giampietro

A Copa do Mundo de basquete começa daqui a pouco. Neste sábado, mesmo. Isso pede qualquer tipo de informação que vá processar um ou dois neurônios de gente do bem:

Tenório, o tampinha do Mundial

Tenório, o tampinha do Mundial

218 – Na verdade, 2,18 m de altura para Hamed Haddadi. O pivô iraniano é o jogador mais alto no torneio, entre 288 listados. Com 1,70 m, o armador filipino Lewis Tenorio é o tampinha oficial. Em termos de seleção, a Sérvia tem o conjunto mais alto, com impressionantes 2,04 m de média per capita. Com 1,95 m de altura, o enjoado Milos Teodosic é o mais baixo dos caras. Sim, leia isso de novo e veja lá se faz sentido! Parei.

100 – Coreia do Sul e Egito são as únicas seleções a terem 100% do elenco formado por atletas de suas ligas domésticas. Filipinas, Irã, Turquia e Angola têm 11. Nos Estados Unidos, os 12 são da NBA, mas DeMar DeRozan joga pelo Raptors. De Toronto. Waka-waka-waka.

46 – a Euroliga é o campeonato de clubes que mais representantes fornece ao Mundial, com 46 atletas já garantidos. Se você quiser incluir nos cálculos, aqueles que vão disputar o torneio qualificatório (a, digamos, Pré-Euroliga), pode subir para 49, adicionando o armador francês Atoine Diot, do Estrasburgo (e que deve ser o titular na vaga de Tony Parker em sua seleção) e a dupla Nikos Zisis e Kostas Kaimakoglou, gregos do Unics Kazan.

44 – foi em 1970, há 44 anos, a última vez em que o país anfitrião viu sua seleção comemorar o título: a Iugoslávia. O que, nos tempos de hoje, nem vale: eram vários países em um, três deles jogando a atual edição: Croácia, Eslovênia e Sérvia. (PS: se formos levar a brincadeira adiante, uma seleção iugoslava poderia ter algo como Goran Dragic, Milos Teodosic, Stefan Markovic, Zoran Dragic, Krunoslav Simon, Bojan Bogdanovic, Dario Saric, Damjan Rudez, Nemanja Bjelica, Ante Tomic, Nenad Krstic e Luka Zoric. Candidata ao título, claro.)

Marcelinho em 2002, Indianápolis

Marcelinho em 2002, Indianápolis

39 – com 39 anos, Marcelinho Machado é o jogador mais velho da competição – a seleção brasileira, aliás, tem a média de idade mais elevada: 31 anos por jogador. Machado, ao que tudo indica, também vai se tornar o jogador mais velho a entrar em quadra pelo Mundial. Basta Magnano querer. Além do camisa 4 flamenguista, o sul-coreano Moon Tae-Jong também nasceu em 1975, mas só vai fazer aniversário em dezembro. Os pivôs Daniel Santiago, de Porto Rico, e Hanno Möttölä, da Finlândia, são de 1976. Pablo Prigioni, da Argentina, Keren Gonlum, Turquia, e Jimmy Alapag, das Filipinas, são de 1977. Todos eles têm direito a vaga no senado.

38 – já a última vez que o Brasil ficou entre os quatro melhores de um Mundial aconteceu há 38 anos, em 1986, na própria Espanha. Na ocasião, a turma de Oscar perdeu a disputa do bronze para a Iugoslávia, de um certo Drazen Petrovic e um Vlade Divac, de 18 anos.

35 – sem contar os jogadores do Team USA, são 34 atletas que apresentam todos orgulhosos o CV com NBA lá no topo. Ou melhor, 34 jogadores com um contrato vigente com a maior liga de basquete do mundo. Caras como Baynes, Ayón e Blatche, que disputaram a última temporada, mas que são agentes livres no momento, ficaram fora dessa conta. A Espanha é quem mais tem, nesse sentido: seis. Incluindo o Ibaka, que fique claro.

O magrelinho Mykhailiuk entre marmanjos: 22 anos mais jovem que Machado

O magrelinho Mykhailiuk entre marmanjos: 22 anos mais jovem que Machado

18 – da mesma forma, se excluirmos os caras da seleção espanhola, temos uma dúzia e meia de atletas da Liga ACB registrados no Mundial. Dois deles são brasileiros e armadores: Marcelinho Huertas (Barcelona) e Raulzinho (Murcia). O Real Madrid, com sete convocados, é o clube mais representado no campeonato. Já contando o Chapu Nocioni, que vai substituir Nikola Mirotic na próxima temporada.

17 – anos é a idade do ala-armador ucraniano Sviatoslav Mykhailiuk, o atleta mais jovem do Mundial. A precocidade do garoto é tamanha que, em 2013, ele estava disputando o Eurobasket… Sub-16. Geralmente, os caçulinhas neste tipo de competição são pivôs, né? Como Splitter em 2002. Mykhailiuk, extremamente badalado pelos olheiros europeus, contraria essa escrita. Terminada a participação de seu país, ele vai pegar o primeiro voo disponível e se juntar ao elenco de Bill Self na universidade de Kansas.

10 – dez países que não conseguiram vaga – nem convite – ao menos viram suas ligas nacionais fornecerem jogadores para o Mundial: Alemanha, Bósnia, China, Israel, Itália, Japão, Romênia, Rússia, Suíça, Venezuela. Mercado com muito dinheiro, a China só conta com dois atletas: Pooh Jeter, americano naturalizado ucraniano, e Hamady N’Diaye, pivô senegalês que já atuou por Sacramento Kings e Washington Wizards. Desse grupo, com nove convocados, a Rússia foi quem mais cedeu.

6 – jogadores disputaram a última temporada da NCAA, o basquete universitário americano. Três são neozelandeses: Taj Webster, Robert Loe e Isaac Fotu.

Laprovíttola rubro-negro

Laprovíttola rubro-negro

2 – entre todos os inscritos, excluindo os brasileiros, apenas dois jogadores disputaram o último NBB: Nicolás Laprovittola, armador do Flamengo e da Argentina, e Ronald Ramón, armador do Limeira e da República Dominicana. Pensando no próximo campeonato nacional, mais dois gringos podem ser incluídos: os alas argentinos Walter Herrmann, grande reforço do Flamengo, e Marcos Mata, que vai para o Franca. Além disso, tem o Hettsheimeir em Bauru. Com os brasileiros Alex, Marcelinho, Marquinhos, Giovannoni e Larry, o número subiria para sete.

0 – Nenhuma seleção conseguiu subir ao pódio em todos os três Mundiais disputados nos anos 2000: os EUA, bronze no Japão 2006 e ouro na Turquia 2010, ficaram fora da edição justamente disputada em casa, em 2003. Rubén Magnano pode contar com mais detalhes o que se passou por lá. A Espanha foi ouro há oito anos, mas não ganhou medalha nas demais. Aliás, numa prova de equilíbrio, tivemos dez semifinalistas diferentes.

Para recordes históricos, esta página da Wikipedia diverte. O site Eurohoops também tem preparado um material bem legal (em inglês) do fundo do baú: os melhores duelos e as melhores finais, entre outras listas. Vale fuçar.


O fator Hettsheimeir nos três pontos
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Giancarlo Giampietro

O fato novo nos amistosos da seleção brasileira rumo ao Mundial de basquete é a versão gatilho-de-três de Rafael Hettsheimeir. O pivô, que primeiro teve de disputar o Sul-Americano para, depois, garantir sua vaga na seleção principal, se transformou aparentemente no principal arremessador de três pontos de Rubén Magnano.

Quer dizer, pelo menos em oito jogos-teste.

É uma amostra muito pequena de partidas para ficar plenamente empolgado e eleger um novo Dirk Nowitzki. O que temos, por certo, é um jogador completamente confiante, se posicionando aberto na maior parte do tempo em que está na quadra, flutuando no perímetro, pronto para fazer o disparo.

Marcelinho Machado mostra para Hettsheimeir aonde receber o passe. : )

Marcelinho Machado mostra para Hettsheimeir aonde receber o passe. : )

Não se configura uma aberração, todavia.

Rafael vem realmente trabalhando esse fundamento, e não é de agora. Basta dar uma espiada em seus números desde que migrou para a Europa, para constatarmos que este elemento faz parte de seu repertório. Já tinha, vejam, um volume alto de tentativas sete anos atrás. Dependendo do clube por onde passou, a quantia pode ter variado, mas estavam lá os arremessos.

Numa já longínqua temporada de 2005-06 pelo CB Vic, egresso do Ribeirão Preto, o brasileiro começava sua longa trajetória Espanha, na LEB 2 (hoje LEB plata, terceira divisão  do país), com 29 arremessos de três em 25 partidas. Média de 1,16 por jogo e aproveitamento de 37,9%. No ano seguinte, com mesmo clube e mesma competição, foram 79 arremessos em 43 partidas (média de 1,83 e 35,4%).

O bom rendimento (geral) pelo clube catalão lhe valeu uma promoção. Subiu um degrau para disputar a LEB oro (segundona), defendendo o CE Lleida em 2007-08. Aparentemente, seu treinador de então, Eduard Torres, não gostava muito dessa ideia de pivô aberto – ou precisava do brasileiro no poste baixo, mesmo. Em 36 rodadas, ele tentou apenas sete chutes de fora. Não demorou, contudo, para que ganhasse o sinal verde novamente: 42 tentativas em 36 compromissos, mas com um aproveitamento bem baixo (23,8%).

O Lleida foi rebaixado para a quarta divisão espanhola, a EBA, por conta de problemas financeiros, e Hettsheimeir escapou dessa ao acertar com o Zaragoza, matendo-se na LEB. De todo modo, já significava mais um salto, uma vez que se tratava de um clube mais relevante. É verdade que a equipe havia acabado de cair. Porém, sempre foi mais habituada a jogar na elite espanhola, para a qual já voltariam em 2010-11.

O pivô, porém, sofreu uma lesão e ficou fora de ação por meses. Quando voltou, teve sorte: acabou cedido por empréstimo por um mês para o Obradoiro, pelo qual faria sua estreia na Liga ACB. Disputou 11 jogos pelo time (que hoje conta com Rafael Luz) em fevereiro. Foi muito bem, mas atuando nas cercanias da tabela. No ano seguinte, novamente pelo Zaragoza, já estava na Liga ACB em tempo integral, e também foi mais contido no perímetro, com dez arremessos em 34 jogos. Em geral, foram dois anos em que o tiro de fora esteve em segundo plano.

Hettsheimeir nos tempos de Zaragoza: grande fase

Hettsheimeir nos tempos de Zaragoza: grande fase

Foi ao final deste campeonato, aliás, que ele mostraria seu cartão de visitas para Luis Scola – e a boa parte da audiência brasileira também – no Pré-Olímpico de Mar del Plata. Turbinado depois de uma ótima Copa América, voltou para a Espanha para fazer a melhor temporada de sua carreira. Estava novamente assanhado no perímetro, tendo praticado bastante nas férias, ainda que não tenha apresentado um bom rendimento imediato: 56 arremessos em 33 jogos (1,69 por jogo e 33,9%). Acabou, também, sofrendo uma lesão no joelho, que lhe tiraria das Olimpíadas.  De qualquer forma, receberia sondagens da NBA e acertaria com o Real Madrid.

Hettsheimeir jogou no Real e no Unicaja Málaga nos últimos dois anos. Dois clubes de ponta da Europa, no qual infelizmente não teve muito tempo de quadra. Aí é uma situação difícil: qualquer arremessador precisa de ritmo, confiança e, claro, alguém que lhe passe a bola para produzir. Batalhando por um espaço na rotação, o brasileiro ainda tentou marcar presença como um pivô aberto, mas sem muito sucesso. No total, contando jogos de Euroliga e ACB, arriscou 107 arremessos de fora em 69 jogos (1,55 por jogo e 32%).

Na hora de processar tantos números, como em qualquer esporte, é preciso encarar o contexto. Cada equipe funciona de um modo diferente, tanto na tática quanto na combinação dos diversos talentos de cada elenco. Há uma referência interna que vá chamar uma dobra e abrir a quadra para o chute? O armador é um fominha? O time joga em transição, apostando nos arremessos rápidos e equilibrados, não importando de qual ponto da quadra saia? Etc. Etc. Etc.

O que vemos, de qualquer forma, é que Hettsheimeir invariavelmente procurou pontuar do perímetro, tentando fazer disso um diferencial em seu jogo. Vale destacar que, na Europa, o stretch 4 (ou 5) – o pivô aberto – já é utilizado há tempos. O objetivo primário desse movimento é espaçar a quadra, em vez de ficar com dois cones parados nos arredores do garrafão, congestionando o setor. Isto, claro, se o seu time não tiver um ataque inventivo, dinâmico, com boa movimentação fora da bola. Tipo o Brasil de Magnano.

Pelos últimos trabalhos com a seleção brasileira, está claro que o argentino vê muito valor num pivô que possa chutar de fora. Depois de anos e anos escalado basicamente como um lateral, Guilherme Giovannoni foi, enfim, aproveitado na seleção desta forma no último Mundial e em Londres 2012. No ano passado, depois de um período de treinos com sua supervisão e muito incentivo, Lucas Mariano desandou a arriscar de três pontos na Universíade – com resultados desastrosos, mas que melhorariam na sequência da temporada pelo Franca, pelo qual mandou ver 3,8 arremessos no último NBB, com 35,1% de acerto.

Agora temos Hettsheimeir cumprindo essa função tática. Algo que não aconteceu no ano passado durante a desastrosa Copa América e que tampouco vimos durante o Sul-Americano de julho na Venezuela. A diferença é que, nesses dois torneios, sem a cavalaria da NBA, ele era, na real, a principal esperança de pontuação interna da seleção. Ao lado de um Splitter ou de um Nenê em forma, vira opção secundária. E bem afastado da cesta. Veja só uma coleta de seus dados como arremessador nos oito amistosos que o Brasil fez até aqui:

Hettsheimeir: amistosos de 2014

Do jogo para o México em diante, Hettsheimeir não hesitou, hein? Se descontarmos os três primeiros amistosos, foram em média cinco arremessos de três por jogo, com sucesso, pelo que podemos ver. Levando em conta, porém, os números de sua carreira, é razoável ponderar se esse rendimento é sustentável. De novo: são poucos jogos para julgarmos o pivô como o maior chutador da paróquia. Não quer dizer que ele não possa fazer. Afinal, ele está fazendo. Também não significa que ele não possa melhorar de um ano para o outro. Pode, sim, ainda mais se estiver trabalhando tão duro conforme o relatado – sem contar o fato de que houve uma mudança no posicionamento de seus chutes em relação ao que vi nas últimas duas Euroligas: muito mais na zona morta do que frontal à cesta (menor distância, maior probabilidade de acerto). Só não sei se é prudente esperar que ele vá produzir desta maneira. Se mantiver o ritmo, Magnano tem uma belíssima arma ao seu dispor. Na seleção, a consequência pode ser uma possível redução drástica no uso de Giovannoni, que torceu o tornozelo e pode ter perdido seus minutos nessa. Acontece.

A fotinho de Hettsheimeir vai ser distribuída de vestiário em vestiário se o volume de três pontos seguir elevado desta maneira

A fotinho de Hettsheimeir vai ser distribuída de vestiário em vestiário se o volume de três pontos seguir elevado desta maneira

Por outro lado, durante uma competição, o estudo de cada seleção começa a se intensificar. Se Hettsheimeir virar bola cantada, como vai reagir? Contra a Lituânia, ele acertou três tiros de três consecutivos no primeiro tempo. No segundo, os marcadores correram desesperados em sua direção para desencorajá-lo. Em algumas situações, teve paciência para fazer o passe e ver o ataque brasileiro aproveitar um corredor aberto (causa e efeito). Mas também desafiou as contestações e errou três de seus próximos quatro chutes. Obviamente que seu aproveitamento é muito maior quando está com os dois pés plantados e com espaço para projetar a bola. Sabemos também que ele não é um dos pivôs mais ágeis ou explosivos, com dificuldade para por a bola no chão e executar em movimento, em progressão.

Qualquer jogador que acerte acima de 40% nos disparos de fora já tem de ser vigiado. Agora, se isso vem de um pivô, a defesa adversária vai ter um problemão para resolver.  Por exemplo: como fará suas coberturas no pick-and-roll? Se você puxa alguém do lado contrário para fazer frente ao mergulho de Splitter, vai pagar pra ver e deixar Hettsheimeir livre da zona morta? Se um de seus pivôs tiver de sair para contestá-lo longe do aro, como fica o rebote? Se o pivô e seus companheiros girarem a bola, sua rotação está coordenada para perseguir cada oponente, sem quebras? Os técnicos são obrigados a fazer cálculos e tomar decisões desagradáveis.

Pensando nesse tipo de desequilíbrio, a NBA abraçou essa tendência europeia e a transformou em uma coqueluche que agora ganha evidência na seleção brasileira. Rafael batalhou para ganhar esse status e terá um grande palco para mostrar o quão refinada está realmente sua habilidade. Em Bauru, a torcida assiste com um conflito de interesses. Dependendo da resposta que grandão der, pode ser que eles nem o vejam usar a camisa do time nesta temporada.


Um giro rápido pelas 24 seleções do Mundial
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Giancarlo Giampietro

A Copa do Mundo está chegando, faltam só cinco dias. Então chegou a hora de o blog largar a preguiça (quem dera!) de lado e entrar no clima. Enquanto as seleções ainda se estapeiam nos amistosos, publicamos aqui um giro de observações, notas, comentários ou seja lá o que forem…. sobre cada uma das seleções participantes. Vamos pôr assim: é  um guia de iniciação básico, mas nada objetivo sobre o que vem por aí:

Angola: um time em transição, mas de pura simpatia e empatia depois da breve passagem deles pelo Rio. Estamos todos na torcida por nossos irmãos, que reinam na África e também . merecem glórias e glórias internacionais, não?

Argentina: quantos jogadores Andrés Nocioni vai tirar do sério? Como Llamas vai encaixar tantos atletas similares num mesmo quinteto? Quantas vezes por jogo seremos lembrados que, sim, é uma pena que Ginóbili e Delfino não estejam listados? Há time mais velho e devagar que esse? E a renovação? E a crise política? Incrível como adoramos questionar os hermanos. Falta terminar acima deles na tabela uma vez que seja…

Austrália: quietinhos, quietinhos no paralelo 27º S, os Aussies vão montando um time de muito respeito, para agora e para muitos anos à frente (Dante Exum, este ano, só por alguns minutinhos). Choremos todos, porém, a ausência de um empolgadíssimo Patty Mills após suas jornadas de arromba com o Spurs. Por conta própria, o formiguinha atômica poderia incitar toda uma revolução na Espanha.

Brasil: Vocês sabiam que, para muita – mas muita gente, mesmo –, a seleção tupiniquim entra no Mundial como séria candidata a medalha, né? E, imagino, também sabiam que, para entrar nessa festa, a CBB desembolsou mais de R$ 2 milhões por um convite. Isso quer dizer pressão.

Coreia do Sul: confesso minha ignorância. Esperava um monte de baixinhos de 1,70m, rodeando o poste humano que atende por Ha Seung-Jin, atirando de três pontos sem parar. Pelo menos era o que meu avô me dizia. Mas, putz, nem o Seung-Jin está nessa.

Croácia: eles importaram mais um norte-americano, o que representa um sacrilégio, mas a verdade é que há uma nova geração surgindo cheia de potencial. Dario Saric já vale para agora, enquanto Mario Hezonja não deve jogar por mais que 10 minutos em média. Daqui até a próxima edição, porém, vale monitorar como estará, especialmente, o adolescente Dragan Bender. Guardem os nomes.

Egito: estão no Mundial muito mais para preencher a frase: “O time para o qual o Brasil não pode perder de jeito nenhum é o _______”. Dois rapazes têm NCAA em seus currículos, mas não esperem nem mesmo um Salah Mejri aqui.

Eslovênia: Dragic ou Dragic? Na dúvida, vai de Dragic, mesmo. Os irmãos Goran e Zoran – que não são gêmeos, apesar da foto abaixo –, vão descer a quadra a mil. Pegue todo o estereótipo que o mundo faz de armadores americanos, embrulhe e jogue no lixo. Aqui é adrenalina, e que os malas Sasha Vujacic e Beno Udih, fora da festa, fiquem muito bem de pernas para o ar.

Goran e Zoran. Ou Zoran e Goran: na época de Houston, fotografos por Daryl Morey

Goran e Zoran. Ou Zoran e Goran: na época de Houston, fotografos por Daryl Morey

Espanha: também a despedida de uma geração histórica? Difícil imaginar Pau Gasol, Navarro e Calderón reunidos daqui a dois anos no Rio. O Rudy Fernández, porém, na certa virá. Ele que é desde já o candidato a grande ator do Mundial, jogando seu topete de maneira dramática para um lado e para o outro, a cada perspectiva de pancada.

Estados Unidos: desde a retomada guiada por Jerry Colangelo, encaram seu maior desafio. E mais: em casa, só serão notícia no caso de não voltarem com o ouro para casa.

Filipinas: quais as chances de Andray Blatche abandonar o navio antes do final da fase de grupos, no caso de receber todos os seus cheques com antecedência? Eu chutaria que estão acima de 87%.

Finlândia: Os lobos. Hanno Möttölä. Angry Birds. O basqueteiro conservador mais que angry, irado. Tudo aqui: #Susijengi.

França:  há vida sem Tony Parker, JoJo e, agora, De Colo? Acho que sim. Mais uma chance para Boris Diaw mostrar que é um novo homem, com menos hambúrgueres na cintura, e para Nic Batum botar em prática seu vasto arsenal. No garrafão, Joffrey Lauvergne vai brigar por todos os rebotes, enquanto o espigão Rudy Gobert pede passagem. O pior é que, num excesso de precaução, Ian Mahinmi pode ser o escolhido. Oui, aquele.

Grécia: Vamos lá, gente, todo mundo junto: Giannis A-n-t-e-t-o-k-o-u-n-m-p-o. Giannis Antetokounmpo. Agora rápido: Giannisantetkounmpo! Em grego, “menino de ouro” deve ser uma expressão bonita.

Irã: É o show de Hamed Haddadi, e não se fala mais nisso.

Lituânia: é a terra do basquete, aonde o futebol quase não tem vez. Além do mais, pode não haver nenhum sobrenome do peso de Sabonis, Karnisovas, Siskauskas ou Jasikevicius, mas estamos diante de um timaço aqui, com uma penca de pivôs habilidosos.

México: vamos, cabrones. Campeões da Copa América. Campeões do Centrobasket. Esses muchachos estão na crista da onda, liderados pelo ainda subestimado Gustavo Ayón. Precisa ver apenas se já não chegam ao Mundial consagrados demais.

Nova Zelândia: são esforçados, e tal, mas, sem Steven Adams, não há muito com o que se distrair aqui. Que puxa. Podemos colocar assim: já houve um tempo em que eles eram verdadeiros rivais da Austrália, como o veterano Kirk Penney bem sabe. Se ele já sente saudades do Sean Marks, hoje dirigente do Spurs, imagine do Pero Cameron!?

Porto Rico: são eles que agora  desfrutam da ideia de que alcançaram a maturidade sob o comando de um estrangeiro: Paco Olmos, que já foi técnico do ano na ACB. Ao mesmo tempo, fica a impressão de que estamos a um ou dois estalos de dedo para ver Balkman perdendo as estribeiras em quadra e/ou Barea e Arroyo se pegarem pelo pescoço em disputa pela chave do carro. Se os baixinhos coexistirem em harmonia, pode ir longe o time.

República Dominicana: que faz falta o craque Al Horford, ô se faz. Mas ainda formam um time traiçoeiro, com sua turma doidinha toda vida no perímetro, com destaque para James Feldeine, um bandejeiro de primeira. De resto, fiquem de olho garotão Karl Towns, uma das maiores promessas das Américas, que vai da Espanha para o campus de Kentucky.

Senegal: aqui também não dá para fugir muito do estereótipo que todos vão evocar sobre uma seleção senegalesa. De que será uma equipe hiperatlética, com Gorgui Dieng fazendo das suas no garrafão, mas com alguns problemas no controle de bola. Que nos provem o contrário.

Sérvia: a cada torneio, de um mês para outro, temos a sensação de que eles trocam de geração – e de que estão sempre envolvidos por uma presepada. Mas sempre surge quem tenha toda a pinta, mesmo, de que pode carregar um país dessa tradição nas costas. Bogdan Bogdanovic ainda não precisa fazer isso, mas pode ser que num futuro bem próximo seja esse o seu papel.

Turquia: 98 pivôs de razoáveis para bons, incluindo ao totalmente excelente Omer Asik, mas esbarrando numa armação precária, com jogadores que fazem até mesmo nossos amigos peladeiros venezuelanos parecerem mestres Gedai.

Asik, Kanter, Erden, Ilyasova, Savas, Gonlum... Grandalhões não faltam para a Turquia

Asik, Kanter, Erden, Ilyasova, Savas, Gonlum… Grandalhões não faltam para a Turquia

Ucrânia: tem tudo para estrelar as partidas mais chatas do campeonato. O índice Morfeu é altíssimo, acreditem – parabéns a quem editou o vídeo abaixo, dando alguma emoção. Com exceção de Viacheslav Kravtsov (ex-Suns e Pistons), seus pivôs jogam arrastando maças de ferro de no mínimo 50 kgs no pé de apoio. Dá até dó de Pooh Jeter e Sergii Gladyr, dois caras (que tentam ser) criativos. Tudo sob a orientação minuciosa de Mike Fratello, o mesmo técnico que já dirigiu alguns dos times mais modorrentos da história da NBA nos tempos de Cleveland. Seu apelido é Czar, mas isso vem de muito antes, tá?


Brasil anula gigante e trucida o Irã; Huertas de luto
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Giancarlo Giampietro

Sim, era o Irã.

O mesmo Irã que, nas duas primeiras rodadas do quadrangular, havia perdido por apenas oito pontos (77 a 69) para a Eslovênia e por 13 para a Lituânia (80 a 67).

Obviamente, o time mais fraco do torneio amistoso. Mas não tão frágil assim com o Brasil fez parecer neste sábado numa vitória massacrante por 92 a 52. Fazendo uma subtração, temos 40 pontos de vantagem, ou cinco vezes mais o que os eslovenos fizeram.

Jogo tranquilo, até nos lances livres. Splitter: 5/5

Jogo tranquilo, até nos lances livres. Splitter: 5/5

Cada jogo é uma história, claro. Tem muito a ver também com o modo como os estilos dos oponentes se encaixam. Para falar em tática, técnica, proposta e prancheta do Irã, não tem como fugir do grandalhão Hammed Haddadi. Tudo nessa seleção gira em torno do pivô ex-Memphis Grizzlies.

Contra os eslovenos, por exemplo, ele foi um estrondo: 18 pontos, 9 rebotes e 6 assistências em 35 minutos de ação (haja fôlego!). Contra os lituanos, 12 pontos, 10 rebotes e 2 assistências em 27 minutos, sendo limitado por quatro faltas cometidas.

A bola vai para o poste (no sentido mais amplo possível), e dali ele trabalha com ela, Girando lentamente de costas para a cesta, mas com sólido jogo de pés, munheca e boa visão para o passe. Até mesmo o Brasil já tido certa dificuldade contra o cara, no Mundial de 2010 – ainda que tenha vencido por 15 pontos, só o primeiro quarto foi vencido com autoridade, e o time estava desfalcado de Nenê e Varejão.

Acontece que a seleção dessa vez fez um trabalho mais forte, até por ter quem o marque no mano a mano, sem precisar de ajuda: Nenê, que o anulou no primeiro tempo. Na etapa inicial, Haddadi teve de se contentar com 2 pontos, 3 rebotes e apenas uma cestinha de quadra em cinco tentativas. Nem o MVP do último campeonato asiático, nem sua equipe estão acostumados com números paupérrimos desses.

Com Haddadi fora de combate, caminho aberto para uma lavada de 48 a 24. Após o intervalo, as coisas não ficaram muito mais fáceis para ele. Sai Nenê, entra Splitter. Sai Splitter, entra Varejão, numa ciranda de ótimos defensores. Não passou, mesmo dos 2 pontos na partida e 4 rebotes em 24 minutos arredondados.

Se você contem o gigante, tem mais condições de contestar os chutes de fora, forçando 14 erros em 17 tentativas do perímetro (18%). Nas duas partidas anteriores, haviam matado 11 em 27 (40%).

De resto, soltinho da silva em quadra, o Brasil converteu seus lances livres (miraculosos 77% de aproveitamento, com 20/26, incluindo 4/5 de Nenê e 5/5 de Splitter!!!) e matou também as confortáveis e saudosas bolas de três pontos (49%, 10/21, com 4/6 de Marquinhos).

Muita emoção.

Marquinhos, inclusive, foi o cestinha do time, com 24 pontos em 21 minutos, na sua melhor atuação, disparada, neste ano.

As duas equipes agora vão se reencontrar em Granada, na Espanha, já com um Mundial valendo: dia 31/08, segunda rodada. Até lá, o Brasil ainda faz mais um jogo-teste contra o México, na quarta.

*  *  *

Sobre Huertas, uma nota triste: seu avô, Américo, de quem o armador era muito próximo, morreu na noite desta sexta-feira. Ele já estava internado em estado grave durante toda essa fase de amistosos da seleção brasileira. Obviamente é difícil se concentrar no trabalho – qualquer trabalho que seja – num momento delicado desses, e todas as suas recentes atuações precisam ser encaradas sob outro prisma. Ainda assim, foi para o jogo hoje, com um minuto de silêncio antes do tapinha inicial. Fica aqui uma saudação ao atleta e sua família.

*  *  *

Sobre Giovannoni: recuperado de torção no tornozelo, o ala-pivô foi para quadra pela primeira vez nestes amistosos na Eslovênia – e pela segunda em toda a fase preparatória. Depois de ter jogado por apenas três minutos contra os Estados Unidos, ele foi chamado por Magnano com 3min13s restando no primeiro quarto, para entrar no lugar de Hettsheimeir (titular ao lado de Splitter) –Varejão foi acionado apenas no segundo tempo. Ficou em quadra por 16 minutos dessa vez e terminou com 3 pontos, 4 assistências e 1 rebote, acertando 1 de 6 arremessos de quadra (1/3 de longa distância). Enferrujado.

Leandrinho foi poupado mais uma vez, se recuperando de uma inflamação na garganta.


Brasil escapa com vitória na prorrogação contra Eslovênia. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Splitter arrebentou novamente: 18 pontos, 6 rebotes e 3 assistências em 26 minutos

Splitter arrebentou novamente: 18 pontos, 6 rebotes e 3 assistências em 26 minutos

Em termos de dinâmica de placar, as coisas foram bem parecidas. Brasil abre baita vantagem no primeiro tempo e perde o controle da situação no segundo. Foi assim contra a Lituânia na véspera e contra a Eslovênia nesta sexta-feira.

Dessa vez, porém, a seleção brasileira escapou de quadra com uma vitória por 88 a 84, na prorrogação. Na casa do adversário, diga-se.

Os rapazes de Magnano chegaram a ter 19 pontos de vantagem no princípio do terceiro período, mais precisamente com 49 segundos jogados na parcial, com uma cesta de Anderson Varejão (48 a 29). Com 2min33s jogados, o placar era de 48 a 32. Ao final do período, a diferença já havia praticamente evaporado: 52 a 47.

A história, nesse sentido, foi praticamente a mesma. Mas o modo como chegamos a esse drama todo.

Contra lituanos, o Brasil construiu uma boa vantagem com base num ataque balanceado e nos disparos de longa distância de Rafael Hettsheimeir. Contra eslovenos, foi a vez da blitz. Aquela marcação bastante pressionada que Magnano instaurou na equipe há uns dois Carnavais e que, estranhamente, não vinha sendo muito aplicada neste giro de amistosos.

Larry Taylor foi o destaque aqui, infernizando a vida dos reservas anfitriões e até mesmo de Goran Dragic. O norte-americano forçou uma série de turnovers dos adversários, fez desarmes e desvios que certamente não lhe foram computados na tábua de estatísticas, mas que desestabilizaram o rival. Diversas cestas fáceis em contra-ataque resultaram deste abafa.

Raulzinho também teve um papel importante nesse abafa – e aqui cabe uma destaque: os melhores momentos brasileiros em Ljubljana até agora vieram com a dupla de armadores em quadra.

Nenê foi dominante na primeira etapa, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque e na defesa

Nenê foi dominante na primeira etapa, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque e na defesa

Os dois baixinhos mordiam, mais adiantados, e Nenê se movimentava de modo excepcional na cobertura, fechando corredores. Foram computados três tocos para o pivô no jogo, mas sua influência também foi muito além do que mostra a linha estatística. No primeiro tempo, sua atuação foi verdadeiramente primorosa.

No segundo, contudo, essa pegada não viria a se repetir – e também nem dá para esperar/cobrar que ela se sustente por uma longa sequência. O que é bom também. Para mostrar que mais e mais ajustes são necessários a pouco mais de uma semana da estreia no Mundial.

Dessa vez, a defesa brasileira permitiu que a Eslovênia trovejasse em quadra com suas cestas de três pontos. Depois de anular os donos da casa no primeiro tempo neste quesito, levando apenas um disparo em 11 tentativas, no segundo tempo foi permitido uma farra daquelas.

A Eslovênia terminou a partida com 13/28 (43%), que, por si só, já é um número bastante elevado. Descontadas as falhas dos primeiros 20 minutos, os caras mataram 12/17 nos 25 minutos restantes, para um 70% de embasbacar e atormentar – algo diferente do que aconteceu contra a Lituânia também, que usou muito mais os movimentos interiores.

Algumas bolas foram contestas, é verdade. Outras foram para trás da linha da NBA. Mas em geral a marcação chegou muito atrasada, isso quando chegou. Os esloveno se liberavam com corta-luzes simples em cima da bola ou com movimentação no lado contrário. Destaque para Klemen Prepelic (21 anos e espevitado que só), que converteu por conta própria 6 em 8 para liderar a remontada. Prepelic é uma figura emergente no basquete europeu, mas já vem chamando a atenção por sua seleção. Parece que os brasileiros não o conheciam muito bem.

E o mais preocupante, na verdade, foi a demora para tirar o ala de ação – e a demora em geral para a equipe reagir ao que se passava em quadra. Foi apenas na prorrogação que ele passou a ser vigiado de modo adequado, a ponto de ser sacado da partida.

Nesse ponto, vale aprofundar:

– Foi o segundo jogo consecutivo em que o Brasil tomou um vareio a partir do intervalo; isto é, a partir do momento em que o treinador adversário teve a chance de conversar com seus atletas e refazer sua estratégia diante do que viu na etapa inicial;

– Magnano simplesmente não conseguiu estancar as coisas a partir daí; a Eslovênia venceu o terceiro período por 21 a 9. Num intervalo de nove minutos, o time local marcou 21 pontos e levou apenas quatro. Se estendermos a contagem até os primeiros quatro minutos do quarto final, a contagem ficaria em 33 a 8, quando os eslovenos abriram oito pontos de vantagem no marcador (62 a 54). O ataque era sofrível, novamente sem inventividade nenhuma, num problema recorrente;

– o time brasileiro é um dos mais experientes daqueles que vão entrar no Mundial; vai estar muito provavelmente entre os cinco, ou talvez até entre os três mais velhos do torneio.

Pois bem: se os eslovenos abriram oito pontos e ainda perderam, quer dizer ao menos que o Brasil não se perdeu por completo no sentido emocional e soube batalhar de volta a partida. E como?

Fazendo aquilo que nunca deve perder de vista: explorar seu jogo de pivôs. Esse é o ponto forte de um time que pode revezar Splitter, Varejão e Nenê (aquele que saiu do banco desta feita). E não adianta usá-los em abordagens simples de costas para a cesta. Tem de se usar sua mobilidade e inteligência, aproveitá-los em movimento para fazer estragos. Ainda mais contra um time que definitivamente não tem pivôs de ponta.

Juntos, nos seis minutos finais, Splitter e Varejão fizeram 13 dos 18 pontos da seleção. Os últimos deles num tapinha salvador do capixaba a um segundo do fim.

Aliás, uma cesta merecida em diversos sentidos: não só premiar o jogo interno, como também para premiar um o basquete de Varejão, daqueles caras que fazem de tudo para levar um time ao triunfo, mesmo que não brilhe tanto assim para as câmeras. O pivô havia desperdiçado dois lances livres com 19 segundos para o fim, mas deu um jeito de recuperar a bola duas vezes e garantir a porrogação.

No tempo extra, o time soube proteger sua cesta de maneira coesa e abriu seis pontos em 1min27s de ação (80 a 74). Marcelinho Machado foi para a linha de lances livres em diversas ocasiões e ainda acertou um raríssimo chute de longe para anotar seis pontos.

O Brasil tem agora quatro vitórias em sete jogos preparatórios. Neste sábado, vai testar sua inconstância contra o Irã, ainda na Eslovênia.

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A Eslovênia é um time de respeito, mas, sinceramente, corre muito por fora no Mundial se formos falar em medalha. Desfalcado (para variar…), o time está uns dois degraus abaixo da Lituânia, por exemplo. Depende muito da criatividade e agressividade de Goran Dragic e dos disparos de três. Sem Erazem Lorbek e Gasper Vidmar, seu jogo de pivôs inexiste. Splitter e Varejão os esculhambaram com 34 pontos e 14 rebotes. Ponha os números de Nenê aí, e os três pivôs brasileiros tiveram 42 pontos e 17 rebotes.

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Dragic, aliás, vem sendo poupado em alguns amistosos. Entrou em quadra com uma comprida proteção no braço esquerdo. Em determinado momento, depois de ser desarmado em seguidas ocasiões por Larry e após um pedido de tempo, voltou para quadra sem a braçadeira. No segundo tempo, foi muito melhor. Não parece estar 100% indo para o Mundial. O que não tira os méritos da pressão estabelecida pelo armador bauruense.

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Ah, Leandrinho não jogou, por conta de uma inflamação na garganta. Sem o ligeirinho, a relevância de Machado na rotação de perímetro de Magnano cresceu. É algo para o qual a seleção está preparada para o Mundial, numa eventualidade? O veterano flamenguista não teve a tarde dos sonhos nos arremessos mais uma vez (4/11, só 2/7 para três), mas terminou com 13 pontos, sendo importante na prorrogação. O tipo de atuação que deve justificar, na cabeça do argentino, sua convocação. Giovannoni estava “fardado”, mas não foi utilizado novamente.

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Huertas elevou um pouco seu padrão, comparando com a péssima partida da véspera, mas ainda está aquém do que se espera, da segurança que ele oferecia em temporadas anteriores. Foram 6 pontos, 6 assistências e mais 3 turnovers para o armador, em 32 minutos.