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Arquivo : Ayón

Real conquista o quinto troféu seguido. Por mais que o Bauru tenha tentado
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Giancarlo Giampietro

Não. A torcida do Barcelona realmente já não aguenta mais esta cena

Não. A torcida do Barcelona realmente já não aguenta mais esta cena

É um tópico um tanto traumático para o basquete brasileiro. O arremesso de três. Oscar Schmidt, que estava como torcedor na primeira partida, matava as suas. Marcel foi outro. Guerrinha também costumava guardar as suas, ainda que com um volume menor quando acompanhado de dupla tão estrelada. Esses caras conseguiram um título histórico em 1987, reeeeeeeeeeealmente histórico. Mas não formaram a geração brasileira mais vitoriosa que já existiu, algo que cabe às lendas dos anos 60. Durante sua história, há uma partida contra a Espanha aqui, outra com a Austrália ali que entram no campo do “se”. Caso tivessem passado por essas e outras, poderiam ter chegado à disputa por medalhas olímpicas e mundiais, e quem sabe…

Mas esse “se” em particular não entra em jogo. O esporte pode ser inclemente e rígido ao extremo, com base no resultado. O próprio Real Madrid que veio a São Paulo para ganhar o quinto troféu seguido, com uma vitória por 91 a 79,  é prova disso. A versão de 2013-14  da equipe foi um espetáculo. Praticava um basquete avassalador, mas não ganhou a Euroliga, não ganhou nada do que precisava. Tratando-se de Real, foi um fracasso. Mas, voltando, aqui não estamos falando apenas sobre o clube espanhol, mas, sim, sobre a final da Copa Intercontinental deste domingo e também sobre o time que derrotou, o Bauru, que traz o chute de três pontos à tona de uma forma com que muitos jamais poderiam nem mesmo sonhar. Antes de falar sobre o jogo em si, me permitam retomar o raciocínio cronológico.

Marcel já havia parado há tempos. Oscar ainda se arrastava pela quadra para encestar sem parar, vivenciando e atravessando uma troca de gerações. Enquanto Rogério Klafke e outros alas mais velhos já eram pronta e rapidamente relegados ao segundo escalão, Marcelinho Machado emergia para ser demonizado por seguir essa tradição do chuta-chuta, com a seleção tendo ainda menos sucesso em quadra. Mesmo que o ala carioca fosse um paradoxo ambulante. Ele claramente tinha os fundamentos e a visão de jogo para equilibrar as coisas, algo que apresentou na Copa América de 2005, por exemplo, e em muitos outros jogos. A praxe, porém, era que se perdesse a sanha do tiro exterior. Leandrinho também foi outro que, surgindo à esteira, nunca aliviou. O curioso é que esses dois chutadores, no plano de clubes e separadamente, tiveram belas carreiras e, em geral, cada um na sua, contra diferentes graus de exigência defensiva, foram bem-sucedidos. Não obstante, o arremesso do perímetro virou o grande vilão, o grande símbolo da derrocada brasileira.

Quando surge um Bauru, arremessando quase sempre mais do perímetro externo do que do interno, a recepção não poderia ser bombástica, com a licença para o trocadilho. À distância, fico imaginando os scouts e analistas mais arrojados da NBA conferindo as tabelas estatísticas produzidas pelo time do interior paulista.

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Vocês sabem que, hoje, há uma forte corrente na liga americana, baseada cegamente, ou não, em números que  prega o chute de longa distância como um dos caminhos a ser seguido. Eles vão te apresentar uma série de dados para dizer que esta bola precisa ser parte integral de qualquer sistema ofensivo que pense em ficar no lado azul da eficiência, e o Golden State Warriors desponta como um queridinho e como forte argumento dessa linha. Na final do Oeste, eles haviam batido outro dos times ‘nerds’, o Houston Rockets. Na decisão, o Cleveland Cavaliers também não poderia ser considerado uma equipe tímida nesse sentido.

Esse evangelho estatístico não prega tão somente a bola de três como salvação. Porque isso não existe, mesmo. O que existem são arremessos bem selecionados e equilibrados. Com o os lances livres, ué, que, na frieza de seus números, aparecem como fator tão relevante quanto. São, oras, os arremessos com maior índice de conversão. E não só isso: o sucesso também tem a ver com a sua destreza na hora de evitar essas mesmas bolas em sua defesa, no seu poderio reboteiro e mais. Mesmo para os fãs dos números o jogo não é unidimensional.

Aí aparece esse clube brasileiro chutando sem parar de fora, assustando a concorrência. Como aconteceu na primeira partida em São Paulo, na qual seus atletas tentaram 33 bolas de longa distância contra 32 de dois pontos, ao passo que acabaram batendo apenas 14 lances livres. Ainda assim, obtiveram uma vitória especial, para não se esquecer jamais.

De qualquer forma, o desafio estava na posto em quadra. De um lado, Andrés Nocioni admitia que não estava nada acostumado a enfrentar um time que abrisse seus dois grandalhões no perímetro, confiando no bombardeio. Do outro lado, o Bauru sabia que, para a segunda partida da final, esse tipo de jogada seria contestado e que deveriam encontrar outras formas de pontuar. Pois o Real conseguiu contestar, de alguma forma, no perímetro. E os bauruenses também olharam para outros setores para tentar contragolpear. Ainda assim, a matemática foi mais favorável aos merengues.

Vamos esmiuçá-la: neste domingo, Bauru ainda acertou 36% de seus chutes de fora. Não é uma marca de todo ruim, mas vale como algo bem caído perto dos 49% do Jogo 1. Aproveitamento à parte, acho que o que Real mais deve ter comemorado taticamente foi o fato de terem conseguido reduzir também o ímpeto de seu adversário, pelo menos no ponto em que foi mais ferido. De 9-17, Jefferson William e Rafael Hettsheimeir foram limitados a 1/6 no Jogo 2. Arremessaram 11 bolas a menos de trás da linha. Quer dizer, parece que a estratégia de Pablo Laso deu certo, que foi a de fazer as dobras no pick-and-pop e deixar sempre um homem grudado no pivô. Nem que, para isso, tivessem de ver Ricardo Fischer marcar 26 pontos, com 7-12 de quadra, além das seis assistências para apenas um turnover.

O armador brasileiro, que sai de cabeça erguida desse confronto e com a cotação internacional certamente elevada, teve espaços para atacar o garrafão, ao se ver diante de Gustavo Ayón e outros pivôs madrilenhos. Atacou o aro com sagacidade e fez o máximo que podia. O problema é que o Real estava disposto e contente em viver com isso, desde que a artilharia ao seu redor fosse controlada. E foi o que aconteceu.

Fischer jogou de igual para igual com os Sergios

Ofensivamente, Fischer jogou de igual para igual com os Sergios

Mas isso não quer dizer que Bauru aceitou essa armadilha e chutou sem parar de fora, a despeito da contestação. No geral, foram apenas cinco arremessos a menos nessa distância do que na sexta-feira. Mas alguns deles vieram no desespero dos minutos finais, quando precisavam diminuir a diferença dos campeões europeus para um ponto, num placar esdrúxulo que renderia a prorrogação. Fischer, aliás, foi o que mais tentou, com 5-8. Por outro lado, a equipe campeã americana tentou o dobro de lances livres dessa vez (28 contra 14). Um desconto precisa ser dado aqui devido ao excesso de faltas apitado contra os madrilenhos, que os deixou malucos. Não estou aqui acusando roubo ou falhas da arbitragem, mas apenas registrando que alguns dos lances livres batidos pelos bauruenses não foram resultado de ataques à cesta. Mas eles aconteceram. Fischer, mesmo, bateu oito lances livres e converteu sete. Hettsheimeir foi 12 vezes para a linha e acertou dez.

Se formos pegar, na real, os números dos três disparos básicos numa folha estatística, vamos ver que Bauru e Real tiveram volume ofensivo bem próximo: dois pontos (20-36 tentativas do Real x 14-29 Bauru), três pontos (10-26 x 10-29) e lances livres (21-29 x 21-28). , com 13 turnovers para os espanhóis e 11 para os brasileiros.

O que aconteceu foi que, na hora de buscar o jogo interno, o time de Guerrinha falhou. Do alto de seu 1,90m de estatura, Alex Garcia foi afastado da zona pintada quando viu Jonas Maciulis e até mesmo Andrés Nocioni dedicados à sua marcação. Seu jogo de costas para a cesta não funcionaria desta forma. Por isso, passou a atacar de frente, e matou 5-10 para somar 14 pontos. Taticamente, porém, seu papel foi reduzido. As investidas, então, foram mais tradicionais, com Hettsheimeir, e o pivô, que tem proposta do Estudiantes, da Espanha, falhou muito nesse fundamento. Em suas nove tentativas para dois pontos, converteu apenas duas, apresentando muita dificuldade em conversões próximas à cesta. Algumas notas a respeito: por favor, não vela o argumento canalha de que talvez ele esteja praticando tanto o chute de fora que tenha esquecido como fazer uma bandeja — o chute de média distância sempre foi sua principal arma; Rafael nunca teve o par de mãos ou o jogo de pés mais habilidosas em quadra… Para esse tipo de situação, lhe falta agilidade e munheca, precisando, por isso, de muito tempo e espaço para armar o gancho e fazê-lo funcionar; quando contestado, tende a perder o controle da bola ou subir desequilibrado e a falhar como aconteceu neste domingo, pois, além do mais, estava enfrentando uma linha de frente respeito. Enfim: o pivô brasileiro tem hoje uma grande arma, valiosa em seu repertório, mas apresenta buracos em seu jogo que impõem um limite ao seu potencial.

Ayón: 15 rebotes no jogo do título, oito ofensivos. Soberano na zona pintada

Ayón: 15 rebotes no jogo do título, oito ofensivos. Soberano na zona pintada

Outro buraco é o rebote. Em dois jogos e quase 72 minutos, ele apanhou apenas nove. Sozinho e contando apenas a tábua ofensiva, Ayón conseguiu oito no segundo confronto (no geral, foram 15 neste domingo e 17 em 56 minutos para ele). E isso não se explica por sua predileção ao chute de três, gente. Ele pode estar afastado da tabela no ataque, mas não é o que acontece na defesa. De todo modo, a esmagadora vantagem de 46 rebotes a 25 imposta pelo Real no jogo do título não cai apenas em seus ombros. Jefferson William (5 rebotes em 58 minutos) ainda está com a mobilidade muito reduzida). Rafael Mineiro (4 em 28) também pode ser mais atento no fundamento. Para Guerrinha, registre-se, a surra nos rebotes aconteceu devido à necessidade de o Bauru correr atrás do resultado desde o início. Seguindo o seu raciocínio, tiveram de atacar mais a bola e assumir riscos. Os riscos geraram oportunidades para o rival. O Real soube aproveitá-los e, mesmo quando não convertia na primeira tentativa, apanhava o rebote ofensivo (foram 21!) e davam sequência ao ataque, com 15 pontos de segunda chance, contra apenas dois do adversário. “Eram situações de desequilíbrio, e eles tinham reposta para tudo que tentávamos. Tínhamos de socorrer em uma outra situação, e eles se aproveitaram muitas vezes. Se for ver, cada jogador de destacou em um determinado momento”, afirmou o treinador brasileiro.

O curioso é que, ainda assim, o jogo foi parelho por muito tempo. A quatro minutos do terceiro período, a vantagem espanhola era de apenas 52 a 51. Depois, ficariam empatados em 53 a 53, por mais que Jaycee Carroll, com mais ritmo, acertasse (22 pontos em 31 minutos 7-14). Muito fora de uma zona de conforto, os madridistas juravam que o trio de arbitragem trabalhava contra, chiando uma barbaridade, a ponto de Sergio Rodríguez ser excluído e de Laso ficar em quadra apenas por vista grossa, de tanto que gesticulava a cada marcação que julgava equivocada. O Real não imaginava passar pelo que passou, gente — e isso não tinha a ver com soberba, mas com uma crença de que levariam um título para o qual se mostraram realmente motivados. Com seis minutos para o fim da partida, o placar ainda apontava 71 x 66.

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Nos minutos finais, porém, Sergio Lllull (21 pontos, 6 assistências, 5 rebotes, 7-17 nos arremessos e o prêmio de MVP) converteu algumas grandes jogadas, acompanhado pelo reforço Trey Thompkins (17 pontos, 7-8, em 21 minutos)  e assessorado pelo adolescente Luka Doncic, que sobrou com um rojão na mão após a despedida de Rodríguez e segurou a bronca sem dar a mínima, como se já fosse campeão do mundo e duas vezes medalhista de prata que nem Felipe Reyes. Aos 16 anos? Impressionante. Quando os chutadores erravam, lá estava Ayón espanando geral no garrafão para dominar os rebotes. Como na sequência que aconteceu basicamente entre 4 e 3 minutos para o fim, quando apanhou três em sequência para, basicamente, garantir o título — era quando a vantagem já estava na casa de dois dígitos, e ao Real valia mais gastar o cronômetro do que uma cesta rápida.

Para os jogadores de Bauru, faltou gás no final. A rotação merengue, mesmo sem Rudy Fernández, Jeffery Taylor e, depois, Rodríguez, teria feito a diferença. Guerrinha disse que não conseguia tirar Fischer por muito tempo de quadra (fora 35min38s para o armador titular). No final, correndo atrás do placar,e estavam todos desgastados.

Outro ponto interessante de contraponto foi a opinião de cada um dos técnicos sobre o que teria feito a diferença, e uma, na real, não exclui a outra. Para Guerrinha, o que complicou tudo foi a sequência de 12-0 para os europeus em coisa de cinco minutos, que teriam ditado o restante do jogo. Para Laso, porém, o que pesou, mesmo, foram os minutos finais, para os quais estava preparado. “Entendia que eram 80 minutos de jogo. Tivemos nossos altos e baixos durante esse período, mas, para o quarto decisivo, estávamos bem, crescendo”, afirmou. O brasileiro, porém, se dá ao direito de questionar, citando a qualidade do elenco oponente: “Fico pensando às vezes como seria o Real Madrid com a nossa estrutura, se teriam feito um jogo parelho”, afirmou Guerrinha, na coletiva. “São perguntas que temos de fazer.”

Mas, bem, este é outro “se” que não entra em jogo. Fato é que, como disse Fischer, os 12 pontos finais não contam a história do jogo. Caso Hettsheimeir tivesse mais felicidade em suas incursões debaixo da cesta, caso Llull errasse um outro arremesso pressionado, as coisas poderiam ter sido diferentes. Quiçá. Pegando emprestada uma expressão típica dos espanhóis: só não me parece que, nessa vitória merengue e derrota bauruense, seja justo falar apenas sobre as bolas de três pontos.


Prepare-se para o jogo do ano pelo mundo Fiba
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Giancarlo Giampietro

Gustavo Ayón, Argentina, México, Fiba Américas

Existem Pré-Olímpicos, e existe o EuroBasket, é verdade.

Mas, no calendário Fiba deste ano, o melhor jogo tende a ser este México e Argentina, que nos aguarda na sexta-feira. Os dois times já fizeram uma grande partida nesta quarta, fechando a segunda fase, com os donos da casa efetuando mais uma virada improvável, vencendo por 95 a 83. O resultado tirou Luís Scola e Andrés Nocioni da primeira colocação geral e agendou uma revanche na semifinal. Do outro lado, o Canadá. Para quem não sabe ainda, apenas os dois finalistas garantirão vaga direta às Olimpíadas do Rio 2016.

Os mexicanos comemoram tanto, mas tanto a vitória sobre os então invictos argentinos, que é preciso cuidado com o que se deseja. Tá certo que foi uma batalha emotiva e que, no plano continental, a Argentina ainda é vista como referência, tendo ainda em sua escalação dois campeões olímpicos que já são lendas vivas. Mas me parece claro que a festa que os anfitriões fizeram não foi só por uma grande vitória. Para os caras, ela se tornou mais especial pelo fato de terem fugido do Canadá na disputa pela vaga olímpica premium. Ao que parece, a surra que tomaram na terça-feira teve efeito traumatizante. A garotada canadense abriu vantagem de 22 pontos já no primeiro tempo, ignorando o ginásio cheio e barulhento.

Isso a gente não percebe  apenas pela festa, mas também pelo empenho dos atletas durante todo o confronto. Gustavo Ayón jogou 40 minutos. Outros três titulares ficaram em quadra por 34 minutos ou mais. Ah, mas do outro lado também teve um empenho considerável e a derrota foi dolorida. Sim, sim. Mas há uma diferença aqui: a Argentina queria muito jogar contra a Venezuela na semifinal. O México fez de tudo para não enfrentar o Canadá. “Era a partida que tínhamos de ganhar. Nos últimos dias, foi dito por aí que o México já estava praticamente fora, devido ao cruzamento com o Canadá, mas demonstramos que não é assim”, disse o próprio Ayón. De qualquer forma, los cabrones fizeram sua parte. Entregar a partida é que não fariam, dãr. Agora, vão lidar com Scola e Nocioni novamente.

Scola x Ayón

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Assim como os craques argentinos vão precisar encarar um ginásio infernal. Não vai ser nada fácil, e esse é o fator que, para mim, turbina as expectativas para o jogo de sexta. Veja ao final o ranking de ingredientes que tornam o jogo imperdível.

A torcida mexicana bateu o recorde de público para uma partida de Copa América nesta quarta, com mais de 16 mi espectadores no Palacio de los Deportes. Sabemos bem como esses caras são calorosos. O mexicano, no fim, também é outro que gosta muito mais de esporte do que o brasileiro, que prefere a vitória. Por isso, a mera ideia de se realizar essa partida no mítico estádio Azteca nem soa absurda. Certeza de que os torcedores o lotariam. E eles têm empurrado a equipe. O clima foi fundamental para uma virada impressionante no período final, o qual sua seleção venceu por 36 a 11. Sergio Hernández afirmou na coletiva que não se lembra de um jogo pela equipe nacional em que tenha levado tantos pontos assim num só quarto. (O que ele não disse é que deu uma boa contribuição para tanto, deixando o jogo correr solto quando seus atletas não encontravam rumo em quadra.)

*   *   *

O México obviamente não avança só à base de empolgação. Lembrem-se que jogam como os atuais campeões do torneio, depois de triunfarem na Venezuela, milhas e milhas ao Sul de Nayarit, onde conquistaram o CentroBasket de 2014. A rotação, na hora do vamos ver, foi enxugada pelo espanhol Sergio Valdeolmillos. Contra a Argentina, jogaram basicamente sete atletas, descontando os três minutos dados a Marco Antonio Esquivel e o grandão Rodrigo Zamora. Nesse grupo de sete homens de confiança, porém, há gente talentosa, para além de Ayón.

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Jorge Gutiérrez está sempre atacando, com um dinamismo que incomoda a oposição (12,9 pontos, 4,4 assistências e 4,4 rebotes). É um armador alto, forte e rápido para este nível. Se aprender a arremessar minimamente bem de fora (tem 10-48 em sua carreira pela seleção), fará estragos. O ala Francisco Cruz é outro que merece menção. Tem todo o tipo de um rato de ginásio, daqueles que encontra maneiras para colocar a bola na cesta, mesmo que seja lento (poderia muito bem despejar alguns quilinhos). Sabe aquela coisa de conhecer os atalhos, né? Além disso, seu arremesso de fora é muito bonito e também eficiente a partir do drible (44%). E ele sabe usar essa arma ao seu favor, para poder se aventurar em direção à cesta. Cheio de confiança, anotou 21 pontos nesta quarta, mas também contribuiu com seis rebotes, dois ofensivos até, e cinco assistências. Do ala-pivô Héctor Hernández (11,8 pontos e 5,0 rebotes), você nunca sabe o que esperar. Surpreendentemente ágil para alguém de seu tamanho e bom chutador de longa distância, ainda que, neste torneio em específico, não esteja convertendo os arremessos. O armador Paul Stoll consegue ser ainda mais enjoado que Barea e Campazzo com a bola. O ala Juan Toscano-Anderson, que tem bolsa na Universidade de Marquette, é uma grata adição. Aos 22 anos, tem dificuldade gritante para finalizar, mas causa impacto com seu físico e envergadura. Joga pesado e dá suporte aos mais talentosos cuidando das pequenas coisas e tem dado 3,3 assistências em média, sabendo ler o jogo em meio a suas infiltrações desajeitadas.

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Agora, claro que, sem Ayón, não iriam a lugar algum. Contra a Argentina o pivô mostrou novamente o quão especial é como jogador. Se a NBA não o soube aproveitar, azar da NBA, sorte do Real Madrid. Ele fez um esforço hercúleo neste triunfo: 38 pontos, 14 rebotes, 4 tocos e , 4 assistências. Com um bônus: a defesa para cima de Scola no quarto período. Pode parecer uma provocação, ou heresia até, mas vamos lá: hoje o mexicano entrega mais que o craque argentino. Em termos de valor para uma determinada equipe, tudo depende do contexto. Essa renovada seleção argentina precisa desesperadamente dos talentos ofensivos de seu legendário camisa 4, alguém que pode criar situações de cesta por conta própria, com um repertório professoral de movimentos. Ayón não tem a classe ou o arsenal do cabeludo, mas já mostrou que tem um gancho confiável. Também sabe se deslocar muito bem fora da bola, ficando à disposição dos companheiros na hora do aperto. Na defesa, também está quase sempre bem posicionado e usa seu vigor e agilidade para se impor num torneio como a Copa América que não tem tantos grandes atletas. Os armadores latinos, como Laprovíttola, parece que ainda não se deram conta disso. Não adianta Sua presença foi o suficiente, por exemplo, para forçar uma andada e outros arremessos mais precipitados por parte de Scola, preocupado em fugir de seus tocos.

É por isso que ele é o orgulho de Zapotán:


(Aos leitores de outras encarnações que já tenham visto este vídeo umas trocentas vezes, perdón não precisam agradecer, ok? O prazer é todo meu.)

*   *   *

Neste jogaço, de todo modo, o México se resumiu a três nomes: Ayón, Gutiérrez e Cruz, que somaram 82 dos 95 pontos mexicanos. Só sobraram sete arremessos para os demais jogadores. Não é das práticas mais saudáveis e, ainda assim, a defesa argentina quase permite uma quantia centenária. Ai. Dá para imaginar a ansiedade e o frio na barriga de nossos hermanos, que formam uma comunidade basqueteira muito apaixonada.

O duelo com os mexicanos é um pouco traiçoeiro do ponto de vista tático para Hernández. Scola não consegue marcar Ayón e precisa de ajuda nessa. Por mais valente e determinado que seja, Nocioni também sabe, desde os treinos do Real, que não dá conta. Restam, então, Delia e Gallizzi. O espigão Delia talvez seja hoje aquele nome que mais desperta angústia na Argentina. Em vez de se desenvolver, parece que o pivô regrediu nos últimos dois anos. No primeiro jogo, Delia ficou em quadra por 20 minutos e, embora tenha terminado com apenas três pontos e dois rebotes, ao menos conseguiu atrapalhar um pouco o pivô mexicano. Tem hora que o tamanho, sozinho, ajuda. Talvez seja o caso de reduzir os minutos do novato Patricio Garino, xodó nacional, que não tem quem marcar do outro lado. Ou encaixá-lo na rotação de outra forma, pois vale apostar mais na dupla armação com Laprovíttola e Campazzo. Mesmo que o ex-flamenguista fique em posição de inferioridade (física) contra Gutiérrez, ainda é a melhor pedida.

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Vendo Campazzo, fica claro como a cobrança e as expectativas em torno de um jovem armador precisam ser moderadas. Ainda mais um cara tão elétrico assim. Ele funciona na correria, mesmo — e esta seleção argentina em específico corre como nunca. Com o tempo, Campazzo vai entender, porém, que há momentos em que o uso do freio também é uma boa solução, se não a melhor. No quarto período, o futuro companheiro de Benite e Augusto perdeu a mão. Energia por energia, o adversário jogava amparado por 16 mil pessoas.

*    *    *

O Canadá é favorito absoluto contra a Venezuela. No hotel, cada um em seu quarto — ou todos juntos no bar? –, devem ter comemorado o desfecho do último jogo do dia, depois de terem atropelado a combalida República Dominicana.  Quando os dois times se enfrentaram pela primeira fase, os norte-americanos também resolveram a parada já no primeiro tempo, encaminhando um triunfo por 20 pontos, mesmo tendo cometido 22 turnovers. A equipe vinotinto não tem um jogo interior que inspire muito medo, e s proteção de cesta seria aquilo que mais chega perto de um ponto fraco de seus adversários. No perímetro, eles estão equipados para conter a movimentação de caras como Cox, Colmenares e Cubillan, que precisaria estar muito inspirados para se pensar em aprontar algo. A turminha de Andrew Wiggins só não pode entrar com o um tênis de solado muito alto, digamos, já que são apenas 40 minutos para se definir todo um trabalho. Os venezuelanos fizeram partidas muito mais competitivas em relação ao que se esperava e têm um técnico argentino ardiloso. Derrubar os canadenses, com seus nove atletas de NBA e que evoluíram gradativamente durante a competição, seria para Nestor “Che” Garcia uma proeza similar à de Rubén Magnano com a Argentina pelo Mundial de 2002.

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Resumindo, então, por que você não pode perder este jogo?

1) O ginásio vai bombar. Vale vaga olímpica.

2) A presença de Scola e Nocioni. Nunca sabemos quando pode ser a despedida de duas lendas dessas, mesmo que eles nem cogitem o assunto.

3) Scola x Ayón.

4) Nocioni x o povo mexicano.

5) Gutiérrez x Laprovíttola.


Brasil ‘iguala’ Cuba em novo revés. Mais: Marquinhos, Ayón e Gutiérrez
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Giancarlo Giampietro

Ayón, um craque quase, digamos, Scolístico para o México

Ayón, um craque quase, digamos, Scolístico para o México

O Brasil sofreu sua segunda derrota em três jogos pela Copa América, nesta quarta-feira. Perdeu para o México, num ginásio pegando fogo. Vou quebrar um pouco o padrão aqui até para não ser muito repetitivo. O placar meio que já diz tudo: 66 a 58. Pela segunda vez, então, a equipe de Rubén Magnano não conseguiu passar da casa dos 60 pontos.

Isso até quer dizer que podem estar enfrentando defesas fortes, combativas num torneio em que, para o resto do continente, estão valendo duas vagas olímpicas. Natural que ofereçam resistência. Mas… Aí a gente dá uma conferida na tabela completa da competição e faz umas contas. Sabe qual a outra equipe que teve duas partidas com ataque tão anêmico no torneio até aqui?

Cuba.

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Sim, Cuba, que até apresentou alguns talentos interessantes nesta semana (depois de um loooongo inverno), mas é o único time amador em quadra. Literalmente.

Foi uma pesquisa simples de se fazer. Não pediu muito tempo para checar dados de arremesso da zona morta, da cabeça do garrafão, cesta assistidas, média de turnovers por troca de passe etc. Então não é querer me vangloriar, nem nada. Mas acho que, fora o visual, fora o que temos visto nos últimos dias, não vai ter dado mais preocupante que esse. Que, num filtro ofensivo, estejam os brasileiros ao lado dos cubanos. Não rola.

Mineiro, aqui e ali, mostra lampejos de seu talento. É um jogador muito interessante, com diversas qualidades raras para alguém de sua estatura e que podem ser mais exploradas. Mortari sabe

Mineiro, aqui e ali, mostra lampejos de seu talento. É um jogador muito interessante, com diversas qualidades raras para alguém de sua estatura e que podem ser mais exploradas. Mortari sabe

A preocupação maior aqui é que as questões sobre o sistema ofensivo brasileiro vêm de longe (*). Contra a Sérvia, ao ser eliminada nas quartas de final da Copa do Mundo, a seleção, não por acaso, também ficou abaixo dos 60 pontos, terminando em 56. Entender por que isso acontece vai muito além de frases como “a bola não roda”, “o chute não caiu”, “já estão classificados”, “não estão com força máxima”, embora todas elas possam fazer parte da explicação. Como a promessa era de não se estender muito aqui, vamos divagar a respeito desse tópico ao final do torneio. Contra os mexicanos, o Brasil fez mais um jogo amarrado, controlado. Partindo para o trabalho de meia quadra pouquíssimo sucesso: 35% nos arremessos de quadra, mais turnovers (14) do que assistências (12), falha nos tiros de fora 4-13 (o volume reduzido, pelo menos).

(*PS: atualizando, de acordo com a observação pertinente “Hugo X” — só não entendo o anonimato obrigatório dos comentários, mas tudo bem. Vamos lá: vêm de longe os problemas, pensando na Copa América de 2013, a Copa do Mundo do ano passado. O Pan? Vai ser enquadrado na categoria de exceção, se a seleção se classificar para a próxima fase e mantiver o nível de jogo que temos visto aqui. E pode ser que eu simplesmente esteja errado quanto ao nível técnico da competição, que talvez este Brasil fosse muito superior àqueles rivais? Pode muito bem ser isso. Mas também começo a pensar se esse time não está simplesmente cansado. É um elenco mais jovem do que o principal, mas também não é um plantel sub-22. Alguns desses caras vararam a temporada, por assim dizer. Eles se reuniram no dia 14 de junho. Ao final do torneio, serão três meses de seleção. Um período muito mais longo que o normal de anos anteriores. Não há nunca uma só resposta para entender uma equipe de esporte, futebol, vôlei ou bocha. Como disse: vamos voltar a esses tópicos ao final do torneio. É preciso também conversar com os jogadores e treinadores para ver qual a opinião deles, uma vez que a cobertura brasileira na Cidade do México no momento é quase nula.)

Em termos pontuais, sem trocadilho, o que é necessário registrar é que Marquinhos dessa vez teve um volume de jogo bem menor. Partimos de um extremo em que ele estava usando quase 30% das posses de bola da equipe, segundo as contas sempre valiosas do MondoBasket, para outro: o ala flamenguista, que era o segundo cestinha da competição, arriscou apenas três arremessos em 26 minutos, marcou dois pontos e deu uma assistência. Resta saber se isso também foi algo programado, ou se o jogador estava muito preocupado em não parecer um fominha. A abordagem foi totalmente diferente, talvez por reflexo direto do que se passou nas duas primeiras rodadas. O jogo vinha sendo canalizado nele, mas não por uma tentativa de ato heroico da sua parte. Era simplesmente a consequência de um sistema que não funciona e que, por isso, apela ao seu atleta mais talentoso. Um jogador que tem visão de quadra, gosta de envolver seus companheiros e, num ataque mais fluido, pode render horrores.

Vitor Benite, por outro lado, conseguiu produzir, dessa vez conseguindo atacar a cesta, escapando dos bloqueios no perímetro, para marcar 23 pontos, tendo feito mais nos lances livres (10) do que em bolas de três (9). Outro dado chamativo, que quase tira o Everaldo do sério (imagine o Magnano, então…), diz respeito aos rebotes ofensivos. A proteção brasileira inexistiu, permitindo 17 coletas na tábua de ataque para os anfitriões. Comparando: foram 23 defensivos para os caras, enquanto a seleção nacional teve apenas 28 no total.

De resto, não há como não falar sobre o talento de Gustavo Ayón. Para quem acompanha o blog desde a encarnação passada, sabe que é um dos queridinhos desse espaço, ao lado de Andrés Nocioni e Andrei Kirilenko. De todo modo, pelo fato de não ter conseguido encontrar estabilidade na NBA, talvez ainda seja um cara desconhecido pelo público geral. Para os corajosos que se aventuraram na calada da noite para ver esta pelada, o cartão de visitas foi entregue. Pensando no mundo Fiba, o pivô mexicano talvez seja aquele que mais se aproxime de Luis Scola em termos de relevância para a sua seleção. Não estou comparando habilidades, que fique claro, até por serem dois caras que se complementariam muito bem. Foram 27 pontos e 13 rebotes para o cabrón, com impressionantes 12-19 nos arremessos de quadra (63%). Reparem em como ele se desloca dentro do perímetro, criando situações de cesta mesmo quando não está com a bola dominada. Isso é também um talento, e talvez mais difícil ainda de se ensinar, por estar diretamente ligado à visão de jogo. Craque, guiando o time às conquistas da Copa América e do CentroBasket.

Por fim, um destaque também para Jorge Gutiérrez, um jogador para o qual o selo NBA faz justiça. Fosse ele armador do Capitanes, do Peñarol ou do Trotamundos, e talvez não lhe dessem muito valor internacionalmente. Até por ser mexicano, um país que não tem tanta tradição assim na exportação de talentos de ponta. Gutiérrez é um belíssimo armador, grande em muitos sentidos. Alto, bem fundamentado e com explosão que pega as defesas desprevenidas. Há tipos que correm, correm e correm e não chegam a lugar nenhum. Para o apadrinhado de Jason Kidd, funciona de outro modo: com seu ritmo maneiro, deixa para explodir rumo ao garrafão só quando percebe a brecha à sua frente. Terminou com 14 pontos, 7 rebotes e 4 assistências em 28 minutos.


A lenda de Spanoulis só cresce e agora desafia o Real Madrid
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Giancarlo Giampietro

Ele de novo

Ele de novo

Primeiro foi uma exibição assustadora de um jogador. Depois, entrou em quadra um timaço para definir a final da Euroliga 2014-2015.

Na abertura do Final Four em Madri, Vassilis Spanoulis voltou a torturar o CSKA, com todos os seus craques, torcedores plácidos e dirigentes cheios de careta nos primeiros assentos ao lado da quadra. O Olympiakos alcança sua terceira deicão em quatro temporadas, em busca do terceiro título. Agora, terão pela frente mais um oponente que sonha com a revanche: o time da casa, o Real, que destroçou o Fenerbahçe pela segunda semifinal.

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Lembrando: o clube grego foi bicampeão em 2012 e 2013 com viradas no último jogo para cima de CSKA e Real, respectivamente. Enquanto tiver sob a liderança de Spanoulis, os caras vão chegar.

O que o camisa 7 fez nesta sexta foi algo meio indescritível. Estava comentando a partida no Sports+, ao lado do chapa Rafael Spinelli, e houve uma hora em que fiquei simplesmente sem palavras. Para um analista, ao vivo na TV, parece o fim da picada, né? Mas é que sua exibição foi tão impressionante que por vezes que era de deixar qualquer um perplexo, mesmo. Veja o Luigi Datome, por exemplo:

(Não sei nem o que escrever para descrever Spanoulis. Lenda? História? Ou apenas Spanoulis? Estou totalmente chocado.)

Estamos todos, Gigi. Veja a reação de uma galera, entre atletas de NBA e Euroliga, frente ao que o craque grego fazia.   E foi o quê exatamente? Se você pega a linha estatística final da partida, vitória por 70 a 68, vai ver um atleta com 13 pontos e péssimo aproveitamento de 4-15 (26,6%) nos arremessos de quadra, em 32 minutos. Mais turnovers (quatro) do que assistências, tendo levado três tocos também durante a jornada.Vem cá: o que tem de especial nisso?  

Pois é. Mais uma vez percebe-se como é perigoso espiar uma linha estatística e avaliar que fulano tenha “brilhado”, “dado show” ou “ido mal”. Com esse rendimento numérico ridículo, Spanoulis foi ainda o cara da partida. Depois de errar seus primeiros 11 arremessos de quadra e só converter dois pontos no primeiro tempo na linha de lance livre, de passar em branco no terceiro período, ele voltou para a quadra com seis minutos restando no cronômetro e… Pumba.

   

Por 26 minutos, ele não conseguia fazer nada. De repente, decidiu que era a hora da matança. Fez, então, 11 pontos, seus seus últimos quatro arremessos no jogo, incluindo três arremessos de longa distância, para elevar a contagem do Olympiakos de 54 a 69, com a ajuda de quatro pontinho de Kostas Sloukas. O CSKA vencia por nove pontos a três minutos do fim e novamente entrou em colapso. O que leva um sujeito a ser tão confiante assim? 

O ala-armador francês Nando De Colo, que havia feito um excelente primeiro tempo, acabou descadeirado pelo veterano. É um grande jogador, mas falou um pouco mais do que devia em quadra e tomou a resposta mais dolorida: a de que ainda precisa crescer muito para se colocar num patamar de astro europeu. Foi o mesmo tipo de postura que o tirou de San Antonio, sem aceitar muito bem os minutos limitados com Gregg Popovich e que ainda não se justifica, tendo em base o que faz em quadra. Não há dúvida de que tenha muito talento, mas ainda lhe falta tarimba. Começou a forçar arremessos, cochilou demais na defesa e, ainda assim, foi mantido como referência ofensiva por parte de Dimitris Itoudis. O técnico grego, que fez uma primeira Euroliga formidável,  se atrapalhou em sua rotação nos momentos decisivos, promovendo diversas substituições. Não encontrou resposta para o camisa 7 alvirrubro.

Ele já havia sido eleito pelos dirigentes da Euroliga como o atleta mais temido na hora de partir para uma bola decisiva. Lá foi ele de novo, então. A lenda de Spanoulis só cresce. O Emanuel também está tentando digerir tudo isso:

*   *   *

Ayón guardou o melhor para o fim: exibição completa contra o Fenerbahçe

Ayón guardou o melhor para o fim: exibição completa contra o Fenerbahçe

É essa a figura que vai desafiar o Real Madrid novamente. Os anfitriões venceram o Fenerbahçe, de Zeljko Obradovic, por 96 a 87. O placar conta só um pouco do que foi a partida. O primeiro tempo dos vencedores foi um primor, com 20 pontos de vantagem abertos (55 a 35), 18 assistências, oito bolas de três pontos convertidas e nenhum turnover. Zero. Uma aula ofensiva. Pareceu o Real da temporada passada, com um jogo vistoso, ainda com Nikola Mirotic na formação titular, correndo a quadra com criatividade, velocidade e inteligência – as três podem ser unidas, acreditem. Juntos, os Sergios, Rodríguez e Lllull, tiveram 25 pontos e 16 assistências, contra apenas dois desperdícios de posse de bola.

A surpresa foi ver Gustavo Ayón absolutamente dominar o garrafão. Não por que haja o que duvidar sobre as qualidades do mexicano, mas mais pelo fato de que a expectativa era a de que tivesse uma batalha com os excelentes pivôs  do clube turco. Ayón somou 19 pontos, 7 rebotes, 6 assistências e três roubos de bola. Além disso, converteu 8 de 11 arremessos de quadra, saindo excluído com cinco faltas. Ele contou com a ajuda de 12 pontos, 6 rebotes e muita luta por parte de Andrés Nocioni.

Na busca incessante pela novena, a nona taça continental no basquete, o gigante espanhol só não pode se empolgar tanto. “Não ganhamos nada ainda”, afirma Llull, que sabe que seu time vai ter de apagar um trauma de duas decisões perdidas por virada, a primeira contra o próprio Olympiakos. Revisar esse e outro episódio de seu passado recente pode ajudar o time do técnico Pablo Laso a se preparar da forma apropriada para a decisão. Não custa lembrar que, em 2014, no Final Four de Milão, o Real massacrou o Barcelona por 100 a 62 e acabou derrotado pelo Maccabi na final. Um clube de prestígio incontestável na Europa, mas que era um azarão na ocasião. Agora vão enfrentar um Olympiakos cheio de orgulho também. E com aquele matador. Sérgio Rodríguez sabe o que precisa ser feito: “Temos de tentar limitar Spanoulis”. Mas como lidar com uma lenda?


Euroligado: 1ª rodada confirma Grupo da Morte
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Giancarlo Giampietro

Já escrevi durante a Copa do Mundo sobre como essa coisa de Grupo da Morte pode ser meramente um recurso (leia-se “truque) jornalístico fácil para ganhar manchetes, driblar a falta de informação, ou qualquer coisa do tipo. No caso da Euroliga 2014-2015, porém, é impossível escapar deste clichê ao avaliar as equipes emparelhadas no Grupo C. C de morte, mesmo. Na rodada que abriu a temporada, com jogos espalhados entre quarta e sexta-feira, dois dos melhores confrontos aconteceram justamente por esta chave: Fenerbahçe x Olimpia Milano e Barcelona x Bayern de Munique. A eles se juntam o Panathinaikos e o estreante polonês Turów Zgorzelec, este correndo por fora, mas bem por fora, mesmo. De resto, o que temos é o seguinte: um grande time de basquete vai ficar fora do torneio logo na primeira etapa. A julgar pelos elencos e pelos primeiros 4o minutos de ação para o sexteto, os alviverdes gregos, com toda a tradição de seis títulos continentais, que se cuidem. Ao menos, venceram o Turow por sete pontos na estreia. A conferir o desenrolar desta sangria.

O jogo da rodada: Fenerbahçe 77 x 74 Olimpia Milano

Fenerbahçe comemora o triunfo como se fosse até um título

Fenerbahçe comemora o triunfo como se fosse até um título

Dá para advogar a favor do triunfo do Nizhny Novgorod, da Rússia, sobre o Dínamo Sassari, da Itália, por 88 a 86? Claro que dá. Fora de casa, o clube italiano teve uma largada fulminante ao abrir uma vantagem de até 19 pontos no primeiro tempo (26 a 7), mas viu todo esse montante ser derrubado rapidamente. Daí que os anfitriões conseguiram a virada no segundo tempo e pularam eles com dez pontos na frente no princípio do quarto período. Havia tempo, porém, para uma reação dos italianos, que chegaram a ter a última bola em mãos para o empate ou virada. Não rolou.

De qualquer forma, considerando o nível dos times que se enfrentaram em Istambul – dois clubes com pretensões de título na temporada –, comparando com dois estreantes em solo russo, fica-se confortável em seguir este caminho. Depois de o Fener vencer o primeiro quarto com facilidade (26 a 15), o Milano reagiu pelas mãos improváveis do pivô Niccolo Melli (grandalhão que protege o aro na defesa e, no ataque, é basicamente um chutador em evolução de média para longa distância), as equipes travaram uma batalha duríssima. O segundo tempo foi realmente como uma luta franca de boxe, sem que nenhum oponente abrisse uma larga vantagem. Foram incontáveis trocas de liderança entre ambos. Como no finalzinho da terceira parcial em que uma cesta de três do Fener foi respondida por jogada de fal-e-cesta para cima do jamaicano Samardo Samuels, deixando o time visitante na frente por 58 a 57.

O confronto seguiu nesse ritmo até o último minuto quando o armador cestinha americano Andrew Goudelock matou uma bomba de três pontos – daquelas em que você se consagra ou ouve “anta” em turco vindo da arquibancada –, para levar o placar a 76 a 71 para o Fener, com menos de 50 segundos no cronômetro. Falaremos mais a respeito de Goudelock abaixo. Foi, em suma, uma partida já em alto nível, com grandes personagens em quadra (entre draftados e atletas com experiência de NBA em quadra, eram 10), com muita intensidade logo de cara.

JP teve de se virar contra Schortsanitis em seu retorno a um palco de Euroliga

JP teve de se virar contra Schortsanitis em seu retorno a um palco de Euroliga

Os brasileiros
Marcelinho Huertas: em uma vitória bastante dura sobre o Bayern, por 83 a 81, não teve a jornada mais feliz na conclusão de seus tiros em direção ao garrafão (1-6 em chutes de dois pontos), mas conduziu bem o ataque do Barça nos 25 minutos em que esteve em quadra. Foram computadas apenas duas assistências, mas o armador  deu estabilidade ao ataque, alimentando bem o jogo interior para Ante Tomic (15 pontos, 6-7 nos arremessos). Com o tcheco Tomas Satoransky de fora, Juan Carlos Navarro fez as vezes de armador reserva, terminando com oito passes para cesta e 2-10 em bolas de longa distância. Figura.

JP Batista: foi uma estreia bastante produtiva para o pivô com a camisa do Limoges, campeão francês, em jogos de Euroliga, contra o Maccabi Tel Aviv tão bem quisto pelos flamenguistas. O pernambucano marcou 15 pontos em apenas 19 minutos, convertendo 7-16 arremessos, porém. Esta é a terceira edição da competição para João Paulo, que não a disputava desde 2009. O time israelense venceu por 92 a 76, em casa, com um show de sua torcida.

Lembra dele?
Andrew Goudelock (Fenerbahçe)
O torcedor do Los Angeles Lakers mais nerd certamente guarda um espaço em seu coração para este chutador de mão cheia. Revelado pela universidade de Charleston, ele estreou pela franquia angelina na temporada do lo(u)caute, 2011-2012, já sob o comando de Mike Brown. No campeonato seguinte, depois de incendiar a D-League, foi novamente contratado pelo Lakers na reta final. Depois da lamentável lesão de Kobe, acabou recebendo minutos de playoff inesperadamente contra o Spurs, sendo um dos poucos atletas do time capaz de criar alguma coisa por conta própria no perímetro. Com 1,90 m, se tanto, porém, é considerado muito baixo para a posição, a despeito de seu talento ofensivo. Na Europa, isso não foi problema. Jogou demais pelo UNICS Kazan na campanha passada e acabou contratado a peso de ouro pelo Fener. Em seu primeiro jogo de Euroliga, marcou 19 pontos, quatro rebotes e quatro assistências, com 8-16 nos arremessos em 36min53s – o sargentão Zeljko Obradovic simplesmente não conseguia tirá-lo de quadra.

Um vídeo: Berrante
Agora, se Goudelock está com moral com o piradaço e octocampeão da Euroliga sérvio, o mesmo não se pode dizer de Ricky Hickman. Depois de lidar com David Blatt em Tel Aviv, o americano agora vai precisar de protetor auricular. Vejam o esculacho que ele tomou do treinador antes de um pedido de tempo nos minutos finais contra o Milano:

(Outro vídeo: insanidade em Belgrado
A torcida do Estrela Vermelha está que não se aguenta: seu clube disputa a Euroliga, enquanto o arquirrival Partizan, o time hegemônico da Sérvia e da Liga Adriática na última década, vê tudo de fora. Na estreia contra o Galatasaray, os caras sacudiram a Kombank Arena desde 30 minutos antes de a bola subir. Durante o aquecimento, o ginásio estava assim. Imagine quando eles venceram por 29 a 10 no segundo período, para assegurar a primeira vitória? Transmiti o jogo no Sports+ ao lado do chapa Maurício Bonato, e foi de arrepiar.

)

Em números

78,5%– Foi o aproveitamento de quadra do gigante Boban Marjanovic, de 2,21 m, para demolir a defesa do Galatasaray. O sérvio anotou 22 pontos, acertando 11 de seus 14 arremessos, em 27 minutos. Também pegou 10 rebotes. É impressionante a evolução do pivô nos últimos anos. Inicialmente, a tendência era tirá-lo apenas como um herói cult do basquete, por razões óbvias de estatura (aquela coisa de enterrar e dar toco sem saltar etc.). Mas Marjanovic trabalhou duro para se tornar uma arma extremamente perigosa no garrafão.

Boban Marjanovic foi companheiro de Lucas Bebê no time de verão do Atlanta do ano passado e ficou fora da seleção sérvia da Copa do Mundo

Boban Marjanovic foi companheiro de Lucas Bebê no time de verão do Atlanta do ano passado e ficou fora da seleção sérvia da Copa do Mundo

29 – Mardy Collins, ala-armador ex-New York Knicks e Los Angeles Clippers, atingiu este índice de eficiência pelo Turow em duelo com o Panathinaikos. O norte-americano nunca deixou tão feliz o torcedor do Olympiakos, seu clube no campeonato passado, como nesta sexta, ao somar 23 pontos, 9 rebotes e 5 assistências em 29 minutos contra o arquirrival dos Vermelhos.

22 – Dario Saric foi titular e recebeu 21min59s – 22 minutos, vai? – de tempo de quadra do técnico Dusko Ivkovic, pelo Anadolu Efes, na primeira rodada. Por que isso é relevante? É que, durante a semana, o pai do promissor ala-pivô croata, havia esperneado publicamente para reclamar das poucas chances que o garoto vinha recebendo no princípio de temporada. Foi simplesmente bizarro: o clube estava disputando apenas amistosos e uma rodada pelo campeonato turco, e o sujeito já estava sem paciência alguma, ameaçando inclusive tirar Saric de lá. O detalhe: antes do Draft da NBA, o Papai Saric havia comprado uma briga com os antigos agentes do atleta, dizendo que seria a maior burrada da história se o atleta deixasse o Cibona Zagreb direto para a liga norte-americana. Que o melhor era ele primeiro trabalhar em um grande clube europeu, primeiro, para ganhar cancha, se desenvolver.

10 – Muito confiante depois da conquista da medalha de bronze na Copa do Mundo, substituindo Tony Parker, o armador Thomas Heurtel teve uma exibição magnífica na primeira partida do campeonato, quarta-feira, em vitória contra o Neptunas. Foram dez passes para cesta, além de 13 pontos e quatro roubos de bola. Em seu último ano de contrato, Heurtel recebeu proposta do Anadolu Efes, mas optou por ficar no País Basco.

4 x 4 – A primeira partida de Euroliga para Gustavo Ayón deixou claro, mais uma vez, seu talento, sua versatilidade. O Real Madrid adorou. Em um jogo muito mais apertado do que o esperado contra o jovem elenco do Zalgiris, em Kaunas, o mexicano teve um mínimo de quatro tentos em quatro estatísticas diferentes: 10 pontos, 6 rebotes, 4 assistências e 4 roubos de bola, em 24 minutos.

Tuitando

Este é o armador Tyrese Rice, MVP do Final Four da temporada passada pelo Maccabi, elogiando o ala Lucca Staiger, do Bayern de Munique. Nesta sexta, com o apoio de seu ex-companheiro de clube, o alemão matou quatro em oito tiros de três contra o Barça. Staiger, que tem de fato uma bela mecânica, acertou 44,2% na temporada passada – mas apenas 28,8% em três campanhas de Eurocup (a Liga Europa do basquete) pelo Alba Berlim.

Aqui temos o encontro do legendário Sarunas Jasikevicius, hoje assistente do Zalgiris, talvez o melhor armador europeu de sua geração, com o atual melhor armador do continente, Sérgio Rodríguez, o Señor Barba. Tudo de acordo com a nada modesta opinião de um blogueiro, ok.

Recuperado de um glaucoma, que o tirou da Copa Intercontinental contra o Fla, Sofoklis Schortsanitis está de volta. E o pivô grego, um dos nobres protagonistas da Dinastia Baby Shaq, já fez toda a diferença pelo Maccabi, anotando 11 pontos em 11 minutos de jogo, usando óculos – impossível não olhar para ele.

Pesic foi campeão europeu pelo Barcelona em 2003, e os catalães não vão esquecê-lo. A nota bacana para o basquete brasileiro é a presença de Anderson Varejão naquele plantel.


Quais são os favoritos ao título da Euroliga?
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Giancarlo Giampietro

O atual campeão Maccabi Tel Aviv, creiam, não tem vez aqui. O time não só perdeu muitos dos seus principais atletas, como perdeu aquele que era o melhor técnico do continente: David Blatt. Seu ex-assistente Guy Goodes é um cara bacana, segundo registro de muita gente, mas a missão de substituir uma lenda viva israelense como Blatt é pesada demais. Então tem espaço para quem na competição que começa nesta quarta-feira, com transmissão exclusiva no Brasil pelo canal Sports+, da SKY? Veja a lista, em ordem alfabética, para não dar problema:

Tomic e Pleiss, agora lado a lado: duas torres para Huertas assistir

Tomic e Pleiss, agora lado a lado: duas torres para Huertas assistir

Barcelona: o (excessivamente) metódico Xavier Pascual perdeu Erazem Lorbek, Kostas Papanikolau e Joe Dorsey. E tudo bem: o Barça deu um jeito de ficar ainda mais forte, sendo provavelmente hoje o time mais caro da Europa. Muitos armadores europeus estão morrendo de inveja de Marcelinho Huertas. O brasileiro, que já tinha desenvolvido ótima química com o talentosíssimo Ante Tomic, agora também vai ter o alemão Tibor Pleiss como opção a ser abastecida no jogo interno. Esperem uma dose pesada de pick-and-rolls com a coordenação do paulistano, que agora tem a companhia dois dos pivôs mais altos, ágeis e técnicos da Europa ao seu dispor. Se não fosse o bastante, contrataram também o ala-pivô americano Justin Doellman. Quem? Somente o MVP da última Liga ACB, pelo Valência. Doellman é destes americanos que passou batido pelo radar da NBA, mas se transformou em um grande jogador trabalhando sério na Europa. A rotação de grandalhões de Pascual ficou realmente apelativa.

Por outro lado, a saída de Kostas Papanikolau pode significar um rombo defensivo para uma equipe que já sofre um pouco para esconder Juan Carlos “La Bomba” Navarro. DeShaun Thomas – escolha de Draft do Spurs em 2013 – foi o escolhido para o seu lugar, mas sempre foi muito mais reconhecido como um cestinha, dos tempos de Ohio State. Foi uma decisão peculiar, talvez num momento de baixa do mercado. No ano passado, o Barça levou uma surra do Real na semifinal da Euroliga. Recuperou-se, todavia, para conquistar a liga espanhola. Com as contratações que fez, o bicampeonato é o mínimo que se vai cobrar de seu treinador.

CSKA Moscou: Ettore Messina chegou a declarar na campanha passada que não prestava mais para ser técnico do gigante moscovita, que seus jogadores já não atendiam mais aos seus pedidos e tal. Estresse geral. Mesmo após a dolorosa derrota para o Maccabi no Final Four da Euroliga, o time ao menos conseguiu um milagre na Liga VTB ao virar um confronto de quartas de final com o Lokomotiv Kuban (saindo de 0-2 para 3-2) e conquistar o título regional. O troféu, porém, não iria mascarar as frustrações de Messina, que se mandou para a NBA, para ser auxiliar de Gregg Popovich em San Antonio, numa aliança bastante promissora.

Itoudis, agora técnico principal, com senhora responsabilidade

Itoudis, agora técnico principal, com senhora responsabilidade

A vaga do italiano foi ocupada, então, pelo grego Dimitris Itoudis, assistente do Panathinaikos por uma década, aprendendo bastante com Zeljko Obradovic, até assumir o Banvit, da Turquia em 2013. Acabou liderando o clube a uma campanha surpreendente na riquíssima liga turca e, de cara, foi promovido a comandante de uma potência como o CSKA. Ao seu dispor, vai ter o craque Milos Teodosic (dependendo de seu nível de motivação, sempre),  a liderança e a versatilidade de Victor Khryapa, a explosão de Sonny Weems e a fortaleza chamada Sasha Kaun. Como reforço,  ganhou a criatividade de Nando De Colo, de volta ao continente depois de passagem apagada pelos EUA, e os chutes de longa distância do geórgio Manuchar Markoishvili e do americano Demetris Nichols, ex-Bulls e Knicks. É um baita elenco, cheio de expectativas. A equipe russa não ganha o troféu desde 2008, mesmo tendo ficado fora de apenas um Final Four desde então.

Fenerbahçe: agora vai? Há pelo menos duas temporadas que o clube de Istambul sonha em dar o grande salto e se tornar o primeiro de seu país a conquistar o título europeu. Para isso, atropelou qualquer noção de austeridade ou responsabilidade fiscal para montar elencos caríssimos e tirar o genial e tempestuoso Obradovic da aposentadoria. O problema é que seus dirigentes caíram naquela armadilha de buscar sempre os nomes de impacto, sem pensar ao certo em como seria a química dessas estrelas em quadra, com muitos cestinhas brigando por uma só bola. Para ajudar, o próprio treinador se mostrou (ainda) mais esbravejador no banco, com atitudes ensandecidas – como expulsar seus próprios jogadores no meio de uma partida:

Para esta temporada, a política de investimento bruto foi mantida. Numa primeira impressão, com atletas cujas características que parecem se encaixar melhor num ideal de time. Destaque para a nova dupla de armadores americanos Ricky Hickman (figura elementar no Maccabi campeão) e Andrew Goudelock (um arremessador de mão cheia, conhecido dos fãs do Lakers e do Spurs, hoje um dos cestinhas mais temidos da Europa), além do tcheco Jan Vesely, que tenta redescobrir seus talentos depois de protagonizar mais piadas do que grandes jogadas em Washington. A missão do ala-pivô tcheco, a princípio, é de ajudar na cobertua e na coesão defensiva, com sua capacidade atlética formidável, ao lado de Emir Preldzic. Menção obrigatória também para o ala-armador Bogdan Bogdanovic, o prodígio sérvio, que assume a vaga de seu xará Bojan Bogdanovic. No papel, não há como excluí-lo dessa lista, embora já tenhamos visto este filme antes. Cabe a Obradovic esfriar e usar a cabeça para ordenar esta rapaziada. Campeão turco num final para lá de controverso e vexatório – no qual o Galatasaray simplesmente se recusou a entrar em quadra no sétimo e derradeiro jogo, alegando roubalheira generalizada –, o Fener só quer saber, mesmo, da Europa.

Real Madrid: você, fã do Barcelona, por favor, não se deixe tomar pela raiva. Mas o que aconteceu com o Real Madrid na temporada passada foi uma história bastante triste: era um timaço, pronto para realmente fazer história, acumulando vitórias e recordes, e que acabou naufragando nas últimas semanas. A equipe de Pablo Laso primeiro perdeu de modo surpreendente a final continental para o Maccabi e, depois, se despedaçou diante de seu arquirrival na decisão da Liga ACB. Você faz como depois de uma decepção dessas? Troca tudo, não?

Ayón, grande presente para Laso para o pressionado Real Madrid

Ayón, grande presente para Laso para o pressionado Real Madrid

Pois a diretoria merengue, por algum milagre, decidiu segurar as pontas e manteve o treinador – que em muito simboliza a obsessão do clube para reconquistar a Europa, uma vez que era atleta madridista no tão distante título de 1995. Além disso, manteve praticamente toda a sua base, tendo de lidar apenas com a importantíssima baixa de Nikola Mirotic, que enfim foi jogar em Chicago. É praticamente impossível encontrar um atleta com as características do ala-pivô. Então o que eles fizeram foi seguir na direção oposta, fechando com Andrés Nocioni. Sai a finesse, entra a brutalidade (nas palavras do próprio Chapu). Além do mais, o Real conseguiu dar uma última cartada após a Copa do Mundo ao contratar Gustavo Ayón, cujos direitos na Espanha pertenciam ao próprio Barça. O mexicano tem tudo para ser dominante em seu retorno ao basquete europeu e deixa a rotação de pivôs também bastante congestionada. Em vez de ser demitido, Laso ganhou um presente desses. Seu time dificilmente vai alcançar o padrão de excelência da campanha passada, já que química não é algo que se replique facilmente. Se os resultados forem diferentes no final, talvez nem importe.

Correm por fora: Olympiakos e Anadolu Efes.
É difícil descartar os campeões de 2012 e 2013, que mantiveram a base do ano passado e adicionaram mais dois americanos muito atléticos a este conjunto – o ala Tremmell Darden, ex-Real, e o pivô Othello Hunter, ex-Siena. A sorte do clube grego, porém, gira em torno do estado físico de Vassilis Spanoulis. O genial armador grego sofreu com tendinite na reta final da última campanha, mas se preservou nas férias. Se estiver inteiro, seu time obviamente sobe de patamar, independentemente da saída do técnico Georgios Bartzokas.

Já o Efes segue um pouco da receita de seu conterrâneo Fenerbahçe, pagando uma nota para reformular seu elenco e tirar do ostracismo outro célebre treinador balcânico, Dusan Ivkovic. Em longo depoimento ao site oficial da competição, porém, Ivkovic faz questão de dferenciar as coisas. Seu plano é também desenvolver os mais jovens, que vão ganhar papel importante ao lado de veteranos como Nenad Krstic, Stratos Perperoglou, Stephane Lasme e Dontaye Draper, todos veteranços de Euroliga e vindo de times vencedores. Aliás, essa é uma área na qual o treinador realmente se destaca, despertando muito interesse sobre seu envolvimento com o ala-pivô croata Dario Saric e do ala-armador turco Cedi Osman, duas das maiores promessas do continente.

O problema é que, com Saric, as coisas não começaram bem. O jogador selecionado pelo Philadelphia 76ers no último Draft não vem sendo nem relacionado nas primeiras partidas do clube, levando seu pai, Predrag, ao desespero. “Acho que já é hora para ficar alarmado. O Dario está deprimido, nada está claro”, afirmou. “Se o Efes continuar mantendo-o fora, vamos procurar alguém que possa pagar a rescisão de contrato. O Dario tem de jogar, não pode ficar assistindo aos jogos da arquibancada. Ele está saudável. O Ivkovic está me deixando maluco.”

Vale lembrar que o papai Saric era um defensor ferrenho da ideia de que o filhote ficasse no basquete europeu para conseguir maior rodagem e se desenvolver, antes de assinar seu primeiro contrato de NBA.

Vai começar
A Euroliga vai ser transmitida com exclusividade no Brasil pelo Sports+ (canais 28 e 228 da SKY). Vou participar da cobertura pela terceira temporada seguida, na companhia de Ricardo Bulgarelli, Maurício Bonato, Marcelo do Ó e Rafael Spinelli. Sempre um prazer. Nesta quarta, entramos ao vivo com o duelo entre Laboral Kutxa e Neptunas Klaipeda, a partir de 15h15 (horário de Brasília). Na quinta e na sexta, rodada dupla! Cedevita Zagreb x Unicaja Málaga + Estrela Vermelha x Galatasaray e Real Madrid x Zalgiris Kaunas + Barcelona x Bayern de Munique, respectivamente.


Atualização: destinos de Ayón e Raduljica definidos
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Giancarlo Giampietro

Só para não deixar batido, tá? Falamos esta semana sobre alguns destaques da Copa do Mundo que ainda estavam desempregados. Depois de Joe Ingles acertar com o Los Angeles Clippers, outros dois definiram seus clubes para a próxima temporada entre esta quinta e a sexta-feira: Miroslav Raduljica e Gustavo Ayón.

O gigante-imenso-mesmo-e-barbudo vice-campeão mundial pela Sérvia anunciou nesta sexta que vai, mesmo, para a China. Na ausência de alguma boa oferta da NBA ou de um clube de ponta europeu, optou pela via mais fácil e rentável: receber US$ 2 milhões para defender o Shandong Lions, antigo Flaming Bulls (daí a confusão na Internet citando os dois apelidos para um mesmo time). E vamos lembrar: Raduljica é ex-Milwaukee Bucks, mas não está deixando o Bucks. Está deixando o Los Angeles Clippers, que teve seu contrato por uns cinco minutos talvez, antes de Doc Rivers assinar a papelada para dispensá-lo. A temporada chinesa termina antes que a da liga americana, então tem isso: se algum time estiver precisando de um troglodita na reta final, vai estar disponível, embora seu encaixe nos Estados Unidos seja mais difícil. Não são mais tempos para pesos pesados deste porte.

Já o grande herói mexicano dos tempos modernos, maior até que o goleiro Guillermo Ochoa e Chicharito Hernández, vai defender uma agremiação muito mais nobre: o Real Madrid. Ayón pagou do seu bolso, mesmo, a multa rescisória de 290 mil euros para o Barcelona, que tinha seus direitos na Europa, e fechou um vínculo de três temporadas com a equipe merengue, valendo 1,8 milhão de euros (bruto). Bela contratação do Real, que agora tem para seu garrafão esse jogador que a NBA subestimou, ao lado de Ioannis Bourosis, Andrés Nocioni, Felipe Reyes, Marcus Slaughter e Salah Mejri. Rotação versátil e de impacto. Alguém muito bom não vai nem ver a luz da quadra. Realmente esperava que ele pudesse assinar com o Spurs. Seria um excelente encaixe, mas sorte de Pablo Laso e do Real.

 


Ingles no Clippers? Zoran no Suns? Copa influencia o mercado
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Giancarlo Giampietro

A Copa do Mundo de basquete acabou no domingo, mas parece que foi há meses, né?

Ok… Não chega a tanto. Foram só dois dias, mesmo.

Ainda assim, galera, já vale atualizar o que se passa na vida de alguns dos personagens do torneio envolvidos com o mercado da bola (ao cesto).

Na NBA as coisas estavam aparentemente todas acertadas. Como se precisássemos apenas de uma resolução para o impasse entre Phoenix Suns e Eric Bledsoe – o melhor jogador americano sem contrato no momento –, além de uma definição de Ray Allen: o veterano ala vai, ou não, recorrer ao INSS como aposentado? Acontece que a Copa, este torneio que parte da liga americana tenta rotular na marca como algo desinteressante, gerou mais algum movimento nas franquias que ainda têm vagas em seus elencos. Da mesma forma que acontece na Europa e na China. A prioridade da maioria dos agentes livres, claro, é jogar em solo ianque. Mas esses acordos não são tão simples assim.

Vejamos:

Joe Ingles (Austrália)

Joe Ingles encara a Turquia. Agora, hora de bater uma bola com CP3 em Los Angeles

Joe Ingles encara a Turquia. Agora, hora de bater uma bola com CP3 em Los Angeles

Essa foi a nota quentinha da terça-feira, cortesia de Marc Stein, um bastião do ESPN.com. O ala canhoto acertou com o Los Angeles Clippers, que abriu uma vaguinha em seu perímetro ao se livrar do contrato de Jared Dudley, despachado para ser um mentor de Jabari Parker e Giannis Antetokounmpo em Milwaukee. Ainda não está claro se o seu contrato é garantido, ou não. Antes do tweet de Stein, o Courier Mail, de Brisbane, havia entrevistado este boomer, que não quis revelar os clubes interessados, mas disse que as chances de jogar nos Estados Unidos eram de 99%. Mas com um detalhe: provavelmente com um contrato sem garantias. Daqueles em que se estipula um prazo para a franquia decidir se ficará, mesmo, com o atleta por toda a temporada. Curioso que Ingles, campeão da Euroliga pelo Maccabi, vindo de médias de 11,4 pontos, 3,4 assistências e 3,2 rebotes no Mundial, encare um desafio desses. Em vias de completar 27 anos, deve estar considerando aquela coisa de agora-ou-nunca. “Vou tentar entrar no time, mas isso por si só vale como motivação para mim. Estou empolgado. A situação para a qual vou é a de um time que tem me acompanhado”, afirmou. Em L.A., Doc Rivers tem, no momento, as seguintes opções para o perímetro, lembremos: JJ Redick, Jamal Crawford, Matt Barnes, Reggie Bullock e o calouro CJ Wilcox (excepcional arremessador vindo da universidade de Washington).

Zoran Dragic chuta contra Klay Thompson: arremesso não é o forte, mas a NBA está caidinha por ele

Zoran Dragic chuta contra Klay Thompson: arremesso não é o forte, mas a NBA está caidinha por ele

Zoran Dragic (Eslovênia)
O irmão do Goran virou febre entre os scouts da liga americana. Incrível. Vi alguns jogos do ala-armador esloveno na última Euroliga, e ele tem seus lampejos aqui e ali, mas está longe de ser um atleta consistente, embora já não seja tão novinho assim (25 anos). É um jogador atlético, raçudo, que ataca a cesta com fome, mas que converteu apenas 25% de seus arremessos de três na temporada passada pelo tornei continental e 28,8% pela Liga ACB. Sim, acreditem: não é todo europeu que chuta bem de longa distância, mesmo com um sobrenome desses. Em um bate-papo recente, o analista Kevin Pelton, do ESPN.com, um desses magos das estatísticas, fez a seguinte observação: “Se fosse irmão de um encanador, não sei se teria alguma chance de jogar na NBA”. Ouch. Ele fala isso com base na tradução de seus números da Europa para os Estados Unidos. Vai saber.

Fato é que o esloveno tem uma penca de times no seu calcanhar. Segundo o mesmo Marc Stein, o Phoenix Suns é quem estaria mais adiantado em negociações para tirar o atleta do Unicaja Málaga, superando Pacers e Kings. O gerente geral Ryan McDonough, que foi para Madri acompanhar os mata-matas da Copa, está fazendo de tudo para agradar ao irmão mais velho de Zoran, que vai deve se tornar um agente livre em 2015. Arizona Central confirma o interesse do time e afirma que sua multa rescisória com o clube espanhol é de US$ 1,1 milhão. Já o RealGM lista Spurs, Magic, Heat e Mavericks como times envolvidos na perseguição e dá outro detalhe: o jogador tem até o dia 5 de outubro para se liberar de seu contrato. Caso contrário, é obrigado a jogar a temporada pelo Málaga. Quem dá mais?! “Obviamente que estou interessado em jogar na NBA, mas não tem nada definido no momento”, afirma o Dragicinho. “Tudo é possível, mas por enquanto ainda sou um membro do Unicaja Málaga.”

Gustavo Ayón (México)
Já teve gente declarando amor ao pivô mexicano durante a Copa. Outra vez. Não sei quem. Agora, se você acha que o rolo de Dragic é meio complicado, a trama em torno de Ayón é digna de um quebra-cabeça para a turma de Charlie Kaufman resolver. Assim: o herói de Zapotán jogou uma temporada só pelo Atlanta Hawks e voltou para o mercado. Estava esperando mais uma oferta da NBA, que não chegou – o Spurs é que poderia se apresentar, segundo… Marc Stein! De concreto, todavia, o mexicano disse, durante o Mundial, que só havia chegado uma proposta chinesa, do Shandong. Mas aí o Real Madrid também entrou na parada, e eles estavam bem perto de acertar um vínculo de três anos. Além do mais, ele só jogaria na Euroliga, com cláusulas camaradas para migrar para os Estados Unidos, se fosse o caso. O problema é que, na Espanha, os direitos do mexicano são do Barcelona. Para ele fechar com o Real, teria de pagar 290 mil euros ao Barça. Então, no momento, o jogador estaria inclinado a ir para a China, mesmo.

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Miroslav Raduljica (Sérvia)
O quê!? O Raduljica!? Mas ele não era do Bucks?! Não, gente, não mais. Anunciado insistentemente durante toda a Copa do Mundo desta maneira, o pivô titular e um dos destaques dos sérvios no torneio, o grandalhão havia sido trocado pelo Milwaukee para o Clippers (no mesmo negócio que envolveu Dudley). Doc Rivers não tinha intenção em contar com suas trombadas e o dispensou de imediato. Então ele está no olho da rua, mesmo. Mas não vai durar pouco. Na real, o troglodita vice-campeão mundial parece estar envolvido em um sexteto amoroso com Ayón, Spurs, Real e Shandong. Sim, as coisas ficam ainda mais complicadas de desenrolar aqui, hehe. Os mesmos clubes relacionados ao mexicano aparecem também na onda de rumores em torno do pivô. Com a prata no peito, em alta no mercado como nunca antes em sua história, Raduljica ao menos diz com orgulho: “Perdemos a final, mas minha barba ainda é melhor que a do James Harden”.

Hamed Haddadi (Irã)
Por falar em Real Madrid e China… pode botar o iraniano nesta história. Aparentemente, a diretoria do clube espanhol não perdeu tempo ao ver uma série de estrelas internacionais em seu país durante a Copa. O gigante foi mais um jogador cogitado para reforçar seu garrafão, embora sua prioridade também fosse retornar para os Estados Unidos. Uma pena que Memphis não o reconheça pelos serviços prestados… A essa altura da vida, já não dá mais para acreditar num mundo justo. De modo que Haddadi está em vias de assinar com a liga chinesa, mesmo, para defender o Qingdao Double Star.

Eugene Jeter (o ursinho Puff da Ucrânia)
O armador americano, que defendeu a seleção ucraniana com 15,4 pontos e 5 assistências por partida na Copa, sempre reclamou de que nunca havia recebido uma chance real para jogar na NBA. Foi reserva do Sacramento Kings por um ano, mas foi na Europa que desenvolveu sua carreira profissional. Agora, recebeu um convite do Los Angeles Lakers para passar por um período de duas semanas de treinamento. Um sonho de criança. “Nasci em Los Angeles e cresci como um torcedor do Lakers, então é uma honra receber esse convite”, afirmou. Tudo pronto para um final feliz? Nem tanto: mesmo que o gerente geral Mitch Kupchak quisesse adicioná-lo a uma rotação que hoje tem Jeremy Lin, Steve Lin e Jordan Clarkson, Pooh Jeter não poderia – já tem contrato na China e vai honrá-lo, disse ao Beijing Times.


Ayón se despede em alta do Mundial, mas sem contrato
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Giancarlo Giampietro

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Gustavo Ayón já fez tanto pela seleção mexicana nos últimos anos, levando o time a uma sequência histórica de façanhas, que, num jogo perdido, não era mal algum que seus companheiros jogassem em sua função por 40 minutos neste sábado.

Na abertura das oitavas de final da Copa do Mundo, todo mundo sabia que os Estados Unidos iriam atropelar o México (86 a 63, nem foi tão feio assim). Mas a partida do mata-mata tinha um valor especial para o craque do time, o pivô camisa 8 que, inexplicavelmente, está desempregado no momento. De modo que 25 pontos, 8 rebotes e 11/19 nos arremessos não faz mal nenhum, mesmo que numa sacolada. Ele se despede do Mundial com médias de 17,6 pontos e 7,6 rebotes.

Ayón foi explorado ao máximo. Trombou com uma infinidade de pivôs americanos em 36min53s de partida, aproveitando ao máximo a oportunidade de mostrar serviço. Nos minutos finais, estava visivelmente exausto, tendo de segurar Andre Drummond e Mason Plumlee correndo que nem malucos. Coitado. Mas foi por uma boa causa.

Ayón x Monocelha no Mundial

Ayón x Monocelha no Mundial

Ele não é o único protagonista do Mundial nessa situação – temos Aron Baynes na Austrália e Miroslav Raduljica na Sérvia, por exemplo. Mas, pelo que vimos hoje no embate com os norte-americanos, é de se perguntar como é possível que alguém com os talentos de Ayón tenha sido menosprezado desta maneira. Até o momento, seus agentes asseguram que não receberam sequer uma proposta oficial da NBA, depois de seu cliente concluir um contrato de três temporadas.

Segundo o extremamente confiável Marc Stein, do ESPN.com, o San Antonio Spurs passou a manifestar interesse no jogador, mas ainda tem como prioridade a renovação com Baynes. O ídolo mexicano seria, então, um plano B – estar na lisa de atletas monitorados por Gregg Popovich e RC Buford é, de qualquer modo, um bom sinal para qualquer empresário. A mídia mexicana fala em negociações com o Real Madrid, para o qual foi oferecido. O Baskonia também teria sido sondado.

É muito estranho. Ayón não pode ser confundido com um craque, alguém que mudaria o destino de uma franquia da NBA a partir do momento em que assinasse. Mas é, por outro lado, um pivô bastante versátil, pau-pra-toda-obra.

No ataque, é capaz de pontuar com eficiência próximo da cesta, com o jovem Anthony Davis pôde atestar neste duelo, sendo fintado em diversas ocasiões em mano-a-mano. Com um jogo de pés bastante criativo, girando para os dois lados com facilidade, conseguiu se desvencilhar da interminável envergadura do Monocelha. Veja os australianos entrando na dança:

Na liga americana, embora não tenha um bom chute de média distância (seu lance livre, por exemplo, é um horror – média de 50% na carreira), ele pode ser bastante útil de outra forma no poste alto: tem visão de jogo e roda a bola com precisão (2,8 assistências por 36 minutos, para um pivô). Reparem como ele está sempre com a bola erguida, os braços alertas para fazer o passe – isto é, não basta inteligência, tem de ter fundamento também. Aqui:

Do outro lado, tem capacidade atlética para segurar a onda na disputa dos rebotes e também está disposto a trombar, bater e fazer o necessário para proteger a cesta. Numa projeção de 36 minutos, tem médias de 1,6 roubo de bola e 1,2 bloqueio, além de 9,4 rebotes e 10,2 pontos.

De novo: são habilidades em que ele está acima da média, mas não quer dizer que ele seria dominante: a concorrência na liga é grande, independentemente da posição. Vejam o caso de Francisco Garcia. Esquenta-banco em Houston, cestinha de 20 pontos pelos dominicanos nesta Copa. Ninguém pediria que Ayón arrebentasse. Mas é meio triste ver um jogador talentoso dele vagar pela liga.

Vagar, mesmo: foi contratado em 2011 pelo New Orleans, de modo até emergencial, já no meio da temporada. Ele havia se estabelecido como um dos melhores pivôs da Liga ACB, na dianteira de diversas tabelas estatísticas, incluindo a de eficiência – o que é sempre um bom sinal, considerando que Tiago Splitter, Marc Gasol e Luis Scola estiveram por lá nas temporadas anteriores.

Para quem chegou de última hora, se ajustando, Ayón mandou bem nos ex-Hornets-hoje-Pelicans. Quando o time se interessou por Ryan Anderson, porém, no mercado de agentes livres, foi despachado para Orlando num sign-and-trade. O clube solicitou o mexicano, mas não o usou muito. O elenco estava em processo de reconstrução após a saída de Dwight Howard e tinha pivôs “próprios”, mais jovens para desenvolver. Não demorou muito para repassar o atleta, então, para o Milwaukee, que vivia fase de transição semelhante (aliás, como sempre). No lugar errado, na hora errada, ou seja.

Agente livre em 2013, fora do radar, o pivô não conseguiu dar o salto pelo qual todo estrangeiro espera ao migrar para NBA: receber um senhor aumento na hora de fechar o segundo contrato. Teve de se contentar com um salário mínimo para preencher a rotação de pivôs do Atlanta Hawks, pelo qual quebrou um galho quando Al Horford se lesionou, mas não tão foi aproveitado. O técnico Mike Budenholzer priorizava o arremesso de fora, mesmo para seus grandalhões, e o macedônio Pero Antic ganhou espaço.

Aqui estamos, então. A central de negociações da liga americana está em clima de fim de feira, na real, e Ayón, sem clube. Ao menos ele pôde bater uma bolinha neste sábado contra seus (ex-)adversários de NBA e mandar um último recado.

*  *  *
Independentemente do clube com o qual assinar, Ayón seguirá um orgulho mexicano:


Jogadores americanos descendentes causam impacto e ajudam a explicar surpresas no continente
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Giancarlo Giampietro

Holland x Feldeine

John Holland e James Feldeine: duas novidades norte-americanas no Caribe

Os Estados Unidos nem jogaram a Copa América de basquete neste ano, mas o talento de seus jogadores ainda deu o jeito de fazer a diferença. Do campeão México à surpreendente Jamaica, passando até mesmo pelo Brasil com Larry Taylor, muitas das seleções que disputaram o torneio continental contaram com uma ajudinha da mão-de-obra dos atuais bicampeões olímpicos. O grau de sucesso variou de time para time, mas a presença deles foi impactante de um modo geral, para atestar, ainda que por vias tortas, a influência do país no esporte.

Aí você pode pensar: “Dãr. Quanta novidade, hein?”

Bem, acreditem. Antes de Jerry Colangelo, Coach K, LeBron & Cia. conseguirem restaurar um certo grau de normalidade para as competições masculinas da Fiba, essa aura, essa influência estava sendo esculhambada em praça pública. Voltemos.

Muito se falou sobre o Pan de 1987 nestes últimos dias de Oscar Schmidt no Hall da Fama, então esta vocês já sabem responder direitinho no vestibular: que, no basquete masculino, o Brasil foi o primeiro time a vencer os Estados Unidos na casa dos caras, em Indianápolis. Que os norte-americanos perderam para a União Soviética nas Olimpíadas de 1988 também vem por esteira, e que esses acontecimentos somados a uma boa dose de interesses econômicos dos dois lados, Fiba e NBA, levaram ao ingresso do Dream Team em Barcelona 1992, e o resto foi história.

Uma história que, se for pensar bem, não durou taaaaaaaaaanto assim, não. Em Sydney 2000, lá estavam os EUA penando contra a Lituânia na semifinal, a um chute de três pontos de Sarunas Jasikevicius de ver o império ruir.

Não tardou muito, mesmo: no Mundial de 2002, de novo no solo sagrado amaldiçoado de Indianápolis, veio o maior vexame da história (para eles): derrotas para Argentina na segunda fase, Iugoslávia nas quartas e, como se não bastasse, Espanha na disputa pelo sexto lugar. Os jogadores utilizados nesta? Andre Miller, Baron Davis, Jay Williams, Reggie Miller, Michael Finley, Paul Pierce, Shawn Marion, Raef LaFrentz, Elton Brand, Jermaine O’Neal, Antonio Davis e Ben Wallace. Um timaço em qualquer circunstância. Todos All-Stars ou futuros All-Stars, ultramilionários, estrelas de seus times, alguns que seriam campeões mais adiante. Mas nem todos eram maduros o suficiente para a empreitada e, além disso, não eram necessariamente os maiorais da liga na época (nada de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal, por exemplo).

Conclusão da época? Nós, ianques, não podemos mais nos dar ao luxo de não levar o que temos de melhor.

Dois anos depois, Atenas 2004, Jogos em que a seleção norte-americana sofreu mais uma humilhação daquelas com a derrota para Porto Rico na primeira fase e a assinatura da caderneta de freguesia para a Argentina, nas semifinais. Ao menos bateram os lituanos novamente e ganharam o bronze. Quem estava lá? Allen Iverson, Stephon Marbury, Dwyane Wade, LeBron James, Carmelo Anthony, Richard Jefferson, Shawn Marion, Lamar Odom, Amar’e Stoudemire, Carlos Boozer, Emeka Okafor e Tim Duncan. Reparem: grandessíssimos nomes, mas uma combinação de talentos que não faz o menor sentido, com nenhum chutador de primeira linha – e lembrem-se que Wade, Melo e LeBron eram apenas novatos na liga e saíram da capital grega odiando Larry Brown. Além do mais, com Iverson e Marbury, era como se eles tivessem a versão deluxe de Arroyo e Ayuso, sobrando tiros pra tudo que é lado.

Conclusão? No, we can’t. Não dava para jogar sem ter os melhores em quadra – e sem passar o mínimo possível de espírito de equipe.

Aí que o resto se fez de história também, com a reformulação completa da confederação. Antes disso, os fiascos seguidos botaram em dúvida o tipo de basquete praticado por lá. E até mesmo a qualidade do “jogador americano X” foi questionada. O orgulho todo foi embrulhado num jornal velho e atirado na lata de lixo. Compreensível a reação e exagerada da mesma forma.

Ainda numa digressão, temos o caso de uma campanha na qual eles não levaram o ouro, mas em que o talento abundante no país ficou em evidência. Antes da “derrocada” em Indianápolis, vale quebrar a linearidade e voltar quatro anos no tempo para edição 1998 do Mundial, também em Atenas. Abalada pela instauração do primeiro lo(u)caute na NBA, USA Basketball teve de se virar com um catadão de universitários, jogadores que na época estariam na D-League, caso ela existisse, ou de alguns veteranos em atividade na Europa. Destaque para o pivô Brad Miller, que remaria bastante e viraria um dos melhores de sua posição na grande liga, e o ala Trajan Langdon, um ídolo para os torcedores do CSKA Moscou. Treinados por Rudy Tomjanovich, com a assistência de Del Harris, esses atletas foram valentes o suficiente para conquistar o bronze, somando 7 vitórias (incluindo um placar de 83 a 59 contra o Brasil…) e 2 derrotas (Lituânia e, na semi, contra a Rússia, por um total de quatro pontos) – leia aqui o relato comovido da federação deles.

Jimmy King, um dos quase-anônimos do bronze

O ala Jimmy King, companheiro de Webber, Rose e Howard no histórico time dos “Fab Five” da univesidade de Michigan, foi um dos que conquistou o bronze no Mundial da Grécia em 1998

Nesse campeonato, os Estados Unidos foram obrigados a se alimentar com a rebarba, jogadores que não teriam a menor chance de entrar num elenco final de 12 atletas caso estivessem todos os de ponta disponíveis, mas ainda assim deram um jeito de brigar por um lugar ao pódio, lutando contra cachorros grandes. Com o tanto de jogadores que o país produz, algo semelhante apenas ao que o Brasil faz no futebol, não é impossível formar uma equipe competitiva.

Ao mesmo tempo, sem muita margem de erro, podem ficar em quarto num torneio continental como na Copa América de 2005, atrás de Brasil, Argentina e Venezuela, algo impensável para sua grife, ou, só com jogadores da D-League, ficar com um bronze no Pan de Guadalajara 2011, com um elenco que contou com três atletas hoje inscritos na NBA (Greg Stiemsma, Donald Sloan e Lance Thomas).

Tudo depende de preparação, seriedade, química e – por que não? – um pouco de sorte. De qualquer forma, passando por essas diferentes equipes citadas, algo fica muito claro: não é qualquer grupo que vai sair triunfante de uma competição oficial, independentemente de quem estiver jogando. Isso Paul Pierce e Tim Duncan poderão confirmar. Mas também não dá para negar o talento disponível.

E é a partir dessa fonte inesgotável de talento que o cenário da Copa América, hoje, se vê drasticamente alterado. Foram diversos os jogadores nascidos nos Estados Unidos inscritos no torneio disputado em Caracas, espalhados por vários elencos, como o ala Donta Smith, que se naturalizou venezuelano a menos de dez dias do torneio. Mas nem todos são descaradamente mercenários como o jogador ex-Atlanta Hawks: muitos entregam já em seus sobrenomes a ascendência latino-americana. A diferença é que, depois de passarem pelo High School, se formarem, ou não, nas universidades de lá, se beneficiando de toda a estrutura de seu país, na hora de jogar por uma seleção, eles simplesmente não teriam espaço se não na de seus familiares – como Scott Machado.

No México, temos, por exemplo, o pivô Lorenzo Mata, nascido na Califórnia, formado na UCLA. Combativo, disposto a trombar e fazer o serviço sujo, também um bom passador, inteligente, ele se apresentou como um sólido companheiro de garrafão para o astro Gustavo Ayón no México. Os inéditos campeões continentais também contaram com mais dois californianos em sua rotação, com papel importante: Jovan Harris, cestinha na final contra Porto Rico, com 23 pontos, e Orlando Méndez, além do baixinho catimbeiro que é o tal do Paul Stoll, esse natural do estado de Michigan.

O marrentinho Stoll

Paul Stoll, o tampinha e marrento armador reserva do México, direto de Michigan

Mais uma equipe a ser surpreendida pelos mexicanos, Porto Rico não teria muito do que reclamar, não, já que Renaldo Balkman, um dos melhores do torneio, veio de Nova York. Assim como John Holland, encontrou um ótimo ala para complementar seus armadores talentosos. Ele é um nova-iorquino de 24 anos, muito atlético, aguerrido na defesa, que vem evoluindo consideravelmente nas últimas duas temporadas. Neste campeonato, eles ganharam a companhia de outro conterrâneo, Ramon Clemente, ala-pivô estreante, da mesma forma que o ala Ricky Chaney, de Los Angeles. (E tenham em mente que Carmelo Anthony também seria uma possibilidade não fosse tão badalado e cobiçado desde a adolescência, de modo que a USA Basketball não o deixaria escapar de modo algum.)

O mesmo aconteceu na República Dominicana, com outro jogador de ponta: o ala-armador James Feldeine, de Nova York e uma ótima opção para pontuação a partir do perímetro, com suas infiltrações que desafogam a pressão pra cima dos, aí, sim, dominicanos naturais como Francisco Garcia e Jack Martínez. Outros nova-iorquinos: Edgar Sosa, Ricardo Greer e até mesmo o Ronald Ramon, de Limeira. Já o promissor Karl Towns Jr., de 17 aninhos, é de Nova Jersey.

E a Jamaica? Bem, Samardo Samuels nasceu realmente na ilha, vindo de Trelawny. De resto, temos cinco americanos e até um canadense, o jovem armador Dylan Howell, que saiu de Toronto. (Outro “gringo” que pode reforçar a seleção é o gigante Roy Hibbert, do Indiana Pacers, que já defendeu a equipe num torneio regional, mas se arrependeu e nutria esperanças de que pudesse ser liberado para defender os Estados Unidos de volta – sendo que já havia jogado pelo Team USA no Pan do Rio de Janeiro… –, até que seu pedido estapafúrdio foi recusado pela Fiba. Tá vendo? Acha que a federação vai dizer “sim” pra tudo?!)

Mas deu para sacar, né?

Os jogadores “importados” não chegam a ser Os Craques de suas seleções, mas se tornaram peças complementares importantes para a formação de sólidas e competitivas bases. Se fosse para subtrair todos esses caras, provavelmente nenhum dos três países teria beliscado a vaga – ou, no mínimo, teriam sofrido muito mais para assegurar a vaga. O “se” não entra em quadra, no entanto.

A única condição que se espera é que esses reforços tenham realmente alguma relação direta com os países que adotaram, algo que vá além de uma eventual valorização econômica pela vitrine que é disputar um torneio internacional de seleções.

Bem diferente do que vem acontecendo na Europa… Mas esta história fica para amanhã.