Nada de férias! Como foi o verão de Lucas Bebê?
Giancarlo Giampietro
É verão!
No Hemisfério Norte, digo. A estação do ano mais comemorada pelos caras lá de cima, que tanto sofrem durante inverno e outono com temperaturas abaixo de zero, e tal. Se aqui no Brasil estamos bastante mal acostumados com temperaturas calorosas durante boa parte do ano, em terras austrais a chegada das férias e do sol ganha proporções milagrosas. Eles arrumam as malas e vão para a estrada, mesmo, para curtir até o último dia que der. Que o diga Chevy Chase.
Para Lucas Bebê, porém, depois de tanto frio que passou em Toronto, andando pelos subterrâneo, e tudo mais, não tem coisa nenhuma de férias. O pivô foi para Las Vegas, mas a trabalho, em uma das três summer leagues que a NBA promoveu neste ano. Bebê, ou Nogueira para eles, teve a chance de jogar um pouco mais pelo Fort Wayne Mad Ants no ano passado, até se lesionar. Agora, assim como Bruno Caboclo, a despeito de uma temporada um tanto conturbada, tenta mostrar que pode contribuir para o time na próxima temporada. Será que ele impressionou? Vamos examinar.
Scout por Rafael Uehara, especial para o VinteUm.
Assim como com Bruno Caboclo, foi decepcionante o quão pouco tempo de quadra Lucas Nogueira teve na temporada passada. Foram apenas 23 minutos com o Toronto Raptors e 80 minutos com o Fort Wayne Mad Ants. (Dê uma olhada no post sobre o Bruno para entender melhor porque os jogadores do Toronto não tiveram oportunidades na liga de desenvolvimento).
Vale lembrar também que na temporada 2013-2014, Lucas enfrentou problemas físicos na Espanha e jogou apenas 297 minutos com o Estudiantes. Somando as últimas quatro temporadas, ele mal esteve em quadra por 1.000 minutos, o que não é um dado nada bom para uma idade tão importante para desenvolvimento. Lucas não pode de maneira alguma ser considerado velho, mas é de se preocupar que, já aos 22 anos, ele tenha passado tão pouco tempo em quadra.
Vale mencionar que Lucas parece ter usado esse tempo livre (de partidas) da melhor maneira possível. Ele se apresentou na liga de verão mais forte e com habilidades individuais um pouco mais desenvolvidas – ambos fatores que eram preocupações com relação à sua transição para o melhor basquete do mundo.
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Porém, por mais que treinos para aprimorar o porte físico e as habilidades individuais sejam importantes, o tempo de quadra ainda é o principal fator na evolução de um jogador jovem e, por isso, foi importante ver Lucas se apresentar bem nos 118 minutos que recebeu de rodagem na semana passada em Las Vegas.
Passes: Quando foi draftado, a projeção para Lucas era que ele poderia se tornar um desses pivôs modernos que pouco tocam na bola e não participam do processo de criação diretamente, mas que finalizam em pick-and-rolls extremamente bem e protegem o garrafão na defesa.
Porém, ele me surpreendeu bastante com sua habilidade de passar a bola em Vegas, especialmente porque o fez de todas as formas. Lucas não só manteve a cabeça erguida quando estava de costas para a cesta em post-ups, fazendo bons passes para alas cortando na diagonal, mas também se mostrou capaz de passar em movimento e de frente para a cesta – recebendo a bola no pick-and-roll e também em situações high-low, quando subia até o topo do arco e fazia o passe para o ala-pivô embaixo da cesta.
De acordo com o site RealGM, Lucas deu assistências em 17,5% das cestas que o Toronto marcou enquanto ele estava em quadra nessa última semana – uma marca altíssima entre pivôs. Embora, é preciso dizer que a média de três perdas de posse por jogo que ele registrou não seja algo para se ignorar.
Finalizações: É de se mencionar, porém, que Lucas se concentrou bem mais em flutuar no perímetro após o corta-luz do que partir para frente do aro e dar opção para a ponte aérea e isso é um tanto preocupante. Essa nova habilidade de passar a bola que o Lucas desenvolveu é muito boa, mas não pode vir às custas do fator ameaçador que ele representa ao redor do aro.
Como o oponente nunca o marcava quando ele flutuava fora do garrafão, Lucas tentou alguns tiros de meia distância e converteu um ou outro quando foi deixado totalmente livre, mas nada que deva ser levado muito a sério nesse momento. O que também é o caso de suas jogadas em post-up, pois ele ainda não tem força suficiente para recuar seu adversário.
É importante levar em consideração também que o pivô disputou a maior parte dos seus minutos junto com o Ronald Roberts, um ala-pivô que não abria até a linha dos três pontos e fazia com que o garrafão ficasse cheio demais. Ainda assim, foi um pouco desconcertante o quão pouco o Lucas cortou pra frente da cesta com convicção após o corta-luz, especialmente pelo fato de ele ter jogado com Delon Wright – um calouro, é verdade, mas formado em Utah e já um dos armadores mais bem desenvolvidos neste ambiente da liga de verão. Fora isso, nas vezes que o fez, Lucas mostrou dificuldade na recepção dos passes em tráfego.
Defesa: Lucas não foi perfeito defendendo pick-and-rolls, se mantendo todo erguido em vez de dobrar os joelhos, além de demonstrar não ter agilidade suficiente para marcar jogadores menores no mano-a-mano no perímetro. Quando recuado, todavia, foi muito bem protegendo a frente da cesta.
Graças à combinação de envergadura e agilidade saindo do chão, foram 13 tocos em cinco partida para ele. Mais que isso: de acordo com o NBA.com/stats, Lucas contestou em média 6,8 tiros de dois pontos por jogo – a terceira maior marca da liga de verão. Seus braços longos também cortaram vários passes. O Toronto permitiu apenas 77,8 pontos por 100 posses defendidas quando o brasileiro estava em quadra, marca que é excepcional.
Rebotes: Parte do motivo pelo qual Bebê foi um defensor de bastante impacto se deve a sua produção nos rebotes. Lucas ainda não é consistente brigando por posição em baixo da cesta, mas sua facilidade de salto e seus braços longos o ajudam a alcançar a bola em pontos mais altos. Ele resgatou 27,4% dos tiros perdidos pela oposição – a 11ª maior marca da liga de verão. Também foi muito produtivo no ataque, resgatando 14% dos tiros perdidos pelo Toronto.
Conclusões (por Giancarlo Giampietro): Bebê é três anos mais velho que Caboclo. Do ponto de vista de seu progresso, é um pouco preocupante que a diretoria e a comissão técnica do Raptors ainda o vejam como um projeto de médio prazo, no mínimo, a despeito do impacto evidente que ele pode ter em um jogo de basquete. Se havia alguma perspectiva de que ele seria mais aproveitado no próximo campeonato, a contratação de Bismack Biyombo foi uma bela ducha de água fria. Biyombo chega para fazer o papel que o brasileiro talvez pudesse muito bem cumprir: cerca de 15 a 20 minutos vindo do banco, protegendo o aro, atuando de modo firme no rebote e sendo uma peça marginal no ataque. O pivô da República Democrática do Congo é muito mais forte e também mais atlético que o carioca, é verdade. Teve sólido impacto por Charlotte nesses quesitos. Mas será que não valeria uma chance para Bebê – que, no ataque, pode oferecer muito mais? Talvez a turbulência na campanha de novato tenha custado em minutos agora. O jeito é o pivô erguer a cabeça, treinar mais e mais, arrebentar na D-League e tentar desbancar Biyombo durante a temporada.
Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.
PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos. Análises sobre os jogos da seleção brasileira durante o Pan só no Twitter, ok?