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Fratura no pé pode afastar Durant por mais de 2 meses
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Giancarlo Giampietro

Kevin Durant, OKC Thunder, scorer

Domingo, faz muito calor em São Paulo, e o que mais você lê por aí são notícias de rescaldo do grande evento que a NBA fez no Rio de Janeiro na véspera. Sabemos que sempre vai ter gente emburrada pacas a detonar tudo, absolutamente tudo que se passou ao redor do amistoso entre Cleveland Cavaliers e Miami Heat, mas o saldo geral é de absoluto sucesso. Céu azul, gente, céu azul.

Até que… chega o alerta no celuar:

“KEVIN DURANT INJURY UPDATE.”

Ué, mas quem sabia que o ala do Oklahoma City Thunder estava lesionado, para começo de conversa?

Você abre o boletim oficial da franquia, divulgado pela própria liga norte-americana, e a cabeça meio que gira. As palavras-chave estão por ali, meio que espalhadas: fratura, possível cirurgia, fora de seis a oito semanas etc. Aquele pacote básico de informação que deprime qualquer um. Quando o sujeito do email, porém, é um Kevin Durant, a depressão chega muito mais forte.

Primeiro, pela razão óbvia, né? Estamos falando do MVP da temporada passada. Um dos dois melhores jogadores do mundo. Um cestinha incrível, que liderou a liga, por média, em quatro das últimas cinco edições. Que, em total de pontos, foi quem mais fez cestas em todos estes cinco anos, nos quais os 27,7 por partida de 2010-11 foram a menor contagem. Um craque.

Acima de tudo, porém, Durant é um junkie do basquete, daqueles que deve dormir com a bola ao lado do travesseiro, que jogou até… Literalmente não poder mais. Quer dizer: que pulou a última Copa do Mundo no meio do caminho e, de resto, estava sempre em quadra, sem parar.

Durant foi associado a Thor, o Deus do Trovão na brincadeira entre Marvel, ESPN e NBA em 2010. Mas ele estava muito mais para Homem de Ferro, mesmo

Durant foi associado a Thor, o Deus do Trovão na brincadeira entre Marvel, ESPN e NBA em 2010. Mas ele estava muito mais para Homem de Ferro, mesmo

Bem, segundo comunicado de OKC, com declaração do gerente geral Sam Presti, o clube e o jogador ainda não decidiram qual procedimento seguir. Durant tem o que se chama de “fratura Jones”, no pé direito. “Kevin nos avisou sobre o desconforto que sentia depois do treino de ontem. Fizemos, então, todos os estudos de imagem necessários”, afirmou. “O tratamento tradicional para esta lesão requer um procedimento cirúrgico, e os casos recentes na NBA têm resultado num retorno ao jogo entre seis a oito semanas. Até que uma decisão seja tomada, não poderemos estabelecer um prazo para o caso específico de Kevin.”

Caso confirmem um período de afastamento das quadras de até dois meses para Durant, ele terá perdido 20 partidas da temporada. No total, em sua carreira, o ala ficou fora de apenas 16 jogos em sete campeonatos. A exuberância do ala não se manifestava apenas em seu talento com a bola e  na evolução que apresentou ano a ano em seu jogo, mas também em sua durabilidade: nas últimas cinco campanhas ele também liderou a liga em total de jogos e minutos. Contando temporada regular e playoffs, ele disputou 461 partidas e ficou em quadra por 18.154 minutos. Somem mais 468 minutos entre Mundial de 2010 e Olimpíadas de 2012, e temos dá mais de 310 horas de basquete.

(Aqui, cabe uma ironia, daquelas bem dolorosa, mas cujo registro se faz obrigatório: considerando o movimento emergente nos bastidores da NBA para afastar os astros da liga das competições Fiba, tendo a fratura de Paul George como principal cartaz, o que vão dizer a respeito da grave lesão sofrida por outro astro, sem ter relação alguma com os torneios de seleção? Um astro que notoriamente se recusou a participar da Copa ao alegar estresse, desgaste, que não conseguiria se dedicar ao máximo – e que estava em meio a uma negociação de centenas de milhões de dólares com patrocinadores? Mark Cuban e todas as fontes anônimas da famigerada matéria de Wojnarowski devem estar confusos.)

Atentem ao termo empregado por Presti em sua declaração: “tratamento tradicional”, implicando que talvez haja outros caminhos para serem seguidos. O mais simples seria fazer a operação o quanto antes e torcer para que sua recuperação ocorra em até um mês e meio. Mas cada caso é um caso, dependendo da gravidade da lesão etc – e os médicos do clube e os representantes do atleta precisam antes chegar a um acordo sobre como proceder com essa fratura que ocorre no osso do dedinho, geralmente na parte média do pé. Ela ganhou esse nome depois de ter sido detectada pelo ortopedista Robert Jones, um renomado médico galês, com título de Sir e tudo, em 1902. Detalhe: o doutor sofreu a fratura ao dançar.

Dos casos mais recentes de jogadores que tenham sofrido esse tipo de lesão,  o mais emblemático é o de Yao Ming, o dócil e gigantesco chinês que abreviou sua carreira na NBA devido ao excesso de lesões. Obviamente essa menção só faz os torcedores de OKC e os fãs de Durant mergulharem ainda mais fundo num mar de aflição, mas talvez não dê para fazer relação alguma entre um jogador de 2,31 m de altura superpesado e um ala de 2,08 m peso pena.

Em entrevista a Royce Young, do ESPN.com, Presti procurou refrear o alarmismo que esse tipo de notícia causa. Especialmente num domingo de manhã. O cartola afirmou que a “fratura Jones” é a lesão mais comum entre jogadores da NBA e que o fato de o craque ter acusado o desconforto o mais cedo possível é positivo, para não dar chance de agravamento. “Diante de uma adversidade, estamos agora procurando por oportunidades. Nesse tipo de situação, você desiste ou avança, e nós vamos avançar”, disse. Agora vamos ter de saber como o clube vai seguir em frente pela primeira vez sem Kevin Durant.


Cresce nos EUA movimento para limitar NBA em torneios Fiba
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Giancarlo Giampietro

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Em um texto nada celebratório sobre a conquista do bicampeonato mundial pelos Estados Unidos neste domingo, o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports, praticamente decretou o fim da farra que a USA Basketball vem fazendo nos últimos anos. Farra no bom sentido: ganhando ouro após ouro para restaurar a hegemonia na modalidade. Para ele, o mundo Fiba está prestes a passar por um processo drástico de reformulação, cujo ponto principal será o êxodo dos grandes talentos da NBA. Conforme escrito aqui ontem: a maior ameaça à soberania dos Estados Unidos em cenário global hoje é interna.

Para quem não está familiarizado com o escbriba, Wojnarowski é o repórter mais quente entre as centenas (milhares?) que acompanham o dia-a-dia da NBA nos Estados Unidos. No dia do Draft, por exemplo, está habituado a cantar pedra por pedra, escolha por escolha a noite toda, minutos antes de as seleções acontecerem. Em tempos de agente livre, virou praticamente canal obrigatório de veiculação de acordos – e ameaças – de agentes e/ou dirigentes. É um cara evidentemente bem conectado que, por conta do acúmulo de furos, ganhou uma credibilidade imensa. É como se tudo o que ele escreve seja fato, ou esteja em vias de se concretizar como tal.

Então, meus amigos, anotem aí algumas de suas frases do artigo:

– A distância (entre o Team USA) e o resto do mundo aumentou novamente, e o romance de Times dos Sonhos está lentamente, mas seguramente morrendo. Competições Sub-22 são o caminho, com os melhores jogadores jovens da NBA e uma ou outra superestrela universitária sendo introduzidos para o mercado global.

– O começo do fim para a USA Basketball aconteceu naquela noite de agosto, quando Paulo George tombou na quadra, e um osso explodiu de sua carne. Foi um momento cruel e de autoanálise, e os jogadores dos EUA ainda estavam falando sobre isso no domingo em Madri. Aquela imagem foi chocante, e vai ficar na cabeça das pessoas por um looongo tempo. Será um dos catalisadores para tirar as estrelas da NBA do basquete Fiba.

– George será o ímpeto para acabar com a participação das estrelas da NBA, mas longe de ser a única razão. Depois das Olimpíadas de 2016 no Rio, a Copa do Mundo de Basquete e os Jogos Olímpicos estão destinados a se tornar um torneio sub-22, de desenvolvimento.

– “Temos de tirar nossos veteranos de lá e colocar nossos jogadores mais jovens. Já existe apoio para esta mudança, e está ficando mais forte”, afirmou um gerente geral da liga ao repórter.

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Bem, antes de mais nada, essas declarações não chegam a ser bombásticas para quem vem acompanhando gente como Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks, chiando barbaridade a cada convocação das seleções internacionais nos últimos anos. A fratura exposta sofrida por George no jogo-treino interno da seleção ianque, televisionada para o mundo todo, apenas intensificou esse sentimento, por tudo o que a mídia americana tem publicado. Cada vez mais se discute e se especula sobre um limite de idade, da mesma forma que acontece com o futebol olímpico.

Em sua argumentação/exposição sobre a submergente relação entre os interesses da NBA com os da Fiba, Wojnarowski parte para um ataque frontal contra o celebrado Coach K, dizendo que seu envolvimento com a federação e a equipe nacional se deve muito mais pelos benefícios que tira disso para seu trabalho do dia-a-dia, em Duke, do que por qualquer noção patriótica. Estar envolvido com a nata do basquete norte-americano só vai lhe ajudar na hora de recrutar os melhores adolescentes do país. Mas é um tanto óbvio, não? Além do mais, fica a pergunta: um técnico que já está presente na TV o tempo todo, independentemente de uma medalha de ouro num Mundial, precisa disso? Dá vantagens, mas o quanto isso difere do que John Calipari vem fazendo em Kentucky, estocando talentos top 10, 20 do colegial, formando supertimes com talentos que vão dominar o Draft do ano seguinte? Exposição por exposição, influência por influência… O jogo de poder e marketing da NCAA é pesado e um tanto sujo há tempos.

Agora, se o treinador de Duke e da seleção americana tem seus próprios objetivos no trabalho com a seleção, quais são as intenções, então, das fontes anônimas por trás desse específico texto? Estão claras, né? Há muita gente querendo desvincular a NBA do mundo Fiba. Resta saber se Wojnarowski escreve em nome de uma maioria, ou se o artigo serve justamente como instrumento de… recrutamento para a “causa”.

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

A lógica por trás do argumento de limitar a idade dos atletas nos torneios é um tanto arrogante – parte do pressuposto que só a NBA importa no tabuleiro do basquete. “Tirando a seleção americana, há mais talento e interesse dos torcedores de basquete em jogos das ligas de verão do que neste evento”, disse um gerente geral, sem se identificar.

Ligas de verão são os torneios que acontecem logo após o Draft da NBA, em julho, para que os recém-escolhidos comecem seu processo de adaptação, enquanto dúzias e dúzias de atletas, jovens ou não, que estão fora da liga, tentam uma vez mais impressionar cartolas e treinadores em busca de um tão sonhado contrato.  A maioria deles, porém, terá de se contentar com a D-League ou com uma viagem para a Europa. Não são competições oficiais: os clubes nem jogam com seus uniformes principais, deixando bem claro que uma coisa é uma coisa, e a outra, bem diferente.

A parte sobre o talento? Pode até ser. O único paralelo possível para os basqueteiros americanos, em termos de quantidade, são os boleiros brasileiros. E isso nem precisa ser discutido, até porque, num Mundial de basquete, há muito mais paixão envolvida do que nas peladas de Las Vegas ou Orlando. Sabe essa coisa de se importar com algo? Acreditem: ainda existe no esporte.

Dentro dos Estados Unidos, o público em geral só parece valorizar o torneio olímpico. Por outro lado, a reação dos jogadores é bem diferente. Kevin Durant estava eufórico ao conquistar o título em 2010, assim como James Harden neste ano. Só não vale falar em empolgação do Kenneth Faried, contra o qual chinês algum gostaria de jogar nem mesmo uma partida de tênis de mesa. Periga ele devorar a tábua toda. (Outra discussão seria o que a dominância desses caras significa para o mundo Fiba. Tira a graça? Força naturalmente o crescimento dos rivais? Mas essa fica para outra ocasião.)

Mesmo que toda a empolgação dos rapazes de Colangelo fossem fake, daí a falar sobre a falta de apelo global é ir muito além da linha do razoável. Pau Gasol e a Espanha não me pareceram indiferentes depois da eliminação contra a França. Boris Diaw pode ter cara e jeito de indiferente, mas estava bem animado com seus companheiros na hora de receber a medalha de bronze no sábado. Os sérvios vararam madrugada adentro após a vitória sobre os franceses na semifinal.  Claro que a NBA é a maior força financeira e técnica da modalidade, e de longe. Mas há vida aqui fora. Além do mais, se as competições fossem tão irrelevantes assim, por que Cuban clamaria publicamente para que seus comparsas dessem um golpe em Fiba/COI e assumissem eles a organização – e o faturamento – do torneio? Aí não teria problema, imaginem.

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

O que pega, mesmo, não é discussão sobre popularidade, e, sim, os interesses estratégicos de cada franquia e da liga como um todo. Para elas, dãr, o que conta é a temporada que vai de outubro a junho – para muitos.  Além de dinheiro o, que os dirigentes uerem é que seus jogadores (leia-ses “investimentos”) sejam preservados, que não se avariem – ou melhor, eles até podem se lesionar numa tabela massacrante de 82 jogos, mas aí não tem problema, já que estão a serviço de quem assina cheque.

O Spurs simplesmente fez uso de uma cláusula acordada com a Fiba para vetar a participação de Manu Ginóbili na Copa: se o atleta não estiver 100%, se houver o risco de ele agravar uma condição médica nas competições internacionais, as franquias podem proibi-los de jogar. Se o narigudo e genial argentino não foi liberado, Gregg Popovich ao mesmo tempo deve ter ficado satisfeito com o Mundial de Diaw, que sempre pode usar uma competição ou outra para controlar o peso (foram 25,4 minutos para ele em média em nove partidas). O Phoenix Suns não iria contrariar Goran Dragic a uma temporada de o astro esloveno virar um agente livre: se Dragic quer jogar o Mundial, que vá. Num time em que era a principal referência, ele ficou em quadra por apenas 26,1 minutos, de 40 possíveis. O que poucos divulgaram: houve acordo entre a franquia do Arizona e a federação, para estabelecer esse limite.

No Brasil, Leandrinho foi quem mais jogou: 24 minutos, seguido por Anderson Varejão, com 23,6. Os irmãos Gasol não passaram de 27. E por aí vamos. Os jogos são intensos, sim. Há toda uma fase de preparação, de treinos duros e amistosos. Mas quem aí acredita que todos esses atletas ficariam o mês de agosto e setembro de pernas para o ar? Caso o fizessem, o departamento médico e físico de cada time da NBA teria sérios problemas na última semana do mês, quando os elencos se reúnem para a realização (já!!!) dos campos de treinamento. Aí, meus amigos, Diaw não seria mais a exceção.

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

Quando vão para quadra, os atletas estão sujeitos, mesmo, a contusões e lesões. Algo como o que aconteceu com Paul George, porém, é um baita acidente. Uma tristeza, mas um acidente. Assim como o que ocorreu com Monta Ellis em 2008, quando o armador se arrebentou todo… andando de mobilete. Nas férias, depois de ter assinado um contrato milionário. Ainda assim,

“Não há dúvida sobre o impacto (da lesão) em nosso time”, afirmou em comunicado  o legendário Larry Bird, presidente do Pacers. “Mas mantemos nosso apoio à USA Basketball e acreditamos nas metas da NBA de dar uma exposição ao nosso jogo e nossos jogadores no mundo todo. Essa foi uma lesão extremamente infeliz que ocorreu num palco de grande visibilidade, mas que poderia ter acontecido em qualquer momento, em qualquer lugar.”

Na mesma noite de agosto, o comissário Adam Silver foi bem mais sucinto em seu pronunciamento. “Foi difícil assistir à lesão que Paul George sofreu nesta noite, enquanto representava seu país. Os pensamentos e as orações de todos nós da NBA estão com Paul e sua família”, disse. Resta saber e acompanhar se os pensamentos de Silver e de outros proprietários das franquias de lá também acompanham o das fontes de Wojnarowski nesse tópico e se eles vão realmente seguir em frente com essa ofensiva.


Vitória por lavada dos EUA começa antes de a bola subir
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Giancarlo Giampietro

Team USA hegemony, EUA, hegemonia, Copa do Mundo

A gente pode falar sobre a final especificamente, mas nem tem muito o que ser dito. Kyrie Irving queimou a redinha no primeiro período, depois que James Harden e DeMarcus Cousins apagaram o incêndio inicial, quando a Sérvia vencia por 10 a 5 após 3min30s de jogo. O Sr. Barba fez algumas cestas na marra, para levantar a cabeça de seus companheiros, enquanto Boogie acertou surpreendentemente a defesa, acabando com a farra que Teodosic e os pivôs estavam fazendo no garrafão.

A partir daí? É como se os balcânicos tivessem cutucado a fera muito cedo. Foi mais um atropelo de uma seleção norte-americana toda desfalcada, mas bastante superior tecnicamente aos seus adversários. Em termos de plantel, mesmo que tenham perdido para a França nas quartas, apenas a Espanha poderia fazer frente. Num dia muito inspirado, claro.

Pois bem: o Team USA venceu por 129 a 92 e conquistou seu quarto ouro consecutivo nas maiores competições da Fiba. São agora bicampeões olímpicos e mundiais. Usando a força máxima nos Jogos e o time B, de jovens, na Copa – foram campeões com apenas 24 anos de média de idade.

No final das contas, então, acho que vale mais falarmos sobre o modo como eles restauraram essa hegemonia no esporte que inventaram, com um canadense importado. Afinal, não custa lembrar: 10 anos atrás, a equipe americana teve de se contentar com um bronze em Atenas 2004. Duas temporadas antes, haviam passado uma das maiores humilhações de sua história ao terminar o Mundial, em casa, em quinto. A mesma Indianápolis que ajudou a consagrar Oscar e Marcel.

A diferença: no Pan de 1987, a seleção brasileira derrubou um time forte de universitários. Em 2002, a derrocada foi com marmanjos de NBA, mesmo. Não era o que eles tinham de melhor, mas espie a lista: Paul Pierce, Jermaine O’Neal, Reggie Miller, Ben Wallace, Shawn Marion, Baron Davis, Andre Miller… Enfim, deu para ter uma ideia, né? Todos caras que faturaram mais de US$ 80 milhões em suas carreiras.

Naquele cenário, desde que rodeados por uma organização mínima, provavelmente era o suficiente para triunfar, mesmo contra uma Iugoslávia de Bodiroga, Divac, Stojakovic, Tomasevic e cavalaria, que os eliminou nas quartas de final. Ou contra uma Argentina que tinha Ginóbili, Nocioni, Oberto em forma etc.

O que o time de hoje tem que aquele não apresentava? Seriedade, sinceramente. Comprometimento. Mas não o uso apenas coloquial, retórico dessas palavras, como muita gente gosta de fazer. E, sim, botá-las em prática, num trabalho comandado por Jerry Colangelo, ex-proprietário do Phoenix Suns. O dirigente havia ajudado a transformar o Suns num time de elite na Conferência Oeste da liga por boa parte do tempo em que esteve envolvido, como treinador, gerente geral ou CEO, até vender o clube para Robert Sarver e associados. O time ficou fora dos playoffs apenas em seis temporadas, entre 1975 e 2004.

Como líder da USA Basketball a partir de 2005, Colangelo conseguiu arrumar a casa num estalo. O primeiro trunfo foi recrutar Mike Krzyzewski como seu técnico principal, função que havia desempenhado no final dos anos 80 e início dos anos 90. Funciona não apenas pelo fato de o Coach K entender bastante do riscado e respeitar os concorrentes internacionais. Mas também pela aura que ele criou dentro do basquete americano, pela universidade de Duke. É uma figura que gerou credibilidade instantânea para o projeto e que tem ascendência sobre os atletas profissionais – lembrem-se que Kobe Bryant implorou por sua contratação em 2004 quando Phil Jackson deixou o Lakers pela primeira vez.

No primeiro trabalho, o Team USA também se viu obrigado a aceitar um bronze, ao perder para a Grécia na semifinal do Mundial 2006. Desde, então, estão invictos. São 63 vitórias consecutivas, 45 em jogos oficiais. 6 x 10 + 3.

Esse tipo de coisa acontece com quem tem os melhores jogadores do mundo, mas independe da presença de LeBron James ou Kevin Durant em quadra, como a turma desta Copa do Mundo mostrou. Dos 22 atletas americanos que disputaram o último All-Star Game da NBA, apenas cinco ganharam o ouro na Espanha (Irving, Curry, Harden, Davis e DeRozan).

Não é que o Coach K seja milagreiro. Há uma estrutura profissional por trás do treinador que é estrela de comercial de cartão de crédito nos Estados Unidos – algo como o Bernardinho deles – e que dá suporte a esses craques. Uma estrutura atenta a mínimos detalhes.

Saibam que, quando Brasil e Argentina estavam se enfrentando em seu primeiro amistoso no Rio de Janeiro neste ano, os scouts da federação americana saíram feito loucos atrás de uma fita que fosse desse jogo. O primeiro amistoso de muitos que argentinos e brasileiros fariam no ano. Os mesmos rivais que eles poderiam observar quando bem entendessem durante a Copa. Saca?

Mesmo com todo o talento ao seu dispor, Krzyzewski vai se reunir periodicamente com seus assistentes, contratados de forma independente por Colangelo, para afinar a comunicação entre eles e também o discurso para o elenco. Não é o caso de apenas chegar ao ginásio, colocar uma bola no centro da quadra e deixá-los executarem.

O ritmo forte que imprimem em quadra é desenhado, para aproveitar a capacidade atlética de que desfrutam. As ações ofensivas também ficam mais simples – mas não menos eficientes. A defesa se ajustou ao seu elenco. Em vez de fazer um abafa o tempo todo, adotou princípios de Tom Thibodeau que viraram a regra geral na NBA. E por aí vai. Essas minúcias não se resumem ao time adulto. De 2005 para cá, os Estados Unidos venceram também todos os três Mundiais Sub-17 organizados pela Fiba (2010, 12 e 14). Nos Mundiais Sub-19, ganharam dois de quatro.

A essa altura, a única grande ameaça ao domínio norte-americano é interna. A gravíssima lesão sofrida de Paul George atiçou ainda mais aqueles que são contrários ao envolvimento de atletas NBA nos torneios de seleção – se for para a Fiba administrar, isto é. Vozes como a de Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks, que advoga que a liga americana assuma a organização da competição.

Esse é o tipo de história que vale monitorar nas próximas semanas, depois dessa conquista impressionante de uma seleção “B”, que terminou o torneio com saldo acima de 30 pontos em média. O tipo de jogo que nem deu para discutir direito, como essa final.


Duelo com a Sérvia escancara buraco na base brasileira
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Giancarlo Giampietro

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Quando a bola subir na quarta-feira, pelas quartas de final da Copa do Mundo, não será a primeira vez que o armador Stefan Markovic e o pivô Miroslav Raduljica vão enfrentar o Brasil num mata-mata de torneio Fiba. Sete anos atrás, ainda adolescentes, no Mundial Sub-19 eles levaram a melhor contra em uma semifinal que acabou em vitória tranquila dos balcânicos, 89 a 74.

Para quem clicou imediatamente no link acima, já deu para ver os dois ficaram, respectivamente, 26 e 23 minutos, em quadra, contribuindo com 12 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. Números regulares. Mas vale o destaque, mesmo, estatístico daquele jogo é a quantidade de brasileiros presentes na seleção nacional que derrubou a Argentina no domingo passado: 0. Isso mesmo: ze-ro.

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

Quer dizer, se formos considerar o assistente técnico José Neto, temos ao menos um – ele era o treinador daquele time. Daquela geração era de 1988-89, dos quais foram pinçados os 12 representantes para aquela campanha (?) histórica, hoje todos eles com 25 e 26 anos,  nenhum jogador conseguiu se desenvolver a ponto de entrar na lista final de Rubén Magnano para competir por uma medalha na Espanha.

Quem chegou mais perto disso foi o ala-pivô Rafael Mineiro, que disputou o Campeonato Sul-Americano deste ano, como peça integral da rotação, com médias de 6,2 pontos e 4,8 rebotes. Da seleção B, Raulzinho e Rafael Hettsheimeir foram chamados para compor o grupo principal.

Embora não tenha conseguido dar o grande salto, o talentoso Mineiro é um caro caso de atleta que conseguiu alguma continuidade em sua carreira internacional desde o Mundial Sub-19. Desde, então, ao menos conseguiu jogar três Sul-Americanos, mais que o grande nome daquela categoria: Paulão Prestes. O pivô participou só de um Sul-Americano – ironicamente, em 2006, anterior ao torneio de base. Os problemas físicos de Paulão estão bem documentados, guiando uma trajetória de altos e baixos. Foi muito bem cotado na Espanha, acabou draftado pelo Minnesota Timberwolves (algo muito difícil e não pode se perder de perspectiva), mas se lesionou demais e teve problemas com a balança. Chegou a ser pré-convocado por Magnano em duas ocasiões e hoje é a grande aposta do Mogi, ao lado de Shamell.

De resto, temos o ala Betinho em São José, com média de 13,6 pontos, 2,0 assistências e 32,5% nos três pontos em sua carreira no NBB, o ala-pivô Rodrigo César no Uberlândia e o pivô Romário no Macaé. Outro que chega ao NBB agora é o armador Carlos Cobos, de dupla nacionalidade (Espanha e Brasil), criado na base do Unicaja Málaga ao lado de Paulão, e que também não conseguiu se firmar na Liga ACB. Ele acabou de acertar com o Franca de Lula Ferreira, que ao menos vai fazendo esse trabalho de prospeção, tentando recuperar alguns dos garotos espalhados por aí.

Contando: foram citados, então, seis atletas daquele time sub-19, 50%. O restante, para termos uma ideia, é até difícil de rastrear. Luiz Gomes, que hoje é um dos motores por trás do Mondo Basquete – um site bem bacana para você visitar –, fez esse trabalho hercúleo no ano passado, já constando uma geração verdadeiramente perdida.

Thomas Melazzo, fora do basquete

Thomas Melazzo, fora do basquete

Cauê Freias, autor da cesta da vitória contra a Austrália de Patty Mills nas quartas de final, e Bruno Ferreira, o Biro, estão no Caxias do Sul e devem disputar a Liga Ouro, Segunda Divisão do NBB. Houve quem tenha parado e largado o esporte: o ala Thomas Melazzo, que tinha um potencial absurdo, hoje é personal trainer, aparentemente vivendo em Salt Lake City, terra do Utah Jazz. Se alguém souber do paradeiro dos demais, por favor, caixa de comentários aberta abaixo.

Dia desses, no Twitter, o mesmo Luiz Gomes estava especulando a respeito, apontando algumas promessas  de então e hoje na elite. Muitos deles classificados para os mata-matas de uma Copa do Mundo, na elite. A Sérvia já escalou o ala-pivôs Marko Keselj e Milan Macvan na fase decisiva do Mundial de 2010, para se ter uma ideia. No time de hoje, tem Markovic e Raduljica e ainda conta com mais cinco jogadores que teriam idade para disputar aquele torneio, mas só ganhariam visibilidade mais tarde.

Já a França apresenta quatro nomes de seu time sub-19 que bateu o Brasil na disputa pelo bronze: o armador Antoine Diot, o ala Edwin Jackson, o pivô Kim Tillie e um certo Nicolas Batum. O pivô Alexis Ajinça certamente estaria na Copa do Mundo, não tivesse pedido dispensa. Até mesmo os Estados Unidos, com sua produção de talentos incomparável, tem um representante de 2007 aqui: Stephen Curry! Daquele elenco, destacam-se também nomes como DeAndre Jordan (Clippers), Patrick Beverley (Rockets) e Michael Beasley (Marte).

Entre os demais quadrifinalistas da Copa, para ser justo, é preciso dizer que a Espanha só tem um atleta daquela jornada: o ala Victor Claver. Lituânia e Turquia? Nenhum. A Eslovênia não havia se classificado.Mas também é preciso dizer uma coisa sobre os lituanos: sua atual seleção conta com cinco jogadores nascidos depois de 1988 (o ano-limite para inscrição naquele Mundial): Adas Juskevicius, Sarunas Vasiliauskas, Mindaugas Kuzminskas, Donatas Motiejunas e Jonas Valanciunas – os dois últimos simplesmente as maiores apostas dessa tradicional potência. Já os turcos têm três: o caçula Cedi Osman, de apenas 19, além de Furkan Aldemir (cujos direitos na NBA pertencem ao Sixers) e Baris Hersek.

Nessa categoria, de atletas de 26 anos ou mais jovens, também se enquadram os argentinos Facundo Campazzo, Nícolas Laprovíttola, Tayavek Gallizzi, Matías Bortolín e Marcos Delía. A Austrália contou com seis: Dante Exum (19), Brock Motum, Cameron Bairstow (23), Matthew Dellavedova, Ryan Broekhoff (24) e Chris Goulding (25, este convocado para aquele Mundial Sub-19). Já os Estados Unidos possuem apenas um jogador nascido antes de 88: Rudy Gay, e só.

No Brasil, com 22 anos, Raulzinho é a figura solitária. Rafael Luz acabou preterido no último corte, enquanto Augusto Lima dançou já no Sul-Americano. Uma decisão bastante sensata poupou Bruno Caboclo dessa. Já Lucas Bebê foi deixado na geladeira, depois da escapada do ano passado. Ao menos o filho do Raul vem sendo utilizado com regularidade por Rubén Magnano, contribuindo para valer hoje – e ao mesmo tempo ganhando uma experiência extremamente valiosa para o futuro. Agora, fora isso, a seleção que joga na Espanha, a mais velha do Mundial, é apenas para agora e agora.

Obviamente que a base do elenco de Magnano é fortíssima, não sobram vagas. Como acontece com a Espanha. Agora, na periferia do plantel, será que não dava para encaixar? Depois de uma vitória contra a Argentina, na iminência de um confronto com a Sérvia, pode ter gosto de chope aguado todas essas lembranças. Nesta semana, as preocupações dos envolvidos com o jogo ficam realmente direcionadas só para a quadra. Fora dela, porém, nos escritórios da CBB, o tema já deveria estar na mesa há tempos. Sem precisar que a figura até folclórica de Raduljica, nesta quarta-feira, servisse como recado.


A (outra) esquadra americana no Mundial
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Giancarlo Giampietro

Blatche, versão Smart Gilas

Blatche, versão Smart Gilas

No dia 26 de maio, ao final de uma sessão do Senado na capital Manila, o senador filipino Juan Edgardo “Sonny” Angara estava exultante. O projeto de Lei nº 2108 havia sido aprovado de modo unânime, e a seleção nacional de basquete estava muito perto de garantir os serviços de Andray Blatche na Copa do Mundo deste ano. Bastava apenas uma aprovação final do gabinete presidencial. O famoso carimbo.

“Blatche é possivelmente o melhor pivô da NBA que podemos conseguir, que esteja disposto a evitar algumas ofertas mais lucrativas agora e no futuro apenas para integrar nossa equipe”, disse Angara, chefe da comissão de Jogos, Esportes e Lazer do Congresso filipino. “Ter jogadores naturalizados é a regra nas competições internacionais em vez da exceção. É algo bastante aceito. Apenas vamos tirar vantagem dessa regra”, completou.

Pragmaticamente, o digníssimo senador Angara está correto. É a esse o ponto que a Fiba permitiu o jogo de seleções chegasse. Os torneios de seleção viraram, também, uma extensão do balcão de negócios do mercado da bola. Até ganhar um passaporte, Blatche nunca havia pisado por lá, embora jure que tenha sangue filipino.

A regra atual da federação permite que cada seleção conte com um jogador estrangeiro em seu plantel, sem exigência de vínculo algum desse atleta com o país adotivo. Não precisa ter morado por lá, não precisa ter um tio avô do cunhado, nem nada dessas besteiras. A justificativa: aumentar o poder de competitividade. E algo mais.

“O processo de naturalização é permitido pela Fiba para dar a outros países a chance de se igualar em termos de altura e talento. Não há nada errado com isso”, afirma o agente Danny Espiritu nesta matéria aqui, que advoga pela naturalização – haja propaganda. Mas veja bem: se equiparar não só em talento, como em… Altura! Não precisa nem fazer piada a respeito. Para constar: Blatche tem algo em torno de 2,10 m de altura (a gente nunca sabe a medida exata, então ficamos nessa generalização).

Daí que Filipinas, equipe que não joga o Mundial desde 1978, saiu de modo agressivo em busca de um reforço. JaVale McGee chegou a se candidatar publicamente a esta vaga, mas sua temporada avariada por lesões no joelho o tirou do páreo. Então, optaram (ou aceitaram uma oferta?), por Blatche, que fez uma bela campanha pelo Brooklyn Nets.

Marcus Douthit deu para o gasto e agora é substituído por Blatche

Marcus Douthit deu para o gasto e agora é substituído por Blatche

Ele ficou fora dos Jogos Asiáticos, uma vez que a autoridade olímpica do vasto continente exige que, para um atletas naturalizados ser inscrito, ele precisaria ter passado um mínimo de três anos seguidos eu seu novo país. Não que fosse um grande problema, pois o time já contava com outro pivô gringo, Marcus Douthit, que já foi escolhido pelo Lakers na década passada e teve, por exemplo, um double-double de 10 pontos e 22 rebotes em confronto com a China.

Superado o empecilho regional – ainda que no torneio FIBA local, o impacto de gringos também seja descarado –, durante a fase de treinos e amistosos, o pivô filipino norte-americano assumiu o controle de uns 90% dos ataques da equipe. Virou cada Blatche por si, e um Blatche contra todos, basicamente. O cara tem movimentos de costas para a cesta, agilidade para bater os grandalhões no ataque frontal e bom chute de média distância, além de ser bom passador. Fosse um pouco mais dedicado ao condicionamento físico e aos treinos em geral – em Washington, é persona non grata –, teria recursos de sobra para ser um protagonista na NBA. No Mundial, porém, já faz o necessário para brilhar.

Em sua estreia contra a França, em derrota por 75 a 68, ainda fora de sintonia, ele tentou 17 arremessos e 2 lances livres em 26 minutos, acertando cinco. Somou 12 pontos e 7 rebotes. Contra a Austrália, derrota por 97 a 75, no dia seguinte, foram 17 arremessos (sete de três pontos!) e 3 lances livres em 28 minutos, com rendimento superior: 20 pontos e 10 rebotes.

(Para constar: no terceiro dia do quadrangular, foi poupado contra a Ucrânia, e seu time tomou uma sacolada de 114 a 64. Sabe quando será a próxima vez que a Ucrânia vai superar a marca de 100 pontos? Quando colarem aqui na Vila Guarani e enfrentarem o time do bairro. Só assim: no restante dos amistosos, o máximo que conseguiram foram os 73 pontos contra o México. Contra Lituânia e Eslovênia, não chegaram nem a 65 pontos.)

Depois, voltou a jogar contra Angola, em mais uma derrota pro 83 a 74, a despeito de seus 33 pontos e 17 rebotes. Há amistosos contra Egito, País Basco e tudo o mais, mas já deu para sacar, né? Se houvesse uma competição de Fantasy no Mundial, dá para dizer que o passe de Blatche estaria bem cotado.

Não é a primeira vez que os Gilas apelam para jogadores naturalizados. Douthit está aí como prova. Nos anos 80, eles contaram com alguns norte-americanos em seu time, incluindo um nome surpreendente: Chip Engelland, hoje um dos assistentes técnicos mais cobiçados da NBA, devido ao seu trabalho com o San Antonio Spurs. Foi ele que reinventou a mecânica de lance livre de Splitter.

Eles não são os únicos, claro. Um dos maiores ídolos do basquete grego é natural de Union City, Nova Jersey. Estamos falando de Nick/Nikos Galis, já nomeado para o Hall da Fama da Fiba em sua primeira classe, apontado também como um dos 50 melhores da história e da Euroliga. O cestinha se formou por Seton Hall, foi selecionado no Draft de 1979 pelo Boston Celtics, mas foi pelo Aris BC, ao lado de Panagiotis Giannakis, que entraria para o panteão. Ele é dos poucos que realmente merece o apelido de “mito”, ainda mais na Grécia.

Mais recentemente, tivemos um armador americano liderando, oras, a Rússia. JR Holden conseguiu algo que, nos anos 80, pareceria menos provável do que Arvydas Sabonis recusar um copo de cerveja. JR Holden teve seu passaporte providenciado diretamente por Vladimir Putin e ajudou o país a ganhar o Eurobasket de 2007, com David Blatt de técnico.

Importar armadores, aliás, virou uma prática realmente de se abrir os olhos na Europa. No Eurobasket 2013, sete países diferentes, incluindo Croácia e Itália, tiveram de usar essa cartada extra.

Por aí vamos. Em 2008, Chris Kaman resolveu ativar sua cidadania alemã, por conta de seus avós paternos. Nem seu pai, já nascido nos Estados Unidos, aprovou a ideia. “Mas eu não me importo”, disse o pivô, agora do Blazers. “Faço o que quiser, não tenho de agradar a ninguém. Ainda sou um americano. Ainda jogo na NBA. Ainda sou de Michigan. Apenas escolhi seguir minha ascendência de um pouco mais atrás e ver se eles me permitiram jogar pela Alemanha.”

Chris Kaman, neto de alemão com muito orgulho e muito amor, jogou as Olimpíadas de 2008

Chris Kaman, neto de alemão com muito orgulho e muito amor

Simples assim. Num país como os Estados Unidos, de imigração incessante, a fonte se torna praticamente inexaurível. Se a Alemanha já conseguiu que um neto se prontificasse a ajudar Dirk Nowitzki, imagine a facilidade que Porto Rico (território americano, aliás), República Dominicana e outros países caribenhos têm para procurar reforços.

Foi assim com Renaldo Balkman. O ala-pivô jamais poderia sonhar em defender os Estados Unidos. Então sorriu e topou na hora quando a federação “rival” foi procurá-lo. Melhor: sua mãe (cujo ramo familiar era porto-riquenho), diferentemente do caso de Kaman, aprovou tudo. “Ela sempre me disse que eu deveria visitar aqui, e eu finalmente vim. E veja no que deu. Agora estou na seleção. Na primeira vez que vim, achei as coisas diferentes. Agora é por nosso país, pelo nosso orgulho.”

O ala-pivô defende Porto Rico desde 2010 e se tornou uma peça-chave de uma equipe que promete dar um trabalho danado nesta Copa do Mundo. Entre dominicanos, o escolta nova-iorquino James Feldeine foi recrutado mais recentemente, iniciando sua trajetória pela seleção no ano passado. Para o futuro, a aposta fica no jovem ala-pivô Karl Towns, ainda um adolescente, considerado um dos dez melhores recrutados da NCAA este ano, por Kentucky.

Por aí vamos, sem nos esquecermos do bauruense Larry Taylor. Claro que cada caso é um caso. O armador natural de Chicago já passou muitos Carnavais por aqui para contar história.

Começando por ele, então, aqui vão os americanos que defenderão outras nações, com os mais diferentes contextos. Comparando com os torneios de Europa e Ásia do ano passado, até que o povo maneirou:

Larry Taylor (Brasil)
O que para Shamell não aconteceu, para Larry foi até rápido: a naturalização e sua convocação intrínseca para defender o Brasil. Obviamente, Rubén Magnano adora o atleta: desde que foi liberado burocraticamente, o astro do Bauru, um tremendo boa praça, está no grupo de intocáveis do técnico.

Na Espanha, Larry vai ter papel integral na rotação, revezando com Huertas e com os alas, dependendo do adversário. Tal como fez com Goran Dragic em amistoso na semana passada, esperam que ele seja usado para atazanar os armadores oponentes com forte pressão em cima da bola, usando sua velocidade e tenacidade. É algo que consegue executar muito bem, mesmo.

O problema está do outro lado da quadra. Na hora de atacar, não está nada acostumado a jogar sem a bola, por vezes fincando os pés em um lado da quadra, isolado. Rende melhor quando parte no drible, um contra um – algo que na seleção vai acontecer bem menos do que em Bauru. Como arremessador de três pontos, somando Olimpíadas e a última Copa América, acertou apenas duas de 21 tentativas. Ai.

Eugene “Pooh” Jeter (Ucrânia)
A primeira referência que acompanha o armador de 30 anos é o fato de ele ser irmão da velocista Carmelita Jeter, uma das estrelas do atletismo dos Estados Unidos. É um bom dado para qualquer enquete, sem dúvida. Mas o americano já construiu uma respeitável carreira no exterior a ponto de ter reconhecimento próprio.

Vamos colocar desta maneira: se Jeter não tivesse comprado a ideia, os ucranianos jamais teriam se classificado para o Mundia. No Eurobasket passado, era um dos poucos atletas dessa seleção capazes de produzir a partir do drible. Num time que adora gastar a posse de bola, cabia ao baixinho muitas vezes desafiar os oponentes e o relógio para pontuar. Teve médias de 13,5 pontos e 4,1 assistências, com 47,6% nos arremessos de 2 pontos e 35,7% de três. Considerando toda a carga sobre seus ombros, é um desempenho sensacional.

Pooh jogou na China no ano passado e reclama de que nunca teve uma chance real para mostrar seus talentos na NBA, depois de passar apenas um ano como reserva do caótico Sacramento Kings de 2010-11. Ao menos, em seu currículo tem uma passagem pelo basquete ucraniano, tendo defendido o BC Kyiv em 2007-08.

– Oliver Lafayette (Croácia)
Depois de usar Dontaye Draper no Eurobasket, a Croácia agora decidiu investir em Lafayette para compor sua armação no Mundia. Sim, deus do basquete, até a Croácia enfrenta séria dificuldade para produzir um armador local que lhe deixe confortável em competições de ponta.

O convite aconteceu de úuuultima hora. Vejam só: em junho. Dito o sim, o passaporte saiu rapidamente. Assim que se faz. Aos 30 anos, então, o veterano, ainda muito rápido e forte, entra no mundo das seleções, ajudando Roko Ukic, em busca de qualquer entrosamento possível com os novos companheiros.

Lafayette, mais um pontuador do que um organizador, se formou na universidade de Houston em 2005 e vagou pela D-League até assinar com o Boston Celtics em 2010 para fazer precisamente um jogo pelo clube. E não é que foi bem? Anotou sete pontos, um recorde para um atleta nessas condições.

Dali para a frente, com a NBA inscrita em seu currículo, migrou para a Europa e rodou por grandes clubes como Partizan Belgrado, Zalgiris Kaunas e Valencia, na temporada passada – mas nunca por uma agremiação croata. Agora, vai se juntar ao Olympiakos, vindo de boa campanha na Espanha.

Nick Calathes (Grécia)
Com avô grego, Calathes foi um jogador de ponta na NCAA, como estrela de Florida, mas se concentrou em defender os helênicos desde cedo, tal como seu xará Galis. Ele se vestiu de azul e branco já no Eurobasket sub-20 de 2008. Um ano depois, faria sua estreia pela seleção.

Alto, forte, de excelente visão de jogo, o armador se beneficiou da dupla cidadania para assinar um acordo generoso com o Panathinaikos, ignorando, num primeiro momento, a NBA. Seu contrato foi assinado em maio de 2009, antes mesmo do Draft, valendo nada menos que 2,4 milhões de euros limpos por três anos. Sem contar o fato de que tinha residência e carro pagos pelo clube, mais a grana dos patrocínios. Uma bolada.

Quando questionado se a decisão de jogar pela seleção grega estava incluída neste mesmo pacote, Calathes foi enfático em negar, em 2011: “Não, não. Nada disso. É uma honra jogar pela Grécia, por minha ascendência, minha família. Espero poder jogar muito mais pela equipe”.

E aqui está Calathes, como um dos protagonistas da seleção grega – algo que seu irmão mais velho, Pat Calathes, uma vez cotado como um belo prospecto, não realizou. Já liberado depois de cumprir gancho de quatro meses por dar positivo em exame antidoping, vai para o Mundial e cheio de responsabilidades para guiar a seleção que sente a falta de Vassilis Spanoulis.

Renaldo Balkman e Alex Franklin (Porto Rico)
Já escrevi até que bastante sobre o ala-pivô no ano passado, antes da Copa América, e suas encrencas por aí. Para atualizar, vale a menção de que ele arrebentou no torneio continental, com médias de 18,7 pontos e 8,9 rebotes pelos vice-campeões. Com seu vigor físico e mais liberdade no ataque, pode fazer diferença, ainda que contra concorrência mais dura.

Já Franklin, natural da Pensilvânia, faz a sua segunda campanha pela seleção porto-riquenha, herdando a vaga que seria de John Holland. Um ala hiperatlético, Holland havia se tornado peça fundamental da equipe, mas virou desfalque este ano devido a uma lesão. Aprovado no Centrobasket, seu substituto tenta segurar o rojão no perímetro ao lado de Barea e Arroyo. Um ala de 26 anos, jogou pela universidade de Siena, pela qual foi uma estrela. Depois, virou profissional na Espanha e no México, até chegar aos Indios de Mayagüez.

James Feldeine e(República Dominicana)
Feldeine vem de uma vizinhança barra-pesada de Nova York, ao norte de Manhattan. “Washington Heights me fez virar o homem que sou hoje. Foi muito duro crescer em um lugar tão difícil. Havia muita violência por parte das gangues”, conta. Você já imagina todo o cenário, né? E que o basquete, como em diversos casos, serviu de refúgio para o garoto de mãe dominicana.

Dos playgrounds nova-iorquinos, o ala-armador foi para a modestíssima universidade de Quninnipiac, de Hamden. O sonho de NBA ficou longe, mas ele se tornou um jogador de ponta na Espanha, jogando a Liga ACB pelo Fuenlabrada, com médias de 15,9 e 13,9 pontos por jogo em duas temporadas. Nada mal. Agora, tem contrato com o Cantú, da Itália.

Explosivo em suas infiltrações, um bandejeiro de primeira, Feldeine estreou pela República Dominicana no ano passado, na Copa América, com 14 pontos por partida. Seu estilo casa bem com o de Francisco Garcia.

O país ainda poderia contar com Karl Towns, de 18 aninhos,  uma das maiores promessas do basquete universitário americano deste ano. Ao mesmo tempo que o recrutou para Kentucky, John Calipari também o pôs para jogar na seleção caribenha – uma opção surpreendente para um garoto tão badalado desde cedo. Do alto de seus 2,13 m, com envergadura e leveza impressionantes, o pivô ainda está nos primeiros passos de seu desenvolvimento como jogador, mas não jogará na Espanha, vetado por sua universidade.  Pena.

­- Erik Murphy (Finlândia)
Esse o torcedor do Bulls conhece. Pelo menos um pouco. O ala-pivô foi selecionado pela equipe no Draft passado, na onda do stretch 4 da NBA. Graduado pela universidade de Florida, subiu de cotação devido ao seu potencial no arremesso de três pontos. Frágil fisicamente, porém, foi pouco aproveitado por Tom Thibodeau em seu ano de novato. Rapidamente, viu como funcionam os negócios da liga rapidamente.

Para limpar espaço em sua folha salarial e evitar o pagamento de multas, a franquia de Chicago o dispensou antes mesmo de sua temporada de calouro se encerrar. O Utah Jazz aceitou seu contrato, mas nunca chegou a escalá-lo. Em julho deste ano, foi repassado para o Cleveland Cavaliers. Não se sabe se há realmente um interesse em aproveitá-lo ao lado de LeBron James.

Pensando nisso, a Copa do Mundo vem bem a calhar para o atleta de 23 anos – hora de mostrar serviço, com todos observando, afinal. Erik tem passaporte finlandês por parte da mãe, Päivi, que foi jogadora da seleção do país. Aqui, estamos falando, na verdade, de uma família só de basqueteiros: seu pai, Jay Murphy, fez carreira na Europa. O irmão caçula, Alex, começou na NCAA sob o comando do Coach K em Duke, mas pediu transferência para Florida.

“Os garotos vão para a Finlândia a cada verão. Meu irmão ainda está lá, meus sobrinhos. Falamos sobre como seria divertido ele jogar pela seleção. Mas o mais importante é algo que serve de inspiração, e eles estão orgulhosos disso”, conta a mãe em entrevista ao site do Bulls.

Curiosidade: quem também tentou entrar na festa foi o veteranaço Drew Gooden, do Washington Wizards – sua mãe também tem ascendência escandinava. A papelada não foi regularizada a tempo, porém. “Mesmo que não seja possível este ano, ainda vou para a Espanha apoiar o time e os jogadores e começar a construir uma relação para os próximos anos. De qualquer forma, vou conseguir minha dupla cidadania e vou me tornar um cidadão finlandês”, assegurou.

Reggie Moore (Angola)
É, até nossos irmãos entraram na onda. Formado na universidade de Oral Roberts em 2003, Moore jogou em Portugal, Israel e Espanha até migrar para Angola em 2009. Está lá desde então, defendendo hoje o Primeiro de Agosto. Em suma: como se fosse o Larry Taylor angolano.

Sua naturalização gerou um burburinho, mas, em maio de 2013, o presidente da federação do país, Paulo Madeira, simplesmente se defendeu dizendo que a seleção precisava de um pivô, e que Moore havia se oferecido. “O atleta manifestou publicamente interesse em representar a seleção, como fruto dos vínculos familiares que está a criar. E a nós interessa ter um jogador como ele”, disse o dirigente.

Reggie Moore, da Califórnia para Angola

Reggie Moore, da Califórnia para Angola

Moore correspondeu em sua estreia por Angola no Afrobasket do ano passado, com 10,1 pontos e 3,6 rebotes em média, sendo bastante regular na campanha do título. Baixo, com 1,98 m, e forte, com bom arremesso, gosta de atacar a cesta de frente.


Um giro rápido pelas 24 seleções do Mundial
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Giancarlo Giampietro

A Copa do Mundo está chegando, faltam só cinco dias. Então chegou a hora de o blog largar a preguiça (quem dera!) de lado e entrar no clima. Enquanto as seleções ainda se estapeiam nos amistosos, publicamos aqui um giro de observações, notas, comentários ou seja lá o que forem…. sobre cada uma das seleções participantes. Vamos pôr assim: é  um guia de iniciação básico, mas nada objetivo sobre o que vem por aí:

Angola: um time em transição, mas de pura simpatia e empatia depois da breve passagem deles pelo Rio. Estamos todos na torcida por nossos irmãos, que reinam na África e também . merecem glórias e glórias internacionais, não?

Argentina: quantos jogadores Andrés Nocioni vai tirar do sério? Como Llamas vai encaixar tantos atletas similares num mesmo quinteto? Quantas vezes por jogo seremos lembrados que, sim, é uma pena que Ginóbili e Delfino não estejam listados? Há time mais velho e devagar que esse? E a renovação? E a crise política? Incrível como adoramos questionar os hermanos. Falta terminar acima deles na tabela uma vez que seja…

Austrália: quietinhos, quietinhos no paralelo 27º S, os Aussies vão montando um time de muito respeito, para agora e para muitos anos à frente (Dante Exum, este ano, só por alguns minutinhos). Choremos todos, porém, a ausência de um empolgadíssimo Patty Mills após suas jornadas de arromba com o Spurs. Por conta própria, o formiguinha atômica poderia incitar toda uma revolução na Espanha.

Brasil: Vocês sabiam que, para muita – mas muita gente, mesmo –, a seleção tupiniquim entra no Mundial como séria candidata a medalha, né? E, imagino, também sabiam que, para entrar nessa festa, a CBB desembolsou mais de R$ 2 milhões por um convite. Isso quer dizer pressão.

Coreia do Sul: confesso minha ignorância. Esperava um monte de baixinhos de 1,70m, rodeando o poste humano que atende por Ha Seung-Jin, atirando de três pontos sem parar. Pelo menos era o que meu avô me dizia. Mas, putz, nem o Seung-Jin está nessa.

Croácia: eles importaram mais um norte-americano, o que representa um sacrilégio, mas a verdade é que há uma nova geração surgindo cheia de potencial. Dario Saric já vale para agora, enquanto Mario Hezonja não deve jogar por mais que 10 minutos em média. Daqui até a próxima edição, porém, vale monitorar como estará, especialmente, o adolescente Dragan Bender. Guardem os nomes.

Egito: estão no Mundial muito mais para preencher a frase: “O time para o qual o Brasil não pode perder de jeito nenhum é o _______”. Dois rapazes têm NCAA em seus currículos, mas não esperem nem mesmo um Salah Mejri aqui.

Eslovênia: Dragic ou Dragic? Na dúvida, vai de Dragic, mesmo. Os irmãos Goran e Zoran – que não são gêmeos, apesar da foto abaixo –, vão descer a quadra a mil. Pegue todo o estereótipo que o mundo faz de armadores americanos, embrulhe e jogue no lixo. Aqui é adrenalina, e que os malas Sasha Vujacic e Beno Udih, fora da festa, fiquem muito bem de pernas para o ar.

Goran e Zoran. Ou Zoran e Goran: na época de Houston, fotografos por Daryl Morey

Goran e Zoran. Ou Zoran e Goran: na época de Houston, fotografos por Daryl Morey

Espanha: também a despedida de uma geração histórica? Difícil imaginar Pau Gasol, Navarro e Calderón reunidos daqui a dois anos no Rio. O Rudy Fernández, porém, na certa virá. Ele que é desde já o candidato a grande ator do Mundial, jogando seu topete de maneira dramática para um lado e para o outro, a cada perspectiva de pancada.

Estados Unidos: desde a retomada guiada por Jerry Colangelo, encaram seu maior desafio. E mais: em casa, só serão notícia no caso de não voltarem com o ouro para casa.

Filipinas: quais as chances de Andray Blatche abandonar o navio antes do final da fase de grupos, no caso de receber todos os seus cheques com antecedência? Eu chutaria que estão acima de 87%.

Finlândia: Os lobos. Hanno Möttölä. Angry Birds. O basqueteiro conservador mais que angry, irado. Tudo aqui: #Susijengi.

França:  há vida sem Tony Parker, JoJo e, agora, De Colo? Acho que sim. Mais uma chance para Boris Diaw mostrar que é um novo homem, com menos hambúrgueres na cintura, e para Nic Batum botar em prática seu vasto arsenal. No garrafão, Joffrey Lauvergne vai brigar por todos os rebotes, enquanto o espigão Rudy Gobert pede passagem. O pior é que, num excesso de precaução, Ian Mahinmi pode ser o escolhido. Oui, aquele.

Grécia: Vamos lá, gente, todo mundo junto: Giannis A-n-t-e-t-o-k-o-u-n-m-p-o. Giannis Antetokounmpo. Agora rápido: Giannisantetkounmpo! Em grego, “menino de ouro” deve ser uma expressão bonita.

Irã: É o show de Hamed Haddadi, e não se fala mais nisso.

Lituânia: é a terra do basquete, aonde o futebol quase não tem vez. Além do mais, pode não haver nenhum sobrenome do peso de Sabonis, Karnisovas, Siskauskas ou Jasikevicius, mas estamos diante de um timaço aqui, com uma penca de pivôs habilidosos.

México: vamos, cabrones. Campeões da Copa América. Campeões do Centrobasket. Esses muchachos estão na crista da onda, liderados pelo ainda subestimado Gustavo Ayón. Precisa ver apenas se já não chegam ao Mundial consagrados demais.

Nova Zelândia: são esforçados, e tal, mas, sem Steven Adams, não há muito com o que se distrair aqui. Que puxa. Podemos colocar assim: já houve um tempo em que eles eram verdadeiros rivais da Austrália, como o veterano Kirk Penney bem sabe. Se ele já sente saudades do Sean Marks, hoje dirigente do Spurs, imagine do Pero Cameron!?

Porto Rico: são eles que agora  desfrutam da ideia de que alcançaram a maturidade sob o comando de um estrangeiro: Paco Olmos, que já foi técnico do ano na ACB. Ao mesmo tempo, fica a impressão de que estamos a um ou dois estalos de dedo para ver Balkman perdendo as estribeiras em quadra e/ou Barea e Arroyo se pegarem pelo pescoço em disputa pela chave do carro. Se os baixinhos coexistirem em harmonia, pode ir longe o time.

República Dominicana: que faz falta o craque Al Horford, ô se faz. Mas ainda formam um time traiçoeiro, com sua turma doidinha toda vida no perímetro, com destaque para James Feldeine, um bandejeiro de primeira. De resto, fiquem de olho garotão Karl Towns, uma das maiores promessas das Américas, que vai da Espanha para o campus de Kentucky.

Senegal: aqui também não dá para fugir muito do estereótipo que todos vão evocar sobre uma seleção senegalesa. De que será uma equipe hiperatlética, com Gorgui Dieng fazendo das suas no garrafão, mas com alguns problemas no controle de bola. Que nos provem o contrário.

Sérvia: a cada torneio, de um mês para outro, temos a sensação de que eles trocam de geração – e de que estão sempre envolvidos por uma presepada. Mas sempre surge quem tenha toda a pinta, mesmo, de que pode carregar um país dessa tradição nas costas. Bogdan Bogdanovic ainda não precisa fazer isso, mas pode ser que num futuro bem próximo seja esse o seu papel.

Turquia: 98 pivôs de razoáveis para bons, incluindo ao totalmente excelente Omer Asik, mas esbarrando numa armação precária, com jogadores que fazem até mesmo nossos amigos peladeiros venezuelanos parecerem mestres Gedai.

Asik, Kanter, Erden, Ilyasova, Savas, Gonlum... Grandalhões não faltam para a Turquia

Asik, Kanter, Erden, Ilyasova, Savas, Gonlum… Grandalhões não faltam para a Turquia

Ucrânia: tem tudo para estrelar as partidas mais chatas do campeonato. O índice Morfeu é altíssimo, acreditem – parabéns a quem editou o vídeo abaixo, dando alguma emoção. Com exceção de Viacheslav Kravtsov (ex-Suns e Pistons), seus pivôs jogam arrastando maças de ferro de no mínimo 50 kgs no pé de apoio. Dá até dó de Pooh Jeter e Sergii Gladyr, dois caras (que tentam ser) criativos. Tudo sob a orientação minuciosa de Mike Fratello, o mesmo técnico que já dirigiu alguns dos times mais modorrentos da história da NBA nos tempos de Cleveland. Seu apelido é Czar, mas isso vem de muito antes, tá?


Brasil conhece grupo. Obrigação é bater Irã e Egito para avançar
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Giancarlo Giampietro

Em 2010, o Brasil (com Splitter, diga-se) superou o Irã. Reencontro 4 anos depois

Em 2010, o Brasil (com Splitter, diga-se) superou o Irã. Reencontro 4 anos depois

Extra! Extra! Saíram os grupos da Copa do Mundo de basquete!

O Brasil? Bem, o convidado e gastão Brasil caiu no Grupo A, ao lado de Espanha, França e Sérvia!

Dureza, hein?

Mas calma: Irã e Egito completam a chave. São seis integrantes, dos quais passam quatro para os mata-matas. Então, de cara, o que a gente pode dizer?

Que é obrigação bater Irã e Egito e passar de fase.

Por outro lado, era “o-bri-ga-ção” superar Jamaica e Uruguai na Copa América, e deu no que deu.

Avaliar, hoje, 3 de fevereiro de 2014, a força dos países que vão ao Mundial é nada mais que um exercício hipotético. Não temos a menor ideia de quem vai se apresentar, ou não, para o Mundial.

De certezas, mesmo, o que temos é que os Estados Unidos são os grandes favoritos ao bicampeonato. Mesmo sem LeBron, Kobe, Carmelo, Wade ou Chris Paul. E que não dá para perder do Egito. Por favor.

Um tropeço contra os faraós seria algo inimaginável. E contra o Irã? Bem… Para quem já advogou a favor da Finlândia no fim de semana, mantenho a coerência e recomendo calma, tranquilidade, paz e serenidade na hora de falar dos caras.

Obviamente seria pior ter os finlandeses na chave. Os escandinavos, pelo que praticaram no último Eurobasket, não podem ser considerados de modo algum como galinhas mortas. Agora, dá para dizer também que, entre os países mais fracos, o Irã, que ocupa a 20ª colocação no Ranking da FIBA, é bem mais encardido que Coreia, Filipinas, Nova Zelândia, Senegal e Egito.

O que sabemos sobre os iranianos?

Essa é uma boa hora para recuperar dois posts do ano passado, durante a disputa dos torneios continentais. Na Ásia, o Irã atropelou todo mundo. Foram nove vitórias em nove jogos rumo ao título. Na final, eles bateram os anfitriões filipinos por 85 a 71. Na semifinal, superaram Taiwan (que havia eliminado a China…) por 79 a 60.  Quem lidera a equipe é o pivô Hamed Haddadi, ex-Memphis Grizzlies, Phoenix Suns e Toronto Raptors. Tratado como figura cult na NBA, ele é um cara dominante no mundo Fiba. Na decisão asiática, ele somou 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos.

Esses números e o retrospecto na Ásia podem parecer assustadores, mas é preciso se levar em conta que o continente ao oriente não tem nem de perto a mesma competitividade que testemunhamos aqui nas Américas, por exemplo.

Se o Brasil tiver força máxima, ou algo perto disso, espera-se uma vitória tranquila. Como aconteceu no Mundial da Turquia em 2010. Quem se lembra? No começo de trabalho com Magnano, a então revigorada seleção, marcando bem, pressionando a bola, saiu vencedora de quadra na primeira fase por 81 a 65. O elenco tupiniquim era: Huertas, Nezinho, Raulzinho, Alex, Leandrinho, Machado, Marquinhos, Giovannoni, Murilo, Varejão, JP e Splitter. Nenê se apresentou, mas se desligou por motivo de lesão.

Não há motivos para esperar um desfecho diferente no torneio deste ano, na cidade de Granada, ao Sul da Espanha, em território que já foi dominado por uma dinastia islâmica.  Agora, de novo: é preciso quem Magnano vai convocar, aqueles que vão se apresentar e tudo isso.

A gente fala em obrigação, trabalhando na teoria. A vontade é colocar uma aspinha nisso: ‘obrigação’. Na prática, no mundo da CBB, depois dos acontecimentos de 2013, nada é garantido.

*  *  *

Sobre França, Espanha e Sérvia, o que dizer?

Bem, os franceses vão jogar cheios de confiança, como atuais campeões europeus, um título que eles comemoraram muito, mas muito, mesmo, no ano passado. Serviu como terapia para Tony Parker, além do mais. Agora, monitoremos todos como será a temporada do francês pelo Spurs. Jogar dois anos seguidos em competições Fiba, emendadas com longas jornadas na NBA, não é algo simples, fácil de se cumprir. Para a Espanha, como anfitriã, é de se imaginar que eles tenham força máxima, dependendo apenas que a enfermaria não retenha muita gente. Com os irmãos Gasol, seus excepcionais armadores, as bombas de Navarro e um Ibaka ainda melhor no ataque – mas sem abrir o berreiro? –, o time seria a segunda grande força do campeonato. Sacre bleu!, podem exclamar Parker, Batum e Noah, mas é o que acho. Por fim, a Sérvia é um dos times mais imprevisíveis da paróquia. A gente nunca sabe quem vai jogar. É como se eles trocassem de geração a todo momento. E, mesmo que os bambas joguem, controlar os egos dessa turma tem sido um problema desde que Dejan Bodiroga e Peja Stojakovic se foram. Fulanovic vai com a cara de Cicranovic? O talento é inegável, mas a química… Vai saber.

*  *  *

O restante dos grupos segue abaixo:

B – Argentina, Senegal, Filipinas, Croácia, Porto Rico, Grécia.
Os asiáticos deste grupo stão fazendo questão de espalhar pelos quatro cantos: “PROCURA-SE JOGADORES COM ASCENDENCIA FILIPINA DESPERADAMENTE”. No momento, eles estão tentando naturalizar JaVale McGee, o pivô mais insano da NBA, e Andray Blatche, outro cujo cuco também não bate muito bem, ex-companheiro de McGee num time de pirados em Washington, mas muito mais talentoso e que dá trabalho para qualquer um no mano-a-mano. Agora, mesmo com essa dupla, não dá para imaginar que Argentina, Croácia, Porto Rico e Grécia estejam preocupados. Temos aqui o quarteto de favoritos óbvios. O Senegal já forneceu nove jogadores para a NBA (embora pouquíssimos tenham vingado) e eliminou a Nigéria no último torneio africano, além dos donos da casa, a Costa do Marfim, na disputa pela terceira vaga. Então não deve ser desprezado. Mas, em CNTP, ficam pelo caminho.

C – EUA, Finlândia, Nova Zelândia, Ucrânia, República Dominicana, Turquia
Aqui a briga promete pelas vagas de segundo a quarto – já que o primeiro lugar é claramente da Nova Zelândia do sensacional Steven Adams… Então, bem, como vínhamos dizendo, a Turquia supostamente seria a segunda principal força desta chave. Com Omer Asik, Ersan Ilyasova, Emir Preldzic, Semih Erden, Furkan Aldemir, entre outros, porém, o time tem uma linha de frente formidável, mas um jogo de perímetro extremamente instável. Fossem outros tempos, poderíamos dizer que se tratam dos “caribenhos” da Europa. Foram vice-campeões na última edição, mas jogando em casa e com uma ajudinha da arbitragem. Então ficam no mesmo bolo de Ucrânia (um dos times mais modorrentos do últmio Eurobasket, com um basquete arrastado, excessivamente controlado por Mike Fratello, mas que se meteu entre os sete melhores),  Dominicana (Horford consegue se recuperar a tempo? Charlie Villanueva pode estragar tudo!? Será que o Calipari vai ficar tentado??) e Finlândia (o patinho feio que ganhou dos próprios turcos no Eurobasket.

D – Lituânia, Angola, Coreia do Sul, Eslovênia, México, Austrália.
O mesmo cenário se repete aqui. Com a diferença de que a Lituânia, bastante instável nas últimas temporadas – são os atuais vice-campeões europeus, mas precisaram jogar o Pré-Olímpico Mundial para chegar aos Jogos de Londres  –, pode se ver no mesmo pelotão de Eslovênia e Austrália. Mais abaixo talvez o México, depois de chocar as Américas no ano passado, talvez tenha algo a dizer a respeito, enquanto Angola está para a África assim como o Irã, para a Ásia. E a Coreia? Bem, com apenas seis jogadores acima de 1,94 m no elenco, sem chance.

 *  *  *

Os cruzamentos: as seleções do Grupo A batem com as do Grupo B no início dos mata-matas. Logo, é possível, sim, que tenhamos maaaaais um Brasil x Argentina pela frente. Se os nossos vizinhos e algozes tiverem de escolher, muito provavelmente topariam de cara, sem nem saber quem vai jogar por quem. Mas está bem cedo para falar disso. De todo modo, para Rubén Magnano, ficar ao lado de bichos papões na primeira fase não deixa de ser uma boa notícia. Garantia de que eles serão evitados de cara na fase decisiva – de todo modo, se o time pensa em medalha, em boa campanha, uma hora vai ter de enfrentá-los para valer e para vencer. O que a gente também pode tirar daqui é que dificilmente vamos ver a Espanha entregar, ou cogitar entregar qualquer coisa em quadra, como naquele polêmico de Londres 2012. Para escapar de um confronto precoce com os americanos, eles basicamente precisam se classificar na primeira colocação do grupo.


Sobre o susto com o convite da Finlândia e o basquete “grande”
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Giancarlo Giampietro

Divisão dos potes para o sorteio do Mundial 2014

Divisão dos potes para o sorteio do Mundial 2014

No meio de uma correria danada, no ano passado, com um torneio continental de seleções sucedendo o outro, tentei cobrir mais ou menos tudo o que estava acontecendo da forma mais fácil e, por vezes, mais conveniente: tentar encontrar um elemento comum a todos os eventos e fazer um resumão a partir deste ponto.

Por sorte, neste caso a pauta era clara e boa, ao mesmo tempo: a “onda de eliminações surpreendentes” por todos os cantos do mundo. E não há melhor momento para resgatar esse texto do que a ressaca que vive a comunidade basqueteira em geral, depois do anúncio dos quatro convidados para a Copa do Mundo da Fiba. Ver a Finlândia colocada entre os últimos “classificados” despertou uma reação cheia de som e fúria mundo afora. Uma reação bastante despropositada, se consideramos os fatos acontecidos em 2013, aqui relembrados.

Para quem está com preguiça de clicar no link acima, ou para os que, de repente, num estalo, perdeu a conexão – acreditem, aqui na sede do conglomerado 21, na Vila Bugrão, a Net não pára em pé –, seguem aqui também todos os times que foram privados da disputa da vaga (em quadra), de maneira precoce:

Europa
Alemanha, Rússia e Turquia (ao trio se juntaram, depois, Grécia e Itália).

Américas
Brasil e Canadá.

África
Nigéria e Tunísia.

Ásia
China.

É muita seleção “tra-di-cio-nal” no mesmo balaio. Uma dezena, quase 50% do que poderia ser a chave do Mundial. Abriram espaço, aqui e ali, para países como Ucrânia, México, República Dominicana, Egito, Senegal e Filipinas.

O quanto dessas duas listas, de eliminados e classificados, pode realmente ser considerado uma surpresa? Não há uma resposta definitiva para isso. É o famoso “depende”.

Na Europa, por exemplo, as coisas são muito, mas muito mais complicadas, e todos sabemos. A Ucrânia, sim, foi uma baita surpresa. Nos times históricos da União Soviética, Rússia e Lituânia eram as principais fontes de mão-de-obra. Para quem viu o Eurobasket, ficou clara a limitação do time, excessivamente lento, mas muito bem dirigido, orientado por Mike Fratello. De qualquer forma, se você põe uma Grécia na vaga dos caras, outros times muito bons ainda assim ficariam fora. É assim a vida por lá, mesmo com seis vagas abertas e a Espanha metida, para variar, entre os primeiros colocados. O que deixou todo mundo (que acompanhou a competição…) em choque, na época, foi o fato de russos e turcos terem caído logo na primeira fase. Enquanto um certo time escandinavo avançava…

México, campeão da Copa América de basquete. Alô? Lembram?

México, campeão da Copa América de basquete. Alô? Lembram?

Nas Américas, precisa falar? O Brasil desfalcado, mas ainda Brasil, perdeu de todo mundo, inclusive de Jamaica e Uruguai. A Argentina também se viu surpreendida pelos caribenhos e teve de lutar muito e contar com um pouco de sorte também para se garantir. O México, do nada, liderado por Gustavo Ayón, terminou como um campeão histórico. Aqui, acho que os sustos têm muito a ver com as inesperadas campanhas sofridas de dois (supostos) pesos pesados. Mas o fato é que, com o crescente número de americanos descendentes e naturalizados espalhados pelos países do continente ajuda a embaralhar muito as coisas. A Jamaica não tinha status nenhum desde a Terra do Fogo ao Alaska. Mas um jogador como Samardo Samuels pode dar muito trabalho, ainda mais quando acompanhado de uma série de armadores e alas superatléticos. E pensem no seguinte: eles ainda poderiam ter escalado Roy Hibbert e outros possíveis “expatriados”.

Na África, a Nigéria, lotada de norte-americanos, muitos deles atletas do calibre de NBA ou D-League, como Al-Farouq Aminu e Ike Diogu, e a Tunísia, que tem dois dos jogadores mais talentosos do continente (Salah Mejri e Makram Ben Romdhane) era a atual campeã, ficaram pelo caminho. Egito e Sengal foram duas zebraças, sim, que acompanharam Angola.

Na Ásia, a China passou por uma humilhação sem precedentes ao perder para Taiwan nas quartas de final, abrindo espaço para os anfitriões das Filipinas beliscarem uma vaga junto de Irã e Coreia do Sul. As Filipinas que agora sonham com a naturalização de JaVale McGee e Andray Blatche, dois pivôs da NBA com algum grau de ascendência similar ao de Manny Pacquiao. Vai saber.

A gente poderia esmiuçar cada uma dessas situações com mais tempo e detalhes, mas acho que deu para pescar o que está acontecendo, né? As coisas não são mais como antes, gente. O mundo do basquete mudou, e faz tempo já. O que me leva a uma lembrança.

*  *  *

Num dia desses, João Fernando Rossi, o  competentíssimo e comunicativo diretor do Pinheiros, sempre aberto ao diálogo nas redes sociais ou seja aonde for, estava divagando no Twitter sobre como não entendia muito bem a campanha “BIG”, da NBA. Já viram? Blake Griffin e James Harden não se cansam de falar sobre isso a cada intervalo do “League Pass”. Para ser sincero, já não aguento mais ouvir os dois astros, e nem eles conseguem falar mais – a cada exibição, a cara da dupla parece ainda mais tomada pelo tédio. Que saaaaaaaco…

Daí que, em meio a uma sucessão de posts, Rossi disse que, por seu trabalho na gestão do NBB, passou a compreender o significado da mensagem da liga norte-americana. Não me lembro exatamente qual a situação, se foi após o Jogo das Estrelas ou a final Flamengo x Uberlândia, mas era algo que gerava repercussão, que causava impacto, ao seu ver – concordem ou não, mas a visão de quem está de dentro da organização vai ser sempre diferente. Mas o fato é que ele, irradiante, fez a associação de que o campeonato nacional também seria BIG, grande.

Com peças publicitárias, você tem de tomar o maior cuidado. Se não fizer como Rossi e der um passo para trás, para tentar entender o que estão tentando colocar na sua cabeça, corre-se o risco de ser dominado por um processo de “tanto-bate-até-que-fura”, de assimilar tudo, sem a menor desconfiança.

A nova inserção da NBA, no caso, é feliz em muitos sentidos. Por mais que haja pequeninos encantadores, magos com a bola, como o caso de Isaiah Thomas, do Sacramento Kings, estamos falando de uma modalidade dominada gente grande, alta. A referência a “Bigs”, para o americano, então fica natural. É isso: uma palavra simples, mas que também passa um significado, hã, maior, grandioso.

No que chegamos a uma verdade que muita gente parece querer ignorar: o basquete hoje é muito grande. Doa a quem doer.

Não adianta falar e pensar “bla-bla-blas” sobre a globalização turbinada pela NBA e pela federação internacional como algo meramente teórico, se você não está preparado para aceitar o reflexo de tudo isso na prática, em quadra.

A competição está muito mais ferrenha, bem mais complicada do que 10, 15, 20 anos atrás, quando a a dissolução da União Soviética e da Iugoslávia já deixavam as coisas duras demais. A diferença é que americanos, asiáticos e africanos estão enfrentando hoje um cenário que, antes, preocupava apenas europeus ocidentais.

Já vivemos a época em que países de pouco ou nenhum histórico não estão nem aí para isso. Para uma Jamaica ou uma Nigéria prosperarem e incomodarem, basta a combinação de alguns dos seguintes fatores:

a) uma rede expansiva de contatos e a criatividade no processo de seleção – e a Fiba, convenhamos, é uma mãe para isso, permitindo as mais diversas associações de vínculos familiares +

b) um programa minimamente estável financeiramente +

c) um pouco de sorte na composição de grupos e chaves +

d) um ou outro desfalque de peso para os restantes =

“Temos um jogo”, nas palavras do Everaldo Marques.

E, não, não precisa ter jogador de NBA para formar um time bom. Como o caso da Finlândia, que bateu Rússia e Turquia – o armador Petteri Koponen, cujos direitos pertencem ao Dallas Mavericks, é hoje, quem chega mais perto disso. Mas vá perguntar a Koponen ou a um Ayón o que eles pensam sobre a legendária turma do Kanela. Não vai dar em nada. O que não quer dizer que não respeitem um país que pode revelar jogadores de biótipo tão diferente como Nenê, Tiago Splitter e Marcelo Huertas. Respeitar é uma coisa, porém. Temer? Outra.

Giovannoni e o Brasil são respeitados. Mas temidos?

Giovannoni e o Brasil são respeitados. Mas temidos?

Não dá mais para achar que o Brasil, bicampeão mundial e medalhista olímpico com nossa geração dourada, tem direito adquirido de nada. Pensem no futebol – o único esporte coletivo mais disseminado que o basquete, claro. Quem vai ousar dizer que Hungria e Polônia, que já tiveram seleções e gerações brilhantes, têm presença obrigatória em qualquer torneio de ponta? Em 1994, depois de se complicar com a Bolívia, quase que a eventual Seleção tetracampeã mundial cai fora da Copa. Nos gramados, não faz o menor sentido mais qualquer tipo de concessão. A bola rolou? São 90 minutos, então, pare decidir quem é que pode mais.

Nas quadras de basquete, é o que temos hoje. O Brasil, que ficou fora de três Olimpíadas em sequência, que terminou os últimos Mundiais nas 8ª, 19ª e 9ª colocações, está no meio do bolo, gente. Sabemos do potencial e do histórico do país, mas, nas últimas duas décadas, isso não serviu de nada. Na Europa, entre os veículos especializados, a mais dura verdade é que a seleção de Magnano só era vista como “favorita” a descolar uma das últimas quatro vagas na Copa devido ao tamanho do mercado nacional, e não pelo peso da camisa. Não há mais espaço para provincianismo, e insistir com um discurso de soberba e prepotência só é um… Convite para mais tropeços.

O basquete hoje é grande, e cada um que se vire diante disso.

Se tiver de pagar os mesmos R$ 2,6 milhões que a Finlândia para assimilar essa realidade, azar.


#Susijengi – Gangue dos lobos finlandeses no Mundial
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Giancarlo Giampietro

Finlandeses derrotaram os coirmãos convidados turcos no Europeu. Em 2013

Finlandeses derrotaram os coirmãos convidados turcos no Europeu. Em 2013

#Susijengi.

Era a hashtag mais cultuada do basquete europeu nesta manhã (segundo horário de Brasília).

Não tava entendendo nada. Que raios? Algum mantra chinês?

Nada, quando veio a confirmação oficial da Fiba dos quatro convidados para a Copa do Mundo de basquete, aí as peças foram se juntando. Na verdade, era um texto em finlandês. Porque, sim, a Finlândia vai jogar a próxima edição do Mundial.

Toca pesquisar, passado o susto, a surpresa. É detestável acordar assim, mas o estrago já estava feito.

Não precisou nem dar Google, acreditem. Aos poucos, o Twitter começou a ser inundado pelas mensagens dos jogadores da seleção finlandesa. Todos uivando feito malucos. Auuuuuu! A-uuuuuu! Por todos os lados, eles já haviam nos cercado.

Vejam o Hanno Möttöllä:

Descontrolado.

(Vocês se lembram do cara? Fizemos a mesma pergunta no ano passado, mas tudo bem. É a idade. Möttöllä, de qualquer forma, defendeu o Atlanta Hawks por um tempinho e retornou da aposentadoria em 2008. Vai disputar o Mundial com 38 anos).

Entende-se, então, que susijengi quer dizer gangue dos lobos. A gente podia usar o termo formal, alcateia, mas pra quê, né? Gangue dos lobos é tão mais legal, e tem influência direta aí do linguajar dos “bros” americanos, essa coisa de lobo da rua, ou qualquer coisa nessa linha. Não por acaso, é o nome de um álbum dos rappers do Kapasiteettiyksikkö.  A federação finlandesa também faz questão de nos informar que este é o “nome oficial” de sua seleção.

Susijengi e nóis na fita

Susijengi e nóis na fita

Agora, aguenta.

Ou melhor: agora é apreciar. Não tenham dúvida de que, mesmo com meia dúzia de lobos pingados na arquibancada, eles terão uma das torcidas mais animadas na Espanha. Não pensem que eles não vão dar um duro danado na quadra. Pode espernear até cansar, que a Finlândia está na Copa do Mundo de basquete, e ninguém tasca. E não há nada de absurdo nisso.

A partir do momento em que ficou claro que a Fiba filtraria seus quatro convidados pelo quesito financeiro – e quem duvidava disso? –, não há o que contestar a respeito de nenhum dos convidados.  Poderíamos ter Grécia, Turquia, Rússia e Itália, que seria ridículo igual. Botsuana, Quirguistão, Bolívia e Costa Rica? Na mesma.

O Luiz Gomes, provavelmente atordoado também, fez uma citação daquelas que me deixou fulo de inveja: “Isso não tem nada a ver com merecimento”.

W. Munny, do Missouri. Nada nessa porca vida tem a ver com merecimento

W. Munny, do Missouri. Nada nessa porca vida tem a ver com merecimento

Para quem não sabe, é um trecho do célebre discurso catártico do William “Clint Eastwood” Munny, do Missouri, ao final de “Os Imperdoáveis”. Para quem não viu, um dos melhores filmes da história. Para quem ainda busca redenção divina, corra até a (?) locadora mais próxima.

(E, sim, para os iniciados, todos sabemos que é obrigatória a referência “do Missouri” sempre que falarmos de William Munny. Ele é o William Munny, do Missouri. Fica o esclarecimento para a posterioridade.)

Agora voltando.

Se a grana ditou o jogo, então para que serve esculhambar com a – nem tão– pobre Finlândia? Numa escala de 0 a 10 de quem faz mal para a sociedade, a gente pode dar um belo -7 para eles.

O escândalo não é a Finlândia – ou o Brasil, no caso. O escândalo são os convites.  (Pela lógica: se o inferno são os outros, o escândalo são os convites.)

Mas, se a gente for falar de resultado, e de resultado imediato – por que de que me importa se o Brasil foi bicampeão mundial com Wlamir, se hoje só o temos como comentarista na ESPN?

Nesse quesito, acharia completamente factível que se pegasse apenas o resultado imediato para discutir quem… hã… merecia estar lá. O que aconteceu na campanha rumo ao Mundial.  Que tal recuperarmos a campanha deles no último Eurobasket – 2013 não foi há tanto tempo assim. Acho.

Na Eslovênia, os caras foram a grande sensação da primeira fase do torneio, com quatro vitórias e um revés. Derrotaram, inclusive, dois outros convidados do torneio: Grécia e Turquia. Além disso, venceram Rússia e Suécia (antes de mais nada, com dois jogadores de NBA no quinteto inicial) para avançår.  Na segunda etapa, bateram também os donos da casa, do clã Dragic.

Não tem mais bobo no basquete? (Ou tem de monte?)

Lembrando, sempre com muita úlcera, que o Brasil terminou sua inesquecível campanha na Copa América do ano passado com quatro derrotas em quatro rodadas. Inclusive para Jamaica e Uruguai.

Jamaica > Finlândia?

Finlândia > Uruguai?

Eslovênia > Jamaica?

Fico meio confuso. Mas o fato é que os Homens do Norte aprontaram horrores no torneio europeu e por pouco não foram para as quartas de final. Eles terminaram o Grupo F com a mesma campanha da Espanha. Só caíram no desempate pelo confronto direto. No geral, tiveram cinco vitórias e três derrotas – a França terminou com 8-3, para se ter uma ideia. Para quem eles perderam? Croácia, Espanha e Itália.

Croácia > Jamaica?

Uruguai > Espanha?

Mais confusão para a cabeça.

O jeito é uivar mesmo.

A-UUUUUU!

É nóis na fita e #susigenjiNaCopa.

PS: especificamente sobre a cara-de-pau brasileira nessa coisa toda de convite, foi preciso outro texto.

*  *  *

Angry Birds

Nunca fui muito de videogame. Ok, quando mais novo, perdia o sono com Alex Kid e Black Belt. Depois de um tempo, porém, só ficava com as fitas (sim, ainda eram as fitas) de esporte. SuperMonaco, Lakers x Celtics, os FIFAs… Até chegar agora ao NBA2k. Parei no 12.

De qualquer fora, para mim, videogame sempre foi a coisa do console. Nunca joguei em PC. Na minha cabeça problemática, os dois não combinam.

Logo, jogar no celular parece algo ainda mais descabido.

E o que isso tudo tem a ver com gangues de lobos finlandeses e os absurdos dos convites da Fiba para a Copa de basquete?

É que a empresa Rovio, a responsável pela epidemia mundial que são os Angry Birds, é quem está dando todo o apoio financeiro para o sonho  do país. A própria federação dos caras divulgou release para alardear isso. Não vou eu tentar explicar o que são esses passarinhos estressados para você, né? Só sei que a gente os vê por aí em qualquer banca de camelô ou shopping. São sucessores da abelinha do Charlotte Hornets e do Bob Esponja como estampa de tudo o que se possa imaginar.

São milhões e milhões de pessoas se divertindo com qualquer conteúdo virtual que a Rovio prepare com sua, para seguir na revoada, galinha dos ovos de ouro. No pacote, na proposta que a Finlândia encaminhou para a Fiba, estava a promessa que a empresa fará propaganda gratuita da Copa do Mundo em suas diversas plataformas. Se você não tem cão, caça com passarinho. Ou melhor, não tem audiência de TV, que tal oferecer então visibilidade mundial para um público diversificado?

E aí fica a pergunta. O que é melhor/pior: ser financiado por um jogo online (ou, se preferir, “corporação multimídia que vale bilhões de dólares“) ou pelo bom e velho tesouro público?


Brasil ganha na raça sua vaga na Copa de basquete. Comemorem!
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Giancarlo Giampietro

Convites Fiba, Mundial, Brasil, Finlândia

Primeiro o post… Hã… Quase sério. Que jornalismo é isso.

Sobre os convites da Fiba para completar sua Copa do Mundo de basquete. Para quem não sabe, deu Brasil na cabeça! Acompanhados de Grécia, Turquia e Finlândia, estamos todos juntos nessa! A Copa é nossa e com brasileiro não há quem possa. Num só dia, derrotamos Alemanha, Canadá, Itália, Rússia e Venezuela.

Aliás, agora precisamos atualizar a contagem. Quem disse que não ganhamos de ninguém nas Américas? Depois de quatro derrotas seguidas no último torneio continental, batemos canadenses e venezuelanos neste sábado. Então a campanha de 2-4 até que não fica tão vexatória assim. Estamos progredindo, no caminho certo.

E, bem, pelo tom dos parágrafos acima, você já pode imaginar como foi despertar com essa fabulosa notícia aqui na base do conglomerado 21, nos cafundós da Vila Bugrão.

Euforia mil!

Que o Brasil tenha ganhado seu convite, com muita persistência, suor e trabalho sério, não chega a ser uma surpresa. Durante a semana, fortíssimos candidatos foram anunciando, um a um, suas desistências. Devem ter tentado negociar com os poderosos da Fiba até a última hora possível, mas terminaram por refugar.

Vejam só: esses sujeitos simplesmente se recusaram a pagar a quantia de R$ 2.660.745,80 (para quem tem dificuldade com os números como eu, aqui vai a tradução: dois milhões + seiscentos e sessenta mil + setecentos e quarenta e cinco reais + oitenta centavos) para a federação internacional. Podiam pagar a merreca de um milhão de francos suíços (o mínimo necessário, segundo o Fábio Aleixo, do Lance!, nos conta) e passaram a vez.  São todos fracos, entreguistas, de visão míope.

Pois todo mundo já está careca de saber: só se constrói uma forte modalidade participando de uma Copa do Mundo. Sem isso, não há como montar uma estrutura de base decente, como popularizar um esporte já popular etc. Esse é o alicerce de tudo, e, por sorte, temos na gestão Carlos Nunes da CBB gente visionária o bastante para dar conta disso.

O Brasil encaminha, assim, seu projeto pujante. E quero ver quem segura.

É taça na raça, Brasil!

*  *  *

Tá, agora da maneira mais direta possível:

1) a CBB está endividada, devendo até as calças no mercado.

2) a Fiba cobrou mais de R$ 2 milhões por uma vaga no Mundial.

3) a China, aquela de PIB de mais e US$ 1 trilhão, multinacionais de material esportiva voltadas quase que exclusivamente para o basquete, mais de 1,3 bilhão de habitantes, pulou fora.

4) Não a CBB. Para manter viva a sequência histórica de participações no Mundial de basquete, a combalida entidade passou o chapéu por aí e conseguiu se bancar (financeiramente, importante que se ressalte mais uma vez, e, não tecnicamente) na competição. De quebra, conta que a fraca memória nacional, daqui a décadas – ou meses, a gente nunca sabe… –, vá olhar para a lista de inscritos do Mundial 2014 e acreditar que e era nada mais lógico que o Brasil ali estivesse, uma vez que nunca havíamos perdido essa. Só o Brail e os Estados Unidos jogaram todas as edições.

5) Faça as contas… E me diga: você vai realmente co-me-mo-rar essa “classificação”? Pagamos R$ 2 milhões para nos livrarmos a cara. De quem é a conta?

6) Na real, a conta não fecha.

*  *  *

Aos pragmáticos: obviamente é importante que o Brasil jogue uma Copa do Mundo de basquete. Assim como os Jogos Olímpicos. Mas uso aqui uma expressão clássica, já surrada de tanto usada, mas que não perde o charme: “tapar o sol com a peneira”. O Brasil joga o Mundial desde sempre, e o impacto financeiro disso para a modalidade não está nada claro, para mim. É um dos itens para levar as coisas adiante? Sem dúvida. Mas já passou do tempo – se é que esse tempo um dia existiu – de que o desempenho da seleção adulta de qualquer esporte seria a principal força motriz para o progresso.

*  *  *

E, por falar em seleção, adulta, já fica a dúvida desde já sobre quem são aqueles que vão se apresentar. Para quem não se recorda, entre a relação (fictícia?) de itens que a Fiba jurouque seriam analisados para definir os quatro convidados, contava algo como “comprometimento de seus principais jogadores com o projeto”. Leia-se: a turma da NBA topa ou não topa?

Será que, no conclave do basquete, realmente se exigiu um comunicado por escrito, com cópia de RG registrada, em que os nossos principais jogadores garantiram presença no Mundial?

E o Rubén Magnano, como está se preparando? Vai nessa de que “só-com-os-que-estão-nos-EUA-temos-alguma-chance”? Está assistindo para valer o NBB para tentar fazer uma convocação mais competente, no caso de precisar ser criativo para fechar o grupo final? Existe algum tipo de ressentimento por parte de nossos jogadores depois das críticas públicas do treinador argentino?

Percebam que, além do disparate financeiro, há diversos pontos técnicos a serem resolvidos.

E se o Brasil for para o Mundial, pagando R$ 2 milhões, e passar mais um vexame? É provável, possível?

Independentemente da resposta – que vai depender muito da lista de perguntas acima –, qualquer que seja o time convocado, a pressão existe desde já.