Vinte Um

Arquivo : Orlando

Após 12 anos, Varejão diz tchau para o Cavs. Qual o impacto da troca?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Anderson Varejão, Cavs

A data final para trocas da temporada 2015-16 da NBA não teve o frenesi do ano passado. Ainda assim, durante a semana, entre terça e esta quinta-feira, mais da metade dos clubes esteve envolvidas em 12 negociações no total, com brasileiro envolvido. Para conferir todas as transações efetuadas, clique aqui. Abaixo, um apanhado do que aconteceu de mais importante. Hoje, vamos nos concentrar no adeus de Anderson Varejão ao Cleveland Cavaliers, certo? Nesta sexta, expandimos o assunto.

Entre os candidatos ao título, o Cavs foi o mais ativo, e de longe, como se esperava. Sobrou para o pivô capixaba, que foi envolvido em um negócio triplo com Orlando Magic (que mandou Channing Frye para Cleveland e recebeu uma escolha de Draft de segunda rodada e o ala-armador Jared Cunningham) e Portland Trail Blazers, sendo enviado para a o Noroeste dos Estados Unidos, para supostamente dar um alô a Damian Lillard. Mas não foi o caso. Ele foi dispensado imediatamente.

Antes de falar do Blazers, porém, vale falar sobre a saída do Cavs. Com 12 anos no clube de Ohio, o pivô era um dos jogadores há mais tempo vestindo uma só camisa. Somente Kobe, Dirk, o trio dourado de San Antonio, Wade e Haslem passaram mais temporadas que ele nessa condição. Por maior que tenha sido o número de lesões e questões médicas de Anderson nas últimas campanhas, o respeito que ele conquistou em Cleveland é dessas coisas únicas nestes dias. Deem uma espiada neste fórum (dica do Flávio Izhaki). Agora, esses torcedores não poderão mais fazer aquela zoeira na famigerada noite das perucas, com todo mundo cabeludo no ginásio – a não ser que a franquia decida fazer a promoção na noite em que o veterano revisitar a cidade.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Mas como assim ser dispensado? Para um clube que se vê inesperadamente na briga por uma vaga nos playoffs do Oeste, Varejão poderia dar sua contribuição, nem que fosse como uma figura experiente de vestiário. Como um tutor que fosse – ainda que Chris Kaman já esteja por lá para isso. Pois, pensando em quadra, a verdade é que o jogo do brasileiro é uma incógnita hoje. Ele estava sendo pouco utilizado pelo Cavs. Não sabemos se era devido ao excesso de pivôs qualificados da equipe, ou se por ele não ser mais o mesmo, depois de uma lesão no tendão de Aquiles e de tanto desgaste. Ou por um pouco de um e do outro.

Em Portland, Varejão enfrentaria uma concorrência menos prestigiada, mas não são simples assim de se desmontar. Por um motivo: Terry Stotts elaborou uma rotação de grandalhões que se ajeitou bem, tendo Mason Plumlee e o promissor Noah Vonleh no quinteto titular e a dupla Ed Davis (sempre produtivo). Se arranjasse um espaço e produzisse, Anderson teria tudo para conquistar os fãs do Blazers, devido a sua entrega e seu carisma.

Para receber Varejão – e seu salário, de US$ 9,3 milhões na próxima temporada –,  o gerente geral Neil Olshey exigiu uma escolha de primeira rodada do Cavs, de 2018. Pouco? Pelo contrário, na NBA de hoje, a oportunidade de se contratar um jogador jovem e de salário baixo é muito atraente para a construção de um elenco. As escolhas, mesmo no escuro, valem muito na cabeça dos dirigentes. Para Olshey, o preço nem é tão salgado, na verdade, pois o clube tinha uma folha de pagamento tão barata que estava até mesmo abaixo do piso estabelecido pela liga. Se tivessem chegado ao final da campanha “devendo”, teriam de completar a diferença para o piso, dividindo esse montante entre todos do elenco. Isto é: o bilionário Paul Allen teria de assinar um cheque de qualquer maneira, independentemente da chegada e saída do brasileiro.

Varejão ficará disponível por um período de “waiver”, de três dias 48 horas. Dificilmente alguém vai abraçá-lo desta maneira, para não ter de arcar com o restante de seu contrato. Então é muito provável que ele vire um agente livre. A essa altura da carreira, talvez seja o melhor, mesmo. Poderá olhar para o mercado e procurar a melhor situação. Ou a situação que melhor se encaixe com seus objetivos.

Em tese, para um atleta de seu gabarito e rodagem na liga, o mais comum seria assinar com uma equipe com ambição de chegar bem aos playoffs e que também tenha uma vaga no elenco. Lembrando sempre: cada franquia só pode ter 15 jogadores sob contrato. Após a rodada de trocas, clubes como Clippers, Hawks (com a lacuna aberta pelo afastamento de Tiago Splitter, por ironia), Heat e Rockets se enquadram nessa condição. Assim como o Cavs, mas esqueçam um retorno imediato: a regra da NBA afirma que ele só poderia assinar um novato contrato com o clube daqui a seis meses um ano, segundo o acordo trabalhista da liga e a interpretação do especialista Larry Coon. Agora, se for para fechar com um time de ponta, será que ele teria tempo de quadra? Será que não se meteria na mesma situação que estava vivendo em Cleveland? O ideal seria aliar dois fatores: seguir em um time vencedor e ganhar ritmo para as Olimpíadas. Mas e se uma alternativa excluir a outra?

Rubén Magnano, sabemos, prefere que Varejão vá para quadra, que jogue, não importando onde, para ganhar ritmo. Por isso, já havia admitido ao UOL Esporte ter sugerido ao pivô – e a Huertas – que procurasse um novo clube. De alguma forma, teve seu pedido atendido. Mas o desfecho ainda não está 100% de acordo com os seus interesses. O argentino obviamente está com o radar ligado agora, ainda mais depois de ter perdido Splitter (uma baixa imensa para a seleção, em muitos sentidos, assunto o qual tentarei abordar no final de semana, mais em tom de reverência ao catarinense, com calma).

A NBA é assim: interfere, direta ou indiretamente, no cotidiano de seleções, e muito mais. São negócios, afinal, e Varejão foi lembrado a respeito, depois de ter sido adquirido pelo próprio Cavs em uma troca em 2004. Faz tempo. Desde então, marcou época, escoltando LeBron James ao período mais vitorioso do clube, se tornando imensamente popular na cidade. Agora a vida segue, e o capixaba tem decisões importantíssimas para tomar.

*   *   *

Ele vai chegar para isto

Ele vai chegar para isto

Em tempo: Frye não é o mesmo jogador dos tempos de Phoenix Suns. Em Orlando, sem um armador que realmente chamasse a atenção no pick-and-roll, não conseguiu se encontrar. Não teve consistência. No conjunto da obra, também tem uma carreira inferior à do brasileiro, ao meu ver. Mas, hoje, é uma peça mais proveitosa para o Cavs, devido principalmente à habilidade para acertar os arremessos de longa distância. Sua presença em um quinteto com Love, LeBron, JR e Irving resultaria e estragos gravíssimos às defesas adversárias. E não é que contribua só com o chute: é bom defensor no post up, tem experiência e, segundo todos os relatos que ouvi, exerce excelente influência no vestiário, algo que só pode fazer bem ao time, como David Blatt pode sublinhar.

O Cavs sai ganhando tática e tecnicamente aqui, mesmo tendo pagado por uma peça complementar um preço caro, mas hoje irrelevante para um clube que só pensa, obsessivamente, no sucesso a curto prazo, enquanto LeBron ainda tem perna. Uma observação, no entanto, precisa ser feita em relação ao Warriors. Sempre o Warriors. Numa eventual revanche com Golden State, não sei muito bem como Frye poderia ser útil, uma vez que não poderia marcar de modo nenhum um jogador como Draymond Green, muito menos Andre Iguodala ou Harrison Barnes. Enfim. Por outro lado, a pergunta mais justa talvez seja: quem consegue marcá-los também? Se o adversário for o San Antonio, aí a coisa muda de figura. Antes, porém, precisam chegar lá, claro – mas é inegável que toda e qualquer decisão que a franquia toma nesta temporada tem como objetivo o título, ciente de que, nas finais, o desafio será muito maior. E, com Mozgov caminhando para o mercado de agentes livres, o veterano também serve como uma apólice de seguro.

*    *    *

Atualizando nesta sexta de manhã: faltou mencionar que, com a troca, Cleveland poupa U$ 9,8 milhões entre salário e multas nesta temporada. É uma boa grana, mesmo para outro bilionário como Dan Gilbert. Vários clubes reduziram seus gastos nesta quinta, aliás.

*    *    *

Por fim, declaração do gerente geral do Cavs, David Griffin, sobre Varejão, dizendo que foi difícil telefonar para o brasileiro: “Anderson é especial como jogador, companheiro e pessoa. Poucos jogadores conquistaram este respeito, apoio e admiração de toda uma organização, de sua torcida e da comunidade como Andy fez aqui. Tudo isso tornou esta negociação muito difícil de se fazer. Ao mesmo tempo, temos uma obrigação prfounda de fazer aquilo que podemos para alcançar nosso objetivo final, e acreditamos que este negócio melhora nossa equipe e nossa posição para o futuro também. Agradecemos a Andy por seu trabalho duro, dedicação e contribuições ao Cavaliers e nossa comunidade e desejamos a ele e sua mulher, Marcelle, o melhor, realmente o melhor”.

*    *    *

Desnecessário dizer o quanto LeBron admirava Anderson? O brasileiro chegou a Cleveland apenas um ano depois de o ala ser selecionado como o grande Messias da franquia. Após a vitória sobre o Bulls nesta quinta-feira, o craque admitiu que ainda não havia conversado com o capixaba, porém. “Eu aposto que várias pessoas estão entrando em contato com ele agora. Vou deixar assim, não gosto de procurar imediatamente. Prefiro deixar cozinhar um pouco. Nossa amizade não precisa de uma mensagem de texto”, disse. “Você perde um irmão. Esta é a pior parte do negócio.”

*    *    *

Um comentário sarcástico inevitável: se o Cavs despachou, num só dia, Varejão e Cunningham (que, segundo os setoristas do Cavs, foi adotado por LeBron nesta temporada), está claro que David Griffin tem autonomia total para conduzir o departamento de basquete e que o camisa 23 não apita nada. Agora não precisa mais de nenhuma prova nesse sentido.

Né?


Jukebox NBA 2015-2016: Skiles, Orlando e o Pearl Jam
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

orlando-magic-nbaVamos lá: a temporada da NBA já está quase na metade, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “The Fixer”, por Pearl Jam.

O “fixer” é aquele cara que dá um jeito nas coisas. Não só um quebra-galho, mas alguém que realmente soluciona seus problemas, e de modo profissional, direto e reto. Como na letra: se está muito escuro, ele vai jogar um pouco de luz. Se algo já passou ou está perdido, ele vai brigar para recuperar.  Pensem em Pulp Fiction e Winston Wolf, com Harvey Keitel controlando tudo. Na NBA, Scott Skiles desenvolveu essa reputação em sua carreira como treinador. Aos 51 anos, assumindo seu quarto time diferente, 0 ex-armador parecia ser o cara mais indicado para lidar com uma equipe que não venceu mais do que 25 partidas nas últimas três temporadas e teve aproveitamento de 27,6% nesse ínterim. Ainda mais tendo vínculos históricos com a franquia.

OK, Jacque Vaughn merece um desconto: ele foi contratado quando a franquia havia passado por um processo de implosão, ainda procurando um rumo depois de aturar tanta choradeira (e flatulência…) por parte de Dwight Howard. Não era das tarefas mais fáceis de modo nenhum, ainda mais com o time carente de escolhas altas de Draft para uso imediato.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Acontece que, com o acúmulo de campanhas fracas, as oportunidades para se garimpar jovens talentos de ponta vieram. Não sabemos ainda o que vai ser de Victor Oladipo, Aaron Gordon e Elfrid Payton, mas o potencial do trio é inegável. Ao mesmo tempo, Nikola Vucevic se firmou como uma grande surpresa no garrafão, enquanto Tobias Harris foi surrupiado de Milwaukee, alguns bons cidadãos foram contratados.

Nos últimos três campeonatos, o Orlando estagnou na hora de atacar, com 98,6, 99,3 e 99,5 pontos a cada 100 posses de bola, o que lhe valeu apenas as 27ª, 29ª e 25ª colocações no ranking de eficiência ofensiva. De nada adiantaram os reforços ou o ganho de experiência dos jogadores já presentes para que o time decolasse. Além disso, não é que do outro lado da quadra as coisas fossem tão diferentes assim. O time teve as sexta e sétima piores defesas da liga com Vaughn e só apresentou um certo grau de evolução na campanha 2013-14, na qual terminou em 18º nesse quesito, para, depois, regredir. Muito pouco, ou quase nada.

A solução, por ora, tem sido separar Payton e Oladipo ao máximo, enquanto nenhum deles se torna uma arma perimetral. Segunda unidade do Orlando cresceu com o deslocamento de Oladipo, que fica muito tempo com a bola em mãos

A solução, por ora, tem sido separar Payton e Oladipo ao máximo, enquanto nenhum deles se torna uma arma perimetral. Segunda unidade do Orlando cresceu com o deslocamento de Oladipo, que fica muito tempo com a bola em mãos

E aí entra em cena o ranzinza Skiles, com suas sobrancelhas (ou o que restam delas) pesadas e uma abordagem detalhista e implacável. Alguém cujas equipes melhoraram consistentemente depois de sua chegada. O Phoenix Suns saltou de 54% de aproveitamento para 64,5% com ele, em 1999-2000. O Chicago Bulls sofreu um pouco em 2003-04, com 28,8%, vindo de 36,6% no ano anterior, mas, em sua segunda campanha, já ganhava mais do que perdia (57,3%). Depois foi a vez do Milwaukee Bucks, que pulou de 41,5% para 56,1%. Em 13 anos, foi para os playoffs seis vezes.

O ganho, em geral, acontece na defesa. Em sete de suas 13 campanhas como treinador, Skiles gerenciou uma retaguarda que se colocou entre as dez mais eficientes da liga. Em seis dessas jornadas, na real, elas estavam entre as quatro mais duras de serem batidas. Sob sua orientação e a nova parceria com Monte Mathis, ex-coordenador defensivo de Rick Carlisle em Dallas, o Orlando ainda não chegou a este patamar, mas já deu um salto dramático, ocupando hoje a 14ª posição, sofrendo 101,5 pontos a cada 100 posses de bola.

Como faz isso? Para Skiles, não tem muito segredo: é preciso trabalhar. Sim, com alguns conceitos básicos para vedar o garrafão. Mas aí não basta um sistema: os jogadores têm de saber aplicá-lo. E, para isso, precisam de fundamentos. Sim, gente, todo jogador ainda tem o que aprender ou, pelo menos, aprimorar. Mesmo os de NBA, especialmente com elencos tão jovens. Você faz de tudo: como contestar um arremesso do lado contrário, como manter a bola em um lado da quadra, comunicação, bloqueio de rebote, como se comportar marcando em cima da bola, ou longe dela. Muitos e muitos exercícios de repetição em cima disso. Um processo enfático. Melhor que ele fale a respeito.

“Você tem de estabelecer sua fundação cedo e repetidas vezes durante os treinos. Tem de tirar toda e qualquer dúvida que os jogadores possam ter, em termos de suas responsabilidades em quadra. Eventualmente, eles tiram conforto disso. Sabem que, com o tempo, não vão precisar ficar pensando sobre o que deve ser feito, sobre quando trocar a marcação etc”, contou Skiles, em sua apresentação. “Quando você elimina essas dúvidas todas, é a hora em que eles sabem suas responsabilidades e começam a fiscalizar as coisas por conta própria. Cada jogador sabe exatamente 1000% o que deve ser feito, a cada dia. Mas isso precisa ser ensinado: o simples posicionamento dos pés, do corpo, das mãos, como para qualquer criança mais jovem. Vamos ser um bom time defensivo, só não sei quando. Mas sei que vamos conseguir isso.”

Skiles e Andrew Bogut montaram uma forte defesa em Milwaukee

Skiles e Andrew Bogut montaram uma forte defesa em Milwaukee

Um bom trabalho de um lado leva quase que invariavelmente a um melhor rendimento do outro. Os grandes treinadores conduzem defesa e ataque juntos. Uma coisa não deve funcionar separada da outra. São simbióticas. Na hora de buscar a cesta, então, o Magic tem agora é o 17º em eficiência. Curiosamente, o time faz os mesmos 101,5 pontos que toma a cada 100 posses de bola. Estão zerados, nesse sentido, e a tendência é de subida para os próximos meses e, principalmente, para 2016-17.

Agora… Tem uma coisa. Qualquer clube que contrate Skiles sabe qual o restante da história, do pacote. Não é alguém que, a despeito dos bons trabalhos, consiga ficar muito tempo em um lugar, até pelo estilo ranheta. Acho que 98,5% das relações humanas se desgastam com o tempo. A diferença é que, com este treinador, esse desgaste acontece em ritmo mais acelerado. Em Phoenix, depois de dois anos como assistente, só ficou uma temporada regular completa como técnico principal, tendo assumido durante um campeonato e sendo demitido no meio do outro. Em Chicago, ficou quatro anos. Em Milwaukee, foram três anos e meio. Em todos os seus empregos anteriores, foi demitido durante a temporada. Se for para fazer um paralelo com o futebol, seria José Mourinho, com a diferença de que o enjoado português tem muito mais sucesso em termos de troféus.

A pedida? Playoffs, quem sabe? Mas não vai ser fácil. Com poucos meses de instruções, Skiles já colocou o Orlando a briga por uma vaga no Leste, mas teve o azar de ver boa parte do pelotão intermediário da conferência despertar e sair da hibernação na mesma hora. Com o atual rendimento de 52,6%, teriam terminado em sétimo na temporada 2013-14 e em sexto em 2014-15. Agora, neste ano, ao meu ver, são quatro vagas a serem disputadas por sete times: Magic, mais Heat, Pistons, Celtics, Knicks, Wizards e Hornets.

(Não vou me estender sobre cada um desses times, pois tudo tem sua hora. Mas imagino que colocar o Miami nesse pelotão possa causar surpresa. Então vamos lá: no papel, é o elenco de mais cancha e mais qualificado, sim. Mas é fato que Wade e Dragic ainda não se entenderam em quadra e que Erik Spoelstra também não tem ajudado muito a vida dos dois. Você também não pode contar tanto assim com 80 jogos de Wade numa temporada. Neste momento, o time também se vê  no meio de uma sequência duríssima de jogos até o All-Star Game, com 14 jogos na estrada e duelos em casa com San Antonio, LA Clippers, Atlanta e Milwaukee. Ao final desta série, vamos ver qual será a campanha. Por fim, a situação contratual de Hassan Whiteside pode virar um problema.)

A gestão: o gerente geral Rob Hennigan parece entregar aquilo que a trilhardária família DeVos esperava: um Sam Presti light, tendo seu contrato renovado e prolongado até 2018 (o que não está tão longe assim, mas, ainda assim, significa algo de valioso depois das campanhas penosas dos últimos anos).

Rob Hennigan, quatro anos mais jovem que Kobe

Rob Hennigan, quatro anos mais jovem que Kobe

Hennigan tem, acreditem, apenas 33 anos de idade, sendo o dirigente mais jovem da liga, e, até o momento, vem fazendo um trabalho competente e paciente na coleta de jovens peças, sem apelar tanto como Sam Hinkie. Se o seu retrospecto no Draft ainda não é nenhum estrondo, também não dá para dizer que seja um fiasco, e isso só poderá ser avaliado de maneira mais razoável daqui a uns dois, três anos. O que dá para perceber é sua perspicácia em pequenas trocas que acabaram se tornando grandes para o time, como quando obteve os jovens e talentosos Harris e Evan Fournier ao despachar futuros agentes livres veteranos como JJ Redick e Arron Afflalo.

É o tipo de negócio que deixou Orlando numa posição interessante: o clube tem uma série de jogadores que podem amadurecer juntos e formar um núcleo fortíssimo, ao passo que também podem ser combinados em um superpacote para buscar uma troca por um All-Star, sem que a terra fique tão arrasada assim em uma transação de quatro-por-um, ou algo do gênero. A folha salarial também está sob controle, com espaço para adição de mais talentos nos próximos mercados de agente livre, ou para absorver eventuais extensões contratuais de Oladipo, Gordon e que tais. É a tal da “flexibilidade”, tão valorizada na condução de uma franquia e não muito simples de ser atingida.

Olho nele: Aaron Gordon. Se nenhuma lesão de última hora atrapalhar as coisas, muito provavelmente o ala estará no torneio de enterradas em Toronto. Aí é a hora em que você, leitor mais chato e consciente, pode dizer: e daí? Desde quando isso vale alguma coisa? No que deu o Harold Miner?! Sim, sim, sim, está certinho: por mais exuberante Gordon seja como atleta, sua impulsão e elasticidade não valem de nada se ele não souber o que fazer com a bola. E, hoje, a quarta escolha do badalado Draft de 2014 ainda não faz muito com ela. É um projeto em desenvolvimento e mais uma prova clara de que a formação de base dos Estados Unidos já têm alguns grandes buracos para serem tapados. Entre fraldinhas e juvenis, alguém que seja tão vigoroso e saltitante se impõe por conta própria. Aconteceu o mesmo quando o americano foi enviado ao Mundial Sub-19 de 2013, devorando a concorrência no garrafão. Entre profissionais, ele manteve a agressividade e produtividade, concluindo 69,2% de suas finalizações nas imediações da cesta.

Mas Gordon tem muita mobilidade para ser limitado a um jogador de uma bola só no ataque (cravadas e cravadas). Aos poucos, com apenas um ano pela Universidade do Arizona e uma campanha de calouro acidentada, novos elementos vão surgir. E aí tem de ser um trabalho de formiguinha, de longo prazo, adicionando um a um. A prioridade no momento é seu chute de três pontos, com os pés plantados, chegando agora a 34,7% de rendimento. Não é o ideal, mas já é um começo. Jogadas a partir do drible vindo do perímetro, arremessos em movimento, criação para os companheiros… Há muito o que ser desenvolvido no ataque. No momento, ele não representa ameaça alguma se não estiver equilibrado na linha perimetral ou atacando o aro. Ainda assim, o ala já merece seus quase 20 minutos por jogo pelo que é capaz de fazer na defesa, com uma presença física e vitalidade incômodas, imponentes e multiuso.

Scott Skiles, Orlando Magic, 1990Um card do passado: Scott Skiles, dãr. essa é das anedotas mais batidas de qualquer transmissão da NBA, mas não tem como deixar passar. Na temporada 1990-91, em seu segundo ano como um dos pioneiros do Orlando Magic, o armador aproveitou que estava enfrentando uma das defesas mais patéticas da história (a do Denver Nuggets no início daquela década) e, no dia 30 de dezembro, ainda inspirado pelo espírito natalino, distribuiu 30 assistências em quadra no antigo . Até hoje é o recorde em uma partida de temporada regular, e duvido que alguém um dia supere essa marca.

O Orlando venceu aquela partida por inacreditáveis 155 a 116, e Skiles esteve envolvido em 60,6% das 61 cestas de quadra que o clube da Flórida anotou, terminando com um double-double (marcou ainda 22 pontos, numa linha estatística para lá de absurda). E não é que ele tivesse Shaquille O’Neal ao seu lado para desviar atenção da defesa e completar pontes – o gigantão só viraria vizinho do Pateta dois anos depois.O ala reserva Jerry Reynolds, que viveu seus únicos anos produtivos na liga como opção de um time de expansão, foi o cestinha, com 27 pontos em 26 minutos. No quinteto titular, ainda estavam os alas Dennis Scott e Nick Anderson, que fariam parte do time memorável de 1993 a 1996, além de Terry Catledge e do pivô Greg Kite, que era um horror.

Um armador de espírito enfezado, astro nos tempos de High School em Indiana e que aprontou das suas na época de universitário, sendo inclusive preso por dirigir embriagado e com posse de *entorpecentes*, Skiles era um armador cerebral no ataque e se tornou, com o passar dos anos, um ótimo arremessador, mas, curiosamente, entregava o ouro como defensor.


Coisas para se fazer no Leste quando você (não) está morto
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Lance Stephenson, o símbolo da 'corrida' pelos mata-matas do Leste

Lance Stephenson, o símbolo da ‘corrida’ pelos mata-matas do Leste

Na onda tarantinesca do cinema dos anos 90, Coisas para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto foi um dos primeiros filhotes. Lançado em 1995, um ano depois de Pulp Fiction, foi um entre uma centena de películas (ainda eram películas, acho) a tirar do submundo alguns criminosos de personalidade singular, tentando sair de enrascadas com humor e violência, nem sempre explícita. Os diálogos obrigatoriamente precisavam conter referências da cultura pop em um mínimo de 67% de suas falas.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Andy Garcia, o impagável Steve Buscemi, o eterno Dr. Brown Christopher Lloyd e o curinga Christopher Walken que me desculpem, mas este aqui não é um bom filme. Pelo menos não no meu gosto. A melhor coisa era o título. E só. Mas que título, né? Serve para deixar qualquer coluna parecendo muito mais legal do que é na verdade. ; )

Coisas para se fazer em Denver quando você está mortoSe for para tomá-lo emprestado e empregá-lo na NBA, ele nem precisa de adaptação. O Denver Nuggets já está morto nesta temporada faz tempo – algo de que a franquia se demorou a dar conta, mas enfim aconteceu. Mas esse texto não vai perder mais tempo para falar do indeciso time de Brian Shaw. No Leste, tem muito mais gente enterrada. Digo: enterrada, mas viva – numa expressão tão cara ao chapa Ricardo Bulgarelli, do Sports+.

Na conferência banhada pelo Oceano Atlântico, você nunca pode dar uma equipe como falecida nesta temporada, por mais que todos os fatos apontem o contrário. São todas sobreviventes – menos o New York Knicks e o Philadelphia 76ers, claro, que só querem competir hoje por Jahlil Okafor, mesmo.

O Philadelphia se sabota voluntariamente: Sam Hinkie já fez uma série de coisas para matar as chances de resultado positivo para sua equipe. Por outro lado, Phil Jackson começou o ano vendendo uma proposta em Manhattan e vai terminá-lo com outra inversa.

De resto, excluindo o pessoal do topo e o valente e surpreendente Milwaukee Bucks, temos uma extensa lista de times que entraram no campeonato com aspirações de playoffs, mas para os quais quase nada saiu conforme o planejado. Mesmo assim, todos ainda têm chances de classificação. Segue a folha corrida, com os times ordenados de acordo com suas respectivas campanhas e posicionamento até esta segunda-feira, 11h da manhã, horário de Brasília:

7 – Miami Heat (20-24, 45,5%): Pat Riley e Erik Spoelstra anunciavam um mundo pós-LeBron em que o time seguiria fortíssimo e deveria ser encarado se não como candidato ao título, mas pelo menos como candidato a uma quinta final consecutiva. Em sua última entrevista, não conseguiu disfarçar a frustração, embora ainda sustentando a opinião de que vê muito potencial a ser explorado no atual elenco. Se jogassem no Oeste, estariam hoje na 11ª posição, mesmo que enfrentem semanalmente adversários bem mais fracos. Os veteranos Dwyane Wade e Chris Bosh já perderam juntos 18 partidas – Bosh, em particular, estava barbarizando até sofrer uma mardita lesão na panturrilha. Josh McRoberts nem estreou de verdade. Shabazz Napier, bicampeão universitário e senior, não estava tão pronto assim como se imaginava. Mesmo jogando muitas vezes com dois armadores, Spoelstra não se sente confortável mais em colocar sua equipe para correr – o Heat tem o ataque mais lento da liga. As boas notícias: quando joga, Wade ainda é bastante produtivo, mesmo que distante de seu auge. E o fenômeno Hassan Whiteside (mais sobre ele depois). Com tantos problemas, o clube da Flórida ainda é o favorito para se classificar em sétimo.

8 – Charlotte Hornets (19-26, 42,2%): depois de chegar aos mata-matas na temporada passada, Michael Jordan redescobriu o gosto pela coisa. Foi às compras e hoje está com remorso. Não tem um dia em que o HoopsHype não destaque um rumor de negociação envolvendo Lance Stephenson. O Hornets sente que precisa se livrar de Stephenson o quanto antes, a ponto de aceitar discutir com Brooklyn uma troca por Joe Johnson, o segundo jogador mais bem pago da liga. Sim, o JJ mesmo. É de abrir os olhos todo esse esforço: sem o volátil ala-armador, o aproveitamento é de 9-5 (64%). Al Jefferson enfrenta uma incômoda lesão na virilha, que limita seus movimentos e já o tirou de quadra por nove partidas. Kemba Walker joga há tempos com um um cisto no joelho, que passou a preocupar de verdade neste mês, lhe custando três jogos, justo quando vivia seu melhor momento na NBA. Michael Kidd-Gilchrist ainda não sabe o que é um arremesso de três pontos. Marvin Williams é Marvin Williams. Mas não tem tempo ruim, não: o Hornets se vê hoje dentro da zona dos mata-matas, graças a uma defesa que foi a mais implacável neste mês de janeiro. É o bastante. Sofram:

9 – Brooklyn Nets (18-26, 40,9%): Billy King promove neste momento o maior saldão. É chegar e levar! Desde que paguem, e caro. Afinal, ele quer se desfazer da folha salarial mais custosa de toda a liga, com mais de US$ 91 milhões investidos. Então temos aqui o time da vez na central de boatos. Antes de ser afastado por conta de uma fratura na costela, Deron Williams havia virado banco de Jarrett Jack. Brook Lopez, que já perdeu dez jogos, não consegue superar a marca de 6,0 rebotes. Joe Johnson está em quadra, mas a verdade é que o clube vem acobertando lesões no joelho e no tornozelo para tentar vendê-lo. Bojan Bogdanovic é um fiasco até o momento e aquele por quem havia sido substituído, Sergey Karasev, anda curtindo a vida adoidado. Lionel Hollins não consegue mais se conter em entrevistas coletivas, manifestando constante desprezo por sua equipe. Com mais uma vitória, eles voltam a se juntar ao Hornets, para reassumir o oitavo lugar (uma vez que levam a melhor no critério de desempate por confronto direto). Kevin Garnett sorri. Totalmente surtado.

10 – Detroit Pistons (17-28, 37,8%): até o Natal, o presidente e técnico Stan Van Gundy havia testemunhado apenas cinco vitórias dos rapazes da Motown. Em 28 duelos. Tipo um Sixers, mesmo. Foi aí que ele ativou o detonador da bomba e mandou embora Josh Smith, aceitando lhe pagar mais de US$ 30 milhões a troco de nada. Obviamente que o Pistons venceria 12 das próximas 17 partidas e se recolocaria na discussão. O duro é perder Brandon Jennings pelo restante da temporada, devido a mais uma ruptura de tendão de Aquiles nesta campanha. Jennings era outro que praticava o melhor basquete de sua decepcionante carreira. Momento para pânico geral, não? Em qualquer outra circunstância, sim. Mas talvez SVG consiga fazer que DJ Augustin replique sua incrível jornada dos tempos de Chicago. Se não for o caso, resta sempre o caminho de uma troca (Prigioni é o primeiro nome especulado) ou de um milagre vindo da D-League (Lorenzo Brown, ex-Sizers e North Carolina State, também é comentado). Enquanto isso, Greg Monore vai conseguindo a proeza de superar Andre Drummond nos rebotes. Vai que dá!

11 – Boston Celtics (15-27, 35,7%): Danny Ainge trocou Rajon Rondo. Danny Ainge trocou Jeff Green. Danny Ainge trocou Brandan Wright. Danny Ainge trocou até mesmo Austin Rivers. Marcus Smart ainda é só uma promessa. Kelly Olynyk começou muito bem o campeonato e despencou até sofrer uma torção de tornozelo grave. Evan Turner continua acumulando números, mas sem eficiência nenhuma. E o Celtics ainda tem chances, para tornar a vida de Brad Stevens menos miserável. Esse é um dos clubes que tem, hoje, um dos maiores conflitos de interesses entre o que a direção espera (reformulação apostando no próximo Draft) e o técnico prega (tentar vencer a cada rodada, e que se dane). Os caras acabaram de conseguir dois triunfos em um giro pela Conferência Oeste  e de fazer um jogo relativamente duro contra Warriors e Clippers. E aí: Ainge vai trocar Stevens também?

12 – Indiana Pacers (16-30,  34,8%): o time da depressão, mas que não desiste nunca. Só não são brasileiros. Frank Vogel deve ler a relação de lesões acima e gritar em seu escritório: Vocês querem falar de desfalques!? Sério!? Peguem esta, então:” Paul George acompanha o time nas viagens, vai treinando de leve, e só; George Hill só disputou sete de 46 partidas; Hibbert perdeu outras quatro, enquanto West já perdeu 15; CJ Watson ficou fora de 18 jornadas, dez a mais que Rodney Stuckey e oito a mais que CJ Miles; Donald Sloan já tentou 334 arremessos neste campeonato, sendo que, de 2011 a 2014, havia somado 393 chutes; apenas o imortal Luis Scola e Solomon Hill jogaram todas as partidas. E o Pacers ainda deu um jeito de vencer 16 partidas e de se manter entre as dez defesas mais eficientes da liga, superando até mesmo o Memphis Grizzlies. Alguém aí falou em Votel para técnico do ano?

13 – Orlando Magic (15-32, 31,9%): o quê? Você não bota fé!? Não vá me dizer que não leu nada dos parágrafos acima?


O malucão Nick Nolte de volta a um ginásio de basquete
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A D-League da NBA reúne seus melhores talentos neste fim de semana em Santa Cruz, na Califórnia, para o seu chamado “showcase “. Os times se enfrentam em formato de copa, mata-mata mesmo, no ginásio da filial do Golden State.

Fora uma dúzia de gerentes gerais da grande liga e de uma banca de scouts de times do mundo todo, sabe quem deu as caras por lá?

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

O ator Nick Nolte, um verdadeiro maluco e que anda sumido, provavelmente de saco cheio de Hollywood (na verdade, tem filmado regularmente, mas nenhum papel que lhe renda muito destaque) e da sociedade contemporânea ocidental como um todo. Reparem bem no visual do cara na em foto do jornalista Ken Berger, do site da CBS: está pronto para se tornar um quarto integrante do ZZ Top. Obviamente ele está se lixando para o que um blogueiro brasileiro ou qualquer chupim americano pense.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

São várias as histórias hilárias, as lendas em torno da jornada de Nolte, hoje com 73 anos. Tem aquela sobre cachorros, que Barcinski já lembrou em seu blog no R7, segundo palavras do grande escritor (não só de literatura policial) James Ellroy. O ator vivia em mansão daquelas na capital do cinema e adotou um vira-lata. Gostou tanto da experiência que saiu recolhendo qualquer cãozinho que visse pelo caminho. Agora, perguntem se ele tinha alguma paciência para dar um belo jeito nos animais? Claro que não. Mas não que maltratasse também. Servia comida da boa e da melhor. Só não ia pegar pra dar banho, nem limpar o que aparecesse de m. pela frente. Mais fácil, então, era instalar uma barraca no quintal e deixar a casa para cachorrada.

O cara obviamente bate em outra rotação. Natural que sua estelar carreira estelar também seja irregular. Já foi indicado três vezes ao Oscar, mas provavelmente seu trabalho mais popular tenha sido “48 Horas“, de 1982, ao lado de Eddie Murphy. Já viram, né? Um clássico.  Para o basquteiro, porém, o vínculo com Nolte se direciona para a década de 90, com “Blue Chips“, um dos filmes estrelados por Shaquille O’Neal, então com 22 anos, completando sua segunda temporada pelo Orlando Magic, pronto para dominar o marketing da NBA.

Em vez de um gênio da lâmpada ou de um super-herói de aço, nessa (ainda) película o pivô faz um papel de… Jogador de basquete. Bem, dãr, vocês sabem. Não sou que vou ficar falando aqui sobre o enredo de uma peça obrigatória em sua coleção, discutindo os percalços éticos da vida de um treinador de basquete universitário, na caça por talentos mundo afora, tentando seduzi-los, mas sem deixar que alguém saiba que passou dos passar dos limites. Nolte faz o treinador Pete Bell, fictício, que recruta o gigante imperdível que atende simplesmente pelo nome de Neon. Ô, loco. Duas décadas depois, a “denúncia” de Blue Chips continua válida. As regras da NCAA só são duras, mesmo, com os jogadores… Enquanto os programas seguem lucrando sem parar.

Confesso que realmente não me recordava de o filme ter sido dirigido por um figurão como William Friedkin (“Operação França”, “O Exorcista” e, mais recentemente, “Killer Joe”, um filme completamente demente com uma performance estarrecedora do bola-da-vez Matthew McConaughey, rodado em 2011). O que só deixa um basqueteiro cinéfilo mais contente e orgulhoso. Já o roteiro tem a assinatura de Ron Shelton, o que faz tudo ganhar mais sentido, já que ele é o cara por trás da história de “Homens Brancos Não Sabem Enterrar”. Curiosamente, Shelton chegou a jogar beisebol profissionalmente, em times filiados ao Baltimore Orioles.

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Em Blue Chips – o termo vem do mercado de ações, do tipo em que você pode investir sua grana sem estressar, traduzido para o mundo do esporte como os prospectos mais badalados com Wiggins, Shaq, LeBron etc. –, temos também a participação de outros atletas como Penny Hardaway (“Butch McRae”, antes da briga em Orlando), Calbert Cheaney (formado em Indiana, jogando por Indiana), Bobby Hurley (o armador de Duke que sofreu um acidente que acabou com sua carreira), Geert Hammink (um holandês cult), Rodney Rogers (eleito melhor sexto homem da liga pelo Suns) e muitos, muuuuitos outros jogadores que estavam entrando na NBA naqueles tempos. Há também papel para Bob Cousy (interpretando!) e outras lendas como Larry Bird, Bobby Knight e Rick Pitino, como eles mesmo.

Fiz uma pesquisa aqui para saber de algum interesse especial de Nick Nolte pelo basquete. Não achei. Então a gente pode fingir que essa foi a primeira vez que ele voltou a um ginásio de basquete desde que gravou o filme com Shaq, 21 anos depois, né?

Foi para ver estes jogos aqui.

Aê.

Valeu, pelo menos, para relembrar o filme e este post aqui: Abdul-Jabbar e Wilt Chamberlain curtindo horrores em Hollywood.


Quais presentes os times da NBA mais querem? Lado Leste
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Pode espinafrar, tudo bem. O gancho não é nadica original: o que cada equipe da NBA quer de Natal? Mas, poxa, gente, vamos olhar por outro lado: ao menos ele oferece a chance para uma zapeada rápida por cada um dos 30 clubes, além do fato de dar um descanso para essa cuca aqui, que é mais que lerda. Alguns pedidos são praticamente impossíveis, outros mais viáveis. Vamos lá, então:

Dá para o armador alemão do Hawks melhorar, e muito, seu arremesso

Dá para o armador alemão do Hawks melhorar, e muito, seu arremesso

ATLANTA HAWKS
– Que Al Horford, por favor, não tenha mais nenhuma lesão muscular bizarra no peito?

– Um pouco mais de carinho por parte do público local? A equipe hoje ocupa apenas a 25ª posição no ranking de público. Uma evolução em relação ao campeonato passado (28º), é verdade, mas é muito pouco para um clube de campanha tão bacana.

– Dennis Schröder bem que poderia subir mais um degrau ainda neste campeonato. O time só vai ganhar com isso. E a gente, se divertir.

– Kyle Korver terminando um ano com um lindão 50%-40%-90%.

BOSTON CELTICS
– Danny Ainge quer muito, mas muito mesmo uma nova superestrela. Via Draft, ou troca.

– Um bom Draft em 2015, com muitos pivôs bem cotados.

– Se Rondo sair, o show será de Marcus Smart. Para tanto, o novato precisa se distanciar da enfermaria.

– Consistência por parte de Kelly Olynyk e Jared Sullinger.

BROOKLYN NETS
– Alguém que veja algum apelo nas caríssimas peças que Billy King juntou, sendo que seu elenco em nada se assemelha a um candidato a título.

– Adaptação mais acelerada para Bojan Bogdanovic, que tem um jogo muito vistoso para ficar escondido no banco de reservas. Uma hora o chute de três vai cair, assim como o de Teletovic.

Está acabando para KG

Está acabando para KG

– Um fim digno de carreira para Kevin Garnett, que vê Duncan e Nowitzki, mesmo no brutal Oeste, em situações muito melhores.

– Uma retratação por parte daqueles que alopraram a convocação de Mason Plumlee para a Copa do Mundo.

CHARLOTTE HORNETS
– Um novo endereço para Lance Stephenson, e para já. Ele e Kemba Walker simplesmente não combinam.

– 40% de aproveitamento nos chutes de longa distância para Michael Kidd-Gilchrist.

– Uma sequência de seis, sete vitórias que ponha o time na zona de classificação dos playoffs. Com o nome Hornets de volta no pedaço, esses uniformes sensacionais e a quadra mais bonita da liga, a cidade precisa disso.

– Agora que está liberado, uma caixa com os melhores charutos cubanos disponíveis para Michael Jordan.

CHICAGO BULLS
– Um Derrick Rose 100%. Ou 87%, vai.

– Que tenhamos a dupla Noah-Gasol saudável nos playoffs.

– Um jogo de 50 pontos para Aaron Brooks.

– Tá, este aqui é meu: mais Nikola Mirotic, muito mais, Thibs. A defesa se acerta.

CLEVELAND CAVALIERS

Anderson Varejão, Cavaliers, Cavs
– Um novo endereço para Dion Waiters, ou ao menos que o rapaz se dê conta de que, no momento, está muito mais para Jordan Crawford do que Dwyane Wade.

– Um contrato novinho e folha acertado informalmente por Kevin Love. Mas sem a liga saber, claro.

– Mais atenção de Kyrie Irving na defesa. A velocidade já está lá.

– 75 partidas + os playoffs para Anderson Varejão.

DETROIT PISTONS
– Dúzias e dúzias de comprimidos de calmante para Stan Van Gundy, o chefão.

– 65% de aproveitamento nos lances livres para Andre Drummond.

– A reconciliação com Greg Monroe.

– Qualquer poema altruísta que convença Brandon Jennings a soltar a bola.

Topa um Lance aí?

Topa um Lance aí?

INDIANA PACERS
– Mais nenhum susto, mais nada que dê mais trabalho para os médicos. A hora extra vai custar caro.

– Recuperação segura para Paul George.

– Vogel quer os playoffs, mas o melhor para Larry Bird e para o clube seja uma boa escolha de Draft.

– Lance Stephenson!?

MIAMI HEAT
– Dwyane Wade inteirão para os playoffs.

– Chris Bosh retornando da lesão muscular no mesmo nível de antes.

– Que Shawne Williams consiga sustentar seu ritmo nos chutes de longa distância.

– Mais minutos para Shabazz Napier, desde que a defesa não sofra ainda mais.

MILWAUKEE BUCKS
– Um contrato assinado para a nova arena. Para ontem.

– Sem Jabari, a manutenção desta campanha surpreendente que faz o passe de Jason Kidd inflacionar bastante.

Brandon Knight e o Bucks vão continuar em Milwaukee?

Brandon Knight e o Bucks vão continuar em Milwaukee?

– Média de ‘só’ 3 faltas por jogo para Larry Sanders.

– John Henson realizando seu potencial efetivamente.

NEW YORK KNICKS
– Marc. Gasol.

– Um novo endereço para JR Smith.

– Um arremesso para Iman Shumpert.

– Que Phil Jackson seja tão bom de Draft quanto Isiah Thomas.

ORLANDO MAGIC
– O retorno de Aaron Gordon o quanto antes.

– Um contrato razoável para Tobias Harris (a essa altura, depois de vários buzzer beaters, um pouco abaixo do máximo permitido para ele).

– 44% nos arremessos para o calouro Elfrid Payton, que já cuida do resto muito bem.

– Victor Oladipo deslocado mais para a finalização de jogadas.

PHILADELPHIA 76ERS
– 10 vitórias para evitar um vexame histórico e muita paz de espírito para Brett Brown.

– Menos turnovers para Michael Carter-Williams e Tony Wroten.

Robert Covington e o Sixers chutam para evitar pior campanha da história

Robert Covington e o Sixers chutam para evitar pior campanha da história

– Uma boa relação com o agente de KJ McDaniels, que vai virar agente livre.

– Uma palhinha de Joel Embiid nas últimas semanas da temporada?

TORONTO RAPTORS
– Mando de quadra nos playoffs, como cabeça-de-chave número 1.

– Muito mais Jonas Valanciunas no quarto período. É um pivô que bate bem lances livres.

– “Let’s Go, Bru-No!”, sabendo que todos precisam de paciência.

– De resto, não tem muito o que melhorar aqui, né? Que DeRozan volte bem.

bruno-caboclo-toronto-workout

WASHINGTON WIZARDS
– O sumiço definitivo dessa coisa chata que é a fascite plantar de Nenê.

– Que não expire a poção mágica do incrível Rasual Butler.

– Sequência de jogo constante para Bradley Beal.

– 59 horas de entrevistas com Marcin Gortat.

E qual presente você quer para seu time? Amanhã, sai uma listinha do Oeste.

PS: Para quem não viu, uma abordagem bem mais detalhada sobre os clubes está aqui: 30 times, 30 fichas sobre a temporada


Orlando Magic: um Philadelphia mais adiantado
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Orlando Magic espera vencer mais com sua ainda jovem base este ano

Orlando Magic espera vencer mais com sua ainda jovem base este ano

Muito antes de o Sixers despertar asco, revolta e choque na NBA , o Orlando Magic embarcou no mesmo plano de reformulação via Draft. É a reconstrução de um mundo sem Dwight Howard, que chega agora a seu terceiro ano – estando, então, mais avançado que o de seus companheiros de pindaíba em Philly. Perder, perder, perder, coletar jovens jogadores no Draft e tentar dar um salto no futuro. A diferença é que em nenhum momento eles foram tão radicais no projeto, um pouco por força das circunstâncias, mas também para manter um ou outro veterano por perto, mesmo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Jameer Nelson, Arron Afflalo, Al Harrington, Jason Maxiell, Solomon Jones, Glen Davis (esse não, vai), JJ Redick. Todos eles estão fora agora, mas, em geral, duraram mais tempo com o gerente geral Rob Hennigan do que qualquer veterano que Sam Hinkie tenha herdado. E quer saber do que mais? Não adiantou de nada para deixar a equipe mais competitiva. As 121 derrotas que sofreram nas últimas duas temporadas contaram como a pior marca da liga.

O que Hennigan e o técnico Jacque Vaughn esperavam era que ao menos a influência de jogadores mais experientes pudesse influenciar os mais jovens, apontando a direção a ser seguida, em termos de profissionalismo. Nesta temporada, chegou a hora de avaliar tudo isso. O Orlando adicionou mais duas escolhas altas de Draft, com os extremamente promissores Aaron Gordon e Elfrid Payton saindo delas, mas não ficou só nisso. Usou seu espaço no teto salarial para ir às compras e se reforçar. Parece que decidiram que chegou a hora de brigar pelos playoffs. De pelo menos tentar.

Ben Gordon ainda vive. Ou quase

Ben Gordon ainda vive. Ou quase

Se contrataram certo, aí já é uma outra questão. Qualquer um poderia estranhar, de início, o valor pago por Channing Frye. São US$ 32 milhões por quatro anos de serviço para o pivô que já tem 31. Mas aí a gente lembra que o mercado de agentes livres sempre funcionou assim. Os preços ficam inflados. Além do mais, Frye é um jogador bastante útil para qualquer equipe, com sua habilidade para converter os chutes de três pontos e defender o garrafão do outro lado. Claro que não se trata de nenhum Dikembe Mutombo, mas é um marcador muito mais atento que um Ryan Anderson, por exemplo. Ao final do acordo, estará no finalzinho da carreira, mas supostamente seu arremesso não será afetado, já que é alto pacas. Sam Perkins provou isso para nós, afinal. E um detalhe: ele foi apenas a segunda opção do time. Antes, foram atrás de Patrick Patterson, oferecendo a vaga de titular ao lado de Nikola Vucevic. Mas o ala-pivô preferiu ficar em Toronto.

Na hora de comentar as demais contratações, vocês me desculpem se tudo ficar muito mal-escrito. É que fechar com Luke Ridnour, Willie Green e Ben Gordon gera um tipo de confusão mental. Especialmente Gordon. O torcedor do Bulls ainda deve guardar um pouco de estima no coração sobre o veterano britânico, o que é compreensível. Agora, nem ouse falar sobre ele com aqueles que tenham apreço por Bulls e Bobcats/Hornets. O que ele mais fez por esses clubes? Reclamar. Dar trabalho aos técnicos. Ver seus índices de acerto nos arremessos despencar. Um horror.

Harris, 22, ainda está em evolução e vai virar agente livre: vale quanto?

Harris, 22, ainda está em evolução e vai virar agente livre: vale quanto? O Orlando lhe ofereceu algo em torno de US$ 8 a 9 milhões por ano. Seus agentes esperavam muito mais

Com tantos jovens atletas no elenco, Hennigan sentiu a necessidade de adicionar arremessadores experientes, para espaçar a quadra, encontrar um equilíbrio. Pena que o diminuto Gordon, seja por ferrugem ou pelo peso do tempo, mesmo, não pareça mais se enquadrar na condição de “especialista”. Seu contrato vale US$ 4,5 milhões, tem curta duração, mas não se justifica.

Ridnour, ao menos, oferece algo a mais: não só é mais produtivo hoje, como dá mais estabilidade na armação, para verdadeiramente contrabalancear o jogo ainda afoito de Payton e Victor Oladipo. Um cara para acalmar a situação quando necessário, errar pouco e ainda matar os chutes de média distância com muita eficiência. Tinha coisa melhor disponível, todavia? Sim, ainda mais se os recursos empregados em Gordon tivessem direcionados para tanto. Em termos de força estabilizadora, Frye já daria sua contribuição valiosa. Sem contar Green, cujos técnicos já encaram como um assistente extraoficial, dentro do vestiário.

De qualquer forma, está claro que para Orlando chegou a hora de subir alguns degraus. Querem se distanciar do fundo do poço. Ao final do campeonato, dependendo dos resultados e se a memória for curta, podem muito bem se achar no direito de criticar o que Philadelphia anda fazendo. Coisa. Feia. Mas faz parte do jogo.

O time: na última temporada, Vaughn coordenou o segundo pior ataque e a 17ª defesa. Quer dizer: tem muita coisa que acertar para que eles possam sonhar com os playoffs. No Oeste, seria impossível. Como a Flórida é um dos pontos mais visitados na Costa Leste, tudo muda de figura. Lá só um café com leite como o Sixers não pode ter aspiração a nada.

Vucevic sustenta números impressionantes, mas tem pouca presença defensiva. É, de qualquer forma, um dos pilares da equipe

Vucevic sustenta números impressionantes, mas tem pouca presença defensiva. É, de qualquer forma, um dos pilares da equipe

Em termos de material humano, o time tem grandes atletas para formar uma defesa asfixiante. Aaron Gordon infelizmente sofreu uma fratura, e o menino de 19 anos, apenas alguns dias mais velho que Bruno Caboclo, se mostrava muito mais pronto que o esperado para contribuir. Pode marcar oponentes de diversos perfis, e com segurança. Oladipo, um tremendo atleta e competidor, está retornando agora de uma lesão no joelho e de uma fratura facial.  Payton é um armador alto, veloz e impertinente. Tobias Harris é uma fortaleza, enquanto Maurice Harkless pode fazer de tudo um pouco. O problema é a inexperiência coletiva deles. O treinador precisa realmente ensinar o caminho das pedras.

Vucevic tem os números de um dos melhores reboteiros da liga, é verdade, mas ainda desperta dúvida na maioria dos scouts, principalmente por suas deficiências na defesa. Sua movimentação lateral fica aquém do desejado para impedir infiltrações de armadores e alas. Zach Lowe dá uma palhinha aqui.

No ataque, porém, o suíço-montenegrino vem evoluindo a cada ano, mesmo que sua carga aumente junto. Isto é: não perdeu eficiência quando foi mais exigido, o que é bom sinal. Ele pode matar seus arremessos de diversos pontos da quadra, tendo um excelente chute de média distância. Como finalizador, Harris também se destaca. Forte-pra-burro, ele tende a castigar defensores menores perto da cesta. Seu chute de longa distância vem sendo refinado, mas sua visão de jogo ainda é bastante limitada. A bola vai dele para a cesta, mas dificilmente encontra um companheiro mais bem posicionado.

Payton e Oladipo vão colecionar highlights o ano todo, mas também vão cometer um caminhão de erros com a bola. São de todo modo os principais criadores da equipe, e Vaughn, um ex-armador pouco brilhante, mas muito regular, vai ter de conviver com seus desperdícios e ensinar algumas manhas. Cabe ao treinador e sua comissão desenvolver essas peças talentosas. Ainda que jovens, vai chegar uma hora em que todos vão querer ser pagos. Harris, por exemplo, já vira um agente livre ao final do campeonato. Orlando precisa saber quem é que merece aumento, e nada melhor que jogar para valer para avaliá-los.

A pedida: a contratação de veteranos indica que, sim, o Orlando já acha que chegou a hora de entrar nos playoffs.

Allez, Fournier: liberdade para o francês em Orlando

Allez, Fournier: liberdade para o francês em Orlando

Olho nele: Evan Fournier. Pouco aproveitado por Brian Shaw em Denver, Fournier veio na troca por Arron Afflalo. Poucos entenderam, acreditando que o experiente ala valia no mínimo uma futura escolha de primeira rodada. Acontece que, para Hennigan, o ala de 22 anos seria tão ou mais valioso que isso, e o início de campanha dá indícios de que esteja certo. Se Payton e Oladipo são os principais condutores do time, o francês pode dar uma ajudinha aqui. Ainda que venha causando impacto mais com suas bombas de três, ele é outro que pode driblar e dar dinamismo ao sistema ofensivo à medida que se sinta mais confortável em quadra.

Abre o jogo: “Vucevic é o melhor jogador que ninguém conhece. Ele é um All-Star”, Doc Rivers, dando moral ao pivô do Orlando, time pelo qual fez sua estreia como treinador em 1999, ganhando de cara o prêmio de Técnico do Ano. Ele ficou na franquia até 2003.

Payton foi brevemente sequestrado pelo Philadelphia na noite do Draft

Payton foi brevemente sequestrado pelo Philadelphia na noite do Draft

Você não perguntou, mas… o Orlando Magic foi sacaneado por Sam Hinkie e o Philadelphia no último Draft. O gerente geral do Sixers deduziu, até com uma ajuda do diário Orlando Sentinental, que o time da Flórida estaria extremamente interessado no armador Elfrid Payton, na 12ª posição, depois de selecionar Aaron Gordon em quarto. Sua equipe tinha a 10ª posição. O que ele fez? Escolheu Payton. Um prospecto interessante, e tal. Mas ele nunca teve a intenção de contar com o armador. A ideia era apenas extorquir o clube da Disney. Deu certo: Rob Hennigan queria tanto Payton, que pagou não só a 12ª escolha, mas também outra futura. Justamente um pick que a gestão anterior havia cedido ao Magic na supertroca de Howard, Bynum e Iguodala em 2012. Cruel, muito cruel, diria o Januário de Oliveira.

Jacque Vaughn, Orlando Magic, point guardUm card do passado: Jacque Vaughn. O atual treinador teve uma breve passagem pela equipe da Flórida, dividindo a armação da equipe em 2002-2003 com Darrell Armstrong, hoje um dos 39 assistentes técnicos de Rick Carlisle em Dallas. Naquele ano, Orlando tinha mais uma jovem estrela, Tracy McGrady, mas que não havia chegado via Draft, mas, sim, como agente livre. A franquia não teve paciência para se solidificar ao redor do ala, nem mesmo depois do trágico negócio envolvendo Grant Hill. Era para os dois formarem a melhor dupla de perímetro da liga, mas a imprudência médica no tratamento de Hill, resultando em constantes graves lesões, acabou com esse sonho. Ainda assim, a cartolagem investiu na contratação de gente como Shawn Kemp, em seu triste fim de carreira, Andrew DeClerq, Pat Burke e Horace Grant. Vaughn era mais um desses veteranos que fazia contrapeso aos mais jovens – e não tão talentosos – do  elenco, como Ryan Humphrey, Jeryl Sasser, Steven Hunter e Olumide Oyedji. Mike Miller era aquele que se salvava, mas acabou trocado ao lado de Hmphrey para Memphis, vindo para o seu lugar Drew Gooden e Gordan Giricek. Era um time indeciso, que nunca chegou a formar uma base forte, para frustração de T-Mac.


Detroit Pistons: todo o poder a Stan Van Gundy
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Orlando estava muito bem, obrigado, mas...

Orlando estava muito bem, obrigado, mas…

E se você estivesse curtindo uma semiaposentadoria na Flórida, vivendo mais próximo das crianças, acompanhando-as no jogo de futebol no final da tarde de uma terça-feira, respirando e relaxando numa vizinhança tranquila? Depois de passar uns dois bons anos estressantes, tendo de responder diariamente aos mesmos questionamentos, 99% deles ligados a um gigante de 2,11 m e massa muscular assustadora, mas mal crescido em outros aspectos, que muito provavelmente queria sua demissão, mas que, ao mesmo tempo, era sua única aposta para o sucesso?

Para tirar a pessoa de um sossego desses, só com uma oferta irrecusável, mesmo. Como, por exemplo, ter controle total nas operações de basquete de um clube de NBA, respondendo apenas ao bilionário que comprou a franquia. Ter a oportunidade de, basicamente, ser o seu próprio chefe, e ainda ganhando US$ 7 milhões por ano. Só assim, mesmo, para Stan Van Gundy retornar, tendo o Detroit Pistons como seu grande brinquedinho.

O magnata Tom Gores bem que flertou com Phil Jackson no passado. Em 2013, por exemplo, o Mestre Zen fez um frila em Detroit, trabalhando como consultor de Joe Dumars durante o período de mercado aberto para os agentes livres e também para a contratação de (mais) um treinador. Não se sabe exatamente qual foi a influência de Jackson, o quanto Dumars o escutou. Sabemos, no entanto, que as coisas não deram muito certo, resultando no desligamento de Maurice Cheeks antes mesmo que ele concluísse a primeira temporada de seu contrato.

SVG e um novo pivô para desenvolver: até onde pode Drummond chegar?

SVG e um novo pivô para desenvolver: até onde pode Drummond chegar?

Com o time novamente fora dos playoffs, seria, enfim, a gota d’água para Dumars. Chegaria a hora de se despedir do ídolo, bicampeão como jogador e arquiteto do time que derrubou o Lakers nas finais de 2004, retornou às finais em 2005 contra o Spurs e alcançou a decisão da Conferência Leste em seis anos consecutivos. Depois de tanto sucesso, o gerente geral falhou gravemente no processo de reformulação, com muitas apostas caríssimas e furadas, como Allen Iverson e, especialmente, a inesquecível dupla Ben Gordon e Charlie Villanueva. O aproveitamento nas últimas cinco temporadas não passou dos 40%. Para limpar essa bagunça, Jackson, amigo do proprietário, nem topou. Van Gundy aceitou.

O ex-técnico do Orlando Magic e Miami Heat andava comentando alguns jogos da liga para a rede de rádio da NBC e do basquete universitário para a TV. Mas sem tanto compromisso. Diferentemente do acordo que teria com a ESPN, para a qual trabalharia como analista em seus shows pré-jogo e tal, de muita repercussão no dia-a-dia da NBA. Acontece que a equipe de David Stern, ao que tudo indica, não fiou tão entusiasmada assim com a possibilidade de uma figura tão inteligente e desbocada ganhasse esse tipo de plataforma para se expressar.

Desde então, muitos clubes fizeram fila para conversar com o SVG, Clippers e Kings entre eles. Mas as propostas não eram o suficiente para que ele se afastasse da família, ou que os fizesse mudar de cidade novamente. Passado um tempinho, para os garotos avançarem nos estudos, e a autonomia para gerir os negócios, e cá estamos com o retorno de uma figura muito respeitada – menos por Shaquille O’Neal –, que desenvolveu uma série de jogadores em Orlando além de Dwight Howard (Marcin Gortat, Trevor Ariza, Courtney Lee, Ryan Anderson e até mesmo gente rodada como Hedo Turkoglu e Rafer Alston!), formando um time bastante competitivo em torno do pivô.

Agora a expectativa é que ele faça o mesmo com o mastodôntico Andre Drummond, que transborda vigor físico e potencial. As dúvidas? Essa coisa de ele, mesmo, sair contratando suas peças. São poucos os treinadores que ganharam tanto poder na liga. Temos hoje os seguintes casos: Gregg Popovich com o Spurs, Doc Rivers com o Clippers e Flip Saunders com o Timberwolves. Em San Antonio, Pop conta com o inestimável apoio de RC Buford e uma estrutura já enraizada. Rivers e Saunders estão começando nessa aventura.

Meeks foi a primeira contratação de SVG. Pagou caro

Meeks foi a primeira contratação de SVG. Pagou caro

Com um bom espaço para contratações, não dá para dizer que SVG tenha causado boa impressão no mercado. Os valores gastos em veteranos como Jodie Meeks (US$18 milhões por três anos e já afastado por uma lesão nas costas) e Caron Butler (US$ 10 milhões por dois anos) foram, no mínimo, suspeitos e bem acima do que atletas com as mesmas habilidades receberam (Anthony Morrow e o Oklahoma City Thunder fecharam por US$ 10 milhões e três anos). DJ Augustin recebeu um pouco menos, mas a equipe já tinha um armador diminuto e irregular em Brandon Jennings. Além disso, sua versão cartola também falhou em chegar a um acordo com Greg Monroe. Pior: o pivô assinou a oferta qualificatória da franquia e vai se tornar um agente livre sem restrições ao final da temporada.

Resultado: Van Gundy, o técnico, vai ter de arrumar isso. Um tanto esquizofrênico isso? Pois é. Acontece quando você é o seu próprio patrão. Não tem com quem reclamar. O brinquedinho é todo dele.

O time: SVG olha para o seu elenco e vê três excelentes homens de garrafão, mas que tiveram sérias dificuldades quando escalados juntos na última temporada. Usar Josh Smith mais afastado da cesta é um convite para uma série de decisões absurdas. É provável que, ao contrário de Cheeks, o novo treinador chegue a uma simples conclusão: fazer um rodízio, mesmo. Sai um, entra o outro, e por aí vai, seguindo sempre com uma dupla forte. Agora, nas alas… Hm…  Temos um problema. Em teoria, Jerebko, Singler, Datome são o mesmo jogador – claro que há características peculiares que os diferenciam, mas as funções exercidas em quadra são basicamente a mesma. No fim, é um trio de atletas promissores, mas que geram  nenhum deles consegue se separar do outro. E aí que Butler só deixa essa rotação mais confusa nesse sentido. Mais uma ala 3/4, para espaçar a quadra, e tal. Na armação, Jennings precisa tomar um rumo na vida: se DJ Augustin mandá-lo para o banco, seria basicamente o fim. Van Gundy costurar tudo isso e fazer um grande conjunto? Seria sua maior obra.

Smith quer a bola. Drummond é o foco

Smith quer a bola. Drummond é o foco

A pedida: um retorno aos playoffs seis anos depois. Mesmo no Leste, um desafio, e tanto.

Olho nele: Kentavious Caldwell-Pope. Alguém com um nome desses precisa fazer um sucesso, né? O ala vai para o seu segundo ano, mais confiante e animado com as mudanças que vê ao redor.  Kentavious é bastante atlético, com capacidade para colocar a bola no chão e atacar a cesta. Além disso, tinha a reputação de ser grande arremessador vindo da universidade, ainda que essa habilidade ainda não tenha aparecido na grande liga (aproveitamento de 30,3% de longa distância até aqui). Aos 21 anos, ainda tem muito o que desenvolver. Fez ótima summer league em Orlando, mas perdeu boa parte da pré-temporada devido a uma torção no joelho. Dependendo do seu progresso, pode fazer as contratações de Butler e Meeks ainda mais banais.

Para que chamá-lo de KCP, quando se tem Kentavious?

Para que chamá-lo de KCP, quando se tem Kentavious?

Abre o jogo: “Não é um desrespeito com as pessoas que estão trabalhando no clube, mas foi duro para mim chegar a um acordo por mais quatro anos com gente que é nova por aqui. Honestamente, se você for perguntar para qualquer um na rua se eles topariam isso, na área em que trabalham, diriam não.  As pessoas ficam presas ao dinheiro e acham que, se foi oferecido, você é obrigado a aceitá-lo. Nós ganhamos muito dinheiro, mas todo o restante não pode ser relevado por causa disso. Se os jogadores fizessem esse tipo de coisa, seriam infelizes, porque receberiam o dinheiro apenas por receber e não estariam totalmente dedicados”, Greg Monroe, explicando por que não aceitou uma das ofertas de Van Gundy para estender seu contrato e seguir a rota incomum de jogar um ano pela oferta qualificatória. Ao mesmo tempo em que ganha liberdade para decidir seu futuro, o pivô também corre certo risco. Reparem nos malabarismos retóricos que ele precisa fazer para não entrar em conflito com os torcedores do Pistons.

Você não perguntou, mas… o Pistons entrou para o rol dos clubes da NBA que tem sua própria filial na D-League, o Grand Rapids Drive (não, não se trata de trocadilho).  Ex-gerente geral do Orlando Magic, Otis Smith foi agora contratado por seu antigo subordinado para dirigir o time B em quadra. Será a primeira vez que cumprirá a função de técnico. “Gosto do ‘desenvolvimento’ que está no nome da liga. Desta forma posso passar mais tempo no desenvolvimento do estafe e dos jogadores, dentro e fora da quadra”, afirma Smith. “Estar em quadra com os caras, ensinando-os, fazê-los evoluir e serem profisisonais… Isso é o que mais me anima.”

dennis-rodman-pistons-cardUm card do passado: Dennis Rodman. Com menos músculos, sem tatuagens, antes de se relacionar com Madonna e se casar com Carmen Electra, de atuar com Jean-Claude van Damme e Mickey Rourke e virar celebridade mundial, para além do quadrante da NBA, antes de se indispor com David Robinson, de intrigar e vencer mais Phil Jackson e de passar algumas noites mal dormidas na casa de Mark Cuban, Rodman já era um grandessíssimo jogador na Motown, ainda que como coadjuvante de Thomas e Dumars. Em suas últimas duas temporadas por lá, de 1991 a 93, o ala-pivô começou seu impressionante período hegemônico de melhor reboteiro da liga – e talvez da história –, com médias superiores a 18 por jogo. Nos dias de hoje, Andre Drummond é forte candidato a liderar o campeonato neste fundamento.


Anthony Davis manda um recado na jornada de abertura
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Anthony Davis, Pelicans, opening night, Magic

Quando um tema jornalístico quer virar moda, é um problema. Então não faça, assim, Monocelha. Que aí as coisas podem fugir do controle!

Na jornada de abertura da NBA, Anthony Davis disse a que veio e muito mais. O pivô chegou perto de um triple-double para elevar o nível de alerta máximo pelos corredores da liga: sim, todos sabíamos que o garoto era bom, que ele é muito provavelmente o próximo na linha de sucessão de LeBron e Durant, se a saúde permitir, e tal… Mas aí chega a temporada 2014-2015, e o rapaz já causa um estrago desses de cara!?

Foi meio que dizendo: “Mas que história é essa de futuro!?”

A sucessão é agora.

Aí esta é a parte em que as testemunhas todas respiram coletivamente, fecham os olhos e contam até dez  para lembrar que foi apenas a primeira partida, e contra um adversário que não inspira lá muitos elogios. Esse, sim, um adversário para ser avaliado lá na frente. Mas… 26 pontos, 17 rebotes, 9 tocos, 3 roubos de bola, 2 steals em 36 minutos? Afe.

O menino Monocelha, de apenas 21 anos, lembremos, estraçalhou com o Orlando Magic na vitória por 101 a 84 em casa, agora protegido pelo turcão Omer Asik, um jogador que dificilmente será reconhecido pelo devido valor – isso para além da comunidade estatística da liga e treinadores, que o curtem horrores. Juntos, os dois somaram 40 pontos, 34 rebotes e 14 bloqueios. Um absurdo de produção para uma só linha de frente.

Davis promove sua block party, e o calouro Elfrid Payton leva a pior

Davis promove sua block party, e o calouro Elfrid Payton leva a pior

(E, não, não vamos contar os 22 pontos e 9 rebotes de Ryan Anderson vindo do banco, porque o ala-pivô não deu sequer um toco, o que é uma baita incompetência. De acordo com a comissão avaliadora, o patamar mínimo de candidatura a menção honrosa no blog são três bloqueios, ok? Abaixo disso, não tem conversa.)

“Apenas sabemos que somos um páreo duro no garrafão – ele com um corpo excelente e eu sendo capaz de me mexer pela quadra, tentando apenas seguir a bola e conseguir os rebotes”, afirmou Davis. “É uma boa combinação.”

Boa?

Enfim… Da parte de Davis, ele entrou num seleto grupo ao lado de Kareem Abdul-Jabbar e de Nate Thurmond, que foi uma espécie de Dikembe Mutombo antes de Mutombo, nos anos 70, se tornando apenas o terceiro jogador a dar nove tocos numa jornada de abertura desde 1973-74, que é quando o fundamento passou a ser computado de modo oficial pela NBA.

Além disso, ele foi o primeiro atleta a conseguir um mínimo de 36 pontos, 17 rebotes, 9 tocos e 3 roubos de bola desde Hakeem Olajuwon em 1989-90. Naquela campanha, o nigeriano do Houston Rockets, contudo, conseguiu uma linha estatística dessas em três partidas. Então taí mais uma meta para o ala-pivô do Pelicans ir atrás.

Comparado com a produção de Davis, quem acabou se dando mal nessa foi o pivô Nikola Vucevic, do Orlando, que acumulou 15 pontos, 23 rebotes e 4 tocos do seu lado, em 35 minutos. Nada mal para justificar um contrato de US$ 54 milhões por quatro anos que muitos julgaram excessivo. Acabou ficando em segundo plano.

“Dê a eles muito crédito pela agressividade e pela presença física com que jogaram, os pontos de segunda chance e o ataque na tabela”, afirmou o técnico do Magic, Jacque Vaughn. “Eles no encararam. Essa foi a diferença.”

Se o problema para o restante da NBA fosse apenas a agressividade de Anthony Davis, tudo bem. Esse é o tipo de coisa que qualquer oponente pode dar conta, desde que concentrado e disposto. É uma questão de esforço individual. O duro, mesmo, na verdade é igualar o talento da jovem estrela do Pelicans, gente. E, claro, não se empolgar tanto com isso.


Na turnê do Flamengo, potencial de Felício atrai a NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

cristiano-felicio-flamengo

O Flamengo apanhou do Memphis Grizzlies, mas, em geral, conseguiu competir durante sua viagem pelos Estados Unidos. Enquanto teve pernas, o time carioca jogou de igual para igual com adversários muito mais fortes, ainda que em início, mesmo, de temporada. De qualquer forma, serviu como boa medição para o talento que está em quadra vestido de rubro-negro. Caras como Marquinhos e o veterano Walter Herrmann vão jogar em qualquer lugar, contra qualquer um.

Do ponto de vista dos clubes da NBA e deste blogueiro, porém, o mais interessante foi observar como um prospecto como Cristiano Felício segurou a bronca em jogos contra Phoenix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies, ratificando seu potencial. Aos 22 anos, o jovem pivô ainda tem muito o que desenvolver, mas já possui ferramentas físicas e algumas habilidades para se virar entre gente grande – em todos os sentidos.

“Felício mostrou um tanto de habilidade e potencial nesses jogos: ele se virou, na maior parte do tempo, contra caras de NBA”, afirmou um scout da liga norte-americana ao blog, cujo nome e time ele pediu para não serem identificados. Posso apenas dizer que se trata de um clube de ponta, acostumado a jogar os playoffs, e que estive em contato com esse olheiro durante toda a estadia flamenguista no quintal do Tio Sam. “Sua força, sua habilidade nos rebotes e seu tamanho são interessantes.”

Foi surpreendente até: se formos considerar os três amistosos, talvez Felício tenha sido o atleta mais consistente do Fla. Quem esperava por isso? Talvez nem mesmo sua comissão técnica, que achou por bem investir na contratação do americano Derrick Caracter antes da Copa Intercontinental, crendo ter carências na sua rotação de garrafão. No final, aconteceu o que muitos esperavam: Caracter foi um fiasco. Reflexo de uma contratação feita de longe, às escuras e às pressas. Resta saber apenas a bolada que o veterano ganhou por um jogo sólido contra o Maccabi Tel Aviv e quatro partidas totalmente inócuas: em 21 minutos nos Estados Unidos, ele zerou em pontos e pegou apenas um rebote.

Felício, por outro lado, foi bastante produtivo:

Flamengo, Felício, Estatísticas, amistosos, NBANenhum duplo-duplo. Nenhuma vez acima dos dez pontos? Sim, nada disso. Mas em nenhuma ocasião ele jogou mais que a metade da partida tabém. Os minutos foram reduzidos – média de 19 por jornada. No restante, acumulou 7,6 pontos, 6,7 rebotes, 2,3 roubos de bola, 60% nos arremessos e 2,3 turnovers. Se a gente fosse fazer uma projeção por 36 minutos de atuação, se mantivesse esse rendimento, subiria para 14,5 pontos, 12,6 rebotes, 4,4 roubos e 4,4 turnovers.

Agora os asteriscos: isso não quer dizer, de modo algum, que o pivô brasileiro teria números como esse na liga americana. Afinal, ele enfrentou rivais em ritmo de preparação, e, além disso, nem sempre ele duelou com aqueles que os times têm de melhor (contra o Memphis, por exemplo, ele duelou por bastante tempo com Kosta Koufos, um bom pivô, mas nenhum Marc Gasol). Outra: ele nem mesmo conseguiria ficar 36 minutos em quadra, pois, de acordo com esse mesmo cálculo, chegaria a 7,5 faltas. O que não pode, né?

A brincadeira com os números, no final, só serve para sublinhar o quanto o garoto aprontou por lá. Mais que as estatísticas, o que contou mais no seu caso foi a naturalidade ao encarar um desafio desses, meses depois de ser ignorado no Draft, algo que hoje parece ter sido um erro. A julgar pelo que o atleta entregou nos últimos dias, somado ao bom Eurocamp que havia cumprido em junho, uma escolha de segunda rodada teria sido bem gasta. “Ele ainda não é um produto acabado, mas tem potencial para jogar na NBA um pouco mais adiante”, afirma o olheiro, que concorda com a tese. “Há o que crescer ofensivamente, mas no bom sentido: você percebe que ele tem para onde crescer.”

A LDB já não é mais para Felício

Os amistosos deixam evidentes esses pontos que precisam ser trabalhados de modo prioritário, até para que ele possa ganhar mais tempo de quadra. Primeiro, as faltas, mesmo: de tão ágil para alguém de seu tamanho, também com mãos velozes – reparem no número elevado de roubadas –, o jogador se precipitou em muitos lances ao tentar dar o bote para cima de alas e armadores, provocando contato desnecessário.

Contra o Memphis, nesta última sexta, houve um lance exemplar no segundo tempo nesse sentido: Quincy Pondexter iria sair com a bola no fundo de quadra e, depois de um ataque frustrado, o pivô saiu para o combate ali, mesmo. Embora tenha bloqueado a saída pela direita do ala do Grizzlies, com excepcional movimentação lateral, acabou esticando o bração e cometeu a infração óbvia e desnecessária.

Muitas das faltas marcadas contra o pivô brasileiro também aconteceram no ataque, com bloqueios em movimento, o que ajuda a entender seu número elevado de desperdícios de posse – uma vez que tem uma habilidade subestimada para o passe, tanto de frente como de costas para a cesta, esperando pacientemente a aproximação de um Marquinhos na zona morta para um tiro de três, cruzando a bola da lateral do garrafão para a outra quina, no perímetro, para um chute livre… Ele pode ser envolvido no ataque de diversas maneiras.

Para esse dado também vale um asterisco do asterisco, e nessa, estou com o Zé Boquinha: se não for o caso de um corta-luz completamente atabalhoado, apressado, destrambelhado, a arbitragem deveria maneirar nesse tipo de marcação. Independentemente do jogador e da competição envolvidos. Pois estamos falando daquele tipo de falta que, no basquete, se equivale ao puxão na grande área do futebol: você nunca sabe o que o homem do apito quer ver e marcar.

Esses são pontos que podem ser trabalhados com tranquilidade. Detalhes, que podem ser elucidados já com um bom estudo de vídeo. Outro item que consta na lista e que pede maior carga horária em quadra são os treinos para desenvolver seus movimentos individuais no ataque. De frente para a cesta, Felício, por ora, só se aventura nos tiros de média distância. É praticamente impossível vê-lo colocar a bola no chão e partir para uma bandeja. Perto da cesta, seus pontos acontecem basicamente em cortes de pick-and-roll sem a bola e em rebotes ofensivos. Com a velocidade e as mãos que têm, dá para fazer muito mais.

Num time de ponta como o Flamengo, que vai entrar em todo campeonato com um só objetivo de título, talvez não se encontre o cenário mais adequado para o refinamento dos atletas mais jovens, para que eles ganhem cancha. A LDB está aí para isso, é verdade. Para um talento como Felício, contudo, já não rola – chega a ser até covardia colocá-lo nesse tipo de competição. Ele precisa de mais, muito mais depois do que fez nos Estados Unidos. No retorno para a casa, os rubro-negros estão empolgados, com muitas histórias para contar e experiências para assimilar. Entre tantos assuntos, não dá para fugir do potencial de Felício. Em seu canto, espera-se que o pivô e aqueles que estão ao se redor também tenham se dado conta disso. A NBA já reparou, sim.


Notas sobre Flamengo x Orlando: Machado, torcida e mais
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Flamengo em Orlando

Vamos lá, mais curto dessa vez, algumas notas sobre a derrota do Flamengo sobre o Orlando Magic nesta quarta-feira:

– O Flamengo fez um confronto parelho até quando aguentou. Isto é: os minutos finais do terceiro período. Depois, chega uma hora que o elenco e o volume de jogo de um time de NBA – numa partida mais longa que as da Fiba – começam a fazer a diferença, mesmo em fase de pré-temporada. Por isso, era recomendável desacelerar ao máximo as ações em quadra, ainda que essa postura pudesse contrariar a identidade que a equipe brasileira assumiu nas últimas temporadas.

Tem de aplaudir: jogadores dão um salve para a torcida do Fla em Orlando

Tem de aplaudir: jogadores dão um salve para a torcida do Fla em Orlando

– Ficar falando maravilhas da torcida do Flamengo é redundância. Só foi bem engraçado escutar os coros dos torcedores rubro-negros no suntuoso ginásio, especialmente quando o time reagia no segundo tempo e encurtava a diferença. Não há como confirmar os rumores espalhados por passarinhos mágicos da Disney, mas se disse por aí que mais flamenguistas foram vistos por lá do que numa noite qualquer de um shopping da Barra da Tijuca. (Além do mais, merece um entusiasmado parabéns aquele que teve a iniciativa de transmitir o jogo no telão do Maracanã para aqueles que foram ver o confronto com o América-RN.)

– Em termos individuais, você pode não ser dos maiores fãs dele, era só um amistoso, mas não há como negar que Marcelinho Machado tenha vivido uma pequena revanche nesta quarta, ao anotar 20 pontos em 30 minutos contra os rapazes de Orlando, sendo pelo segundo jogo seguido o cestinha do Fla. Dessa vez, ele converteu seus chutes com muita eficiência, incluindo um 6-12 na linha de três. Quando matou a quinta bola no segundo tempo, até voltou sorrindo para sua quadra, sem se conter. Fica o registro – discutir a carreira do camisa 4 fica para outra hora. É algo bem mais complexo do que um parágrafo possa cuidar.

– O promissor Cristiano Felício foi novamente muito bem contra os gigantões da NBA. Vamos escrever mais sobre ele depois da partida de sexta contra o Memphis Grizzlies. Só dá para adiantar que o desempenho já volta a chamar a atenção dos scouts da liga. Entre eles está um colega meu, a serviço de uma franquia da Conferência Oeste. No duelo desta quarta, pelo menos cinco times estavam presentes em Orlando – claro que para tomar nota de tudo, e, não, especificamente sobre o pivô. Sem contar os que acompanhavam a partida pela TV, como no caso desta fonte. Descrição de conversa com ele. Eu disse: “Se alguém tivesse escolhido Felício no final do segundo round do Draft passado, estaria bem felizagora”. O scout respondeu:”Acabei de dizer isso ao meu chefe”.

O garotão Aaron Gordon dá o toco em Herrmann no perímetro: americano é 16 anos mais jovem que o argentino

O garotão Aaron Gordon dá o toco em Herrmann no perímetro: americano é 16 anos mais jovem que o argentino

– O elenco do clube da Flórida é um dos mais jovens da liga. Veteranos como Ben Gordon e Luke Ridnour (e o lesionado Channing Frye) foram contratados para ajudar um pouco no amadurecimento – e também por serem ótimos arremessadores, que isso ajuda bastante. O exuberante Aaron Gordon, por exemplo, é apenas cinco dias mais velho que Bruno Caboclo. Elfrid Payton, o armador novato, tem 20 anos. Tobias Harris, 22, ainda que esteja entrando em sua quarta temporada de NBA.

– Os jogadores do Orlando não estudaram os do Flamengo. A ideia do técnico Jacque Vaughn ao quebrar esse ritual era que o time testasse, praticasse seus conceitos defensivos independentemente das características dos adversários – e que, qualquer ajuste que precisassem fazer, que descobrissem por conta durante a partida.

– Por falar em Ben Gordon… Relegado ao ostracismo na temporada passada em Charlotte, o chutador tem agora como prioridade em sua cartilha o verbo desenferrujar, antes de entrar em sua cruzada para mostrar que ainda pode cumprir o papel de jogador relevante na liga. Depois, pode alinhar o chassi, verificar óleo e motores e, aí sim, sair da oficina.

– Se o Maccabi Tel Aviv levou dois sacodes em seus amistosos, o mesmo não pode ser dito de um de seus principais concorrentes nacionais em tempos recentes, o Maccabi Haifa, que, também nesta quarta, fez um jogo duríssimo contra o Washington Wizards, na capital norte-americana, perdendo por apenas seis pontos (101 a 95). O clube israelense foi campeão de sua liga em 2013 e vice no ano passado. Ainda assim, se formos dar uma espiada no elenco da equipe, não há nenhum nome de fazer parar o quarteirão.