Vinte Um

Arquivo : Canadá

Grupos da Copa América definidos: ótima oportunidade para avaliar os prospectos da seleção
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Giancarlo Giampietro

Olha o Brasil aí

Olha, aqui no QG 21 tava fazendo falta, sim. Conversar sobre a seleção brasileira.

Nesta quinta-feira, a Fiba Américas divulgou a tabela da Copa América masculina de basquete, que será disputada de 30 de agosto a 11 de setembro na Venezuela. Os quatro primeiros colocados se classificam para a Copa do Mundo da Espanha em 2014.

Na primeira fase, não dá para ter apreensão alguma: num grupo de cinco times, avançam as quatro primeiras. Só não dá para tropeçar muito porque os pontos se acumulam na segunda etapa, que definirá os quatro semifinalistas – e classificados – do torneio. O Brasil encara Porto Rico, Canadá, Uruguai e Jamaica em seus quatro duelos iniciais.

Aqui de longe, ainda sem saber nada das listas, dá para arriscar dizer que o Canadá se projeta como o adversário mais complicado. Sim, mais que Porto Rico – independentemente da presença de José Juan Barea, Carlos Arroyo etc.. Agora com Steve Nash engravatado, cumprindo papel de  dirigente, a confederação canadense tem se esforçado em agrupar seus principais jogadores, tentando formar um programa realmente competitivo. Os primeiros sinais são promissores, e talento não faltará ao time, mesmo que os alas-pivôs Kelly Olynyk e Anthony Bennett, dois dos jogadores mais dominantes do basquete univeristário dos EUA nesta temporada, e o jovem armador Myck Kabongo sejam selecionados no Draft da NBA neste ano e possam, eventualmente, ter suas convocações vetadas.

Rubén Magnano, do seu canto, adota o discurso protocolar de qualquer jogo é pedreira. Conhecendo o técnico, não era de se esperar outra coisa, claro. (Isso, claro, se o argentino ainda for o comandante da seleção até lá, lembrando que a CBB passa por eleições em março. Mesmo que o candidato da oposição, o velho conhecido presente-de-Grego, tenha indicado que não haveria mudança alguma nesse sentindo, não dá para cravar como ficaria a situação, pensando muito mais em Magnano aqui. E, não, esse pequeno comentário não é uma campanha em prol do horrendo Carlos Nunes, que tem na contratação do supertécnico seu grande – e único?! – trunfo para buscar a reeleição.)

“Não será uma competição fácil e não podemos descuidar de nenhum adversário. Enfrentaremos nossos rivais mais difíceis na sequência. A estreia será contra Porto Rico, que pela capacidade e bagagem técnica é um grande candidato à classificação. Precisamos estar bem preparados para jogar e ir atrás do nosso objetivo”, afirmou o treinador. “A seleção do Canadá também é uma grande equipe e tem muito potencial. Mas precisamos saber antes de fazer uma análise mais completa quais os jogadores irão representar seu país, pois eles trocam bastante a cada ciclo os jogadores. O mesmo serve para o Uruguai que dependerá dos jogadores que vão atuar, mas com certeza será um jogo difícil. A Jamaica não é tão difícil quanto os demais, mas não podemos descuidar de nenhum adversário.”

Um pouco de blablabla.

O Uruguai realmente tem jogadores muito interessantes, com o pivô Esteban Batista, os armadores Gustavo Barrera, Jayson Granger e o veterano Martín Osimani etc. A Jamaica também pode até contar com o grandalhão Roy Hibbert, do Indiana Pacers, o pivô Samardo Samuels e Patrick Ewing Jr. Mas não dá para esperar perrengue algum contra esses dois times se o Brasil praticar um basquete minimamente consistente.

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Na outra chave estão: Argentina, República Dominicana, México, Paraguai e Venezuela. México e Paraguai são as babas.

Avaliando as dez equipes participantes, em teoria apenas seis brigam por vaga, em ordem alfabética: Argentina, Brasil, Canadá, Porto Rico, República Dominicana e Venezuela Quem chegará mais forte que o outro? Aí, sim, é impossível dizer. Tudo depende de quem vai dizer sim a seus técnicos.

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Para Magnano, as notícias que já vieram dos Estados Unidos não são boas, sabemos:

– O argentino já sabe que não vai poder contar com Leandrinho, que ainda vai estar em recuperação de uma cirurgia no joelho.

– Anderson Varejão hoje é, na melhor das hipóteses, uma incógnita. Ele é outro que não vai terminar a temporada regular da NBA jogando, afastado devido a um coágulo detectado em seu pulmão direito. O pivô já deixou o hospital, visitou os companheiros de Cavs, mas a estimativa inicial era de que ele ainda passaria por tratamento até maio. Se ele vai estar pronto em agosto, física e/ou espiritualmente, é uma dúvida tão grande quanto sua cabeleira – e raça em quadra.

– Ainda em atividade, Nenê jogou as Olimpíadas no sacrifício, algo que implicou em mais uma temporada acidentada na liga norte-americana, agora vestindo a camisa do Washington Wizards. Será que ele topa emendar mais uma vez suas férias?

Tiago Splitter e o San Antonio Spurs esperam sinceramente que ainda estejam em quadra em meados de junho, nas finais da NBA.

– Fabrício Melo consegue jogar na D-League, tem potencial físico, mas ainda está longe de ser um jogador de impacto em partidas decisivas, de peso, como teremos na Copa América. Caso não seja envolvido em alguma troca durante o próximo Draft, em junho, certamente estará em ação pelo Celtics nas próximas ligas de verão em julho.

– Scott Machado ainda não conseguiu retomar o caminho da NBA depois de ser dispensado pelo Houston Rockets. Conseguindo ou não uma nova chance na liga principal, também deve participar dos torneios de verão norte-americanos. Para quando será que Magnano vai marcar sua apresentação?

Mas calma, gente. Nem tudo está perdido.

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Mesmo se não puder contar o sexteto que iniciou a atual temporada da NBA, Magnano ainda teria talento o suficiente para compor uma equipe de respeito, forte, para disputar a Copa América, contando com aqueles que julga os destaques do NBB – embora nem sempre os melhores de fato do campeonato nacional sejam chamados, diga-se – e com os garotos em desenvolvimento na Europa. (Desde que, claro, nenhum deles faça a transição para a liga norte-americana entre as temporadas.)

Rafael Hettsheimeir vai recuperando a melhor forma pelo Real Madrid aos poucos, Vitor Faverani tratou de fazer as pazes e é um pivô de elite na Europa, Rauzlinho ganhou minutos preciosos de Liga ACB nesta temporada, assim como Lucas Bebê, e Augusto Lima e Rafael Luz devem estar doidos para mostrar mais serviço pela seleção.

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Muita gente pode ter se despedido de Manu Ginóbili, Andrés Nocioni e Pablo Prigioni em Londres, mas nenhum dos três anunciou oficialmente a aposentadoria da seleção argentina. Luis Scola, pelo contrário, garantiu que joga. A República Dominicana não vai contar mais com John Calipari. Sem o badalado treinador, Al Horford e Francisco Garcia vão topar o desafio? A Venezuela depende, muito, do cada vez melhor Greivis Vasquez.


Marcado por Raulzinho, Lucas Bebê faz a cesta da vitória para o Estudiantes
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Giancarlo Giampietro

Lucas Bebê vence a partida

O chapa Rafael Uehara já detalhou um pouco do desenvolvimento de Lucas Bebê no basquete espanhol. Neste fim de semana, o jovem pivô, ainda aos 20 anos, foi protagonista de um dos lances da rodada para nos sublinhar essa evolução. Foram deles os últimos dois pontos da vitória por 79 a 77 do Estudiantes sobre o Lagun Aro, pela 19ª rodada da Liga ACB.

O placar estava empatado em 77 a 77, quando o uruguaio Jayson Granger recebeu passe do ultramarcado Carl English (mais abaixo) e bateu para a cesta. Enfrentou dois adversários no alto na hora de subir para a bandeja e errou a finalização. Na sobra apareceu o pirulão brasileiro para converter o rebote ofensivo com simplicidade, sem cravada nenhuma, mas valendo os mesmos dois pontos.

A defesa do Lagun Aro estava tão quebrada pela atenção inicialmente despertada por English que acabou sobrando para o pobre Raulzinho fazer o bloqueio de rebote em Bebê, seu companheiro de seleção de base. Sem chance, né? O que não impediu também que o pivô ainda desse um leve empurrão no compatriota para subir livrinho. Veja aqui o lance.

(Não foi, aliás, uma partida para Raul guardar na cabeça: 2 pontos e 2 assistências em 16 minutos).

Lucas saiu do banco e jogou por 16 minutos. Terminou com apenas três pontos e uma cesta de quadra em cinco tentativas. Mas sua única cesta foi justamente a mais importante da partida. Além disso, somou cinco rebotes – três deles na tábua ofensiva, incluindo esse derradeiro – e deu quatro tocos.

Reparem no vídeo também: de tão pouco acostumado que está a participar de lances decisivos como esse pelo Estudiantes, que Lucas mal sabe direito como celebrar a cesta mais importante de sua carreira como profissional até aqui. Vê-lo em quadra nos segundos finais de um jogo pauleira da liga espanhola é um ótimo sinal.

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Por falar em jovem pivô brasileiro na Espanha… Temos o Augusto Lima, titular do Unicaja Málaga contra o CSKA Moscou na sexta passada, pela Euroliga, o carioca teve uma bela participação num surpreendente triunfo por 94 a 81 na capital russa – equipe da casa vinha de nove partidas invicta no torneio, enquanto o Málaga não vencia há sete partidas, incluindo o torneio continental e o nacional.

Aproveitando-se da ausência do veterano americano Andy Panko, Augusto ficou em quadra por cerca de 26 minutos e teve provavelmente sua melhor atuação na competição, com 9 pontos e 5 rebotes, além de dois roubos de bola e um toco. Ele mostrou seus principais atributos, como um pivô extremamente atlético, que corre a quadra com muita facilidade e determinação.

Na defesa, teve problemas em muitos confrontos no mano a mano com o sérvio Nenad Krstic (muito mais forte e experiente), especialmente quando o adversário era acionado contra uma esburacada defesa por zona orientada pelo técnico Jasmin Repesa. Seja no 2-1-2 ou 2-3, seus pivôs ficaram cetralizados muito recuados e permitiram bom posicionamento do talentoso do oponente. A partir do momento em que Krstic conseguia selar o brasileiro atrás de suas costas, os dois pontos ficaram praticamente garantidos. Não havia dobra, e sua envergadura e técnica fizeram a diferença. Por outro lado, quando não era incumbido de fechar o garrafão, centralizado, teve um rendimento bem melhor, cortando passes e fazendo sólidos bloqueios para o rebote.

Ganhar uma chance em Moscou, em uma partida de ag0ra-ou-nunca para o Málaga e ter correspondido: essas são as boas novas para Augusto e Magnano.

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Quem vem em grande fase na Liga ACB, ao lado de Bebê no Estudiantes, é o canadense Carl English. Contra o Lagun Aro ele anotou 31 pontos, e apenas 9 deles saíram da linha de três pontos. Agressivo, criativo em seus movimentos, conseguiu bater 12 lances livres na partida e converteu 11. O resultado foi a marca de 41 pontos de eficiência, sendo eleito o melhor jogador da rodada pela quarta vez na temporada. Aos 31 anos, está jogando o melhor basquete de sua carreira, com médias de 19,2 pontos em apenas 29 minutos. Para a Copa América 2013, caminha para ser o líder de uma seleção canadense que se esboça como grande ameaça para Brasil e Argentina.


Depois de ‘férias’, revelação canadense desponta no basquete universitário americano
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Giancarlo Giampietro

Você assistia aos Canadá em ação nas competições Fiba e, ao final da partida, não tinha como não desligar a TV intrigado com Kelly Olynyk. Não só por este nome diferente, mas especialmente pelo tipo de jogador ele poderia ser. Alto, com 2,11m, e bastante ágil e versátil, fez sua estreia na seleção hoje gerenciada por Steve Nash aos 19 anos, direto no Mundial da Turquia-2010, com tempo de quadra consistente, com justiça. Dali realmente poderia sair coisa.

Kelly Olynyk e o potencial

Olynyk, promessa canadense

No ano seguinte, durante a Copa América de Mar del Plata, o ala-pivô começou bem mal o torneio, praticamente esquecido no banco de reservas, até que conseguiu 19 pontos e 12 rebotes num embate (e derrota larga) contra a experiente Argentina. De todo modo, sua produção caiu no geral, mesmo enfrentando concorrência mais fraca. Estava mais pesado, menos enérgico. O que havia acontecido?

Com jovens jogadores, você nunca sabe. Ainda estão aprendendo a lidar com o corpo, em constante mudança. A cabeça, então, nem se fala. Para um adolescente comum, a fase já é braba. Imagine, então, salpicar nesse caldeirão as aflições que o esporte proporciona, da possibilidade de sucesso ou falha numa carreira que pode ser glamourosa e render uma boa grana, mas que também, facilmente, pode ser curta e cheia de frustrações. Uma revelação bem cotada pode desaparecer e um anônimo, pouco badalado, pode explodir de repente.

Uma breve pesquisa na época – segundo semestre de 2011, lembrando, quando o Vinte Um estava nascendo – mostrou que Olynyk estava entrando em parafuso mesmo. Não sabia se continuava jogando na universidade de Gonzaga ou, na verdade, se continuava no basquete mesmo. Chegou a esse ponto.

Gonzaga é uma universidade católica com sede na cidade de Spokane, lá no Noroeste dos Estados Unidos. Sua posição geográfica facilita o recrutamento de muitos talentos canadenses, como o armador Kevin Pangos, que acompanha Olynyk neste ano, e o pivô Robert Sacre, o quebra-galho do Lakers para substituir Howard ou Gasol, no ano passado.

Kelly Olynyk tirou férias

Engravatado Olynyk ficou fora dos jogos, mas não das quadras

A presença do compatriota Sacre e do ala-pivô alemão Elias Harris no elenco dos Bulldogs no elenco 2011-2012 e a insegurança motivaram o ala-pivô a tomar uma decisão drástica e incomum antes da temporada: considerando que não teria muito espaço, ele optou por ser um “red shirt” – o jogador basicamente congela sua temporada de atleta, podendo usar futuramente um ano extra de atividade esportiva pela universidade. Este é um procedimento geralmente adotado por jogadores que tenham sofrido alguma lesão grave. Não foi o caso aqui: o cara ficou treinando com os companheiros, orientado pelos técnicos, mas não participou de uma partida sequer.

Geralmente, para os atletas mais novos, quanto mais jogo melhor. Para Olynyk, a temporada “off” serviu para colocar a casa em ordem. “Acho que qualquer um que não está muito satisfeito começa a pensar nas coisas. Mas eu conversei com os treinadores, e tivemos longas discussões. Fizemos um plano que funcionou no fim. Acho que tomei a decisão certa”, disse.

Voltou com mais vigor físico, a agilidade reabilitad, uma cabeleira hi, e muito mais determinado em fazer suas habilidades predominantes em quadra. Com a graduação de Sacre, havia uma vaga no time titular pronta para ser conquistada. “Não coloquei que queria aproveitar o ano para ganhar peso, estabelecer uma meta. Apenas encarei o ano para ficar mais forte e mais magro, para poder atacar de várias posições de modos diferentes e usar essa essa vantagem. Estava tentando me sintonizar e me tornar mais forte, para não ser empurrado para longe da bola. Definitivamente sinto uma diferença da minha segunda temporada para agora”, afirmou o canadense, agora com 21 anos.

Kelly Olynyk hippie

Kelly Olynyk renovado

Olynyk agarrou a chance e deslanchou, somando nesta temporada 18,1 pontos, 6,7 rebotes em 25,6 minutos por jogo, além de excepcionais 66,2% no aproveitamento dos arremessos e 80,3% nos lances livres. Muitos podem ter ficado surpresos, mas quem acompanhava o atleta de perto sabia de seu potencial. Era só uma questão de encontrar seu lugar, se sentir confortável na equipe e colocar em prática. “Ele não virou um jogador sensacional da noite para o dia só por causa de um ano fora. O talento estava ali. A confiança também existia, vendo por seus jogos com o Canadá. Esses ingredientes combinados com um programa de 12 meses e muita dedicação, com ele se comprometendo a trabalhar mais no garrafão, acabaram transformando-o”, avalia o técnico FranFraschilla, analista da ESPN.

Fraschilla toca num ponto importante. Olynyk tem um bom arremesso de três pontos, é ágil e pode atacar a cesta de frente como um ala. É o tipo de pacote bastante chamativo, mesmo, mas muitos prospectos ficaram pelo caminho na tentativa de colocá-lo à prova em jogos para valer. Digo: é algo muito bonito de se ver em treino ou em lances isolados, mas que nem sempre se valida em campeoantos (Nikoloz Tskitishvili, Martynas Andriuskevicius, Nemanja Alexandrov, Zarko Cabarkapa e muitos outros ficaram pelo caminho…).

O canadense trabalhou bem com a comissão técnica e se conscientizou em primeiro buscar as cestas mais fáceis – ainda mais competindo contra jogadores mais baixos rodada após rodada –, e deixar seus vastos recursos como uma literal reserva técnica, mesmo. Não está proibido de chutar de fora ou atacar os adversários pelo drible. Seria um crime. Mas também não poderia apostar apenas nisso, ainda mais com os pés de dançarino que tem.

O resultado disso tudo, claro, é que Olynyk agora vai subindo consideravemlente nas tabelas pré-Draft. Mantendo o nível até o final da temporada, tem tudo para ser escolhido entre os 30 melhores do recrutamento de novatos da NBA. Mas ele pode deixar isso para mais tarde. Para o ala-pivô, depois de um período de incertezas, o importante é curtir seu potencial agora. Jogando.

PS: encontre o Vinte Um no Twitter: @vinteum21.


Nash tenta se redimir com canadenses e transformar o país em uma potência
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Giancarlo Giampietro

Steve Nash partiu o coração dos fervorosos torcedores do Toronto Raptors há algumas semanas, ao acertar sua transferência para o Los Angeles Lakers, em vez de um tão aguardado retorno para casa. Snif.

De certa forma, foi mais um ato do armador a frustrar quem gosta do basquete no Canadá, após mais de oito anos de distanciamento da seleção nacional. Se ele tivesse aceitado liderar o Raptors nas próximas temporadas, essas seguidas decepções poderiam ser facilmente esquecidas. Mas não deu. Snif-snif! Abre o berreiro!

Steve Nash, cartola no Canadá

Aos 38, Nash agora tem um outro uniforme para defender o Canadá. Bacana o lenço vermelho, né?

Para justificar esta ausência, Nash afirmava que não poderia mais emendar as férias da NBA com as atividades dos torneios Fiba. Que seu corpo não aguentaria. Tendo em vista sua forma física aos 38 anos, do ponto de vista profissional, pessoal, é complicado questionar sua opção.

Não que ele fosse obrigado a se apresentar, e tal, mas a gente sabe muito bem o quão pesada ficou a barra do Nenê por estas bandas nos últimos anos até ele jogar agora em Londres, né? Agora imagine o nível de apego e dependência dos canadenses com Steve Nash, alguém muito mais qualificado e, pior, insubstituível. A dor é insuportável. Pense nas músicas de Bryan Adams, Alanis Morissette e Avril Lavigne. Agora multiplique por dez. Pesado.

Agora, a partir desta semana, esse genial jogador tenta se redimir de alguma forma com seus patrícios basqueteiros, começando para valer no cargo de gerente geral da seleção masculina, num cargo parecido com o de Vanderlei aqui no Brasil. A primeira decisão foi a contratação de Jay Triano para o cargo de técnico. Triano, hoje assistente do Blazers, não foi muito bem como o comandante do Toronto Raptors na NBA, mas tem muita experiência no mundo Fiba, tendo sido um scout da seleção dos EUA por anos.

Seu desafio maior: aglutinar as hordas e hordas de talento que o país vem produzindo nos últimos anos, para tentar resgatar o respeito que o programa teve no começo da década passada. Tipo, quando o próprio armador entrava em quadra para liderar a equipe.

Para isso, Nash organizou um encontro de alguns de seus principais jogadores e apostas para esta semana. Seria o ponto de partida pensando no Mundial na Copa do Mundo da Espanha em 2014 e nas Olimpíadas do Rio-2016.

A lista inteira de convidados ainda não está clara, mas a imprensa canadense dá como certa ao menos as presenças do ala-pivô Tristan Thompson, do Cleveland Cavaliers, e do armador Cory Joseph, do San Antonio Spurs, além dos adolescentes Tyler Ennis (armador) e do prestigiado Andrew Wiggins (ala). Os dois meninos eram destaques da equipe  sub-18 que esteve em São Sebastião do Paraíso neste ano e que tiveram seus planos de desafiar os Estados Unidos na final frustrados pelo Brasil. Ops.

Andrew Wiggins, Canadá

Andrew Wiggins é a grande aposta canadense

Mas estes são apenas quatro nomes badalados de um grupo muito volumoso e de prestígio em cenário internacional que o Canadá pode contar. Realmente volumoso.  Contem aí veteranos como Joel Anthony, do Miami Heat, e Matt Bonner, o foguete ruivo do Spurs, recém-naturalizado – Sam Dalembert, que aprontou muito em 2007 e 2008, estaria fora. Também pode somar o ala Kris Joseph, companheiro de Fabrício Melo em Syracuse e agora no Boston Celtics. Ou o ala-pivô Andrew Nicholson, do Orlando Magic. Ou os armadores Mick Kabongo e Kevin Pangos, em atividade em times de ponta do basquete universitário norte-americano, respectivamente Texas e Gonzaga, que também revelou o pivô Robert Sacre, draftado em junho pelo Lakers.

Já deu quase um time inteiro só nessa rápida passadela, mas, juntando as peças de relatos de torneios e eventos de base dos últimos anos, teria muito mais para citar. A ponto de, mesmo com eventuais desistências, ser quase certa, ao menos em termos de nomes, a composição de uma grande equipe lá no Norte da América.

Só fica a dúvida sobre qual será o nível exato de ascendência de Nash sobre seus compatriotas. Sabemos que ele é um admirador sério do legendário Wayne Gretzky, ídolo do hóquei canadense e alguém que, suponho, deve deixar Adams, Alanis, Avril e Nelly Furtado no chinelo em termos de popularidade nacional. Nesse nível acho que só o Rush e o Neil Young. Teria o agora cartola esse tipo de influência? Como convencer os jovens recrutas a embarcar numa viagem que ele próprio recusa desde 2003?

Steve Nash, armador canadense

Os bons tempos de Nash vestido de vermelho

A diferença, a seu favor, é que as futuras estrelas da seleção canadense dividiriam responsabilidade, se desgastariam menos. Para quem se lembra do time olímpico de Sydney-2000 ou do Pré-Olímpico de San Juan-2003, a seleção dependia muito da criatividade do armador para jogar de igual para igual contra os principais times do continente. Desta vez, se pelo menos metade do contingente disponível aceitar as convocações, muda o cenário.

Isto é: para quem já comemorava o possível desmonte da República Dominicana sem John Calipari e torce desesperadamente pela aposentadoria dos craques argentinos, melhor começar a reservar desde já algumas horas  de secador também contra os homens de vermelho e Nash.

Por mais que os seguidores do Raptors e da seleção deles já estejam irados de tão tristes.