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Arquivo : Cristiano Felício

Na turnê do Flamengo, potencial de Felício atrai a NBA
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Giancarlo Giampietro

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O Flamengo apanhou do Memphis Grizzlies, mas, em geral, conseguiu competir durante sua viagem pelos Estados Unidos. Enquanto teve pernas, o time carioca jogou de igual para igual com adversários muito mais fortes, ainda que em início, mesmo, de temporada. De qualquer forma, serviu como boa medição para o talento que está em quadra vestido de rubro-negro. Caras como Marquinhos e o veterano Walter Herrmann vão jogar em qualquer lugar, contra qualquer um.

Do ponto de vista dos clubes da NBA e deste blogueiro, porém, o mais interessante foi observar como um prospecto como Cristiano Felício segurou a bronca em jogos contra Phoenix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies, ratificando seu potencial. Aos 22 anos, o jovem pivô ainda tem muito o que desenvolver, mas já possui ferramentas físicas e algumas habilidades para se virar entre gente grande – em todos os sentidos.

“Felício mostrou um tanto de habilidade e potencial nesses jogos: ele se virou, na maior parte do tempo, contra caras de NBA”, afirmou um scout da liga norte-americana ao blog, cujo nome e time ele pediu para não serem identificados. Posso apenas dizer que se trata de um clube de ponta, acostumado a jogar os playoffs, e que estive em contato com esse olheiro durante toda a estadia flamenguista no quintal do Tio Sam. “Sua força, sua habilidade nos rebotes e seu tamanho são interessantes.”

Foi surpreendente até: se formos considerar os três amistosos, talvez Felício tenha sido o atleta mais consistente do Fla. Quem esperava por isso? Talvez nem mesmo sua comissão técnica, que achou por bem investir na contratação do americano Derrick Caracter antes da Copa Intercontinental, crendo ter carências na sua rotação de garrafão. No final, aconteceu o que muitos esperavam: Caracter foi um fiasco. Reflexo de uma contratação feita de longe, às escuras e às pressas. Resta saber apenas a bolada que o veterano ganhou por um jogo sólido contra o Maccabi Tel Aviv e quatro partidas totalmente inócuas: em 21 minutos nos Estados Unidos, ele zerou em pontos e pegou apenas um rebote.

Felício, por outro lado, foi bastante produtivo:

Flamengo, Felício, Estatísticas, amistosos, NBANenhum duplo-duplo. Nenhuma vez acima dos dez pontos? Sim, nada disso. Mas em nenhuma ocasião ele jogou mais que a metade da partida tabém. Os minutos foram reduzidos – média de 19 por jornada. No restante, acumulou 7,6 pontos, 6,7 rebotes, 2,3 roubos de bola, 60% nos arremessos e 2,3 turnovers. Se a gente fosse fazer uma projeção por 36 minutos de atuação, se mantivesse esse rendimento, subiria para 14,5 pontos, 12,6 rebotes, 4,4 roubos e 4,4 turnovers.

Agora os asteriscos: isso não quer dizer, de modo algum, que o pivô brasileiro teria números como esse na liga americana. Afinal, ele enfrentou rivais em ritmo de preparação, e, além disso, nem sempre ele duelou com aqueles que os times têm de melhor (contra o Memphis, por exemplo, ele duelou por bastante tempo com Kosta Koufos, um bom pivô, mas nenhum Marc Gasol). Outra: ele nem mesmo conseguiria ficar 36 minutos em quadra, pois, de acordo com esse mesmo cálculo, chegaria a 7,5 faltas. O que não pode, né?

A brincadeira com os números, no final, só serve para sublinhar o quanto o garoto aprontou por lá. Mais que as estatísticas, o que contou mais no seu caso foi a naturalidade ao encarar um desafio desses, meses depois de ser ignorado no Draft, algo que hoje parece ter sido um erro. A julgar pelo que o atleta entregou nos últimos dias, somado ao bom Eurocamp que havia cumprido em junho, uma escolha de segunda rodada teria sido bem gasta. “Ele ainda não é um produto acabado, mas tem potencial para jogar na NBA um pouco mais adiante”, afirma o olheiro, que concorda com a tese. “Há o que crescer ofensivamente, mas no bom sentido: você percebe que ele tem para onde crescer.”

A LDB já não é mais para Felício

Os amistosos deixam evidentes esses pontos que precisam ser trabalhados de modo prioritário, até para que ele possa ganhar mais tempo de quadra. Primeiro, as faltas, mesmo: de tão ágil para alguém de seu tamanho, também com mãos velozes – reparem no número elevado de roubadas –, o jogador se precipitou em muitos lances ao tentar dar o bote para cima de alas e armadores, provocando contato desnecessário.

Contra o Memphis, nesta última sexta, houve um lance exemplar no segundo tempo nesse sentido: Quincy Pondexter iria sair com a bola no fundo de quadra e, depois de um ataque frustrado, o pivô saiu para o combate ali, mesmo. Embora tenha bloqueado a saída pela direita do ala do Grizzlies, com excepcional movimentação lateral, acabou esticando o bração e cometeu a infração óbvia e desnecessária.

Muitas das faltas marcadas contra o pivô brasileiro também aconteceram no ataque, com bloqueios em movimento, o que ajuda a entender seu número elevado de desperdícios de posse – uma vez que tem uma habilidade subestimada para o passe, tanto de frente como de costas para a cesta, esperando pacientemente a aproximação de um Marquinhos na zona morta para um tiro de três, cruzando a bola da lateral do garrafão para a outra quina, no perímetro, para um chute livre… Ele pode ser envolvido no ataque de diversas maneiras.

Para esse dado também vale um asterisco do asterisco, e nessa, estou com o Zé Boquinha: se não for o caso de um corta-luz completamente atabalhoado, apressado, destrambelhado, a arbitragem deveria maneirar nesse tipo de marcação. Independentemente do jogador e da competição envolvidos. Pois estamos falando daquele tipo de falta que, no basquete, se equivale ao puxão na grande área do futebol: você nunca sabe o que o homem do apito quer ver e marcar.

Esses são pontos que podem ser trabalhados com tranquilidade. Detalhes, que podem ser elucidados já com um bom estudo de vídeo. Outro item que consta na lista e que pede maior carga horária em quadra são os treinos para desenvolver seus movimentos individuais no ataque. De frente para a cesta, Felício, por ora, só se aventura nos tiros de média distância. É praticamente impossível vê-lo colocar a bola no chão e partir para uma bandeja. Perto da cesta, seus pontos acontecem basicamente em cortes de pick-and-roll sem a bola e em rebotes ofensivos. Com a velocidade e as mãos que têm, dá para fazer muito mais.

Num time de ponta como o Flamengo, que vai entrar em todo campeonato com um só objetivo de título, talvez não se encontre o cenário mais adequado para o refinamento dos atletas mais jovens, para que eles ganhem cancha. A LDB está aí para isso, é verdade. Para um talento como Felício, contudo, já não rola – chega a ser até covardia colocá-lo nesse tipo de competição. Ele precisa de mais, muito mais depois do que fez nos Estados Unidos. No retorno para a casa, os rubro-negros estão empolgados, com muitas histórias para contar e experiências para assimilar. Entre tantos assuntos, não dá para fugir do potencial de Felício. Em seu canto, espera-se que o pivô e aqueles que estão ao se redor também tenham se dado conta disso. A NBA já reparou, sim.


Flamengo perde, mas mostra que não é café-com-leite
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Giancarlo Giampietro

Laprovíttola x Thomas: argentino nem se importou com rivais mais badalados (e bem mais ricos)

Laprovíttola x Thomas: argentino nem se importou com rivais mais badalados (e bem mais ricos)

Os aspectos que valem mais na turnê rubro-negra pelos Estados Unidos dizem respeito realmente ao que o clube pode ganhar em outras esferas, fora de quadra. Seja do ponto de vista logístico, estratégico e até – por que não? – comercial.

Mas, para quem acabou de conquistar a Copa Intercontinental, vem de um bicampeonato no NBB e tem também o troféu de melhor da América (Latina), o jogo também até que é importante. O Flamengo não pode ser visto como café-com-leite. Foi o que o primeiro time latino-americano a competir no maior palco da modalidade mostrou nesta quarta-feira, ao fazer uma partida dura com o Phoenix Suns, embora perdendo 100 a 88.

Alguma ressalvas, claro, precisam ser colocadas logo de cara: este foi apenas o primeiro jogo do Suns em sua pré-temporada. Eles estavam treinando pesado a mais de 2 mil metros de altitude até o final de semana e em diversos momentos dava para notar seus atletas pareceram um pouco pregados em quadra – os efeitos positivos da correria em Flagstaff devem ser sentidos mais adiante, ou assim espera, ao menos, sua comissão técnica. Além disso, o ginásio nem encheu, e tal. Para eles, esta é apenas uma fase de ajustes e de desenferrujar. Não entra para os registros oficiais.

Meyinsse fez de Miles Plumlee gato e sapato. Pivô do Fla tem bola para jogar em alto nível

JErome Meyinsse fez de Miles Plumlee gato e sapato. Muito forte, atlético e determinado, pivô do Fla tem bola para jogar em alto nível. Grande sacada de mercado dos rubro-negros

Posto tudo isso, ninguém vai jogar para perder – Gregg Popovich não infartou, mas também não ficou só de sorrisos em sua entrevista depois de a máquina chamada Spurs ser derrotada pelo modesto Alba Berlim, um pouco mais cedo, na capital alemã. Para o Suns, ainda contava o orgulho de jogar em casa, mesmo que vazia, contra um time ‘inexpressivo’ para o mercado de lá.

(Antes que os rubro-negros se enfureçam: os caras nem bem sabem o que é Barcelona ou Real Madrid no basquete – o problema é de ignorância norte-americana, e, não, de irrelevância flamenguista, tá?)

“Foi um jogo estranho… Não sabíamos muito sobre o Flamengo. Então foi um pouco difícil”, afirmou Goran Dragic, que, convenhamos, não jogou nada (6 pontos em 25 minutos, 2-9 de quadra, três turnovers e uma assistência). O astro esloveno foi dos que aparentou maior cansaço e falta de sintonia em quadra, errando até mesmo bandeja livre no contra-ataque.

Os treinadores e atletas do Suns podem ter estudado um minutinho ou outro do time brasileiro, mas certamente não conheciam em detalhe, por exemplo, os truques que um Nícolas Laprovíttola pode apresentar. O argentino pode ter forçado muitos chutes de três pontos (1-5, com péssimas escolhas) e algumas infiltrações sem destino, mas mostrou que tem talento para competir no mais alto nível, entrando no garrafão, cavando diversas faltas e tudo o mais, sem se intimidar com um pitbull como Eric Bledsoe (somou 13 pontos, sendo 10 deles em lances livres, e deu 12 assistências).

O armador não estava sozinho nesse sentido. Vários atletas flamenguistas mostraram categoria em diversos momentos da partida, quebrando alguns tabus a respeito de suas qualidades. Pesa para o elenco rubro-negro também seu entrosamento, sua química, sua continuidade são fatores que fazem diferença em qualquer esporte, mas que no basquete são ainda mais importantes. São essenciais.

Do ponto de vista individual, todavia, nada foi mais instigante do que ver o jovem Cristiano Felício causando impacto no garrafão, levando a melhor sobre um desastrado Miles Plumlee e dando um trabalho danado para os irmãos Morris. Fisicamente, no mínimo, está pronto. A técnica (sempre) pode melhorar, mas já está claro, no pouco tempo que recebe, que pode influenciar um jogo para agora – e não apenas num futuro hipotético baseado em seu potencial evidente.

Para constar: em 15 minutos, ele teve o maior saldo de pontos (o plus/minus) do Flamengo, com +13. Foram oito pontos e oito rebotes para o pivô. Ele realmente já pede um voto de confiança maior de Neto e precisa jogar, e mais. O rubro-negro só tem a ganhar com isso, e o basquete brasileiro, em geral, também agradeceria.

Sempre mais admirado fora do país do que por aqui, Marcelinho anotou 16 pontos em sua estreia numa quadra de NBA, contra um Dragic sonolento-quase-parando. Mas cometeu cinco dos 26 turnovers do Fla, fazendo muita firula na hora de passar a bola. No total, o jogo teve 47 desperdícios de posse de bola. Isso é pré-temporada

Sempre mais admirado fora do país do que por aqui, Marcelinho anotou 16 pontos em sua estreia numa quadra de NBA, contra um Dragic sonolento-quase-parando. Mas cometeu cinco dos 26 turnovers do Fla, fazendo muita firula na hora de passar a bola. No total, o jogo teve 47 desperdícios de posse de bola. Isso é pré-temporada, não podemos esquecer

Enquanto isso, o americano Derrick Caracter, contratado de última hora especificamente para a Copa Intercontinental e para o giro de amistosos nos EUA – pelo que vemos, desnecessariamente –, mal conseguiu fazer cócegas em seus compatriotas (cometeu dois turnovers em 9 minutos e mais nada). Ao contrário de Jerome Meyinsse. O pivô titular também fez bela partida, com 15 pontos em 24 minutos, dominando o garrafão ofensivamente no primeiro quarto até se atrapalhar com as faltas.

Foi investindo em Meyinsse, mesmo, que o Flamengo fez um belo início de partida, chegando a abrir vantagens como 6-0, 13-8 e 30-25, até meados do segundo quarto, quando o time da casa assumiu a liderança pela primeira vez no duelo, com 34-33. Se bem observado pelos olheiros internacionais, o pivô não deve durar muito no mercado brasileiro. Assim como Laprovíttola.

A partir do momento em que o Suns passou a rodar seu elenco, bem mais volumoso, o aspecto físico foi fazendo a diferença, ainda mais numa etapa ainda preliminar da preparação física dos caras. As escapadas no placar da equipe norte-americana aconteceram justamente na segunda parcial como na quarta, com o jogo de transição com pernas mais descansadas fez estragos. Vale destacar aqui outro ponto: o fato de o jogo da NBA ser mais longo, com oito minutos a mais do que os brasileiros estão habituados a disputar (20% mais longo). Cansa.

Por outro lado, mesmo que seja só um amistoso, de pré-temporada, também dá para puxar a orelha em termos de execução ofensiva também. Se o Fla tivesse maneirado nos arremessos de três pontos – ou caprichado mais, já que optaram pelas bombas… –, numa linha ainda mais distante que a da Fiba, talvez a história pudesse ter sido diferente. Vai saber. O time da Gávea matou apenas 6-25 de fora (24%). Quando o ataque alimentou os pivôs e usou mais infiltrações, foi muito mais produtivo. Nos primeiro e terceiro períodos, quando conseguiu segurar mais o jogo, a equipe de Neto venceu por 49 a 38. Mesmo.

Está certo: não foi um desastre, muito longe disso. Para se ter em mente: até agora o Maccabi Tel Aviv, aquele mesmo que foi derrotado na Copa Intercontinental pelos rubro-negros, já disputou dois e tomou duas pauladas. Nesta terça, deu Brooklyn Nets: 111 a 94. No primeiro jogo, contra o Cleveland Cavaliers, o placar foi de 107 a 80.

Para quem vem fazendo história em quadra, porém, ambição não pode faltar. Na próxima semana, tem mais: quarta, contra o Orlando Magic (teoricamente o jogo mais ganhável) e na sexta contra o Memphis Grizzlies. Os dirigentes, a comissão técnica e os jogadores vão descobrir mais instalações, mais atletas, mais conexões – e também podem fazer um pouco de turismo, que ninguém é de ferro. Mas, sim, pelo que apresentou em seu primeiro teste contra o Suns, dá para pensar em aprontar algo a mais que uma lista de presentes ou a lição de casa.


Flamengo acerta contratação pontual. Vale a pena?
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Giancarlo Giampietro

Caracter chegou nesta quarta. Fla espera que com bagagem de soluções

Caracter chegou nesta quarta. Fla espera que com bagagem de soluções

Em 1997, o Cruzeiro se preparava para um dos maiores desafios de sua história: jogar a Copa Intercontinental/Mundial de clubes contra o Borussia Dortmund, depois de fazer bela campanha na Copa Libertadores. O time tinha uma forte base, que não era necessariamente brilhante, mas possuía figuras talentosas como o meia Palhinha, o centroavante Marcelo Ramos e o goleiro Dida.

Antes de mais nada, peço um pouco de paciência, antes do ataque: “Até aqui você vai ficar falando de futebol?! Santa monocultura!”

É que a gente pode ligar esse jogo de 17 anos atrás com outra Copa Intercontinental, a de basquete, que será disputada entre Flamengo e Maccabi Tel Aviv a partir desta sexta-feira, com o primeiro jogo no Rio. A segunda e decisiva partida será no domingo, na capital fluminense. E qual seria o link entre coisas tão absurdamente distintas?

Bebeto foi um dos que chegaram ao Cruzeiro de última hora em 1997. Um causo alarmante

Bebeto foi um dos que chegaram ao Cruzeiro de última hora em 1997. Um causo alarmante

Antes de encarar o Dortmund, o clube mineiro fez quatro contratações exclusivamente para aquela decisão, algo que aprendemos a chamar de contratações “pontuais”: o lateral Alberto, o zagueiro Gonçalves e os atacantes Bebeto e Donizete Pantera. O Fla apelou nesta semana ao mesmo expediente: acertou com o pivô Derrick Caracter para reforçar seu garrafão para desafiar o Maccabi – e também para os amistosos nos Estados Unidos contra a galera da NBA.

Antes de falar de Caracter e do Fla, é preciso lembrar o que se passou com a Raposa depois de sua cartada, com o perdão do amigo cruzeirense, que não precisava de revisitar essa história num momento em que seu time está voando no Brasileirão. Naquela ocasião, o tiro saiu pela culatra, numa derrota por 2 a 0 em que os alemães foram bem superiores. Diante daquela situação inusitada, sobrou, claro, para os caras que chegaram de última hora.

“A culpa não era deles. Se você é chamado para o Mundial, não vai? É claro que vai. Mas a vaidade no futebol é muito grande. Os jogadores vinham falar comigo, chateados. Tive que conversar muito. Não vou dizer nomes, mas começamos a discutir premiação para o título, algo que sempre é feito antes da partida, e um dos contratados falou que deveríamos deixar para depois. O cara pegou o dinheiro (da contratação) na mão e não queria discutir premiação? Era um dinheiro importante para caramba para as famílias. Mais tarde, depois daquela final, conversei com o presidente, com quem fiz amizade, e ele disse que voltaria atrás se pudesse”, afirmou o meio-campista Cleisson ao GloboEsporte.com.

“Não participar do Mundial foi a maior tristeza que eu tive na minha carreira. Foi uma decisão que achei injusta. Na época, fui conversar com o presidente Zezé Perrella a respeito dessa situação, não só comigo, mas também com outros jogadores. O Zezé (Perrella) apenas disse que a decisão era do treinador e não poderia fazer nada”, relembra Gottardo, ao SuperEsportes.com.br, acrescentando que inclusive pediu ao presidente para ser negociado.

“Era uma situação complicada, sabíamos da qualidade deles. Havia uma cobrança dos jogadores que ficaram fora e da imprensa em cima do presidente, mas isso faz parte”, completa o lateral Vitor, ao FoxSports.com.br.

Deu para entender, né? Com a turbulência que as mudanças geraram – o capitão da Libertadores, Wilson Gottardo, por exemplo, foi cortado da delegação que viajou ao Japão –, o Cruzeiro já meio que havia perdido a final antes mesmo de disputá-la.

Então tá: ponto.

O flamenguista mais doente já pode estar salivando, achando que o blog está jogando praga para cima do elenco rubro-negro. Não é bem assim. Só foi o primeiro caso que bateu na telha ao lembrar de contratações pontuais como a de Caracter. Se alguém tiver algo mais emblemático e positivo que esse, favor compartilhar. Além do mais, podemos alegar que uma coisa é contratar quatro jogadores num pacote e outra, trazer um só atleta para reforçar uma posição considerada carente. Mas não há como fugir desse questionamento.

Caracater, cestinha talentoso, com algumas questões comportamentais no meio do caminho. Jogou 41 partidas, com média de 5 minutos

Caracater, cestinha talentoso, com algumas questões comportamentais no meio do caminho. Jogou 41 partidas, com média de 5 minutos

Não dá para saber como o elenco de José Neto vai reagir a uma situação dessas – e nem como o pivô vai se comportar. Ênfase em “comportar”, porque cabe outra ressalva: uma boa alma vai dizer que você não deve julgar ninguém pelos erros do passado, que se deve dar uma segunda chance, mas há uma razão triste para explicar como alguém que já foi considerado um dos maiores talentos de sua geração nos Estados Unidos estava disponível no mercado, para um acerto pouco usual destes. Como os americanos gostam de dizer, o jogador tem “bagagem”.

Na universidade, deu um trabalhão danado para os técnicos de Louisville, sendo obrigado a pedir transferência para Texas El-Paso. Ainda assim, foi selecionado pelo Lakers na segunda rodada do Draft de 2010, na 58ª/antepenúltima posição. Já como profissional, foi preso por ter agredido uma garçonete – um raro caso de problema com a polícia, diga-se; antes, sua ficha de advertências estavam limitadas a problemas de notas e de disciplina “esportiva”. Desde então, foi dispensado pelo time californiano, perambulou por aí, entre Europa e D-League, tendo jogado a última temporada pelo Idaho Stampede (veja suas estatísticas).

Três anos depois de sua prisão em Nova Orleans, Caracter desembarcou no Rio apenas nesta quarta-feira, praticamente junto dos caras do Maccabi, mal tendo tempo de treinar com seus novos companheiros.  Caracter supostamente chega para deixar o Flamengo mais competitivo. Está dentro das regras, sim, mas o quão válido, legítimo é o processo? Qual caminho você prefere: jogar todas as cartas possíveis e tentar de tudo numa grande vitrine dessas, jogando por um título que seria mais que formidável para o clube e o basquete brasileiro, ou ir para a quadra com o que você tem (de verdade), que, aliás, já é um grande time de basquete?

A segunda alternativa, parece, seria a ideal. Mas dá para entender também quem abrace sem pestanejar – pensando de modo pragmático e na importância que têm a Copa Intercontinental e os jogos nos Estados Unidos. Agora só resta saber o quanto Caracter pode contribuir de fato para uma equipe que mal conhece. Aliás, não está nem muito claro o quanto o técnico José Neto e os demais atletas sabem sobre o pivô também. Justamente quando o entrosamento seria um dos grandes trunfos para os rubro-negros em relação ao seu concorrente.

O UOL Esporte acabou de publicar um texto que nos conta os bastidores da contratação. O Flamengo sondou mais de dez nomes no mercado internacional, numa procura meio desesperada até, com dificuldade para fechar: os atletas consultados queriam contrato por uma temporada, obviamente. No fim, o agente Marcelo Maffia, que trabalha com Tiago Splitter, Rafael Hettsheimeir, Rafael Luz, entre outros muitos talentos brasileiros, ajudou a intermediar o negócio.

“Foi uma correria louca para viabilizar a vinda dele. Faz 24 anos que trabalho com basquete e nunca vivi uma situação destas. As conversas começaram no meio da semana passada. Aí tivemos de arrumar o visto rapidamente, o que conseguimos no consulado lá em Miami, tanto que ele chegou apenas na quarta-feira. Ele praticamente não treinará com a equipe. É um grande incógnita o que ele poderá fazer”, afirmou o empresário. “Só o conheço pelas estatísticas e por vídeos. Não sei se é a melhor ou pior opção para o Flamengo. Era a que tinha no momento. Claro que é um grande risco, mas talvez possa fazer o que se espere dele.”

E o que o técnico Neto espera do americano? “Trouxemos para ter uma opção a mais no nosso jogo interior. Ele chega para somar e trazer muita força ao nosso garrafão. O time do Maccabi é forte, usa bem os pivôs e precisamos conter isso. Precisávamos de mais força na marcação e no rebote. A ideia é que ele cumpra bem esse papel. Além disso, contamos com ele para pontuar no ataque também”, afirmou.

(Só uma observação, de quem acompanhou a temporada da Euroliga inteira no ano passado: o time israelense tem jogo interior, sim, mas ele decorre muito mais das infiltrações de seus armadores do que em bolinhas pingadas no garrafão. Ainda mais com Sofoklis Schortsanitis fora de combate, devido a um glaucoma. Vários destaques da campanha europeia saíram, eles trocaram de técnico, mas, a julgar pelo perfil de seus substitutos, essa proposta não se alterou tanto assim. Mais sobre isso nesta sexta-feira…)

(A segunda observação: Caracter sempre foi conhecido como um pivô muito forte e habilidoso, mas especialmente para questões ofensivas, com jogo de pés criativo, que funciona de costas para a cesta. É pesado, mas surpreendentemente ágil. Ambas as munhecas são bastante eficazes para a conclusão próxima ao aro. Sua capacidade como defensor, porém, não era das mais elogiadas. Pode ter melhorado com o passar dos anos, a conferir. É, de toda maneira, alguém muito vigoroso, mesmo, que vai ocupar espaço e trombar.)

Caracter, então, precisa dar uma força para Jerome Meyinsse, Olivinha e Walter Herrmann no combate com os pivôs do Maccabi.

Mas e o Felício?

Aparentemente, se Caracter corresponder às expectativas, o garotão vai dançar nessa.

Felício, 22 anos, promissor e quinto homem na rotação flamenguista em grandes jogos?

Felício, 22 anos, promissor e quinto homem na rotação flamenguista em grandes jogos?

Felício ainda é jovem, tem muito o que aprimorar em termos de técnica, mas fisicamente você não vai achar tantos jogadores mais imponentes. Além do mais, é jovem, mas já não é mais um adolescente – chega uma hora em que vai ter de produzir e competir com os marmanjos, o tempo começa a correr. Com a saída de um veterano como Shilton, figura importantíssima na conquista do último NBB, esperava-se mais Cristiano em ação, depois de o pivô ter jogado apenas 13 minutos em média na temporada passada. Nos playoffs, quando a coisa aperta, o tempo de quadra ainda foi reduzido para 8 minutos por partida. Na Liga das Américas, 99 minutos em oito partidas. Aparentemente, ainda não será desta vez.

Isso também nos leva a alguns pontos preocupantes. Estamos falando  de uma das maiores promessas brasileiras, um pivô de enorme potencial, reconhecido por Rubén Magnano, pelos olheiros da NBA (ainda que não tenha sido escolhido no último Draft, causou ótima impressão durante o Eurocamp de Treviso) e tudo o mais.  Nas palavras de Neto, o americano chega para contribuir especialmente com rebote e defesa. O pivô brasileiro ainda não estaria preparado para isso? Não seria saudável dar um voto de confiança? Qualquer minuto disputado contra o Maccabi e a turma da NBA seria muito mais importante para o desenvolvimento do atleta do que usá-lo, a essa altura da carreira, na LDB para ele somar 22 pontos e 20 rebotes numa partida.

Por outro lado, entra na mesma questão: o Flamengo não vai disputar um troféu qualquer. O time quer ser campeão mundial, então talvez não seja o momento de falar em lapidação de um atleta.  Como time de ponta nacional, ainda se reestruturando como clube, o Fla hoje difere muito de um Pinheiros, por exemplo: suas metas estão basicamente voltadas para o adulto. Ainda não há um fluxo de continuidade em seu departamento de basquete. Sem ironias: talvez não faça muito sentido, mesmo, pensar no aprimoramento de um talento como o de Felício. Eles jogam para agora, e não custa lembrar: o pivô não é nem mesmo uma cria da base rubro-negra, não foi alguém trabalhado por anos e anos na Gávea. Saiu do Minas para os Estados Unidos e voltou contratado.

Da mesma forma que o clube acertou com Caracter agora.

Que fique claro: essa é uma crítica pontual a uma contratação pontual, que se explica, mas, ao meu ver, é exagerada. Sobre o time rubro-negro em si, não há muito o que contestar depois de entupir sua sala de troféus  nos últimos anos. A essa altura, todavia, pode ser que 85% dos basqueteiros flamenguistas que tenham aberto acidentalmente esse artigo já tenham parado na metade, talvez pês da vida. Eles querem mais é que o Caracter e o Flamengo contrariem tudo isso e façam valer a aposta.

E que, de repente, a gente fique apenas falando de futebol, mesmo.


6º lugar no Mundial: é o que tem para hoje. E depois?
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Giancarlo Giampietro

(Atualização: com a derrota da Espanha para a França, o Brasil perde uma colocação na classificação geral, caindo de quinto pra sexto. Que fase!)

Brasl derrotado, Sérvia vence, Copa do Mundo, basquete, crise, CBB

A frase não vai parecer genial, mas é precisa ser dita: o Brasil tanto podia ganhar da Sérvia nesta quarta-feira, como poderia perder. E perdeu. Era um duelo equilibrado, sem favoritos, pelas quartas de final de uma Copa do Mundo de basquete. Alguns detalhes aqui e ali poderiam ter se corrigido, mas o fato é que o time brasileiro, desde a sua composição ao que executava em quadra, estava longe de ser perfeito. Era competitivo, estava na briga pelo pódio, mas não tinha direito adquirido nenhum ali. Estava metido em um jogo enroscado, se descontrolou emocionalmente na volta do intervalo e, pumba!, quando passou, já era. Vitória sérvia.

Isso tudo se refere a 10 de setembro de 2014 e a um geração de jogadores que, em geral,  está em seu auge, descontando uma ou outra peças periféricas de sua rotação, que já se veem mais perto da aposentadoria. Quer dizer, uma pequena retificação: essa competitividade da seleção brasileira passa por 10 de setembro e deve se estender até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. A seleção vai receber uma Olimpíada com as mesmas chances, se as coisas correrem normalmente.

Agora, e o que vem depois disso?

Depois de assimilada a eliminação – que poderia ser evitada, mas acontece –, muito do que se ouviu em tempo real foi sobre “o bom trabalho” executado, que é algo que não pode ser descartado prontamente, e bla-bla-blá. Obviamente que não. Aliás, quem estaria argumentando de modo contrário? O Brasil se despede do Mundial com o quinto sexto lugar, o mesmo posto de Londres 2012. O basquete internacional não é para qualquer um, mesmo num cenário em que boa parte dos grandes concorrentes estava seriamente desfalcada.

Mas só precisamos ter cuidado com a generalização: se for falar em bom trabalho, que fiquemos com Rubén Magnano e seu grupo de veteranos. Não que o argentino deva ser ou esteja blindado de críticas. O ataque brasileiro não funcionou como poderia, tendo muita dificuldade para produzir de modo eficiente em situações de meia quadra. Sua convocação final se mostrou redundante. Ele não pediu mais um tempo naquele fatídico terceiro período. Etc. Entre os atletas, houve surpresas e decepções. Agora, me parece que esse é o tipo de discussão que toda equipe vai ter ao final de uma campanha. Vai acontecer até mesmo nos Estados Unidos. Não existem times perfeitos. Existem times que reconhecem suas deficiências e procuram amenizá-las. Pode ser que tenha faltado isso? Sim, certamente faltou. A verdade, porém, é que a seleção caiu, com suas virtudes e limitações.

Seleção brasileira, banco, 2014, basquete

O que não dá para fazer é ficar jogando confete para cima depois de um quinto sexto lugar e deixar que muitos penetras entrem nessa festa (inexistente). Não dá para incluir os cartolas da CBB (a inoperante Confederação Brasileira de Basquete) nessa. Sua diretoria – e até mesmo os manifestos opositores aos atuais gestores – devem ser barrados na porta. Porque, entre as limitações que temos, dá para falar de fundamentos e minúcias de jogadores e de alguns nomes convocados, mas o buraco, mesmo, está ao redor desta seleção.

O basquete brasileiro foi para um Mundial com sua força máxima – pelo menos segundo o gosto de seu treinador, com americano naturalizado, e tudo – e com média de 31 anos, a mais elevada da competição. A Sérvia tem média de 26 anos. Entre seus protagonistas, apenas um está acima dos 30 anos, o pivô Nenad Krstic. O ala Bogdan Bogdanovic, autor de 12 pontos, tem apenas 22 anos, mesma idade do titular Nikola Kalinic. Milos Teodosic tem 27. Nemanja Bjelica, 26, assim como Miroslav Raduljica e Stefan Markovic. Já deu para entender, né? O time balcânico que deu uma surra hoje pode pensar até mesmo nas Olimpíadas de 2020.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

A verdade, contudo, é que eles nem precisam, já que não sabem nem ao certo se estarão no Rio 2016. As coisas na Sérvia funcionam de outro jeito, devido à alta competitividade para se entrar naquela seleção. Eles trocam de geração a cada dois anos, é algo impressionante. Estão aí para comprovar Marko Keselj e Milan Macvan, dois semifinalistas de 2010, atletas bem pagos de Euroliga e que não chegaram nem perto de jogar este Mundial. Os esquecidos e os eleitos para o time de hoje que se cuidem, aliás, porque a fornada de 1994 e 95 também já é boa o bastante para sonhar com as grandes competições, vindo de um vice-campeonato mundial em 2013. O armador Vasilje Micic e os pivôs Nikola Jokic e Nikola Milutinov jajá estarão por aí – dois deles já foram draftados pela NBA neste ano.

Do Brasil, se formos recuperar as últimas campanhas com algum sucesso em torneios internacionais de base, temos a galera que terminou o Mundial Sub-19 de 2007 (1988/89) em quarto, além da equipe que deu um sufoco danado nos Estados Unidos na Copa América Sub-18 de San Antonio, em 2010 (galera de 1992/93).  Se a turma de Raulzinho, Felício e Bebê já se aproxima, perigosa e precocemente do ostracismo, o que dizer daqueles quatro ou cinco anos mais velhos? Antes da partida desta quarta, já havia passado por esse caso alarmante. Dessa geração, apenas dois atletas hoje estariam no radar da seleção principal – mas com chances remotas de aproveitamento: Rafael Mineiro e Paulão. Entre os sérvios, dois saíram triunfantes em Madri (Raduljica e Markovic), enquanto Macvan e Keselj já haviam disputado a edição de 2010, conforme citado.

Para não falar apenas de Sérvia, fica o registro: a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos, a Lituânia, a Croácia e muitas outras equipes já apresentaram bases renovadas para esta Copa. O grau de protagonismo dos atletas mais jovens variou de uma equipe para a outra, mas pelo menos eles estavam na Espanha, vivendo a experiência intensa que é disputar um torneio de elite desses. Do lado brasileiro, dos mais jovens, apenas Raulzinho pode falar a respeito do assunto, já com duas edições em seu currículo.

Não é que não existam opções. O armador Rafael Luz e o pivô Augusto Lima já são realidades no basquete europeu, jogadores produtivos no campeonato nacional mais difícil do continente – a Liga ACB espanhola. Augusto, aliás, foi um dos destaques individuais na temporada passada – e mal teve chance para mostrar serviço na seleção “b” que ficou com um (?) honroso bronze no Sul-Americano. O pivô Lucas Mariano e o ala Leo Meindl (Franca) e o armador Ricardo Ficher (Bauru) também aparecem num grupo de revelações lembradas por Magnano nos últimos anos. Para não falar de Bruno Caboclo, ala surpreendentemente escolhido pelo Toronto Raptors no Draft da NBA, o atleta de maior potencial nessa lista, sem dúvida. Em seu ex-clube, o Pinheiros, também há pelo menos mais três garotos para serem monitorados.

Daí que… Ué? Então de que trevas você está falando, meu chapa? Olha aí o tanto de jogador jovem aí que você acabou de citara. Para um comentário desses, reverteria o jogo: mas o simples fato de nos apegarmos a cinco, seis, sete nomes já não diz muito sobre a quantas anda a produção de talentos nacional? Digo, se todo mundo sabe de cor quais são as apostas para o próximo ciclo olímpico, acho que isso significa justamente como as coisas andam errado. Já se comprova o número bastante limitado de alternativas, num país com 200 milhões de habitantes, cujo Ministério dos Esportes aponta a modalidade como a segunda mais praticada.

Além do mais, não é brincando de apostar em garotos, como se o desenvolvimento seguisse a lógica do mercado futuro, que os problemas de constituição de um time – e do basquete – brasileiro serão solucionados. A carreira dessa molecada não está nem mesmo garantida, de modo que soa absurdo depositar em seus ombros carências de uma estrutura toda deficitária. Em setembro de 2014, eles são apenas promessas, que precisam jogar e  treinar em paz, seguindo sua rotina, quiçá com a melhor orientação disponível. Não é hora de ficar buscando nomes – mas, sim, de trabalhar pra ter um maior número de nomes possível.

Só com uma confederação que trabalhe desta maneira, com essa mentalidade, que não dependa de milagres – o advento de do Grande Jogador da Silva –, que se pode exigir mais do que o atual time conseguiu. De novo: a despeito de toda a precariedade estrutural lamentada, os veteranos de Magnano tinham plenas condições de ir adiante neste Mundial. Mas não foram. Goste ou não, é uma seleção brasileira se afirma como a quinta/sexta melhor do mundo. É o que tem para hoje.

Brasil perde, CBB, Copa do Mundo, Sérvia

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Em tempo, e algo que não pode ser esquecido jamais: depois do fiasco que foi a participação na Copa América, na qual, sem seus melhores jogadores, Magnano naufragou, perdendo para Jamaica e Uruguai, a CBB teve de desembolsar um milhão de euros para ser “convidada” para jogar o Mundial. Arredondando: 3 milhões de reais. Então, do ponto de vista administrativo, é um fiasco ficar fora do pódio. Um quinto lugar não vale 3 milhões de verdinhas. Os patrocinadores ganharam alguma visibilidade em TV aberta, ainda mais depois da vitória sobre a Argentina, mas o prejuízo da confederação é brabo. Ainda mais para quem já está endividado.

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Acho que vale reforçar: o Brasil levou aquilo que seu técnico julga de melhor para o Mundial, inclusive naturalizando o Larry. Com o grupo que levou, Magnano foi para o tudo ou nada. Contra muitos adversários desfalcados. E terminou em quinto. Isso diz muito sobre a dureza que é lutar por uma medalha no basquete de hoje, mas também sobre o nível atual da seleção. É de se ponderar, mesmo.


Perguntas e respostas após o Sul-Americano
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Giancarlo Giampietro

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

É só um Sul-Americano, né? Serve para nada.

É o que a gente gosta de dizer. Como se o basquete brasileiro estivesse plenamente estabelecido como potência mundial e qualquer torneio pudesse ser tratado com desdém. (Desdém por parte da crítica, claro, e não dos jogadores que lá estiveram.)

O que não dá mais. Não quando a seleção masculina vem de quatro derrotas em quatro partidas pela Copa América. Desfalcada de seus atletas de NBA, é verdade, mas enfrentando adversários igualmente avariados. E dirigida por um campeão olímpico, não se esqueçam.

Daí que sempre tem muito o que ser discutido. Como de fato acontece após mais uma campanha frustrante em quadras venezuelanas, agora tendo de se contentar com um terceiro lugar. Melhor que terminar em penúltimo? Sim, melhor. Mas perder de Equador, Peru, Paraguai ou Chile é algo que, por ora, parece impensável, mesmo. Porque, por maior que seja a pindaíba, ela ainda tem limite.

De modo que o que temos é o seguinte: independentemente de quem estava em quadra, a seleção brasileira perdeu seis partidas consecutivas até se safar na última segunda-feira ao bater o Uruguai para conquistar um honroso lugar no pódio e uma ainda mais fogosa vaga no próximo Pan-Americano. Que vai ser disputado em… (responda sem consultar o Google, por favor).

Seis? Sim, meia dúzia, mesmo: as quatro da vexatória e inesquecível Copa América do ano passado, mais duas este ano, contra Argentina e Venezuela. Mais duas derrotas que suscitam algumas perguntas. No fim de semana, por exemplo, pouco antes de começar no Domingo Maior na Globo, as redes sociais basqueteiras estavam novamente borbulhando.

Depois de dois jogos parelhos, eram duas derrotas para o time de José Neto, nos primeiros jogos que contavam para alguma coisa de fato. Foram duas derrotas com dinâmicas parecidas: altos e baixos no placar, e a virada tomada no quarto final.

Antes de a seleção principal entrar em quadra nesta quinta, ficam listadas algumas dessas encafifações. É como se fossem mais chutes de três  brasileiros equivocados, com a bola atirada para o alto, esperando uma cesta milagrosa:

– O que significa hoje o Campeonato Sul-Americano?
Olha, a competição já teve seus dias mais charmosos, mas faz tempo que não vê equipes competindo com força máxima. Aqui, do fundo da caixola, vou me lembrar do torneio de 2001, no Chile, quando o Brasil ainda estava se habituando com nomes como “Anderson Varejão” e “Nenê”, dois pivôs cheios de potencial encarando uma Argentina um pouco mais experiente, mas ainda jovem, com caras como Luis Scola, ainda sem muito cabelo, em quadra. Torneio transmitido pela ESPN por aqui, que incitava a gente devido aos novos prospectos. Em 2004, estava eu perdido em Campos de Goytacazes para ver o emergente Carlos Delfino e o espetacular Walter Herrmann barbarizarem contra Lula Ferreira e os melhores do Nacional de basquete na final. Acho que foi a saideira.

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

– A chance de ver alguém de elite no campeonato acabou, mesmo?
Bom, se por elite formos entender “NBA”, a coisa muda de figura se o campeonato for disputado na Venezuela. Aí o Greivis Vasquez, armador do Raptors e provável mentor de Bruno Caboclo e Lucas Bebê na próxima temporada, joga. Pega bem com o governo, as autoridades, o marketing pessoal. Aliás, melhor jogar uma competição com TV, torcida e tudo mais, do que ficar afundado numa rede qualquer de um resort caribenho, nénão? Agora, se você tiver a cabeça mais aberta e pensar em atletas de Euroliga e Liga ACB também como de ponta – o que é um conceito obrigatório aqui neste espaço –, então no Brasil estávamos bem representados por jovens atletas, mas com boa rodagem na Espanha.

– OK. Se é um campeonato esvaziado, qual o sentido então de entrar num Sul-Americano preocupado em vencer?
Há muita gente que defende a tese de que a competição não tem peso algum e que pode ser utilizada para experimentações, mesmo, para dar cancha aos jogadores mais jovens do país. Confesso que gosto dessa ideia, sim. Desde que tenhamos um time competitivo o bastante para lutar pelo título. Não adiantaria muito pegar a molecada juvenil do Pinheiros, vesti-los de Brasil e atirá-los em quadra. Tomam cacetadas e aprendem o quê?

– E qual foi o Brasil que jogou o Sul-Americano, então?
Bem, na seleção escalada por José Neto, estávamos, em geral, com um grupo que precisa de experiência, sim, com a “amarelinha” (ou a “branquinha”, muitas vezes). Pensando em longo prazo, é bacana que um Raulzinho lide com a pressão de um ginásio venezuelano fervendo, encarando gente barbada do outro lado. Que Cristiano Felício veja, mais uma vez, que tem bola para dominar um garrafão lá e cá. Etc. Por outro lado, é preciso dizer que não havia nenhum adolescente em quadra. O mais jovem, Leo Meindl, tem 21 anos, já disputa o NBB adulto há duas temporadas e foi pouco utilizado. Raul, Rafael Luz, Augusto Lima e Rafael Hettsheimeir acumulam mais de três temporadas na Liga ACB, o principal campeonato nacional da Europa. Desse quarteto, apenas Hettsheimeir, reserva do Unicaja Málaga (clube de Euroliga) e lesionado na segunda metade, não jogou muito durante o ano. Da turma do NBB, Mineiro tem 26 anos, Arthur, Jefferson William e Olivinha, 31. Vitor Benite faz parte da seleção de modo regular desde 2011. São inexperientes, pero no mucho.

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

– O que isso quer dizer?
Que, francamente, não dá para justificar as derrotas com base em inexperiência e uma suposta predisposição para o experimento. Os jogadores convocados não estão tão distantes assim de uma lista “principal” do país. E, ao menos aqui na base do 21, são vistos como atletas talentosos, de muito potencial. Além do mais…

– Contra quem eles jogaram?
Como já dissemos, a Venezuela contava com seu único figurão de NBA, Greivis Vasquez, alguém que acabou de assinar um contrato de US$ 13 milhões por dois anos com o Toronto Raptors. Feito o registro, não estamos falando de uma potência mundial. É, sim, uma seleção com jogadores atléticos, enjoados, mas que, mesmo fazendo a Copa América em casa, com Vasquez e um técnico argentino, não conseguiu a vaga no Mundial. O Uruguai não estava completo. Já a Argentina levou para o campeonato uma equipe composta apenas por atletas em atividade na América do Sul – bons valores, mas não necessariamente os melhores do país. Nem o Facundo Campazzo, promovido ao time A, estava lá. Isto é: se for pensar bem, o Brasil era quem tinha o elenco mais renomado. Um time de certa forma jovem – especialmente em contraponto ao elenco verdadeiramente veterano que vem sendo preparado por Magnano –, mas que entrava para ganhar.

– Posto isso, sabemos que o Brasil perdeu os primeiros dois jogos que valiam. Que houve?
Digamos que os brasileiros tiveram seus bons momentos em quadra. No final da fase de grupos, sábado, contra os argentinos, por exemplo, a seleção venceu os segundo e terceiro quartos por 34 a 16. Sim, tomaram míseros 16 pontos em 20 minutos, algo sensacional, independentemente do nível de competição. No quarto período, no entanto, tomaram uma sacolada de 27 a 13. Essa derrota acabou deixando os hermanitos na primeira posição do grupo, empurrando o Brasil para um confronto com a Venezuela na semifinal. A dinâmica da partida foi de certa forma parecida. A seleção abriu uma vantagem razoável, mas acabou tomando a virada no último quarto. Legal que eles tenham encarado um ambiente daqueles, mas seria muito melhor se estivesse valendo o título, não? Digo, que guardassem essa experiência para a final.

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

– Além das derrotas, o que as estatísticas dizem sobre a campanha?
Adoro a expressão que nos conta sobre a “frieza dos números”. E, olha, número por número, a coisa foi gélida (obs: contando apenas os duelos com Argentina, Venezuela e Uruguai, ok?). Traduziu muito bem o que vimos em quadra dessa vez. O Brasil fez um ótimo papel defensivo. Um lapso aqui, outro ali, mas em geral o time se comportou de modo muito sólido ao proteger sua cesta. Do outro lado, porém, foi uma tristeza. A começar pelos 39,7% nos arremessos de quadra no geral. De três pontos? Horrendos 20%, com mais assustadores ainda 15 acertos em 75 (!!!) tentativas. Quer dizer: o time errou, errou e errou mais um pouco de longa distância, e não parou de atirar. Isso é reflexo claro de um coletivo desorganizado ofensivamente. A movimentação fora da bola foi praticamente nula. Raulzinho, por exemplo, vezes era forçado a jogar no mano a mano, ou num pick and roll sem inventividade alguma, quase sempre com ângulos frontais para a cesta. E o jovem armador, até que alguém me comprove o contrário, nunca teve perfil de Allen Iverson. É agressivo, mas, sozinho, não vai resolver as coisas. Pivôs ágeis como Mineiro e Augusto pouco foram servidos no pick-and-roll ou em cortes vindo do lado contrário. A turma do perímetro, uma vez acionados os grandalhões, se estacionavam, como se a única jogada seguinte pudesse ser disparo de três. Lembrando que este é um problema repetido quando nos recordamos da lamentável Copa América. O talento estava ali, mas não foi muito bem manejado para pontuar.

– Pensando na seleção, principal, nessa gama de talentos, quem merecia a promoção para tentar uma vaga no Mundial?
Bom, agora já ficou um pouco tarde para falar de merecimento, ou não, uma vez que sabemos que Raulzinho, Rafa Luz, Cristiano Felício e Rafael Hettsheimeir foram pinçados para treinar com os marmanjos. Nenhum desses quatro nomes pode ser contestado severamente, é verdade. Mas gostaria de saber quais são os critérios de convocação. Algo que Magnano nunca nos deixou muito claro.

– Qual a confusão sobre os critérios de composição da seleção, então?
Na minha humilde e 99% desnecessária opinião, alguns fatores precisam se discutidos:

a) a temporada que cada um apresentou;
b) o desempenho nos treinos e, claro, nos jogos para valer; e aí não contam Paraguai e Equador. Qualquer coletivo interno tem mais peso, neste caso.
c) quem se encaixa melhor com o que já tem de disponível no time principal?
d) como exatamente Magnano pretende aproveitar essas últimas peças?

Na cabeça do argentino, certamente aparece outro item: “Histórico/serviços prestados”. Não sei bem se concordo com essa.

Temporada por temporada, quem teve a melhor campanha de um brasileiro na Espanha este ano foi Augusto Lima, e não há nem o que se discutir aqui. Ao meu ver, uma oportunidade desperdiçada para um jogador extremamente valorizado na ACB – arrebentou nos rebotes, na defesa e nas estatísticas mais avançadas. O bizarro é que um atleta superprodutivo desses não tenha nem mesmo espaço no Sul-Americano. Não adianta julgar por dois ou três minutos de quadra. Das duas, uma: ou é “tímido” e não se impôs nos treinos, ou acabou engolido por uma rotação um tanto maluca. Mas é difícil de aceitar que não sirva por aqui.

Lembrando sempre: não estamos falando de Scola ou Tim Duncan, mas, sim, de um pivô cheio de energia, capacidade atlética invejável, bom para fazer o serviço sujo e atacar os rebotes ofensivos. Uma peça complementar muito boa, e não alguém que vai carregar um ataque. Como a comissão técnica enxerga Rafael Hettsheimeir, que pouco jogou este ano, diga-se. No caso do pivô, o que não dá, porém, é esperar que ele sempre vá repetir aquela atuação histórica de Mar del Plata contra Scola. Aquela não é a regra, mas, sim, a exceção. E, com Splitter, Nenê e Varejão escalados, Giovannoni fazendo o strecht 4, não sei bem quantos minutos sobrariam para Hettsheimeir ser acionado e esquentar a munheca. Talvez aí cresçam as chances de um Cristiano Felício, que completa 22 anos, mas ainda é um projeto, alguém que poderia ser o 12º homem da lista.

Mas, bem, esse já seria um artigo à parte. Na combinação dos quatro critérios propostos acima, um nome seria certo: Rafael Luz, que fez uma campanha sólida na Espanha, foi o melhor armador no Sul-Americano e tem características que se encaixam bem na rotação de cima, ao meu ver: dá estabilidade, ao mesmo tempo que também é energético e influencia o jogo com sua força física e agilidade. Seu chute ainda é deficiente, mas, como peça complementar na rotação principal, parece uma escolha adequada para jogar ao lado de Huertas e Larry, armadores que gostam de ter a bola em mãos.

– E o Raulzinho?
Na duas derrotas do Sul-Americano, o Brasil perdeu o jogo com a posse de bola. E a bola nas mãos do armador revelado pelo Minas. É em momentos como esse que vale toda a calma do mundo quando formos falar do rapaz. Nem tão lá em cima, nem tão cá em baixo. Draftado pela NBA, é verdade. Mas como um título de capitalização no futuro. O Utah Jazz admira seu talento, mas sabe que ainda não é hora de jogar nos Estados Unidos. Os pivôs são os que mais demoram para se desenvolver, mas executar a armação de uma equipe, quanto mais de uma seleção não é moleza, não. Raul obviamente tem o tino, personalidade e arranque para isso. Mas, ao menos nos três jogos do Sul-Americano, pudemos vê-lo tentando fazer muito com a bola. Alguns passes forçados, outros com brilho. Tentativas arrojadas de infiltração, mas por vezes se perdendo em meio às linhas defensivas etc. Lances que pedem refinamento, algo que, esperamos, vai acontecer no decorrer das temporadas, com a sucessão de acertos e erros, que tenhamos muito mais bolas certeiras. No Sul-Americano, ele tinha mais responsabilidade criativa, e as coisas não saíram tão bem. De todo modo, vale a ressalva: foram apenas três jogos, não é a maior amostra. No grupo principal, porém, sua carga seria muito menor. Só vejo nas características de Luz algo que combina melhor com o grupo de cima.


Seleção ‘estudantil’ patina na Universíade, mas Cristiano Felício mostra serviço para Magnano
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Giancarlo Giampietro

Seleção brasileira de novos, vulgo universitária

Chamem os universitários: Cristiano é o terceiro da esquerda para a direita. Crédito: Wander Roberto/CBDU

É bastante complicado escrever um texto sobre uma competição da qual você não assistiu a nenhuma partida sequer. Mas vamos tentar fazer isso, depois de dar uma fuçada nas estatísticas de todas as oito partidas da seleção masculina na Univesíade que se encerrou nesta terça-feira, em Kazan, nos confins da Rússia.

Primeiro um dado, digamos, curioso: na ficha dos 12 atletas inscritos na modalidade pela CBDU (Confederação Brasileira de Desporto Universitário), consta uma e única instituição de ensino superior. A onipresente Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador, a FTC, nossa velha conhecida dos tempos do Campeonato Nacional organizado pela CBB. Sim, segundo consta no site oficial dos Jogos, a FTC tem 100% de adesão entre nossos basqueteiros. Espero que estejam estudando bastante.

O mais, digamos, interessante é que neste grupo está incluso até mesmo o pivô Rafael Maia, jogador revelado pelo Paulistano e que hoje está em atividade na NCAA, defendendo a prestigiada universidade de Brown, da Ivy League, a elite intelectual do circuito universitário norte-americano. Talvez ele esteja lá só por hobby. Né?

(Detalhe, para os que não estão cientes do grupo: estamos falando de uma parte da chamada seleção brasileira de novos, recém-montada pela CBB, dirigida pelo campeão nacional José Neto, reunindo atletas com idade máxima de 24 anos.)

Deixando essa pequena anedota registrada, falemos de quadra. O Brasil fez uma campanha medíocre: quatro vitórias e quatro derrotas, 50% de aproveitamento. O problema: bateu China, Chile, Finlândia e Noruega. Perdeu para Lituânia (na primeira fase), Canadá (nas quartas) e, aí o bicho pega, Romênia e Estônia (na disputa pelo quinto lugar). Acabou ficando em oitavo. A coisa desandou a partir da eliminação diante dos canadenses, pelo jeito.

O Brasil jogou lá com uma turminha jovem – mas esse era o caso de toda a concorrência. Considerando que só estávamos com profissionais por lá – ok, Rafael Maia está em Brown e Cristiano Felício, numa prep school americana, mas já disputaram os campeonatos para valer daqui –, não dá para escrever outra coisa a respeito do resultado que não “decepcionante”.

De todo modo, deu para pescar um dado positivo: o desempenho do pivô Cristiano Felício. Sabe quem, né? Aquele garoto extremamente promissor revelado pelo Minas Tênis e que pegou as trouxas e partiu para os Estados Unidos, em busca de uma carreira… Universitária. Estava namorando a universidade de Oregon, de certo modo tradicional, mas não se sabe se teve as notas necessárias para ganhar uma bolsa. Agora já diz que pode voltar ao NBB para defender o Flamengo na próxima temporada.

Felício completou 21 anos agora no dia 7 de julho. Então não estamos falando da revelação mais jovem que temos por aí. Mas ele começou tarde no jogo, no interior de Minas Gerais, até chegar a um clube minimamente estruturado para se desenvolver. Muito forte, rápido nos pés, com ótimas mãos, é um talento de enorme potencial. Aparentemente, a temporada que passou nos Estados Unidos ajudou a deixá-lo ainda mais afinado.

Em oito partidas, o pivô teve médias de 15,6 pontos e 7,2 rebotes em 23,5 minutos, em sua terceira participação em um torneio de nível internacional entre, vá lá, adultos – ele também participou da péssima campanha brasileira no Pan de Guadalajara 2011 e disputou o Sul-Americano do ano passado. O mais impressionante foi seu aproveitamento dos arremessos de quadra 70% de acerto, além dos 73% na linha de lance livre. Dominante.

Você pode levantar a mão e falar tranquilamente: poxa vida, mas contra o Chile universitário, até eu, né?

Sim, até você, amigão.

(Para constar, contra os chilenos ele teve 28 pontos em (14/17 FG), 8 rebotes, 3 assistências e 2 roubos de bola em… 18 minutos, hehehe.)

Mas, enfrentando concorrência muito mais dura, o rapaz se saiu bem também. Vejamos contra a Lituânia vencedora do grupo brasileiro na primeira fase: foram 20 pontos (8/13 FG), 12 rebotes, 3 tocos e 2 roubos de bola, em 30 minutos. Naaaada mal também, hein? E que Lituânia era essa? Olha, não vou bancar o estelionatário aqui e arriscar dizer que eram todos craques e tal. Mas eles escalara atletas de ótimas campanhas em torneios de base. E tem outra: lá funciona mais ou menos como o nosso futebol: reúna 12 gatos pingados na rua, e você deve ter um time bom. Contra o Canadá – cujos jogadores tenho uma melhor noção –, sua atuação já não foi das melhores. Teve problemas de falta e foi limitado a apenas 10 pontos (5/7) e 2 rebotes em 20 minutos. Notem, porém, que seu percentual de conversão dos arremessos é sempre altíssimo.

Para uma seleção capenga de pivôs nesta temporada, taí algo para Magnano observar com carinho.