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Arquivo : Cristiano Felício

Seleção se recupera ao bater a Espanha. Nem céu, nem inferno
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Giancarlo Giampietro

Huertas foi para a galera, após tapinha salvador de Marquinhos

Huertas foi para a galera, após tapinha salvador de Marquinhos

Dois jogos, duas partidas dramáticas. A seleção brasileira vai nos assegurando que aquele script de que o Grupo B do torneio olímpico seria teste para cardíaaaaaaaco, Galvão. Depois do bumba-meu-boi que foi a estreia e a derrota contra a Lituânia, agora foi necessário um tapinha de Marquinhos para chegar ao primeiro triunfo, contra a Espanha. Por aí vamos até a quinta e última rodada, galera. Não tem jeito.

Mas… Espere um pouco, só. Estamos falando de Lituânia e Espanha, certo? Um aproveitamento de 50% nessas duas partidas, tendo a chance de sair com duas vitórias e duas derrotas, parece bastante razoável. Se for para a pagar aquele primeiro tempo desastroso de domingo, temos um time extremamente competitivo, que limitou os dois finalistas do último EuroBasket a parciais de, pela ordem: 12, 12, 13, 18, 14 e 20 pontos. Nada mal: a defesa está funcionando, de um modo geral.

O que não quer dizer que está tudo perfeito. Assim como a derrota para a Lituânia não era o fim do mundo, a vitória dramática sobre a Espanha, decidida realmente por múltiplos detalhes na penúltima posse de bola, não significa que o Brasil está prontinho da Silva para ir ao pódio. Tem muito chão pela frente. Magnano disse que o time estava ferido, mas não morto após o primeiro tempo estarrecedor da estreia. E certamente vai dar um jeito de passar a mensagem ao seu grupo de que ninguém ali é medalhista olímpico ainda por ter batido uma Espanha muito mais vulnerável que poderíamos supor. Uma chave dura dessas não permite extremismos, montanha russa.

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Levando isso em conta, algumas coisas para ruminarmos antes da terceira rodada, contra a Croácia, na quinta-feira:

– A questão Hettsheimeir: se as redes sociais servem como termômetro, dá para notar uma insatisfação com o desempenho de Rafael Hettsheimeir até o momento. Compreensível: é muito pouco provável que o próprio pivô esteja contente com o que (não) vem produzindo. já que, em duas partidas e 17 minutos de ação, ele conseguiu acertar apenas um arremesso de quadra em quatro tentativas, mal teve chance de disparar de longa distância – apenas uma bola de três que saiu de suas mãos. Também só pegou um rebote e cometeu seis faltas. É um rendimento fraco, que fica ainda mais alarmante quando vemos que, somados os duelos com Lituânia e Espanha, a seleção teve um saldo de -20 pontos quando ele esteve em quadra, com direito a -12 contra os Espanhóis.

É preciso entender o que está por trás desses números temerosos, porém. Hettsheimeir se desenvolveu em um jogador de características únicas desde que saiu do Zaragoza, da Espanha. Adicionou o arremesso de fora ao seu repertório, mas isso não faz dele necessariamente o ala-pivô aberto ideal, tão em voga hoje. No ataque, se tiver espaço para ativar sua mecânica, é certo que ele pode cumprir esse papel. O problema está do outro lado, na defesa. Não dá para colocar o pivô de Bauru para perseguir caras como Nikola Mirotic e Victor Claver no perímetro, ou mesmo um cara menos leve como Paulius Jankunas. Hettsheimeir não tem mobilidade lateral, nem cacoete para isso – e não só isso: a questão da falta de rapidez para completar as rotações também, se a bola girar bastante. Devido ao seu porte físico, ele teria mais chances de encarar pivôs mais pesados próximos da cesta. Acontece que, para esse papel, Magnano conta com Nenê e, como vemos, Felício, aparentemente oficializado como o reserva imediato de Maybyner Hilário.

A amostra é pequena, mas acho que já deu para perceber que Rafael não pode jogar com esses dois, devido a essa questão defensiva. Seu parceiro ideal seria Augusto Lima, que pode perseguir atletas mais ágeis na marcação e atacar a tábua ofensiva com voracidade. Não custa lembrar que a dupla funcionou muito bem na conquista do ouro pan-americano no ano passado. Ok, era apenas o Pan. Ainda assim, do ponto de vista de tática e química, a combinação funcionou. As habilidades dos dois casam muito bem, obrigado. Rafael até mesmo espaçava a quadra para o pick-and-roll com Augusto mergulhando fundo no garrafão. Enfim, feito o registro, se Magnano está convicto, mesmo, de que Nenê ou Felício precisam ficar em quadra por boa parte do tempo, aí os minutos de Hettsheimeir devem ficar bem limitados, mesmo, ainda mais depois da boa participação de Guilherme Giovannoni nesta terça.

Produtivo demais no NBB, questionado por muitos, o veterano ainda pode ser útil ao time nacional em situações específicas, devido ao seu arremesso exterior – que é mais testado que o de Rafael em jogos de alto nível pela seleção. Só precisaria se observar também quem é o oponente da vez. Com atletas mais leves como Mirotic e Claver do outro lado, ele não teria problema para jogar, mesmo. Não por acaso, seu saldo de pontos contra os espanhóis foi de +12, inversamente proporcional ao de Hettsheimeir.

Giovannoni pode ganhar espaço nessa

Giovannoni pode ganhar espaço nessa

– Um pouco de tudo: Nenê saiu de quadra com 6 pontos, 4 rebotes e apenas uma cesta de quadra em cinco tentativas em 21 minutos. O brasileiro que ainda se dignifique a criticar o são-carlense naquela linha oscar-schmidtiana de apátrida, desertor poderia se apegar a esta linha estatística paupérrima e esculhambá-lo. Não estaria mais equivocado. O pivô pode não ter a mesma explosão física de seu auge, mas ainda consegue fazer a diferença em um jogo de basquete com suas múltiplas facetas. Contra os espanhóis, ele terminou também com cinco assistências registradas, incluindo um lance incrível em que cruzou a quadra toda e deu um passe para enterrada de Marquinhos que seria complicado até mesmo para Huertas e Raul, freando em meio ao tráfego, sem perder a graça em seu movimento. É um cara especial, gente, que influencia uma partida de modo que nem sempre

Mas ele merece mais aplausos por mais um esforço defensivo que deve pegar muito bem com Magnano. Depois de algumas trombadas e hematomas pelo choque com Jonas Valanciunas pela estreia, o pivô se via obrigado a lidar com uma lenda viva como Pau Gasol. Pois o craque espanhol não foi nada eficiente nesta segunda rodada, mesmo que tenha chegado a um double-double de 13 pontos e 10 rebotes em 32 minutos. Quando Gasol não alcança a marca nem de 13 pontos, e a seleção espanhola ao mesmo tempo converteu apenas 5-19 arremessos de três, você tem uma vitória tática. Da sua parte, o pivô acertou apenas 4 de 11 tentativas de quadra e foi empurrado para fora do garrafão por Nenê, sem precisar de ajuda. Quando Felício era o responsável, algumas dobras providenciais foram realizadas para . Dessa vez, para completar, seu tiro de média distância não funcionou também.

Deve ser por isso que Magnano tem exigido demais de seu pivô titular.

Nenê, com o modo armador ligado

Nenê, com o modo armador ligado

– Augusto Lima é uma fera: quase que o primeiro double-double brasileiro no #Rio2016 veio com o famoso Gutão (9 pontos e 10 rebotes). Ou nem tão famoso assim. O pivô do Zalgiris Kaunas, cedido por empréstimo pelo Real Madrid, teve seus momentos de fama – digo em relação ao público menos ligado no basquete europeu, claro – no ano passado, durante a campanha brilhante rumo ao ouro do Pan de Toronto. Quando ele foi contratado pelo Real Madrid, isso também chama a atenção por razões óbvias merengues.

Agora, numa Olimpíada, acho que está claro para todo mundo que estamos falando de um grandalhão de elite. Não importa que o Real, com um elenco abarrotado, totalmente gastão e esnobe, não o tenha aproveitado tanto assim e que agora o empreste, preferindo contratar os americanos Othello Hunter e Anthony Randolph. Não importa que ele não esteja na NBA, que não tenha sido Draftado. Já temos três anos de evidências que sustentam que o carioca é um jogador de ponta para o basquete Fiba, no mínimo. Por isso, tendo um cara desses disponível e também o valioso Cristiano Felício na lista de espera, não era o caso de se assustar com o desfalque de última hora de Anderson Varejão. Você poderia até se sensibilizar pelo veterano, mas não era motivo para pânico. Até porque, em muitos sentidos, Augusto foi moldado à sua maneira, como um pivô extremamente veloz e ágil, além de atlético e raçudo. Não existe bola perdida para o cara. Contra os espanhóis, velhos conhecidos, apanhou quatro ofensivos em pouco menos de 28 anos. Na meia quadra, se mexe muito bem lateralmente e deve ganhar minutos seguros ao lado de Nenê e, ao que parece, Felício, para marcar jogadores mais velozes no perímetro. Mesmo que ele não ofereça arremesso ao time, se mexe tanto pelo ataque, que acaba ajudando a destravar as coisas. Já que Nenê hoje também age ainda melhor com a partir da cabeça do garrafão, a combinação com o jovem pivô fica melhor ainda.

Augusto, enérgico

Augusto, enérgico

– Foi de três? De qualquer forma, a seleção brasileira ainda não se acertou quando o assunto é o chute de longa distância. Nessas duas partidas, acertou apenas seis tiros de fora, com aproveitamento péssimo de 20,7%. Qualquer scout ou treinador vai tomar nota disso, e podem esperar mais e mais defesas por zona contra os donos da casa no futuro, tal como a Espanha fez nesta terça, com muito sucesso, no segundo período e no quarto. Vem daí a inclusão de Hettsheimeir e Giovannoni na lista final. O time, porém, não pode depender dos dois pivôs para tentar escancarar as defesas. A turma do perímetro precisa entrar em ação. Leandrinho errou todas as suas sete bolas até aqui. Alex também está zerado em três. Marquinhos matou apenas uma em seis. Benite, uma em duas. Raulzinho tem duas em cinco. Huertas acertou a sua, mas não é grande chutador. Com a pressão dos arremessos de três, a vida de Huertas e Raulzinho e seus parceiros grandalhões ficaria mais fácil para o pick-and-roll e outras tramas. Se há algum ponto positivo aqui, é o fato de que a seleção só tentou 29 arremessos em duas partidas, em vez de forçar a barra. Hoje em dia, isso é bem pouco.

– Gracias, professor: o técnico Sergio Scariolo que se prepare. Seu título mundial pela Espanha já tem dez anos de história, e, ao topar voltar ao comando da equipe, sabia que estaria sujeito a críticas. E elas vão chegar. Na derrota para a Croácia, insistiu com Victor Claver no perímetro mesmo que o cara tenha sido um completo desastre exercendo essa função em sua breve passagem pela NBA. Quando retornou ao Lokomotiv Kuban, da Rússia, nesta temporada, voltou a cativar os scouts jogando basicamente como um ala-pivô flexível, usando sua velocidade e leveza para atacar o aro. Contra os Brasileiros, esse equívoco foi corrigido, com o camisa 10 jogando da forma como mais gosta.

Dessa vez, o que merece questionamento são os minutos dedicados a Ricky Rubio. Se ele tem quatro armadores de qualidade excepcional em seu elenco, é para usá-los com liberdade e autonomia. Taí o José Calderón amargando a reserva, e paciência. Analisando a a derrota brasileira contra a Lituânia, estava evidente que uma das principais deficiências da equipe de Magnano seria a defesa no pick-and-roll, com Mantas Kalnietis fazendo estragos. Rubio pode ser excelente em diversos quesitos (passe e defesa, principalmente), mas todo mundo sabe que ele não representa ameaça nenhuma com a bola em mãos. Você pode pagar para ver seu arremesso o quanto quiser. Em 16 minutos, teve saldo negativo de 6 pontos. Ele tentou apenas três arremessos e converteu um e mais um lance livre, para somar 3 pontos. Não deu nenhuma assistência, porque o Brasil não se importava em lhe dar espaço e tirar a linha de passe. Marcelinho Huertas, então, ficou todo solto para ser uma força criativa para a seleção, com 11 pontos, 7 assistências e nenhum turnover, em 30 minutos.

Se tivesse mantido Sergio Rodríguez mais tempo, quiçá o desfecho fosse outro. O Señor Barba é muito mais agressivo que o titular da posição e causou problemas no segundo tempo, para ajudar na reação espanhola. Bateu para dentro, chacoalhou a defesa brasileira e somou 10 pontos e 5 assistências em 22 minutos, com 50% nos arremessos.  Também não é coincidência que tenha terminado com o melhor saldo entre os espanhóis, com +9 – ninguém nem chegou perto disso… Claver foi o segundo com +3.

Scariolo tem um elenco muito talentoso em mãos. Mas parece não ter o controle sobre essas peças. Uma dúvida que me intriga: por que o técnico simplesmente não usa o quinteto Rodríguez-Llull-Fernández-Mirotic-Reyes? Esses caras jogaram um tempão pelo Real Madrid, e essa base foi uma das mais vitoriosas do continente. Nos minutos que for descansar Scariolo, o técnico deveria simplesmente tentar transformar a seleção numa filial do Real, empregando seu ritmo de jogo mais acelerado. Não vem acontecendo.

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Após 1º tempo estarrecedor, seleção reage. O que se tira de um jogo maluco?
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Giancarlo Giampietro

Kalnietis tem muito talento, mas não é um Jasikevicius reencarnado, que fique claro

Kalnietis tem muito talento, mas não é um Jasikevicius reencarnado, que fique claro

Uma coisa era perder por 30 pontos. Outra, por seis, que foi o placar do triunfo da Lituânia sobre a seleção brasileira por 82 a 76, neste domingo, pela estreia pelos Jogos do Rio 2016. A reação no segundo tempo, com vitória por 47 a 24, resgatou o apoio da torcida e um senso de confiança para o time da casa. Só não pode apagar o assustador desempenho defensivo da etapa inicial.

De modo inexplicável, com uma defesa desbaratinada, o Brasil entrou com a guarda baixa no primeiro quarto, perdido já por dez pontos (27-17). O segundo período foi ainda pior, com parcial de 31 a 12 para os caras. A vantagem bateu em 30 pontos, e o ginásio olímpico estava mudo. Pudera: eles estavam assistindo angustiados e, quiçá, atenciosos a uma aula aplicada pelos lituanos.

O aproveitamento de quadra era superior a 70%. Em assistências, tinham o triplo dos anfitriões. Caía tudo dentro do garrafão e até mesmo no perímetro, para uma equipe que, a despeito da tradição de seus antecessores, não tem chute confiável de longa distância. Agora, em nenhum momento o que se passou no primeiro tempo foi uma questão de sorte. Tratava-se de competência na execução de suas jogadas e na leitura de jogo, aliada a uma estarrecedora incapacidade defensiva por parte dos comandados de Rubén Magnano.

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Ao que parece, se o amistoso em Mogi serviu para alguém, foi para a Lituânia – já que a derrota num jogo-teste, como vimos hoje, não representa absolutamente nada. Daquela partidinha, o que vimos que foi aplicado hoje, uma semana depois? A dominância de Mantas Kalnietis para cima de Marcelinho Huertas. Naquela ocasião, o camisa 5 báltico fez o que quis em quadra, em minutos reduzidos, tendo muito mais velocidade que o brasileiro, que era batido lateralmente com facilidade. Isso voltou a acontecer no quarto inicial, agora numa Olimpíada, gerando algumas situações de desequilíbrio defensivo, e a partir daí a seleção só fez correr atrás.

Magnano solicitou, então, uma dobra dos pivôs para cima do talentoso, mas extremamente irregular Kalnietis (16 pontos e 8 assistências, contra 3 turnovers, em 36 minutos, com 5-11 nos arremessos). Acontece que essa dobra estava chegando muito atrasada. Para piorar, a rotação por trás dessa dobra foi um desastre completo, e o resultado foi uma sequência de bandejinhas incríveis debaixo da cesta. O despreparo ou a desatenção foram absurdos. Por exemplo: Paulius Jankunas, um jogador tático, se transformou num cestinha de repente, com 15 pontos em 10 arremessos e 22 minutos.

Leandro nem sempre toma a melhor decisão em quadra, mas ninguém vai dizer que lhe falta fibra

Leandro nem sempre toma a melhor decisão em quadra, mas ninguém vai dizer que lhe falta fibra

O estrago no garrafão, no primeiro tempo, foi enorme. Quando falamos isso, não quer dizer que nossos grandalhões tenham fracassado, contra uma linha de frente muito, mas muito física e também técnica. Não foi isso. É que a turma do perímetro não deu conta, inicialmente, de suas tarefas. Ninguém conseguia brecar Kalnietis. E aqui cabe uma explicação para quem talvez não esteja tão familiarizado com o armador lituano: não, ele não é a reencarnação de Sarunas Jasikevicius. A defesa brasileira que o fez parecer esse tipo de jogador. Historicamente, o cara tem alguns rompantes que te deixam embasbacado, mesmo. Mas consistência e lucidez não é algo que você pode esperar dele.

Se a Lituânia atingiu alguns índices de acerto nos arremessos – seja de dois, três pontos ou nos lances livres –, não é só porque estava inspirada ou com o aro largo. É que eles estavam aparecendo com liberdade realmente atordoante. Aí Kuzminskas e Maciulis também emularam Siskauskas ou Karnisovas. O que também não condiz com suas carreiras. Veja bem: não é que a Lituânia seja um time de segunda categoria que tenha se aproveitado de deslizes brasileiros. Muito pelo contrário: eles foram medalhistas nos últimos dois EuroBaskets e ainda chegaram a disputar medalhas pela Copa do Mundo dois anos atrás. Esse elenco, porém, no papel, só não é fantástico e matador assim para abrir o dobro de vantagem sobre os brasileiros. Tanto se esbaldaram que, mesmo depois de marcar apenas 24 pontos no segundo tempo, ainda saíram do ginásio com aproveitamento de 50% nos arremessos, com 59% de dois e 38% de três. Ao todo, deram 29 assistências.

No segundo tempo, tudo mudou. E aí que a gente não pode ignorar o contexto do que havia acontecido até ali também. Acho que é inevitável uma seleção sair do vestiário com quase 30 pontos de vantagem e não se permitir relaxar – pelo menos aqui e ali, em uma ou outra posse de bola. Não dá para fazer matemática aqui. Algo como: ah, se os lances livres tivessem caído mais no primeiro tempo e a vantagem não fosse tão grande assim, talvez o Brasil pudesse ter concretizado sua virada. Basquete e esporte não funcionam assim, com hipóteses numéricas. Na real, os números são apenas a manifestação factual daquilo que se passa em quadra.

Então não é que, de novo, “se a seleção nacional tivesse jogado assim o tempo todo, teria atropelado”. Teve um pouco de concessão do outro lado, naturalmente, assim como aconteceu da parte brasileira na primeira etapa. Ainda assim, há algumas coisas que a gente pode tirar desta reação impressionante, com uma rotação composta basicamente por Raulzinho, Leandrinho, Marquinhos, Augusto, Nenê e Felício:

Raul jogou muito no 2º tempo, agredindo dos dois lados da quadra

Raul jogou muito no 2º tempo, agredindo dos dois lados da quadra

1) o Brasil está, sim, muito bem fisicamente. Partiram para cima dos adversários, pressionaram a bola com muito mais eficácia e não tiraram o pé do acelerador até o final da partida. Foi com pulmão, perna e coração que o time batalhou no placar: estou com o Wlamir nessa (aliás, é bom ouvi-lo, de volta com o microfone e sem papas patrióticas ou políticas).

2) se o armador adversário for desse tipo agressivo, com bom chute e arranque, Magnano vai ter de pensar com carinho na hipótese de realmente limitar os minutos de Huertas, caso sua movimentação lateral esteja sendo explorada. Ou isso, ou, no mínimo, o capitão e Rafael Hettsheimeir não vão poder ficar muito tempo juntos. Pois a defesa fica muito vulnerável.

3) nesse sentido, se o ataque brasileiro não conseguir colocar Hettsheimeir ou Giovannoni em boas condições de arremesso, sua escalação passa a ser questionada. Aí os minutos devem ir para Augusto () e Felício, para a formação com Nenê de uma trinca enérgica, atlética e bastante física. Augusto (4 pontos, 6 rebotes e 5 faltas em 20 minutos, saldo de +10) e Felício (4 pontos, 4 rebotes e 4 faltas em 14 minutos, saldo +10) injetaram vitalidade na defesa interior da seleção na segunda etapa, trombando para valer com Valanciunas, Jankunas e Sabonis, tirando-os de uma zona de conforto. Você está sacrificando arremesso, mas pelo menos dá um jeito de ser combativo na zona pintada. Da sua parte, Nenê (11 pontos, 8 rebotes, 2 assistências em elevados 29 minutos) deu conta de Jonas Valanciunas (só 6 pontos e 3 rebotes em 19 minutos, limitado pelas 5 faltas que cometeu), conforme o esperado

Augusto ajudou a mudar a disputa no garrafão após o intervalo

Augusto ajudou a mudar a disputa no garrafão após o intervalo

4) mais importante, no entanto, foi a participação de Raulzinho. Não custa lembrar, de novo, que se o armador conseguiu espaço pelo Utah Jazz em sua temporada de novato, foi por causa de sua defesa. O jovem atleta fez um trabalho muito mais competente em cima de Kalnietis. Não por acaso, teve o melhor saldo de pontos entre os brasileiros, com +16, em 25 minutos. Ainda levou essa agressividade para o ataque para descolar lances livres e terminar, cheio de confiança em seu chute em flutuação, com 14 pontos em apenas seis arremessos.

5) ao defender bem, a seleção conseguiu enfim sair em transição para explorar as deficiências lituanas nesse sentido. Eles são muito lentos. Apenas no banco de reservas estão alguns caras mais atléticos, mas ninguém que consiga apostar corrida com boa parte do elenco brasileiro. E o jogo em transição se mostra novamente essencial para a equipe de Magnano. Em meia quadra, a movimentação voltou a sofrer um choque de realidade entre o que se passa em amistosos e nos jogos reais. Além disso, os lituanos não mostraram muito respeito pelos chutadores e congestionaram o garrafão numa boa.

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6) Em suma: o trabalho de meia quadra vai ter de melhorar demais. Não é justo exigir de Leandrinho (21 pontos em 17 arremessos,  um segundo tempo desses. O ligeirinho forçou algumas bolas, mas não tem muito o que se criticar em sua atuação. Ele estava com fome de bola em muitos sentidos, jogando com muita intensidade, provando por mais uma partida o quanto sua capacidade atlética ainda é fora do comum, mesmo como trintão e com o joelho operado. Se for para falar de abordagem individualista, é só reparar que o Brasil só deu 12 assistências na partida inteira.

Então é isso. A estreia passou, e deixa algumas lições, a despeito de toda a loucura que vimos em 40 minutos. Ao menos o time não sai totalmente cabisbaixo, como seria no caso de um revés por 30 pontos. Pois a tabela é um tanto ingrata, com a Espanha vindo por aí na terça-feira. O grupo é muito difícil para se deixar contagiar por depressão – ou mesmo por euforia. O que não dá, mesmo, é defender com tanta passividade e desorientação por 20 minutos, como aconteceu no primeiro tempo. Haja fôlego para buscar reação desse jeito.

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Felício é convocado, e a seleção tem de seguir em frente
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Giancarlo Giampietro

cristiano-felicio-bulls-summer-vegas

Você nunca deve levar tão a sério os resultados de uma Summer League, ou os números produzidos pelos jogadores. É difícil saber exatamente o que se traduz em jogos oficiais de NBA aquilo que se pratica nessas partidas de veraneio, que muitas vezes descambam para a pelada.

No caso de Cristiano Felício, porém, em sua segunda aventura por Las Vegas, as atuações convincentes e as dezenas de elogios que tem recebido têm mais significado. Não é que ele só tenha jogado bem nesse cenário. A boa participação pelo segundo ano consecutivo confirma e mostra um pouco mais sobre sua curva de evolução nos Estados Unidos, mês a mês, depois de ser dominante em sua curta passagem pela D-League e de impressionar na reta final de temporada do Chicago Bulls.

Este é o pivô que a seleção brasileira vai receber agora, de improviso, por circunstâncias do lamentável corte de Anderson Varejão: um jovem talento em alta no cenário internacional. O brasileiro, de 24 anos, ainda está em formação. Mas já mostrou que pode ser produtivo nos mais diversos níveis em que atuou desde que foi para os Estados Unidos, competindo com os melhores atletas do mundo.

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Quando se apresentar a Magnano e iniciar os treinamentos, Felício vai primeiro ter de brigar por seu espaço na rotação, com muita gente boa na frente, treinando desde o início. O mineiro de Pouso Alegre não chega como uma figura messiânica que vá conduzir a seleção rumo ao ouro ou ao Olimpo. Sua (re)convocação de última hora, porém, deve ser comemorada pelo simples fato de que ele era a melhor alternativa disponível no caso do corte de um pivô, já que Splitter e Faverani estão fora de combate. Ele está preparado para dar uma força a Nenê, Augusto, Hettsheimeir e Giovannoni. Arrisco dizer que mais preparado do que Varejão.

Varejão estava limitado por uma hérnia de disco

Varejão estava limitado por uma hérnia de disco

Aqui, é importante deixar claro que estamos falando sobre agosto de 2016 – e, não, sobre o conjunto da obra. Até porque não há como comparar os dois nesse sentido. O pivô que está chegando nunca teve muitas chances para se estabelecer como referência nem mesmo no NBB e agora está se soltando na liga americana, para surpresa dos mais desavisados ou negligentes. O outro está na reta final de uma carreira louvável, vitoriosa e milionária, sabotada apenas por uma lista interminável de lesões e problemas físicos.

É uma pena que, mesmo depois das idas e vindas de uma temporada em que mal jogou, Varejão volte a ser endereçado à enfermaria. Ele simplesmente não consegue paz. Mas é por isso que sua convocação como “nome certo e indiscutível” neste ano causava certa apreensão. Não é um tema fácil. Pelo contrário, parece bem espinhoso. Mas, na hora de formar uma seleção olímpica, o que deveria pesar mais: o currículo ou o momento? O que desperta mais “merecimento”, ou é mais digno de prêmio: a história ou o presente?

Respondendo friamente, é natural que você vá pender sempre para a primeira resposta: aquilo que está acontecendo aqui e agora. Mas há todo um fator emocional que pode te empurrar para a segunda alternativa também, e esse aspecto não deixa de ser relevante na hora de construir uma equipe. É aqui que fica a maior preocupação pelo corte de Varejão ao meu ver: a seleção está perdendo um líder, uma figura exemplar. Características que já haviam sido sacrificadas no momento em que Tiago Splitter soube que precisava fazer uma cirurgia no quadril.

Agora, não podemos nós todos, incluindo Magnano, nos mostrarmos surpresos com o corte. Pode-se lamentar, claro, porque ninguém quer ver um atleta lesionado, contundido, abalado, muito menos às vésperas de um torneio olímpico em casa, depois de uma longa história a serviço da seleção. Se for ver bem o currículo de Anderson, ele também quase sempre esteve lá. Somente em 2007 ele se viu obrigado a dizer não, quando estava em forma, pois ainda não havia renovado com o Cleveland. Mas dizer que era totalmente inesperado? Não dá. Nesta década, em seis temporadas, a única em que o capixaba conseguiu jogar pelo menos 80% das partidas da NBA foi em 2013-14, com 65. De resto, temos 31, 25, 25, 25 e, por fim, as 53 da temporada passada, em que não sofreu nenhuma lesão grave, mas pela qual já havia se transformado numa figura complementar de elenco, chamado para a quadra por David Blatt ou Steve Kerr só por emergência ou com o jogo já resolvido.

Está certo que as equipes eram Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors, justamente os dois finalistas da liga, com grandes opções para a linha de frente. Acontece que, nos momentos em que foi para a quadra, Varejão não deixou boa imagem. Tantas lesões, a última delas uma ruptura no tendão de Aquiles, lhes haviam roubado a incomum mobilidade, características essenciais para que tenha se tornando um pivô de elite, dos melhores defensores e reboteiros de sua geração. Muito se fala sobre a dedicação, a garra e a inteligência do veterano, com justiça. Esse pacote o transformou em ídolo/xodó tanto em uma cidade praiana e quente como Barcelona como num município mais interiorano e gélido como Cleveland. Seus piques, mergulhos e arroubos em quadra foram contagiantes e irresistíveis, ainda mais com a cabeleira voando para todos os lados. Se ele não fosse extremamente ágil para alguém de sua altura, porém, não teria recebido mais de US$ 80 milhões só em salários.

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Como disse aqui, se fosse para encarar, então, a convocação de Varejão com otimismo neste ano, você tinha de se apegar à ideia de que ele deveria  apenas se detravar. Que, retornando de uma lesão complicada, não chegou a ter chance de se provar recuperado em quadra pelo fato de ter Kevin Love, Tristan Thompson e até Timofey Mozgov à frente na rotação. (Mas aí o Cleveland o despachou.) Depois, pelo Golden State, estava chegando no meio do campeonato a um time azeitadinho que prioriza o small ball. A visão de quadra ele nunca vai perder, podendo dar bonitos passes no sistema de frenética movimentação do Golden State. Mas só isso não era o bastante. Aí que sua média de minutos ainda caiu, de 10,0 por jogo para 8,5. Então de repente o brasileiro só precisava de um empurrão de uma boa sequência de amistosos para mostrar que poderia ser relevante em quadra, que os 43,1% de aproveitamento nos arremessos de dois pontos (contra 51,7%) e a queda no percentual de rebotes tinham mais a ver com ferrugem. No fim, a desgraça é que nem essa dúvida vamos poder tirar agora.

Felício, por outro lado, não poderia estar mais apto fisicamente para contribuir com o time. O pivô tem uma combinação de força física e agilidade que o tornam especial até mesmo em meio aos grandalhões da NBA. Na liga de verão, simplesmente não houve quem o parasse quando recebia a bola debaixo da cesta. De todo modo, seu jogo tem muito mais do que a o porte intimidador e a capacidade atlética. Aos poucos, os scouts e os americanos em geral vão percebendo o quanto sua visão de quadra e leitura de jogo são apurada, enquanto ele também vai pegando confiança em seu arremesso de média para longa distância, que já sai naturalmente de suas mãos.

Depois das desavenças com Thibodeau, de uma temporada atribulada para o técnico que contrataram para substituí-lo, perdendo os playoffs, das crises de ego com Jimmy Butler e Derrick Rose e da contratação de Rajon Rondo, o fato de terem “descoberto” Felício é uma das poucas boas notícias associadas recentemente aos diretores do Chicago Bulls. Natural, então, que o clube o quisesse por perto neste verão (setentrional), para trabalhar ainda mais com o pivô. Ele foi para a quadra em Las Vegas para botar novamente em prática tudo o que vem treinando por lá. Para um jogador que não tem contratado garantido e ainda está se afirmando na NBA, isso não é pouco. Então, por favor: sem essa de que Felício não “quis” jogar pela seleção. Esse verbo não costuma ser muito relevante nos bastidores da liga. Até mesmo um cara como Manu Ginóbili já foi contrariado quando o assunto é participar de um torneio Fiba.

Aí que o método Magnano de morder e assoprar morder mais uma vez só gera desgaste e incertezas desnecessárias. E mostra o quanto o argentino está desconectado da realidade em alguns aspectos – ou isso, ou tudo não passa de um showzinho para a torcida e as câmeras, o que é ainda pior e é algo que diversas fontes já sopraram para o blog nos últimos anos, causando desconfiança da parte de muitos atletas com o treinador. Será que não passava por sua cabeça em nenhum momento que atletas com o histórico médico recente de Faverani e Varejão poderiam ser cortados? Não é questão de ser pessimista, gente, mas de ser realista. Para que disparar, pela enésima vez, contra um jogador? Para constar, a Alemanha acaba de anunciar a dispensa de Dennis Schröder da seleção que vai disputar o torneio de classificação para o EuroBasket. O motivo? A federação entende que o armador está prestes a jogar aquela que talvez seja sua temporada mais importante pelo Atlanta Hawks, promovido ao time titular.

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Magnano se encontrou com Felício há alguns meses. Não serviu de muita coisa

A própria convocação de Faverani, aliás, mostrava o quão tolo e desnecessário é esse tipo de comportamento. O técnico já cuspiu marimbondos ao falar sobre o pivô no passado. Chegou o #Rio2016, e quem estava lá na lista? Pois bem. Se ele deu o braço a torcer em relação ao talentoso e enigmático grandalhão, agora chegou a vez de fingir que nada aconteceu em relação a Felício. Que ninguém na CBB consiga ao menos controlar o ego e os ânimos do treinador só vem corroborar o estádio de falência e calamitoso que domina a entidade.

Em relação ao silêncio da confederação durante todo esse processo de troca de jogadores, aliás, nada surpreende. Transparência realmente não é o forte dessa gestão – e da passada –, assim como o zelo pela imagem dos jogadores. Precisa vir a assessoria de Anderson Varejão anunciar que o pivô estava fora, devido a uma hérnia de disco. Antes, o problema era tratado de forma oficial como “lombalgia”. A gente não vai saber se era um diagnóstico equivocado (e nem questiono os médicos envolvidos, mas é que, para uma entidade quebrada, talvez nem haja dinheiro para exame de imagem…). De repente já tinham conhecimento do fato e apenas lançaram um termo genérico para não causar comoção, achando que, desta forma, o preservariam. Com um torneio como a Olimpíada se aproximando, não vejo razão para tanto suspense. Além do mais, se fosse o caso, não haveria motivo para o pivô sair às pressas para ser avaliado pelo Warriors e por especialistas na Califórnia. Enfim, se a seleção brasileira sonha em fazer uma boa campanha no Rio, já sabe que terá de fazer isso por conta própria, pois os dirigentes não estão em condição de dar nenhuma contribuição relevante.

Então agora a gente fica no aguardo para que Felício chegue, se incorpore rapidamente a um grupo olímpico ainda bastante experiente, e que seja bem recebido, sem ressentimentos. O jovem pivô está em plena ascensão e não é de criar caso com ninguém. Pelo contrário: talvez já pudesse ter brigado por seu espaço muito antes, pois não foram os técnicos da NBA que lhe ensinaram aquilo que ele vem mostrando hoje. Era tudo uma questão de chance e confiança. Que agora ele deve receber de Magnano e seus companheiros. O corte de Varejão é um trauma do ponto de vista emocional, pela sua representatividade. O status da seleção segue o mesmo: com chances no torneio, tendo de brigar muito. Eles perderam um guerreiro combalido, que merece todas as homenagens. Mas pode ser que saia daí um time ainda mais forte tecnicamente, ou pelo menos mais vigoroso.

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Varejão no #Rio2016? Ficou mais difícil e passa por aprovação do Warriors
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Giancarlo Giampietro

Varejão participou da cerimônia da tocha neste domingo, sem forçar as costas

Varejão participou da cerimônia da tocha neste domingo, sem forçar as costas

Você pega o celular e, de repente, se depara com este link aqui e este release:

“Informamos que o atleta Anderson Varejão embarcou para os Estados Unidos na noite de ontem (domingo, dia 24), por orientação de sua equipe (Golden State Warriors/NBA). O capixaba, que integra o grupo que se prepara para os Jogos Olímpicos Rio-2016, passou a última semana em tratamento intensivo em função de fortes dores nas costas. Anderson, que foi liberado pela CBB para a viagem, será submetido a exames mais detalhados nos próximos dias e passará por avaliações que vão auxiliar na sequência de sua recuperação.”

Tiago Splitter está fora, e agora fica realmente sob ameaça a participação de Anderson Varejão no #Rio2016. Como o comunicado deixa claro, o pivô foi chamado de volta aos Estados Unidos pelo Golden State Warriors, com quem acabou de assinar um novo contrato, válido por um ano, para a próxima temporada da NBA. Conhecendo o zelo dos clubes da liga americana com seus atletas, esse foi um desenvolvimento natural depois que, no sábado, os companheiros Fábio Aleixo e Adriano Wilkinson nos informaram sobre a situação complicada do veterano, que vem sofrendo com uma lombalgia.

O detalhe é que, na matéria, Aleixo e Wilkinson escrevem que “que a comissão técnica brasileira vê os dois amistosos que o time fará em Mogi das Cruzes, na quinta e no sábado da semana que vem – contra a Austrália e China, respectivamente – como fundamentais para a definição sobre o pivô. Se Varejão não estiver apto a jogar, a comissão vai cogitar seriamente cortá-lo do grupo”. Os planos do Warriors eram diferentes.

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Várias dúvidas surgem, então: para um atleta que está com lombalgia, a longa viagem até Oakland é a melhor solução? Por mais que embarque de primeira classe, e tal? Ele será avaliado já nesta segunda-feira? Quando os médicos do clube estarão preparados para fazer um diagnóstico?  Varejão está com um contrato mínimo, daqueles que os clubes não hesitam em rescindir, se for o caso. Então qual é o exato relacionamento entre o capixaba e a diretoria? Se estiver liberado, será que conseguirá se apresentar a Magnano até quinta-feira, mesmo que dificilmente vá ter condições de jogo? Corre-se o risco de Anderson chegar aos Jogos sem poder treinar adequadamente por duas semanas?

Percebam que a combinação de tantas perguntas – ao meu ver lógicas, nada alarmistas – coloca a comissão em uma situação difícil. Varejão é dos jogadores mais experientes da equipe, inclusive em competições Fiba. Nesse sentido, a ausência de Splitter já era bastante sentida. Mas não seria um risco levar apenas quatro pivôs saudáveis para um torneio desses, sendo que um dos quatro é (toc-toc-toc) Nenê, outro atleta que também já sofreu diversas lesões sérias na carreira? Segundo a apuração do UOL Esporte, Varejão pode ser substituído até o dia 2 de agosto. Os candidatos? Qualquer atleta incluído na pré-lista original, que tem mais de 50 nomes. Se bobear, então, até Pipoka e Israel estão nessa.

Brincadeira à parte – nestas horas de maior tensão, é preciso rir um pouco –, Magnano e sua comissão ficam sob pressão para tomar uma decisão que definitivamente não é simples. Mesmo no caso de liberação do Warriors, não há garantias de que o capixaba vá estar em mínima forma quando a competição  começar para a equipe brasileira, no dia 7 de agosto.

Se tiver de correr atrás de um substituto, olho em Cristiano Felício. Por mais que o técnico não tenha gostado nem um pouco de seu pedido de dispensa, para jogar a Summer League de Las Vegas pelo Bulls, o argentino já se mostrou bastante flexível na hora em que a corda apertou durante os últimos anos. As portas não estão fechadas, e, passada a competição de veraneio, talvez o clube de Chicago não ofereça resistência. Felício, por sinal, arrebentou por lá novamente.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?

O que joga contra o jovem o pivô é, claro, o fato de ter recusado a primeira convocação. Como o restante dos atletas reagiria a sua chegada tardia? Outro ponto: ele mal terá treinado com os companheiros. Por outro lado, qualquer adição, a essa altura, seria um problema do ponto de vista de entrosamento (em quadra) com a equipe, mesmo para veteranos como João Paulo Batista, Olivinha e Rafael Mineiro. Do trio flamenguista que foi vice-campeão pelo Sul-Americano há algumas semanas, Mineiro teria minha preferência, devido a sua estatura, capacidade atlética e seu subestimado poderio defensivo já comprovado contra adversários de primeiro nível internacional (vide Copa Intercontinental).  Em termos de experiência, JP seria o mais bem cotado, creio.

Ao que parece, não existe preparação da seleção brasileira que possa avançar sem soluços ou sustos. Mas isso é algo recorrente para o mundo Fiba hoje, com o calendário apertado.  Por mais que a CBB dê uma forcinha sempre, este processo acontece praticamente com todas as federações. A questão é a transparência para resolver os problemas. Vamos aguardar.

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Magnano “digere” desencontros com Faverani e convoca pivô para o #Rio2016
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Giancarlo Giampietro

Faverani fez boa Liga ACB pelo Murcia. Agora vai?

Faverani fez boa Liga ACB pelo Murcia. Agora vai?

Considerando todas as declarações e farpas que o Rubén Magnano soltou nos últimos anos, é com surpresa que recebemos a inclusão de Vitor Faverani nesta sexta-feira num grupo de 14 candidatos a disputar as Olimpíadas do #Rio2016 pela seleção brasileira. O pivô é a grande surpresa numa lista, digamos, conservadora elaborada pelo argentino, com os nomes de sempre. Huertas, Raul, Rafa Luz, Larry, Benite, Leandro, Alex, Marquinhos, Giovannoni, Varejão, Nenê, Hettsheimeir e Augusto o acompanham. Dois desses terão de ser cortados.

Magnano flerta com a convocação do pivô há um bom tempo tempo, mas até agora não teve sucesso em fazer com ele se apresentasse. Foram idas e vindas neste namoro, incluindo o famigerado episódio de 2011, antes da Copa América, em que o treinador levou um ‘cano’ do atleta durante uma viagem à Espanha. Os dois supostamente iriam se reunir em um hotel de Murcia. O técnico foi. O jogador, não – depois, alegou que e teve um problema pessoal de última hora e que não conseguiu se comunicar com o argentino. Obviamente esse ‘causo’ deu o que falar. Dois anos depois, o atleta voltou a ser listado para mais uma Copa América. Os dois, enfim, se encontraram, e Vitor topava jogar. Mas aí veio um acerto com o Boston Celtics para travar o processo. Desde então, o argentino não perdeu a chance de alfinetar o atleta durante uma série de entrevistas.

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Acontece que agora a gente está falando de Olimpíada. De tentar reunir os melhores atletas, mesmo, e lutar por uma medalha em casa. Acho que era motivo o bastante para Magnano superar qualquer ressentimento que restasse e desse mais uma chance a Faverani. “Sempre quis que ele jogasse pela seleção. Houve no passado uma situação muito curiosa, desagradável. Digo curiosa, porque não posso dizer que tenha sido engraçada. Consegui digerir isso”, afirmou o técnico, com a acidez típica. “Depois, ele teve muito problema de lesão, que atrapalhava sua preparação. Hoje, como já tinha visto há muito tempo, acho que ele está jogando muito bem. Tenho gostado muito dele, é um grande jogador. Ele tem muita vontade de vir, estamos em contato direto com ele e, por isso, está de novo na convocação. Espero não ter mais nenhuma surpresa. Se vai ficar ou não, depois vemos.”

Que Magnano tenha “digerido” essas questões só mostra o quanto admira as características de Faverani, que de fato são raras para um pivô e estão em voga. Recuperado de uma cirurgia no joelho que o atrapalhou muito nos últimos dois anos e forçou sua demissão pelo Boston Celtics e pelo Maccabi Tel Aviv, o jogador oferece arremesso de média para longa distância e também é um excelente protetor de aro. Isto é, pode jogar aberto no ataque tranquilamente, espaçando a quadra quando necessário, e estabelecer uma presença defensiva importante no garrafão. Pelo fato de nunca ter se apresentado antes, porém, dá para dizer que corre por fora, mesmo que tenha feito boas apresentações pelo Murcia na segunda metade da temporada espanhola. Afinal, este é o modus operandi do argentino.

Ninguém vai olhar a lista de Magnano e apontar uma incoerência. Na verdade, o treinador se mantém fiel até demais aos atletas que convocou durante anos e anos. Pesa muito mais na cabeça do argentino a noção de conjunto da obra do que necessariamente a produção apresentada na última temporada – no caso de Bruno Caboclo e Lucas Bebê, aliás, para constar, nenhum desses fatores os favoreciam. Não havia muito espaço para novidades. Ou isso, ou o treinador julgou que nada de muito interessante tenha surgido no último NBB.

Da liga brasileira, para o grupo principal, foram chamados seis jogadores – todos eles figuras mais que habituais em suas listas e que também tiveram experiência no exterior antes de se estabelecerem como referências em quadras nacionais. Magnano dá muito valor a isso. De resto, sobrou uma composição de veteranos e mais jovens para a disputa do Sul-Americano (valorizada este ano pelo fato de já valer para o novo calendário de seleções da Fiba).

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O outro nome mais comentado do dia foi o de Cristiano Felício. O pivô seria convocado, mas pediu dispensa para seguir treinando com o Chicago Bulls. Lendo assim, a frase parece absurda, não? Magnano, mesmo, se frustrou. “Claro que fico chateado. São razões pessoais. Temos que entender. Não significa aceitar”, disse Magnano.

Mas é preciso entender a dinâmica que envolve jovens atletas e clubes da NBA. É improvável que a recusa tenha partidoexclusivamente de Felício. Há sempre outro lado nesse tipo de questão. Em seu comunicado, tentando explicar o que se passava, dá para dizer que o pivô foi no mínimo ambíguo, claramente tentando evitar pisar nos calos de muita gente.   “Estou vindo de um bom fim de temporada pelo Chicago Bulls, e, como todo brasileiro, vivendo também essa expectativa pelas Olimpíadas no Brasil. Mas não posso pensar com a paixão, preciso e devo agir com a razão. Não foi nada fácil. Sei da importância, do que significa vestir a camisa do meu país, mas tenho a consciência de que tenho que trabalhar ainda mais duro, me dedicar e evoluir para conquistar o meu espaço, pensar no meu futuro. Infelizmente, aconteceu tudo ao mesmo tempo”, afirmou.

O que acontece? O jovem pivô foi uma das poucas boas notícias que o Bulls teve em uma campanha que foi um tremendo fiasco. Aproveitou as chances que teve nas últimas semanas da temporada, mostrou serviço e subiu de cotação internamente. É provável que o chefão John Paxson e o técnico Fred Hoiberg tenham planos mais ousados para ele, ainda mais com as incertezas em torno de Pau Gasol e Joakim Noah, agentes livres. De modo que o clube prefere manter o pivô por perto, dar sequência ao seu desenvolvimento e eventualmente disputar uma segunda liga de verão.

Taí mais uma frase que parece despropositada, já que estamos falando de uma Olimpíada em casa. Mas o que prevalece aqui é a lógica da diretoria do Bulls, que cuida de seu investimento do modo que achar  melhor. E não havia muito como atleta e empresário baterem o pé aqui, ao contrário do que Giannis Antetokounmpo fez com o Milwaukee Bucks, por exemplo. A franquia de Winsconsing não vai querer irritar  seu jovem prodígio. Por outro lado, em Chicago, por melhor que tenha ido em sua temporada de novato, Felício ainda não teria tantos trunfos para barganhar. Seu contrato nem deve estar garantido.

Além do mais, se viesse, iria se meter em uma disputa acirrada por um lugar final no grupo olímpico. Ao meu gosto, não só entraria no grupo dos 12, como chegaria para jogar. Mas a cabeça de Magnano não funciona assim, e o pivô revelado pelo Minas Tênis teria de se superar para desbancar nomes mais badalados e de veteranos que bateram cartão nos últimos torneios. Não seria fácil. Assim como não será para Faverani, independentemente da digestão do argentino.

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Felício aproveita seus minutos ao máximo: “Aqui estou jogando mais livre”
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Giancarlo Giampietro

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Que Cristiano Felício tinha o talento inato para, no mínimo, ser testado pela NBA, não havia dúvida. A questão é que, entre 30 franquias, era difícil de imaginar que o Chicago Bulls, com seis pivôs sob contrato, seria o primeiro interessado no brasileiro a se mexer e levá-lo para um período de testes. Falando sério,  o clube era muito provavelmente o destino mais improvável para o mineiro de Pouso Alegre.

Mas foi de Bulls, mesmo. Passo a passo, Felício convenceu o técnico Fred Hoiberg e os exigentes cartolas da franquia, John Paxson e Gar Forman, de que valeria investir mais algum trocado em um eventual sétimo homem de rotação. Da liga de verão ao traning camp à pré-temporada à data-limite em janeiro, o grandalhão revelado pelo Minas Tênis avançou e teve seu contrato garantido. Mais que a segurança financeira – especialmente com o dólar em câmbio elevado –, o que conta mais nesse processo é o ganho de confiança para um jogador ligeiramente subestimado por estas bandas.

>> Felício causa boa impressão geral em estreia pela D-League
>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Ok, não é que o brasileiro tenha chegado a Chicago e dominado. Em sua primeira temporada na NBA – e a segunda nos Estados Unidos, depois de uma intrigante passagem pelas “prep schools” de lá –, o pivô foi utilizado por Hoiberg em apenas 73 minutos, distribuídos em 15 partidas, para uma média de 4,9. Quando jogou, porém, deus sinais bastante positivos, especialmente na sequência de quatro jogos que teve pela D-League, causando boa impressão geral quando enviado ao Canton Charge, a filial do Cleveland Cavaliers.

Não teve ferrugem que o atrapalhasse. Depois de semanas e semanas de treino, respondeu com 14,3 pontos, 5,5 rebotes, 1,5 toco e 40% nos chutes de longa distância em 23,8 minutos por uma equipe na qual não conhecia ninguém, sem entrosamento nenhum. Numa projeção por 36 minutos, valeu 21,6 pontos, 8,3 rebotes e 2,3 tocos.  Mostrou que estava crescendo, independentemente do quanto estava jogava pelo time de cima, num trabalho mais concentrado com os assistentes Pete Myers, ex-jogador andarilho que voltou ao clube nesta temporada, e Charlie Henry, de apenas 29 anos, que havia trabalhado com Hoiberg em Iowa State. Que Ruben Magnano tenha tomado nota, então, depois de se encontrar com o rapaz.

“A conversa com o Magnano foi muito boa, falamos muito sobre a Olimpíada. Ele viu que não tinha muito tempo de quadra, mas que estava treinando bastante e melhorando. Com certeza, se for um dos convocados para a seleção, vou chegar muito melhor, mais bem preparado do que estava antes. Estou aprendendo com os melhores jogadores e tenho evoluído muito. Isso vai ser um bônus para mim”, afirma Felício ao VinteUm. O interessante é que, nesses poucos minutos, ficou claro como seu repertório se expandiu, fazendo valer o esforço numa rotina que, dependendo da cabeça, pode ser tediosa e alienante. “Aqui estou jogando mais livre”, diz.

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Ao retornar ao Bulls, demorou um pouco para que uma nova oportunidade surgisse. Até que Joakim Noah teve sua temporada encerrada por lesão, Nikola Mirotic foi afastado por uma cirurgia mais complicada do que se imaginava para tratar de uma apendicite, e agora Taj Gibson vai jogando no sacrifício, com dores musculares na coxa. Felício passou a entrar em quadra com certa frequência, mas em um momento delicado: o time está fora da zona de classificação para os playoffs e com muitas questões de relacionamento entre atletas e comissão técnica para serem resolvidas.

Dependendo do desfecho da temporada, a equipe pode entrar em um processo de reformulação, dando adeus de uma só vez a um ídolo como Noah e a Pau Gasol. Enquanto ainda é cedo para aprofundar essa discussão, quieto ao seu modo, Felício vai aproveitando como pode sua experiência de NBA, mesmo que isso não seja tão evidente. Veja a entrevista:

21: Primeiro de tudo, parabéns pelo contrato com o Chicago. É um grande clube, com diversos jogadores de peso em sua posição, e ainda assim apostaram em você, garantindo seu vínculo pelo menos até o final da temporada. Como tem sido essa experiência? Até por esse excesso de pivôs qualificados, foi uma surpresa ainda maior por terem te procurado e te garantido no time, passo a passo? O quanto isso aumenta sua confiança, de ver seu potencial reconhecido? Felício: Acredito que, desde o primeiro momento, foi uma  surpresa, o Chicago ter me chamado para jogar, mas, depois disso, vim trabalhando, trabalhando, e nos jogos de pré-temporada procurei aproveitar os minutos que tive, dando o máximo. Estava sempre buscando melhorar meu jogo. Com certeza para mim foi uma grande surpresa, mas não é algo que veio do nada, mas veio com muito suor, e graças a Deus estou tendo minha oportunidade. Para mim está sendo uma experiência incrível. São vários jogadores de outro nível jogando na mesma posição. No momento eu procuro observar, entender a maneira de como eles veem a jogada e atuam. Isso está me ajudando muito, me dando bastante experiência, para, tomara, num futuro próximo, ter minha oportunidade de jogar tão bem como eles.

cristiano-felicio-big-bullsNo período pré-Draft, lembro de você citar Phoenix e San Antonio como dois clubes que haviam mostrado um certo interesse. E o Chicago? Havia indicado algo? Ou a proposta deles surgiu “de repente”?
Sabia de alguns times que tinham interesse, mas sempre confiei que uma hora minha chance ia chegar, e tenho sempre conversado com pessoas que vêm me ajudando, me informando sobre tudo. Essa aposta de Chicago em mim na summer league foi surpreendente e foi muito interessante o jeito que eles me trataram desde que cheguei. Foi sensacional, e, com certeza, até pela grandeza do Chicago, me motivou bastante para treinar bastante nesse período de espera, para ver se ficaria, ou não. Depois foi pegar essa experiência com os mais velhos, pois no começo não teria muito tempo de quadra, mesmo.

Sabemos que a temporada é uma correria. Viagens atrás de viagens, pelo país todo. O quanto de tempo sobra para você trabalhar com os técnicos? Você faz alguma sessão específica de fundamentos e jogadas com eles? Com quem costuma trabalhar mais?
Sem dúvida nenhuma a temporada é de muita correria, mas a gente procura se ajustar o máximo que pode durante as viagens. Por não estar jogando muito, nos dias entre uma partida e outra, procuro ir para a quadra e trabalhar muito meu jogo ofensivo. Sempre que posso, converso com os técnicos, e eles observam tudo e dizem o que posso fazer melhor, o que devo fazer mais. Trabalho bastante com Charlie Henry e Pete Myers, que estão sempre me ajudando.

O arremesso de três pontos vem aparecendo com mais frequência no seu repertório. Não era uma bola que você tentava tanto no Brasil. Em 2014-15, não há, na verdade, nenhuma tentativa de três computada em suas estatísticas do NBB. E a linha da NBA é mais distante da cesta ainda. Você já tinha a ideia e confiança de tentar esse tipo de chute, ou foi algo trabalhado pela comissão técnica de Chicago?
Sempre tive a confiança de chutar, que venho tentando durante a minha carreira, mas que está aparecendo mais agora. No Flamengo, como tínhamos muitos jogadores que jogavam, não tinha muita chance de tentar essa bola. Como um jogador 5, ficava mais dentro do garrafão, e isso fazia que as oportunidades não chegassem. No sub-22 eu tinha tentado algumas bolas. Aqui estou jogando mais livre, o jogo está ficando mais espaçoso, e eles tendem a treinar diversas posições, e venho treinando bastante essa bola. Agora é trabalhar cada vez mais para, quando precisar, se estiver numa situação de jogo para arremessar a bola, ter a confiança para chutar e converter.

felicio-offense-bulls

A passagem pela D-League: o quão difícil é chegar a um time do qual você não conhece praticamente ninguém? E chegar com o selo de ser um atleta de NBA, enquanto a maioria dos companheiros busca justamente essa condição? De todo modo, foi um sucesso sua experiência com o Canton Charge. Depois de tanto treino, ficou feliz de ver os resultados em prática?
Minha chegada ao Canton não foi tão difícil assim, eles  sempre me deixaram a vontade desde o início. Fui muito bem recebido. E o técnico (o espanhol Jordi Fernández, que trabalhou na diretoria do Cavs por quatro anos e também dirige a seleção espanhola sub-20) já conhecia alguns dos meus amigos, e isso me deixou muito mais confortável para poder jogar. Fiz grandes jogos e, com certeza, depois de muitos treinos com o time e das sessões individuais, fiquei muito feliz com o desempenho que tive.

Os Bulls agora passam por um momento difícil, com as lesões de Butler e Noah e a cirurgia do Mirotic. Pode ser um momento importante para você.
Com as lesões, venho tendo algum tempo de quadra, e estou procurando responder da melhor forma que posso, tentando ajudar o time a ganhar. Em alguns jogos tenho ido muito bem, em outros, nem tanto. É algo que acontece durante uma temporada de novato por aqui, e quero tirar o máximo disso. Quem sabe com a volta deles, ainda possa ganhar meu tempo de quadra para ajudar do jeito que posso?

Para a temporada que vem, Gasol e Noah serão agentes livres. Existe alguma perspectiva de mais tempo de quadra? Já houve alguma conversa com você nesse sentido, por parte da diretoria ou dos técnicos?
Sobre a temporada que vem não estou sabendo de nada ainda. Não me falaram nada. Estou procurando me focar o máximo nesta temporada para fazer meu máximo e, quem sabe, no ano que vem poder estar aqui novamente e poder ajudar o time ainda mais do que neste ano.

Para fechar, como foi o encontro com o Magnano? Pensando em seleção, mesmo que não esteja jogando muitos minutos, você acha que vai se apresentar como um jogador mais bem preparado para tentar uma vaga na equipe olímpica?
A conversa com o Magnano foi muito boa, falamos muito sobre a Olimpíada e meu tempo de quadra aqui. Ele viu que não tinha muito tempo de quadra, mas que estava tre inando bastante e melhorando. Com certeza, se for um dos convocados para a seleção, vou chegar muito melhor, mais bem preparado do que estava antes. Estou aprendendo com os melhores jogadores e tenho evoluído muito. Isso vai ser um bônus para mim.


Magnano se preocupa com panorama nebuloso para os brasileiros da NBA
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Giancarlo Giampietro

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Não é hora para pânico. Ainda. Pois as Olimpíadas serão disputadas em agosto, daqui a menos de seis meses. Mas que é alarmante o contexto da seleção brasileira masculina, não há dúvida.

As semanas da opressora temporada regular da NBA avançam, e o panorama da volumosa legião brasileira por lá segue nebuloso. Nenhum deles é protagonista – mas isso não vem de agora. O problema é o tempo de quadra consideravelmente reduzido, pelas mais diversas razões. Raulzinho é o único que tem mais de 20 minutos em média por partida (20,5), mas menos da metade do tempo regulamentar da liga.

O que leva Rubén Magnano a coçar a cabeça, ao retornar de seu giro pelos Estados Unidos, para falar tête-à-tête com a trupe. Em conversa com Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, citando Marcelinho Huertas e Anderson Varejão como “os que mais preocupam”. O argentino chegou a sugerir a eles que procurassem novos clubes, para que pudessem jogar mais, pensando na forma física no momento em que forem convocados para as Olimpíadas. O prazo para trocas na NBA se encerra no dia 18 de fevereiro, próxima quinta.

“Eles sabem disso. Vamos ver como fica esta história [de troca de times, que acontece anualmente no meio da temporada]. Seria muito bom se conseguissem algo. Dei o meu parecer e a minha ideia, tivemos uma conversa muito aberta. Mas não sou eu que vou fechar o negócio”, afirmou. “Todos sabem como funcionam as coisas na NBA.”

Magnano se encontrou com Splitter mais uma vez nos Estados Unidos. Diz que as visitas "não têm preço". Será? Com a CBB endividada, fica a dúvida sobre a real importância dessa visita. Houve um tempo em que a seleção estava distante dos atletas. Mas o constante contato nas últimas temporadas já deveria ter bastado para se criar uma cultura. Além do mais, era realmente necessário que o treinador conversasse com eles, pessoalmente, para falar sobre a importância de se jogar uma Olimpíada? E mais: do ponto de vista prático, fevereiro ainda é muito cedo para uma temporada da NBA. Um "sim" dito agora pode não ter valor nenhum daqui a quatro ou oito semanas, com muitos jogos importantes pela frente. Peguem a situação de Splitter como exemplo: se a necessidade de uma cirurgia se confirmar, muda tudo em relação ao bate-papo dos dois. São muitas variáveis em jogo. Enfim...

VALE A VISITA? – Magnano se encontrou com Splitter mais uma vez nos Estados Unidos. Diz que as visitas “não têm preço”. Será? Com a CBB endividada, fica a dúvida sobre a real importância dessa visita. Houve um tempo em que a seleção estava distante dos atletas. Mas o constante contato nas últimas temporadas já deveria ter bastado para se criar uma cultura. Além do mais, era realmente necessário que o treinador conversasse com eles, pessoalmente, para falar sobre a importância de se jogar uma Olimpíada? E mais: do ponto de vista prático, fevereiro ainda é muito cedo para uma temporada da NBA. Um “sim” dito agora pode não ter valor nenhum daqui a quatro ou oito semanas, com muitos jogos importantes pela frente. Peguem a situação de Splitter como exemplo: se a necessidade de uma cirurgia se confirmar, muda tudo em relação ao bate-papo dos dois. São muitas variáveis em jogo. Enfim…

Sim, o desejo de Magnano não conta quase nada perante o plano de cada uma das 30 franquias da liga americana, ou de Lakers e Cavaliers, no caso. Os rumores pelos bastidores indicam que o Cavs até vem sondando o quanto Varejão desperta de interesse do mercado. Mas o assunto não está pegando fogo.

De qualquer forma, na frase do técnico da seleção, acho que a ênfase deve ficar em “mais”: aqueles que mais preocupam. Não quer dizer que a situação dos demais brasileiros seja tranquila. Aliás, pelo contrário. As notícias envolvendo Tiago Splitter são ainda alarmantes. Como o Atlanta acaba de admitir, o catarinense pode passar por uma cirurgia no quadril. Nenê teve sua campanha sabotada, desta vez, por conta da panturrilha. Enquanto isso, em Toronto, Lucas Bebê voltou a sumir de quadra com o retorno de Jonas Valanciunas, enquanto Bruno Caboclo segue como um projeto de longo prazo, com a D-League servindo como laboratório. Cristiano Felício tampouco joga pelo Bulls.

E aí?

Bem, antes de julgar, é importante entender o que se passa com eles – pois já dá para ver por aí os comentários oportunistas – ou, digamos, bastante “desapegados aos fatos” –, prontos para desqualificar esses atletas, sem entender diferentes particularidades que os cercam. O fato de essa galera não estar jogando muito agora não significa de modo algum que não sirvam. Antes de abordar cada situação especificamente, há um ponto em comum que une Splitter, Varejão e Nenê e outro para Felício, Bebê e Caboclo.

O primeiro trio é composto por trintões, não podemos nos esquecer. Isso não quer dizer que estejam acabados. Eles têm muita lenha para queimar ainda. Só não são os mesmos jogadores de quatro ou cinco anos atrás, principalmente do ponto de vista atlético. Não há como brigar contra isso, e até um Kobe Bryant se mostra mortal.

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Já a segunda trinca está do outro lado do espectro: jovens talentos garimpados pelos scouts da liga, ainda em formação. O leitor mais crítico pode observar que, ao 23, Felício e Bebê são três anos mais velhos que calouros superprodutivos como Karl-Anthony Towns, Kristaps Porzingis e Jahil Okafor. Ou que têm a mesma idade de Kyrie Irving, Victor Oladipo, Harrison Barnes, Jordan Clarkson, Jared Sullinger, Valanciunas, entre outros. Mas é injusto comparar. Cada um caminha no seu ritmo. Bebê saiu cedo para a Europa, perdeu quase um ano entre negociações com Atlanta, problemas no joelho e o retorno ao Estudiantes. Na temporada passada, também só treinou. Felício passou pelo Oregon por um ano e, no Flamengo, mal tinha a bola para atacar. E por aí vai. São crus para o jogo em alto nível, mas ainda vistos como atletas de potencial por suas franquias.

“Temos jogadores jogando muito pouco e que são muito importantes. Pode ser que isso mude a partir de agora. Quero que os atletas cheguem com uma boa minutagem, e isso é o que mais preocupa. Não é tão fácil trocar o chip de uma hora para outra. Temos de colocar todos na mesma sintonia”, diz.

Contra o LAkers, na quarta, Varejão recebeu 19 minutos e somou oito pontos e seis rebotes, cometendo quatro faltas. Kevin Love saiu de quadra com uma contusão no ombro, e aí abriu-se espaço na rotação. Chance para os olheiros das outras equipes verem o que Anderson ainda tem para vender

Contra o Lakers, Varejão recebeu 19 minutos e somou oito pontos e seis rebotes, cometendo quatro faltas. Love saiu de quadra com uma contusão no ombro, e aí abriu-se espaço na rotação. Chance para os olheiros das outras equipes verem o que Anderson ainda tem para vender

Essas questões interferem na convocação do time de Magnano, ou deveriam interferir, se me permitem opinar. Lesões, falta de ritmo… Você não tem garantia de que, em 40 dias de treinos e testes, vai superar isso. Talvez o mais prudente, então, na hora de elaborar a lista, seja pensar em mais nomes, algo mais amplo. Em sua rotina extremamente exigente de treinos, o técnico tem de botar esses caras para correr, mas sem quebrá-los. Desenferrujar não é a única questão. Tem mais: você precisa de alternativas e de competição para definir os 12 olímpicos.

Do seu lado, contudo, o argentino não parece tão inclinado a isso. Não dá para esperar novidades. “Agora não vou fechar nomes ou possibilidades. Mas claro que hoje tenho bem definido um grupo de jogadores que posso chamar pensando não apenas na seleção do Brasil neste momento, mas também o que podem representar no futuro”, analisou.

É um dilema, sem dúvida. Convocar por currículo, por nome, ignorando temporada pouco produtiva, não deveria ser a regra. Mas, a essa altura, também pode soar como loucura advogar por mudanças drásticas na relação, pensando na experiência acumulada pelo núcleo usual de Magnano. Só é preciso respeitar as condições de jogo de cada um, do ponto de vista físico, médico.

Em sua entrevista, o treinador fala que quer o Brasil jogando sempre no mesmo horário durante as Olimpíadas, que já assegurou a presença de uma comitiva de familiares nas arquibancadas e um pouco mais sobre o planejamento até o #Rio2016. Pode conferir lá. Abaixo, vamos tentar entender o que se passa com os brasileiros da NBA:

Anderson Varejão
Vai chegar ao torneio olímpico beirando os 34 anos
Na temporada:
31 jogos, 10,0 minutos, 2,6 ppj e 2,9 rpj
Projeção por 36 min: 9,3 ppj, 10,6 rpj, 2,3 apj, 1,3 roubo
O capixaba está numa das rotações interiores mais congestionadas da NBA, em tempos em que os pivôs vão perdendo espaço para jogadores mais flexíveis. Quer dizer: não só tem de brigar por espaço com Kevin Love, Tristan Thompson e Timofey Mozgov, como verá LeBron James ocupar minutos por ali, assim como o veterano Richard Jefferson. Se você for pegar os números projetados, Anderson tem entregue, em tempo limitado, mais ou menos aquilo que apresentou durante toda a sua carreira. A dúvida que fica, mais séria, é sobre sua mobilidade, que sempre foi um de seus grandes diferenciais, assim como o instinto e a inteligência. O pivô se recuperou de uma cirurgia no tendão de Aquiles no ano passado, o que é um desafio (independentemente do que Kobe Bryant e Wesley Matthews façam em Los Angeles ou Dallas). Fica difícil. Conforme já dito, o Cavs faz sondagens de mercado para se há um negócio interessante pelo brasileiro. Caso fique em Cleveland, é grande a chance de que esteja envolvido com a liga até o início de junho, época das finais. http://www.basketball-reference.com/players/v/varejan01.html#per_minute::none

Leandrinho
Fez 33 anos em novembro passado
Na temporada:
39 jogos, 14,9 minutos 6,6 ppj, 1,4 apj, 1,4 rpj, 36,5% de 3pt
Projeção por 36 min: 15,9 ppj, 3,4 apj e 3,8 rpj

Leandro, e seu novo visual. Mas o papel no time é o mesmo do ano passado

Leandro, e seu novo visual. Mas o papel no time é o mesmo do ano passado

O ligeirinho está toda hora na TV e até os marcianos sabem que ele é uma peça complementar num dos melhores times da história do basquete, tendo a confiança dos treinadores e um respaldo imenso no vestiário. Não é o foco no ataque da segunda unidade, como em seu auge pelo Phoenix Suns, mas ainda põe fogo em quadra e se encaixa perfeitamente numa proposta intensa de jogo. A dúvida aqui é saber até quando vai se estender a jornada do Warriors. Ao que tudo indica, estarão jogando no início de junho, sendo que as Olimpíadas começam no dia 6 de agosto. A despeito da ascensão de Brandon Rush e de uma torção no ombro, ele tem hoje a mesma média de minutos da temporada passada. Seus números por 36 minutos também são muito semelhantes aos que produz desde que entrou na liga em 2003.

Marcelinho Huertas
Completará 33 anos em maio
Na temporada: 29 js, 11,4 mpj, 2,7 ppj, 2,4 apj, 1,1 turnover, 29,6% de 3 pts
Projeção por 36 minutos: 8,5 ppj, 7,7 apj, 1,4 roubo, 3,6 turnovers
O Lakers tem um elenco fraco. Está na cara isso. Mas as posições perimetrais contam com um certo sr. Bryant e dois garotos que são as grandes apostas para logo mais. E ainda tem o Lou Williams, fominha que só, mas um cestinha oportuno. O brasileiro foi contratado, em tese, para ajudar Russell e Clarkson e, eventualmente, colaborar com a organização da segunda unidade. Durante a pré-temporada, Byron Scott se empolgou com sua capacidade de liderança em quadra. Essa empolgação não durou muito… Mesmo com o time totalmente desfragmentado, o brasileiro vem sendo utilizado de maneira esporádica. (E, por favor, essa história de toco, roubo de bola, drible… Torcida pode gostar disso, mas, em discussões mais sérias, não cabe.)

Nenê é relevante para o Wizards. Mas está limitado pelo corpo

Nenê é relevante para o Wizards. Mas está limitado pelo corpo

Nenê
Completará 34 anos em setembro
Na temporada: 28 js, 18,8 mpj, 8,8 ppj, 4,4 rpj, 1,4 apj, 53,6% nos arremessos
Projeção por 36 minutos: 16 ppj, 8,3 rpj, 2,7 apj, 1,8 roubo e 1,0 toco
Como podemos ver, o são-carlense ainda segue muito eficiente, fazendo um pouco de tudo em quadra. Suas estatísticas, por 36 minutos, são praticamente idênticas ao que produziu na carreira. O grande problema é que o técnico Randy Wittman simplesmente não sabe quando pode contar com os seus serviços, e aqui acho que nem vale citar uma ou outra lesão específica – a panturrilha é o que mais incomoda neste campeonato. Nenê já enfrentou tantos problemas físicos nos últimos anos, que o baque pode ter um foco ou outro numa semana, mas o baque é geral. Por isso, tem seus minutos controlados e é poupado em ocasiões de duas partidas em duas noites. Não obstante, a ideia para o time neste ano era adotar uma formação mais baixa, com três alas ao redor de Marcin Gortat. Outro ponto: Nenê vai ser agente livre ao final do campeonato. A questão de seguro ficará ainda mais cara e complicada.

Raulzinho
Vai fazer 24 anos em maio
Na temporada: 51 js, 20,5 mpj, 6,2 ppj, 2,5 apj, 1,5 rpj, 39,6% de 3 pts
Projeção por 36 minutos: 10,9 ppj, 4,3 apj, 2,7 rpj, 1,5 roubo.
Vamos deixar Magnano falar um pouco a respeito? “Com certeza em seis anos que estou na seleção você nunca me escutou falar de titulares. Tem jogadores que abrem o jogo, outros que terminam. Eu não tenho nenhuma preocupação quanto a isso. A minha única preocupação é que o cara renda na hora do jogar. Tenho exemplos muito claros disso e um deles é o próprio Raulzinho, que contra a Argentina, na Copa do Mundo, entrou e teve ótima atuação”, afirmou o argentino, a Aleixo, quando questionado sobre um quinteto inicial.

Tudo isso para dizer que, sim, é surpreendente e bacana que Raul tenha conseguido o posto de titular em sua campanha de calouro, com um papel bem definido na rotação, fazendo a bola girar, abrindo para o chute. Mas o brasileiro, que vem se soltando nas últimas rodadas, também está ciente de que a criação de jogadas do Utah cabe, na verdade, a Gordon Hayward, Rodney Hood, Alec Burks (quando retornar) e até mesmo a Trey Burke, seu suplente, que foi para o banco para ganhar mais liberdade na segunda unidade. Mesmo tendo disputado duas partidas a menos, Burke recebeu mais de 100 minutos de jogo na temporada. E não podemos nos esquecer da lesão de Dante Exum.

Raul, o único titular. Mas por circunstâncias

Raul, o único titular. Mas por circunstâncias

Tiago Splitter
Fez 31 anos há pouco, em janeiro
Na temporada: 36 js, 16,1 mpj, 5,6 ppj, 3,3 rpj
Projeção por 36 minutos: 12,5 ppj, 7,5 rpj, 2,2 apj, 1,1 roubo e 1,1 toco
O início mais tímido de Splitter em Atlanta, com poucos minutos, poderia sugerir as dificuldades normais de adaptação a um novo time e elenco, mesmo que houvesse uma lacuna clara no garrafão. Em tese, o encaixe com Horford e Millsap era perfeito. Mas não era só isso. Ele perdeu sete jogos entre novembro e dezembro. Mais quatro entre dezembro e janeiro. Agora, em fevereiro, aí que a coisa ficou mais séria, com mais seis jogos fora. Finalmente, o clube revelou o que se passava com o catarinense, e a notícia não é boa: as dores no quadril são tão fortes que podem pedir até uma cirurgia. Ao final deste período prolongado de descanso e tratamento, será reavaliado. Mike Budenholzer e Magnano, claro, esperam que não seja necessário. Pois, limitado nos movimentos, o pivô ainda foi útil ao Hawks, causando ótimo impacto defensivo.

Caboclo, Bebê e Felício
Os mais inexperientes até agora não somaram nem 160 minutos de jogo. Desta cota passageira, Bebê é responsável por 85,3%, e, nas poucas chances que teve, foi bem. Desde a virada do ano, porém, só foi acionado sete vezes por Dwane Casey. Só contra Denver, em 1º de fevereiro, que ganhou 14 minutos, quando seus companheiros foram destroçados por Nikola Jokic no primeiro tempo, e o treinador se viu obrigado a buscar novas opções.

Para Caboclo, isso já representaria um recorde, ainda assim. A maior rodagem que o ala ganhou até agora foi, conforme o esperado, na D-League. Entre idas e vindas entre o Raptors A e o B, acumula 797 minutos em 24 partidas,com 32,5 por rodada. Médias de 13,6 pontos, 5,8 rebotes, 1,5 assistência e 1,8 toco, matando 34,4% de três pontos e apenas 38% dos arremessos no geral. É preciso cuidado na hora de avaliar esses números, já que as estatísticas da liga são infladas pela natureza peladeira de 95% de seus jogos. Além disso, no caso do ala brasileiro, é difícil encontrar o equilíbrio entre prepará-lo para um eventual papel reduzido que possa ter na NBA o quanto antes e, ao mesmo tempo, lhe dar liberdade para expandir seus talentos ofensivos, aprendendo com erros e acertos em quadra. Lucas, por seu lado, teve mais 179 minutos com a equipe de baixo em sete partidas.

Em Chicago, Felício entrou em um vestiário lotado de ótimos pivôs. Por isso, mais treinava do que qualquer outra coisa. Sem uma franquia na D-League, o Bulls demorou um pouco para enviá-lo. Quando a chance chegou, a revelação do Minas Tênis se esbaldou, mostrando que os treinos ao menos foram proveitosos. A lesão sofrida por Joakim Noah e a cirurgia complicada por que passou Nikola Mirotic deixam o time enfraquecido e a perigo. Será que, em um momento complicado, o brasileiro vai para quadra? Não é tão simples assim. Cameron Bairstow e Bobby Portis ainda estão na fila.


Com repertório expandido, Felício causa boa impressão geral pela D-League
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Giancarlo Giampietro

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Quando um time de NBA perde um pivô com todas as habilidades de Joakim Noah, tende a se enrascar. Mas não o Chicago Bulls. Para Fred Hoiberg, isso significa dar mais minutos para Taj Gibson mostrar seu confiável arremesso de média distância e cobrir terreno com movimentação lateral invejável. Pau Gasol também vai ganhar mais espaço para fazer das suas no garrafão, enquanto Nikola Mirotic tem mais chances para encontrar o rumo da cesta. Ah, e claro, para não falar do hiperprodutivo Bobby Portis, o calouro número 22 do Draft que parece ter sido escolhido, no mínimo, 12 posições mais cedo. Estamos falando já de quatro caras mais que competentes para compor uma linha de frente, e o quinto homem seria um grandalhão pouco ágil ou atlético, mas que faz parte da seleção australiana, é grande, forte, adora uma pancadaria e tem bons fundamentos para ajudar no andamento de um treino e tal.

Pensando nesse mundaréu de gente, não deixava de ser uma grata surpresa que o escritório gerenciado por John Paxson, operando sob as ordens do quase sempre avarento Jerry Reinsdorf, tenha, num primeiro momento, contratado Cristiano Felício e, agora, nesta semana, garantido seu contrato até o final a temporada. Lembremos que, numa decisão rara, o proprietário do clube já havia topado ultrapassar a temida “luxury tax” em US$ 5 milhões neste ano e ainda não viu problema em pagar mais US$ 500 mil para o pivô brasileiro.

Agora, ao vê-lo em ação nesta semana pelo Canton Charge, da D-League, jogando com desenvoltura, energia e repertório expandido, após ter disputado apenas duas partidas pela temporada regular, sem que tivesse entrado em quadra desde o dia 27 de novembro, o voto de confiança e a aposta no mineiro de Pouso Alegre parecem mais do que justificado. Parecem certeiros.

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Ok, não vamos julgar nada com base em duas partidas e 50 minutos pela liga de desenvolvimento. Mas é que, como brasileiros, temos uma vantagem sobre os americanos, né? Pelo menos em relação aos scouts que não tenham feito o dever de casa ao acompanhar o pivô que despontou em cenário internacional na mesma turma de Raulzinho e Lucas Bebê, o tendo se exibido para os olheiros mais atentos em 2011.

Não que os Bulls fossem os únicos antenados. Sei de dois clubes da Conferência Oeste que ao menos colocaram o nome de Felício em pauta para a composição de seus elencos de verão, mas nenhuma oferta foi feita. Um desses clubes esteve no Brasil para avaliar a garotada do Pinheiros e também inseriu seu nome no caderno de notas. Outro adorou o que viu de seus amistosos pelo Flamengo no giro de pré-temporada em 2014. Além disso, claro, pôde ser observado no adidas Eurocamp de Treviso no ano retrasado, seu bom desempenho não foi o suficiente para lhe valer uma vaga no Draft.

Como vemos agora, um ano e meio depois, não era o fim do mundo. Nesta semana, depois de cerca de um semestre de treinos com a comissão técnica de Hoiberg, pudemos ver um atleta com truques novos, enfrentando jogadores de NBA, ou que tentam voltar para lá, além de veteranos aspirantes e universitários recém-formados de sua idade, angariando mais fãs.

“Felício desenvolveu um arremesso de três pontos. Se ele puder sustentar isso, estamos falando de um cara que vai ficar muito tempo na liga”, avaliou um scout presente no ginásio do Santa Cruz Warriors, que recebe o chamado “Showcase” da D-League, com todos os clubes menores reunidos para uma série de partidas da temporada regular, agrupadas, em sequência.

Agressão
Um pouco do que Felício fez na primeira partida do Charge por estes jogos valem mais que uma exibição está aqui:

E aí já dá para reparar em como o arsenal do pivô revelado pelo Minas Tênis apresenta uma surpresinha ou outra. A começar pelos arremessos confiantes de longa distância, devidamente destacados pelo olheiro acima, e um diferencial que, sabemos bem, mais da metade da liga está buscando em seus grandalhões. Contra o Idaho Stampede, ele matou duas em quatro tentativas, sendo que a quarta foi desequilibrada, no estouro do cronômetro ofensivo. Os ataques a partir do perímetro também envolvem arremessos de média distância, do tipo que arriscava pelo Flamengo.

Mas há algo mais interessante aqui. Não é que o brasileiro tenha dado ‘apenas’ um ou dois passos para trás e expandido seu alcance no chute. Ele não parou por aí, literalmente, pois também vem apresentando movimentos calculados e inteligentes em direção ao garrafão quando não está em posição confortável para atacar o aro. Um lance no segundo tempo exibido no clipe acima mostra o jogador buscando a infiltração e finalizando de canhota com muita categoria. Da mesma forma que fez aqui na primeira partida pelo Charge contra o Oklahoma City Blue:

É uma bolaça, hein? Convenhamos. O que chama a atenção é novamente a conclusão com a mão trocada e a paciência que ele teve para iniciar a jogada, cortando da direita para a esquerda, sob controle. Alguém se lembra de ver uma ação semelhante por sua parte durante os títulos do Flamengo pelo NBB? Não me bate na telha, não. Felício esteve sempre em calmo no ataque, sem se precipitar para nada, tomando decisões corretas. Cometeu dois turnovers na primeira partida, mas não foi nada de alarmante. Em um deles, a arbitragem viu o uso indevido do braço na hora de se proteger e buscar a cesta cortando pelo fundo de quadra.

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Também não forçou a barra para buscar números e glória, mesmo que não jogasse há tempos. A diferença é que, comparando com Caboclo e Bebê, Felício ao menos teve muito mais tempo de quadra nas últimas duas temporadas pelo Flamengo, ainda que, em muitos momentos, a impressão era a de que ele pudesse ser muito mais utilizado, e seus lances pela D-League americana assim como a dominância na LDB brasileira comprovam isso. Felício pode ser muito mais do que um jogador de corta-luz e rebote no ataque. Sua habilidade como passador é bastante subestimada.

Em meia quadra:

Ou mesmo em transição:

Importante notar que o brasileiro nunca havia jogado com nenhum de seus companheiros antes. O Canton Charge é a filial do Cleveland Cavaliers, que curiosamente quebrou um galho para o rival de Divisão Central. Então na hora de fazer o corta-luz para seus armadores, abrir para o chute, ou mergulhar em direção ao garrafão, as coisas não saíam muito naturais. Falta química, claro. O entrosamento é mínimo. A despeito dessa limitação séria, se saiu bem. É preciso dizer também que ele tem bons jogadores ao seu redor, como os armadores Quinn Cook, campeão universitário por Duke e Coach K, e Jorge Gutiérrez, o mexicano ex-Bucks e Nets, o ala-pivô Nick Minnerath, versátil demais e que estaria ganhando uma boa grana na Europa, o ala John Holland, que joga por Porto Rico, e o ala CJ Wilcox, chutador cedido pelo Clippers. Ajuda ter gente qualificada ao lado, com instruções do técnico espanhol Jordi Fernandez, que trabalhava com academia Impact nos EUA.

Felício conquistou o respeito desses caras. Não basta ter o selo de NBA se não for para justificá-lo. Em termos de atitude, o brasileiro também se mostrou motivado, vibrando com as cestas dos parceiros. Essa atitude positiva se traduziu em energia em quadra, algo que nem sempre acontece no caso de enviados da liga de cima, que podem encarar a passagem pela D-League como um rebaixamento e algo de se envergonhar. Bobagem e egocentrismo exagerado, claro, em vez de se aproveitar a chance. Pois o pivô correu muito bem a quadra toda, com muita disposição e, contra a filial do Thunder, bateu seus adversários consistentemente. Veja esta sequência em que ele ganha o rebote num tapinha e já inicia o contra-ataque para concluí-lo de forma enfática:

Que tal a agressividade? Em detalhe:

Está aí outra abordagem que não era lá tão comum nos dias rubro-negros. Felício está buscando a cravada e o toco, está jogando acima do aro, e isso, no seu caso, vale muito mais como termômetro de intensidade e conforto em quadra do que pelo show:

Então temos isso hoje: um pivô que desenvolveu seu arremesso, sabe quando utilizá-lo, pode por a bola no chão e finalizar com autoridade ou categoria perto da cesta, podendo marcar 35 pontos em 50 minutos, com aproveitamento de 65,2% de quadra. Sai jogo daí, pelo menos no nível da D-League, por ora, aos 23 anos.

Agora, pensando em NBA, todas essas informações são bem relevantes, mas não necessariamente essenciais. Pois, num primeiro momento, tanto o Bulls como a concorrência não vai procurar neste showcase um jogador de referência, para carregar o ataque titular ou da segunda unidade. A prioridade dos scouts é encontrar peças complementares, para ajeitar a rotação. Que possam produzir algo no ataque, mas que, essencialmente, cuide bem das coisas do outro lado. “Rebotes, defesa, jogar duro e de forma inteligente: são essas as chaves para ele”, afirma outro scout ao blog.

Contenção
Contra o OKC B, Felício pegou apenas três rebotes em 27 minutos. Um problema? Não, pelo menos não para que tenha visto o jogo. Este é mais um caso de como se precisa muita calma na hora de falar sobre os números que sejam computados numa súmula de jogo. Foram várias as ocasiões em que o brasileiro simplesmente limpou terreno para que seus companheiros pudessem fazer a captura da bola. Como no vine abaixo, em que consegue conter o corpanzil de Dakari Johnson, um pivô muito promissor vindo da fornalha produtiva de John Calipari em Kentucky:

Felício é um bom reboteiro, com uma base forte nas pernas para guardar posição, excelentes mãos para fazer o controle e tino para se posicionar bem, compensando a impulsão reduzida quando tem os dois pés no chão. Número por número, já foram oito em 22 minutos contra o Stampede.

Na hora de proteger a cesta, uma característica pôde ser notada: Felício se saiu muito melhor contra pivôs mais pesados, que gostem de jogar perto da cesta, do que contra alas-pivôs ágeis e flexíveis que pudessem atacar usando o drible frontal, fora do garrafão. Abaixo, ele consegue segurar Dakari Johnson no tranco. Depois, vê Talib Zanna, mais baixo e leve, lhe contornar. Primeiro, a brecada:

Deu Cesta:

Em quadras brasileiras, Felício já mostrou mais agilidade em seu deslocamento lateral, sendo o tipo de pivô que consegue brecar armadores. Nessas últimas duas partidas, pareceu um pouco mais pesado e lento. Ou talvez seja apenas a relativização de suas habilidades atléticas diante de atletas de primeiro nível, tal como aconteceu em pelo menos três investidas de jogadores do Stampede, deixando o brasileiro para trás. É algo para se acompanhar. Pensando na NBA, é muito mais provável hoje que ele tenha que lidar com Zannas do que Johnsons. É algo que os scouts vão analisar com cuidado.

De toda forma, a impressão em geral no momento é de surpresa e otimismo. Em Chicago, num time que sonha com o título,  com tantos pivôs qualificados acima na rotação, Felício não vai ter muitas chances nesta temporada. Mal vai jogar. Ainda assim, teve seu contrato renovado, o que para ele, no câmbio de hoje, também rende uma gratificante bolada, além da satisfação de (primeiro) dever cumprido. Ao mesmo tempo, Paxson, o gerente geral Gar Norman e o técnico Fred Hoiberg sabem de que tipo de talento estão cuidando. Estão pensando mais longe, pedindo um investimento de Reinsdorf para o futuro. E, assim como aconteceu com Portis, para o restante da liga a capacidade de se seu outro pivô talentoso e novato não é mais segredo nenhum.


As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício
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Giancarlo Giampietro

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Caboclo e a envergadura interminável: ansiedade do jogador e dos olheiros

Numa citação gratuita do Kid Abelha, assim do nada, eu tinha um plano. Vou te contar: era viajar para Las Vegas neste mês de julho e me enfurnar em cassinos e baladas no ginásio Thomas & Mack center, da Universidade de Nevada-Las Vegas, para assistir a dezenas de peladas de basquete e, mais importante, entrar em contato com praticamente qualquer clube da NBA, grandes equipes da Europa, jornalistas, free-lancers e qualquer outro personagem disponível. No verão (setentrional), a Cidade do Pecado vira uma capital do mundo, com direito até mesmo a um draft da (mais rica do que você esperava) liga sul-coreana. Obviamente não deu certo a viagem, por motivos de bufunfa e as chamadas *oportunidades profissionais* cada vez mais escassas no jornalismo brasileiro, e vida que segue.

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Mas isso não quer dizer que o blog não tivesse olhos por lá. O Rafael Uehara já nos trouxe aqui uma avaliação sobre como andam Bruno Caboclo e Lucas Bebê em sua curva de desenvolvimento após um ano de treinos, tédio, treinos, escapulidas, poucos minutos em jogos oficiais e mais treinos em Toronto. Até que neste fim de semana entrei em contato com um scout veterano da NBA para colher mais impressões sobre os promissores brasileiros que tiveram uma semana importante na solidificação (ou não) como prospecto para a liga. Talento não falta para os dois jogadores do Raptors e para o pivô Cristiano Felício, recém-contratado pelo Chicago Bulls. Ainda assim, talento não faltava ao redor deles em Las Vegas também. No sentido de que a liga está abarrotada de jovens promessas de todos os cantos do mundo, cada uma sendo considerada bastante especial por jornalistas e torcedores de seu lugar de origem. Para sobreviver lá, você tem de evoluir. Do contrário, a fila anda, mesmo quando falamos de garotos de 20, 22 anos.

A boa notícia? Os três deixaram boas impressões, segundo o ponto de vista desse scout da Conferência Oeste, que esteve aqui no Brasil para assistir a jogos da LDB na temporada passada. Obviamente não posso identificá-lo, mas ele trabalha por seu clube há mais de oito anos e tem cargo de diretor. Veja abaixo o que ele escreveu em seu caderno de anotações sobre cada um deles.

Bruno Caboclo: “Ainda cru e talentoso, com muito potencial para ser explorado… A mecânica de arremesso para três pontos na linha da NBA parece boa, e ele arremessou com confiança… Por enquanto, é um arremessador sujeito a altos e baixos, precisando ainda trabalhar em sua consistência… Tem de continuar trabalhando para melhorar sua habilidade em por a bola no chão e criar para si e para os outros… Sólido na tabela, mas poderia ser ainda melhor… Melhorou em termos de força e jogo físico, mas ainda há o que fazer nessas áreas… Tem tamanho de NBA e ferramentas, mas precisa continuar desenvolvendo seu jogo de modo geral e melhorar principalmente em termos de consistência… Por exemplo, na defesa, suas ferramentas atléticas e físicas chamam ainda mais a atenção, mas o impacto que ele causa é inconsistente… A envergadura é um destaque, é só questão de aprender a usá-la em seu proveito: já poderia ser um cara muito melhor na hora de bloquear ou intimidar os arremessadores… Precisa aprender a jogar duro e permanecer engajado no jogo o tempo todo”.

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

(Um bônus: sobre Caboclo, também consegui conversar com um vice-presidente de uma franquia do Oeste, que bateu na mesma tecla sobre “esforço e energia em nível baixo” durante as partidas. Para este dirigente, Bruno pareceu também um pouco egoísta em quadra, olhando apenas para a cesta e para seus pontos. “Ele era uma página em branco para muita gente, e os primeiros capítulos não foram tão bons como esperava”, disse. Durante a conversa, todavia, o executivo amainou as críticas, lembrando o contexto em torno do caçula brasileiro. “Um ano sem jogar numa idade tão jovem, tendo ele já vindo de uma situação em que estava correndo atrás dos garotos de sua geração, não é fácil. Vai levar um pouco de tempo para ele se ajustar”, completou.

A combinação das notas acima e desse comentário nos dá um bom panorama sobre o ponto em que está Caboclo. Ele ainda é muito jovem e, realmente, o primeiro ano com o Raptors foi como se fosse o ensino primário. Se a franquia canadense acertou em seu planejamento, ainda está cedo para avaliar. Eles preferiram trabalhar com o ala em termos de porte físico e no aprendizado do inglês. A pergunta: não era possível fazer isso e mais um pouco? Esse dirigente acredita que sim. Mas Masai Ujiri estava de mãos atadas, sem ter um clube da D-League pelo qual o garoto pudesse jogar à vontade e sem poder exigir que Dwane Casey o usasse num time que pretendia ir longe nos playoffs. Foi exatamente esse o alerta que outro scout da NBA havia dado ao blog no ano passado, se vocês por acaso se recordam. Era mais um que havia se apaixonado pelos vídeos de Bruno no período pré-Draft, mas que enfatizava o quão era importante que ele fosse para a quadra para evoluir. O Raptors agora, enfim, tem sua própria filial. Vamos ver como eles se saem.)

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Lucas Bebê: “Ainda impressiona também por suas ferramentas físicas e potencial, mesmo aos 22 anos… Suas atuações também foram um pouco irregulares, com altos e baixos, mas seu desempenho nos rebotes e na proteção da cesta se destacaram… De um modo geral, ele tem um jogo que pende para a finesse, tendo dificuldade ao enfrentar um estilo mais físico… Pode correr a quadra e tem mobilidade impressionante, podendo perseguir adversários em busca de tocos… Acaba sendo mais efetivo em movimento em direção ao garrafão… Em termos de jogo de costas para a cesta, existe uma carência clara… Por isso, dependia que os companheiros criassem oportunidades para ele… Ainda precisa ficar mais forte (mas não mais pesado). É algo que o ajudaria a se estabelecer no jogo interior… Mais um caso de atleta que precisa manter a concentração e a intensidade durante uma partida”.

(Aqui, uma reflexão da minha parte: durante a conversa com o executivo mencionado acima, argumentei que um ano inteiro praticamente fora de quadra, em termos de jogos para valer, pode pedir um tempo de “reabilitação” para os atletas, não? Os atletas muito provavelmente vão ficar ansiosos, querendo mostrar qualquer coisa em que tenham trabalhado durante os longos treinos. Daí a fixação de Bruno pelos arremessos em Vegas? Além disso, eles não têm mais ritmo de jogo algum. Mesmo que as ligas de verão não apresentem de modo algum um padrão, uma cadência que lembre a de um jogo de NBA de verdade, ainda estamos falando de partidas com cronômetro, arbitragem, adversários empenhados do outro lado e uma estrutura mínima de cinco contra cinco, bem diferente de rachões ou de um treino de mano a mano contra James Johnson. Daí a inconsistência? Não saber exatamente como dosar a energia em quadra? Pode ser, e melhor que as respostas sejam nessa linha. Como disse: há dezenas e dezenas de jogadores querendo uma vaga na linha. Vamos conferir isso com atenção durante a temporada da D-League.)

Felício não teve muito tempo como reserva de Bobby Portis e Cameron Bairstow

Felício não teve muito tempo como reserva de Bobby Portis e Cameron Bairstow

Cristiano Felício: “Teve minutos limitados, mas tem bom tamanho e é forte… Inicialmente, o jogo pareceu um pouco rápido demais para ele, mas o pivô se ajustou de modo admirável e conseguiu jogar de acordo com seus principais recursos… Ele é um reboteiro muito bom em um espaço, quando posicionado… Correu a quadra toda com muita energia… Não teve muitas oportunidades para mostrar seu jogo de garrafão, mas foi capaz de finalizar quando acionado no jogo interno em passes próximos de companheiros… Nesse tempo limitado, também mostrou bons sinais de habilidade para proteger a cesta e bloquear os adversários, embora nota-se que ele usa mais a sua força para combater lá dentro do que sua capacidade atlética”.

 (Sobre Felício, estou preparando um artigo maior, recuperando sua última temporada pelo Flamengo. Tem um talento enorme, e espero que os treinadores em Chicago o encarem da mesma forma. Acredito que ele pode ser muito mais do que o pivô do importante, mas básico pacote de “corta-luz + rebote + retaguarda defensiva + uma ou outra enterrada e bandeja”.)

Davi Rossetto: longe da vitrine, o amadurecimento e 100% na LDB
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Giancarlo Giampietro

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Quando se viu obrigado a deixar uma vitrine como o Pinheiros para embarcar em um projeto novo como o do Basquete Cearense, muitos poderiam ter olhado para o armador Davi Rossetto e apontado uma baita retrocesso. Ainda mais para um jogador com passagem pelas seleções brasileiras de base e tal.

Pois a mudança não poderia ter encaminhado o jovem paulistano em melhor direção. Longe da casa dos pais pela primeira vez, ele admite que, em Fortaleza, teve um ganho de maturidade que influenciou diretamente na estabilização de sua carreira. “Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra”, diz ao VinteUm.

Agora, de pouco adiantaria esse crescimento fora de quadra se, aos 22 anos, ainda não lhe fosse dada a oportunidade de bater bola com regularidade em jogos oficiais. O que, claramente, é fato raro no NBB 7. Atletas de 23 anos ou menos, ainda em formação, dificilmente veem a luz dos ginásios.

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O clube cearense, nesta edição, se tornou uma das exceções. Só não dá para saber o quanto isso tem a ver com a perda de seu principal patrocinador na virada de temporada, pedindo mão-de-obra mais barata, ou o se o uso mais frequente das revelações já fazia realmente parte do plano de ação.

“Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa”, afirma o armador.

Mais minutos para passar a bola

Mais minutos para passar a bola

Se for para falar do rendimento atual, não há como negar que, com garotos e menos medalhões, o time caiu de modo significativo na tabela. Hoje, ainda tenta entrar na zona de classificação para os playoffs, disputando a 12ª posição com o Macaé, com sete vitórias em 25 jogos (aproveitamento de 28%). Na sexta edição, terminara a temporada regular em nono, com 46,9%. De qualquer forma, as dores enfrentadas nesta temporada podem render frutos mais adiante. Na Liga de Desenvolvimento deste ano, esse núcleo jovem vem arrebentando. Foram 23 vitórias em 23 jogos, para um inédito aproveitamento de 100%. Espanto geral? Não para Davi e seus companheiros: “Vou ser bem sincero: não surpreende”, diz.

Um ponto precisa ser ponderado, é verdade: a média de idade do Basquete Cearense da LDB é bem mais elevada, por exemplo, que a do vice-líder Pinheiros, que venceu 20 partidas. Dos dez jogadores mais utilizados, apenas dois estão abaixo dos 20 anos: o armador Alberto e o pivô Leal. O Pinheiros tem apenas três atletas acima dos 20 em sua rotação regular, estando o trio entre os quatro que menos minutos recebem nesse grupo.

Essa diferença de idade faz diferença, não há como negar. Ainda mais quando se vê a equipe de Fortaleza ao vivo, praticando estilo físico de basquete, marcando com muita pegada para sustentar a melhor defesa do campeonato. Os rapazes sofrem em média apenas 56,0 pontos por rodada.

Victor de Gusmão, Erick Camilo e Davi: base 'experiente' na LDB

Victor Gusmão, Erick Camilo e Davi: base ‘experiente’ na LDB

Agora, isso não é o suficiente para explicar as 23 vitórias consecutivas, né? O técnico Espiga também conta com um entrosamento de sua base, com uma química excelente, sabendo administrar bem os minutos de todos. E tem em Davi um grande assistente na hora de botar o plano em prática.

O armador já vinha fazendo uma boa temporada divisão principal do basquete nacional, em prova clara de sua evolução. De jogador que recebia apenas 8 minutos em média há duas temporadas do NBB, fica em quadra por aproximadamente 32 minutos nesta edição. Melhor: ele vem correspondendo, com 13,1 pontos, 4,7 assistências e 1,2 roubo de bola, todas as melhores marcas de sua carreira.

Na LDB, soma 12,5 pontos, 4,3 assistências, 5,6 rebotes e 1,3 roubo – curiosamente, em menos minutos (27,1). Mas sua influência vai muito além dos números. O que mais chama a atenção em seu jogo: a agressividade na defesa – tem muita velocidade no deslocamento lateral, com excelente preparo físico, colando nos adversários. Ele é a cara do time.

Além disso, consegue controlar o ritmo da equipe no ataque de modo simples e eficiente, característica indispensável para qualquer armador, servindo ao já experiente pivô Erick Camilo, ex-São José e Paulistano, do explosivo ala-armador Victor Gusmão, entre outros. Com esse conjunto e um rendimento impecável até o momento, o Basquete Cearense entra como favorito na segunda fase da LDB, que começa nesta segunda-feira, no Pinheiros, com os oito melhores clubes da competição divididos em dois quadrangulares. Confira a tabela.

Curtindo essa campanha especial, mas sabendo que, sendo jovem, não tem nada garantido pela frente, ainda mais num basquete brasileiro que já maltratou muitas de suas promessas, Davi falou ao blog, esbanjando maturidade:

21: Surpreende chegar ao final da primeira fase de maneira invicta?
Davi Rossetto:
Vou ser bem sincero: não surpreende. No ano passado, a gente teve uma campanha muito boa para um time que tinha acabado de se formar. Treinamos três meses e perdemos quatro ou cinco jogos na fase de classificação. Com a reestruturação do projeto, sabíamos que a ‘minutagem’ no adulto mudaria, saindo um pouco de coadjuvante para protagonista ia ajudar e render frutos aqui. Óbvio que, até por a temporada ser longa, sendo um campeonato com semanas de jogos consecutivos, talvez não esperasse que fosse invicto, mas acreditávamos que poderíamos fazer uma boa campanha e terminar esta fase na primeira posição. Era para isso que a gente vinha trabalhando, então não chega a ser muito surpreendente.

Basquete 100% Cearense

Basquete 100% Cearense

Sobre os minutos no adulto, queria abordar justamente isso com você, que tem o privilégio de desfrutar de um bom tempo de quadra no NBB, algo muito raro no Brasil.
É verdade. O Bial tem como característica gostar de revelar jogadores, dar oportunidade. Nosso time sub-22 é muito aguerrido e enfrenta desafios. Aí acho que a gente acabou conquistando-o. Nesse momento de reestruturação do projeto, com o patrocinador master saindo, a gente soube aproveitar bem o momento. Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa.

Quando você foi para o clube cearense, já tinha em seu horizonte esses minutos a mais? Era algo que vislumbrava?
Claro, a minha ideia quando saí do Pinheiros era ter mais tempo. Era nisso que pensava. Mas, por incompetência minha, não produzi na minha primeira temporada e tive média de apenas cinco minutos. Aos poucos, fui entendendo melhor a minha função, trabalhando mais forte, com mais seriedade. Na segunda, tive 20 minutos e agora já estou próximo de 34. Sei que não é uma coisa habitual, ficar 34 minutos em média, mas é uma coisa que vou levar para a minha carreira inteira. Eu tinha aprimorado várias partes do meu jogo, mas talvez não soubesse bem a hora de usar isso. E essa minutagem maior, atuar com jogadores experientes te traz isso. Tem sido muito importante para minha evolução e maturidade.

Davi Rossetto, Basquete CearenseComo é seu dia-a-dia de treinos?
A gente não tem separação do sub-22 com o adulto. O treino é o mesmo, tudo junto. Normalmente temos um período de treino físico, de academia, e depois um treinamento na quadra. De tarde, vamos para mais um trabalho técnico e tático. Basicamente isso: o trabalho na academia e dois treinamentos em quadra.

Existem exercícios específicos de fundamento para vocês?
Bastante. Separamos os alas e armadores dos pivôs, com a comissão técnica passando para nós esses exercícios para nos aprimorarmos, que vão transferir muito para nós. Tem vezes que é uma sessão extra, com aqueles que tenham jogado menos, ou para aquele jogador que tenha uma deficiência mais específica. Mas, em geral, é o treino que fazemos pela manhã, depois do treinamento físico. De tarde, com o grupo inteiro, nos concentramos mais em questões estratégicas.

Sabemos que no Brasil a transição da base para o profissional pode ser um momento delicado, com vários jogadores tomando rumos diferentes. Como foi esse período para você? Chegou a pensar em parar, ou estava sempre seguro de que era o basquete que queria?
Quando fiz 18 anos, prestei vestibular e comecei a cursar minha faculdade, na EFES, Escola de Educação Física e Esporte da USP. Entrei em 2010, que foi um ano que peguei bastante seleção. Viajei muito, tem concentração, e não consegui ter continuidade nos estudos, até porque a faculdade era integral. Ali tive a dimensão de que não, que era o basquete que queria, que iria até o final. Se não estivesse com a cabeça tão voltada para o basquete, desistiria, sim. Não faria uma coisa meia boca. Não tentaria levar um ou outro nas coxas, como o pessoal fala. Para onde fosse voltar minha atenção, seria 100%. Escolhi o basquete e até hoje não me arrependi mais. Sou jovem, claro, e não descarto que possa me arrepender (risos).

Bom, vai caminhando bem, mesmo. Está satisfeito com a decisão. Embora satisfeito provavelmente não seja a melhor palavra…
Estou feliz. Satisfeito acho que a gente nunca pode sentir. Tem aquela frase de que o animal satisfeito acaba dormindo. O dia em que estiver satisfeito, vou dormir, e alguém vai me passar. Estou feliz e acredito que estou no caminho certo.

Davi Rossetto, CBB, base, Mundial, Sub-19Da sua geração da seleção, qual o panorama agora?
Bom, o Lucas Bebê está na NBA, o Raulzinho foi draftado. Tem o Vezaro, agora em Bauru, que acabou torcendo o joelho. O Felício no Flamengo. Eu e o Taddei aqui. O Gabriel Aguirre está nos Estados Unidos. Leo Meindl em Franca, Bruno no Minas… A geração continua e acho muito promissora ainda. Ficamos em nono no Mundial e pretendíamos mais. Acreditávamos em mais.

Tivemos o exemplo da geração do Mundial Sub-19 de 2007, que tinha o Paulão como um dos destaques, que teve um desfecho bem diferente, com muita gente parando cedo. Daquela para a sua, se passaram cinco, seis anos. Para você, a sobrevivência da sua turma se deve a uma qualidade individual das peças ou a mudanças promovidas no ambiente dos clubes brasileiros?
Acredito que o basquete brasileiro, com a criação da liga de desenvolvimento, dá mais oportunidades para que o jogador tenha uma sequência, tenha mais tempo para fazer a transição. Da nossa geração, por mais que estejam todos jogando, confesso que vejo muitos ainda nessa fase de transição. O Bebê, mesmo, está na NBA, mas ainda está nessa condição. Aquela geração de 2007… Não vou dizer que eram menos talentosos, não. Era uma boa geração, mas que, quando chegou aos 19 anos, ou era profissional, ou tinha de ir para um time mais fraco, uma liga mais fraco, e corriam o risco de desmotivar cedo e parar. Agora temos mais quadra, mais visibilidade e podemos adquirir mais maturidade, e não só no basquete. O que é importante, porque a cabeça de um cara de 19 anos não é nada parecida com a daquele que tem 22. Com 22, você passa mais segurança para quem pode contratá-lo. E a LNB foi fantástica na criação dessa liga. O NBB mais forte também colabora muito para isso, claro. Para que não fiquemos na dependência de uma só geração de jogadores para a seleção e permite que essa troca de faixas seja mais constante.

Se formos comparar você, hoje, ainda muito jovem, mas com maiores responsabilidades no NBB com o garoto que saiu da base do Pinheiros, o crescimento maior é nessa maturidade ou no aspecto técnico? Ou não dá para separar uma coisa da outra?
Na verdade não dá para separar. Um tem influência direta sobre o outro. Mas vou dizer que o que mais me ajudou para mim foi o amadurecimento, mesmo. Mais do que treinar, treinar, treinar, ou jogar, jogar, jogar. Foi refletir, pensar com uma outra cabeça. Sair da casa dos meus pais pela primeira vez, para me deparar com outras situações. Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra. Por isso não dá para separar. Mas, se tiver de destacar, falo do amadurecimento fora de quadra.

Para fechar: o Pinheiros, sabemos, virou uma vitrine não só para o basquete nacional como internacional. Teve o caso do Bruno Caboclo no ano passado, e agora os olheiros de fora estão vindo ver o Georginho, o Lucas. No seu caso, você acabou tendo de sair desse clube. Para muitos, poderia soar como um grande retrocesso. Esse tipo de coisa passava pela sua cabeça? Pois, agora, parece não ter nenhum remorso por essa decisão.
Olha, não sei nem se vai ficar bem eu falar isso, mas o Bruno Caboclo é um menino que hoje está na NBA, mas nem jogava no Pinheiros. Para mim, sempre tive claro que não iria para a NBA. Sabia que, se não tivesse a minutagem, não teria como. Para esses meninos, vejo um potencial fantástico e um trabalho de desenvolvimento muito bem feito. Mas eles não jogam. Tem dias que o Lucas não entra. O Georginho também, estando para ir para a NBA. Na minha reflexão, para ter uma carreira internacional, a ideia era ganhar minutos. No Basquete Cearense, via e vejo tudo o que precisava. O estafe estava comprometido em me fazer melhorar. Teve o desafio de mudar de cidade, algo que me exigia coragem, mas que deveria fazer. Quando converso com o pessoal lá, nunca ouvi que tenha feito uma burrada. Só me parabenizam. Passados três anos, foi o melhor para mim. Cada caso é um caso, mas, no meu, eu tinha de jogar. E veio o Basquete Cearense. Hoje eu me confundo… Olha, parece até o Bial falando (risos). Mas hoje me confundo com o Basquete Cearense. Vejo esses meninos do meu time, penso em defendê-los. Parei de pensar só no Davi e comecei a gostar de defender uma causa, o nosso projeto.