Wes Matthews faz valer o cheque? Tem de perguntar para Durant
Giancarlo Giampietro
Quando o Dallas Mavericks concordou em pagar US$ 70 milhões por quatro anos de contrato com Wesley Matthews, era difícil não soltar aquele “epa!”, dando um salto para trás. Não que ele não tivesse feito por merecer uma bolada como pagamento depois de cinco anos de sucesso e empenho pelo Portland Trail Blazers. Mas é que ele havia acabado de passar pela temível cirurgia no tendão de Aquiles, daquelas que costuma ser devastadora para um jogador de basquete. No mínimo, leva um tempo para recuperar a formae a capacidade atlética. No pior dos mundos, simplesmente acaba com a carreira do jogador.
O primeiro ano do jogador pelo Mavs mostrou que ele se enquadra no primeiro caso. Menos mal. Mas seus números dificilmente valeriam os US$ 16,4 milhões que embolsou: 12,5 pontos, 3,1 rebotes, 1,9 assistência, 38,8% nos arremessos e 36% nos chutes de três, com apenas 1,6 lance livre convertido. Bem tímidos, sem que uma projeção por minuto deixe as coisas melhores. Pelo contrário, piora. As estatísticas avançadas também não são nada generosas. Teve o pior índice de eficiência de sua carreira, o pior aproveitamento na combinação de arremessos e a menor taxa de uso desde o ano de novato de Utah, muito pouco para quem vinha aliviar a pressão sobre Dirk Nowitzki no ataque.
Outro dado interessante é que ele nunca dependeu tanto do arremesso de três para pontuar: 61,5% de suas tentativas de cesta ocorreram em chutes de longa distância. Um reflexo claro da mobilidade reduzida pela delicada cirurgia que abreviou sua última temporada em Portland, que vinha tão bem, e que, num ponto positivo para o ex-time, ao menos abriu espaço para a afirmação de CJ McCollum.
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Tudo isso está na mesa e deixa o contrato sob suspeita. Agora, de uma coisa você não pode duvidar: Matthews pode até não conseguir, mas vai fazer o máximo que puder para justificar a confiança de Mark Cuban, Donnie Nelson e Rick Carlisle. E há momentos em que o mero esforço já rende resultado. Kevin Durant foi testemunha disso no domingo, quando o Mavs aprontou a maior surpresa destes playoffs da NBA até o momento, com uma vitória por 85 a 84 em OKC.
Empatar a série já foi uma traquinagem. Mas segurar o poderoso ataque do Thunder a meros 84 pontos era algo completamente inesperado. Em suas últimas 17 partidas, a equipe da dupla Durant-Westbrook só havia ficado abaixo dos 100 pontos em duas ocasiões e, abaixo dos 98, em uma delas, contra o Detroit Pistons. Mais: em 14 desses jogos, também havia anotado 110 pontos ou mais.Uma proeza para a defesa que havia sido apenas a 16ª mais eficiente pela temporada regular, e Wes Matthews foi fundamental nesta empreitada.
Se formos acreditar nas medições oficiais, Matthews é dez centímetros mais baixo que Durant, mas desconfio que a diferença seja um pouco maior que isso. Se você colocar aí na conta a envergadura ridícula do cestinha do Thunder, então, haja fita métrica. Ainda assim, com uma postura implacável, que impressiona não só pelo vigor físico, mas principalmente por sua compenetração, de ficar grudado a um adversário deste nível o tempo todo, pressionando, incomodando do jeito que podia. O ala, um dos melhores jogadores do mundo, saiu de quadra com um aproveitamento assustador de apenas 7 conversões em 33 arremessos de quadra, além de sete turnovers em 44 minutos. Se formos procurar uma partida tão ruim assim em seu currículo, acho que só vamos encontrar em seu ano de novato, quando ainda jogava em Seattle.
Matthews realmente conteve Durant. Com força física e mental, empurrou o adversário quase sempre um passo para trás. KD tentava, mas dificilmente conseguia progredir e ganhar terreno, com aquele tampinha de peito estufado, projetado para a frente, quase dentro do calção do oponente.
Claro que, numa jornada normal, Durant provavelmente arrebentaria da mesma forma ou pelo menos atingiria sua média tranquilamente. Em sua carreira, ele converte 48,3% dos arremessos. Na temporada regular, foram 50,5%. Pode ter sido simplesmente uma atuação infeliz. Mas não dá para atribuir os 26 arremessos errados simplesmente a um fator fortuito. Tem de dar o crédito ao jogador que o perturbou durante, sem trocadilho, todo o jogo, incluindo nesta sequência decisiva para a partida:
Reparem na pancada que Matthews toma de Steven Adams em um corta-luz exemplar que libera o cestinha do Thunder, quando estava grudado ao jogador. Foi ao chão. Ainda assim, se recupera para ao menos se aproximar e tentar contestar o chute da zona morta. Não foi isso que atrapalhou, claro. Vale sempre o empenho, porém, que foi premiado com a bandeja que definiu a contagem final do Mavs.
Uma recompensa mais que justa, aliás, para quem havia feito sua primeira cesta de quadra apenas a 6min22s do fim. Ele terminou a partida com meros seis pontos em 36 minutos, desperdiçando todos os seus sete disparos de longa distância. Foram os pontos decisivos para o triunfo, mas nada que se equiparasse ao modo como marcou Durant.
Ponto também, para Rick Carlisle, antes que nos acusem de miopia. Uma defesa não se sustenta com apenas um atleta e apenas um embate individual, dãr. Uma defesa não se sustenta sozinha também, isolada em uma partida. O jogo de basquete é feito em dois lados da quadra, e a atuação em uma metade da quadra influencia diretamente a outra.
Pelo Jogo 2 em OKC, o Mavs conseguiu ditar o ritmo do confronto. Ficou tudo amarrado, procurando limitar ao máximo as investidas em transição da equipe adversária, que anotou apenas 20 pontos de contra-ataque, mesmo que tenha um elenco muito mais veloz e explosivo. Conseguiram isso mesmo sem abrir mão da disputa dos rebotes ofensivos (tal como o Atlanta Hawks tem feito contra o Boston Celtics): foram 11 na vitória.
Vejam aqui o esforço na remontagem defensiva:
A boa recomposição defensiva acontece quando favorecida quando seu ataque funciona. Mesmo sem pontuar muito, o Mavs jogou com segurança na frente, e vem daí o apreço de Rick Carlisle pela combinação de dois armadores. Tal como no ano do título, com Kidd, Terry e Barea, Deron Williams, Raymond Felton e Devin Harris se revezavam para cadenciar o jogo em quadra e atacar apenas na certa. Ao todo, os visitantes cometeram apenas 12 turnovers. Está certo que oito deles vieram com Williams e Felton, mas é importante lembrar que o jogador ex-Brooklyn Nets estava atuando no sacrifício, com a chamada hérnia do atleta, que o impediu de concluir a partida. Felton terminou com 21 pontos. Harris anotou apenas oito, mas foi um dos grandes nomes da vitória.
Mesmo que não estejam mais em seu auge atlético e técnico, esses armadores, juntos, conseguiram controlar as ações do duelo. Além disso, contra jogadores mais altos e pesados, ainda podem ganhar o garrafão em infiltrações marotas. Essas jogadinhas oportunistas para gerar qualquer pontinho extra para manter seu time no páreo, ajudando o veterano Dirk. O alemão hoje depende basicamente de seu tamanho para encestar, já que sua legendária movimentação de pés não libera mais tanto espaço assim. Ainda assim, chute sai lá de trás, muito elevado, e com mecânica sempre formidável e ajustada para estes tempos de quadril travado.
Sem Chandler Parsons e, agora, sem Barea, Carlisle sabe que não há a menor chance de ganhar um tiroteio contra o Thunder. No momento, os únicos dois atletas do Mavs que levam um pouco de imprevisibilidade ao time são o calouro Justin Anderson, um cavalo solto pelo perímetro, muito vigoroso e atlético, e Salah Mejri, o tunisiano que poderia ter chegado aos Estados Unidos uns dois anos antes. Seu estilo combina muito mais com o da NBA do que o da Europa, com porte físico e mobilidade que causam estragos. Anderson demorou para ser lançado por Carlisle, mas talvez tenha ajudado a salvar a temporada do time na reta final. Mejri tem dificuldade por vezes de jogar de modo disciplinado em quadra – precisa ser domado, ouvir as instruções de seus técnicos. São os únicos que vão conseguir vencer disputas aéreas nesta série. É pouco, porém.
Para o Mavs seguir com chances na série – ainda são 99% azarões, não se enganem, toda posse de bola ofensiva precisa ir até o final, arrastada, definida em pequenos detalhes. E aí, na defesa, é contar com o garrafão congestionado e com tudo o que Wesley Matthews possa oferecer. Para um magnata como Mark Cuban, afinal, US$ 17 milhões não são nada.
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Tags : Mavs NBA playoffs Wesley Matthews