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Arquivo : Kirilenko

Dia de Final Four pela Euroliga: perspectivas para as semis
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Giancarlo Giampietro

O centro da quadra no Palácio dos Esportes em Madri

O centro da quadra no Palácio dos Esportes em Madri

O Final Four da Euroliga tem largada nesta sexta-feira. O Real Madrid é o anfitrião, tendo Fenerbahçe, CSKA e Olympiakos como seus concorrentes na fase decisiva do campeonato europeu de clubes. Pelas semifinais, o clube merengue vai encarar o estreante Fener. Do outro lado, os moscovitas tentam se livrar da fama recente de fregueses de Vassilis Spanoulis.  Os vencedores se cruzam na final domingo. O que está em jogo nesses confrontos?

Bem… Fora o título?

(…)

Toin-oin-oin-oiiiiim.

Isso, fora o título. A ideia aqui é apresentar o contexto em torno de cada um desses pretendentes, o que cada um vai levar para a quadra, em termos de trunfos (são muitos, afinal foram os times que sobreviveram a uma dura linha de corte, acima de 28 adversários) e possíveis limitações (mantendo a lógica, poucas). É impossível apontar um favorito. Concordo absolutamente com o CEO da liga, Jordi Bertomeu: é 25% para cada um. Ou talvez 26% para o Real e 23,3% para os demais, nas contas de Andrei Kirilenko, o craque do CSKA que anunciou que vai se despedir das quadras ao final da temporada. “As chances no Final Four são basicamente iguais para os quatro times. Não posso dizer que um time seja completamente melhor que o outro, diferentemente do ano passado, quando o Maccabi parecia correr por fora. Talvez o Real Madrid ganhe 1% a mais de chance que o resto por estarem em casa, mas acho que cada equipe que chegou aqui mereceu isso, e vão ser dois duelos muito interessantes para os torcedores”, diz o russo.

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Simbora:

Real Madrid

Real, pela nona taça. Agora vai?

Real, pela nona taça. Agora vai?

O que joga a favor: joga em casa… tem dois armadores fantásticos que se chamam Sergio, dinâmicos, agressivos, que se complementam muito bem e são um terror em transição – o elenco todo é formidável, mas a chave para o sucesso recente do Real passa por essa dupla, que oferece tanto no ataque (chute, infiltração, passe) e na defesa (pressão em cima da bola o tempo todo)…  O estilo de Rodríguez e Llull se encaixa perfeitamente com o de Rudy Fernández, ala atlético, talentoso e conhecido por sua capacidade de improvisar em momentos mais apertados, desde que 100% bem fisicamente, tendo sofrido uma torção no tornozelo em 30 de abril. “Não vou falar sobre minha lesão, pois me sinto bem”, disse… A liderança de Felipe Reyes, que realizou sua melhor temporada em muito tempo, com muita consistência e produção elevada em minutos controlados… O espírito combativo de Andrés Nocioni… O pacote multiuso de Gustavo Ayón… Muitas opções no banco de reservas.

O que estaria contra? Hã… jogar em casa? Sacumé, né? Jogar em casa coloca sua torcida ao seu lado, mas sempre vai levantar o receio de que não se pode decepcioná-la. No caso dos merengues especificamente, a tensão é muito maior pelo fato de o time ter perdido as últimas duas decisões, e de virada. Para os que acompanham o futebol tão bem como basquete, vão se lembrar de toda a expectativa que cercava a decisão da Champions League passada, contra o Atlético de Madrid. Toda a expectativa pela décima. Pois no basquete temos um cenário parecido, a busca pela novena, com hashtag #APorLaNovena, e tudo – o Real é o clube que mais venceu a Euroliga, mas não levanta a taça desde 1995. “Todo mundo nos está pedindo para ganhar o Final Four. Jogamos em cas, perdemos as últimas duas finais”, afirma o capitão Felipe Reyes. O veterano pivô ainda citou o fato de os rapazes do futebol terem caído frente a Juventus pelas semis da Champions como um fator a mais de pressão.

Fenerbahçe

O Fener de Bogdan-Bogdan silenciou os campeões do Maccabi nas quartas

O Fener de Bogdan-Bogdan silenciou os campeões do Maccabi nas quartas

O que joga a favor: Zeljko Obradovic, sem dúvida nenhuma. O sérvio busca sua própria novena, e por um quinto clube. Um dos times que guiou rumo ao título roi justamente o Real. Sabe quando? Sí, sí: em 1995. Será que seus jogadores e os torcedores do Fener confiam no seu poder de liderança e conhecimentos do riscado? Com a palavra, o ala-armador Bogdan Bogdanovic, seu jovem compatriota: “O técnico deixa tudo mais fácil para que possamos nos concentrar no jogo. Ele deixa tudo mais fácil”… Aliás, ‘Zoc’ estava totalmente à vontade na coletiva de apresentação do F4 nesta quinta, transformando o evento numa apresentação só sua de standup comedy. Quando soube que Nemanja Bjelica foi eleito o MVP da temporada, tirou uma com seu craque. “Nemanja pode jogar em qualquer posição, fazer qualquer coisa em quadra… Então, Nemanja, prove isso para mim na semifinal”, exclamou, dando aquele tapinha no ombro do compatriota. Sobre o Real de Pablo Laso? “O time gosta de correr, jogadas individuais, isoladas, marcação box com um, pressão quadra toda…. Mais alguma coisa, Pablo?”, sorriu para o adversário e ex-pupilo, um dos campeões de 95. Depois, falou mais sério e com toda a confiança da Sérvia: “Vi quase todas as partidas do Real Madrid nesta temporada: estamos preparados para enfrentá-los”…. Obradovic também tem ao seu dispor um elenco caríssimo e ainda mais versátil que o do oponente, com alas-pivôs (muito) altos, (muito) ágeis e (consideravelmente) habilidosos… Entre eles o MVP Bjelica… O Fener enfim conseguiu reunir suas peças estreladas num só time, crescendo muito durante a competição até varrer o Maccabi Tel Aviv pelas quartas de final, algo dificílimo de se fazer.

O que joga contra? Claro que qualquer um dos times que entram em quadra neste final de semana estarão pressionados. Mas, se fosse fazer um ranking, colocaria o Fener em segundo, a despeito dos traumas do CSKA (mais abaixo). Pois nenhum time turco jamais conquistou a Euroliga, e o investimento do país na modalidade tem sido dos maiores, se não o maior da Europa. A competição é patrocinada pela Turkish Airlines, por exemplo. E mais: o quanto Obradovic teria de paciência para seguir com o projeto adiante no caso de uma derrota neste ano? Não é fácil alcançar essa fase… O Fener tenta levantar o caneco, mas só terá dois jogadores em seu elenco com experiência nesse tipo de situaçao: Nikos Zisis e Jan Vesely. O quanto a cancha de um treinador pode compensar a sensação de novidade para seus atletas? Não que seja um elenco jovem. Mas um clima de F4 é outra história… A rotação de armadores ficou enfraquecida depois da lesão de Ricky Hickman, justamente um cara que foi campeão pelo Maccabi no ano passado.

CSKA Moscou

Kirilenko, perto do fim

Kirilenko, perto do fim

O que joga a favor: a melhor campanha de todo o campeonato, com 25 vitórias e apenas três derrotas, tendo engatado inclusive uma sequência de 15 triunfos consecutivos… Dimitris Itoudis pode ser um treinador principal estreante num Final Four, mas conquistou cinco títulos de Euroliga sendo o braço direito de Obradovic no Panathinaikos… Andrei Kirilenko está em ótima forma física, uma notícia excepcional para o basquete como um todo, que já o tinha como um ex-jogador em atividade devido a tantos problemas físicos que teve em sua curta passagem pelo Brooklyn… E é um AK-47 motivado, já decidido a se aposentar ao final do campeonato, buscando um troféu inédito para seu grande currículo. “Ele se uniu ao time pefeitamente. É surpreendente o quão bem está jogando. É a peça que nos faltava para ganhar o Final Four. Ele merece uma Euroliga”, afirma o armador Aaron Jackson… O fato de o americano Jackson ser o terceiro armador na rotação de Itoudis também nos diz muito sobre o poderio deste elenco. Só mesmo um par Milos Teodosic/Nando De Colo para rivalizar com os Sérgios do Real. Ou até mesmo superá-los: nesta temporada, o sérvio foi eleito para o quinteto ideal, enquanto o francês descolou uma vaga na segunda equipe.

O que joga contra? As recentes decepções. Com seu orçamento invejável e um time sempre fortíssimo em quadra, o CSKA convive com um jejum de títulos desde 2008, com um troféu conquistado justamente em Madri. Desde então, só ficou fora do F4 em 2011, tendo sido vice-campeão em 2009 e 2012 e caído nas semis em 2010 e nos últimos dois anos. O revés mais dolorido sem dúvida foi contra o Olympiakos na final de 2012, com cesta de Georgios Printezis a 0s7 do fim… E eles voltam a enfrentar o Olympikaos nesta sexta, tendo de superar esse trauma psicológico agravado pela surra que tomaram do clube grego na semi de 2013… Agora, por que eles não estariam mais pressionados que o Fener, então? Simplesmente pelo fato de o clube moscovita ser gigante demais no mercado europeu, como presença constante na briga pelo título e também pelo fato de ter uma torcida bem… Morna – e, de certa forma, mimada. O Palacio de Deportes de la Comunidad de Madrid (ou Barclay Card Center, desde julho de 2014…) vai bombar, e é provável que não se ouça nenhum pio dos russos nas arquibancadas, esmagados que serão pelos torcedores gregos. A cobrança vem muio mais de uma diretoria cheia de pompa.

Olympiakos

A celebração com Printezis na série dramática contra o Barça: cesta no estouro do cronômetro pelo Jogo 5

A celebração com Printezis na série dramática contra o Barça: cesta no estouro do cronômetro pelo Jogo 5

O que joga a favor: um núcleo formado por Vassilis Spanoulis, Printezis, Vangelis Mantzaris e Kostas Sloukas, que jogam junto há muito tempo e foram bicampeões em 2012-2013. Eles sabem o que é preciso fazer para chegar lá, não há dúvida, mostrando resiliência impressionante em ambas as conquistas, para derrubar times mais caros (CSKA e Real), correndo atrás do placar em ambas as decisões… Para tanto, contaram e contam com o poder de decisão de Spanoulis, já uma lenda viva do basquete europeu… Ser um azarão? É meio estranho se referir assim a um time que já conquistou dois títulos na década, mas, se o time não é uma surpresa nessa fase decisiva – tal como foi o Maccabi no ano passado –, em termos de poderio financeiro está claramente um degrau abaixo dos demais concorrentes. Além disso, as próprias conquistas já dão ao time uma proteção para qualquer eventualidade. “É o terceiro Final Four para nós em quatro anos, e não sei como. Acho que a pressão que sentimos agora é menor do que nos anteriores”, diz Printezis, também um matador na hora H ao seu modo, depois de bater o cronômetro mais uma vez nesta temporada em uma vitória emocionante sobre o Barcelona, no quinto e derradeiro jogo das quartas de final. “Ter menos pressão não significa que não estejamos preparados e com desejo de vencer de novo”, avisa.

O que joga contra: a dependência de Spanoulis para produzir no ataque. O craque sofreu novamente com problemas no joelho durante a campanha, chegando a perder um mês de jogos. Mantzaris assegura que seu companheiro e ídolo de adolescência está tinindo: “Acho que neste ano vi seu jogo ainda mais maduro. Essa é uma das razões pelas quais estamos aqui, e ele realmente está em ótima forma”, diz o armador… A rotação de pivôs é vulnerável. Os americanos Bryant Dunston e Othello Hunter jogam pesado e tendem a acumular faltas (na temporada, tiveram média, respectivamente, de 3,0 e 2,6 por jogo). Depois deles, a terceira opção seria Vasileios Kavvadas, de 24 anos e que disputou apenas 11 jogos durante a temporada – não está preparado para um evento desses.

Os confrontos
CSKA x Olympiakos, 13 h (horário de Brasília): o aspecto psicológico já explanado acima é o componente mais intrigante da partida, não há dúvida. Cinco jogadores do CSKA (Kirilenko, Khryapa, Teodosic, Kaun e Vorontsevich) estavam em quadra durante o colapso de 2012, quando a equipe vencia a decisão por 19 pontos no terceiro período até ser derrotada por 62 a 51. Um episódio desses poderia servir para motivá-los a dar o troco, mas não dá para esquecer que logo no ano seguinte eles se reencontraram, e deu lavada do time de Pireus: 69 a 52.

Se formos reparar em ambos os placares, nota-se um escore baixo. É a receita de jogo que o Olympiakos vai tentar – e precisa – repetir nesta sexta, para poder desbancar os russos. Para tanto, ajuda o fato de terem a melhor defesa da competição. “Qualquer um pode ver por nossas estatísticas que começamos a partir da defesa, mesmo”, diz Mantzaris. No ataque, cronômetro explorado até o fim, e as combinações de pick and roll de sempre com Spanoulis, se aproveitando do corta-luz de figuras atléticas e vigorosas como Dunston e Hunter e rodeado por grandes arremessadores como Lojeski e Sloukas. Se o time grego não conseguir impor esse ritmo lento para a partida, tende a se lascar. “Acho que estamos na melhor forma possível. O Olympiakos é obviamente um dos times mais duros da Euroliga. Eles te forçam a jogar fora da sua zona de conforto, com um jogo amarrado.

O CSKA de Itoudis tem um plano tático muito mais aberto que o de Ettore Messina, para construir o melhor ataque da competição, com um jogo mortal em transição. Em meia quadra, porém, o time é igualmente eficiente, com o melhor aproveitamento de três pontos da competição (41,85%!), diversos atletas de excelente corte para a cesta (De Colo, Jackson, Weems, Hines) e toda a inteligência nos deslocamentos fora da bola de Kirilenko. Dá muito trabalho vigiar o veterano russo e ao mesmo tempo cuidar para que os chutadores não se desmarquem. Como se não fosse o bastante, é preciso cuidado com a tábua defensiva. “Algo importante para nós é o rebote, porque eles têm vários caras grandes que atacam a tabela, especialmente com Kirilenko na posição 3”, admite Hunter.

Real Madrid x Fenerbahçe: um confronto muito, mas muito intrigante. Os dois times têm capacidade de correr pela quadra toda, mas meu palpite é de que Obradovic vai querer desacelerar as coisas. Afinal, é com a transição a mil por hora que o Real pratica seu melhor basquete, e eles estarão jogando energizados pelo apoio da torcida. Então que tal forçá-los a jogar em meia quadra, numa partida de mínimos detalhes, e tentar usar a pressão do público a seu favor? Foi um estilo praticado pelo Fener  na reta final da temporada, com resultados excepcionais: 13 vitórias nos últimos 14 jogos. Detalhe: o time turco já venceu CSKA, Olympiakos e Maccabi Tel Aviv como visitante.

A grande questão para os turcos será a defesa contra Rodríguez e Llull. O garoto Kenan Sipahi, de 19 anos, pode ter grande responsabilidade para tentar parar um deles, ajudando Zisis e Andrew Goudelock. “Temos de afastá-los da linha de três pontos e também pará-los em transição. Precisamos bagunçar com a intensidade deles”, diz o cestinha americano. O melhor mesmo, é traçar uma estratégia coletiva para conter esses armadores inventivos e fogosos, com a ajuda de uma linha de frente bastante flexível, com Bjelica, Vesely, Preldzic e mesmo Erden. O que não quer dizer que os armadores do Real também não tenham preocupações defensivas. Algum deles vai ter de vigiar Goudelock de perto, mas bem de perto, mesmo. O mínimo de espaço é suficiente para o “MiniMamba” castigar do perímetro. Longe da cesta, vai ser bacana de ver o embate entre Rudy Fernández e Bogdan-Bogdanovic tabém. Isso se Obradovic não apelar a formações mais altas com Preldzic.
Esse grupo, inclusive, leva uma vantagem atlética considerável em relação aos pivôs do Real, cuja maioria é de jogo terrestre. Para combatê-los, o americano Marcus Slaughter deve ter um papel relevante. Os fundamentos de bloqueio e movimentação de pés de Reyes e Ayón serão muito exigidos para a coleta dos rebotes. Além disso, fica a questão sobre como os merengues vão reagir no momento em que Bjelica tiver a bola na cabeça do garrafão para a atacar a cesta de frente, com muito mais mobilidade. “Eles têm um jogador 4 que joga como armador. É um aspecto diferente na Europa. Não são muitos os jogadores que conseguem fazer o que o MVP faz”, diz Slaughter.


O Final Four 2015 da Euroliga em números
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Giancarlo Giampietro

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A maior competição de basquete do mundo (Fiba) aguarda um novo campeão. Nesta sexta-feira temos as semis, com o anfitrião Real Madrid, bastante pressionado, enfrentando o estreante Fenerbahçe, do legendário Zeljko Obradovic, enquanto o CSKA Moscou reencontra um pesadelo na forma de Olympiakos, clube pelo qual foi derrotado de maneira inacreditável na decisão de 2012.

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A disputa por medalhas acontece domingo. Antes de falar sobre os jogos em si, seus principais personagens e tal, segue um apanhado estatístico sobre o evento. #F4Glory:

17 – É a soma de títulos entre os quatro candidatos deste ano, com o Real puxando a fila, com oito, seguido por CSKA (seis) e Olympiakos (três). O Fenerbahçe luta pelo caneco pela primeira vez. O detalhe é que o Real não ganha a parada desde 1995, quando era dirigido por Zoc Obradovic, justamente o atual comandante do Fener.

16 – Os jogadores que já tiveram passagem pela NBA e que estão relacionados para os próximos quatro jogos. O clube que tem mais representantes nesse sentido é o CSKA Moscou, com Andrei Kirilenko (ele, mesmo), Nando De Colo (Spurs, Raptors), Demetris Nichols (Cavs, Bulls e Knicks), Sonny Weems (Raptors e Nuggets), e Victor Khryapa (Bulls, Blazers, alguém com quem a liga não teve paciência, infelizmente). Sempre com o asterisco de que nem sempre o selo da liga americana vale para alguma coisa no cenário europeu. Que o diga a dupla do Olympiakos Vassilis Spanoulis e Oliver Lafayette. Enquanto o genial armador grego foi desprezado de modo inacreditável por Jeff Van Gundy durante toda uma temporada em Houston, Lafayette, hoje da seleção croata, fez apenas uma partida em sua vida pelo Boston Celtics. Então o conceito de NBA é relativo: tanto Spanoulis merecia muito mais chances no time de Yao e T-Mac, como Lafayette passou batido por lá e só foi se desenvolver na Europa, mesmo.

AK 47 reencontra o Olympiakos após frustração em 2012

AK 47 reencontra o Olympiakos após frustração em 2012

15 – Levando em conta os atletas utilizados durante a campanha, o elenco dos quatro semifinalistas reúne 15 nacionalidades diferentes. A pátria com mais representantes numa Euroliga? Os Estados Unidos da América, claro, com um contingente de também 15 jogadores: Weems, Nichols, Aaron Jackson, Kyle Hines (CSKA); Andrew Goudelock, Ricky Hickman (Fenerbahçe); KC Rivers, Marcus Slaughter, Jaycee Carroll (Real Madrid); Brent Petway, Othello Hunter, Bryant Dunston, Lafayette e Tremmell Darden (Olympiakos). Os demais: 12 gregos, oito turcos, oito russos, quatro espanhóis, três sérvios, dois argentinos (nossos amigos Nocioni e Campazzo, ambos do Real). O resto aparece com um cada: Croácia, França, Lituânia, México, Bielorrússia, Geórgia, República Tcheca e Tunísia. Com a eliminação do Barça de Huertas, pelas quartas de final, e do Limoges de JP Batista, pela primeira fase), não restou nenhum brasileiro – no evento principal, no caso, pois nas finais do torneio juvenil, o Adidas Next Generation tournament, consta o pirulão Felipe dos Anjos, de 17 anos, pivô de 2,18 m do Real Madrid.

14 – Este é o 14º Final Four da carreira de Obradovic, o técnico do Fenerbahçe, com seis clubes diferentes, sendo o recordista disparado em ambos os quesitos. Em suas 13 tentativas anteriores, ganhou impressionantes oito títulos. Se fosse um clube, estaria empatado com o Real Madrid, o único octocampeão. Foi bem-sucedido com o Partizan Belgrado em 1992, o Joventut Badalona em 1994, o Real Madrid em 1995 e o Panathinaikos em 2000, 2002, 2007, 2009 e 2011. Tá bom? A única equipe que o sérvio falhou em levar ao F4 foi o Benetton Treviso, em 1998. Em termos de equipes, o CSKA Moscou é aquela que mais disputou as semis da Euroliga, chegando perto do título também em 14 ocasiões – no formato moderno, de 1988 para cá, já contando esta edição. Triunfou em 2005, 06 e 08. O Olympiakos tem dez aparições, enquanto o Real Madrid, oito. Entre os atletas, Victor Khryapa, um ícone do clube, chega ao seu décimo.

Zoc de novo, agora pelo Fener

Zoc de novo, agora pelo Fener

10 – Na revanche entre CSKA e Olympiakos, estarão presentes em quadra nove atletas que disputaram a histórica decisão de 2012, decidida com uma bola de Georgios Printezis no estouro do cronômetro. O próprio Printezis segue defendendo o clube grego, ao lado dos compatriotas Spanoulis, Vangelis Mantzaris e Kostas Sloukas. Pelo fronte russo, temos Kirilenko (que saiu e voltou, após passagens por Minnesota e Brooklyn), Khryapa, Teodosic, Sasha Kaun e Andrey Vorontsevich, além do pivô norte-americano Hines, que vive um momento especial, ou estranho, campeão há três anos e que virou a casaca.

7 – A Euroliga já anunciou as seleções da temporada. Dos 10 jogadores apontados, sete vão jogar o Final Four: Milos Teodosic (CKSA), Spanoulis (Olympiakos), Bjelica (Fenerbahçe) e Felipe Reyes (Real Madrid) no primeiro time, enquanto Nando De Colo (CSKA), Andrew Goudelock (Fener) e Rudy Fernández (Real) aparecem na segunda equipe. O gigante sérvio Boban Marjanovic, do Estrela Vermelha, completa o quinteto ideal, enquanto a segunda unidade conta ainda com o ala Devin Smith, do Maccabi Tel Aviv, e com o pivô croata Ante Tomic, do Barcelona.

Spanoulis, Teodosic, Bjelica, Reyes e Marjanovic

Spanoulis, Teodosic, Bjelica, Reyes e Marjanovic

6 – Os clubes da NBA possuem os direitos sobre meia dúzia de atletas dos quatro melhores clubes da temporada europeia. Caras que já foram draftados no passado, mas que ainda não cruzaram o Atlântico. São eles: Sasha Kaun (30 anos, CSKA/56º em 2008, pelo Cavs); Emir Preldzic (27 anos, Fenerbahçe/57º  em 2009, pelo Cavs, mas cujos direitos hoje pertencem ao Mavericks); Nemanja Bjelica (27 anos, Fenerbahçe/35º em 2010, pelo Minnesota Timberwolves); Bogdan Bogdanovic (22 anos, Fenerbahçe/27º pelo Suns, em 2014); Georgios Printezis (30, Olympiakos/ 58º em 2007, pelo Raptors, mas cujos direitos hoje pertencem ao Hawks; Sergio Llull (Real Madrid/34º pelo Rockets, em 2009).

 4 – A superpotência CSKA chega ao seu quarto Final Four consecutivo, tendo terminado em segundo, terceiro e quarto, respectivamente, nas últimas três edições. Após dois vice-campeonatos, o Real joga pela terceira vez seguida, enquanto o Olympiakos retorna após o bi de 2012 e 2013.

PS: O canal Sports+ transmite o Final Four da Euroliga com exclusividade. Estou nessa com a companhia dos chapas Ricardo Bulgarelli, Maurício Bonato e Rafael Spinelli.


Euroligado: as coisas ficam mais nebulosas
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Giancarlo Giampietro

Andrei Kirilenko está de volta ao CSKA. Enferrujado que só

Andrei Kirilenko está de volta ao CSKA. Enferrujado que só

Dentre tantas possibilidades de “Mal do Século” do jornalismo, no Brasil, na Suécia ou na Cochinchina, a capacidade de reagir de modo exagerado a uma notícia lá na parte de cima do ranking. Então não é porque o CSKA Moscou sofreu a segunda derrota nas últimas três rodadas, que tudo o que o time construiu até este momento precisa ser demolido pela crítica. Mas que as coisas na Euroliga ficaram mais nebulosas e, por isso, mais interessantes? Ah, se ficaram.

De líder e favorito disparado um mês atrás, com 15 vitórias seguidas, o clube russo agora se vê na terceira posição do Grupo F, o Grupo da Morte que, com o perdão da confusão, já não parece mais tão mortal assim – mas, de repente, pode ser, sim. Hoje, nos despedindo de fevereiro rumo a março, temos nas duas chaves do Top 16 um clima de suspense no ar.

(Clima de suspense no ar: taí um clichê que não pode ser descartado, né? A sonoridade da frase supera o desgaste do uso corrente.)

Responsável pela quebra da invencibilidade do CSKA há três semanas, o Olympiakos agora lidera o grupo, com sete vitórias e uma derrota, no início do returno, restando seis partidas pela frente. Protagonista da segunda derrota moscovita, o Fenerbahçe agora pulou para segundo, com as mesmas seis vitórias e duas derrotas de sua vítima, mas levando a melhor no saldo de pontos do duelo. Lembrem-se que os dois primeiros ganham mando de quadra nas quartas de final – e, numa série melhor-de-cinco, isso conta muito. Mas este não é o único drama a ser explorado: na quarta posição, tendo perdido o confronto direto nesta sexta, Anadolu já se vê incomodamente pressionado pelo Laboral Kutxa, algo que parecia impensável há pouco tempo atrás.

Do outro lado, no Grupo F, a história para ser acompanhada é a tentativa de reação do Barcelona de Huertas. Depois de sofrer três derrotas no primeiro turno, estando no quarto lugar, o clube catalão tem a missão de superar o Panathinaikos e o Maccabi Tel Aviv dentro da zona de classificação. Ao menos o dramático triunfo diante do Alba Berlin rende um pouco de conforto em relação a sua vaga nos mata-matas.

O jogo da rodada: CSKA Moscou 75 x 81 Fenerbahçe

Pode comemorar, Fener. Foi uma baita vitória

Pode comemorar, Fener. Foi uma baita vitória

Foi a partida que passamos ao vivo pelo Sports+ nesta sexta, ao lado do Mauricio Bonato. Daquelas que, ao final da transmissão, você se sente um sortudo de ter participado. Apelamos aqui a mais um clichê, então: aquele que evoca o boxe para fazer metáforas em outros esportes. Pois foi como uma luta franca de pesos pesados, mesmo, cada um trocando golpes até que, no minuto final, um ato de descontrole de Milos Teodosic pois tudo a perder para os anfitriões. Foi para estragar a festa de Andrei Kirilenko.

Sim, o Kirilenko! Quem se lembra dele? Relegado ao ostracismo da NBA após sofrer com dores crônicas nas costas e também bater de frente com Lionel Hollins, o astro russo foi mandado para Philadelphia. O que hoje, a liga americana, é o mais próximo que temos da Sibéria. AK47, claro, nem mesmo se apresentou ao clube. Até que, passada a data final para trocas, sem que ninguém demonstrasse interesse significativo em tirá-lo do Sixers, ele assinou sua rescisão contratual enfim e fechou prontamente com o CSKA, clube pelo qual foi o MVP em 2012. Resta saber se o craque vai conseguir entrar em forma para ajudar a equipe na reta final europeia. Outra questão fica por conta da tão sagrada química: o ala-pivô Andrei Vorontsevich, por exemplo, está jogando muito bem e seria uma tremenda injustiça se lhe tirassem muitos minutos. Vamos acompanhar.

Contra o Fener, o veterano jogou por apenas cinco minutinhos, claramente enferrujado. Marcou dois pontos e deu uma bela assistência para cravada de Sasha Kaun, que lhe prestou todas as homenagens e reverências em quadra. Tem moral, claro. De destaque, mesmo, fica seu corte de cabelo bem comportado. Era até difícil de identificá-lo em quadra.

Não foi a melhor partida para se estrear. O clube turco chegou a Moscou disposto a jogar duro, conseguindo a proeza de limitar o ataque adversário a míseros dez pontos no primeiro quarto. Na segunda parcial, porém, tudo mudou, com o CSKA marcando 27 pontos para tirar o atraso. No intervalo, os visitantes venciam por dois pontos (39 a 37).

Apesar de ver o rival deslanchar, Zeljko Obradovic deve ter ficado satisfeito pelo que seus rapazes fizeram em quadra. No duelo com seu pupilo, ex-braço direito e compadre Dimitris Itoudis, o sérvio optou por um jogo truncado, de meia quadra, anulando as possibilidades de jogo em transição para a equipe russa, algo que faz tão bem. Também soube preparar um esquema para limitar os tiros de três pontos, com muito sucesso (levou apenas cinco em 20, 25%). Outro setor que funcionou: a disputa pelos rebotes, com 16 ofensivos e 43 no geral.

Em termos de destaques individuais, também vale mencionar  Jan Vesely, que, com sua sua capacidade atlética invejável, também marcou presença no garrafão, com 14 pontos, 5 rebotes e inacreditáveis 80% nos lances livres (4/5, sendo que sua média na temporada de 39%). Voltando de lesão, Bogdan Bogdanovic se desdobrou na defesa e ainda contribuiu com 13 pontos. Nemanja Bjelica somou um duplo-duplo de 11 pontos e 13 rebotes em apenas 25 minutos e teve muito sangue frio no final para selar o triunfo.

Foi necessário, já que no segundo tempo as equipes se alternaram constantemente no placar. Perdi a conta de quantas vezes trocaram uma liderança de um só pontinho no quarto período. Até que, no minuto final, Teodosic reclamou uma barbaridade de uma falta marcada em disputa de rebote ofensivo e foi expulso de quadra – um raro momento de destempero para o genioso armador nesta temporada, a melhor de sua carreira. Foi um estrago daqueles: seu compatriota Bjelica teve quatro lances livres para cobrar, matando três. Na posse de bola seguinte, Bogdanovic acertou mais um lance livre, e a vantagem do Fenerbahçe chegou a 78 a 72. Aí já era.

Na trilha de Huertas

Satoransky, agora titular

Satoransky, agora titular

Já havia acontecido na decisão da Copa do Rei contra o Real, com o Barça saindo derrotado, mas a notícia aqui é que o armador brasileiro perdeu seu posto de titular para Tomas Satoransky. O jovem tcheco abraçou a chance que ganhou de Xavier Pascual e ajudou o clube espanhol a vencer o Alba Berlin, apenas na prorrogação, com 11 pontos e 8 assistências em 28 minutos. Huertas jogou por apenas 16 minutos e terminou com 5 pontos e 2 assistências. Juan Carlos Navarro retornou, com 14 pontos em 19 minutos, com 6/6 nos lances livres.

Lembra dele? Samardo Samuels (Olimpia Milano)
É, a gente poderia falar que Samuels foi aquele brutamontes que acompanhou Anderson Varejão nos anos de pindaíba do Cleveland Cavaliers pós-e-pré-LeBron. Mas, no fim, depois de uma fatídica Copa América de 2013 para o basquete brasileiro, a referência obrigatória ao atleta se tornou a Jamaica, que terminou de humilhar a seleção de Rubén Magnano na Venezuela com uma vitória/derrota histórica. Dureza. Pois bem. O pivô está hoje em sua segunda temporada Olimpia Milano. Na quinta, teve talvez aquela que seja a partida de sua vida, ao acumular 36 pontos (27 no primeiro tempo!), 9 rebotes e um índice de eficiência de 47 pontos, completamente anormal para os padrões da liga, em vitória sobre o Nizhny Novgorod por 85 a 76. Ele converteu 14 de seus 16 arremessos de dois pontos, um recorde na fase de top 16. Como diria o Bonato, saca só:

Em números
119 – É o saldo de pontos do Real Madrid após oito rodadas do Top 16. O mesmo Real que já suscitou textos e textos na imprensa espanhola sobre uma suposta crise interna no departamento de basquete do clube, sobre a possível demissão de Pablo Laso e tudo mais. O time realmente fez alguns jogos preocupantes na temporada, mas, no geral, vai se acertando desde o retorno de Rudy Fernández de uma cirurgia na mão direita. Para relativizar o saldo, o CSKA é aquele que mais se aproxima dessa marca nessa fase, com 64.

10 – Mais uma rodada de Euroliga, mais uma atuação formidável de Vassilis Spanoulis, que liderou o Olympiakos a uma vitória por 77 a 72 sobre o lanterninha Unicaja Málaga. O armador grego teve aproveitamento de 100% nos lances livres, acertando todas as duas 10 tentativas. Também distribuiu 10 assistências em um duplo-duplo com 18 pontos.

9 – Juntos, os ‘armadores’ Darius Adams e Mike James somaram 9 turnovers pelo Laboral Kutxa, justamente no confronto com Thoma Heurtel, o antigo titular da posição no clube basco, hoje no Anadolu. Ainda assim, com uma excelente partida do pivô Colton Iverson, a equipe espanhola conseguiu uma importantíssima e surpreendente vitória, por 87 a 84. O grandalhão, cujos direitos na NBA pertencem ao Boston Celtics, marcou 17 pontos e pegou 11 rebotes em 24 minutos. Do seu lado, Heurtel saiu de quadra com 17 pontos e 5 assistências em 26 minutos. Juntos, os esfomeados Adams e James ficaram com 8 pontos e 6 assistências. Que coisa.

7 – Talvez o Fenerbahçe nem se importe com isso de mando de quadra nas quartas de final. Em Moscou, o time de Obradovic chegou a sua sétima vitória consecutiva fora de casa.

As jogadas da semana


Ano novo, vida nova? As figuras da NBA que pedem uma virada
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Giancarlo Giampietro

Danny Granger, agora feliz do outro lado, em Miami

Danny Granger, agora feliz do outro lado, em Miami

Para muitos, a carreira de Danny Granger já estava encerrada. O ala havia passado por uma cirurgia no joelho esquerdo em abril de 2013, por conta de uma tendinose (sim, existe tendinite e a tendinose) que simplesmente não o deixava em paz. O veterano mal havia participado da campanha 2012-2013, fazendo tratamentos alternativos, separado do restante do elenco do Indiana Pacers, na esperança de se aprontar para ajudar a emergente equipe em batalhas com o Miami Heat. Não deu certo, e acabou indo para a sala de operação.

Depois de uma lenta recuperação, retornou ao Pacers para a campanha 2013-2014, já transformado, na melhor das hipóteses, em sexto homem, perdendo terreno para Paul George e Lance Stephenson. Por 29 partidas, ele simplesmente não conseguiu encontrar seu ritmo ideal. Não passou de 36% no aproveitamento dos arremessos – estatisticamente, na verdade, era o pior rendimento de sua carreira, muito pior até mesmo do que seu ano de novato, beeeem distante da forma que lhe valeu uma única indicação a All-Star em 2009. O desempenho foi tão aquém do esperado que Larry Bird, na ânsia de conseguir mais um trunfo para tentar, enfim, desbancar LeBron e Wade, não viu problema em despachar seu capitão para a Sibéria Filadélfia, em troca do irregular Evan Turner. Quer dizer: Bird desistitiu de Granger.

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O veterano rescindiu seu contrato com o Sixers e fechou com o Los Angeles Clippers, do outro lado do país, ao menos se encaixando em outro time com aspiração ao título. Vindo do banco, conseguiu elevar seu rendimento a um patamar minimamente satisfatório, mas sem lembrar em nada uma força ofensiva que fosse ameaçadora. Daí a surpresa quando Pat Riley, pressionado, talvez num ato de desespero, escolheu o ex-ala do Pacers, seu antigo rival de playoffs, num pacote de reforços de última hora ao lado de Josh McRoberts para tentar convencer LeBron a ficar na Flórida. Claro que não deu certo.

Foram 19 pontos para Granger contra o Memphis, antes dos 21 contra o Orlando Magic

Foram 19 pontos para Granger contra o Memphis, antes dos 21 contra o Orlando Magic

O Miami fechou, então, com Luol Deng para cobrir a lacuna aberta no quinteto titular – mesmo que essa fosse, em teoria, uma posição que Granger pudesse ocupar. A verdade era que Riley e o técnico Erik Spoelstra ainda não sabiam exatamente o que esperar do ala, ainda mais depois de ele ter passado por uma segunda cirurgia no joelho dois meses antes de se apresentar ao clube. Só imaginavam que, dado o histórico do clube para reabilitar quase-aposentados (desde os tempos de Tim Hardaway nos anos 90, até os mais recentes casos de Rashard Lewis e Chris Andersen), valia a aposta. “Não sabíamos o estado dele para valer, mas conhecíamos nossos próprios registros com casos semelhantes, vindo de lesões, por volta dessa idade. Sabíamos que, se eles se comprometessem a trabalhar, que talvez eles precisassem da oportunidade certa, no lugar certo”, diz Spo.

Vendo o que o ala realizou nas últimas partidas, pode ser que tenha sido uma cartada certeira. “Era para ser um processo longo, mas ele já está adiantado. Pensávamos que isso iria acontecer só no Ano Novo”, afirmou. Granger primeiro recebeu minutos nas 11ª e 12ª partidas do Miami. Depois, nas 18ª e 19ª.  Voltou a ser aproveitado entre as 22ª e 24ª. Não animou muito e ficou parado por mais quatro jornadas, até ser inserido de vez na rotação. Então, no jogo mais esperado do calendário, com o retorno de LeBron no dia de Natal e transmissão, ele marcou 9 pontos, cinco dos quais em um momento crucial do quarto período, para esfriar uma reação do Cleveland Cavaliers. Nas duas partidas seguintes, marcou 39 pontos e converteu 70% dos seus arremessos, saindo do banco, com direito a oito cestas de três pontos. “O que ele fez neste último par de jogos foi fenomenal”, afirmou Dwyane Wade.

Claro que está muito cedo para celebrar dessa forma. O desafio do jogador é justamente sustentar uma sequência produtiva, consistente e com durabilidade, algo que não acontece há mais de dois anos. Nesse caso, não bastaria apenas a conversão de seus arremessos feito um James Jones, mas também se pede boa movimentação pela quadra, especialmente na defesa – o Miami precisa de toda a ajuda possível neste momento.

De qualquer forma, sabe da melhor? A crescente de Granger veio justamente nas vésperas de seu reencontro com o Indiana Pacers. Dá para ter melhor timing que esse? E mais: precisava ser justamente nesta quarta-feira, na noite da virada de ano? Não poderia ser mais emblemático, mesmo.

Agora, num universo de mais de 400 jogadores, são diversos os atletas que precisam de, senão de um recomeço, ao menos de um momento de virada em suas carreiras:

Todo o elenco do New York Knicks: Quer dizer, menos Cole Aldrich, Quincy Acy e Travis Wear, para quem a vida anda muito bem, obrigado. De resto, na pior campanha da história da franquia, o povo anda numa penúria que só. Se for para escolher um nome, porém, ficaríamos entre JR Smith e Andrea Bargnani. O ala-armador sempre foi o principal candidato a estranhar e odiar o sistema de triângulos. Esfomeado, de vista que só enxerga bem a cesta e nada mais, está agora convenientemente afastado de quadra devido a uma ruptura na fáscia plantar (algo que, acho, podemos traduzir como “sola do pé” no populacho). Já Bargnani não jogou sequer um minuto na temporada, por conta de uma ruptura de tendão no cotovelo. Sua estreia pode acontecer também nesta quarta, contra o Sixers. Difícil é encontrar alguém que ainda confie nesses caras. Smith só fez seu desempenho cair desde sua participação desastrosa nos playoffs de 2013. Para o italiano, Nova York, na verdade, já representava uma chance de recomeço, ao sair escorraçado de Toronto. Phil Jackson já disse que não topa nenhuma negociação que vá atrapalhar os planos dos Bockers no mercado de agentes livres. Não vai receber nenhum contrato indesejado que dure mais que os atuais.

A triste história de uma escolha de número um de Draft vinda da Itália

A triste história de uma escolha de número um de Draft vinda da Itália

– Bem, Josh Smith já ganhou, de certa forma, sua Mega-Sena da virada particular.

Andrei Kirilenko: pobre AK-47. Sob o comando de Jason Kidd, o ala tinha tudo para brilhar em Brooklyn, considerando a predisposição do jovem treinador para fazer o uso máximo de atletas híbridos, versáteis. Aí as costas não deixaram. Quando alegou estar bem fisicamente, veio Lionel Hollins, um técnico que conseguiu belos resultados em Memphis, mas que tem visão beeeem quadrada sobre o basquete (“Pivô bom? Só se jogar de costas para a cesta” etc.) Aí que o russo foi afastado da rotação, sem muita explicação, até se tornar o mais novo caso de banimento para a Filadélfia.A ironia é que, quando Kirilenko fechou com o Nets em 2013, houve uma choradeira geral na NBA: a de que havia um acordo por fora com o compatriota Mikhail Prokhorov, uma vez que ele havia aceitado um salário bem inferior ao seu valor de mercado.

Funciona assim, a propósito: a) um time precisa se livrar de um contrato, seja para abrir espaço no teto salarial, ou para diminuir as multas por excesso de gastança; b) o gerente geral liga para Sam Hinkie, chefão do Sixers, o time que nem mesmo cumpre a folha salarial mínima da liga e tem espaço para absorver qualquer tranqueira; c) Hinkie vai levantar o inventário do time que está ligando, para, d) rapelar mais algumas escolhas de Draft, até chegar o momento em que Philly vai ter 98% dos picks de todas as segundas rodadas da década; e) contrariado, mas sem ter muito o que fazer (ao menos ele vai economizar uns tostões, o que sempre agrada a qualquer proprietário de franquia), o cartola paga tudo o que o algoz solicita.

Deron e AK47 eram felizes em Salt Lake City e mal sabiam

Deron e AK47 eram felizes em Salt Lake City e mal sabiam

Foi o que aconteceu com Kirilenko. E pior: ao contrário da maioria dos atletas despachados para lá, Hinkie quer que o russo realmente se apresenta para jogar. Não porque conta com o medalhista de bronze olímpico para reforçar sua equipe, mas, sim, por vislumbrar uma nova troca para ele daqui a um mês – se ele jogar bem, vai aparecer algum time que sonhe com o título a pagar ainda mais pelo cara, saca? Mais escolhas de Draft! Obviamente que o russo não quer saber de virar um peão num joguete desses. Ele só quer liberdade. Se for dispensado, imagine se o San Antonio Spurs encontra um meio de contratá-lo (rompendo, vá lá, com Austin Daye)? O mundo precisa disso.

Deron Williams: Por falar em Brooklyn Nets, conheça o astro de US$ 20 milhões (US$ 19,8 mi, para ser mais preciso) que conseguiu uma proeza: virar reserva de Jarret Jack! Nada contra o novo titular, gente. Mas é que o veterano sempre foi conhecido em sua carreira justamente como o principal concorrente de Steve Blake  à condição de “armador reserva dos sonhos de todo e qualquer treinador”. Ao menos por hora, acabou essa história para Jack. Deron perdeu duas partidas devido a uma contusão na panturrilha e, quando voltou, estava no banco. Em entrevista pós-jogo, supôs que era por medida cautelar de Lionel Hollins. Ao que o treinador respondeu: “Não sabia que eu estava controlando os minutos dele”. Ui. Será que Sacramento, então, ainda topa conversar a respeito? Veja bem, Vivek. Já sabemos que vocês querem o Mason P, que está jogando demais, mesmo, e seria ótimo complemento para o Boogie. Mas… repare que o Sacramento está caindo pelas tabelas na conferência! E que isso talvez não tenha a ver com a meningite mardita que tirou o Boogie de ação, ou com a demissão de um técnico que havia colocado o time em boas condições de competir! O que isso significa? Significa que é hora de fazer mais uma troca por um astro renegado! Deu certo com o Rudy Gay, vai dar certo com o Deron também! Tro-ca já.

Lance Stephenson: é, Lance, a essa altura, você tem de agradecer pela lesão que Al Jefferson sofreu na virilha, que vai tirar o pivô de quadra por um mínimo de quatro semanas. Ufa, né? Pois estava ficando feio: foi só o ala-armador sair de cena com uma torção pélvica (!?!?), que o Charlotte Hornets começou a vencer. Eram quatro triunfos consecutivos já, reforçando a tese de que o talentoso e intempestivo jogador era o problema. Segundo o RealGM, porém, tanto a diretoria quanto Stephenson chegaram a um consenso de que ainda está cedo para romper. Da parte do clube, resta saber apenas se isso não foi motivado pelo simples fato de que as ofertas que chegaram não animavam muito. O Indiana Pacers, por exemplo, flertou com a possibilidade de repatriá-lo. Ao que parece, segundo diversas reportagens, seus antigos companheiros não se animaram muito com a ideia, não. Então parece que, se quiser encontrar paz, Stephenson vai ter de se virar em Charlotte, mesmo, ajudando Kemba Walker, em vez de se meter no caminho do armador, especialmente num momento sem Jefferson.

Vai tudo para a conta de Blatt, mesmo?

Vai tudo para a conta de Blatt, mesmo?

David Blatt: cogitar a demissão de um treinador estreante na NBA, com menos de seis meses no cargo? As coisas em Cleveland parecem não mudar nunca, mesmo, com trono ocupado ou vazio. O Cavs ainda deixa a desejar na defesa, é verdade, especialmente a proteção do garrafão, algo que sempre foi uma preocupação, devido a sua dependência de Anderson Varejão. Havia uma carência clara no elenco. Caberia a Blatt encontrar algum sistema para remediar isso, claro, e até agora não rolou. Talvez os jogadores não estejam escutando Blatt? Pois é. Mas essa não foi a mesma história com os últimos dois treinadores que passaram por lá? Irving e Waiters são reincidentes. Além disso, LeBron tem um comportamento no mínimo suspeito desde que voltou. Berra com companheiros em quadra, enquanto ele mesmo demora para voltar na transição defensiva. Diz a repórteres que estava em “modo relaxa-e-goza” contra o Orlando Magic, depois de uma preocupante derrota na véspera, para o Miami. Não importava, então? Ele age como se tivesse conquistado tudo de que precisava e, agora, era hora apenas de curtir o fato de estar perto de caso. No mesmo jogo contra o Heat, Kevin Love perdeu rebotes para Mario Chalmers e Norris Cole, enquanto vagava emburrado pela quadra. Enfim, Blatt, de um jeito ou de outro, vai precisar assumir as rédeas aqui. Segundo diversas fontes que trabalharam com ele na Europa, trata-se de um sujeito sensacional, que merece melhor sorte em sua grande chance nos EUA. A diretoria vai lhe dar apoio? Ou morrem de medo de LeBron para tomar alguma decisão que possa contrariá-lo?

Anthony Bennett: que o canadense fosse perder minutos para Robbie Hummel realmente não era algo que Flip Saunders tinha em mente quando fechou, enfim, a troca de Kevin Love.

Kobe Bryant: ele também é outro que já desfruta de um recomeço, após tantas lesões que lhe roubaram muitos meses preciosos nesta reta final. Mas para o astro do Lakers a temporada 2014-2015 não poderia passar rápido o suficiente. De qualquer forma, sabemos que ele arremessar 30 vezes por jogo não parece a solução num time fraquíssimo, embora os torcedores do Lakers adorem. Não dá para ser herói com esse time. Resta, então, passar a bola e liderar de um jeito bem diferente ao que se acostumou a fazer em uma vitoriosa – e conflituosa – carreira. Que tal?

PS: Desejo aqui um ótimo 2015 a todos – aqueles que estejam em busca de seu próprio recomeço, os que estão na crista da onda e, claro, o pessoal que toca tudo numa boa, sem tantas peripécias assim para contar, mas que não se enganem: como o filmaço Boyhood – a melhor coisa de 2014 – ensina, até a vida vida mais regular já é um grande acontecimento.


Brooklyn Nets: grandiosidade tem limite
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Três caras talentosos. Mas e a saúde? E a grana gasta?

Três caras talentosos. Mas e a saúde? E a grana gasta?

Quando comprou o então New Jersey Nets, o russão Mikhail Prokhorov afirmou que sua meta era a conquista de um caneco da NBA até o quinto ano. Simples assim. Cá estamos entrando nesta quinta temporada, e a sensação é a de que o time já esteve muito mais preparado para isso. E, não, isso não tem nada a ver com a saída de Jay-Z do grupo de proprietários.

O clube concluiu sua mudança para o Brooklyn com sucesso. Tem um ginásio maravilhoso, acompanhado por belos uniformes e logotipo. Em quadra, até conseguiu se recuperar de alguns anos de miséria, mas… Nunca esteve tão perto do título como a versão do time no início dos anos 2000, liderada por Jason Kidd a dois vice-campeonatos. Eles só não tinham ninguém para marcar Shaquille O’Neal e Tim Duncan. E quem tinha?

Jason Kidd agora é realmente passado para o New Jersey Nets

Kidd agora é realmente passado para o Nets

Por falar em Kidd, o ex-armador promovido a técnico imediatamente estrelou um dos causos mais interessantes das férias. Não está muito claro a gênese da tentativa de golpe, mas o cara tentou derrubar o gerente geral Billy King para assumir pleno controle das operações de basquete do clube, algo que poucos têm no momento: Popovich em San Antonio (em parceria com RC Buford, é verdade), Stan Van Gundy em Detroit e Doc Rivers com o Clippers. Muito cedo para pensar nesse tipo de coisa, né? Se bem que, em se tratando de destronar King, talvez toda iniciativa seja válida.

O cartola montou um time competente, mas sacrificou o futuro para isso. Tudo teria mudado caso tivesse fechado com Dwight Howard? Pode ser. Mas ele perdeu essa, e o que restou foi um time de veteranos que, somados, não apresentaram o suficiente nem mesmo para ganhar incomodar no Leste. A contratação de Deron Williams, pelo preço pago, se mostra uma bomba: de supetão assim, já não dá para colocá-lo nem mesmo na lista dos dez melhores armadores da liga. Joe Johnson viveu suas noites de herói na última campanha, mas é outro que não justifica o salário – e cuja negociação custou uma penca de escolhas de draft. O mesmo procedimento foi adotado na hora de fechar com Garnett e Pierce – sendo que metade da dupla de veteranos nem está mais por lá.

Brook Lopez voltou a sentir o pé já na pré-temporada – foi só uma torça, ufa! Mas ainda assim… A enfermaria já está personalizada. Kirilenko teve problemas nas costas. Então ficaram nesse ponto: se as lesões, ou a velhice permitirem, o Nets até vai chegar aos mata-matas com tranquilidade. Uma vez lá, está destinado a cair na primeira ou na segunda rodada.

A boa notícia? Em 2016, quando vencem os contratos de Johnson e Lopez, o time terá mais uma vez espaço na folha salarial para recrutar estrelas para Brooklyn. A má? É só ver no que deu a última vez que isso aconteceu.

Sem palavras

Sem palavras

O time: é uma incógnita. A equipe que deu mais certo no ano passado com Jason Kidd era única. Os quintetos empregados pelo treinador noviço tinham composições híbridas: você não poderia apontar exatamente que fulano era isso, ou sicrano aquilo, se aproveitando da versatilidade de caras como Shaun Livingston, Paul Pierce, Andrei Kirilenko e Andray Blatche, por exemplo. Com Hollins, a abordagem deve ser mais tradicional. Supostamente, ele teria pivôs ao seu dispor para emular o sistema de Memphis, embora nenhum deles seja tão grande ou inteligente como Marc Gasol. Só precisa ver quem ele terá para jogar de fato: quantos jogos Deron, Lopez e Garnett aguentam? Com quem ele pode contar, na certa: Mason Plumlee. O pivô campeão mundial foi criticado injustamente por sua escolha para o Team USA. Falaram que só estava lá por ter sido atleta do Coach K em Duke, que ele jogar na vaga de Andre Drummond era insano. Bobagem: para construir um time, nem sempre os melhores talentos são necessários, mas, sim, aqueles que combinam mais. E o Plumlee II se encaixa em qualquer sistema e time, devido a sua capacidade atlética (salta muito, se move com a agilidade de um ponta de vôlei e, ao mesmo tempo, é muito forte), além da leitura de jogo avançada pelos quatro anos de universidade.

A pedida: menos lesões, por favor. E playoffs. Título? Pfff. Só em caso de uma hecatombe em Cleveland e Chicago.

Bojan Bogdanovic: mecânica

Bojan Bogdanovic: mecânica

Olho nele: Bogdan Bogdanovic. O croata é visto pelo basquete europeu como um astro em potencial desde a adolescência. Muito antes de entrar no radar da NBA, o ala já havia assinado um contrato de cinco anos de duração com o Real Madrid, sabiam? O gigante europeu, no entanto, nunca o aproveitou para valer. Entre passagens curtas pelos times juvenis e empréstimos, Bogdanovic não desenvolveu laços na capital espanhola e rompeu o vínculo na reta final para voltar para casa. Mandou seu recado pelo Cibona Zagreb e aí fechou seu primeiro polpudo acordo com o Fenerbahçe, que defendeu por três temporadas.

Assisti a muitos jogos do ala nas últimas Euroligas, e o que posso passar é o seguinte: é, de fato, um grande cestinha. Grande arremessador e bandejeiro oportunista.  Quem o viu na Copa do Mundo já sabe: o cara tem um estilo classudo. Parece que seu jogo foi moldado pelos programadores de videogame mais atenciosos, com base no Manual do Jogador de Basquete.  Não é dos caras mais explosivos – ainda mais para os termos da NBA, na qual vai sofrer um pouco até saber o que pode e o que não pode fazer. A ideia é que ele vá compensar isso com seus diversos fundamentos, a boa estatura e tino para a coisa. O que falta: mais vontade de passar e servir aos companheiros. Na temporada passada, teve sua maior média de assistências no torneio europeu, e isso quis dizer 1,8 por partida. Para alguém que tinha a bola por tanto tempo em mãos e que evidentemente é inteligente com a bola, esse número chama a atenção, ainda mais quando levamos em conta que seu time estava tomado por atletas de seleção nacional. Não era uma questão de Bojan-contra-o-mundo.

Abre o jogo: “Claro. É o quarto treinador em três anos, então, tomara, que ele seja a voz certa para nós”, Deron Williams, sobre Lionel Hollins, já um tanto desiludido com mais uma franquia? Desde que chegou ao Nets, o armador foi dirigido por Avery Johnson, PJ Carlesimo e Jason Kidd.

Você não perguntou, mas… quando chegar 2016, talvez Prokhorov não seja nem mais o dono do Nets. Durante as férias já começou a especulação de que o bilionário russo teria cansado da brincadeira. Ou melhor: estaria disposto a lucrar horrores com uma eventual venda – se o Clippers vale US$ 2 bilhões, quanto custaria o time nova-iorquino? Multiplicar as verdinhas é o que esses caras mais sabem fazer, lembrando que ele pagou pela franquia US$ 223 milhões em 2010. Por ora, os aliados de Prokhorov afirmam que ele só estaria interessado em vender uma fração de suas ações – com o grupo Guggenheim já oficialmente envolvido em tratativas. Além disso, a oposição ao líder supremo russo Vladimir Putin espera que o magnata retome a linha de frente do partido Plataforma Civil, para tentar mais uma investida pelo poder no país.

Drazen Petrovic, Nets, card, New JerseyUm card do passado: Drazen Petrovic completaria nesta quarta-feira, 22 de outubro, 50 anos, não tivesse morrido num acidente de carro na Alemanha em 1993, numa das mortes mais trágicas da modalidade. Depois de brilhar muito jovem na Europa, a estrela croata chegou aos Estados Unidos em 1989, para jogar pelo Blazers. Era uma equipe muito forte, brigando pelo topo no Oeste, e que não lhe deu muito espaço. Para um craque já consagrado, a situação era inadmissível. Em 1991, então, conseguiu mudar de clube, trocado para o New Jersey Nets. Na vizinhança de Nova York, o ala mostrou do que era capaz. Em sua última campanha, ele anotou 22,3 pontos por jogo, chegando aos playoffs como protagonista. Acabaram perdendo do Cleveland Cavaliers por 3 a 2 na primeira rodada. Mas era um time se desenhava promissor, contando com jovens emergentes como Kenny Anderson e Derrick Coleman, embora Petrovic, de seu canto, não se estivesse se sentindo tão confortável assim. Seu relacionamento não era dos melhores com o restante do elenco, acreditando ser alvo de inveja/preconceito, pelo fato de ser o europeu brilhando fora de casa. O futuro do croata, de 28 anos, estava novamente no ar. Ele poderia até mesmo deixar a liga americana. Nunca saberemos: no dia 7 de junho de 1993, o craque morreu num acidente de carro, na Alemanha, depois de encontrar seus companheiros de seleção na Polônia. A batida aconteceu na Autobahn 9, quando seu carro bateu em um caminhão atravessado na pista. Petrovic estava dormindo no banco de passageiro, sem cinto de segurança. Sua namorada, modelo e jogadora, Klara Szalantzy, também morreu. PS: o Nets, nos anos 80, também tentou contar com outra estrela internacional: Oscar Schmidt. A gente sabe no que deu essa história.


Em quem ficar de olho no F4 da Euroliga: Khryapa, czar dos fundamentos
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Giancarlo Giampietro

Khryapa explica como se faz

Khryapa explica como se faz

Para quem ainda não está farto de tanta emoção, com o que se vem passando nos playoffs completamente alucinantes da NBA e com tantas surpresas no NBB, então é hora de abrir os braços para uma carga extra de drama – e basquete refinado – neste fim de semana. Mais especificamente na sexta-feira e domingo, com o Final Four da Euroliga.

A gente pode falar de Barcelona e Real Madrid, que fazem mais um clássico de matar, ou das constantes potências CSKA e Maccabi, que história não falta. Na verdade, vamos tratar desses clubes, sim, entre hoje e amanhã. Mas, antes, prefiro gastar um tempo com os protagonistas em quadra.

Sim, os melhores jogadores do mundo, inclusive os europeus, estão do outro lado do Atlântico. Parker, Nowitzki, irmãos Gasol, Pekovic, Gortat e tantos mais. Mas não quer dizer que o segundo maior torneio de clubes do mundo fique só com as sobras. Há diversos atletas que assinariam contratos na NBA sem a menor dificuldade, sendo peças relevantes, mas que, por circunstâncias diversas – entre as quais se destaca invariavelmente a adoração de fanáticas torcidas e alguns milhões de euros na conta –, seguem jogando perto de casa.

Navarro e sua breve parceria com Pau Gasol em Memphis. Frustração

Navarro e sua breve parceria com Pau Gasol em Memphis. Frustração

Peguem, por exemplo, Juan Carlos Navarro. Desnecessário falar sobre o currículo, a reputação e o talento de La Bomba. Em sua única temporada nos Estados Unidos, ele não chegou a ser maltratado como Vassilis Sponoulis foi por Jeff Van Gundy em Houston, mas sofreu demais em um ano perdido do Memphis (60 derrotas!), no hiato entre os times de Hubbie Brown e Lionel Hollins. Ainda viu seu grande amigo Pau Gasol ser trocado. Um ano depois, correu de volta para Barcelona, aonde é rei, talvez chocado com a barbárie.

Este é um caso emblemático. Mas há diversos nessa linha: Erazem Lorbek, cortejado pelo Spurs ano após ano, mas que segue no Barça; Dimitris Diamantidis, o mito alviverde do Panathinaikos; Nikola Mirotic, o segundo grande sonho de qualquer torcedor do Bulls que se preze (o primeiro, claro, sendo um Derrick Rose 100%); sem contar os diversos americanos ignorados pelos Drafts da vida, mas que construíram e lapidaram toda uma carreira no velho mundo (Keith Langford, Daniel Hackett, Joey Dorsey, Ricky Hickman, Tremmell Darden, Aaron Jackson, Bryan Dunston etc. Etc. Etc).

Não dá para cravar que todos eles seriam bem-sucedidos num ambiente muito mais exigente do ponto de vista atlético, em que suas façanhas europeias talvez sejam ignoradas, tendo eles que batalhar novamente a partir do zero por respeito e o decorrente tempo de quadra. Dependeria muito da franquia, da diretoria e, claro, do técnico – sem contar a adaptação muitas vezes complicada, como Tiago Splitter e Mirza Teletovic podem testemunhar.

Há que prefira, então, evitar o risco, ficando numa zona de conforto, já bem remunerado. Mas também há aqueles que são simplesmente subestimados, mesmo, não vendo a hora de receber uma boa proposta, mas sem necessariamente estarem dispostos a assinar pelo salário mínimo da NBA, como fez Pablo Prigioni em seu primeiro ano de Knicks, já na reta final da carreira.

Pensando apenas nos quatro semifinalistas, vamos listar abaixo alguns craques que merecem ser observados com atenção, mas sem a menor preocupação se dariam certo ou não na NBA. Bons o suficiente para serem apreciados pelos que já fazem agora. Essa é uma lista que já deveria ter sido escrita antes, para relembrar o belíssimo campeonato que fez Andrés Nocioni, a versatilidade da dupla Emir Preldzic e Nemanja Bjelica, do Fenerbahce, o próprio Dunston, vigoroso pivô do Olympiakos, eleito o melhor defensor da temporada, o jovem italiano Alessandro Gentile, revelação do Olimpia Milano e candidato ao Draft deste ano, e muito mais.

Antes de chegar aos caras, um lembrete para contextualizar: para os que estão (bem) mais acostumados com a NBA, lembrem que o basquete Fiba é jogado em 40 minutos, e não 48. Logo, o tempo de quadra de uma partida da liga norte-americana é 20% maior, de modo que as estatísticas em geral são mais infladas por lá, fazendo alguns dos números abaixo parecerem tímidos. Além disso, a abordagem ofensiva das equipes de ponta da Europa tende a ser diferente, com mais jogadores assumindo responsabilidades, dividindo a bola, mesmo as que têm grandes cestinhas, que poderiam muito bem carregar um time nas costas.

E, ok, aqui entra o momento da propaganda: o evento será transmitido com exclusividade pelo Sports+, canal 28/128 da SKY, com este blogueiro lelé na equipe de equipe, ao lado do ultrafanático e informado Ricardo Bulgarelli e os narradores Maurício Bonato, Rafael Spinelli e Marcelo do Ó, que, cada um ao seu modo, ajudam a dar emoção ao jogo.

Vamos lá, enfim, a alguns destaques do F4, sem necessariamente ser os melhores do campeonato, mas apenas uma lista que dá na telha. Free style, mano, com pílulas publicadas nos próximos dias:

Victor Khryapa, ala-pivô do CSKA Moscou.
31 anos, 2,03m, 6,6 ppj, 5,2 rbj, 4,2 apj, 54,7% de 2 pts, 38,7% de 3pts em 23 minutos

Alguém por favor sabe como se escreve “Sr. Fundamento” em russo? Mas, bem, nem carece de acessar um tradutor online. Vamos de Czar dos Fundamentos – até porque corremos o risco de a resposta ser “Czar fundamentalista”, uma outra história, que, suponho, não tenha a ver com o Khyrapa.

Na recente ascensão russa ao pódio de diversas competições internacionais, culminando com o bronze olímpico em Londres, era muito mais fácil se concentrar nos encantamentos de Andrei Kirilenko, ou na peculiaridade de a seleção ser guiada por um técnico norte-americano, David Blatt. Mas todo esse sucesso seria inviável sem a presença estabilizadora do ala-pivô, alguém que desenvolveu uma química excelente com AK47, uma vez que suas habilidades combinam perfeitamente.

O cerebral russo, que definitivamente não foi bem aproveitado na NBA – culpa de Blazers e Bulls e também de sua juventude –, faz um pouco de tudo em quadra, mas sua característica mais intrigante é a da armação (veja bem, armar o jogo, mas sem ser armador por nomenclatura), como suas 4,2 assistências por jogo atestam.

Flutuando de frente para a cesta, executa o jogo de high-low com perfeição, servindo a Nenad Krstic e Sasha Kaun. Fica tudo muito mais perigoso quando constatamos que seu chute de três precisa ser devidamente respeitado, assim como as bolas de média distância.

Ele arrisca pouco em direção ao aro, se movimenta hoje de modo bastante lento pela quadra, é verdade, mas, se for para derrotar o CSKA, Khryapa precisa ser sufocado. Nem sempre você precisa ser o jogador mais explosivo, ou aquele que resvala no topo da tabela – e de capacidade atlética o time moscovita já está bem servido com Sonny Weems e Kyle Hines, que busca o tricampeonato depois de brilhar com o Olympiakos. Desde que, claro, você esteja bem fundamentado. Em russo, que seja.


Notas sobre a NBA: Boozer, Gasol no mercado e mais
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Giancarlo Giampietro

Durant vai subindo na lista de cestinhas. Gervin sabe disso

Durant vai subindo na lista de cestinhas. Gervin sabe disso

Por vezes, a sucessão de fatos pode ser tão atribulada que o trem passa e você não consegue nem se agarrar na última porta do vagão derradeiro. Então vamos apelar aqui, mais uma vez, para o formato de pequenas notas, para tentar dar conta de alguns episódios interessantes da NBA que aconteceram nos últimos dias, período no qual a prioridade foi a definição do pagamento de mais de R$ 2,6 milhões por uma vaga na Copa do Mundo de basquete. Com um aviso, desde já: sobre Andrew Bynum no Indiana Pacers, o assunto é muito importante para a temporada para ser resumido em dois ou três parágrafos. Estou preparando outro texto a respeito, que espero publicar entre quinta e sexta-feira:

Carlos Boozer quer jogar MAIS pelo Chicago
Quando li o pivô do Bulls reclamando de sua ação cada vez mais reduzida nos quarto períodos, não deu para não rir. Que fique claro: não era bem um deboche de alguém chamado Carlos, nascido em Aschaffenburg, numa base militar americana na Alemanha, e que cresceu no Alaska – aliás, essa combinação sempre foi fascinante para mim. Boozer obviamente já não faz por mercer os US$ 15 milhões que fatura por temporada, se é que um dia valeu toda essa bolada. Frustrada por não conseguir contratar nem LeBron, nem Wade e nem Bosh, acabaram pagando uma fortuna por um jogador cheio de limitações. A desatenção, falta de empenho e lentidão do cara na defesa sempre custaram muito caro aos seus times, ainda mais em fase de playoffs. Além do mais, sua voracidade perto da tabela também foi minguando com o decorrer dos anos. Mas, bem, o riso não tinha a ver diretamente com isso, e, sim, com o fato de que uma das maiores críticas que Tom Thibodeau enfrenta na liga é a maneira como explora ao máximo seus principais jogadores, fazendo-os encarar maratonas brutais durante a temporada. E está aqui um caso de cara que, na verdade, está reclamando por jogar de menos.

Carlos Boozer, orgulho do Alaska

Carlos Boozer, orgulho do Alaska

Boozer falou um monte durante a semana, manifestando seu descontentamento pelo fato de ter ficado duas partidas seguidas sentadinho no banco durante a parcial final. “Acho que eu deveria estar na quadra, mas é a escolha dele”, disse. “Eu jogo. Não dirijo. Então ele decide isso. Mas, honestamente, ele tem feito isso desde que cheguei aqui, de não me colocar no quarto período. Tem vezes que vencemos, mais do que perdemos.  Mas é sua escolha.”

Hã… De fato. O Bulls mais vence com Thibs do que perde. Mesmo sem Derrick Rose. Mesmo sem Luol Deng. Mesmo sem… Bozzer no quarto final. Como ele próprio admite. Então… Qual exatamente o problema?

Taj Gibson não só é 49 vezes um melhor defensor que o titular do time (tá vendo como realmente não interessa nada essa coisa de quem começa, ou não, jogando, como Ginóbili já se cansou de nos ensinar?), como também vem evoluindo gradativamente no ataque, de modo que, na hora em que a coisa aperta, a decisão mais simples para o treinador é emparelhá-lo com o JoJo em quadra e fazer de sua retaguarda um pesadelo para a concorrência.

(Para constar, nesta terça, Boozer teve uma noite produtiva contra o Phoenix Suns e teve o prazer de jogar no quarto período por mais de três minutos! Ele substituiu Gibson com 3min46s no cronômetro e cedeu seu lugar para o reserva aos 34s. Booooa, garoto.)

Plantão médico do Los Angeles Lakers informa.
Olha, já é sabido todo o ódio que Mike D’Antoni pode despertar nas pessoas. Em muitas pessoas. Hoje, na esmagadora maioria das pessoas, especialmente aquela que tenham alguma queda por Kobe e o Lakers. Mas como é possível dirigir um time desses com algum sucesso? Um time que em NENHUMA partida da temporada teve todo o seu elenco disponível para bater uma bola?

Justo na hora em que se preparava para acolher dois Steves de uma vez e um Jordan em sua escalação, o técnico perdeu Pau Gasol novamente. O pivô vinha em sua melhor fase em muito tempo, mas vai ficar afastado por sete partidas devido a uma contusão na virilha.

E quem realmente achava que a coisa ia parar por aí?

Que os enfermeiros se preparem, já temos mais enfermos. Blake mal voltou contra o Minnesota Timberwolves e já sofreu uma… Ruptura no tímpano! O veterano armador ainda seguiu jogando, saindo zerado de quadra depois de 31 minutos e apenas dois arremessos tentados. Inacreditável. Além disso, o ala Jodie Meeks, talvez a figura mais estável do time em meio a mais um ano totalmente dominado pelo caos, sofreu uma séria lesão de tornozelo e saiu de quadra num pé só.

Nash, que vai completar 40 anos na sexta-feira e fez apenas seu sétimo jogo no campeonato, somou sete pontos e nove assistências em 25 minutos, dez a mais do que estava combinado para que ele jogasse.

Ainda bem que só faltam uns 150 dias para o próximo Draft.

Gasol no Phoenix Suns? Será?
O ESPN.com deu a história, e depois os jornais locais foram adiante. Está confirmada a negociação entre as duas equipes. O Lakers tentando se livrar de Gasol, para não pagar as pesadas multas do teto salarial, e, ao mesmo tempo, buscando mais alguma(s?) escolha(s?) de Draft para este ano ou próximo. O Suns, que supostamente apenas conduziria a temporada na maciota, de olho em mais algumas revelações no recrutamento de novato, se viu obrigado a mudar sua abordagem, diante de um sucesso inesperado. Qualquer estrela que fique disponível nas próximas semanas, até o dia 20 – o prazo final para trocas este ano –, tende a despertar o interesse da franquia.

Gasol, um belo reforço para o Suns. Ou não?

Gasol, um belo reforço para o Suns. Ou não?

No momento, eles estão na seguinte parte do processo de barganha: o Lakers quer, além de Emeka Okafor (o famoso “expiring contract”), uma ou mais escolhas de Draft de primeira rodada. Do outro lado, já ciente do valor que Okafor teria para as finanças de seus antigos rivais, o Suns bate o pé e diz que não está muito disposto a dar nada de tanto valor assim pelo espanhol. Será que fechariam o negócio se pudessem ceder apenas o pick do Pacers deste ano (muito provavelmente o último da primeira rodada)? Será que envolveriam apenas os de segunda rodada? Isso não está claro.

A diretoria do Arizona também quer aguardar o retorno de Gasol, ainda que os caras em LA digam que sua contusão não é muito séria. Lembrando que o pivô também está no seu último ano de contrato. O Phoenix o “alugaria” até o final do campeonato, na esperança de brigar para valer nos playoffs do Oeste. Kobe diz amar Gasol, mas a relação do atleta com a diretoria e a comissão técnica já está, vá lá, bem esgarçada.

De todo modo, também vale a pergunta: se o espanhol reclamou tanto do sistema de Mike D’Antoni nos últimos meses, como reagiria ao ritmo de jogo do Suns, que segue a mesma linha? Seria simples birra contra o seu atual treinador? Regitre-se que na tabela dos times que mais correm na temporada, o Lakers está em terceiro e o Suns, em sexto. As habilidades de Gasol, sua idade e problemas físicos… Nada disso indicaria que ele seria uma boa combinação para o estilo de jogo que Jeff Hornacek tem promovido. Por outro lado, a mera possibilidade de adquirir alguém tão talentoso (experiente e vitorioso) é tentadora demais, claro.

Vamos esperar pelo desfecho dessa queda-de-braço.

– Kevin Durant, mais que homem de gelo.
Sabe o George Gervin?

Foi um ala que jogou por San Antonio tanto na extinta ABA como na NBA, entre os anos 70 e 80. Segundo consta, foi um dos maiores cestinhas de sua geração. Entre 1977 e 82, foi cestinha em quatro campeonatos. Juntando as duas ligas, ele aparece na 14ª colocação geral entre os matadores. O talento para fazer cestas lhe rendeu o apelido de Iceman. Tinha a ver com o sangue frio para definir as jogadas. Mas o que repercutia em seu jogo não era apenas o faro para pontuar, mas também o modo como ele fazia, com movimentos atléticos e elegantes próximo da cesta. Nos clipes históricos de promoção, ele é quase companhia obrigatória ao legendário Dr. J. Para quem quiser se esbaldar, seguem 30 minutos de lances de um confronto entre os dois, com direito a Bill Russell na transmissão:

Pois o San Antonio Express teve uma saudável ideia de pauta, mesmo que fosse para falar bem daquele oponente que promete aterrorizar Tim Duncan & Cia nos playoffs: gravar uma entrevista com Gervin para falar sobre o maior cestinha dos dias de hoje, Kevin Durant, alguém que ainda precisa anotar 12.813 pontos na NBA para igualá-lo na tabela histórica. Parece e é muito. Mas, no embalo que o jogador de OKC está, seriam necessárias apenas mais cinco temporadas para que isso acontecesse. KD vai fazer apenas 26 anos em setembro. Afe.

Mas, bem, o Express chamou Gervin e ouviu o que (não?) queria: aos 61 anos, Gervin é um senhor admirador de Durant, e já acha bobagem que qualquer um queira compará-lo ao garoto. Nessa ordem, mesmo. Em sua concepção, o cestinha da temporada já o deixou para trás. “Ele é um fenômeno. Um cara de seu tamanho, que pode colocar a bola no chão, arremessar tão bem como ele faz. Isso o torna imarcável. As pessoas o comparam a mim, ouço muito isso. Mas a única razão para isso é porque ele é magro, sabe driblar e pontuar. Ele faz de um jeito diferente do meu. Arremessa mais de longe. É umas três ou quatro polegadas mais alto. Imarcável. O único cara que pode pará-lo é ele mesmo. Eu não era ruim. Mas foi há muito tempo, você sabe. Minha carreira me deixa realmente confortável. Mas ele é especial. Fico feliz de ainda estar por aí e ainda poder ser comparado a ele.”

Ainda sobre Durant, no decorrer de sua grande sequência de jogos com 30 pontos ou mais – que terminou, de verdade, apenas contra o Washington Wizards, uma vez que contra Nets ele nem participou do quarto período, com o jogo já resolvido –, existe na imprensa americana uma busca incessante para encontrar um apelido para Durant. Durantula já foi ventilado, mas é horrível. Agora vieram com “Slim Reaper”, algo como o Ceifeiro Magro. O craque não gostou. Não quer ser identificado com algo que lembre a morte. Prefere simplesmente KD.

Que continuem tentando. Só não vale Iceman.

– Kirilenko e o sucesso. Tudo a ver.
Quem, por milagre e muita paciência, acompanha o blog desde sua última encarnação, sabe da admiração profunda que se tem pelo russo Andrei Kirilenko nos arredores da Vila Bugrão, aonde está fincada a base do conglomerado 21. Aqui está uma prova. Mas, não, não se confirmam os rumores de que a fachada deste imponente edifício esteja tomada por um painel com todos os diferentes e alegres cortes de cabelo do astro.

Antes de a temporada começar, na hora de projetar os atuais times, para mim, a presença de AK-47 no elenco do Brooklyn era tão decisiva como a de um Paul Pierce ou um Kevin Garnett para um ousado Brooklyn que assumia o espírito de tudo ou nada – ainda que tenham pago uma suspeita pechincha para contratar o compatriota do bilionário Mikhail Prokhorov.

O modo como Kirilenko pode influenciar um jogo está expresso em suas estatísticas históricas. Você não encontra com facilidade por aí alguém capaz de sustentar médias de 12,2 pontos, 5,6 rebotes, 2,8 assistências e, mais importante, 1,8 toco e 1,4 roubo de bola. A versatilidade do ala é impressionante. Esse é um caso em que os números traduzem perfeitamente o que ele faz em quadra, com movimentação muito inteligente, capacidade atlética e envergadura que fazem a diferença.

O segredo russo para tudo no Brooklyn Nets?

O segredo russo para tudo no Brooklyn Nets?

Posto isso, na atual campanha, sua primeira pelo Nets, limitado por muitos problemas físicos, ele vem jogando apenas 18,1 minutos. Ele ainda não converteu sequer um chute de três. O lance livre despencou para 66%. Numa projeção por 36 minutos, seu rendimento é inferior ao que apresentou pelo Timberwolves na temporada passada.

Agora… Quer saber um dado instigante? Com Kirilenko fardado, o time de Jason Kidd tem 12 vitórias e 5 derrotas. Sem ele? 9-20. Em termos de aproveitamento, a variação é de 70,5% para 45%. Ou podemos colocar desta forma: é a diferença entre ser terceiro ou oitavo neste patético Leste. E não é que tenham batido só times fracos durante os 17 jogos com o russo (conte aí duas vitórias contra Miami e Atlanta e triunfos também sobre Oklahoma City, Golden State e Dallas).

É uma estatística e tanto, não?

Mas claro que, para avaliar qualquer dado, é preciso um pouco de calma. Kirilenko ficou um longo tempo fora de quadra, tentando entrar em forma, ainda não está 100% e voltou exatamente no momento em que Kidd conseguia encontrar uma identidade para seu time, mesmo com a – ou por causa da – lesão de Brook Lopez, fazendo a eficiência de sua defesa decolar. Nesse sentido, AK-47, ainda que a 60% de sua capacidade já ajuda bastante na defesa, podendo cobrir diversos tipos de oponentes, dando liga nas coisas.

E acreditem: essa é uma opinião imparcial.


Liderado por Spanoulis, mas renovado, Olympiacos desafia Pinheiros
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Giancarlo Giampietro

Pinheiros x Olympiakos

Depois de 26 anos, o basquete volta a ter sua Copa Intercontinental de clubes nesta sexta-feira, em Barueri. O bicampeão europeu Olympiacos já veio curtir uma garoa e céu nublado em terras paulistas, num clima que, nem de longe, idealizavam encontrar no Brasil, claro. Mas não que tenham vindo a passeio.

Os gregos não sabem exatamente ainda o que terão pela frente, mas um time dessa tradição só pode entrar em quadra para vencer. É o que espera sua torcida fanática – aproximadamente 150 deles vêm para o jogo, e o desafio dos brasileiros é cantar mais alto que eles… Mesmo.

“Não sei o que esperar no Brasil”, afirmou o técnico Georgios Bartzokas antes do embarque. “Sei que cada jogo é como uma religião e também uma festa para os brasileiros. Sabemos que ambos os jogos devem ser em casa cheia. Os brasileiros têm uma grande tradição em todos os esportes coletivos, e isso inclui o basquete. Eles estão atualmente no meio de sua liga doméstica, e o Pinheiros tem uma campanha de 10-8. Foi difícil encontrar informações sobre os nossos adversários, mas vamos ter uma imagem clara após o primeiro jogo.”

Difícil fazer uma abordagem mais generalizado que isso. Mas, ao menos, Bartzokas foi sincero. Não saiu com frases como “vamos enfrentar um time de qua-li-da-de”, “obviamente eles são muito perigosos e vão jogar em casa” e afins. Ele pode estar correto, ou não, em suas observações sobre o público brasileiro, mas disse o que pensa, o que imagina sobre nossos torcedores, e está bom.

O fato de o técnico dos campeões da Euroliga conhecer pouco sobre o atual time número um da América só mostra o quanto a Fiba de cá e, principalmente, os clubes precisam trabalhar para criar algo que chegue perto do que as instituições europeias da modalidade têm hoje: um produto sólido, que consegue se vender bem, a despeito dos índices econômicos preocupantes de grande parte do continente.

Shamell who?

Shamell, um nome já fixado no mercado americano, mas que só foi apresentado a Spanoulis em coletiva nesta quinta-feira. Nesse jogo do desconhecido, quem vai levar a melhor? O ala, surpreendendo? Ou os defensores gregos e um jogo com o qual o ala não está habituado?

Por mais que os serviços de scout hoje estejam bastante desenvolvidos, ainda é muito difícil para os europeus acompanharem o que se passa nas ligas inferiores deste lado do Atlântico. Quem acaba fazendo a ponte entre os dois mundos são os escritórios de agentes, mas só para vender este ou aquele jogador, ou para importar treinadores de lá, de preferência espanhóis, que estão espalhados da Patagônia a Tijuana.

Já o técnico Claudio Mortari – ou qualquer outro basqueteiro brasileiro interessado – teve, no mínimo, acesso a dezenas de jogos do Olympiacos na TV durante as últimas temporadas, a última delas transmitida pelo Sports+, pelo qual terei novamente o prazer de fazer parte das transmissões para o campeonato 2013-2014.

De qualquer forma, os times vão se conhecer, de verdade, em quadra, a partir das 20h desta sexta. E o choque de culturas não poderia ser mais intrigante neste sentido. Ainda que o Olympiacos tenha sido a equipe com o quinto ataque mais veloz de seu torneio continental, a diferença de seu ritmo para o dos concorrentes não é tão grande assim. De modo que está acostumado a embates mais lentos e físicos, sem se distinguir na abordagem do jogo.

Aqui por estas bandas sabemos muito bem a velocidade com que o Pinheiros costuma jogar algumas vezes beira o imponderável. A ideia aqui era levantar uma série de números sobre a participação do time no Campeonato Paulista, mas o site da federação está absolutamente intratável desde quinta-feira, com uma lentidão que faria a seleção ucraniana parecer o Miami Heat. Consegui computar estatísticas das últimas duas partidas do clube, com vitórias sobre Bauru, com virada no quarto período, mas um excelente resultado no contexto do campeonato, e Rio Claro.

Contra um dos líderes da competição, a equipe de Mortari somou 15/32 de três pontos (47%), 16/30 de dois (53%) e ainda bateu 20 lances livres, convertendo 18 deles (90%). Além disso, cometeram apenas noveturnovers.Foi um estouro. Apesar deste excelente rendimento ofensivo, os pinheirenses tiveram dificuldade para vencer por terem sido espancados na disputa por rebotes. Os visitantes apanharam 16 a mais no jogo – foram 17 só na tabela ofensiva, sendo cinco deles de Larry Taylor (!?).

Diante de Rio Claro, foi uma sacolada, com 24 pontos de diferença. Os números ofensivos: 12/31 de três (39%), 18/31 de dois (58%), 18/29 nos lances livres (62%) e 12 desperdícios de posse de bola. Não tem muito como usar como parâmetro, dada a a disparidade entre os elencos, mas ao menos se repete o alto volume nos chutes de fora e de lances livres cobrados. Analistas das métricas avançadas da NBA e o gerente geral Daryl Morey, do Houston Rockets, chorariam de alegria vendo esse tipo de rendimento. Resta saber apenas se a defesa do Olympiacos vai permitir.

Mas quer saber do que mais? Contra os gregos, a correria talvez seja realmente um trunfo a ser explorado, desde que com o mínimo de organização. Os caras estão enferrujados ainda, em pré-temporada, enquanto a equipe brasileira já fez 18 partidas pelo Paulista (ainda que nas primeiras seus principais jogadores tenham sido poupados).

Em termos de entrosamento, a vantagem, na teoria, também fica por conta dos anfitriões. O Olympiacos não só acabou de se reunir, como está numa fase de integração de diversas peças novas. Do grupo campeão em maio, saíram quatro jogadores muito importantes da rotação: o ala Kostas Papanikolau (que foi receber uma bolada no Barcelona, ótimo arremessador de fora e muito forte no rebote), o ala-pivô Kyle Hines (reforço do CSKA Moscou de Messina; leia aqui mais sobre seu impacto pelo time) e os pivôs Pero Antic (macedônio que fechou com o Atlanta Hawks) e Josh Powell (aquele ex-Lakers, mesmo, que hoje tenta uma vaga no New York Knicks). Isso sem falar do pirulão geórgio Giorgi Shermadini, que jogou apenas seis minutos na final contra o Real Madrid, mas ganhou minutos consideráveis durante a competição.

Como vocês podem reparar, o gigante europeu trocou seu garrafão inteiro. Só sobrou o versátil Georgios Printezis para contar história. O técnico Bartzokas obviamente vai ter trabalho para rearranjar a química do time, especialmente a defesa interior, que perdeu jogadores que se entendiam muito bem.

Spanoulis em Barueri, é isso aí

Spanoulis vai estar acompanhado de novos parceiros nesta Copa Intercontinental

Para a Copa, o armador Acie Law, ex-Hawks e Warriors, lesionado, é outra baixa. Quer dizer, menos um da equipe que venceu o Real Madrid na final. Dos jogadores que se apresentarão em Barueri, algumas informações, comentários:

Vassilis Spanoulis: o jogador mais gabaritado do evento, um dos melhores da Europa, como o título de atual MVP da Euroliga comprova – está numa lista em que Andrei Kirilenko, Juan Carlos Navarro e Dimitris Diamantidis o acompanham. Dizer que “tudo” no ataque da equipe grega se passa em torno de suas diversas habilidades pode soar como exagero, mas, acreditem, até vale como força de expressão. Um armador com drible sem muita frescura, mas que pode ser mortal, ainda mais usando corta-luzes sem parar (não por acaso, esteve entre os líderes em faltas recebidas e lances livres cobrados durante todo o campeonato continental). Arremesso de longa distância precisa ser respeitado. Também sabe matar em flutuação. E aí que fica difícil de equacionar: se você apertar muito, provavelmente vai tomar o corte. Se folgar, ele vai mandar bala, sem hesitar.

Na Euroliga, as defesas que tiveram mais sucesso contra o astro conseguiram incomodá-lo com um garrafão congestionado. Sim, esse tipo de jogador você não vai parar no um-contra-um. Tem de pensar no coletivo. A ideia seria cercá-lo com até dois homens na sobra, quando estiver rondando o garrafão, de modo a desencorajar suas infiltrações e, ao mesmo tempo, tentando limitar suas linhas de passe (seu jogo de “kick-out” também é perigoso). “Anular” Spanoulis raramente ocorre. O jeito é atrapalhá-lo.

Georgios Printezis: um jogador experimentado, com muitos movimentos atípicos. Não seria recomendável ensinar suas mecânicas em nenhuma escolinha. Mas não se deixem enganar por isso: de um jeito ou do outro, o ala-pivô da seleção grega consegue fazer o serviço – nas quartas de final contra o Anadolu Efes, por exemplo, foi fundamental para fechar um duríssimo confronto em 3-2, quando Spanoulis estava com a mão fria. Movimenta-se bastante de um lado para o outro no ataque, esperando alguma brecha para atacar, dando trabalho fora da bola. Não é dos reboteiros mais ferozes. Embora tente bastante, não chega a ser uma ameaça no chute de longa distância. Autor da cesta do título de 2012, com um sangue gélido que só. Veja de diversos ângulos:

Evangelos (ou Vangelis) Mantzaris: tem apenas 23 anos, mas se comporta em quadra como um trintão, de tantas medalhas que já ganhou nas seleções gregas de base. Não é dos mais agressivos no ataque – pouco faz em termos de infiltração, mas tem aproveitamento de 40,7% de fora na carreira na Euroliga. Acaba guardando toda a sua pegada para a defesa, mesmo, em que usa seu 1,96 m de altura e envergadura incomuns para a posição para colocar pressão nos adversários. Teve sua campanha 2012-2013 interrompida por uma grave lesão no joelho, então sua forma física é questionável. Se estiver inteiro, será no mínimo curioso seu duelo com Paulinho.

Kostas Sloukas: mais um da seleção nacional e outro que, com 23 anos, se comporta como um veterano andarilho. Companheiro de Mantizaris na base. Um grande arremessador que não pode ficar livre na linha de três de modo algum (média de 45,7% na Euroliga) – é um dos principais alvos das assistências de Spanoulis. Lento, porém, não representa muita ameaça com suas infiltrações e também pode ser bem explorado do outro lado da quadra, na defesa.

Stratos Perperoglou: determinado, centrado e forte, é um belo marcador na ala, ainda que esteja perdendo velocidade e muitos já o vejam como alguém mais propenso a lidar com alas-pivôs do que alas que joguem mais afastados do garrafão. É possível que vá cobrir Shamell por algum tempo. Sabe de suas limitações e não vai além delas. Não espere aventuras individuais do ala de 29 anos rumo à cesta. O tipo de operário que se dedica aos pequenos detalhes, não vai ganhar nenhum troféu individual, mas que ajuda qualquer time.

Mirza Begic: um gigante de 2,16 m de altura, o pivô esloveno é um dos reforços da equipe, depois de passar três anos com o Real Madrid. Honra sua estatura como um bom defensor próximo do aro, tanto na cobertura como, principalmente, no mano-a-mano. Mas é bastante vulnerável em combinações de pick-and-roll, devido a sua mobilidade de tartaruga – algo que deve ser explorado ao máximo por pivôs leves como Mineiro e Morro. No ataque, seria prudente tentar marcá-lo pela frente quando próximo do garrafão e não se descuidar do bloqueio na hora do rebote, se levarmos em conta que nunca em sua carreira na Euroliga, desde 2007, ele chutou abaixo de 52,5% na zona de dois pontos.

Cedric Simmons: um dos quatro norte-americanos contratados para esta temporada, o pivô já foi companheiro de Marquinhos no New Orleans Hornets, vejam só. Jogaram juntos na temporada em que a franquia também carregou o nome de Oklahoma City. Escolhido em 15º num Draft desastroso do clube que havia apanhado Hilton Armstrong na 12ª posição. Dois grandalhões, nenhum acerto. Mas, bem, voltando ao ponto: Simmons teve uma grave lesão na perna que contribuiu para sua breve trajetória na NBA e lhe roubou um pouco de sua formidável capacidade atlética, de impulsão e velocidade. Mas deu um jeito de estender sua carreira na Europa, fechando com o Olympiacos, aos 27 anos, após defender o Enel Brindisi, da Itália. Ah, nesse meio tempo, descolou um passaporte búlgaro, jogando pela seleção do país. Claro.

Quanto a seus compatriotas – nascidos nos Estados Unidos, especificando –, nunca os vi em ação, para ser sincero. Vamos pelos números, então. Matthew Lojeski é um ala-armador que se formou na universidade do Havaí e, desde 2008 até este ano, esteve em ação na Bélgica. Foi bicampeão nacional pelo Oostende e, no ano passado, teve média de 16 pontos por partida na Euroliga, com aproveitamento impressionante nos arremessos – 51,2% de dois pontos, 57,1% de três (!!!) e 96,6% nos lances livres. Bryant Dunston seria um candidato a substituir Kyle Hines, pois, com 2,03 m de altura, sempre teve média de pelo menos um toco por jogo (ou bem mais que isso) por onde passou.

*  *  *

Perperoglou pode ser dos mais discretos em quadra, mas tem um blog no site da Euroliga. Em seu último post, já em” Sao Paolo”, o ala se arriscou um pouco mais que Bartzokas, e… Bem, vamos  lá: “Não posso dizer que sei muito sobre os nossos adversários, mas estou confiante de que eles vão ser uma equipe forte. Posso dizer isso com base no fato de que o Brasil foi um dos finalistas da mais recente Copa América neste verão e porque sempre fiquei impressionado com os jogadores brasileiros que passaram pela Euroliga. Talvez o próximo Marcelinho Huertas ou Tiago Splitter estejam nos esperando nesta equipe do Pinheiros. E, além disso, se foram os melhores da América do Sul na última temporada, devem ser muito bons”.

Por “finalista da Copa América”, imagino que ele esteja se referindo aos países que se classificaram para o torneio, num paralelo com o que acontece na Europa, em que algumas seleções ficam fora e são relegadas ao segundo escalão. Mas que bom, né? Ao menos o Brasil conseguiu ficar acima de Chile, Colômbia, Equador e Bolívia. Por “melhores da América do Sul”, não foi o caso: times do México e Porto Rico também foram derrotados.

A ideia aqui não é zombar da simpatia do ala. Mas só constatar que seus comentários só reforçam o quão desconhecidos seus oponentes são para eles. De modo que esta primeira partida se torna mais importante para o time brasileiro.

*  *  *

O Pinheiros tentou, mas não conseguiu fechar a contratação de um reforço de aluguel direcionado especificamente para a Copa Intercontinental. Leandrinho ajudaria tanto assim? Talvez. Mas não sei se é justo/ético/necessário esse tipo de operação. No futebol, por exemplo, o Cruzeiro executou algo nessa linha em 1997 para encarar o Borussia Dortmund, e seu esforço foi em vão.  Que o Pinheiros enfrente o Olympiacos com as armas tradicionais que tem, com as quais foi campeão de um torneio que poucos brasileiros venceram.

*  *  *

Por que jogar em Barueri? Sem datas no Ibirapuera. Como a Copa Intercontinental surgiu? O Daniel Neves, da casa maior, o UOL Esporte, já havia contado tudo aqui depois de um papo com João Fernando Rossi, o dirigente que transformou o Pinheiros numa potência nacional também no basquete.


Na vaga de Raulzinho, Scott Machado chega à 3ª escala em seu sonho de NBA
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado, e aí?

E não é que, mesmo sem Raulzinho, o Utah Jazz pode iniciar a temporada 2013-2014 da NBA com um armador brasileiro em seu elenco? Lá está ele, Scott Machado, já na terceira escala de seu sonho de se firmar como um jogador da liga norte-americana.

A equipe de Salt Lake City inicia formalmente suas atividades para um novo campeonato nesta segunda-feira, com o “Media Day”, no qual os jogadores ficam disponíveis para sessões de fotos e entrevistas com os jornalistas antes do tapinha inicial do training camp. E toca o gaúcho nova-iorquino, um rapaz bastante otimista e batalhador, falar sobre suas ambições como profissional e sobre como esta é uma excelente oportunidade para ele mostrar seu valor.

Mas é mesmo? Qual é o Utah Jazz que ele tenta convencer a lhe empregar nas próximas semanas?

Este é um ano de transição drástica para o clube. Abriram mãos de alguns veteranos consolidados e decidiram investir em jogadores mais jovens, com a expectativa de desenvolver uma base mais forte a longo (ou médio?) prazo.

Algo parecido com o que se passou em quadra ao final da carreira de John Stockton e Karl Malone. Com pequenas diferenças, claro: 1) o grupo anterior, de Al Jefferson, Paul Millsap e alguns resquícios da era Deron-Boozer-Okur, jamais chegou perto da identidade que aqueles chatíssimos, mas eficientes times dos anos 90 tiveram, ainda mais carregados por duas lendas do basquete; 2) a nova guarda de agora tem muito mais talento para oferecer do que os times de Arroyo, Raul López, Sasha Pavlovic, Jarron Collins e Ben Handlogten, a despeito da exuberância de Andrei Kirilenko.

A ideia é investir no núcleo de Trey Burke, Gordon Hayward, Enes Kanter, Derrick Favors (e talvez Alec Burks? Rudy Gobert?). Depois de anos medíocres com Al Jefferson e Paul Millsap, flertando com os playoffs, mas sem ter chance alguma de incomodar, chegou a hora de apostar que um ou vários desses garotões estoure e venha se tornar um líder de maior potencial, pensando em voos mais altos num Oeste ainda muito competitivo.

Nesse sentido, Scott encontra, então, um contexto benéfico para alguém igualmente jovem. Esse é o ponto mais otimista para o brasileiro se equilibrar. Outro: o armador foi o primeiro atleta a ser convidado pelo gerente geral Dennis Lindsey (mais um dos pupilos de Buford e Popovich em San Antonio) para fazer parte dos treinos da pré-temporada. Os alas Mike Harris, ex-Rockets, e Dominic McGuire, ex-Wizards e Warriors, foram os atletas adicionados na sequência – McGuire, um defensor versátil, capaz de segurar as pontas no perímetro e de reforçar o rebote é alguém de que sempre gostei, e seria um bom substituto para o enérgico DeMarre Carroll, que fechou com o Hawks. Por fim, chegaram o ala Justin Holiday (irmão mais velho do Jrue), o veterano ala-pivô Brian Cook (um pesadelo para Phil Jackson), o viajado pivô Dwayne Jones e o armador Nick Covington, da D-League e bom arremessador do perímetro.

Explicando do que se trata o tal do “contrato do training camp”: o jogador assina sem garantias alguma, tal como no ano passado com Houston. Isto é, pode ser dispensado a qualquer momento, sem que a franquia lhe deva muito dinheiro.

Não é o compromisso mais promissor do mundo, mas o fato de ele ter sido o primeiro da lista já conta para alguma coisa. Principalmente pelo fato de a diretoria ter acabado de dispensar Jerel McNeal, armador rodado na D-League e que fechou com a equipe na temporada passada. (Embora ainda não esteja claro se essa atitude teve a mais a ver com um desinteresse do clube, ou se o atleta recebeu alguma proposta mais vantajosa para jogar na Europa ou China.)

Scott terá, então, alguns dias ou semanas para convencer o técnico Tyrone Corbin de que seria útil ao seu time. Em teoria, falta ao elenco do Utah Jazz hoje um terceiro armador, atrás do calouro Burke, nona escolha do Draft deste ano, e de John Lucas III, ex-Raptors, Bulls e tantos outros.

Acontece que Hayward e Burks (não confundir com Burke… Deveria haver uma regra na NBA que proibisse os times de criar esse tipo de confusão para jornalistas e torcedores, não?) também têm o tipo de habilidade no drible e visão de jogo que lhes permite conduzir uma equipe em quadra por alguns minutos. Ainda mais se acompanhados em quadra pelo ala-armador Ian Clark, um baixinho que impressionou durante as ligas de verão, jogando pelo Miami Heat e pelo Golden State Warriors. Clark apresenta o suposto biótipo de um armador, mas não está habituado a criar para os outros. Tem muito mais tino para a finalização, com um excepcional tiro de três pontos. De todo modo, se for para quadra, deve ter alguma responsabilidade na estruturação da equipe.

(A presença de Clark, aliás, no elenco do Jazz não deixa de ser uma ironia e um incentivo para Scott: foi ele quem o colocou no banco no Warriors de veraneio em Las Vegas, praticamente definindo a demissão do brasileiro. Há divergências sobre o tipo de vínculo que ele tem com o clube. Se parcialmente garantido – no sentido de que, se mandado embora, ainda embolsaria pelo menos um cheque de agradecimento – ou se já tem um salário integral assegurado.)

Incluindo o chutador revelado pela universidade de Belmont, o Utah tem 13 jogadores contratados para a temporada, o mínimo necessário para a formação de um elenco, de acordo com as regras da liga. De modo que Scott precisa fazer bons treinos, dando sequência aos testes que realizou nas Montanhas Rochosas durante o mês de setembro, para tentar abrir mais uma vaguinha nesse plantel.

O que causa estranhamento, de certa forma, em seu convite pelo Utah Jazz é a baixa estatura dos armadores já contratados pelo time. Com 1,80 m, Lucas consegue encarar este blogueiro  de olho-pra-olho, assim como o titular Burke, com seu generoso e oficial 1,83 m. Scott teria sido ainda mais abençoado com seu oficial 1,85 m.

É de se esperar que os gerentes gerais procurem diversificar na formação de um time, com peças complementares no banco de reserva. Do ponto de vista físico, Scott não oferece nada de diferente, sofrendo igualmente diante de armadores maiores, mais fortes e mais atléticos – e sabemos que a liga está inundada com este tipo de cara. Ainda que em seus últimos jogos pelo Warriors ele tenha se mostrado combativo na defesa, pressionando com sucesso o drible do adversário, o tipo de adversários que enfrentou em Vegas é bem inferior aos Roses e Walls do mundo.

O que o brasileiro oferece de diferente (beeeem diferente, aliás) é sua visão de jogo, sua maior propensão para o passe, facilitando a vida de seus companheiros no ataque. Lucas é um chutador por vezes descontrolado, enquanto Burke seria um meio termo, dependendo da orientação que tiver de sua comissão técnica.

Além disso, Scott ainda precisa solucionar sua mecânica de arremesso de modo urgente, além de melhorar sua técnica para conversão de bandejas – ainda tem muita dificuldade para encarar pivôs fisicamente intimidadores, e os treinos contra Favors, Kanter e Gobert já serão um duro teste. Sim, o armador persiste, busca novos caminhos para continuar sua carreira, mas as coisas de forma alguma se apresentarão fáceis para descolar um emprego de alto nível.

Uma posição que Raulzinho teria a oportunidade de ocupar este ano, mas que postergou ao tomar a correta decisão de voltar para a Espanha, aonde poderá ficar muito mais minutos para usufruir e evoluir. De lá, nem que seja online ou por meio de algum espião-amigo em Salt Lake City, poderá coletar as informações com o que se passa com seu breve companheiro de seleção, de olho no futuro.


Onda de eliminações surpreendentes atinge Europa; Finlândia passa, Rússia e Turquia ficam
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Giancarlo Giampietro

Koponen e o expresso finlandês

A Finlândia de Petteri Koponen (d) apronta no EuroBasket

A Copa América ainda realiza nesta terça e quarta-feira sua disputa por medalhas. O EuroBasket ainda caminha para sua segunda rodada. De qualquer forma, com o AfroBasket e o Campeonato Asiático já encerrados, um cenário nesta temporada 2013 já fica bem claro: as seleções desfalcadas e, antes de tudo, despreparadas tendem a ficar pelo caminho, não importando seu histórico ou potencial.

Para quem ainda não juntou tudo o que vem acontecendo nessas últimas agitadas semanas, segue uma lista das principais seleções habituadas a frequentar a Copa do Mundo, mas que já estão eliminadas, dependendo agora exclusivamente de um dos quatro convites disponibilizados pela Fiba para entrar na festa:

Europa
Alemanha, Rússia e Turquia (a lista vai acrescer ainda, pois ainda temos 12 times vivos disputando seis vagas).

Américas
Brasil e Canadá.

África
Nigéria e Tunísia.

Ásia
China.

Nesse apanhado de times, em termos de elenco, há de tudo: extremamente desfalcados (Brasil, Alemanha, Rússia), moderadamente desfalcados (Canadá) e os que tinham basicamente o que têm de melhor em quadra e, ainda assim, fracassaram (Turquia, Nigéria e China). Então não é que tenha uma explicação única por trás dessas surpresas.

Nem mesmo no caso das ausências. Por exemplo a Rússia. Ficar sem Andrei Kirilenko ou Viktor Khryapa já seria ruim – ainda mais AK, Kirilenko, cuja escalação tem feito toda a diferença nos últimos anos, ganhando bronze olímpico em Londres ou conquistando um EuroBasket batendo a Espanha lá. Agora, perder os dois ao mesmo tempo? A coisa complica, mesmo. Mas o que teria pesado mais para o fiasco de uma eliminação na primeira fase do campeonato continental? Não contar com seus dois principais jogadores (+ os gigantescos Timofey Mozgov e Sasha Kaun) ou o fato de não terem mais o inventivo David Blatt no comando? Ou que seu substituto, o grego Fotios Katsikaris, tenha pedido demissão agora em julho e a bomba, caído no colo de Vasily Karasev, ex-armador da seleção nacional que virou técnico em 2010 e só assumiu um time adulto pela primeira vez em 2012?

Sim, foi dessa forma que os caras chegaram ao torneio continental, em frangalhos, com um treinador jovem e, pior, interino. Aí não há Aleksey Shved, Vitaly Fridzon ou Sergey Monya que deem conta e evitem uma campanha de apenas uma vitória em cinco partidas, perdendo para Finlândia e Suécia.

E sobre quem foi esse único triunfo?

A Turquia. Sim, a Turquia de Ersan Ilyasova, Omer Asik, Hedo Turkoglu, Semih Erden, Emir Preldzic e outros. Que também venceu apenas um jogo, contra os suecos, igualmente eliminados. Que também definiu seu treinador de última hora, ainda que  este não fosse uma novidade: o experiente e vencedor Bogdan Tanjević, com quem foram vice-campeões mundiais em 2010 (jogando em casa, diga-se).

Foi aquela boa e velha baderna: dificuldade para definir o grupo final, um monte de grandalhões no mínimo competentes, mas armação falha, Turkoglu se comportando como o craque nunca foi e amassando o aro (indesculpável  aproveitamento 17,9% nos arremessos de quadra), atletas desinteressados durante pedidos de tempo, o ignorado Enes Kanter dando risada no Twitter depois da eliminação em uma derrota para os arquirrivais da Grécia para, depois, decidir que não era a melhor ideia, apagando o post… Enfim, tudo o que de caótico você pode esperar, ainda que dinheiro não seja problema para a federação local e que suas principais estrelas estivessem fardadas.

Hahahaha, Kanter

Turkoglu sozinho deve ganhar mais que todo o elenco finlandês, mas isso não foi o suficiente para evitar o revés por 61 a 55 na estreia diante dos nórdicos, que lideraram o confronto de ponta a ponta. Quem podemos destacar nesse time? O armador Petteri Koponen é o mais conhecido e talentoso. Aos 25 anos, ele defende o endividado Khimki Moscou, tendo sido selecionado na 30ª posição do Draft de 2007 pelo Portland Trali Blazers, mas cujos direitos foram repassados mais tarde ao Dallas Mavericks. Um jogador corajoso e atlético, que vem liderando sua equipe com 14 pontos, 4,8 assistências e 3,8 rebotes no torneio. Para os torcedores mais saudosistas do Atlanta Hawks, listamos também o pivô Hanno Mottola, aparentemente um imortal aos 37 anos, que jogou na NBA entre 2000 e 2002 e voltou a jogar depois de ter anunciado a aposentadoria em 2008!

Pois é. Estamos numa temporada em que avança a Finlândia, enquanto Rússia e Turquia ficam pelo caminho, não importando quem tenha se apresentado.

Ter Ike Diogu e Al-Farouq Aminu também não livrou a Nigéria de uma derrota para Senegal nas quartas de final na África. A Tunísia caiu ainda mais cedo, nas oitavas, diante do Egito, mesmo apresentando a base campeã continental em 2011. Na Ásia, da mesma forma precoce dançou a acomodada China, com Yi Jianlian e tudo, em uma derrota para Taiwan. Num início de trabalho com Steve Nash atuando como dirigente, o Canadá conseguiu juntar boa parte de sua molecada talentosa da NBA, mas lhe faltou experiência na luta pela vaga no hexagonal americano.

A distância entre as supostas potências (ou “favoritos”) e os (não mais) eternos sacos de pancada diminuiu consideravelmente. Entrar com credenciais já não serve de mais nada. Esses vão ter de jogar, e jogar bem, para vencer, como os jamaicanos deixaram claro para brasileiros e argentinos.

Daí vem a frustração com o trabalho de Rubén Magnano este ano – especificamente neste ano. Com o time completo talvez a campanha brasileira na Copa América tivesse sido completamente diferente, muito provavelmente sim, mas, considerando o que vem acontecendo em todo o globo, nem mesmo essa hipótese pode ser mais encarada como uma garantia. E, de qualquer forma, essa hipótese, de time completo, já estava  aparentemente descartada para todos, menos o treinador.

Num contexto em que todos se veem no mesmo balaio, o argentino era para ser um trunfo da seleção brasileira, alguém que pudesse fazer a diferença, deixando-a bem preparada para as batalhas que viriam. Obviamente não aconteceu dessa vez. Difícil aceitar isso, até para ele, e daí saem os ataques aos que não embarcaram, de pura frustração. Que ele se acostume a partir de agora.

No mundo Fiba versão 2013, de fácil, mesmo, só a vida de Austrália e Nova Zelândia, que só precisa cumprir tabela em dois amistosos no (coff! coff!) Campeonato da Oceania para garantirem suas vaguinhas.