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E coube a Shilton o lance do bicampeonato do Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Shilton comemora ao lado de Neto: parceria desde Joinville

Shilton comemora ao lado de Neto: parceria desde Joinville

Shilton terminou a final do NBB 6 zerado, sem nenhum pontinho que seja. Errou os dois arremessos que arriscou. De resto, cometeu mais faltas do que pegou rebotes (4 contra 3, respectivamente). E ainda cometeu dois desperdícios de posse de bola em apenas 14 minutos em quadra.

Afe!!! Digamos que não é a melhor linha estatística.

E, ainda assim, o pivô pode ter dado o terceiro título ao Flamengo, para você ver como funcionam as coisas.

Restavam menos de 40 segundos quando Marcelinho saltou para chutar de três pontos (claro) e talvez se consagrar. Os rubro-negros tinham dois pontos de vantagem contra o Paulistano. Era a chance de matar o jogo, garantir o caneco. Deu aro. Enquanto a bola respingava no aro, imagine a apreensão dos torcedores. O time visitante teria a chance de buscar o empate ou até mesmo uma virada, naquela que seria talvez a última posse de bola da partida.

Mas Shilton limpou a barra do ala-armador. Capturou seu único rebote ofensivo. O lance do jogo. A bola voltou, então, para as mãos de Machado, e aí, sim, o cara pôde selar a fatura ao balançar o barbante nos lances livres – foram deles os último quatro pontos, terminando com 16, sendo mais uma vez o cestinha em quadra, ao lado de Meyinsse.

Ao final do jogo, para o SporTV, o veterano afirmou que, para ser campeão pelo Fla, importava a “raça e a entrega”. Depois disse que a técnica até importava, mas deu a entender que isso ficaria em um segundo plano. Não sei bem se concordo, mas, aqui, pegamos a fala empolgada do camisa 4 como o gancho ideal.

Se for para falar de entrega, alma, dedicação, essas coisas, Shilton vale como símbolo. Talvez o símbolo ideal nessa linha – Olivinha tem mais recursos e não pode ser enquadrado nessa categoria.

Shilton x Pilar

Shilton x Pilar

É um cara para lá de discreto em quadra, não consegue se acertar com a linha de lance livre, não vai ameaçar ninguém no jogo de mano-a-mano com a bola, mas entra na lista daqueles personagens de que todo time precisa.

Dificilmente vai aparecer nos melhores momentos, ou ser chamado de bestial em quadra. Mas ele faz das suas monstuosidades em quadra, no famigerado e sempre subestimado serviço sujo que permite que os astros levem o brilho. Forte para burro, agressivo, limpa a quadra com corta-luzes que machucam e ocupa seu espaço. É difícil de ser removido no garrafão e, além de tudo, tem ótimo tempo de bola para os rebotes.

Shilton não cansa de brigar, e aqui não vamos nos cansar de destacar aqueles que se alimentam das rebarbas, e dão sustentabilidade ao jogo. Para os que estão mais acostumados com a NBA, é só pensar no que Shane Battier fez pelo bicampeonato do Miami Heat. Pode até soar repetitivo. Será que já é batido escrever sobre essas coisas? Espero. Só fica o registro que não é só de Marquinhos ou Marcelinhos (LeBrons e Wades) que vive uma equipe vencedora.

Curioso que, ao lado de Marcus Vinícius Vieira de Souza, houve um dia em que Shilton era enfileirado na lista de prospectos de alas, no início da década passada. Bateu na cuca a lembrança de uma de tantas colunas sensacionais do Melk, na Folha – o melhor texto sobre basquete já publicado no Brasil. Com 1,98 m de altura (ou, vá lá, os 2,00 m apontados pelo Flamengo), mobilidade e capacidade atlética, faria sentido. Pensem em Marcus Vinícius Toledo, ex-Mogi, agora do Pinheiros. Poderia realmente ter sido um caminho, mas as lesões e o basquete brasileiro em si não o permitiram seguir essa linha.

O que não o impediu de se tornar um jogador relevante, ainda que pouquíssimo badalado. José Neto, porém, o acompanhou de perto em Joinville e gostou do que viu, a ponto de levá-lo na bagagem quando pegou a estrada para o Rio de Janeiro, acompanhando o explosivo Kojo Mensah. O ganês já se mandou para a Venezuela, mas o pivô ficou.

Agora é bicampeão brasileiro.

Zerado na final, é verdade, mas com – e graças a?– um rebote ofensivo.


Flamengo vence Paulistano em jogo duro para levar o tri
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Giancarlo Giampietro

Olivinha vibra. É um dos que adora um jogo de contato

Olivinha vibra. É um dos que adora um jogo de contato

Por anos e anos a maior crítica sobre o basquete que se pratica no Brasil foi direcionada à (falta de) defesa. Quer dizer, talvez essa tenha sido a crítica 1-A, dividindo espaço com a 1-B, valendo pelo excesso de tiros de três pontos.

Na final do NBB 6 que vimos neste sábado, na boa– mas enxutíssima – transmissão da Globo, não dá para questionar que o Flamengo venceu o Paulistano em um jogo verdadeiramente intenso, para conquistar seu terceiro título na competição, o segundo consecutivo. Não há como contestar isso.

Mas, olha, para o meu gosto a decisão foi dura até demais.

Algumas notas a respeito:

– Ao todo, tivemos 58 faltas marcadas, praticamente 1,5 por minuto de jogo;

– Segundo as contas do irrequieto Luiz Gomes, que está preparando coisa nova por aí, foram 150 posses de bola na partida. Logo, mais de 38% delas foram pontuadas por faltas;

– De todos os atletas que entraram em quadra, apenas o jovem armador Arthur Pecos ficou zerado nesse quesito – mas ele jogou apenas 1min17s;

– Dois atletas foram excluídos com cinco faltas (Pilar e Renato Cabornari), e outros cinco terminaram pendurados com quatro (Meyinsse, Shilton, Manteiguinha, Holloway e Mineiro);

– No segundo período, antes do festival dos árbitros na volta do intervalo, os dois times estavam estourados com pouco mais de quatro minutos jogados.

– Marcelinho Machado, um jogador que nunca foi o cara mais incisivo na hora de bater para a cesta, sofreu seis faltas, sempre na (positiva) malandragem, com boa movimentação sem a bola, também sabendo usar a agressividade dos adversários a seu favor;

– Foram batidos ao todo 59 lances livres.

– Ao menos não precisaram acionar nenhum paramédico ou a ambulância.

Entendo as críticas aos árbitros, que marcaram realmente algumas faltas antidesportivas fantasmas (lembro de duas contra o Flamengo, no segundo tempo, em especial aquela em que Pilar tropeça no pé de Felício, e o jovem pivô é punido). No geral, é evidente e triste o impacto da decisão tomada pela liga e sua parceira televisiva em forçar que os árbitros sejam grandes protagonistas do espetáculo.

Como se os homens do apito já não tivessem uma tarefa inglória de fiscalizar um jogo com um monte de trogloditas digladiando em um espaço reduzido, com vários fundamentos e regras para serem observados, eles ainda precisam ser tutores? Fazer mímicas e afins, em portunholês (português + espanhol + inglês), para orientar o jogador sobre o que estão marcando, quando, na verdade, o objetivo é vazar o som para o que “o amigo telespectador não perca nenhum detalhe”. Foi um convite oficial para que eles tomassem (ainda mais) parte do espetáculo, e cá estamos.

Mas há dois pontos adicionais aqui para avaliar.

Primeiro que nariz torcido para arbitragem não é um patrimônio cultural do NBB – os playoffs da NBA estão cheios causos para contar, que o diga Doc Rivers; na Euroliga chovem críticas também (na final europeia, aliás, vimos este ano 55 faltas, mas com cinco minutos a mais de jogo: teve prorrogação).

O mais importante, todavia, é a concentração nos fundamentos. Uma vez dedicados ao ato de marcar, agora o esforço dos técnicos em seus atletas precisa se voltar aos fundamentos, em como executar uma defesa agressiva, obviamente fazendo contato, mas com um pouco mais de disciplina. Mais pés, com posicionamento, menos mãos, para compensar. Na NBA, por exemplo, o Indiana Pacers tem a melhor defesa da temporada, mas foi apenas o 14º no ranking de faltas por partida (20,5 por jogo, sendo que cada jogo tem 8 minutos a mais).

Peguem, por exemplo, a falta que o ala-pivô Renato fez em cima de Marcelinho Machado a 14 segundos do fim. O time estava apenas dois pontos atrás o placar. Mas Renato, mais lento, se afobou no perímetro, tentou dar um tapa na bola, nas mãos do experiente camisa 4, e jogou um dos maiores arremessadores da competição na linha de lance livre.

A intenção aqui não é crucificar esse valente e um tanto subestimado jogador, até porque ainda tinha muita partida pela frente – digo, ainda teve tempo de Manteiguinha arriscar um arremesso terrível da zona morta e de Marcelinho converter mais dois lances livres. E, obviamente, é muito mais fácil falar a respeito aqui do conforto do sofá, em que o único barulho ao redor é o do martelo do vizinho. Desagradável, mas não mais que milhares de rubro-negros pulando feito doidos na arquibancada.

(Aliás, a pressão de uma final em jogo único, outro presente da parceria televisiva, também contribui para a pancadaria, deixando todo mundo num estado mais elevado de tensão e instabilidade.)

Segundo a reportagem da Globo, a ordem que veio do banco do Paulistano era para evitar a falta, um ponto importante. Mas ela foi feita. Talvez muito por força do hábito, reflexo.

Gustavo de Conti falou em entrevistas durante a semana sobre o poderio flamenguista no jogo de transição, uma força do time desde a temporada passada. Durante a temporada regular, o vice-líder foi presa fácil diante da melhor campanha, tomando duas sacoladas: 80 x 58 e 98 x 67, tomando em média 89 pontos por partida.

Na decisão, ficou claro que sua preocupação era emperrar o adversário. Talvez fosse essa sua maior (e única?) chance. E dessa vez conseguiu. O irônico é que, para amarrar o jogo, contou também com ajuda do próprio adversário, que também desceu o braço. O clube de São Paulo cometeu 33 faltas, contra 25 dos rubro-negros. Quanto mais faltas, mais lances livres. Quanto mais lances livres, menores as chances de se partir em velocidade – a não ser que você tenha um quarterback como Kevin Love na reposição de bola.

No jogo de meia quadra, o Paulistano conseguiu equilibrar as coisas, criando bastante em situações de um contra um com sua dupla de ágeis americanos. Em meio a tantas faltas marcadas, porém, só conseguiu usar o cestinha Holloway por 24 minutos. O que aconteceria se… Mas aí os flamenguistas nem podem deixar a fase terminar, uma vez que seu pontuador mais eficiente, o atlético-toda-vida pivô Meyinsse também jogou pouco, por 25 minutos. São dois caras que teriam tudo para desequilibrar o confronto, mas foram privados.

Os dois finalistas valorizam a retaguarda, num empenho que realmente foge do que nos acostumamos a ver em temporadas anteriores. Topam combater e ralar na defesa. Quer dizer: a mentalidade pode ser alterada. Agora é prudente dar um próximo passo.


Pinheiros aposta em Marcel, que encerra seu exílio
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Giancarlo Giampietro

Marcel, na época de São Bernardo

Marcel, na época de São Bernardo

Vocês me dão licença para voltar a uma encarnação passada e resgatar uma postagem de maio de 2012, né?

(Caceta, já se passaram dois anos!)

Foi mais ou menos assim, com algumas partes editadas, apagadas para dar um suspense:

“Você clica no link e começa a ler um artigo do grande Fulano, que tem as seguintes frases iniciais: “Eu gostaria de dizer de início que não tenho mais nenhuma pretensão a posto algum no basquete. Desisti dele em 1975, no vestiário do ginásio da Bradley University, quando me olhei no espelho e vi que seria médico. Só percebi isso em 2011, quando senti que a vida não me faria sentido sem que exercesse minha verdadeira profissão”.

Além do mais, chamam a atenção as seguintes frases:

– “Não reclamo do modo como fui tratado pelos do basquete principalmente nos últimos anos, afinal de contas, tenho que entender que minha maneira de ver o jogo não é a ideal para o basquete brasileiro. Nunca foi”.

– “Não culpo pessoas pelo tratamento quase sempre desrespeitoso que recebi por ter acreditado e lutado pelo ‘meu basquete’.”

– “Tudo o que alcancei e vivi no basquete, me deu o direito de também tratá-lo como sempre fiz: verdade acima de tudo, amor incondicional e luta pelo que acreditava ser o que sempre chamei de ‘o bom basquete’. Aquele jogado dentro da quadra, treinado à exaustão e aperfeiçoado em horas sem fim de treinamento individualizado (eu sozinho dentro do ginásio).”

De quem são as palavras destacadas? Marcel de Souza.

O novo técnico do Pinheiros.

Há dois anos praticamente exatos – faltam dois dias apenas para cravar –, saía no site Databasket a suposta despedida do basquete deste grande jogador e personalidade, uma figura inquieta do cenário brasileiro. E aqui estamos, neste sábado, repercutindo o anúncio de sua contratação, como sucessor de Claudio Mortari.

É uma agradável surpresa.

Com um elenco que vem brigando por títulos nos últimos anos, o clube paulista novamente se permite inovar ao escolher seu treinador. E diz muito sobre o basquete nacional que um estudioso declarado da modalidade, personagem histórico da seleção brasileira, possa ser considerado uma opção fora da caixa, diferente, diante da insossa dança de cadeiras que nos acostumamos a ver, com os mesmos nomes de sempre rodando fazendo ciranda, lá e cá.

Mortari foi a 'aposta' anterior do Pinheiros

Mortari foi a ‘aposta’ anterior do Pinheiros

Antes, o nome de Claudio Mortari já havia causado um certo espanto no meio, como um ser jurássico redescoberto. Não posso dizer que apreciei de modo incondicional o que sua equipe praticou em quadra nos últimos anos. Vieram títulos importantes e inéditos, resultados dignos de elite, mas com um estilo de jogo que assumiu muito das precipitações e loucuras a que já nos habituamos. De qualquer forma, sem prever exatamente o que viria a acontecer, valia a aposta.

Era um campeão mundial, oras. E, por mais que o jogo tenha mudado drasticamente em aspectos físicos, não dá para falar em “conceitos ultrapassados” neste esporte – grandes defesas e grandes ataques já existiram lá atrás. Os conceitos simplesmente são reciclados, reinventados, um instigando o outro. Em essência, o jogo é um só, com objetivos primários, em torno dos quais as diferentes cabeças vão moldar propostas, estratégias e aí, sim, se perder em pormenores essenciais para a vitória. Num cenário particular como o brasileiro, Mortari teve seus acertos e erros, não chegou exatamente a se distinguir, mas esteve longe de ser um fracasso, como tantos esperavam. Agora, de volta a um cargo administrativo, abre espaço para Marcel.

Depois de (quase) dois anos de exílio, ele retorna em uma situação que está próxima da ideal, num clube de ponta e com o qual já está familiarizado, tendo trabalhado por lá no final dos anos 90, contribuindo na transição de Guilherme Giovannoni, Marcio Cipriano e outros. A realidade do Pinheiros, em termos competitivos, porém, era outra.

Desde então, fez um belo trabalho com o São Bernardo, coordenou projetos em Jundiaí e Barueri, mas nunca teve a oportunidade de dirigir um time do NBB, por exemplo. Ele não apenas fará sua estreia no renovado campeonato nacional, como assumirá um time cheio de ambições – e com mais jovens extremamente talentosos para ajudar a lapidar.

Um Pinheiros diferente no retorno de Marcel

Um Pinheiros diferente no retorno de Marcel

É difícil entender o isolamento de um dos grandes ídolos de sua geração, mas é fácil explicar. Embora não seja afeito ao corporativismo vigente, o (ex-?) doutor ao mesmo tempo simplesmente ama o jogo  – daí que o anúncio de sua despedida em 2012 já soava um tanto duvidoso… É difícil largar a coisa, mesmo que frustrações, correria ou atropelos da vida possam empurrar nessa direção. Para quem não estava acompanhando, o craque já havia tornado a escrever Todas as Cestas(-feiras) sobre o jogo, com pauta diversificada e rica. Sem necessariamente apontar alvos, vai dar seus pitacos – e até mesmo gravar e jogar na internet um funk –, e, na vidinha pacata e arraigada do basquete brasileiro, isso não pega lá muito bem, tal como acontece com Paulo Murilo no Basquete Brasil.

Há muita gente por aí que simplesmente tem dificuldade de entender que um indivíduo possa exercer o direito de pensar por conta própria e expor aquilo que sente ou pondera sobre atos aparentemente banais como atirar uma bola ao cesto – além, claro, claro, dos muitos detalhes que precedem o chuá ou um airball. O diretor João Fernando Rossi, do Pinheiros, pelo visto, não se importa com isso. Leitor do articulista do Databasket e alguém que sabe valorizar a história da modalidade, enxergando possibilidades além do que o mercado rotineiro oferece, teve uma boa sacada.

É sempre muito cuidado com a rotina, pois ela realmente pode te engolir. Não dá para ser abelhudo a ponto de questionar a paixão de Marcel por clinicar, mas o certo é que o certificado do CRM estará sempre ao alcance.  Ao menos ele agora poderá mudar de ares um pouco, o que sempre faz bem. A expectativa fica para ver o quanto ele pode alterar, agora com os devidos recursos, o que vemos em quadra e há tempos pede uma chacoalhada.


Pilar: “Precisam olhar direito para os que jogam no Brasil”
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Giancarlo Giampietro

Henrique Pilar acredita em fase de transição no basquete brasileiro

Henrique Pilar acredita em fase de transição no basquete brasileiro

No basquete brasileiro, devido à repetição das mesmas caras, da mesma praça e do mesmo banco, o mais fácil, mesmo, é presumir as coisas e seguir no piloto automático. Acesse lá o Google Maps, peça as direções, acione o GPS, e pé na estrada. Podemos estar falando do NBB ou, no caso, da seleção brasileira, que a história é a mesma. Não importa que ainda tenhamos semifinais e uma só final para ser disputada ainda em solo nacional. Que ainda haja muito mais jogos pela frente na Europa e nos Estados Unidos. Nós basicamente já sabemos quem vai ser pré-convocado e, se tudo der certo de acordo com os planos de Rubén Magnano, quem serão, no fim, os 12 eleitos e de onde eles virão.

Há uma forte e extensa corrente que acredita que é por aí, mesmo. Que temos apenas um punhado de jogadores gabaritados, habilitados para encarar competições internacionais. Que o fiasco da seleção no último Torneio das Américas é a prova disso. Ouso discordar.

Já discutimos aqui à exaustão no ano passado, mas não custa relembrar que o técnico argentino elaborou uma lista final desastrosa, com jogadores que não se encaixavam de modo algum. Tínhamos baixinhos e pesadões em excesso, com pouca gente fazendo a ligação entre eles. Os mesmos críticos diriam e disseram: ‘Mas você acha mesmo que a troca de fulano por cicrano faria a diferença?’, como se basquete se resumisse a nomes, a grifes, e não ao conjunto que esses elementos formam. A mesma linha de indagações, imbuída de preconceito, também passa pela (falta de) experiência, visão de jogo, fundamentos e que tais de uma turma que, de fato, pouco experimentou o que se pratica lá fora.

Em sua mais recente entrevista, para o Menon, companheiro aqui da blogosfera do UOL, o mesmo Magnano chegou a me confundir um pouco, ao defender os atletas do NBB, quando, na última pergunta, o jornalista menciona o fato de o pivô Paulão ter arrebentado na competição, mesmo depois de sofrer muitas lesões nos anos recentes e de não estar na melhor forma. O argentino respondeu: “O nível do NBB não é baixo. Dois brasileiros disputaram agora o título da América”.

Dentre as muitas frases do campeão olímpico em 2004, esta pode deixar quem acompanha o discurso do treinador um pouco encafifado. Afinal de contas, no ano passado, depois da humilhação que a seleção sofreu durante a Copa América, o argentino havia dito em todas as letra algo que absolutamente rezava pelo contrário. Que sem a turma da liga norte-americana e outros da Europa não havia chance, mesmo, de pensar de modo ambicioso. É algo que não desceu bem na hora e, agora, fica ainda mais engasgado.

Primeiro porque há um abismo todo entre sonhar alto e meramente conseguir em quadra sua vaguinha para a Copa do Mundo de basquete. Entre tentar golpear o Team USA do Coach K e perder para Jamaica e Uruguai.

Né?

Mas, diante daquele que talvez seja o maior fracasso de uma vitoriosa carreira, o técnico saiu disparando, acertando muita gente no caminho, ainda mais quando usou um tom até condescendente para se referir àqueles que jogaram na Venezuela e com ele sucumbiram. Algo como: ‘Gente, nós tentamos, mas não, infelizmente, é o que temos para hoje’.

Em meio ao discurso, falou também sobre os problemas físicos que parte da delegação enfrentou por lá, é verdade, e, num torneio curto, qualquer desarranjo pode ser fatal. Como mensagem principal, no entanto, fez questão bater na tecla das poucas alternativas que lhe restavam para formar um grupo competitivo. “O maior responsável, em primeiro lugar, sou eu. A segunda responsabilidade é de todos aqueles caras que deveriam estar aqui e não estiveram, deixando a gente praticamente na mão”, afirmou, na ocasião, em entrevista ao SporTV. Seriam poucos, raros os nomes capacitados para encarar qualquer tipo de desafio, segundo a lógica. Os mesmos de sempre, não importando o que se passe em quadra.

“O que venho observando no NBB e no basquete brasileiro hoje é que está ocorrendo uma transformação”, afirma o ala Henrique Pilar ao VinteUm. “O Brasília acabou saindo e já são dois anos em que eles não chegam a uma final. Acho que existe toda uma transição de paradigmas, uma troca de geração. Estão vindo uns moleques muito bons. E a gente no Paulistano tem um time com um pessoal para quem nunca ninguém deu bola, mas que sabe que tem valor. As pessoas precisam olhar para todos os jogadores e ver o que eles têm de bom e o que não têm. Agora o que vale é observar aquilo que está se jogando, e, não, (avaliar jogador) por ter título, por sempre ter sido campeão.”

Paulistano, com uma campanha invejável desde o início do campeonato, e Mogi, em arrancada nos playoffs, para chacoalhar tantas certezas, apareceram este ano para chacoalhar algumas certezas, com elencos montados pelas beiradas, sem a grana daqueles candidatos de sempre. Pelo que noto, contudo, a tendência, ao falar sobre essas façanhas, tem sido a de valorizar o trabalho de treinadores e diretores em trabalhos que deram certo, “a despeito da referência e seus elencos de jogadores medianos, medíocres”, numa extensão de uma abordagem conformista, num ciclo vicioso, no qual as qualidades e a legitimidade dos atletas acabam sendo avaliadas, julgadas muito mais pelo que consta em seus currículos.

Pilar para a bandeja

Pilar para a bandeja, diante da boa fase de Paulão

Estão todos num beco sem saída, sentenciados à irrelevância? E o talento natural? Não conta? Não pode ser trabalhado? Como explicar a constante atração de jovens talentos brasileiros por clubes espanhóis? Se há partes interessadas do outro lado do Atlântico, obviamente não é apenas o caso de um ou outro agente estar cumprindo seu trabalho. E, pera lá, talentos só podem ser explorados até os 19, 20 anos? Ninguém pode crescer, evoluir a partir daí? E não seria justo esperar, pedir de um profissional como Magnano – e outros vencedores – algo nesse sentido?

Bom, depois de bater algum recorde de perguntas consecutivas, paramos para abrir espaço novamente para Henrique Pilar. A entrevista com ele começou com pontos específicos sobre seu time, minutos depois da vitória no quinto jogo contra Franca, mas acabou descambando para essas inquietações. Foi rápido, o bate-papo certamente pediria mais tempo, mas o interlocutor é esclarecido o bastante para engrandecer e levantar o assunto. “Acho que é começar a olhar direito.  Todo mundo aqui teve uma escola, e uma escola muito boa de basquete, podendo jogar muito bem quando tem um esquema tático armado, em que cada um saiba o que fazer. Quando existe um time como o nosso (do Paulistano), que começou e pretende ficar junto mais tempo, que tenha uma coesão”, diz o ala.

Bom, depois do que vimos na última LDB, nossa liga de desenvolvimento, não dá para escrever com tanta firmeza assim sobre o trabalho de base dos clubes em geral. Foram muitos os erros primários para atletas que ainda estão em formação, mas cuja faixa de idade em teoria já não permitira que se apresentassem tão crus assim. De qualquer forma, me chama mais a atenção a menção ao bom rendimento de sua equipe, com seus “anônimos” produzindo justamente dentro de um ambiente organizado, estruturado, no qual podem render melhor de acordo com suas características.

Neste ponto, o maior mérito de Gustavo de Conti parece estar na sua prospecção de mercado, na sua capacidade para identificar e contratar talentos sem ter o cofre mais endinheirado. Este não é o primeiro grupo competitivo que ele consegue montar às margens das grandes contratações, sem prioridade na escolha. A diferença que vejo no Paulistano 2013-2014 é uma combinação melhor de peças, formando um time, se não revolucionário, mais orgânico em quadra. “Esse foi um propósito do Gustavo”, afirma Pilar. “Até quando ele me contratou, me falou que gosta de trabalhar com caras versáteis, que podem fazer várias funções, até para (compensar) a eventual ausência de um ou outro. Desde o começo nosso time teve esse propósito, e vem amadurecendo.”

Versatilidade sempre foi o forte desse atleta. A primeira vez que o vi jogar foi há mais de dez anos, quando ele era apenas o Henrique Macia, um jovem e bastante alto armador que fazia a transição da base para o adulto do Hebraica, sob a orientação de Adriano Geraldes. Dividia, na época, seus dias com o estudos na faculdade de Filosofia, sem saber exatamente se seguiria como jogador, embora fosse evidente sua predisposição pelo esporte. Acontece que de modo algum a carreira de basqueteiro era algo garantido. O cara penou um bocado até chegar a um estágio em que sua opção de vida não pode ser mais questionada, passando pela Nossa Liga com o Londrina, ressurgindo como um ala-pivô cheio de double-doubles no ABC Paulista, quando ganhou suas primeiras e breves manchetes.

Sim, Pilar se firmou como um jogador de ponta no basquete brasileiro, se encaixando muito bem no quinteto titular do Paulistano após disputar três NBBs pelo Bauru. No duelo derradeiro com Franca, arrebentou: foram 26 pontos em 30 minutos, matando todas as sete bolas de dois pontos que tentou, somando aí os 50% em três pontos (3/6). Claro que esse não é o padrão de apresentação do ala. Os 26 pontos representaram um recorde pessoal. Na temporada, tem médias de 12,03 pontos, 3,8 rebotes e 1,8 assistência.

Nessa partida, porém, o que impressionou não foi necessariamente sua produção. Mas, sim, o modo como executou. Pilar conseguiu dosar agressividade e paciência, atacando na hora certa, como o aproveitamento de 100% no perímetro interno explicita. Embora a mecânica seja ainda um pouco estranha, sua pontaria nos tiros de fora vem crescendo ano após ano, subindo dos 33,9% de 2011 para os 44,9% deste ano, no qual está flutuando mais pelo perímetro, numa dinâmica interessante com seus intercambiáveis companheiros de equipe.

É a partir da linha de três também que Henrique pode oferecer outras facetas a uma linha ofensiva. Com 1,98m e facilidade no drible, o jogador pode cortar para o centro e enxergar a quadra por cima da defesa, conseguindo girar a bola de um lado para o outro com facilidade, a partir de seus cortes para a cesta. Um facilitador e o tipo de característica que não se vê a toda hora por aí.

No perímetro, Pilar pode ser um facilitador a mais

No perímetro, Pilar pode ser um facilitador a mais

Não estamos tratando de nenhum Andre Iguodala ou Scottie Pippen aqui, claro. Pilar tem suas limitações. Volta e meia, pode se meter numa fria em quadra, encurralado, a ponto de entregar a bola para o torcedor ou adversário. Se não estiver com os pés plantados em quadra, seu chute tende a perder eficiência. Na defesa, ainda é preciso ver como ele reagiria se fosse confrontado mais vezes por atletas mais velozes e explosivos, ainda que na sexta passada tenha feito um sólido trabalho contra Jhonatan e Eddie Basden.

A ideia, na verdade, não é defender a convocação ou eleger como salvador da pátria um atleta específico. Em meio a tantos atletas que são pausterizados numa grande massa de aparente mediocridade, Pilar vira o personagem aqui muito por minha familiaridade com sua trajetória, por tê-lo visto crescer no decorrer de uma década, e também por sua disposição a falar sem receio de pisar em calos, ciente de que, a essa altura, já não tem nada a perder.

“Prefiro nem pensar nisso”, afirma. “Não quero… Tipo, eu venho jogando pelo Paulistano, pensando no Paulistano, jogando o NBB. Penso no que tenho de jogar, não fico me iludindo, colocando coisa na cabeça que não tem por quê. Prefiro ir jogando, vendo as conquistas que temos até agora. Depois penso no que pode acontecer. Ou, depois tudo pode acontecer, e eu só acataria as circunstâncias.”

Não fiz a enquete, mas é cômodo arriscar que esse sentimento, um tanto resignado, abrange a esmagadora maioria dos 40 e tantos jogadores que iniciam as semifinais do NBB nesta segunda-feira. Afinal, entre os quatro clubes restantes, quantos de seus atletas têm sido constantemente convocados? Citei, no Twitter, Marquinhos e Marcelinho Machado. Também tem o Vitor Benite, e o Guilherme Giavoni me lembrou do Caio Torres, hoje no São José, é verdade. Fica nisso.

Agora, o pivô revelado pelo Pinheiros encara aquilo que de certa forma já é um tabu. Ser completamente ignorado não é um privilégio da turma dos azarões como Paulistano e Mogi. Que o diga o armador Fúlvio, outro que faz a festa de qualquer bloquinho de anotações, já escaldado quanto ao tema. “Para quem ainda quer ir para a seleção, já falei para não vir para São José… Aqui você pode fazer chover, que não vai”, replicou.

Será possível que nenhum dos jogadores que ainda sonham com o título do NBB seriam capaz de prorrogar suas temporadas para a disputa de qualquer Sul-Americano ou Copa América? Rubén Magnano obviamente tem conhecimento de causa e os olhos muito mais bem treinados do que qualquer blogueiro babaca. Só esperemos, contudo, que, na sua posição, o treinador tenha a cabeça aberta.

*  *  *

Abaixo, a íntegra do rápido papo com Henrique Pilar:

21: Percebe-se um constante revezamento entre você, Renato, César, com versatilidade o suficiente para atacar dentro e fora. Como funciona essa dinâmica?
Henrique Pilar: Esse foi um propósito do Gustavo. Até quando ele me contratou, me falou que gosta de trabalhar com caras versáteis, que podem fazer várias funções, até para a eventual ausência de um ou outro. Desde o começo nosso time teve esse propósito, e vem amadurecendo. Hoje estou muito bem adaptado a isso, fazendo a 3 ou a 4, com uma boa frequência, para poder chegar ao playoff realizando isso muito bem.

Além de vocês três, obviamente os americanos têm responsabilidades ofensivas e também podem atacar pelo drible. No fim, parece que se divide mais as responsabilidades em vez de se concentrar em uma ou duas referências?
Melhor, né? Se você pega um time que tem um cara para marcar só, um cara a ser batido, a gente pode resolver os problemas com mais facilidade. Agora, se você tem cinco caras na quadra, e todo mundo que entra pode definir, fica mais difícil.

Agora falando sobre sua evolução. Lembro de ver você subir pelo Hebraica basicamente como armador. Depois, você despontaria no ABC como um cara bastante voltado para o jogando lá dentro, como um pivô. Hoje, parece ter encontrado um meio termo. É por aí?
No final das contas, eu sou mais um 3. Pelo menos hoje. Agora, posso levantar vantagem também jogando como 4. Consigo marcar um 4 alto e ao mesmo tempo tendo o corte para atacar. Como armador ficaria um pouquinho complicado, acho que já passou o tempo. Exerço muito mais a função de um 3 no time, mesmo.

No Paulistano, se a gente for considerar o que se estabeleceu no mercado brasileiro, dá para falar que não há atletas de grife, mas não parece ser um impedimento para o time. Concorda? E aqui está o time na semifinal, depois de ótima campanha na temporada regular.
Tenho uma opinião formada sobre isso. O que venho observando no NBB e no basquete brasileiro hoje é que está ocorrendo uma transformação. O Brasília acabou saindo e já são dois anos em que eles não chegam a uma final. Acho que existe toda uma transição, até pensando na seleção brasileira também, uma troca de geração. Estão vindo uns moleques muito bons. E a gente no Paulistano tem um time com um pessoal para quem nunca ninguém deu bola, mas que sabe que tem valor. As pessoas precisam olhar para todos os jogadores e ver o que eles têm de bom e o que não têm. Agora o que vale é observar aquilo que está se jogando, e, não, (avaliar jogadores) por ter título, por sempre ter sido campeão. É um momento de transição no paradigma do basquete brasileiro.

Você acharia absurda a cogitação de sua convocação para a seleção ou de algum de seus companheiros?
Eu prefiro nem pensar nisso. Não quero… Tipo, eu venho jogando pelo Paulistano, pensando no Paulistano, jogando o NBB. Penso no que tenho de jogar, não fico me iludindo, colocando coisa na cabeça que não tem por quê. Prefiro ir jogando, vendo as conquistas que temos até agora. Depois penso no que pode acontecer. Ou, depois tudo pode acontecer, e eu só acataria as circunstâncias.

O técnico Rubén Magnano já deu a entender que não conta muito com a mão-de-obra do NBB em sua seleção ideal, como atletas importantes para a seleção. Acha que o talento natural do jogador em atividade no Brasil pode ser subestimado?
Acho que é começar a olhar direito para as pessoas que jogam aqui. A mídia brasileira também quer muito só criticar, trabalhar com grife, e não tem por quê. Todo mundo aqui teve uma escola, e uma escola muito boa de basquete, podendo jogar muito em quando tem um esquema tático armado, em que cada um saiba o que fazer. Quando existe um time como o nosso (do Paulistano), que começou e pretende ficar junto mais tempo, que tenha uma coesão. É difícil montar um time e já sair jogando.

E como foi o desenvolvimento, então, desse Paulistano, para se dar certo?
A gente teve a sorte de todo mundo aqui entender o que precisa ser feito. A gente conseguiu estabelecer o que cada um faz em quadra, e isso vai crescendo a cada dia no playoff. A gente sabe o que se espera e vai lá e faz, executa. Não sou só eu, é o Des(mond Holloway), o César, o Pedro, o Manteiga, todo mundo que joga aqui. Eu não fiz uma boa série, por exemplo, mas hoje fiz um bom jogo. E vai ser a mesma coisa contra São José. Se eu puder fazer cinco jogos bons, ótimo. Se não puder, alguém vai aparecer. Todo mundo pode fazer.

A última: neste quinto jogo contra Franca, vimos um clima bem mais agitado no ginásio, e está certo que a torcida deles contribuiu bastante para isso. Com o Paulistano na semifinal, fica a expectativa de que se repita? Que o Paulistano consiga encher sua casa numa metrópole como São Paulo?
Acho que a gente tem torcida, embora falem esse negócio que o Paulistano não tem torcida. Pode não ser uma torcida organizada, fanática como Franca ou São José, mas temos torcida. Andamos pelo clube e sempre tem quem nos apoie. Acho que isso é uma coisa criada para desmerecer um pouco o clube. Aqui tem também. Pode ser um pouco diferente. Mas hoje, por exemplo, a gente limitou um pouco a entrada do pessoal de Franca e colocou a nossa torcida. Não tem sentido, que eles sejam maiores que a gente. Não, a gente é maior. Se forem dar metade para eles, vão gritar mais. Mas agora, não. Agora a gente vai fazer que essa seja a política do Paulistano.


Quebra de establishment e muita torcida no NBB
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Giancarlo Giampietro

Paulistano, um dos semifinalistas inéditos do NBB 6

Paulistano, um dos semifinalistas inéditos do NBB 6

Não vou sentar aqui e escrever mil maravilhas sobre as classificações de Paulistano e Mogi para as semifinais do NBB. Não que eles não mereçam, mas pelo simples fato de não ter acompanhado tão a fundo o campeonato, à devida maneira – as razões são muitas, mas podemos dizer que tudo se resume a tempo e, de qualquer forma, o texto não é sobre lamúrias de um só residente da Vila Guarani paulistana… Paremos por aqui. Vocês podem até não acreditar, mas nunca me atraí muito pelo charlatanismo. Não adianta inventar onda, usar argumentos abstratos e incensar aquilo sobre o qual não se tem muitas certezas. Ninguém merece. O que posso dizer, então, é especificamente sobre os acontecimentos da sexta-feira de basquete nacional que se passou. Um dia que terminou, fazendo os descontos obrigatórios, com saldo bastante positivo para a liga.

A começar pela quebra do establishment. São dois semifinalistas inéditos, que não constavam realmente em nenhuma bolsa de apostas no início da jornada, assumindo os lugares de Brasília (presença cativa entre os quatro melhores nas primeiras cinco edições da competição), Pinheiros (terceiro em 2011 e 2012) ou Uberlândia (vice do ano passado, e dono de um dos maiores orçamentos do país até esta temporada, algo que vai acontecer na próxima).

Para se definir os finalistas, o jogo nem sempre vai ser disputado em alto nível, algumas limitações técnico e táticas ainda são estridentes, mas também não dá para pegar tudo num punhado só, amassar com cara de asco e atirar na lata de lixo, achando que fez uma baita cesta. Tivemos dois ginásios lotados, tomados inicialmente pela euforia, para depois fazer a inevitável concessão à tensão. Em meio a esse cenário, algo muito relevante: os torcedores visitantes também presentes e fazendo barulho. Um envolvimento, um apego muito bem-vindo.

Dos francanos, não esperamos outra coisa, mesmo que obrigados a percorrer o uma distância maior e encarar o rush de São Paulo para chegar em tempo ao Paulistano. Já a galera de Mogi acaba sendo uma positiva novidade. Obviamente que a cidade tem lastro com o basquete, mas esse vínculo andava dormente. A recente guinada do clube, subindo degrau por degrau, alcançando os holofotes dos playoffs, deixando um gigante como o Pinheiros pelo caminho, serviu para acender a chama novamente. E eles têm feito uma baderna daquelas.

Torcida, Mogi, NBB, 2014, playoffsEsse é o resultado de brincar com as emoções de gente que tenha o mínimo interesse pelo esporte em geral. Dois jogos de matar-ou-morrer em sequência? Drama puro, chama público. Ainda mais com o desenvolvimento de suas respectivas narrativas durante a fase decisiva. Para Mogi, essa história ganha até contornos de fábula, com o time terminando a temporada regular com mais derrotas (18) do que vitórias (14), superando o Macaé por apenas um triunfo para garantir a última vaga nos mata-matas, como o 12º colocado. (Explicando, para os que não acompanham a liga: as oitavas de final são uma espécie de playoff preliminar, com chaveamento envolvendo os times que terminaram entre os quinto e 12º lugares, enquanto os quatro demais aguardavam para a disputa das quartas de final.)

Cheio de confiança, Mogi bateu primeiro o Pinheiros, campeão e vice das últimas duas Liga das Américas, e, depois, Limeira, ambos de virada. Já o Paulistano estava posicionado entre os cabeças-de-chave, depois de conquistar uma surpreendente segunda colocação ao término de 32 partidas, com 23 vitórias e 9 derrotas, deixando para trás o poderoso Brasília (21-11), ficando abaixo apenas do Flamengo (26-6), intrometido entre os favoritos. Foi o time de Gustavo de Conti que assisti de perto nesta sexta, como um dos poucos que não xingava alguém no ginásio Antonio Prado Júnior.

(Aliás, aqui cabe outro parêntese: ninguém quer que o público pire na ópera ou entoe um coral creole caribenho, nem nada disso. Mas tudo tem um limite. A cena é recorrente, com o Melk já registrou em crônica lá atrás, mas não deixa de causar espanto: todos aqueles garotinhos com cachinhos angelicais de um clube de elite da maior metrópole do país sentadas na arquibancada, atacando o mundo todo, apoiados, claro, pelos berros dos pais. Do outro lado, a caravana francana não fazia por menos. Foram eles, na verdade, quem deram início aos trabalhos ofensivos, antes do tapinha inicial. E, claro, esse não é um problema exclusivo dos dois clubes envolvidos, nem do NBB e do basquete. Educação, a gente não se vê por aqui.)

Abstraindo as torrenciais indelicadezas, como Paulão, alvo predileto da gurizada, fez por muito tempo, até não aguentar mais, dava para falar em clima de frenesi total, especialmente com a arrancada francana a partir dos minutos finais do terceiro período. A torcida dos visitantes nunca parou de apoiar sua equipe e quase se viu recompensada com uma reação daquelas.

O Paulistano chegou a abrir uma vantagem de 15 pontos no terceiro período, mas viu os adversários empatarem o placar em 72 a 72, a 4min20s do fim. Nesse momento, porém, o ala Henrique Pilar, o grande nome do jogo, voltou a desequilibrar, com seis pontos em sequênca – primeiro numa cesta de três após dobra para cima de Desmond Holloway na zona morta, depois com uma infiltração que resultou em falta-e-cesta, restando 1min21s. A partir daí, Franca se perdeu em precipitações em quadra, buscando sempre o tiro de longa distância, inclusive na posse de bola seguinte ao grande lance de Pilar, saindo de um pedido de tempo, diga-se. Não teve água no chope dos locais.

Venceu o time que apresentou um basquete mais equilibrado durante a noite. De novo: falo especificamente sobre este jogo. Fossem infinitamente superiores, não haveria a necessidade de uma quinta partida e tanto sofrimento. Em linhas gerais, contudo,  o time de Gustavo apresenta mais possibilidades. Tem um ataque potencialmente mais imprevisível, sobre o qual escreveremos mais durante a semana.

Ao final do confronto, pausa para falar com alguns atletas, sendo bastante inconveniente, é verdade, em meio a amigos e familiares. Conversa vai, conversa vém, tudo muito bom, mas, quando a turma da TV não para de passar pedir licença, penando para desarmar o aparato da transmissão, estava sinalizada que era mais do que hora de subir a Augusta (veja bem: su-bir a Augusta e, não, des-cer) e voltar para casa. Deu tempo para ignorar o finalzinho do jantar da família, ir direto para o sofá, cheio de maus modos, e pegar o quarto período de Limeira x Mogi. Deu tempo para ver o time do forasteiro Paco García se comportar muito bem emocionalmente nos minutos finais, resistindo à pressão de mais um desfecho dramático, celebrando seus novos heróis. Sobre esses heróis, também ampliar a discussão na sequência. O que vale, primeiro, é registrar o surgimento deles, nem que sejam efêmeros, para Mogi das Cruzes e, quiçá, para o público um tanto invocado e não necessariamente engajado do Paulistano. Para um NBB que ainda luta por espaço, por identidade, um ótimo passo.


Análise: Leandrinho tenta se reencontrar na NBA correndo com o Suns
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Giancarlo Giampietro

Torcedor do Suns pode desenrolar o pôster do melhor 6º homem de 2007

Torcedor do Suns pode desenrolar o pôster do melhor 6º homem de 2007

“O Vulto Braileiro”, “Speedy Gonzalez” etc. Eram os apelidos que Leandrinho ganhou no Vale do Sol quando construiu sua reputação como um dos cestinhas mais explosivos da NBA em meados da década passada.

O sistema de jogo do Phoenix Suns o favorecia amplamente. O ala-armador não era obrigado a tomar decisões muito difíceis com a bola. O plano de jogo era simples. No seu caso, correr, procurar os pontos livres em quadra e esperar que a bola chegasse na pinta para um chute de três pontos ou que ele pudesse atacar a cesta. Foi sexto homem do ano e tal, vocês sabem.

Sem conseguirem chegar ao topo – mesmo que aqueles anos tenham sido encantadores –, não demorou para que todo esse sonho ruísse. O Suns caiu de favorito no Oeste a saco de pancada, num lamaçal que só. E Leandrinho se viu na condição de andarilho na liga norte-americana, passando batido por Toronto, Indiana e Boston, pelo qual sofreu uma ruptura de ligamentos no joelho, encerrando sua temporada 2012-13 de modo deprimente.

As partes agora se reencontram nesta semana, com a notícia de que o clube do Arizona está prestes a lhe oferecer um contrato de dez dias, dependendo apenas de sua aprovação em exames médicos.

Leandrinho, de novo um Sun

Leandrinho, de novo um Sun

O Suns perdeu um de seus principais jogadores, o armador Eric Bledsoe, por conta de uma torção no joelho. Inicialmente, a previsão é de que ele vá ficar afastado por uma semana. (A pressa no contato e contratação do brasileiro faz pensar se a coisa não pode ser mais grave… Acompanhemos.)

De toda forma, recuperando o raciocínio: se Mike D’Antoni está penando em Los Angeles para tentar repetir sua fórmula dos tempos dourados dos “Sete Segundos Ou Menos”, o Suns recuperou essa identidade velocista sob inspirador comando de Jeff Hornacek – desde já candidato a técnico do ano.

O novo treinador pede mais e mais chutes de três pontos a sua equipe e cortes em direção a cesta, acompanhando a onda “analítica” que vai se espalhando pelos escritórios da liga. Bem, era isso o que Leandrinho fazia bem há uns quatro ou seis anos pelo time – e é, na verdade, basicamente aquilo que ele sabe executar em alto nível. Em cinco contra cinco, sabemos bem das deficiências técnicas do ligerinho, que nem jogou pelo Pinheiros neste domingo, se despedindo do clube da capital.

Lembrando: é a partir desta semana que os clubes da NBA podem assinar esses contratos provisórios com qualquer jogador disponível no mercado. O prazo inicial é de dez dias, podendo ser estendido por mais dez, e sem que as datas precisem estar necessariamente emendadas. Por exemplo: Leandrinho pode ter o primeiro contrato expirado no dia 17 de janeiro e acertar outro com o Suns apenas em fevereiro. Ao final do segundo contrato, porém, o gerente geral precisa decidir se vai estendê-lo até o final da temporada ou se vai dispensá-lo.

Por falar em gerente geral, Ryan McDonough, o novo manda-chuva do Suns, trabalhou com Leandrinho na temporada passada, quando era assistente de Danny Ainge no Celtics. Ele não é, aliás, o único rosto que o jogador vai rever ao fechar com o Suns. Há outros vínculos importantes, e em quadra.

Leandrinho tem a chance de bater bola com o Goran Dragic, armador com quem se entendeu muito bem durante a temporada 2009-10, na qual o clube foi superado pelo Los Angeles Lakers na final do Oeste. Os dois faziam parte da segunda unidade de Alvin Gentry, com Channing Frye (outro reencontro), Jared Dudley e Lou Amundson, e se entrosaram deveras. Quem aí se lembra daquele quarto período histórico que fizeram em San Antonio para chocar Duncan, Pop, Ginóbili e qualquer cowboy torcedor do Spurs naqueles mata-matas? De vídeo, só achei as peripécias de Dragic. Mas Barbosa também teve sua contribuição numérica.

Então temos o seguinte: um plano tático que o favorece. Algumas figuras conhecidas dentro e fora de quadra, que devem dar o apoio necessário. Boa vontade dos torcedores.

Junta-se tudo isso, e o que dá é uma ótima oportunidade, isso se não for a melhor, para o ala-armador retomar sua carreira nos Estados Unidos. Ainda que correndo contra o tempo –com o perdão do trocadilho.

*  *  *

O Phoenix Suns está na estrada. O time embarcou rumo a Chicago e vai disputar cinco partidas fora de casa nos próximos dias, contra nenhum time que tenha aproveitamento acima de 50%. A tabela é esta: Bulls (na terça-feira), Wolves (quarta), Grizzlies (sexta), Pistons (sábado) e  Knicks (na outra segunda). Bom trecho.

*  *  *

De longo prazo? Difícil imaginar que o Suns pense em Leandrinho. A princípio, é muito mais fácil entender que o clube optou por uma contratação-tampão para seu elenco, enquanto Bledsoe não volta.

Vestindo o uniforme, o brasileiro tem de disputar minutos com o baixinho Ish(mael) Smith – mais um que adora correr e vem de boa partida contra o Bucks, ainda que seu currículo não seja dos mais brilhantes –, com o caçulinha Archie Goodwn, o segundo atleta mais jovem da NBA, e o veterano Dionte Christmas, constantemente elogiado, mas que não assusta ninguém.

Entre esses três, Goodwin é, de longe, o personagem mais importante: draftado pelo Suns no final do primeiro round, é visto como um jogador de muito futuro. Na temporada, tem média de 11 minutos por partida. Isto é, mesmo com o time vencendo, lutando por uma vaga nos playoffs, Hornacek ainda encontra tempo em sua rotação para colocar o garotão em quadra e desenvolvê-lo.

Leandrinho vai ter de jogar muita bola para convencer, eventualmente, o técnico e a direção de que, com Bledsoe de volta, valeria a pena mantê-lo no elenco, pensando em resultados imediatos, à custa de minutos preciosos para a revelação de 19 anos.

*  *  *

Dependendo do que acontecer em Phoenix, um time que pode surgir como alternativa para o ala-armador é o Los Angeles Clippers, que acaba de perder Chris Paul por cinco semanas (ou mais) e de dispensar o jovem Maalik Wayns. Doc Rivers teve o brasileiro sob sua tutela no ano passado – e está falando abertamente em contratar ajuda de fora. Bobby Brown e Delonte West, produzindo números surreais na China, seriam as primeiras opções, mas pode dar jogo aí.

*  *  *

Leandrinho trabalhou duro com o Pinheiros para se recuperar de sua lesão no joelho. A dedicação do jogador nunca pode ser questionada. Aqui e ali ele mostrou que sua explosão física ainda é acima da média. Ele disputou oito partidas no NBB, com médias de 33,3 minutos, 20,1 pontos (segundo da competição, atrás de Robert Day, do Uberlândia), 3,1 rebotes e 3,1 assistências, acertando 50% dos chutes de três pontos e apenas 46,4% de dois.


No confronto CBB x Flamengo, quem sai vencendo, de novo, é a Argentina
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Giancarlo Giampietro

Jerome Meyinsse e Nicolás Laprovittola

Laprovittola (d) deu as caras pelo Flamengo. Julio Lamas, um cavalheiro

No calendário acidentado do basquete brasileiro, agora temos um episódio de clube disparando contra a CBB. E não um clube qualquer, mas o Flamengo, atual campeão nacional e daqueles poucos que ainda consegue atrair a presença da mídia nacional para o lançamento de um projeto de basquete.

A ideia dos rubro-negros era apresentar suas novidades para a temporada 2013-2014 nesta segunda. E eles o fizeram, mas não do modo como queriam, já que faltaram alguns de seus protagonistas como Marquinhos, MVP do NBB, Vitor Benite e Cristiano Felício estão com a seleção e não foram liberados para um bate-e-volta no Rio. Não só eles, como também o técnico José Neto, assistente de Magnano, e o preparador físico Diego Falcão. Todo mundo barrado.

“Hoje está sendo um dia muito feliz pra nós, mas era para ser um dia mais feliz ainda. Era para ser um dia pra gente apresentar o elenco inteiro. Não pudemos fazer isso porque, infelizmente, a CBB não liberou os jogadores”, afirmou Alexandre Povoa, diretor de esportes olímpicos do Fla. “A gente contatou várias vezes dizendo: ‘Escolhe o dia, escolhe a hora, traz aqui o jogador umas três, quatro horas, só pra apresentar, é importante pro basquete brasileiro’, (e nada).”

Mais uma vez, Rubén Magnano dá sua demonstração de tolerância zero: não importam as circunstâncias, sua cartilha não pode ser quebrada. Uma intransigência que poderia ser contornada por seus superiores, ainda mais numa segunda-feira pós-jogo, desde que o clube arcasse com os custos. Contudo, quem numa hora dessas vai ter coragem de peitar o argentino, justamente o maior trunfo da atual gestão da confederação, talvez o principal responsável pela eleição do desastrado presidente?

Necessário dizer também que a programação da seleção está definida há um bom tempo, e talvez o Flamengo pudesse ter escolhido melhor momento para fazer sua festa, não? A Copa América vai terminar no dia 11 de setembro. O sucateado Campeonato Carioca começa no dia 20 de setembro e ainda tem tempo para o NBB dar largada. Se você caprichar na matemática, vai ver que sobrava uma brecha aí para apresentar o plantel com toda a pompa e atenção disponível.

Por outro lado, quando a Argentina – “NOSSA, O NOSSO INIMIGO! CRUZES!” – acha que está tudo bem liberar um dos seus, o armador Nicolás Laprovittola, belíssimo reforço rubro-negro, para o mesmíssimo evento, alguma coisa realmente parece errada. Não é segredo que, digamos, Magnano e Julio Lamas não são os melhores amigos. Basta ver o modo como se comportam na beira da quadra quando se enfrentam. Nesta, a classe e esperteza de um desses argentino foi bem maior.


Campeonato Paulista dá largada com desfalques e promessa de “disputa no tapa” por espaço
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Giancarlo Giampietro

Lucas, o Tischer

Tischer está de volta ao basquete brasileiro, pelo Bauru: 9 pontos e 7 rebotes na “estreia”

Geralmente o jornalista vai tentar se antecipar aos fatos, correr atrás da informação e apresentá-la ao leitor antes que as coisas aconteçam. No caso do Campeonato Paulista de basquete masculino, esse procedimento não se faz necessário.

Para constar, a competição supostamente começou nesta quinta-feira com cinco jogos: Bauru 82 x 66 Liga Sorocabana, Limeira 91 x 87 Rio Claro, XV de Piracicaba 71 x 54 Pinheiros, Paulistano 81 x 77 Mogi das Cruzes e São José 61 x 55 Jacareí.

Agora por que diabos você vai escrever “supostamente”, se está, na tabela oficial da incompetente FPB (Federação Paulista de Basquete), publicado que esta foi, sim, a primeira rodada da competição? Pergunta válida.

Ora, é possível levar a sério um início de campeonato no dia 1º de agosto, quando a temporada de seleções nem mesmo foi aberta? Veja bem: Rubén Magnano reuniu seus convocados há duas semanas em São Paulo, viajou justamente nesta quinta com eles para a Argentina, e sua equipe vai disputar o primeiro amistoso neste sábado. Um ótimo timing, , então, para federação colocar aquele que é o maior (único de verdade?) estadual do país em andamento, não?

Neste momento, três dos grandes destaques da competição – Caio Torres (São José), Larry Taylor (Bauru) e Rafael Mineiro (Pinheiros) – e uma de suas principais promessas – Leo Meindl (Franca) – estão na cidade de Salta. Mas os desfalques não ficam só por conta dos convocados, incluindo aqui mais dois francanos, Lucas Mariano e Paulão, que não embarcaram para o Super 4. Grande parte dos elencos ainda está em fase de preparação, desenferrujando das férias, para não dizer “em formação”.

Da sua equipe principal, por exemplo, no triunfo sobre Jacareí, o São José contou apenas o armador Fúlvio, enquanto Laws mal voltou dos EUA depois de resolver algumas pendências burocráticas, Jefferson William foi poupado e Dedé ainda se recupera de uma cirurgia no joelho. Para eles, o campeonato começa daqui a pouco só.

O mesmo raciocínio está valendo para o Pinheiros. Escaldado quando o assunto é calendário do basquete nacional (e continental), o time da capital colocou em quadra Paulinho, Morro e Tavernari, acompanhados de alguns de seus promissores garotos e de outros reservas e apanhou do XV. Tensão? Fúria? Nada, o clube simplesmente está pensando bem lá para a frente. “Diferentemente de outros clubes, os resultados neste inicio do Paulista são o que menos importa para nosso planejamento”, escreveu o diretor João Fernando Rossi, no Twitter. “Temos jovens valores que precisam de ritmo no adulto… Sem cobrança e sem pressão de ganhar neste momento.”

E há quem ainda precise mostrar suas caras para a torcida, gente. Franca, vejam só, marcou para hoje, sexta-feira, no Pedrocão, a APRESENTAÇAO oficial de seu elenco para a temporada. Estão todos convidados:

Só resta saber se o presidente da FPB, o imortal Toni Chakmati, vai comparecer. Desconfio que não. Em entrevista ao companheiro Alessandro Lucchetti, do Estadão, o cartola, sempre muito simpático, reclamou desta festa “tardia” por parte do clube mais tradicional do país. “Franca pediu para adiar sua estreia, porque quer fazer uma apresentação da equipe um dia após o início do campeonato. Deixam tudo para a última hora”, afirmou.

Bem, talvez Franca tenha demorado ara fazer essa festa.Esse é um ponto.

Mas também podemos falar que faltou criatividade ao time, gente.  Eles poderiam ter feito qualquer catadão de jogadores nas ruas da cidade na semana passada e os enviado para quadra sem remorso, já que essas primeiras rodadas não está valendo nada –  e nem deveriam, mesmo. Quer melhor marketing que esse? “Franca realiza o sonho de seus fanáticos torcedores”, “Franca: lugar de torcedor é na quadra” e por aí iríamos. Até o Globo Esporte embarcaria nessa.

Lucchetti, aliás, faz um serviço ao basquete brasileiro ao gravar o Sr. Chakmati. Fazia tempo que não nos éramos brindados com frases elegantes como esta: “Se não chegamos num acordo ainda, vamos chegar no tapa”.

Esse é o dirigente falando sobre os eventuais problemas de tabela que teremos lá pelos idos de novembro, quando o NBB vai dar sua largada e dois ou quatro ou mais de seus clubes ainda estarão presos ao Campeonato Paulista. O estadual terá 12 times apenas – contra 16 do ano passado –, mas com um sistema de turno e returno na fase regular, resultando em 22 partidas (!!!) para cada representante, até que cheguemos aos playoffs. Santamãe.

Então ficamos nisso, na bagunça de sempre. Bagunça é a nossa regra, nossa essência.

Voltamos algum dia desses para dar o panorama do campeonato. Só vamos esperar que ele comece de fato.


Chega ao fim a carreira de Kammerichs, o operário argentino e xodó do Flamengo por um ano
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Giancarlo Giampietro

Pesquisando sobre a seleção alternativa da Argentina que Júlio Lamas vai trabalhar para a Copa América, me deparei com esta manchete aqui o site do diário Olé, nosso bom e velho companheiro de tiração de sarro:

La extinción del Yacaré

 

Não é possível!

O jacaré?!

Sim, o jacaré Federico Kammerichs. O bigodudo que conquistou a torcida do Flamengo por uma temporada de NBB decidiu se aposentar neste ano, precocemente aos 33 anos. Convocado por Lamas, até pensou em fazer sua saideira em Caracas, mas optou por parar já, deixando o grupo dos atuais quarto colocados das Olimpíadas – e precisava lembrar!? – ainda mais inexperiente na busca pelo título continental e por uma vaga na Copa do Mundo.

Kammerichs, barba completa

O gesto característico de um Yacaré

Sem muita velocidade ou impulsão, mas com inteligência e coração, o ala-pivô teve uma carreira formidável, ainda que não à altura de seus companheiros de geração muito mais laureados. Ficando à sombra de Nocioni, Delfino e Herrmann, não teve lá muitos momentos brilhantes pela seleção, com exceção daquele fatídico Pré-Olímpico de Las Vegas 2007 – e precisava lembrar de novo, cazzo!? –, em que fez todo o serviço sujo necessário, limpando a quadra para Scola brilhar.

De qualquer forma, quando ele ficou aqui pertinho de nós, respirando os ares cariocas, Kammerichs mostrou o quanto podia ser especial em quadra.

Segue abaixo  um texto de nossa encarnação passada, tentando compreender o sucesso que ele desfrutava pelo Flamengo – pontuando bastante, somando double-doubles–, de certa forma surpreendente, para quem o conhecia apenas como um mero operário pela seleção argentina. Para não correr o risco de autoplágio, reproduzo na íntegra, já que não haveria muita coisa para acrescentar a respeito do cara, que fez sua última temporada pelo Regatas, em casa.

Foi publicado em 10 de janeiro de 2012, o que obviamente o inviabiliza desde já a concorrer à categoria de clássico da literatura esportiva nacional, logo depois de uma derrota rubro-negra para o Uberlândia, em dia inspirado do americano Robert Day.

Vamos lá:

“Robert Day acabou roubando a cena. A pauta prévia do VinteUm era assistir ao duelo entre Flamengo e Uberlândia no sábado com olhos fixos (bem, na medida que o enquadramento da TV permitir) em Federico Kammerichs, que vem arrebentando no campeonato nacional. Desviamos um pouco a atenção, mas cá estamos com ele.

Para os que acompanham o bigodudo por anos e anos de confronto com a Argentina, não surpreende que o medalhista olímpico contribua positivamente para o clube carioca e que seja um sucesso no NBB. Só não dava para esperar tamanho êxito, che: Kammerichs vai sustentando médias de 13,9 pontos por jogo, algo que jamais contentaria um Oscar Schmidt, mas é de se destacar num clube que já reuniu na mesma quadra gatilhos como Machado, Leandrinho e David Jackson, em um contexto de salve-se-quem-puder. Nos rebotes, está ainda melhor, com 10 por partida, liderando toda a liga. Além disso, seu aproveitamento nos arremessos de dois pontos é de 69,47%, convertendo basicamente seis por jogo a cada oito ou nove tentativas. Seus números defensivos não são de outro mundo, num reflexo de seu posicionamento correto, em detrimento de  precipitações em busca de roubos de bola ou tocos. Na somatória, noves fora, temos o segundo jogador mais eficiente (estatisticamente) do campeonato.

Aquela noite inesquecível de Las Vegas 2007

Kammerichs, naquela dolorida vitória argentina em Vegas

Um quadro que não condiz, que não bate com o que aprendemos a admirar – ou lamentar, dependendo do grau de envolvimento emocional – em suas partidas pela seleção argentina, na qual é valorizado por sua atenção aos pequenos detalhes do esporte, e, não, como um carro-chefe da equipe, daqueles com volume de jogo (mucho gusto, Scola, Delfino, Nocioni, Ginóbili, Quinteros, Prigioni etc).

Em toda a sua carreira em torneios FIBA com a albiceleste, só teve duplo digíto em pontuação no Sul-Americano de 2003, lá em Campos dos Goytacazes, com 11,2 por partida – época em que sua massa capilar ia muito além do bigodón, compondo um visual setentista daqueles –, e na Copa América de Santo Domingo-2005. Fora esses dois torneios, em competições de alto nível (ou não), ele teve médias de: 3,8, 3,7, 4,4, 0,5, 2, 7,3 e 4,4 pontos. Em quatro ocasiões, teve mais rebotes do que pontos, na verdade.

(Agora uma pausa nem tão breve para rodar o relógio para trás: era 2003 em Campos de Goytacazes, e naqueles dias a cidade fluminense tinha seu próprio clube na elite do basquete brasileiro, dirigido por Guerrinha, usando um modesto ginásio, onde este palpiteiro aqui ficou enfurnado para as finais do Sul-Americano, sentado nas tímidas arquibancadas ao lado de alguns scouts perdidos da NBA – o argentino Lisandro Miranda, do Dallas Mavericks, e dois (vai entender…) do Houston Rockets, BJ alguma coisa, um gigante figuraça, e Melvin Hunt, mais calado e hoje assistente técnico preferido de George Karl no Denver Nuggets, em ascensão notável, depois de ter trabalhado no banco do Cleveland Cavaliers. O principal alvo da trupe era o então jovem Carlos Delfino, que, na decisão, saltou para uma enterrada frontal, no meio do garrafão, diante do imponente Estevam: por alguns segundos, a respiração coletiva do ginásio parou e os olheiros da liga norte-americana levaram as mãos para a cabeça; o tempo se descongelou quando o pivô brasileiro, corajoso e ainda vigoroso, acabou fazendo a falta no ala, que seria selecionado no Draft um ano mais tarde pelo Detroit Pistons. Neste mesmo jogo, num domingo bem quente, Walter Herrmann, um cracaço que fazia a bola parecer de tênis em suas mãos, só não fez chover dentro de quadra. No time brasileiro, lembro que André Bambu havia rendido algumas notas para esses deslocados visitantes da NBA).

Kammerichs e Leandrinho tipo NBB

Leandrinho disparou, e Kammerichs vem atrás de qualquer sobra

Agora voltando: estávamos falando de como Kammerichs construiu sua carreira internacional muito mais como um operário do que como chefe da companhia. E o que acontece, então, para este veterano argentino se sobressair no NBB?

O ala-pivô nunca foi um jogador conhecido por sua capacidade atlética. Mas descolou seu nicho pela capacidade de leitura de jogo. Quase sempre aparece no lugar certo na hora certa para recuperar uma bola perdida, para fazer uma cobertura defensiva, se sacrificar em corta-luzes, capturar um rebote ofensivo, bloquear um pivô por trás. Ele sabe se aproveitar de quebras no sistema, de alguma interrupção no fluxo da partida para dar o bote. E, nos jogos frenéticos e desorganizados que temos visto durante o campeonato nacional, esse tipo de lapso ocorre aos montes, e há poucos concorrentes interessados nesse tipo de ação.

Kammerichs também é daqueles que joga duro o tempo todo. Pode ser lento e não sair do chão, mas  seus rivais não se podem deixar levar pela falsa impressão de estarem diante de um molenga. Especialmente quando confrontado com jogadores pouco móveis ou atléticos, que não consigam se aproveitar de suas deficiências – como Lucas Cipolini e Luis Felipe Gruber fizeram no sábado, aliás –, seu tino pela bola e dedicação podem colocá-lo em vantagem com facilidade. Ele vai correr o contra-ataque e receber a assistência do armador velocista que disparou primeiro. Vai atacar o rebote ofensivo. Vai se posicionar em um buraco defensivo e ter toda a liberdade do mundo para matar seu arremesso de média distância, embora não seja nenhum Léo Gutiérrez em termos de precisão.

Daí o volume maior ofensivo, ainda que nenhuma jogada seja propriamente desenhada para sua prestação de serviços. A cada cesta que faz, ele tem o hábito de cerrar o punho, com o braço flexionado, vibrando consigo de um modo um tanto desengonçado. Nunca em sua vida foi tão fácil atacar assim, então é hora de comemorar e aproveitar mesmo.

Só fica registrada aqui, no fim, a expectativa de que esse esforçado operário possa exercer qualquer tipo de influência em seus concorrentes brasileiros que não pelos seus supostos dotes ofensivos.”

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Sabia? Kammerichs também foi draftado na NBA, o Portland Trail Blazers, lá nos idos de 2002, o mesmo ano de Nenê. Ele saiu na posição 51, cinco postos acima de… Luis Scola!. O bigodudo foi testado algumas vezes pela franquia do Oregon, mas nunca assinou contrato.

Na época, ele havia acabado de sair do modesto clube Ourense, hoje na LEB Oro, para o Valencia, ex-clube de Faverani e Splitter (por umas semanas de lo(u)caute). Jogou na Espanha sem muito destaque até 2008, quando retornou para casa, pelo Regatas. Aqui, sua ficha técnica de quando jogou a Eurocup, como se fosse a Liga Europa do futebol, em 2004-2005.


Adaptado, Flamengo domina Uberlândia no garrafão e é campeão do NBB
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Giancarlo Giampietro

Título rubro-negro

O Flamengo abriu o NBB 5 como um trovão, com um basquete extremamente veloz, atlético e agressivo. Venceu seus primeiros 20 segundos desta maneira. Na final do campeonato em jogo único, com dois desfalques importantes, se adaptou: parecia outro time, superando o Uberlândia na base de tamanho e força física. Vitória por 77 a 70.

Sem poder contar com Vitor Benite, de ultima hora, e Marcelinho, durante todo o ano, o técnico José Neto teve de mudar por completo sua proposta de jogo para a decisão, apostando numa equipe de maior estatura, a começar pela presença do paraguaio Bruno Zanotti na escalação titular, mas passando muito pela dominância de Caio no garrafão. A equipe mineira não soube como lidar com isso.

Lucas Cipolini e Luis Gruber, carregado precocemente com faltas, tiveram muita dificuldade para conter o jogo interior, especialmente no embate dos ex-pinheirenses Cipolini e Caio. Lucas é mais baixo e mais fraco, mas bem mais atlético e explosivo. Decidiu marcar seu oponente, porém, pelas costas, em vez de tentar se posicionar pela frente, para cortar a linha de passe. Cliquem aqui para ler uma explanação sempre elucidativa do professor Paulo Murilo a respeito dessa técnica, relembrando a marcação do francano Douglas Kurtz sobre Paulão, do Brasília.

Como destac0u no twitter o técnico Gustavo de Conti, do Paulistano e da seleção brasileira, o Uberlândia só equilibrou a partida quando teve em quadra seus postes, como Estevam e Léo, no segundo período. Porque essa dupla, ao menos no físico, dava conta do grandalhão adversário. Eles ficaram em quadra por apenas 17 minutos. Sem esse combate e adotando uma estratégia de marcação simples, básica com pivôs menores, o time de Hélio Rubens foi destroçado no garrafão. (Para piorar, do outro lado, não conseguiram explorar a maior mobilidade, perdendo por completo o jogo de xadrez.)

Caio Terminou com 23 pontos e 10 rebotes, um estrago danado. Matou oito de dez arremessos, com tranquilidade e eficiência incrível, e ainda bateu oito lances livres, convertendo sete deles. Para somar, Olivinha, com a garra de sempre,  somou 10 pontos e 12 rebotes. No total, o Flamengo converteu 22 de 29 bolas de dois pontos, para um aproveitamento de 75,9% – contra 14/36 e horrendos 38,9% de aproveitamento dos mineiros. Uma diferença brutal.

Daria para dizer aqui, olhando os números finais, que “o Uberlândia só conseguiu se manter relativamente próximo no placar graças ao seu bom rendimento na linha de três pontos: 11/27 e 40,7%”. Porém… Se você for descontar o excelente primeiro tempo de Gruber (5/7, 71,4%!!!), a pontaria dos vice-campeões despencaria para 30%.

Mérito aqui para a contestação dos defensores do Flamengo, que ficaram grudados em seus alvos, com pegada forte, se aproveitando também da energia de um ginásio cheio e entusiasmado. Vale aqui o destaque para o próprio Zanotti, uma revelação nesse quesito. Lidando de modo alternado com um dos Roberts – Day ou Collum –, foi muito bem, disciplinado, com postura exemplar. Os dois gringos tiveram uma manhã para ser esquecida: cada um converteu apenas dois chutes em oito de longa distância. Fica, então, uma provocação: precisa vir um paraguaio a nos ensinar a marcar no perímetro?

No fim, a vitória rubro-negra só não foi mais elástica devido a sua própria insistência nos disparos de fora (6/26, 23,1%) – com o garrafão escancarado? Precisava, mesmo? Duda (1/6, o de sempre) e Marquinhos (1/5, uma bobagem, quando é muito, mas muito mais efetivo quando parte para a cesta – vide os 6/6 em dois pontos) não foram nada bem aqui. Seu ataque, apenas com Kojo na armação e o jovem Gegê para dar algum descanso ao titular, também se apresentou de modo destrambelhado em algumas sequências.

Mas isso não foi uma exclusividade dos rubro-negros. No segundo quarto em especial, vimos o caos em quadra, ainda que, na estatística oficial, apenas 11 turnovers tenham sido computados – algo em que realmente é bem difícil de acreditar. A partida se perdeu em diversos momentos, com várias posses de bola que terminavam, basicamente, em nada, sem arremessos de dentro ou fora.

Quando conseguiu se assentar em quadra, porém, invadindo o garrafão com força e volúpia, o Flamengo se impôs. E, no fim, venceu a melhor equipe do campeonato. Ainda que não tenha sido exatamente aquela que dominou a temporada regular.

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Uberlândia não teve pernas também. Valtinho (37min09s) e Collum (36min08s), estavam exaustos e não conseguiam bater nem mesmo os pivôs do Fla quando havia uma inversão na marcação. Fizeram falta aqui os minutos que seriam destinados a Helinho, aparentemente sem condições de jogo depois de ter sofrido uma cotovelada na face durante um treino em abril.

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Hélio Rubens segurou Gruber por muito tempo no banco de reservas, depois de seu ala-pivô cometer a terceira falta no segundo quarto. Voltou para o segundo tempo com Leo em quadra e demorou para acionar o titular, que, quando voltou, estava completamente frio, fora do jogo. Ele marcou 18 pontos em uma atuação brilhante na etapa inicial, mas somou apenas dois depois do intervalo.

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A final com o ginásio lotado, o Flamengo comemorando título em rede nacional, no plim-plim… Certamente foi o melhor momento do NBB em termos de exposição e marketing. Vamos aguardar a audiência. A Globo ter segurado a transmissão ao final por alguns minutos preciosos pode é um bom indício.

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Lula Ferreira falou e disse: a arbitragem foi boa na decisão, discreta, sem aparecer. Como assim deve ser. Ufa.