Vinte Um

Quando ninguém entende os placares de Spurs x Thunder

Giancarlo Giampietro

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Durante a temporada regular, o San Antonio Spurs teve o sexto melhor ataque da NBA, seguido bem de perto pelo Oklahoma City Thunder, o sétimo. Era praticamente um empate técnico. Se você quiser filtrar as estatísticas de defesas mais eficientes, verá que o time texano foi o quarto melhor do ano. Em quinto? seu oponente da final do Oeste novamente. Em saldo de sexta, ainda nesta ordem, temos +7,8 pontos x +6,4.

Em termos de aproveitamento dos arremessos de quadra, pode dar 48,6% para o Spurs, em segundo, e 47,1% para o Thunder, em sexto. Na hora de proteger sua cesta, o Thunder limitou seus adversários a míseros 43,6% de acerto, enquanto o Spurs empurrou seus oponentes para um rendimento de apenas 44,4%. Em lances livres, o time da Divisão Noroeste aparece em segundo, com 80,6%, enquanto a equipe da Divisão Sudoeste está em quarto, com 78,5%.

Se for para matar os chutes de três pontos, a franquia de San Antonio foi bem superior, com 39,7% (líder!), contra 36,1% dos rapazes de Oklahoma (14º). Do outro lado da quadra, o time de Gregg Popovich permitiu 35,3% de longa distância aos adversários, enquanto a rapaziada de Scott Brooks, 35,8%.

No ranking de assistências, o Spurs também foi quem mais deu passes para cesta por jogo, com 25,2. O Thunder aparece em 13º, mas com 21,9. E quem força mais turnovers? A galera de Thabo Sefolosha fica em 10º, com 14,5, enquanto os amigos de Kawhi Leonard estão em 25º, mas com 13,3.

Poderíamos ficar listando números e mais números aqui. Mas já deu para sentir mais ou menos o ponto, não? Durante 82 jogos, Spurs e Thunder estiveram na elite da liga. Como candidatos ao título, independentemente de um desfalque aqui (alô, Wess) e outro lá (oui, Parker). Seus números, em termos de colocação geral na concorrência com os outros times, podem destoar um pouco, mas, em geral, o que vimos acima foi muito equilíbrio, com os veteranos do Texas ligeiramente acima.

Então, tudo isso para repetir a pergunta que muitos não conseguem explicar: por que raios ainda não assistimos a uma partida equilibradinha que seja nesta série melhor-de-sete até agora?

Cinco partidas já foram disputadas, e a menor diferença produzida foram os nove pontos a favor de OKC no Jogo 4 – e esse foi um placar ilusório, uma vez que a equipe da casa liderava por 20 pontos quando restavam apenas 3min17s no cronômetro. É a primeira vez que isso acontece nas finais de uma conferência desde os duelos em que Michael Jordan maltratava o coração de Cleveland em 1992. Ou apenas o segundo desde 1988, quando Lakers e Mavericks venceram sempre por mais de 12 pontos.

Steve Kerr já havia falado no ar durante a transmissão que não conseguia entender. Ele, o homem de cinco títulos. Tim Duncan, de 17 temporadas e mais de 200 partidas nos playoffs em seu currículo, soltou esta: ''É a série mais maluca em que eu já estive envolvido''.

Um corajoso sujeito foi perguntar para Gregg Popovich na coletiva em San Antonio a respeito. Vejam a transcrição do ocorrido (obs – nenhum boletim de ocorrência foi emitido):

Repórter na coletiva: Cinco jogos, cinco lavadas. Para nós que não entendemos tanto do jogo, como você explica isso?
Gregg Popovich
: Você está falando sério? Você realmente acha que eu posso explicar isso?

Nos termos mais simples (risos). Sei que você pode. A questão é: você vai?
Meu Deus do céu. E eles pagam você, não?

Muito pouco.
Então é por isso a pergunta. Você não vale muito.

Ninguém consegue explicar, aparentemente. Obviamente que o treinador poderia dar uma palavrinha ou outra a respeito. Mas em situações como essa ele prefere apelar ao sarcasmo, seja por impaciência, ou para dar um charme. Deve ser as duas coisas em conjunto, mesmo.

Fica essa coisa no ar.

Aqui, penso numa teoria abelhuda. Não espere, sinceramente, nenhuma tese de mestrado, nada muito científico. É só um palpite.

Mas acho que tem a ver com o contraste de estilos entre os times.

O sistema ofensivo de qualquer equipe é fazer cesta. Dãr. Mas, entre esses finalistas do Oeste, os meios alternam bastante, não?

O Spurs com sua movimentação constante, com apenas um jogador geralmente estacionado na zona morta do outro lado da bola, para alargar a defesa. E olhe lá, dependende das mudanças de direção nas infiltrações de Manu ou Parker. É corta-luz num determinado ângulo, depois em outro, seguido por outro. O passe para o lado, para trás, para a frente, sempre em busca de alguém boa condição para pontuar. A tendência é os elegermos como os guardiões de tudo o que jogo tem de puro e bom.

(Vale o parêntese aqui para uma aspa bem legal de Reggie Jackson, que vai se revelando como uma fonte obrigatória para repercussão: ''É por isso que eles são conhecidos (os passes). Não acho que importe quem jogue. Eles poderiam usar cinco pivôs, e ainda encontrariam um jeito de mexer a bola. É o que eles fazem, é o sistema deles, e eles são bons nisso''.)

Já o Thunder pode emendar cinco ataques em que apenas um passe ou dois passes foram trocados, se tanto, e ainda assim ser ameaçador. Graças aos talentos exclusivos de Durant e Wess, que têm recursos atléticos e técnicos para jogar no mano-a-mano até amanhã de manhã, se Brooks deixar (ou quiser). Um pick and pop entre eles aqui, outra combinação de dupla com Ibaka em pitadinhas, e podem ficar muito bem nisso. Não que sejam fominhas. Os caras também fazem a assistência extra. São camaradas. Mas, pela natureza de seus supercraques, a ofensiva tende a ficar bem acomodada com facilidade. Irrita um pouco, mas dá certo na maioria das vezes.

Na defesa, Oklahoma tende a ser mais disruptivo, com atletas muito mais explosivos e de envergadura assustadora, enquanto San Antonio não é muito afeito a botes e riscos, preferindo guardar posição, com um ou outro tendo licença para atacar (Kawhi e Manu, por exemplo, e Mills por teimosia própria).

Uma equipe é harmonia, a outra, caos.

Quando cada um encaixa seu jogo perfeitamente, com confiança, o oposto acaba sendo engolido?

Pode ser? Ou é muito simples, idiota?

Provavelmente.

O difícil realmente é entender como é possível que, em cinco jogos de cinco, de rivais que já se conhecem perfeitamente, cada estilo tenha conseguido se impor de maneira tão clara em coisa de 30 minutos, para que a lavada fosse considerada irreversível..

No caso dos dois primeiros jogos, obviamente que ausência de Serge Ibaka também foi decisiva. O homem pode influenciar, e muito, os rumos de qualquer jogo, como vimos bem em seu retorno. Ainda assim, neste Jogo 5, o time texano conseguiu repetir os números auspiciosos dos dois primeiros confrontos. Por outro lado, não é possível também que não tenha passado pela cabeça de Scott Brooks que Popovich pudesse acionar Matt Bonner nesta quinta-feira e que abrisse mão de atuar com seus dois pivôs tradicionais ao mesmo tempo. Digo: os ajustes são sempre necessários na caminhada das equipes em um playoff. É o que acontece sempre.

Da mesma forma como não se pode relevar o fator emocional, com duas dúzias de atletas estressados, beirando a estafa, tentando resolver em quadra essa pendenga. E aí temos as duas melhores campanhas como visitante no campeonato – 30 vitórias, 11 derrotas para o Spurs longe de seus domínios, algo absurdo, contra 25 e 16 do Thunder. No entanto, sabemos também que a pressão não é lá uma exclusividade do ano de 2014. ''Obviamente parece que o mando de quadra dá uma bela motivação para as equipes. Ambas estão confortáveis em casa. Então é por isso que optamos para não ir para OKC'', brincou Popovich.

Vamos ver o que sai daí, tentando sempre entender o que se passa para justificar tanto extremismo. Fato é que o Thunder agora está diante daquela situação de tudo ou nada, mas de volta ao conforto de seus aposentos neste sábado, Jogo 6. O Spurs está a uma vitória da final. Numa hora dessas, qualquer técnico aceitaria de bom grado uma vitória mesmo com meio ponto de diferença.