Moncho Monsalve ainda está internado, mas evolui positivamente
Giancarlo Giampietro
“Señores, por Dios!”
Os repórteres tinham de esperar na quadra ao lado, no complexo da Arena Olímpica de Atenas, enquanto a seleção brasileira treinva, e aquele senhor espanhol com alguma dificuldade de locomoção e uma cabeça muito acelerada para o basquete berrava com os jogadores. Quer dizer: a prática podia estar sendo fechado pra os forasteiros, mas dava para saber o que se passava por ali de qualquer modo.
Embora fosse um desconhecido em geral para os brasileiros, fosse muito mais velho, de outro país e não maneirasse nos gritos quando achasse necessário, Moncho Monsalve desenvolveu uma sólida relação com seus novos comandados no biênio em que dirigiu a equipe. Era meticuloso, questionava os atletas por centímetros que talvez estivessem errados em seus posicionamentos – todo detalhe é importante e pode fazer a diferença, rá –, forçava a repetição de jogadas e fundamentos. Ao final dos treinamentos, nas entrevistas a rapaziada mostrava que levava, digamos, na esportiva. Sabiam que era para o bem.
E não que o espanhol fosse um carrasco ou coisa assim. Sabe dar risada e fazer rir (no bom sentido). Tem ótimo relacionamento, trânsito com muita gente no mundo Fiba. Sempre me lembro do dia em que consegui uma carona com o técnico e o assistente Neto num ônibus da seleção croata, na volta da arena para o hotel das delegações, e ele batendo o maior papo com Marko Tomas e Marko Banic, que jogavam na Espanha, contando e ouvindo histórias, e não parava. Em tempo: era a cobertura do Pré-Olímpico Mundial de 2008, no qual as aspirações da equipe brasileira se encerraram nos tiros de três pontos de um alemão – justo ele, o armador Pascoal Roeller, um merom coadjuvante de Nowitzki.
Na sexta-feira passada, Moncho, aos 67, sofreu um ataque cardíaco em quadra, quando dirigia o time júnior do Murcia. Foi levado as pressas para um hospital para um primeiro atendimento, até ser deslocado para outra unidade. Ele ainda está na UTI, mas segundo a mídia espanhola evolui positivamente e está consciente.
Melhoras, e rápido!
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Com Moncho, o Brasil venceu a Copa América de 2009, em Porto Rico, derrotando a seleção local em uma final dramática, por um ponto. Hoje pode não parecer muita coisa, mas esse era um tremendo dum fantasma para a seleção. Depois de, na primeira fase, já ter batido a Argentina de Luis Scola – sem o resto da cavalaria, mas ainda assim, outro tipo de triunfo que contou muito naquela época.
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Moncho foi uma estrela da seleção espanhola na década de 60, foi jogador do Real Madrid, mas teve sua carreira abreviada em 1972 devido a uma grave lesão no joelho. De imediato, passou a trabalhar como treinador e foi uma figura influente no desenvolvimento da escola de técnicos, realmente excelente, da Espanha.