Vinte Um

Moncho Monsalve ainda está internado, mas evolui positivamente

Giancarlo Giampietro

Moncho Monsalve

Moncho Monsalve nos tempos de comandante da seleção em 2008 ou 2009

''Señores, por Dios!''

Os repórteres tinham de esperar na quadra ao lado, no complexo da Arena Olímpica de Atenas, enquanto a seleção brasileira treinva, e aquele senhor espanhol com alguma dificuldade de locomoção e uma cabeça muito acelerada para o basquete berrava com os jogadores. Quer dizer: a prática podia estar sendo fechado pra os forasteiros, mas dava para saber o que se passava por ali de qualquer modo.

Embora fosse um desconhecido em geral para os brasileiros, fosse muito mais velho, de outro país e não maneirasse nos gritos quando achasse necessário, Moncho Monsalve desenvolveu uma sólida relação com seus novos comandados no biênio em que dirigiu a equipe.  Era meticuloso, questionava os atletas por centímetros que talvez estivessem errados em seus posicionamentos – todo detalhe é importante e pode fazer a diferença, rá –, forçava a repetição de jogadas e fundamentos. Ao final dos treinamentos, nas entrevistas a rapaziada mostrava que levava, digamos, na esportiva. Sabiam que era para o bem.

E não que o espanhol fosse um carrasco ou coisa assim. Sabe dar risada e fazer rir (no bom sentido). Tem ótimo relacionamento, trânsito com muita gente no mundo Fiba. Sempre me lembro do dia em que consegui uma carona com o técnico e o assistente Neto num ônibus da seleção croata, na volta da arena para o hotel das delegações, e ele batendo o maior papo com Marko Tomas e Marko Banic, que jogavam na Espanha, contando e ouvindo histórias, e não parava. Em tempo: era a cobertura do Pré-Olímpico Mundial de 2008, no qual as aspirações da equipe brasileira se encerraram nos tiros de três pontos de um alemão – justo ele, o armador Pascoal Roeller, um merom coadjuvante de Nowitzki.

Na sexta-feira passada, Moncho, aos 67, sofreu um ataque cardíaco em quadra, quando dirigia o time júnior do Murcia. Foi levado as pressas para um hospital para um primeiro atendimento, até ser deslocado para outra unidade. Ele ainda está na UTI, mas segundo a mídia espanhola evolui positivamente e está consciente.

Melhoras, e rápido!

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Com Moncho, o Brasil venceu a Copa América de 2009, em Porto Rico, derrotando a seleção local em uma final dramática, por um ponto. Hoje pode não parecer muita coisa, mas esse era um tremendo dum fantasma para a seleção. Depois de, na primeira fase, já ter batido a Argentina de Luis Scola – sem o resto da cavalaria, mas ainda assim,  outro tipo de triunfo que contou muito naquela época.

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Moncho foi uma estrela da seleção espanhola na década de 60, foi jogador do Real Madrid, mas teve sua carreira abreviada em 1972 devido a uma grave lesão no joelho. De imediato, passou a trabalhar como treinador e foi uma figura influente no desenvolvimento da escola de técnicos, realmente excelente, da Espanha.