Presidente da CBB se pronuncia, antecipa déficit, revela obsessão pelo imediato e pouca atenção com desenvolvimento
Giancarlo Giampietro
Alerta!
Entrevista do presidente reeleito da CBB, Carlos Nunes!
Para o próprio site da entidade, claro.
Mas tudo bem. Quando esses caras resolvem falar, é sempre um prato cheio para o blogueiro esfomeado. Dá até para brincar de fazer gabarito com o conteúdo. Vamos lá, então, com atenção aos grifos e comentários:
Presidente da CBB no ano em que a entidade comemora 80 anos
É um cargo honroso e vamos fazer uma grande festa para comemorar essa data marcante para o esporte brasileiro e mundial. Tenho o orgulho de estar no comando da CBB em dois mandatos consecutivos, com o basquete do Brasil participando de duas Olimpíadas seguidas, no masculino e no feminino. Devo tudo isso a um trabalho de equipe e das 27 Federações. A meta é manter o Brasil entre as grandes potências no cenário mundial.
>> Vejam só. Quando você começa uma entrevista tentando se gabar de algo assim – duas Olimpíadas seguidas para o feminino e masculino??? UAU! –, é porque sabe que vem muito mais pela frente. O grande achado da gestão Nunes foi realmente a contratação do ultracompetente Magnano, que conduziu um time muito mais tarimbado de volta a uma arena olímpica, ok. Agora só me ajudem, por favor, a entender em que ponto isso se conecta com a classificação automática para os Jogos do Rio, sendo o Brasil o país-sede? Tou com dor-de-cabeça, e não consigo pensar direito. Sem contar que uma hipotética eliminação da seleção feminina em competições classificatórias seria o maior vexame da história. Próximo tópico:
Metas para os próximos quatro anos
Já tínhamos um planejamento até 2016 e agora daremos continuidade. Temos competições importantes em 2013 como os Mundiais Sub-19 masculino, na República Tcheca, e feminino, na Lituânia. A equipe adulta masculina tem como desafio a Copa América da Venezuela, classificatória para o Mundial da Espanha em 2014. E no feminino, temos o Sul-Americano, que deveria ter sido realizado em 2012, e depois a Copa América do México, que também classificará para o Mundial na Turquia, no próximo ano. Além disso, temos os Campeonatos Brasileiros de base que realizamos em três divisões em todos os estados, com a participação das 27 federações. Esse ano a Copa Brasil Masculina reunirá mais de 40 equipes. Isso é uma demonstração concreta que o basquete brasileiro ressurgiu sendo um produto viável.
>> Resgatei aqui no QG 21 a terceira temporada da tresloucada e bizarramente frenética série americana “Arrested Development”, e estamos a ponto de conhecer melhor o personagem advogado Bob Loblaw, mais uma figurinha impagável. Na pronúncia deles, sempre devagar, propositalmente, sai algo como Bla-Bla-Bla. É o que vemos aqui. A pergunta era sobre metas para os próximos anos, e o presidente me sai descrevendo o calendário de competições de 2013. Qual é exatamente o planejamento da CBB? Perdeu a chance de se explicar. E essa história de a modalidade seguir um produto viável? Até poderia ser, sonhamos. Mas… A realidade nos mostra algumas situações bem contrastantes com essa frase. Se no NBB, temos clubes com salário atrasado, como será que estão as coisas no Brasil profundo do basquete? Veja aqui como anda pujante o eporte no país.
Balanço financeiro 2013
As contas apresentadas na Assembleia foram, de uma maneira geral, muito positivas, pois conseguimos diminuir o déficit de 2012. Fizemos uma contenção de gastos acentuada, com o objetivo de equilibrar os valores. O motivo do déficit foi uma defasagem no patrocínio da Eletrobras. Alguns itens foram glosados, pois o contrato não previa. E por força burocrática, o patrocinador teve que glosar. Essa mudança acarretou em uma perda substancial de quase 4 milhões de reais e resultou em uma dívida do mesmo valor. Mas isso está sendo resolvido. A Eletrobras está renovando o contrato nos próximos dias e abriu mão de ser o patrocinador máster, tendo em vista que reduziu em 50% o valor do contrato. Agora, temos a possibilidade de conseguir um novo parceiro que entrará nas camisas da seleção. Outro fator que precisa ser considerado é que nos primeiros quatro anos precisamos romper a inércia técnica, o que demandou esforços redobrados, inclusive financeiros. Neste novo período, a demanda financeira será menor em face do que já realizamos, o que provocará uma revisão de nossos gastos, certamente para menor. Tudo isso nos deixa a certeza de que em pouco tempo vamos melhorar a situação atual.
>> Haja grifo, gente! Primeiro, uma gafe: se o saldo é negativo, as contas não podem ser “muito positivas”, né? Quer dizer que a CBB conseguiu reduzir seu déficit. Agora falta pagar uns trocados só, algo em torno de R$ 4 milhões. Tem tempo ruim, não. E, claro, não fosse a Eletrobras agir com irresponsabilidade, de anular alguns pagamentos para a confederação, “por força burocrática” – Coff! coff! Leia-se aqui: dinheiro de empresa pública só pode ser investido para patrocinar entidades que não estejam dando calote, se endividando, agindo com austeridade. Agora a confederação tem, claro, a chance de acertar com um novo patrocinador master, mas está todo mundo na espera deste anúncio há um bom tempo – em ciclo olímpico em casa, não deve faltar interessado, mesmo, a questão é o quanto a credibilidade avariada da CBB pode atrapalhar em eventuais negociações. Por fim, Carlos Nunes aponta para a “inércia técnica” que teve de enfrentar. Depois dos anos de trevas de Grego, natural. Se for para excluir a combinação “Rubén + Magnano” da equação, fica difícil de entender bem em que ponto que o departamento técnico avançou. Talvez ele esteja se referindo aos constantes profissionais demitidos por Hortência? Ah! Deve ser isso, mesmo: inércia no comando da seleção feminina nem pensar!
Parcerias com o Ministério do Esporte e Lei de Incentivo
Em 2013, são quase 15 milhões de reais e sete projetos aprovados. Esse valor nos dá um suporte na preparação das seleções brasileiras e é importante frisar que, mesmo com a redução do patrocínio, não iremos sofrer nenhum tipo de problema. As seleções vão começar a trabalhar no prazo estipulado, irão se preparar para os campeonatos normalmente e disputar todas as competições internacionais oficiais ou não da FIBA.
>> Traduzindo: não fosse o aporte do ministério, estaríamos lascados!!!
Federações Filiadas
As federações são o suporte da CBB. Sem o trabalho e o apoio das federações não é possível fazer uma administração do basquete brasileiro. Por meio das seleções estaduais que participam dos Campeonatos Brasileiros, surgem os novos talentos e os futuros jogadores das Seleções Brasileiras. Dentro deste novo patrocínio que está por vir, pretendemos aumentar a ajuda que já é repassada para as federações desde o início da nossa administração. O objetivo é melhorar ainda mais o planejamento elaborado por elas. Os mais de oitenta por cento dos votos que tivemos na eleição do último dia 7 são motivados pelo interesse que a CBB sempre teve em ajudá-las e que fazem as federações se sentirem protegidas.
>> Percebem a obsessão de Carlos Nunes por “seleções”? Dá a impressão que, para ele, TODO, ABSOLUTAMENTE TODO o desenvolvimento do basquete brasileiro se passa por equipes de ponta. Sejam as seleções nacionais, ou as seleções estaduais. Seguindo sua lógica, parece pouco importante que os estados consigam realmente produzir 10 ou 12 talentos para compor suas seleções, e pronto. Mas que torpor, caceta. Quanto ao “planejamento elaborado” pelas federações, vocês que me desculpem, nada a declarar. Porque não há nada visível, mesmo, para se avaliar.
Campeonatos Brasileiros de Base
A nossa expectativa é sempre superar o ano anterior, no caso 2012. Se for possível, pretendemos aumentar o número de competições, tendo em vista que os Campeonatos de Base são realizados por meio do projeto incentivado do Ministério do Esporte. Muitos dos atletas que hoje defendem as seleções nacionais passaram pelos Brasileiros. Isso prova que é uma competição onde também surgem novos talentos.
>> Mais um comentário que comprova o pensamento equivocado do dirigente. Percebam que ele mira sempre em resultados, não em desenvolvimento. A realização de campeonatos de base, não se enganem, é realmente importantíssima, fundamental. Tem de botar a molecada na quadra, mesmo. Mas, em nenhum momento sequer de sua explanação, Carlos Nunes fala de massificação do esporte, ou, no mínimo, de aprimoramento técnico em quadra. Digo: não basta apenas se programar uma competição e achar que seu papel está feito. Se forem campeonato seguindo os últimos modelos, o resultado, tão alardeado aqui, não será muito produtivo.
O presidente da CBB gasta, então, mais saliva falando de Copa Brasil e Supercopa, basquete 3 x 3, até chegar, então, a comentar o amistoso marcado entre Chicago Bulls e Washington para o dia 12 de outubro, no Rio de Janeiro, marcando a chegada oficial da NBA ao país. Lá pelas, tantas, ele me sai com esta: “Em parceria com a NBA, vamos dar um apoio logístico, além da chancela, caso contrário não poderia ser realizado”.
Realmente, né? O que seria do basquete brasileiro sem essa gloriosa chancela?