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Nada que se compare a Ibaka na vitória do Thunder
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá, mais uma vez…

“‘Cause NOOOOOOOTHING compares
Nothing compares 2 U!

Calma, calma.

Não há clima para melodrama, sofrimento nenhum na base 21 aqui nesta manhã de segunda-feira, com o friozinho da zona sul paulistana lá fora. Muito menos em Oklahoma City. Lá o sol vai surgindo cheio de folia, depois do retorno de Serge Ibaka, com todos os retoques heróicos que os torcedores – mais os marketeiros – gostam. E nem dá para ser diferente, neste caso.

Mas que o igualmente histórico vídeo acima corre o risco de virar o clipe oficial da campanha do Thunder nestes playoffs da NBA, ô se corre. Independentemente do destino do time nos próximos dias. Vão virar o jogo contra o Spurs? Perdem na final? Ganham o tão esperado título para a dupla Durant-Wess? Não importa. Vamos todos chutar pedrinhas por aí com essa balada na cabeça, pensando no pivô.

“Se Ibaka jogar nesta série, vou raspar minha cabeça, usar um vestido, adotar um sotaque irlandês e cantar karaokê como Sinead O’Connor.”

Pois foi o que disse Scott Brooks, ainda em San Antonio, num dos blefes mais excêntricos da história da NBA. O técnico tentava de tudo para despistar sobre o possível retorno de seu pivô congolês-espanhol-mutante quando a série retornasse aos confins de Oklahoma. Todo mundo acreditou – menos Gregg Popovich, Tony Parker, Manu Ginóbili, Tim Duncan e o roupeiro do San Antonio.

Mas, que ótimo, né?

Aqui, vamos celebrar sempre quando uma fonte decide quebrar a rotina e mergulhar nas profundezas da cultura pop para dar uns quilates a mais a sua declaração.

Imagine se ele dissesse algo do tipo: “Gente do céu, já falei um milhão de vezes que o Ibaka não joga mais nesta final do Oeste. Chega disso”. Qual seria a graça desse chororô? Se for para chorar, que seja com a Sinead O’Connor.

Fato é que Ibaka se recuperou de seu estiramento na panturrilha – lesão que, segundo os médicos do Thunder, o afastaria do restante dos playoffs. Mesmo mancando em alguns momentos, ele pode ter alterado a série.

Foi o único fator? Claro que não:

1) Os rapazes de OKC notoriamente jogam melhor em casa. Especialmente contra os bandoleiros de San Antonio. Venceram agora os últimos oito confrontos em seu ginásio.

2) Brooks tomou a sábia – e ao mesmo tempo demorada – decisão de tornar seu time mais atlético em quadra. Arrancou Sefolosha e Collison de sua rotação e deu apenas 13 minutinhos para Perk. O experimento só não foi mais radical porque Derek Fisher e Caron Butler seguiram acima de Perry Jones, o Terceiro, na lista do técnico. Não exagera, né? Por mais inteligentes que sejam o ala suíço e o pivô que, ao lado de Durant, é o único remanescente da franquia dos tempos de Seattle, se for para apostar em gente cerebral, a vantagem tende a pender para o outro lado.

Então, com Reggie Jackson entre os titulares e Jeremy Lamb e Steven Adams ganhando mais espaço na segunda unidade, que viesse o caos para quadra, no ataque e, especialmente, na defesa. As linhas de passe ficam mais apertadas, o espaço para bater para a cesta também é reduzido.

Oi, gente, eu me chamo Reggie Jackson e também fui importante na nossa vitória, né? Depois de Sefolosha ter zerado nas duas primeiras partidas, o armador somou 15 pontos e 5 assistências no Jogo 3

Oi, gente, eu me chamo Reggie Jackson e também fui importante na nossa vitória, né? Depois de Sefolosha ter zerado nas duas primeiras partidas, o armador somou 15 pontos e 5 assistências no Jogo 3

De qualquer forma, a influência de Ibaka na partida foi obviamente maior, já pelo que fez num primeiro quarto que não poderia ser escrito nem em contos de fadas. O cara me faz a primeira cesta do time? E vai matando uma atrás da outra? E começa a dar tocos na defesa como se nada tivesse acontecido? Este já fica conhecido como oficialmente como o “O Jogo do Ibaka” nos registros históricos.

Para a autointitulada “Loud City” nem precisa de muito para o ginásio ser tomado pela histeria. Com o pivô aprontando dessas? Era recomendável o uso de protetor auricular. Até as 500 milhas da Indy ficaram mansinhas.

O impacto causado por Ibaka foi emocional inicialmente, mas, com o decorrer do jogo, se tornou ainda mais relevante no tabuleiro tático. Um Ibaka a 70, 80% já é no mínimo cinco vezes mais atlético que seus companheiros de garrafão. É o que se sente em quadra e que vai muito além dos quatro tocos que ele deu em 29 minutos neste Jogo 3, ou dos 2,7 tocos por partida durante a temporada regular (foi o segundo na liga nesse fundamento). Com sua envergadura e mesmo  agoraa limitada mobilidade, o pivô fecha espaços e intimida os adversários.

(Por outro lado, Nick Collison sabe aonde como se posicionar perfeitamente – ano após ano ele está entre os atletas que mais cavam/apanham em faltas de ataque –, mas não é capaz de surpreender um atacante pelo alto. Não vai ser aquele cara a contestar uma cesta quase certa e forçar o erro. O mesmo vale para Perkins. Adams, de 20 anos, vindo da Nova Zelândia, ainda está aprendendo os macetes – embora também tenha feito uma grande partida neste domingo.)

Não é que Ibaka apenas dê tocos e altere a rota de bandejas. Há casos em que seu oponente simplesmente nem vai olhar para a cesta, respeitando demais seus atributos defensivos. E isso vale até mesmo para um armador rápido e maroto como Parker (4-13 nos arremessos, 4 assistências e 4 turnovers), ou para um Tim Duncan (7-17 nos arremessos), com todos os seus anéis, prestígio e fundamentos. Só o Kawhi Leonard que não se importou muito:

Esse foi um caro corte para a cesta que resultou numa cesta fácil para o Spurs (com dois detalhes: talvez só tenha se tornado fácil devido ao arranque explosivo do ala e ao fato de Ibaka não estar 100% – reparem como ele “demora”, segundo seus padrões, para largar Splitter e saltar na cobertura).  O time como um todo terminou o jogo com apenas 39,6% (36-91) nos arremessos, após ter combinado para 53,8% nas duas partidas em casa (91-169). Além disso, cometeu 16 desperdícios de posse de bola, vindo de apenas 9 e 12 em casa.

Esses números têm muito mais a ver com o que aconteceu entre os dois rivais durante a temporada regular, com Ibaka em ação, do que com o que vimos no início do duelo no Texas. Com o congolês-espanhol-mutante, o Thunder segurou o potente ataque de Popovich a 42 pontos no garrafão em média em quatro jogos, com 44% de acerto nos chutes. Sem ele, foram 60 pontos e 54%.

Joga lá para cima, mesmo, Manu, que o Ibaka quer te pegar

Joga lá para cima, mesmo, Manu, que o Ibaka quer te pegar

“A ausência de Serge é muito dura”, afirmou Reggie Jackson antes do Jogo 3. “Você fica até meio preguiçoso ao ter alguém como ele, que apaga tudo, na cobertura, interferindo em um monte de arremessos. Seu corpo começa a dizer algumas coisas: ‘Apenas os direcione no caminho de Serge’.”

Dentre as muitas declarações sobre o terceiro principal jogador do Thunder que li, acho que essa foi a melhor. Há tanta coisa implícita e explícita aqui. Vale destacar, pelo menos, o quão importante é a química que se desenvolve entre os atletas. Algo que você desenvolve com base na repetição diária de treinamentos que definitivamente você não vai reparar em menos de uma semana de treinos nas vésperas de uma final de conferência. A defesa da equipe se comporta de um jeito com Ibaka e de outra forma sem o cara, e não só por causa de sua constituição física assustadora.

Da mesma forma vale para o ataque, no qual marcou 15 pontos, com 6 cestas em 7 tentativas. É inevitável questionar como alguém tão ágil e forte como o pivô não tenha desenvolvido um jogo confiável de costas para a cesta. Acontece que, no ataque de Oklahoma City, todo e qualquer espaço obtido para infiltrações de Westbrook e Durant é bem-vindo. O grandalhão ter desenvolvido o chute de média para longa distância casa perfeitamente com essa proposta.

Nestes playoffs, Ibaka, aliás, tem a melhor média de acerto na média distância, convertendo 51,9%, entre aqueles que tentaram no mínimo 20 arremessos. Durante a temporada, ele matou 46,9% dali, quarto na liga entre os 65 jogadores que arriscaram pelo menos 250 vezes. Bem acima da média. Isto é: essa bola tem de ser respeitada, e a defesa do Spurs que se vire a partir daí – Splitter flutuando mais, em vez de se plantar embaixo da cesta, ou trocas rápidas na jogada de pick-and-pop, ou ajuda vindo da cabeça do garrafão, ou do lado contrário etc.

O Retorno de Ibaka

O Retorno de Ibaka

Claro, se Ibaka for jogar a próxima partida. Dessa vez o intervalo para recuperação é mais curto. Terça-feira já está aí – o que faz dos minutos a mais que ele jogou no domingo um tanto alarmantes: assim que Popovich limpou seu banco e voltou com Bonner, Ayres e Baynes, era o caso de Brooks ter sacado na hora seu pivô, mesmo que ainda restassem mais de cinco minutos.

Agora voltam as perguntas: será que joga? Será que joga e de modo efetivo?

Oklahoma City inteira vai cruzar os dedos em pensamento positivo. Todos eles cantando numa serenata que só para seu pivô: “Nada se compara a você”.


Nova arrancada do Miami coloca Indiana contra a parede
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Giancarlo Giampietro

É LeBron, é defesa, é pressão, é muito mais para o Miami no momento

É LeBron, é defesa, é pressão, é muito mais para o Miami no momento

Por três jogos seguidos, o Indiana Pacers abriu uma boa vantagem no placar, mas só conseguiu protegê-la na partida inicial da série. Por um lado, pode ficar a sensação de que o time de Frank Vogel vacilou geral e que entregou a série de bandeja para o Miami Heat. Mas seria injusto dizer isso. Injusto com os atuais bicampeões.

Estamos falando de um time que perdeu o primeiro período deste sábado por sete pontos, mas que venceu o restante do jogo por 19. O time que anotou apenas 14 pontos em 12 minutos, mas que acumulou 85 nos 36 restantes. Mesmo contra uma defesa como a do Indiana Pacers, que, durante o campeonato, chegou a atingir níveis históricos de eficiência.

“É uma dura derrota para nossos caras”, diz o comandante do Pacers, Frank Vogel. “Acho que competimos muito bem, viemos para a quadra de modo bastante forte, tivemos um bom início e, então, não soubemos controlar nossas faltas e não conseguimos também reagir ao aumento de intensidade defensiva deles.”

O técnico faz um bom resumo, mas as coisas não são tão simples assim, né?

Com cinco faltas, George Hill foi limitado a apenas 21 minutos de ação, e isso de fato interferiu demais com seus planos para a equipe. O quinteto inicial de Indiana ainda tem um saldo positivo quando reunido em quadra, a despeito de duas derrotas em três jogos. No entanto, qualquer outra formação usada pelo treinador tem saldo negativo. Dureza, hein?

Sem Hill, Vogel perde um de seus poucos dribladores minimamente competentes, sobrecarregando Lance Stephenson e Paul George – especialmente quando consideramos as responsabilidades que ambos têm na defesa. Evan Turner poderia ajudar nesse sentido, mas como ficaria, aí, o espaçamento de quadra? Ainda mais comprometido, algo grave para um time que acertou apenas 28,6% de seus chutes de fora na primeira partida em Miami. E dá para confiar no ala marcando algum dos astros adversários ou mesmo Chalmers ou Cole? Nem.

Luis Scola dessa vez mostrou sinais de vida, terminando, vejam só, com o melhor saldo de cestas do Pacers (+9 em 13 minutos). Com a cabeça fresca, o argentinou reagiu e marcou oito pontos em algo como três minutos no primeiro tempo. Mas isso de nada adiantou no segundo tempo quando a bola mal chegou ao pivô – ao contrário do que se passou em Indianápolis, diga-se, em que foi acionado e não correspondeu.

Da mesma forma que DJ Augustin no ano passado, o armador reserva CJ Watson vem enfrentando imensa dificuldade contra o abafa constantemente promovido por Erik Spoelstra, que pediu a seus atletas para que não se esquecessem da identidade de sua equipe. Valeu, professor. Se a pressão defensiva do Miami desestabiliza até mesmo ataques bem coordenados como o do San Antonio Spurs, contra o Pacers, quando as coisas encaixam, vira massacre, mesmo.

Depois de 13 jogos com os rivais alternando vitórias, o Heat colocou o Pacers contra a parede ao conseguir, enfim, dois triunfos seguidos. Restam mais dois para que o time volte a uma decisão da NBA pela quarta vez consecutiva, para repetir algo que não acontece há quase 30 anos, desde o Los Angeles Lakers de 1982 a 1985 (uma vitória e uma derrota contra Celtics e Sixers).

A julgar pelo que vimos nos três primeiros confrontos, é difícil apostar numa derrapada, por conta desses e outros motivos – bastante óbvios, mas que voltam à tona na final do Leste de maneira impositiva:

Poder de fogo
Para plantéis que contam com figuras como LeBron e Durant, parece que nenhuma vantagem está plenamente segura – em dois ou três minutos de mão quente, a liderança se evapora. Se ao lado deles se apresentam talentos como Wade e Westbrook, então? Todo o cuidado é pouco: 15 pontos não são nada. Ainda mais para uma equipe com problemas ofensivos como o Pacers.

No segundo tempo do Jogo 3, o Miami Heat deslanchou. Mas não se esqueçam do que já haviam feito no final da primeira etapa. Juntos, LeBron e Wade anotaram 14 dos últimos 18 pontos antes do intervalo, reduzindo a diferença de 15 (37 a 22) para apenas quatro (42 a 38, praticamente um 0 a 0). É difícil se intrometer no caminho dos dois, quando estão determinados a atacar o aro.

Daí que a inteligência na montagem do elenco de suporte aos astros também nunca pode ser ignorada. Os craques estão em quadra para resolver, mas a diretoria chefiada por Pat Riley conseguiu armar uma estrutura exemplar ao redor dos dois. Os cartolas deram a Erik Spoelstra não só um conjunto formidável de atletas, mas também uma porção de bons chutadores para aliviar a pressão em cima dos cestinhas – a contratação de Ray Allen, neste caso, se prova mais e mais mortal. O veterano de 38 anos segue em forma refinada, graças a uma das rotinas mais abnegadas da liga.

O ex-chapa de Garnett e Pierce matou quatro bolas de três no quarto final, se aproveitando de algumas cochiladas de Lance Stephenson. Mas é difícil também manter a concentração o tempo todo, ainda mais com Wade e LeBron ao lado de um dos maiores arremessadores da história do basquete. Por conta própria, o trio marcou mais pontos que todo o time do Pacers no segundo tempo: 47 a 45. Veja no gráfico abaixo, da ESPN, a anatomia de um baita estrago:

Os tiros de três que arrebentam com o Pacers, time que melhor defende este fundamento. Reparem também no baixo volume de tiros de média distância e o jogo lá dentro, na combinação ideal dos analistas estatísticos da vez: jogo interno + chutes de fora com alto rendimento

Os tiros de três que arrebentam com o Pacers, time que melhor defende este fundamento. Reparem também no baixo volume de tiros de média distância e o jogo lá dentro, na combinação ideal sugerida pelos analistas estatísticos da vez: jogo interno + lances livres + chutes de fora com altíssimo rendimento

Foi a segunda vez na temporada em que os rapazes eleitos por Larry Bird abriram 15 no placar e perderam. A primeira havia acontecido no dia 18 de dezembro. Coincidentemente, elas se equiparam como as maiores viradas na campanha da equipe da Flórida. Tem a ver com a artilharia pesada da equipe.

Em pormenores…

LeBron James, essa aberração
“Temos de jogar nosso tipo de basquete. Temos de ser disruptivos. Acelerar o time que estamos enfrentando, e tentar voar por todos os lados na defesa… Somos um time que ataca. Quando encaixamos nosso jogo, muitas coisas acontecem ao nosso favor, e até conseguimos cobrir alguns dos erros que fazemos tanto ofensiva como defensivamente”, afirmou o superastro nos vestiários neste sábado. Hmm… Na mosca.

E como é que faz, LeBron?

Ah, tá. Fácil assim.

É impressionante sua consistência em um nível altíssimo, coisa de panteão. A cada jogo, seguimos acompanhando a história. Que bom que todos tenham aprendido a conviver com isso.  Nos três primeiros jogos, LeBron tem 24,3 pontos de média, 7,3 rebotes e 6 assistências, com 58% nos arremessos de quadra, em 123 de 144 minutos possíveis.

Mas… Vem cá: esse cara não se cansa nunca?

Nas últimas quatro temporadas, apenas dois atletas beiram os 14.700 minutos de jogo: LeBron e Kevin Durant. Isso equivale a algo como 300 partidas inteiras. Para muitos, esse seria o principal empecilho para um tricampeonato. Fadiga física e mental, especialmente de seu principal astro. Era o que muitos esperavam. Por enquanto, nada. E como apostar contra esse cara?

Ainda mais quando ele vem tendo uma certa ajudinha de…

Dwyane Wade, valeu o descanso
Neste mesmo período de quatro temporadas de parceria na Flórida, Wade não bateu os 12 mil minutos. Ele soma algo como 240 partidas na íntegra – ou 73% de uma temporada regular. Faz diferença. Spoelstra teve ainda mais precaução em administrar os minutos do ala-armador durante a temporada, na qual ele foi para quadra em 54 partidas, a menor quantidade desde 2008 – descontando, claro, o ano do lo(u)caute. O resultado é um Wade cheio de gás contra o Pacers, sem permitir que Lance Stephenson o maltrate. Aliás, pelo contrário. Suas médias são de 24,3 pontos, 4,3 assistências e 62% nos arremessos na série, em 36,7 minutos. Se ele mantiver esse rendimento, fica difícil até mesmo para o Spurs, gente. Dois jogadores de capacidade atlética de primeiro nível, experientes, entrosados, com fôlego para sustentar grande volume de jogo.

“Não sei porque as pessoas ficam agindo como se ele tivesse jogando aos 47 anos. Até parece que é o Bob McAdoo jogando”, disse Chris Bosh, em defesa do amigo. Ok, Christopher. Wade tem apenas 32 anos. Mas é inegável o esforço do clube para preservar sua saúde, pensando nos momentos de decisão da temporada. Algo, aliás, que até livra a sua pele…

Chris Bosh nem tchum. E daí?
Em termos de minutagem, Chris Bosh também já foi longe. O ala-pivô admitiu publicamente é o terceiro jogador que mais ficou em quadra nos últimos quatro anos, superando a marca de 12 mil jogados. São 2.500 a menos que o grande craque do time,  verdade. Mas lembrem que não é todo jogo que o camisa 6 tem de encarar brutamontes como Hibbert, Tyson Chandler e Al Jefferson. Bosh até conta com a escolta de Birdman e Haslem (e, de vez em quando, de Greg Oden). Mas teve de digladiar com esse tipo de gigante por muito tempo, admitindo estar cansado pacas no momento. E jogar contra o Indiana é uma dureza. Em especial para ele, que, nos últimos sete confrontos de mata-mata com seus arquirrivais, sustenta médias de 7,9 pontos e 4,6 rebotes, com 29,9% de aproveitamento nos arremessos. O Ian Mahinmi conseguiria estes números? Talvez não. Para um cara com o status de Bosh, porém, o caso é de bombar no exame. Mesmo com seu terceiro principal atleta rendendo pouco, o Heat está na frente.

Mando de quadra
O arranque do Pacers no início da temporada e todo o sofrimento na reta final para manter a primeira colocação no Leste, ter mando de quadra…Foi tudo para o espaço. A turma de LeBron conseguiu uma vitória em Indianápolis e confirmou, neste sábado, a “quebra de saque”. Acabou? Ainda não. Vamos ver se essa intensidade do Miami será mantida no Jogo 4, agora que estão liderando a série. A ver também se o Indiana segue confiante em completar a missão para a qual foi especificamente preparado.  Naturalmente, os visitantes têm mais uma chance na segunda-feira de recuperar a vantagem de decidir em casa. Basicamente, está em jogo sua sobrevivência na temporada. Se os visitantes não triunfarem no Jogo 4, aí, sim, bau-bau.


Miami força o impossível: Scola estremecer em quadra
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Giancarlo Giampietro

É difícil saber quem fica mais perplexo ao assistir a um Luis Scola completamente estremecido contra o Miami Heat na final da Conferência Leste da NBA. Certo é que os dois terão um nó na cuca daqueles.

O argentino, claro, do seu canto vai se assustar, mas não deve perder a ternura. Nem tem como. Agora, do lado brasileiro, daquele que já se cansou de tomar marretadas na cabeça, para o qual o camisa 4 acabou se tornando o maior símbolo de uma geração brilhante e impiedosa, imagino os mais diversos sentimentos.

Scola fica livre, mas não converte a bandeja. Pressão total

Scola fica livre, mas não converte a bandeja. Pressão total

Aqueles que pendem propensão maior a espírito de porco devem estar se divertindo à beça, chorando de rir no sofá. Outros, podem ficar indignados: “Tá vendo!? Não é impossível marcá-lo! O cabelo já era!”, berrando, para nenhum Rubén Magnano ouvir. Dá para imaginar também aquele cara mais desiludido que toda essa penitência por que passa o argentino vai deixá-lo ainda mais motivado para o Mundial, e aí sai da frente…

Independentemente de qual for a sua impressão, meu senhor e minha senhora, não vai aliviar o que já se passou nos últimos clássicos sul-americanos. E podem ter certeza de quem está sofrendo mais é o próprio Scola, um cara que não está habituado a ser tratado desta maneira em quadra. Geralmente ele é o cara a ditar as regras. Vocês bem sabem.

Mas é isso que a turma de Erik Spoelstra faz. Essa situação automaticamente  nos remete ao que aconteceu com Tiago Splitter no ano passado, não? Agora é a vez de seu ex-companheiro de TAU Cerámica claudicar ao encontro dessa defesa superatlética e agressiva. Por mais inteligente e experiente que seja o personagem, se a sua tendência é jogar de pés no chão, sem voar em direção ao aro, chega uma hora que os caras de Miami entram em sua cabeça. Nesse sentido, Roy Hibbert é uma exceção – além de ser muito mais alto e comprido.

Nesta terça, Scola hesitou sem parar na hora de atacar, com receio de soltar suas tradicionais bombas de média distância. Contentava-se em fazer a finta apressada, passar desajeitado por baixo do marcador que saltava para engoli-lo vivo. E toca passar para o lado, para trás, passar para onde quer que seja possível, com a bola pelando em suas mãos. Passes inseguros, mal direiconados, que não saíam do modo que se espera para alguém com tanta habilidade nas mãos e munheca. O chute, quando tinha coragem para arriscar, era precipitado, sem elevação nenhuma.

Foram 11 minutos no total para este campeão olímpico, apenas uma cesta de quadra em seis tentativas. Nenhum rebote. Uma assistência. E duas faltas. Fosse uma noite isolada de acidentes, tudo bem. Acho. Mas, se o Pacers venceu bem o Jogo 1, não foi por causa de Scola – sua produção também foi pífia, com dois pontos e cinco rebotes em 14 minutos, acertando apenas 1 de 3 arremessos.

Vamos além: nas últimas cinco jornadas, suas médias são de 2,6 pontos e 2 rebotes, em 10,4 inutos, com 27,8% de aproveitamento nos chutes. Imagine o drama para Júlio Llamas de aguentar a uma atrocidade dessas.

E faz como para brecar um cara desses?

E faz como para brecar um cara desses?

Na defesa, em marcação individual, a arrastada movimentação lateral do pivô, aod 34 anos, fica muito mais exposta diante dos arroubos dos armadores e alas do Miami. O veterano não consegue bloqueá-los, muito menos acompanhá-los uma vez que passam pelo corta-luz, avançando em direção ao garrafão. Haja cobertura para interditar essa avenida.

Se a diretoria do Pacers fez seu dever de casa antes de acertar a troca pelo argentino, obviamente sabia dessas limitações de mobilidade. Os cartolas só esperavam que seu empenho nos rebotes e habilidade ofensiva compensassem., para liderar a segunda unidade e dar um merecido descanso a David West.

Aconteceu raramente durante a temporada, e todos esperavam pacientemente que Scola viesse para o jogo nos mata-matas. Nos respingos da temporada regular em abril, sua produção até parecia direcionada para isso, com 11,6 pontos e 5,3 rebotes em 19 minutos, com 55% de quadra. Que nada.

Contra o Hawks, o pivô até conseguiu dois bons jogos no início da série, mas, depois, acabou banido da rotação, sem conseguir encontrar um bom matchup – ficou em quadra por apenas oito minutos no Jogo 5 e nem tirou o agasalho nos duelos seguintes. Depois, contra os veteranos pivôs do Wizards, num embate aparentemente favorável, a mesma história: ganhou minutos na abertura, mas terminou jogando apenas 27 minutos entre as quarta e sexta partidas. E cá estamos, acompanhando uma rara e prolongada draga para um atleta tão regularmente eficiente.

Por essas e outras, experimente dar uma busca no Twitter por “Luis Scola” ao final dos jogos. A coisa fica feia. Ao menos não esbarrei em muitos palavrões, mas dá para dizer que o cabeludo não está na lista dos queridinhos do público em Indianápolis – ou de qualquer um que esteja torcendo contra o Miami Heat. Para muitos, já está mais para um vilão bastante maligno.

Quem diria, né?

Quando o Indiana fechou a transação com o Phoenix Suns lá atrás, Larry Brid foi incensado por 95% da crítica (sim, sim, estamos quase todos nessa). Aí que não só o argentino vem tendo este ano miserável, como Gerald Green e Miles Plumlee chocaram a Costa Oeste, e o clube do Arizona ainda terá de brinde a 27ª escolha do Draft deste ano. Vixe.

A ideia era que o banco, tão fraco no ano passado, ganharia mais um cestinha respeitável, ao lado de Danny Granger. Chegaram ainda CJ Watson e Chris Copeland. O time curava sua principal deficiência, abastecendo uma segunda unidade fraquinha que só.

Rasual Butler, mesmo? Miami, seu ex-time, também não acredita

Rasual Butler, mesmo? Miami, seu ex-time, também não acredita

Depois de tanto chacoalho no mercado – algo que continuou fazendo ao ir atrás de Bynum e Turner, agitando demais a química de sua equipe –, Bird só não poderia imaginar que o veterano Rasual Butler (seis pontos em oito minutos) seria seu melhor reserva em quadra no segundo jogo da aguardada série contra seus grandes rivais. Butler que, para muitos, já foi dos piores jogadores da liga nas últimas temporadas e que precisou apelar e disputar a liga de verão de Orlando este ano para se manter empregado.

Para CJ Watson, o bom senso pede um desconto. O armador, substituto do antes famigerado DJ Augustin (é, o Thibs também sabe cuidar dos atletas no ataque…), teve uma partida péssima (0/4 FG, três rebotes e só), mas fez uma boa temporada. De Ian Mahinmi, não se pode exigir muita mais do que alguns rebotes e umas trombadas.

Com a garganta inflamada, Evan Turner até estava liberado para jogar, mas não é que Frank Vogel estivesse desesperado para reinseri-lo em sua rotação. Sua contratação foi um grande erro de cálculo de Bird. O ala simplesmente não combina com Paul George e/ou Lance Stephenson em quadra.

Depois de Plumlee, mais uma de suas escolhas de primeira rodada mal pisou em quadra. Dessa vez foi o ala Solomon Hill, um novato de 23 anos que teoricamente estaria mais bem preparado para jogar do que um molecote de 19, mas que nem relacionado para a partida estava.

No calor de mais uma dura série contra o Heat, porém, não é para Hill ou Butler que os torcedores vão olhar. Scola chegou com enorme expectativas e custou caro. Para um vencedor como ele, é de se esperar que encontre alguma solução para o terror que vem pela frente, a não ser que Vogel já opte por Chris Copeland em sua vaga a partir do Jogo 3. Enquanto os times não voltam para quadra, ficam todos em suspense e boquiabertos, um tanto incrédulos: a rapaziada de Indianápolis, mas também os argentinos e brasileiros.


Personagens dos playoffs: Nenê. Ele mesmo
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Giancarlo Giampietro

Nenê x Joakim Noah teve placar favorável ao brasileiro

Nenê x Joakim Noah teve placar favorável ao brasileiro

Nenê já está há 12 anos na NBA, e tem gente que ainda não se conforma: como pode alguém que combine tanta força física, velocidade e técnica não ser uma estrela na liga? Ou mesmo uma superestrela? No ataque, o pivô realmente sabe fazer um pouco de tudo. Seu chute de média distância cai de modo frequente a ponto de percisar ser marcado – e, se o defensor não o pressionar, pode pagar o pato com o brasileiro, ótimo passador, deixando alguém de frente para a cesta. Ele ainda pode bater em velocidade em direção ao garrafão. Aguenta o tranco jogando de costas e também sabe lidar bem com a eventual dobra. Completo.

E aí o grandalhão vai lá e arrebenta com Joakim Noah e o Chicago Bulls, numa rara série que terminou cedo nestes playoffs completamente alucinantes. Teve quem disse que já não era a hora, mas também teve quem se surpreendesse pelo fato de ele ter sido dominante por diversos jogos em sequência.

Ao final do confronto, mesmo alguém orgulhoso como Noah não teve como não elogiá-lo — dias depois de fazer das suas provocações, uma vez que obviamente ele não iria deixar passar despercebida a expulsão do adversário no Jogo 3. “Ele foi um monstro lá embaixo, você tem de dar muito crédito para ele”, afirmou. Vejamos, num vídeo editado pelo Coach Nick, do BBallBreakdown:

Então fica essa inquietação, mesmo, entre os americanos. O que acontece?

Aqui do nosso lado, embora Nenê não seja dos personagens mais comunicativos e falantes, temos mais base para falar a repeito, né? Contexto é tudo, e dá para começar falando sobre mentalidade. Fora religião, das poucas coisas que o pivô fala abertamente, sempre sai algo na linha do conjunto, espírito coletivo etc. No seu caso, não é baboseira, algo treinado. Acho que já escrevi isso aqui, então corre-se (sempre) o risco da repetição: mas qualquer um que o veja em ação, sabe que ele não está preocupado com números, com espetáculo para as câmeras, nem nada. De vez em quando sai uma cravada de top 10, mas é sabido que o cara faz e gosta de fazer o básico, e muito bem, obrigado. Com a ressalva de que “básico” aqui vale como “elementar”, “fundamental”, e, não, algo “trivial”. E não é todo mundo que dá conta disso.

“São todas as suas intangíveis”, afirma o treinador Randy Wittman. “Usso essa palavra para Nenê o tempo todo. Ele pode pontuar, arremessar, driblar, passar e pode defender. Quando não o temos em quadra, não existe outro que possa fazer todas essas coisas.”

Essa abordagem do jogo é muito bem-vinda pelos técnicos, mas pode ficar perdida em meio a tantos egos e marketing da liga norte-americana. Não é nada midiática. Ninguém vai por em slow motion um corta-luz perfeito ou um passe preciso para Marcin Gortat em movimento de high-low. Ainda mais que seu parceiro polonês não ajuda!  Ele tem aquele jeito é todo malucão, mas também se dá por satisfeito em por a bola no quadradinho por uma cesta simples. Para completar, a presença de Gortat também empurra Nenê para mais longe da cesta. Ele nunca atacou tão distante do aro assim, em toda a sua carreira. Além disso, seu número de cravadas é inferior à metade do que somava nos tempos de Denver.

Aliás, quem não se lembra das temporadas do Nuggets em que até mesmo Earl Boykins e Voshon Leonard arriscaram mais? O jogo discreto do são-carlense pode até mesmo ser ignorado, atropelado por seus próprios companheiros. Ao menos, em 2004, o ala Jon Barry ficou para trás. E como faz? Você tem um pivô com tantos recursos e permite que um cestinha medíocre como Voshon Leonard fique tanto com a bola? Loucura do técnico Jeff Bzdelik! Ou não. Foram várias as ocasiões que vimos George Karl, o sucessor, implorar publicamente para que o brasileiro fosse mais fominha, para que chamasse mais o jogo. Mas essa simplesmente não parece uma vocação natural para o atleta. É por isso que Wittman também diz: “Ter ele de volta nos ajudou muito”.

Dono do Wizards, Ted Leonsis veste camisa de Nenê em jogo de gancho

Dono do Wizards, Ted Leonsis veste camisa de Nenê em jogo de gancho

E aqui chegamos a outro ponto: ter-ele-de-volta implica que ele estava fora. O pivô ficou afastado do Wizards por seis semanas, devido a uma lesão no joelho. Dessa vez, porém, o timing foi favorável ao jogador: ele conseguiu retornar pouco antes de a temporada regular se encerrar, a ponto de desenferrujar, estando ao mesmo tempo mais descansado.

Lesões: algo recorrente na trajetória de Nenê, que só teve quatro temporadas com pelo menos 90% dos jogos disputados e que em apenas uma ocasião, 2009-10, foi para a quadra em todas as rodadas, já recuperado de um câncer. Tantas ausências, claro, levaram os mais críticos a julgá-lo por chinelinho. Até porque, sempre que possível, alguém não vai perder a chance de arrebentar o joelho de modo proposital, claro, na primeira partida da temporada, com apenas três minutos de jogo.

Os problemas físicos foram tantos que causam, sim, danos psicológicos. Por exemplo: na penúltima partida desta temporada, Wittman usou o atleta por 24 minutos, acima dos 16 a 20 estipulados, dando a ele a chance de marcar 18 pontos, se soltando em quadra. Em vez de celebrar, o paulista disse: “Isso me surpreendeu um pouco. Foram cinco minutos a mais, mas tudo bem. Estou gostando do que vejo, mas espero que nós mantenhamos os minutos que havíamos combinado, porque se eu forçar muito a barra, posso acabar pagando o preço. Então espero que possamos controlar meus minutos um pouco”. Que jogador gosta de se preocupar com esse tipo de coisa?

Então fica assim, para a turma do amendoim. Chinelinho nos Estados, desertor no Brasil. Vai ser difícil esquecer as vaias que o pivô tomou no Rio de Janeiro naquele histórico jogo de pré-temporada contra o mesmo Bulls, mas que acabou nos proporcionando um episódio famigerado desses. A questão da seleção é mais complexa, discutida aqui, mas não deixa de ser irônico que aqueles torcedores enfezados de outubro agora tenham de sentar na poltrona em casa e conviver com isso, enquanto o pivô passava por cima do melhor defensor da liga.

Aqui cabe um parêntese também: dias depois da eliminação, Noah passou por uma cirurgia no joelho esquerdo, que o vai deixar de molho por dois a três meses. O francês havia acusado suas dores ainda nos vestiários do United Center, mas sem querer usar como desculpa. Não estava 100%, mas um JoJo limitado é chato o bastante para tirar o sono de muita gente. Menos Nenê, dessa vez.

O brasileiro, de qualquer forma, não foi decisivo apenas atacando. Na defesa, anulou Carlos Boozer quando requerido – como no quarto período do Jogo 5, após a lesão de Taj Gibson -, mas, principalmente, ajudou a cortar as linhas de passe que Noah adora explorar. “Eles me pressionaram muito, muito mais do que o normal”, diz o pivô, quando seu time ainda tinha chances. “Tenho de fazer um trabalho melhor para manter a bola viva e evitar o turnover.”

Com sua agilidade e envergadura, Nenê também pode ser um defensor implacável e versátil, combatendo no garrafão ou flutuando no perímetro de modo agressivo, a ponto de incomodar até mesmo armadores. DJ Augustin e Kirk Hinrich, no caso, nem representavam tanta ameaça.

Nenê anula Carlos Boozer, para desgosto da torcida do Bulls

Nenê anula Carlos Boozer, para desgosto da torcida do Bulls

A relevância do brasileiro para o Wizards, todavia, vai além de sua técnica. Em Washington, o jogador assumiu naturalmente um papel de mentor, num elenco pouco experiente e carente de boas referências depois do convívio com JaVale McGee e Andray Blatche.Na hora de enfrentar um time encardido como o Bulls de Thibs, então, era necessário que assumisse a iniciativa, até para facilitar a adaptação de John Wall e Bradley Beal a uma nova realidade. Cabia a ele guiar sua galerinha. Mesmo assim, com a vaga nas semifinais do Leste garantida, ainda fez questão de falar de seus dois novos irmãozinhos.

“Estou muito feliz por Bradley Beal e John, porque muita gente disse coisas ruins sobre eles, que os dois não conseguiriam  jogar bem nos playoffs”, disse o pivô, provavelmente se referindo a cornetas da capital norte-americana, uma vez que, no geral, os dois jovens foram bastante elogiados durante a temporada. “Tiro o meu chapéu para eles.”

“Acho que tudo o que a gente enfrentou foi necessário para nos dar maturidade, experiência. Tudo acontece por algum motivo, e essa é a razão para estarmos nessa posição. Estivemos aprendendo nos últimos dois anos, e agora é o nosso momento”, continuou.

A reverência precisa se feita, antes de tudo, para o próprio pivô, que teve médias de 17,8 pontos, 6,5 rebotes, 3,3 assistências e 1,5 roubo de bola, matando 54,8% dos arremessos em quatro partidas. Nem o péssimo aproveitamento nos lances livres, de 30% – com poucas tentativas, diga-se -, afetou sua produção. Nenê foi muito mais agressivo, elevando sua média de 11,2 arremessos por jogo na temporada regular para 15,5 na primeira rodada dos playoffs.

Por quatro partidas, Nenê realizou aquilo que muitos projetam para seu basquete. Não que sinta-se obrigado a dar qualquer tipo de satisfação. “Eu só ligo para aquilo que posso controlar. Sou muito profissional e estou muito maduro para lidar com isso. Já passei por várias situações difíceis”, afirmou ao Washington Post. “Quem odeia, odeia, não tem o que fazer. Só podemos controlar aquilo que trabalhamos aqui, nossa atitude, nosso jogo. Isso é algo que os críticos não podem mudar. Vamos jogar duro e com muita paixão. Quem odeia conhece o passado. Eu conheço o presente. Mas o futuro só deus sabe.”

Bem, o futuro imediato coloca Nenê e Gortat de frente com dois pesos pesados do Indiana Pacers, Roy Hibbert e David West. Mais dois problemões para o brasileiro encarar, contra os quais faria bem manter o nível apresentado contra Noah, Gibson e Boozer. “Se não existissem aqueles que nos odeiam, não conseguiríamos atingir nossos objetivos, sabe? Acredito que podemos surpreender se jogarmos do modo certo. Acredito nos meus companheiros  e que podemos fazer algo especial”, disse. Obviamente, para Wall, Beal, Ariza e Wittman a recíproca hoje é bem verdadeira


A cesta decisiva – e o migué – de Lillard
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Giancarlo Giampietro

Damian Lillard não quer nada o que ver com isso. O cronômetro a 0s9 do fim, seu time dois pontos atrás do placar? Pffff, tô fora dessa, cara. Não é à toa que ele se coloca lá do outro lado da quadra, com diversos companheiros e adversários posicionados entre ele e a reposição de Nicolas Batum. Podem reparar no vídeo abaixo: o armador do Blazers está vagando pela quadra até que o francês é autorizado a fazer o passe. “La-la-ri-la-lá”, parece estar cantando.

Até que… Partiu!

Quando Chandler Parsons se tocou, já era tarde demais. Um baita migué, daqueles que a gente faz desde que começou a jogar basquete. Lillard fez seu papel direitinho saiu em disparada em sua semiparábola, pronto para fazer o que mais gosta:

Muitos questionaram a decisão de McHale de colocar Parsons em Lillard, em vez de sua peste chamada Patrick Beverley. Bem, o ex-superastro do Boston Celtics fez uma série de bobagens durante todo o confronto, mas não sei bem se essa está conta. Primeiro: Beverley está passando mal há dias, mal treinando direito, provavelmente jogando à base de drogas. As lícitas, no caso. E este era o último instante de um jogo que durou mais de 1h53, depois de algumas duras batalhas já acumuladas nos últimos dias. Além disso, hoje pode soar absurdo, mas Parsons conseguiu se fixar na rotação do Rockets já em seu ano de novato, sendo um cara de segunda rodada de Draft, devido ao seu empenho defensivo. Acreditem, já existiu esse dia. Além do mais, é um cara esguio, ágil e alto. Ideal para atrapalhar a recepção. Né?

Realmente tem o que se discutir aqui. Mas o fato é que, uma vez concluída a jogada, o ala acaba dando razão aos críticos. De modo algum ele poderia ter dado aquela separação inicial para Lillard, com tão pouco tempo no relógio. Nas fotos (mais abaixo), temos a impressão de que ele estava perto para contestar o chute mortal de um craque emergente. Se for pensar no pieque, até que talvez ele tenha se recuperado bem… Só que não. Nada disso: a bola já estava bem distante das mãos de seu adversário quando ele chega para o toco. Pior: nem mesmo um corta-luz foi posicionado no caminho do atleta do Blazers. Não há contato de Mo Williams antes de seu companheiro engatar a quinta.

Com o vídeo congelado em 11 segundos, temos Lillard já praticamente esperneando para mostrar o quão livre ele estava. Já eram no mínimo duas passadas de distância para qualquer marcador mais próximo. E aí que cabe uma outra pergunta para McHale: que diabos James Harden estava fazendo em quadra? Difícil tirar sua superestrela, né? Mesmo quando o figura já é reconhecida como um dos piores defensores de toda a liga. Reparem que Harden fica perdido com Wes Matthews ali na cabeça do garrafão, mesmo que o ala esteja praticamente de costas para a linha de passe.

Damian Lilllard, clutch, inbound play, Game 6, Blazers, Rockets

Com míseros 0s9 por jogar, obviamente não dá tempo de pensar: “Ferrou”, quando a bola chega às mãos do armador, mesmo que o batalhão de estatísticos do Rockets soubesse que Lillard mata 42% de seus arremessos de três tanto em situações de calmaria ou correria (parado ou em movimento). Mas já era, mesmo.

“Nós falamos especificamente para eles que não era para permitir chutes de três”, disse McHale, culpando seu elenco — muitos acreditam que foi seu último jogo como treinador do time. “Não parece que foi verdade. Um puta arremesso. Um puta arremesso. Ficou livre. Puta arremesso. E lá foi o jogo”, disse Jeremy Lin (em tradução livre demais até, porque obviamente Jeremy Lin não fala coisa feia). “É o pior sentimento que já tive na minha vida”, completou o pobre coitado do Parsons.

Um tiraço para a história, em semanas eletrizantes de basquete. Milhares de pessoas permanecendo no ginásio, dançando, gritando, mesmo com o jogo encerrado há tempos. A primeira vitória numa série de playoffs para o Blazers desde 2000. É claro que Lillard queria a bola.

*  *  *

Por outro ângulo, praticamente dentro da quadra. Reparem nas palminhas:

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As fotos:

Ângulo para deixar o chute mais épico (e mais difícil do que foi)

Ângulo para deixar o chute mais épico (e mais difícil do que foi)

Oi, Parsons, bom dia? Lá foi a bola

Oi, Parsons, bom dia? Lá foi a bola

A separação entre Lillard e Parsons

A separação entre Lillard e Parsons

Lillard para a TV

Lillard para a TV

Damian Lillard 2014, Brandon Roy novembro de 2008: bombas contra Rockets

Damian Lillard 2014, Brandon Roy novembro de 2008: bombas contra Rockets

Deixa falar, deixa cantar, deixa rimar. Lillard, senhor de Portland

Deixa falar, deixa cantar, deixa rimar. Lillard, senhor MC de Portland

It's Lillard Time!

It’s Lillard Time!


Personagens dos playoffs: Wesley Matthews (Jr.)
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Giancarlo Giampietro

Quando a defesa é o highlight, fazendo a diferença

Quando a defesa é o highlight, fazendo a diferença

As coisas nunca aconteceram de modo fácil para Wesley Matthews Jr. Mesmo sendo filho de um ex-jogador da NBA. Seu pai, na verdade, talvez tenha sido o primeiro a empurrar o garoto para uma trilha mais exigente, acidentada, ao sair de casa antes mesmo de conhecê-lo.

“Sei que isso me deixou mais durão, mais forte. Não sei se isso é bom ou mau. Mas sei que vou descobrir mais para a frente”, afirmou o ala do Portland Trail Blazers, em longa matéria da Comcast Sportsnet que serviu como uma espécie de terapia, discutindo o relacionamento com o primeiro Wes Matthews, bicampeão pelo Los Angeles Lakers ao lado de Magic Johnson e Kareem Abdul-Jabbar.

Matthews, o júnior, ainda não teve um privilégio desses. Pelo contrário, ele é um dos capitães do grupo daqueles que batalhou um bocado para chegar à NBA e conseguir um contrato (bastante generoso, no seu caso). Quando saiu da universidade de Marquette, passou batido pelo Draft de 2009.

Símbolo de uma geração de Marquette que também mandou Jimmy Butler para a NBA

Símbolo de uma geração de Marquette que também mandou Jimmy Butler para a NBA

Hoje, 22 dos atletas selecionados naquela temporada já estão fora da liga, incluindo cinco que foram escolhidos entre os 30 primeiros. Nesse grupo de excluídos, obviamente são poucos os simplesmente optaram por ficar distantes do basquete profissional norte-americano. Na verdade, dois: o armador Sergio Llull, ídolo do Real Madrid e que nãos e cansa de esnobar o Houston Rockets, e o ala Emir Preldzic, cujos direitos pertencem ao Washington Wizards, mas não deve abrir mão da fortuna que recebe do Fenerbahçe tão cedo.

De resto, os demais 20, com os alas Terrence Williams e Earl Clark e os armadores Rodrigue Beaubois e Jonny Flnn (o sexto colocado!) dentre eles, obviamente trocariam de lugar com Matthews para ontem. O ala do Blazers sabe muito bem disso. Que eram as grandes as chances de ele se ver do outro lado. Por isso, vai aproveitar cada instante em quadra na amalucada série contra o Houston Rockets como se fosse o último. Num comportamento, é preciso dizer, um tanto anômalo nesse embate.

Não é que Blazers ou Rockets, times que somaram 108 vitórias na temporada regular, tenham enjoado de vencer. Fosse o caso, não teríamos três prorrogações em quatro jogos. Agora, por outro lado, se formos levar em conta a média de 234 pontos por jogo — ou mais de 117 por time –,  talvez valesse um esforcinho a mais de ambas as partes, não? Na defesa, digo. Né, James Harden?

Ninguém vai discutir o talento do Capitão Barba com a bola em mãos. Um senhor arremessador, inventivo nos dribles, saindo para todos os lados, explosivo e forte o bastante para romper a primeira linha da defesa e desafiar os grandalhões no garrafão, descolando, por vezes, até mais de 20 lances livres num jogo, ou mais. O drama, porém, fica para o que ele faz do outro lado, na defesa.

Com o passar da temporada, as críticas, justas, ao ala-armador do Rockets foram se acumulando. E o movimento das lâminas de barbear furiosas não ficou restrito aos especialistas, aos cri-cris. Experimente dar uma busca por aí: “Harden + defense”. Saca só, como diria o Maurício Bonato, do Sports+ (ignorem a bola se focalizem no nosso… herói):

Sujeito atencioso, né? Fiscalizador, opressor, faria o Tony Allen morrer. De desgosto, ou vergonha. A gente sabe que Harden tem muitas responsabilidades ofensivas, criando e finalizando. Sua taxa de uso (usage rate, numa tradução beeem livre) por posse de bola é muito elevada, superior a 27% nas últimas duas temporadas e ultrapassando a marca de 30% nos playoffs. Agora querem saber? LeBron James é ainda mais exigido no ataque do Miami Heat… Numa quantidade menor de minutos, tá certo. Mas nada que justifique a imensa diferença na conduta defensiva das duas estrelas. Com o agravante de que o atleta do Rockets não tem de modo algum o status de consagrado.

No ataque, um pouco fora do ar. Blazers não se importa

No ataque, um pouco fora do ar. Blazers não se importa

Em termos de fama, talento e produção, também é óbvio que Harden está degraus e degraus acima de Matthews, o atleta com quem mais bate de frente nos playoffs até aqui. Todavia, com todas as suas limitações – e números bem ruins no ataque até aqui, ainda que numa amostra pequena de quatro jogos -, seu oponente sabe que há muitas possibilidades a mais num jogo de basquete do que somar 30 pontos por partida. Se ele não vem conseguindo reproduzir contra Houston aquilo que ele fez muito bem na temporada, vai compensando com agressividade, fome de bola do outro lado da quadra. “Nasci para isso”, afirma o ala.

Voltando no tempo: Matthews não foi selecionado por nenhuma franquia no Draft, mas forçou a porta até garantir sua vaga no elenco do Utah Jazz, disputando todas as 82 partidas da temporada 2009-2010, com a reputação de bom defensor e de alguém que sabe exatamente o que tem de fazer em quadra. Agente livre ao final do campeonato, recebeu uma bolada do Blazers com um contrato de seis anos e mais de US$ 35 milhões.

(Aliás, sua trajetória impressionou tanto os dirigentes da liga, incomodados talvez por terem deixado passar uma figura dessas, que a universidade de Marquette emplacou uma série de seus rapazes nos últimos anos. Ele virou o símbolo de uma equipe que, se não revelava supercraques e nem recebia os colegiais mais badalados, ao menos fornecia gente madura, bem fundamentada, pronta para o que der e vier. Para comparar, desde que ele assinou com o Jazz, seis atletas já ganharam uma oportunidade. Antes, na década anterior, apenas três dos Golden Eagles foram aproveitados, Dwyane Wade sendo uma grande exceção.)

Em Portland, Matthews chegou a confessar: estava relaxando um pouco, e até seus amigos percebiam e o provocavam. Que ele já não era mais o leão de antes. Deu um duro danado nas férias, voltou para a atual campanha com tudo, e Terry Stotts só pôde aplaudir, uma vez que seu rendimento ofensivo também era muito bom. Contra o Rockets, parte desta receita não vinha dando certo (com 12 para 34 nos arremessos), até se recuperar no domingo, matando 8 em 15 tiros de quadra. Se a bola não está caindo, contudo, isso não vai impedir que ele se empenhe em fazer seu trabalho. Completo.

“O Wes é durão, cara”, afirmou o armador e jovem líder Damian Lillard. “Ele marca desta forma toda noite, não importando quem seja. Não vou falar que isso tira energia dele no ataque. Tem vezes que a bola simplesmente não cai. Ele tem feito um ótimo trabalho defendendo James. Sabendo dessa série, conversamos sobre como alguns caras teriam de fazer um sacrifício. E o Wes está colocando seu coração e sua alma em tornar as coisas difíceis para James Harden, e isso vem dando resultado para nosso time.”

Não quer dizer que Matthews esteja anulando, varrendo o astro do Rockets de quadra. Mas tem tornado realmente sua vida mais difícil. E não só isso. No eletrizante Jogo 4, o ala fez diversas jogadas para dar a vitória ao seu time, à revelia de seus 21 pontos. Antes de seu roubo de bola no finalzinho, no meio da quadra, Matthews já havia participado do lance em que manteve o Blazers vivo no jogo, brigando por duas vezes pelo rebote e no abafa para cima de Jeremy Lin, que deu a Mo Williams o direito de fazer a cesta que aparece em qualquer clipe de melhores momentos.

De qualquer forma, sua postura combativa em quadra acabou recompensada com seu desarme para cima de Patrick Beverley no meio da quadra, ao final da prorrogação, numa dobra de marcação de certa forma com desfecho espetacular. Aquele mergulho em direção à bola que fica bonito em slow motion. Muitos queriam estar ali, mas foi Matthews que deu um jeito de chegar lá.


Perguntas para Los Angeles Clippers x Golden State Warriors
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Giancarlo Giampietro

Steph Curry x CP3: dois dos melhores armadores do mundo em uma só série promissora

Steph Curry x CP3: dois dos melhores armadores do mundo em uma só série promissora

– Andrew Bogut volta?
Os deuses basqueteiros têm alguma coisa para resolver com o pivô australiano. Nesta temporada, o cara até que conseguiu segurar as pontas em quadra, passando da marca de 65 partidas, depois de jogar apenas 44 nas duas anteriores. Mas aí chega a reta final do campeonato, e o que acontece? Claro que ele teria de sofrer uma fratura em seu quadril direito. E o Warriors sem seu aussie predileto é outra equipe. Andre Iguodala ajuda, e muito, com sua capacidade atlética e atenção defensiva no perímetro, mas a retaguarda da equipe depende em demasia da proteção de aro e da ocupação de espaços que o pivô oferece. No ataque, seus passes também são um diferencial, é verdade, mas o que preocupa aqui realmente é a consistência defensiva. Jermaine O’Neal curte um mezzo revival, mas definitivamente não tem o mesmo impacto.

– Sem Bogut, quem vai arrumar confusão com o Clippers?
Bogut adora usar seus cotovelos – e o corpanzil em geral – para, digamos, incomodar a concorrência. Blake Griffin era um de seus alvos preferidos, e a tensão entre os dois brutamontes foi primordial para o aquecimento da rivalidade entre esses dois clubes californianos nos últimos anos. Bem, Klay Thompson já se candidatou a assumir a vaga de atleta mais visado/odiado saiu acusando Griffin de ser um fingidor, cheio de cenas, o famoso “flopper”. Em possíveis encrencas em quadra, olho também em Matt Barnes.

 

– O progresso de DeAndre Jordan é sustentável?
Com o pulso firme de Chris Paul e a produção estupenda de Blake Griffin, mais um punhado de bons arremessadores ao redor deles, o ex-primo pobre de Los Angeles se tornou o ataque mais eficiente da liga. Sua defesa também melhorou sob a coordenação de Doc Rivers,  mas ainda não num patamar em que possa ser equiparada aos resultados obtidos por Spurs ou Thunder nos últimos dois anos (sempre no top 5). E muito do sucesso que o Clippers possa ter em frear um ataque poderoso como o do Warriors vai passar por DeAndre Jordan. Ele não virou nenhum Bill Russell, por mais que Doc queira dar aquela moral, mas sua evolução durante o campeonato foi impressionante. Aos 25 anos, o gigantão amadureceu e não só elevou drasticamente sua média de rebotes, como progrediu consideravelmente em seus índices defensivos (e ofensivos). Numa série de mata-matas, porém, as eventuais falhas de posicionamento e cobertura podem ser exploradas com mais facilidade. Sem Bogut, o Warriors vai tentar afastar DJ da cesta sempre que puder, com pick and pops com David Lee, O’Neal e Marreese Speights. Nessas situações, a complexidade dos movimentos aumenta, e o pivô tem de dar a resposta, especialmente considerando o que o time tem de recursos no banco de reservas quando o assunto são os grandalhões. Ainda mais se Stephen Curry estiver envolvido como o driblador buscando o corta-luz.

– O mundo poderá sobreviver ao embate entre Jordan e Jamal Crawford?
Sim, chegou o dia em que dois dos figuraças que já foram mais malhadas pelo espírito avoado e/ou fominha na liga duelam nos playoffs. São dois jogadores com crossover mortal, capacidade para frear o drible em qualquer ponto da quadra e subir de modo ameaçador para o chute. De vez em quando podem exagerar um pouquinho. Só um pouquinho… Ok, está certo que Jamal-C, em seus tempos de Clippers, vem recebendo muito mais elogios, com razão. Botou a cabeça no lugar, disse que enfim se entendeu como ser humano – e jogador de basquete. Mas ainda lembramos de seus tempos de Bulls e Knicks, em que era capaz de bater bola por 20 segundos  até arriscar um chute desvairado a 12 metros da cesta. Comportamento semelhante ao de Jordan-C no Washington Wizards, até que o maninho tomou um chá de semancol servido por Brad Stevens em Boston. Um outro tipo de Tea Party.

– Pode Stephen Curry ter relevância também na defesa?
Que o filho mais velho de Dell Curry é um dos melhores arremessadores, se não o melhor desta era dourada, não há dúvida. Né!?!? Pessoalmente, é um dos meus jogadores prediletos, daquele que vale o ingresso por conta própria. Seu chute é tão bom que sua habilidade para servir aos companheiros acaba ficando em segundo plano. Poderíamos falar até o amanhacer sobre seu talento ofensivo, mas, na hora de encarar um elenco do quilate do Clippers, ninguém passa impune do outro lado da quadra. Steph vai ter de aguentar a bronca.  Mark Jackson pode evitar o confronto direto com Chris Paul e colocá-lo para vigiar Redick ou Matt Barnes. Mas cada um desses representa desafios: inteligente demais, Redick busca muito bem os corta-luzes do lado contrário, algo que exige disciplina para se frear, enquanto Barnes pode cortar agressivamente para o garrafão, com ou sem bola, além de ser mais alto e comprido.


Perguntas para Miami Heat x Charlotte Bobcats
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Giancarlo Giampietro

Vamos tentar abordar neste fim de semana cada uma das oito séries que abrem os playoffs da NBA. Até segunda-feira, pelo menos. A ver:

LeBron x Bobcats=61 pontos

LeBron x Bobcats = 61 pontos

– O que o Bobcats vai fazer com aquele número 6?
Charlotte viu Carmelo e, principalmente, LeBron se esbaldarem durante a temporada regular. O que talvez pouco saibam: o time de Steve Clifford terminou o campeonato como a sexta melhor defesa (atrás dos suspeitos de sempre: Indiana, Chicago, San Antonio e Oklahoma City Thunder e outra presença inesperada, o Golden State, em quarto). Agora, contra os atuais bicampeões, o futuro (e novo) Hornets vai precisar encontrar algum meio de frear a força da natureza #LBJ. LeBron teve média de 38 pontos por jogo nos confrontos, contando a jornada incrível dos 61 pontos. Não há quem possa criticar a dedicação, o empenho do ainda jovem Michael Kidd-Gilchrist, mas ele precisa de ajuda.

 – Oi, Dwyane, tudo bem? Como vai a vida?
Desde o dia 18 de março, o veterano co-piloto do Miami Heat ficou fora de 12 dos 16 jogos do time. Haja precaução com seus combalidos joelhos. Para o sujeito desenferrujar, foi escalado nas últimas três partidas, somando apenas 64 minutos no total. Foi contra Hawks, Wizards e Sixers, em três derrotas, com o time abrindo mão da luta pelo mando de quadra nos playoffs. Aliás, se formos comparar, o clube terminou com a mesma campanha do Houston Rockets e do Portland Trail Blazers. Por essa poucos esperavam. Muito tem a ver com o joga-ou-não-joga de Wade. LeBron ficou sobrecarregado durante a jornada, sem fôlego para ser, ao mesmo tempo, o grande cestinha e o grande defensor noite após noite – de acordo, claro, com os padrões altíssimos estabelecidos pelo superastro. Em fevereiro, no mês em que Wade ficou fora de quadra por apenas duas rodadas, a campanha foi de 10 vitórias em 11 jogos (a única derrota foi o, glup!, Utah Jazz), com o ala-armador somando 21 pontos, 5,6 rebotes, 5,5 assistências e 60,9% de aproveitamento de quadra, em 34 minutos. Spoelstra precisa de um rendimento desses para ter sucesso nos mata-matas. Mas vai ser logo de cara? Ou, contra o Bobcats, o técnico ainda conseguirá preservá-lo?

– Estaria o mundo preparado para se divertir com Josh McRoberts?
Ele já esteve iluminado pelos holofotes. Jogou por Duke. Vestiu a camisa do Los Angeles Lakers. Mas agora deu a sorte de estar do outro lado da quadra em uma série melhor-de-sete-que-precisa-ser-televisionada-por-motivos-de-LeBron. Melhor ainda: talvez calhe de o próprio LeBron ficar na sua cobertura, dependendo da rotação de pivôs que Spoelstra vai usar. Sucesso. Aqui, não conta só o visual, mas principalmente a habilidade do passe do ala-pivô, que caiu como uma luva como o parceiro de Al Jefferson. O Baby Al foi um estrondo durante o campeonato, com 21,8 pontos, 10,8 rebotes e double-doubles que te fazem engasgar na cadeira, mas fiquemos todos de olho no McBob.

– E, por falar, em pivôs, qual vai ser, Spo? Aliás, qual o time?
Em suas duas campanhas de título, o Miami Heat contou com contribuições significativas de Shane Battier, o Sr. Presidente, inteligente que só, alguém que casa bem com o sistema que gira em torno de LeBron, ajudando na defesa e espaçando o ataque. Os minutos do ala têm sido completamente irregulares. Em abril: 6, 0, 31, 20, 24, 3, 0, 15 e 40. Em março: 19, 21, 20, 16, 9, 16, 28, 11, 21, 15, 14, 9, 18, 8, 0, 24, 27, 0. Para comparar, em fevereiro, oscilou entre 17 e 35 (sim, algo ainda discrepante, mas com um tempo mínimo de quadra bem mais razoável). Em janeiro, foi desfalque por cinco noites, mas, quando jogou, ficou entre 19 e 31 minutos (num só jogo isolado, acima de 30, com o restante situado entre 19 e 21). Tudo isso para dizer que, com Battier, o Miami adota seu formato small ball. É o time que dominou a liga. Com Haslem ou Oden, alguns parâmetros mudam sensivelmente. Resta saber se Batier foi outro a ser resguardado, ou se despencou da rotação, mesmo. Rashard Lewis está no aguardo – credo. Mas é isso: foram diversos afastamentos/lesões durante a jornada. O entrosamento, a essa altura, já é algo natural, para quem convive há tanto tempo. Mas, de qualquer forma, fica a observação.

– Gary Neal, recordar é viver?
Ou melhor: longe da máquina azeitada que é o Spurs, será que esse temperamental cestinha tem a manha de marcar 24 pontos em 25 minutos contra o Miami Heat. O torcedor mais fanático da turma de San Antonio, aquele que realmente se preze, obviamente vai conectar o League Pass nos momentos em que Neal sair do banco de reservas, para conferir. Quem não se lembra da erupção do arremessador naquele espancamento que o time texano promoveu no Jogo 3 das históricas finais do ano passado? Na temporada regular, mudando de Milwaukee para Charlotte, Neal sustentou seus números (nada espetaculares, diga-se).

– Por fim, Kembinha, preparado?
É difícil melhorar quando se chama Kemba. Mas “Kembinha” dá conta do recado, né? Um amigão fanático por Fantasy se refere assim ao rapaz. Campeão universitário por Uconn, ele comemorou este ano as estripulias de Shabazzzzzzzz, tirou um sarro do MKG, descansou um pouco na reta final, tudo legal. Agora, vai ter de respirar fundo: nunca é legal para um armador enfrentar a blitz do Heat. Para alguém que fica tanto tempo com a bola, o subestimado armador do Bobcats comete poucos erros. Mas que se prepare, porque lá vem abafa em sua direção.

A diversão acabou, Kembinha. MKG não merecia isso

A diversão acabou, Kembinha. MKG não merecia isso


Shane Battier reencontra o rumo no momento certo: o jogo da vida de um operário nerd
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Giancarlo Giampietro

Shane Battier

Os deuses do basquete fizeram as pazes com Shane Battier

O Shane Battier? Um cara muito chato.

Pelo menos para quem joga contra ele. Com os homens de San Antonio poderão afirmar agora, depois de o veterano de 34 anos ter reaparecido pelo Miami Heat para ser o coadjuvante de luxo de LeBron James no dramático Jogo 7 que deu o segundo título seguido ao clube da Flórida.

“Os relatos sobre meu falecimento foram um pouco prematuros. Essa é minha declaração de abertura”, foi o que disse o ala em sua coletiva pós-final, convidado para subir ao palanque, em lugar geralmente reservado para outro tipo de gente. Mas que, nesta ocasião foi merecido – e parece adequado, oras, para alguém apelidado de “Mr. President” (na China. Sério. É por causa do Yao Ming.).

Com uma retórica irônica e sagaz, que o torna um dos favoritos dos jornalistas, em quadra ele é daqueles que qualquer treinador vai amar. Por sua alta compreensão do que se passa em um jogo de basquete e sua disposição a se sacrificar em prol do time.

Domina os, digamos, fundamentos para se cavar faltas ofensivas, capacidade que vem se tornando mais e mais importante a cada temporada na medida em que as defesas apostam no congestionamento do garrafão no lado em que está a bola. Um tipo de posicionamento popularizado pelo maníaco Tom Thibodeau. No qual o deslocamento lateral é essencial, para a ocupação rápida de espaços, desencorajando as infiltrações adversárias. Assim: se vocês querem fazer a cesta, que chutem daí mesmo, de média ou longa distância, sabendo que ainda vamos contestá-lo.

Nesse sentido, Battier pode ser uma dor-de-cabeça para os atacantes mais arrojados (isso para não usar a expressão mais vulgar inglesa, que começa com “a pain” e termina com “ass”). Com instintos aguçados para ler a jogada, perspicácia e uma caixola que é um vasto banco de dados – ele devorava os relatórios estatísticos do Rockets –, ele aparece sempre na hora certa e no lugar certo.

Além das faculdades mentais, requer também para a missão a coragem e a entrega. A disposição para aceitar o contato. Trombar com um Tony Parker ou mesmo Danny Green pode não ser a pior coisa do mundo. Agora tente fazer isso quando quem vem em sua direção é um trem como Ron Artest ou… LeBron James.

Vocês acham que foi à toa que tanto o MVP da liga como Dwyane Wade recrutaram Battier dois anos atrás? Já deviam estar cansados deste nerd importuná-los em confrontos com Houston Rockets e Memphis Grizzlies. Da mesma forma, não demorou nada para que o ala aceitasse a oferta do Heat: ao menos ele tirava da sua frente dois dos jogadores mais difíceis de serem marcados também. Todos saíram ganhando. Menos as outras 29 franquias restantes.

Battier se tornou uma peça fundamental na construção do atual Miami Heat, devido a sua capacidade e disposição para marcar alas-pivôs e poupar LeBron James deste tipo de contato físico prolongado, ao mesmo tempo em que, no ataque, entra no papel de atirador, espaçando a quadra com seus chutes de três pontos.

Durante os playoffs, porém, o tiro de Battier parou de cair. Seu aproveitamento havia caído de 43% na temporada regular para apenas 25% nos mata-matas. Contra o Pacers, ele ainda não conseguiu se segurar na defesa, apanhando uma barbaridade de David West. Aí que Erik Spoelstra se viu obrigado a reduzir seus minutos – mas sem afastá-lo por completo da rotação. Havia a esperança, claro, de que uma hora ele pudesse voltar a contribuir, mesmo que continuasse mal no ataque, acertando apenas um de seus primeiros nove arremessos de longa distância. Do Jogo 1 ao Jogo 4, não atuou por mais do que nove minutos, perdendo espaço para Mike Miller.

Até que, na quinta partida, em meio ao terceiro revés diante de San Antonio, ele conseguiu fazer duas bolas de longa distância e tomou os minutos de Udonis Haslem, jogando por 18. Era um  sinal de que estava pronto para voltar? Infelizmente para o Spurs, sim. E o ala desembestou e acertou nove de seus próximos 12 arremessos de longa distância, incluindo uma atuação histórica no Jogo 7, com seis bolas convertidas em oito tentativas. Era uma bomba atrás de outra, a ponto de Spoelstra não poder mais tirá-lo (jogou por 29 minutos). “Eu acredito nos deuses do basquete e eles me deviam uma grande partida dessas”, disse Battier, para depois voltou a seu raciocínio mais terreno, analítca: “Fui muito mal na maior parte da série, então foi muito bom me recuperar de acordo com a lei das médias, do equilíbrio”.

Seus companheiros mal poderiam esperar por seu regresso. “O  Shane não acertava um arremesso desde eu não sei quando, mas hoje à noite ele estava simplesmente inconsciente”, disse Wade, rindo. “Ele é um jogador para grandes momentos. Por isso você fica muito na torcida por Shane, por tudo o que ele representa. Shane, ele é um do companheiros de equipe favoritos que já tive, tudo por causa do cara que ele é.”

Tá vendo? É um cara bacana. É só jogar com ele.


Mais um momento Mandrake para Gregg Popovich. Chocante!
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Giancarlo Giampietro

Outro dia estava falando aqui de Pelé e aposentadoria. Agora é hora de evocar outra memória dos encontros da família Giampietro, quando meu tio e padrinho, que me catequizou em histórias em quadrinhos, tirava de vez em sempre uma referência desse mundo, ao qual estava me habituando, para comentar outro, o dos esportes, que sempre segui. Pois ele adorava falar de um treinador como um “Mandrake“, em alusão ao mágico que estrelava tiras diárias nos anos 30. Apesar de toda a sua simpatia por esse ilusionista, quando – rá! – tirava da cartola esse termo, era para desancar um técnico e suas invencionices. Era a sua versão para “Professor Pardal”, digamos, embora ache que a crítica também tenha a intenção de atingir as facetas marotas dos profiessshores, quando eles querem sair da reta depois de alguma besteira.

Mandrake

Mandrake

Para comentar mais uma atitude inexplicável de Gregg Popovich, vamos nos ater ao lado pardalesco da coisa – porque o caráter do Coach Pop não se discute. Fiquemos, sim, com as engenhocas táticas que ele apresentou nos momentos finais das últimas duas partidas das finais da NBA entre o seu San Antonio Spurs e o Miami Heat.

Pois bem: depois de sacar Tim Duncan em duas  defesas no Jogo 6, agora no Jogo 7, ele me resolve tirar Tony Parker de ação no ataque, restando apenas 27 segundos (ou uma posse de bola completa e mais três segundos) no cronômetro, com o time da Flórida vencendo por 92 a 88. Depois de um pedido de tempo, veio para seu lugar o valente Gary Neal.

Nada pessoal contra Neal, vocês sabem. Mas… Hein?!

Vá lá, vá lá. Neal é um arremessador muito mais confiável que Parker. A movimentação que Popovich instruiu envolveu Manu Ginóbili e Tim Duncan pela ala direita da quadra, em direção ao garrafão – pelo menos quero crer que o argentino estava indo atrás de algo desenhado durante a parada do jogo. Então a presença do ala-armador reserva serviria para dar um maior espaçamento. Além disso, Parker vinha sendo anulado por LeBron em quadra, com uma atuação sofrida. De qualquer forma… Era hora!?

A única explicação seria o francês ter acusado qualquer tipo de problema físico. Porque… Hã…

O Spurs partiu para uma jogada de pick-and-roll ousada, a partir da cobrança de um lateral. Ginóbili passa para Duncan, recebe no give-and-go e bate para a cesta marcado por Chris Bosh. Mas o ângulo desse lance foi muito estranho, apertado. Quando o narigudo percebeu, estava encurralado no fundo da quadra, debaixo da tabela, sem muito o que fazer. Ele se girou crente de que estava escoltado por seu pivô e atirou a bola. Nas mãos de LeBon, que ficou em seu encalço, uma vez que não havia Parker para ser marcado. Bidu.

Mais uma intervenção extremamente discutível de Pop, na qual foi ousado em demasia.

Esse post não quer dizer que o técnico seja uma anta. Obviamente o Spurs não perdeu por essa substituição. Mas o lance mostra apenas o quão vulneráveis os treinadores, jogadores e protagonistas de uma final épica dessas pode se tornar.

Novamente não vamos saber. Talvez não desse em nada um ataque com o francês em quadra. Ou talvez ele aprontasse mais um milagre em Miami, assim como fez no Jogo 1. Aquele, sim, um lance de um Mandrake autêntico, falando apenas de mágico.