Vinte Um

Arquivo : Canadá

Uma troca que pode influenciar a luta por título na NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Jordan Crawford, quem diria, virou reforço importante para o Warriors

Jordan Crawford, quem diria, virou reforço importante para o Warriors

Ao concluir uma troca, todo gerente geral vai se sentar diante dos microfones, um pouco mais alto no palanque, com o banner de sua equipe logo atrás e sorrir e falar sobre como essa negociação vai muito de acordo com o plano  – todos têm planos mirabolantes, ou pelo menos dizem que têm –, e que a negociação os leva diretamente para esta reunião.

No dia, o discurso pode até soar convincente, e as hordas de setoristas vão apoiá-lo, repassando o “peixe vendido” para os leitores. Alguns meses depois, dependendo do contexto, essa mesma negociação pode virar alvo de chacota e até mesmo resultar numa demissão. O olho da rua, a calçada da amargura.

Bem, nesta quarta, dando continuidade a uma temporada que já vai se desenhando agitado nas movimentações de jogadores, Boston Celtics, Golden State Warriors e Miami Heat fecharam uma troca tripla em que, assim de bate-pronto, acredito que influencia positivamente o rumo de ambos os times envolvidos. Nem precisa que Danny Ainge, Pat Riley ou Bob Myers se esforcem tanto para ganharem um joinha.

O negócio, vamos lá: Celtics manda Jordan Crawford e MarShon Brooks para a Califórnia. O Warriors, em contrapartida, se desfaz de Toney Douglas, que embarcano próximo voo para a Flórida. E o Heat repassa Joel Anthony para a Beantown, com mais duas escolhas de Draft (uma de primeira e outra de segunda, mas tem mais um detalhe aqui que vamos abordar um pouco mais abaixo).

É uma toca que, se a princípio, pelos nomes de coadjuvantes envolvidos, não é de assustar tanto, né? Mas ela pode ter, sim,  um impacto imediato na disputa do título deste ano – e dos próximos, diga-se.

Para entender o que cada um está pensando com o negócio:

Boston Celtics: por mais que Brad Stevens se esforce para fazer um bom prato a cada noite, sem ter muitos ingredientes à disposição, Danny Ainge claramente não quer saber de ver seu time competindo por playoff na Conferência Leste. O negócio é o Celtics se fixar entre os piores times da liga – se for entre os três lanterninhas, melhor ainda. Então o que ele fez? Pegou seu melhor jogador na temporada até aqui – Crawford, creiam – e o enviou para bem longe dali. Além disso, Brooks não estava muito satisfeito com a falta de tempo de quadra e com a passagem pela D-League. Um chorão a menos com que se preocupar.

Quem chega é o veterano Anthony. De positivo o que ele pode oferecer? É um jogador bastante inteligente, dedicado, experiente, que serve como mentor para jovens jogadores. Faz tempo que ele não joga, enterrado no vestiário de Erik Spoelstra, mas não podemos nos esquecer que é um bom defensor, atlético, protetor do aro. Algo que Stevens não tem no momento – ou que, pelo menos, ele não julga Vitor Faverani ser. Além disso, ele tira o fardo de Kelly Olynyk de ser o único atleta canadense no elenco esmeraldino. Tem isso. Por outro lado, o pivô tem uma das munhecas mais duras da liga. Ele é praticamente incapaz de converter uma cesta que não seja em enterrada ou na bandeja – e até na bandeja corre o risco de errar (confiram abaixo). Fica a dúvida, então: Stevens precisa de um cara como esses para fortalecer sua defesa. E talvez Ainge esteja salivando para ver Anthony em quadra, apostando que ele, no fim, vai fazer de seu time algo ainda pior. Rajon Rondo retornando bem, ou não.

Agora, o mais importante, mesmo, para o chefão em Boston é a aquisição de duas escolhas de Draft. Trata-se, hoje, da mercadoria mais valiosa no mercado da NBA. Qualquer novato que entre na liga de imediato após o recrutamento, seguindo as regras salariais impostas aos primeiros anos de contrato será um jogador mal pago, comparando com a média (Tiago Splitter e Ricky Rubio, por exemplo, esperaram algum tempo para deixar a Espanha e poder negociar um contrato mais generoso, e Nikola Mirotic segue pela mesma linha). Considerando todas as restrições do novo teto salarial, a importância desse tipo de jogador na composição de um elenco se tornou gigante. É por isso que ele não se incomodou em receber o salário de US$ 3,8 milhões do pivô como contrapartida. Mesmo que a escolha de primeira rodada que ele recebe possa se transformar em duas de segunda rodada. Explicando: é um pick que vem do Philadelhpia 76ers protegido. O Celtics só terá direito a usá-lo na primeira ronda do Draft caso o Sixers faça os playoffs neste ano ou na próxima temporada. Caso não aconteça, se transformará em mais dois do segundo giro. De qualquer forma, estamos falando aqui de commodities,

Ainge pode ou usar as escolhas para a confecção de seu plantel, mesmo, ou pode juntar tudo isso num megapacote futuro em busca de novas estrelas. Basicamente, a mesma estratégia que seguiu anos atrás para atrair Kevin Garnett e Ray Allen para lá. E não duvidem da capacidade de barganha do cara. Lembrem-se que Jordan Crawford foi adquirido no ano passado em troca por um lesionado Leandrinho e Jason Collins. Hoje, ele conseguiu uma compensação muito maior por ele.

Golden State Warriors: Zach Lowe estava perguntando nesta terça-feira a respeito: por que não o Warriors? Por que não incluí-los entre os times com chance de conquistar a NBA nesta temporada? Bem, Bob Myers afirmou ao jornalista do Grantlandi com toda a confiança de uma Golden Bridge que, sim, acredita que seu time é bom o suficiente para competir no duríssimo Oeste e sonhar com o caneco. Nesta quarta, um dia depois da publicação, ele reforçou a pergunta de Lowe. “Sim, por que diabos não o Wariors!?!?”, é como fica agora o título.

Crawford chega para dar um merecido descanso a Stephen Curry e Klay Thompson, dupla que vem acumulando média acima de 37 minutos por jogo nesta temporada. É muita coisa para dois jogadores leves como esses, ainda mais para alguém com tornozelo tão frágil como Curry. E, sem Steph inteirão nos plaoffs, não há chance alguma de o time pensar grande. Com Crawford – e, talvez, Brooks, que também é um belo cestinha nato, mas talvez ainda mais inconsequente nos arremessos que arrisca –, Mark Jackson enfim vai poder dar um respiro para seus jovens astros, sem se preocupar como conseguiria fazer uma cesta usando sua segunda unidade em quadra. Resta saber apenas se Jackson conseguirá administrar sua dupla da mesma forma que Stevens fez em Boston, especialmente JC. Se tiver sucesso, o Warriors ganha mais uma peça para tentar desafiar Spurs e Thunder. Podem ter certeza de que o Coach Pop e Sam Presti anotaram o recado.

Douglas é um defensor melhor que os dois que chegam, mas vinha todo estrumbicado na temporada com lesões, sem contribuir com quase nada para a ótima campanha da equipe.

Miami Heat: Pat Riley, meus amigos e minhas amigas, não brinca em serviço. Fica o aviso: se vocês não têm muita simpatia por tudo o que representa o Miami Heat, se torcem contra os caras, é melhor parar por aqui. Pulem para a próxima, abandonem o navio. Pois, numa negociação supostamente despretensiosa dessas, o Riles deu um jeito de deixar seu clube em situação ainda mais favorável para se bancar como uma dinastia.

E, não, não é pela chegada de Douglas. O ala-armador pode ser uma terceira opção na formação da backcourt com Dwyane Wade e Ray Allen, dependendo da saúde de Mario Chalmers e Norris Cole. Quando em forma, é um jogador atlético, espevitado, que pode se encaixar no sistema de pressão total do Heat. Se tiver matando as bolas de longa distância – um quesito no qual oscila bastante –, melhor ainda. Mas não estranhe nem um pouco se ele já for dispensado de imediato.

Por que? Bem, porque o principal objetivo de Riley era ganhar a tão alardeada “flexibilidade financeira” para sua gestão. Leia-se: dar um respiro para os cofres do proprietário Micky Arison,  que é daqueles que aparece na lista da Forbes, mas certamente aceita um desconto sempre que possível. Ao se livrar do salário Anthony deste ano e, especialmente, do ano que vem, o time vai poupar mais de US$ 10 milhões em pagamentos e multas. De modo que, neste ano ou no próximo, podem investir parte dessa grana em uma nova contratação de respeito – como as de Battier, Allen, Mike Miller etc. –, sem enforcar o contador. Além disso, caso decidam nem inscrever Douglas, uma vaga no elenco desta temporada será aberta. De modo que poderiam contratar Andrew Bynum ou qualquer outro veterano (que venha a ficar disponível) disponível  sem precisar abortar o projeto Greg Oden. Larry Bird não gostou.


Convites para o Mundial: quais os prós e contras dos principais candidatos?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Times do Mundial 2014

A Fiba abriu o jogo, ou pelo menos um pouco dele, ao divulgar nesta semana quais os critérios que seus dirigentes vão considerar para escolher os últimos quatro times classificados convidados para completar a Copa do Mundo de basquete Espanha 2014. Para que não viu, aqui está no site oficial (ou traduzido aqui pelo Basketeria). É uma forma esdrúxula de se definir os times participantes de um campeonato, claro, mas são estas regras, e não há muito o que fazer.

O que conta mais? Tamanho de mercado ou resultados esportivos? Conexões políticas ou popularidade de suas ligas? É muito complicado encontrar um senso comum aqui, numa lista realmente extensa para se avaliar num esboço do que estará na mesa para as próximas reuniões de cúpula da entidade – nos dias 23 e 24 de novembro em Buenos Aires e nos dias 1º e 2 de fevereiro de 2014 em Barcelona. O encontro na capital argentina pode fazer uma primeira peneirada entre todos os candidatos, mas a escolha final ficará mesmo para o encontro na Catalunha.

Claro que tudo pode se resumir a meramente quem pagar mais. Será que o cheque com mais dígitos vai levar? Pode ser que sim, embora não digam isso abertamente. Veja o que diz a federação em seu comunicado: “As confederações nacionais que decidirem colocar suas seleções como candidatas ao convite podem fazer doações. A quantia arrecadada será usada para a promoção mundial do basquete por meio da Fundação Internacional de Basquete da Fiba (IBF, na siga em inglês)”.

Mas, aqui, neste exercício, vamos supor que essa “doação” não será o fator mais decisivo – até porque um país talvez possa não oferecer muito dinheiro, mas sua mera presença no torneio já elevaria suas economias (oi, China). Então é hora de discutir a realidade dos principais candidatos de acordo com os critérios expostos pela federação e ver quais são as chances do Brasil nessa. Imagino que não teremos nenhum convidado fora do seguinte grupo:

Rubén abatido

Será que vai, Magnano?

Brasil
Prós:
sede das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016 – seria interessante para a Fiba fazer uma Copa do Mundo sem contar com o anfitrião olímpico? Participou em todas as edições do Mundial. Muitos jogadores de NBA. Quinto lugar nos Jogos de Londres 2012. Sede do Mundial feminino de 2006 (com muitos problemas). Engajamento do governo na fomentação da modalidade. Uma das sete maiores economias do mundo. Décimo no ranking mundial.

– Contras: péssima campanha continental, com nenhuma vitória em cinco jogos. Constantes desfalques em suas seleções, embora em Londres tenha reunido força máxima. Liga nacional se consolidando, mas ainda muito aquém de seu potencial. Ginásios vazios.

Canadá
Prós: um vasto grupo de jogadores na NBA – e, melhor, jogadores engajados no programa. Seria um modo de vender uma nova geração de estrelas em escala global. De modo que seria de bom tom colocá-los no Mundial já para dar exposição, incentivar e acelerar o progresso de um projeto bastante promissor. Fora de quadra, registre-se que esta é uma das 15 maiores economias do mundo.

Contras: resultados muito fracos desde a aposentadoria de Steve Nash (ficaram, por exemplo, na 22ª posição no último Mundial, um horror, e nem disputaram o de 2006). Mesmo historicamente seu retrospecto não chega a comover: na Copa América, para constar, conseguiram duas pratas e três bronzes – estão na 15ª posição do ranking mundial. Em termos de popularidade, o Toronto Raptors tem uma das torcidas mais fiéis e/ou raivosas da NBA. Vancouver estaria interessada em acolher um novo clube. Mas a modalidade ainda está bem distante do hóquei, claro.

China
Prós: precisa mesmo? Então vamos lá: não queira ser você o contador que vá fechar uma planilha de Excel de um torneio sem os chineses. Vai ficar tudo no vermelho, se comparada com a edição de 2010. Especialmente contando a audiência. Porque não só estamos falando de bilhões de chineses no total, mas de que, nesse mundaréu de gente, estão muitos, mas muitos, mesmo, aficionados pelo esporte, ainda que ele não tenha o prestígio de um pujante badminton. Se não bastasse, um dos patrocinadores da Copa é chinês.

Contras: olha… Difícil, hein? Só mesmo o fiasco que foi a campanha da seleção no Campeonato Asiático, no qual ficaram com uma péssima quinta posição, atrás de Taiwan. Maior humilhação que isso não tem. Mas foi apenas um acidente de percurso: de 1975 a 2007, os caras ganharam 14 de 16 competições continentais, tendo só perdido a hegemonia em tempos recentes para o Irã. Estão em 12º no ranking.

Grécia
Prós: uma potência na modalidade durante as últimas décadas. Vice-campeões mundiais em 2006. Campeões europeus em 2005. Bronze continental em 2009. Liga nacional caloteira, mas com clubes de muito prestígio, com o Olympiakos sendo o atual bicampeão da Euroliga. Uma nação doente pelo basquete – ainda que podemos dizer que eles, na verdade, são doentes por tudo e qualquer coisa. Acolheram o Pré-Olímpico mundial de 2008, o Mundial de 1998 e o Mundial Sub-19 de 2003. Quinto melhor no ranking da Fiba.

Contras: resultados recentes que ficam aquém do que vinham produzindo. Ficaram fora dos Jogos de Londres 2012, ficaram em décimo no último Mundial, sexto no EuroBasket de 2009. Neste ano, terminaram o campeonato regional apenas com a 11ª posição, ficando atrás até mesmo da Finlândia e da Bélgica (!?) e empatados com a Letônia na lista de times fora da zona de classificação para a Copa do Mundo. Jogadores gabaritados, mas de pouca expressão internacional além de Vassilis Spanoulis. Economia numa crise profunda que se arrasta há anos. Forte concorrência europeia pelos convites.

Clássico é clássico

Grécia e Turquia estão na briga por uma vaga. Mais rivalidade

Itália
Prós: tem uma liga que é historicamente uma das melhores do mundo. Os azzurrinos fizeram um excelente início de EuroBasket, mostrando enorme potencial, mas acabaram desandando da segunda fase em diante, sofrendo três dolorosas derrotas nos mata-matas. Apesar do desfecho decepcionante, apresentaram uma geração empolgante – que poderia muito bem receber uma forcinha da Fiba, para ver se engrenam de vez. Estrelas da NBA disponíveis que se juntam a jovens talentos para as ligas europeias. Uma das dez maiores economias do mundo e um mercado importante para patrocinadores da Copa do Mundo. Sediaram o EuroBasket feminino em 2007.

Contras: esse própria derrocada na reta final do EuroBasket, mas, antes disso, o significativo fiasco de suas campanhas desde a prata olímpica obtida em Atenas 2004: ficaram fora do último Mundial e das últimas duas Olimpíadas, amargando o 21º lugar na lista da Fiba. Forte concorrência europeia pelos convites.

Nigéria
Prós: poderia ser um convidado estratégico para a Fiba se houver algum interesse de intensificar a popularidade do esporte no continente africano. Muitos jogadores talentosos, alguns de NBA, que se comprometeram com a federação local nos últimos anos, premiados com uma surpreendente classificação para os Jogos de Londres 2012.

Contras: pouca rodagem em torneios de grande porte (jogaram apenas dois Mundiais, em 1998 e 2006) e uma economia pouco atrativa para investidores e patrocinadores. Instabilidade da confederação põe em dúvida a continuidade do projeto desenvolvido. Obviamente o azarão aqui, assim como seria a Tunísia, campeã continental em 2011 que também acabou eliminada neste ano.

Kiriklenko x Yi Jianlian

AK e Yi estarão na Copa do Mundo? Muito provável que sim

Rússia
– Prós: uma seleção de enorme tradição no basquete (se considerado o retrospecto soviético, ainda que os lituanos possam dizer uma coisa ou outra a respeito). Campeões europeus em 2007, bronze em 2011. Assim como levaram o terceiro lugar nas Olimpíadas de Londres 2012, mas oscilando muito. Andrei Kirilenko é uma superestrela europeia e presença obrigatória em qualquer clipe durante as transmissões de TV elaboradas pela Fiba. Uma das dez maiores economias do mundo.

– Contras: a despeito do tamanho do país, de suas pretensões no âmbito de política de esporte, sendo a sede da próxima Copa do Mundo de futebol, nunca sediaram um torneio de ponta da Fiba, nem no feminino. Extremamente dependentes de Andrei Kirilenko. Pífia campanha no EuroBasket (21º lugar).

Turquia
– Prós: alto investimento recente em competições da Fiba, sendo a sede do Mundial de 2010 e a futura sede do Mundial feminino, em 2014. Uma liga com forte poder econômico e grandes clubes. Uma companhia do país é a principal patrocinadora da Euroliga. Grande popularidade local, com clubes gigantes. Atual vice-campeão mundial (em casa, diga-se) e sexto colocado no ranking mundial. Jogadores com selo de NBA. Uma das 20 maiores economias do mundo. Posição  geográfica estratégica com território dividido entre Europa e Ásia. Estão em sexto no ranking mundial.

Contras: um tenebroso 17º lugar no EuroBasket, com um time desconjuntado – algo recorrente nas últimas campanhas, com uma disputa de egos notória, problemas que resultam em campanhas igualmente fracas nas últimas edições, não passando do oitavo lugar desde o vice-campeonato continental de 2001. Força da modalidade no país independe dessas participações nos grandes eventos.

Venezuela
Prós: ambição já elogiada pela Fiba para receber torneios da entidade, como a Copa América deste ano e o Pré-Olímpico mundial do ano passado. Liga nacional é uma das mais fortes do continente.

Contras: poucas estrelas, ou nenhuma estrela além de Greivis Vasquez. Só participou de uma edição das Olimpíadas (1992) e de três Mundiais (1990, 2002 e 2006), sem nunca ter ficado entre os dez primeiros colocados nestes torneios. Só tem duas medalhas em Copas Américas (prata em 1992 e bronze em 2005). Falhou em obter a vaga mesmo jogando em casa. Tem o pior ranking desta lista, em 28º.


Derrota desmoralizante para o Canadá deixa Brasil extremamente pressionado na Copa América
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

(Atualizado: 16h30, com aspas de Magnano e Huertas.)

Giovannoni e o Brasil encaixotados pelo Canadá

Giovannoni, sem reserva na Copa América, encaixotado pelos canadenses

Depois de uma derrota por 29 pontos de diferença, 91 x 62 para o Canadá, podemos fazer, sim, um esforço hercúleo e tentar enxergar algum ponto positivo nesta história toda, mesmo sendo este o dia em que o Brasil viveu sua jornada de Paraguai no basquete.

Rebobinemos a fita para 2 de setembro de 2011, quando a seleção brasileira saía de quadra em Mar del Plata tentando digerir uma derrota para a República Dominicana, ainda pela primeira fase do Pré-Olímpico. Uma derrota que deixava sua tão sonhada classificação bastante ameaçada. O time não estava bem, sem consistência alguma, mas, a partir daquele revés, conseguiu se ajeitar com uma ajudinha da tabela, engatando uma sequência de três vitórias até chegar ao grande clássico do continente, contra a Argentina. Vocês, aí, se lembram do que aconteceu, né? Hettsheimeir.

Para recuperar a confiança de sua equipe naquele torneio, Magnano teve a sorte de poder preparar sua equipe para jogos contra Cuba, Uruguai e Panamá. Três sacos de pancada usuais. Agora, no nosso tenebroso presente, a situação mais ou menos se repete nesta Copa América, com o Uruguai e a Jamaica pela frente, os dois times (supostamente, em teoria…) mais fracos do Grupo A.

Mas os paralelos se encerram, infelizmente, por aí.

Já que…

1) O Brasil havia perdido por apenas cinco pontos para os dominicanos, e, não, por 29.

2) É difícil encontrar time mais frágil que Cuba neste tipo de competição para poder elevar o moral.

3) Na primeira rodada da segunda fase, um time mais forte que o Panamá vai surgir, sendo muito provavelmente a Argentina – ferida por sua própria derrota na estreia, fazendo deste confronto algo ainda mais alucinante.

4) Aquela seleção tinha um elenco muito superior que esta.

Daí que Magnano tem, agora, duas partidas (supostamente, em teoria…) mais fáceis para tentar juntar os cacos, os fragmentos da seleção se ainda tiver esperança de conseguir a classificação para a Copa América na quadra e quiser, de algum jeito, lutar pelo título continental em Caracas, na semana que vem.

Ao ser humilhado pelo Canadá, numa exibição que não animou em nada o almoço da família brasileira, a seleção se vê numa situação extremamente incômoda.  Vai jogar a segunda fase, contra os quatro melhores times do Grupo B, já com duas derrotas, se vendo em desvantagem diante de porto-riquenhos e dominicanos (que, confirmando o favoritismo, avançariam sem nenhum revés), além de argentinos e canadenses (hipoteticamente com um revés cada). Se for esse, mesmo, o cenário para a próxima fase, a calculadora vai ser bem gasta pela comissão técnica – e a lavada deste domingo pode fazer uma baita diferença em qualquer conta necessária para definir os quatro classificados. Serão necessários no mínimo cinco triunfos nos próximos seis jogos.

Sobre a quadra? Se na Tuto Marchand  o Brasil levou uma surra da cerebral Argentina e agora foi a vez de ser destroçado de um time hiperatlético como o Canadá – comparem as estatísticas gerais novamente para constatar que os norte-americanos foram superiores em TODOS os quesitos disponíveis. Duas equipes completamente diferentes e que impuseram vitórias acachapantes num intervalo de menos de dez dias, em mais uma prova que temos problemas muito sérios em andamento. “O time veio para baixo quando a diferença foi subindo. Não tivemos força para reagir. Eles estavam jogando com muita facilidade. A defesa, que sempre foi ponto chave desde que o Rubén está no time, não funcionou, Estávamos perdidos. Tentamos e não conseguimos”, disse Huertas ao repórter Fábio Aleixo, do Lance.

De resto, não há muito o que colocar que fuja do que tem sido apontado desde a fase de amistosos. A convocação do argentino foi péssima. Seu time não tem senso coletivo algum em quadra. Harmonia, coesão, unidade, equilíbrio… Escolha o termo: é tudo o que tem faltado a esta equipe, com peças desconexas, que não se encaixam à medida que o treinador precisa utilizar seu banco e tocar sua rotação adiante. Apenas um quinteto com Giovannoni e Hettsheimeir de pivôs vem tendo alguma consistência, por ser essa a formação mais atlética (ou menos defasada, menos arrastada) que se pode usar com este grupo, uma vez que Felício parece descartado. De qualquer forma, seria extremamente injusto exigir 40 minutos intensos, impecáveis, sem faltas por jogo de Guilherme, que também nunca foi reconhecido como o melhor defensor.

E aí, para piorar, vemos o próprio campeão olímpico, logo ele, perder as estribeiras a ponto de ser excluído no quarto período, enquanto contestava diversas marcações do trio de arbitragem, querendo acreditar em alguma conspiração contra o Brasil neste torneio, uma conspiração pró-Caribe, ou algo assim.

Se há conspiração, isso é coisa para os diretores remunerados da CBB resolverem nos bastidores.

Em quadra, foi Magnano, mesmo, que se colocou em uma enrascada.

E ele sabe: “Sou o primeiro preocupado e o primeiro responsável. Este Brasil não tem nada a ver com o Brasil que se preparou para esta competição”, disse o argentino, incluindo que foi ainda a pior partida de toda a sua gestão.

De uma coisa discordamos, no entanto: a preparação já não havia sido nada boa.

*  *  *

Estamos falando de uma situação pontual. Uma seleção enrascada na Copa América. E, não, sobre o currículo de Magnano.

*  *  *

Nas duas primeiras partidas nesta Copa América, o Brasil acertou apenas 45 de seus 125 arremessos de quadra. Acredite: 36%, incluindo arremessos de dois pontos. Na linha de três pontos, o rendimento é de  10-35, bom para 28%.

*  *  *

Se as estatísticas da Fiba estão corretas – e precisam estar, já que são nossa única fonte –, a seleção só fez dez pontos de contra-ataque nas duas primeiras rodadas. Para um time que deve correr a toda hora, com base nos berros da comissão técnica na lateral da quadra, é um número muito alarmante. A estratégia não conseguiu ser colocada em prática. E, sim, este número está totalmente ligado ao anterior.

*  *  *

Quando receber as informações sobre a vitória arrasadora do Canadá, Gregg Popovich será um homem feliz: não só vai se lembrar que Tiago Splitter está tirando todo o verão de férias pela primeira vez desde que chegou a San Antonio, como tomará nota dos 28 pontos em 33 minutos que marcou Cory Joseph, o reserva do Parker. Acertou 10 de 15 arremessos, ainda bateu oito lances livres e não cometeu sequer um turnover durante a partida, fazendo Larry Taylor de gato e sapato. Superagressivo em quadra, como se fosse um Allen Iverson, e ainda com a maior tranquilidade. Foi a feia a coisa, mesmo.

*  *  *

Desfalque por desfalque, o Canadá tem hoje Steve Nash como gerente geral e, não, como armador. Andrew Wiggins, uma das maiores promessas do basquete mundial, também não se apresentou, assim como o ala-pivô Kelly Olynyk, calouro do Boston Celtics. Carl English, cestinha da Liga ACB, é outro que ficou fora.


Caras da Copa América: Thompson e Nicholson, e as diferentes formas de se formar um garrafão canadense
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A NBA está escancarada para o talento de estrangeiros há tempos. Para alcançar a liga norte-americana, há diversas maneiras. Pergunte aos brasileiros. Temos um Nenê começando a encestar com uma tabela fincada na garupa de um jipe. Temos Leandrinho com treinamentos praticamente militares quando era um infante, um adolescente. Que tal Tiago Splitter saindo de casa aos 15 anos para morar no País Basco? E por aí vamos, com infinitas rotas até conhecer o eldorado.

Para os canadenses, as coisas têm sido um pouco mais fáceis – na verdade, estamos em um ponto que já o fluxo das revelações do país mais ao norte da América (descontado o Alaska) já nem pode ser considerado mais uma tendência, mas, sim, uma realidade irreversível. Agora, entre eles também há diferentes maneiras de se encaminhar uma carreira profissional.

É só comparar as diferentes trajetórias de Andrew Nicholson e Tristam Thompson, duas das principais apostas de uma promissora seleção, dos poucos jogadores da grande liga americana a se apresentar para a disputa da Copa América e que vão desafiar o combalido garrafão brasileiro neste domingo, terceiro dia de disputa do torneio continental.

*  *  *

Tristan Thompson no ataque

Thompson, badalado desde adolescente, destinado a jogar na NBA

Tristan Thompson, segundo tudo indica, foi sempre um destaque atlético, desde os primeiros anos de estudante em Brampton, uma das cidades englobadas pela grande Toronto. Uma significativa influência de carga genética ajuda a contar esta história. Seu irmão mais jovem, Dishawn (demais, né?), é um ala-armador já cobiçado pelas grandes universidades americanas, com previsão para se formar no colegial no ano que vem. Um primo foi destaque na NCAA e na liga de futebol canadense, como tackle defensivo. Embora os pais, de origem jamaicana, não tenham feito dinheiro com o esporte, estiveram sempre envolvidos com esse tipo de prática – o pai jogava futebol, a mãe era uma corredora – até que a necessidade de fazer a vida os levou a deixar a ilha caribenha rumo a Toronto.

Enfim, Tristan nasceu na metrópole canadense, que, vejam só, acabou ficando pequena para seus planos. Com 16 anos, deixou seu país para jogar no circuito colegial dos Estados Unidos. A primeira parada foi na Saint Benedict’s Preparatory School, ao lado do armador Myck Kabongo. Sua cotação explodiu nessa escola, entrando em seu ano de junior (o penúltimo neste nível) como o jogador mais bem ranqueado em todo o país em sua classe. Foi disputado também por muitas das principais universidades, escolhendo jogar na de Texas.

A despeito do sucesso em quadra, deixou St Benedict’s devido aos constantes conflitos com o treinador Dan Hurley. Depois de um bate-boca durante uma partida, foi afastado do time e anunciou que sairia do programa de vez. Um mero acidente de percurso, e  não demorou, claro, para que seu telefone disparasse a tocar, até que mudou-se para a prep school de Findlay. Lá, faria dupla com o armador Cory Joseh,  hoje armador titular da seleção canadense e reserva de Tony Parker no Spurs e com quem fez parceria em Texas.

Na universidade que recentemente revelou Kevin Durant e LaMarcus Aldridge, embora não tenha propriamente arrebentado, ficou apenas um ano e só – o chamado “one and done”, cada vez mais frequente desde que a NBA aumentou suas restrições para a admissão de calouros.  Aos 20, realizou aquele que parecia seu destino, selecionado no Draft de 2011 na quarta colocação pelo Cleveland Cavaliers.

*  *  *

Andrew Nicholson, a finta e o contato

Andrew Nicholson, um (nerd) físico a serviço do basquete canadense

Até os 16 anos, Andrew Nicholson gostava, mesmo, era de jogar beisebol, talvez escondido dos pais. Mas ele acabou crescendo demais, correndo o risco de ficar um pouco ridículo com a indumentária deste esporte. Começou, então, a praticar basquete para valer no colegial Father Michael Goetz, em Mississauga, também nos arredores de  Toronto.

Quer dizer: “para valer” é relativo. Não está muito claro se o esporte era realmente algo planejado como algo sério para o seu futuro. Pelo menos é o que diz o técnico Mark Schmidt, da universidade de St. Bonaventure, que recrutou o praticamente desconhecido pivô depois de vê-lo em ação após uma viagem de cerca de 260 km da cidade de Olean, no estado de Nova York, para vê-lo em ação em Mississauga.

“Eu sentei com ele e seus pais depois de seu ano de calouro (já na universidade) e disse que ele poderia jogar na NBA. Eles não tinham noção disso. Para eles, era apenas livros, livros e livros. Era o modo como os pais dele encaravam as coisas, e é isso que ele faz. A ideia de uma carreira de basquete realmente nunca ocorreu para nenhum deles, então tive de explicar que havia uma chance legítima para isso”, afirmou o treinador, quando seu pupilo se preparava para o terceiro ano de NCAA, com 20 anos. “Ele calçava mais de 50, tinha mãos enormes do tamanho de uma mesa e não tinha ideia disso.”

A essa altura, os gerentes gerais já ligavam direto para Schmidt, procurando informações sobre aquele emergente jogador, de quem poucos haviam tomado nota até então, algo raro considerando a vasta rede de informações que os clubes da liga conseguem reunir. Embora já pudesse tentar o Draft de 2011, Nicholson optou por cursar o ano de senior, de modo que poderia se completar seu curso de física. A preferência, na verdade, era fazer química, mas ele teve dificuldade para conciliar os horários de estudante-atleta com classes e aulas extra no laboratório. “Ainda assim, foi desafiador”, conta Nicholson. “Mas tive a capacidade para isso. Sou muito, muito, muito bom em dividir meu tempo. Controlo até os milisegundos.”

Opa, então tá. Temos aí um raro caso de jogador profissional que optou por levar os estudos até o fim, sem medo de afetar sua outra carreira (muito mais lucrativa). Em tempos em que vemos Fabrício Melo momentaneamente desempregado, é de se pensar…

Diplomado e ainda badalado pelos scouts, depois de fazer treinos privados por 12 times diferentes em 14 dias, ele foi escolhido pelo Orlando Magic no Draft de 2012, aos 22, na posição 19.

*  *  *

Um ano e nove meses mais velho que Thompson, Nicholson é um jogador de movimentos refinados no ataque. Consegue girar bem para ambos os lados de costas para a cesta e também ataca muito bem quando de frente para o aro, com um bom chute de média para longa distância, num repertório que já despertou comparações com David West. Para ele chegar a esse nível, porém, falta algo fundamental: a coragem e disposição do sempre subestimado pivô do Indiana Pacers em aceitar o contato físico e brigar pela bola.

Thompson, por outro lado, é pura energia. Embora seu físico, de cara, não passe essa impressão – não estamos falando do jogador mais musculoso –, sua capacidade atlética é acima da média, tem boa envergadura e, com esse pacote todo, é um baita reboteiro. Tecnicamente, contudo, ainda está em progressão. Consegue a maior parte de seus pontos quando servido próximo da cesta ou em rebarbas ofensivas.

(Até por isso, aliás, decidiu revolucionar seu jogo durante as férias: arremessava com a mão esquerda até o final da temporada passada, e agora resolveu que a mão direita tem a melhor munheca. Para os que mal conseguem usar a perna esquerda (ou direita) para subir no busão, morram de inveja: o ambidestro TT é daqueles que assina cheque com a direita, escova os dentes com a esquerda e pode bater lances livres como bem entender. Considerando que 58,6% de suas primeiras  483 tentativas na liga, decidiu tentar com a outra.)

Isto é: numa ótima notícia para o técnico Jay Triano, aumentando e muito o poder de fogo e versatilidade de sua seleção, em quadra eles também não poderiam ser mais diferentes.

Caras da Copa América:


Talento porto-riquenho pesa na estreia. Mas a derrota deixa lição coletiva importante para a seleção
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Renaldo x JP Batista

Renaldo Balkman, de novo, acabou com o jogo a favor de Porto Rico

“EQUIPO!!! EQUIPO!!”, era o que berrava, com a voz estridente, mesmo, Rubén Magnano num pedido de tempo no segundo período. Num raro flagra televisivo,  provavelmente equipada com um microfone “boom” daqueles que captam tudo ao seu redor, até pensamento, a equipe de TV da Fiba conseguiu registrar um pedido de tempo da seleção brasileira, para ouvir o argentino.

E o técnico reclamava daquilo que era evidente: a seleção brasileira insistindo de modo irritante nas jogadas individuais, com um ataque novamente estagnado, pouco criativo. A partir da chamada, se não testemunhamos uma revolução, ao menos o padrão mudou o suficiente para mudar o ritmo do embate. Aos poucos, seus comandados foram voltando ao jogo. Só não foi o suficiente na derrota para Porto Rico por 72 a 65, pela rodada de abertura da Copa América em Caracas.

Era o que faltava ao time brasileiro, mesmo. Um mínimo de organização, de cabeça erguida e altruísmo, mas um pouquinho mesmo para fazer a diferença contra os bons e velhos parceiros de Porto Rico. Ah, Porto Rico! Os sabores porto-riquenhos, a leveza, a cultura caribenha. Individualmente muito mais talentosos nesta competição, mas ainda indisciplinados o bastante para fazer de qualquer partida uma emoção.

Também pesou na recuperação, como o próprio Wlamir alertou durante a transmissão da ESPN, uma ajudinha do técnico Paco Olmos. O espanhol não só tirou seus melhores nomes de quadra como chamar jogadas em sequência para o decadente já totalmente caído Larry Ayuso, o eterno nêmesis de Marcelinho Machado. Bem coberto por Vitor Benite, forçou seus chutes e investidas e, num piscar, o Brasil diminuiu uma desvantagem de dez pontos para dois ao final do primeiro tempo (31 a 29).

Do seu lado, além da bronca, Magnano também pôde consertar um próprio erro. Em vez de capengar com a dupla Caio e João Paulo, lançouum quinteto muito mais coeso por ser beeeeeem mais leve, com Larry-Benite-Arthur-Giovannoni-Hettsheimeir. Na volta do intervalo, eram Huertas e Alex no lugar de Benite e Arthur, mantendo a agilidade. Com esse tipo de formação, conseguiram pular cinco pontos à frente. O terceiro quarto foi vencido por 22 a 17 – isto é, dois pivôs pesados ao mesmo tempo em quadra não pode.

No quarto período, porém, Porto Rico enfim se acertou em quadra, lendo melhor o que se passava na partida. Diminuíram o bumbameuboi, aproveitando inclusive uma falha estratégica do técnico da seleção brasileira.

Ok, o velhaco Daniel Santiago estava dando um trabalhão danado, de modo que o técnico tirou Caio Torres de seu banco para combatê-lo. Deu certo por algumas posses de bola. Daí que Olmos tirou, então, seu grandalhão, e o argentino não o acompanhou nesse jogo de xadrez. Sem tem com quem trombar em seus custosos minutos a mais em quadra, no sacrifício e, por isso, com a mobilidade ainda mais comprometida,  sobrou para o novo pivô de São José perseguir sem a menor chance o hiperativo Renaldo Balkman.

Uma das figuras desta Copa América, o ala-pivô andava quieto ofensivamente, mas foi muito bem acionado por Barea nessa ocasião e acabou com o jogo, no fim. Operário toda a vida, terminou o duelo com os brasileiros novamente com uma linha estatística de superestrela: 24 pontos, oito rebotes e quatro tocos, com 70% de acerto nos arremessos. Uma ou duas posses de bola de sucesso para o cabeludo, e os adversários abriram uma vantagem mínima. Conta cada detalhe, não?

A essa altura, ao menos a seleção ao menos tinha uma abordagem mais razoável, menos egoísta – ainda que, no ímpeto de querer resolver jogo rapidamente, os alas brasileiros tenham novamente se precipitado a arremessar com muitos segundos no cronômetro, achando que aquela era A HORA de matar os caribenhos.

Se tivessem trabalhado um pouco mais o ataque durante os primeiros 15 minutos do primeiro tempo, quando Porto Rico estava todo atrapalhado, perdido em seus devaneios, talvez o desfecho pude ser diferente? Pode ser. De qualquer forma, ficou evidente que as investidas no mano-a-mano não são o que apregoam Magnano. O técnico agora tem de dar um jeito de passar a mensagem de maneira ainda mais clara para as próximas rodadas. Com muitos desfalques e uma convocação deficiente, seu time não tem margem de erro alguma. Cada minutinho de um jogo coletivo que possa amplificar as qualidades de seus atletas.

Precisa-se, realmente, de uma equipe.

*  *  *

O Brasil teve chance. A derrota incomoda, claro. Mas era um resultado, digamos, que já poderia entrar na conta. Não muda muito o planejamento da equipe na busca de uma das quatro vagas do torneio. Depois da folga neste sábado, voltam aí, sim, para um confronto direto com o Canadá no domingo, ao meio-dia (horário de Brasília). Os canadenses venceram a Jamaica com facilidade na primeira partida do torneio: 85 a 64, com excepcional partida de Cory Joseph (17  pontos, 9 assistências e 8 rebotes).

*  *  *

Marcar Barea é complicado. Explosivo, maroto, tende a conseguir aquilo que pretende fazer no ataque. Larry bem que tentou, num esforço louvável, mas seu oponente tende a levar a melhor mesmo no um contra um ou no uso de pick-and-rolls. E o que fazer, então, para amenizar essa situação? Atacar, literalmente, sua deficiência. Leia-se: sua defesa. Ele só joga de um lado da quadra. Então Huertas adotou uma estratégia correta: antes de serem agredidos, foi ele para cima. O brasileiro terminou o jogo com 16 pontos, contra 12 de seu oponente. E o saldo positivo não se resume apenas aos quatro pontos de uma conta básica, mas, antes de tudo, na grande conta tática do jogo, minimizando o impacto gerado pelo tampinha.

*  *  *

Situação hipotética: se Magnano fosse o treinador de Arroyo e Ayuso, precisaria muito mais de uma equipe de paramédicos ao seu lado do que de Fernando Duró liderando um grupo de escudeiros. As chances de um piripaque seriam altíssimas. De acompanhar os caras há anos, sabemos bem, né? Mas não deixa de impressionar a cada confronto: os dois são talentosos, obviamente, mas, juntos, têm uma malemolência incontrolável. Agem como se fossem matar o jogo a cada momento.

É até engraçado, no caso de Arroyo, comparar sua postura quando serve ao time nacional com a que tem em clubes. Duas figuras completamente diferentes. Em Porto Rico, é como se ele fosse o chefão, um scarface prestes a dominar a situação. Daí o seu orgulho ferido pela ascensão de um Barea igualmente tinhoso, mas muito mais produtivo. Não que o armador não consiga mais perturbar uma defesa ou seu marcador em específico. Tem ginga, drible e chute para isso. Mas, em geral, o modo como enxerga o jogo e como se comporta não é nada saudável para nenhuma equipe.

*  *  *

Tão eficiente na fase de amistosos, o tiro de três pontos foi uma lástima no jogo de estreia: os brasileiros converteram apenas 24% de seus arremessos de fora, com 13 erros em 17 tentativas. Ai. No geral, porém, a coisa foi ainda mais feia: 36% no aproveitamento de quadra, contra 41% dos porto-riquenhos, num jogo feio de doer.

*  *  *

 Rafael Hettsheimeir: completamente enferrujado. Na hora de avaliar o pivô brasileiro, favor não esquecer a temporada perdida que ele teve na Espanha. Ele ficou muito tempo no banco de reservas do Real Madrid, e isso atrapalha demais, para qualquer um. Ou não lembramos mais das dificuldades que até mesmo um Tiago Splitter teve ao se apresentar em 2011 após um ano de banco pelo Spurs também?

*  *  *

Raulzinho e Rafael Luz nem jogaram. Passaram a partida inteira com camisa de manga comprida no banco. Nem um minutinho sequer? A ver se a situação se mantém para o decorrer do torneio.


Seleção vence Canadá no último teste e vai para a Copa América vulnerável, mas na briga
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Magnano orienta. E vai precisar de mais

Rubén Magnano é um ótimo treinador.

Vamos lá, de novo. O Rubén Magnano? Um baita treinador.

Sabia? Campeão olímpico e tudo. Com a Argentina! Vice-campeão mundial, operado na final contra o Bodiroga, o Peja e o Divac. Deu uma cara nova para a seleção brasileira! Conseguiu o quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Londres. Ganhou da mesma Argentina lá dentro. Com tantas façanhas, tem o respeito, imagino, irrestrito por parte de seus jogadores. Não há como não confiar num técnico desses.

Satisfeitos?

Se não, vai mais uma vez, sem cinismo algum: Rubén Magnano é um treinador que qualquer time deveria pensar em contratar.

Pronto, acho que deu.

Talvez agora possamos falar sobre a seleção brasileira livres da paranoia. E sem ter background algum no assunto.

A delegação tupiniquim desembarca nesta terça-feira já em Carcas, com a Copa América começando já na sexta. Em sua despedida da Copa Tuto Marchand, uma noite depois de ter sofrido uma derrota apertada contra Porto Rico, o time de – vejam só, ele mesmo! – Magnano venceu a jovem seleção canadense por 77 a 70, terminando sua campanha com dois triunfos e dois reveses. Ao menos, depois do vexame passado contra a Argentina, a intensidade defensiva foi resgatada.

Se, no torneio continental, a equipe conseguir manter esse padrão, essa tocada e evitar tropeços calamitosos, vai se meter entre os quatro primeiros e vai conquistar, na quadra, sua vaga para a Copa do Mundo da Espanha 2014. É simples: na teoria, basta ficar acima de um entre Argentina, Canadá, Porto Rico e República Dominicana. Que se tome cuidado com México, reforçado com Ayón, e a Venezuela, um time doido, jogando em casa, e pronto.

Posto isso, vai ser extremamente difícil me convencer de que Magnano tenha feito uma boa convocação para a temporada. Houve um sério erro de cálculo, e isso está escancarado na quadra. Metade de nosso elenco é baixa e veloz. A outra, nem tão alta assim, mas extremamente pesada. Para fazer isso conectar não vem sendo nada fácil, se é que vai acontecer. Esse descompasso só não vê quem realmente não quiser ou quem realmente ache que, no mundo, é tudo uma questão de “ame” ou “odeie”, preto e branco, e que ou se é “pró”, ou “contra”. Ou talvez esses estejam com a bandeira tapando a cara, distraídos ao tirar do saquinho um punhado de confetes ou qualquer coisa do tipo. Pode ser também.

De qualquer forma, independentemente de ideologia política, educação ou credo, acho que todos concordamos que Facundo Campazzo e José Juan Barea são dois tampinhas muito difíceis de se marcar. Vocês devem se lembrar, por exemplo, do que o porto-riquenho fez contra uma defesa hiperatlética como a do Miami Heat, né? Ele continua o mesmo, embora escondido no Minnesota Timberwolves e sem a companhia de um Jason Kidd para escoltá-lo. Se o Brasil estivesse com Varejão, Splitter e Nenê, três grandalhões de excelente movimentação lateral, a coordenação da defesa de um pick-and-roll já teria de ser perfeitinha, para afastá-lo da cesta.

Agora, quando você está tentando frear Barea numa jogada dessas com Rafael Hettsheimeir envolvido na troca, fica mais difícil. Com JP Batista, apesar de sua inteligência em quadra, não muda muito. Se a segunda ou terceira opção é Caio Torres, ainda mais pesado, complica bastante. E, se o treinador não está confortável em dar mais minutos para o único pivô atlético que tem no elenco, danou-se. É exatamente este o cenário que temos na seleção hoje. Simples. Nossos quatro pivôs experientes são extremamente vulneráveis quando estão afastados da cesta.

Tendo pela frente gente como Luis Scola, Ricky Sánchez, Andrew Nicholson, Hector Romero, Gustavo Ayón e, por vezes, até Jack Martínez e Esteban Batista, o que acha que vai acontecer, e muitas vezes? Os pivôs vão precisar subir e marcar – e importante considerar aqui que não estamos falando apenas de contestar arremessos na linha de três. São raros, bem raros, aliás, o caso de “cincões” que joguem de costas para a cesta, plantados próximos do aro neste torneio. Mas, nem mesmo a presença desses gigantões como Eloy Vargas, dos dominicanos, ou o bom e velho Daniel Santiago anima muito. Por quê? É só ver o impacto que Santiago teve no quarto período, com corta-luzes imensos que garantiam a Barea um posicionamento cara a cara com um pivô/uma avenida. Resultado: bandeja. Neste ponto, fazem falta também jogadores mais atléticos para fazer a cobertura.

Desde que assumiu o cargo, Magnano procurou imprimir na seleção a ideia de que, se quisessem deixar para trás os dias de derrota após derrota, teriam de aceitar e aplicar seu ritmo defensivo extremamente exigente. Por isso a estranheza da lista que ele próprio compôs, com jogadores que não atendem exatamente aos seus princípios, incluindo aqui os dois que chamou a partir do momento em que os comunicados com pedidos de dispensa começaram a se empilhar. Lembram? Antes de João Paulo Batista o argentino já havia chamado Paulão, mais um que nunca foi conhecido por sua explosão em quadra. Veja bem: não é que sejam, individualmente, separados, jogadores ruins. O problema é que eles não batem com as necessidades deste grupo em específico.

Essas questões defensivas ficam ainda mais custosas quando combinadas com a ineficiência dos pivôs também apresentada do outro lado da quadra. Mesmo o talentoso Hettshimeir está com enorme dificuldade para produzir, enferrujado depois de uma temporada inteira no banco do Real Madrid. Caio só vem matando quando completamente livre – sem muita mobilidade, tem sido presa fácil para quem estiver ao seu lado disposto a combater. João Paulo é uma peça complementar, que deve ser mais usada dentro de um sistema do que como referência. Cristiano Felício deveria ter sido mais usado no torneio amistoso, mas não foi o caso.

Desta forma, a seleção fica extremamente dependente dos tiros de fora, que caíram com uma frequência saudável em Porto Rico (em geral, sem forçação de barra), e dos contra-ataques, que saem a partir da pressão na bola que Larry e Alex podem fazer por conta, a despeito da falta de cobertura. Se esses contragolpes não forem concluídos necessariamente com bandejas em linha reta, ao menos o jogo em transição pode proporcionar situações de desequilíbrio para serem aproveitadas com um ou dois passes a mais antes de as defesas se recomporem. Passes esses que, contra Porto Rico e Canadá, começaram a aparecer com maior frequência, ainda que numa frequência tímida. Espera-se que esse movimento ganhe mais força para o torneio que vale.

De resto, temos um Larry mais agressivo com a bola, procurando infiltrar mais do que brecar para os tiros ineficientes de média distância – fundamento o qual não domina. Alex vai fazendo de tudo um pouco. Giovannoni, adorando essa vida de cestinha designado, saindo do banco. Benite parece ter perdido o espaço na rotação – em seu lugar, faz muita falta um jogador vigoroso como Marcus Vinícius Toledo, de Mogi. Raulzinho fica estabelecido como o armador vindo do banco, preocupado mais em melhorar a pegada defensiva da equipe, já que Huertas vem se mostrando bastante frágil quando atacando no um contra um e está, para variar, sobrecarregado em suas responsabilidades ofensivas. Arthur vai ganhar uns minutos aqui e ali, dependendo do excesso de faltas dos companheiros.

Sim, essa seleção tem problemas e sérios. Que talvez pudessem ter sido remediados com uma lista melhor – e, por “melhor”, não é preciso pensar necessariamente em nomes, mas, sim, em características que fossem mais produtivas num coletivo.

Mas o time de – tcha-ram! – Magnano não é o único cheio de pendências para resolver. Porto Rico depende do estado de humor de seus talentosíssimos mas geniais armadores. A República Dominicana tem um banco ainda menor que o brasileiro. O Canadá, com seus talentos de NBA, está apenas em seu estágio inicial de evolução, como se fosse o Brasil de 2003. A Argentina parece mais azeitada, mas, por mais que seu elenco de apoio esteja surpreendendo, ainda estamos diante de um time que depende de Scola para avançar. E todos eles sofrem com os famigerados “desfalques”.

Fato é que, no momento, o Brasil está no meio do bolo. Vai ter de lutar, jogo a jogo, ciente disso, preparada psicologicamente para suportar a pressão. Para lidar com isso, é preciso contar com um comandante renomado e tarimbado.

Inicialmente, Magnano foi contratado com uma missão urgente: encerrar o jejum olímpico de qualquer maneira. Cumprida essa etapa, o basquete nacional pode pedir mais – e que os favores fiquem mais com a parte esportiva da coisa, a despeito de seu status de trunfo político numa gestão totalmente destrambelhada.

Entre o que se espera, está fazer do grupo limitado que ele próprio convocou uma unidade mais forte.

Afinal, é um excelente treinador.

Quem duvida?


Na contramão, Canadá deve contar com nova geração da NBA na Copa América
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Kabongo, Thompson, Joseph

Kabongo, Thompson, Joseph: três promissores talentos canadenses chegando

Aviso: este é um posto sobre a seleção canadense de basquete. Mas, antes de chegar lá, começamos a falar um pouco sobre a rotina do jornalismo online.

Só não temos imagens de bastidores! : )

É assim. Por alguns anos, este que vos escreve cumpriu a função de redator da casa maior que abriga o surrado blog, o UOL Esporte. Dentre as tarefas deste espécimes mais do que especiais, os redatores, estão as chamadas “rondas”. Toca gastar o Google até não poder mais, navegando de site para site, brasileiros e estrangeiros, em busca de alguma bomba ou daquela notinha que pode estar escondida, mas que, dependendo do enfoque, viraria algo. Coisa do tipo: buscar  alguma molecagem de Robinho no portal do diário Marca, em seus tempos de Real Madrid etc. Podem apostar que, nas redações, o Mundo Deportivo e o Sport, de Barcelona, vão bombar agora com ‘focas’ ávidos por qualquer informação sobre Neymar.

Avançando alguns anos desde aqueles tempos emocionantes – ou, nem tanto –, temos aqui este Vinte Um, que, vocês sabem, é muito mais opinativo do que informativo.

Agora, por mais impertinente que seja o condutor do blog, para dar qualquer pitaco, o jornalista deve estar, antes de tudo… Bronzeado? Bêbado? Envaidecido? Não, seus tontos, deixem disso. Tem de estar “minimamente lido”.

Para a NBA, fica fácil. Basta digitar HoopsHype.com, e tá lá. Agora, na temporada de seleções nacionais, a coisa muda um pouco de figura. A caça é mais ampla, em territórios por vezes hostis. A ronda precisa ser mais cuidadosa e persistente. As fontes nem sempre são confiáveis, nem mesmo nos sites oficiais das federações – o jornalismo em espanhol, gente, é uma coisa séria. Então fique navegando sem parar, nem que seja madrugada de domingo para segunda-feira, chegando até a conta oficial da Federação Canadense no Twitter. Vale tudo.

Lá eles estão anunciando a venda de ingressos para dois amistosos em Toronto contra a Jamaica – estamos falando, então, de dois adversários da seleção brasileira pela primeira fase da Copa América.

Bem, se o objetivo é vender bilhetes, o promotor do evento precisa de alguma atração, né? Mas como o marketing da federação fará isso se o gerente geral Steve Nash (sempre estranho escrever uma coisa dessas) e o técnico Jay Triano ainda nem anunciaram a convocação canadense? Bom, aí se quebra o protocolo um pouco para antecipar pelo menos alguns nomes. Estes aqui já foram anunciados: @Cory_Joe, @nicholaf44 e @RealTristan1.

Traduzindo: Cory Joseph, armador do San Antonio Spurs, Andrew Nicholson, pivô do Orlando Magic, e Tristan Thompson, ala-pivô do Cleveland Cavaliers. A não ser que a entidade seja processada por falsa propaganda, a equipe norte-americana, então,  vai na contramão de Brasil e Argentina e, entre os seríssimos candidatos a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014, já começa a enfileirar suas tropas de NBA.

E gente de NBA canadense nestes tempos é o que não falta.

Além dos três já listados, os caras têm Joel Anthony em Miami, Matt Bonner (naturalizado) em San Antonio, Kelly Olynyk em Boston, Robert Sacre em Los Angeles e o encrenqueiro Samuel Dalembert em Dallas. O ala Anthony Bennett, mais um do Cleveland, a gente nem cita aqui, por estar se recuperando de uma cirurgia no ombro. Kris Joseph, ala, acabou de ser dispensado pelo Celtics. O armador Myck Kabongo tenta descolar uma vaga em Miami.

Cory Joseph, oh, Canada

Oh, Canada: Cory Joseph está animado

Além disso, há uma turma também se refinando em grandes universidades norte-americanas, com os alas Nik Stauksas, gatilhaço de Michigan, e Dwight Powell, de Stanford, o ala-pivô Kyle Wiltjer, recém-transferido de Kentucky para Gonzaga, os armadores Tyler Ennis, de Syracuse, e Kevin Pangos, também de Gonzaga, e a sensação Andrew Wiggins, de Kansas e favorito disparado a escolha número um do Draft de 2015.

Some-se a esses jovens talentos os veteranos como o ala-pivô Levon Kendall, o ala Aaron Doornekamp e o armador Jermaine Anderson, gente que já disputou os melhores campeonatos na Europa, entre outros, e temos um grupo volumoso, com fartura para se montar uma equipe de 12 jogadores. Para o Canadá, a hora é agora.

“O basquete canadense vem se mostrando irregular há muito tempo. Agora estamos trabalhando sério para levar nosso país de volta ao mapa, e estou certo de que vamos conseguir isso muito em breve”, afirmou Joseph, em recente entrevista ao site da Fiba. “O próximo passo é ter um grande desempenho na Copa América.”

Diante de uma concorrência enfraquecida, não há motivos para eles não conseguirem isso desde já. Não é preciso mais ronda nenhuma para sacar isso.


Faverani tem até esta terça-feira para responder se joga a Copa América; Paulão é convocado
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Vitor Faverani, chegando

O pivô Vitor Faverani tem até esta terça-feira para definir se vai se apresentar ao técnico Rubén Magnano para buscar uma vaga na seleção brasileria que disputará a Copa América a partir do dia 30 de agosto, na Venezuela. O brasileiro e seus agentes estão em Boston e, segundo informação que chegou à CBB, teriam enfim assinado nesta segunda-feira um contrato com a franquia mais vitoriosa da NBA. (Informação confirmada horas depois pela própria franquia.)

Segundo diversos veículos norte-americanos, o vínculo é de US$ 6 milhões por três temporadas de contrato. Ainda não está claro se todos os três anos do negócio são garantidos.

Com a papelada assinada, sendo oficialmente um jogador de NBA, Vitor já teria pedido à diretoria do Celtics a liberação para se apresentar à seleção. Se vão dar o sinal… Hã… Verde, aí são outros quinhentos.

A franquia está em pleno processo de reconstrução, montando uma novíssima comissão técnica que vai trabalhar também com um elenco bastante renovado. Nesse momento, é natural que queriam usar cada dia, cada semana para entrosar essas partes diferentes, enquanto a própria diretoria tenta achar algum negócio que vá limpar seu plantel – resta saber se alguém vai querer Gerald Wallace e Kris Humphries.

Agora, liberar Faverani para jogar com a seleção também poderia ter seus benefícios. Ficar mais de um mês sob o comando de Magnano certamente deixaria o pivô em forma, tinindo. Além disso, se a tese for bem vendida a Danny Ainge, está claro que, com tantos desfalques, o atleta teria um tempo de quadra considerável no torneio continental, e um tempo de quadra relevante, como referência da equipe, ao lado de Rafael Hettsheimeir – seria uma dupla bastante intrigante e versátil, mesmo.

Paulão, em busca do tempo perdido

Paulão ganha nova chance na seleção. Está pronto para aproveitá-la?

Não sei se ajuda ou atrapalha, mas há outro jogador em Boston que deve passar pelo mesmo processo de convencimento: o canadense Kelly Olynyk, 13ª escolha no Draft deste ano.  O talentoso ala-pivô participa do programa de sua seleção nacional há anos e certamente está nos planos do técnico Jay Triano. Ainge teria, então, de abrir as portas para os dois jogarem o torneio.

De qualquer forma, sem poder esperar por muito tempo por uma decisão de Faverani, já com muitas baixas no garrafão, Magnano resolveu se mexer por conta própria, anunciando nesta segunda a convocação do pivô Paulão, que acabou de assinar com o Franca, aonde vai reencontrar Lula Ferreira. “Convocamos o Paulão Prestes porque sofremos muitos pedidos de dispensa para a posição de jogo interior. Ele é um jogador que conheço muito bem, sei a maneira que joga e trabalha. Será importante sua vinda para compor o grupo de jogadores”, disse o argentino.

O novo convocado chegou a trabalhar na seleção com Magnano em 2011, mas foi cortado do grupo que disputou o Pré-Olímpico de Mar del Plata. Na ocasião, foi o último a ser dispensado – Splitter, Caio, Hettsheimeir, Augusto e Giovannoni integraram a lista final.

O talento de Paulão nunca foi discutido. Tem ótima presença próximo da tabela e é um reboteiro fenomenal. O brasileiro, porém, teve muita dificuldade nos últimos anos para se manter em forma, enfrentando diversas graves lesões. Na temporada 2012-2013, ele disputou o último NBB pelo Brasília, com médias de 12,4 pontos e 8,0 rebotes em apenas 23,3 minutos, ainda devendo no condicionamento físico.

*  *  *

Tanto Paulão como Faverani foram apostas do Unicaja Málaga que não deram muito certo na década passada. Os dois talentosos pivôs foram contratados ainda adolescentes pelo clube espanhol, que tinha a perspectiva de desenvolvê-los aos poucos até que pudessem subir ao seu elenco principal, jogando Liga ACB e/ou Euroliga. Nunca aconteceu, seja pelas constantes lesões de um e pelos problemas disciplinares com o outro ou mesmo pela inabilidade do time em tirar o máximo de talentos de base. Três anos mais jovem, Augusto Lima agora passa pelo mesmo ritual.

*  *  *

Vocês podem estranhar, mas Paulo Prestes é pouco mais que dois meses mais velho que Vitor Faverani. Os dois são de 1988. Acontece que Paulão chegou a jogar nos campeonatos adultos por aqui, teve participação mais ativa nas seleções brasileiras, passando então uma impressão de que está “há muito mais tempo no basquete”, enquanto Vitor foi bem jovem para a Espanha e demorou um bocado para se firmar nas principais ligas por lá.

 


Cavs faz aposta, contrata Bynum e agora só torce para que médicos não trabalhem tanto
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Playoffs, ou enfermaria lotada.

Ao contratar Andrew Bynum nesta quarta-feira, o Cleveland Cavaliers se coloca entre essas duas rotas alternativas. Esperando, claro, que a primeira seja aquela a ser seguida.

Sobre o pivô? Difícil ir além da seguinte condicional: “Se ele estiver inteiro, se jogar…” aí dá samba. Do contrário? Ao menos o gerente geral Chris Grant foi duro nas negociações e fez o máximo para proteger os cofres de sua franquia. Segundo consta, do montante de US$ 12 milhões acertado, apenas a metade seria garantida – o restante dependeria de algumas metas especificadas no contrato. Provavelmente quantidade de partidas, minutos, pontos, presença no All-Star Game, classificação para os playoffs etc.

Bynum + Varejão

Varejão agora não vai precisar trombar com Bynum (e outros gigantões), se tudo der certo

De modo que, embora para qualquer mortal a quantia de US$ 6 milhões já valha a aposentadoria, sombra e água fresca, para as finanças da NBA, parece uma aposta adequada. Risco meio caro, mas com a possibilidade de ter uma graaaande recompensa.

E bota grande nisso, falando de Bynum. Um dos poucos legítimos seven footers no raio da liga, e não um gigantão qualquer: de costas para a cesta, é provavelmente o jogador mais talentoso em atividade. Quer dizer, “em atividade”.

Porque o pivô não disputou um jogo sequer na última campanha, acelerando o envelhecimento de Doug Collins significativamente. O mais triste é notar que, em sua carreira, passado oito anos desde que entrou no Lakers como um adolescente em 2005, ele só foi escalado em mais de 65 partidas (nas campanhas de 82 jogos) apenas uma vez, em 2006-2007, quando participou de todas as rodadas. No ano pós-lo(u)caute, 2011-2012, teve sua melhor participação: 60 jogos de 66 possíveis, um milagre.

Nesse campeonato, ele atuou sob o comando de Mike Brown, que reencontra agora em Cleveland. Vai saber se é “bla-bla-blá” ou o quê, mas Bynum afirmou que a presença do treinador foi um grande incentivo para fechar negócio com a franquia. Sob sua orientação, teve médias de 18,7 pontos e 11,8 rebotes, matando 55,8% dos arremessos, com 35 minutos de rodagem.

Se ele chegar de alguma forma próximo desses números, o Cavs será um time a ser temido no Leste.

Desde que seus médicos tenham folga. Coisa que não vem acontecendo com frequência. Taí um clube que precisou de reforços de profissionais da medicina estrangeiros.

Na temporada passada, apenas dois atletas disputaram as 82 partidas: Tristan Thompson e Alonzo Gee. Entre suas principais figuras, Kyrie Irving perdeu 23 jogos, Anderson Varejão, outros 77 e Dion Waiters, 21. Escolha número um do Draft deste ano, o ala-pivô Anthony Bennett vem de uma cirurgia no ombro e nem vai participar da liga de verão de Las Vegas. Haja analgésico.

Para Varejão, a presença de Bynum pode ser um alívio neste sentido. Se o grandão jogar, a carga física para o brasileiro pode ser reduzida consideravelmente – ficando a dúvida se, nessa altura da carreira, ele tem a agilidade suficiente para correr com os alas-pivôs mais leves e atléticos e se manter um jogador eficiente. Até se lesionar na temporada passada, não nos esqueçamos que o capixaba vivia sua melhor fase em quadra, jogando mais centralizado, mesmo.

De todo modo, é isso: para Anderson e Cleveland em geral, eles só esperam muita saúde, antes de tudo.

*  *  *

Para quem duvidava, o Cavs confirma com a contratação de Bynum: o time quer jogar pelos playoffs, sim, em 2014. Nada de acumular trunfos e de apostar no mercado futuro. Grant já havia contratado Jarret Jack como escudeiro de Kyrie Irving, um jogador versátil no ataque que pode fazer uma dupla armação interessante com o jovem astro e Dion Waiters. Bennett, apesar da pouca idade e de ter feito apenas uma temporada entre universitários, tem bagagem e era considerado um dos calouros mais preparados para jogar de cara na grande liga. Assim como o ala russo Sergey Karasev, profissional há anos e medalhista de bronze em Londres 2012. Earl Clark ainda não é um jogador formado, mas já funciona como um grande defensor e vem com a tarimba de ter testemunhado de perto toda a loucura do mundo Laker. O Cleveland quer, mesmo, o sucesso para agora.

*  *  *

Para balancear melhor seu elenco, o Cavs precisa se esforçar para contratar Karasev e mais chutadores, mesmo, de imediato. A rotação de perímetro ainda é fraco e a artilharia de fora tem de ser abastecida para abrir a quadra para Bynum e Varejão.

*  *  *

Seu time precisa de um ala-pivô jovem e atlético? Olho em Tristan Thompson. A gente já colocou muito “se” aqui, pensando em todo o histórico médico desse elenco, mas se Bynum e Varejão aguentarem o tranco e Bennett for tudo aquilo que a direção (e Mike Brown, que o acompanhou de perto em UNLV, onde seu filho vai jogar…), o tempo de quadra de TT pode ficar bastante reduzido. Isso depois de ele ter terminado o ano com médias de 11,7 pontos e 9,4 rebotes, evoluindo de maneira expressiva a partir do afastamento do pivô brasileiro.


Conheça alguns dos candidatos a protagonistas nos mata-matas da NCAA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

As loucuras já vêm de uma ou duas semanas, mas se intensificam a partir desta terça-feira, com o início dos mata-matas da NCAA, o basquete universitário norte-americano. É uma oportunidade para ver de uma leva só uma infinidade de estilos, alguns extremamente contrastantes, com esses diferentes times espalhados em um gigante tabuleiro.

Há equipes como Winsconsin que vão murchar a bola de tanto driblá-la, de um lado para o outro, rodando, rodando, rodando, gastando o cronômetro. Por outro lado, uma equipe como North Carolina só funciona se a aceleração for máxima. Louisville, seguindo os mandamentos de Rick Pitino, não vai parar de pressionar a saída de bola. Syracuse, porém, deixa seu abafa montadinho em sua metade de quadra, com as formações complexas orquestradas por Jim Boeheim, sistemas que são ajudados pela quantia abundante de superatletas em seu elenco. Nem todos os times, porém, conseguem recrutar a nata que sai do colegial e precisam se virar com jogadores mais, digamos, mundanos, e aí os técnicos vão se adaptando.

Mas não são apenas as pranchetas a definir tudo. Os jogadores também têm seu espaço, ainda que poucos deles realmente estejam hoje formados, moldados, física e tecnicamente. Dividindo as horas de treino com estudos, ainda em fase de crescimento, muitos deles estarão completamente diferentes em quadra daqui a alguns anos, enquanto outros nem mais calçarão o tênis para bater uma bola, presos em suas mesas de escritório.

Abaixo, vamos nos concentrar naquelas figuras que esperam movimentar milhões em suas contas bancárias como profissionais de basquete, mesmo, e, no torneio nacional, encaram um momento muito importante, de propulsão para suas carreiras:

Kyle Anderson

Chega de soneca, Kyle

– Kyle Anderson, ala de UCLA, 19 anos, freshman. Estatísticas.
Dos calouros dos Bruins, Anderson não é o mais badalado ou promissor – essas honrarias ficam para o cestinha Shabazz Muhammad, que também tem, disparado, o melhor nome. Mas Anderson é um jogador mais intrigante, para não dizer engraçado. Com sua cabeleira desarrumada e sempre com uma cara e a postura de quem parece ter acordado há pouco, se arrastando pela quadra, mas influenciando a partida de diversas maneiras, especialmente com sua vocação para o passe. De longa envergadura, também pode fazer boas coberturas defensivas, apesar de lento. Seu estilo único desafia os scouts da NBA, que não conseguem encontrar um paralelo na liga para fazer qualquer comparação.

Trey Burke, armador de Michigan, 20 anos, sophomore. Estatísticas.
No ataque é completo, podendo fazer um pouco de tudo, atacando o garrafão com esperteza, habilidade e agilidade, convertendo também 40% dos arremessos de três pontos. É um bom passador, mas pode prender muito a bola também quando não sente confiança em seus companheiros de perímetro. Aliás, se for para ver Burke, já dá para observar de uma vez outros dois jogadores curiosos, de pedigree de NBA: Tim Hardaway Jr., filho do armador brilhante do Golden State Warriors, e Glenn Robinson III, filho do ala que já foi o número um do Draft de 1994 pelo Milwaukee Bucks. Vale também se encantar com o arremesso do ala Nik Stauskas (44,9% de fora).

Doug McDermott, ala de Creighton, 21 anos, junior. Estatísticas.
Todo ano a América profunda (e branca) precisa adotar um darling por quem torcer no torneio, e McDermott talvez seja o principal candidato ao posto já ocupado por Adam Morrison e outros que não o JJ Redick, que fazia as vezes de vilão. Um excelente arremessador, um arma de todos os cantos da quadra, matando 58,9% de dois pontos e sensacionais 49,7% de três. Também tem bons movimentos de costas para a cesta, vai bem nos rebotes, mas peca na defesa, sem a dedicação necessária para compensar sua vulnerabilidade a ataques frontais. E, se for para assistir McDermott, vale também conferir como anda o progresso do pivô Greg Echenique, aposta da seleção venezuelana que deve jogar a Copa América deste ano.

Ben McLemore, honrando a 23

Permissão para decolar conedida, McLemore

Ben McLemore, ala de Kansas, 20 anos, freshman. Estatísticas.
Chegou a uma das universidades mais tradicionais do basquete americano sem muita fama ou fanfarra, ficou afastado do time no ano passado e estreou nesta temporada completamente modificado, mais forte e com um arremesso refinado. Salta e corre demais e, por isso, se apresenta como uma excelente opção na transição. Também se movimenta bem fora da bola, em cortes para a cesta. Criar por conta própria, porém, ainda não é seu forte, com um drible deficiente, sem saída para a esquerda. Na defesa, pode se desconcentrar com facilidade, mas possui os atributos necessários para fazer um bom papel na NBA. Candidato ao primeiro lugar do Draft deste ano.

Victor Oladipo, ala de Indiana, 20 anos, junior. Estatísticas.
Um incendiário, ou algo muito perto disso. Energético, daqueles que não para nunca em quadra, é um defensor excepcional no perímetro que já mereceria uma boa atenção dos olheiros. Para completar, progrediu consideravelmente no ataque este ano, passando a acertar com maior frequência seus arremessos de três pontos. Assim como McLemore, funciona mais em quadra aberta, decolando e enterrando. Em meia quadra, ataca os rebotes ofensivos com voracidade incomum para alguém que vem do perímetro.

Kelly Olynyk, ala-pivô de Gonzaga, 21 anos, junior. Estatísticas.
Líder de uma das melhores equipes dos EUA. Leia mais sobre ele aqui. É um dos inúmeros jovens talentos do Canadá a despontar no circuito universitário. Nesta onda também está seu companheiro de Gonzaga, o armador Kevin Pangos, um jogador cerebral, assim como o ala Anthony Bennett, calouro de UNLV, de 2,01 m, mas um tanque debaixo da cesta e extremamente atlético.

Otto Porter, ala de Georgetown, 19 anos, sophomore. Estatísticas.
Um prospecto inexperiente, mas já consideravelmente sólido, com bons fundamentos de rebote, passe e arremesso, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque, podendo produzir para sua equipe sem necessariamente ser o centro das atenções. Esguio, com os braços longos, é outro com atleta com bastante potencial para a defesa. Top 5 ou 10 no próximo Draft.

Marcus Smart

Um tanque de guerra modelo Smart

– Marcus Smart, armador de Oklahoma State, 19 anos, freshman. Estatísticas.
Fisicamente, este jovem armador parece um homem entre garotos. Extremamente forte, pode atropelar os marcadores na base do contato, abrindo um corredor em direção ao aro, embora nem sempre use este recurso, parando no meio do caminho para arremessos forçados e inconsistentes. Tem um primeiro passo explosivo, mas talvez precise afinar um pouco o corpo para ganhar em velocidade e elasticidade. Na defesa é que mostra maior potencial, com mãos ágeis e muita combatividade para alguém de sua idade. Visto como um potencial candidato a número um do Draft deste ano, ainda como um diamante em estado bruto. Não custa, aqui, olhar para o ala Markel Brown, cestinha bastante atlético, sempre candidato aos melhores momentos da rodada.

– Nate Wolters, armador de South Dakota State, 21 anos, senior. Estatísticas.
É um armador alto que compensa sua velocidade reduzida com muita inventividade no drible, arrumando espaço para infiltrações de passo em passo, tudo no tempo certo, seja no mano-a-mano ou em combinações de pick-and-roll. Controla bem a bola embora seja muito exigido no ataque de sua equipe, que já está satisfeita apenas de ser convidada para a festa, sem ambição alguma de título. Pode não causar a comoção nacional que causou Jimmer Fredette em seus tempos de BYU, mas é constantemente comparado ao armador reserva do Sacramento Kings. Contra Burke, na primeira rodada, ganha a chance de aparecer em uma competição de elite para os scouts da NBA.