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Arquivo : Wesley Sena

#NBADraft: os brasileiros em meio a legião estrangeira e muita névoa
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Giancarlo Giampietro

Simmons foi 'testado' pelo Sixers nesta terça. Já estava aprovado

Simmons foi ‘testado’ pelo Sixers nesta terça. Já estava aprovado

O Draft da NBA, nesta quinta-feira, é o último capítulo da liga antes de o calendário virar para temporada 2016-17. Este é o momento da turma do fundão brilhar e se encher de esperança. No caso, o Philadelphia 76ers e Los Angeles Lakers, que, segundo a previsão geral, vão selecionar supostos futuros All-Stars: Ben Simmons e Brandon Ingram, respectivamente.

De acordo com Chris Haynes, repórter do Cleveland.com, Simmons já foi informado pelo Sixers de que será a primeira escolha da noite. Haynes  é bastante ligado aos cupinchas de LeBron James, entre eles o agente Rich Paul – o mesmo do prodígio australiano. Por algumas semanas, havia um certo suspense e a possibilidade de o time de Philly ir ao encontro de Ingram. Desde a mudança no comando do clube, com a chegada de Bryan Colangelo, as especulações todas voltaram a apontar para Simmons. Cá estamos.

E aí que o magrelo Ingram vai sobrar para o Lakers em segundo lugar, algo sobre o que a família Buss não pode reclamar de jeito nenhum. Não só o talentoso ala pode se tornar um desses talentos versáteis, cestinha e defensor, como o clube corria sério desse recrutamento de calouros sem nenhum dos dois. Só lembrarmos que, se escorregassem na lista geral, sua escolha seria endereçada também ao Sixers.

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No ano passado, boa parte dos especialistas e dos scouts da liga imaginava que a franquia angelina escolheria Jahlil Okafor como o segundo do Draft, e aí due D’Angelo Russell. Então nunca se sabe. Nas últimas semanas, Mitch Kupchak organizou testes com outros calouros bem cotados, como o ala-pivô Marquise Criss, o ala Buddy Hield e o pivô Skal Labissierre, entre outros. Qualquer uma dessas opções seria uma baita surpresa, porém. A ESPN também á crava que a escolha está definida.

De resto, o que vem por aí?

Brasileiros
Assim como no ano passado, não há candidatos oriundos do NBB ao Draft. Lembrando aquela regrinha básica: só se declaram disponíveis aqueles atletas considerados “underclassmen”, aqueles que não pertencem à classe de dos atletas que participam automaticamente do recrutamento. No caso, qualquer jogador estrangeiro que esteja completando 22 anos em 2016 e os universitários que estejam se graduando nesta temporada.

Deryk mostra serviço na Europa

Deryk mostra serviço na Europa

O pivô Wesley Sena havia sido o único brasileiro – e sul-americano – a se declarar para o Draft, para forçar sua entrada no radar da liga. O plano do agente Alexandre Bento, em parceria com Aylton Tesch, era levar o jogador para o adidas EuroCamp, realizado entre os dias 10 e 12 de junho, em Treviso, na Itália. A partir do momento que o Bauru estendeu as finais do NBB contra o Flamengo até o quinto e último jogo, porém, sua viagem ficou inviabilizada. Sem exposição nenhuma aos olheiros, que compareceram em menor número ao país nesta temporada, não fazia sentido, mesmo, seguir no processo.

Em Treviso, todavia, se apresentaram dois brasileiros da classe de 1994, a classe estrangeira automática: Deryk Ramos, armador que causou sensação pelo Brasília, e Danilo Siqueira, ala-armador que não deu um grande salto durante o campeonato, mas segue como um dos talentos mais promissores dessa geração. Outro atleta que tem sido investigado é o pivô Leonardo Demétrio, revelação do Mins Tênis, agora no Fuenlabrada, da Espanha, também dessa mesma fornada.

Deryk teve rendimento superior, ganhando menção honrosa dos organizadores do camp entre os destaques do evento, como o melhor defensor. Faz parte do estilo agressivo do armador, com a bola e em cima dela, botando pressão nos adversários. Nos testes atléticos, também foi bem, especialmente nas medições de velocidade e impulsão.

Mas o que os scouts acharam? Consultei cinco profissionais que estiveram na pequena cidade italiana para ver tudo de perto. O rescaldo é que a dupla não impressionou tanto assim, pelo menos não como prospectos de NBA no momento. Não foram realmente as respostas mais animadas da turma que representava clubes americanos por lá. Entre os três olheiros com quem conversei e que são dedicados exclusivamente a franquias da liga, todos da Conferência Oeste, apenas um se mostrou entusiasmado. “Ramos foi bem. Eu diria que ele ajudou sua cotação. Mas ambos são bons prospectos para a Europa”, disse.

É isso. O ginásio também estava cheio de olheiros de clubes europeus. Não impressionar a turma da principal liga do mundo não significa o fim do mundo. Até porque foram apenas três dias de exposição, e nenhuma carreira se define ou se resume em 72 horas. O EuroCamp serve apenas para atiçar a curiosidade desses observadores. “Ei, é só lembrar que a grande maioria dos caras que estavam lá não são endereçados para a NBA. Então isso é normal. Eles não estão entre os melhores prospectos do Draft. Mas se conseguirem alguma proposta da Espanha ou Itália, deveriam aceitar na hora”, afirmou um olheiro ao blog, que é mais dedicado ao mercado do Velho Continente. “Fuzaro não foi bem, não cuidou muito bem da bola e não encontrou sua função em quadra. Mas gostei de Ramos. Ele mostrou que pode ser uma encrenca em quadra, jogando bastante duro e chegando ao aro driblando”, completou.

Seria uma surpresa ver algum desses brasileiros selecionados. Mas já vimos coisas mais malucas acontecerem em um Draft, como o caso de Bruno Caboclo em 2014, que derrubou a transmissão da ESPN. Num episódio mais bizarro, lembremos sempre do congolês naturalizado catari Tanguy Ngombo, que foi selecionado pelo Wolves no 57º lugar de 2011, um posto depois do inesquecível Chukwudiebere Maduabum, o “Chu Chu”. Acontece que o ala estava registrado como Targuy Ngombo, com idade considerada suspeita. Em vez de 22 anos, ele o ala teria 27 (!) anos e nem poderia mais ser participar do processo. E quer saber do que mais? O número 60 naquele ano foi Isaiah Thomas. E 59º, saiu o húngaro Adam Hanga, que se transformou num dos melhores defensores de perímetro na elite europeia. Saca? É essa loucura toda.

O Draft é complexo, envolve muitos interesses para além da composição de um elenco. Deryk, Danilo e Leonardo são representados, internacionalmente, por grandes agências. Então nunca se sabe. A segunda rodada está aí para ser preenchida, embora a concorrência entre os estrangeiros seja particularmente acirrada (mais sobre isso alguns tópicos abaixo).

*   *   *

Enquanto retornava de Treviso para São Paulo para se reintegrar à seleção brasileira que se prepara para o Sul-Americano, Deryk, que está sem contrato no momento, encontrou tempo para responder algumas perguntas do blog. Como sempre, o jovem de 22 anos mostra muita personalidade, com otimismo e confiança. Características tão como ou mais importantes que seu arremesso e rapidez para o futuro:

21: O que você achou do nível de competição no geral e em sua posição? O que deu para aprender por lá?
Deryk: O nivel do Eurocamp estava muito bom, tinha muitos jogadores com grande futuro. Na armação não era diferente. Realmente foi uma experiência muito proveitosa. É sempre bom você analisar o nível em que está, ter desafios novos, jogar com e contra jogadores que nunca viu na vida. Isso te faz amadurecer, evoluir. Sem contar a presença de muitos técnicos de times da NBA: vivenciar e ser comandado por eles é algo muito motivador.

O que você acha que conseguiu mostrar de melhor do seu jogo e o que acha que poderia ter saído melhor?
Fui lá com o objetivo de imprimir meu jogo. Não iria forçar uma situação com a qual não estou acostumado, nem querer mostrar algo que não tenho. Acho que essa é a melhor forma pra se aproveitar essas experiências! Com o passar do tempo, jogar de pick com o pivô e laterais em alguma situação passou a ser meu forte, e lá consegui imprimir bem esse tipo de jogada e colocar meus companheiros numa boa posição de ataque, além de estar envolvendo todos eles, que é o principal papel de um armador. Também é muito importante imprimir um ritmo forte na defesa. Sobre melhorar, sempre busco muito isso, me cobro muito sobre qual seria a melhor escolha, melhor opção ofensiva em cada momento do jogo, além de alguns turnovers. Sou sempre muito critico nesses aspectos.

O quão difícil é chegar por lá e jogar com é contra muitos jovens atletas que estava vendo pela primeira vez?
Realmente isso não é algo muito comum, e  no começo acaba tendo alguns desentendimentos dentro do jogo, pela falta de entrosamento, o que eh natural. Mas, apesar disso, acho que a adaptação minha foi bem rápida. Por se tratar de basquete – é sempre um só –, e por estar do lado de vários jogadores bons, tanto em quadra como pessoas, fica mais prazeroso e fácil.

Para a próxima temporada, planos definidos?  Segue em Brasília ou pensa em tentar um contrato já fora do Brasil?
Não tenho nada definido. Realmente procuro deixar as coisas acontecerem. Sobre Brasília, estamos em negociação. Agora, não tenho duvida nenhuma que meu sonho é jogar fora do Brasil, mas vou deixar as coisas fluírem naturalmente.

Tudo embolado

Bender tem tudo para liderar a Croácia a pódios no mundo Fiba

Bender tem tudo para liderar a Croácia a pódios no mundo Fiba. Um dos gringos bem cotados, mas sem ser unanimidade

A frase do momento é a seguinte: o Draft começa a partir do terceiro lugar, com o Boston Celtics, considerando que Simmons e Ingram já estão garantidos como os dois primeiros. Aí, rapaziada, está praticamente impossível de prever qual será o desenvolvimento desse recrutamento. O Celtics estaria interessado em cinco candidatos. Mas a prioridade de Danny Ainge, na real, é montar um pacote em torno desse terceiro posto para tentar uma troca por um veterano que possa chegar a Boston para fazer a diferença de imediato. Phoenix Suns, Sacramento Kings, Denver Nuggets e outros clubes também estariam interessados em sair da loteria do Draft, também de olho em jogadores preparados.

Fora a possibilidade de trocas, outro fator deixa o processo mais nebuloso: os principais prospectos não conseguem se distanciar entre si. Há um segundo pelotão totalmente abarrotado, por exemplo, com os armadores Kris Dunn e Jamal Murray, os alas Buddy Hield e Jaylen Brown e os alas-pivôs Dragan Bender e Marquese Chriss. O mesmo empastelamento continua por toda a primeira rodada. Na verdade, há quem diga que um atleta selecionado em 42º pode ter o mesmo nível daquele em 20º. Isso faz os times com escolhas tardia sorrirem (alô, San Antonio, Golden State…), mas também deixa os times do top 20, 25 mais susceptíveis a buscarem trocas também.

Legião estrangeira
Os gringos contra-atacam! Menosprezados por anos e anos, os prospectos internacionais voltam a chamar a atenção dos scouts, apoiados por uma safra bastante frágil local e também pelo impacto que Kristaps Porzingis causou em Nova York. Segundo a projeção do DraftExpress desta quarta de manhã, 14 atletas de clubes europeus estariam entre os 60 selecionados, com destaque para Bender, que, na minha modesta opinião, deveria ser selecionado pelo Celtics ou pelo Suns em terceiro ou quarto. Se você contar os jogadores estrangeiros que estiveram em ação pela NCAA, vai passar dos 25 nomes, incluindo o australiano Simmons e o canadense Murray, que enfrentou a seleção brasileira na final do Pan 2015.

Acúmulo de riquezas
Vocês já sabem: o Boston Celtics tem oito escolhas neste Draft, sendo cinco na segunda rodada. O Philadelphia 76ers também tem três escolhas na primeira fase, assim como o Denver Nuggets, que tem cinco no total, e o Phoenix Suns, que tem quatro. Juntos, esse quarteto concentram 20 postos, ou 1/3 de todo o recrutamento. aja WhatsApp, Skype e afins para dar conta de tanta conversa.

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Para entrar no radar, Wesley Sena é único brasileiro inscrito no #NBADraft
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Giancarlo Giampietro

Wesley, primeiro, tem de trombar para jogar por Bauru. Mas seu jogo pode crescer muito

Wesley, primeiro, tem de trombar para jogar por Bauru. Mas seu jogo pode crescer muito. Crédito: Caio Casagrande

Saiu nesta terça-feira a lista dos candidatos ao Draft da NBA, e dessa vez com um único brasileiro, o pivô Wesley Sena, cujo R.G. mostra: “Wesley Alexandre Sena da Silva”. Há duas semanas, como registramos aqui, Wesley Mogi, ou “Wesley Alves da Silva”, passou pelo Nike Hoop Summit, em Portland, se apresentando para mais de 100 scouts da NBA.

Então você pode imaginar a confusão que eles fizeram ao conferir a lista do Draft, especialmente para aqueles que, até hoje, escrevem Lucas ‘Noguiera’. : ) Fica mais difícil, mesmo, até porque os xarás também nasceram no mesmo ano, 1996 Então tem de se explicar que são dois jogadores diferentes, e tal. E até por isso, por mais que seu tempo de quadra tenha minguado nesta reta final de temporada, faz sentido que Wesley, o Sena, tenha inscrito seu nome, para ganhar cartaz e gerar sua própria identidade como prospecto internacional. Talento ele tem. Falta, por vezes, um empurrão.

Com 2,11m de altura (talvez até mais já) e mobilidade, o pivô de 19 anos tem recursos técnicos para ir longe. De cara, o que chama a atenção é a habilidade para o chute de média para longa distância, apresentando aqui e ali num sistema ofensivo abarrotado de cestinhas consagrados em solo brasileiro. Murilo Becker, seu companheiro diário de treinos, discorre sorrindo pela facilidade que o a jovem revelação tem para finalizar com as duas mãos no corte, a facilidade para o chute e como pode se transformar num pivô flexível de primeira linha.

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Encontrar espaço e chances neste tipo de elenco, todavia, é uma missão ingrata, e Wesley sabe disso. “Jogo no poste baixo, arremesso de média distância, de fora. Sempre tive, mas nunca fui um chutador. É um recurso que tenho, para desenvolver, que ninguém fique pagando para ver sempre. Vejo que, para completar o time, tenho de ter um jogo diferente do Hettsheimeir e do Jefferson, que são grandes arremessadores. Tenho de mostrar meu arremesso, mas tenho de ser mais agressivo no garrafão.”

Ao falar em “agressividade”, o pivô vai deixar seus técnicos e companheiros de clube felizes. Entre as diversas atividades de que participa durante os treinos em Bauru, nos treinos específicos e nos coletivos com os veteranos, esta mensagem vem sendo martelada em sua cabeça. É assim, mesmo, que você vai tratar um atleta de tanto potencial. Pois não é só arremesso. Ele tem boa mobilidade para alguém de seu tamanho e pode ser desses jogadores que jogam dentro e fora, dependendo de quem for seu parceiro na linha de frente ou de quem estiver do outro lado.  “O Wesley ainda não entrega  50% do que pode fazer. É um pouco tímido ainda, pode ter mais intensidade. Mas é um cara que tem condições de ir muito longe em sua carreira”, disse o ex-pivô Josuel, que adotou a molecada espichada do clube em sessões específicas.

O tempo de quadra de Sena mais do que duplicou neste NBB, passando de 5,9 minutos em 2014-15 para 14,2, como complemento numa rotação que tem Rafael Hettsheimeir, da seleção brasileira, Murilo Becker, também de extenso currículo pela seleção, um dos maiores pontuadores da história do campeonato, e Jefferson William, também convocado recente para disputar o Sul-Americano, campeão pelo Flamengo e que tem média de 13,4 pontos em sua carreira pela liga nacional. Essa é uma boa estrutura para que o jovem pivô seja lançado. Aos poucos, mesmo.

Logo quando fechou com o Bauru. Baskonia foi opção

Logo quando fechou com o Bauru. Baskonia foi opção

Há garotos e garotos, prospectos e prospectos, certo? Um jogador como Lucas Dias pareceu desenvolvido desde muito cedo e já pedia mais minutos há pelo menos uma temporada, até ser premiado na atual campanha surpreendente do Pinheiros. Mas há jogadores que pedem um pouco mais de tempo para desenvolvimento. Isso não tem a ver necessariamente só com talento, mas também com sua trajetória, personalidade e clube que defende, entre tantos.

Por exemplo: Wesley, tal como seu xará Mogi, foi descoberto meio que por acaso, mas um pouco mais cedo. Se Mogi só foi apresentado ao basquete aos 16 anos, numa escolinha pública em sua cidade natal (Guaçu, no caso), Sena foi descoberto entre os 12 e 13 anos — ele não lembra direito — durante uma competição de saltos em sua escola, em Campinas. “Eu não sabia jogar basquete, nem sabia o que era. Mas já era bem alto já, tinha 1,96m (risos)”, disse. “Aí me chamaram para fazer um teste no clube da Hípica, pois estavam formando um time.”

É por isso que se bate tanto na tecla da “massificação”, por parte de governo ou CBB. O basquete brasileiro precisa encontrar um jeito de detectar talentos como esse mais cedo, para que eles sejam envolvidos mais cedo em um ambiente próspero para o desenvolvimento, mais estruturado. Em 2012, Wesley chegou ao Palmeiras. Dois anos depois, assinou com o Bauru. No meio do caminho, ao lado do irmão mais novo, Yuri, chegou a passar por um período de testes em Vitoria-Gasteiz, terra do tradicionalíssimo Baskonia, o clube espanhol que convenceu a família Splitter a liberar um adolescente Tiago, em 2000. “Ficamos umas duas semanas treinando, conhecendo, mas o Bauru me chamou. Vim para cá para treinar antes de ir para a Espanha, mas fizeram uma proposta boa, falando que iam montar um time bom, interessante. Optei por ficar aqui, perto da família. Na Espanha, demonstraram interesse, fizeram proposta, mas preferi ficar.”

O início promissor pelo Palmeiras

O início promissor pelo Palmeiras, quando estreou pelo NBB já aos 16 anos

Pelo clube do interior paulista, que se tornou gradativamente um papa-títulos na América do Sul, o pivô foi desenvolvido durante toda a sua primeira temporada, mais como uma peça de LDB (com 30,2 minutos, 12,2 pontos, 7,0 rebotes, 1,3 assistência e 1,1 roubo de bola) do que do time principal. Para o início da atual temporada, porém, o cenário mudou. Primeiro por causa de seu progresso, mas também pelas circunstâncias bauruenses, com diversos atletas se apresentando à seleção, outros voltando de lesão e alguns mudando de clube.

Com o Campeonato Paulista começando muito cedo, veio a grande chance para os atletas mais jovens do clube, até por conta de uma Copa Intercontinental que se aproximava também. A equipe sofreu para se classificar para as quartas de final e acabou derrotada pelo Mogi das Cruzes em dois jogos. Mas ao menos Wesley pôde ir para a quadra e respondeu bem, com 11,4 pontos e 5,9 rebotes, em 12 partidas, com 54,6% nos arremessos e 60,4% nos lances livres. Se você excluir os duelos com Mogi, já com a cavalaria de volta, foram 13,1 pontos e 6,8 rebotes. Não são números que quebram a bolsa, mas são significativos para alguém tão jovem no basquete brasileiro, numa competição que ainda estava relativamente em clima de pré-temporada, mas com diversos clubes da elite nacional, claro. Isso para um jogador ainda em formação.

“Já era combinado, que eu teria mais tempo para ficar em quadra e que precisariam de mim no Paulista. Era para eu ajudar os veteranos que ficaram, como o Paulinho e o (Robert) Day. Acho que me surpreendi um pouco com meus números. Comecei bem discreto o Paulista, e aí cobraram mais de mim. Depois, foi acontecendo”, afirmou. “Foi uma experiência que me ajuda muito, de poder tanto jogar na minha categoria abaixo como com os adultos. Já treino com caras de alto nível. Mas no jogo sempre se exige mais. “Fiquei muito contente com meu desempenho dentro de quadra, mas não dá para se contentar. Tem de querer mais e tem muito o que melhorar ainda, diariamente é que você vê suas dificuldades. Tenho de ter mais agressividade no jogo, brigar por todo rebote, sempre estar correndo, fazer as ajudas na defesa com mais velocidade.”

Estão aí, de novo: agressividade e cobranças, como Wesley, mesmo, admite ser preciso. “Ele é um jogador de quem a gente exige 200%”, afirma André Germano, que coordena a base bauruense, trabalha com Demétrius e Hudson Previdelo no time de cima e também responde pelas seleções menores na CBB. “Falamos o tempo todo sobre os acertos e erros dele, de como ele pode expandir seu jogo. É só acreditar no que ele pode fazer.”

Se, no decorrer da temporada, Wesley perdeu muitos de seus minutos, especialmente com o retorno de Murilo à boa forma, não quer dizer que ele tenha sido esquecido por seus treinadores. Especialmente pelo primeiro semestre, quando o calendário se afrouxou um pouco antes da Liga das Américas, Germano o colocou em um programa de treinamento dedicado, que em geral começava às 8h, com academia, e terminaria entre 11h30, 12h, com o treino dos adultos. No meio do caminho, fazia sessões específicas.

Pelo NBB, os minutos estão sendo reduzidos na reta final

Pelo NBB, os minutos estão sendo reduzidos na reta final

Ainda estamos falando de um projeto, de um jogador que ainda pode ser desatento na defesa, na disputa por rebotes, em um time que entra em todas as competições para tentar ser campeão. A previsão de Germano, por exemplo, é de que ele possa alcançar a maturidade como jogador aos 23, 24 anos, ganhando em fundamentos e entendimento do jogo, além do crescimento fora de quadra, mesmo. No trabalho com bola, a ordem é não limitá-lo ao garrafão, mesmo que, a princípio seja a tarefa que o time principal espera dele. Nenhum jogador deve ser enquadrado a nada, ainda mais nesta idade. Basta ver o que Cristiano Felício fez em Chicago quando teve chances, comparando com o modo como era utilizado no Flamengo.  O brasileiro está hoje com 23 anos, justamente na faixa de idade que Germano aponta, por sinal.

É natural que Wesley sonhe com a NBA. Jogando por Bauru, aliás, ele teve sua primeira chance de conviver com a elite da modalidade, ao viajar para os dois amistosos históricos contra New York Knicks e Washington Wizards, em outubro, pelo calendário de pré-temporada da liga americana. Contra o time de Nenê, recebeu do então técnico Guerrinha 28 minutos para correr pela quadra. Terminou com 11 pontos, 5 rebotes e 2 assistências, matando 5 em 8 arremessos, com direito até a uma bola de três, na linha estendida. Nervoso, porém, errou seus quatro arremessos — a adrenalina sobe quando você para para pensar, né? “Não esperava jogar tanto, achei que ia entrar, mas não por tanto tempo. Entrei bem ansioso, mas acho que deu para produzir bem. Deu para ter uma noção do que é um jogo de NBA, bem diferente, bem físico. O Nenê ficou me dando dicas. Falou que era para continuar assim, que estou jogando bem. Foi uma grande sensação”, afirmou.

Mas tudo tem seu tempo. Ainda há uma longa estrada à frente para Wesley Alexandre Sena da Silva. Ou Wesley Sena, mesmo.

*   *   *

Lucas Dias arrebentou no NBB. Está no radar

Lucas Dias arrebentou no NBB. Está firme no radar

Por falar em Felício… Uma lembrança importante: talvez o pivô do Bulls seja o melhor exemplo para qualquer prospecto brasileiro, em vez de Bruno Caboclo, que foi uma clara exceção em todo esse processo. O Toronto se encantou por seu talento, assegurou uma promessa é, depois que o burburinho em torno do garoto fugiu do controle, gastaram logo uma escolha de primeira rodada nele, para surpresa geral. Isso nunca havia acontecido antes de, pelo menos não exatamente com um roteiro destes.

Já Felício passou batido em seu último Draft, o mesmo de Caboclo, em 2014.  Mesmo depois de ter se apresentando bem no adidas EuroCamp em Treviso. Tudo bem. Voltou ao Rio de Janeiro e seguiu trabalhando. Até que o Bulls lhe abriu as portas para um teste. Contrariando todas as perspectivas, devido à conjuntura específica do elenco de Chicago, cheio de pivôs altamente qualificados. Como ele conseguiu?  Não só com talento natural, mas com muito empenho. Ser ignorado por um sistema que só abre 60 vagas anuais é o mais provável, na verdade. Mas não é o fim da linha.

Esse tipo de roteiro deve estar na cabeça se cada garoto com aspirações de NBA, como o trio do Pinheiros (e mesmo um pivô bem jovem que logo mais vai estar em pauta, Lucas Cauê), Mogi e outros.

Dessa vez eles decidiram ficar fora do Draft. A movimentação, declarada, de scouts pelo país não foi das mais agitadas. Spurs e Sixers estiveram por aqui, do que sei. Bem menos do que no ano passado, quando Georginho foi um chamariz, depois de perfil publicado pelo DraftExpress. Que eles não tenham vindo não significa que não haja interesse. Pelo menos mais quatro clubes estiveram de olho no progresso da turma. A parceria da LNB com o sistema Synergy contribui muito para isso.

Três scouts manifestaram surpresa pela decisão de Lucas ficar fora, positivamente impressionados peço NBB que fez, passando de promessa a realidade, com números dignos de um All-Star nacional já. O progresso de Humberto também foi registrado. Mas seus clubes também não foram agressivos o suficiente também em suas sondagens. Para gente tão jovem, porém, não há pressa.

Lucas e Humberto vão completar 22 anos em 2017. Então vão ser candidatos automáticos ao Draft. Com mais um ano de cancha, desde que com tempo de quadra e oportunidade para produzirem, mantendo essa curva de ascensão, terão candidaturas ainda mais fortes, sólidas. Entre os olheiros, há aqueles que topam o risco máximo, como aconteceu com Caboclo, que tinha as ferramentas físicas, atléticas dos sonhos. Mas há muitos que preferem apostas mais factíveis, levando em conta aquilo que os atletas já produzem em suas ligas locais. Faz mais sentido, aliás. No caso de Mogi, George e Sena, de 1996, eles tem ainda mais dois anos.

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A Fiba Américas agora é da Venezuela e Néstor García. Ou quase isso
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Giancarlo Giampietro

A Fiba Américas agora é da Venezuela. Ou quase isso

Néstor García, o argentino que conquistou a Venezuela

Argentina, Brasil. Brasil, Argentina. Se bipolarização é o nosso esporte, o basquete sul-americano seguiu por muito tempo na mesma. Até que a Venezuela decidiu bagunçar um pouco essa história, com seu primeiro título continental desde o bicampeonato do Trotamundos de 1988-89. Isto é, também o primeiro título com este formato. Além disso, ao derrotar, em sequência, Mogi e Bauru, o Guaros de Lara garantiu ao país a unificação dos dois principais títulos regionais no mundo Fiba,  entre os rapazes. Primeiro haviam chocado a geração NBA do Canadá. Agora puseram fim a uma hegemonia brasileira na competição.

Os clubes brasileiro chegaram ao final four da liga com 75% de chances de título, já que o Flamengo também estava na luta contra os anfitriões. Mas dessa vez não deu, e não dá para dizer que tenha sido uma surpresa. Este Guaros fez de tudo para chegar lá. De gestão gastona, mas elogiada nos bastidores por saber para onde destinar seus investimentos, montou um grande elenco e ainda tinha um treinador competente para orientá-los.

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O detalhe é que o clube venezuelano conseguiu jogar sempre em casa, a cada etapa, se aproveitando de um regulamento que permite tudo e não valoriza critérios técnicos. Em vez de estipular prioridades com algum senso de justiça com com base em resultados, ranking, a Fiba Américas, seguindo o modelo da matriz, simplesmente abre concorrências pouco transparentes e altamente rentáveis. Daí chegamos à ridícula (ou, vá lá, questionável) decisão de, numa festa em que 75% dos representantes eram brasileiros, a minoria foi felicitada.

Quanto os venezuelanos pagaram para superar as candidaturas de Mogi e Rio (que, aparentemente, foi descartada de cara)? Vai saber. Mas deve ser algo substancioso, para se ignorar a possibilidade de reunir três torcidas distintas num mesmo ginásio, em vez somente de um — barulhento, é verdade — público do Guaros.

Alex não pára: Bauru conseguiu grande virada contra o Flamengo para jogar a final

Alex não pára: Bauru conseguiu grande virada contra o Flamengo para jogar a final

De novo: como o processo nunca é detalhado, qualquer observador tem a inclinação a dar asas à imaginação. E vem desse buraco a linha de raciocínio de que talvez fosse a hora de algum outro país levar o caneco. Vai saber. Também por conta de um regulamento esportivo esdrúxulo, tivemos um desfecho estranho no último quadrangular semifinal, no mesmo Domo Bolivariano, que resultou na queda de Brasília. O mesmo Brasília que ao menos havia, um dia antes, vencido o Guaros por conta própria — e que também os havia derrotado pela segunda fase. De todo jeito, o time do DF também tinha a chance de se classificar sem depender dos outros e, quiçá, compor um histórico Final 4 brasileiro, mas complicou ao perder de muito para o Flamengo.

O Guaros fez das suas, se intrometeu na fase decisiva e conseguiu um grande título, sem ser exatamente soberano. Pela semifinal, a equipe anfitriã penou contra Mogi (81 a 73), um adversário que provou que era pura bobagem o empurra-empurra com o Flamengo dias antes. Como consolação, o estreante superou os rubro-negros e garantiu mais que honroso lugar no pódio (73 a 71).

Depois, valendo o título, veio o último golpe de sorte a favor do Guaros. O Bauru teria de buscar o bicampeonato sem dois titulares – Fischer e Hettsheimeir, dois de seus três principais jogadores. Para piorar, o armador suplente, Paulinho, também estava fora. Ainda assim, Bauru fez um jogo duro até o final (84 a 79), com Demétrius dando 17 minutos a um pivô de 19 anos (Wesley Sena, que faz sua primeira temporada realmente efetiva na rotação) e um armador de 18 anos (Guilherme Santos, lançado aos poucos, com 35 minutos no total pelo NBB. Dá para conhecer um pouco mais sobre ele aqui, com scouts da NBA na plateia). Para esses garotos, aliás, estar em quadra com rivais tão experientes, num ambiente como aqueles, já vale como um mês inteiro de cancha.

O Bauru, como se esperava, não teve muita facilidade na articulação de suas jogadas. Especialmente no quarto período em que seus atletas se viam constantemente obrigados a atirar de muito longe, bem marcados e sem equilíbrio algum, antes que a posse de bola estourasse. O belo aproveitamento nos rebotes ofensivos ao menos evitou que seu oponente desgarrasse no placar um pouco antes.

(O ponto positivo é a recuperação de Murilo, se movimentando com confiança e leveza. Se havia um jogador que merecia o título, era o veterano pivô, que passou por muitas dificuldades nas últimas duas temporadas, dentro e fora de quadra, entre lesões graves. Entre a experiência para os garotos, a demonstração de força perante os desfalques e a virada para cima do Flamengo, pela semi, a equipe paulista ganha bons argumentos para voltar para casa de cabeça erguida.)

Wilkins vai curtindo o final de carreira no mundo Fiba

Wilkins vai curtindo o final de carreira no mundo Fiba

Nos minutos finais, porém, uma bola de três pontos de Tyshawn Taylor e uma cesta+falta em Damien Wilkins fizeram a diferença, em sequência. Justamente dois dos ótimos reforços que o clube foi buscar, ao lado de um terceiro americano também produtivo, o ala Zach Graham. Taylor e Wilkins são talentos de NBA, ou quase. O jovem armador foi draftado pelo Nets e dispensado muito cedo – e foi contratado durante o torneio, daqueles movimentos que a Fiba também permite sem o menor controle. O veterano ala tem longa passagem pela liga, teve seus momentos aqui e ali e hoje busca mais alguns trocados mundo afora.

MVP da fase final, Wilkins foi sempre um porto seguro para os venezuelanos como referência ofensiva, matando 6 em 11 lances livres e descolando ainda mais sete pontos em lances livres. Com vasta bagagem, altura, força, personalidade e fundamentos, é o tipo raro de jogador no mundo Fiba que vai conseguir aguentar o tranco e bater o incansável Alex Garcia. Esses gringos se juntaram a uma base bastante experiente, de jogadores que entram e saem da seleção nacional.

Sobre o caráter de Wilkins, falo sobre seu histórico na NBA. O ala tem um sobrenome de peso, mas se virou na liga sem a capacidade atlética que seu tio e seu pai ostentavam. Foi com suor e como boa companhia no vestiário. Se errou lances livres peopositais contra o Flamengo, foi por ordem de seu treinador. Poderia contestar a ordem, claro, mas não é o pedido fosse ilegal. Assim como faltas intencionais em péssimos arremessadores no segundo ou quarto período, está no regulamento e não há muito o que ser feito.

E aí chegamos a Néstor Garcia, que vai chegar ao Rio de Janeiro cheio de moral, como campeão continental em duas esferas. O sujeito se transformou na Venezuela. Se não taticamente, mas pessoalmente, com uma persona que mais parece a de um torcedor do que um técnico na lateral da quadra. Seus trejeitos exagerados, seu uniforme todo amassado e/ou esgarçado gera empatia impressionante com o torcedor (e certo estranhamento por parte de seus americanos, é verdade).

García, o personagem da vez no basquete sul-americano

García, o personagem da vez no basquete sul-americano

Da campanha surpreendente pela Copa América, “Che” é o ponto comum mais óbvio. Daquele elenco, apenas o intrigante e inconstante ala-pivô Windi Graterol foi campeão da Liga das Américas. Em ambas as conquistas, o campeão foi definido aos trancos e barrancos, em jogos apertados, emocionantes, nos quais suas equipes conseguiu se manter equilibrada, consistente em quadra, mas também empurrada pela torcida – tal como aconteceu no México, com os espectadores de público recorde abraçando.os venezuelanos. Será que no Brasil a torcida terá essa boa vontade? Há mais que uma simples conexão latina aqui, sabemos. Será uma nota curiosa entre tantos assuntos olímpicos.

Mas não sei se podemos tirar muitas conclusões aqui. As circunstâncias da Copa América para a Liga das Américas é bem diferente. Na primeira, a Venezuela era uma zebraça. Na segunda, a equipe venezuelana era uma das favoritas. Vale monitorar, mas não indica exatamente um problema para o basquete brasileiro, por exemplo. A mera possibilidade de reunir quatro times num Final 4 seria impensável cinco anos atrás, antes de as conquistas começarem.


Wizards domina Bauru desde o início. Notas sobre o amistoso
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Giancarlo Giampietro

Robert Day certamente volta para Bauru feliz da vida

Robert Day certamente volta para Bauru feliz da vida

Desta vez o Bauru não conseguiu nem incomodar o gigante do outro lado. Na conclusão de sua excursão pela Costa Leste americana, o time brasileiro foi derrotado por 134 a 100, no quintal do Obama. Agora a equipe volta para casa, descansa um pouco e volta a se concentrar no NBB.

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O Bauru sentiu o impacto de enfrentar uma das melhores defesas da NBA, estando entre as dez mais eficientes da grande liga nas últimas três temporadas. É um time com atletas de primeiro nível em todas as posições, e a pressão já começa com o exuberante John Wall a partir do momento em que a bola cruza a quadra, forçando um caminhão de turnovers (19), incomodando até mesmo um armador habilidoso como Ricardo Fischer (5).

O abafa continua a partir do início das jogadas de pick-and-roll na cabeça do garrafão, marcando em cima a linha de passe e também a própria fonte. Os brasileiros não conseguiam dar continuidade a seus movimentos, quase sempre desestabilizados. O time da casa soube proteger seu garrafão – e não é que os bauruenses fossem procurar muito o jogo lá dentro… –, mas também não deu liberdade aos chutadores.

Bauru arriscou 39 arremessos de longa distância e converteu 13, para 33,3%. Agora, se for descontar a munheca certeira de Robert Day (5-7), que se esbaldou nestes dois amistosos, obviamente realizando um sonho de encarar seus melhores compatriotas, cairia para 8-32 (25%). Mesmo quando estiveram livres, não funcionou. Hettsheimeir foi para 2-10, enquanto Jefferson passou em branco (0-5).

Contra Knicks e Wizards, Day marcou 36 pontos e acertou 10 de 16 arremessos de longa distância.

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Uma vez recuperada a bola, seja pelo rebote ou desarme, o Wizards voou em quadra, com uma transição muito veloz, batendo os adversários do armador ao pivô. Não foi apenas John Wall a apostar corrida e ganhar com facilidade, o que seria mais que normal. Marcing Gortat (19 pontos em 22 minutos, em 12 arremessos) e Nenê (11 pontos em 7 arremessos, em 16 minutos) também conseguiram, e já no primeiro tempo, antes mesmo que o desgaste que a maior carga de minutos que um jogo nas regras da NBA pode gerar. Foram 38 pontos em contra-ataque para os anfitriões, contra apenas seis dos visitantes. Ao final do primeiro período, com 34 a  19, já não havia mais jogo.

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Quer dizer, pelo menos teve jogo para Wesley Sena, sim. O garoto de 19 anos teve uma ótima oportunidade de se testar contra um Marcin Gortat, Nenê e os veteranos Drew Gooden e Kris Humphries. Não é todo dia que acontece, mesmo que no segundo tempo a partida tenha ganhado contornos de rachão. Em 28 minutos, o caçula foi muito mais produtivo que Jefferson dessa feita, com 11 pontos, 5 rebotes, 2 assistências, matando 5 em 8 arremessos, incluindo seu único chute de longa distância. Em alguns momentos, o jovem pivô deixou rebotes e passes escaparem dado o evidente nervosismo, que resultou numa atuação totalmente pilhada no primeiro tempo. Mais que natural, e até por isso estava mal posicionado em algumas situações defensivas, faltando comunicação com os outros pivôs. O tempo foi passando e ele, se assentando, até que pôde fechar a partida contra a turma do garbage time do Wizards.

Wesley também foi indiretamente protagonista do momento mais eufórico do jogo, para o torcedor do Wizards que estava no ginásio, quando a organização da partida resolveu fazer uma aposta sacana. Colocaram no telão do ginásio que, se o brasileiro errasse dois lances livres, a galera toda teria direito a um x-salada com frango. Fizeram uma algazarra, o pivô cumpriu com sua parte, e aí era a hora de encher a pança depois da partida. Fico imaginando o que estaria passando pela cabeça de Wesley, sem entender nada do que se passava – por que teriam escolhido justo ele para atormentar?! –, até ser informado pelo pessoal do banco de reservas.

De qualquer forma, é isso: uma experiência valiosa para o jovem atleta, que já fez um bom Campeonato Paulista para alguém de sua idade e certamente vai constar na rotação de Guerrinha durante a temporada brasileira, ainda mais com Rafael Mineiro se mandando agora para o Flamengo.

Sei de pelo menos um time da Conferência Oeste que esteve no ginásio com o intuito exclusivo de avaliar Wesley, tendo acompanhado também os treinos de Bauru durante a semana. É bem provável que outros times tenham comparecido ao jogo também.

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Para fechar, uma nota um tanto chata sobre Nenê. O pivô não aceitou falar com a reportagem do SporTV antes do jogo ou na saída de quadra durante o intervalo. Fosse uma final de campeonato, ainda que o protocolo da NBA não diga nada a respeito, não faça nenhuma diferença a respeito, até daria para entender o silêncio. Mas num jogo de pré-temporada? Em casa? Com uma emissora brasileira? No dia de enfrentar uma equipe nacional, com transmissão para cá? É bem difícil de entender, e trata-se de um episódio acidentado de relações públicas que não ajuda em nada sua imagem já arranhada no país, como as vaias no amistoso entre Wizards e Bulls, no Rio de Janeiro, há dois anos, mostraram.

O paulista de São Carlos sempre foi um cara muito reservado diante de microfones, de falar pouco, mas não me lembro de vê-lo tomar uma atitude dessas. No máximo, quando contrariado, tinha o costume de ser monossilábico ou evasivo em respostas. Consta que ele tem uma mágoa com o jornalismo brasileiro. Tudo em decorrência de supostas críticas ao seus pedidos de dispensa da seleção. Não é questão de corporativismo, mas sinceramente nunca notei uma campanha declarada e ferrenha contra Nenê para gerar um desconforto desses. Até porque, convenhamos, qual o tamanho da imprensa segmentada no país? Por isso, suponho (ênfase em suposição, por favor, não é informação) que a mágoa não seja restrita ao jornalismo, mas ao basqueteiro brasileiro em geral, até por conta das vaias no Rio. Mas, enfim, cada um vai enxergar a situação de uma forma. Só me parece que existe um baita ruído nessa relação e, do lado do pivô, talvez já não haja mais a mínima vontade de se remediar. Uma pena.


Bauru x Flamengo: os duelos, os números e a luta por hegemonia
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Agora se reencontram na final

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Agora se reencontram na final

Tem tudo, mesmo, para ser uma grande final. Ou melhor: grandes finais, com a adoção do sistema melhor-de-três.

São dois elencos estelares e caríssimos para os padrões nacionais, com sete jogadores que disputaram a última Copa do Mundo em quadra e cinco atletas da seleção brasileira convocada para o Pan de Toronto, neste ano. Há também um enredo sobre hegemonias, com o Bauru tentando completar uma temporada perfeita, com quatro grandes troféus, enquanto o Flamengo mais uma vez tenta o tricampeonato, mantendo a soberania na competição. Isto é, além do troféu em si, há muita coisa especial para atiçar.

Depois de obter a melhor campanha de uma fase regular do NBB, com aproveitamento de 93,3% (28 vitórias em 30 jogos), Bauru sofreu nos playofs, precisando de dez partidas para despachar Franca e Mogi, pela ordem. A semifinal contra os mogianos foi duríssima, saindo de ambas as séries com saldo de apenas três pontos. Sim, três – como se tivesse conseguido cada um de seus triunfos por um mísero pontinho. Contra os francanos, pelas quartas, o saldo foi de 27 pontos em cinco jogos, todos eles obtidos no primeiro jogo da série. Quer dizer: deu empate nos outros quatro.

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Será que a equipe pode reencontrar a forma avassaladora de meses atrás? Foi quando estava iniciando uma sequência que chegaria a 26 jogos sem perder, só pelo NBB – ou 34, se formos contar também a campanha pela Liga das Américas. Para o técnico Guerrinha, não é a pressão para confirmar o favoritismo – fomentado ao longo de suas conquistas, diga-se – que precisa ser driblada. São as pernas, mesmo, que pesam mais.  “Fizemos 82 jogos em 240 dias, é praticamente um jogo a cada três dias.Franca e Mogi jogaram menos jogos, ficamos 23 dias parados, além de o nível das equipes ter aumentado muito”, afirmou.

A lesão de Jefferson William também é apontada pelo treinador como um fator significativo nesta queda de rendimento. “Quando o perdemos, ainda conseguimos ir além, pois ainda estávamos naquele embalo. Depois, começamos a sentir o desgaste de rotação, tanto física quanto tática. Quem jogava 20, 22 minutos passou a jogar 35, 37 minutos”, disse.

Jefferson estava jogando muita bola, sim, e faz muita falta – participou das duas vitórias na temporada regular, inclusive (84 a 77 no Rio e 92 a 84 em Bauru, com médias de 16,0 pontos, 7,5 rebotes em 33 minutos para o ala-pivô ex-flamenguista, e  e 5/11 de três). O elenco construído, no entanto, teve/tem recursos para seguir adiante. A rotação dos grandalhões ficou mais enxuta, mas talvez o jovem Wesley Sena pudesse ter sido mais testados na fase de classificação, para eventualmente dar conta de cinco ou seis minutinhos por jogo durante os playoffs. Não aconteceu, de modo que esse papel caberia, então, a Thiago Mathias, mas o pivô de 27 anos viu seu tempo de quadra despencar contra Mogi: não passou de 4 minutos nas últimas três partidas.

Não vai ter Jefferson em quadra: ala-pivô ex-Fla sofreu lesão no tendão de Aquiles

Não vai ter Jefferson em quadra: ala-pivô ex-Fla sofreu lesão no tendão de Aquiles

Contra um garrafão estelar como o do Flamengo, Rafael Hettsheimeir e Murilo vão ser exigidos ao máximo – e a ótima partida que Becker fez contra o Mogi no desfecho das semis não poderia ter vindo em melhor hora, com 17 pontos, 12 rebotes e 8 lances livres cobrados e convertidos em 35 minutos. Devido ao porte físico e excelentes mãos, Jerome Meyinsse e Cristiano Felício dão um trabalho danado na briga pelos rebotes. Ao lado deles, alas-pivôs como Olivinha e Walter Herrmann acrescentam muita versatilidade, podendo atacar dentro e fora, sem deixar que o poderio reboteiro caia. É difícil imaginar que, em formações mais baixas, Robert Day ou mesmo Alex consigam segurar esses dois, mesmo em minutos reduzidos – a tendência é que tabela ficasse vulnerável.

Na turma de fora, são vários os duelos muito envolventes:

1) o jovem Ricardo Fischer terá um desafio, e tanto, pela frente,  para atacar e ao mesmo tempo se preparar para ser agredido no embate com Laprovíttola, que se impôs contra Nezinho e Deryk pelas semis;

2) Larry Taylor poderá até eventualmente dar uma força a Fischer na defesa, mas já terá mãos cheias ao lidar com Vitor Benite, seu companheiro de seleção – são dois armadores-alas explosivos, que vêm com muita energia para a quadra, e, até pelas características atléticas semelhantes, talvez fosse o caso de Robert Day começar no banco, batendo de frente com Marcelinho; Gui Deodato também entra nessa equação aqui, dependendo do desfecho do confronto entre os armadores principais;

Benite e Larry vão para o Pan em Toronto. Antes, se enfrentam

Benite e Larry vão para o Pan em Toronto. Antes, se enfrentam

3) e aí sobram Alex e Marquinhos, dois velhos conhecidos e concorrentes, que já protagonizaram vários grandes ‘rachas’ nas últimas temporadas – sempre com o aspecto pitoresco da diferença de altura (15 centímetros) e estilo entre eles. Alex, quatro anos mais velho, com um vigor físico ainda impressionante, implacável na defesa, oferecendo ainda liderança e a confiança de quem já perdeu a conta dos troféus que conquistou por estas bandas. O nível de agressividade de Marquinhos sempre é uma incógnita, mas sua combinação de categoria, estatura e mobilidade faz a diferença de qualquer forma em quadras brasileiros.

Se formos levar em conta o que se passou nos mata-matas, a impressão é a de que o Flamengo chega muito mais inteiro fisicamente e também com a autoestima bastante elevada. Isso vai resultar em maior pegada defensiva? Em mais pressão sobre a bola? Isso se traduziu nos últimos jogos. A equipe deixou para trás os altos e baixos do início do campeonato. Recorde-se, todavia, que não foi uma temporada das mais típicas para o clube rubro-negro, que já precisou jogar em alto nível logo na largada para conquistar seu maior troféu, a Copa Intercontinental, para depois emendar uma empolgante, mas também insólita turnê de NBA pelos Estados Unidos. Dando um gás rumo aos playoffs, o Fla teve relativo trabalho contra São José (cinco jogos também, mas com placares muito mais elásticos em suas vitórias) e varreu Limeira de modo impressionante. “A vitória sobre eles nos deu muita esperança de fazer uma boa final. Nosso início não foi o esperado por todos, mas estamos aqui e vivos”, afirma José Neto.

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Uma comparação estatística entre os clubes até a final, levando em conta toda a campanha:

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Sobre hegemonias? Esse é o aspecto mais interessante em jogo: de um lado o Bauru pode fechar no melhor estilo uma temporada que, convenhamos, já é histórica, depois da conquista do Paulista e de dois campeonatos continentais, a Liga Sul-Americana seguida pela Liga das Américas. Ganhar o NBB só deixaria tudo isso ainda mais incrível, com uma campanha 100% inédita por estas bandas. Além do mais, seria o primeiro clube paulista a ganhar o título nacional com a nova nomenclatura – e o primeiro desde Ribeirão Preto, em 2003. Já o Flamengo busca um tricampeonato que igualaria façanha de Brasília de 2010 a 2012.

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A liga nacional enfrentou alguns problemas para montar a tabela final. Não dá para assimilar muito bem o horário de 21h30 desta terça-feira para subir a bola para a decisão. Por ser Flamengo, espera-se que a casa esteja cheia, apesar das dificuldades de logística que se tem para chegar à Arena da Barra. Se já é difícil acessar o ginásio neste horário, imagino o pesadelo que deva ser sair de lá entre 23h e 0h.

Depois, temos Marília, eventualmente para os próximos dois sábados, se assim a final exigir. Se Jacararepaguá está longe (para o Jota Quest e, claro, dependendo do ponto de partida no Rio), os bauruenses vão ter de correr cerca de 105 km para apoiar seu time. A mudança, neste caso, porém, era inevitável. A Panela de Pressão tem capacidade para apenas 2 mil torcedores, e aí seria muito pouco, mesmo, para um evento deste porte. Não acho que dê para contestar muito o regulamento. A diretoria do clube e da liga encontraram, então, o popular ginásio da Avenida Santo Antônio – parte do Centro Municipal Educacional, Esportivo e Cultural Professora Neuza Maria Bueno Ruiz Galetti. Tem capacidade para 7 mil pessoas e foi inaugurado em 2012. Uma curiosidade dessas que só no Brasil, mesmo? O ginásio foi construído com grana do ministério da Educação e, até novembro do ano passado, só poderia ser utilizado pela secretaria educacional local. Aí que a Prefeitura conseguiu alterar a regulamentação, em acordo com o Ministério Público,  liberado o espaço para atividades diversas. Demais.

O ginásio em Marília, nova casa para o NBB

O ginásio em Marília, nova casa para o NBB


Ricardo Fischer aceita a pressão de mudar e liderar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Fischer, bem na foto

Fischer, bem na foto

Tem vezes que, fora a festa e a congratulação de jogadores, dirigentes, técnicos e fã – o que já é muita coisa –, um Jogo das Estrelas qualquer não serve para coisas mais práticas de quadra. Digo: não define muita coisa do ponto de vista esportivo, do que acontece na temporada regular de verdade.

Em Franca, no último fim de semana, porém, o prêmio de MVP da partida entre brasileiros e estrangeiros entregue a Ricardo Fischer teve um valor realmente simbólico e para além do troféu. Serviu para confirmar a ascensão de um jovem armador que vem cumprindo seu papel de modo mais que satisfatório comandando um time dominado por veteranos que, desde o momento que foi formado, jogaria por uma e só razão: títulos.

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Aos 23 anos, Fischer se assume em quadra como líder. Mesmo que, quando olhe ao redor, veja basicamente jogadores muito mais experientes, com longa rodagem em jogos internacionais, por clubes e a seleção brasileira. Para ele, não tem problema. É sua a missão, a responsabilidade de encaixar tantas peças talentosas – e valiosas –, na tentativa de, no próximo final de semana, conquistar o terceiro troféu em três campeonatos. A Liga dos Américas, no caso, para tentar se tornar o terceiro campeão continental em três anos consecutivos.

O Bauru enfrenta no sábado, no Maracanãzinho, o Peñarol de Mar del Plata, da Argentina, enquanto o anfitrião Flamengo encara o Pioneros de Quintana Roo, do México, pelas semifinais (confira a tabela e preços de ingressos). Neste duelo, o clube paulista vai ter de se testar novamente sem o ala-pivô Jefferson William, afastado do restante da temporada devido a uma ruptura no tendão de Aquiles. Um desfalque que muda alguns planos, é verdade, mas que não tira do time de Guerrinha o favoritismo, por conta de tudo o que eles fizeram até aqui: além de liderarem o NBB, com 23 vitórias em 25 jogos, já ganharam o Campeonato Paulista e a Liga Sul-Americana.

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

“Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando”, disse Fischer ao VinteUm. “Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.”

Para ajudar a equipe a chegar a este patamar, o armador precisou ajustar algumas coisas em seu jogo: menos pontos, mais passes. O tipo de sacrifício, aliás, que foi pedido para todos os jogadores de um elenco estrelado. “Preciso fazer mais que eles joguem, e está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo.”

Veja a entrevista realizada durante o final de semana do Jogo das Estrelas em Franca, antes de Fischer entrar em quadra para ganhar o prêmio de MVP e superar não apenas os estrangeiros do NBB como as vaias do torcedor fanático local, perseguindo um bauruense. Isto é: o armador ainda é jovem, mas já construiu um nome, uma reputação. Veja, então, o que ele tem a dizer:

21: O Bauru faz uma grande temporada, conquistando tudo o que conquistou, mas agora parte para a fase mais difícil, decidindo a Liga das Américas e lutando pelo título do NBB. Justo agora, o time teve seu primeiro grande desfalque, com a lesão de Jefferson William? Qual o impacto dessa lesão?
Ricardo Fischer:
O impacto foi grande. Se pegasse o vídeo do jogo depois do que aconteceu, estávamos abatidos. Além de ser um grande jogador, é um amigo nosso, que a gente sabe que, numa fase final do NBB, chegando aos playoffs, e também com o Final Four do NBB, acabou se machucando. É muito ruim. Para nós, vai mudar um pouco de característica. Provavelmente o Rafael vai jogar de 4, com o Murilo de 5, por ter um pouco disso. Mas a gente perde um pouco.

É a velocidade, não?
Sim, a velocidade a gente perde. Além disso, ele desafoga um pouco até como lateral. Mas ganhamos em outras coisas, como no jogo interno, principalmente com o Murilo e o Rafael jogando de costas. O Alex também provavelmente vai ter de fazer o pivô em alguma parte dos jogos. Agora vamos nos ajustando. Montaram um time para isso, para não sofrer com jogador fora. Acho que vamos estar bem.

Jefferson é baixa para o Bauru

Jefferson é baixa para o Bauru

E o Wesley Sena (pivô de 18 anos que compõe o elenco)? Ainda está muito cedo?
O Wesley… Assim, está treinando bastante com a gente, entrando nos jogos. Claro que no Final Four a gente não pode esperar muito dele. Mas na sequência, nessa fase final do NBB para os playoffs, acho que pode ajudar, sim Com certeza vai ganhar mais minutos.

Você é um armador jovem, em termos de idade, ainda que já venha acumulando boa experiência nos últimos anos. Quando você recebe as notícias de tantas contratações, de veteranos de Seleção… Então como faz para ser o líder desses caras em quadra? É uma curiosidade que sempre tenho, sobre como funciona essa dinâmica.
É engraçado, mesmo. Eu já era um líder antes de eles chegarem, e neste ano continuou. É estranho. Fui capitão, levantei o troféu da Liga Sul-Americana e, você vê, sendo um dos caçulas do time. Eles me respeitam muito. Acho que o armador tem de falar muito dentro da quadra, mesmo, e eles me escutam. Principalmente por ser o armador, com outra visão. Isso é fenomenal. Ao lado de tantas estrelas, que jogaram as Olimpíadas, Mundiais, têm vários títulos, poder ser um dos líderes, é muito bom.

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Por outro lado, imagino que, vez ou outra, no vestiário, eles podem pegar no seu pé também, né? De falar para o ‘moleque’ maneirar…
É… (Risos). Tem vezes que eles soltam o: “Calma aí”. Mas isso tudo que aconteceu foi bem natural, nada forçado. Todo mundo respeita. Pode até vir o Wesley, que é o mais novo do time, e a gente vai escutar e conversar.

E o que você ganha com esses veteranos ao seu lado? Um cara como o Alex. O que ele mais oferece no dia a dia de treinos, fora o nome, o respeito que pede dos adversários?
Cara, costumo dizer que o Alex é um monstro, mesmo. Como pessoa e como jogador ele teve um impacto gigantesco. Um cara que já ganhou tudo, já competiu em tudo, e nesses dias fez 35 anos, mas parece que tem uns 20 ainda, pelo vigor físico dele, pela vontade que tem de ganhar. Já podia ser alguém acomodado, jogando na dele, mas quer ganhar a qualquer custo. A gente aprende muito com isso, com sua experiência e também com as histórias que conta.

Na virada de uma temporada para a outra, você já via pistas, dicas de que um grande time estava sendo formado? Ou tudo isso te pegou de surpresa?
Por ser um armador, conversava muito com os diretores. E eles tinham essa ideia de trazer esses grandes reforços. Confesso que a surpresa foi o Robert Day e o Jefferson. Tínhamos já o Faber no time, que estava fechado, mas teve um problema pessoal e saiu. O Day foi uma novidade sensacional. Hoje temos um banco com Larry, Gui e outros caras que poderiam ser titulares em qualquer time. São caras que se completam, foi um time bem montado.

Quando soube queria todos esses jogadores como companheiro, as coisas mudaram para você na preparação para a temporada?
Muda bastante, porque no ano passado tinha mais protagonismo, tinha de buscar mais a cesta e ao mesmo tempo fazer o time jogar. Não preciso mais ir tanto para a cesta, agressivo como no ano passado. Preciso fazer mais que eles joguem. Acho que está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo. Entendo qual a mudança que precisava ter. Para este ano, também trabalhei muito fisicamente.

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Esse tipo de sacrifício é o que seria pedido para cada jogador, mesmo, com tantas contratações. Isso foi conversado com vocês antes de a temporada começar?
Foi tudo muito natural, mesmo, e acho que por isso que nosso time está tão bem. Todos os jogadores sabem que, para ganhar, precisariam abrir mão de algumas coisas. Todos entenderam isso, e não temos vaidade nenhuma, mesmo, por mais que algumas pessoas até nem acreditem. Se vou sair para o Larry entrar, estou dando o lugar para um grande jogador. Todos se respeitam, isso é a chave.

O favoritismo incomoda? A partir do momento que Bauru juntou este elenco, o nível de expectativa ficou altíssimo. Aí o time ganha o Paulista, ganha a Sul-Americana e lidera o NBB. Ao mesmo tempo, enquanto vai cumprindo com isso, cada resultado positivo, imagino, só faz crescer do outro lado, não?
Vem mais pressão. E isso vem, mesmo, desde o momento em que começamos a treinar. Todo mundo querendo saber como vai ser esse time, se vai ganhar. Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando. Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.

Sobre o estilo da equipe, de buscar muito o chute de três pontos. Sabemos que esse é um ponto discutido no basquete brasileiro há muito tempo. Talvez nem tanto o volume, mas a seleção de arremessos. De qualquer forma, lá fora, há uma tendência que isso cresça, mesmo. Para o Bauru, era esse o plano desde o início?
Acho que foi pensado, mas também teve o encaixe natural. Tem jogo em que chutamos 40 bolas, mas com um aproveitamento bom. A característica dos jogadores é essa. A gente não pode tirar. O que a gente conversa bastante é que, depois de estudar o jogo, vemos que alguns arremessos estão sendo forçados. Então a gente pode jogar mais interno, mas é uma característica que não dá para perder. O Rafael, por exemplo, é um jogador 5, que joga muito bem de costas, mas é um cara que faz corta-luz e pode abrir para o arremesso. O Alex pode jogar dentro e aberto também. Temos muitas armas. A gente procura trabalhar para liberar o arremessador, deixá-lo livre para matar.

Para fechar, queria perguntar como você está se sentindo na sua curva de aprendizado. No que pensa em melhorar daqui para a frente.
Tenho mais três anos de contrato, mas com cláusula para que eventualmente possa sair para a Europa ou para a NBA. Só no Brasil que não. O aprendizado foi esse de saber abrir mão do meu jogo ofensivo em prol da equipe. E fisicamente, mesmo. Na Seleção, acabei me machucando no Sul-Americano. E me foquei este ano no físico. Se voltar para a Seleção, para o Pan de Toronto, quero estar bem. É um trabalho em cima de resistência e força. Não sou um cara alto para a armação, então preciso ser veloz e forte. São coisas que eu percebi que precisava trabalhar, e neste ano já melhorei muito, mas ainda tem muito mais para ganhar, com um trabalho específico, com uma nutricionista e um preparador físico em Bauru, que trabalham sozinhos comigo.

E os planos para o futuro? Pensa em jogar na Europa, fora do país?
Penso, sim, em ir para a Europa. Ir para uma Espanha, jogar a Euroliga, acho que é o sonho de qualquer um. Mas estou feliz em Bauru, tenho esses três anos de contrato, assim como o resto do time. Então não precisa criar expectativas. O que tiver de acontecer, vai acontecer.


Pinheiros x Bauru: pela LDB, um jogo para ser gravado
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Giancarlo Giampietro

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Pode não ter tido prorrogação, ou cesta de três para completar uma virada milagrosa no final, nem nada disso. Também não vi nem 85% das partidas do campeonato como um tudo. Mas me sinto confortável em escrever que é improvável demais que a edição atual da LDB, a liga de desenvolvimento nacional, tenha visto um jogo melhor, de nível superior ao de Pinheiros 83 x 73 Bauru, nesta segunda-feira, em São Paulo.

Tivemos um jogo bastante centrado, mas longe de ser supercontrolado. Houve correria, mas uma correria bem organizada, com os atletas executando com segurança. Em situações de meia quadra, a bola girou de um lado para o outro e foram poucos os chutes forçados, daqueles de tapar o olho. Ao todo, foram apenas 15 desperdícios de bola no terceiro jogo do dia. Se for para comparar, no jogo que fechou a noite, o caos imperou em quadra muitas vezes, e chegamos a 34. E esse nem foi o recorde do dia, que coube a Sport e Limeira, com 35, enquanto Brasília x Basquete Cearense teve 23 – dos quais apenas 8 ficaram na conta da equipe de Fortaleza, diga-se, que chegou ao 24º triunfo consecutivo, com 12 pontos, 8 assistências e 7 rebotes de Davi Rossetto, seu líder.

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Não há como não elogiar o trabalho dos dois técnicos nessa partida especificamente: César Guidetti pelo time da casa e Hudson Previdelo pelo Bauru. Afinal, a presença de jogadores de muito potencial em quadra obviamente não serve como garantia de um grande jogo por estas bandas – quanto mais em partidas de garotos. Os dois elencos estavam recheados de bons valores, mas ainda muito jovens, que precisam de uma condução. Nesta segunda, no “Ginásio Azul” do ECP, foi o que aconteceu, sem momentos de destempero, showzinho, nem mesmo num quarto período tenso, em que os visitantes encostaram no placar perigosamente. Apenas dois caras bem tranquilos concentrados em seus times – não adianta ficar berrando numa LDB.

cesar-guidetti-hudson-previdelo-ldb.jpgAuxiliar de Marcel de Souza no time de cima, César assumiu a equipe Sub-23 na reta final da LDB e não teve nem uma semana de treinos com a molecada. O posto foi aberto devido à saída de Brenno Blassioli, que dirigiu a equipe nas três primeiras etapas da temporada regular e se mudou para a Turquia, acompanhando a esposa Sheilla, estrela do vôlei nacional – na quarta etapa, Zé Luiz, o José Luiz Marcondes, figura importante da base, havia sido o comandante. Importante ressaltar que não estamos falando de modo algum de um técnico novato – César tem vasta experiência nas categorias de base, desde os tempos de Santo André, com clubes ou seleções.

Do outro lado, Hudson, mandou para quadra um quinteto titular para a quadra desfalcado de duas peças importantíssimas em sua campanha: o armador Carioca e o pivô Wesley Sena. A duplinha foi convocada para o jogo do adulto, pelo NBB, contra a Liga Sorocabana, em mais uma vitória arrasadora dos rapazes de Guerrinha. Se o nome deste duelo foi o ala Gui Deodato, que explodiu para 35 pontos numa jornada memorável, vale notar que o trator chamado Carioca saiu de quadra com 12 pontos em apenas seis minutos de ação – sendo que oito deles foram nos lances livres. Wesley jogou por 13 minutos e anotou 4 pontos, mas não apanhou sequer um rebote. Com a lesão de Jefferson William, afastado da temporada por conta de uma infeliz ruptura no tendão de Aquiles, o jovem pivô deve ganhar mais chances. Vamos ver como reage. Os dois desfalques, inclusive, foram mencionados por Guidetti num breve papo depois da partida.

Hudson, por sua vez, não hesitou em falar sobre a estrutura de que o Bauru dispõe – e está desenvolvendo – hoje. Vale uma visita, na certa. Sabemos também que o Pinheiros aposta bastante na formação de base. De modo que não parece coincidência que tenhamos visto um grande duelo entre suas equipes. Durante a temporada, não dá para dizer que esse tenha sido o padrão de ambas, é verdade. Mas, se mantiverem o curso atual nos bastidores, a tendência é que isso possa se replicar mais e mais.

Georginho assumiu a responsabilidade nos minutos finais

Georginho assumiu a responsabilidade nos minutos finais

Em meio a essa organização que deveria servir de exemplo, os lances bonitos por parte dos protagonistas, os atletas, ganharam ainda mais valor – não surgiram a partir de jogadas quebradas e sem defesa recomposta. Um contexto propício para que o talento pudesse entrar em prática. E talento de fato não faltava em quadra. São todos garotos que merecem todo o carinho possível nessa fase importantíssima de desenvolvimento.

Do lado pinheirense, temos Georginho, próximo alvo imediato da NBA no Brasil, atraindo já mais de um terço dos clubes da liga; Lucas Dias, 19 pontos, talvez o cestinha com maior potencial desta nova geração, com um arsenal em constante evolução (ainda falta matar mais bolas em flutuação), cada vez mais propenso a fazer o passe extra e também muito mais ativo na defesa e no ataque aos rebotes; Humberto, que ainda depende muito de sua confiança, de seu conforto em quadra – quando as coisas vão bem, saia da frente; Duval, com sua força física e energia descomunais. Vamos ficar de olho também no caçulinha Cauê, que, na verdade, de “inho” não tem nada – aos 16 anos, entrou na partida apenas no quarto período e ajudou a fechar o garrafão e frear o ataque do Bauru. Sua presença física congestionou a defesa e ajudou a limitar o ataque interior bauruense, que, desta forma, não conseguiu explorar o fato de haver carregado os adversários de faltas.

Biloca, 20 anos, um ala bastante rápido, com belo potencial para defender e atacar o aro

Biloca, 20 anos, um ala bastante rápido, com belo potencial para defender e atacar o aro

O time do interior contou com a estreia de Guilherme Santos, um dos destaques do último Basketball without Borders, camp promovido pela NBA e pela Fiba, em Nova York durante o All-Star Weekend. Ganhando bons minutos, já que Carioca estava longe dali, o novíssimo armador (em diversos sentidos, já que está fazendo a transição para a posição precisamente neste momento) teve pouco de convívio com os companheiros e não foi tão bem no ataque. Mas isso não o impediu de agredir na defesa, pressionando quem quer que estivesse com a bola, incluindo Georginho e Humberto – mais altos e mais velhos. Hoje essa é a principal virtude do garoto de 17 anos. Quem carregou o ataque da equipe foi o ala Gabriel de Oliveira, com 22 pontos. Já é um atleta de 22 anos, de basquete bastante agressivo, buscando as infiltrações – e fugindo um pouco da propensão bauruense para o tiro de fora, somando nove lances livres. Outro que chamou atenção foi o ala Biloca, que tem muita velocidade nos pés e boa capacidade atlética.

Georginho acabou sendo o nome da partida, com um desempenho decisivo muito mais relevante que seus 19 pontos e 12 rebotes. Cheio de confiança, o armador matou 7 pontos nos minutos finais do quarto período, todos eles em arremessos a partir do drible, o que não é um dos pontos mais fortes de seu jogo. Sinal de que vai ganhando confiança e transferindo o trabalho dos treinos para a prática.  Um desfecho apropriado para uma grande duelo, algo que esperamos ver mais e mais por aqui.


Jovem armador brasileiro se apresenta com sucesso a olheiros em NYC
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Giancarlo Giampietro

Guilherme Santos e Tiago Splitter: 13 anos de diferença

Guilherme Santos e Tiago Splitter: 13 anos de diferença

Ao pisar em um dos ginásios do Baruch College, em Nova York, para ver as atividades do Basketball without Borders, tinha poucas referências sobre quem seria Yuri Sena, 17 anos. Sabido que se tratava do irmão mais novo de Wesley Sena, com quem foi do Palmeiras para o Bauru, com uma passagem abrupta para testes pelo Saski Baskonia, da Espanha, vulgo Laboral Kutxa, no meio.

De Guilherme Santos, também de 17, porém? Não havia ouvido falar nada e nem deu tempo de fazer uma pesquisa mais apropriada antes do embarque para os Estados Unidos. Quem eu consultei por aqui também não soube dizer muita coisa. O que tinha até, então, era que ele havia acabado de assinar com o mesmo Bauru, saindo de Barueri, o mesmo clube que trabalhou com Bruno Caboclo antes de este sair para o Pinheiros e, depois, para Toronto. Mais jovem e mal jogou com o ala do Raptors por lá.

>> Leia também: Agora veterano, Splitter se admira com ‘surgimento’ de revelações no Brasil
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Então era a hora de saber quem era o garoto. Ao lado de muitos, mas muitos olheiros e dirigentes da NBA, como RC Buford, gerente geral do Spurs, David Griffin, gerente geral do Cleveland Cavaliers, Sam Hinkie, gerente geral do Philadelphia 76ers, e Masai Ujiri, homem reponsável pela seleção de Caboclo em Toronto. Sem contar Nikola Vujicic, diretor do Maccabi Tel Aviv, e outros cartolas europeus.

A impresssão foi positiva. “Ele foi uma grata surpresa”, afirmou ao VinteUm o chapa Jonathan Givony, o cara por trás do DraftExpress, o site mundial mais influente quando o assunto são as revelações do basquete. “Eu o desconhecia totalmente também. Ele fez um ótimo camp para mostrar seu talento. É um armador de jogo muito leve e que pode jogar em diferentes velocidades e vai especialmente bem quando em transição.”

Para apresentar seu cartão de visitas, Guilherme, de 1,92 m, teve a chance de jogar com três dos atletas mais renomados na lista geral: o croata Dragan Bender, MVP do camp e o mais perto de um grande craque garantido ali, o armador canadense Jamal Murray, com quem dividia a quadra nos momentos decisivos, e o pivô australiano Isaac Humphries, um legítimo pivô de 2,13 m, que deve causar bom impacto o momento que for jogar na NCAA. Os três devem, cedo ou tarde, aparecer na NBA. O que, naturalmente, resultou em maior atenção para sua equipe, que jogava em nome do Houston Rockets, dirigida por Matt Buser, um dos assistentes de Kevin McHale.

Dá para dizer que essa versão alternativa e fraldinha do Rockets venceu muito mais jogos do que perdeu no decorrer dos três dias do evento. Não que isso importe para muita coisa. O que todos estavam querendo ver ali era como cada garoto se comportava num ambiente desafiador por diversos sentidos, especialmente por estarem enfrentado a elite da categoria (embora alguns jogadores tenham sido proibidos por seus clubes de viajar), num ambiente de, sim, pressão.

“Digo a eles que já passei por isso, esse tipo de treino, com muita pressão. Falo para eles apenas irem para a quadra, fazerem o que sabem, para curtir o momento”, disse Tiago Splitter, que compareceu justamente ao terceiro dia de atividades, para contar algumas histórias para a garotada. “Sei que é difícil fazer isso, afinal, para muitos, o futuro está na mesa, precisando jogar bem. Mas ao se tornar um jogador profissional, essa pressão existe em cada jogo. Então pelo menos já se adaptam a isso. Gostaria de ter mais tempo para trabalhar com eles.”

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Para alguém que disputava apenas seu segundo evento internacional e que pouco fala inglês, Guilherme se mostrou bastante confortável. Bastante, mesmo. Era como se estivesse no quintal de casa. Comunicativo – não me pergunte como – e com uma energia contagiante, evidenciada por seu empenho nos treinos de fundamento. Sempre saltitando e dando até um jeito de furar a fila quando um companheiro aparentava cansaço e hesitação, para receber a bola novamente e partir para o abraço.

Essa eletricidade toda se traduziu para os jogos. Com envergadura, força física e muita agilidade no deslocamento lateral, pressionava demais o drible dos adversários em marcação adiantada, forçando turnovers seguidos ou ao menos desequilibrando qualquer orquestração ofensiva que o menino rival tivesse em mente. Isso aconteceu em especial no segundo dia. Foi impressionante. Quanto mais sucesso teve, mais Guilherme ganhava confiança e acelerava seu passo. “Dá para ver que ele é um cara dedicado nos dois lados da quadra e tem um nível de energia excelente”, disse Givony.

No ataque, deu para notar um jogador bastante tranquilo com a bola, com excelente drible e velocidade para atacar a cesta. No garrafão, quando corta pela esquerda, ainda foge da canhota na hora de finalizar. O arremesso dele ainda sai um pouco baixo e os braços se elevam um pouco inclinados demais para a frente, dando mais chance para que os oponentes o bloqueiem, ou atrapalhem. Não aconteceu nos momentos em que o observei.

(Durante o camp, na hora dos jogos, duas quadras paralelas ficavam ocupadas. Os jogadores são substituídos de cinco em cinco minutos, saindo praticamente todos de uma vez, para que cada inscrito tenha chances de mostrar serviço. Então o ritmo é frenético, com muitos jogadores para serem observados. Não dá para – e seria um desperdício – grudar os olhos num só atleta.)

Seu chute, ainda que com essa mecânica, até caiu com boa frequência. Mas, num nível mais alto de competição, pode ser um problema. Na avaliação dos scouts com quem conversei, é algo de fácil correção. No artigo, só dou aspas para Givony, pelo simples fato de os olheiros não poderem se pronunciar oficialmente sobre os chamados underclassmen, os jogadores que não estão na liga e nem passaram pela fase de Draft.

Agora, os cuidados devidos: foram só três dias de atividade, ainda que o fato de ele já ter sido o melhor jogador do All-Star do BwB das Américas do ano passado, no Canadá, seja outro ótimo sinal. Ele tem apenas 17 anos, como a grande maioria dos que ali se apresentaram. Todos cheios de inconsistências, longe de estarem formados tecnicamente.

Guilherme pode por vezes demorar para passar a bola. Quando tenta acalmar as coisas, como aconteceu na hora do primeiro jogo do domingo, teve uma partida praticamente nula. Estava num ritmo mais lento, apenas conduzindo a bola. Nesse contexto, isso dificilmente vai acontecer. A não ser que estejamos falando desse tipo raro de jogador que lê o jogo com uma fluência de veterano desde os anos de chupeta, como o Kendall Marshall de North Carolina. Não é o caso de Guilherme. Não é o caso de mais de 90% dos atletas na sua posição. Essas coisas se desenvolvem com o tempo.

Yuri Sena ao centro. De vermelho, Matt Buser orienta seu time

Yuri Sena ao centro. De vermelho, Matt Buser orienta seu time

No BwB, os meninos passam quase todo o tempo de treino em trabalhos específicos de fundamentos, para passe, finalização, defesa, cortes para a cesta e movimentação fora da bola/espaçamento. Os times mal treinam juntos, antes de a bola subir. Os técnicos têm tempo de passar uma ou outra jogada, que servem muito mais para se avaliar a capacidade de execução e improviso deles, do que para vencer uma partida. Além disso, cada quinteto assimila jogadores do mundo todo.

No segundo jogo do domingo, o jovem brasileiro já havia voltado ao modo turbo, agredindo desde o princípio. Obviamente havia tomado uma chamada do técnico. Depois, algo que fui descobrir por lá, em papos informais com o garoto e com gente da liga, é que ele, até o ano passado, jogava muito mais fora da bola – vá lá, como um “2” do que como um armador com mais responsabilidades com a bola. Uma informação valiosa para entender essas dificuldades e que torna o que ele mostrou em NYC algo mais interessante ainda. “Ele tem de continuar treinando seu arremesso e sua habilidade como criador de jogadas, mas ele nos mostrou alguns lampejos legais, no ataque e na defesa, que nos fazem acreditar que ele pode virar um bom jogador. Ele tem um futuro legal pela frente.”

Guilherme é um jogador que efetivamente entrou no radar da NBA. O que, de novo, não garante nada. “Quando tinha 17 anos, estava jogando na Espanha e as pessoas começaram a falar sobre mim como jogador de NBA. Já era profissional na Espanha, estava ciente disso, mas só fui entrar na liga aos 25 anos. Levou um bom tempo entre o momento que começaram a olhar para mim e a hora que cheguei para jogar aqui. Você tem de ser paciente”, diz Splitter, que, na verdade, não pode ser comparado com ninguém. Desde muito cedo, foi visto corretamente como um prodígio, alguém com uma maturidade e jogo muito evoluído para alguém de sua idade. Não é o caso de seu compatriota 13 anos mais jovem.

* * *

Sobre Yuri, é preciso dizer: se a vida de armador num camp destes não é fácil, para o pivô fica mais difícil ainda. Os grandões podem passar minutos e minutos sem nem mesmo ser acionados no ataque. Mais: esta foi a estreia internacional do garoto. Demorou um pouco para se aclimatar, como ele mesmo admitiu.No terceiro e último dia, estava bem mais solto no ataque e conseguiu se estabelecer como uma boa opção no jogo dentro da zona pintada, quando lhe passavam a bola.

De certa forma, Yuri, de 2,07 m, lembra, e muito, seu irmão. É comprido e magro. Tem um corpo que lhe permite jogar dentro e fora do garrafão. Sua predileção é ficar mais perto da cesta, mesmo. Tem um trabalho de pés ágil e consegue girar bem para os dois lados, finalizando também com a mesma eficiência com ambas as mãos, algo que, creiam, é uma raridade mesmo num seleto grupo desses.

A impressão que me passou é a de que o garoto ainda está tentando se sentir confortável com seu corpo em quadra, que talvez esteja em plena fase de crescimento. Impressão que também pode ter a ver com algo que o pivô contou: era para ele também ter jogado no ano passado, ao lado de Guilherme, na edição americana do BwB. Devido a uma lesão no pé, acabou não acontecendo. Ficou dois meses fora de ação.

Yuri tem as pernas bem compridas, o que é uma vantagem e salta aos olhos mesmo no jogo de transição. Mas sua base corporal ainda é fraca. O que dificulta o jogo de costas para a cesta contra adversários mais fortes, físicos.

* * *

Como dito aqui, tanto Guilherme como Yuri estão no Bauru, o time do momento no basquete brasileiro. NBB, para eles, a gente pode esquecer. O curioso é saber como o clube vai se comportar com eles em relação à LDB. Nem mesmo isso parece garantido, já que há uma série de atletas mais velhos, que mal veem a quadra no conjunto de selecionáveis de Guerrinha, para serem aproveitados.

Na armação, o time pode usar, por exemplo, Rafael Carioca – que é muito mais explosivo e forte que Guilherme, sendo quatro anos mais velho. Já Yuri poderia jogar ao lado do irmão Wesley, o que seria bem interessante. Pelo fato de terem perdido os primeiros jogos desta quarta etapa disputada em Belo Horizonte, dificilmente serão aproveitados agora. Para a fase final? A expectativa é que sim. A ver.

* * *

Ayán (d) e Maximo, promessas argentinas

Outro talento meio-brasileiro chamou a atenção no BwB em Nova York: o ala-armador Ayán Nuñez Caravalho. Sim, Carvalho: seu pai é brasileiro, a mãe argentina. Ele foi inscrito como argentino. É um jogador de vigor físico intrigante, belo arremessador, boa impulsão e muita agilidade. Dos três vizinhos que estavam por lá, foi o que mais chamou a atenção. O ala-armador Maximo Fjellerup também tem prestígio e possui um jogo mais veterano do que a média, aproveitando ou criando brechas na defesa para pontuar e passar. Mas não fez um camp muito bom no geral, um pouco fora de sintonia, forçando muitas jogadas de efeito. Também jogou por lá o ala Agustín Mas Delfino, que é forte para burro, sólido, mas tem um basquete, digamos, terreno que limita suas opções profissionais por ora. Acho que ainda pode fazer algo na Europa, mas, hoje, é difícil imaginá-lo na NBA.

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Um consenso: o nível do BwB deste ano foi bastante elogiado. Foi uma safra muito generosa, claro que pelo fato de reunir talentos do mundo todo pela primeira vez. Além de Bender (que é um prospecto de fazer cair o queixo, gente, e sobre o qual se encontra informação por aí na rede já de monte, incluindo vídeos), Murray (idem), mais alguns nomes para se monitorar: Silvio de Sousa, Angola, 16 anos, 2,03 m – um ala muito forte e atlético, com bom drible; Thomas Wilson, Austrália, 17 anos, 1,92m – depois de Murray, o melhor armador natural do camp; Yanhao Zhao, China, 17 anos, 1,95 m – um ala-armador muito rápido, atrevido e talentos com a bola.


NBB7 tem Flamengo favorito ao tri, mas com nova ameaça
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Giancarlo Giampietro

flamengo-2014-carioca-basquete

O NBB que começa nesta sexta-feira promete o melhor nível técnico do campeonato em sete edições. São ao todo dez atletas que disputaram a última Copa do Mundo, algumas importações de talento interessantes e jovens promissores – sim, eles ainda existem, mesmo que dependam da boa vontade de seus técnicos para jogarem. Fazer um bolão para adivinhar os quatro semifinalistas também será uma tarefa complicada, com muita gente se achando no direito de entrar nessa parada, o que é extremamente saudável. Resta saber o que todos os técnicos por trás dessas forças poderão aprontar, para fazer suas equipes se diferenciarem e subirem na tabela, tirando o máximo da técnica que tiveram à disposição.

De todo modo, em meio a essa crença de imprevisiblidade, uma tese é difícil de se evitar. Nem há muito como escondê-la: por tudo o que conquistou na última temporada – e no início desta –, o Flamengo é o grande favorito, principalmente depois que as negociações de Marquinhos com a NBA não foram adiante. Um jogador único dentro da liga nacional.

Se o time rubro-negro confirmar essa condição, chegará a um tricampeonato, repetindo o feito de seu rival Brasília, que ganhou três taças consecutivas entre 2010 e 2012. Se, para enfrentar adversários da liga norte-americana, em partidas de mais longas, o elenco de José Neto se mostrou reduzido, em cenário nacional, com os 40 minutos regulares da Fiba e uma concorrência mais justa, plantel não será um problema. Nem mesmo o tão sonhado pivô extra, que poderia ter sido JP Batista, parece necessário.

Dessa vez ele terá Vitor Benite desde o início da campanha – em vez de apenas na partida final –, ganhando  mais poder de fogo. Mas o grande chamariz, mesmo, em termos de novidade fica por conta de Walter Herrmann, que, aos 35 anos, tem muito o que render em quadra:

Demais, né? É o tipo de lance que você não cansa de rever. De tão sofisticado que foi o movimento, a cada reprise pode-se reparar em um novo detalhe: nada como fazer da bola de basquete uma bolinha de tênis. Herrmann, Marquinhos e Olivinha formam um trio de atletas intercambiáveis, que podem exercer múltiplas funções, entregando um pacote de características diversas que facilitam muito qualquer riscado de prancheta. A linha de frente é complementada pelo excelente Jerome Meyinsse, que comprovou contra Maccabi e NBA que não é só forte e atlético para os padrões sul-americanos, e Cristiano Felício, que já provou merecer seus minutos em sua turnê pelos EUA.

Não fica só nisso. Nícolas Laprovíttola é o melhor armador em atividade no país hoje, com um arsenal de fintas para entrar no garrafão quando bem entender. O que facilita a conexão com Olivinha, Herrmann, Meyinsse e Felício e, ao mesmo tempo, abre espaço para os chutes de fora de seus companheiros. Se o argentino maneirar um pouco no ímpeto e desistir dessa ideia de chutes de três em movimento, a partir do drible, sua eficiência vai decolar, impulsionando toda a equipe. Sim, há sempre detalhes para corrigir e o que melhorar, mesmo para os campeões. Mesmo para um time com o luxo de contar com um Gegê em constante evolução, saindo do banco. Enfim, um esquadrão, que deve imprimir um estilo de jogo agressivo, de velocidade e combativa defesa.

Uma nova ameaça
O Fla tem três quatro (1, 2, 3, 4) jogadores que disputaram a última Copa do Mundo. O único clube que repete essa marca é justamente aquele que, em teoria, desponta como a maior ameaça ao seu reinado: o Bauru. Campeã nacional em 2002, com os veteranos Raul, Vanderlei e Josuel, um emergente Leandrinho e os adolescentes Marquinhos e Murilo, a cidade só se viu entre os quatro melhores do NBB na edição retrasada, quando terminou em terceiro lugar.

Rafael e Larry, dois selecionáveis

Rafael e Larry, dois selecionáveis em Bauru

Para esta sétima edição, porém, a equipe do interior paulista foi a que mais se reforçou. Num projeto bastante ambicioso, a diretoria entregou a Guerrinha quatro grandes nomes: Alex, Rafael Hettsheimeir, Jefferson William e Robert Day, que se juntam a um núcleo já bastante forte.  As contratações do veterano Alex, que aos 34 ainda tem um vigor físico assustador, e de Hettsheimeir são as que chamam mais a atenção, e não necessariamente pela grife de seleção brasileira. Tirar o ala-armador de Brasília foi uma surpresa, um negócio que causa impacto em duas equipes de ponta de uma vez. Já o pivô passou os últimos nove anos na Espanha, estava em clubes de ponta do campeonato nacional mais forte da Europa e que poucos imaginavam que poderia voltar aos 28. Pois ele queria faz tempo, como revelou ao VinteUm.

O Bauru tem todas as peças que precisa para montar um ataque poderosíssimo. São três pivôs versáteis com Murilo, Hettsheimeir e Jefferson. Larry Taylor e Ricardo Fischer dividem a armação. Guilherme Deodato, o americano Day e Alex rodam nas alas. Esperem trovejadas de três pontos aqui. Constam também os caçulas Wesley Sena (se conseguir bater Thiago Mathias, já será ótimo sinal), Carioca (um tanque em direção ao aro), Vezaro e Gabriel para completar a rotação. As interrogações ficam por conta do joelho de Murilo, que vem dando trabalho, e da consistência defensiva de um time que é baixo no perímetro e vai depender de muita pressão em cima da bola para se proteger – algo que Alex, Larry, Fischer e Gui podem muito bem fazer.

É um plantel mais volumoso e com mais apelo que o do velho candidato Brasília, que tem José Vidal novamente na beirada da quadra. Giovannoni é um sério candidato ao prêmio de MVP do ano, agora com ainda mais responsabilidades ofensivas, enquanto Arthur vai correr ao redor das defesas, se desmarcar e converter seus chutes. Fúlvio é o tipo de armador que vai satisfazê-los em sua sede de pontos. Para a equipe candanga voltar ao top 4, porém, dois pontos são importantes: que o americano Darington Hobson se encaixe e se adapte – já ouvi por aí que ele tem um senso de grandeza um pouco desproporcional ao que produz… – e que Ronald e Isaac esteja prontos para carregar uma carga maior. A defesa vai depender muito dos três.

Mais que o CV
Esses são evidentemente os times mais estrelados da competição. Considerando a divisão de títulos bipolar dos seis primeiros campeonatos, sabemos que isso tende a fazer diferença por estas bandas. Por outro lado, a lista de vice-campeões nos permite pensar, sim, em mais candidatos, ou surpresas. Não é que Flamengo e Brasília tenham chegado a todas as decisões. Nos últimos quatro anos, a equipe derrotada foi diferente.

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano, segundo colocado do ano passado, fez por merecer o respeito de todos e também mantém seu núcleo, com um elenco bastante homogêneo em que os americanos Kenny Dawkins e Desmond Holloway carregam a pontuação e uma série de companheiros os ajudam com defesa, movimentação de bola e espaçamento. Para este ano, chegaram o experiente Fernando Penna (um jogador de que gosto, mas que não sei bem o quanto era necessário num elenco que já tinha o jovem Arthur Pecos para ajudar Dawkins e Manteiguinha) e o americano DeVon Hardin, um gigante extremamente atlético que chega para substituir um Rafael Mineiro, que foi para o São José. O pivô havia feito ótimo campeonato na temporada passada patrulhando o garrafão, ocupando espaços na defesa. Para isso, Hardin, que já foi selecionado no Draft da NBA de 2008, vai ter de mostrar que é muito mais que um campeão de enterradas. E, sim, Fabrício Melo poderia estar aqui, mas acabou dispensado por questões extraquadra. Gustavo de Conti vai tentar fazer dessa turma uma nova encrenca para os adversários.

E, se for para falar em surpresa, não há como ignorar o que o Mogi das Cruzes também balançou o NBB6. Honestamente, talvez nem mesmo o técnico Paco Garcia esperasse que sua equipe poderia alcançar a semifinal e endurecer contra o Flamengo numa série melhor-de-cinco. O problema do sucesso é o desmonte. Quatro de seus atletas migraram para o próximo clube dessa lista. Em contrapartida, chegaram caras de ponta como Shamell e Paulão, além do ala Tyrone Curnell, referência do Palmeiras no campeonato passado, do armador Elinho e do jovem pivô Gerson Espírito Santo, formado em Colorado State. O Mogi pode manter a pegada de  um garrafão pesado, massacrante que o levou  longe, mas também conta hoje com mais alternativas para acelerar o jogo. Tantas trocas, porém, pedem tempo para o acerto. O que não deve mudar é o apoio de sua torcida. Lá o mando de quadra faz realmente diferença.

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Também semifinalista, mesmo numa temporada conturbada em que contou com três técnicos, o São José é outro que tem algumas caras novas para entrosar. E pior: algumas delas chegando de última hora, perdendo a fase de preparação, a ponto de faltar contingente para o técnico Zanon – recém-egresso do Mundial feminino, diga-se – realizar coletivos. Além disso, Caio Torres vem sofrendo com uma tendinite no joelhor direito. A contratação de Mineiro ganha relevância por isso. Valtinho é quem assume a direção agora – Manny Quezada, o homem dos 50 pontos, foi embora. Nas alas, Betinho vai ter a companhia de dois americanos: Andre Laws, que está de volta (e nem dá para entender por que havia sido liberado), e Jimmy Baxter, mais um que vem da Argentina.

Agora vai?
O continente paulista, aliás, talvez chegue com sua maior força ao campeonato nacional, desde que ele passou a ser organizado pela LNB. O estado, maior polo produtor do país, ainda não conquistou o título do NBB, tendo de se contentar com três vice-campeonatos, quatro terceiros lugares e três quatro lugares. Tem mais gente querendo entrar nessa briga.

O Pinheiros estoca as revelações mais tentadoras do basquete brasileiro, com o novato Georginho chegando para a festa, mas tem na contratação do técnico Marcel de Souza seu ponto mais intrigante, que promete algo de diferente no plano tático, encerrando seu exílio. A receita na montagem do elenco é semelhante à de seu rival da capital: nomes não muito badalados, mas com bons jogadores em quantidade (são quatro armadores que pedem tempo de quadra, por exemplo: os irmãos Smith, Paulinho e Jéfferson Campos, sem contar Humberto). Subestimem o quanto quiserem um trator como Marcus Vinícius Toledo, que isso não costuma sair bem. Os resultados recentes do time, campeão da Liga das Américas 2013, também o credenciam.

De volta ao interior, armadores também não faltam a Limeira, agora com Nezinho ao lado de Ronald Ramon e Deryk. A presença de um cestinha como David Jackson e de Rafael Mineiro, Teichmann e Fiorotto também encoraja muito. E quanto a Franca? O time da capital basqueteira dosa, entre seus protagonistas, a cancha de Helinho, que está de volta para trabalhar, veja só, com Lula Ferreira, e dos argentinos Juan Figueroa e estreante Marcos Mata (candidato a MVP?) dois alguns prospectos para a seleção brasileira como Leo Meindl e Lucas Mariano – mas talvez que talvez só sejam aproveitados com maior frequência no outro ciclo olímpico, a julgar pelo progresso deles e o conservadorismo de Rubén Magnano. A rotação, porém, é enxuta.

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

São todos ótimos times, com muito potencial para ser explorado por seus treinadores. Depois do que Paulistano, São José e Mogi fizeram no NBB6, cada um ao seu modo, com trilhas diferentes, está claro que o equilíbrio da competição permite diversos desdobramentos. O maior orçamento, os nomes mais consagrados…  Essas coisas talvez não importem mais. Vai pesar o melhor trabalho de quadra, mesmo.

No Rio, pensando nisso, o Flamengo tem algo que costuma fazer a diferença no basquete: química e continuidade, como o Spurs demonstra na NBA. No caso do gigante carioca, a diferença é que, em seu elenco, estão muitos dos melhores jogadores da liga também. Uma combinação dura de derrubar.


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