Com reservas, Kerr dá cartada de Jackson e Popovich em momento crítico
Giancarlo Giampietro
Os astros de Oklahoma City não estavam tão bem assim, mas a vantagem do Golden State Warriors era de apenas quatro pontos ao final do terceiro período. Quando Steve Kerr terminou de conversar com seu grupo, antes dos 12 minutos que poderiam ser os últimos de uma temporada já histórica.
Daí que mesmo o torcedor mais fanático de Oakland pode ter engasgado quando viu o quinteto que o treinador havia mandado para quadra: Shaun Livingston, Andre Iguodala, Harrison Barnes e Marreese Speights faziam companhia ao brasileiro Leandrinho. Nada de Steph Curry, Klay Thompson ou Draymond Green. Barnes, um fracasso durante a série, era o único titular presente.
Kerr havia pirado?
Não, só havia seguido uma página de tantas lições que anotou nos tempos de jogador de Phil Jackson e Gregg Popovich, dois dos treinadores mais vitoriosos da NBA. Talvez tivesse se lembrado até mesmo daquela noite de 3 de junho de 2003, quando ele estava do outro lado: como um jogador sentado na ponta do banco, mais como espectador.
Quando o San Antonio Spurs se viu em situação complicada pelo Jogo 6 da final do Oeste de 13 anos atrás, Gregg Popovich recorreu ao veterano tetracampeão da liga. O Dallas Mavericks vencia por 13 pontos. Fez a diferença com seus chutes de três e viu o Spurs reagir e acabar com a série para ir à final da liga e conquistar o quinto título de sua carreira.
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Assim relatou a Associated Press: “Steve Kerr foi um homem esquecido pela maior parte dos playoffs. ‘Tenho 37 anos. Sou lento. Não sou um defensor muito bom’, disse Kerr, explicando por que o técnico o havia mantido na ponta do banco. Kerr entrou no jogo com apenas 17 minutos pelas finais e um total de zero cestas.”
Tony Parker estava doente. Speedy Claxton não estava jogando bem. Pop recorreu a Kerr e disse para que o veterano chutasse sem dó. Foi um bombardeio, no qual acertou quatro bolas de longa distância, somando 12 pontos em 13 minutos. “Foi só atirar para cima para ver o que acontecia. Esta é uma das melhores noites da minha carreira, bem ao lado de tudo o que aconteceu em Chicago”, disse, pouco antes de se aposentar.
Numa série de playoff, cabe às comissões técnicas reagirem rapidamente, em menos de 48 horas, para tentar ajudar seus atletas. Encontrarem respostas, os chamados ajustes. No caso do Warriors, era pela sobrevivência pela final do Oeste.
Dente tantas opções discutidas e executadas, um maior papel para a segunda unidade foi surpreendente, quando nem mesmo seus All-Stars estavam conseguindo resistir ao poderio atlético e defensivo de OKC. Então não dava para segurar ao menos Thompson como referência ofensiva no lugar de Barnes? Kerr entendeu que não. Que precisava dar um descanso maior aos seus principais atletas e ao mesmo tempo tentar ganhar algo de novo.
Não dá para saber se o Mestre Zen ou Pop fariam o mesmo, nessa situação específica. Mas suponho que tenham ficado no mínimo positivamente surpresos pela coragem de seu antigo discípulo, para não dizer orgulhosos, depois do que se passou em quadra.
O time com Leandrinho e mais três reservas anotou oiro pontos em sequência. Quando o brasileiro foi substituído a 9min01s do fim, dando enfim lugar a Thompson, a vantagem era de dez pontos. Levou mais um minuto para que Curry e Draymond voltassem, no lugar de Livingston e Barnes, e aí eles tinham de proteger uma liderança de 12 pontos (95 a 83). Isso mostrou confiança de Kerr em seu sistema, mesmo enfrentando tanta dificuldade na série contra um adversário que vem causando muito desconforto.
“Se o sistema dos triângulos estivesse funcionando, o Tex (Winter, mentor, amigo, guru) costumava dizer que a equipe deveria jogar junto, como se fossem os cinco dedos da mão. Nos primeiros anos, eu usava uma rotação de dez jogadores, sendo cinco titulares e cinco reservas, para garantir que os suplentes tivessem tempo suficiente para entrar em sintonia com o resto da equipe. Na reta final da temporada, eu reduzia a rotação para sete ou oito jogadores, mas tentava usar outros reservas sempre que possível. Às vezes os reservas podem ter um impacto surpreendente”, escreveu Jackson em seu último livro, “Onze Anéis”.
O torcedor do Bulls vai se lembrar sobre como Phil, se descontente ou inquieto, não hesitava em mandar para o jogo um quinteto como John Paxson, Trent Tucker, Scottie Pippen, Scott Williams e Stacey King, segurando-os até que Jordan desse uma boa respirada.
Popovich já foi muito mais drástico, e não faltam casos nesta era dourada interminável de San Antonio em que o técnico apostou/prestigiou/premiou quintetos alternativos. Quantos não foram os jogos em que os reservas do Spurs conseguiram uma reação improvável, encostaram no placar e, quando todo mundo poderia supor que a cavalaria retornaria, o técnico mantinha os Cory Josephs e Beno Urihs em quadra?
Na sua cabeça, servia não só como lição para os titulares, por estarem ‘fazendo o certo’, como também dava rodagem e confiança a atletas que eventualmente seriam exigidos em situação de pressão nos playoffs.
“Um dos trabalhos mais difíceis de um treinador é impedir que os operários enfraqueçam a química da equipe. O técnico Casey Stengel, do New York Yankees, costumava dizer: ‘O segredo é manter os caras que te odeiam longe daqueles que estão indecisos’. No basquete geralmente quem te odeia são aqueles que não estão recebendo tanto tempo de quadra como acham que mereciam. Tendo sido um reserva, sei o quanto grave pode ser se você está definhando no banco durante um jogo crucial. Minha estratégia era manter o pessoal do banco o mais engajado possível”, escreveu Jackson.
É um desafio, mesmo, que vale também para Billy Donovan com o Thunder. Na derrota desta quarta-feira, Dion Waiters saiu zerado, Enes Kanter fez apenas um pontinho em seis minutos, mas I técnico ao menos ‘ganhou’ um empolgado Anthony Morrow, que acertou todos os seus quatro arremessos e terminou com 10 pontos em sete minutos.
Para OKC, porém, é sabido que Durant e Westbrook vão concentrar a pontuação. Pelo Golden State, porém, a despeito da capacidade incrível de chute de Curry e Thompson têm, uma distribuição mais igualitária sempre foi vista como ideal. Tanto que na temporada regular nenhum titular de Kerr teve mais de 35 minutos em média.
Em entrevista a Sekou Smith, do NBA.com, Klay Thompson exagerou e disse que os reservas teriam nível para formar um time de playoff até. “Há várias noites em que os titulares não estão produzindo, e nossa segunda unidade é boa o bastante para reagir. Eles são bons o bastante para ir aos playoffs para mim”, afirmou. Em Washington, depois de o Wizards fazer duas partidas equilibradas com o Warriors, John Wall deu o braço a torcer e afirmou que “esta segunda unidade pode te matar”. Nesta final de conferência, todavia, não estava rolando. “Não estávamos conseguindo render na série”, disse Speights, cestinha da segunda unidade com 14 pontos. “Mas fomos bem desta vez e agora temos muito dessa confiança para o próximo jogo.”
Que Speights esteja se sentindo bem, é uma ótima cartada para Kerr, para espaçamento de quadra ou ataque dentro do garrafão. Entre os demais suplentes, pensando no Jogo 6, o técnico poderia encontrar uma forma de reativar Shaun Livingston, que até agora só anotou 22 pontos e 11 assistências em cinco partidas, acertando 39,2% dos arremessos. O mais importante é que, se forem utilizados novamente, que rendam bem como grupo, a começar pela defesa. Se Enes Kanter estiver em quadra, melhor. Poderiam correr mais.
E quanto aos brasileiros? Bem, foi o que o chapa Renan Prates perguntou durante a vitória desta quarta. Leandrinho saiu zerado em sete minutos, mas fez boa partida, dando energia à equipe, especialmente na defesa. Esforço sempre bem-vindo por parte de um atleta que fez carreira na liga muito mais pelo talento como cestinha. Não por acaso, o único registro estatístico feito em seu nome foi o de duas roubadas de bola. Do ponto de vista do ligeirinho, o importante foi ter jogado quando havia partida ainda por ser disputada.
Quanto a Anderson Varejão, a situação é a mesma de Cleveland. Complicada e para Ruben Magnano refletir. Seria injusto avaliá-lo em seus minutos limitados. Em Oakland, o pivô capixaba foi o único jogador do Warriors que saiu de quadra com saldo negativo. Kerr tinha esperança de que o veterano, de carreira excelente, seria útil, valioso no garrafão. A resposta até agora ficou aquém do que diretoria e técnicos imaginavam. Difícil que seja acionado novamente, até pelo cenário ainda crítico.
O Warriors está numa final de conferência, lutando contra a eliminação. Kerr chamou a galera do banco, assumiu riscos. No início do quarto período, teve sucesso, por três minutinhos, conseguindo uma vantagem que fez a diferença. Ao contrário do que aconteceu há 13 anos, quando o Spurs contou com um veterano enferrujado para fechar a série, a equipe californiana ainda precisa de mais duas vitórias. Não é sempre que os reservas vão conseguir encarar um quinteto que tenha Durant como adversário. Ainda mais fora de casa.
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