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Arquivo : Kobe Bryant

Deu Lakers (e Huertas) no jogo de temporada regular mais improvável da NBA
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Giancarlo Giampietro

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Kobe Bryant chegou ao vestiário e logo soltou: “Estou tão sem palavras como vocês, caras”.

Foi uma rara ocasião em que deu branco na cuca do Sr. Bryant, especialmente em sua última temporada de NBA, em que saiu contando causos pela América profunda. Dessa vez o astro do Los Angeles Lakers não conseguia encontrar muitas explicações para o que havia acabado de acontecer no Staples Center: seu time, o lanterninha da Conferência Oeste, derrotou o poderoso líder Golden State Warriors por 112 a  95 – apenas a sexta derrota da melhor equipe da temporada.

Mas não só isso: em termos de discrepância entre duas campanhas, essa foi a maior zebra da história da liga. Ou, se quiser uma definição mais politicamente correta e talvez mais precisa, vamos de “o resultado mais improvável” da história da liga, ao se levar em conta que o Warriors tinha um aproveitamento de 91,6% antes de a rodada começar, enquanto o do Lakers era de 19,0%, com um mínimo de 25 partidas disputadas. Curiosamente, nas bolsas de apostas em Vegas, esse triunfo estava pagando 19/1.

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De acordo com os cálculos da central de apostas Westgate Las Vegas Superbook, se, por alguma razão de bebedeira ou piada, você apostou US$ 10,00 nos angelinos neste domingo, foi premiado com um faturamento de U$ 190,00. Para o Warriors, antes de a bola subir, você tinha de apostar U$ 900.00 para ganhar dezinho.

Em outro fato raro da temporada do Lakers, Jack Nicholson estava no Staples Center e adorou tudo aquilo. Quando o Lakers vencia por 18 pontos a 5min53s do fim, o diretor de transmissão local colocou a imagem o astro hollywoodiano para o telão jumbo do ginásio. Aplaudindo, ele soltou um grito de apoio. Era tempo mais que suficiente para um time com Steph Curry e Klay Thompson buscar a virada. Mas não aconteceu, para confusão geral.

Jack e o filho caçula Ray, seu sósia, se divertindo em LA

Jack e o filho caçula Ray, seu sósia, se divertindo em LA

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Um dos personagens instrumentais na vitória do Lakers? Marcelinho Huertas.

Com o afastamento de Lou Williams por uma lesão muscular e os minutos limitados para Kobe Bryant, o brasileiro voltou a aparecer com regularidade na rotação de Byron Scott. Foi escalado nas últimas cinco rodadas, depois de ter participado de apenas um em nove jogos entre os dias 2 e 24 de fevereiro.

Pois o veterano responde com sua melhor sequência na temporada. Nos quatro últimos jogos, ele acumulou 25 assistências contra apenas cinco turnovers… Em média de 5/1, excelente, em 104 minutos de ação. Contra o Warriors,  foram nove passes para cesta e apenas um desperdício de posse de bola, em 27 minutos. Para completar, anotou dez pontos, igualando seu recorde na temporada, estabelecido justamente na partida anterior, de sexta-feira, contra o Atlanta. Como prêmio, foi apontado por Scott como o “MVP do jogo” e também ganhou elogios de Magic Johnson, para quem, ao lado de Brandon Bass e Nick Young, teve a melhor atuação da segunda unidade nesta campanha.

Não se enganem: a opinião que mais vale aqui é a de… Scott. Magic é uma lenda viva, mas não acompanha tão bem assim o time para que seus palpites sejam levados a sério. Claro que, do ponto de vista da autoestima de um jogador e do torcedor, pesa demais. Do ponto de vista administrativo e de resultados na prática, porém, técnicos e diretores do Lakers já estão habituados a lidar com as cornetadas ou aplausos virtuais de um dos maiores jogadores da história – e proprietário  minoritário da franquia.

Já Scott é quem vai realmente ditar como será o final de campeonato de Huertas, com Rubén Magnano na torcida. Depois de falar mil maravilhas sobre o brasileiro na pré-temporada, o técnico não teve muita paciência com as dificuldades defensivas apresentadas pelo jogador em seu início de adaptação a uma liga de nível atlético infinitamente superior ao que se pratica na Europa. Para piorar, vieram os vines, tweets e highlights (toco de não sei quem, crossover de fulano…), e a tiração de sarro desmedida para um esporte em que estes são lances corriqueiros.

Ok, é claro que você tem de avaliar um jogador como um todo, e a defesa representa 50% do tempo de um jogo, ou quase isso. Mas, convenhamos, quem é o grande marcado perimetral no elenco atual do Lakers, que tem a pior defesa da temporada, levando 109,5 pontos a cada 100 posses de bola e a quarta mais vazada no total, com 108,0 pontos por jogo? Ron Artest? Talvez, mesmo que ele não consiga mais tirar o pé do chão. Anthony Brown? Veio de Stanford, mas ainda está aprendendo. Só não dá para dizer Lou Williams.

É difícil de entender exatamente as motivações por trás da contratação de “Sweet Lou” por Mitch Kupchak/Jim Buss, nem mesmo no hipotético (e absurdo) cenário que a dupla imaginava: o de que a equipe teria alguma chance de brigar por vaga nos playoffs neste ano. O que o tampinha faz: cava muitas faltas, como ninguém na liga; cria situações no mano a mano para atacar a cesta ou se livrar para um rápido arremesso. Não muito mais que isso. Definitivamente não é um cara que, na hora de tentar brecar alguém, vai deixar sua marca.

huertas-floater-lakersSe for para falar em pontuação, em cestinha fogoso, Nick Young já havia sido contratado no verão anterior justamente para isso. Em sua promissora campanha de novato, Jordan Clarkson seguiu pela mesma linha. D’Angelo Russel também é muito mais definidor do que criador hoje. Para não citar o próprio Kobe Bryant, que não tem mais o pique de antes, mas, vimos bem no início, ainda se sentiu confortável em chutar 20 vezes ou mais em uma partida. Por outro lado, Huertas também sabia que o elenco do Lakers era este. O armador, lembremos, acreditava que estava indo para o Dallas Mavericks, até o negócio cair. Sobrou, no final, o time californiano, com toda essa bagunça.

Em 58 jogos, Williams recebeu 1.696 minutos e tentou 610 arremessos, com uma taxa de uso de posse de bola de 22,2%. Todos números inferiores aos de Russell e Clarkson, também em médias, mas não muito. Será que os mais jovens não se beneficiariam de um volume de jogo ainda maior?

Aí vem a questão da “educação”: que Scott estava tentando passar especialmente a Russell a noção de que ele precisaria brigar para se impor no time, que as coisas não viriam de mão beijada na liga para alguém ainda muito imaturo – foi um termo que o treinador usou diversas vezes ao avaliar o garoto, ainda mais em comparação com Chris Paul e Kyrie Irving, ambos seus pupilos em suas temporadas de calouro.

É uma proposta que tem sua lógica, ainda mais agora que o número dois do Draft está desabrochando, para silenciar aqueles (extremamente) apressados que já o sentenciavam como um fiasco, numa comparação desesperada com Karl-Anthony Towns e Kristaps Porzingis, escolhas altas que estavam produzindo muito e brilhando, enquanto a aposta do Lakers penava. Nos últimos cinco jogos, acumula 22,6 pontos, 4,4 assistências, 3,0 rebotes, 1,4 roubo, 2,4 turnovers e 47,2% nos chutes de fora nos últimos cinco jogos, em 32,6 minutos. Mas você pode contra-argumentar facilmente também dizendo que talvez Russell pudesse estar ainda mais confiante e desenvolto no quarto final de temporada se não tivesse que se desvencilhar de tantas amarras nos primeiros meses, amarras que também envolvem o show de despedida de Kobe Bryant.

Além do mais, mesmo que a tese de Scott seja correta, é aí que a gente se pergunta se Huertas não seria melhor solução neste aprendizado de Russell. Ele pode não ter o currículo de Williams na NBA. Mas, como professor e exemplo, não poderiam ser mais diferentes, e o brasileiro colaboraria exatamente com aquilo que o jovem de 20 anos (recém-completos) mais precisa de momento: o equilíbrio entre a busca da cesta com seu belíssimo e suave arremesso, sem desperdiçar sua visão de quadra. Russell já é capaz de encontrar buracos na defesa e deixar um companheiro no jeito para pontuar. Mas pode se enamorar com a bola e segurá-la por muito tempo até partir para a definição no mano a mano – vício igualmente presente no jogo de Clarkson. Botem Lou e Kobe nessa conta, e você tem o time que menos dá assistências na temporada, não importando o critério

Por mais que o Lakers precise perder, perder e perder, para aumentar sua probabilidade no próximo Draft (lembrando sempre que, se a escolha sair do top 3, será encaminhada para Philadelphia), Scott e a diretoria insistem publicamente que o Lakers entrou na temporada querendo vencer. Vai saber. Para um time que, no domingo, tinha aproveitamento inferior a 20%, seu técnico então talvez tenha falhado em buscar outras alternativas e liberar um jogo mais solidário e criativo um pouco mais cedo no campeonato.

Huertas, de todo modo, fez nos últimos dias por merecer mais chances nas próximas partidas, com ou sem Williams. Para quem, segundo Magnano disse ao repórter Marcello Pires, do GloboEsporte.com, “tinha muita vontade de ser trocado”, é um alívio.

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Nessa busca pelo Draft, o Lakers, no fim, deu sorte: seu perseguidor mais próximo, o Phoenix Suns, também venceu, superando o Memphis Grizzlies pela segunda vez em cinco dias. De modo que o time californiano segue com alguma folga na condição de segunda pior equipe da temporada, acima apenas do Philadelphia 76ers, que voltou a perder desenfreadamente. Quem comemorou, então, a soma desses resultados foi, neste mundo bizarro da NBA, foi Danny Ainge, que torce pela derrocada de Brooklyn.

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Sobre o Warriors, como fica a tentativa de recorde? Uma derrota para o Los Angeles Lakers certamente não estava nos planos. Agora, com 55 vitórias e 6 derrotas, o time precisa de 18-3 até o final para superar a marca histórica do Bulls de 1996, ou de 17-4 para igualá-la.

Ainda assim, o ritmo do Warriors ainda é superior ao do Bulls de 20 anos atrás. Nas projeções do “Basketball Power Index” do ESPN.com, a projeção de campanha do Golden State caiu justamente de 73-9 (novo recorde) para 72-10 (empate) após a surra levada em L.A. O mais curioso é que, na probabilidade de título, depois de muito tempo, o San Antonio Spurs aparece pela primeira vez com um percentual superior ao dos atuais campeões: 43,9% x 39,3%.

Na NBA, como vimos, você não pode relaxar nunca, nem mesmo contra um time dirigido por Byron Scott. Pensando na reta final de campanha, além da possibilidade de entrar para a história, o mais urgente é simplesmente se manter na primeira colocação da conferência, uma vez que o Spurs não arreda o pé dessa briga e tem apenas três derrotas a menos na classificação.

De qualquer maneira, para um time que perdeu para Milwaukee, Denver, Detroit e Pistons, não adianta contar os confrontos diretos com o time de Gregg Popovich (três!). Se juntarmos as campanhas dos seis times que conseguiram derrubar o Warriors até o momento, vamos ter 160 vitórias e 216 derrotas. E eles quase perderam para o Sixers também (abaixo). O desafio maior é manter o foco e o pique para os jogos mais fáceis, além daquelas rodadas em que Steve Kerr vai poupar alguns de seus titulares.

Mas tem um fato curioso aqui. Uma coincidência daquelas, na verdade. Exatamente no 61º jogo de sua campanha em 1996, o Chicago também foi espancado, perdendo por 32 pontos para o New York Knicks de Ewing, Mason e Oakley e já de Jeff Van Gundy, que havia acabado de ser promovido após a demissão abrupta de Don Nelson. Obviamente o Knicks tinha um elenco muito mais forte que o do Lakers de hoje.  O ponto em comum das duas jornadas é que tanto o Bulls como o Warriors tiveram a noite de sábado livre nas duas maiores – e mais agitadas – cidades da liga, Nova York e Los Angeles. Engov neles.

“Nós não tivemos muita energia para começar o jogo por qualquer razão que seja”, disse Curry. “Eles estavam errando um monte de arremessos”, se alegrou Scott. Depois dessa exibição, Kerr agendou um treino para a manhã desta segunda-feira, já em Oakland, dia de enfrentar o Orlando Magic. É o primeiro deste tipo para a equipe, numa dobradinha back-to-back.

Os Splash Brothers acertaram apenas um em 18 chutes de três pontos, com um em dez para Curry. O Lakers matou 9-24 (37,5%).

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Restam agora, em tese, 18 partidas para a carreira de Kobe chegar ao fim. Mas imagino a apreennsão de torcedores que tenham ingressos garantidos para seus últimos jogos: não existe a garantia de que ele possa entrar em quadra. SEntado no banco de reserva nos minutos finais desta incrível vitória, ele tinha o ombro direito totalmente envelopado. Aos repórteres, diz que há dias em que ele mal consegue girar o corpo para mexer no rádio do carro. Trava e dói tudo. O Lakers segue faturando com a turnê de despedida de seu craque: a franquia lançou três pares de meia em sua homenagem. Contra o Warriors, usaram a do centro:

Meias em homenagem a Kobe Bryant, Lakers

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D’Angelo  Russel dá uma de Curry e nem espera a bola cair para comemorar. Abusado. O legal é que o lance foi no primeiro tempo ainda, e, não, quando a partida estava ‘definida’:

Larry Nance Jr. reforça sua candidatura ao torneio de enterradas de 2017:

E Russell perde o controle:


Quem dá menos? Luta pelo topo do Draft promete fortes emoções
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Giancarlo Giampietro

O ultraversátil Ben Simmons. Quem quer?

O ultraversátil Ben Simmons. Quem quer?

É o mundo bizarro da NBA.

Enquanto San Antonio, Cleveland e Oklahoma City fazem contas, quebrando a cabeça para ver o que fazer contra o tal de Golden State, na outra extremidade da tabela só estamos falando de sonhos e fantasias com o australiano Ben Simmons (e mais dois alas muito promissores, Brandon Ingram, de Duke, e Dragan Bender, da Croácia e do Maccabi).

Numa corrida que, no início, parecia de um cavalo só, com Philadelphia isolado e pimpão, a reta final promete fortes emoções até o dia 17 de maio, que é quando a liga vai realizar sua loteria de Draft, valendo prêmios imperdíveis! E quem vai ficar fora dessa?

Daí a estranheza pelos fatos decorrentes de uma noite basqueteira de segunda-feira (a outra, dia 8, no caso).

Daqui do sofá de casa, começou com a observação do jovem Ingram, o mais novo projeto do Coach K, em duelo bacana com Louisville, de Rick Pitino. Foi desses raros jogos da temporada universitária em que o nível técnico era alto, com pelo menos cinco atletas com aspirações plausíveis a grandes carreiras profissionais, nos Estados Unidos ou na Europa. Não demorou muito para entender por que o ala de Duke fez sua cotação crescer rapidamente sua cotação entre os scouts, melhorando a cada semana.  Ingram já tem hoje um talento natural impressionante. O chute elevado, a desenvoltura para driblar e a predisposição passar e encontrar companheiros livres em quadra… É difícil de resistir e de não babar na almofada, ainda mais quando nos damos conta de que se trata de um garoto que chegou aos 18 apenas em setembro, sendo um ano mais jovem que Simmons. Só mesmo seu corpo varetão desperta alguma preocupação, mas é só lembrar com qual forma Kevin Durant ingressou na NBA:

Vareta que só também. Tayshaun Prince é outro que nunca bombou

Vareta que só também. Tayshaun Prince é outro que nunca bombou

(A comparação entre um e outro, diga-se, pode ser feita do ponto de vista só do estilo de jogo por enquanto. Durant era muito mais produtivo em Texas em seu ano de calouro. Quer saber mais sobre Ingram? O DraftExpress, claro, tem vídeos e atualizações contantes. Ainda em inglês, você também pode conferir um scout detalhado elaborado pelo Rafael Uehara, colaborador sazonal aqui do blog.)

Mas voltemos ao a Duke x Louisville. No final, superando um cansaço evidente, o ala encontrou forças para dominar os rebotes defensivos e, em vez de acionar um ou outro armador mambembe do atual elenco dos Blue Devils, dessa vez saía ele com a bola, sem se incomodar com a pressão dos Cardinals, preparado para sofrer a falta e ir para o lance livre definir a parada. Detalhe: na temporada regular, seu aproveitamento ainda está abaixo de 70% na linha (67,9%, depois de ter convertido seis de suas oito tentativas na véspera, sem errar um chute nos minutos derradeiros). Terminou com 18 pontos, 10 rebotes, 4 assistências e 1 toco (mas alterou ou intimidou outros tantos), matando cinco de seus nove arremessos, cometendo três turnovers. Não são números de fazer o queixo despencar, mas não traduzem o modo como ele foi dominante, sem forçar nada em suas ações.

Enquanto o espigão dava mais uma vitória a Krzyzewski, a rodada da NBA começava em clima de motim. Não dava para entender nada. O Sixers chegou a abrir uma vantagem de 19 pontos para cima do Clippers. O Lakers contava com mais um repente milagroso de Kobe para incomodar o Pacers em Indiana, assumindo a liderança a 2min30s do fim. O Nets recebia o ascendente Denver Nuggets e fazia jogo duro. Da mesma forma como o Suns conseguia fazer frente ao Thunder, mostrando que a defesa de OKC ainda deixa muito a desejar em termos de consistência para um time que tenha sérias pretensões ao título.

De todo modo, junte as peças aí e se assuste: era como se, por uma noite que fosse, os lanterinhas da liga não tivessem mais nem aí para o que Ingram fazia por Duke, ou se Simmons estava beirando mais um triple-double absurdo por LSU. (Em tempo: para qualquer torcida em #NBATankMode, podem tranquilamente colocar Dragan Bender nesse bolo. Por mais que ele não esteja sendo tão aproveitado numa temporada de crise para o Maccabi, vale a pena se apegar ao prodígio croata, que também te deixa bobo em quadra. Foi assim que fiquei, pelo menos, quando pude vê-lo no ano passado em Nova York.)

Até que tudo voltou ao normal. O Clippers batalhou uma reação em Philly, forçou a prorrogação e tomou conta da situação. Paul George não quis saber de cortesias com seu ídolo de infância na Califórnia. Durant fez a diferença em Phoenix. E só o Nets saiu vencedor de quadra, com direito a uma cesta maluca de Joe Johnson no estouro do cronômetro, empolgando o chefão russo Prokhorov:

(O torcedor do Brooklyn – se é que ele existe, aliás – deve gelar com um vídeo desses: será que vem mais uma proposta de salário máximo para o veterano aí? Risos.)

Se o desafeto de Putin foi ao delírio, Danny Ainge não gostou nada, já que a escolha de Draft deste ano do Nets pertence a Boston, como vocês sabem. Nessa disputa pelos calouros mais badalados, cada vitória sua e derrota do adversário, pode fazer uma diferença danada. Para o mal, lembrem-se, já que é o mundo bizarro. Em muitos sentidos, isso é uma desgraça para a liga, com diversas equipes, nos últimos anos, fazendo de tudo para perder, ou sem se esforçar tanto para vencer. Enquanto o atual sistema do Draft for mantido, porém, é a regra do jogo, sem nenhuma infração que possa ser punida.

Tendo isso em mente, vamos examinar quais são as chances de cada um para os últimos meses da temporada e o que está em jogo para eles? Os números números foram coletados em 16 de fevereiro de 2016, tanto do Baskeball Power Index (ESPN.com). Folia é isto:

Philadelphia 76ers, o 30º colocado no geral
Previsão de campanha: 15-67
Chances para entrar no top 3: 72,1%
Net rating na temporada: -10,1 pontos por 100 posses de bola
Net rating desde 26/12: -5,3 pontos
Campanha desde 26/12: 7 V, 15 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 49,2%
Restante da tabela: 15 em casa, 14 fora

Ish Smith, o baixinho, a lenda

Ish Smith, o baixinho, a lenda

Ainda estamos falando, segundo as estimativas matemáticas, dos grandes favoritos ao topo do Draft. Mas isso só se deve ao caótico Sacramento Kings, que, no momento, contribui ao #TankJob de Sam Hinkie com mais 9,0% de chances de colocar uma escolha no Top 3. Esse já é o primeiro reflexo da desastrosa troca que Vlade Divac fez com Hinkie durante as férias, dando ao Sixers o direito de inverter posições no Draft deste ano, entre outros mimos – tudo para se livrar dos salários de Nik Stauskas, Carl Landry e Jason Thompson. O Sacramento, que não sabe o que fazer com Boogie Cousins, George Karl, Rudy Gay e a vida em geral, vai ter de jogar muito para alcançar e ultrapassar Utah e Portland e tentar escapar da loteria. Não parece provável.

Por conta própria, com a pior campanha da liga, o Sixers já teria 63,1% de probabilidades de ficar com uma das três primeiras escolhas. Acontece que, desde o dia 26 de dezembro, o time subiu de patamar, graças ao improvável presente natalino de Jerry Colangelo em forma de Ishmael Smith. De equipe que flertava com o status de pior da história, passaram apenas à condição de time ruinzinho, como podemos notar pela evolução de seu saldo de ponto desde a contratação. Antes de Ish, Philly perdia por -12,9 pontos a cada 100 posses de bola. Desde então, essa diferença foi reduzida, para -5,3 pontos por 100 posses de bola.  Em outras palavras, ficaram mais competitivos e venceram 33% de seus jogos, contra os atrozes 6,2% de antes. Se mantiverem esse ritmo, poderão subir alguns degraus na classificação geral da liga, diminuindo suas probabilidades.

Por um lado, era de se esperar que Philadelphia mostrasse algum tipo de evolução durante o campeonato, pela juventude de seu elenco – a não ser que Jahlil Okafor terminasse encarcerado, claro. Então o mérito não é todo de Colangelo. Mas é inegável que a troca por Smith tem a sua impressão digital, pelo simples fato de o Sixers, pela primeira vez desde 2013, ter entrado num negócio em que pagou escolhas de Draft, em vez de cobrá-las. Sem contar o fato de que o próprio Hinkie deixou Smith ir embora em julho, sem nem mandar um abraço e sem ouvir o apelo interno de Nerlens Noel. Então talvez a projeção acima seja pessimista, ainda levando em conta, com muito peso, os resultados do plantel dos dois primeiros meses de temporada, que já não é mais o mesmo. A julgar pelas declarações de Colangelo, novos reforços podem chegar esta semana.

De todo modo, pensando no recrutamento de calouros, nada é muito certo. A matemática nem sempre joga a favor, algo que a franquia aprendeu de forma dolorida nos últimos anos. O clube nunca passou do terceiro lugar da lista, perdendo, em tese, Andrew Wiggins e D’Angelo Russell, para ficar com Joel Embiid e Jahlil Okafor. Está muito cedo para julgar quem é melhor que quem: o fato aqui é que, por mais desqualificados que tenham sido os elencos dos últimos anos, Hinkie não foi agraciado com a primeira escolha. Agora que estão vencendo mais jogos, o carma será zerado?

Los Angeles Lakers, o 29º
Previsão de campanha: 18-64
Chances para entrar no top 3: 55,3%
Net rating na temporada: -10,8 pontos
Net rating desde 26/12: -8,2 pontos
Campanha desde 26/12: 6 V, 19 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 51,2%
Restante da tabela: 17 em casa, 10 fora

O Lakers vai priorizando Kobe e deixando D'Angelo no banco. Quem sai perdendo?

O Lakers vai priorizando Kobe e deixando D’Angelo no banco. Quem sai perdendo?

Mais do que o desenvolvimento de Russell, Randle, Clarkson e Nance Jr., mais do que a aposentadoria de Kobe Bryant, neste final de temporada, o principal tópico de interesse para o torcedor e a diretoria do Lakers deveria ser a manutenção de sua escolha de Draft, a qualquer custo.

Sobre o progresso dos calouros: o simples fato de estarem entrando em quadra com regularidade tende a fazer deles melhores jogadores, não importando o que Byron Scott faça contra ou a favor. A diretoria talvez tente trocar Brandon Bass, Roy Hibbert, Lou Williams e Swaggy P nas próximas horas, mas não será tão fácil assim. Sobre Kobe? Acho que a liga inteira já deu conta, né? Agora é curtir as últimas semanas, com diversos jogos em casa, e fazer mais uma bela festa na despedida do Staples Center em 13 de abril, contra o Utah. Ainda mais com o craque, de alguma forma, elevando sua produção em fevereiro, mês no qual o time venceu dois de cinco jogos. A ironia é que, se Kobe sustentar um ritmo minimamente aceitável em quadra e se os garotos progredirem até abril, as coisas podem se complicar no front mais importante.

Vocês sabem: caso o Lakers escorregue no sorteio do Draft e saia do top 3, terá de mandá-la para Philly. Seria um desastre para um clube desesperado por mais talento em seu elenco e que não vem tendo sucesso na hora de recrutar agentes livres de primeiro escalão. Desculpe, Nick Young, há verdades que não podemos esconder. Tantos jogos em Los Angeles pode ser uma ameaça a esta ‘causa’, mas o time ainda tem de enfrentar muitos oponentes qualificados, o que talvez ajude a equilibrar a balança.

Brooklyn Nets
Boston Celtics, 28º (a)
Previsão de campanha: 22-60
Chances para entrar no top 3: 44,7%
Net rating na temporada: -7,4 pontos
Net rating desde 26/12: -8,7 pontos
Campanha desde 26/12: 6 V, 19 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 47%
Restante da tabela: 10 em casa, 18 fora

Boston Nets, Brooklyn Celtics. Uma torcida, uma só voz

Boston Nets, Brooklyn Celtics. Uma torcida, uma só voz

É, pois é. A troca por Kevin Garnett e Paul Pierce, na época, parecia uma boa ideia para o Brooklyn Nets, já que, na cabeça do russo Mikhail Prokhorov, era para seu time brigar o quanto antes para os playoffs. Se a impaciência era a palavra de ordem, fazia sentido adicionar os dois veteranos a uma base já rodada. O que Billy King poderia ter feito, porém, era lutar por uma proteção ao par de escolhas de Draft que encaminhou para Boston. Danny Ainge o roubou descaradamente.

O chefão do Celtics agora se vê nessa situação raríssima e extremamente favorável: não só a sua equipe briga pelo título da Conferência Leste (sendo azarão, ainda), como ainda pode faturar um calouro talentosíssimo em junho. Isso, claro, se um trunfo desse valor não for envolvido em uma troca que dê a Brad Stevens uma superestrela. Topa, ou não topa trocar? Creio que só se for por um Al Horford, ou mais. Tem de ser um cara que vá fazer a diferença sem dúvida nenhuma, e Horford seria uma evolução imensurável sobre Jared Sullinger ou Amir Johnson. Ainda assim, prestes a virar agente livre, o dominicano só valeria o preço se desse a entender, sem que a liga saiba, que topa renovar com a franquia.

O outro lado da questão a se ponderar é que você está falando, hoje, de 44% de chances de se inserir entre os três primeiros e de 13,8% para a escolha número um. Quer dizer, não estamos falando de certezas, de 100%, e mesmo esses números devem cair um pouco no momento que o Phoenix fique para trás, certo?  A julgar pela derrocada do Suns, sim (veja abaixo). Maaaas… entre tantos números acima, Ainge certamente está de olho na disparidade entre jogos dentro e fora de casa na tabela do Brooklyn. Ainda que, em termos de força dos oponentes, seja o calendário mais fraco entre os cinco citados, o Nets vai jogar várias partidas como visitante. E, até o momento, seu desempenho longe de Nova York é péssimo: foram 23 jogos fora e apenas quatro vitórias, para um aproveitamento de apenas 17,3%. (Mais: ainda existe uma pequena possibilidade de que Thaddeus Young e/ou Brook Lopez sejam trocados.) Epa.

Phoenix Suns, 28º (b)
Previsão de campanha: 24-58
Chances para entrar no top 3: 39,2%
Net rating na temporada: -7,3 pontos
Net rating desde 26/12: -14,3 pontos
Campanha desde 26/12: 2 V, 21 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 50%
Restante da tabela: 13 em casa, 15 fora

Jordan McRae não é a esperança de reviravolta do Suns

Jordan McRae não é a esperança de reviravolta do Suns

Ish Smith reestreou pelo Sixers justamente contra o Phoenix Suns, o que não poderia ser mais simbólico. Desde então, a pior campanha da liga pertence ao clube do Arizona, mais um que o deixou escapar, mesmo que não precisasse pagar tanto. (Nessa, porém, o gerente geral Ryan McDonough passa numa boa: ele fez uma proposta para o atleta em julho, mas foi recusado – o armador acreditava piamente que renovaria com Philadelphia).

Então, da mesma forma que o “BPI” da ESPN ainda não dá muito peso aos esforços recentes dos 76ers, o sistema também talvez precise de mais algumas semanas para se dar conta de que o Suns só tem uma direção em sua trajetória neste campeonato: para baixo. A máquina não sabe que as aparições de Jordan McRae (o cestinha da D-League) e de outros caras da liga menor serão cada vez mais frequentes.

É difícil de imaginar de onde sairão mais dez vitórias para a atual equipe, de acordo com a projeção acima, que o deixaria com a quarta maior probabilidade, abaixo do Nets. Eric Bledsoe está fora, Brandon Knight pode se juntar a ele logo mais e nem mesmo Ronnie Price (aquele que assumiu a vaga rejeitada por Smith) tem data para voltar, deixando o interino Earl Watson sem opções naturais para a armação – o talentoso Archie Goodwin vai ser, no máximo, um Jamal Crawford, driblando bem a bola, mas sem visão de quadra. Além disso, existe a perspectiva de trocas para PJ Tucker e, oxalá, Markieff Morris.

Quando assumiu a gestão do clube em 2013, todos esperavam que McDonough guiaria um processo de reformulação imediata. Acontece que seus primeiros movimentos como gerente geral foram tão bons que o Suns se meteu na briga por uma vaga nos playoffs. Leia mais aqui. Agora, com um plantel despedaçado e desacreditado em Phoenix, chegou a hora de buscar um talento de ponta do jeito mais fácil – mas também mais doloroso. Eles vão com tudo (ou muito pouco, com o jovem Devin Booker sendo uma grata revelação): um saldo de 14,3 pontos por 100 posses de bola é muito pior que o do Sixers até dezembro. Uma calamidade.

Minnesota Timberwolves, 26º
Previsão de campanha: 27-55
Chances para entrar no top 3: 30,9%
Net rating na temporada: -3,1 pontos
Net rating desde 26/12: -4,5 pontos
Campanha desde 26/12: 6 V, 19 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 54,1%
Restante da tabela: 13 em casa, 15 fora

Imaginem se Towns e Wiggins ganharem mais uma escolha nº 1?

Imaginem se Towns e Wiggins ganharem mais uma escolha nº 1?

Acho que o Minnesota só entra nessa lista por precaução. No papel, tem um elenco muito mais talentoso que o dos quatro acima, e Karl-Anthony Towns exercendo uma dominância precoce no garrafão, com 22,2 pontos, 12,4 rebotes, 2,0 tocos e aproveitamento de 58,9% nos arremessos em cinco partidas em fevereiro.. Dependendo do que o New Orleans Pelicans e Milwaukee Bucks decidirem fazer nesta semana, em relação a trocas, pode ser que “briguem” pela condição de quinta pior campanha da temporada.

Por enquanto, vamos respeitar os cálculos das máquinas da ESPN e manter o Wolves. Dos dados pinçados, só chama a atenção o fato de que Minnesota tem a tabela mais complicada daqui para a frente, em termos de qualidade da oposição. Agora, imaginem se eles dão sorte e vão para o topo? Teriam, de modo incrível, as três primeiras escolhas dos Drafts de 2014 a 2016. Sam Hinkie não suportaria isso.

Curiosidade: os confrontos diretos
Sixers: dois contra o Nets
Lakers: um contra o Nets, dois contra o Suns
Nets: um jogo contra o Wolves, um contra o Lakers e dois contra o Sixers
Suns: dois contra o Lakers
Wolves: um jogo contra o Nets


Quais perguntas podem separar os clubes da NBA de suas metas? Parte I
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Giancarlo Giampietro

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É regra geral: todo gerente geral de um clube da NBA entra em uma nova temporada cheio de otimismo, com a expectativa de ver os planos das férias colocados em prática, se transformando em vitórias, ginásio cheio, vendas lá no alto e o tapinha nas costas do chefão. Quer dizer: todos, menos Sam Hinkie e o Philadelphia 76ers.

Acontece que não há trabalhos perfeitos, não existe ciência exata na hora de compor os elencos, de imaginar e sugerir uma tática e executá-la. Há casos de jogadores que não vão se entender como se imaginava. Lesões podem atrapalhar tudo logo no primeiro mês de campanha. Um técnico pode ter perdido o controle do vestiário. A concorrência talvez esteja mais forte. Sorte e azar estão sempre rondando por aí. Os dirigentes sabem disso – até a hora de confrontar os problemas mais graves, porém, não custa sonhar que tudo esteja bem encaminhado.

Entre o sucesso e o fracasso numa temporada, muitas questões precisam ser respondidas, como numa lista de afazeres. Não dá para colocar todas elas aqui, até porque há tópicos que vão aparecer no meio do caminho e que não estavam previstas, interna ou externamente. Com um belo atraso, o blog vai retomar sua série de, hã, ‘prévias’ (na falta de um termo mais atualizado) sobre cada franquia e tentar se aprofundar nessa lista. Para compensar o tempo perdido, porém, seguem as indagações que julgo mais importantes para cada time, ponderando quais suas ambições mais realistas e o que pode separá-los de suas metas.

Coferência Oeste, lá vamos nós:

PACIFICO

Lance Stephenson é um dos talentos cheios de personalidade que Doc vai monitorar

Lance Stephenson é um dos talentos cheios de personalidade que Doc terá de monitorar

Clippers: no papel, o banco melhorou consideravelmente, e foi algo que faltou no ano passado. Do ponto de vista técnico, não se discute. O que pega é saber se eles poderão se transformar num conjunto que possa dar minutos significativos de descanso aos principais caras do time. Nesse sentido, a balança aqui se inverte: caberá ao técnico Doc honrar as contratações do executivo  Rivers e comprovar que a segunda unidade melhorou, sim, o suficiente para enfim ajudar a dupla CP3-Griffin a conseguir os resultados que ainda não chegaram (leia-se: vencer mais que duas rodadas de playoff). Doc Rivers é reconhecido como um mago de vestiário, e suas habilidades devem ser testadas diante de tantas *personalidades* reunidas.

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Kings: em meio ao caos geral da franquia, a cordialidade e malandragem de Vlade Divac ou o estilo oposto e confrontativo de George Karl pode amainar e dar um jeito nas coisas? Talento aqui não se discute, e há espaço para crescer no Oeste, independentemente de o Rajon Rondo de hoje ser a figura deprimente de Dallas ou a maravilha de Boston.

O que importa, mesmo, para o Lakers, a partir de agora, é o desenvolvimento de D'Angelo Russell e não os números de Kobe

O que importa para o Lakers, a partir de agora, é o desenvolvimento de D’Angelo Russell e não os números de Kobe

Lakers: pode Kobe ser uma figura grandiosa, quando não são suas glórias, números e façanhas o que mais importa? Isto é, pode o Laker mais adorado de todos os tempos, aos 37 anos, 20 de NBA, e após uma série de graves lesões, entender suas limitações, ser paciente e dar suporte no desenvolvimento das jovens apostas do elenco? Para o clube, pensando em resultados, a era Bryant já é passado. Se o astro, porém, relutar, já está comprovado que Byron Scott não vai comprar briga e fazer o que precisa ser feito para frear uma poderosa locomotiva que avança rapidamente em direção o precipício. (Há quem diga, na verdade, que ela já saltou sobre o trilho rompido e, neste exato momento, está  poucos segundos de se espatifar de vez lá em baixo. Favor imaginar aqui aquela cena de blockbuster hollywoodiano, com a câmera em slow, e o trem em chamas sendo engolido pelo breu de um penhasco.)

Markieff Morris ainda não sabe o que é jogar um playoff

Markieff Morris ainda não sabe o que é jogar um playoff em meio ao hiato do Suns

Suns: dois times dos playoffs do ano passado estão estão bem mais fracos e, dependendo da enfermaria de New Orleans, a lista sobe para três. Se não for este o momento para Jeff Hornacek enfim chegar com sua equipe aos mata-matas, quando vai ser? Especialmente com Tyson Chandler ainda em forma para tentar fortalecer a defesa. É um ano de presão para o técnico e o gerente geral Ryan McDonough.

– Warriors: são o alvo, não mais a novidade. Internamente, não há dúvidas sobre a motivação em busca do bi. Mas em que ponto o time ainda pode ainda crescer para o momento em que, supostamente, terão de enfrentar um concorrente de peso e 100% saudável (em tese, Clippers e Spurs chegam fortalecidos para um eventual embate)? Com Kerr afastado, esse crescimento pode ser simplesmente natural, orgânico, fruto de uma estrutura e cultura plenamente estabelecidas? Ou eles nem precisam crescer? (Olha, na real, é difícil encontrar qualquer preocupação para além da saúde de seu adorado e aclamado técnico. Esses caras são demais, e o início de campanha de Steph Curry provoca uma comoção geral na liga. No mata-mata passado, eles já enfrentaram algumas situações críticas e souberam contorná-las. Não parece haver qualquer tipo de crise numa temporada regular que possa desestabilizá-los.)

NOROESTE

Blazers: há um núcleo jovem aqui para se trabalhar em cima, mas vai levar quanto tempo, num Oeste duríssimo, para o Portland voltar para a briga? O caso do Phoenix Suns serve como exemplo de como pode ser difícil reconstruir o clube nesta conferência, sem que se apele a extremos. Tal como no Arizona há dois anos, o Blazers tem dois jovens armadores fogosos para conduzir a reformulação e uma série de atletas promissores, mas do mesmo nível técnico em seu elenco. Escolhas terão de ser feitas e precisarão ser certeiras, caso Paul Allen não queira assistir aos playoffs de seu luxuosíssimo iate, longe do eterno Rose Garden. (Moda Center? Não.)

Raulzinho mal chegou e já está cheio de responsabilidades em Salt Lake City

Raulzinho mal chegou e já está cheio de responsabilidades em Salt Lake City

– Jazz: Quinn Snyder tem formações flexíveis para empregar, mas é o quinteto mais alto, com Favors e Gobert ao centro, que faz estragos, que é o diferencial da equipe. Mas podem Raulzinho, Burke e Burks jogar consistentemente bem para dar suporte a Hayward e municiar esses pivôs para que ataque não zere tamanho potencial defensivo?

Nuggets: Mike Malone vai colocá-los para jogar preparados e bem mais combativos do que nos anos de Brian Shaw. Mas, por mais que seus pirulões europeus sejam bastante instigantes, que Mudiay tenha seus flashes e que Gallo esteja em forma, a sensação é de que eles ainda estão num estágio abaixo de Portland no que se refere a jovem coleção de talentos e na curva de retomada. Então fica a dúvida: como lidar com essa situação incômoda de que talvez estejam no limbo sem perspectivas reais para ascensão num futuro breve? Vão precisar ser ainda mais pacientes e eficientes no Draft, ou agressivos em busca de uma troca redentora.

Pontos e rebotes não são problema para Kanter. E o resto?

Pontos e rebotes não são problema para Kanter. E o resto?

– Thunder: aqui são duas perguntas em uma, pois não tem jeito de evitá-las: a tempestade de lesões, enfim, acabou? Se a resposta for positiva, podem Kanter e Waiters se endireitar e fortalecer as pretensões de título de uma franquia que bate na trave há tempos, na hora mais providencial, antes que Durant vire efetivamente um agente livre?

Timberwolves: depois da lamentável notícia que comoveu toda a liga (R.I.P. Flip), quem vai assumir o controle do departamento de basquete? Que direção tomar com um elenco abarrotado de peças extremamente atraentes – seguir com a reconstrução passo a passo ou, dependendo do ritmo de Towns, já acelerar o processo?

SUDOESTE (A CARNIFICINA)

Matt Barnes muito provavelmente não é a solução para os problemas de ataque do Grizzlies

Matt Barnes muito provavelmente não é a solução para os problemas de ataque do Grizzlies

Grizzlies: remando contra a maré até quando com os dois pivôs batedores de bife? Ou: o quão difícil é, de verdade, encontrar na NBA de hoje um ala que possa jogar bem dos dois lados da quadra, ou que, no ataque, pelo menos saiba arremessar? A julgar pelo investimento feito em Jeff Green, parece que é complicado, mesmo. E o viajado, mas sempre útil Matt Barnes já não foi esse cara em Los Angeles…

Mavericks: quantos truques a mais poderia ter a mente brilhante de Rick Carlisle? Cabe ao técnico, ano após ano depois de 2011, dar um jeito e tirar de seu elenco um rendimento acima do previsto, relevando as seguidas tentativas frustradas de mercado de Mark Cuban.

– Pelicans: pode um só Monocelha compensar tantas lesões já de cara? Isso, claro, se ele, mesmo, ficar intacto na temporada, coisa que ainda não rolou em sua breve carreira.

– Rockets: Daryl Morey conseguiu formar um elenco com duas grandes estrelas (uma produtiva de verdade, a outra já com alguns asteriscos) e, ao redor deles, reuniu um bando de atletas um tanto subestimados, mas cuidadosamente garimpados para turbinar o sistema idealizado pelas mais complexas planilhas estatísticas. Até que chega, quase de graça, um Ty Lawson. Posto isso, supondo que uma hora as lesões vão acalmar, fica para o tampinha e o Sr. Barba um questionamento simples: e aí? Eles vão conseguir conviver, cada um fazendo sacrifício em termos de números com um único objetivo em comum?

Ty Lawson está de volta a um time de ponta, com um contrato de risco

Ty Lawson está de volta a um time de ponta, com um contrato de risco (para ele). Precisa dar certo

– Spurs: numa liga que abraçou de vez a velocidade e o espaçamento, pensando no curto prazo, vai adiantar ter tantos pivôs excelentes se a bola não chegar redonda para eles? LaMarcus é um bastião para o futuro pós-Duncan, mas, para o presente, o que vai contar, mesmo, é o estado físico e atlético de Tony Parker (e Manu Ginóbili).


Jukebox NBA 2015-2016: “My Way”, para o Lakers (ainda) de Kobe
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA se aproxima rapidamente, e o blog inicia sua série prévia sobre o que esperar das 30 franquias da liga. É provável que o pacote invada o calendário oficial de jogos, mas tudo bem, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que sempre acho divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “My Way”, com Sid Vicious

Por quê? Bom, basta você dar uma espiada na letra para sacar que tem tudo a ver com Kobe Bryant. Temos linhas como: “E agora o fim está próximo” (logo a primeira!), “Eu vivi uma vida que está completa, passando toda santa estrada”, “Arrependimentos eu tive um pouco. Mas, afinal, foram bem poucos para mencioná-los. Fiz o que tinha de fazer. Vi de tudo nessa vida, sem exceção”, com tradução mais que livre. Até porque essa versão exige compreensão livre, dado o seu intérprete totalmente pirado e o modo como decidiu sair cantando, para o qual “despojado” seria o mais alto elogio.

A adaptação caótica e  hilária de Vicious, para o torcedor do Lakers, infelizmente tem mais a ver com os últimos suspiros de Kobe e a perspectiva de seu time para a temporada do que a elegante (e também um tanto irônica) versão de Frank Sinatra, que eternizou para valer a canção. Saibam que se trata de uma letra do sabichão Paul Anka, com inspiração em uma canção francesa. O ideal seria usar a de Sinatra, claro, um verdadeiro clássico, redondinho e imponente. Mas o estado da franquia hoje não lembra em nada seus tempos áureos, com uma gestão desmiolada que tem muito mais a ver com o ex-baixista do Sex Pistols, que viria morrer de overdose um ano depois de soltar essa gravação, aos… 21.

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Como bônus, temos vários palavrões na letra alterada por Vicious, e isso é algo que Kobe tem usado com frequência em suas entrevistas recentes, se sentindo livre que só, sem obrigação ou pressão alguma, sabendo que sempre fez tudo ao seu modo, que escreveu sua própria história e que não seria no fim que ele mudaria. Esperemos que, em quadra, ele consiga escapar das lesões mais graves e que consiga produzir com um ou outro momento de brilhantismo.

Kobe e o look de veterano: vindo de lesões graves no tendão de Aquiles, na rótula e no ombro, o que esperar dele? Um jogo mais terreno, mas com menos arremessos forçados e propensão ao passe? Talvez seja o melhor cenário, contra jogadores mais altos na ala

Kobe e o look de veterano: vindo de lesões graves no tendão de Aquiles, na rótula e no ombro, o que esperar dele? Um jogo mais terreno, mas com menos arremessos forçados e propensão ao passe? Talvez seja o melhor cenário, contra jogadores mais altos na ala

A pedida: 30 vitórias seria muito? Mitch Kupchak e o chefinho Jim Buss têm usado a frase de que “montaram um time para chegar aos playoffs”, e tal. Pensando em relações públicas, não havia muito que dizer, mesmo, desagradar a uma torcida bastante exigente e talvez cansada de tanta humilhação nas últimas campanhas. Para confiar nesse discurso, haja otimismo, ainda mais no Oeste Selvagem, e mesmo que tenham um elenco mais interessante dessa vez. Lembrem que, nos últimos dois campeonatos, o time venceu 48 partidas no total, de 164 possíveis. Para entrar nos mata-matas em 2015, o New Orleans Pelicans precisou de 45 vitórias. Em 2014, o Phoenix Suns foi eliminado com as mesmas 48.

Kobe deveria estar, no mínimo, a 80% de seu auge, os garotos precisariam crescer substancialmente a cada semana, Roy Hibbert teria de provar que um só gigantão atento já pode serviria para bancar uma defesa minimamente sustentável, ao passo que  Nick Young e Lou Williams poderiam ser encaminhados ao serviço comunitário, para aprender um pouco mais sobre solidariedade. Ou que eles aprendam uma coisa ou outra com Marcelinho Huertas a respeito (aliás, sobre o brasileiro, já tem outro post enorme aqui). Isto é: muuuuuuita coisa precisaria dar certo.

Sim, Hibbert é um tremendo avanço em comparação com Jordan Hill e Robert Sacre, a despeito de sua questões motivacionais e de confiança. Imagine a dor-de-cabeça que o pivô não dava no dia a dia de Indiana, a ponto de Larry Bird ter feito tudo para se livrar dele – sem contar o impasse tático que sua presença mastodôntica representa na ligeirinha NBA de hoje. Ele protege o aro, congestiona o garrafão por conta própria, mas os clubes mais espertos vão fazer de tudo para afastá-lo do semicírculo espalhando chutadores pela quadra. Além do mais, no perímetro, o time simplesmente não conta com nenhum defensor capaz. Nenhum. Nem mesmo um superatleta como Serge Ibaka conseguiria dar cobertura a todos eles. De qualquer modo, está no último ano de contrato, com milhões de motivos para se comportar e se concentrar no jogo.

Flexionado assim, e contra Gobert, Hibbert pode até parecer baixo

Flexionado assim, e contra Gobert, Hibbert pode até parecer baixo

Não que o ataque não tenha suas questões também. O quanto Kobe vai poder e querer produzir? Scott realmente pretende usar Lou Williams e Nick Young juntos? Quantas trocas de passe teremos a cada posse de bola? Esse time precisa desesperadamente de alguém criativo, mas que não se limite a criar apenas para definição própria, e é aí que se encaixaria Huertas. Sem o brasileiro, porém, Russell vai conseguir exercer influência no jogo de pick-and-roll?

Sobre os garotos: é salutar que a diretoria abra espaço em seu plantel para jogadores mais jovens, em vez de investir nos Wesleys Johnsons da vida. A dúvida é se o clube tem infraestrutura e ambiente propícios para o desenvolvimento deles. Jordan Clarkson progrediu no ano passado, mas vinha de três campanhas como universitários. Tem 23 anos. D’Angelo Russell tem mais talento para ser explorado, mas começa sua jornada profissional aos 19 anos. Julius Randle é outro calouro, extraoficialmente,  uma vez que Randle não disputou nem mesmo uma partida inteira na temporada passada. Ainda restam Larry Nance Jr., Anthony Brown e qualquer outro jovem que passe pelo corte final de Byron Scott, é pouco provável que recebam muitos minutos, ao menos no início de campanha.E tem isso, mesmo. Quatro jogadores terão de ser dispensados até a temporada começar, e o próprio Huertas supostamente ainda está a perigo, com um contrato sem garantias, ainda que o time precise de sua experiência e de sua cadência para estabilizar a segunda unidade.

Algo importante que já pode valer até mesmo para a prévia 2016-2017: é bom, mesmo, que os jogadores mais jovens se desenvolvam, pois, para o Draft de 2016, há um sério risco de que o Lakers não poderá adicionar nenhum prospecto relevante. Afinal, sua escolha de primeira rodada será repassada ao Philadelphia 76ers caso não fique entre as três primeiras. É de se supor que, neste contexto, o time tentará vencer o máximo de partidas que puder, para minimizar a perda. Por mais que tentem, todavia, talvez não consigam.

Huertas ainda não jogou na pré-temporada e tem contrato sem garantias: ainda assim, se o Lakers optar por cortá-lo, seria difícil de entender o acerto com ele em primeiro lugar. Experiente, armador visionário, tem tudo para influenciar positivamente o cotidiano de Clarkson e Russell

Huertas ainda não jogou na pré-temporada e tem contrato sem garantias: ainda assim, se o Lakers optar por cortá-lo, seria difícil de entender o acerto com ele em primeiro lugar. Experiente, armador visionário, tem tudo para influenciar positivamente o cotidiano de Clarkson e Russell, além de fazer a bola girar quando for para quadra, algo muito necessário num time de fominhas

A gestão: ultrapassada. o Lakers ainda aposta muito no peso de sua camisa e tradição e nas luzes de Hollywood para atrair reforços, mesmo que venha sendo recusado sucessivamente pelos principais agentes livres. Com isso, caíram numa armadilha, ficando realmente presos ao passado. Seu xaveco para LaMarcus  Aldridge foi tão fraco, por exemplo, que Kupchak teve de se apressar a marcar uma segunda reunião com o pivô, que deixou clara sua frustração com a primeira apresentação, na qual pouco se falou sobre basquete e muito mais sobre marca. Acredite: a maioria dos atletas ainda quer saber do que se vai passar em quadra.

Byron Scott ganhou seu emprego justamente por esse apego saudosista. O ex-companheiro de Magic fez ótimos trabalhos pelo Nets e pelo antigo-Hornets-hoje-Pelicans, mas vem sendo um tremendo fiasco nesta década. O sistema de Princeton que costumava adaptar ficou para trás, e só sobraram as bravatas, as frases de efeito sem nenhum efeito prático. Seus treinamentos são exaustivos, os jogadores entram em forma, mas, na hora que a bola sobe, a equipe segue desatenta aos mínimos detalhes de um jogo, com uma defesa esburacada. Está certo que um só treinador não faz milagre, mas sua adição não representou alteração nenhuma em relação aos tempos de Mike D’Antoni.

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Scott e Kupchak: muita tradição, poucos resultados recentes. Se o Lakers não for bem, ficará fora dos playoffs pelo terceiro campeonato consecutivo, estabelecendo recorde negativo da franquia

Olho nele: Julius Randle. Enquanto D’Angelo Russell vai aprendendo que tipo de truque pode funcionar contra defensores mais experientes, atléticos e fortes do que os que enfrentava por Ohio State, a franquia parece mais animada quanto ao ala-pivô, que vai fazer 21 anos em novembro, pode render. Randle é considerado há tempos como um dos jogadores mais promissores de sua geração. Em Kentucky, porém, não foi tão dominante como se esperava. Ao sofrer uma fratura na perna logo em seu jogo de estreia, ficou ao seu redor uma aura de mistério. A julgar pelo que os atletas mais veteranos e os diretores viram em rachões durante as férias e o traning camp, há muito otimismo. Hibbert diz que ele é o futuro da franquia e da NBA. Artest, seu mentor, detalha todo o seu potencial. Kobe afirma que ele tem o jogo de Lamar Odom e o corpo de Zach Randolph, com habilidade para cruzar a bola e armar contra-ataques, por exemplo, e o físico para trombar perto da tabela como se fosse um veterano. Neste jogo de pré-temporada contra o Raptors, mostrou alguma de suas habilidades:

São raros os jogadores com o físico de Randle que mostrem predisposição e desenvoltura com o drible. Agora, o que vemos dos lances acima também é o alto grau de dificuldade na execução. Algo que só vai aumentar nos jogos que valem, pela temporada. Com a experiência de enfrentar defesas mais compactas e bem preparadas, o rapaz vai ter de se ajustar, percebendo qual o momento que deve atacar o garrafão no um contra um, quando tem uma oportunidade de mismatch para jogar de costas para a cesta e quando deve acelerar no contra-ataque. Ajudaria muito seu jogo se ele desenvolvesse ao menos um chute respeitável de média distância.

card-kobe-97-98Um card do passado: Kobe Bryant. Quando um dos maiores cestinhas de todos os tempos iniciou uma temporada regular aos 19 anos, o San Antonio Spurs ainda não havia ganhado nenhum título, enquanto o Bulls de Michael Jordan estava pronto para chegar ao hexacampeonato.

Aquela era a segunda campanha de Kobe na grande liga, depois de um ano de estágio no banco do time. Ainda saía como reserva (foi titular em apenas uma partida), mas com relevância bem maior, jogando 26 minutos por partida e anotando 15,4 pontos, a terceira maior marca do time. Já pedia passagem, mas ao mesmo tempo não tinha tantas responsabilidades assim num elenco liderado por Shaquille O’Neal e com veteranos como Eddie Jones, Nick Van Exel, Robert Horry, Rick Fox e Elden Campbell por lá.

D’Angel Russell não vai ter esse luxo. Como escolha mais alta de Draft da franquia em mais de 20 anos, o armador vai lidar com enorme expectativa ao seu redor, sem, aparentemente, estar tão preparado para isso. Para piorar, vem dando azar com pequenas contusões que atrapalham sua preparação. Vamos ver se Kobe, que não é exatamente a figura mais paciente em quadra, pode ajudá-lo nessa.


O retorno de Kobe e a primeira boa impressão de Raulzinho
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Giancarlo Giampietro

Kobe com os pés no chão. Melhor nos acostumarmos

Kobe com os pés no chão. Melhor nos acostumarmos

É pré-temporada apenas. O primeiro jogo! Como diz Fred Hoiberg, o novo técnico do Bulls: “Geralmente a primeira partida da pré-temporada é bastante desleixada, e, depois de assistir muitas dessas partidas nos últimos dias, já dá para ver isso”.

Então o certo era nem mesmo escrever nada a respeito. Maaas… pelos dois elementos que apresentou, o jogo entre Los Angeles Lakers e Utah Jazz, com vitória para a equipe de Salt Lake City por 90 a 71, neste domingo, pede algumas observações. E, não, não tem a ver com o fato de eles terem se enfrentado no Havaí. Aloha.

*    *    *

Mesmo que tenha sido um amistoso, ao menos a vestimenta era para valer, os árbitros também eram os da liga, havia jornalistas e transmissão, e tudo o mais. Só não pode dizer que é oficial, pois os registros da pré-temporada não são computados pela liga, mesmo que o ambiente seja bem mais formal que aquele da Summer League. (Então também não deveríamos tratar como a estreia de Raulzinho.)

Bom, ainda assim, foram 257 dias até que Kobe Bryant pudesse vestir novamente a camisa 24 do Lakers em um jogo. O resultado foi  aquilo esperado pelos mais realistas: muita, mas muita ferrugem para tirar. Este aqui foi seu primeiro arremesso:

 

Agora, sua primeira cesta, para compensar:

Independentemente do airball do primeiro e da cesta no segundo, o que salta aos olhos é, na verdade, a pouca elevação em seu arremesso. Aos 37 anos, já seria normal. Vindo de uma ruptura no tendão de Aquiles, uma fratura no joelho e uma segunda ruptura no ombro, sofrida em janeiro, a coisa é muito mais grave, ainda mais para alguém que já esteve em quadra por 46.700 minutos em temporada regular e 8.600 nos playoffs. Milhagem boa, com a qual poderia se candidatar a qualquer programa de desconto vitalício (caso precisasse). Contra ela, a essa idade, talvez não haja ética de trabalho que dê conta.

Nos 12 minutos que ficou em quadra, valendo apenas pelo primeiro quarto, o astro se movimentou e jogou como um veterano que está bem perto da aposentadoria. Para chegar a um nível mínimo de rendimento, em relação aos seus próprios e quase sempre inatingíveis parâmetros, a distância certa seria medida em anos-luz. Kobe, claro, procurou minimizar suas dificuldades. É só uma questão de ganhar ritmo de jogo. Ganhar ritmo e me aclimatar ao jogo novamente”, afirmou. Isso não se nega. A questão é que, quando ganhar ritmo, qual é o seu novo limite de capacidade atlética? O quanto isso vai lhe afetar em quadra? Quanto seus fundamentos serão o bastante para que ele produzir? Nesta bola, o que ele tem hoje não foi nem o bastante para passar por Joe Ingles, que nunca foi confundido com nenhum Tony Allen:

Não é algo bonito de se ver, é?

*    *    *

O plano de Byron Scott era dar ao ala apenas os 12 minutos do primeiro quarto, mesmo. Ao final da partida, o técnico afirmou isso e que, nesta segunda-feira, ele treinaria novamente e se prepararia para o jogo de terça, num repeteco haviano contra o Utah. No final, porém, mesmo com o tempo reduzido, Kobe nem treinou com seus companheiros.

*    *    *

É só uma brincadeira, não é para desmerecer o “Raul Neto”, mas, mesmo que tivesse sido um jogo de temporada regular, talvez nem assim fosse o caso de caracterizá-lo como sua estreia. Afinal, o quão a sério dá para levar um time que reúne três fominhas como Kobe, Lou Williams e Nick Young? Loucura geral.

(E, sim, detesto ter de fazer qualquer ressalva desse tipo para anunciar uma piada. Se irritar a maioria, favor avisar.)

Fato é que Raulzinho fez um belíssimo segundo tempo contra o Lakers, conseguindo algumas roubadas até em pressão quadra inteira que foram até meio humilhantes para o ala Jabari Brown. Seu esforço defensivo rendeu muitos elogios da mídia de Utah, pois até parecia que o brasileiro jogava a final do Pan ali. Vejam:

Raul teve 20 minutos de quadra, basicamente revezando com Trey Burke Deu seis assistências, dando bastante ritmo ao seu time em transição, e conseguiu quatro roubos. Mal olhou para a cesta, mas, com a pegada e a visão de jogo demonstradas, vai deixar muitos de seus bem felizes.

*    *    *

Huertas não jogou pelo Lakers devido a uma contusão na virilha, segundo o clube californiano. Para piorar, a franquia divulgou hoje que ele não vai participar da partida de terça e “provavelmente” também não jogará na quinta. Serão três compromissos perdidos,  lembrando que o time de Byron Scott tem hoje 19 contratos, precisando dispensar quatro até o início do campeonato. Ainda assim, antes que se dispare o alarme, segundo a grande maioria dos relatos que vêm de L.A., Huertas já teria causado boa impressão o suficiente nos treinamentos para se garantir. Além disso, os setoristas do clube dão a entender ou deduzem com boa dose de perspicácia que seria muito difícil, ou improvável, que Mitch Kupchak e Jim Buss fossem se dar ao trabalho de trazer um armador de renome internacional como o brasileiro para, então, rasgar seu contrato rapidamente.


LeBron carrega Cavs em esforço que justifica (e relativiza) estatísticas
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Giancarlo Giampietro

A linha estatística de LeBron James deste domingo é qualquer coisa de anormal, mesmo: 37 pontos mais 18 rebotes maaaaais 13 assistências, em 47 minutos de jogo. E sabe o que mais também? Tentou 37 arremessos de quadra, convertendo 14 (37,8%). O que deveria levar todo mundo automaticamente ao seguinte questionamento: e se fosse o Kobe ou o Westbrook? Estaríamos falando de um ato heroico, que justifique a belíssima foto abaixo, ou seria simplesmente um espancamento público?

LeBron, Game 3, East Finals, Cavs, Hawks, triple-double

LeBron, hero, Cavs, Cleveland, playoffs 2015

Agora, antes que os defensores de Kobe, Wess e LeBron se inflamem, vamos apelar para aquela máxima do bom senso: que tal a gente relativizar os números, em vez de processá-los friamente, ignorando o que se passou ao redor do protagonista em quadra. De novo aquele conselho de jamais acessar a tabela de estatísticas e tão somente as estatísticas para dizer se um jogador “brilhou”, “deu show” ou “amarelou” e “afundou” o time.

Assim, de cara, dá para dizer que não é saudável que um atleta precise arremessar 37 vezes para levar seu clube ao triunfo, como aconteceu neste domingo, com o Cavs vencendo o Hawks por 114 a 111 para abrir 3 a 0 na série. Isso, aliás, é algo que contraria até mesmo a visão de jogo do craque, um cara que já foi acusado no início de sua carreira de passar até demais a bola em momentos decisivos. Quem se lembra disso? Foi lá em 2008.

Mas o que a gente vê hoje em quadra é justamente um Cleveland que lembra, em muitos aspectos, sua versão de seis, sete anos atrás, mesmo. Sem Kyrie Irving, sem Kevin Love, o que se tem é um conjunto que gira em torno completamente de seu grande astro. Pivôs competentes e combativos, mas que não criam por conta própria (tal como Zydrunas Ilgauskas e Anderson Varejão) e um bando de chutadores e operários no perímetro (com a diferença de que JR, Shumpert e mesmo Dellavedova superam as contribuições de Daniel Gibson, Damon Jones e dos Sasha Pavlovics da vida).

Uma cena que deixou isso mais evidente foi quando sentiu uma torção de tornozelo na reta final da partida e ficou mancando por umas duas ou três posses de bola. Pediu para ser substituído. Quando olhou bem para o banco, porém, pensou duas vezes e disse que ficaria em quadra. Não dava para chamar Mike Miller, Shawn Marion ou James Jones numa situação daquelas. “LeBron sabia que não venceríamos o jogo sem ele. Ele simplesmente não nos deixaria perder. Fantástico”, afirmou David Blatt. Pois é: está na cara que o Cavs só chegou a três vitórias nesta série devido aos talentos do ex-morador de South Beach.

Se LeBron tentou 37 arremessos, é porque foi preciso. Entre seus companheiros, só mesmo JR Smith tem capacidade de criar jogadas por conta própria na hora do aperto, e nem isso é lá muito recomendado. Sobrou uma carga enorme para o craque monitorar, num esforço muito desgastante. Da mesma forma que aconteceu com Russell Westbrook durante o campeonato e como já ocorreu com Kobe Bryant em meados da década passada, quando ele poderia alcançar 81 pontos numa partida. Uma coisa é esfomear com Kevin Durant, James Harden, Kevin Martin, Pau Gasol, Andrew Bynum ou Lamar Odom ao seu lado. Outra, com Andre Roberson, Anthony Morrow, Serge Ibaka, Smush Parker, Ronnie Price e Carlos Boozer. O ideal, antes de julgar, é deixar qualquer preconceito de lado e procurar se ater aos fatos.

“É preciso confiar nos seus companheiros”, vai pregar qualquer treinador. Claro que sim. E LeBron confia em Thompson, Mozgov, Dellavedova, JR e Shumpert. Nota-se isso a cada pedido de tempo ou mesmo a cada erro deles. Acontece que, na atual conjuntura da equipe, a relação entre a estrela e os coadjuvantes é de submissão, mesmo.

Blatt poderia fazer alguma coisa a respeito? O natural é cobrar, mesmo, algo a mais de um técnico desses, algo além do bumba-meu-boi-LeBron-contra-a-rapa, que o deixa todo estourado ao final da partida. Por outro lado, não dá para ignorar as dificuldades que os desfalques de Irving e Love representam. Você pega um elenco novíssimo no início da temporada, desenha, planeja o que precisa ser feito. Demora para entrosar, para que os atletas se entendam, ainda mais com grandes mudanças no elenco no meio do caminho. Quando chega o momento de decisão, duas peças vitais da equipe caem. Não vai ser em uma semana de treinos que tamanho ajuste sistêmico vai ser feito.

Para fechar, segue, então, um apanhado de dados sobre o que a atuação do astro representa para sua equipe neste jogo em específico e também a quantas anda seu contexto histórico estatístico na fase decisiva da NBA:

4.782 – É o seu total de pontos em jogos de playoff, ultrapassando o carteiro Karl Malone para ocupar a sexta posição na lista. Acima dele, estão: Michael Jordan (5.987), Kareem Abdul-Jabbar (5.762), Kobe Bryant (5.640), Shaquille O’Neal (5.250) e Tim Duncan (5.113). Boa companhia, né?

60% – LeBron foi responsável por 60% dos pontos do Cleveland neste domingo, somando 68 pontos entre as cestas que fez e as assistências que deu. Apenas no terceiro período, esteve envolvido com 29 dos 33 pontos do time – dois deles numa belíssima infiltração seguida por cravada sobre dois (vídeo abaixo). Mais sobre a carga que carregou: foram dele 37 dos 97 arremessos. Dos 60 arremessos do restante do elenco, 30 saíram em chutes de três pontos, numa tática clara de espaçamento da quadra para o astro, com o ataque inteiro girando ao seu redor. E o aproveitamento dessa rapaziada foi excelente, matando 13 em 30 (43,3%).

22 – LBJ foi o primeiro jogador em 22 anos a bater a marca de 35 pontos, 15 rebotes e 10 assistências num confronto de playoff, desde Charles Barkley em 1993, pelo Phoenix Suns. Antes disso, apenas James Worthy havia conseguido essa marca, em 1988, pelo Los Angeles Lakers. Agora, se for falar em um mínimo de 37 pontos, 18 rebotes e 13 assistências, isso nunca havia acontecido antes.

18 – Com 18 rebotes, o astro superou, sozinho, os dois pivôs titulares em seis. Timofey Mozgov somou 5, enquanto Tristan Thompson coletou 7.

12 – Podemos computar já uma dúzia de triple-doubles para o camisa 23 do Cavs em playoffs, ocupando o segundo lugar na lista histórica nesse quesito, atrás apenas de um tal de Magic, que soma… 30. Jason Kidd, porém, ficou para trás, com 11.

6 – Foi o sexto jogo da carreira de LeBron em mata-matas com 30 pontos, 10 rebotes e 10 assistências. O líder para jogos deste nível é o legendário Oscar Robertson, com oito. Wilt Chamberlain e Barkley bateram a marca duas vezes. Se for para se ater apenas a jogos com 30 pontos, o craque chegou ao 75º, superando Jerry West e empatando com Abdul-Jabbar na terceira posição, atrás de Jordan (109) e Kobe (88).

3 – Ainda aconteceram três recordes pessoais para James, contando inclusive partidas pela temporada regular: número de arremessos tentados (os famigerados 37), número de arremessos dentro do garrafão (25) e rebotes ofensivos (8, muitos deles decorrentes dos erros iniciais no primeiro quarto).


Temporada especial: relembre grandes momentos da NBA 2014-15
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Giancarlo Giampietro

“Foi uma temporada e tanto.”

A tendência, ao final de uma jornada de 1.230 jogos, é que sempre falemos isso, né? Pois história não falta para contar. Na hora de separar os principais acontecimentos da campanha 2014-2015 da NBA, porém, dá para perceber que realmente testemunhamos um campeonato especial. Claro que muita coisa chata aconteceu, como as lesões de Durant e Kobe, o empurrão de LeBron em David Blatt, goteira em ginásio, as paralisações constantes no final das partidas, o fundo do poço para Lakers e Knicks e mais alguma coisa. Mas vamos nos apegar a boas lembranças, vai? Então, sem mais delongas, seguem alguns momentos que devem – ou deveriam – ficar guardados na memória dos admiradores em geral da liga americana, ou, pelo menos, das torcidas envolvidas.

nba-season-2014-14-highlights

Tem espaço aí no hard drive? ; )

O Retorno
Sim, a temporada já se tornava marcante antes mesmo de seu início, com LeBron James anunciando que o bom filho a casa tornava (sim, surpreendentemente sem crase, mesmo), se desquitando de Dwyane Wade e Pat Riley. Houve romaria em Cleveland, e as lavanderias devem ter lucrado horrores com o tanto de camisa 23 resgatadas do fundo do baú, quiçá até mofadas. Para aqueles que tostaram, rasgaram ou picharam seus antigos uniformes, o jeito era abrir a carteira. Estudos e estudos foram divulgados para mostrar qual seria o impacto para a economia da cidade e de Ohio. A euforia só cresceu quando ficou claro que uma troca por Kevin Love estaria orquestrada. No fim, demorou um pouco para as coisas se acertarem, com o astro fazendo uma primeira metade de campeonato muito aquém do esperado, mas, depois de duas semanas de férias e de duas trocas certeiras, o Cavs decolou. Aqui, vale abrir espaço para dois episódios memoráveis que são consequência direta da mudança de South Beach para Akron. O Rio de Janeiro teve a sorte de sediar um jogo de pré-temporada que colocaria LBJ pela primeira vez contra seus ex-companheiros, enquanto o primeiro jogo oficial acabou reservado, claro, para a tradicional rodada natalina. Orgulhoso que só, Wade jogou demais e conduziu o Miami ao triunfo.

A carta, a volta, o rei

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A estreia de Caboclo e Bebê
A vida é engraçada, né? Dependendo do ponto de vista e do contexto, um jogo aparentemente insignificante entre Toronto Raptors e Milwaukee Bucks, no qual o time canadense trucidou o adversário, pode se tornar especial. Para o público brasileiro, talvez tenha sido a noite de maior algazarra. A história, afinal, era muito legal – desde a seleção do ala do Pinheiros numa surpreendente 20ª posição do Draft. Havia rumores de promessa, mas ninguém imaginava escutar seu nome na primeira rodada. O movimento gerou alta expectativa, tanto dos radicais torcedores do Raptors como no público daqui. E aí que, naquela sexta-feira 21 de novembro, ele foi para a quadra pela primeira vez num jogo oficial (depois de aquecer na Liga de Verão e na pré-temporada). Duas bolas de três pontos, uma ponte aérea maluca para Caboclo, e a loucura instaurada na América-do-Norte-ao-Sul. Lucas Bebê também foi chamado para a festa. A Internet quase quebrou, de tanto frenesi. Um blogueiro varou a madrugada imaginando o diário de um adolescente. Quem viu, viu. No final, porém, essa noite acabou sendo um acontecimento isolado. O gás do Toronto Raptors acabou cedo, as lavadas minguaram, e o ala só teria algum tempo de quadra significativo na D-League, se tanto. Até que a central do zum-zum-zum da liga contou o que estava acontecendo: problemas fora de quadra, com muita imaturidade deixando o caminho para seu desenvolvimento ainda mais intrincado. Bebê ao menos ainda voltaria a jogar também pela D-League, produzindo mais. Mas, ao final da temporada de calouro, o progresso da dupla ainda é um mistério. Mas o YouTube vai ter sempre isto:

Kobe supera Jordan. Literalmente
Foi no dia 14 de dezembro, em Minnesota. Muito melhor teria sido no Staples Center. Mas, enfim. Os deuses do basquete escolheram o ginásio do Timberwolves para esse marco. Com dois lances livres, o já ancião ala-armador do Lakers desbancou Sua Alteza Michael Jordan na lista de cestinhas históricos da NBA,  assumindo o terceiro post, logo abaixo de Kareem Abdul-Jabbar e Karl Malone, com 32.293 pontos. Nada mal, hein? Diga-me com quem andas… Ao menos a torcida e a gerência do Target Center tiveram a grandeza de celebrar o ocorrido, aplaudindo uma lenda viva em quadra. Kobe terminou a partida com 26 pontos, numa vitória por 100 a 94. Foi uma aberração de numa noite em meio a uma temporada deprimente da franquia. (Ah, em mais uma campanha em que as lesões o derrotaram, Kobe também conseguiu um recorde daqueles que já não orgulha tanto: desbancou John Havliceck, o ídolo do Boston dos anos 60 e 70, para se tornar o atleta da NBA que mais desperdiçou arremessos na história. Eram, então, 13.418 chutes errados.)

(Se for para falar de registros históricos, não dá para deixar Dirk Nowitzki de fora, né? De modo bem mais discreto, como de praxe, o alemão também vem subindo a ladeira dos maiores pontuadores que a NBA já viu. Entre 11 de novembro e 5 de janeiro, o genial líder do Mavs deixou passa Hakeem Olajuwon, Elvin Hayes e Moses Malone para trás – curiosamente, três pivôs com passagem pelo Houston Rockets –, para alcançar a sétima posição na lista. Além disso, ao ultrapassar Olajuwon, Dirk se tornou o principal cestinha estrangeiro da liga, em vitória de virada sobre o Sacramento, com um característico chute de média distância. Depois, no dia 24 de março, ao apanhar seu rebote de número 10 mil, o craque inaugurou um clube só seu, tendo também mais de 25 mil ponto. 1.000 tocos e 1.000 cestas de três pontos em sua carreira. Prost!)

Klay Thompson: incendiário
Depois dessa exibição, as mensagens de texto com o seguinte dizer – ALERTA KLAY THOMPSON – ganha um outro sentido. Vai obrigar você a dar pause no Netflix, a abandonar a mesa de jantar, a levantar a coberta, seja o que for, e ligar a TV ou o computador. O que o ala do Warriors fez contra o Sacramento não existe. Ou melhor, não existia até o dia 23 de janeiro. Com as mãos flamejantes e estabelecendo uma série de recordes, deixou toda a liga em estado de choque ao marcar 37 pontos no terceiro período. É difícil de processar isso ainda hoje. Ele finalizou a partida com 52 pontos no geral. Mas um detalhe: apenas 33 minutos. Numa projeção por 48 minutos, teria feito 75. (Para eternizar o apelido de Splash Brothers, Stephen Curry também passou da marca cinquentenária ao fazer 51 contra o Dallas Mavericks menos de duas semanas depois. E os dois se amam, não há rivalidade nenhuma.)

Uncle Drew em quadra
Ou: a noite em que LeBron James teve certeza de que havia tomado a decisão certa. Foi quando Kyrie Irving torturou a defesa do San Antonio Spurs ao marcar 57 pontos naquele que foi um dos melhores jogos do campeonato. Contando o minuto final do tempo regulamentar e a prorrogação, ele marcou 20 pontos – três a mais que toda a equipe texana. O tipo de atuação que também força os jornalistas a fuçar mais uma vez nos livros de recordes e que trouxe o Uncle Drew para uma quadra de verdade. Desta forma, o armador do Cavs terminou com as duas maiores contagens do ano, depois de já ter marcado 55 pontos contra o Portland Trail Blazers, numa partida em que seu companheiro mais famoso estava apenas na plateia.

Aqui, vale gastar mais algumas linhas e segundos para lembrarmos outras atuações magníficas do ano. Entre elas, constam os 50 pontos de James Harden contra o Denver Nuggets no dia 19 de março, dos quais quase a metade vieram em lances livres. O ala-armador do Rockets converteu 22 de 25 lances livres numa partida que é emblemática – não teve fanfarra nenhuma para o Sr. Barba, uma vez que lances livres são, hã, entediantes. Mas muito eficientes, de qualquer maneira. Harden ainda faria 51 pontos em vitória sobre o Kings, com oito bolas de longa distância. Aliás: o Sacramento é uma constante aqui. Também não podemos nos esquecer dos improváveis 52 pontos de Maurice Williams contra o Indiana Pacers.

A tempestade Russell Westbrook
Sem Kevin Durant, o enfezado alienígena de OKC se viu sem amarras nesta temporada, e os críticos tiveram de aturar toda a sua exuberância atlética. Resultado: uma sequência de triple-doubles assustadora. Ao todo, Wess conseguiu 11 jogos dessa natureza, mais que o dobro do segundo colocado na lista, Harden, e mais que o triplo de Michael Carter-Williams, Evan Turner e Rajon Rondo. De 24 de fevereiro a 4 de março, foram quatro em sequência, sendo o primeiro a conseguir essa façanha desde Michael Jordan em 1989. Teve linhas como 49 pontos, 15 rebotes e 10 assistências contra o Sixers e 40 pontos, 13 rebotes e 11 assistências contra o Blazers. Em março, suas médias foram de 30,9 pontos, 10,2 assistências e 8,5 rebotes. Em abril, 32,5 pontos, 8,1 assistências e 8,0 rebotes. Ironicamente, de certo para os mesmos críticos, quando somou 54 pontos (com quase incontáveis 43 arremessos), 9 rebotes e 8 assistências contra o Pacers, o Thunder saiu derrotado, e foi esse o revés que acabou tirando o time dos playoffs.

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Atlanta Hawks, o MVP do mês
Depois de tantas performances individuais destacadas, que tal abrir um espacinho, então, para um esforço coletivo admirável? A NBA teve essa grande ao eleger todo o quinteto titular do Atlanta Hawks para o prêmio de MVP do Leste no mês de janeiro. Most Valuable Players, afinal. Sim, como você vai escolher um atleta num time em que as peças se encaixam perfeitamente? Korver atrai marcadores – e, se eles não comparecem, pune essa mesma defesa na linha de três. Jeff Teague quebra a primeira linha defensiva e passa justamente para Korver. Paul Millsap e Al Horford pontuam por todo o perímetro interno, são confiáveis nos rebotes e solidários. DeMarre Carroll tem de marcar os LeBrons da vida. Com esse conjunto, o Hawks terminou janeiro com 17 vitórias em 17 partidas e se tornou primeiro time da história a concluir um mês invicto.

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

Triplas prorrogações
A terceira semana de dezembro foi a prova máxima da brutalidade do Oeste da NBA, como Gregg Popovich pode confirmar. O Spurs teve dois jogos seguidos com três prorrogações, contra Grizzlies e Blazers. Foram mais de duas horas de basquete, e os atuais são campeões saíram derrotados em ambas. O Grizzlies, na véspera da batalha com o Spurs, havia batido o Golden State Warriors, encerrando uma sequência de 16 triunfos do líder da conferência. Um verdadeiro bangue-bangue.

Cirurgia candelada
LaMarcus Aldridge era para ter aumentado a lista de baixas da temporada. No dia 22 janeiro, o Portland Trail Blazers anunciou que o pivô precisava passar por uma cirurgia na mão esquerda, devido uma ruptura de tendão. A operação o tiraria de quadra por seis a oito semanas. Numa conferência tão competitiva, isso poderia significar uma derrocada para a equipe – sem menosprezar o talento de Damian Lillard, claro. Pois, 48 horas depois, Aldridge surpreenderia a torcida e a liga ao anunciar que ignoraria as recomendações médicas e seguiria em quadra. No mesmo dia, marcou 26 pontos e pegou 9 rebotes em vitória sobre o Washington Wizards. Nos dois jogos seguintes, somou 75 pontos e 22 rebotes. Demais. Wes Matthews, porém, não teve a mesma sorte. Não dá para ignorar uma cirurgia por conta de uma ruptura no tendão de Aquiles. Depois da cirurgia, porém, o aguerrido ala também mostrou como a química em Portland é algo especial: já com alta hospitalar, viu o time vencer o Houston Rockets fardado em casa:

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Vida em trânsito
O último dia para a realização de trocas na temporada foi uma verdadeira loucura, com um recorde de 39 jogadores e 17 times envolvidos, num total de 12 negociações.  Foi, na verdade, uma temporada com muitas mudanças.  Muita gente se antecipou e foi às compras mais cedo. Como o Dallas Mavericks, que acertou uma troca inesperada por Rajon Rondo em dezembro. O Boston Celtics, aliás, agitou geral, despachando sete atletas durante toda a campanha – o que só enaltece o papel do técnico Brad Stevens ao levar essa metamorfose ambulante aos playoffs. A negociação precoce de Rondo gerou um momento bacana também. Apenas duas semanas depois do negócio, Rondo retornou a Boston e recebeu bela homenagem no telão do Garden. Daqueles atletas de coração aparentemente pétreo, Rondo quase chorou. Quaaase:

A serventia da casa
Já Stan Van Gundy não teve paciência para esperar a data final de trocas, numa possível tentativa de encontrar um novo lar para Josh Smith. De forma abrupta, o técnico (e presidente) do Detroit Pistons decidiu demitir o talentoso, mas inconstante ala-pivô. Smith simplesmente não conseguiu se encaixar na rotação com Andre Drummond e Greg Monroe. Chegava a enervar o novo comandante e os torcedores com sua predisposição ao chute de três, sem pontaria alguma, e as diversas partidas com a cabeça nas nuvens. Em vez de procurar interessados, SVG usou sua autonomia total no clube e simplesmente comunicou a Smith que ele estava fora. Na rua, mesmo, causando espanto geral. O ala vai receber o seu salário na íntegra, mesmo prestando serviços para outro clube. De qualquer forma, com o movimento, o Pistons abriu espaço em sua folha salarial na próxima temporada, por ter, digamos, parcelado os vencimentos de Smith. A ver se a moda pega… (O Houston Rockets gostou e o contratou rapidamente. No Texas, tem rendido um pouco mais, sem dar trabalho nenhum dentro e fora de quadra.)

A saideira
Um campeonato desses só poderia terminar com uma noite eletrizante, com muita coisa em aberto. E Anthony Davis enfim conseguiu centralizar as manchetes ao liderar o New Orleans Pelicans a uma grande vitória sobre o San Antonio Spurs para assegurar sua estreia nos playoffs, tirando Westbrook do páreo. Com 31 pontos, 13 rebotes, 3 tocos, 2 assistências e 2 roubos de bola, ainda complicou a vida dos atuais campeões. A comemoração em N’awlins foi como a de um título. Mais que merecida: não só a temporada do jovem ala-pivô pedia mais atenção, como sua diretoria acabou premiada, depois de ver tantas transações questionadas surtirem efeito. Além disso, a classificação do Pelicans deixou a Divisão Sudoeste 100% nos mata-matas. Todos os seus cinco integrantes chegaram lá, sendo apenas a terceira vez na história que isso acontece e a primeira em nove anos. Com uma diferença: foi a primeira vez que todo o quinteto teve aproveitamento superior a 50% na temporada.

Faltou algo? Alguma memória particular?


Os 57 pontos de Irving. Ou: “Que jogo!”, estrelando Uncle Drew
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Giancarlo Giampietro

LeBron curtindo o novo 'parça'

LeBron curtindo o novo ‘parça’

Não tenho certeza, mas pode ser que a frase “What a game!” tenha virado um dos tópicos mais comentados na noite desta quinta-feira, madrugada de sexta aqui no Brasil. Um palpite, depois de abrir o Twitter agora de manhã e ver muita gente da NBA embasbacada com os 57 pontos de Kyrie Irving numa vitória incrível de seu Cleveland Cavaliers contra o Spurs, em San Antonio, com direito a prorrogação forçada no estouro do cronômetro, prorrogação e virada.

Foi, sim, daquelas partidas que podem ser consideradas, vá lá, “épicas”. Taí um termo que, ao lado de “mito”, se fosse extirpado do dicionário, causaria sérios problemas ao jornalismo esportivo brasileiro. De tão banal ficou seu uso, acaba perdendo o significado, né? Entre as acepções, temos: “Qualificativo das grandes composições em que o poeta canta uma ação heroica”.

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Irving pode até ter cantarolado alguma coisa no vestiário, enquanto se banhava, mas a gente definitivamente não precisa se apegar ao pé da letra nesse caso. O armador/cestinha do Cavs realizou uma grande composição, mesmo, no Texas. E, sim, foi também uma ação heroica, estabelecendo o recorde de pontos da temporada. Detalhe: a marca anterior também havia sido dele, com 55 contra Portland Trail Blazers, em Cleveland, no dia 28 de janeiro. Naquela noite, porém, LeBron não estava em quadra. Os dois vão se entendendo mais e mais.

A exibição do jogador nascido em Melbourne, Austrália, tem tudo a ver com o desfecho eletrizante do confronto, com o armador anotando 27 pontos no quarto período. O que levou a rapaziada da liga a uma reação em cadeia:

Perceberam o elemento em comum, né? Que jogo!   O CJ Miles, que mal havia acabado de celebrar a vitória do Indiana Pacers também na prorrogação contra o Milwaukee Bucks, foi quem saiu da linha:  

Uncle Drew. O basqueteiro mais ligadão já sabe do que estamos falando. Para aqueles que ficaram boiando, porém, é a personagem que a Pepsi inventou em torno de Irving para… Vender refrigerantes, claro . Não sei bem o que leva uma coisa à outra, mas a ideia foi disfarçar o jogador de velhinho e levá-lo a uma quadra de rua em algum lugar dos confins da América. A galera nem dá bola para o grisalho na hora de formar os times, ele começa a partida enferrujada, até que, de supetão, passa a dominar a parada. Era o Tio Drew mandando ver. Quantas latinhas eles venderam nessa, não tem a conta para checar. Mas o marqueteiro foi bem, não há como negar, e teve até mesmo sequência para a propaganda, com a participação de Kevin Love, vejam só.

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Dito tudo isso, assim como fizemos com Klay Thompson e seus 37 pontos em apenas um quarto, vamos examinar a atuação (na vida real) de Irving em números:

57 – OK, os 57 pontos são um novo recorde pessoal para Kyrie Irving, a franquia e a temporada. Os 55 que ele havia feito contra o Blazers era o máximo que tinha até o momento. Para os Cavs, os 56 pontos de LeBron contra o Toronto Raptors, em 2005, ficaram para trás. Além disso, foi o máximo de pontos que alguém conseguiu numa quadra de NBA desde os 63 de LeBron, pelo Miami, contra o Charlotte Bobcats em março de 2014. E não pára por aí: uma defesa comandada por Gregg Popovich jamais havia permitido tal contagem. Ainda igualou o recorde de pontos feito contra o Spurs (Purvis Short, pelo Warriors, em 1983-84).

55 – Desde a década de 90,  somente outros dois jogadores conseguiram superar a marca de 55 pontos em ao menos duas ocasiões na mesma temporada: Michael Jordan (1993) e Kobe Bryant (2006 e 2007). Essa estatística é um cortesia de Ben Golliver, da Sports Illustrated. Desde a temporada 2009-10, só Irving e Kevin Durant passaram dos 50 pontos em dois jogos

Chute contestado? Pfff...

Chute contestado? Pfff…

30 – Segundo dado levantado pelo veteraníssimo jornalista Mike Monroe, setorista do Spurs há décadas, 30 dos 32 arremessos que Irving tentou em San Antonio foram contestados por ao menos um defensor. (PS: como se chega a esse número? Graças ao sistema SportVU, aquele que está instalado em todas as arenas da liga e grava para, depois, digamos, digitalizar e aglomerar todas as ações que se passam em uma partida.)

22 – A idade do garoto. Ele vai completar 23 no dia 22 de março. Só LeBron e o legendário Ricky Barry conseguiram múltiplos jogos de 50 pontos com antes de soprar 23 velinhas.

13 – Os Cavs agora venceram 13 dos últimos 14 jogos contra equipes da Conferência Oeste, vindo de duas vitórias seguidas no Texas, o que não é mole para ninguém. A única derrota? Aconteceu justamente no mesmo estado, contra o Houston Rockets, na prorrogação. Kyrie Irving não jogou aquela.

10 – Numa noite como essa, ninguém nem liga para o fato de que Irving converteu 10 de seus 10 lances livres. É natural se concentrar nas 7 de 7 na linha de três pontos.

9 – O armador marcou nove pontos apenas no minuto final do tempo regulamentar, para garantir a prorrogação. Em cinco minutos, então, ele fez mais 11 – batendo o Spurs, sozinho, por 20 a 17 durante essa sequência. Sua média na temporada é de 22 pontos. A da carreira, 21.

2 – Esta foi apenas a segunda vez na história em que o Spurs acertou pelo menos 56% de seus arremessos de quadra na era Tim Duncan/Gregg Popovich e o jogo não terminou com um triunfo para a dupla. Irving derrubou então um… Mito. “Se vai precisar de uma atuação dessas para nos derrotar, então estamos em um ótimo lugar. Foi uma performance grandiosa”, disse Tony Parker.

*    *    *

De todas as aspas que saíram após o jogo, a que mais me chamou a atenção foi esta aqui de Irving: “Se meu cotovelo estiver apontado para o aro, sinto que o arremesso tem uma grande chance de entrar. Aprendi isso com o Kobe”. Ele estava se referindo ao seu chute milagroso para prorrogar o jogo. Demais, né? Resta saber se houve algum dia em que o Tio Kobe puxou o moleque de canto para passar esse macete, ou se isso vem de estudo de vídeo. Provavelmente é a primeira opção, o que ajuda a desmistificar a imagem de arrogante/pária em torno do astro do Lakers e, ao mesmo tempo, mostra a moral que Irving já tinha na liga, para que ele seja um dos Escolhidos do craque, recebendo conselhos. Aposto que Dwight Howard nunca ouviu algo parecido.

*   *   *

Mike Miller saiu do vestiário dos Cavs balançando o par de tênis calçado por Irving em quadra. Estavam autografados. Sabe o nome disso? Química.

*    *    *

O que impressiona mais? O grau de dificuldade de alguns de seus arremessos. Ele sobe desequilibrado, pressionado, e não importa: a bola produz um som lindo quando estoura a redinha:

*    *    *

Enquanto isso, em Miami…


Um Tim Duncan que sempre destoa. Para sorte de Splitter
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Giancarlo Giampietro

Marc Gasol e Tim Duncan ao fundo. A loucura o Media Day

Marc Gasol e Tim Duncan ao fundo. A loucura o Media Day

Tim Duncan se lembra das sensações, mas não exatamente dos detalhes. De quando foi convocado pela primeira vez para um All-Star Game da NBA, lá atrás, em 1998. Em Nova York. A mesma metrópole que ele reencontra agora, 17 anos depois, numa prova de durabilidade impressionante.

Só não peçam, porém, para que essa consistência, essa capacidade para desafiar o tempo se sustente no momento em que senta na cadeira de entrevistado para ser torpedeado numa concorrida entrevista coletiva. Duncan não é, nem nunca foi esse tipo de cara. Os torcedores do Spurs sabem: estamos falando de um craque singular em muitos sentidos. Um pivô que diferente, e muito, da maioria de seus companheiros, e não apenas no que se refere a fundamentos e habilidades dentro de quadra.

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>> O VinteUm está no All-Star Game

Ao menos quando respondeu uma mísera pergunta deste blogueiro, se mostrou mais interessado que a média. Por sorte? Claro. Mas também justamente por gostar de fazer as coisas ao seus termos. Queria saber o que ele pensava da dupla com Tiago Splitter, pois eram dois grandalhões fazendo uma parceria um tanto à moda antiga. Não necessariamente pesos pesados, mas bem diferentes das combinações que estão em expansão na liga, com um homem mais centralizado e outro pivô aberto para o chute. A era do strecht four.

Sobre isso, disse ao VinteUm: “Sempre me senti mais confortável jogando com outro pivô grande e tudo o que isso proporciona para o time. Claro que tem essa conversa sobre os pivôs de chute, mas, se for pensar, com dois pivôs maiores, você ganha em rebotes, deixa o time mais sólido defensivamente e muitas outras coisas. Além disso, estamos falando de dois jogadores talentosos, que sabem passar a bola, o que deixa tudo divertido”.

Se a NBA quer jogar com muito chute de três pontos, usando até o suposto atleta da posição quatro para isso, Duncan ainda quer ver sua equipe mais reforçada para a batalha interna. Como nos tempos de Torres Gêmeas com um David Robinson, não? E até mesmo com o inesquecível (?) Will Perdue. Ou Nazr Mohammed. Enfim, vocês entenderam.

Com o pivô catarinense, os números corroboram sua predileção: o Spurs consistentemente defende melhor quando os dois estão juntos em quadra – além disso, no ataque, já tem um número excelente de arremessadores para dar conta do espaçamento da quadra. Neste campeonato, porém, é preciso dizer, as coisas ainda não aconteceram desta maneira. Mas isso tem mais a ver com a recuperação gradual de Splitter, depois de mais uma chata lesão na panturrilha que atrapalhou, e muito, sua preparação. Algo que Duncan afirmou ao repórter Mendel Bydlowski, da ESPN Brasil, falando sobre a relevância do catarinense nos planos do Gregg Popovich: “Ele melhorou conosco de modo consistente nos últimos anos. Esse ano tem sido um pouco de baixa só, por causa das lesões, mas acho que ele já deixou isso para trás e fez uma grande partida um dia desses. Ele é grande parte do que fazemos. Quando joga bem, nós jogamos bem”.

Então dava para fazer esta manchete: “Duncan julga Splitter essencial para as pretensões do Spurs”. Aposto que seria mais atrativa. Mas não deu para explorar tanto o tema, gente.

Fui para a zona mista promovida pela NBA com uma lauda inteira de perguntas para o ícone Spursiano. Doce inocência. Não há a menor condição de fazer algo mais elaborado numa situação dessas. Vocês já ouviram o termo “circo da mídia”? É o que se passava ali, com uma estimativa extraoficial de até 600 credenciados se esgoelando para conseguir a atenção de um trilhardário e extremamente talentoso grupo de jogadores de basquete. Uma situação que incomoda Duncan.

É muita gente para uma sala só de conferência

É muita gente para uma sala só de conferência

“Chega uma hora que issso cansa?”, pergunta o jornalista X.

“Eu gosto do jogo do All-Star. O resto é que poderia ser evitado.

“Tipo a gente?”, retrucou o repórter.

“Sim”, respondeu, rindo. “Não gosto disso, dessa situação toda”, completou, enquanto ergue a cabeça e esbugalha os olhos, exatamente do modo como reclama com os árbitros. Estava conferindo a loucura, o caos ao seu redor – ajuda, e muito, o fato de estarmos em New Tabloid City. Ao seu lado, por exemplo, estacionava Marc Gasol. Era quase impossível ver o pivô espanhol sentado em sua cadeira.

Com Duncan, o movimento começou intenso, mas depois foi esfriando. E aí foi aberta uma brecha (mínima, é verdade) para a aproximação. Ufa. Nem importava o repórter do lado, da TV do Clippers, que teimava em saber a opinião do craque sobre DeAndre Jordan e o arremesso de Jamal Crawford.

Aliás, as perguntas. Tantos microfones e tantas perguntas, sem parar.

Digaê, Timmy, se for sua última temporada, em quem gostaria de enterrar? “Eu? Eu nem enterro mais”, respondeu, quando ativa a expressão “Duncan dissimulado”. E quem, Timmy, você gostaria de enfrentar se pudesse escolher qualquer jogador da história? “Bill Russell”. Por quê? “Ele era bastante atlético. No auge, gostaria de enfrentá-lo”. Por fim, Timmy, como descreveria sua vestimenta para essa entrevista, uma vez que os atletas da NBA se tornaram notórios por isso? “Hm… Não sou fashion”, disse. Risos na roda.

Acorda, Timmy. Tem muita gente para falar com você

Acorda, Timmy. Tem muita gente para falar com você

Duncan gosta, mesmo, de botar bermuda, chinelo e sair para pescar. Por vezes com Gregg Popovich. Ah, claro: também gosta de jogar basquete.

Lendo assim, pode parecer uma atitude antipática, não? Só que ali, de cara para essa figura já mítica, não era essa a impressão. Duncan não estava destratando ninguém. Para ele, não dá praia com tanta gente ao seu redor. Se não encontra nenhuma resposta mais fácil, diz abertamente que simplesmente não consegue falar sobre aquilo. Talvez, com um pouquinho mais de esforço, pudesse discorrer mais sobre os temas levantados. Mas a combinação de preguiça e desconforto não o permite. Será que, então, num fim de semana prolongado desses ele preferia estar fazendo outras coisas?

Não é bem assim. O pivô jamais vai se vangloriar, mas está claro que se sente orgulhoso de, aos 38, fazer parte mais uma vez do grupo dos melhores. Mesmo que seja um tremendo peixe fora d’água neste final de semana estrelado em Manhattan. Dos caras que foram escalados na sua equipe da Conferência Oeste, em seu ano de novato, apenas dois caras segues em atividade: Kobe Bryant, em teoria, e Kevin Garnett, o bom e velho arquirrival, hoje muito distante de seu nível produtivo. De resto? Temos celebridades de TV (Shaq), dirigentes (Richmond), técnicos (Kidd) e gente que sumiu do mapa (Karl Malone, Eddie Jones, onde estão vocês?).

“Eu me lembro que foi aqui, de ter me divertido ao ver um monte de caras diferentes no vestiário, me lembro de ter sido uma experiência incrível… Lembro que não sabia o que esperar e de chegar aqui e ficar de queixo caído, impressionado com a atmosfera”, diz, quase sempre interrompendo sua fala. Nessas freadas, é como se estivesse olhando para o retrovisor rapidamente, para recordar as coisas. “Até mesmo uns cinco, seis anos atrás as coisas não eram assim, não”, afirmou.

Nos pequenos sinais, a gente liga os pontos. Duncan preferiria, sim, estar nos tempos de Bill Russell, quando ninguém dava bola para a camisa ou a calça que tivesse para vestir. Quem sabe, talvez até pudesse enterrar por cima do multicampeão do Boston Celtics, e sem precisar falar com ninguém a respeito.


Em números e frases: o jogo insano e flamejante de Klay Thompson
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Giancarlo Giampietro

Você acorda no meio da madrugada – e dessa vez o calor nem foi desculpa, deve ser coisa da idade, mesmo –, e acaba pegando o celular para ver que horas são. Aí abre o aplicativo Game Time da NBA para ver como havia terminado a rodada que acontecia depois de Mavs x Bulls. Na hora de conferir o último resultado do dia, mais uma lavada do Golden State Warriors em que eles passam dos 120 pontos, pumba: 52 saíram só na conta de Klay Thompson!

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Daí você abre o Twitter, e os Estados Unidos da América estão inteiros em ebulição: afinal, o que a box score não contava é que, de 52 pontos, 37 o ala do Warriors marcou num só quarto, o terceiro. Foi um recorde da liga – nem Wilt, nem MJ chegaram perto disso. Ixemaria. E para dormir novamente, como fica? Demorou um pouco, mas consegui. Postar blog 4h01 da madruga também não ajudaria ninguém, né? De todo modo, com algumas horas de atraso, seguem alguns dados sobre a estarrecedora noite do cestinha:

52 – Mo Williams não está mais sozinho nessa luta, amigos. Thompson igualou o igualmente especial recorde da temporada estabelecido pelo armador do Timberwolves contra o Indiana Pacers na semana passada. O Indiana Pacers, por outro lado, precisou de todo o primeiro tempo para marcar 37 pontos contra o Miami Heat.

Klay Thompson põe fogo na folha de estatísticas

Klay Thompson põe fogo na folha de estatísticas

42 – Tirando o Golden State, dãr, apenas o Cleveland Cavaliers conseguiu marcar mais que 37 pontos num quarto na rodada desta sexta-feira: foram 42 contra o Charlotte Hornets, no segundo período. O Lakers fez 38 contra o Spurs na primeira etapa.

38 – O recorde pessoal de Mychal Thompson, ex-pivô do Blazers e do Lakers, bicampeão pela franquia angelina, foi de 38 pontos pelo Portland, justamente contra sua futura equipe, em 1981. Também pelo Blazers, ele marcou 37 pontos em outras três partidas.

33 – Esse era o recorde de pontos em um só período até, então, obtido por Carmelo Anthony com a camisa do Denver Nuggets em 2008 e por George “Iceman” Gervin, o primeiro grande ídolo do Spurs. David Thompson, o ala-armador explosivo do Denver Nuggets e que inspirou Jordan muito mais que você imagina, já fez 32 pontos em uma parcial.

32 – Thompson chegou aos 52 pontos em 32 ou menos minutos, se juntando a Kobe Bryant como o único atleta da liga a conseguir tamanha produção em tão pouco tempo de quadra. Kobe anotou 62 pontos em três períodos contra o Dallas Mavericks em 2005, pouco antes de alcançar 81 contra o Toronto Raptors. Vocês lembram, né? Phil Jackson manteve o ala sentado durante todo o quarto final contra os texanos e nem deu bola. A diferença é que ao seu lado, no time titular, ele tinha Smush Parker, Brian Cook, Chris Mihm e, ufa, Lamar Odom.

26 – Foi o total de pontos de todos os outros atletas, de Warriors e Kings, em quadra durante o terceiro período. Perderam de Klay por 11.

As estatísticas do terceiro período

As estatísticas do terceiro período

25 – Klay Thompson precisou de apenas 25 arremessos para marcar 52 pontos. Média de 2,08 para cada chute de quadra. Ele converteu 64% de seus chutes de quadra. Em três pontos, ficou em 73,3%. Nos lances livres, 90%.

11 – O ala foi selecionado no Draft de 2011 na 11ª colocação. Em décimo, o… Sacramento Kings, claro, escolheu Jimmer Fredette, hoje reserva do New Orleans Pelicans. Jornalistas da capital californiana juram que havia muita gente na diretoria do clube que preferia Thompson naquela ocasião.

9 – Foram nove chutes de longa distância para Thompson apenas no terceiro período, sendo que oito deles estavam marcados. Em quatro desses arremessos ele saiu de corta-luz, enquanto outros três vieram em transição. No geral, ele matou 11 tiros de fora, ficando a um do recorde individual em uma partida (compartilhado por Kobe e Donyell Marshall).

O quadro de arremessos de KT no terceiro período

O quadro de arremessos de KT no terceiro período

5 – Thompson ainda encontrou espaço no jogo para dar cinco assistências.

2 – Excluindo James Michael-McAdoo, que acabou de vir da D-League, dois companheiros de time de Thompson não conseguiram fazer nem 37 pontos durante toda a temproada: Brandon Rush, que tem 18 pontos em 21 jogos, e o pivô sérvio Ognjen Kuzmic, que soma 20 pontos em 15 jogos. Ao menos, juntos, os dois conseguem superar o ala, né?

-48 – Thompson, todavia, ainda ficou devendo 48 pontos para o recorde individual da franquia: os 100 pontos de Wilt Chamberlain, claro, como jogador do Warriors, mas ainda na Philadelphia. A segunda maior contagem do clube foi de Stephen Curry, que fez 54 contra os Knicks em 2013.

No vestiário, Stephen Curry assiste aos 37 pontos de Thompson no terceiro quarto

No vestiário, Stephen Curry assiste aos 37 pontos de Thompson no terceiro quarto

* * *

Klay Thompson é pop. A NBA mal dormiu de sexta para sábado. Seguem, então, algumas das declarações mais legais sobre a tempestade promovida pelo ala do Golden State:

“Foi meio que um vulto. Gostaria de poder voltar no tempo e curtir isso um pouco mais, pois em momentos como esse passam realmente muito rapido. Foi maluco, eu nem sei o que aconteceu”, Thompson, o próprio.

“Fui um dos jogadores sortudos por ter atuado ao lado de Michael Jordan, Tim Duncan, David Robinson e alguns dos maiores da história. Mesmo com tantas coisas espetaculares que Michael fez, e ele fazia noite a noite, nunca o vi fazer algo assim”, Steve Kerr, técnico do Warriors. Demais.

“Vocês (repórteres) estão todos me fazendo parecer como se não soubesse, mesmo, o que dizer para a mídia. Eu honestamente não sei o que dizer para vocês”, Draymond Green, o faz-tudo do Warriors.

“Isso é lixo. Se não acreditávamos nisso antes, agora todos acreditamos”, Green novamente, quando questionado sobre a ideia de que não existe o conceito de mão “quente”, confiante no basquete.

“Você não esquenta dessa maneira nem no NBA 2K. Aquele videogame agora já é real. O que Klay fez não foi real”, Green, definitivamente o melhor entrevistado desse timaço do Golden State.

“Cheguei agora depois de ter visto um filme chamado Klay Thompson. Pegou fogo!”, Shaun Livingston, armador reserva do Warriors.

“Foi o melhor filme que já assisti! Obrigado pelo show, Klay”, Marreese Speiths, o sexto homem da equipe, seguindo na mesma temática de Livingston.

“Voando de volta a Chicago e acompanhando Klay Thompson surtando contra o Kings… 37 pontos no terceiro período é algo insano!”, Pau Gasol, no Twitter.

“Se o Klay Thompson não for um All-Star, desisto do basquete de vez”, Anthony Tolliver, ala do Detroit Pistons.