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Brasília apanha pela Liga das Américas naquilo que teoricamente faz de melhor
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Giancarlo Giampietro

Giovannoni reclama

O Brasília se habituou a dominar o NBB com seus jogadores mais talentosos que a média, explosivos, descendo em contra-ataques aparentemente poderosos, ainda mais com todo o entrosamento de anos entre Nezinho, Alex e Arthur, mais a adição de Giovannoni quando essa base de reencontrou no Distrito Federal.

Além disso, não dá para esquecer que os supercampeões nacionais também são famigeradamente conhecidos por sua catimba, o apreço pelo contato físico, a reclamação com a arbitragem, uma ou outra falta mais dura, para mostrar “quem manda”. O território é deles, afinal.

Mas e quando o adversário não está nem aí para nada disso – e, se quiser encarar, sobra um senhor cotovelo do pivô Fernando Martina? Quando não enxergam do outro lado nenhum cachorrão? E quando a arbitragem se mostra extremamente fria a cada contestação, petrificada, mas não por medo?

Aí o jogo tem que ser só na bola, e na bola o Lanús deu uma sova nesta quinta-feira, vencendo por grigantes 77 a 49 pela abertura do quadrangular final da Liga das Américas, em Porto Rico.

A vantagem chegou a ser de 69 a 34 ao final do terceiro período. Na última parcial, com a partida já decidida, a equipe brasileira venceu por 15 a 8. O que houve?

Os argentinos – e seus dois excelentes americanos, o pivô Robert Battle e o ala-pivô William McFarlan – simplesmente fecharam a porta na cara do Brasília, que se viu obrigado a investir em lances de um contra um, sem nenhuma inventividade em suas movimentações ofensivas, virando presa fácil.

Para entrar no garrafão foi extremamente complicado, resultando numa pontaria horrível de 35% nos arremessos de dois pontos para seus oponentes. Você soma isso com o fato de as sagradas bolinhas não terem caído dessa vez – foram 11,1%, 2/18, azar, né? – e tem uma ideia do que a defesa dos caras aprontou na partida. Para não ficar nenhuma dúvida, ainda se pode contrastar as sete assistências (sete do time todo, em 40 minutos de jogo, reparem) contra 16 desperdícios de bola para os campeões nacionais. Um estrago.

Contestando cada arremesso, cada posse de bola – quando o jogo ainda valia –, o Lanús conseguiu então atropelar os candangos justamente nos contragolpes, com 23 pontos contra apenas sete. Foi com um contra-ataque atrás do outro nos segundo e terceiro períodos, vencido por 26 a 12 e 24 a 9, que o time abriu sua expressiva liderança.

E isso chama bastante atenção: os brasileiros gostam de jogar desta forma, mas só de um lado da quadra? Porque a defesa em transição nesta primeira rodada do quadrangular decisivo foi um desastre. Completamente lenta, desnorteada, permitindo que os armadores, alas ou pivôs pudessem se aproximar de sua cesta com muita facilidade, trocando passes em high-low, em triangulações, ou batendo direto em infiltrações, mesmo, como no caso de Nicolás Laprovitolla, armador de seleção, que anotou 18 pontos e 5 assistências, matando seis chutes em oito tentativas de dois pontos.

Não dá para dizer que o Lanús é tão superior assim em comparação com o Brasília.

Dá para argumentar que foi uma daquelas noites em que “nada deu certo” – Alex acertou apenas um arremesso em oito, pontuando basicamente em lances livres; Arthur terminou com dois pontos; Guilherme foi com 4/12; Nezinho sozinho foi responsável por sete turnovers.

Mas não deixou de ser uma tremenda de uma lição de basquete .

*  *  *

O Lanús já enfrentou clubes brasileiros em quatro ocasiões neste torneio e venceu todas elas por mais de dez pontos de vantagem. Além da surra que aplicaram nos candangos nesta quinta, bateram o Flamengo por 83 a 69 na fase de semifinal e o Pinheiros em duas ocasiões: 86 a 74 na primeira fase e 87 a 72 nas semis. Afe. Ainda bem que não disputam o NBB, hein?

*  *  *

Nesta sexta, o Pinheiros enfrenta os argentinos pela terceira vez, então, neste torneio. Na primeira rodada, a equipe paulistana conseguiu uma boa vitória por 88 a 76 sobre os anfitriões do Capitanes de Arecibo – que tem três jogadores ex-NBA, os gêmeos Graham e o gigante PJ Ramos. Belo resultado, mas não vi o jogo. Seguem as estatísticas. Quem vencer entre Lanús e Pinheiros, então, vai ficar muito perto do título.


Bagunça com calendário da Liga Sul-Americana contraria valores da candidatura de Grego
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Giancarlo Giampietro

Tenham calma, que a gente chega lá. Ante de chegar ao tema polêmico da vez, é necessário passar por esta introdução aqui.

Presente de Grego

CBB vai receber seu presente de grego mais uma vez?

Era uma vez o ex-presidente da CBB, candidato a voltar ao trono e presente de grego Gerasime Bozikis, que promete em sua campanha tudo, mas tudo mesmo de que a modalidade precisa no país. Não vai sobrar nada! O cartola assegura que, agora, sim, está preparado para levar o basquete a um outro patamar. Que revisou sua desastrada gestão na confederação e que teve diversas conversas por todo o Brasil para saber quais as necessidades vitais do esporte por aqui.

Detalhe: isso vindo de alguém que já havia ficado por três mandatos no poder.

O sujeito passou 12 anos no comando e diz só ter assimilado seus erros e as carências do baquete bem depois, em “momento de reflexão” situado convenientemente em um período eleitoral. Porque, quando você é presidente de uma entidade e viaja para cima e para baixo com os amigos, não sobra muito tempo para refletir, mesmo. Ainda mais quando suas bandas acontecem por aquela loucura que são os cassinos de Las Vegas.

Bem, por outro lado, talvez não precise ser tão inclementes assim, gente. Talvez todos mereçam uma segunda chance, para se redimir, aprendendo com o passado para se fazer melhores pessoas, melhores dirigentes. De modo que, renascido e revigorado, Grego propõe uma chapa guiada pelos seguintes valores:

– Ética;

– Transparência;

– Busca da Excelência;

– Gestão integrada e participativa;

– Sustentabilidade social e ambiental;

– Inovação e ousadia;

(Toca o violino com um som afinado e limpinho, enquanto os lenços são encharcados).

Bonito, né?

Aí vem o choque de realidade: se não vale falar do passado, recorremos ao presente. E o presente de Grego – não confundir com “presente-de-grego”, tá? 🙂 – é chefiar a Abasu (Associação do Basquete Sul-Americano). É a entidade responsável pela organização da Liga Sul-Americana de clubes, em convênio com a Fiba Américas.

Lucas Dias, revelação do Pinheiros

Será que pelo menos o garoto Lucas Dias conseguiria ganhar mais experiência na 2ª fase da Liga Sul-Americana?

Pois a Abasu acaba de aprontar uma daquelas: marcou um de seus quadrangulares semifinais para os dias 13, 14 e 15 de novembro, colocando o Tiburones de Vargas, da Venezuela, ao lado dos três brasileiros nesta chave. Entre eles, o Pinheiros. O mesmo que vai começar a jogar a final do Campeonato Paulista em breve, em datas que certamente vão coincidir com a competição sul-americana.

E aí faz como? Revoltado, João Fernando Rossi, dirigente do clube paulistano, já ventilou no Twitter a possibilidade de disputar o torneio internacional com seu time sub-17. “Assim, poderão ganhar experiência!”, afirma.

O Campeonato Paulista já passa por um período de interrupção bizarra neste momento, para abrir espaço para a famigerada viagem de São José até a Venezuela, com o Bauru esperando por dez dias para concluir sua série semifinal. O quinto jogo está marcado para quinta-feira, com o horário de 20h15 mantido, depois de a TV e a federação terem tentando antecipá-lo para 17h30, um horário ingrato daqueles.

Agora sabe-se lá o que vai acontecer entre os possíveis caminhos…

a) o Pinheiros se mata e joga os dois torneios, desde que as datas não coincidam?

b) o Pinheiros manda seus garotos para disputar a Liga Sul-Americana e escancara a bagunça?

c) a Federação Paulista vai congelar novamente seus jogos? E aí que se virem o NBB e os clubes paulistas mais para a frente?

d) a Abasu recua e posterga sua tabela – aliás, quais seriam as limitações de calendário por parte deles?

Enfim. Um simples movimento, a simples marcação de um quadrangular já derruba alguns dos pontos prometidos pelo candidato, que é um presente de grego.

Nada como uma “gestão integrada e participativa”, não? Apenas divulgue a programação de jogos, e que se virem.

Nada como “transparência”, hein? Tente achar o regulamento do torneio no site oficial.

E mais: os clubes foram distribuídos por região na semifinal. Quatro argentinos de um lado e a brasileirada e os tubarões venezuelanos do outro. Por quê? Já estava previsto isso? É para não correr o risco de se ter um quadrangular final só com argentinos? É para poupar dinheiro? E como as sedes são definidas? Por que não há uma mísera notinha no site para abordar essas decisões? Nada como a “excelência”, né?

De todo modo, um tópico, ainda que de modo irônico, é acertado em cheio: não deixa de ser ousado.

*  *  *

A trapalhada na marcação de jogos é até mais difícil de compreender quando consideramos que Grego estaria prejudicando um dos principais clubes da principal federação estadual do país, federação que deve ter um peso danado na eleição do ano que vem. Por que jogar contra algo deste tamanho? Não parece uma boa cartada política. Ou, talvez, nem haja uma preocupação nesse sentido, considerando que o presidente da FPB, Toni Chakmati, foi um dos principais aliados de Bozikis durante seu triplo mandato, atuando como vice-presidente.


Combalido São José joga para sobreviver e minimizar danos na Liga Sul-Americana
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Giancarlo Giampietro

Como recusar a participação num torneio internacional? Ainda mais para um clube que não vivenciava esse tipo de experiência há 30 anos em competições oficiais?

Por mais que a viagem seja custosa, em muitos sentidos, num momento crítico da temporada – em meio a uma batalha quente (e bota quente nisso) contra Bauru –, com desfalques que vão se acumulando, São José não tinha direito de dizer não, apesar do calendário complicado que tem pela frente.

Então tem de tentar fazer valer o deslocamento de mais de 4.300 km até a cidade de Vargas, na Venezuela. E, para fazer valer, a equipe precisa bater o Tiburones, nesta sexta-feira, 22h20 (SporTV 2 transmite). Pois uma derrota significa a eliminação da Liga Sul-Americana logo na primeira fase. Não dá para pensar que os peruanos possam aprontar alguma coisa.

São José x Libertad Sunchales

Álvaro persegue argentino: defesa dos vice-campeões do NBB precisa melhorar

O time do Vale do Paraíba não foi páreo na noite de quinta para o Libertad Sunchales, da Argentina: foi dominado no primeiro tempo, perdendo por 41 a 28, e, na segunda etapa, só lutou para evitar que levasse uma sacolada daquelas.

Contra os donos da casa, Régis Marrelli vai precisar encontrar algum meio de reforçar sua defesa, que jogou desfalcada da dedicação e valentia do ala-pivô Chico na véspera – justamente a posição em que já não conta com Jefferson William. O cestinha Dedé é outro que está de fora, enquanto Murilo vai apenas agora recuperando sua melhor forma, recuperando-se de cirurgia no joelho, e Fúlvio parece jogar com dores por todo o corpo.

Na estreia, sua retaguarda permitiu ao Libertad um aproveitamento altíssimo de 74% nos arremessos de dois pontos, além de 50% nos tiros de três. Esses já seriam números bem altos se analisados separadamente. Quando combinados pelo mesmo adversário, é praticamente impossível vencer.

É preciso cuidado com o veterano Axiers Sucre, da seleção venezuelana, um jogador muito forte e versátil, difícil de ser contido no mano-a-mano. Windy Graterol, que também joga pela seleção e vem evoluindo bastante nas últimas temporadas, é outro que pode dar trabalho por sua capacidade atlética incrível, que destoa quando comparada com os pivôs brasileiros que vai enfrentar. Esses dois precisam ser repelidos, afastados da tabela.

Tiburones de Vargas x El Bosque

Tu-tu-tubarões de Vargas: vale vaga ou a eliminação

No ataque, batendo sempre na mesma tecla, por mais que o plano de jogo realmente conte muito com os disparos de fora, São José vai precisar maneirar a algum momento. Já foram mais 30 chutes na derrota para os argentinos, e apenas sete caíram (23%). Importante notar que o desgaste físico pelo qual passa seu elenco não combina de modo algum com essa propensão ao arremesso de três pontos – quanto mais longe, maior a força que você tem de empregar, não? E uma boa mecânica começa com o equilíbrio nas pernas. Se elas estiverem pesadas, ou bambas, a probabilidade de acerto cai consideravelmente.

Vale notar que, em sua primeira partida, na vitória fácil sobre El Bosque, do Peru, os anfitriões tentaram os mesmos 30 chutes do perímetro e conseguiu ser ainda pior, matando apenas seis bolas. Irco. Então, em vez de aceitar um bangue-bangue desses, seria muito mais interessante que o treinador Marrelli e os armadores Fúlvio, Luiz Felipe e Ícaro procurassem municiar Murilo de modo insisten,  tentando explorar sua eficiência em contraponto ao tiroteio inconsequente dos venezuelanos. Não deixaria de ser uma ironia.

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Argentina 4, Brasil 0. Terminou assim o placar do confronto entre times de cá contra os de lá na primeira fase da Liga Sul-Americana. Foi de lavada, mesmo.


Jogos na Argentina sinalizam Marquinhos como ponto de desequilíbrio do Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos sobe para mais dois pontos

Marquinhos, de visual novo, em seu início de trajetória rubro-negra

Se tem algo que chama bastante a atenção quando você assiste a um jogador como Marquinhos ao vivo, de pertinho, em quadra, é como o jogo vem fácil para ele. Como, com 2,05m de altura, muitas vezes ele se mostra mais criativo e habilidoso do que um armador na hora de bater para a cesta. Como seu arremesso parece sair sem força alguma, acima da cabeça, mesmo que a mecânica não seja a mais bonita disponível no mercado.

Enfim, basquete fica parecendo a coisa mais legal do mundo – na verdade, é a coisa mais legal, não? 😉

Não estava em Mar del Plata para ver o Flamengo e o ala em ação tão de perto assim pela Liga Sul-Americana, mas deu para espiar os três jogos aqui do QG 21, mesmo. E arrisco a dizer: o time rubro-negro vai chegar até aonde o ala ex-Pinheiros puder liderá-lo.

No elenco de prestígio que o clube rubro-negro montou para a temporada, Marquinhos é quem tem os melhores predicados para desequilibrar, com facilidade para chegar ao aro, um tiro de média distância raro de se ver e as bolas de três pontos. Além disso e, talvez mais importante, também é um bom e disposto passador – para quem duvida, pergunte ao Olivinha, que já foi o receptor de várias assistências de seu fiel companheiro dos últimos anos. São capacidades raras de se unir num só atleta, ainda mais nos clubes sul-americanos, e, se bem aproveitadas, podem abrir a quadra para os chutes de Marcelinho e Benite e cestas fáceis dos pivôs no garrafão.

São habilidades também que podem fazer um estrago no contra-ataque.  O Bala, nosso vizinho, já havia relatado que o técnico Neto estava dando muita atenção para as saídas em velocidade, forçando o ritmo. Na Argentina, quando puderam, foi isso o que os flamenguistas tentaram mesmo: sair em disparada com três ou até quatro homens, um cenário em que Benite e Kojo podem render bastante, explosivos que são. Mas faz toda a diferença neste plano alguém como Marquinhos. Quando um ala com sua mobilidade e tamanho recebe o último passe na corrida, é complicado para a defesa parar. Ou sai a bandeja, ou vem a falta. Difícil escapar disso.

Agora… Tudo isso aqui não quer dizer que o ala seja um super-homem ou um jogador irrefutável. Não é sempre que ele entra em quadra com a mentalidade agressiva, usando suas habilidades para ser dominante no ataque. Pudemos ver esta oscilação na cidade argentina.

Marquinhos e os novos companheiros

Marquinhos tende a envolver os companheiros quando controla a bola no ataque

No primeiro jogo contra a Hebraica uruguaia, o ala fez um primeiro tempo arrasador – se não me engano, com 16 ou 18 pontos de cara nos 20 minutos iniciais. Ele atacou a cesta com voracidade, intensidade e foi fundamental para garantir uma boa vantagem. A segunda partida contra o chileno Deportes Castro não conta lá muito, mas Marquinhos fez sua parte. Quando entrou em quadra, por fim, contra o Peñarol argentino, tinha já 43 pontos somados. Acabou fechando a primeira fase com 50, tendo anotado apenas sete no principal confronto, agredindo pouco a defesa adversária, e os argentinos viraram o placar no segundo tempo.

Não é questão de incentivar o individualismo. Especialmente no caso de Marquinhos, que realmente compartilha a bola.  O ponto é que, quando ele decide entrar no jogo e tentar domá-lo, a vida de seus parceiros tende a ficar mais fácil. Tenham isso em mente na hora de acompanhar o Fla durante a temporada.

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Marcelinho Machado mordeu a isca novamente: contra o Peñarol, enquanto Leo Gutiérrez viva uma noite de folião do outro lado, o veterano brasileiro terminou com péssimo aproveitamento de 11% nas bolas de longa distância, com apenas uma conversão em nove tentativas. Na primeira fase em geral, foram apenas 25%. Uma velha história que fica ainda mais complexa de se assimilar quando levamos em conta que ele foi o jogador que mais deu assistências pelo cube carioca (10), quem mais roubou bolas (7, ao lado de Benite) e o quarto reboteiro (ao lado de Marquinhos, com 15, apenas um a menos que Shilton e dois a menos que Olivinha, mesmo jogando muito mais tempo no perímetro).

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Até agora são três confrontos diretos entre brasileiros e argentinos e três vitórias para nossos vizinhos. Um jogo foi em campo neutro (Obras Sanitarias 88 x 81 Pinheiros), um foi na nossa capital federal (Regatas Corrientes 93 x 91 Brasília) e agora o terceiro foi na quadra deles, com o triunfo do Peñarol. O São José, em meio a suas batalhas pelo Campeonato Paulista, tenta quebrar a série na semana que vem, tendo o Libertad Sunchales pela frente, pelo Grupo D.


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