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Arquivo : outubro 2013

Bulls vence, mas volta para Chicago tenso com Rose; Nenê recebe duras vaias
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Giancarlo Giampietro

Nenê e um sábado de vaias no Rio

As vaias a Nenê acabam roubando a cena em vitória do Bulls

O Corcovado, o Pão de Açúcar, as diversas praias, o humor e a hospitalidade dos cariocas e uma vitória. Cada membro da delegação do Chicago Bulls poderia estar retornando neste fim de semana para os Estados Unidos com a bagagem pesada, repleta de boas lembranças, celulares e computadores abarrotados de fotos sorridentes e de uma paisagem com a qual eles não estão nada habituados.

Mas, com o desfalque de Joakim Noah e, principalmente – e bota principalmente nisso –, Derrick Rose, Tom Thibodeau, diretoria e seu elenco só podem embarcar no avião um pouco preocupados, para não dizer assustados. Depois de duas partidas amistosas nos Estados Unidos e alguns eventos promocionais na Cidade Maravilhosa, seu armador e principal esperança foi vetado (de última hora?) para o confronto com o Washington Wizards, neste sábado, sentindo dores no joelho esquerdo.

A notícia começou a pipocar nos veículos de Chicago, deixando a galera por lá agitada. Nestes tempos em que a palavra e/ou a imagem correm o mundo em alta velocidade, quando oficial, a informação só pôde desanimar os fãs do clube hexacampeão que demoravam em chegar à Arena HSBC, presos no tráfego pesado. Fica a frustração, claro, de não poder ver uma aberração atlética dessas de perto, mas, a longo prazo, a tensão é muito maior.

Precaução em excesso? Dores normais para quem ficou tanto tempo parado? Será? Não teria Rose ficado fora de toda a temporada passada justamente para, na hora de retornar de uma ruptura no ligamento, não ter nenhum percalço? A diretoria e os médicos do clube vão ter muito o que explicar no desembarque em casa.

Sem o armador? Não há a menor chance de o Bulls competir por um título ou nem mesmo por uma das primeiras posições de uma Conferência Leste bem mais forte. Até porque dessa vez não há nem mesmo um tresloucado Nate Robinson como uma apólice de seguro para substitui-lo. Antes de falar de Marquis Teague, melhor esperar um diagnóstico mais preciso sobre o suposto titular.

Sobre Noah, os cuidados são bem menos preocupantes. Ele tem uma lesão na virilha, que cuida aos poucos. Provavelmente jogue na próxima partida de pré-temporada. De todo modo, um pecado para o torcedor que foi ao ginásio. Noah é também ao seu modo um atleta de qualidades impressionantes, com velocidade, energia e coordenação incomuns para alguém de sua altura.

No fim, no lugar deles, o público foi… Hã… Brindado com Kirk Hinrich e Nazr Mohammed. Nada contra eles. O armador é um exemplo de operário,d e gente que faz muito com pouco em quadra – na verdade, um jogador que serve como exemplo bem mais realista para qualquer basqueteiro do que um Rose. O outro já foi campeão pelo San Antonio Spurs e também se firmou na liga como um veterano de respeito, mais uma influência positiva no vestiário.

As vaias
Ao menos Nenê, que ainda não está na melhor forma, jogou.

Mas será que alguém no ginásio estava interessado em vê-lo ou admirá-lo?

O Wizards obviamente esperava que sim. Em seu primeiro ataque, quem foi acionado? Bola para ele, claro, numa jogadinha básica. O grandalhão, vaiado em seu discurso de agradecimento (vejam só), recebeu na zona morta pela direita, fez o giro e tentou um arremesso sem muita elevação, bem marcado por uma defesa que costuma contestar bolas muito mais criativas que essa.

Ainda está sem perna o paulista. Foi tirado de quadra rapidamente no primeiro quarto. Quando voltou para quadra, não conseguiu se destacar, limitado a cinco pontos e seis rebotes em 20 minutos, com uma cesta de quadra em seis tentativas.

Agora, para aqueles inclementes, fica um exercício de imaginação: se em 12 de outubro ele se apresentou desta forma, como seria seu desempenho, digamos, num dia 30 de agosto, quando a Copa América teve início? Talvez, um mês e meio atrás, Nenê pudesse fazer de Caio Torres realmente um pivô ágil, numa comparação direta..

Que coisa, hein? Que coisa deselegante, na verdade. Dá para entender que haja, para os mais rancorosos, a insatisfação com o constante pula-fora da seleção brasileira. O mesmo público que vaiou minutos depois iria aplaudir Oscar Schmidt, justamente a voz crítica ao pivô com mais reverberação midiática, para além das fronteiras do basquete. Havia também muitos torcedores vestidos de Bulls o torneio, que talvez vaiassem até mesmo Michael Jordan trajado de Wizard – mas não imagino que tenha sido clubismo a maior influência aqui.

É de se questionar se todos que o vaiaram sabem exatamente os motivos que levaram o são-carlense a tomar algumas decisões no decorrer de uma carreira longa e acidentada na NBA. Quando se ausentou e quando ele simplesmente estava fora de combate? Quem se lembra da cronologia completa?

O pior foi ver as vaias se repetirem durante o jogo, implacáveis, quando o atleta foi para a linha de lances livres. Leandrinho também recebeu das duas quando anunciado no ginásio. Lamentável – e não é uma exclusividade do basquete: Thomaz Bellucci, o número um do tênis, já foi achincalhado no Ginásio do Ibirapuera, a Seleção de futebol já foi banhada por bandeirinhas no Morumbi, e por aí vamos… É um esporte nacional, como disseram os companheiros do Draft Brasil.

Realmente lastimável, incluindo a participação do mesmo Oscar ao vivo na RedeTV. “O povo não esquece, o povo sabe tudo”, sentenciou o legendário ala, em entrevista. A questão não é a opinião em si, ter intolerância com quem pensa diferente. Só incomoda os modos, a educação. Ou melhor: a falta deles, na hora de se manifestar. Magic Paula? Durante a transmissão, muito mais sensata, sem se preocupar em julgar qualquer um a cada momento. Não surpreende, claro.

Sobre o jogo: vimos um Bulls mais bem preparado, sem se deixar abalar pela ausência de seus dois principais jogadores, vencendo por 83 a 81. Típico de Thibs. Não que a máquina esteja azeitadinha, como se fosse abril. Mas a continuidade do trabalho e a seriedade de seu treinador ajudam um bocado, não importando o mês. Os reservas do Wizards ainda endureceram o jogo, numa noite em que Eric Maynor foi melhor que John Wall.

Mas venceu o melhor programa. Não que eles se matarão de comemorar, sem ter Rose ao lado.

Na verdade, era para ter sido uma festa geral. Mas nem o anfitrião conseguiu ser celebrado.


Guia para o espectador: no que ficar de olho quando Bulls e Wizards jogarem
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Giancarlo Giampietro

Rose x Wall

Ligeirinho contra ligeirinho: Rose e Wall vão acelerar em Jacarepaguá

Para qualquer evento esportivo, muda muito a impressão que você tem ao assistir ao vivo um evento, em comparação com o que é passado pelo distanciamento de uma transmissão de TV. O sofá de casa pode ser mais confortável, os preços do que você traz do supermercado (ainda) são mais acessíveis, e tudo o mais, mas, do ponto de vista atlético (na falta de melhor termo), nada melhor do que ir para o estádio ou, neste caso, o ginásio e ver de perto como são as coisas sem edição, sem slow-motion e fotografia ajustada.

No caso do basquete, o jogo enriquece demais. É só deslocar o olho da bola para o que acontece no lado contrário, ou com mais profundidade em quadra, para valer algo parecido como um balé frenético de sujeitos de mais de 2,00 m de altura, correndo e freando sem parar, mudando de direção, com muito contato. São 24 segundos de posse. É tudo muito rápido.

Há, claro, times com uma abordagem ofensiva muito banal, de pouca movimentação, apostando principalmente nos principais jogadores de seu elenco, procurando isolá-los em quadra para que decidam no mano-a-mano, e o que se passa com a bola é o principal. Mas, em geral, o melhor conselho mesmo para o mais fanático é observar bastante o que está por trás da cortina do drible.

De qualquer forma, temos no Rio de Janeiro um candidato a título e outro, com elenco jovem, mas que aspira aos playoffs, ainda que seja difícil. Para os felizardos que forem para o ginásio neste sábado, o que tentar captar? Segue um guia de dicas básicas:

CHICAGO BULLS
Derrick Rose: o mais óbvio, né? Aí o foco é total para o que se passa com a bola. Vrrrrrrrrrruuuuuum! Já passou. Ao que tudo indica, o armador voltou da oficina com o motor ainda turbinado e marcha extra para acelerar. Fica a torcida para que ao menos um daqueles contra-ataques-de-um-homem-só, de tirar o fôlego, possam ocorrer no Rio. Não é questão de ser fominha. É que, por vezes, ele parte com em velocidade tão alucinante, que poucos vão poder acompanhá-lo.

Joakim Noah: com problemas musculares. Será que joga? Seria um pecado que não acontecesse. Noah é um dos preferidos aqui na base, um jogador que deveria ganhar medalhas e medalhas de honra ao mérito – ou, vá lá, pelo menos diversas plaquinhas de funcionário do mês. Dedicado, raçudo, inteligente, intenso. Sua facilidade para se deslocar dentro do perímetro interno impressiona, fechando espaços na defesa do Bulls e anulando tentativas de pick-and-rolls para satisfação plena de Tom Thibodeau. Além disso, tem uma visão de jogo claríssima, distribuindo passes criativos e precisos na cabeça do garrafão. Vez ou outra também pode quebrar o protocolo e correr ele, mesmo, com a bola para iniciar o contragolpe.

JoJo, o Noah

Luol Deng: arroz-com-feijão de primeira, temperadinho. Não existe uma característica específica deste ala que esteja muito acima da média da liga. Não é o cara mais explosivo, mais brilhante com a bola, o melhor arremessador, o melhor defensor ou reboteiro. Mas ele vai entregar um pouco de tudo em quadra. Não perca de vista suas parábolas fora da bola, saindo de baixo da cesta para a quina do garrafão, recebendo o passe em movimento para atacar.

Jimmy Butler: o caçulinha no quinteto titular, que ganhou o coração de Thibs depois de uma temporada em que evoluiu bastante. Outro que executa bem diversos fundamentos. Seu diferencial, para a posição, é a habilidade para apanhar rebotes ofensivos, atacando a tabela com vigor e capacidade atlética.

Taj Gibson: ala-pivô muito ágil que não faz as caras e bocas de Joakim Noah, mas também dá duro na defesa. Outro com movimentação lateral impecável, caçando armadores em pick-and-roll sem perder de vista seu jogador, recuperando-se rapidamente. Com uma impulsão vertical absurda, é candidato a “enterrada ou toco da noite”.

Kirk Hinrich: lento, quase não pula mais um par de Reebok Pumps, mas ainda é um soldado competente para Thibs, combatendo muito, sem se importar em sacrificar um corpo relativamente frágil, batendo de frente com pivôs e alas muito mais fortes para ganhar segundos preciosos para a recuperação e rotação defensiva.

WASHINGTON WIZARDS
Nenê assistente Nenê: por todo o seu histórico, ou melhor, por toda a falta de histórico quando o assunto é seleção brasileira, algo lamentável tende a acontecer por aqui: ignorarmos o quão sofisticado o pivô brasileiro se tornou no decorrer de mais de uma década de NBA. Muito disso, aliás, vem de um talento natural do são-carlense, como sua capacidade de fazer a bola rodar, seja por enxergar bem o que acontece em quadra como pela habilidade em executar o passe na medida certa. Faz bons corta-luzes e se oferece como uma opção sólida correndo em direção ao aro, ou freando para um chute de média distância. No ano passado, com uma fascite plantar sustentad durante toda a temporada, seu aproveitamento caiu consideravelmente.

John Wall: jogou o melhor basquete de sua vida ao retornar de lesão na temporada passada, elevando sua produção em praticamente todas as métricas disponíveis. Vamos ver se já se apresentará afiado assim em uma pré-temporada. É um bom candidato a apostar corrida com Derrick Rose, aliás – no intervalo, não custaria nada eles tirarem um sprint de uma tabela para a outra. Brincadeira, ok, mas é que o jogo do armador se baseia realmente em sua explosão, ainda que, no ano passado, tenha melhorado sensivelmente no jogo de meia-quadra, com muito mais paciência e oportunismo na hora de ler as defesas. Seu arremesso em geral ainda é um ponto fraco.

Jan Vesely: com Emeka Okafor afastado por lesão, Vesely ganha mais uma chance para provar que foi uma boa sexta escolha de Draft. O tcheco jogou bem no EuroBasket e foi escalado como titular no primeiro amistoso da equipe, contra o Nets. Só marcou três pontos, mas apanhou 12 rebotes, cinco deles ofensivos, mostrando o nível de atividade que é o mínimo que o clube espera para aproveitar seu potencial. Vesely é dos homens brancos que sabem enterrar, com uma envergadura absurda e leveza para alcançar altos voos e dar no aro. O mesmo pacote atlético que serve para tocos e roubos de bola. Se concentrado e confiante, o jogador pode atazanar a vida de atacantes, embora esteja sujeito a lapsos defensivos, perdendo posição e sendo empurrado com facilidade. Na falta de um JaVale McGee, pode ser o jogador a fazer uma jogada inesquecível, para o bem ou para o mal.

Trevor Ariza: quando ele se preparar para saltar na zona morta e arriscar o chute de três pontos, ou, quando fica driblando com a bola de lá para cá, até pular para trás e atirar contra a cesta, é melhor tapar o olho da criança mais próxima. Vem coisa feia. Agora, se for o Martell Webster para o arremesso, sem problema. Dá até para gravar no celular.

PS: Não tem sido a semana mais fácil, por conta de um período de luto familiar, antecedendo a preparação para uma viagem internacional, a trabalho, que não tem a ver com o blog. O timing fica dos piores, com a NBA no Brasil e a nova temporada se aproximando, assim como Euroliga, Liga ACB e NBB. Vamos ver o que sai daí. Abs.


Marketing rigoroso da NBA serve de exemplo antes de amistoso
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Giancarlo Giampietro

Wizards in Rio

Nenê e a rapaziada de Washington no Rio de Janeiro

A atração principal está marcada para o dia 12, sábado, 18h, na Arena HSBC, no Rio de Janeiro. Mas, até lá, a NBA deu, claro, um jeitinho de colocar os jogadores de Chicago Bulls e Washington Wizards mais próximos dos cariocas, com eventos que começaram nesta quinta-feira.

A liga abriu os portões do ginásio muito mais cedo do que o esperado para o dia do fã, com duração de cerca de 1h30, reunindo milhares de torcedores que estarão, ou não, presentes no amistoso. Houve disputas de três pontos, desafio de habilidades e chutes do meio da quadra, com os atletas das equipes envolvidos – Carlos Boozer, o pivô que nasceu em Aschaffenburg, na Alemanha, foi educado no Alaska e já ganhou mais de US$ 114 milhões em sua carreira. Estavam lá mascotes e cheerleaders também.

Mais tarde, em uma loja na Barra da Tijuca, Derrick Rose e Joakim Noah estavam escalados para uma sessão de autógrafos, com a companhia de Oscar Schmidt. Nesta sexta, outros cinco atletas do Bulls compareceram a uma sessão de fotos em shopping center. Agora de tarde, Oscar voltará à cena para acompanhar John Wall em um passeio no Corcovado, para ver a estátua do Cristo de perto.

Parece pouco? Só considere que os atletas desembarcaram na quarta-feira. Ainda foram treinar na quadra do Flamengo – estão em plena fase de pré-temporada, com os técnicos ansiosos por qualquer minutinho a mais em quadra para passar novos conceitos, entrosar reforços e colocar a turma em forma.

Muitos desses jogadores também certamente contam com alguns minutinhos livres para visitar pontos turísticos da cidade por conta – se o Bruce Springsteen foi curtir um rolê pelo bairro da Lapa, por que os atletas não topariam essa? Um punhado deles ao menos conseguiu ir ao Maracanã ver o Flamengo jogar.

Mas o marketing da NBA pode ser tão rigoroso quanto um treino de Tom Thibodeau, ciente do impacto que seu inédito evento no Brasil pode causar.  Para reforçar, ainda vão lançar uma campanha com comerciais de TV voltada especificamente para fãs internacionais, com o lema “One Game, One Love”, inaugurada em sua série de amistosos promovidos nesta pré-temporada, envolvendo oito cidades fora dos Estados Unidos.

(Não obstante, por conta própria, ambos os clubes e muitos de seus jogadores são presença constante em redes sociais, postando fotos in loco, dando um salve geral, num nível de aproximação com o público que poucas ligas conseguem emular.)

Há quem veja isso tudo como “coisa do capeta”, pensando que talvez o esporte pudesse sobreviver por conta própria, sem ações comerciais que lhe viabilizassem financeiramente. Em 2013? Sem chance.

Um jogo de pré-temporada entre quaisquer clubes pode ser divertido para um país que nunca viu esse tipo de atleta de perto. Inegável. Mas poder ver de perto as estratégias de ocupação da turma de David Stern é o que impressiona mais e fica de modelo.


Faverani se destaca e tenta ganhar confiança do técnico em renovado Celtics
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Giancarlo Giampietro

Faverani, fazendo diferença (Photo by Christopher Evans)

Courtney Lee foi abordado ao final de um dia pesado de treinamentos da pré-temporada do Boston Celtics, e a curiosidade do repórter Steve Bulpett, do Boston Herald, tinha a ver com um possível paralelo entre dois brasileiros. Diga aí, Lee: como comparar Vitor Faverani, aquele que ficou, com Fabrício Melo, o que saiu?

“Eles são muito diferentes”, disse o ala. Bulpett afirma que o que mais ouviu foi que “Fab” ainda é um projeto, e “Fav”, um jogador.

Esta foi a primeira distinção que Faverani conseguiu estabelecer em seus primeiros dias com o Celtics, durante os treinos. Agora, com o time já a pleno vapor disputando amistosos, o pivô pretende mostrar que, em termos de habilidade de encarar os desafios de uma NBA, em comum com seu compatriota, mesmo, só há a nacionalidade.

Nesta quarta, em derrota apertada para o Knicks, o brasileiro saiu do banco novamente e teve grandes momentos em quadra para impressionar o técnico Brad Stevens. Especialmente no segundo período, no qual anotou nove de seus 11 pontos, com direito a enterradas afirmativas e um chute de três pontos, deixando evidente sua versatilidade. Sem fazer festa.

“Não tenho tempo para (comemorar) na quadra. Porque tenho de fazer a enterrada e, então, voltar para a defesa”, afirmou o jogador, que atuou por 20 minutos, apanhando seis rebotes. “Mas estou feliz, muito feliz. Porque as enterradas podem ajudar meus companheiros e eu posso mostrar ao técnico que posso jogar na NBA. Estou muito feliz.”

É isso. Faverani penou por umas boas duas ou três temporadas como profissional na Espanha até amadurecer e se estabelecer como um grande jogador, alguém preparado para atender aos pedidos de seus treinadores dia após dia, treino após treino, jogo a jogo.

Isso pesa a seu favor. Embora tenha de fazer diversos ajustes, lidando diariamente com jogadores, no mínimo, muito mais atléticos e fortes do que enfrentava na Espanha, o pivô chegou a Boston como um atleta já formado. O que não quer dizer também que não possa melhorar – se Kobe Bryant pode aperfeiçoar ou desenvolver fundamentos aos 34 anos, está claro que no basquete não há limites.

Faverani x Hansbrough

Vitor teve o privilégio de trabalhar duro durante a pré-temporada com Ron Adams, assistente que foi contratado para guiar Stevens em suas primeiras temporadas como treinador principal na NBA. Membro mais experiente da comissão técnica, Adams teve passagens recentes bastante significativas pelo Oklahoma City Thunder e pelo Chicago Bulls, influenciando na evolução de diversos jovens jogadores. Com o brasileiro, a ênfase tem sido em seu arremesso e nos fundamentos de defesa. Aos poucos, o resultado vai aparecendo em quadra.

 “Ele tem um bom entendimento do jogo. Você pode chamar várias um monte de coisas para ele. Está ficando mais confortável”, avaliou Stevens. “Ele também tem um pouco de dificuldade com a língua, mas faz o que pedimos na saída dos pedidos de tempo. Não tem problema nenhum em traduzir na quadra o que estamos tentando fazer.”

Sem Kevin Garnett e Paul Pierce, com Rajon Rondo assistindo tudo do lado de fora, ainda se recuperando de uma cirurgia no joelho, com um treinador calouro, o Boston Celtics ainda busca uma nova identidade em quadra.

Pelos esboços que vimos nas suas primeiras duas partidas da equipe (que havia perdido na estreia para o Toronto Raptors, por 97 a 89), a rotação de pivôs de Stevens era composta por Brandon Bass, Kris Humphries, Jared Sullinger e o novato Kelly Olynyk. Vitor seria o quinto grandalhão na ordem.

Mas nada disso ainda é definitivo, enquanto o técnico vai assimilando o que cada atleta tem para oferecer e quais as melhores combinações possíveis entre esses grandalhões. Nesse ponto, Faverani vai fazendo de tudo para elevar sua cotação e se inserir na discussão com mais propriedade, ainda que seu inglês não seja o mais expansivo.

“Ele é um arremessador melhor do que tem mostrado até agora”, disse Stevens. “Acho que ele tem um potencial muito bom, e é o único em nosso elenco que é um verdadeiro pivô. É um cara que vai ter de jogar, acho, enquanto seguimos adiante.”

 *  *  *

Austin Ainge, filho de Danny, faz parte da diretoria do Boston Celtics, na avaliação e preparação de jogadores. Fluente em espanhol, ele também tem ajudado o pivô como uma espécie de tradutor. “Ele adora bater. Ele é físico. Chega e faz as coisas acontecer e instiga o contato”, disse o jovem dirigente, em sua avaliação pessoal sobre o brasileiro.

Quem sentiu isso na pele foi o assistente técnico Jamie Young (remanescente do estafe de Doc Rivers), que precisou de oito pontos no supercílio direito depois de uma sessão informal de treinos com Faverani. “Tinha sangue pra todo lado. o Danny amou”, disse Young, talvez arrependido de não ter seguido Rivers rumo a Los Angeles.


Retorno de astros e impacto balcânico marcam início de pré-temporada da NBA
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose, o Retorno de Verdade

A fase de pré-temporada nem sempre vale para prever o sucesso deste ou daquele jogador na NBA de verdade. Mas, ao menos, já se apresenta como um estágio muito mais avançado na linha de avaliação de um atleta se comparado com o que vemos em julho durante as peladas das ligas de verão: 1) os atletas estão trajando uniformes oficiais e 2) são orientados pelos treinadores principais de cada clube; 3) em quadra estarão concorrentes que, em grande maioria, têm contrato garantido para todo o campeonato, ou múltiplos campeonatos; 4) os treinadores começam a definir suas rotações, então há uma boa chance de que os sistemas usados e as combinações de atletas se repitam nos meses seguintes ­– claro que com melhor execução; 5)seis faltas representam a exclusão, em vez de dez; entre outros fatores.

Até esta terça-feira, após uma dessas rodadas malucas com oito partidas de uma vez, tivemos já/só () 14 jogos preliminares computados. Pode parecer pouco – depende do quão faminto você estava –, mas algumas notinhas podem ser destacadas:

– Derrick Rose, a mais óbvia e provavelmente a mais aguardada. Como quase todo o seu jogo é baseado em atributos físicos anormais, havia uma tensão daquelas no ar em Chicago sobre como o astro retornaria de uma cirurgia no joelho que o tirou de toda a temporada passada. Estaria explosivo como antes?  Segundo todos os relatos após as duas partidas, contra Pacers e Grizzlies, antes de sua viagem rumo ao Rio de Janeiro, o armador voltou com tudo, alegando ter até mesmo ganhado alguns centímetros em sua impulsão. “Era só que faltava”, pensou um Mario Chalmers. Tom Thibodeau está feliz da vida – acreditem é possível –, enquanto os jogadores do Bulls acreditam que o time encontrou sua versão mais forte nesta era. As expectativas só crescem para a franquia.

– Há muito mais gente retornando de cirurgias graves além de Rose. Na primeira rodada da pré-temporada, enquanto os torcedores do Bulls examinavam o armador nos mínimos detalhes, os fãs do Pacers deveriam estar ligados na forma física de Danny Granger, também operado no joelho. Granger pareceu um pouco “enferrujado”, de acordo com Frank Vogel, contra o Bulls, sem surpresa nenhuma. Talvez por isso tenha ficado 29 minutos em quadra, para ver se pega no tranco – e o time de Indiana precisa checar desde já se pode contar realmente, ou não, com seu ex-cestinha para tentar o titulo em junho.

– Em Los Angeles, enquanto Kobe Bryant curte alguns dias na Alemanha depois injetar mais plasma em seu moído joelho, ainda sem saber quando poderá estrear na temporada, Pau Gasol se torna uma figura fundamental para qualquer plano competitivo que o técnico Mike D’Antoni possa ter. Então até mesmo o treinador, conhecido por ignorar algumas precauções médicas, vem sendo cuidadoso com a reinserção do espanhol em seu time, maneirando na carga de treinos e em minutos da pré-temporada. Mais um a sofrer cirurgia no joelho, por conta de suas crônicas tendinites, o pivô ficou fora da vitória contra o Golden State Warriors no sábado, mas ficou em quadra por 23 minutos contra o Denver Nuggets. Steve Nash também ganhou o mesmo tratamento. No caso do armador, o jogador mais velho da NBA, prestes a completar 40 anos, o controle de minutos vai valer para todo o campeonato.

– A NBA dá sequência ao crossovers com os clubes europeus. Se a abertura da pré-temporada foi reservada ao um duelo de potências dos dois lados do Atlântico, entre Oklahoma City Thunder e o turbinado Fenerbahçe, dois confrontos entre pesos penas também tiveram sua vez, com o Philadelphia 76ers e o Phoenix Suns, dois candidatos seriíssimos a saco de pancada no campeonato, envolvidos. Coincidência?

No País Basco, o Philadelphia 76ers enfrentou o Bilbao e venceu no finalzinho, por dois pontos de diferença. Evan Turner, ala que entra possivelmente em sua campanha de agora-ou-nunca, enfim tem o time todinho só para ele: foi o cestinha (25 pontos), o segundo a ficar mais minutos em quadra (31, um a menos que o comparsa Thaddeus Young), quem mais arremessou (15) e também quem mais cometeu turnovers… Vem tudo num pacote. O clube espanhol conta com um velho conhecido do Utah Jazz, o armador Raúl López, que já foi considerado o sucessor de John Stockton por lá e era muito mais bem cotado que Tony Parker no início da década passada. Na segunda, em Phoenix, o Suns recebeu o Maccabi Haifa e promoveu um espancamento, vencendo por 130 a 89. Seis de seus jovens jogadores anotaram 10 ou mais pontos.  Este é o segundo ano seguido que o time israelense visita times nos Estados Unidos, num arrojo um tanto masoquista. São campeões israelenses e tal, mas não estariam nem entre os 20 – ou 30? – melhores clubes do Velho Continente. De qualquer forma, levando em conta a imensa colônia judaica ianque, ao menos vendem melhor sua marca. Ao menos ambos os clubes começaram suas campanhas com vitória. Que comemorem enquanto podem.

– Por sorte, nem Suns, nem Sixers enfrentarão o CSKA Moscou, que bateu o Minnesota Timberwolves por 108 a 106, na prorrogação, para somar seu segundo triunfo em solo norte-americano. A equipe russa contou com uma atuação magistral do armador Milos Teodosic. Um dos jogadores mais marrentos, boêmios, tinhosos, displicentes do mundo, mas extremamente talentoso, o sérvio arrebentou com Rubio, Shved e AJ Price. Recuperado de uma lesão muscular na panturrilha que o tirou do Eurobasket, ele saiu do banco e marcou 26 pontos em 29 minutos, de modo balanceado: 12 em tiros de três, seis em lances livres e oito em bolas de dois. Some aí nove assistências e cinco rebotes, e temos uma das melhores atuações de um jogador europeu contra os “profissionais da NBA”. Incrível? Nah. Só uma amostra do que Teodosic é capaz, quando joga motivado em provar que é dos melhores na posição, sem querer atirar tudo da metade da quadra. Fez de Ettore Messina um treinador feliz.

– Outra jovem estrela dos Bálcãs a deixar sua marca contra os norte-americanos foi o ala croata Bojan Bodganovic, na derrota do Fenerbahçe para o Thunder, com 19 pontos em 31 minutos. É um jogador de 24 anos e estilo clássico (um jogo limpo, sem muita firula com a bola, mas bastante produtivo), bem fundamentado, com tino para conseguir cestas quando bem entende. Por outro lado, precisa desenvolver seu passe e a defesa. Seus direitos pertencem ao Brooklyn Nets, e, no momento, tudo leva a crer que se apresentará na próxima temporada ao clube nova-iorquino ­– a negociação para renovar com o Fener está enroscada­ –, para jogar ao lado de Paul Pierce e Joe Johnson no perímetro.

 


Copa Intercontinental: qual deveria ser o legado após título do Olympiacos?
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Giancarlo Giampietro

Spanoulis = craque

Com tanto evento chegando por aí, o termo “legado” entrou firme na pauta de qualquer jornal brasileiro nos últimos anos. Ao final da Copa Intercontinental de basquete em Barueri, o vocábulo também pode ser abraçado pelo basquete de cá, em pelo menos duas cruciais acepções para o desenvolvimento da modalidade.

Em termos de estrutura, o empenho e o lado visionário da diretoria do Pinheiros, sonhando alto, foi vital para que este torneio, que não era disputado há 26 anos, voltasse ao calendário da Fiba, por uma temporada que seja. Uma edição em 2014 não está garantida, embora dirigentes americanos e da Euroliga tenham ficado bastante satisfeitos com a organização e falem em até mesmo incluir campeões de outros continentes no páreo. Vai saber – seria, fato, uma semente plantada em solo fértil brasileiro, com a contribuição da trupe da LNB.

Tirando uma única pane em um dos placares neste domingo – reparada num instante –, tudo funcionou nos trinques no Ginásio José Corrêa. Acesso fácil via Castelo Branco ou de trem. Área ampla para estacionamento (e de graça, sem nem mesmo a famigerada classe dos flanelinhas dar as caras para atrapalhar). Quadra de alto nível, ginásio meio cheio (literalmente), público diversificado (sem ser exclusivamente basqueteiro). Paulo Bassul correndo de um lado para o outro. Um timaço de primeiríssimo nível em visita especial. Dá para fazer, até mesmo sem ajudinha nenhuma de qualquer grande conglomerado de comunicações nacional ou internacional. Basta abordar qualquer meta passo a passo, de modo profissional, sério. Alô, CBB.

(Por falar neles, Carlos Nunes compareceu nas duas partidas, nos brindando com uma anedota: 1) sentou-se lado a lado de Gerasime Bozikis, com quem disputou a última eleição da entidade. Ou foi muito sangue frio, ou temos hoje o caso de um ex-aliado-ex-rival-atual-coleguinha-de-pipoca para o presidente Carlinhos. Hortência também estava lá, bastante aplaudida na sexta. Guilherme Giovannoni fez a viagem de Brasília para o Sudeste também, no único atleta em atividade anunciado pelo sistema de som do ginásio. O diretor de seleções Vanderlei deu as caras, mas Rubén Magnano, não.)

Ginásio José Corrêa, que não é o Correão

Um lado totalmente cheio, o outro vazio. Mas um evento agradável em Barueri

Do ponto de vista técnico, os pinheirenses certamente vão se apresentar para treinar na segunda ou terça-feira com o peito estufado, com o discurso de que enfrentaram o Olympiacos de igual para igual – e, do ponto de vista psicológico, vale tudo. Uma meia verdade. Neste domingo, até equilibraram o primeiro tempo novamente. Chegaram a empatar em 30 a 30. No terceiro período, porém, os gregos, com sua consistência, concentração, experiência, bagagem tática e talento, fraturam a confiançados brasileiros, abrindo caminho para um triunfo por 86 a 69. Um placar que exprime um pouco melhor a distância entre os dois times. Contudo, ainda não conta a história toda (veja mais números abaixo).

Os gregos obviamente eram os favoritos, por diversos motivos. Deu a lógica – e nessa lógica está incluído, sim, o maior poderio econômico dos visitantes, da mesma forma que o padrão de jogo tresloucado do time de Claudio Mortari.

A abordagem em quadra é muitas vezes alarmante, especialmente se comparada com o que os adversários faziam do outro lado. Gente que cozinha a partida metodicamente, passando, passando, passando, de um lado para o outro, em busca de um chute livre, saudável; só investiam as jogadas individuais quando vislumbravam um mismatch óbvio, com Spanoulis e Printezis geralmente incumbidos de tocar essa adiante. Enquanto os anfitriões se contentam e se perdem em atacar na base do bumba-meu-boi, com muito um-contra-um e arremessos absurdos no grau de dificuldade (que Shamell os converta aqui e ali, é para mostrar todo o seu potencial, que, quando canalizado, pode fazer estragos). É cultural.

Defendendo com competência (dobrando no garrafão e longe da cesta), selecionando melhor suas tentativas de cesta (com dribles e passes para fora seguidos), conseguiram a igualdade no segundo período. De repente, com duas bolas forçadas de Shamell e Joe Smith, em sequência, e o placar já estava em 36 a 30 para os visitantes. Dali para a frente a diferença aumentaria e fugiria do controle. Falta consistência, e creio que isso se explica mais pela exaustão mental, devido a uma falta de hábito, do que pela física.

Vale, muito, o estudo dos DVDs…

Mineiro, barrado no baile

Mineiro saltou, correu, batalhou e teve contato com uma outra realidade

Pegue-se, por exemplo, o caso de Jonathan Tavernari. Não assistia ao filho da treinadora Telma desde suas últimas partidas pela Seleção, na era Moncho. Conissão feita. Daí que as atuações deste final de semana deixam uma imagem muito preocupante. De jogador de liga nos dias de BYU, pau-pra-toda-obra, vemos hoje um ala muito limitado, viciado em arremessos de longa distância – sem a menor eficiência. Em 61 minutos em Barueri, o jogador cometeu 5/18 no perímetro (27,7%). Ele tentou apenas três bolas de dois pontos no total, todas elas neste domingo, sem acertar nenhuma. O que deu no rapaz? É como se ele tivesse uma secreta meta a ser batida na temporada.

Tavernari não foi o único dos brasileiros a ter dificuldades extremas para competir com adversários deste nível. O espevitado Paulinho até conseguiu uma ou outra bandeja, quando tinha o mínimo de espaço para avançar em linha reta. No geral, porém, o “armador”mal conseguiu jogar. Em 55 minutos, somou 19 pontos (8/18), uma assistência e quatro desperdícios de posse de bola. Já Rafael Mineiro procurou lutar, não abaixou a cabeça, sua capacidade atlética ficou evidente, mas o pivô estava visivelmente fora de sua zona de conforto, sofrendo com os trancos contra oponentes bem mais físicos, terminando com 10 pontos, 13 rebotes, 7 desperdícios e apenas 3/13 de quadra.

Com um elenco reduzido, se comparado com o da potência europeia, o Pinheiros se viu, então, numa enrascada ainda maior – apenas Shamell e Smith produziram num grau de normalidade (criando jogadas normalmente). O que não quer dizer que o time paulista perdeu apenas por defasagem financeira, embora o técnico Georgios Bartzokas tenha destacado o cansaço de seus adversários, que usaram basicamente sete atletas durante todo o confronto, enquanto ele se sentia tranquilo em escalar seus 12 relacionados.

Aliás, incluam aqui o ala-pivô Dimitrios Agravanis, de 18 anos, e seu xará Katsivelis, armador de 22 anos. Os dois puderam até mesmo iniciar o duelo deste domingo como titulares e, juntos, tiveram 25 minutos. Mortari, do outro lado, bem que poderia ter colocado deus garotos muito mais cedo no quarto período. Não só seria um movimento de prudência da sua parte, preservando as principais peças de sua rotação minguada, como daria uma chance raríssima para que os promissores Luas Dias, Bruno Caboclo e Humberto pudessem enfrentar os campeões europeus. Para se ter uma ideia, o mesmo Bartzokas fez questão de menci0nar em sua entrevista coletiva o quão impressionado ficou apenas com o que viu no aquecimento (!) da molecada. Eles estavam enfileirados para o exercício de bandejas/arremessos de frente para o banco ateniense. No caso do ala-armador Humberto, pode esquecer essa coisa de bandeja: o jogador de 18 anos salta muito e castigava o pobre aro quando chegava a sua vez de finalizar. Impulsão, leveza e elasticidade de encantar, mesmo.

Lucas entrou nos três minutos finais, enquanto Caboclo ficou apenas um minutinho em quadra – uma pena, principalmente pelo fato de que o MVP do último camp “Basquete sem Fronteiras”, da NBA, estava jogando em casa. Quando levantou-se do banco para ir para a quadra, um por um grupo de amigos vibrou na arquibancada. Os gregos já venciam por mais de 15 pontos (e 25 no geral…). Não custava nada, mesmo. Poderia ter sido mais um legado.

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Vamos brincar de somar os números das duas partidas? Já que estávamos diante de uma estranha decisão de 80 minutos, valendo o salto de cestas, valendo como um grande jogo em dobro?

Arremessos: Olympiacos 60/101 (59,4%) – Pinheiros 49/132 (37,1%)
Dois pontos: Olympiacos 46/67 (68,6%) – Pinheiros 34/78 (43,5%)
Três pontos: Olympiacos 14/34 (41,1%) – Pinheiros 15/54 (27,7%)
Lances livres: Olympiacos 33/42 (78,5%) –Pinheiros 26/32 (81,2%)
Turnovers: Olympiacos 36 – Pinheiros 27
Assistências: Olympiacos 41 – Pinheiros 19
Rebotes: Olympiacos 77 – Pinheiros 49

Se foi de parcial em parcial que o time grego foi aumentando sua vantagem na sexta-feira e no domingo, a comparação estatística acima ajuda a contextualizar sua dominância no geral. Sobre os percentuais de arremesso, não precisa dizer muita coisa.

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Spanoulis, merecidamente, é o primeiro jogador lembrado em dez de cada dez textos sobre o time grego. Mas Georgios Printezis também merece suas linhas. Um guerreiro. Joga com muita intensidade e não para de atacar, incomodar. Neste segundo jogo, carregou a equipe em diversas ocasiões e tirou os adversários do sério com o monte de faltas cavadas ao partir para a cesta. Na Europa, claro, não é todo dia em que ele será usado desta maneira, enfrentado defesas muito mais compactas. Contra o Pinheiros, porém, exibiu sua versatilidade, podendo funcionário tanto como arma primária ocasional, como aproveitando as assistências de Spanoulis com seu deslocamento fora da bola.

Printezis infernizou

Printezis, atacando, atacando, atacando e atacando, sem parar

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O serviço de olheiros do Olympiacos está de parabéns também. Seu orçamento é de superpotência comparado com o que temos aqui no NBB, mas, na Europa, ainda não consegue fazer frente a um Barcelona ou CSKA Moscou, dois que lhe roubaram jogadores importantíssimos de seu título europeu. Tudo bem? Parece: os americanos Bryant Dunston e Brenton Petway vão dar muito trabalho para a concorrência na Euroliga que se inicia no dia 16 de outubro (com transmissão do canal Sports+, 28 e 128 da Sky).  Dois jogadores muito atléticos, ativos, ágeis e prestativos.


Notas sobre a 1ª final da Copa Intercontinental e duas abordagens de jogo
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Giancarlo Giampietro

Spanoulis, procurando alternativas

Visão fechada? Spanoulis e o Olympiacos buscam alternativas, mesmo assim

O atraso sobre a atualização do primeiro jogo da Copa Intercontinental de clubes, com vitória do Olympiacos por 81 a 70 sobre o Pinheiros, tem uma justificativa capital: aniversário da matriarca 21. Prioridades são prioridades, né?

Então, como está bem tarde e neste domingo de manhã lá vem mais jogo, não há motivo para se estender muito num texto encadeado, que já nasce perecível e nem poderia ser definitivo, uma vez que uma segunda partida entre os campeões continentais vem pela frente neste domingo. Então vamos acessar o que aconteceu nesta partida por meio das salvadoras notas. Vamos a Barueri novamente para conferir de perto.

Para constar, uma derrota por até 10 pontos ainda faria dos gregos os campeões mundiais no domingo em Barueri. É um regulamento um tanto esdrúxulo para uma competição de basquete, mas, depois de um intervalo de mais de duas décadas para testemunharmos esse tipo de disputa, acaba valendo tudo.

Algumas anotações sobre o que vi na sexta-feira:

– A escancarada diferença entre os estilos de ataque. Não é que o Olympiacos possa ser caracterizado como “socialista” e o Pinheiros, o grande vilão “capitalista”. Mas que o time europeu tem uma vocação para o passe muito mais natural, paciente, instintiva, é inegável. Dá para citar aqui o número de assistências de um (23) contra o do outro (12), mas nem isso faria justiça ao que se viu em quadra. Agora, se formos colocar em perspectiva, notamos que foram 23 assistências dos visitantes para um total de 34 cestas de quadra. Isto é, 67,6% de seus arremessos foram resultados de jogadas trabalhadas por um companheiro. No Pinheiros, o número ficou em 48%. É uma bela diferença.

Além disso, contamos somente cinco jogadores do time paulistano pontuando. No adversário, foram nove contribuindo no placar final, com quatro também em duplos dígitos. Tem muito a ver com orçamento, mas não se limita a isso.

– Aqui é o ponto certo para falarmos sobre a má e velha questão dos arremessos de três pontos. De novo: a questão não muitas vezes não tem a ver sobre o quanto se arrisca de fora, mas a forma como se faz. E o Pinheiros forçou MUITOS chutes de longa distância. Ciente da relevância do tema, deveria ter feito um scout pessoal de tentativas forçadas de longa distância. Repito: seria estritamente pessoal, numa visão que obviamente seria questionada sobre a comissão técnica brasileira. Mas alguns dos chutes foram absurdos, bem atrás até mesmo da linha da NBA (Jonathan Tavernari parece estar se “especializando” neles, aliás – todos os seus disparos foram de fora, todos, sim: 4/13 para ele). Na sexta, o campeão americano matou 29% no perímetro externo, enquanto os europeus acertaram 39%. De novo uma grande vantagem a favor dos helênicos.

E aqui você precisa ver o jogo para entender a origem desse tipo de estatística. Foram diversas as oportunidades em que, no ataque do Olympiacos, uma infiltração (via drible ou passe) resultava em um passe para a zona morta e, dali, a bola ainda seria movida mais uma vez para um chutador completamente livre na quina da linha exterior. Caixa. Mais uma assistência e três pontos para os visitantes. Esse tipo de movimento aconteceu sem parar, mes-mo.

(Não quer dizer que eles também não façam loucuras: Spanoulis também tem seus momentos de estrela em que breca de longe e chuta sem pestanejar, mesmo com as pernas pesadas, pesadas – várias de suas primeiras bolas deram bico.)

Do outro lado, Shamell, Tavernari, Paulinho e Joe Smith se aventuraram individualmente sem parar. A bola cai? A torcia vibra (Ponto! Cesta! É gol!). A bola bate no aro? (Uuuh! Aaah! Que pena! Na trave!). Por mais que um ou outro tenha recursos para o drible e jogadas individuais (e não mais que isso, diga-se) e até o jogo de pés e munheca (fundamentos, ufa) para criar e matar, forçar arremessos assim é desafiar qualquer probabilidade de sucesso. Até Claudio Mortari por vezes se manifestava ao lado da quadra, com as mãos espalmadas para baixo e os braços se flexionando, pedindo: “Calma, pessoal, calma”… Mas como alterar, de um jogo para o outro, os modos, os gestos praticados no decorrer de uma ou mais temporadas?

O Pinheiros não correu (para se aproveitar das pernas pesadas dos adversários), mas se precipitou em vários ataques. Foi muito de “eu-pego-e-chuto-daqui-sim-senhor” que incomoda demais.

– Compare os percentuais de dois pontos também: o Olympiakos matou 73% de saus bolas de dois pontos. Contra pífios 39% do Pinheiros. Isso é algogritante. Foram diversas as ocasiões em que Shamell (que fez uma bela partida, diga-se) partiu para a cesta e atirou pedradas em direção ao aro. É como se ele não estivesse mais habituado a converter jogadas simples, de tanto que fica distante do garrafão. E o americano tem a força física e drible para jogar lá dentro.

Aqui também cabe um adendo defendendo o jogador: o americano ficou em quadra por 37 minutos. Descansou um pouquinho aqui e outro pouquinho no quarto período, quando Mortari viu que ele já não tinha mais pernas pra nada. Uma das pedradas aconteceu momentos antes de sua substituição a 2min18s do fim (?). Do outro lado, Bartzokas tirou Vassilis Spanoulis a 8min12s do quarto período, para depois recolocá-lo em quadra com 2min54s restando no cronômetro.

– E como o Pinheiros se manteve perto no placar final, então, caçamba? No início do terceiro período, os gregos venciam por apenas 56 a 51.

É só conferir o número de turnovers. O Olympiacos cometeu 22 deles, o dobro do Pinheiros. Isso resultou em muitas, mas muitas posses de bola a mais para os brasileiros. Recapitulando o número de arremessos de quadra: foram 55 para os de Atenas, contra 72 para os de São Paulo. O time de Mortari teve 17 chutes a mais. Tivesse uma seleção mais consistente no ataque, realmente poderiam ter ganhado a partida.

Méritos para a defesa que forçou tantos desarmes? Sim, que pelo menos batalhou para recuperar a bola. Rafael Mineiro, nesse quesito, merece uma salva. O ala-pivô se atirou ao chão sem parar atrás de “divididas”, se sacrificando pela equipe, ainda que não estivesse na melhor noite ofensiva (e nem fosse muito alimentado).

Agora, não se pode esquecer também que os gregos contaram praticamente com cinco estreantes em sua rotação, quatro dos quais atuaram por mais de 13 minutos (e três acima de 18). Em várias ocasiões, um pivô hesitante procurou o outro dentro do garrafão num “deixa que eu deixo” que resultou em recuperações por parte dos brasileiros. Perspicácia dos defensores, atentos, mas que também se aproveitaram da falta de entrosamento de quem atacava, de gente que ainda está em pré-temporada.

– Não foi uma surra, sob nenhuma ótica. Mas o Olympiacos venceu três dos quatro períodos, perdendo apenas o segundo por 19 a 17. O Pinheiros só liderou o placar com cerca de cinco a quatro minutos no relógio desta segunda parcial. Num ataque com 4min40s, Joe Smith, matou um contra-ataque no mano-a-mano, e fez 26 a 22 para o time paulistano. O primeiro tempo, de todo modo, encerrou-se com um 32 a 30 a favor dos helênicos.

– Spanoulis foi sacado com 5min28s no segundo quarto, com duas faltas. Estava marcando Shamell, num claro despreparo de Bartzokas. É de se esperar que, nesta segunda partida, o astro grego seja preservado, sem ter de perseguir o cestinha americano.

– A maior média de pontos da carreira de Stratos Perperoglou na Euroliga: 7,1 por partida em 2010-2011. Na sexta, ele curtiu sua noite de cestinha, com 15 pontos, atacando a cesta em infiltrações impensáveis (algo que escrevi aqui ser uma raridade), como se fosse um Spanoulis. Terminou com 6/6 nos dois pontos, 100%. Para os que o marcaram, é de se pensar.

– O ginásio José Correa, no centro de Barueri: bastante agradável (ainda que, no meio da galera, possa ficar um tico abafado mesmo numa noite fria). Uma bela iluminação no exterior, chamando a atenção para quem chegava de trem (Oi! Nós existimos!). Dentro, ótima visão de jogo. Para os organizadores, o único senão foi a espremida saída para o público, no final. De resto, com telões bonitões, bela quadra, Jay-Jay, e tudo, uma noite agradável, bastante positiva para o basquete brasileiro em termos operaconais. Vale destacar também o bom número de vagas ao redor do ginásio. Bem fácil o acesso. Próximo da rodovia para quem foi guiando (ok, vamos pensar hipoeticamente num mundo sem trânsito) e bem perto também da estação Barueri.

– Pode o Pinheiros adotar uma seleção melhor de arremessos? Como jogar para vencer por 12 pontos? Vão correr mais, mas sem perder a cabeça? Daqui a pouco, as respostas…


Liderado por Spanoulis, mas renovado, Olympiacos desafia Pinheiros
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Giancarlo Giampietro

Pinheiros x Olympiakos

Depois de 26 anos, o basquete volta a ter sua Copa Intercontinental de clubes nesta sexta-feira, em Barueri. O bicampeão europeu Olympiacos já veio curtir uma garoa e céu nublado em terras paulistas, num clima que, nem de longe, idealizavam encontrar no Brasil, claro. Mas não que tenham vindo a passeio.

Os gregos não sabem exatamente ainda o que terão pela frente, mas um time dessa tradição só pode entrar em quadra para vencer. É o que espera sua torcida fanática – aproximadamente 150 deles vêm para o jogo, e o desafio dos brasileiros é cantar mais alto que eles… Mesmo.

“Não sei o que esperar no Brasil”, afirmou o técnico Georgios Bartzokas antes do embarque. “Sei que cada jogo é como uma religião e também uma festa para os brasileiros. Sabemos que ambos os jogos devem ser em casa cheia. Os brasileiros têm uma grande tradição em todos os esportes coletivos, e isso inclui o basquete. Eles estão atualmente no meio de sua liga doméstica, e o Pinheiros tem uma campanha de 10-8. Foi difícil encontrar informações sobre os nossos adversários, mas vamos ter uma imagem clara após o primeiro jogo.”

Difícil fazer uma abordagem mais generalizado que isso. Mas, ao menos, Bartzokas foi sincero. Não saiu com frases como “vamos enfrentar um time de qua-li-da-de”, “obviamente eles são muito perigosos e vão jogar em casa” e afins. Ele pode estar correto, ou não, em suas observações sobre o público brasileiro, mas disse o que pensa, o que imagina sobre nossos torcedores, e está bom.

O fato de o técnico dos campeões da Euroliga conhecer pouco sobre o atual time número um da América só mostra o quanto a Fiba de cá e, principalmente, os clubes precisam trabalhar para criar algo que chegue perto do que as instituições europeias da modalidade têm hoje: um produto sólido, que consegue se vender bem, a despeito dos índices econômicos preocupantes de grande parte do continente.

Shamell who?

Shamell, um nome já fixado no mercado americano, mas que só foi apresentado a Spanoulis em coletiva nesta quinta-feira. Nesse jogo do desconhecido, quem vai levar a melhor? O ala, surpreendendo? Ou os defensores gregos e um jogo com o qual o ala não está habituado?

Por mais que os serviços de scout hoje estejam bastante desenvolvidos, ainda é muito difícil para os europeus acompanharem o que se passa nas ligas inferiores deste lado do Atlântico. Quem acaba fazendo a ponte entre os dois mundos são os escritórios de agentes, mas só para vender este ou aquele jogador, ou para importar treinadores de lá, de preferência espanhóis, que estão espalhados da Patagônia a Tijuana.

Já o técnico Claudio Mortari – ou qualquer outro basqueteiro brasileiro interessado – teve, no mínimo, acesso a dezenas de jogos do Olympiacos na TV durante as últimas temporadas, a última delas transmitida pelo Sports+, pelo qual terei novamente o prazer de fazer parte das transmissões para o campeonato 2013-2014.

De qualquer forma, os times vão se conhecer, de verdade, em quadra, a partir das 20h desta sexta. E o choque de culturas não poderia ser mais intrigante neste sentido. Ainda que o Olympiacos tenha sido a equipe com o quinto ataque mais veloz de seu torneio continental, a diferença de seu ritmo para o dos concorrentes não é tão grande assim. De modo que está acostumado a embates mais lentos e físicos, sem se distinguir na abordagem do jogo.

Aqui por estas bandas sabemos muito bem a velocidade com que o Pinheiros costuma jogar algumas vezes beira o imponderável. A ideia aqui era levantar uma série de números sobre a participação do time no Campeonato Paulista, mas o site da federação está absolutamente intratável desde quinta-feira, com uma lentidão que faria a seleção ucraniana parecer o Miami Heat. Consegui computar estatísticas das últimas duas partidas do clube, com vitórias sobre Bauru, com virada no quarto período, mas um excelente resultado no contexto do campeonato, e Rio Claro.

Contra um dos líderes da competição, a equipe de Mortari somou 15/32 de três pontos (47%), 16/30 de dois (53%) e ainda bateu 20 lances livres, convertendo 18 deles (90%). Além disso, cometeram apenas noveturnovers.Foi um estouro. Apesar deste excelente rendimento ofensivo, os pinheirenses tiveram dificuldade para vencer por terem sido espancados na disputa por rebotes. Os visitantes apanharam 16 a mais no jogo – foram 17 só na tabela ofensiva, sendo cinco deles de Larry Taylor (!?).

Diante de Rio Claro, foi uma sacolada, com 24 pontos de diferença. Os números ofensivos: 12/31 de três (39%), 18/31 de dois (58%), 18/29 nos lances livres (62%) e 12 desperdícios de posse de bola. Não tem muito como usar como parâmetro, dada a a disparidade entre os elencos, mas ao menos se repete o alto volume nos chutes de fora e de lances livres cobrados. Analistas das métricas avançadas da NBA e o gerente geral Daryl Morey, do Houston Rockets, chorariam de alegria vendo esse tipo de rendimento. Resta saber apenas se a defesa do Olympiacos vai permitir.

Mas quer saber do que mais? Contra os gregos, a correria talvez seja realmente um trunfo a ser explorado, desde que com o mínimo de organização. Os caras estão enferrujados ainda, em pré-temporada, enquanto a equipe brasileira já fez 18 partidas pelo Paulista (ainda que nas primeiras seus principais jogadores tenham sido poupados).

Em termos de entrosamento, a vantagem, na teoria, também fica por conta dos anfitriões. O Olympiacos não só acabou de se reunir, como está numa fase de integração de diversas peças novas. Do grupo campeão em maio, saíram quatro jogadores muito importantes da rotação: o ala Kostas Papanikolau (que foi receber uma bolada no Barcelona, ótimo arremessador de fora e muito forte no rebote), o ala-pivô Kyle Hines (reforço do CSKA Moscou de Messina; leia aqui mais sobre seu impacto pelo time) e os pivôs Pero Antic (macedônio que fechou com o Atlanta Hawks) e Josh Powell (aquele ex-Lakers, mesmo, que hoje tenta uma vaga no New York Knicks). Isso sem falar do pirulão geórgio Giorgi Shermadini, que jogou apenas seis minutos na final contra o Real Madrid, mas ganhou minutos consideráveis durante a competição.

Como vocês podem reparar, o gigante europeu trocou seu garrafão inteiro. Só sobrou o versátil Georgios Printezis para contar história. O técnico Bartzokas obviamente vai ter trabalho para rearranjar a química do time, especialmente a defesa interior, que perdeu jogadores que se entendiam muito bem.

Spanoulis em Barueri, é isso aí

Spanoulis vai estar acompanhado de novos parceiros nesta Copa Intercontinental

Para a Copa, o armador Acie Law, ex-Hawks e Warriors, lesionado, é outra baixa. Quer dizer, menos um da equipe que venceu o Real Madrid na final. Dos jogadores que se apresentarão em Barueri, algumas informações, comentários:

Vassilis Spanoulis: o jogador mais gabaritado do evento, um dos melhores da Europa, como o título de atual MVP da Euroliga comprova – está numa lista em que Andrei Kirilenko, Juan Carlos Navarro e Dimitris Diamantidis o acompanham. Dizer que “tudo” no ataque da equipe grega se passa em torno de suas diversas habilidades pode soar como exagero, mas, acreditem, até vale como força de expressão. Um armador com drible sem muita frescura, mas que pode ser mortal, ainda mais usando corta-luzes sem parar (não por acaso, esteve entre os líderes em faltas recebidas e lances livres cobrados durante todo o campeonato continental). Arremesso de longa distância precisa ser respeitado. Também sabe matar em flutuação. E aí que fica difícil de equacionar: se você apertar muito, provavelmente vai tomar o corte. Se folgar, ele vai mandar bala, sem hesitar.

Na Euroliga, as defesas que tiveram mais sucesso contra o astro conseguiram incomodá-lo com um garrafão congestionado. Sim, esse tipo de jogador você não vai parar no um-contra-um. Tem de pensar no coletivo. A ideia seria cercá-lo com até dois homens na sobra, quando estiver rondando o garrafão, de modo a desencorajar suas infiltrações e, ao mesmo tempo, tentando limitar suas linhas de passe (seu jogo de “kick-out” também é perigoso). “Anular” Spanoulis raramente ocorre. O jeito é atrapalhá-lo.

Georgios Printezis: um jogador experimentado, com muitos movimentos atípicos. Não seria recomendável ensinar suas mecânicas em nenhuma escolinha. Mas não se deixem enganar por isso: de um jeito ou do outro, o ala-pivô da seleção grega consegue fazer o serviço – nas quartas de final contra o Anadolu Efes, por exemplo, foi fundamental para fechar um duríssimo confronto em 3-2, quando Spanoulis estava com a mão fria. Movimenta-se bastante de um lado para o outro no ataque, esperando alguma brecha para atacar, dando trabalho fora da bola. Não é dos reboteiros mais ferozes. Embora tente bastante, não chega a ser uma ameaça no chute de longa distância. Autor da cesta do título de 2012, com um sangue gélido que só. Veja de diversos ângulos:

Evangelos (ou Vangelis) Mantzaris: tem apenas 23 anos, mas se comporta em quadra como um trintão, de tantas medalhas que já ganhou nas seleções gregas de base. Não é dos mais agressivos no ataque – pouco faz em termos de infiltração, mas tem aproveitamento de 40,7% de fora na carreira na Euroliga. Acaba guardando toda a sua pegada para a defesa, mesmo, em que usa seu 1,96 m de altura e envergadura incomuns para a posição para colocar pressão nos adversários. Teve sua campanha 2012-2013 interrompida por uma grave lesão no joelho, então sua forma física é questionável. Se estiver inteiro, será no mínimo curioso seu duelo com Paulinho.

Kostas Sloukas: mais um da seleção nacional e outro que, com 23 anos, se comporta como um veterano andarilho. Companheiro de Mantizaris na base. Um grande arremessador que não pode ficar livre na linha de três de modo algum (média de 45,7% na Euroliga) – é um dos principais alvos das assistências de Spanoulis. Lento, porém, não representa muita ameaça com suas infiltrações e também pode ser bem explorado do outro lado da quadra, na defesa.

Stratos Perperoglou: determinado, centrado e forte, é um belo marcador na ala, ainda que esteja perdendo velocidade e muitos já o vejam como alguém mais propenso a lidar com alas-pivôs do que alas que joguem mais afastados do garrafão. É possível que vá cobrir Shamell por algum tempo. Sabe de suas limitações e não vai além delas. Não espere aventuras individuais do ala de 29 anos rumo à cesta. O tipo de operário que se dedica aos pequenos detalhes, não vai ganhar nenhum troféu individual, mas que ajuda qualquer time.

Mirza Begic: um gigante de 2,16 m de altura, o pivô esloveno é um dos reforços da equipe, depois de passar três anos com o Real Madrid. Honra sua estatura como um bom defensor próximo do aro, tanto na cobertura como, principalmente, no mano-a-mano. Mas é bastante vulnerável em combinações de pick-and-roll, devido a sua mobilidade de tartaruga – algo que deve ser explorado ao máximo por pivôs leves como Mineiro e Morro. No ataque, seria prudente tentar marcá-lo pela frente quando próximo do garrafão e não se descuidar do bloqueio na hora do rebote, se levarmos em conta que nunca em sua carreira na Euroliga, desde 2007, ele chutou abaixo de 52,5% na zona de dois pontos.

Cedric Simmons: um dos quatro norte-americanos contratados para esta temporada, o pivô já foi companheiro de Marquinhos no New Orleans Hornets, vejam só. Jogaram juntos na temporada em que a franquia também carregou o nome de Oklahoma City. Escolhido em 15º num Draft desastroso do clube que havia apanhado Hilton Armstrong na 12ª posição. Dois grandalhões, nenhum acerto. Mas, bem, voltando ao ponto: Simmons teve uma grave lesão na perna que contribuiu para sua breve trajetória na NBA e lhe roubou um pouco de sua formidável capacidade atlética, de impulsão e velocidade. Mas deu um jeito de estender sua carreira na Europa, fechando com o Olympiacos, aos 27 anos, após defender o Enel Brindisi, da Itália. Ah, nesse meio tempo, descolou um passaporte búlgaro, jogando pela seleção do país. Claro.

Quanto a seus compatriotas – nascidos nos Estados Unidos, especificando –, nunca os vi em ação, para ser sincero. Vamos pelos números, então. Matthew Lojeski é um ala-armador que se formou na universidade do Havaí e, desde 2008 até este ano, esteve em ação na Bélgica. Foi bicampeão nacional pelo Oostende e, no ano passado, teve média de 16 pontos por partida na Euroliga, com aproveitamento impressionante nos arremessos – 51,2% de dois pontos, 57,1% de três (!!!) e 96,6% nos lances livres. Bryant Dunston seria um candidato a substituir Kyle Hines, pois, com 2,03 m de altura, sempre teve média de pelo menos um toco por jogo (ou bem mais que isso) por onde passou.

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Perperoglou pode ser dos mais discretos em quadra, mas tem um blog no site da Euroliga. Em seu último post, já em” Sao Paolo”, o ala se arriscou um pouco mais que Bartzokas, e… Bem, vamos  lá: “Não posso dizer que sei muito sobre os nossos adversários, mas estou confiante de que eles vão ser uma equipe forte. Posso dizer isso com base no fato de que o Brasil foi um dos finalistas da mais recente Copa América neste verão e porque sempre fiquei impressionado com os jogadores brasileiros que passaram pela Euroliga. Talvez o próximo Marcelinho Huertas ou Tiago Splitter estejam nos esperando nesta equipe do Pinheiros. E, além disso, se foram os melhores da América do Sul na última temporada, devem ser muito bons”.

Por “finalista da Copa América”, imagino que ele esteja se referindo aos países que se classificaram para o torneio, num paralelo com o que acontece na Europa, em que algumas seleções ficam fora e são relegadas ao segundo escalão. Mas que bom, né? Ao menos o Brasil conseguiu ficar acima de Chile, Colômbia, Equador e Bolívia. Por “melhores da América do Sul”, não foi o caso: times do México e Porto Rico também foram derrotados.

A ideia aqui não é zombar da simpatia do ala. Mas só constatar que seus comentários só reforçam o quão desconhecidos seus oponentes são para eles. De modo que esta primeira partida se torna mais importante para o time brasileiro.

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O Pinheiros tentou, mas não conseguiu fechar a contratação de um reforço de aluguel direcionado especificamente para a Copa Intercontinental. Leandrinho ajudaria tanto assim? Talvez. Mas não sei se é justo/ético/necessário esse tipo de operação. No futebol, por exemplo, o Cruzeiro executou algo nessa linha em 1997 para encarar o Borussia Dortmund, e seu esforço foi em vão.  Que o Pinheiros enfrente o Olympiacos com as armas tradicionais que tem, com as quais foi campeão de um torneio que poucos brasileiros venceram.

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Por que jogar em Barueri? Sem datas no Ibirapuera. Como a Copa Intercontinental surgiu? O Daniel Neves, da casa maior, o UOL Esporte, já havia contado tudo aqui depois de um papo com João Fernando Rossi, o dirigente que transformou o Pinheiros numa potência nacional também no basquete.


Há vagas? Veja 5 veteranos milionários que ainda lutam por emprego na NBA
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Giancarlo Giampietro

Fabrício Melo e Scott Machado estão nessa. Dois jogadores jovens que tentam se manter na NBA de qualquer forma, batalhando treino após treino neste mês de outubro em novas equipes. Eles ainda têm toda uma carreira pela frente. Mas há quem não queria largar o osso. Muitos veteranos também tentam adicionar mais uma temporada m seus currículos. Alguns deles, talvez pensando que essa pode ser a última chance deles na elite.

Nesta fase de training camps, muitos clubes convidam jogadores apenas como peças complementares na fase de treinamento, para poder variar ou estender suas atividades, sem estourar suas estrelas. Outros, porém, ainda podem usar a fase de testes para complementar seus plantéis, observando com atenção não só as habilidades, mas, principalmente, os hábitos desses visitantes, para ver se combinam com a cultura da equipe.

Neste caso, os jogadores mais veteranos, por saberem como, digamos, se fazem os negócios da liga, podem levar vantagem diante dos mais jovens. Com base na seguinte lista de atletas inscritos, pescamos cinco bastante rodados que, juntos, já ganharam mais de US$ 200 milhões em salário, estão desempregados e ainda tentam a sorte:

Maggette no auge

Maggette: cavar faltas, uma especialidade do ala que tenta fazer companhia a Splitter

Corey Maggette (San Antonio Spurs)
Experiência: 14 temporadas, 33 anos
Quantos clubes: Seis
Rodagem: 23.358 minutos, 478 jogos
Salário: US$ 89,131 milhões
Em 2012-2013… Estava no Detroit Pistons

É disparado o nome mais gabaritado desta lista. Entrou na liga em 1999 e se firmou como um produtivo cestinha, com média de 16,0 pontos por partida, ultrapassando a marca de duas dezenas em três ocasiões. Por azar ou não, porém, só se classificou uma vez para os playoffs, em 2006, jogando ao lado de Elton Brand, Sam Cassell e Chris Kaman pelo Clippers. Embora muito forte, lidou com constantes problemas físicos durante toda a carreira, sem conseguir disputar uma temporada completa. Nas últimas campanhas, participou de apenas 50 partidas – sendo apenas 18 delas pelo Pistons, time no qual foi limitado a apenas 14,3 minutos, cumprindo um papel muito mais de mentor em um jovem elenco.

Tem chance? Sim. Resta uma vaga no elenco do Spurs para ser preenchida, e Popovich tem o costume de aproveitar caras calejados, ainda que sua contratação não supra nenhuma necessidade, considerando os alas disponíveis para a rotação. Concorre com o jovem canadense Myck Kabongo e com o ala Sam Young, que quebrou o galho no Indiana Pacers no último campeonato.

 – Dan Gadzuric (Los Angeles Lakers)
Experiência: 9 temporadas, 35 anos
Quantos clubes: quatro
Rodagem: 7.793 minutos, 527 jogos
Salário: US$ 37,6 milhões
Em 2012-2013… Estava na Venezuela

Esse o Lakers tirou do fundo do baú. O holandês não pisa em uma quadra de NBA desde 26 de abril de 2012. Já a última cesta, com a camisa do Nets, aconteceu em 13 de abril de 2011. Na verdade, ele não tem uma temporada decente desde 2005, quando teve médias de 22 minutos pelo Bucks, o time que o ‘draftou’ em 2002. No ano passado, depois de ver seu contrato sendo movido de um canto para outro, apenas para completar transações maiores, tentou uma vaguinha no Sixers, mas foi dispensado na pré-temporada, dando sequência a sua jornada basquetebolística na Venezuela, pelo Marinos de Anzoátegui. Em 30 jogos, teve médias de  10,1 pontos, 6,3 rebotes em 19,4 minutos.

Tem chance? Quase zero. O Lakers pode até ter uma séria carência em seu garrafão, há vagas para serem preenchidas ainda, mas não seria este andarilho a solução, jogando com Gasol, Kaman, Hill e Sacre. Ou seria? Concorre com os alas Marcus Landry, Shawne Williams, Elias Harris e Xavier Henry (todos candidatos mais prováveis), o pivô Eric Boateng e o ala-armador Darius Johnson-Odom.

Slam jam, Gadzuric!

O poder de Gadzuric! Pivô tenta mudar da Venezuela para a Califórnia

Mike James (Chicago Bulls)
Experiência: 11 temporadas, 38 anos
Quantos clubes: Vixe… 11!
Rodagem: 14.287 minutos, 584 jogos
Salário: US$ 32,2 milhões
Em 2012-2013… Dallas Mavericks

Campeão em 2004 como reserva do Detroit Pistons, formando uma dupla infernal na defesa com Lindsey Hunter, James perambulou por todos os cantos dos Estados Unidos e também deu uma esticadinha em Toronto, onde viveu sua melhor temporada em 2005-2006. Já foi envolvido em seis trocas. Para quem já o dava como aposentado, contribuiu de modo inesperado numa tentativa de reação do Dallas Mavericks na temporada passada, assumindo o posto de titular de Rick Carlisle. Comete poucos turnovers e tem boa pontaria nos tiros de longa distância.

Tem chance? Alguma. James já trabalhou com Tom Thibodeau em 2012, sendo contratado de modo emergencial, mas ficando até o fim da temporada. A presença de Kirk Hinrich no vestiário, contudo, pode torná-lo desnecessário. Enfrenta forte concorrência pela última vaga obrigatória no elenco do Bulls (que, no momento, só tem 12 contratos garantidos): o ala Patrick Christopher, ex-Besiktas, o armador Kalin Lucas, ex-Olympiakos e Spurs, o pivô Dexter Pittman e o ala-pivô F D.J. White, dois sérios candidatos.

Childress e o afro de Childress

Childress: lugar errado, hora errada?

Josh Childress (Washington Wizards)
Experiência: 7 temporadas, 30 anos
Quantos clubes: três
Rodagem: 10.408 minutos, 387 jogos
Salário: US$ 31,5 milhões
Em 2012-2013… Brooklyn Nets

Um ala versátil, que, nos tempos de Atlanta Hawks, já serviu como um bom jogador daquele tipo que “dá liga” aos times, o famoso glue guy.  Drible eficiente, bom reboteiro, envergadura para incomodar na defesa, fazendo um pouco de tudo. Interrompeu sua carreira na NBA em 2008 ao fechar um surpreendente contrato com o Olympiakos. Quando retornou da Grécia, assinou com o Phoenix Suns, mas nunca mais teve espaço, ou foi o mesmo, perdendo a concorrência com Grant Hill e Jared Dudley. No ano passado, entrou no training camp do Nets, foi aprovado, mas acabou dispensado depois de apenas 14 partidas, sendo muito pouco aproveitado.

Tem chance? Quase zero. O agente de Childress poderia ter procurado outra casa, certamente. O Wizards já conta com os veteranos Trevor Ariza e Martell Webster para a posição, além dos calouros Otto Porter (que chega como o número três do Draft) e Glen Rice Jr. (filho do homem). Resta uma vaga no elenco. Concorre com o pivô D’or Fischer, o ala Xavier Silas e o mítico britânico Pops Mensah-Bonsu.

 – Renaldo Balkman (Dallas Mavericks)
Experiência: 6 temporadas, 29 anos
Quantos clubes: dois
Rodagem: 3.064 minutos, 221 jogos
Salário: US$ 10,9 milhões
Em 2012-2013… Estava em Porto Rico

Um dos melhores jogadores do continente! Quer dizer… Pelo menos da desfalcada Copa América, em que fez parte do quinteto ideal do torneio pelos vice-campeões porto-riquenhos. Ausências de vários jogadores de prestígio à parte, Balkman fez realmente uma bela competição continental, a ponto de chamar a atenção dos scouts do Mavs e receber o convite. Na NBA, sua capacidade atlética não se destaca tanto assim, porém, algo que limitou o ala-pivô ao banco de reserva durante toda a sua carreira por Knicks e Nuggets.

Tem chance? Remota. O Dallas já tem 15 contratos garantidos para a temporada. O jovem ala Jae Crowder já seria um jogador bastante semelhante, assim como o titular Shawn Marion (mesmo que ele já não honre mais o apelido de “The Matrix”). É concorrente do brasileiro Fabrício Melo, aliás. Caso não descole emprego, seria interessante apenas que ele não estrangulasse ninguém no caminho.


Pressionado, Fabrício Melo recomeça em Dallas e tenta cumprir promessa
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Giancarlo Giampietro

“Você simplesmente não acha tantos jogadores grandes que sejam tão talentosos como ele. Está na mesma categoria de Al Jefferson e DeMarcus Cousins em termos de seu nível de habilidades ofensivas. Ainda há algum trabalho a ser feito defensivamente e nos rebotes, mas sua evolução é evidente por conta de seu contínuo aprimoramento no condicionamento físico.”

Foi isso o que escreveu Jerry Meyer, analista do Rivals.com – um site especializado no recrutamento de jogadores colegiais nos Estados Unidos –, lá nos idos de 2009, sobre um jovem pivô Fabrício de Melo, que ainda tentava se acostumar a ser chamado de “Fab Melo” por seu mais novo treinador, Adam Ross, na Weston Sagemont Upper School, na Flórida. O brasileiro iniciava sua jornada em quadras norte-americanas e causava uma baita impressão.

Fabrício, tipo Boogie Cousins

Nos tempos de promessa colegial e comparações

Depois de uma avaliação dessas, você pode até duvidar das credenciais de Meyer, mas saiba que ele não estava sozinho nesta barca. Ao concluir sua formação colegial, foi convocado para as principais partidas festivas nesta categoria. Ao lado de Kyrie Irving, Harrison Barnes, Tristan Thompson e outros, por exemplo, disputou o tradicional McDonald’s All-American de 2010.

Três temporadas depois, porém, as comparações com Jefferson e Cousins soam surreais, enquanto o termo “promissor” aparece cambaleante ao lado de seu nome. Embora ainda jovem, aos 23 anos, abrindo apenas sua segunda temporada na NBA, já não seria um exagero dizer que o atleta vê sua carreira a perigo, em uma corrida contra o tempo que se iniciou, na verdade, desde que decidiu tentar a vida de jogador de basquete, mais tarde que o normal para os padrões americanos. Nesta semana, ele abre a pré-temporada como jogador do Dallas Mavericks, mas sem contrato garantido.

“Melo começou aqui (nos Estados Unidos) aos 18. Ele tinha 20 como um calouro de universidade. Faz uma grande diferença em termos de desenvolvimento. Acreditar que ele possa ser um um jogador de NBA agora é uma expectativa injusta”, afirma Amin Elhassan, analista do ESPN.com e ex-integrante de diretorias do New York Knicks e do Phoenix Suns. Para comparar: com os mesmos 20 anos (completados em agosto), Andre Drummond já vai para sua segunda temporada de Detroit Pistons.

De basquete organizado, num ambiente verdadeiramente estruturado, o pivô tem quantos anos? Cinco? Se você for considerar os treinos e jogos colegiais dos Estados Unidos como competição nesse nível, a conta seria essa. Mas Elhassan questiona até mesmo isso. “Ele jogou em Sagemont, no sul da Flórida. Não é que ele estivesse enfrentando jogadores de alta classe”, diz.

E um agravante: no Brasil, passou a encarar o basquete como algo a ser testado para valer aos 15, depois de um ano em que deu bela espichada, ultrapassando os 2 metros de altura. “Como todo brasileiro, eu jogava futebol. Mas reparei que era sempre o último a ser escolhido nas peladas. Aí comecei a jogar basquete e me apaixonei”, disse, com o bom-humor de sempre, em entrevista ao MegaMinas que juro que estava neste link aqui, até ficar fora do ar.

Leva mais tempo para os pivôs desenvolverem seus jogos. Quando eles começam tarde no esporte, esse processo de aprendizado fica ainda mais lento. No caso de Fabrício, ele acabava compensando essa falta de recurso técnico dominando fisicamente os atletas de sua idade em ligas colegiais inferiores da Flórida. Foi o suficiente para inflar seu status, com a NBA aparecendo precocemente como uma plausível meta. “Sei que Fab tem o objetivo pessoal de jogar na NBA. Muitos garotos têm esse sonho e, para a maioria, não é algo razoável. Com ele, hesito em dizer, mas seu objetivo é atingível. Com o tempo, ele será capaz de desenvolver habilidades do nível de NBA”, disse Ross, seu primeiro técnico nos EUA, em janeiro de 2010.

Bem, hoje sabemos que a própria liga reconheceu essas habilidades do pivô, com Danny Ainge lhe dedicando 22ª escolha do Draft de 2012. Mesmo tendo o rapaz passado dois anos na universidade de Syracuse, na qual o técnico Jim Boeheim investe muito na defesa por zona, algo ainda não muito comum na NBA e ainda limitado em suas regras. Quer dizer: era mais um desafio para Melo, fazer sua presença sentir efeito num jogo com espaçamento bem diferente e contra jogadores muito mais experientes e capacitados. “Ele tem algumas ferramentas físicas intrigantes, mas é difícil assimilar a velocidade e as demandas intelectuais do jogo quando não se tem muita experiência. Tem potencial, mas enfrenta dificuldade com o entendimento do jogo”, diz Elhassan.

Para Ainge, chefão do Celtics, essas dificuldades foram tão alarmantes que ele decidiu abortar o projeto apenas uma temporada depois de sua seleção. Fabrício apareceu em apenas seis partidas pelo Celtics na última campanha, acumulando apenas 36 minutos de ação (o equivalente a três quartos de uma partida). No total, foram apenas sete pontos, a mesma quantidade de faltas que cometeu. Na D-League, teve momentos melhores, como na sequência de partidas em que somou 15 pontos, 16 rebotes e um recorde de 14 tocos contra o Erie Bayhawks e 32 pontos, nove rebotes e nove tocos contra o Idaho Stampede. No total, teve médias de 9,8 pontos, 6,0 rebotes e 3,1 tocos (melhor da liga), em apenas 26,2 minutos.

Fabrício Melo, quase dominante na D-League

Pelo Maine Red Claws, alguns minutos, mas sem convencer Ainge

Não foi o suficiente, porém. Toda a paciência recomendada por analistas foi completamente ignorada pelo cartola e por uma crítica e torcida bastante exigentes. “Ele provou ser pouco mais que um projeto a longo prazo, na melhor das hipóteses”, sentenciou o Boston Globe. Duas semanas depois de adquirir o brasileiro, o Memphis Grizzlies também o dispensou, sem nenhuma intenção de desenvolvê-lo sob a tutela de um Marc Gasol. Nenhum clube o recolheu no período de waiver, como destaquei aqui. Seu status caiu tanto, que uma projeção do ESPN.com o apontou como o segundo pior jogador para a temporada 2013-2014.

Agora, em Dallas, Fabrício tem algumas semanas para tentar mudar essa percepção de “fiasco” em torno de seu jogo. Precisa convencer Mark Cuban, Donnie Nelson, o novo gerente geral Gersson Rosas e – por que não? – Dirk Nowitzki de que vale o investimento. É um tipo de experimento em que a franquia texana tem certa experiência. Que o digam DeSagana Diop, DJ Mbenga e Ian Mahinmi, três casos de pivôs fisicamente impressionantes, mas sem muitos recursos técnicos, que foram contratados como jovens agentes livres na gestão de Nelson.

O jeito é pensar a longo prazo, mesmo. Qualquer contribuição do brasileiro para a próxima temporada seria surpreendente (veja mais abaixo), mesmo que a companhia para o astro alemão não seja das mais inspiradoras no garrafão – temos aqui o temperamental Samuel Dalembert, o magricelo Brandan Wright, o frustrado DeJuan Blair e o sargento Bernard James.

Mbenga jogou por sete anos na NBA. Diop talvez tenha se despedido da liga na temporada passada, 11 anos depois de ser draftado. Mahinmi entra em sua quinta campanha, com mais dois anos, no mínimo, de contrato garantido. Será que Fabrício conseguirá ao menos seguir uma trilha dessas?

Pesquisando artigos sobre o início então promissor do mineiro nos Estados Unidos, surgiu também esta frase de seu primeiro treinador, falando sobre o sonho olímpico de seu jovem atleta. “Assim que (a sede de 2016) foi anunciada, ele me telefonou e estava muito empolgado. ‘Coach, o Rio ganhou. Eu vou. Vou estar lá'”, relembrou.

Esta não chega a impressionar tanto como a comparação feita pelo scout, sobre Cousins e Jefferson. Mas, hoje, também está longe.

Acompanharemos qual o desfecho deste conto.

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O Mavs tem no momento 15 jogadores com contratos garantidos. Isto é, para permanecer no elenco texano, Fabrício vai ter de jogar muito em treinos e amistosos para que Mark Cuban e a comissão técnica decidam dispensar alguns destes salários, mesmo tendo que pagá-los na íntegra durante a temporada. Considerando que dez destes atletas acabaram de ser contratados como agentes livres (numa reformulação daquelas), é bem improvável que aconteça. De modo que o brasileiro teria de se contentar em jogar pela filial da D-League, o Texas Legends, que tem Donnie Nelson como um dos proprietários e Eduardo Nájera como técnico, além de Del Harris, Spud Webb e a pioneira Nancy Lieberman na diretoria.

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Os arquivos online também renderam uma anedota de Fabrício em seleções brasileiras de base. Sul-Americano Sub-17 de 2007, em Guanare, na Venezuela. Fabrício foi convocado, ao lado de Augusto Lima, Vitor Benite, Rafael Luz. Todos nas listas recentes de Rubén Magnano. Menos o mineiro, que não foi chamado nem mesmo na pré-lista do argentino para a Copa América. O técnico era José Henrique Saviani, com o ex-armador Cadum como assistente e Lula Ferreira como supervisor. Neste torneio, o pivô foi o que recebeu menos minutos pela seleção, que terminou numa amarga quarta posição. Perderam para Argentina e Uruguai nos mata-matas.