Vinte Um

Arquivo : Manu Ginóbili

Spurs e o sucesso contínuo. Ou a cotinuidade é o sucesso?
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Giancarlo Giampietro

Continuidade e sucesso em San Antonio

Continuidade e sucesso em San Antonio

A cada ano, fica a pergunta: até quando?

Isso mexe com a cabeça dos jornalistas, obrigados a redigir seus textos de previsão. Mexe, então, obviamente com as bolsas de aposta mundo afora. Balança, enfim, a cabeça de seus adversários. É que o San Antonio Spurs não dá sinal algum de que vá parar de vencer, de que vá abandonar o sucesso. Não enquanto o verdadeiramente imortal Tim Duncan estiver por lá.

Aos 38 anos, o pivô admite: pensou seriamente em parar após a conquista de seu quarto título. Aquela coisa de sair no auge. Depois da conquista de mais um anel, o veterano tinha nove dias para decidir se exerceria, mesmo, a cláusula em seu contrato para estendê-lo por mais uma temporada. E realmente usou todo o prazo para ponderar bastante o que fazer. “Houve um pouco de hesitação ali. O que precisava pensar é se eu conseguiria fazer isso novamente. Enquanto estiver sentindo que posso jogar, e me sentir bem a respeito, é aqui onde vou continuar”, afirmou.

Splitter, campeão da NBA. Time vai atrás do bi agora

Splitter, campeão da NBA. Time vai atrás do bi agora

Kawhi Leonard ganhou o prêmio de MVP das finais, o que não é absurdo. O jovem ala fez um trabalho impressionante contra LeBron e ainda matou a pau no ataque. Tony Parker também merece os maiores elogios, por seu poder de decisão no mano a mano, botando pressão na defesa dos oponentes. Ainda é muito veloz para ser contido. Manu Ginóbili, 37, ainda tem seus lampejos únicos. Mas a base da máquina de jogar basquete de San Antonio ainda é Duncan. Sem ele, a forte defesa se esvairia: ele coordena seus companheiros, preenche espaços e protege o aro.

Sua durabilidade e consistência como um dos melhores, ajudada pela regulagem precisa de minutos por parte do Coach Pop, desperta admiração, até mesmo de um velho rival como Kevin Garnett, com quem travou épicas batalhas na década passada. “Ele tem um porta-joia cheio de anéis. Tem de tirar o chapéu para ele. Nessa altura, só tenho amor para falar”, afirmou KG.

Mas, claro, na hora de falar do Spurs, não é justo falar em nomes, em eleger destaques. As seguidas campanhas brilhantes do time têm muito a ver com o conjunto e continuidade. O mesmo técnico, o mesmo gerente geral, seu braço direito, a mesma base em quadra. Quer saber? Do elenco que terminou o campeonato passado, todos os 14 atletas voltaram. Sim, 100%. A única novidade no atual plantel é o novato Kyle Anderson, que veio de UCLA e já vem sendo elogiado pela galera mais experiente e ganhando o respeito deles, segundo Popovich. “Ele precisa de um tempo para se ajustar, mas entende o jogo, tem envergadura, é um bom passador e sabe arremessar. Ele é um bom jogador”, disse Ginóbili.

Curioso destacar que as maiores mudanças aconteceram no banco de reservas. Gregg Popovich e RC Buford perderam mais de uma dezena de aliados desde que o modelo de gestão da franquia se tornou referência. Entre dirigentes como Sam Presti, Danny Ferry, Dell Demps e Dennis Lindsey a técnicos como Mike Budenholzer e Brett Brown, o time forneceu matéria-prima (que nem sempre rendeu lucros, diga-se) como nenhum outro. Dessa vez, foram eles atrás de gente. Destaque para a contratação do italiano Ettore Messina, um dos mais vitoriosos da Europa por mais de 15 anos, que será o principal assistente de Gregg Popovich. A nota curiosa também fica para a efetivação da ex-armadora Becky Hammon como uma das treinadoras da equipe – ela já havia feito uma espécie de estágio na campanha passada, tendo se aproximado do time masculino ao defender a franquia da WNBA da cidade, o Silver Stars.

O único susto, por ora, em San Antonio diz respeito a Kawhi e Tiago Splitter. Os dois estiveram afastados por toda a pré-temporada. O ala contraiu uma infecção nos dois olhos, o que abriu espaço involuntariamente para Anderson, e ainda não estendeu seu contrato, podendo virar um agente livre restrito ao final do campeonato. Já o pivô brasileiro sofreu uma lesão na panturrilha durante a primeira semana de treinos e vem retomando ao pouco suas atividades com bola. Não deve tardar a voltar. Com um bom plantel e a paciência de sempre, porém, Pop não se aflige. São pequenos percalços numa duradoura jornada.

O time: todo mundo já conhece bem, né? Muita movimentação de bola, infiltrações, chutes de três, jogadores de inteligência extrema, entrosados, se divertindo e vencendo. A defesa, para completar, se manteve entre as cinco melhores da liga nas últimas duas temporadas. Equilíbrio, precisão, criatividade, eficiência. Exemplar.

Splitter é instrumental para Spurs fechar o garrafão e a defesa

Splitter é instrumental para Spurs fechar o garrafão e a defesa

A pedida: o primeiro bicampeonato (títulos em anos consecutivos) da era Duncan-Popovich.

Olho nele: Cory Joseph. Enquanto Patty Mills se recupera de uma cirurgia no ombro, o ainda jovem armador assume o posto de reserva de Parker – posto pelo qual já brigam há duas temporadas. O australiano jogou demais no último campeonato, mas os minutos do canadense, no geral, se mantiveram estáveis, em torno de 14 por partida. As lesões do titular ajudaram para isso, permitindo que Joseph começasse 19 partidas como titular. Em termos estatísticos, ele apresentou um pequeno salto qualitativo. Nos playoffs, porém, jogou pouco. Se aproveitar a brecha aberta, o rapaz de 23 anos pode lucrar, já que entra em seu último ano de contrato, sem extensão negociada. “Queremos que ele procure um pouco mais seu arremesso”, diz Popovich. Ele está mais confiante com o chute de três, saindo de pick-and-rolls e de média distância. Tem feito um bom trabalho em avançar com isso”, completou.

Abre o jogo: “Boris está tomando umas pina coladas. Temos uma aposta em que você tenta adivinhar o peso dele, e precisa começar em 125 kg. Você não pode dar um palpite abaixo disso. Só mais alto”, Gregg Popovich, se divertindo com a mitologia em torno da reserva extra de gordura que Diaw cultiva.

As férias de Boris Diaw. Pina coladas e muito mais

As férias de Boris Diaw. Pina coladas e muito mais

O pivô se juntou ao elenco do Spurs um pouco mais tarde, direto em Berlim, depois de ter conquistado uma valiosa medalha de bronze na Copa do Mundo. “Ele sempre jogou com um pouco mais de peso, e ele sabe como usar isso. Está tudo bem”, disse Pop, ao reencontrar o genial jogador. Outro francês que chegou um pouco mais tarde foi Tony Parker, devido a compromissos comerciais na Europa. Ganhou uma licença do nem-tão-general-assim Pop. “Ele tinha umas reservas de jantar no Taillevent. Hoje acho que ele vai a outro restaurante três estrelas Michelin”, disse o técnico, piadista que só. “Mas ele disse que vai fazer o máximo para chegar aqui amanhã. Se ele conseguir, vou agradecê-lo por isso.”

Você não perguntou, mas… sabia que o Spurs fechou um contrato com Diaw que obriga o francês a ser pesado, de modo oficial, em três datas diferentes do calendário? Esse saboroso detalhe foi revelado por Amin Elhassan, colunista do ESPN.com e ex-dirigente do Phoenix Suns. Se ele cumprir as metas, e mantiver seu peso até no máximo. 115 kg (254 libras), ganha um bônus total de US$ 500 mil em seu salário. Divididos assim: US$ 150 mil no dia 25 de outubro (começo da temporada) + US$ 200 mil na primeira terça-feira depois do All-Star Game + US$ 250 mil no dia 1º de abril (os playoffs chegando).

dominique-wilkins-card-spursUm card do passado: Dominique Wilkins. Aos 37 anos, após jogar pelo Panathinaikos, o célebre cestinha retornou aos Estados Unidos para jogar pelo Spurs em 1996-97. Ainda tinha bola para marcar 18,2 pontos por partida e ser o cestinha do time. Mas o craque definitivamente não marcou época pela franquia texana. A relevância de seu card tem mais a ver com aquela temporada, toda acidentada. David Robinson e Sean Elliott se lesionaram, e o que a diretoria decidiu fazer? Permitiram que o veterano Wilkins comandasse o… hã… show, acompanhado por gente como Vernon Maxwell, Carl Herrera, Monty Williams e Will Perdue, enquanto as derrotas se acumulavam. Nem o fato de Gregg Popovich ter assumido o comando durante a jornada, no lugar de Bob Hill, interferiu no processo. No final, a campanha de 20 triunfos e 62 reveses deixou o Spurs bem posicionado para o próximo draft. Isto é, bem posicionado para assumir o primeiro lugar da lista e selecionar Timothy Theodore Duncan. O resto a gente já sabe: desde então, foram cinco títulos e presença garantida nos playoffs sempre. Sem-pre.


Vai começar: a Euroliga 2014-2015 em números
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Giancarlo Giampietro

O Barcelona conta com um dos brasileiros da Euroliga. Vocês sabem quem, né? Na foto

O Barcelona conta com um dos brasileiros da Euroliga. Vocês sabem quem, né? Na foto

O basqueteiro sabe: quando chega outubro, o que ele mais ouve é: “Vai começar”.

Pois vai começar nesta quarta-feira a Euroliga de basquete, com um monte de jogadores que nos fizeram companhia durante a Copa do Mundo, dois brasileiros e o MarShon Brooks. Abaixo, alguns dados a respeito da segunda principal liga de clubes do mundo, que será transmitida no Brasil com exclusividade pelo canal Sports+, da SKY, time do qual farei parte novamente.  Jajá voltamos aqui com os times e jogadores para se ficar de olho, um contexto maior sobre os dois brasileiros no páreo – Marcelinho Huertas e JP Batista – e qualquer coisa que dê na telha.

Vamos lá, anotando:

76 – São 76 os jogadores dos Estados Unidos inscritos na competição, disparado o país com maior número de participantes no torneio. Em média, são mais de três por elenco. O atual campeão e vítima do Flamengo Maccabi Tel Aviv foi o que mais importou da fonte: oito! Mas nem todos são registrados como ianques, porém. No clube israelense, por exemplo, são três com cidadania local: o ala Sylven Landesberg e os pivôs Alex Tyus e Jake Cohen. Há americanos croatas, americanos bósnios, americanos belgas, e por aí vai.

Teodosic. Quem se lembra dele?

Teodosic. Quem se lembra dele?

66,6% – Da seleção sérvia que derrotou o Brasil pelas quartas de final da Copa, 8 atletas – ou 66,6% – jogam em clubes da Euroliga. O terror Milos Teodosic segue no CSKA Moscou, enquanto o pivô Nenad Krstic deixou a capital russa para jogar pelo Anadolu Efes, da Turquia. Em Istambul ainda aparecem o prodígio Bogdan Bogdanovic e o classudo Nemanja Bjelica, pelo Fenerbahçe. O pivô Vladmir Stimac saiu do Unicaja Málaga para o Bayern de Munique, mas o clube espanhol, por sua vez, completou sua cota com o armador Stefan Markovic. O Estrela Vermelha, único time do país disputando a competição, conta com os outros dois: o armador reserva Stefan Jovic e o atlético ala Nikola Kalinic. De resto? Miroslav Raduljca levou seus talentos, barba e Harleys para a China; Rasko Katic está em Zaragoza, Stefan Bircevic, em Madri (pelo Estudiantes) e Marko Simonovic, na França (pelo Pau-Orthez). O contingente sérvio, claro, não se limita a eles. Fora do Estrela, há mais nove jogadores espalhados pelo continente.

41 – É o número de atletas com experiência de pelo menos uma temporada regular completa na NBA – descartei os jogadores de contratos temporários, não-garantidos, com uma ou outra partida oficial ou amistosos de pré-temporada. Os dois que têm mais rodagem são Andrés Nocioni, nosso bom e velho e amigo, com  12.654 minutos (contando playoffs) e Krstic, com 11.252 minutos. Da safra nova, vale ficar de olho no que vão aprontar os alas MarShon Brooks (aquele mesmo ex-Nets, Celtics, Warriors, Lakers, seguidor de Nick Young, sem o carisma, mas que julga ser tão bom quanto um jovem Kobe Bryant e agora defende o Olimpia Milano), James Anderson (raro caso de talento mal desenvolvido em San Antonio, ex-Sixers, hoje no Zalgiris Kaunas) e Orlando Johnson (ex-Pacers e Kings, no Baskonia/Laboral Kutxa).

33,3% – Um terço dos clubes desta temporada não disputaram a última edição do campeonato: Dínamo Sassari (Itália), Nizhny Novgorod (Rússia), PGE Turow Zgorzelec (Polônia), Neptunas Klaipeda (Lituânia), todos estreantes, além de Limoges (da França, longe do torneio desde 1998), Valência (Espanha, desde 2011), Cedevita Zagreb (Croácia, desde 2013) e UNICS Kazan (Rússia, desde 2012).

Parla, Ginóbili!

Parla, Ginóbili!

13 – Há 13 anos que um clube da Itália, o país mais vencedor do torneio, não ganha leva o troféu para casa. O último foi o Virtus Bologna de um jovem Manu Ginóbili, em 2001, temporada na qual os times acabaram divididos em duas competições – a segunda com o nome de SuproLeague, ainda sob gestão da Fiba, que não foi adiante.

12 – No mapa da Euroliga, uma dúzia de países estão representados. A Espanha apresenta o maior contingente: cinco times (Barcelona, Baskonia/Laboral Kutxa, Málaga, Real Madrid e Valência). Rússia (CSKA Moscou, Nizhny Novgorod e UNICS Kazan) e Turquia (Anadolu Efes, Fenerbahçe e Galatasaray) têm três cada. Depois temos dois da Itália (Olimpia Milano e Dínamo Sassari), dois da Lituânia (Zalgiris Kaunas e Neptunas Klaipeda), 2 da Alemanha (Alba Berlim e Bayern de Munique), 1 da França (Limoges), 1 de Israel (Maccabi), 1 da Croácia (Cedevita Zagreb), 1 da Polônia (Turów Zgorzelec) e da Sérvia (Estrela Vermelha).

9 – A atual edição conta com nove campeões continentais, listados aqui pela ordem cronológica de seus primeiros títulos: CSKA Moscou (1961), Real Madrid (64), Olimpia Milano (66), Maccabi Tel Aviv (77), Limoges (93), Panathinaikos (96), Olympiakos (97), Zalgiris (99) e Barcelona (2003). Detalhe: o campeonato europeu de clubes só passou a ser disputado com o nome de Euroliga em 2001).

8 – Tal como acontece no futebol, o Real Madrid é o clube com mais títulos europeus, com oito. Da mesma forma que também acontecia nos gramados – até levantarem a taça na temporada passada –, os merengues aguardam há tempos, porém, a nona. Não sobem ao degrau do pódio desde 1995. Maccabi, CSKA e Panathinaikos têm seis títulos cada um.

Sergio Rodríguez, Señhor Barba MVP

Sergio Rodríguez, Señhor Barba MVP

5 – A Euroliga ainda tem um quinteto de MVPs em atividade nesta edição. Dificilmente eles poderiam jogar juntos, porém, já que estamos falando de cinco armadores: Juan Carlos Navarro (2009), Milos Teodosic (2010), Dimitris Diamantidis (2011) Vassilis Spanoulis (2013) e Sérgio Rodríguez (2014). Obs: o destaque de 2012 foi Andrei Kirilenko, ex-CSKA, durante a temporada do lo(u)caute da NBA.

3 – Uma tradição da Euroliga é a eleição dos MVPs de cada mês, assim como a NBA faz. O Barcelona tem uma curiosidade em seu plantel: com três prêmios cada um, Navarro e Ante Tomic são os dois recordistas nesse quesito. A longevidade de La Bomba impressiona: seus três troféus estão espalhados entre janeiro de 2006 e janeiro de 2011. Já o talentosíssimo pivô croata arrebentou na edição passada, faturando dois em sequência em fevereiro e março.

2 – Guerra da Cisplatina! Argentina, Brasil e Uruguai têm a mesma quantia de jogadores na Euroliga 2014-15: um par cada. Por essa você não esperava, né? Marcelinho Huertas (Barça) e João Paulo Batista (Limoges) fazem as vezes dos tupiniquins, enquanto Nocioni e o enjoado Facundo Campazzo representam os argentinos pelo Real Madrid. O espírito charrúa fica por conta do imortal Esteban Batista (Panathinaikos) e do armador Jayson Granger (Málaga). Obs: o jovem ala-pivô brasileiro Daniel Bordignon pertence ao Baskonia, mas foi emprestado para o Navarra, da Liga Adecco Oro, segunda divisão espanhola.

0 – O Cedevita Zagreb é o único time de todo o campeonato que não conta com nenhum jogador dos Estados Unidos em seu plantel. Em meio aos croatas, o único estrangeiro sob a orientação de Jasmin Repesa é o bósnio Nemanja Gordic, se é que isso pode ser considerado um forasteiro.


Cresce nos EUA movimento para limitar NBA em torneios Fiba
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Giancarlo Giampietro

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Em um texto nada celebratório sobre a conquista do bicampeonato mundial pelos Estados Unidos neste domingo, o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports, praticamente decretou o fim da farra que a USA Basketball vem fazendo nos últimos anos. Farra no bom sentido: ganhando ouro após ouro para restaurar a hegemonia na modalidade. Para ele, o mundo Fiba está prestes a passar por um processo drástico de reformulação, cujo ponto principal será o êxodo dos grandes talentos da NBA. Conforme escrito aqui ontem: a maior ameaça à soberania dos Estados Unidos em cenário global hoje é interna.

Para quem não está familiarizado com o escbriba, Wojnarowski é o repórter mais quente entre as centenas (milhares?) que acompanham o dia-a-dia da NBA nos Estados Unidos. No dia do Draft, por exemplo, está habituado a cantar pedra por pedra, escolha por escolha a noite toda, minutos antes de as seleções acontecerem. Em tempos de agente livre, virou praticamente canal obrigatório de veiculação de acordos – e ameaças – de agentes e/ou dirigentes. É um cara evidentemente bem conectado que, por conta do acúmulo de furos, ganhou uma credibilidade imensa. É como se tudo o que ele escreve seja fato, ou esteja em vias de se concretizar como tal.

Então, meus amigos, anotem aí algumas de suas frases do artigo:

– A distância (entre o Team USA) e o resto do mundo aumentou novamente, e o romance de Times dos Sonhos está lentamente, mas seguramente morrendo. Competições Sub-22 são o caminho, com os melhores jogadores jovens da NBA e uma ou outra superestrela universitária sendo introduzidos para o mercado global.

– O começo do fim para a USA Basketball aconteceu naquela noite de agosto, quando Paulo George tombou na quadra, e um osso explodiu de sua carne. Foi um momento cruel e de autoanálise, e os jogadores dos EUA ainda estavam falando sobre isso no domingo em Madri. Aquela imagem foi chocante, e vai ficar na cabeça das pessoas por um looongo tempo. Será um dos catalisadores para tirar as estrelas da NBA do basquete Fiba.

– George será o ímpeto para acabar com a participação das estrelas da NBA, mas longe de ser a única razão. Depois das Olimpíadas de 2016 no Rio, a Copa do Mundo de Basquete e os Jogos Olímpicos estão destinados a se tornar um torneio sub-22, de desenvolvimento.

– “Temos de tirar nossos veteranos de lá e colocar nossos jogadores mais jovens. Já existe apoio para esta mudança, e está ficando mais forte”, afirmou um gerente geral da liga ao repórter.

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Bem, antes de mais nada, essas declarações não chegam a ser bombásticas para quem vem acompanhando gente como Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks, chiando barbaridade a cada convocação das seleções internacionais nos últimos anos. A fratura exposta sofrida por George no jogo-treino interno da seleção ianque, televisionada para o mundo todo, apenas intensificou esse sentimento, por tudo o que a mídia americana tem publicado. Cada vez mais se discute e se especula sobre um limite de idade, da mesma forma que acontece com o futebol olímpico.

Em sua argumentação/exposição sobre a submergente relação entre os interesses da NBA com os da Fiba, Wojnarowski parte para um ataque frontal contra o celebrado Coach K, dizendo que seu envolvimento com a federação e a equipe nacional se deve muito mais pelos benefícios que tira disso para seu trabalho do dia-a-dia, em Duke, do que por qualquer noção patriótica. Estar envolvido com a nata do basquete norte-americano só vai lhe ajudar na hora de recrutar os melhores adolescentes do país. Mas é um tanto óbvio, não? Além do mais, fica a pergunta: um técnico que já está presente na TV o tempo todo, independentemente de uma medalha de ouro num Mundial, precisa disso? Dá vantagens, mas o quanto isso difere do que John Calipari vem fazendo em Kentucky, estocando talentos top 10, 20 do colegial, formando supertimes com talentos que vão dominar o Draft do ano seguinte? Exposição por exposição, influência por influência… O jogo de poder e marketing da NCAA é pesado e um tanto sujo há tempos.

Agora, se o treinador de Duke e da seleção americana tem seus próprios objetivos no trabalho com a seleção, quais são as intenções, então, das fontes anônimas por trás desse específico texto? Estão claras, né? Há muita gente querendo desvincular a NBA do mundo Fiba. Resta saber se Wojnarowski escreve em nome de uma maioria, ou se o artigo serve justamente como instrumento de… recrutamento para a “causa”.

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

A lógica por trás do argumento de limitar a idade dos atletas nos torneios é um tanto arrogante – parte do pressuposto que só a NBA importa no tabuleiro do basquete. “Tirando a seleção americana, há mais talento e interesse dos torcedores de basquete em jogos das ligas de verão do que neste evento”, disse um gerente geral, sem se identificar.

Ligas de verão são os torneios que acontecem logo após o Draft da NBA, em julho, para que os recém-escolhidos comecem seu processo de adaptação, enquanto dúzias e dúzias de atletas, jovens ou não, que estão fora da liga, tentam uma vez mais impressionar cartolas e treinadores em busca de um tão sonhado contrato.  A maioria deles, porém, terá de se contentar com a D-League ou com uma viagem para a Europa. Não são competições oficiais: os clubes nem jogam com seus uniformes principais, deixando bem claro que uma coisa é uma coisa, e a outra, bem diferente.

A parte sobre o talento? Pode até ser. O único paralelo possível para os basqueteiros americanos, em termos de quantidade, são os boleiros brasileiros. E isso nem precisa ser discutido, até porque, num Mundial de basquete, há muito mais paixão envolvida do que nas peladas de Las Vegas ou Orlando. Sabe essa coisa de se importar com algo? Acreditem: ainda existe no esporte.

Dentro dos Estados Unidos, o público em geral só parece valorizar o torneio olímpico. Por outro lado, a reação dos jogadores é bem diferente. Kevin Durant estava eufórico ao conquistar o título em 2010, assim como James Harden neste ano. Só não vale falar em empolgação do Kenneth Faried, contra o qual chinês algum gostaria de jogar nem mesmo uma partida de tênis de mesa. Periga ele devorar a tábua toda. (Outra discussão seria o que a dominância desses caras significa para o mundo Fiba. Tira a graça? Força naturalmente o crescimento dos rivais? Mas essa fica para outra ocasião.)

Mesmo que toda a empolgação dos rapazes de Colangelo fossem fake, daí a falar sobre a falta de apelo global é ir muito além da linha do razoável. Pau Gasol e a Espanha não me pareceram indiferentes depois da eliminação contra a França. Boris Diaw pode ter cara e jeito de indiferente, mas estava bem animado com seus companheiros na hora de receber a medalha de bronze no sábado. Os sérvios vararam madrugada adentro após a vitória sobre os franceses na semifinal.  Claro que a NBA é a maior força financeira e técnica da modalidade, e de longe. Mas há vida aqui fora. Além do mais, se as competições fossem tão irrelevantes assim, por que Cuban clamaria publicamente para que seus comparsas dessem um golpe em Fiba/COI e assumissem eles a organização – e o faturamento – do torneio? Aí não teria problema, imaginem.

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

O que pega, mesmo, não é discussão sobre popularidade, e, sim, os interesses estratégicos de cada franquia e da liga como um todo. Para elas, dãr, o que conta é a temporada que vai de outubro a junho – para muitos.  Além de dinheiro o, que os dirigentes uerem é que seus jogadores (leia-ses “investimentos”) sejam preservados, que não se avariem – ou melhor, eles até podem se lesionar numa tabela massacrante de 82 jogos, mas aí não tem problema, já que estão a serviço de quem assina cheque.

O Spurs simplesmente fez uso de uma cláusula acordada com a Fiba para vetar a participação de Manu Ginóbili na Copa: se o atleta não estiver 100%, se houver o risco de ele agravar uma condição médica nas competições internacionais, as franquias podem proibi-los de jogar. Se o narigudo e genial argentino não foi liberado, Gregg Popovich ao mesmo tempo deve ter ficado satisfeito com o Mundial de Diaw, que sempre pode usar uma competição ou outra para controlar o peso (foram 25,4 minutos para ele em média em nove partidas). O Phoenix Suns não iria contrariar Goran Dragic a uma temporada de o astro esloveno virar um agente livre: se Dragic quer jogar o Mundial, que vá. Num time em que era a principal referência, ele ficou em quadra por apenas 26,1 minutos, de 40 possíveis. O que poucos divulgaram: houve acordo entre a franquia do Arizona e a federação, para estabelecer esse limite.

No Brasil, Leandrinho foi quem mais jogou: 24 minutos, seguido por Anderson Varejão, com 23,6. Os irmãos Gasol não passaram de 27. E por aí vamos. Os jogos são intensos, sim. Há toda uma fase de preparação, de treinos duros e amistosos. Mas quem aí acredita que todos esses atletas ficariam o mês de agosto e setembro de pernas para o ar? Caso o fizessem, o departamento médico e físico de cada time da NBA teria sérios problemas na última semana do mês, quando os elencos se reúnem para a realização (já!!!) dos campos de treinamento. Aí, meus amigos, Diaw não seria mais a exceção.

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

Quando vão para quadra, os atletas estão sujeitos, mesmo, a contusões e lesões. Algo como o que aconteceu com Paul George, porém, é um baita acidente. Uma tristeza, mas um acidente. Assim como o que ocorreu com Monta Ellis em 2008, quando o armador se arrebentou todo… andando de mobilete. Nas férias, depois de ter assinado um contrato milionário. Ainda assim,

“Não há dúvida sobre o impacto (da lesão) em nosso time”, afirmou em comunicado  o legendário Larry Bird, presidente do Pacers. “Mas mantemos nosso apoio à USA Basketball e acreditamos nas metas da NBA de dar uma exposição ao nosso jogo e nossos jogadores no mundo todo. Essa foi uma lesão extremamente infeliz que ocorreu num palco de grande visibilidade, mas que poderia ter acontecido em qualquer momento, em qualquer lugar.”

Na mesma noite de agosto, o comissário Adam Silver foi bem mais sucinto em seu pronunciamento. “Foi difícil assistir à lesão que Paul George sofreu nesta noite, enquanto representava seu país. Os pensamentos e as orações de todos nós da NBA estão com Paul e sua família”, disse. Resta saber e acompanhar se os pensamentos de Silver e de outros proprietários das franquias de lá também acompanham o das fontes de Wojnarowski nesse tópico e se eles vão realmente seguir em frente com essa ofensiva.


O Brasil na quartas, e Nocioni admite: “Deu a lógica”
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Giancarlo Giampietro

O Chapu afirma que ainda não se decidiu sobre a aposentadoria. "Sinto um vazio", diz após derrota

O Chapu afirma que ainda não se decidiu sobre a aposentadoria. “Sinto um vazio”, diz após derrota

Durante anos e anos, quando o assunto era Andrés Nocioni, o basqueteiro brasileiro se acostumou a reclamar barbaridade. Pudera: entre as muitas qualidades do  ala-pivô argentino, destaca-se o vigor, a disciplina, a determinação e a inteligência para defender,  predisposição ao sacrifício físico e para atacar os rebotes, e uma habilidade subestimada com a bola.

Além, claro, de muita catimba.

Essa é a reclamação maior: que ele não parava de bater, provocar, encher… a paciência de todo mundo quando era chegada a hora do clássico. Nas vésperas, ele adorava tirar uma frase ambígua da cartola para mexer com os nervos dos adversários.

Pois bem. Agora chegou a hora de ler o que o temido Chapu, um verdadeiro guerreiro em quadra, alguém que cuidou do serviço sujo para que Manu Ginóbili e Luis Scola brilhassem em Jogos Olímpicos, tem a dizer sobre o time que os derrotou, a seleção brasileira. Separo aqui alguns trechos de um texto de Nocioni em blog pela ESPN hermana:

“Na partida contra o Brasil deu a lógica. Havia muitos anos em que vínhamos vencendo os brasileiros, quando muitos esperavam um triunfo para eles. Uma hora chegaria esse dia. Eles, hoje, são uma equipe melhor, mais completa, chegando mais bem preparados para este jogo. Não há desculpas para a derrota. Somente nos resta felicitá-los e destacar o excelente trabalho que Rubén Magnano fez. Ele transformou o selecionado brasileiro, que agora pensa em equipe. Mudou a forma de o time jogar”, afirmou o jogador, que batalhou como sempre na defesa e na tábua de rebotes, mas sofreu no ataque – talvez até mesmo por conta do desgaste.

No texto, Nocioni, que vai jogar pelo Real Madrid na próxima temporada, fala também sobre a rara eliminação precoce sofrida pela Argentina nas oitavas de final da Copa do Mundo e o que isso representa futuro da equipe. Vale um destaque: ele não confirmou que essa tenha sido sua despedida da seleção.

“A sensação que este Mundial me deixou é bem estranha. Nunca me havia acontecido de ficar fora tão rapidamente de um torneio com a seleção argentina. Tenho uma sensação de vazio. Eu e o Leo Gutiérrez estávamos falando a respeito no quarto, e coincidíamos neste sentimento, que é novo para nós. Em outras oportunidades, na sequência de uma derrota havia sentido a tristeza, mas logo aparecia o orgulho ou a satisfação de ter chegado longe, ou de ter comprido um objetivo. Desta vez ficamos longe de nosso objetivo. É certo que, com as ausências de Ginóbili e Delfino, nossas aspirações mudaram. Mas, ainda sem eles, pretendíamos alcançar ao menos as quartas de final, e aí ver o que se passava no cruzamento”, escreveu.

“Nesta transição na seleção, não devemos apagar tudo de uma hora para a outra. Temos que acompanhar este processo e aportar nossa experiência. Este Mundial pode ter sido meu último torneio com a seleção, mas, até o momento, não tomei uma decisão definitiva. Não passa somente por uma questão esportiva. Há questões familiares, e já são muitos anos de estar com a equipe desde que fiz minha estreia em 1999. Quando o próximo torneio, o Pré-Olímpico de 2015, se aproximar, verei se vou jogar, ou não.”a


Desfalques, improvisos, Scola… qual Argentina encara o Brasil?
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Giancarlo Giampietro

Eles

Eles

Muita coisa pode mudar e campeonato para campeonato. Manu Ginóbili joga um, perde o outro. Carlos Delfino aparece para suprir sua ausência, dependendo da fase e da motivação. Andrés Nocioni andou um tempão afastado, mas agora está batendo cartão. Fabricio Oberto se foi há tempos, Walter Herrmann regressou. Enfim, um fluxo constante. Tudo passa, menos Luis Scola.

O argentino fez alguns jogos bem fracos pelo Indiana Pacers este ano, dando a impressão de que seus dias de matador talvez estivessem chegando ao fim. Mas nada como uma temporada com sua seleção nacional para se reenergizar. E cá está o pivô, já histórico, liderando a tabela de cestinhas do Mundial, se levarmos em conta só os que ainda estão em competição. Ele e sua seleção prontos para desafiar novamente os brasileiros, com nova configuração ao seu redor.

E aqui chegamos a um ponto muito relevante sobre a versão 2014 da Argentina. Quando falamos em desfalques, pensamos rapidamente nos nomes – Ginóbili e Delfino. A ausência da dupla é muito sentida do ponto de vista atlético, mas também abala seu poder de imprevisibilidade. Nenhuma novidade nisso. Mas pouco se fala sobre as consequências dessas baixas em relação o papel de quem se apresentou e sobre qual seria a melhor forma de combiná-los. Enfim, o impacto na rotação.

Para quem gosta de numerar os atletas de 1 a 5 em quadra, fica o convite para se enquadrar os argentinos. Dos oito atletas que vêm sendo mais utilizados, teríamos algo como três da posição 1 (Prigioni, Campazzo e Laprovíttola), um da 3 (Mata) e quatro que seriam 4 (Scola, Nocioni, Herrmann e Leo Gutiérrez). Que tal? Faz sentido? Obviamente que não, e por isso que é sempre preciso muito cuidado na hora de rotular jogadores de basquete. Dependendo da dinâmica de cada time, tudo é muito volátil. Vejam Oberto tentando matar a charada: “Estão jogando com posições trocadas. Um quatro, Scola, que joga de cinco. Um mix de três com Chapu e Walter. Um mix de 1, com Campazzo e Prigioni. Em vez de ter uma posição forte, cada um ajuda o outro”, disse (segundo declarações coletadas pelo site BásquetPlus.com).

Nocioni não vem fazendo o melhor Mundial possível, um tanto sacrificado pelas combinações diferentes do elenco agentino. Mas ainda é um leão na defesa e nos rebotes, para quem nunca vai faltar confiança. Sem contar a catimba, claro

Nocioni não vem fazendo o melhor Mundial possível, um tanto sacrificado pelas combinações diferentes do elenco agentino. Mas ainda é um leão na defesa e nos rebotes, para quem nunca vai faltar confiança. Sem contar a catimba, claro

Antes que alguém pegue carona com o ex-pivô do Spurs sobre Nocioni ser um 3 e tal, tal, tal, saibam que, na real, nos últimos dois anos ele jogou como o ala-pivô/4/PF (se quiserem muito, escolham…) pelo Baskonia. Com liberdade para atacar de todos os cantos da quadra, mas quase que defendendo grandalhões na defesa. Com sua força física, determinação e inteligência, não foi problema. A ponto de ser contratado pelo Real Madrid. Para Herrmann, ainda mais lento, vale o mesmo. Se Lamas fosse, então, encarar seu elenco de modo estratificado, teria sérios problemas. Muita gente boa não ia nem poder entrar em quadra.

Mas sua abordagem não foi convencional. Sem Manu ou Cabeza, poderia term simplesmente promovido o ala Selem Safar para o quinteto titular. Agora, mesmo que ele tenha feito grande partida contra Porto Rico na estreia, parece não ter a confiança do treinador para jogos mais duros. O que ele fez? Puxou uma dupla armação da cartola, até para ganhar mais velocidade e arrojo a partir do drible.  “Essa de trocar posições acho que saiu da melhor maneira possível. Não creio que Júlio goste de jogar desta forma, com a dupla armação, porque nunca jogamos assim. Mas não há ouros criadores de jogo que não sejam os armadores. Não há outras alternativas”, afirma Pepe Sánchez, justamente o condutor do time campeão olímpico em 2004 e hoje um excepcional analista.

Essas “posições trocadas” também foram adotadas, forçosamente ou não, na linha de frente, para acompanhar Scola. Aqui acontece o mesmo: Lamas não parece disposto a confiar minutos significativos a seus atletas mais jovens. Marcos Delia recebeu apenas 7,8 minutos em quatro partidas (ficando fora de uma, inclusive). Matías Bortolín (muito promissor) e Gallizzi só entraram nos minutos finais de uma lavada para cima de Senegal. Em seu conservadorismo, o treinador priorizou os veteranos a todo custo. Agora, isso não impediu que quebrasse alguns padrões a partir daí.

Delía seria o único 5 do time (por favor, só não se refiram a ele como um “cincão”, uma vez que ele faz tanta sombra em quadra como uma caneta esferográfica). Talvez ganhe mais tempo de quadra contra o Brasil, especialmente no primeiro período, para tentar frear um pouco o jogo interno brasileiro. No decorrer da partida, porém, espere por muitas rotações com Scola, Herrmann e Nocioni juntos. Três alas-pivôs atacando e combatendo em conjunto, talvez fazendo mais uso de marcação bem recuada, em zona, para fechar o garrafão. “Delía pode dar minutos de oxigenação para a equipe, mas a realidade é que precisam fazer com que joguem Chapu e Luis todo o tempo que puderem, e viver ou morrer com isso”, diz Sánchez.

É um caminho que Lamas se vê obrigado a seguir, por dois motivos. Ninguém parece ter dado conta da falta de Juan Gutiérrez. Claro que ele não está no nível técnico de muitos dos nomes aqui já citados. Mas é alto, rodado e encarou bem os pivôs brasileiros em Londres 2012.  Sem esse tipo de cobertura defensiva, teve de se virar. O segundo ponto: não deixar que Scola fique por muitos minutos num combate mano-a-mano com gente que é mais alta e muito mais atlética. Daí viria um risco inadmissível: um acúmulo de faltas para o craque – tal como aconteceu no choque com Andray Blatche e as Filipinas – seria provavelmente mortal para suas pretensões contra o Brasil. Se no último clássico, nas Olimpíadas, o treinador conseguiu resguardar o pivô, que recebeu “apenas” 29 minutos, isso aconteceu só por ter Ginóbili e Delfino também ao seu dispor. Isto é, tinha outras fontes produtivas de onde tirar pontos. No Mundial de 2010, porém, só lhe deu um minutinho de descanso. Esperem um manejo parecido neste domingo.

Pepe Sánchez pede: quanto mais Chapu e Luis, melhor

Pepe Sánchez pede: quanto mais Chapu e Luis, melhor

A despeito dos improvisos constatados, os veteranos acreditam que a Argentina já desenvolveu um bom conjunto na primeira fase da Copa para poder encarar – e derrubar o Brasil, até por notarem algumas falhas no próprio adversário. Sánchez recorre ao amistoso que disputaram no mês passado, em Buenos Aires. “A partida em Tecnopolis ficou na retina. O Brasil não sabe lidar com isso. Nestes anos todos, o time não mostra uma conexão entre o jogo interior e o perímetro. Ou é perimetral, ou é interior. Quiçá Marquinhos agora esteja fazendo um pouco isso, mas nós temos Chapu, Leo, Walter, que são jogadores que fazem essa conexão. Nós conseguimos complicá-los muitos quando nos fechamos e oferecemos o tiro externo, cortando-lhes o pick-and-roll e os obrigando a arremessar”, afirmou o ex-armador.

Confiante, não? Mas não se pode tomar seu comentário como soberba. Fato é que essa (des)conexão destacada por Sánchez é o que vem sendo pedido por aqui desde os mesmos amistosos. Ele só usa um termo diferente. A “conexão” seria produto (ou mesmo a causa) de um ataque mais fluído, com mais movimentação dos laterais e dos próprios pivôs, algo que vem faltando ao time de Magnano nas situações de meia quadra.

Além do mais, o próprio Sánchez parece depositar muito mais fichas no aspecto emocional do confronto deste domingo do que nos aspectos táticos, ainda que não veja ainda a seleção brasileira com uma “consistência europeia” – mesmo que o adversário não jogue mais de modo acelerado. É aquela coisa: nem sempre a cadência significa coordenação.  “Tivemos dificuldades contra os europeus (na primeira fase). Em um cruzamento com o Brasil, há coisas diferentes. É um clássico, que se joga de outra maneira, e isso pode nos ajudar. O que melhor mostramos até agora foi o coração, a energia, a entrega, e isso pode pesar contra o Brasil. Contra os europeus, pesa menos, porque têm um plano tático que seguem à risca. A consistência da outra equipe executando está custando muito para nós. Se pudermos envolver o Brasil num jogo mais quente, sanguíneo… Anos atrás teria sido o contrário, mas hoje temos de maximizar nossas possibilidades. Estamos no limite.”

Herrmann, futuro flamenguista, muito forte próximo ao aro. Talvez as mais largas mãos da Copa

Herrmann, futuro flamenguista, muito forte próximo ao aro. Talvez as mais largas mãos da Copa

Pensando neste limite, é muito provável que a equipe vá até onde Scola puder levá-la. Quanto menor a frequência de Ginóbili em torneios com El Alma, como os hermanos tratam o time internamente, mais natural foi o crescimento da liderança do camisa 4. Hoje, seu pulso firme já interfere em questões muito além das quadras, como pudemos ver durante a crise política aberta antes do início da preparação – foi a voz mais assertiva entre os jogadores. Além disso, há diversos relatos sobre o modo cuidadoso como trata as revelações do país. De grandes gestos como levar o espigão Marcos Delía em sua bagagem para um período de treinamentos em Indiana, pagando tudo, a pequenos mimos: durante este Mundial, deu uns quatro pares de tênis para Tayavek Gallizzi. Um grande personagem, que merece todo o respeito.

Sua influência no campo ofensivo é um problemaço para se resolver. Neste sazonal mundo Fiba, o cabeleira bota para quebrar tanto perto como longe da cesta. A variação é grande não só em suas fintas, mas nos pontos em que recebe a bola para atacar. Isso requer muito mais estudo e atenção a detalhes por parte de treinadores e jogadores. Você pode preparar um scout com diretrizes, mas nem sempre há uma solução clara, uma vez que este craque pode te ferir tanto com os arremessos de média para longa distância, como também pode por a bola no chão e partir para a cesta com leveza surpreendente para alguém tão forte e que pode parecer pesado à primeira vista (no caso da audiência brasileira, já é à quinta, à sexta vista, mas tudo bem).

Com três pivôs fortes, experientes e atléticos para marcá-lo, a defesa brasileira não deveria recorrer de primeira a marcação dupla. Se isso for acontecer, as rotações precisam estar afinadas para que seus arremessadores não sejam liberados. Neste Mundial, os argentinos têm cinco jogadores queimando a redinha nos chutes de longa distância: Scola (60%), Mata (58,3%), Herrmann (50%), Safar (46,2%), e Prigioni (43,8%). Os veteranos Nocioni e Leo Gutiérrez, por outro lado, não vêm tão bem no fundamento, respectivamente com 27,3% e 32%, assim como Campazzo (27,8%), mas melhor nem pagar para ver.

Outra questão que requer atenção decorre dos ataques em que Scola vai flutuar na cabeça do garrafão. A ideia inicial tende a ser uma jogada em dupla com o armador da vez. Com Campazzo e Laprovíttola, Julio Lamas não verá problema em forçar a troca e fazer seu baixinho atacar um grandalhão (por sorte, os três pivôs da NBA são excelentes nesse tipo de situação de aparente desequilíbrio). De todo modo, o ideal seria que cada atleta seguisse grudado ao seu oponente, impedindo o mismatch, para que Scola também não tenha um instante de liberdade para receber o passe de volta e subir para o arremesso. Uma terceira via que os argentinos podem buscar a partir daí é o corte pelo fundo de um Nocioni ou de um Herrmann em que eles assumem o poste baixo e a assistência em high-low para punir defensores mais baixos.

É a tal da conexão em que Pepe Sánchez aposta. O entrosamento que a Argentina acredita impor ao redor de seu pilar ofensivo, não importando as peças que tenha disponíveis. Caberá mais uma vez ao Brasil de Magnano tentar desmantelá-los..


Como não? Brasil reencontra Argentina; veja o retrospecto
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Giancarlo Giampietro

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Sí, sí. É isso, mesmo. Deu Brasil x Argentina novamente.

Para que o clássico sul-americano se repetisse logo de cara nos mata-matas da Copa do Mundo de basquete, era necessária pelo menos uma combinação de três resultados no Grupo B: que as Filipinas lavassem a alma com pelo menos uma vitória sobre a outra zebra do torneio, Senegal; que a Croácia afastasse os rumores sobre autocombustão (mais uma!?) e vencesse Porto Rico; e que a Grécia provasse sua consistência redescoberta para derrotar nossos vizinhos do Sul, para que  eles terminassem em terceiro. Check, check, check. Confere, e cá estamos em mais um jogo decisivo entre os dois rivais.

Em competições intercontinentais, o confronto acontece pelo terceiro evento consecutivo. Sem brincadeira: rolou no Mundial passado, em 2010, e também nas Olimpíadas de Londres 2012. Vocês me deem licença, então, para resgatar e editar um texto de dois anos atrás, recuperando o retrospecto – já nem mais tão recente assim – entre as duas gerações que vão se reencontrar no domingo (17h, horário de Brasília). Uma experiência dolorosa para muita gente, eu sei. Mas esse histórico, que vem de 2002 para cá, é um componente emocional inegável, que tem de ser enfrentado nas próximas 40 e poucas horas.

Desde o torneio de Indianápolis, 12 anos atrás, muitas figuras fundamentais se despediram das quadras. Deu tempo de Marcelinho Machado, por exemplo, anunciar em duas ocasiões que não jogaria mais pela seleção brasileira, para reconsiderar prontamente. Do outro lado, Walter Herrmann também alternou bastante: foi, voltou, foi, voltou. De constantes, mesmo, temos Luis Scola e seu vasto arsenal ofensivo, que continua superprodutivo e eficiente (21,6 pontos por jogo no atual campeonato, mais 8,8 rebotes, 2,2 assistências e 52% nos arremessos).

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

A diferença é que dessa vez são os argentinos que entram com desfalques. Manu Ginóbili e Carlos Delfino fazem uma falta danada no perímetro: não só como pontuadores, mas também como criadores e defensores. Já o Brasil surge com força máxima. A primeira vez em muito, muito tempo, com todos os seus atletas apresentados, fisicamente bem (ao menos segundo as aparências e os relatos oficiais). Esse é um fator que deve passar obrigatoriamente mais confiança para os rapazes de Rubén Magnano – algo que compense de alguma forma o desequilíbrio emocional gerado por tantas derrotas no decorrer da última década (pensando apenas em grandes competições, ok? Sul-Americano, isto é, excluído). Vamos lá, passo a passo:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Os argentinos conseguiram sua primeira grande vitória em clássico pelo Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora (havia acabado de ser draftado pelo Nuggets), e a armação era dividida por Helinho e Demétrius, hoje assistente de Rubén Magnano. Que, na época, trabalhava para seu país natal. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção braileira, agora com Lula Ferreira no comando e bastante renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: o Brasil sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e a Argentina sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann. Foram duas derrotas para os campeões olímpicos: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga nos Jogos de Pequim, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, em uma cobertura de ambiente tumultuado, extremamente tenso. Luis Scola jogou uma barbaridade, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

– Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Das principais peças, eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni, enquanto o Brasil jogou com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda. Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen (lembra dele!?) mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

– Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando os arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que fez a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente, não importando que os grandes ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Foi um triunfo que encaminhou a equipe nacional para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das brabas, a trupe tupiniquim perdeu por cinco pontos.

– Em Londres 2012, depois de a Espanha supostamente manipular a tabela, o Brasil terminou em segundo em seu Grupo A. E quem estava em terceiro no B? Sim, a Argentina, numa repetição do atual cenário. As duas equipes contavam com seus grandes nomes, e isso pesou a favor do time que já tinha duas medalhas olímpicas (o ouro de Atenas e um Bronze em Pequim). Os argentinos abriram vantagem de até 15 pontos, viram os brasileiros reagirem, mas ganharam no final. Um drama particular daquele jogo? Os lances livres…

Passando por tantas derrotas assim, não dá para dizer, mais uma vez, que o jogo deste domingo sirva de tira-teima, né? Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos deste ano, em que já se enfrentaram em dois amistosos, com uma vitória para cada lado, cada um vencendo em casa. Mas eram apenas amistosos, bem no início da fase de preparação. No primeiro, no Rio, o Brasil venceu bem, explorando seus pivôs, mas Luis Scola não estava do outro lado. No segundo, em Buenos Aires, um bombardeio de três pontos desarmou a defesa de Magnano. Dois jogos que provavelmente não dizem nada.

Agora, com tanta história envolvendo os rivais, é impossível relevar o retrospecto geral. Os brasileiros vão precisar de toda a maturidade que puderem acessar para encarar esses diversos tropeços, erguerem a cabeça e partirem para mais um clássico para se acrescentar neste relato. Em 2016, vai ter mais?


Brasil e Espanha respiram aliviados em Mundial de desfalques
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Giancarlo Giampietro

Magnano está treinando todos aqueles com que esperava contar. Raridade

Magnano está treinando todos aqueles com que esperava contar. Raridade

O Brasil tem um time rodado, o elenco mais experiente de todos os 24 inscritos na Copa do Mundo de basquete. Com o mesmo grupo, trocando Caio Torres por Rafael Hettsheimeir, terminaram as Olimpíadas de Londres 2012 com o quinto lugar.

São dois pontos importantes para justificar qualquer otimismo que o Basqueteiro da Silva possa sentir em relação ao torneio que começa neste sábado.

Mas saiba que há mais um elemento importante a ser considerado: entre as seleções que afirmam publicamente que jogam por uma medalha neste Mundial, apenas o Brasil e a anfitriã Espanha vão levar para quadra o que no jargão da imprensa esportiva se chama de “força máxima”.

Rubén Magnano, que tanto chiou no ano passado ao final de uma vexatória Copa América, tem agora ao seu dispor a lista que julga ideal. Justamente num campeonato em que seus principais concorrentes estão seriamente avariados.

Se é para falar em desfalque, a lista começa obrigatoriamente com os Estados Unidos da América. O Coach K teve de montar sua lista final sem LeBron James, Kevin Durant, Carmelo Anthony, Russell Westbrook, Paul George… (respirem fundo, que ainda tem mais)… Kevin Love, Blake Griffin e LaMarcus Alridge. Isso para não falar de Michael Jordan, Wilt Chamberlain, Mugsy Bogues, John Isner e os Harlem Globe Trotters. Ainda assim, são candidatos ao ouro, claro – mas sem amedrontar tanto os donos da casa.

A França, campeã europeia, não vai contar com os pontos, assistências e, principalmente, liderança de Tony Parker, seu Macho Alfa. Se já não fosse duro o bastante, ainda perderam seus dois melhores pivôs: Joakim Noah e Alexis Ajinça, duas baixas seriíssimas para sua defesa, além do fogoso e criativo ala-armador Nando De Colo. Resulta que a dupla Boris Diaw e Nicolas Batum vai ter de mostrar do que é feita. Acostumados a vida toda a escoltar Parker – e outras estrelas como Roy, Lillard, Nash, LaMarcus, Duncan, Stoudemire etc. em suas carreiras –, os dois agora têm de canalizar todo o seu talento como referências primárias. Era para os Bleus estarem no topo da pirâmide dos favoritos, mas eles acabam rebaixados ao segundo escalão.

Mesmo nível em que aparece a Lituânia não tinha o estourado ala-pivô Linas Kleiza, cestinha que, quando em forma, pode ajudar qualquer time do mundo. Mas ainda poderia conviver com isso, já que há pivôs de sobra por lá. O problema sério foi ter perdido, de última hora, seu armador Mantas Kalnietis, que deslocou o ombro no último teste da seleção. O cara não é cerebral, não está nem entre os 20 melhores do mundo em sua posição, mas calha de ser o único do país com tarimba para liderar um time desses, a despeito de seus arroubos de loucura aqui e ali. Basicamente: era o jogador que os lituanos não podiam perder.

Šarūnas Vasiliauskas tem as cartas lituanas em mãos: foi o único armador que sobrou no elenco

Šarūnas Vasiliauskas tem as cartas lituanas em mãos: foi o único armador que sobrou no elenco

Na Argentina, a lamentação fica por conta da ausência de Manu Ginóbili, primeiro, e de Carlos Delfino, em segundo. Manu tentou de tudo para se alistar, mas o Spurs disse não, preocupado com a recuperação de uma fratura por estresse na perna. Delfino nem jogou a temporada depois de passar por uma cirurgia no pé direito. Os dois eram basicamente as únicas opções seguras de pontuação no perímetro para Julio Llamas, que agora se vê com um elenco desbalanceado – Scola, Nocioni e Herrmann jogam basicamente na mesma posição hoje em dia.

Já está bom?

Nada, tem muito mais.

Lorbek poideria dar uma baita ajuda para Goran The Dragon não fosse o joelho estourado

Lorbek poideria dar uma baita ajuda para Goran The Dragon não fosse o joelho estourado

A Eslovênia poderia ter um baita time, mas, por motivos diversos, seja de disputas de ego ou lesões, vai com uma equipe remendada para o Mundial. Enquanto Goran Dragic estiver inteiro, eles terão chances. Mas o fato é que sua cotação nas casas de apostas seria mais elevada se o pivô Erazem Lorbek (que não fez uma boa temporada pelo Barcelona, mas ainda é um craque) tivesse pedido dispensa e se Dragic, Beno Udrih e Sasha Vujacic levantassem a bandeira de paz. Boki Nachbar ainda poderia ajudar, caso não tivesse se despedido da seleção.

Por falar em despedidas e seleções balcânicas, bem que o veterano e ainda produtivo Zoran Planinic poderia dar uma forcinha para sua Croácia. Ainda na região, a Sérvia não vai poder contar com o jovem armador Nemanja Nedovic, lesionado, e com o ala Vladimir Micov, que brigou com o técnico. São coadjuvantes, mas estariam entre os 12 num cenário perfeito.

Se a Grécia ttivesse Vassilis Spanoulis entre seus convocados, também teria subido alguns postos na lista de candidatos ao pódio, mesmo que Dimitris Diamantidis siga aposentado de competições Fiba. Kostas Koufos e Sofoklis Schortsanitis também deixariam o garrafão helênico muito mais pesado, com o perdão do trocadilho. A arquirrival Turquia não é confiável, mas se tornaria mais forte com Ersan Ilyasova formando uma bela linha de frente com Preldzic e Asik. Hedo Turkoglu? Nem levaria, mas fica o registro.

Mesmo meu candidato preferido a azarão do Mundial, Porto Rico, tem seus problemas. Há quem julgue que o gigante PJ Ramos não faça falta – é certamente o caso do técnico Paco Olmos, que se recusou a chamá-lo –, mas não há como relevar a baixa do ala John Holland. Americano de ascendência porto-riquenha, ele não tem muito cartaz neste mundão Fiba, mas se tornou um personagem fundamental para o time devido a sua capacidade atlética, apetite pelos rebotes e defesa. “Grande coisa”, poderia responder o técnico Orlando Antígua, da República Dominicana. “Nós perdemos o Al Horford. O Al Horford, meu craque!!!”

Al Horford poderia fazer toda a diferença para os dominicanos

Al Horford poderia fazer toda a diferença para os dominicanos

Do outro lado do planeta, a Austrália ficou sem seus dois principais jogadores: o armador Patty Mills, o explosivo reserva do San Antonio Spurs e também o cestinha das últimas Olimpíadas, operado, e o pivô Andrew Bogut, do Golden State Warriors, que já não tem mais saúde para praticar basquete nas férias.

Se você somar todos os nomes em negrito, vai ver que são mais de 20 jogadores fundamentais fora de combate, além de todas as ausências norte-americanas. Isso tira um pouco do brilho do torneio, mas abre caminho para quem chega inteiro. Mesmo assim, ninguém vai ser insano de dizer ficou “moleza” para Huertas, Splitter, Nenê & Cia. Mas que as chances aumentaram e estão aí, não há dúvida.


As tramas que podem decidir a revanche Spurs x Heat
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Giancarlo Giampietro

Como está o tornozelo de Tony Parker?
O armador revelou durante a semana que já estava com o pé comprometido na semifinal contra o Blazers e que, por isso, acabou machucando os músculos da perna, para tentar compensar as dores nos movimentos. Ainda que venha na sua melhor de fase no que se refere a chutes de longa distância, acertando 35,3% e 37,3% nas últimas duas campanhas, o carro-chefe do francês são as infiltrações, mesmo. Partir para a cesta, com uma ajuda ou outra de corta-luzes, ou usando suas fintas hesitantes, que podem deixar até mesmo LeBron na saudade. Machucar a defesa lá dentro e aí explorar os tiros de fora (com o melhor aproveitamento da temporada). Vale lembrar que, no ano passado, Parker já havia sofrido uma lesão muscular na coxa e que seu time sentiu bastante. É algo que podemos esquecer com facilidade, considerando todo o drama que aconteceu nos jogos finais. Mas, estivesse o armador 100%, será que teria Jogo 7 para entrar na história? Bem, o se não vale para nada, mesmo. Agora, uma temporada depois, o Spurs chega novamente a uma decisão sem que seu principal jogador esteja 100%. arranque de seu armador e suas bandejas, o Spurs vai depender de sua movimentação de bola. E os passes devem ser precisos para lidar com uma defesa hiperatlética – do contrário, o contra-ataque a partir do turnover é mortal. Vimos há pouco, em OKC, como pode funcionar essa gangorra. A diferença é que o Miami tende a adiantar sua primeira linha defensiva muito mais, abafando o armador em situações de pick-and-roll, enquanto o Thunder joga mais recuado, com uma formação mais compacta. Outro diferencial é que Chris Andersen, caso jogue, salta muito, se posiciona bem vindo do lado contrário, mas não é nenhum Serge Ibaka.

No caso de um desastre, Popovich vai confiar, mesmo, em Patty Mills e Cory Joseph? Eles estão preparados?
O desastre: Parker simplesmente não aguentar e ser afastado de quadra, tal como aconteceu no Jogo 6 em Oklahoma City. O Spurs sobreviveu a esse desafio. Mas uma coisa é levar 24 minutos sem o francês, ainda que num ambiente hostil. Outra é conduzir uma ou mais partidas, com o adversário tendo o tempo necessário para fazer seus ajustes e mudar o plano de jogo. Aí o caldo engrossa. No próprio desfecho da série contra o Thunder, o treinador jogou o quarto período e a prorrogação com Ginóbili na armação. O argentino é craque e fez o dele. Em tempo integral, contudo, o desgaste seria muito maior, ainda mais com Cole, Chalmers, Wade e LeBron voando como abutres por cima de sua careca. No ano passado, armando o time nos minutos de descanso de Parker, Manu já sentiu o baque. Nos últimos três jogos, cometeu 15 turnovers, por exemplo. Quinze! Via as jogadas, com o brilhantismo de sempre, mas não conseguia completar o passe. Agora, está melhor fisicamente, é verdade. Mas vai precisar da ajuda dos garotões que o Spurs vem pacientemente desenvolvendo. Mills tem o chute e a experiência – já foi cestinha, em média, de Olimpíada, oras. Joseph é mais explosivo e marca melhor. A combinação ideal seria a fusão dos dois armadores em um, claro. O que não vai rolar. Nesse sentido, a substituição de Gary Neal por Marco Belinelli representa um avanço. Por mais que a torcida do Spurs culpe o italiano para tudo, o ala0armador é tão ou o mais ameaçador no chute de três pontos, podendo esquentar rapidamente e matar diversas bolas seguidas, como tem mais altura e habilidade com a bola, qualidades necessárias para enfrentar a constante blitz de seu adversário. Resta saber se vai recuperar sua confiança, tendo perdido rendimento e tempo de quadra nos mata-matas.

Tiago Splitter pode se impor? Ou: será que ele vai ter a chance de se impor?
O Miami tem sérias dificuldades de lidar com pivôs infiltrados no centro de sua defesa. Desde que, claro, esse grandalhão X consiga ser abastecido. O catarinense tem, então, na teoria boas chances para se estabelecer. Agora… Essa mesma teoria valia para o ano passado, quando ele estava ainda mais confiante, e em nenhum momento conseguiu se estabelecer como força no jogo interior. Há um problema aqui: se for usar alguém como referência interna, o Spurs vai de Tim Duncan. E como seria diferente? Estamos falando de um dos jogadores mais bem fundamentados da história. Se Duncan for estacionar para o post up, não sobra espaço para Splitter agir da maneira que gosta, em cortes no pick and roll. Se essa bola não estiver disponível para o brasileiro, a verdade é que ele fica praticamente sem função no ataque. E o Miami adoraria que o Spurs buscassem a cesta com apenas quatro armas disponíveis. E aí que Tiago paga o preço da concentração total que  os técnicos do Baskonia tiveram em moldá-lo como um pivô de jogo exclusivo próximo ao aro. Ok, não dá para ser tão ingrato assim: obviamente o catarinense se desenvolveu num baita jogador, muito inteligente e eficiente. Mas houve um dia em que o adolescente saído de Blumenau era visto como um possível prospecto na linha de Dirk Nowitzki. Talvez fosse um baita exagero. Talvez ele nunca fosse capaz de acertar nem 35% de seus chutes de fora. Fato é que hoje não há resquício técnico nenhum, nem mesmo a vocação em seu jogo para pontuar distante da cesta: em sua carreira nos playoffs, 67,8% de seus arremessos são executados a menos de um metro do aro. De um metro para três, 29,6% (dos quais ele acertou apenas 29,4%). Sobram, então, 2,6% dos arremessos para tudo o que estiver a mais de três metros de distância.

Rashard Lewis tem mais garrafas para vender?
O outro lado da moeda. Desde a temporada passada que Popovich descobriu que, com a dupla Duncan-Splitter, sua defesa fica muito mais robusta. São mais de 150 partidas já computadas para comprovar isso. Então tem isso: saber como compensar as situações oferecidas pelo jogo dos dois lados da quadra. Perde um pouco ali, ganha um pouco lá, fazendo as contas para ver qual o saldo. Mas tenhamos em mente sempre que, nos playoffs, com tanto estudo e tempo de preparo entre um jogo e outro, alguns segredos ficam mais expostos. E também vale o asterisco: o Miami não é um time como outro qualquer, e não só por ter LeBron, mas, antes de tudo, por sua disposição tática. Aqui não tem um alvo mais declarado e fixo como Dirk, Z-Bo ou LaMarcus para Tiago marcar (o que não quer dizer que freá-los seja fácil). Chris Bosh só joga de frente para a cesta e afastado (nestes playoffs, ele mais chuta de três pontos do que enterra ou faz bandejas). Spoelstra abre seus jogadores e deixa a quadra espaçada para seus dois astros pregarem o horror. No ano passado, quando o técnico foi de Mike Miller em seu quinteto inicial (ignorando qualquer ameaça que Splitter pudesse representar do outro lado), Popovich teve de se dobrar e conceder esta pequena e importante vitória para seu rival. Com um elenco versátil, também adotou o small ball. A tendência é que a série deste ano caia nesta mesma vala – ainda que o gatilhaço já não esteja mais na Flórida. Podemos esperar muito mais Ray Allen em quadra, além de Chalmers e Cole. Mas ainda sobram minutos, que Spoelstra adoraria dar a um esgotado Battier.  Aí que entra Rashard Lewis. Qual versão vai jogar a final? O moribundo de toda a temporada, ou aquele que ressurgiu no desfecho contra o Pacers? Se os tiros do veterano estiverem caindo, e obviamente que nem precisa ser numa escala Miller de 50%, o Spurs vai ter de sambar um pouco mais em suas coberturas.

– Boris Diaw vai ser agressivo?
Esperem, então, para ver muito Boris Diaw nos confrontos, e não tem nada de errado com isso. O francês joga demais. Sempre vamos ficar com uma pulga atrás da orelha, pensando sobre como seria seu basquete se ele se dedicasse um pouquinho a mais na esteira. Mas esse preconceito também por vezes pode inibir que apreciemos adequadamente seus talentos únicos. Para esta temporada, aliás, monsieur Riffiod se apresenta em melhor forma, confiante e produtivo, além de mais eficiente, mesmo com a terceira maior “taxa de uso” de sua carreira – isto é, seu jogo não sentiu o peso de mais responsabilidades. Conquistou, desta forma, o coração de Popovich. “Ainda estou aprendendo como usá-lo”, diz o técnico. Tem muito o que se aproveitar, mesmo: Diaw está acertando mais de 41% de seus arremessos de três pontos nos playoffs, mantendo o alto aproveitamento que teve durante toda a temporada. Além disso, virou uma ameaça séria no jogo de costas para cesta,  cada vez mais concentrado também em pontuar, em vez de apenas passar, passar e passar. Atende, enfim, aos clamores de dúzias de técnicos com que já trabalhou. Claro que o jogo fica mais bonito com atletas solidários interagindo, mas chega uma hora que a bola tem de cair na cesta, e o francês já não parece mais tanto avesso a esse simples conceito. Dependendo da saúde de Parker e Ginóbili, pode ser que o Spurs precise ainda mais do ala-pivô e seus serviços de playmaker, facilitando, servindo e, sim, atacando. Quem vai marcá-lo? Battier tem um último sopro? Lewis? LeBron?

– Por falar em LeBron, ele vai tentar/matar seus chutes de média e longa distância com qual frequência?
Deu certo por um bom tempo no ano passado, então podemos esperar que Pop mantenha a estratégia. Com Kawhi e, especialmente, com Diaw, a ordem deve ser para que recuem e tentem colocar a dúvida na cabeça do craque: vai para o chute, mesmo, ou tentará buscar um companheiro? Vai atacar a cesta e correr o risco de fazer a carga? Mas será que não há espaços, mesmo, para a infiltração? LeBron está habituado a ler o jogo num estalo. Contra o Mavericks em 2011 e contra o Spurs em 2013, porém, foi hesitante, diante das “facilidades” sugeridas pela defesa adversária. Se isso acontecer novamente, de o astro perder alguns segundos para tomar suas decisões e sair de ritmo, a defesa do Spurs já vai se dar por agradecida. Agora, o craque já sabe o que está por vir. Nos Jogos 6 e 7 da final do ano passado, partiu para o ataque e cobrou 21 lances livres, depois de ter somado apenas 19 nos cinco primeiros. A armadilha estava desfeita. Ficamos no aguardo, então, para ver como vai se comportar.

E dá para apostar contra LeBron James?
Kawhi Leonard já se virou contra Kevin Durant e Russell Westbrook na final do Oeste. Encarar LeBron, porém, é algo bem diferente. Durant é um cestinha mortal, mas fisicamente não representa o desafio que é segurar um tanque de guerra em movimento. Com KD, você pode contestar os arremessos e torcer para que não caia – bloquear alguém tão veloz e alto fica difícil. Mas você pode afastá-lo da cesta, você pode incomodá-lo fisicamente. Atletas como Leonard, Matt Barnes e até mesmo o diminuto Tony Allen podem persegui-lo no perímetro e atrapalhar sua movimentação fora da bola. No fim do jogo, o cara pode terminar com 30 pontos, tá certo. Mas os caminhos são mais claros. Contra LeBron, quando ele desembesta a atacar o aro, a combinação de técnica, explosão e força é brutal. Não há como Leonard absorver esse tipo de contato. Na verdade, Kawhi está em quadra apenas como um primeiro obstáculo de uma estratégia coletiva que precisa ser empregada para congestionar a vida do craque. Esse recuo e o convite ao chute é um dos ardis. Mas haja cobertura e ajuda para desencorajar o melhor jogador do mundo. Ele quer mais um anel.

E mais: Danny Green consegue dar conta de um Dwyane Wade que não esteja mancando? Chris Bosh vai se permitir ser alienado no ataque? O preparo físico, a essa altura, faz a diferença? Ou o emocional supera tudo? Porque o Spurs chega bem mais descansado. Spoelstra vai tentar mais uma vez alargar sua rotação, ou jogar com sete, oito caras? Se (ou quando) Ray Allen acertar mais uma bomba de três, como evitar o soluço coletivo de San Antonio? Pode Tim Duncan repetir ou superar os 18,8 pontos e 12,1 rebotes das finais do ano passado?

São muitas questões, e ainda bem que a pressão está em Pop ou Spo para respondê-las. Nós só precisamos nos acomodar no sofá e ver o o desenvolvimento dessas tramas todas, muitas delas interligadas. É um novelo difícil de se desembaraçar, e fica impossível dar um palpite.

PS: por motivos de Copa do Mundo da FIFA, na qual estarei envolvido, cobrindo, não sei bem se vai dar para comentar a série jogo a jogo, infelizmente.


Heat x Spurs: confira a cronologia dos protagonistas da final
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Giancarlo Giampietro

Quando Pat Riley ganhou seu primeiro anel de campeão da NBA, em 1972, dividindo o vestiário com Wilt Chamberlain e Jerry West (treme a terra quando se fala sobre estes nomes, não?), Gregg Popovich estava competindo, ou em vias de competir na peneira que formaria  seleção norte-americana que amargaria a prata olímpica em Munique. Sim, aquela final que se tornou o jogo mais controverso da história da modalidade. Uma temporada depois, Popovich retornaria à academia da Aeronáutica dos Estados Unidos como assistente técnico. Erik Spoelstra não tinha nem dois anos de idade.

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Quando Pat Riley assumiu o Los Angeles Lakers pela primeira vez como treinador profissional, em 1981, cinco anos depois de aposentado das quadras, Tim Duncan tinha cinco anos de idade e vivia em Christiansted, uma das cidades da ilha de St. Croix, das Ilhas Virgens americanas. Popovich estava em sua segunda temporada como treinador da universidade de Pomona-Pitzer, na terceira divisão da NCAA, a qual dirigiu entre 1979 e 87. Mais um dos andarilhos do basquete norte-americano, Tony Parker Sr. tocava sua carreira na Bélgica.

Quando Tim Duncan praticamente desistiu de se tornar um nadador olímpico dos Estados Unidos, em 1989, e, aos 13 anos, começou suas aventuras numa quadra de basquete, Spoelstra era eleito o calouro do ano na West Coast Conference pela universidade de Portland, vindo de uma prestigiada carreira de colegial. Era armador. Riley estava em vias de deixar o Lakers, com mais quatro anéis de campeão. Nas finais daquela temporada, o time foi varrido pelos Bad Boys de Detroit. LeBron James tinha cinco anos e vivia uma infância difícil em Akron, com sua mãe de 21 anos procurando um emprego e um apartamento atrás do outro. Com quatro anos, Tiago Splitter brincava com qualquer coisa em Blumenau.

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Quando Manu Ginóbili iniciou sua carreira profissional pelo Andino Sport Club, em 1995, sendo eleito o melhor novato da liga argentina, Duncan estava em seu terceiro ano de universidade, em Wake Forest, construindo sua reputação como um prospecto imperdível. Riley deixou a cabine de transmissão da NBC para assumir o Miami Heat como técnico e cartola – foi um ano de reformulação, no qual seu time somou 42 vitórias e 40 derrotas, o suficiente para chegar aos playoffs e ser varrido pelo Chicago Bulls de Michael Jordan. Spoelstra havia acabado de ser contratado como coordenador de vídeo do clube, indicado por Chris Wallace (hoje o gerente geral interino do Memphis Grizzlies)  e conseguiu se segurar no cargo, mesmo com a chegada de um novo chefe. Popovich era o gerente geral do Spurs, contratado pelo novo proprietário da franquia, Peter Holt, três anos depois de ser demitido pela gestão anterior.

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

LeBron, calouro no high school

LeBron, calouro no high school

Quando Tim Duncan ganhou seu primeiro título da NBA, em 1999, já sob a batuta de Popovich, LeBron estava se preparando para começar uma das mais badaladas carreiras de um jogador de high school no basquete norte-americano, na St. Vincent–St. Mary High School. Aquela era a primeira de-ci-são polêmica do adolescente. Ele e seus amigos do circuito AAU optaram por uma escola particular,  elitista, em vez de seguir a rota mais usual do colégio público – e dos “manos”.  Dwyane Wade já era uma estrela do prestigiado basquete colegial de Chicago, mas, devido a problemas com suas notas, só tinha ofertas de três universidades: as locais Illinois State, e DePaul, ou Marquette, do estado vizinho de Winsconsin. O Miami de Pat Riley foi mais uma vez eliminado pelo (eventual vice-campeão) Knicks nos playoffs do Leste – Spoelstra dividia seu tempo entre coordenador de vídeo e assistente técnico do figurão. Ginóbili encerrou sua primeira temporada na Itália, jogando pelo Reggio Calabria, na segunda divisão. Tony Parker assinou seu primeiro contrato de profissional com o Paris Basket Racing. Um ano depois, com 15, Tiago Splitter deixaria Santa Catarina rumo ao País Basco, para jogar na base do Baskonia.

Quando Tim Duncan ganhou seu segundo título da NBA, em 2003, já acompanhando por Tony Parker e Manu Ginóbili e ainda ao lado de David Robinson, LeBron James já sabia que sua jornada como profissional começaria justamente na franquia de seu estado, Ohio, em Cleveland. O Draft daquele ano, com LeBron sendo a maior barbada, foi realizado 13 dias depois de o Spurs vencer Jason Kidd e o New Jersey Nets na decisão, 4-2. Com 29 pontos, 11 rebotes, and 11 assistências, Dwyane Wade fazia o quarto triple-double da história dos mata-matas da NCAA por Marquette, entrando de vez na lista dos prospectos de elite. Splitter, aos 18, já disputava seu segundo torneio com a seleção principal, revezando com Nenê e Anderson Varejão no garrafão de um time que sofreu horrores no Pré-Olímpico em Porto Rico.

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Quando Dwyane Wade ganhou seu primeiro título da NBA, em 2006, Shaquille O’Neal jogava ao seu lado, assim como Gary Payton, Jason Williams, Antoine Walker, Alonzo Mourning e Udonis Haslem. Pat Riley havia deixado os escritórios e voltado a dirigir o time, depois da demissão de Stan Van Gundy. O Cleveland de LeBron foi eliminado na semifinal da Conferência Leste pelo Detroit Pistons de Billups, Sheed e Ben Wallace, depois de ter vencido o Washington Wizards de Gilbert Arenas, na primeira rodada. O Spurs perdeu para o Dallas Mavericks no Jogo 7 das semifinais do Oeste, levando uma virada daquelas. Splitter teve médias de 16,4 pontos e 6,6 rebotes no Mundial do Japão, com o Brasil caindo na primeira fase.

Quando LeBron James chegou a sua primeira final de NBA, em 2007, o adversário foi o San Antonio Spurs de Duncan, e seu Cleveland Cavaliers, com Eric Snow, Larry Hughes, Drew Gooden e Zydrunas Ilgauskas no time titular, foi varrido. Em Miami, o Miami Heat também seria varrido pelo Chicago Bulls na primeira rodada da Conferência Leste, vendo seu sonho de bicampeonato atropelado por Andrés Nocioni, Ben Gordon, Luol Deng, Kirk Hinrich e Ben Wallace. Riley ainda era o técnico. Spoelstra, seu assistente. Splitter foi o MVP da Supercopa espanhola e iniciaria uma belíssima temporada na Europa, aos 22 anos, sendo eleito para o quinteto ideal da Euroliga ao final.

Em 2012, LeBron ganhou seu primeiro título, com o Spurs perdendo a final do Oeste para o Thunder. Em 2013, reencontrou Duncan na decisão e deu aquele toco em Splitter, já sabemos. Agora, a partir de quinta-feira, essas diversas trilhas voltam a se cruzar. Mal posso esperar.


Em quem ficar de olho no F4 da Euroliga: o MVP Rodríguez
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Giancarlo Giampietro

Sergio Rodríguez, Real Madrid, Espanha, barba

Para quem ainda não está farto de tanta emoção, com o que se vem passando nos playoffs completamente alucinantes da NBA e com tantas surpresas no NBB, então é hora de abrir os braços para uma carga extra de drama – e basquete refinado – neste fim de semana. Mais especificamente na sexta-feira e domingo, com o Final Four da Euroliga.

A gente pode falar de Barcelona e Real Madrid, que fazem mais um clássico de matar, ou das constantes potências CSKA e Maccabi, que história não falta. Na verdade, vamos tratar desses clubes, sim, entre hoje e amanhã. Mas, antes, prefiro gastar um tempo com os protagonistas em quadra.

Sim, os melhores jogadores do mundo, inclusive os europeus, estão do outro lado do Atlântico. Parker, Nowitzki, irmãos Gasol, Pekovic, Gortat e tantos mais. Mas não quer dizer que o segundo maior torneio de clubes do mundo fique só com as sobras. Há diversos atletas que assinariam contratos na NBA sem a menor dificuldade, sendo peças relevantes, mas que, por circunstâncias diversas – entre as quais se destaca invariavelmente a adoração de fanáticas torcidas e alguns milhões de euros na conta –, seguem jogando perto de casa.

Navarro e sua breve parceria com Pau Gasol em Memphis. Frustração

Navarro e sua breve parceria com Pau Gasol em Memphis. Frustração

Peguem, por exemplo, Juan Carlos Navarro. Desnecessário falar sobre o currículo, a reputação e o talento de La Bomba. Em sua única temporada nos Estados Unidos, ele não chegou a ser maltratado como Vassilis Sponoulis foi por Jeff Van Gundy em Houston, mas sofreu demais em um ano perdido do Memphis (60 derrotas!), no hiato entre os times de Hubbie Brown e Lionel Hollins. Ainda viu seu grande amigo Pau Gasol ser trocado. Um ano depois, correu de volta para Barcelona, aonde é rei, talvez chocado com a barbárie.

Este é um caso emblemático. Mas há diversos nessa linha: Erazem Lorbek, cortejado pelo Spurs ano após ano, mas que segue no Barça; Dimitris Diamantidis, o mito alviverde do Panathinaikos; Nikola Mirotic, o segundo grande sonho de qualquer torcedor do Bulls que se preze (o primeiro, claro, sendo um Derrick Rose 100%); sem contar os diversos americanos ignorados pelos Drafts da vida, mas que construíram e lapidaram toda uma carreira no velho mundo (Keith Langford, Daniel Hackett, Joey Dorsey, Ricky Hickman, Tremmell Darden, Aaron Jackson, Bryan Dunston etc. Etc. Etc).

Não dá para cravar que todos eles seriam bem-sucedidos num ambiente muito mais exigente do ponto de vista atlético, em que suas façanhas europeias talvez sejam ignoradas, tendo eles que batalhar novamente a partir do zero por respeito e o decorrente tempo de quadra. Dependeria muito da franquia, da diretoria e, claro, do técnico – sem contar a adaptação muitas vezes complicada, como Tiago Splitter e Mirza Teletovic podem testemunhar.

Há que prefira, então, evitar o risco, ficando numa zona de conforto, já bem remunerado. Mas também há aqueles que são simplesmente subestimados, mesmo, não vendo a hora de receber uma boa proposta, mas sem necessariamente estarem dispostos a assinar pelo salário mínimo da NBA, como fez Pablo Prigioni em seu primeiro ano de Knicks, já na reta final da carreira.

Pensando apenas nos quatro semifinalistas, vamos listar abaixo alguns craques que merecem ser observados com atenção, mas sem a menor preocupação se dariam certo ou não na NBA. Bons o suficiente para serem apreciados pelos que já fazem agora. Essa é uma lista que já deveria ter sido escrita antes, para relembrar o belíssimo campeonato que fez Andrés Nocioni, a versatilidade da dupla Emir Preldzic e Nemanja Bjelica, do Fenerbahce, o próprio Dunston, vigoroso pivô do Olympiakos, eleito o melhor defensor da temporada, o jovem italiano Alessandro Gentile, revelação do Olimpia Milano e candidato ao Draft deste ano, e muito mais.

Antes de chegar aos caras, um lembrete para contextualizar: para os que estão (bem) mais acostumados com a NBA, lembrem que o basquete Fiba é jogado em 40 minutos, e não 48. Logo, o tempo de quadra de uma partida da liga norte-americana é 20% maior, de modo que as estatísticas em geral são mais infladas por lá, fazendo alguns dos números abaixo parecerem tímidos. Além disso, a abordagem ofensiva das equipes de ponta da Europa tende a ser diferente, com mais jogadores assumindo responsabilidades, dividindo a bola, mesmo as que têm grandes cestinhas, que poderiam muito bem carregar um time nas costas.

E, ok, aqui entra o momento da propaganda: o evento será transmitido com exclusividade pelo Sports+, canal 28/128 da SKY, com este blogueiro lelé na equipe de equipe, ao lado do ultrafanático e informado Ricardo Bulgarelli e os narradores Maurício Bonato, Rafael Spinelli e Marcelo do Ó, que, cada um ao seu modo, ajudam a dar emoção ao jogo.

Vamos lá, enfim, a alguns destaques do F4, sem necessariamente ser os melhores do campeonato, mas apenas uma lista que dá na telha. Free style, mano, com pílulas publicadas nos próximos dias:

Sérgio Rodríguez, armador do Real Madrid.
Médias de 13,5 ppj, 5 apg, 1,2 bola recuperada, 50,7% de 2 pts, 48,8% de 3 pts, em 22 minutos

Já não vem de agora, mas o barbudo está jogando tão bem que não há como não escrever mais e mais sobre seu basquete. Uma vez conhecido como um clone espanhol de Jason “White Chocolate” Williams, hoje bem mais parecido com um integrante perdido do Los Hermanos, Rodríguez atingiu o ponto perfeito de seu potencial: os lances seguem vistosos, com uma eficiência avassaladora.

Pegue, por exemplo, o ranking dos dez atletas mais produtivos da temporada. Entre gigantes e gigantes – propensos a pegar mais rebotes, a tentar arremessos de maior probabilidade de acerto e, portanto, em situação vantajosa para qualquer calculadora –, o espanhol é o único armador a constar, e numa mais que honrosa segunda colocação.O único abaixo dos 2,00m de altura. Foi premiado, então, nesta quinta-feira, como o MVP da temporada. Justíssimo.

E neste caso nem é preciso recorrer a números. Quando sai do banco, Rodríguez entra no jogo para dar ainda mais velocidade e intensidade ao supertime do Real, se é que isso é possível, fazendo dupla, ou não, com seu xará Llull. Na defesa, ele põe muita pressão nas linhas de passe. No ataque, é sensacional no contragolpe, mas também traz muita lucidez em situações de meia quadra, ficando ainda mais perigoso ao elevar seu aproveitamento de 29,5% para sensacional 48,8% na linha de três pontos.

Aliás, vale sempre a ressalva, porque ainda é muito comum que jogadores e torcedores reclamem, abram o berreiro sobre o status de ser, ou não, titular. Rodríguez, o melhor da temporada, só é ‘reserva’ por questão de equilíbrio nas rotações do Real Madrid, do mesmo jeito que Manu toca a vida na NBA.

Por falar em NBA, o espanhol obviamente está cheio de propostas/sondagens. Mas não se cansa de dizer que está feliz da vida no Real, aonde encontrou estabilidade, conseguindo botar a cabeça em ordem, abrindo caminho para fazer seu talento prosperar. Coisa que não foi possível sob a direção de Nate McMillan em Portland e algo que quase aconteceu com Mike D’Antoni em Nova York.

Ah, em caso de alguma dúvida: não, sua barba não o incomoda em quadra, e, não, ele não tem planos de tirá-la tão cedo.